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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

FACULDADE DE PSICOLOGIA

DISCIPLINA: PSICOLOGIA DA GESTALT II

PSICOLOGIA SOCIAL E COMUNITÁRIA

Belém-PA

2021
PROFª KAMILLY SOUZA DO VALE

AVALIAÇÃO – SEMINÁRIO DE PSICOLOGIA SOCIAL E COMUNITÁRIA

EQUIPE: JOÃO RAYEL DOS SANTOS ALPAES, OSMAR, JULIO, RUTH E


LUCIANO (COMPLETEM O SOBRE NOME PFV)

GESTALT TERAPIA E PSICOLOGIA SOCIAL E


COMUNITÁRIA

A gestalt terapia, no século XX, chamada de terceira força das correntes


psicológicas, em contra partida ao Behaviorismo e à Psicanálise; uma abordagem
fenomenológica existencial com uma visão integradora, holistica do ser humano,
conferindo ao homem a condição de sujeito e não de objeto de estudo, responsável por
suas escolhas. Valoriza suas dimensoes afetivas, sensoriais,sociais, espirituais,
intelectuais, fisiológicas, emocionais e históricas de acordo com os conceitosde
figura/fundo e parte/todo. Seu foco de trabalho é a consciencia e seu metodo de trabalho
é a awareness.

A psicologia social e comunitaria estuda a atividade do psiquismo em relação ao


modo de vida de uma determinada comunidade; estuda o sistema de relações e
representações, níveis de consciência, identidade, identificação e pertinência dos
indivíduos ao lugar/comunidade e aos grupos comunitários. Ela visa ao
desenvolvimento da consciência dos moradores como sujeitos históricos e comunitários,
por meio de um esforço interdisciplinar que perpassa o desenvolvimento dos grupos e
da comunidade. Seu foco central é a transformação do indivíduo em sujeito.

Não é tão complicada a conecção entre essas psicologias, segundo LOFREDO


(1994), a definição de awareness dada por Tellegen, é um “fluxo associativo
focalizado”, segindo essa interpretação, os termos "focalizado" e "associativo" podem
ser compreendidos, como tendo uma relação com os conceitos de figura/fundo e
parte/todo em um processo contínuo e fluído, que nos remete à noção de histórico-
cultural com a figura/parte vista em relação a um fundo/todo em eventos tanto presentes
como passados. Esta alternância entre figura/fundo, todo/parte e presente/passado forma
a história de cada indivíduo e de seu grupo social, desde a família até sua comunidade.
De acordo com RIBEIRO (1993) "o grupo preside a existência. Do seu despertar ao seu
ocaso, a pessoa humana é necessariamente um ser de relação. É na relação, no contato,
no encontro que ela se transforma e se humaniza". Instituições, tambem são grupos, e
estas recebem varias definiçoes na literatura: GOFFMANN (1961) descreve as
instituições como sendo “locais, tais como salas, conjuntos de salas, edifícios ou
fábricas em que ocorre atividade de determinado tipo”, já LAPASSADE (1983) define
como instituições “tanto os grupos sociais oficiais (empresas, escolas, sindicatos) como
os sistemas de regras que determinam a vida desses grupos” e BLEGER (1984) vê a
instituição como “um conjunto de organismos de existência física concreta que tem um
certo grau de permanência em algum campo ou setor específico da atividade ou vida
humana”. E além dessas definições citadas, complementares e que contribuem para a
compreensão, as instituições e os grupos sociais são formados por pessoas e estes
precedem a existência, melhor dizendo, ao nascer o individuo já encontra um mundo
previamente organizado e seu primeiro grupo de convivência, onde na maioria das
vezes é a família. Há ainda outros grupos e instituições arranjadas conforme as
necessidades do homem e de um determinado processo histórico, de acordo com a sua
cultura.

PROJETOS DA GESTALT SOCIAL COMUNITÁRIA

A psicologia social surge como um projeto voltado para os problemas


concretos da realidade, para que o fazer psicológico se posicione de modo mais efetivo
como um agente transformador da sociedade na perspectiva de um grupo buscando
entender as especificidades da realidade analisada para que possa ser construída uma
intervenção mais adequada e mais eficiente, se dando maior peso ao aspecto histórico
daquele grupo social que se busca intervir. A psicologia na comunidade a partir dos
anos 70 vem então como uma aplicação da psicologia social voltada para os
aglomerados habitacionais que fazem parte da dinâmica das grandes cidades como uma
forma de distanciamento da maneira como se fazia psicologia até então, muito
concentrada no ambiente acadêmico, industrial e no atendimento individual, o que
privava as massas do amplo acesso ao saber psicológico. Era um conhecimento novo e
muito elitizado, mal distribuído, e atualmente ainda é, mas definitivamente já foi mais.
A psicologia na comunidade então se propõe a ser um modo de fazer
psicológico que se dá a partir de uma concepção diferente da existente e predominante
na época, não de maneira que a substituísse, mas oferecesse uma nova alternativa de ser
feita de modo a alcançar a população de forma mais abrangente, se pondo à disposição
da comunidade, dos indivíduos nela presentes e seus atravessamentos como uma nova
proposta de se fazer psicologia tendo o foco no sociocomunitário e não no individual
como de costume, havendo uma integração da psicologia com o ambiente em que ela se
dispõe a atuar, se adaptando àquela realidade e suas dinâmicas pois dessa maneira se
conseguiria atingir de uma melhor forma os indivíduos ali de maneira mais geral, mais
abrangente não dependendo de uma postura ativa apenas por parte do indivíduo de ir em
direção ao fazer psicológico buscar ajuda, entender como ele se dá e como ele deve
então agir frente aquilo, o que gera maior adesão e eficiência das intervenções, sendo
levada em conta também a perspectiva da interdisciplinaridade possível nessa
intervenção dada a necessidade de uma equipe multiprofissional para que se
potencialize essa ação de modo promover um melhor bem-estar através da atuação
conjunta. Um exemplo dessa dinâmica multiprofissional pode se dar a partir dos
profissionais da educação que tem em Paulo Freire um expositor de ideais muito
similares aos que se propõem a psicologia social em comunidades da atuação junto as
classes populares. Sendo dessa forma a atuação da psicologia na comunidade logo é
evidente que é uma forma de atuação que vai em direção as massas, as classes populares
de modo que se busca melhor construir a identidade do indivíduo psicossocial no
contexto histórico e social em que ele vive, visando trabalhar a maneira como ele vê a si
mesmo e seus costumes enquanto indivíduo que é parte de vários grupos dentro da
dinâmica social.
Na dinâmica social mundial, destacando-se a brasileira, há comunidades
localizadas na periferia das cidades, comunidades essas que tem dinâmicas e
implicações muito evidentes resultantes da segregação socioespacial que ocorre
delimitando fronteiras geopolíticas no espaço das cidades. A presença do Estado
(representante de poder político eleito que deveria servir como braço unificado da
sociedade geral como garantidor de direitos e regulação da dinâmica social) nessas
regiões se dá de forma muito insuficiente, o que abre espaço para uma extrema
violência política no sentido de gerar uma população excluída dos direitos sociais que
tem, acabando por não os ter de forma prática e enquanto esse direito lhes é tirado elas
vivem em uma região propositalmente invisibilizada para a manutenção dessa situação
que ocorre em função da manutenção do status quo de uma outra parcela da sociedade.
Dessa presença insuficiente do Estado várias situações emergem. Da falta de
fiscalização e regulamentação surge espaço para uma das maiores problemáticas do
Brasil hodierno que é o crime, o tráfico e a constante guerra com o Estado, o que acaba
sendo uma outra forma de agressão com a população local que somado à usurpação de
direitos gera uma série de implicações sociais na comunidade, produzem uma situação
de vulnerabilidade da população que chama a atenção é alvo de investigação e
intervenção da psicologia.
Um campo bastante explorado pela psicologia em comunidades são as favelas.
Favelas são um dos exemplos de regiões de segregação socioespacial do espaço social
brasileiro. E é nesse contexto que a psicóloga Gestalt-terapeuta Dra. Mônica Alvim
desenvolve projetos com crianças e jovens utilizando da arte e da ludicidade. Um
projeto que se destaca é o projeto de pesquisa e extensão “Adole-Ser em movimento”,
baseado na Gestalt-terapia e na fenomenologia, por meio do qual se busca investigar
como é ser adolescente na realidade do complexo do Complexo do Alemão no Rio de
Janeiro, como se dá esse fato no espaço e no tempo em que ele ocorre a partir de visões
existenciais e experienciais trazendo sobretudo para os jovens a perspectiva da fronteira
de contato da Gestalt-terapia, a troca de experiências e a identificação de diferenças
como fenômenos constituintes da perspectiva de si mesmo e como forma de expansão,
crescimento a partir do contato com o outro que é diferente em uma troca marcada pela
alteridade. A modernidade transformou o ser humano em homens-máquina, segundo a
Dra., dando uma perspectiva muito artificial para o homem e suas relações com o seu
redor. A Gestalt-terapia nesse contexto então vem como objetivo dar maior espaço
dentro da dinâmica contemporânea para o que há de mais orgânico nas relações
humanas, resgatar o contato e a experiência.
A realidade vivida pelos jovens da favela é permeada pela violência que acaba
marcando também a visão de mundo e si mesmos dos próprios jovens. Um dos
discursos recorrentes identificados pelo projeto é a sensação de não querer pertencer.
Desde muito cedo os jovens são ensinados que a favela é um lugar marginalizado e é
repassado o estigma negativo dessa comunidade, o que é experienciado por eles na sua
vivência pois o que mais se tem dentro daquela realidade é o desejo de melhorar de vida
e sair dali desejo esse que é perseguido, mas que com base nos relatos dos próprios
jovens é facilmente frustrado. Jovens entre 14 e 17 anos participantes do projeto já tem
essa visão da sua realidade interiorizada. A falta de oportunidades é muito evidente e o
trato diferencial, repressor que se recebe por parte do Estado e seus braços é muito
opressor. Não se tem o direito.
Nesse contexto o papel da psicologia, da Gestalt-terapia, é muito comprometido, já que
só ela não consegue atender as demandas de direitos básicos presentes ali naquela
comunidade mas o projeto apesar de enfrentar tamanhas dificuldades, segue no seu
dever de tentar transformar a visão de mundo dos jovens daquela realidade de modo que
se construa uma base melhor para o indivíduo social por meio de um processo de
subjetivação que transforme a visão daquela realidade vivenciada pelos jovens a partir
da estimulação de uma visão crítica da vivência na comunidade, do que é ser jovem
naquela realidade.

PROJETOS DA GESTALT SOCIAL COMUNITÁRIA

Falando de comunidade, se tem uma vaga ideia ou alguns preconceitos, mas a


palavra comunidade é algo muito apertado, com 5 pessoas morando em um único
cômodo, o adolescente não tem onde correr, não tem individualidade, não tem tempo
para si, os espaços são dimensionados de uma forma diferente, quem não mora em uma
favela ou comunidade se tem uma outra noção do que é a comunidade, a partir do
momento em que se convive com esses adolescentes e crianças surge um
questionamento, como se fazer presente, como fazer com que a presença do Gestalt
terapeuta tenha realmente um valor, não só acolhendo como se o adolescente fosse
jogando ali tudo o que tem e você só recolhendo aquilo que está sendo posto pra fora e
jogado em você. Na verdade, esta forma não faz o encontro necessário, esse encontro
demanda que o Gestalt terapeuta também se coloque não como o certo, aquele que veio
da cidade, mas que se coloque enquanto ser humano fazendo-se entender que estar ali,
estar presente e isso gerando uma diferença de no início as crianças não quererem fazer
parte daquele momento com os psicólogos como sendo algo temido, e com esse
encontro tendo atualmente crianças enlouquecidas querendo fazer parte disso. O quanto
é rico ter um espaço onde esses adolescentes possam simplesmente falar das angústias
do que eles estão vivendo sem que haja um olhar crítico em direção a isso. Importante
para os gestaltistas é o afeto que se causa como se sai do projeto afetado, não tendo
como sair de uma maneira normal. Questões injustas, difíceis, que toca qualquer pessoa.
Outra coisa importante é a Gestalt-terapia inserida nesse lugar social, lidar com o que se
apresenta, ou seja, o psicólogo ali trabalhar com que possa vim a ele, que se apresente a
ele, pode ter em mente trabalhar com certo roteiro no projeto e no momento ali com as
crianças e adolescentes acabar não trabalhando com o que tinha planejado, mas com o
que veio a se tornar presente naquele momento, vindo de uma forma que as crianças
tragam a demanda que acaba sendo trabalhada não com o que era planejado. É possível
ainda falar um pouco em relação à diferença da criança e adolescente da comunidade
pra criança e adolescente da cidade ou da parte nobre em comparação as favelas e
comunidades, se colocar a criança da comunidade de frente com a da cidade as duas vão
se estranhar de certa forma, uma olha a outra como sendo um estrangeiro, nas questões
de dialetos diferentes, manias, forma de se vestir, gírias, visão de mundo diferentes,
gerando também certa desconfiança de ambos os lados com o pensamento de que se
pode ou não confiar na outra criança em decorrente da estranheza. Essa diferença não se
dá só de criança para criança, mas também dos psicólogos para com as crianças das
comunidades, justamente pelo fato de que no projeto é possível se emocionar com as
histórias das crianças, com o tempo dividido ali com elas nos projetos, e então existe a
troca de afinidades entre o gestaltista e as crianças, sendo o psicólogo buscando
entender a realidade da comunidade, buscando entender os dialetos usados por elas,
tendo essa curiosidade, isso ajuda até certo ponto que as crianças começam a ver os
psicólogos “estrangeiros” de uma forma mais amigável que se possa confiar. Essa ponte
entre diferenças acaba se tornando saudável, se tornando mais humano, uma troca de
diferença entre dois universos, isso impacta de uma forma muito viva. Dessa forma,
dentre todas essas questões abordadas se torna visível a necessidade e importância de
um olhar para uma diferença que não só acolhe, mas que de certa forma torna essa
subjetividade própria importante de sua existência com pessoa e que a subjetividade do
outro não se faz superior, inferior e nem negativada de ante a sua, que essas reflexões
venham a agregar ao nosso ser como humano e ser social que vive em constante relação
com o outro.

REFERÊNCIAS:

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