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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS


BACHARELADO EM ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

GABRYEL SANTANA DE JESUS

DIMENSIONAMENTO E AVALIAÇÃO DO
INVESTIMENTO PARA IMPLANTAÇÃO DE UM
SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
PARA LAVAGEM DE VEÍCULOS NA GARAGEM DO
CAMPUS DE CRUZ DAS ALMAS – BA DA UFRB.

CRUZ DAS ALMAS - BA


NOVEMBRO – 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS
BACHARELADO EM ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

GABRYEL SANTANA DE JESUS

DIMENSIONAMENTO E AVALIAÇÃO DO
INVESTIMENTO PARA IMPLANTAÇÃO DE UM
SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
PARA LAVAGEM DE VEÍCULOS NA GARAGEM DO
CAMPUS DE CRUZ DAS ALMAS – BA DA UFRB.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia como parte
dos requisitos para obtenção do título de Engenheiro
Sanitarista e Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Francis Valter Pêpe França

CRUZ DAS ALMAS - BA


NOVEMBRO – 2014
FICHA CATALOGRÁFICA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS
BACHARELADO EM ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

GABRYEL SANTANA DE JESUS

DIMENSIONAMENTO E AVALIAÇÃO DO
INVESTIMENTO PARA IMPLANTAÇÃO DE UM
SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
PARA LAVAGEM DE VEÍCULOS NA GARAGEM DO
CAMPUS DE CRUZ DAS ALMAS – BA DA UFRB.

Aprovada em: _____/_____/_____

EXAMINADORES:

_____________________________________________________________
Prof. Dr. Francis Valter Pêpe França

_____________________________________________________________
Prof. Dr. Jorge Luiz Rabelo

_____________________________________________________________
Prof. Msc. Marcus Vinicius Ivo da Silva

CRUZ DAS ALMAS - BA


NOVEMBRO – 2014
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por tudo.


À minha família, em especial meus pais Josenildes Santana de Jesus e Geraldo Lima de
Jesus, pela educação e sabedoria que me deram além de sempre acreditarem em mim.
Aos meus amigos, pela confiança.
Ao meu orientador Professor Francis Pepe, por ter contribuído com seu conhecimento,
atenção e orientação à realização desse trabalho.
À Professora Andrea Fontes, por toda a atenção e dedicação em passar o seu
conhecimento.
Aos membros da banca examinadora por aceitarem o convite.
Aos professores e colegas do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFRB.
À Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, por permitir a realização desse sonho.
Agradeço a todos que, de alguma forma, contribuíram para que eu pudesse chegar a esse
momento.
JESUS, G.S. Dimensionamento e avaliação do investimento para implantação de um
sistema de captação de água de chuva para lavagem de veículos na garagem do campus
de Cruz das Almas – BA da UFRB. 2014. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado
em Engenharia Sanitária e Ambiental) – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz
das Almas, BA.

RESUMO

Atualmente vários países enfrentam o problema da escassez da água, isso se deve


principalmente pelo desenvolvimento e crescimento populacional, onde cada vez mais as
indústrias e agriculturas necessitam de uma demanda maior de água. Pensando nisso, a
crescente preocupação com o meio ambiente e o uso racional da água faz com que alternativas
para o uso sustentável desse bem natural tornem-se medidas emergenciais de combate ao
problema da escassez. Uma dessas alternativas é a implantação de sistemas de aproveitamento
de água de chuva, haja vista que um sistema desses permitirá que a água pluvial seja utilizada
em usos não potáveis, como é o caso da lavagem de veículos, tema do trabalho presente. Esse
trabalho teve como objetivo dimensionar um sistema de aproveitamento de água de chuva
para lavagem de veículos oficiais da UFRB e verificar o potencial econômico em relação aos
gastos com água tratada. Para isso, por meio de planilhas eletrônicas, foram utilizados os
métodos de Rippl e Prático Australiano, contidos na NBR 15527/2007, para o
dimensionamento do volume do reservatório. Também foram dimensionadas as calhas que
receberão as águas de chuva da área de captação determinada onde serão conduzidas através
de tubulações horizontais e verticais para o reservatório. Por fim, foram apresentados os
resultados econômicos obtidos a partir do dimensionamento de um sistema de aproveitamento
de água pluvial.

Palavras-chave: aproveitamento de água de chuva, potencial econômico, reservatório.


JESUS, G.S. Design and evaluation of investment to implement a rainwater collection
system for washing vehicles on campus parking Cruz das Almas - BA UFRB. 2014. Work
Completion of course (Bachelor of Sanitary and Environmental Engineering) - Federal
University of Bahia Reconcavo, Cruz das Almas, BA

ABSTRACT

Currently many countries are facing the problem of water scarcity, this is mainly for
development and population growth, where more and more industries and agriculture require
greater water demand. Thinking about it, the growing concern for the environment and the
rational use of water makes good alternatives for sustainable use of natural make-up
emergency measures to combat the problem of scarcity. One such alternative is to implement
the use of rainwater systems, since such a system will allow rainwater to be used for non-
potable uses, such as washing of vehicles, subject of this work. This work aims at designing a
system for harnessing rainwater for garage UFRB checking the economic potential of the
same in relation to spending on clean water. To this end, through spreadsheets, methods and
Practical Rippl Australian contained in the NBR 15527/2007, for dimensioning the volume of
the reservoir were used. Were also sized to receive the rails rainwater area where uptake will
be determined conducted through horizontal and vertical piping to the reservoir. Finally, with
the economic results obtained from the design of a system for harnessing rainwater.

Keywords: utilization of rainwater, economic potential, reservoir.


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1- Cisternas do povo Maya conhecidas como Chultun........................................... 15


FIGURA 2 - Cisterna na região semiárida ............................................................................ 17
FIGURA 3 - Sistema de captação de água de chuva ............................................................. 20
FIGURA 4 - Ilustração da função típica de uma grade sobre calha em sistema de captação de
água da chuva. ..................................................................................................................... 21
FIGURA 5 - Descarte primeira água de chuva com boia ...................................................... 22
FIGURA 6 - Descarte primeira água de chuva com reservatório ........................................... 22
FIGURA 7 - Filtro VF1........................................................................................................ 23
FIGURA 8 - Interior de uma Cisterna .................................................................................. 24
FIGURA 9 - Localização da Garagem da UFRB .................................................................. 27
FIGURA 10 - Área de captação da água de chuva (destacado em verde) .............................. 28
FIGURA 11 - Reservatório que atende a garagem da UFRB campus Cruz das Almas .......... 29
FIGURA 12 - Hietograma de Média Mensal de Cruz das Almas – BA no período de 2003 -
2013..................................................................................................................................... 31
FIGURA 13- Esquema de dimensionamento da calha .......................................................... 32
FIGURA 14 - Dimensões da calha ....................................................................................... 35
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Precipitação Mensal (mm) da estação 83222, Cruz das Almas/Ba ................... 30
TABELA 2 - Dimensões da calha em função do comprimento do telhado (MELO, 1988) .... 32
TABELA 3 - Dimensionamento do Reservatório com confiança de 100% ........................... 36
TABELA 4 - Dimensionamento do Reservatório pelo Método de Rippl ............................... 37
TABELA 5 - Custo do sistema de aproveitamento de água chuva para garagem da UFRB ... 38
LISTA DE SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas


ANA – Agência Nacional de Águas
BDI - Benefícios e Despesas Indiretas
BDMET - Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa
Embasa - Empresa Baiana de Águas e Saneamento
INMET – Instituto Nacional de Meteorologia
OMM - Organização Meteorológica Mundial
P1MC - Programa Um Milhão de Cisternas
Sabesp – Saneamento básico do estado de São Paulo
Sinapi - Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil
Sipef - Superintendência de Implantação e Planejamento de Espaço Físico
UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11
2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 13
2.1 Objetivo geral ........................................................................................................ 13
2.2 Objetivos específicos ............................................................................................. 13
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 14
3.1 Disponibilidade dos recursos hídricos no Brasil ..................................................... 14
3.2 Histórico do aproveitamento de água de chuva ....................................................... 14
3.3 Aproveitamento de água pluvial no Brasil .............................................................. 16
3.4 Aproveitamento de água pluvial para lavagem de veículos ..................................... 17
3.5 Norma.................................................................................................................... 18
3.6 Sistemas de captação.............................................................................................. 18
3.6.1 Sistema de autolimpeza e remoção de materiais grosseiros.............................. 20
3.6.2 Filtro vf1......................................................................................................... 23
3.6.3 Reservatório.................................................................................................... 24
3.6.4 Vantagens e desvantagens do sistema de captação de água pluvial. ................. 25
4 METODOLOGIA ........................................................................................................ 26
4.1 Revisão bibliográfica ............................................................................................. 26
4.2 Área de estudo ....................................................................................................... 26
4.3 Cálculo da Demanda .............................................................................................. 27
4.4 Dados pluviométricos da região ............................................................................. 30
4.5 Sistema de captação e armazenamento de água pluvial ........................................... 31
4.5.1 Dimensionamento das calhas .......................................................................... 31
4.5.2 Dimensionamento do reservatório ................................................................... 33
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 35
5.1 Custos com os Equipamentos do Sistema de Captação de Água Pluvial ................. 37
5.2 Potencial Econômico ............................................................................................. 38
6 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 39
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 40
1 INTRODUÇÃO

A água é um recurso natural essencial para a vida e desenvolvimento humano. Dotado de um


valor econômico, este bem está presente em diversas atividades humanas, sendo indispensável
ao progresso e desenvolvimento econômico de uma civilização.
A expressão “planeta água” refere-se ao planeta Terra não por acaso, haja vista que a água é
responsável por maior parte de sua dimensão. Toda essa água está distribuída em 97,5% de
águas salgadas e 2,5% de água doce. Segundo Zolet (2005), desses 2,5%, 69% são as geleiras
e calotas polares, 30% águas subterrâneas, 0,7% umidades do solo e apenas 0,3% distribuídos
em rios e lagos, sendo essa última à água disponível para consumo humano.
A disponibilidade de água para consumo humano varia com a sua distribuição no globo
terrestre e a densidade geográfica local. Áreas mais populosas podem deter uma menor
disponibilidade enquanto que os locais menos populosos concentram uma maior quantidade.
Segundo Marinoski (2007), o acelerado crescimento populacional contribui para a escassez
dos recursos hídricos em algumas regiões devido ao aumento da dependência por água
potável, sendo assim, há uma diminuição da disponibilidade desses recursos e,
consequentemente, uma redução da qualidade da água principalmente em centros urbanos,
fazendo com que cada vez mais fique difícil suprir à demanda de acesso a água.
Companhias de saneamento captam água de mananciais para tratamento a fim de deixa-la em
condições de potabilidade para o abastecimento humano e distribuir para os municípios. A
água potável que chega a residências, indústrias, comércios, escolas etc., geralmente, são
utilizadas também em diversas atividades não potáveis, como descargas de bacias sanitárias,
lavagem de passeios, lavagem de veículos e paisagismo. Esses usos não potáveis contribuem
para o problema da escassez hídrica, pois aumenta o consumo. Por outro lado, em muitos
lugares a falta de saneamento básico também é um agravante para o problema dessa escassez,
visto que muitos rios acabam servindo de depósito de esgoto sem tratamento e vários outros
dejetos, alterando assim a qualidade daquela água, podendo até mesmo ficar inviável um
tratamento para abastecimento devido aos custos elevados que teriam com os processos para
tratar essa água.
O Brasil apesar de ser considerado o dono de maior potencial hídrico no mundo,
já demostra sinais de escassez muito em conta da forma desproporcional que esse
recurso está distribuído no território nacional, onde 95% da população tem acesso

11
a apenas 27% da água disponível no país, sendo os outros 73% de disponibilidade
concentrados na região amazônica que abriga apenas 5% da população nacional.
Um levantamento feito pela ANA, o At las Brasil, aponta que 55% dos municípios
brasileiros poderão vim a ter um déficit do abastecimento de água, onde desses,
84% necessitam invest ir e melhorar seus sistemas de abaste cimento e 16%
precisa de novos mananciais.
A região semiárida localizado no nordeste brasileiro é a que mais padece com o
problema da escassez hídrica, convivendo com um longo período de secas
durante o ano devido à irregularidade das precipitações nessa r egião.
Diante desse cenário, é necessária a conscient ização do valor imprescindível que
água tem e que se busquem cada vez mais medidas sustentáveis que garanta a
qualidade e disponibilidade para o atendimento das demandas atuais e futuras.
Nesse contexto, o aproveitamento de águas pluviais é uma alt ernat iva sustentável
e ao mesmo tempo econômica. Esse t ipo de tecnologia supre as necessidades de
fins não-potáveis o que gera uma economia nos gastos com água potável
diminuindo o consumo, assim as companhias de abastecimento poderiam realizar
invest imentos para atender as localidades que ainda não são contempladas com
água tratada.
Segundo Marinoski (2007), no Brasil, exist em vários programas de uso racional
da água em escolas e universidades, com foco em novas tecnologias econômicas,
no entanto, são poucos os estudos sobre sistemas de aproveitamento de água de
chuva em locais acadêmicos que se tem acesso na literatura nacional.
Pensando nisso, o presente trabalho apresenta uma análise da implantação de um
sistema de captação e armazenamento de água pluvial para a lavagem dos
veículos na garagem da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
objet ivando avaliar o potencial econômico que esse sistema trará em relação aos
gastos com água tratada.

12
2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Avaliar o potencial de economia nos gastos com água tratada que a


implantação de um sistema de captação e armazenamento de águas pluviais
poderá oferecer quando ut ilizado para lavagen s de veículos na garagem no
campus Cruz das Almas – BA da UFRB.

2.2 Objetivos específicos

Para auxiliar no objet ivo geral, destacam-se os seguintes objet ivos específicos:
Ampliar o conhecimento sobre o assunto abordado;
Determinar a demanda de água mensal ut ilizada para a lavagem dos veículos ;
Determinar a área de captação direta da garagem para o dimensionamento do
sistema;
Analisar as característ icas pluviomét ricas do município de Cruz das Almas;
Verificar os custos com água potável do reservatório que atende a garagem;
Verificar os custos para implantação de um sistema de captação de água de
chuva;

13
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Disponibilidade dos recursos hídricos no Brasil

O Brasil é considerado um país “rico em água” devido sua grande disponibilidade


hídrica, abrigando uma quantidade de 13,7% de água doce em relação ao mundo. Essa
quantidade é distribuída de forma desigual, onde 73% da água disponível no país encontram-
se na bacia amazônica que possui cerca de 5% da população, enquanto que 27% dos recursos
hídricos estão distribuídos para as demais regiões do país que abrigam 95% da população.
Porém, a oferta de água tratada reflete o contraste do desenvolvimento dos estados brasileiros,
enquanto que a região sudeste detém 87,5% de domicílios atendidos com água tratada, a
região nordeste apenas 58,7% é atendida. (MANUAL DA EDUCAÇÃO, 2005).
Essa disparidade gera inúmeros problemas econômicos e sociais especialmente levando-
se em conta a relação disponibilidade/demanda, que ainda agrava-se com a enorme poluição
causada pelo homem e falta de consciência quanto ao uso racional.
Pensando nisso, é preciso que sejam realizados estudos e elaborados projetos que
busquem por alternativas sustentáveis a fim de minimizar a problemática em relação ao
desperdício e escassez da água. Uma solução é o aproveitamento de águas de chuvas para fins
não potáveis.

3.2 Histórico do aproveitamento de água de chuva

Há registros de aproveitamento de águas de chuva datadas a 3000 a.C no Oriente


Médio, onde existem inúmeros reservatórios escavados em rochas. Também há inscrições de
850 a.C, em que nelas o rei Mesha dos Moabitas sugere que em cada casa seja construído um
reservatório para aproveitamento de água de chuva. (TOMAZ, 2003).
No século X, os Maias do sul da cidade de Oxkutzcab dependiam da coleta e
aproveitamento da água de chuva para sua agricultura. A água que era captada ficava
armazenada em reservatórios conhecidos como Chultuns (FIGURA 1) que tinham capacidade
de 20 a 45m³. Além dos Maias, outros povos também utilizavam águas pluviais, como os
Astecas e Incas. (Gnadlinger, 2000 apud ANNECCHINI, 2005). Existem reservatórios na

14
península de Iucatã, no México, que ainda estão em uso desde antes da chegada de Cristóvão
Colombo à América. (TOMAZ, 2003).

FIGURA 1- Cisternas do povo Maya conhecidas como Chultun


Fonte: (GNADLINGER, 2000 apud ANNECCHINI, 2005).

Segundo Annecchini (2005), a coleta e aproveitamento de água de chuva pela sociedade


perdeu força devido ao avanço de tecnologias modernas para abastecimento como construção
de barragens, aprimoramento de técnicas para uso de águas subterrâneas, irrigação encanada e
a implementação dos sistemas de abastecimento. No entanto, devido aos problemas e
preocupações com relação à oferta e demanda da água atualmente, o aproveitamento e manejo
de águas pluviais vêm à tona, sendo uma medida sustentável já praticada na gestão de alguns
países europeus e asiáticos.
Países desenvolvidos como é o caso da Alemanha e Japão, estão seriamente
empenhados e comprometidos com o aproveitamento de água da chuva, desenvolvendo
projetos e pesquisas que garantam o uso seguro dessa fonte alternativa de água.
(ANNECCHINI, 2005).
Na Alemanha, desde 1980, o aproveitamento de água de chuva é praticado para algumas
finalidades como: irrigação de jardins, descarga de bacias sanitárias, máquinas de lavar roupa,
além do uso comercial e industrial, sempre usadas para fins não potáveis. (TOMAZ, 2003).
No Japão, algumas cidades utilizam reservatórios individuais e/ou comunitários para
armazenamento da água de chuva. Os chamados “Tensuison”, nome dado a esses
15
reservatórios, são equipados com bombas manuais e torneiras para que a água seja disponível
a qualquer pessoa. A água excedente desses reservatórios é direcionada para canais de
infiltração, garantido a recarga de aquíferos assim evitando inundações, já que nas cidades
japonesas há um grande percentual de superfícies impermeáveis (FENDRICH e OLIYNIK,
2002 apud ANNECCHINI, 2005).

3.3 Aproveitamento de água pluvial no Brasil

O primeiro sistema de aproveitamento de água de chuva no Brasil foi construído na ilha


de Fernando de Noronha/PE pelo exército norte-americano em 1943 (GHANAYEN, 2001
apud ANNECCHINI, 2005).
Atualmente, no Brasil, é muito comum o uso das cisternas para aproveitamento de água
de chuva, principalmente, na região semiárida do nordeste, com o Programa Um Milhão de
Cisternas (P1MC) do governo federal. Essas cisternas armazenam 16 mil litros de água com
capacidade para suprir uma família de cinco pessoas durante um período de estiagem de oito
meses, como pode ser visto na FIGURA 2. É um sistema simples e de fácil operação, em que
á água da chuva que escorre do telhado da casa é captada pelas calhas e através de tubulações
é direcionada até as cisternas, onde fica armazenada, assim suprindo a família durante o
período de seca.

16
FIGURA 2 - Cisterna na região semiárida.
Fonte: www.jaldesmar-costa.blogspot.com.br

Além da região nordeste, o aproveitamento da água de chuva, já é praticado por


cidadãos comuns, por uma questão econômica ou ciente sobre a escassez da água. Algumas
empresas de ônibus e postos de gasolina, dispões de um sistema de captação para lavagem de
veículos, pátios etc. (COSCARELLI, 2010).

3.4 Aproveitamento de água pluvial para lavagem de veículos

Atualmente existe um desperdício significativo de água tratada destinada a lavagens de


veículos. De acordo com a SABESP, uma lavagem com duração de 30 minutos com uma
mangueira pouco aberta, gastam-se 216 litros de água, já com meia volta de abertura, o
desperdício alcança 560 litros. O uso de água pluvial para essa atividade surge como uma
alternativa economicamente viável de se evitar essa perda.

17
No Brasil, é muito comum usar jatos de alta pressão de ar e água para lavagem de
veículos, essa prática demanda um grande consumo de água. (MORELLI, 2005 apud LAGE,
2010).
Na garagem da Viação Santa Brígida em São Paulo, os mais de 500 ônibus são lavados
com a água de chuva que é captada em uma área de nove mil metros quadrados e armazenada
em uma rede de reservatórios subterrâneos de 150m³ cada um. (CARLON, 2005 apud LAGE,
2010).
Um estudo realizado em postos de gasolina em Brasília sobre a viabilidade econômica
que um sistema de aproveitamento de água pluvial para lavagem de veículos oferece, mostrou
que o potencial médio de economia de água potável para esse fim foi de 32,7%, podendo
variar de 9,2% a 57,2%. Concluindo então que o uso da água pluvial para lavagem de veículos
é um investimento viável economicamente. (GHISI; TAVARES; ROCHA, 2009 apud LAGE,
2010).
Em um estudo de captação de água pluvial para lavagem de veículos em uma empresa
de transporte de ônibus, onde 250 veículos são lavados diariamente com um consumo em
média de 50m³/dia. Os resultados mostraram que a empresa obtém uma economia de até 70%
de água potável em períodos de chuva. Já durante todo o ano, a água coletada fica armazenada
em reservatórios de 160m³ de capacidade representando uma economia de 39% do consumo
de água potável. (SANCHES e LIMAS, 2007 apud LAGE, 2010).

3.5 Norma

A norma brasileira NBR 15527 (ABNT, 2007) estabelece os requisitos para


aproveitamento de água de chuva de cobertura em áreas urbanas somente para fins não
potáveis, podendo ser utilizados em lavagem de veículos, descargas em bacias sanitárias,
irrigação de jardins, limpeza de calçados, entre outros.

3.6 Sistemas de captação

Antes de entrar no mérito sobre o aproveitamento de água de chuva, é necessário saber


o conceito de precipitação, que em hidrologia, segundo Coliischon (2008) é a água da
atmosfera que atinge a superfície na forma de chuva, granizo, neve, orvalho, neblina ou

18
geada, onde a chuva é a forma mais abundante no território brasileiro, além de ser um
processo hidrológico de interesse na Engenharia.
A precipitação atmosférica é formada devido à elevação do ar quente e úmido através da
expansão adiabática onde o mesmo resfria-se até a condição de está saturado. Esse vapor é
condensado em pequenas gotículas de água formando as nuvens, essas gotículas permanecem
em suspensão através de correntes de ar ascendentes até que ganham peso necessário pra
vencer a resistência do ar e se deslocarem até o solo formando assim as precipitações.
(VILLELA e MATTOS, 1975 apud ZOLET, 2005).
O principal benefício do aproveitamento de água chuva é a economia de água tratada,
pois com o uso dessa tecnologia há diminuição da água fornecida pelas companhias de
saneamento, consequentemente menor serão os gastos com água potável. Outro benefício é
que, diminuindo o uso de água potável, a mesma poderá ser ampliada ao atendimento de áreas
que ainda não dispõem de um sistema de atendimento de água tratada, assim contribuindo
também para a questão da Saúde Pública.
A água de chuva pode ser utilizada para atividades com vários fins não potáveis nas
áreas residenciais, comerciais e industriais. A viabilidade da implantação de um sistema de
aproveitamento de água de chuva depende de alguns fatores como, precipitação, área de
captação e demanda de água, levando em consideração as condições ambientais locais,
finalidades e uso da água (MARINOSKI, 2007).
O funcionamento de um sistema de aproveitamento de água de chuva (Figura 3.3)
consiste de forma geral na captação da água precipitada sobre os telhados e lajes de
edificações (área de captação), essa água é conduzida através de calhas e condutores verticais
e horizontais, passando por equipamentos de filtragem ou sistemas que evitam a primeira
água de chuva, até o reservatório de armazenamento onde será bombeado para um segundo
reservatório, caso necessite, do qual irá ser distribuídos por tubulações de águas pluviais para
as atividades de consumo não potável.

19
FIGURA 3 - Sistema de captação de água de chuva.
Fonte: (BELLA CALHA, 2007 apud MARINOSKI, 2007).

Os componentes principais para captação de água de chuva segundo Tomaz (2003) são:
 Área de captação (telhado) - corresponde á área em metros quadrados dos telhados das
casas, edifícios ou indústrias;
 Calhas - condutores servem para captação da água de chuva podendo ser de PVC ou
metálicos;
 By Pass - evita a primeira chuva por conter muita sujeira dos telhados, podendo ser
manual com o uso de tubulações ou automáticas com dispositivos de autolimpeza;
 Peneira - geralmente com tela de 0,2mm a 1,0mm são utilizadas para a remoção de
materiais em suspensão (sólidos grosseiros);
 Reservatório - local onde será armazenada a água de chuva coletada;
 Extravasor - instalado no reservatório, deverá possuir dispositivo para que se evite a
entrada de pequenos animais.

3.6.1 Sistema de autolimpeza e remoção de materiais grosseiros

Um sistema de captação de água de chuva requer alguns cuidados que garantam a


qualidade da água armazenada. Com o objetivo de evitar a entrada de materiais indesejáveis
como folhas, gravetos e outros materiais grosseiros no interior do reservatório são necessários
20
atribuir algumas medidas que possam reter a entrada desses materiais, essa retenção pode ser
feito através do uso de telas ou grades que serviram como peneira instalada nas calhas como
mostra à FIGURA 4.

FIGURA 4 – Ilustração da função típica de uma grade sobre calha em sistema de


captação de água da chuva.
Fonte: (WATERFALL, 2002 apud MAY 2004)

Outra questão é o dispositivo de autolimpeza que consiste na remoção da primeira água


de chuva, devido aos poluentes que essa carrega, como fezes de pássaros, ratos e outros
animais que andam pelo telhado. Portanto, segundo Annecchini (2005) o sistema de
autolimpeza é um procedimento simples que remove os primeiros milímetros de chuva
através de um reservatório de eliminação da primeira chuva, que tem finalidade de receber a
chuva inicial descartando-a de forma que a mesma não entre em contato com a chuva seguinte
que será direcionada ao reservatório de armazenamento final, onde esta deverá atender apenas
aos usos não potáveis.
As FIGURAS 5 e 6 representam exemplos de dispositivos de autolimpeza.

21
FIGURA 5 – Ilustração do mecanismo de descarte da primeira água de chuva com boia.
Fonte: (RANATUNGA, 1999 apud ANNECCHINI, 2005).

FIGURA 6 - Ilustração do mecanismo de descarte da primeira água de chuva com


reservatório.
Fonte: (DACACH, 1981 apud ANNECCHINI, 2005).
22
3.6.2 Filtro vf1

Sistemas de captação da água de chuva que utilizam o filtro VF1 (FIGURA 7)


funcionam da seguinte maneira: a água da chuva passa pelo condutor horizontal desce pelo
condutor vertical, passa pelo filtro VF1 onde ocorre a separação nos sólidos grosseiros. A
água de chuva ao chegar ao filtro entra nos vãos entre as ripas da cascata, onde as sujeiras
grosseiras passam por cima das ripas e seguem para o descarte, já a água pluvial passa por
uma tela com malha de 0,26mm abaixo das ripas e seguem direcionadas ao reservatório.
(3PTECHNICK, 2001 apud MAY 2004).
Segundo May (2004) o reservatório deve estar preparado com um amortecedor de ondas
para evitar marolas e não agite os sedimentos que estão no fundo do reservatório.
O filtro VF1 foi desenvolvido para ser instalado diretamente sob o solo, recomendando-
se apenas que seja preservado o acesso à tampa superior para que possa ser feita uma inspeção
esporádica em seu interior.

FIGURA 7 – Ilustração do funcionamento de um filtro para separação de sólidos


grosseiros.
Fonte: (3PTECHNICK 2001 apud MAY 2004).

23
3.6.3 Reservatório

Para o dimensionamento do reservatório, devem ser levado em consideração a demanda


de água, área de captação, pluviometria da região e confiabilidade requerida, além dos custos.
Segundo Tomaz (2003), o reservatório pode estar apoiado, enterrado ou elevado,
podendo ser de concreto armado, alvenaria de tijolos comuns, alvenaria de bloco armado,
plásticos, poliéster etc.
O uso do motobomba vai depender do local de instalação do reservatório, caso esteja
elevado não necessitara ser bombeado, já para o caso dos reservatórios que estão enterrados
ou apoiados no solo é exigido o uso do bombeamento.
Geralmente, são usadas cisternas para armazenar água de chuva, de acordo com a
FIGURA 8, deve fazer parte de uma cisterna o uso de boia para que o sistema seja
automatizado dependendo o mínimo do operador, um dispositivo de freio d’água evitando a
agitação dos sedimentos do fundo, um ladrão que servirá como um extravasor, sifão para
evitar a entrada de insetos ou roedores na cisterna. Além disso, a depender da cisterna pode
ter ainda o uso de uma bomba pressurizadora, com captação da água diretamente do
reservatório, quando as torneiras são acionadas.

FIGURA 8 – Desenho esquemático de filtração, armazenamento e de captação de água.


Fonte: www.construindosustentavel.blogspot.com.br
24
3.6.4 Vantagens e desvantagens do sistema de captação de água pluvial.

Algumas Vantagens

 Redução do consumo de água da rede pública e do custo de fornecimento da mesma;


 Evita a utilização de água potável onde esta não é necessária, como na descarga de
vasos sanitários, irrigação de jardins, lavagem de pisos e veículos;
 Ecologicamente e financeiramente não desperdiça um recurso natural;
 Os investimentos de tempo, atenção e dinheiro são mínimos para adotar a captação de
água pluvial na grande maioria dos telhados;
 Ajuda a conter as enchentes, represando parte da água que teria de ser drenada para
galerias e rios;
 Resfriamento de máquinas;
 Reserva de água para eventuais incêndios;
 Em áreas rurais, além dos mesmos fins do ambiente urbano, destina-se à irrigação de
plantações, lavagem de criatórios de animais e bebedouro;

Algumas Desvantagens

 Variação da intensidade pluviométrica;


 Manutenção pode ser difícil para o usuário;
 Risco de acidentes para crianças quando não projetadas corretamente;
 Pode aumentar o gasto com energia elétrica caso seja necessário o uso de motobomba.

Cuidados a serem tomados

 Nunca cruzar a tubulação para água de reuso com tubulações de água potável;
 Sempre identificar com sinais onde existe água de reuso e assinalar que essa água não
é potável.

25
4 METODOLOGIA

Para avaliar o potencial econômico de água potável com a lavagem de veículos na


garagem da UFRB em Cruz das Almas, seguiram-se as seguintes etapas metodológicas:

4.1 Revisão bibliográfica

Para iniciar o presente trabalho, primeiramente fez-se necessário uma revisão


bibliográfica em monográficas, teses, livros, sites específicos, Manual IDEC, NBR 15527,
abordando o tema, com a finalidade de ampliar o conhecimento sobre o assunto tratado neste
trabalho.

4.2 Área de estudo

Com o auxílio do software Google Earth 1, foi possível determinar a localização e a área
de captação da garagem.
A garagem da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), sediada no
município de Cruz das Almas, localiza-se pelas coordenadas latitude 12°39'34.02"S e
longitude 39°5'4.18"O, (FIGURA 9). Possui telhado distribuído em duas águas com área de
captação de 290m² (FIGURA 10).
De acordo com os dados obtidos na Superintendência de Implantação e Planejamento de
Espaço Físico (SIPEF/UFRB), a água potável utilizada na garagem é oriunda do reservatório
(Figura 4.3), que é abastecido por água da concessionária Embasa, através do ponto de água,
hidrômetro CEAT800. Esse reservatório atende não somente à garagem como também a
outras instalações da UFRB, e tem um consumo médio mensal de 2.483 m³, média calculada
no período entre setembro de 2011 a dezembro de 2013.
A lavagem de veículos de médio e grande porte é feita através de uma mangueira com
um jato com duração média de 15 a 20 minutos cada veículo e acontecem, praticamente, todos
os dias úteis do mês.

1
Google Earth: programa de computador desenvolvido e distribuído pela empresa estadunidense
do Google cuja função é apresentar um modelo tridimensional do globo terrestre.
26
4.3 Cálculo da Demanda

Considerando que a lavagem de um veículo de médio porte consuma 144 litros de água
e um de grande porte consuma 200 litros de água, estimou-se que seja lavado uma média de 5
veículos por dia de médio e grande porte com um consumo de 180 litros de água por veículo,
logo têm-se um consumo total de 900 litros por dia, multiplicando esse valor por 22 dias úteis
ao mês, obtêm-se uma demanda de 19,8m³ de água por mês destinado a lavagem de veículos.

FIGURA 9 - Localização da Garagem da UFRB.


Fonte: Adaptada do Google Earth, 2014.

27
FIGURA 10 - Área de captação da água de chuva (destacado em verde).
Fonte: Adaptada do Google Earth, 2014.

28
FIGURA 11 - Reservatório que atende a garagem da UFRB campus Cruz das Almas.
Fonte: Fotografado pelo Autor, 2014.

29
4.4 Dados pluviométricos da região

Em consulta ao Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa (BDMET) do


INMET, através da estação climatológica Cruz das Almas – BA (OMM: 83222), foi possível
obter a série histórica pluviométrica mensal referente ao período 2003 – 2013 (TABELA 1).

TABELA 1 - Série Histórica Pluviométrica mensal referente ao período 2003 – 2013, da


estação 83222, Cruz das Almas/Ba
Ano Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
2003 57,5 18,4 85,0 59,6 135,6 163,2 178,9 113,2 138,3 31,2 108,7 22,3
2004 349,8 244,6 31,7 112,2 118,9 131,9 59,8 54,3 11,2 89,3 110,3 0,0
2005 75,4 148,6 87,3 124,8 92,0 227,6 132,0 123,4 57,5 14,2 147,4 51,3
2006 63,0 0,5 41,4 167,6 105,5 205,3 70,8 77,9 125,5 90,5 89,1 19,2
2007 8,1 146,9 136,6 59,6 96,8 168,7 68,5 134,4 95,8 39,5 14,9 19,7
2008 8,4 156,4 127,6 72,8 59,1 171,6 116,4 55,9 72,6 57,4 50,1 86,4
2009 29,8 44,5 8,1 101,8 280,1 94,1 107,3 66,5 50,3 80,2 9,9 13,8
2010 26,9 34,8 111,9 246,7 57,7 94,7 264,5 81,2 72,0 34,7 4,9 107,1
2011 74,7 52,3 82,5 297,7 135,0 159,0 64,3 92,7 90,0 121,8 70,3 41,8
2012 33,4 53,4 15,9 53,6 73,8 115,1 99,3 135,3 48,4 32,5 51,0 11,0
2013 86,5 76,3 19,0 142,0 130,5 181,3 137,3 121,5 71,2 90,4 89,6 72,7
Média 74,0 88,8 67,9 130,8 116,8 155,7 118,1 96,0 75,7 62,0 67,8 40,5

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2014.

O hietograma (FIGURA 12) representa as precipitações médias mensais referentes ao


período de 2003 – 2013, em Cruz das Almas – BA, onde nota-se que os meses com maior
índice de chuvas são os meses compreendidos de Abril a Julho com médias de precipitação
superior a 100 mm.

30
180,0

160,0

140,0

120,0
Precipitação (mm)

100,0

80,0

60,0

40,0

20,0

0,0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

FIGURA 12 - Hietograma de Média Mensal de Cruz das Almas – BA no período de 2003


– 2013.
Fonte: Elaborado pelo Autor, 2014.

4.5 Sistema de captação e armazenamento de água pluvial

4.5.1 Dimensionamento das calhas

Dispositivos que captam as águas diretamente dos telhados, podendo ser de seção
retangular, trapezoidal ou semicircular.
Para o dimensionamento do projeto em questão serão utilizadas calhas de seção
retangular.
Segundo Melo (1988), as calhas devem ter uma declividade mínima possível no sentido
dos tubos condutores, para que se evitem acúmulos de águas quando cessada a chuva.
O dimensionamento da calha está relacionado apenas com comprimento do telhado,
medida na direção do escoamento da água, que quanto maior, mais água será acumulada na
calha em um mesmo intervalo de tempo. Sendo assim, a largura deve ser o suficiente para
evitar que água não caia fora quando é despejada pela telha. Essa largura é determinada de

31
acordo a TABELA 2, já a altura deve ser a metade da largura e a projeção horizontal da borda
da telha, na calha deve situar a um terço da largura, como mostra a FIGURA 13.

TABELA 2 - Dimensões da calha em função do comprimento do telhado.

Comprimento do Telhado (m) Largura da Calha (m)

Até 5,0 0,15

5,0 à 10,0 0,20

10,0 à 15,0 0,30

15,0 à 20,0 0,40

20,0 à 25,0 0,50

25,0 à 30,0 0,60

Fonte: Melo, 1988

FIGURA 13- Esquema de dimensionamento da calha.


Fonte: Melo, 1988.

32
4.5.2 Dimensionamento do reservatório

A determinação do volume que um reservatório de água de chuva deve comportar é a


questão mais importante num sistema de aproveitamento de águas pluviais, para isso a NBR
15527 (ABNT,2007) apresenta alguns métodos de equações matemáticas para encontrar esse
volume, que são: Método de Rippl, Método da Simulação, Método Azevedo Neto, Método
Prático Alemão, Método Prático Inglês e o Método Prático Australiano.
Para o dimensionamento do reservatório do projeto presente, serão utilizados e
comparados os métodos de Rippl e Prático Australiano.

4.5.2.1 Método de Rippl

Para dimensionar um reservatório por esse método é necessário obter a demanda de


consumo de água (D), a área da superfície de captação (A), coeficiente de escoamento
superficial (C) também conhecido por coeficiente de runoff , que geralmente é de 0,80 e a
quantidade de água precipitada (P) que podem ser obtidos através de séries históricas mensais
ou diárias.
O reservatório é dimensionado pelas seguintes equações:

St = Dt – Qt
Qt = C x Pt x A
V= ∑ St St>0
Sendo que: ∑Qt > ∑Dt

Onde:
Qt é volume de chuva aproveitável no tempo t(m³);
A é a área de captação (m²);
St é volume de água no reservatório (m³);
Dt é o volume demandado ou consumo no tempo t (m³);
C é o coeficiente de escoamento superficial;
Pt é a altura da chuva mensal ou diária (mm);
V é o volume do reservatório (m³).

33
4.5.2.2 Método Prático Australiano

Nesse método, primeiramente, se calcula o volume de água pluvial (Q), levando em


consideração a interceptação da água que molha as superfícies e as perdas por evaporação (I)
que a NBR 15527(ABNT, 2007) considera de 2mm. Considerando o reservatório vazio no
primeiro mês, o volume do mesmo é obtido através de tentativas até que seja alcançada uma
confiança de 90% a 99%.
O volume de água de chuva é definido pela equação:

Q = A x C x (P-I)

onde,
Q = volume mensal produzido pela chuva (m³);
A = área de captação (m²);
C = Coeficiente de escoamento superficial, geralmente 0,80;
P = altura da lâmina média mensal (mm);
I = é a interceptação da água que molha as superfícies e perdas por evaporação, geralmente 2
mm.

O volume do reservatório é definido pela equação:

Vt = Vt-1 + Qt – Dt

onde,
Vt = volume de água que está no tanque no fim do mês t (m³);
Vt-1 = volume de água que está no tanque no início do mês t (m³);
Qt = volume mensal produzido pela chuva no mês t (m³),
Dt = volume demandado mensal (m³).

O nível de confiança, para o qual NBR15527 recomenda que esteja entre 90% e 99%, é obtido
a partir da expressão:

Pr = Nr / N

34
onde,
Pr é a falha;
Nr é o número de meses em que o reservatório não atendeu à demanda, isto é Vt=0
N é o número de meses considerado. (no caso presente 12 meses)

Confiança (%) = (1-Pr) x 100

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como o comprimento do telhado da garagem são de 5 metros, através da tabela 4.2,


determinou-se que a largura da calha será de 20 centímetros, logo para o dimensionamento da
calha seguindo o modelo de Melo (1988) representado na FIGURA 13, será necessário calha
de 10 centímetros de altura com projeção horizontal da borda da telha de 6,7 centímetros da
largura da calha, como pode ser visto na FIGURA 14.

FIGURA 14 - Dimensões da calha determinadas para as características do telhado


estudado.
Fonte: Elaborado pelo Autor, 2014.

Para o dimensionamento do reservatório foram utilizados e analisados em planilhas


computacional os métodos de Rippl e Prático Australiano definidos na NBR 15527(ABNT,
2007).

35
Os resultados do dimensionamento pelo Método Prático Australiano estão representados
na TABELA 3, no qual, por tentativas sucessivas dimensionou-se um reservatório com
volume de 32 m³. Apesar da norma considerar o reservatório vazio para o primeiro mês, os
cálculos para o dimensionamento, objetivando a máxima confiança de 100%, levou em
consideração que o volume de água no tanque no fim do mês (V t) de dezembro igual a 8,01
m³ fosse o mesmo volume de água no inicio do mês (Vt-1) de janeiro, ou seja, o volume final
de 8,01 m³ do ano anterior será o volume inicial do ano posterior.

TABELA 3 - Dimensionamento do Reservatório com confiança de 100%.


Mês Precipitação I Área de C Volume Demanda Vt-1 Vt
Média (mm) captação mensal (m³) (m³) (m³)
Mensal (m²) de chuva
(mm) (m³)
Janeiro 74,0 2 290 0,80 16,69 19,8 8,01 4,9
Fevereiro 88,8 2 290 0,80 20,14 19,8 4,9 5,24
Março 67,9 2 290 0,80 15,29 19,8 5,24 0,73
Abril 130,8 2 290 0,80 29,87 19,8 3,73 13,8
Maio 116,8 2 290 0,80 26,64 19,8 13,8 20,64
Junho 155,7 2 290 0,80 35,65 19,8 20,64 36,49
Julho 118,1 2 290 0,80 26,94 19,8 32 39,14
Agosto 96,0 2 290 0,80 21,81 19,8 32 34,01
Setembro 75,7 2 290 0,80 17,10 19,8 32 29,3
Outubro 62,0 2 290 0,80 13,91 19,8 29,3 23,41
Novembro 67,8 2 290 0,80 15,27 19,8 23,41 18,88
Dezembro 40,5 2 290 0,80 8,93 19,8 18,88 8,01
Fonte: Elaborado pelo Autor, 2014.

Utilizando o método de Rippl são obtidos os resultados apresentados na TABELA 4,


onde o volume do reservatório é definido pelo somatório dos volumes de água maiores que
zero (∑St >0), pois esse método baseia-se no balanço entre disponibilidade e demanda,
acumulando água no período de chuva para utilizar durante a estiagem. Logo, o volume
dimensionado é de aproximadamente 29 m³.

36
TABELA 4 - Dimensionamento do Reservatório pelo Método de Rippl

Mês Precipitação Área de C Volume Demanda Volume de água no


Média captação mensal de (m³) reservatório (m³)
Mensal (m²) chuva
(mm) (m³)
Janeiro 74,0 290 0,80 17,16 19,8 2,64
Fevereiro 88,8 290 0,80 20,60 19,8 -0,80
Março 67,9 290 0,80 15,75 19,8 4,05
Abril 130,8 290 0,80 30,34 19,8 -10,54
Maio 116,8 290 0,80 27,10 19,8 -7,30
Junho 155,7 290 0,80 36,12 19,8 -16,32
Julho 118,1 290 0,80 27,40 19,8 -7,60
Agosto 96,0 290 0,80 22,28 19,8 -2,48
Setembro 75,7 290 0,80 17,56 19,8 2,24
Outubro 62,0 290 0,80 14,38 19,8 5,42
Novembro 67,8 290 0,80 15,74 19,8 4,06
Dezembro 40,5 290 0,80 9,39 19,8 10,41
Fonte: Elaborado pelo Autor, 2014.

Ao comparar os resultados dos métodos de Rippl e Prático Australiano, percebe-se que


os volumes dos reservatórios dimensionados são próximos, 29 m³ e 32 m³ respectivamente.
Logo por serem valores próximos, define-se o volume do reservatório sendo de 32.000 litros.

5.1 Custos com os Equipamentos do Sistema de Captação de Água Pluvial

A Tabela 5.3, apresenta os custos referentes aos itens que compõem a construção do
sistema de aproveitamento de água de chuva para a garagem da UFRB, os custos foram
obtidos através do SINAPI – Índice da construção civil sem BDI e encargos sociais.

37
TABELA 5 - Custo do sistema de aproveitamento de água chuva para garagem da
UFRB

Item Quantidade Preço Unitário Preço Total


Calha 2m 27 R$ 20,00 R$ 540,00

Tubo 75mm vara de 6m 2 R$ 66,00 R$ 132,00


Registro gaveta 1 R$ 34,90 R$ 34,90
Filtro VF1 2 R$ 220,00 R$ 440,00

Disjuntor 1 R$ 13,10 R$ 13,10


Boia comum 2 R$ 12,20 R$ 24,40
Bomba Anauger 2 R$ 230,00 R$ 460,00

Cisterna de placas 16 mil litros 2 R$ 1.600,00 R$ 3.200,00


Mão de obra 1 R$ 724,00 R$ 724,00
Total R$ 5.568,40
Fonte: Elaborado pelo Autor, 2014.

5.2 Potencial Econômico

De acordo com a SIPEF/UFRB, o consumo médio mensal do reservatório CEAT800


que abastece a garagem e outras unidades do campus com água da EMBASA é de 2.483m³ de
água tendo um gasto médio da ordem de R$ 9.000,00/mês.
O consumo com a lavagem de veículos requer uma demanda estimada de 19,8m³ de
água por mês, algo em torno de 0,8% do consumo total do reservatório, logo estima-se que ao
utilizar a água de chuva para atender a essa demanda, a economia será em torno de R$
72,00/mês em gastos com água tratada o que compreende a R$ 864,00 por ano economizando
aproximadamente 240.000 litros/ano de água potável.
Levando em consideração o valor investido para a instalação do sistema de R$ 5.568,40
e a economia anual de R$ 864,00 teremos um retorno em aproximadamente 6 anos.
Sendo assim, a implantação de um sistema de aproveitamento de água pluvial para
atender somente a demanda de lavagem de veículos se torna uma medida viável
economicamente, considerando que seis anos para retorno do investimento não é um tempo
longo, visto o benefício ambiental que um sistema desses proporciona ao aproveitar o uso de

38
um recurso natural de forma sustentável favorecendo a economia de água potável, evitando o
“desperdício” de 240 mil litros de água tratada por ano.

6 CONCLUSÃO

Ao dimensionar o reservatório pelos métodos de Rippl e Prático Australiano, observou-


se que os valores encontrados em ambos tem uma aproximação em seus valores, do que se
pode concluir que a escolha de qualquer um satisfaria ao dimensionamento do sistema. O
método de Rippl dimensiona a partir da diferença entre o volume de chuva aproveitável e a
demanda de água pluvial, onde o somatório dos períodos em que a demanda supera o volume,
será definido a capacidade do reservatório. Já o método Prático Australiano por meio de
tentativas calcula-se o volume do reservatório dentro de um nível de confiança permitindo um
melhor dimensionamento.
Conclui-se que a implantação de um sistema de captação e armazenamento de água
pluvial além de trazer benefícios econômicos traz também benefícios ambientais, por se tratar
de uma medida sustentável e de fácil operação, principalmente na região de Cruz das Almas-
Ba, onde a série histórica pluviométrica mostra que a cidade tem uma boa distribuição de
chuva ao longo dos anos.
Como o dimensionamento desse projeto foi limitado a apenas a lavagem de veículos,
sugere-se que esse sistema seja ampliado para outras demandas não potáveis com um objetivo
de uma economia ainda maior em água tratada para consumo humano.
Por fim, visto os problemas que acontecem com a escassez e a má distribuição da água
por varias regiões do mundo e do Brasil, a implantação de sistemas de aproveitamento de
água pluviais deve ser uma medida adotada em todos os lugares a fim de minimizar tais
problemas.

39
7 REFERÊNCIAS

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Água de chuva –


aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis. NBR 15527. Rio
de Janeiro, 2007.

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MMA/ IDEC, 2005. 160p.

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40
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LAGE, E. S. Aproveitamento de água pluvial em concessionarias de veículos na cidade


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ZOLET, M. Potencial de aproveitamento de água de chuva para uso residencial na


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41

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