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Tema : o desafio do pós ensino médio

Alunos : Carla Cristina, Iuri Campos, Monique Campos e Samara Oliveira.

Até o momento, nossa atividade concentrou-se em encontrar a “ A TAL ESCOLA” para


coletar os dados para a nossa pesquisa. Em tentativas, onde em alguns lugares não deu certo,
tudo indica que estamos perto do nosso objetivo, que é o Colégio Estadual Souza Aguiar.
Contudo, estamos ansiosos. Pelo o que parece, está dentro dos conformes, apenas é preciso
entregar a carta de apresentação, constando os objetivos da nossa pesquisa. A ansiedade parte
do fato da coordenadora não saber se vamos entrar de fato na escola, porque ela apresentaria
a carta para a diretora. Pesquisamos também algumas bibliografias para nos auxiliar a
desenvolver o trabalho, visto que na escola ainda está muito dúbio.
No começo de tudo, tínhamos a seguinte ideia : visitar duas escolas. Uma pública e uma
particular para fazer uma comparação entre os dilemas desses alunos. Todavia, ao decorrer do
tempo, a pesquisa foi tomando rumos que não imaginamos. É excitante que a cada momento
estamos mudando pré-noções devido a alguns acontecimentos do cotidiano. Primeiramente,
visitamos o Colégio Pedro II, no centro, mas não obtivemos sucesso pois os alunos do
terceiro ano lá são de manhã e ninguém do grupo tem disponibilidade para fazer o trabalho de
campo, visto que todos do grupo neste momento estão trabalhando. Nos deparamos com
algumas situações inusitadas nesse momento. Algo que realmente nos marcou foi a forma de
tratamento que tivemos. Ao entrar em contato com o centro de referência, falamos com o
segurança do local e ele olhou para a gente com total desdém, distanciamento. Depois que
nos identificamos, falamos que éramos estudantes da UFRJ, o jogo virou. Foram simpáticos,
atenciosos. E portanto usamos este padrão para todos os espaços que iríamos. Nos
apresentamos enquanto discentes da instituição.
Uma semana depois, fomos ao Colégio Estadual Júlia Kubitschek; mas ali não obtivemos
sucesso. Basicamente, foi um pretexto para não fazermos a pesquisa. E entendemos. Somos
os “outros”. Apesar de deixar claro nossos objetivos, causou estranhamento. Ela disse que a
diretora da escola está no ambiente apenas de manhã e tarde. E para nós, como não é
novidade, não é possível. Seria interessante a experiência nesta escola. Pois de manhã e de
tarde é ensino normal, de formação de professores. De noite, onde está a nossa possibilidade,
a modalidade de ensino é o EJA.
No mesmo dia, o grupo foi para o Colégio Estadual Souza Aguiar, que agora seria a escola
que iríamos de fato começar. A situação foi completamente caótica. A coordenadora
pedagógica da escola, que ao mesmo tempo estava como porteira e controlando quem entrava
ou não dentro do espaço, porém que ao mesmo tempo estava sendo completamente atenciosa
com a gente. Então, nesta conversa, ela disse que iria encaminhar a situação para a direção e
que teríamos que elaborar uma carta de apresentação, com a autorização do professor da
disciplina.
Todos estão empolgados com o rumo que esta atividade está tomando. Por questões
burocráticas, como não ter aula na disciplina de sexta, não termos feito a carta de
apresentação, pela rotina estar corrida para todos no grupo, a Samara foi numa escola onde
cursou o seu Ensino Médio apenas para treinar como seria que apresentaríamos no Colégio
Souza Aguiar. E esse fato específico mudou bastante o nosso caminho. Estávamos tanto
pensando em um roteiro, que esquecemos um caráter da antropologia, que é da
experimentação. Nossa questão até o momento foi : quando chegarmos na escola, o que
iremos fazer ? Como lidar com os alunos, visto que no primeiro contato eles eram expansivos
e não sabíamos se eles levariam a sério o que estávamos pensando em propor ? Às vezes, um
roteiro pode nos limitar, e até apagar algumas partes do processo. A Samara foi intuitiva, foi
na escola e apresentou algo que ninguém do grupo parou para pensar : Ficamos pensando
demais em conseguir entrar no espaço escolar, perdemos muito tempo, e deixamos de lado o
objetivo da pesquisa, que é pensar o pós ensino médio. Ela colocou nossos questionamentos
em prática. Essas questões estavam fazendo nós ficarmos ansiosos e refletindo a todo
momento : “esta é a forma certa de agir ?” Sentimos uma grande responsabilidade.
Nesta situação, ela foi na escola, entregou um formulário para os alunos, aplicou a dinâmica.
Basicamente, colocou em prática os questionamentos que estávamos. É importante detalhar
como foi o contato com o espaço. Achamos relevante abrir a fala para o relato da Samara :

“Ao chegar na escola, encontrei olhares estranhos dos alunos, que falavam
entre si da minha roupa e da minha aparência. Elogios e críticas se
misturavam, em meio a curiosidade de saber quem era aquela “estranha” no
ambiente deles. A direção da escola me cedeu uma sala e o professor de física
que daria aula naquele horário permaneceu na sala comigo, para me auxiliar
se caso fosse necessário. A turma era 3002 e todas as alunas presentes eram
do sexo feminino. Quando deu 13:00, eu comecei a ter o meu primeiro
contato com elas. Me apresentei e expliquei a pesquisa que estava fazendo e
qual era o objetivo.
Os olhares ainda eram meio tortos pra mim, porém senti que estava
começando a ganhar espaço. Iniciei entregando os formulários e perguntei se
eles poderiam preencher. Todas responderam que sim. E eu falei para
responderem aquilo que elas estivessem à vontade para responder e que se
não quisessem era só deixar em branco. Enquanto elas preenchiam, fiquei
observando as expressões do rosto de cada uma. Foi uma mistura de dúvida
com nervosismo que algumas tentavam disfarçar com brincadeiras para tirar
o foco das perguntas, como por exemplo “zoando” a outra menina que já
tinha um filho, falando pra ela colocar que tinha três filhos, já que faltava
pouco pra ela engravidar de novo e entre outras coisas.
Todas preencheram e logo após me entregar, perguntei se elas aceitariam
participar de uma dinâmica chamada “Jogo da Fita”, onde seriam feitas oito
perguntas e quem se identificar com a pergunta, ficava em cima da fita. Todas
concordaram com a dinâmica. Logo, dividi a sala em dois grupos e pedi à
representante de turma para me ajudar a tirar as mesas e colocar a fita no
chão. Comecei a dinâmica perguntando : Quem sonha em fazer faculdade?
18 alunas ficaram em cima da fita; Quem já desistiu da profissão dos sonhos?
9 ficaram fora da fita; Quem já quis desistir do Ensino Médio ? 10 ficaram
fora da fita; Quem tem mais de uma pessoa formada na família ? Apenas 3
ficaram em cima da fita; Quem encontra dificuldades para chegar na escola?
apenas uma ficou fora da fita; Quem não se sente preparado (a) pro mercado
de trabalho? Apenas 5 ficou em cima da fita; Quem não se sente preparado
para o Enem ? as 20 ficaram em cima da fita; Quem não quer continuar os
estudos ? 2 ficaram de fora da fita.
Após responderem todas as perguntas da dinâmica, abri uma roda de
conversa para elas desenvolverem um pouco mais sobre suas respostas. De
início, todo mundo começou a falar junto e não estava dando para entender
nada. O professor que estava na sala me ajudou a acalmar os ânimos e então
expliquei que precisaria que cada uma falasse de uma vez, pois teria que
anotar tudo depois e então precisaria lembrar de tudo que eles falassem ali. E
na mesma hora, todas colaboraram comigo e foi ali que eu senti que tinha
começado a ganhar a confiança delas. E de uma a uma foram falando que
sentem vontade de permanecer nos estudos, mas uma boa parte disse não
encontrar apoio da família para os estudos, já que preferem que elas
trabalhem para ajudar em casa, em meio a esse debate uma delas falou : “Não
tenho culhão para estudar na UFRJ, então vou ter que trabalhar pra pagar uma
privada”. Alguns concordaram com ela, mas a maioria disse que pretendiam
“pelo menos tentar”. Aproveitei o assunto e perguntei de uma a uma qual era
o curso que elas pretendiam fazer? E a maioria já tinham certeza do que
queriam, os cursos mais falados foram Pedagogia, Direito, Administração,
Matemática e Biologia. E as outras não sabiam ou não pretendiam fazer
faculdade.
Após um longo debate sobre o que cada uma pretende fazer em suas
respectivas áreas.
Trouxe um outro tema para o debate, “Ensino Médio, forma para o quê?” O
assunto ganhou proporções inimagináveis, porque as opiniões entraram em
conflito e, de uma a uma, elas falaram o que concordavam ou discordavam
uma das outras. O tema dividiu bastante as opiniões, uma parte acreditava
que “o Ensino Médio forma para o mercado de trabalho” , a outra parte
acreditava que “formava para vida” e apenas 2 acreditavam que formavam
para o ensino superior.
No meio do debate, todas falaram bastante sobre a precariedade do ensino
público, principalmente depois da pandemia. Também foi abordado os
inúmeros desafios diários que elas enfrentavam para se manter ali e que não
queriam passar por isso também na universidade. Por isso, uma boa parte
pensava em só entrar pra faculdade depois de já estarem trabalhando e com
uma certa estabilidade financeira para conseguir se manter pois a maioria
não podia contar com os familiares, já que não tinham condições de ajudar e
maioria relatou que os pais falavam que elas eram um peso para eles, porque
como estudam em horário integral nem te como trabalhar para ajudar nas
despesas, mas mesmo não tendo muito tempo livre algumas ainda encontram
tempo para trabalhar depois das aulas, como explicadora,designer de
sobrancelhas, trancista e manicure.
Nessa parte da roda de conversa o que mais me chamou atenção foi o relato
de uma das alunas que disse: que o Ensino Médio não formava pra nada,
afinal ela estava saindo dali da mesma forma que entrou e só não parou de
estudar porque era menor de idade e não teria como trabalhar. Assim que ela
terminou de falar com os olhos cheios de lágrimas pediu para ir beber água.
Tendo uma opinião diferente da sua colega uma das meninas disse que com
ela acontecia ao contrário ela acreditava que o ensino médio, formava para o
mercado de trabalho sim e pra vida também mas que pra ela o que mais
importava era o conhecimento que ela estava adquirindo ali, e com os olhos
cheio de lágrimas ela falou que só estava ali estudando em horário integral
porque teve que falar pra mãe que ela já ia sair dali com uma profissão e com
um emprego certo, por que se não tivesse essa ideia de que ela ganharia
dinheiro mais rápido estudando com ensino médio profissionalizante a mãe
teria matriculado ela em uma escola regular a noite para ela conseguir
trabalhar durante o dia. e quando eu perguntei o por que dela ter feito todo
esse esforço pra escola aquela escola em específico ela me respondeu. “ Eu
prometi pra mim mesma que quando eu crescer eu me tornaria professora,
para dar pros meus alunos a ajuda o carinho e a educação que eu não recebi
dos meus professores no Ensino Fundamental". Em meio a muitas lágrimas
ela desabafou sobre um dos traumas que ela tem por causa da sua professora
do 3º ano do ensino fundamental. ela disse que vem de uma família muito
carente de pais analfabetos e a mãe não conseguia ajudar ela nos deveres de
casa e a professora não compreendia a sua situação, ela disse que tinha muito
piolho e a mãe não tinha dinheiro para comprar remédio e então ela passava
maigon na cabeça, fazia um coque e ia pra escola e se segurava por horas pra
não coçar a cabeça tentando a todo tempo esconder que era ela que estava
com aquele cheiro, então ela pedia a professora para ir ao banheiro e passava
horas coçando a cabeça escondida e quando ela retornava pra sala a
professora falava que ela só podia estar com caganeira e aí todos os alunos
começaram a fazer bullying com ela. E isso traz marcas na vida dela até hoje,
pois por conta disso ela não consegue mais ir ao banheiro na escola por medo
de ser zoada novamente e por mais que ela tente o corpo dela não obedece é
às vezes ela chora de dor por querer usar o banheiro e não conseguir.
No final do seu depoimento ficou difícil conter as emoções a maioria das
alunos começaram a chorar inclusive o professor que estava presente também
não conseguiu se conter.
Tive que dar uma pequena pausa para elas respirarem e beberem água.
Na volta dei início a última dinâmica. Espelho na caixa. Dei a caixa na mão
da primeira aluna à minha esquerda e pedi para ela abrir a caixa e me
responder uma pergunta olhando bem no fundo da caixa : “Qual foi a Palavra
ou Frase de desmotivação que já te falaram sobre o seu futuro?” E após a
resposta, perguntei se ela acredita no que foi falado sobre ela e em seguida,
pedi para falar o que ela realmente acredita pro seu futuro. A primeira aluna
relatou que sonhava em ser bombeira civil, mas que por não ter altura
suficiente, sua mãe sempre falava que ela não “ prestava” para isso ela
desistiu de seguir essa carreira, mas vive com essa palavra de que ela não
presta atormentando a sua cabeça. “

Esse contato com a escola foi essencial. No formulário que foi entregue para os alunos
preencherem, a maioria, para não dizer todos, preencheram que a escola apenas forma para o
mercado de trabalho, não para concorrer ao ensino superior ou que ‘forma para vida’, e que
constitui um papel político, na questão de formar cidadãos conscientes. Apenas dois
indivíduos assinalaram o contrário. Esse dado nos condiciona a pensar o seguinte : a função
da escola para os alunos.
Uma situação que aconteceu marcou muito a nossa pesquisa. Nesta dinâmica, tinha uma
aluna, onde ela falou de suas dificuldades e seus objetivos. Ela sonha em ser professora de
matemática, entretanto possui muita dificuldade na matéria. Sempre foi tratada como "burra''
e “incapaz” daquilo. Ela também aborda como o plano material, de classe, afetou a sua vida.
Num exemplo, ela diz que a mãe usava inseticida, o famoso ‘’baygon”, para acabar com os
piolhos dela.
Esse exemplo específico mostra a forma como o espaço escolar é marcado por diferenças e
desigualdades sociais. Nossa ideia empírica consiste em analisar a forma como a
desigualdade deslegitima os desejos dos alunos das escolas públicas, com suas metas e
sonhos. A Samara escutou diversos relatos do cunho da dificuldade. E todas atravessadas
nesse plano da condição econômica. Com o seguinte discurso : “Tenho outros objetivos, mas
sou muito pobre e tenho que trabalhar para conseguir sobreviver”. Importante ressaltar que a
dinâmica foi feita numa escola pública chamada Ciep 380 Joracy Camargo/ Instituto
Educacional Belford Roxo, localizada em Belford Roxo. E foi fácil ter contato com ela, sem
burocracia. Pelo motivo da Samara conhecer a diretora.
Estávamos tão fixados em fazer uma comparação entre escola pública e privada a fim de
traçar as dificuldades dos alunos no geral, que no final, não se mostra tão importante fazer
uma pesquisa que define os desafios dos estudantes do ensino médio, até porque não temos
condições de realizar um estudo desse, que é de extrema dificuldade e requer um
conhecimento específico de pesquisa e análise de dados.
Outro dilema que percebemos na pesquisa foi o público-alvo. No começo de tudo, estávamos
fixados na ideia de pesquisar apenas alunos muito novos. Por exemplo, no EJA, não
poderíamos nos dar uma outra camada ? A partir da fala da Carla, pensamos nisso. Ela disse
que se sentiria excluída do projeto de pesquisa, pois não teria como alvo ninguém da
realidade dela. E portanto, chegamos a conclusão que pesquisaremos a realidade dos
estudantes do ensino médio, independente da idade.

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