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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

Curso: Bacharel em Teologia


Disciplina: Documentos Confessionais da
Reforma

BIOGRAFIA DE HULDRYCH ZWINGLI [Ulrico Zwínglio] (1484-1531)

Profº: Clóvis J. Prunzel


Aluno: Everton É. Figur

RESUMO
Este trabalho apresenta a biografia de Ulrico Zwinglio, da Suíça. Filho de camponês, educado
por um tio que era sacerdote. Se tornou professor e depois sacerdote, fiel defensor do papa, para
isso, se preciso, pegava em armas. Sua teologia não é muito conhecida no Brasil, mas teve
importância no desenvolvimento da reforma. Influenciado por Erasmo, era também participante
do ciclo humanista da Suíça. Teve suas discordâncias com a teologia de Lutero, referente ao
sacramento do altar. Morreu na batalha de Kappel, em 1531.

Palavras chave: Zwínglio, Sacramento do Altar, Teologia, Reforma, Zurique.

INTRODUÇÃO

A contribuição de Ulrico Zwínglio, reformador suíço, vai de encontro com a teologia de


Lutero. Sua doutrina sobre o Sacramento do Altar é discutida em relação a teologia de Lutero
sobre o Sacramento, sendo destacada a controvérsia que os dois tiveram referente a este assunto.
Zwínglio teve influência de outros teólogos, como Erasmo e a doutrina católica sobre a Santa
Ceia, como veremos mais adiante neste trabalho. Também foi influenciado, de início, pelo ciclo
humanista da Suíça, e também pela doutrina do pecado original de Agostinho.

A VIDA E OBRA DE ULRICO ZWÍNGLIO

Huldrych Zwingli nasceu como filho de um camponês abastado no ano 1484 em


Wildhaus no cantão Toggenburg na Suíça. Desde 1489 ele foi educado pelo seu tio Bartolomeu
que era sacerdote em Weesen. A sua formação continuou nas escolas na Basiléia e em Berna,
até que ele passasse a freqüentar a universidade de Viena na Áustria a partir de 1498. Depois
de um intervalo bastante obscuro, ele inscreveu-se novamente em Viena, para mudar-se em
seguida, em 1502, para a universidade de Basiléia, onde assumiu, durante o seu estudo, um
cargo como professor escolar. Depois de terminar seus estudos, Zwingli tornou-se sacerdote de
Glarus, onde desempenhou seus serviços como fiel partidário do papa disposto também a lutar
pelo papado até com meios militares.

Zwínglio se tornou o “sacerdote do povo” na grande Minster em Zurique. Encaminhou-


se à teologia escolástica em sua forma tomista já muito cedo, mas depois seguiu por outros
caminhos. Em 1516, chegou a conhecer Erasmo de Rotterdam e foi profundamente influenciado
por seus escritos. Na verdade, ele se tornou discípulo de Erasmo e desde o início sua posição
coincidiu com o “cristianismo reformado” humanista de Erasmo, como conta Hägglund (2013).
Erasmo julgava quer o povo deveria ser iluminado pela pregação pura do Evangelho de Cristo,
acima de tudo, através dos princípios éticos do Sermão do monte. Esperando assim, que o culto
melhorasse gradativamente.

Em 1519-20, a posição de Zwínglio mudou, quando percebeu que o movimento


humanista da reforma não atingiria os resultados desejados, rompendo então com Erasmo.
Também negou o conceito pelagiano de Erasmo, e passou a ensinar que o homem é totalmente
corrompido, e que apenas através de Cristo ele pode se tornar justificado.

Alguns pesquisadores de Zwínglio acreditam que esta mudança teve influência de


Lutero, cujos livros Zwínglio começou a ler em 1518, mas sua própria descrição discorda deste
fato, pois Zwínglio começou a pregar o Evangelho antes de 1518, além disso, ele diz não
depender de Lutero, nem concordar com ele em tudo.

Outra grande influência em sua vida foi Agostinho. Foi de Agostinho que Zwínglio
derivou, em grande parte, seu conceito de pecado original e graça, e foi ela que levou ele a
romper com o humanismo anterior. Outro fator que ajudou no desenvolvimento de Zwínglio,
foi uma grande praga, da qual ele sobreviveu em 1519 que gerou uma crise religiosa em sua
vida.

Conforme Hägglund (2013),

“sob a liderança de Zwínglio, a reforma de Zurique se desenvolveu passso a passo nos


anos subsequentes a 1519. O resultado não foi apenas modificações religiosas, mas
também uma revolução social de proporções. Ética particularmente religiosas e forma
teocrática de governo caracterizam o programa de reforma de Zwínglio”1

1
HÄGGLUND, Bengt. História da Teologia; p. 204.
Apesar de sua perspectiva de reforma, parece que Zwínglio nunca abandou
completamente seu ponto de vista humanista. Sua teologia parece conter uma mistura de
elementos da antiguidade, da teologia da Renascença e da Reforma. Hägglund diz que Zwínglio
aceitou a doutrina agostiniana de pecado original, mas negou a a ideia de culpa herdada. A
culpa só aparece quando a lei é realmente transgredida; não é herdada na condição depravada
que é transmitida de geração em geração.

CONTRIBUIÇÃO DA BIOGRAFIA

Uma das ênfases da Teologia de Zwínglio é sua contribuição para o conceito de


Sacramento do Altar para o movimento reformado.

Zwínglio confessou a doutrina católica romana da transubstanciação até mais ou menos


1523, apesar de parecer que ele não a tenha confessado e nem levado muito a sério. Como
evidencia um escrito dele, citado por Sasse: “Em minha opinião, ninguém jamais acreditou que
come Cristo corporalmente e essencialmente, apesar de quase todos terem ensinado, ou pelo
menos simularam crê-lo”2.

Em uma carta, escrita em 1523 para Th. Wyttenbach, ele ataca a doutrina da
transubstanciação pela primeira vez, mas mantém a presença real, de certa forma. A sua opinião
era de que o cristão come Cristo, que apesar disto ainda está no céu assentado à direita do Pai,
mas que desce no sacramento de forma miraculosa, como é possível, ninguém sabe. Perante
este milagre, Cristo ingressa na alma do crente. A relação entre os elementos e o corpo e o
sangue de Cristo, Zwínglio não consegue explicar.

Esta primeira etapa no desenvolvimento da doutrina eucarística de Zwínglio é uma


tentativa de espiritualizar a doutrina católica. Nisto, ele seguiu o seu mestre, Erasmo, que
rejeitando a doutrina da transubstanciação, cria em uma presença miraculosa, inexplicável, do
corpo de Cristo no sacramento. Quanto a fé do participante, neste sentido, parece que Zwínglio
foi influenciado pelos primeiros escritos de Lutero sobre o sacramento. Como dia Sasse, “é
importante tomar nota que nessa etapa primitiva do desenvolvimento de Zwínglio não aparecem
os mínimos vestígios de uma interpretação figurativa das palavras da instituição. ”3

2
SASSE, isto é o meu Corpo, p. 98.
3
SASSE, Ibid, p. 99.
A segunda etapa, e agora definitiva, na doutrina de Zwínglio foi atingida em 1524, sob
a influência da famosa carta em que o humanista holandês Cornélio Hoen propôs um novo
conceito da Ceia do Senhor. Carta esta que introduziu nas discussões do século XVI a
interpretação figurativa das palavras da instituição. Este documento decretou ser falsa a
doutrina católica da transubstanciação, que transformava o pão e vinho em corpo e sangue após
a instituição, o que fez com que muitos cristãos adorassem a hóstia, assim como os pagãos
adoravam imagens de madeira e pedra. Para Hoern, isso era invenção papista, ou até doutrina
satânica. Pois Cristo só pode ser visto pela fé, e não com olhos humanos, de modo que ele
acreditava que as palavras “Isto é o meu corpo” eram apenas “Isto significa o meu corpo. ”

Quando Lutero ficou sabendo desta carta, a rejeitou imediatamente, ao contrário de


Zwínglio, que aceitou sem restrições essa teoria de Hoern. Como diz Sasse, “daí para frente, o
conceito espiritualista que compartilhava com Erasmo foi sendo substituídos pela interpretação
figurativa das palavras sacramentais, e a ideia de uma presença miraculosa foi abandonada. ” 4

Zwínglio ainda teve a influência de Carlstadt, que entrou em controvérsia com Lutero,
também sobre o Sacramento do Altar. O que ele parece ter aprendido de Carlstadt, é o
argumento agostiniano de que o corpo de Cristo não pode estar presente ao mesmo tempo no
pão e no céu. Deste modo a doutrina de Zwínglio sobre a Ceia do Senhor foi completada no
mesmo ano que irrompeu a grande controvérsia de Carlstadt à doutrina de Lutero.

Até este momento, tanto Lutero como Zwínglio acreditavam que a passagem de João 6
não se tratava da Santa Ceia, e isto é importante saber pois Zwínglio acreditava que Cristo
falava claramente de um comer e beber espiritual e rejeitava todo o comer e beber real que era
ensinado por Lutero e pela Igreja Católica Romana. Para Zwínglio, os sacramentos deixam de
ser meios da graça e se tornam meros sinais daquela graça divina que pode ser recebida mesmo
na ausência deles.

O Sacramento do Altar deixa de fazer sentido para o cristão, se levado em conta essa
concepção de Zwínglio sobre a Ceia, pois se não há presença real, deixa de ser sacramento de
passa a ser uma mera lembrança sacrificial de Cristo. E isto acaba destruindo o Sacramento do
Altar, devido a interpretação Espiritual do Evangelho. Como diz Sasse, “Lutero chegou a
considerar Zwínglio como um dos piores inimigos da Igreja de Cristo. ”5

4
SASSE, Isto é o meu Corpo, p. 101.
5
SASSE, Ibid, p. 105.
Zwínglio não considerava o batismo e a Santa Ceia como meios da graça no sentido próprio do
termo, como nos diz Hägglund,

“Não acreditava que o batismo de Crianças tivesse qualquer efeito de remover


a culpa. Como se tornou evidente do que já foi dito, Zwínglio ensinava
estaremas crianças sem culpa antes de cometerem pecados atuais. Com
respeito à Ceia do Senhor, Zwínglio não acreditava que trouxesse perdão dos
pecados; em lugar disso, considerava este Sacramento ação simbólica
memorial”6
Grande parte dos escritos de Zwínglio dizem respeito a questões práticas e politicas.
Entre suas obras teológicas destaca-se como principal a síntese doutrinária De vera et religione
commentarius, dedicada ao rei Francisco I da França (1525). Entre os escritos publicados
referentes à Ceia do Senhor, encontra-se Eine klare Unterrichtung vom Nachtmahl Christi
(1526) e a Amica exegeses, que dirigiu a Lutero em 1527.

Zwínglio envolveu-se cada vez mais na política como resultado para expandir seu
movimento de reforma a outras partes da Suíça. Participou ativamente no plano fracassado de
construir uma coalisão europeia contra a casa de Habsburgos. Trabalhou também para a
formação de um estado evangélico unificado na Suíça, que seria dirigido por Zurique a Berna,
subjugando os cantões católicos com armas. Mas, até mesmo seus seguidores se opuseram a
esse plano, que quando se irrompeu a guerra civil os evangélicos estavam divididos e em menor
número. Foram derrotados na batalha de Kappel, em 1531 Zwínglio participou da batalha e
morreu. Sua morte em batalha denota a ênfase nos elementos políticos e nacionalistas de seu
ideal de vida e ainda mostra uma atitude em relação a obra da reforma bem diferente da de
Lutero.

CONCLUSÃO

Para o desenvolvimento da teologia a partir da reforma, Zwínglio teve influência na


definição de Sacramento, principalmente no meio reformado. Apesar de na doutrina Luterana
não ser confessado o que Zwínglio ensina, os escritos de Zwínglio contra Lutero ajudaram no
desenvolvimento de uma concepção Luterana da Santa Ceia. Se não fossem as discordâncias
entre Lutero e Zwínglio, talvez hoje não tivéssemos os escritos de Lutero referente ao assunto,
que contribuem para o desenvolvimento e estudo do sacramento do altar nos dias de hoje.

6
HÄGGLUND, Bengt. História da Teologia; p. 204.
BIBLIOGRAFIA

GONZÁLEZ, Justo L. História Ilustrada do Cristianismo: a era dos reformadores até a


era inconclusa, [Traduzido por] Itamir Neves de Souza, Carmella Malkomes, Adiel Almeida
de Oliveira e Valéria Fontana. 2ªed. Ver. São Paulo: Vida Nova, 2011.

HÄGGLUND, Bengt. História da Teologia; [traduzido por] Mário L. Rehfeldt e Gládis


Knak Rehfeldt. – 8ªed. Porto Alegre: Concórdia, 2013.

NESTIGEN, James A., Zurique e Genebra: A polêmica da “Presença” no contexto da


Reforma, In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE LUTERO, 2., 1999, São Leopoldo, RS,
2009, pp. 9 – 34.

SASSE, H. Isto é o meu Corpo. Porto Alegre: Concórdia, 1970.

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