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Os avanços em superfícies projetadas para desempenho funcional

A.A.G. Bruzzone, H.L. Costa b, P.M. Lonardo, D.A. Lucca


Resumo – Gustavo Guidetti

1. Introdução
Os fenômenos físicos mais importantes envolvendo a troca de energia e/ou transmissão de
sinal ocorre nas superfícies e a compreensão desses fenômenos é fundamental para o avanço de
campos, como: eletrônica, tecnologia da informação, energia, óptica, tribologia, biologia, etc.
2. Propriedades funcionais das superfícies
As superfícies representam a interface através da qual fenômenos ocorrem, envolvendo
campos da engenharia como química, óptica, engenharia mecânica, engenharia elétrica, etc. Para
a melhor caracterização de superfícies e para facilitar a investigação das relações entre superfície
e suas funções, o avanço da disponibilidade de instrumentos de digitalização e técnicas de
visualização permitem melhoria do desempenho de caracterização e desempenho dessas
superfícies.
Distinguindo entre propriedades físicas e tecnológicas das superfícies, classificação afetada
pelo avanço industrial, esse texto busca abordar sobre propriedades tribológica, lubrificação,
atrito e desgaste de superfícies texturizadas.
2.1. Propriedades tribológicas
Tribologia é definida como a ciência e tecnologia de superfícies interagentes em
movimento relativo, estudando a atrito, desgaste e lubrificação. Cerca de 30% do consumo
mundial de energia é devido o atrito, e o desgaste é responsável por um grande número de falhas,
com custos econômicos equivalentes a 5% do PIB dos países desenvolvidos. São fenômenos
superficiais que demandam estudo, porém, os fenômenos tribológicos são muito complexos,
geralmente irreversíveis, evoluem com o tempo e, portanto, são altamente sistêmicos.
A tribologia abordada de modo multiescalar, cujo entendimento dos mecanismos de
dissipação de energia na interface entre os sólidos nos níveis atômico e molecular, usando ambas
as técnicas experimentais, como o AFM, nanoindentação, FIB-HRTEM e teoria, principalmente
usando dinâmica molecular, ajudam a explicar aspectos macro-tribológicos complexos.
A texturização de superfícies, meio de melhorar a lubrificação e reduzir o atrito e o
desgaste, com padrões contendo planaltos e vales, tem sido amplamente proposta na literatura e
sistematicamente investigada nas últimas duas décadas. Esta seção irá discutir os principais
aspectos teóricos relacionados à tribologia e as últimas realizações nesta área para uma
compreensão mais fundamental de atrito e desgaste.

2.2. Atrito de superfícies texturizadas


O atrito é definido como a resistência encontrada por um corpo ao se mover sobre outro,
ocorrendo como resultado das interações na área de contato real dos sólidos. Depende tanto dos
materiais em contato quanto do sistema tribológico.
A texturização de superfícies, especialmente em meso-escala ou macroescala, é
tradicionalmente usada para aumentar o atrito das peças, com coeficientes de atrito altos para
texturas especialmente projetadas. E o atrito entre as superfícies deslizantes também pode ser
reduzido por texturização em escala micrométrica, buscando aprisionamento de detritos de
desgaste dentro da topografia e a melhoria da lubrificação.
2.3. Desgaste de superfícies texturizadas
O desgaste é a principal causa de desperdício de materiais e perda de eficiência em
componentes mecânicos, o qual pode ser reduzido pela texturização da superfície de três formas
principais. A primeira é o aprisionamento de resíduos de desgaste no interior dos bolsos que
compõem a textura, evitando sua presença entre as duas superfícies, o que poderia causar desgaste
abrasivo. O segundo é a existência de bolsas de lubrificante pode ser particularmente útil como
fonte secundária de lubrificante, especialmente em condições que envolvem alta deformação
plástica. O terceiro é o aumento de uma pressão hidrodinâmica entre as superfícies devido às
cunhas convergentes constituídas pelas bolsas.

2.4. Lubrificação de superfícies deslizantes


A presença de uma película lubrificante entre duas superfícies deslizantes reduz o atrito e
o desgaste. Se as superfícies estão deslizando umas contra as outras com uma certa velocidade e
um fluido lubrificante está presente no contato, um filme hidrodinâmico pode se formar
espontaneamente entre elas. Essa condição é conhecida como lubrificação hidrodinâmica ou full-
film. Entretanto, quando as superfícies possuem uma micro-topografia, a distribuição de pressão,
a ação hidrodinâmica do fluido e a deformação das superfícies pode alterar, levando a diferenças
nas condições de lubrificação das superfícies. Essas diferenças podem ser positivas ou negativas
em termos de desempenho tribológico, dependendo das características da topografia.
Para a lubrificação full-film, o efeito da texturização no aumento da pressão hidrodinâmica
foi analisado por meio de simulação numérica e investigação experimental. As evidências do
efeito das irregularidades na lubrificação hidrodinâmica foram encontradas por Hamilton et al,
com observação visual de filmes de lubrificação não contínuos em selos opticamente planos e
transparentes. Assim, foi produzido um modelo analítico simples para predizer o efeito da
geometria das micro-irregularidades no suporte de carga de vedações faciais por lubrificação
hidrodinâmica, usando a equação de Reynolds reduzida à forma bidimensional da equação de
Laplace para descrever o fluxo.
Para superfícies texturizadas, as micro-topografias com os melhores resultados tribológicos
consistem em pequenas cavidades uniformemente distribuídas sobre a superfície de deslizamento.
Considerando as cunhas de micro-convergência geradas por cada um desses bolsos, superfícies
texturizadas compostas por uma pluralidade de bolsos podem ser consideradas como um conjunto
de micro-rolamentos.
Para contatos não conformes a pressão é muito alta, que para aplicação de equações
hidrodinâmicas, a espessura de filme prevista seria muito pequena prevendo contato metálico das
asperezas da superfície. No entanto, na prática, esses sistemas operam de forma bastante
satisfatória, predizendo que filmes mais espessos devem estar presentes. Fenômeno explicado
pela variação da viscosidade com altas pressões e pela deformação elástica das superfícies do
rolamento, chamado assim de lubrificação elasto-hidrodinâmica (EHL). Estudos de EHL e micro-
EHL de superfícies contendo dentes e ranhuras foram realizados, mesmo com o objetivo principal
de determinar as tensões de falhas em torno dos defeitos superficiais, mostram que a própria
topografia da superfície está intimamente envolvida no processo de lubrificação. Esses estudos
foram realizados principalmente por interferometria óptica em superfícies texturizadas
artificialmente, porém, também podem ajudar a entender o efeito de uma superfície texturizada
bem definida em EHL e micro-EHL.
Sob pressões de contato muito altas, ou em velocidades de deslizamento muito baixas, as
forças hidrodinâmicas são insuficientes para manter até mesmo um filme EHL fino e o contato
direto ocorrerá entre as asperezas. Nestes casos, a superfície deve ser protegida por um
lubrificante de limite adequado e este regime é conhecido como lubrificação de limite.

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