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As TIC na investigação qualitativa

A investigação qualitativa procura a compreensão de contextos particulares, tentando perceber o


que justifica alguns comportamentos, atitudes ou convicções. O foco desta investigação é o
significado veiculado pelos participantes conjugado com os seus comportamentos (Schensul,
2008b). A investigação qualitativa tem vindo a sofrer uma mudança em termos tecnológicos
(Flick, 2005), que se reflecte nas diferentes fases de uma investigação. As TIC podem ser
utilizadas como método ou técnica de recolha de dados, com dois objectivos principais: o de
recolha de dados de intervenientes na investigação ou a localização de fontes de dados (Saumure
e Given, 2008). A recolha de dados com recurso à Internet desempenhou um papel fundamental
na evolução da investigação em ciências sociais e humanas, possibilitando, segundo Cohen et al.
(2007), o acesso a públicos anteriormente inacessíveis, com custos muito menores e com tempos
de recolha de dados também menores. O recurso ao computador e à Internet possibilita a
localização rápida e a utilização de imensas quantidades de material bibliográfico (Cohen et al.,
2007) disponibilizado em bibliotecas nacionais e internacionais, em revistas e em repositórios de
trabalhos de investigação.

A análise de dados pode também ser muito facilitada por programas destinados à análise
qualitativa que proporcionam um conjunto de mecanismos de organização de texto por
categorias ou critérios entrecruzados que facilitam a sua análise e a escrita da reflexão
subsequente (Hewson et al, 2003). Um outro aspecto muito relevante das TIC na investigação
qualitativa relaciona-se com o estabelecimento de redes de informação que possibilitam o acesso
a um manancial de material que, de outra forma, não seria possível, abrindo novas janelas ao
nível da investigação. Os autores referidos não permitem concluir que haja diferenças
significativas no produto final de uma investigação quando é efectuada pelos métodos
tradicionais ou quando tem características de investigação virtual. No entanto, existem muitas
diferenças quer ao nível da recolha de dados, quer da sua análise, diferenças onde são detectáveis
pontos fortes e pontos fracos e que colocam novas questões relacionadas com a ética em
investigação.

2. Técnicas em contexto virtual Os autores não são totalmente consensuais quanto às técnicas de
recolha de dados em investigção qualitativa, mas verifica-se concordância quanto às mais usuais:
a observação, o questionário, a entrevista e a recolha documental.
2.1. Documentação em contexto virtual

A recolha de documentos online tem vindo a assumir um papel cada vez mais presente na
investigação, o que, segundo Saumure e Given (2008), resulta da maior acessibilidade aos
documentos e da proliferação de publicações pessoais online.

2.2. Observação em contexto virtual

A observação de comunidades virtuais permite a recolha de comunicação escrita ou oral entre


os intervenientes, ou ainda de documentos que vão sendo disponibilizados à comunidade. Para
Saumure e Given (2008) esta observação pode ser participante, quando os investigadores se
envolvem na comunidade que estudam, ou não participante quando não interagem com a
comunidade.

2.3. Entrevistas em contexto virtual

Para Turney (2009), uma entrevista virtual é qualquer entrevista realizada com recurso às
ferramentas de comunicação síncrona ou assíncrona. As ferramentas de comunicação assíncrona
permitem maior reflexão do entrevistado, particularmente importante quando são explorados
temas problemáticos (Turney, 2009).

Uma das diferenças entre as entrevistas presenciais e as virtuais prende-se com o papel do
entrevistador/moderador que em ambiente virtual se torna menos interventivo, o que implica a
definição prévia de regras de comunicação.

Questionários em contexto virtual

O desenvolvimento de questionários online não exige conhecimentos técnicos profundos e as


ferramentas disponíveis, muitas delas gratuitas, apresentam grande maleabilidade. Face aos
questionários em papel, estes são respondidos com maior celeridade, e revelam maior cuidado no
preenchimento de questões de resposta aberta, mas a taxa de resposta é inferior (Murthy, 2008).
No entanto, existe uma maior facilidade em relembrar os destinatários, recorrendo a mecanismos
de comunicação electrónica. Cohen et al (2007) e Schmidt (1997) relatam vários problemas nos
questionários online: respostas incompletas, respostas inaceitáveis, múltiplas submissões,
segurança e integridade das informações, incompatibilidades com o hardware e/ou o software e
questões de ordem ética. Cohen et al (2007) sugerem normas para incrementar a eficácia dos
questionários online: versões simples cujo download se torne rápido; inclusão de uma pequena
introdução que motive os inquiridos; apresentação clara de instruções de preenchimento,
localizadas junto da questão à qual dizem respeito; questões simples, de fácil compreensão e
resposta; utilização de formatações simples, próximas das usadas em suporte papel; tamanho de
linha curto para ser visível em qualquer monitor; transição fluida entre as questões.

Conclusão

Ao recorrer a estas técnicas online será necessário ter em conta a especificidade das suas
características, proceder a algumas adaptações e respeitar normas específicas na sua construção.
A utilização das TIC na investigação qualitativa não tem provocado alterações na forma das
investigações, mas facilita a recolha de dados, o acesso a públicos mais diversificados e diminui
os tempos de acesso aos participantes e à documentação. No entanto, são necessários cuidados
acrescidos com a ética e com a validade da informação recolhida.

[1] Carmo, H. e Ferreira, M. (1998). Metodologia da Investigação - Guia para Auto-


aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta. [2] Cohen, L., Manion, L., Morrison, K. (2007).
Research methods in education. London: Routledge. [3] Flick, U. (2005). Métodos qualitativos
na investigação científica. Lisboa: Monitor.

[8] Turney, L. (2008). "Virtual Interview." The Sage Encyclopedia of Qualitative Research
Methods. SAGE Publications. Consultado em 9 Mar. 2009 em
http://www.sageereference.com/research/Article_n485.html.

TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS

O inquérito por questionário e o inquérito por entrevista são técnicas de recolha de dados
comummente utilizadas em investigação em Educação. O inquérito por questionário, sendo mais
comum a sua utilização em estudos de grande escala, permite auscultar um número significativo
de sujeitos face a um determinado fenómeno social pela possibilidade de quantificar os dados
obtidos e de se proceder a
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Técnicas de recolha de dados em investigação

Inferências e a generalizações. Por sua vez, o inquérito por entrevista é muitas vezes associado a
estudos de caráter interpretativo e a planos de investigação de natureza qualitativa na recolha e
análise de dados ou informações, dado o caráter descritivo e pormenorizado dos mesmos.
Contudo, ambas as técnicas apresentam problemas teóricos e metodológicos próprios, assim
como potencialidades e/ou desafios para a sua utilização em investigação em Educação. Inquirir
por questionário e/ou inquirir por entrevista em investigação em Educação? – constitui o mote de
expressão e de reflexão deste texto. Alguma literatura apresenta uma certa ambiguidade na
utilização de alguns termos em investigação, que urge explicitar, ainda que de forma sucinta (cf.
Carmo & Ferreira, 2008; Coutinho, 2011; Creswell, 2007; Dias, 1994; Patton, 2002). A saber:
técnica, método, instrumento e técnicas de recolha de dados. Num sentido lato, o método refere-
se ao caminho ou ao conjunto de operações para se chegar a um determinado resultado em
investigação (Coutinho, 2011); o instrumento, por sua vez, surge como o objeto tangível
utilizado nas diversas técnicas; já a técnica refere-se ao modo de atuação/procedimento para
chegar a esse resultado, sendo que o método pode, inclusive, incorporar várias técnicas para
alcançar os fins da investigação (Pardal & Lopes, 2011). Nesse sentido, as técnicas de recolha de
dados são caracterizadas como “procedimentos operatórios rigorosos, bem definidos,
transmissíveis”, adaptados ao tipo de problema e aos fenómenos em estudo (Baptista & Sousa,
2011, p. 53). Isto é, apresentam a função de procurar viabilizar a investigação, no que concerne
ao modo de alcance e “efetivação do conjunto de opções em que consiste o método, com vista à
verificação empírica” (Pardal & Lopes, 2011, p. 70). Contudo, importa ressalvar, como alguns
autores indicam (Carmo & Ferreira, 2008; Cohen, Manion, & Morrison, 2007; Gonçalves, 2004),
que a seleção das técnicas e dos instrumentos tem muito a ver com a natureza de investigação,
pois dependem intrinsecamente dos objetivos do estudo, das questões e da situação concreta de
investigação. Para uma melhor apresentação de um variado manancial de técnicas e instrumentos
de recolha de dados, importa salientar os estudos desenvolvidos por Pardal e Lopes (2011),
Carmo e Ferreira (2008), Sousa e Baptista (2011), Coutinho (2011) e Morgado (2013).

2.1. Variáveis quantitativas x qualitativas


Uma variável é dita quantitativa quando os dados coletados estão na forma de valores numéricos
e fazem sentido em uma determinada escala, ou seja, representam quantidades. A altura de uma
pessoa, o número de filhos, a renda ou a quantidade de cigarros fumados em um dia podem ser
consideradas variáveis quantitativas. É bom notar que nem todas as variáveis numéricas são
quantitativas. Em uma determinada pesquisa, a variável “número do telemóvel” apresenta dados
numéricos que não fazem sentido em nenhuma escala, ou seja, não representam quantidade.
Dessa forma, a variável descrita não pode ser considerada quantitativa. Já uma variável
qualitativa não está associada a quantidades, mas a qualidades, ou seja, aos dados coletados, não
podemos atribuir parâmetros de proporcionalidade. A cor de pele, o gênero ou o grau de
satisfação de uma pessoa podem ser consideradas variáveis qualitativas. Dependendo da forma
como a variável é tratada, um mesmo dado pode ser considerado quantitativo e/ou qualitativo.
Por exemplo, quando a variável considerada é o rendimento de uma pessoa, este é um dado
quantitativo. Entretanto, quando questionamos o intervalo de rendimentos, o dado se torna
qualitativo. Outro caso que é bastante aplicado em pesquisas qualitativas ocorre quando é
associado um número ao grau de satisfação de um indivíduo (quando 1 corresponde a totalmente
insatisfeito e 10 corresponde a totalmente satisfeito, por exemplo). Não podemos afirmar que
uma pessoa que assinale o número 3 está três vezes mais satisfeita que outra que assinalou o
número 1, ou que uma pessoa que assinalou o número 10 está 2 vezes mais satisfeita que uma
pessoa que assinalou o número 5, por exemplo. Dessa forma, este é outro caso onde estamos
usando uma variável qualitativa.

2.1.1. Variáveis Quantitativas: Contínuas X Discretas

Para Guimarães (2008, p. 20):

Dentre as variáveis quantitativas, ainda podemos fazer uma distinção entre dois tipos: variáveis
quantitativas discretas, cujos possíveis valores formam um conjunto finito ou enumerável de
números e que resultam, frequentemente, de uma contagem; e variáveis quantitativas contínuas,
cujos possíveis valores formam um intervalo de números reais e que resultam, normalmente, de
uma mensuração.

Reflexões em torno de Metodologias de Investigação: recolha de dados

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Assim, a altura, o peso ou a renda de uma pessoa são exemplos de dados contínuos, mas a
quantidade de pessoas presentes em um evento ou a quantidade de aulas destinadas para lecionar
um determinado conteúdo, são exemplos de dados discretos.

2.1.2. Variáveis Qualitativas: Nominais x Ordinais

Quando os dados relativos a uma variável qualitativa podem ser ordenados em uma determinada
escala, como a faixa de renda, o grau de escolaridade ou grau de satisfação de uma pessoa em
relação a determinado evento, dizemos que esta variável é ordinal. Do mesmo modo, quando não
há relação de ordenação entre os dados, como a cor do cabelo e o gênero de uma pessoa, dizemos
que se trata de uma variável nominal ou categórica. Assim, as escalas nominais atuam apenas
como classificativas, permitindo descrever variáveis ou designar os sujeitos, sem recurso à
quantificação, e nas escalas ordinais os indivíduos ou as observações distribuem-se segundo
certa ordem, que pode ser crescente ou decrescente, permitindo estabelecerem-se diferenciações
ou rankings (Guimarães, 2008; Morais, 2005).

Dados qualitativos

Os dados qualitativos referem-se aos dados descritivos. Nas estatísticas, os dados qualitativos
também são conhecidos como dados categóricos. Os dados qualitativos são importantes para
determinar a frequência particular das características. Eles permitem que o pesquisador crie
parâmetros onde dados maiores podem ser observados. Os dados qualitativos fornecem os meios
pelos quais os observadores podem quantificar o mundo ao seu redor.
Para um pesquisador de mercado, a coleta de dados qualitativos ajuda a responder perguntas
sobre quem são seus clientes, quais problemas estão enfrentando e onde precisam concentrar sua
atenção para resolver problemas.
Os dados qualitativos tratam das emoções e percepções das pessoas, ou seja, o que elas sentem.
Essas percepções e emoções estão documentadas nos dados qualitativos. Elas ajudam o
pesquisador de mercado a entender a linguagem falada por seus consumidores. Isso, por sua vez,
ajuda os pesquisadores a identificar e abordar o problema de forma eficaz e eficiente.
Dados qualitativos vs. Dados quantitativos
É muito fácil entender a diferença entre dados qualitativos e quantitativos. Os dados qualitativos
não incluem números em suas definições de características, enquanto os dados quantitativos são
números.
Para entender melhor o conceito de dados quantitativos e dados qualitativos, abaixo temos alguns
exemplos de conjuntos de dados específicos e como eles podem ser definidos. 
 O bolo é rosa, azul e branco (qualitativo).
 As mulheres têm cabelos castanhos, pretos, loiros e ruivos (qualitativos).
 Existem 4 bolos e três muffins no cesto (quantitativos).
 1 copo de refrigerante tem 97,5 calorias (quantitativo).

Métodos de coleta de dados qualitativos


A coleta de dados qualitativos é de natureza exploratória, implica análise e investigação
aprofundada. Os métodos de coleta de dados qualitativos são focados principalmente na
obtenção de ideias, raciocínio e motivações; para que seja algo mais aprofundado em termos de
pesquisa. Como os dados qualitativos não podem ser medidos, os métodos de coleta de dados
que são estruturados de forma limitada são os preferidos.
Estes são os métodos de coleta de dados qualitativos:
Entrevistas individuais
É um dos instrumentos de coleta de dados mais utilizados para pesquisa qualitativa,
principalmente devido a sua abordagem pessoal. O entrevistador ou pesquisador coleta dados
diretamente do entrevistado individualmente. A entrevista pode ser informal e não estruturada,
isto é, conversacional. As perguntas feitas são na maioria perguntas abertas e espontâneas, e o
entrevistador permite que o fluxo da entrevista faça as demais perguntas.
Grupos de foco

Ocorre em um ambiente de discussão em grupo. O grupo é limitado a 6-10 pessoas e um


moderador é designado para liderar a discussão em andamento. Dependendo dos dados
selecionados, os membros de um grupo podem ter algo em comum. Por exemplo, um
pesquisador conduzindo um estudo sobre corredores escolherá atletas que são ou eram
corredores e que possuem conhecimento suficiente sobre o assunto.

Manutenção de registros

Outro método de coleta de dados é o de registros, que faz uso de documentos confiáveis
existentes e fontes similares de informações, como fontes de dados. Esta informação pode ser
usada em uma nova investigação. Isso é semelhante a ir a uma biblioteca. Lá você pode revisar
livros e outros materiais de referência para coletar dados relevantes que podem ser usados na
investigação.

Processo de observação da coleta de dados qualitativos

Neste método de coleta de dados qualitativos, o pesquisador se apresenta ao ambiente em que


estão seus entrevistados, observa atentamente os participantes e faz anotações. Isso é conhecido
como o processo de observação. Além de tomar notas, outros métodos de coleta de dados, como
gravação de áudio e vídeo, fotografias e outros podem ser usados.

Estudos longitudinais

Esse método de coleta de dados é realizado repetidamente na mesma fonte de dados durante um
período prolongado de tempo. É um método de pesquisa observacional que dura alguns anos e,
em alguns casos, pode seguir por décadas. O objetivo desse método de coleta de dados é
encontrar correlações por meio de um estudo empírico de sujeitos com características comuns,
conhecer tudo sobre as pesquisas e estudos longitudinais para sua próxima investigação.

Casos de estudo na coleta de dados qualitativos


Neste método, os dados são coletados através de uma análise aprofundada do estudo de caso. A
versatilidade deste método é demonstrada em como ele pode ser usado para analisar tópicos
simples e complexos. A força é a maneira como ele usa uma combinação de um ou mais métodos
de coleta de dados qualitativos para extrair inferências.

Vantagens dos dados qualitativos


1. Ajudam na análise aprofundada: os dados qualitativos coletados fornecem aos
pesquisadores uma análise aprofundada dos tópicos abordados. Ao coletar dados qualitativos,
os pesquisadores tendem a investigar os participantes e podem coletar uma grande quantidade
de informações fazendo as perguntas certas. De uma série de perguntas e respostas, os dados
coletados são usados para tirar conclusões. 
2. Entender o que os clientes pensam: os dados qualitativos ajudam os pesquisadores de
mercado a entender seus clientes. O uso de dados qualitativos dá às empresas uma ideia do
motivo pelo qual um cliente comprou um produto. Entender a linguagem do cliente ajuda a
pesquisa de mercado a inferir os dados coletados de maneira mais sistemática.
3. Dados abrangentes: Os dados coletados também podem ser usados para conduzir pesquisas
futuras. Como as perguntas para coletar dados qualitativos estão abertas, os entrevistados têm
liberdade para expressar suas opiniões; o que permite coletar mais informações.

Desvantagens dos dados qualitativos


1. Demora bastante tempo: como a coleta de dados qualitativos requer mais tempo, menos
pessoas são incluídas no estudo em comparação com pesquisas de mercado quantitativas, a
menos que o tempo e o orçamento permitam.
2. Não são fáceis de generalizar: como menos pessoas são estudadas, é difícil generalizar os
resultados dessa população.
3. Depende das habilidades do pesquisador: Esse tipo de dado é coletado através de
entrevistas individuais, observações, grupos focais, etc; portanto, depende das habilidades e
experiência do pesquisador para coletar informações da amostra. Nós podemos ajudá-lo a
realizar sua pesquisa on-line. Pergunte em nosso bate-papo on-line sobre as várias ferramentas
de coleta de dados que temos para você.

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