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debates

De patrimônio, ruínas urbanas


e existências breves1

José Tavares Correia de Lira


Arquiteto urbanista, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo, pesquisador CNPq

Já se disse que a cidade na modernidade é o tea-


tro de uma convulsão incessante. Lugar de produ-
ção, atividade e mudança, nela posições sociais e
modos de vida entram e saem de cena, manipu-
lando forças produtivas e recursos naturais. Lugar
da política, a cidade é atravessada por disputas in-
cessantes acerca de suas condições, comodidades
e realizações. Lugar da vida nervosa, de excitações
cinéticas e emocionais, de consciência e desorien-
tação, de comportamentos racionais e do impre-
visível das ações, ela é um universo privilegiado
para a emergência de novas subjetividades.

A história das cidades, da fabricação das cidades,


não por acaso é plena de traumas e recalques.
Pois em meio às transformações que não cessam
de operar lugares são inteiramente destroçados
ou esquecidos, submergindo à marcha das cons-
truções e reconstruções em detrimento das in-
tensas experiências materiais e sentimentais que

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carregam. Algumas cidades, é verdade, sobretudo titânicos. Eles não lideraram apenas grandes rea-
aquelas que desempenharam papéis centrais na lizações urbanísticas, mas operações gigantescas
vida das populações em outras épocas, de Bagdá, de destruição, estigmatizando paisagens inteiras
Tenochtitlán e Córdoba a Lisboa, Manchester e e recalcando violentamente traços geográficos
Detroit, muitas vezes guardarão fortes resquícios e construtivos anteriores que, apenas aqui e ali,
do passado em suas entranhas e fisionomia. Lu- como que sintomaticamente, despontariam sob a
gar, portanto, de progresso e ruína, de abandono face reluzente de suas realizações.
e criação, de permanência e demolição, a mate-
É por isso que em toda cidade contemporânea, ao
rialidade urbana emerge como campo histórico
menos naquelas onde as transformações são mais
abalado pelas forças produtivas, a conflagração
intensas e devastadoras, muitas são as camadas
dos homens e o peso da natureza. De suas funda-
temporais que se fazem visíveis, ou mais visíveis
ções e estruturas, a suas superfícies mais visíveis,
suas cicatrizes, enxertos e fraturas. Mesmo um vi-
ela está perpetuamente marcada por mutilações
sitante desavisado não deixará de se surpreender
e desfigurações, às vezes traumáticas, produzidas
– ou de se chocar – com as paisagens suturadas de
pelas forças elementares da destruição, catás-
cidades antigas e ainda hoje pulsantes em meio
trofes naturais, oscilações demográficas, ciclos
a suas configurações atuais, como em Roma, na
civilizatórios, guerras, genocídios, conquistas, in-
Cidade do México, em Istambul, em Berlim e mes-
cêndios, revoluções, pelo passar do tempo e as
mo em São Paulo, uma cidade jovem, mas que em
intervenções humanas, que ao fim e ao cabo se
apenas um século se refez quase completamente
conectam a todas as outras motivações. Momen-
três ou quatro vezes.
tos emblemáticos da história do urbanismo, aliás,
dão testemunho da força da agência humana na Tudo se passa como se o desenvolvimento urbano,
remodelação brutal dos territórios urbanos por soterrando tecidos herdados, destruindo quadras
sobre antigas estruturas destroçadas. Benjamin e edificações, espalhando por toda parte pedras,
(1989, p. 84) observou a importância adquirida tijolos e ferragens, ruído e silêncio, muito escom-
por modestas ferramentas criadas pelo homem bro e pó, resíduo e mato se acumulando ao seu
na demolição de bairros inteiros e completa re- redor, se visse incapaz de controlar as gigantescas
configuração de Paris com Haussmann: “Pás, enxa- potências internas que pôs em movimento para a
das, alavancas e coisas semelhantes. Que grau de conjuração dos meios de produção e de troca que
destruição já não provocaram esses instrumentos lhe justificam. E como que por encanto, dele bro-
limitados! E como cresceram, desde então, com tasse um tipo de ruína muito particular, porque
as grandes cidades, os meios de arrasá-las! Que inseparável do progresso burguês: menos alegó-
imagens do porvir já não evocam!”. Haussmann rica talvez, definitivamente afastada da imagem
em Paris, Pereira Passos no Rio de Janeiro, Robert dialética de eternidade e decadência, duração e
Moses em Nova York, Prestes Maia em São Paulo finitude que lhe dava forma (BENJAMIN, 1984),
são alguns dos mais ilustres membros desta ex- talvez porque atravessada pelas novas figurações
tensa linhagem de construtores e demolidores

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da efemeridade, da precariedade e da indigência inclusive de estrangeiros em nós mesmos, a nós
produzidas pelo processo de modernização. mesmos. (DEUTSCHE, 2005) Foi isso o que Freud
(1976, p. 111) chamou de unheimlich: “[...] esse
Nos séculos XVIII e XIX, Paris, Londres, Berlim, Nova
estranho não é nada novo ou alheio, porém algo
York, Barcelona; a que nos séculos XX e XXI, viriam
que é familiar e há muito estabelecido na mente, e
se juntar cidades como Los Angeles, Xangai, o Rio
que somente se alienou desta através do processo
de Janeiro, Casablanca, Tóquio, o Cairo, Delhi den-
da repressão.” Um estranho assustador justamente
tre outras, tornaram-se polos catalisadores dessa
porque nos leva de volta ao que é familiar, ao que
dinâmica urbana ciclópica e devastadora que o
está inalienavelmente situado entre o familiar e o
capitalismo infundiu planetariamente. Centros
não familiar, entre o abrigo e o desabrigo, o eu e o
antigos inteiramente demolidos, encortiçados
outro, um outro em mim, presente ainda que au-
ou descaracterizados; monumentos transforma-
sente, desconhecido e íntimo.
dos em enigmas simbólicos; milhares de prédios
abandonados e sítios inteiros transformados em No ritmo alucinante das transformações, a experi-
detritos e vastidões de tijolos espalhados; silhue- ência da metrópole é assediada por sentimentos
tas urbanas recortadas pela constante recriação ligados a essa forma do estranho: medo e esperan-
do solo; cidades e bairros fantasmas completa- ça, senso de conservação e precipitação no futuro,
mente abandonados; subúrbios e periferias infi- nostalgia e utopia, melancolia e entusiasmo. Cená-
nitos perpetuamente em obras; tal é a paisagem rio em ebulição, cenário em ruína: a metrópole é o
ruinosa que desde então parece generalizar-se lugar onde tudo que é sólido volatiliza-se e “todas
pelas cidades mundo afora. Conquistando, inclu- as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu
sive, cidades menores, mais e menos explosivas, cortejo de concepções e de idéias secularmente
mesmo em um país atrasado na ordem mundial veneradas”, se dissolvem, e “tudo o que era sagra-
como o Brasil: de São Luiz do Paraitinga a Santa- do é profanado, e os homens são obrigados final-
rém, de Ipojuca a Caxambu, fisionomias, imagens, mente a encarar com serenidade suas condições
imaginários urbanos são continuamente refeitos e de existência e suas relações recíprocas.” (MARX;
arruinados. ENGELS, 1980, p. 24) O passado desmoronando
por camadas inteiras sob o choque do novo, o pre-
O tempo todo, somos surpreendidos por paisa-
sente não mais tendo tempo para se fixar, as mais
gens dissolventes, estranhamente familiares e
belas e fascinantes construções sendo capitaliza-
inquietantes, ao mesmo tempo aterrorizadoras e
das para sua rápida depreciação e planejadas para
íntimas. (VIDLER, 1992) O sentimento é caracte-
logo se tornarem obsoletas, se isso pagasse bem.
rístico da experiência característica das grandes
Tais as imagens ambivalentes projetadas por Marx
metrópoles, tão cheia de coisas estranhas e am-
e Engels acerca da sociedade burguesa. À sua
bivalentes, tão desafiadora inclusive porque mar-
frente, a classe dominante mais incansavelmente
cada pela presença do estrangeiro, de objetos,
empreendedora e mais violentamente destruido-
valores e pessoas estranhas, que nos interpelam
ra de toda a história. “Tudo o que a sociedade bur-
elas mesmas em nossa condição de estrangeiros,
guesa constrói é construído para ser posto abaixo.

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(...) O pathos de todos os monumentos burgueses da história, intensamente construtivo e destrutivo
é que sua força e solidez material na verdade não ao mesmo tempo, é certamente porque ela, com
contam para nada e carecem de qualquer peso sua economia inesgotável de mercado, deslocan-
em si; é que eles se desmantelam como frágeis do massas humanas, bens materiais e capital, cor-
caniços, sacrificados pelas próprias forças do ca- roendo e explodindo os fundamentos da vida de
pitalismo que celebram.” (BERMAN, 1986, p. 97-98) todos em seu caminho, está objetivamente estru-
Marshal Berman reencontrou esse impulso fáusti- turada como máquina funcional de extração de
co eminentemente burguês no coração do bairro mais valia. Nela, as tensões da vida mental são vio-
em que cresceu em Nova York, rasgado pela via lentamente amplificadas pela subsunção de tudo
expressa do Bronx idealizada por Robert Moses à socialidade do dinheiro, que permite aos indiví-
em 1953: “A estrada seria dinamitada diretamente duos nivelarem-se e compensarem-se em círculos
através de dezenas de quarteirões sólidos, está- cada vez mais abstratos de relacionamento, e ao
veis, densamente povoados, como o nosso; algo mesmo tempo, deles se destacarem com inédita
em torno de 60 mil pessoas, operários e gente de independência e impessoalidade. É verdade que
baixa classe média, sobretudo judeus, mas com muitas vezes tal liberdade significa a liberdade de
muitos italianos, irlandeses e negros entre eles, conteúdos da vida e de aspectos qualitativos das
seriam expulsos de seus lares. [...] Por dez anos, do coisas, enrijecendo-se na arrogância blasé dos que
final dos anos 50 ao início dos anos 60, o centro do tem dinheiro suficiente para reagir de modo aba-
Bronx foi martelado, dinamitado e derrubado. [...] fado às diferenças e propriedades específicas dos
Meus amigos e eu ficaríamos sobre o parapeito da objetos. (SIMMEL, 1998) Mas é também entre os
Grande Confluência [o bulevar Grand Concourse], homens metropolitanos que será possível flagrar
onde antes fora a 174th Street, e fiscalizaríamos o tentativas mais ou menos heróicas ou fracassadas
andamento das obras – as enormes escavadeiras de recuperar certa autenticidade, de subtrair a
e motoniveladoras, estacas de madeira e aço, as experiência do choque aos automatismos da vida
centenas de trabalhadores com seus capacetes de moderna, de tornar ativa as intensidades nervosas
cores variadas, os gigantescos guindastes que se que de outra forma teriam efeitos devastadores,
debruçavam bem acima dos telhados mais altos através da arte, da política e do erotismo. (TAFURI,
do Bronx, os tremores e as explosões provocados 1980; LITVAK, 1979)
pela dinamite, as rochas recém-descobertas, ás-
Com Simmel (1998) talvez pudéssemos repensar o
peras e pontiagudas, os panoramas de desolação
significado da ruína na experiência da metrópole.
estendendo-se por quilômetros e quilômetros,
Reencenando a inimizade original entre a pedra e
até onde a vista pudesse alcançar, a leste e oes-
o espírito, entre os sentidos de gravidade e eleva-
te – para nos maravilharmos ao ver nosso bairro
ção, as ruínas nas grandes cidades, e não apenas
comum e agradável transformado em sublimes,
dos sítios e monumentos antigos em seu interior,
espetaculares ruínas.” (BERMAN, 1986, p. 276-277)
talvez sejam capazes de indiciar o duelo funda-
Se é na metrópole que se produz esse tipo parti- mental entre matéria e espírito, natureza e cultura,
cular de sujeito, capaz de sobreviver ao ritmo novo passado e presente em novos termos. Nelas, tal-

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vez seja possível entrever um estorvo arquitetôni- arquitetônicos voltados ao entretenimento, ao
co, imobiliário, territorial, mais do que arqueológi- turismo, ao lazer, ao consumo e à habitação pri-
co, ao processo de urbanização, uma revanche do vada. Já Luiz Amorim (2007), em seu “obituário
que é constantemente soterrado ou descartado arquitetônico” da Recife modernista, documen-
na edificação da cidade, uma espécie de retorno tou as múltiplas facetas da ruína, da demolição
do reprimido em meio ao choque permanente da e da vulnerabilidade produzidas pela voracidade
vida moderna, uma evidência embaraçosa da in- dos investimentos imobiliários locais. Insensíveis
capacidade da civilização burguesa de lidar com à fisionomia singular de muitos de seus edifícios,
as diferentes temporalidades que lhe perpassam. conjuntos e logradouros, o saldo de suas interfe-
rências no constante construir e reconstruir das
Porque nada escapa à fúria avassaladora da me-
cidades revelam completa incapacidade ou falta
tropolização. Nem mesmo as suas configurações
de interesse do mercado em lidar com as preexis-
mais recentes. Sharon Zukin (1991, p. 39-50) mos-
tências arquitetônicas e o patrimônio edificado.
trou a intensidade dos processos de redefinição
*
das paisagens urbanas modernas e pós-modernas
Ruína e ebulição: há sempre em toda grande ci-
nos Estados Unidos que, submetidas pela cultura
dade tempos e presenças diferentes coabitando
do mercado a rápidos processos de obsolescên-
no espaço, sobretudo em seus centros históricos.
cia e estratégias de destruição criativa, levaram a
A despeito de todas as transformações do centro
vida útil dos edifícios a se estreitar enormemen-
e da centralidade na cidade contemporânea, é
te ao longo do século XX. Tais operações muitas
frequentemente para lá, para seus imóveis des-
vezes viriam a se beneficiar inclusive das leis de
valorizados e logradouros mal cuidados, que ain-
preservação que entre 1970 e 1987 naquele país
da hoje convergem as autoimagens citadinas, os
concederam subsídios a empreendimentos espe-
olhares dos turistas, as reivindicações de identida-
culativos que reutilizassem antigas estruturas por-
de e boa parte das estratégias urbanas – imobili-
tuárias, ferroviárias, comerciais e industriais. Foi o
árias, turísticas, culturais ou publicitárias. (BIDOU-
que aconteceu, como ela bem lembrou, na região
-ZACHARIASEN, 2006) Em toda grande cidade do
do Faneuil Hall em Boston, no Inner Harbor de
presente, os antigos centros parecem ter se trans-
Baltimore, em South Street Seaport em Nova York.
mutado em uma espécie de passivo a ser capita-
Owen Hatherley (2010) pôs a nu o que ele chamou
lizado por forças heterogêneas em sua condição
de “novas ruínas britânicas”, feitas não apenas de
especialmente sensível de incerteza, esperança e
resíduos de velhas construções postas abaixo, mas
desconforto.
do próprio renascimento urbano da Grã-Bretanha
entre as décadas de 1970 e 90 que, sobre os es- Mas esses antigos centros urbanos são tradicio-
combros de antigas herdades municipais, docas, nalmente, também, o universo em que orbita toda
fábricas, armazéns, moinhos e conjuntos habita- uma galeria de figuras vulneráveis e ameaçadoras,
cionais modernistas de Southampton, Glasgow, desregradas e indesejáveis: mendigos, prostitutas,
Liverpool ou Manchester, difundiu uma geração michês, imigrantes, homens-sanduíche, travestis,
desoladora e precocemente ruinosa de artefatos palhaços, boêmios, conspiradores, vagabundos,

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trombadinhas, espertalhões, poetas, drogados mambembe e azarão, vivido por Marat Descartes,
etc., tipos característicos de “iluminados”, afeitos em Super Nada (Rubens Rewald, 2012). Em ambos,
aos subterrâneos da grande cidade. (BENJAMIN, os heróis são figuras improváveis de habitantes
1989) Segundo James Green (2000, p. 51-118), no da cidade em disputa desigual com as tendên-
Rio de Janeiro, era no Largo do Rossio, atual Praça cias à exclusão socioespacial a que são expostos
Tiradentes, sob os pés do monumento a Dom Pe- nas áreas centrais em que circulam. Seu habitat é
dro I, nos bancos, arbustos, cinemas, teatros, caba- uma imagem estratificada, recortada, ora sombria
rés, cafés, bares e cortiços ao seu redor, que entre ora estourada, mas sempre decadente do Recife e
finais do século XIX e inícios do XX, putos, traves- de São Paulo, seus cortiços, vielas, avenidas, pon­
tis, frescos e sodomitas socializavam livremente, tes, viadutos, praças, valas, escombros e resíduos.
beneficiando-se da moralidade frouxa nessa par- É ne­les que se tornam visíveis ou que se escon-
te da cidade. Segundo Sarah Feldman (1989), em dem, que se encontram e se perdem, que sonham
São Paulo, entre 1940 e 1953, as prostitutas que e derivam, protestam e rebolam. Neles são retra-
até então se espalhavam por cortiços e casas de tados na iminência de se verem extraviados, ou
tolerância a leste e oeste do Tamanduateí, nas vizi- desabrigados pelos processos urbanos, policiais e
nhanças do centro velho e do centro novo, seriam midiáticos que os atropelam.
oficialmente confinadas em uma zona segregada
É sintomático que hoje, quando as políticas de re-
do Bom Retiro, bairro central historicamente ocu-
vitalização de centros históricos e bairros centrais
pado por grupos de imigrantes e então fortemen-
parecem ter se afirmado na agenda patrimonial
te marcado pela presença de judeus e, em menor
brasileira, personagens como esses venham sen-
número, de sírios, libaneses, gregos e russos. Nele
do identificados entre seus principais obstáculos.
seriam instalados “[...] quase 150 casas de tolerân-
Prostitutas da Lapa no Rio, viciados em crack na
cia, abrigando em torno de 1400 mulheres, três
Luz em São Paulo, trombadinhas, mendigos e
postos antivenéreos e uma delegacia de polícia,
moradores de rua de toda grande cidade brasilei-
além de alguns bares e restaurantes”. (FELDMAN,
ra tornaram-se frequentemente o alvo de ações
1989, p. 63) Apesar do controle policial absoluto
urbanísticas, higienistas, policiais, comunitárias e
nessa zona de prostituição da cidade, é sintomá-
criminais. Rosalyn Deutsche observou como tam-
tico que, no momento da suspensão oficial do
bém em Nova York nos anos 1990, políticas de re-
confinamento, no último dia de 1953, as mulhe-
vitalização e qualidade de vida tenham sido apre-
res tenham saído às ruas “[...] em mini-passeatas,
sentadas como argumento convincente para a
protestando, pichando os muros e reivindicando a
implementação de ações públicas fortemente ex-
reabertura da zona”. (FELDMAN, 1989, p. 64)
cludentes, que ao mesmo tempo que trivializam
Personagens insistentes e existências breves, os direitos e problemas urbanos, entregam siste-
como também, mais recentemente, os protago- maticamente os espaços públicos a setores priva-
nistas de dois filmes brasileiros: Zizo, um poeta dos. Combinando interesses imobiliários e políti-
anarquista interpretado por Irandir Santos, em Fe- cas de tolerância zero, entre suas realizações mais
bre do Rato (Claudio Assis, 2011), e Guto, um ator recorrentes estão a criminalização dos sem-teto,

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o despejo de imigrantes e moradores pobres e a Bartlet também não teria sido casual, pois, no en-
perseguição a negócios de sexo. Em nome do di- redo, Londres não era apenas uma cidade amoro-
reito à privacidade de suas vizinhanças, cidadãos sa, mas também ameaçadora: “nela, gays e outros
bem estabelecidos, incapazes de porem seus pró- outsiders – imigrantes, negros e minorias étnicas
prios valores em dúvida e de lidarem com o outro – são esfaqueados, espancados, detidos e insulta-
senão como um invasor ou forasteiro, algo abomi- dos verbalmente nos espaços públicos da cidade
nável e ameaçador, vem embarcando na tendên- quase todas as noites”. (DEUSTCHE, 2005, p. 11-12)
cia à moralização do espaço público. Situando-se
Mobilizando, simultaneamente, elementos da fi-
claramente na contramão desses discursos, ela
losofia política, da teoria urbana crítica e da crítica
recupera a dimensão do direito à cidade como di-
literária, Deutsche focaliza uma cena específica
reito à representação, ao espaço mental, ou antes,
do romance: a noite em que os namorados ficam
ao espaço tal como ele é vivido psicologicamente.
noivos no bar que frequentavam diariamente.
Na esteira de Henri Lefèbvre, Deutsche valoriza as-
Seu pequeno mundo no centro de Londres, The
pectos não facilmente mapeáveis da experiência
Bar era ele mesmo “um tipo de cidade (uma me-
urbana, resíduos de pessoas e eventos mais anti-
trópole ou cidade-mãe) em que os homens gays
gos, que subsistem não simplesmente enquanto
podem passear, transar, noivar, casar, ser promís-
memórias, mas que continuam a escorar fisica-
cuos e dançar toda a noite sem medo. [...] Um
mente o que se seguiu, “na forma de ruínas, vestí-
amálgama ficcional de diversos tipos de espaços
gios ou objetos preservados”. Sínteses de imedia-
em que [...] desenvolveram uma cultura públi-
ticidade espacial e anterioridade temporal, ruínas,
ca.” (DEUSTCHE, 2005, p. 18) Naquela noite, uma
resíduos e monumentos condensariam relações
tempestade gigantesca abatera-se sobre Londres
físicas entre sujeitos e práticas espaciais, entre o
e quase arrasou a cidade. Mas também interrom-
inacabado ou aquilo que nunca ocorreu e a pro-
peu a violência da cidade e, atingindo as redes de
dução do espaço, entre a fantasia e as forças que
transmissão elétrica, paralisou os relógios e sus-
fundam a realidade. (DEUSTCHE, 2005, p. 14-15)
pendeu o tempo. Naquela noite, Londres foi o ce-
Não por acaso ela recorre a um romance, Ready to nário de um drama peculiar: as estátuas cívicas da
catch him should he fall, de Neil Bartlett, uma his- cidade como que começaram a se mexer. Estátuas
tória de amor situada em Londres nos anos 1980, moventes acenaram umas às outras e ganharam
cujos personagens principais são dois homens e vida. Escaladas no papel de cidadãos democráti-
uma cidade. Nele, segundo a autora, seria possível cos, pareciam celebrar os noivos. Liberando-se de
revivificar a experiência da cidade em seu sentido valores petrificados, elas como que prometiam re-
político mais amplo, isto é, como maneira de vi- vitalizar os valores públicos na forma de uma pro-
ver juntos, com os outros. A eleição de uma ficção sopopéia, atuando como autênticos monumentos
homoerótica desafia a hostilidade aos direitos e cívicos, fazendo entrecruzar os eventos urbanos
à igualdade da atitude moralista que dominaria aos eventos estéticos. Não tanto para celebrar a
a política urbana atual, pondo em risco a própria identidade a que foram consagradas, as figuras de
cidade. A escolha de Londres como cenário por pedra e bronze confraternizavam com a diferença,

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como que em nome de uma vida política e cultu- tabilização e exaltação de identidades nacionais,
ral baseada na diferença aberta e ao mesmo tem- necessário para a produção de coesão social, os
po exigente. Falando diretamente às incertezas monumentos históricos até então eram conce-
acerca da fonte do poder, algo característico da bidos como cristalizações da tradição cívica dos
vida democrática, elas igualmente regeneravam vencedores, frequentemente incorporando tam-
a dimensão “não intencional” de todos os mo- bém representações reconciliadoras com antigas
numentos, inclusive dos “monumentos intencio- camadas dirigentes, deslocadas pelos processos
nais”: sua indeterminação constitutiva, que emer- de modernização.
ge precisamente da exposição dos cidadãos uns
Em Boston, por exemplo, entre finais do século
aos outros e de suas relações recíprocas, porque
XIX e o início do XX, quando estavam se formando
abertos à sua própria historicidade, à natureza
as instituições básicas do patrimônio histórico nos
figurativa e móvel da linguagem, à instabilidade
Estados Unidos, pessoas em campos distintos de
dos significados. Como a maior parte dos monu-
conhecimento – a psiquiatria, a economia, a his-
mentos cívicos, as estátuas significam poder. Mas
tória e a arquitetura – questionavam a decadência
durante a tempestade, em um momento de peri-
da paisagem histórica naturalizada pelo progres-
go, também significaram o direito a questionar a
so comercial, industrial e imobiliário da cidade.
base do poder. (DEUSTCHE, 2005, p. 20-23)
(HOLLERAN, 1998) No Recife, na virada dos anos
Seja como for, de geografia dividida e densa de 1920 aos 30, às vésperas da criação do Serviço do
experiências políticas, psíquicas e eróticas, os cen- Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o futuro
tros das grandes cidades são, portanto, um espaço projetado por engenheiros e urbanistas a serviço
sociocultural disputado. É importante notar que a de oligarquias regionais não parou de encontrar
promoção dos centros urbanos no campo do pa- resistências entre descendentes destas mesmas
trimônio a partir dos anos 1960 é concomitante ao camadas da sociedade. Como em Gilberto Freyre,
deslocamento de sua matriz conceitual básica, em intelectual público ardoroso em sua campanha
geral ligada à nacionalização e ao direito de suces- em favor do clima e das árvores tropicais e de
são pública dos bens do clero, da coroa e dos emi- todas as suas implicações culturais, do patrimô-
grados, assim como à ideia de consagração e pro- nio arquitetônico colonial e popular, das ruas
teção estatal que lhe acompanha. (CHOAY, 2001) enoveladas e praças sombreadas como lugar de
Sem dúvida as visões do patrimônio variaram de encontro de homens comuns e de improvisos de
período para período e de lugar para lugar, e mui- sociabilidade. Ou em Manuel Bandeira, o poeta
tas vezes se constituíram em elemento de discór- desterrado, assombrado com a onda demolidora
dia no seio das próprias camadas hegemônicas que tomava o Recife de assalto e que, em 1928,
das diversas sociedades. Mas em geral elas foram quando colaborava com o sociólogo pernambu-
permeadas por representações pedagógicas do cano no jornal A Província – sintomaticamente um
passado capazes de fundar uma comunidade periódico ligado ao governador Estácio Coimbra,
imaginária em marcos estáveis. Recurso pedagó- ele também filho das elites açucareiras em crise
gico de promoção de interesses cívicos com a es- de representação – não reconheceu o seu Recife

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de infância: cidade antes magra, com ruas estrei- e atividades pré-industriais brasileiras como bem
tas, sobrados estreitos e longos, ornatos magros, cultural e não apenas como folclore. Ou ainda, o
reservada e difícil, pontuada por torres pacatas de caso da enorme polêmica que se produziu no co-
velhas igrejas, cidade agora incaracterística. (LIRA, meço dos anos 1980 junto à Fundação Nacional
1997, p. 292-310) Pró-Memória em torno do tombamento histórico
do Terreiro da Casa Branca em Salvador. (MAGA-
Contudo, para além desse acento oficial, ora nos-
LHÃES, 1985; FONSECA, 1996)
tálgico, ora elitista, a partir dos anos 1960 e 70 o
debate patrimonial parece ter começado a desa- É interessante notar como essa atenção aos ho-
fiar o discurso tradicional. Alertando para a dimen- mens comuns, à cultura popular, às minorias so-
são dos monumentos como expressão de grupos ciais e étnicas e aos marcos anônimos da história
sociais capazes de se enraizar em algum lugar – e nacional coincide no tempo com o interesse pelo
a partir dele forjar uma tradição reconciliatória tema do patrimônio urbano e das áreas centrais.
supostamente nativa –, seus críticos passaram a Não por acaso, quando a partir dos anos 1970 a
questionar a impostura das estratégias de impo- questão do patrimônio ambiental urbano emer-
sição desses marcos a outros grupos, que de mais giu no Brasil em meio ao enorme processo de me-
a mais, em geral, eram continuamente forçados tropolização, e as recomendações de integração
ao desenraizamento, à migração e ao anonima- urbana de fragmentos do passado ou de áreas
to. Vejam-se os escritos de um autor norte-ame- envoltórias aos monumentos começaram a ser in-
ricano dos anos 1970 como J. B. Jackson em sua cluídas entre as preocupações preservacionistas,
crítica à restauração urbana como condensadora as áreas centrais de cidades brasileiras entraram
de valores imobiliários e estratégias para manter na ordem do dia das políticas públicas. O Pátio de
afastados vizinhos indesejáveis. Segundo ele, era São Pedro, a Praça do Diário e o Bairro do Recife,
preciso recuperar uma outra tradição preserva- no Recife; a Sé, o Largo de São Bento, a Luz e o
cionista, mais próxima das existências comuns e Bexiga, em São Paulo; o Pelourinho, o Terreiro de
dos homens comuns do que daqueles indivíduos Jesus, a Sé ou o Campo Grande, em Salvador; a
e eventos consagrados em marcos monumentais região do Porto, a Praça Mauá, a Cinelândia, o Pas-
dedicados exclusivamente a nos fazer lembrar de seio Público, o Largo da Carioca, a Praça Tiraden-
nossas obrigações políticas, morais ou religiosas, tes, a Lapa, no Rio de Janeiro. Nos últimos anos,
e a produzir adesão a uma determinada tradição novamente elas se tornaram os termômetros com
nacional. (JACKSON, 1980) Ou aqui mesmo no que se pode medir a temperatura dos processos
Brasil, as críticas lançadas nos anos 1970 por Aloi- de patrimonialização e culturalização urbanas.
sio Magalhães e o Centro Nacional de Referência É de se pensar até que ponto esses processos, ao
Cultural ao predomínio quase absoluto dos bens reconquistarem os espaços despedaçados, esfar-
imóveis, sítios e conjuntos arquitetônicos de natu- rapados, dissolvidos e arruinados produzidos pe-
reza histórica nas políticas da Secretaria do Patri- las dinâmicas da modernização, vem reincidindo
mônio Histórico e Artístico Nacional, assim como em ações tradicionais de limpeza social, moraliza-
à sua incapacidade de pensar as formas de vida ção do espaço público e exclusão socioespacial.

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Lembro-me de uma experiência muito reveladora países vizinhos, rurais e urbanos, também como
a esse respeito, que vivi há alguns anos em Bue- no Brasil a comunidade parecia atormentada pela
nos Aires. Eu era professor de história da arquite- expansão do tráfico de drogas e da violência.
tura na Universidade de São Paulo em São Carlos
Após a fala absolutamente iluminada de uma das
e juntamente com outros dois colegas, Carlos Ro-
mães responsáveis pela gestão do espaço, sobre
berto Monteiro de Andrade e Givaldo Medeiros,
as lutas da comunidade pela permanência no lo-
organizamos uma viagem didática de uma sema-
cal ante as ameaças especulativas e urbanísticas
na à Argentina. O grupo era composto pelos três
do momento, e um cuidadoso lanche de boas-vin-
professores e cerca de cinquenta alunos do curso
das que nos foi servido, fomos divididos em três
de graduação. Um dos roteiros incluía uma visita à
grupos para um passeio pela Villa. Nossos cicero-
Villa 31, uma das únicas favelas da capital federal,
nes eram jovens da comunidade. Deviam ter cerca
localizada em sua área mais central, entre a esta-
de 15 ou 16 anos de idade. Segundo o rapaz que
ção Retiro de trens e a parte norte da região por-
nos guiou, seguiríamos um roteiro pelos marcos
tuária, então ameaçada de remoção pelos proces-
históricos da Villa 31. Minhas lembranças são pro-
sos de revitalização que brotaram naquela parte
vavelmente imprecisas, talvez até impregnadas
da cidade com as obras de Puerto Madero. Nos-
por um sentimento de espanto algo revelador,
so contato foi intermediado pela arquiteta Clara
que me acompanhou durante todo o roteiro. Para-
Braun, cujo filho mais novo desenvolvia um traba-
mos em quatro pontos da Villa 31. A primeira para-
lho militante junto a um eco-club da comunidade.
da foi em uma viela estreita, no meio da favela, em
Começamos a visita em um “comedor popular”,
uma paisagem absolutamente inexpressiva. Nos-
instituição social que provia apoio pedagógico e
so guia pediu que olhássemos para cima, para um
alimentar às crianças e adolescentes da Villa, rele-
pequeno poste de madeira, tomado como todos
vante também, ao que parece, em termos sociais
os demais na região por infinitas ligações elétricas
e políticos nas lutas por reconhecimento e cida-
privadas. Sob os fios, ele chamou nossa atenção
dania lideradas por mulheres e jovens da comu-
para uma pequena cantoneira em ferro que sus-
nidade. O contraste com a fisionomia tradicional
tentava a luminária, quase imperceptível, apesar
de Buenos Aires não podia ser maior: nenhum
da modesta decoração, bastante deteriorada, que
traçado regular, bulevar, passeio ou jardim públi-
lhe distinguia. Tratava-se, segundo ele, do último
co, nada de sua excelente equipagem urbana, de
remanescente da presença dos trabalhadores
sua arquitetura europeia ou monumentos cívicos.
responsáveis pelas obras de ampliação do porto,
Estávamos em uma villa-miseria argentina, típica
que ali teriam sido instalados a partir da década
favela latino-americana, igualmente densa, de
de 1940. Um marco de origem, que atestava a pre-
ruas estreitas e tortuosas, casas auto-construídas
cedência popular na região. Segunda parada: um
sem reboco e infraestrutura visivelmente precá-
terreno descampado que se estendia da borda da
ria. Habitada quase inteiramente por populações
favela à Autopista Arturo Illia, uma via expressa
indígenas e seus descendentes, migrantes de re-
elevada, construída em sua margem, projetada
giões mais pobres da Argentina e imigrantes de
nos anos 1970 e construída na década de 1990.

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De novo, um enigma. O que teria acontecido ali remetem a conteúdos clássicos do patrimônio: as
que faria de uma área empoçada e coberta de artes e ofícios, o militar, o religioso e o civil, porém
mato um marco histórico? Ou antes, o que teria reelaborados à margem da história política e cul-
acontecido ali que fizera com que aquele terreno, tural da nação. Rememorados pelas gerações atu-
cercado de todos os lados por moradias, fosse ais, remetem diretamente a significados patrimo-
poupado ao intenso processo de ocupação da fa- niais básicos: o pertencimento e a permanência,
vela? A explicação era ainda mais surpreendente. que encontram nas pressões do mercado imobili-
Naquele terreno, encenara-se nos anos 1970 um ário, das obras urbanas, da repressão política e da
dos confrontos mais sangrentos entre a população exclusão social as suas principais ameaças. Contra
local e a polícia, que tentava fazer valer as ordens elas, os moradores pobres da Villa 31, quase todos
oficiais de desocupação da área para construção indígenas, vem reelaborando facetas fundamen-
da autopista. Configurara-se em torno dele, assim, tais da agenda patrimonial contemporânea. A co-
como que um sítio de resistência, que deveria meçar pelo modo como repropõem a fragilidade
restar vazio em memória das lutas que ali haviam material de seus bens culturais, seu estado fisica-
ocorrido e das causas que as motivaram. As ou- mente precário, residual, sutil ou ruinoso, como
tras duas paradas relacionavam-se entre si: uma suporte de poderosas estratégias retóricas, políti-
pequena capela de madeira também na periferia cas e poéticas de resistência.
da villa, próxima à linha ferroviária, e uma “praci-
nha”, de não mais que dez metros quadrados, em Notas
uma de suas áreas mais densas. Ambas remetiam 1 Esse ensaio foi elaborado a partir de um texto original-
a um herói local, o padre Carlos Francisco Mugica, mente apresentado na mesa redonda “Cultura, identida-
de formação peronista e próximo às ideias de Che des e conservação: espaço público, sociabilidades e patri-
Guevara e Mao Zedong, cuja proximidade aos mo- monial cultural”, no interior do XV Encontro Nacional da
vimentos populares e à juventude católica na Ar- ANPUR, realizado no Recife em maio de 2013. As ideias
gentina o levaria a então Villa de Retiro, onde fun- básicas aqui contidas nasceram em meio a um conjunto
daria a paróquia do Cristo Obrero. Assassinado em de trabalhos que venho acompanhando nos últimos anos
à frente do Centro de Preservação Cultural da USP, como
1974 em um atentado anticomunista, seus restos
a exposição “Bairro da Luz: documentos recentes”, reali-
mortais foram enterrados na pequena capela da
zado em 2011 sob a curadoria de Eduardo Costa e André
Villa 31, hoje um importante centro social da co-
Kobashi; o curso de difusão cultural sobre “Memória, his-
munidade. Na “pracinha”, um piso cimentado, que
tória e transformação nos bairros centrais de São Paulo”,
se confundia com a terra batida do solo natural que Sarah Feldman e eu organizamos no mesmo ano; o
da favela, abriga um pequeno oratório dedicado projeto “Bixiga em artes e ofícios”, coordenado por Rose
a Mugica, cuidadosamente pintado e coberto de Satiko desde 2010; e a exposição “Ruínas e Demolições”,
flores pela população que o cultiva. que junto com Luiz Florence e alunos de graduação da
FAU-USP, organizei em 2012.
Ancestralidade, soberania, heroísmo, confraterni-
zação, enraizamento, os monumentos da Villa 31

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