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Dois tipos de bioética € a evolugao continua do conceito de bioética global. Aldo Leopold estabeleceu a estrutura para uma bioética da sobrevivencia ecolégica orientada para a questo populacional em 1949 em seu ensaio seminal “The Land Ethic’, bem como em trabalhos anteriores. Dando continuidade a linha de pensamento de Leopold, em 1970 criei o termo “bioética” para descrever 0 amdlgama de valores éticos e fatos biologicos e, em 1971, pu- bliquei Bioetica: ponte para o futuro. Esse conceito de bioética foi formalizado em um diagrama publicado em 1975, aqui reproduzido como a Figura 1. No entanto, um movimento independente que havia comecado na Georgetown University usou a palavra “bioética” a aplicou exclusivamente @ problemas médicos em um reoém-criado Centro de Bioética. Seu diretor, LeRoy Walters, afirmou: “Bioética é o ramo da ética aplicada que estuda priti- «cas e desenvolvimentos nos campos biomédicos". Estava implicito que o foco era na ética de individuos em relacao a outtos individuos, e no no “terceiro ppasso da sequéncia” de Aldo Leopold. As evidencias da exclusio dos proble- mas ecol6gicos e populacionais sao abundantemente claras na colegio de 87 ensaios no livro Contemporary Issues in Bioethics, de 1978, organizado por Tom L, Beauchamp, do Kennedy Institute, e LeRoy Walters, do Centro de Bioética da Georgetown University. Eles destacam seu ponto de vista no prefiicio: P arece importante neste ponto recordar o desenvolvimento histérico 1 Beavcnawe, To L; Watress, LeRoy, Contemporary Issues in Bioethics, Belmont, Calif, ‘Wadsworth, 1978, LeRoy Walters escreve sobre “Bioethics as a Feld of Ethics’, 49. ‘sonwecimeuro Dos sisTEMAS ‘conHecivENTo siosoico Tee * BIOETICA « stoenca oc, at a |. CAPACIOADES HUMMANAS | OAPACIDADES AMBIENTAIS 2. FRAGIUDADES HUMANAS. 2. FRAGUIDADES DMBIENTAS PROBLEMAS INDIVOUAIS PROBLEMAS SOCINS -« > PROBLEMA POPULACIONAIS Fi1.Siatca com un situs de morldad bse on sce de cothecimet sus ragmatado em ees p08 de oleate. 9 Pa, Hy ith osronsity—Aieticor Oclopts Past Adres Cece Resa 5179 2257-28, com autrzacé de Aretca soit Cancer Resear (so sfonde biostca ste aoz neste pre sue ds reblasinteapes nates oust ino € ‘ematis de salina ese oles leva ows carhasnats qe stm os pol de cnhecnerts rat Desenvolvimentes recentes nos campos biomédicos levaram a uma con- sideravel perplexidade moral quanto 20s direitos e deveres de pacientes, profissionais de sade, sujeitos de pesquists pesquisadores. Desde meados de 1970... membros de intimeras disciptinas academicas — entre elas bio- logia, medicina,flosofia, estudos religiosose direito — viram- 4 o “ AMBIENTE SAUDE SOBREVVENGIA —_ELOSSISTENA SAUDAVEL INDIVIDUAL" “DAESPECIE —”SaUDAVEL as FERTIUDADE HUMANA CONTROLADA Y “< POPULAPKOUNDIALESTABILZADA => Y » SOBREVIVENCIA ACEITAVEL ~ Fie. Biotic gel como una unicago de babes médica eiotiaexcinie ‘As proacunsges da biktea mécicee é biota oxoligia conforms opressrtada na Fu ¢ xian de cura rez versus go pram apresertags na Figur 24 sui reeks em um corut veeade deme ncluom um ambiente save prea peesas cea indidul obrevvicn da epee ecostemasaulive lm opaxgto ‘lum expat ma degrada eegoad come nostro na Figura, Com iene in dads mana cntlad, objeto dun ppsagso mun xtilzada om um anbirte save eum acoso saute, prog 8 qe dics loan un conus de vals ae pees nvr sake acsitvl aaa epice humans, Oeesforco de professores de filosofia para se identificarem em suas novas vocagées levou a algumas mudancas nos nomes dados as novas aplicacdes Biodton Global da ética. Assim, a bioética médica ou bivética se tornou ética biomédica’. De modo similar, professores de filosofia se uniram para criar um novo periddico com o titulo Environmental Ethics*. Nesses dois casos, foi dada atencdo & formacio profissional no campo da ética. Os desenvolvimentos anteriores na Georgetown University levaram a escolha da palavra bioética a0 descarte do antigo termo ética médica, que remontava ao Juramento de Hipécrates. Gorovitz decidiu que a ética médica ficaria relacionada a ques- tes de etiqueta profissional e concordou com a evolugdo da ética médica ppara bioética em conformidade com a Escola de Georgetown’. Em 1986, Gorovitz ainda utilizava o termo bioética apenas na aplicagio médica®. Conforme descrito no capitulo anterior, Aldo Leopold usou o termo mais simples possivel — ética da terra —, mas depois foi forcado a explicar com mais detalhes que queria dizer: que terra é mais do que solo, mais do que 0 espaco ocupado por um shopping center; que terra inclui agua, plantas e animais, Para ele, terra inclufa toda a biosfera. Acredito que ele concordaria com o termo bioética ecol6gica, porque indicou repetidamen- te sua énfase em principios ecolégicos, como quando afirmou: Uma ética, ecologicamente, ¢ uma limitagio da liberdade de acio na Iuta pela existenca,[...] Uma ética pode ser vista como um modo de orientacio pata enfrentarsituagdes ecologicas tdo novas ou intrincadas, ou envolvendo tais reacdes futuras, que 0 caminbo da conveniéncia social [para a sobrevi- vencia da humanidade] nao ¢ discernivel para 0 individuo medio’. Também acredito que ele aceitaria o uso da palavra bioética em vez de ética, Em sua discussio da evolugao da ética de interpessoal para a relagao do individuo com a sociedade e, por fim, para *o terceiro passo 5 Beavcrane, Tow Ls Chnass, Jans F, Principles of Biomedical Ethie, Nova York, Oxford University Press, 1979; e Hue, Juss M.; Atsoer, Roser F, Biomedical Ethie and the Lav, Nova York/Londlres, Plenum Press, 1976 6 Environmental Ethics, | (primavera 1979) 1, Definido como “uma publica intrdisc- plinar dedicada aos aspects filosoficos dos problemas ambientxis". Na pigina 1, oedi- tor comenta “O perislico no tera um ponto de vista especfico nem defenders nada’, 7 Goroviz, Sawer, Bioethics and Social Responsibility, in: Braucnane TL; WALTERS, L, Belmont (org), Contemporary Issues in Bioethics, Cait, Wadsworth, 1978, 32-60. 8 Gonovra, Sie, Bating Bioethics, Ethics, 96 (1086) 356-374. 9 Leoro:0, Atpo, The Land Ethic in: I, A Sand County Almanac, 1987, 202-203. Ver cap. Lal da sequéncia”, L biolégica — a cx fato-uma bioetc ‘No moment tica médica. qualquer um vencia aceitavel nizados e unifics bem ser deno palavra global. L e abrangente e, A questio do ex Fundamenti tica feita por Ca culou que hay em 1978", Por des, Mone nao ¢ a 1965, Em um dos cursos deb Os professor tenha sido dese: de 1970. Aa: entre 1965 ¢ 19 Bloética: ponte p Clouser exz do inevitavel do Oambic biente d na. Qua 10 Ciovser,K can Resource n da ética médic: , Em 1986 0 médica’, i usou 0 terme reado a expli rra inclui gu 0 que x repetidam e de acho na lu dio de orientac: ma envolvend da sequéncia’, Leopold via a extensio da ética para toda a comunidade biolégica — a criacdo de uma nova ética ndo enunciada anteriormente, de | _fato uma bioética ecologica. Nomomento presente, é necessétio ir além de Leopold e além da bioe- | tica médica, Precisamos reconhecer que a especializacdo excessiva em jualquer um dos ramos pode ser contraproducente para a meta da sobrevi- véncia aceitavel em uma escala global. Os dois ramos precisam ser harmo- nizados e unificados em um ponto de vista consensual que poderia muito bem ser denominado bioética global, enfatizando os dois significados da palavra global. Um sistema de ética ¢ global, por um lado, se for unificado | cabrangente e, no sentido mais usual, se for mundial em alcance. BA questo do ensino da ética na educagao superior ; Fundamentado em uma pesquisa nao publicada sobre ensino da biog- ca feita pot Carola Mone para o Hastings Center, K. Danner Clouser cal- culou que havia mais de 1,5 mil faculdades oferecendo cursos de bioética | _ em 1978", Por meio de uma pesquisa informal em catélogos de faculda- _ des, Mone nao encontrou praticamente nenhum curso desse tipo de 1950 21965, Em um levantamento divulgado em 1977 por Jon Hendrix, 45% | dos cursos de bioética eram ministrados em departamentos de biologia | 's professores de biologia atendiam a uma demanda popular que talvez senha sido desencadeada pela comemoracio do Dia de Terra em 22 de abril de 1970. A ascensao do ensino de bioética em departamentos de biologia entre 1965 e 1977 também coincide com as muitas adogoes de meu livro oética: ponte para o futuro ; Clouser explica as visdes estreitas da profiss4o médica como 0 resulta- do inevitavel do ambiente das escolas de medicina: ambiente ¢, de fato, uma espécie de gueto conceitual e parece refleir o am- Diente de todas as escolas de formacao de profissionais, nao s6 as de medici- zna, Quando as mesinas pressuposicoes, 0s propésitos e pantos de interesse Crouse, K, Dasnes, The Teaching of Eihcs, vol. 4, Teaching Bioethics, Strategies, Problems, ‘and Resources, Hastings-on-Hudson, N.¥., The Hastings Center, 1980, 48-49. Hevomx, Jon R A Survey of Bioethics Courses in U.S, Colleges and Universities, Ameri- an Biology Teacher, 39, fv. 197,85 ss. citado por CiouseR, 48, sio compartilhados por uma comunidade, é como se ficassem fechados cx lum gueto. A visto de si mesmos, dos outros, de suas relagces, das m das aspiracbes ¢ a mesma (CLOUSER, 1980, 5) Callahan e Bok estavam particularmente preocupados com a pres vacao de padroes profissionais no ensino da ética na educagio superior Eles comentam: Embora uma porgio considenivel do ensino da ética aconteca dentro de deparnamentos de filosofiae religiéo, ensinada por pessoas com doutorad. ‘essas dreas, provavelmente o desenvolvimento mais significativo na di Passada tenha sido a difusto dos cursos para além desses contextos dis Plinares. Essa difusdo, por sua vee, suscitou questdes importantes quant. qualificacdo e as competencias daqueles que ministram esses cursas'? Eles também demonstram preocupacio quanto a “se é possivel mini trar esses cursos sem deslizar para uma doutrinagao inaceitével”. Por out lado, William Bennett, ex-secretario da Educacio no governo Reagan, criti- cou vigorosamente qualquer relutancia em afirmar que algumas coisas so Certas ¢ outras erradas conforme cada visto de ética implica’™ Os limites da filesofia Enquanto Callahan e Bok estavam preocupados com as qualificagdes © competéncias dos professores de bioética, Callahan, em outro trabalho, expressou a visto de que “a ética biomédica precisa agora se mover para uma nova fase”, porque “apenas raramente a andlise a prescricdo éticas podem impulsionar a mudanga social e cultural”. Fle comentou: Por algumas décadas, especialmente durante as décadas de 1940 e 1950, a filosofia era um campo estreito, érido e téenico. Apenas recentemente cla despertou de seu sono profundo, quando foram levantadas questbes sobre ©s propésitos da flosofa.. (Assim, os problemas da biomeclicina propor- rovado foi, primeito, sre em uma peticao de de razées com base 4S, 1985, 93-95.) cnt is Meaningless, Pes sin Biology and Medi al Ethics or Universal Princ Lome, M.-L; Lrow uazry, Hospital and Comm 2. Fé. Certos principios éticos universais so parte de um sistema de crengas. O sistema de crengas funcionara caso se aceite a teologia ou a fé especifica envolvida. Ele nao funcionaré para a ética secular. 3. Procedimento democratico. Dentro de comissdes e comités po- liticamente criados, os eticistas médicos definem os padroes para a pritica médica ética. [Suas propostas confundem] ética com politica e conteaddo com procedimento. A medicina nes- ses termos nao é nem uma profisséo nem uma ciéncia, mas ‘uma instituigdo social que € dirigida por politica social. 4, Escolha de principios universais. Foi sugerido que seria posstvel escolher entre um “bufé de candidatos” o principio universal —autonomia, beneficéncia, justica e equidade, entre outros —com base no que faz 0 eticista se sentir intuitivamente bem. [Uma vez mais, intuigdo nao € suficiente.|* 5. Direitos morais. Afirma-se que o direito moral da autonomia ad- ‘vem da capacidade de se fazer uma afirmacdo valida, que seja reconhecida intuitivamente par todos como razoavel e valida. Clements ¢ Ciccone conclutram que a tentativa de aplicar prinefpios universais pode levar a instalado de sistemas de tabus “validados pela ti- rania da quantidade ou pela tirania dos preconceitos”, Eles argumentaram que decisoes de tratamento devem ser baseadas no exame do mundo real de consequéncias, na situacdo individual e no que sabemos sobre propésito 21 Porm, V.R., Humility with Responsibility. Intuicoes foram discutidas em associa- co com "a experigneia Eureca", uma intuicio subita que néo pode ser desejada ow prevista. A experigncia mostrou que uma intuigdo que prev o resultado de uma ecisto pode ser correta ou incorreta,¢ a intuigio incorreta pode produ tanta ceaforia quanto a correta, Na ica, como na ciéncia, a validade de uma previsto $6 pode ser testada pela experiencia. No entanto, no fim, embora as decisbes tomadas de acordo com cada caso panicular sejam prefertveis & determinacdo burocritica de principios universal, tal decisto envolverd a apresentagzo de razoes que Te ‘caem de novo na experiéncia de casos similares. Porém a avaliagio da experiéncia, ppassada na ética como na ciéncia se apoiaré fortemente nos esforcos conjuntos de. Participantes motivados e qualificados. A conclusto que surge é que uma decisio especilica deve ser baseada em uma ética que leve em consideragao um modelo holistico e nao deve ser tomada por um individuo em isolamento, mas varios indi- viduos devem participar, ou pelo menos dar uma contribuigao para a decisto. Diostica Global fungbes — em outras palavras, no exame da experiéncia cumulativa com eticistas. Ao examin casos similares julgada em relagao ao pano de fundo do desenvolvimento ¢ fatiza repetidament da funcdo normais (CLEMENTS, CICCONE, 1985). Eles esto, na verda- damentais de const de, defendendo uma nova fase na ética aplicada, uma nova fase que ainda seis estagios que no foi enunciada em detalhes, mas que ja pode ser visualizada como uma até a idade adul metodologia para desenvolver uma bioética realmente glabal que envolva observa que os est 0 bem-estar tanto do individuo como da espécie. sexo masculino. a sociedade at Bioética global e a perspectiva feminina portamento das que possa ser co’ A ética classica sempre foi a ética de individuos, os dois primeiros es- aan tdgios mencionados por Aldo Leopold (1987, 237-264). A enfase na ética auescentad de individuos tem claro dominio masculino. Leopold propos a biologi- zacao da ética em uma estrutura ecoldgica que enfatizasse as conexves — entre todas as formas de vida. Embora ele nao estivesse pensando no papel ees ferninino na natureza ou na sociedade, as tendencias atuais nos estudos modemos sobre psicologia feminina sio mais congruentes com Leopold e com a bivética ecolégica do que com a ética classica e a bioética médica atual, De fato, a bioeiica global ¢ 0 resultado logico do impacto de perspectiva ‘feminina sobre a bioética médica e a bioética ecolégica. Pode-se esperar que as mulheres que estejam interessadas em apoiar os direitos reprodutivos das mulheres apoiem a bioética global, bem como o controle de natalidade, Conotidan a livre escolha em questao de aborto e a preservacéo de um ecossistema saudavel®. Praticamente todas se oporiio a violencia, guerra e corrida ar- mamentista nuclear, enquanto muitas se opordo ao dominio de sistemas politicos e econdmicos por padrdes masculinos de pensamento. Carol Gilligan iniciou um estudo sério da teoria psicologica e de sua relagdo com 0 desenvolvimento das mulheres da infancia a maturidade. Seus estudos estio claramente associados aos conceitos desenvolvidos por na conexs do relacion 22 Porexemplo, a American Association of University Women (AAUW) € National Orga- nization for Women (NOW) aparecem como apoiadoras da H. R. 700, The Civil Rights Restoration Act, sem antescoPa ou outras emendas (ver AAUW, Reproductive Rights. A ‘Tradition of Activism, Graduate Woman, 80 (1986) 6-7. Cf, Haxxsox, Bevey WiLDiNG, (Our Right to Chose. Towanda New Ethic of Abortion, Boston, Beacon Press, 1983. Uma dis- ‘cussfo ampliada do tema de que “o sucesso das politicas antiborto atuzs.. estenderia 2 realidade moral duvidosa da subjugacto feminina e da supremacia masculina’, 56. ‘Manure, Jean Bu ncia cumulativa com desenvolvimento e les estao, na verda- nova fase que ainda salizada como uma = global que envolva dois primeira es- A enfase na ética 4 propos a biologi- a88¢ aS conexdes ensando no papel atuais nos estudos ntes com Leopold Dioética médica acto da perspectiva mainio de sistemas ent, ccolégica e de sua cia & maturidade. desenvalvidos por 2) a National Orga- 700, The Civil Rights productive Rights. A 2, Bevexty WILDUNG, 5, 1983, Uma dis stuais... estenderiaa masculina’, 56, eticistas. Ao examinar as iniciativas passadas, de Freud a Kohlberg, ela en- fatiza repetidamente como as mulheres foram exclutdas dos estudos fun- damentais de construgao de teorias na pesquisa psicoldgica. Fla faz uso dos seis estdgios que descrevem o desenvolvimento do jutzo moral da infancia até a idade adulta conforme os elaborados por Lawrence Kohlberg, mas observa que os estudos dele e os de intimeros outros foram baseados no sexo masculino. Sendo assim, ela acredita que sejam inadequados para a sociedade atual e inaplicaveis a um entendimento apropriado do com- portamento das mulheres na sociedade. Em sua visio, que eu actedito que possa ser combinada com a perspectiva de Leopold, *o problema moral surge de responsabilidades conflitantes, ¢ ndo de direitos concorrentes” (itélicos acrescentados)”. Ela acrescenta que isso requet pata sua solucio um modo de pensamento que € contextual ¢ nat- tivo, em vez de formal e abstrato, Essa concepcéo da moralidade como associada 2 atividade do cuidado centra o desenvolvimento moral no enten- dimento de responsabilidade e relagdes, assim como a concepcao de mora- lidade como justiga vincula 0 desenvolvimento moral ao entendimento de direitos e regras.[...] A moralidade de direitos [um conceito masculino] difere da moralidade de responsabilidade em sua énfase na separacao, e nto nna conexio, em sua consideragdo do indivfduo [visio masculinal, e no do relacionamento como primtério [visio ferinina] (GILLIGAN, 1982, 19) Concordando com Miller”, Gilligan comenta: ‘As mulheres ndo 86 se definem em um contexto de relacionamento huma- xno, como também se julgam quanto a sua capacidade de cuidar, © lugar das ‘mulheres no ciclo de vida do homem tem sido o de eduezdora, cuidadora e ‘companheira, a teceli das redes de relacionamentos em que ela, por sua vez, se apoia, Mas, enquanto as mulheres cuidavam dos homens, os homens, em suas teorias de desenvolvimento psicolégico, como em seus arranjos eco- nomicos, tenderam a desconsiderar ou desvalorizar esse cuidado. Quando © foco na individuacdo e na realizagio individual se estende para a vida adulta e [quando] maturidade ¢ equiparada a autonomia pessoal, a atencio 23 Gunscan, Canou, In a Different Voice. Psychological Theory and Women’ Development, Cambridge, Mass., Harvard University Press, 1982, Ver tambem Kouisenc, L., The Phi. losophy of Moral Development, San Francisco, Harper and Row, 1981 24 Mier, Jean Baer, Towand a New Psychology of Women, Boston, Beacon Press, 1976. 2 lobat a0 relacionamento aparece como uma fraqueza das mulheres, em vez de ser reconhecida como uma forca humana (GILLIGAN, 1982, 17). Na diferenciacao feita por Gilligan entre homens e mulheres, que apre- senta as mulheres voltadas para relacionamentos e cuidado e os homens voltados para individuacao, realizacao individual e autonomia pessoal, po- demos ver um paralelo com a referéncia de Leopold a “arrogancia bidtica do homo americanus". Com a teoria ética humana dominada por homens determinados a conquistar e explorar a natureza, houve pouica chance para que a ética da terra de Leopold fosse estendida aos problemas do século xoxt ¢ inclufsse “uma humildade inteligente em relacdo ao lugar do homem nna natureza™ Se Gilligan estiver correta em sua andlise do desenvolvimento do ego fe- ‘minino como “uma fungio de anatomia e destino” e em sua enfase nas dife- rengas no desenvolvimento do ego de homens e mulheres como parcialmente biol6gicas e parcialmente culturais, pode haver uma base para esperar que 0 movimento pelos direitos civis das mulheres vena a ser reconhecido como a fundagao para uma nova fase da contribuicao das mulheres para o progres- so humano. Em vez de ficar limitada a uma imagem de fertilidade da Mae Terra cultuada como um fim em si’’, a mulher moderna reivindica o direito 25 Leoro.o, Avo, Why the Wilderness Society?, Um comentario de 1935 retmpresso em Wilderness (invereo 1984) 22. 26 Eu concordo com Gilligan: anatomia porque s6 as mulheres sto especialmente equi- ppacas para gestar, parte amamentar um filho; destino porque, para muitas menines adolescentes, ou mesmo uma mulher fertil mais velha,o futuro inclu a possibilidade de que ela venha a enfrentar uma gravidez nao pretendida, e porque as culturas hu- ‘manas enfatizaram que ter filhos € a funggo normal, enquanto néo ter filos nio & natural. Nao € surpresa que possam existirdiferencas no desenvolvimento do ego entre homens e mutheres! 27 Websters Thind New Intemational Dicionary (Springfield, Mass... C, Merriam Comps- ty, 1965), “Mae Terra: a Tera vista (como na teologia primitiva) como a fonte divina da vida terrestre; 0 principio feminino da fertilidade’. Precisamos agora de uma visio de ‘mundo em que ambos os sexes possam ajudar um 20 outro a se adaptar e transcender s paptis culturas restritivos de direitos eresponsabilidade que nao permitem o pleno desenvolvimento da personalidade. Os homens com frequéncia tém podido gerar f- thos e, an mesmo tempo, evitar a responsabilidad por ess escolha. As mulheres agora ppodem fazer a escolha e podem exigir rsponsabilidades compartlhadas por escolhas Teprodutivas, As mulheres esto dizendo que a ferlidade é um problema masculino’ feminino. & fertilidade deve ser vista como um processo total de cracio e curmprimen- to de obrigacées, ou de manutencio dos processos bisicos da vida de uma maneira de controlar suas props mulheres poderiam expe imaginado por Aldo bisica de cuidado, pectiva que incluisse mulheres e criangas do & De acordo com G lidade dos ec ras limitagd permanecem (G Aqui, na cone: global, uma perspect individual e prom. da biottica global s comentario final de G Por essa exp: ‘unio entre senvolvimento & entendimen rica mais amp) O pressuposto d mano € predestinado : necessatio, embore & melhor das ideias des foram levados, pelo Iheres, a visualizar dos Jntegrar em cada um 2 ‘uma biota glo heres, em vez de ser 82, 17). e mulheres, que apre- dado € os homens ;omia pessoal, po- 2 “arrogancia bistica ninada por homens e pouca chance para problemas do século 20 lugar do homem clvimento do ego fe- 2 sua énfase nas dife- = como parcialmente = ara esperar que o reconhecido como 8s para o progres- fertilidade da Mie = reivindica o direito 935 reimpresso em cialmente equi- ata muitas menin: slut a possibilidade Porque as culturas hu- ter filhos nao ¢ esenvolvimento do ego G.C. Merriam Comps 0a fonte diving d ra de wma vist d: aptare transcencier ermitem o pens m podido gerar ‘As mulheres agors erulhadas por escol = problema maseulit 40 e cumprimer: vada de uma maneizs Pectiva que incluisse todo o ecossistema e mulheres e criangas do futuro De acordo com Gilligan, Enquanto a concepcio de direitos da moralidade. € voltada para chegar & uma resolucio objetivamente cometa ou justa po ra dilemmas morais com descreve os conflitos que Pemmanecer (GILLIGAN, 1982, 21-22; ef FOX; SWAZEY, 1064) Aqui, na concepcio de responsabil idade, temos a base de uma bioética Blobal, uma perspectiva que modificara a énfase médica na sobrevivencia individual e promoveria a paz ea preservacao do ecossistema, A evolugtio i bioética global surge como um desenvolvimento que ce equipara a0 comentario final de Gilligan: For £88 exansto de perspective, podemos comecar a vislambmar como a Uno entre o deseavolvimento adulto & atualmente representado eo de, Senvolimento feminino como comeca a sr visto poeta levat wm our extendimento modificado do desenvolvimento humnano e 2 urna visio Bene ‘ica mais ample da vida humana (GILLIGAN, 1982, 174). O Pressuposto de que o desenvolvimento masculino e feminino hu- sean Predestinado a ser diferente em sua perspectiva ética final nao ¢ Recessario, embora esse possa ser 0 caso. O importante € uma exploracao nvolvidas por Gilligan e outros profssionais que Pelo estudo do desenvolvimento moral em meninas e mu. Hear dois modelos de moralidade. A concepcao de “direitos” foram levados, heres, a visuali responsivel. Leopold entende individvo, para o macrocosino de toda a biosfera Juntos, da moraldade, como boa parte do pensamento na bioetica médica atual Centrarse no individuo e pode ser mais investigada sem necessariamente levar o rotulo de “masculina”. De modo similar, o conceito de “responsa- bilidade’,focado em relacionamento, pode ser mais desenvolvido are, que seia rotulado de “feminino”. Conforme previsto por Leopold, nossos con. eit éticos podem ser ampliados para incluir seu tereiro estagio da ética, Fea, 8 sobrevivencia da espécie ea sobrevivencia de um ecossstema que dF€ apoio @ vida humana séo equilibradas em relacdo aos “diteitos” de ind viduos. Assim, o conceito de “responsabilidade” nto precisa ser rotulado ome feminino ou adotado apenas por mulheres. Na verdade, quando ele £ expandido para uma bioética global, o motivo da responsabilidade torna. Se um Ponto de partida para trabalhos adicionais de cientistas e fldsofos socials homens ¢ mulheres que tenham a esperanca de promover o bem. estar € a sobrevivencia da espécie humana, A Dlostica global deve ser baseada em uma combinacio de direitos ® responsabilidades em que masculinidade e feminilidade nao sio mats ow como dimensoes mutuamente excludentes de um continuo bipolar © conceito de androginia psicologica, o endosso de alguns atributos ms, dicionais tanto de homens como de mulheres e a rejeicao de outros, pode reorganlzat as perspectivas tradicionais sobre os papsis dos sexos®, A maior barreira para « ampla accitacdo de uma bioética global ¢ a moralidade “machist” da autonomia e do dominio masculinos: deminio sobre as mulheres, com fungao reprodutivailimitada nos homens « con inamento das mulheres 20 papel reprodutivo; dominio sobre « natureza; € conflito com outros homens. Essa moralidade machista é em parte a fonte da crenga de que uma solucdo tecnologica pode ser encontrare para qualquer desastre tecnolégico e da crenca de que guerras santas religiosas fo Nini. Em contraste, talvez a maior esperanca para a aceitacio de uma bioética global seja o movimento das mulheres pot liberdade reprodativa, seguido pelo “entendimento modificado do desenvolvimento humano e . ‘ima visio mais generativa da vida humana’, como imaginado por Gilligan, 28 Love, VO., Relationship of Masculinity to Self-Esteem and Self-Acceptance in Female Coapatinals, College Students, Clients, and Vieins of Domestic Vdlenes faxes of Counseling and Clinica Psychology, 54 (1986) 323-327, capitulo médica e a questo é s cativa”, satide comu Ocamy diretrizes px satide se ve samente ne quanto a0 pode ou nx 1 Hou, pects i plan tivar dir mors se senter

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