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Simbolismo no Brasil

O simbolismo é um movimento artístico que surgiu no século XIX e teve como principais características o subjetivismo, o
espiritualismo, a religiosidade e o misticismo.

Na época em que se desenvolveu, o capitalismo e a industrialização estavam se consolidando na cena mundial, e diversas
descobertas científicas transmitiam a ideia de evolução da civilização.

No entanto, isso acabou gerando muitos problemas sociais, como o aumento das desigualdades, o que levou os artistas a
negarem a ideia de progresso.

Essa corrente artística, que se manifestou na literatura e na pintura, se aproximou dos ideais românticos de subjetivismo,
idealismo e individualismo. Assim, a objetividade foi posta de lado para dar lugar a uma nova abordagem mais subjetiva,
individual, pessimista e ilógica.

Se por um lado ele apresentou uma ligação com o romantismo, por outro, o simbolismo rejeitou as ideias dos
movimentos anteriores do realismo, do parnasianismo e do naturalismo.

Ele se afastou do rigor estético e do equilíbrio formal do movimento parnasiano, buscando se distanciar do materialismo
extremo e da razão. Dessa forma, explorou temas mais espirituais representando a realidade de uma forma diferente e
mais idealizada.

Houve grande interesse pelas zonas mais profundas da mente humana, como o universo inconsciente e subconsciente,
mostrando uma arte mais pessoal, emocional e misteriosa.

Contexto histórico do simbolismo

O movimento simbolista surge nas últimas décadas do século XIX na França, num momento em que o continente Europeu
assistia à ascensão da burguesia industrial. O capitalismo se fortalecia com a II Revolução Industrial, permitindo a
industrialização de diversos países.

Esse processo industrial foi alavancado pela unificação da Alemanha, em 1870, e da Itália, no ano seguinte. Por outro
lado, esse progresso capitalista gerou uma grande desigualdade social, levando a insatisfação dos trabalhadores mais
pobres.

Nessa fase, muitas inovações no campo científico levaram a ideia de progresso, como, por exemplo, o uso da energia
elétrica, de produtos químicos e do petróleo para a produção de combustível.

Há, assim, a disputa das grandes potências (como Inglaterra, Alemanha e Rússia) pela diversificação de mercados, de
consumidores e matéria-prima.

É também o momento do neocolonialismo que fragmenta a África e a Ásia, devido ao imperialismo de alguns países
europeus industrializados, considerados as grandes potências mundiais.

Por fim, todos esses fatores irão desencadear a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) no início do século XX:

 o progresso do capitalismo;

 o aumento das desigualdades sociais;

 a disputa dos interesses econômicos e políticos de algumas potências europeias;

 o imperialismo e o neocolonialismo alavancados pela industrialização.

Diante desse panorama, o movimento simbolista surge para desafiar esse cenário opondo-se às correntes materialistas,
cientificistas e racionalistas que vigoravam, negando a realidade objetiva.

Além disso, ele vem apoiar a camada da sociedade que está à margem do processo de avanço tecnológico e científico,
promovido pelo capitalismo.
As características do simbolismo

1. Oposição à realidade objetiva

Os temas abordados pelos artistas simbolistas como a morte, a dor de existir, a loucura e o pessimismo são subjetivos, se
afastando da realidade objetiva e de assuntos relacionados com a esfera social.

A projeção é de frustração, medo e desilusão, e o simbolismo surge como uma forma de negar a realidade objetiva.
Renascem, assim, os ideais espiritualistas.

2. Transcendência, misticismo e espiritualidade

A arte simbolista busca transcender a realidade por meio do misticismo e da espiritualidade, ao mesmo tempo que tenta
encontrar nas zonas mais profundas da alma respostas para as angústias e dores.

Esses fatores se relacionam diretamente com o contexto histórico em que está inserida essa corrente artística, pois esse
momento é marcado por uma crise espiritual. Isso leva os artistas a sentirem e analisarem o mundo, as coisas e os seres
de maneira diferente.

3. Presença de religiosidade

Embora diversos temas da arte simbolista estejam relacionados com um universo mais sombrio e misterioso, é possível
identificar em algumas obras uma visão cristã aliada ao desejo da fuga da realidade.

Marcado pela busca do homem pelo sacro e de um sentimento de totalidade, a literatura simbolista faz da poesia uma
espécie de religião. Dessa forma, muitos escritores simbolistas utilizam palavras do vocabulário litúrgico que reforçam
essa característica, tais como: altar, arcanjo, catedral, incenso, salmo, cântico.

4. Valorização do “eu” e da psiquê humana

Contrário ao objetivismo, no movimento simbolista o “eu” é valorizado e a verdade é encontrada através da consciência
humana.

Dessa maneira, há um grande interesse pelas zonas mais profundas da mente, como o inconsciente e o subconsciente.

5. Linguagem vaga, imprecisa e sugestiva

O simbolismo apresenta uma linguagem muito particular, envolta em mistério e com grande expressividade e
musicalidade. Esses atributos proporcionam às obras os ideais imateriais e psíquicos característicos do movimento.

Assim, a linguagem simbolista é sugestiva, pois sugere algo em vez de nomear, ou explicar objetivamente.

6. Uso excessivo de figuras de linguagem

Nas obras simbolistas, há forte presença das figuras de linguagem, pois mais importante do que o significado real das
palavras, estão os sentidos poéticos, as sonoridades e as sensações.

As figuras mais utilizadas são: as metáforas e as comparações (que focam no sentido poético); as aliterações, as
assonâncias e as onomatopeias (que promovem a sonoridade); e as sinestesias (que sugerem a mistura de campos
sensoriais distintos).

7. Preferência pelos sonetos

Embora tenha se manifestado na prosa, foi na poesia que o simbolismo atingiu grande reconhecimento.

De caráter subjetivo e lírico, os escritores simbolistas preferiram expressar seus dramas existenciais através de sonetos,
forma fixa poética composta por dois quartetos e dois tercetos.

8. Retomada de elementos românticos

O simbolismo retoma alguns elementos românticos almejando ir além do aspecto palpável das coisas. Podemos citar o
subjetivismo, a irracionalidade, o gosto pelo mistério e por ambientes noturnos.
Dessa forma, os temas explorados por ambos os movimentos se aproximam como a dor de viver, a angústia do ser
humano, os dramas existenciais, a tristeza profunda e a insatisfação.

9. Valorização da simbologia, em oposição ao cientificismo

A arte simbolista opõe-se ao cientificismo, levantando a questão sobre a validade da ciência para explicar os fenômenos
da natureza.

Os artistas simbolistas acreditam que a ciência é limitante, colocando em dúvida sua capacidade absoluta. Dessa maneira,
as ideias são apresentadas de maneira simbólica, na qual se acredita estar o verdadeiro sentido de tudo.

10. Oposição ao mecanicismo e a aproximação do universo do sonho

O movimento simbolista passa a ser a rejeição ao mecanicismo, por meio do sonho, da tendência cósmica e do absoluto.

Aliado à sondagem interior da mente, os artistas humanistas buscavam explicações através de sonhos, onde o universo
onírico (relativo aos sonhos) fazia parte da realidade subjetiva e dos estados contemplativos.

O simbolismo no Brasil

O simbolismo no Brasil começou em 1893 com a publicação das obras de Cruz e Sousa: Missal (prosa) e Broquéis (poesia).
Esse movimento permanece até o ano de 1910, quando se inicia o Pré-Modernismo.

O momento é de agitação política, pois, com a Proclamação da República em 1889, o país estava passando por um
momento de transição. Há, assim, uma transformação na cena política, com a passagem do regime monárquico para o
regime republicano.

Com a instauração da República da Espada em 1889, alguns conflitos despontaram por conta da crise política e de disputa
de poder.

Houve, assim, a Revolução Federalista (1893-1895), que aconteceu nos estados do sul do país, e a Revolta da Armada
(1891-1894), ocorrida no Rio de Janeiro.

Assim, em meio a esse contexto de insegurança e insatisfação, surge o movimento simbolista.

Principais poetas simbolistas brasileiros e suas obras

Além do precursor do movimento, Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens e Pedro Kilkerry merecem destaque na poesia
simbolista brasileira.

João da Cruz e Sousa (1861-1898), nascido em Florianópolis, Santa Catarina, foi o mais importante poeta simbolista. Filho
de escravos, teve uma vida confortável entre uma família aristocrata que o ajudou nos estudos.

Apesar de ter escrito diversos textos poéticos, publicou somente duas obras em vida: Broquéis (1893)
e Missal (1893). Missal é uma obra em que constam poemas escritos em prosa, enquanto Broquéis apresenta 54 poemas,
dentre os quais 47 são sonetos.

Postumamente foram publicados outros de seus escritos: Evocações (1898), Faróis (1900) e Últimos Sonetos (1905).

Vítima de preconceito racial, o escritor lutou a favor da causa negra. Sua obra é bem diversa e reúne temas como:
obsessão pela cor branca, a dor, a morte e o pessimismo.

Veja abaixo um de seus poemas, publicado em sua obra poética Broquéis (1893).
Acrobata da Dor

Gargalha, ri, num riso de tormenta,


como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,


agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!


Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,


afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.

Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), nascido em Ouro Preto, Minas Gerais, foi um dos grandes poetas do movimento
simbolista, apresentando uma obra religiosa, de caráter místico, espiritual e sentimental.

Os temas mais presentes em sua obra poética são: a dor do amor, a saudade da amada e a morte. Isso porque o grande
amor de sua vida, sua prima Constança, morreu muito jovem.

De sua obra, destacam-se: Septenário das Dores de Nossa Senhora (1899), Dona Mística (1899), Kyriale (1902), Pauvre
Lyre (1921) e Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte (1923).

Confira abaixo um de seus poemas mais emblemáticos, publicado no livro Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte, em
1923.

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,


Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,


Banhou-se toda em luar…
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu


As asas para voar…
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu


Ruflaram de par em par…
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
Pedro Kilkerry (1885-1917) foi jornalista e além de publicar diversas crônicas e artigos nos jornais, se dedicou à poesia
simbolista. Foi considerado um dos grandes poetas do movimento, descoberto recentemente pela crítica.

Durante sua vida, Kilkerry não publicou nenhuma obra, no entanto, seus escritos foram reunidos postumamente. Com
uma poesia diversa, ele explora diversos temas relacionados com a religiosidade, o misticismo, os sonhos e o amor.

Confira abaixo um de seus poemas, escrito em 1907 e publicado na obra Revisão de Kilkerry, de Augusto de Campos.

Sob os ramos

É no Estio. A alma, aqui, vai-me sonora,


No meu cavalo — sob a loira poeira
Que chove o sol — e vai-me a vida inteira
No meu cavalo, pela estrada afora.

Ai! desta em que te escrevo alta mangueira


Sob a copada verde a gente mora.
E em vindo a noite, acende-se a fogueira
Que se fez cinza de fogueira agora.

Passa-me a vida pelo campo... E a vida


Levo-a cantando, pássaros no seio,
Qual se os levasse a minha mocidade...

Cada ilusão floresce renascida;


Flora, renasces ao primeiro anseio
Do teu amor... nas asas da Saudade!

Pré-Modernismo no Brasil
O Pré-Modernismo foi um período de intensa movimentação literária que marcou a transição entre o simbolismo e o
modernismo.

Caracteriza-se pelas produções desde início do século até a Semana de Arte Moderna, em 1922.

Para muitos estudiosos, esse período não deve ser considerado uma escola literária, uma vez que apresenta inúmeras
produções artísticas e literárias distintas.

Em outras palavras, ele reúne um sincretismo estético, com presença de características neorrealistas, neoparnasianas e
neosimbolistas.

Características do pré-modernismo

 Ruptura com o academicismo;

 Ruptura com o passado e a linguagem parnasiana;

 Linguagem coloquial, simples;

 Exposição da realidade social brasileira;

 Regionalismo e nacionalismo;

 Marginalidade das personagens: o sertanejo, o caipira, o mulato;

 Temas: fatos históricos, políticos, econômicos e sociais.


Contexto histórico do pré-modernismo

No início do século XX, o Brasil e o mundo estavam passando por uma fase de muitas mudanças. Podemos destacar a
transição da República da Espada para a República Velha, cuja política do café com leite concentrou o poder nas mãos das
oligarquias paulistas e mineiras.

Foi nesse panorama que o regionalismo brasileiro começa a se expandir na virada do século, sendo enfatizado por
diversos conflitos que surgiram entre a classe dominante e a classe dominada.

Assim, além da política do café com leite, inúmeras revoltas iam surgindo, tais como: revolta da vacina, revolta da
chibata, revolta da armada, revolta de Canudos, etc.

Diante disso, os artistas do momento, gradualmente foram se voltando para a realidade brasileira, e assim, buscando uma
linguagem mais simples e coloquial, o que resultou na produção de diversas obras de caráter social.

Na Europa, os movimentos artísticos de vanguardas (expressionismo, cubismo, futurismo, dadaísmo e surrealismo) já


começavam a mostrar uma postura inovadora. Eles anunciavam esse novo mundo em transição e que se consolidaria aqui
no Brasil com o movimento modernista, em 1922.

Por fim, nesse momento, diversos conflitos foram se espalhando pelo mundo, os quais culminariam na Primeira Guerra
Mundial, em 1914.

Autores brasileiros pré-modernistas

Os escritores pré-modernos assumem uma posição mais crítica em relação à sociedade e aos modelos literários
anteriores.

Muitos deles rompem com a linguagem formal do arcadismo e, além disso, exploram temas históricos, políticos e
econômicos.

Os pré-modernistas que se destacaram na prosa foram: Euclides da Cunha, Graça Aranha, Monteiro Lobato e Lima
Barreto. Já na poesia, merece destaque o poeta paraibano Augusto dos Anjos.

1. Euclides da Cunha (1866-1909)

Euclides Rodrigues da Cunha foi um escritor, poeta, ensaísta, jornalista, historiador, sociólogo, geógrafo, poeta e
engenheiro brasileiro. Ocupou a cadeira 7 na Academia Brasileira de Letras de 1903 a 1906.

Publicou Os Sertões: Campanha de Canudos, em 1902, a qual é dividida em três partes: A Terra, o Homem, A Luta. Essa
obra regionalista retrata a vida do sertanejo. Publicou também a Guerra de Canudos (1896-1897) no interior da Bahia.

2. Graça Aranha (1868-1931)

José Pereira da Graça Aranha foi um escritor, diplomata maranhense e um dos fundadores da Academia Brasileira de
Letras e organizador da Semana de Arte Moderna de 1922.

Sua obra que merece destaque é Canaã, publicada em 1902. Ela aborda sobre a migração alemã no estado do Espírito
Santo. Outras obras que merecem destaque são: Malazarte (1914), A Estética da Vida (1921) e Espírito Moderno (1925).

3. Monteiro Lobato (1882-1948)

José Bento Renato Monteiro Lobato foi um escritor, editor, ensaísta e tradutor brasileiro.

Um dos mais influentes escritores do século XX, Monteiro Lobato ficou muito conhecido por suas obras infantis de
caráter educativo, como, por exemplo, a série de livros do Sítio do Pica-Pau Amarelo.

Em 1918 publica Urupês, uma coletânea regionalista de contos e crônicas. Já em 1919 publica Cidades Mortas, livro de
contos que retrata a queda do Ciclo do Café.

4. Lima Barreto (1881-1922)

Afonso Henriques de Lima Barreto, conhecido como Lima Barreto, foi um escritor e jornalista brasileiro.
Autor de uma obra crítica veiculada aos temas sociais, o escritor rompe com o nacionalista ufanista e faz críticas ao
positivismo.

Sua obra que merece destaque é o Triste Fim de Policarpo Quaresma escrito numa linguagem coloquial. Nela, o autor faz
crítica à sociedade urbana da época.

5. Augusto do Anjos (1884-1914)

Apesar de ser considerado simbolista, o poeta Augusto dos Anjos teve grande destaque no período pré-moderno.

Conhecido como o "poeta da morte" pelos temas inquietantes e sombrios explorados, ele ocupou a cadeira n° 1 da
Academia Paraibana de Letras.

Sua única obra publicada em vida, Eu (1912), reúne diversos poemas que chocam pelos temas, pela agressividade, pelo
uso de uma linguagem coloquial e cotidiana, bem como o de palavras consideradas antipoéticas.

Os Sertões, de Euclides da Cunha


“Os Sertões” é uma das obras mais emblemáticas do escritor pré-modernista Euclides da Cunha (1866-1909),
publicada em 1902.
A obra regionalista narra os acontecimentos da sangrenta Guerra de Canudos, liderada por Antônio Conselheiro
(1830-1897), que ocorreu no Interior da Bahia, durante 1896 e 1897.
Trata-se de um relato histórico mesclado à literatura, posto que Euclides foi convidado pelo Jornal Estado de
São Paulo para cobrir a guerra no Arraial de Canudos e nesse momento, surgiu sua obra.
Por esse motivo, "Os Sertões" representa um marco da literatura e na história do Brasil, sendo, portanto,
analisada por outras áreas do conhecimento, tal qual: Antropologia, Sociologia, Geografia e História.
A obra possui um caráter crítico e realista nunca antes abordado por um literato do Brasil, donde Euclides por
meio de uma linguagem cientificista recrimina o nacionalismo e ufanismo exacerbado da sociedade brasileira
da época, mostrando a face cotidiana e realista do país e das pessoas que o compõem.
De tal modo, trata-se de uma prosa científica e artística, acabando com essa visão idealista do índio herói e do
negro trabalhador, abordado com entusiasmo pelos escritores do romantismo.
Estrutura da Obra
“Os Sertões” é uma obra extensa com cerca de 630 páginas, dividido em 3 partes, as quais são constituídas por
diversos capítulos, a saber:
A Terra
Descrição do ambiente (local, clima, relevo, fauna, flora, vegetação, etc.) do sertão e da seca que assola a
região. Trata-se de um estudo geográfico, dividido em 5 capítulos:

 I. Preliminares. A entrada do sertão. Terra ignota. Em caminho para Monte Santo.


Primeiras impressões. Um sonho de geólogo.

 II. Golpe de vista do alto de Monte Santo. Do alto da Favela.

 III. O clima. Higrômetros singulares.

 IV. As secas. Hipóteses a gênese das secas. As caatingas. O juazeiro. A Tormenta.


Ressurreição da Flora. O umbuzeiro. A jurema. O sertão é um paraíso. Manhãs sertanejas.

 V. Uma categoria geográfica que Hegel não citou. Como se faz um deserto. Como se
extingue o deserto. O martírio secular da terra.
O Homem
Descrição do homem, da vida e dos costumes do sertão, ou seja, do sertanejo. Trata-se de um estudo
antropológico e sociológico, donde o homem é determinado pela tríade - meio, raça e história - segundo a
teoria determinista do historiador francês Hippolyte Taine (1828-1893). Essa parte da obra é dividida em 5
capítulos:

 I. Complexidade do problema etnológico no Brasil. Variabilidade do meio físico. (...) e sua


reflexão na História. Ação do meio na fase inicial da formação das raças. A formação
brasileira no Norte. Os primeiros povoadores. A gênese do mulato.

 II. Gênese dos jagunços. Função histórica do rio S. Francisco. Os jagunços: colaterais
prováveis dos paulistas. O vaqueiro. Fundações jesuíticas na Bahia. Causas favoráveis à
formação mestiça dos sertões, distinguindo-a dos cruzamentos no litoral. Um parêntesis
irritante. Uma raça forte.

 III. O sertanejo. Tipos díspares: o jagunço e o gaúcho. O vaqueiro. O gaúcho. O jagunço. Os


vaqueiros. Servidão inconsciente. A vaquejada. A arribada. Estouro da Boiada. Tradições.
Danças. Desafios. A seca. Insulamento no deserto. Religião mestiça. Fatores históricos da
religião mestiça. Caráter variável da religiosidade sertaneja. a “Pedra Bonita”. Monte
Santo. As missões atuais. Os “Serenos”.

 IV. Antônio Conselheiro, documento vivo de atavismo. Um gnóstico bronco. Grande


homem pelo avesso. Representante natural do meio em que nasceu. Antecedentes de
família: os Maciéis. Lutas entre Maciéis e Araújos. Uma vida bem auspiciada. Primeiros
reveses. A queda. Como se faz um monstro. Peregrinações e martírios. Lendas. O asceta. As
prédicas. Preceitos de montanista. Profecias. Um heresiarca do século 2 em plena idade
moderna. Tentativas de reação legal. Mais lendas. Hégira para o sertão.

 V. Canudos: antecedentes. Crescimento vertiginoso. Aspecto original. Regimen da “urbs”.


População multiforme. Polícia de bandidos. Depredações. O templo. Estrada para o céu. As
rezas. Agrupamentos bizarros. O “beija” das imagens. Por que não pregar contra a
República? Uma missão abortada. Retrato do Conselheiro. Maldição sobre a Jerusalém de
taipa.
A Luta
Descrição da Guerra de Canudos que dizimou grande parte da população nordestina. Trata-se de um estudo
historiográfico, dividido em 34 capítulos, narra as quatro expedições realizadas pelo exército e ainda sobre o
período do pós-guerra:
A primeira expedição é dividida em 4 capítulos:

 I. Preliminares. Antecedentes.

 II. Causas próximas da luta. Uauá. Primeiro combate.

 III. Preparativos da reação. A guerra das caatingas.

 IV. Autonomia duvidosa. Travessia do cambaio.


A segunda expedição é dividida em 6 capítulos:

 I. Monte Santo. Triunfos antecipados.

 II. Incompreensão da campanha. Em marcha para Canudos.


 III. O Cambaio. Baluartes sine calcii linimenti. Primeiro recontro. João Grande. Episódio
trágico.

 IV. Nos Tabuleirinhos. Segundo combate. A Legio Fulminata de João Abade. Novo milagre
de Conselheiro.

 V. Retirada.

 VI. Procissão dos jiraus. Expedição Moreira César.


A terceira expedição é dividida em 6 capítulos:

 I. Moreira César e o meio que o celebrizou. Floriano Peixoto. Moreira César. Primeira
expedição regular. Crítica. Cresce a População de Canudos. Como aguardam os jagunços a
nova expedição. Trincheiras. Armas. Pólvora. Balas. Lutadores. João Abade. Procissões.
Rezas.

 II. Partida de Monte Santo. Primeiros erros. Nova estrada. Em marcha para Angico.
Psicologia do soldado brasileiro.

 III. Pitombas. O primeiro encontro. “Esta gente está desarmada...”. O pânico e a bravura.
“Em acelerado! ”. Dois cartões de visita ao Conselheiro. Um olhar sobre Canudos. Chegada
da Força. Rebate.

 IV. A ordem de batalha. O terreno. Crítica. Cidadela-mundéu. Conflitos Parciais. Saques


antes do triunfo. No labirinto das vielas. Situação inquietadora. Moreira César fora de
combate. Recuo. Ao bater da Ave-Maria.

 V. Sobre o Alto do Mário. O coronel Tamarindo. Alvitre de retirada. Protesto de Moreira


César. Retirada. Vaia.

 VI. Debandada. Fuga. Salomão da Rocha. Um arsenal ao ar livre. Uma diversão cruel.
A quarta expedição é dividida em 8 capítulos:

 I. Desastres. Canudos — uma diátese. Empastelamento de jornais monárquicos. A rua do


Ouvidor e as caatingas. Considerações. Versões disparatadas. Mentiras heróicas. O cabo
Roque. Levantamento em massa. Planos. Um tropear de bárbaros.

 II. Mobilização de tropas. Concentração em Queimadas. Organiza-se a 4.ª expedição.


Críticas. Delongas. Não há um plano de campanha. Crítica. A comissão de engenharia.
Siqueira de Meneses. Estrada de Calumbi. A marcha para Canudos. O 5.° Corpo de Polícia
Baiana. Alteração da formatura. Incidentes. Um guia temeroso: Pajeú. No Rosário.
Passagem nas Pitombas. Recordações cruéis. O alto da Favela. Fuzilaria. Crítica. Trincheiras
dos Jagunços. Continua a fuzilaria. Acampamento na Favela. Canudos. Chuva de balas.
Confusão e Desordem. Baixas. Uma divisão aprisionada.

 III. Coluna Savaget. Carlos Teles. Cocorobó. Retrospecção geológica. Diante das trincheiras.
Carga de baionetas excepcional. A travessia. Macambira. Nova carga de baionetas.Fuzilaria.
Bombardeio. Trabubu. Emissário inesperado. Destrói-se um plano de campanha.

 IV. Vitória singular. O medo. Baixas. Começo de uma batalha crônica. Canhoneio. Réplica
dos jagunços. Regímen de privações. Aventuras do cerco. Caçadas perigosas. Desânimos.
Assalto ao acampamento. A “matadeira”. Atitude do comando-em-chefe. Outro olhar
sobre Canudos. Desânimo. Deserções heroicas. Um choque galvânico na expedição
combalida.
 V. O assalto: preparativos. Plano do assalto. O recontro. Linha de combate. Crítica.
Confusão. Tocaias dos jagunços. Nova vitória desastrosa. Baixas. Nos flancos de Canudos.
Posição crítica. Notas de um diário. Triunfos pelo telégrafo.

 VI. Pelas estradas. Os feridos. Depredações. Incêndios. Primeiras notícias certas. Baixas.
Versões e lendas. “Viva o Bom Jesus !”. Um lance épico.

 VII. Outros reforços. A brigada Girard. Heroísmo estranho. Em viagem para Canudos.

 VIII. Novos reforços. O marechal Bitencourt. Quadro lancinante. Colaboradores prosaicos


demais. Em Canudos. O sino da igreja. Fuzilaria.
A “nova fase da luta” é dividida em 3 capítulos:

 I. Queimadas. Páginas demoníacas. Uma ficção geográfica. Fora da pátria. Em Canudos.


Prisioneiros. Diante de uma criança. Outra criança. Na estrada de Monte Santo.
Palimpsestos ultrajantes. Em Monte Santo. Em Canudos. Uma “vaia entusiástica”.
Trincheira Sete de Setembro. Estrada de Calumbi.

 II. Marcha da divisão auxiliar. Medo glorioso. Caxomongó. Rebate falso. Em busca de uma
meia ração de glória. Aspecto do acampamento. Canudos. O charlatanismo da coragem.

 III. Embaixada ao céu. Complemento do assédio. Cenário de tragédia.


Os “últimos dias” é dividido em 7 capítulos:

 I. O estrebuchar dos vencidos. Os prisioneiros. A degola.

 II. Depoimento do autor. Um grito de protesto.

 III. Titãs contra moribundos. Constringe-se o assédio. Cavando o próprio túmulo. Trincheira
de cadáveres. Em torno das cacimbas. Sobre os muradais da igreja nova.

 IV. Passeio dentro de Canudos.

 V. O assalto. O canhoneio. Réplica dos jagunços. Baixas. Tupi Caldas. A dinamite. Continua
a réplica. Baixas. No hospital de sangue. Notas de um Diário. Antônio, o Beatinho. Morte
de Conselheiro. Prisioneiros.

 VI. O fim. Canudos não se rendeu. O cadáver do Conselheiro.

 VII. Duas linhas.


Resumo da Obra
Inicialmente, Euclides foca na descrição do Sertão, o local onde será desenvolvido o enredo. Aponta para
aspectos da paisagem desde o relevo, a fauna, a flora e o clima árido. Segundo ele, a paisagem do local distante
do litoral, indica a exploração do homem durante anos.
Já na primeira parte da obra ele aborda sobre os habitantes do local, o sertanejo e o jagunço, os quais fazem
parte dessa paisagem. Sendo assim, nesse primeiro momento, apresenta uma região separada geográfica e
temporalmente do resto do país.
Na segunda parte da obra “O Homem”, Euclides enfoca sobretudo, na descrição do sertanejo, do jagunço e do
cangaceiro, bem como na resistência do povo em relação à terra, analisando, por conseguinte, a figura do líder
do Arraial de Canudos, Antônio Conselheiro, desde sua genealogia e objetivos.
Nesse momento da obra, notamos o determinismo racial, já que Euclides abrange as questões raciais que
englobam o índio, português, negro, também formadas por sub-raças, o mestiço. Sendo, portanto, o homem o
fruto do meio em que vive.
Na Terceira parte da obra “A luta”, o autor descreve os embates que ocorreram entre o sertanejo
(considerados os bandidos do sertão) e o exército nacional do Brasil.
Aborda sobre as quatro expedições realizadas pelo exército nacional, enviados para destruir o Arraial de
Canudos, que contava com cerca de 20 mil habitantes.
A história termina com o trágico desfecho e a destruição de Canudos.

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