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Universidade Federal de Mato Grosso

Letras – Morfossintaxe
Prof.ª Dr.ª Lindinalva Zagoto Fernandes

AULA 15 – MORFOLOGIA: CONCEITO, OBJETO E DELIMITAÇÃO

OBJETIVOS
✓ Reconhecer Morfologia como a parte da gramática linguística que estuda as
unidades internas que formam as palavras e, por extensão, a construção do
significado.

CONTEÚDOS

MORFOLOGIA
Morfologia é a parte da gramática que se preocupa com o estudo da estrutura, da formação
e da flexão das palavras. Para entender a definição citada é preciso saber o que se entende,
especificamente, por estrutura. Uma estrutura é composta por unidades mínimas que,
relacionadas e interdependentes, geram um significado. Essas unidades são combinadas
de tal modo que exercem determinadas funções na estrutura formal da qual fazem parte,
assim como ocorre com as palavras que, combinadas com outras palavras, exercem
funções no enunciado em que são empregadas.

O estudo da estrutura compreende o reconhecimento e a descrição das unidades mínimas


constitutivas do vocábulo: os morfemas. O estudo da formação de palavras abrange os
processos existentes na língua, de que se servem os falantes, para a criação de novos itens
lexicais. Existem três processos gerais em português: a derivação, a composição e a
onomatopeia. A flexão se preocupa com a possibilidade que têm os vocábulos de
apresentar variações para expressar determinadas categorias gramaticais (gênero e
número nos nomes e pessoa, número, tempo e modo nos verbos).

As gramáticas tradicionais costumam incluir na Morfologia a questão da classificação das


palavras (substantivo, artigo, adjetivo etc.). Na verdade, essa questão transcende o âmbito
da morfologia, uma vez que nessa classificação são levados em consideração conceitos
sintáticos e semânticos. A palavra pobre, por exemplo, nas orações abaixo será um adjetivo
ou um substantivo de acordo com a sua função na frase.

a1) A mulher pobrezinha pedia comida para seus filhos.


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A2) A pobrezinha sabia que seus filhos estariam com fome.

Em (a1) a palavra pobrezinha é adjetivo, está caracterizando a situação econômica em em


que a mulher se encontra; já em (a2), pobrezinha é substantivo e não necessariamente
indica a situação econômica da mulher.

Outro exemplo que evidencia a “mistura” de critérios sintáticos e semânticos na


classificação das palavras pode ser visto nas seguintes orações:

b1) Ela é a segunda melhor aluna da sala.


b2) Ela fez a atividade segundo a explicação da professora.

O item lexical segundo, além do aspecto morfológico que permite flexionar o primeiro em
gênero, há diferenças sintáticas e semânticas entre (b1) e (b2): a sintática diz respeito à
função que exercem na oração (predicativo do sujeito e conectivo subordinativo,
respectivamente); a semântica se refere ao fato de que ambas as palavras têm sentidos
diferentes (quantificação qualitativa e conformidade, respectivamente). Esses exemplos
mostram, portanto, que a classificação das palavras é, um estudo abrangente, que
extrapola o campo específico da morfologia e se serve também da sintaxe e da semântica.

Outro problema relevante nos estudos morfológicos é a questão do grau (aumentativo e


diminutivo). As gramáticas tradicionais o colocam como uma das flexões do nome, mas
modernos estudos da Morfologia consideram-no como derivação, uma vez que os
morfemas empregados devem ser considerados como derivacionais e não como flexionais.
Morfemas derivacionais são usados para formar novas palavras, como pian-ista, cheir-
oso, ofereci-mento. Morfemas flexionais são usados para indicar variações da mesma
palavra, como garot-o/garot-a/garot-os/garot-as.

No ensino da língua portuguesa, a Morfologia ocupa um lugar especial, porque, mesmo


respeitando a modalidade linguística oral que o aluno traz de casa, a escola precisa levá-lo
a dominar a norma padrão, para que ele possa ampliar suas possibilidades de uso da
língua, na fala e na escrita, em instâncias formais. Necessariamente o aluno irá confrontar-
se com a modalidade escrita, que incluirá convenções e formas linguísticas representativas
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de novos contextos de uso. Um exemplo é o trabalho com a flexão das palavras. O


professor poderá contribuir para essa confrontação, levando o aluno a perceber as
diferenças estruturais e funcionais presentes nas palavras; por exemplo, em portões,
em vez de os portão, os chapéus em vez de os chapéis, e assim por diante. Do mesmo
modo, o professor deve alertar para a conjugação verbal esperada em situações públicas
e formais, a fim de que conheçam e usem formas como: se ele vier à minha casa; espero
que você seja meu amigo. A formação de palavras também deve ocupar um lugar especial
na formação linguística do aluno, não só para reconhecer vocábulos já existentes como
também para criar novos itens lexicais.

Sintetizando, a Morfologia trata da estrutura interna das palavras, dos seus constituintes
significativos mínimos ou morfemas e seus arranjos na formação das palavras, para
atribuir-lhe significado. Sintetizando, podemos dizer que a Morfologia é a parte da gramática
que descreve as unidades mínimas de significado, sua distribuição, variantes e
classificação, conforme as estruturas em que ocorrem, a ordem que ocupam, os processos
na formação de palavras e suas classes. Assim como a Fonologia estuda a maneira como
os sons da língua se organizam para formar palavras e expressões significantes e a
Sintaxe, a maneira como os elementos se organizam para formar as frases de uma dada
língua, a Morfologia estuda a maneira como as palavras são formadas e como seus
elementos se organizam para constituir o léxico de uma língua. Em última análise, a
Morfologia busca determinar, analisar e, quando possível, organizar em conjuntos
paradigmáticos os elementos menores que as palavras. A unidade léxico-gramatical que
chamamos de “palavra” é o fundamento da distinção tradicional entre morfologia - que
analisa e explica a relação motivada entre forma e sentido das palavras e a sintaxe, que
analisa e explica relação motivada entre forma e sentido das orações. A palavra é o limite
entre esses dois domínios: a morfologia vai até a palavra; a sintaxe começa nela e termina
na oração.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E RECURSOS

Aula dialogada com exploração dos conhecimentos prévios dos alunos sobre a Morfologia
e as classes de palavras.
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Prof.ª Dr.ª Lindinalva Zagoto Fernandes

ATIVIDADES

1) Leitura do seguinte texto:


LAROCA, Maria Nazaré de Carvalho. Morfologia. LAROCA, M. N. C. Manual de Morfologia
do Português. Campinas, SP: Pontes, 2005, p. 1-13.

2) Faça uma síntese do que você depreendeu da seção 1.1 “Breve histórico”, do texto de
Laroca (2005), isto é, escreva o seu entendimento.

3) Estabeleça a correspondência entre o texto que introduz a Aula 15, Morfologia: conceito,
objeto e delimitação, com os conteúdos das seções 1.2 e 1.3 do texto de Laroca (2005).

4) Explicite os critérios e respectivos aspectos que diferenciam a expressão flexional da


expressão derivacional, justificando como estes podem contribuir em sua prática
pedagógica de futuro professor de Língua Portuguesa.

BONS ESTUDOS!

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