Para as Elites!
Nesta Unidade, vamos aprender um pouco mais sobre um importante tema da História do
Brasil República: A Ditadura Brasileira: Governando Para as Elites!
Então, procure ler, com atenção, o conteúdo disponibilizado e o material complementar. Não
Esqueça! A leitura é um momento oportuno para registrar suas dúvidas; por isso, não deixe
de registrá-las e transmiti-las ao professor-tutor.
Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais interativo possível,
na pasta de atividades, você também encontrará as atividades de Avaliação, uma Atividade
Reflexiva e a Videoaula. Cada material disponibilizado é mais um elemento para seu
aprendizado. Por favor, estude todos com atenção!
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Unidade: A Ditadura Brasileira: Governando Para as Elites!
Contextualização
As Elites no Brasil não estarão satisfeitas com qualquer tentativa de regular a mídia, “Grande
Imprensa”, dominada por políticos de inúmeros partidos, (isto é inconstitucional, mas as
manipulações não deixam que se regulamente a constituição porque fere interesses do grande
capital nacional e internacional), ou de situações que não as favoreçam plenamente no jogo
político-econômico como, por exemplo, com a criação das PNPS, que levou ao veto o Decreto
presidencial que instituía canais para a participação popular nas decisões políticas através do
Dec. 8.243/2014 Política Nacional de Participação Social (PNPS).
Assim como no Golpe de 1964, fica bastante fácil contextualizar a insatisfação do
“NeoNeoLiberal” e da tentativa de manipulação da vontade democrática da população. Como
historiadores, devemos estar atentos aos traquejos da política e do grande capital que manipula
a opinião pública por meio de embustes na Mídia.
Portanto, refletindo o passado através de ações do presente, eu, como pesquisador, costumo
dizer que “A política não é inocente” e desde o invento de Gutenberg a leitura se tornou um
hábito muito mais corriqueiro e não monopolizado pela elite; mas como “todos” nós sabemos,
a Mídia no Brasil é dominada por um grupo restrito de milionários, que também influenciam
na política; portanto vou fazer um acréscimo ao meu bordão, “A política não é inocente: e a
mídia nas mãos da elite manipula e aliena quem não procura meios alternativos à “Grande
Imprensa” para se informar”, como vimos nesta unidade: A Ditadura Brasileira: Governando
para as elites!A mídia teve uma grande influência na instalação da “Ditadura Empresarial
Civil Militar no Brasil”.
Sendo assim, para nossa contextualização, não basta dizer que a mídia que caracterizo de
forma geral como “Grande Imprensa”, continua tendo suas preferências partidárias, escondida
atrás de uma suposta imparcialidade da Imprensa. Vamos contextualizar estes argumentos com
osartigos publicados atualmente.
Primeiro, veremos um artigo da mídia “alternativa” – Carta Capital
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/revista/830/impeachment-e-insensatez-4371.html
por Pedro Estevam Serrano. Publicado em: 20/12/2014
Para Pensar
Reflita sobre os textos e faça suas análises críticas e relacione com a Unidade estudada!
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Introdução: Andando Sobre a Corda Bamba
As Reformas de Base propostas pelo governo de João Goulart foi demais para o
equilíbrio“psicológico” eo status quo da elite brasileira, o homem realmente estava passando dos
limites toleráveis para manter-se no cargo de presidente, e não se manteve, onde já se viu propor
reforma agrária, econômica, política, universitária, entre outras. É quase uma regra política no
país não “desobedecer” os Capitalistas e os detentores do poder da “Grande Imprensa”.
Naquele contexto ainda havia a Guerra Fria e como sempre os Estados Unidos estava “se
intrometendo” nos assuntos políticos e econômicos de outros países, desta feita com maior ênfase
na América Latina, não havia interesse da elite brasileira em apoiar um projeto que favoreceria
principalmente as classes média e média baixa da sociedade, desde quando no Brasil houve
apoio dos detentores do poder econômico para que pudesse ocorrer uma mobilidade social de
fato, aliás, parece que mobilidade social em toda a história do Brasil é/foi um palavrão na boca
dos governantes que não podem ferir os preceitos da cartilha neoliberal.
1 COMPARATO, Fabio Konder. Compreensão Histórica do Regime Empresarial-Militar Brasileiro, São Leopoldo (RS), Unisinos, Cadernos
IHU Ideias, ano 12, n. 205, v. 12, 2014, pp. 5-6.
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Unidade: A Ditadura Brasileira: Governando Para as Elites!
Você Sabia ?
A mobilidade social é um conceito estudado pela sociologia, que indica a possibilidade de
um indivíduo subir a nível de classe social. Alguns autores afirmam que uma sociedade estratificada
é aquela onde não se verifica a mobilidade social. Em uma sociedade estruturada dessa forma,
um determinado indivíduo mantém a sua classe social independentemente das circunstâncias.
Mobilidade social significa o fenômeno em que um indivíduo (ou um grupo) que pertence
a determinada posição social transita para outra, de acordo com o sistema de estratificação
social. Existem dois tipos de mobilidade social: horizontal e vertical.
Fonte: http://www.significados.com.br/mobilidade-social/
O desenho do delicado momento político não é tão simples de se fazer. Jango tentou não
desagradar os americanos com a política de compra de grandes empresas americanas que
estavam operando em nichos de interesse do Estado, havia, contudo, a obrigatoriedade dessas
empresas reinvestirem no país em empresas nacionais, ou seja, haveria uma nacionalização
de empresas como a “American andForeign Power Company”, com valor estimado em 100
milhões de dólares, isso favorecia os interesses americanos, haja vista que em alguns estados
brasileiros houve expropriação dos bens da AMFORP.
Os Estados Unidos pareciam satisfeitos, só pareciam, o anticomunismo visto como uma ameaça
iminente afastou qualquer acordo civilizado entre o governo de Jango e os lideres americanos. O
ministro da economia San Tiago pretendia acalmar os ânimos dos nacionalistas e trazer para seu
lado a “esquerda positiva”. Mas, com esse movimento político o ministro da economia municiou
extremistas da direita e da esquerda, insatisfeitos com a “ambiguidade” de Jango.
Brizola liderava o ataque por parte da extrema esquerda, acusando San
Tiago de se ter metido numa “liquidação”. Usando uma linguagem violente,
o cunhado do Presidente advertiu de que a consumação do acordo com a
AMFORP constituiria um rompimento irrevogável com a esquerda radical. Ai
mesmo tempo, Carlos Lacerda, já agora atento ao potencial politico existente no
sentimento fortemente nacionalista com relação ao problema, atacou partindo
da direita. Criticou o plano de compra da companhia telefônica de propriedade
estrangeira no Estado da Guanabara, alegando que seu equipamento
(classificado “ferro Velho”) estava obsoleto e enormemente superavaliado (...)
San Tiago estava agora sendo vitima da situação política ambígua, evidenciada
pelas eleições ao Congresso de outubro de 1962.2
Atenção
A Frente Progressista de Apoio às Reformas de Base, organizada por iniciativa do ex-ministro da Fazenda
San Tiago Dantas, a partir de outubro de 1963, era integrada por políticos moderados do PTB e de
outros partidos de centro-esquerda e do Partido Comunista Brasileiro, visando impedir o movimento
conspiratório dos grupos de direita contra o governo. O próprio San Tiago Dantas denominou o grupo
que dela participou de “esquerda positiva”. Alzira Alves de Abreu / FGV CPDOCv
2 SKIDMORE, Thomas E. Brasil: De Castelo a Castelo (1930-1964). Rio de Janeiro: SAGA, 1969, p. 299.
8
A Ditadura “da” Imprensa
Para aplacar a ousadia de Jango e seu projeto “comunista” entrou em cena uma poderosa
campanha de desqualificação de seu governo, e como na atualidade, a imprensa passou a
atacar qualquer ato do presidente, distorcendo e amplificando os fatos, aliados à imprensa
hegemônica estavam capitalistas nacionais e estrangeiros, com o reforço da política americana
para a América Latina, ou seja, uma união de poderosas forças, parafraseando o ex-presidente
Jânio Quadros, as “forças ocultas”, que só eram ocultas da população que não tinha como nos
dias atuais outras fontes de informação. O presidente foi bombardeado pelos interesses da
elite que demonizavam uma administração, que por mais defeitos que tivesse, ainda assim de
certa forma pensou no bem estar do sempre esquecido homem do campo e nos excluídos do
poder. Mas como sempre a imprensa estava atrelada a um partido político que defendia seus
interesses, a UDN, e aos militares pró-EUA,
Em principio de 1962, estes lideres anti-Jango começaram a conspirar para
derrubar o presidente. Entre os militares eram representados, por exemplo, pelo
antigo Ministro da Guerra Denys e pelo antigo ministro da Marinha, Heck, assim
como generais tais como Cordeiro de Farias e Nelson Melo. Seu principal
chefe civil era Júlio de Mesquita Filho, proprietário do influente jornal
O Estado de São Paulo. Em 1961, estes conspiradores já trocavam ideias
quanto à natureza do regime “discricionário” que seria necessário implantar
após derrubar Jango. Os radicais anti-Jango tinham uma conhecida reserva de
doutrinas antidemocráticas às quais recorrer. Como haviam alegado em 1950 e
em 1955, pretendiam que não se podia confiar no eleitorado brasileiro. 3
3 SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo (1930-1964). Rio de Janeiro: Saga, 1969, p. 274.
4 COMPARATO, Fabio Konder. Compreensão Histórica do Regime Empresarial-Militar Brasileiro, São Leopoldo (RS), Unisinos,
9
Unidade: A Ditadura Brasileira: Governando Para as Elites!
Cadernos IHU Ideias, ano 12, n. 205, v. 12, 2014, pp. 17-18.
5 http://www.robertomarinho.com.br/vida/opiniao/religiao/canto-do-galo.htm12Fev15 13H15
6 http://www.robertomarinho.com.br/vida/opiniao/religiao/adesao-ao-ateismo.htm12Fev15 13H24
7 http://www.robertomarinho.com.br/vida/opiniao/religiao/o-padre-helder.htm. 12 Fev15 13H46
10
Como estamos vendo, durante e após a ditadura, as Organizações Globo não perdeu
oportunidade de desqualificar os opositores do neoliberalismo, uma mostra dessa afirmativa
pode ser dada através do editorial do Jornal O Globo, publicado em sete de outubro de 1984,
sob o titulo “Julgamento da Revolução”, onde Roberto Marinho expôs seu vínculo com o Golpe,
“Participamos da Revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação
das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social
e corrupção generalizada”,8
Esta defesa da Ditadura em tempos de “democracia” contava com uma boa dose de interesse
de manter o status quo que as Organizações Globo e outros impérios midiáticos no Brasil
conseguiram amealhar nos anos de Ditadura, a Constituição de 1988 pretendia regulamentar
o acesso à concessão de radiodifusão no país, como bem salientou Comparato, até os dias de
hoje esta parte da constituição carece de regulamentação, o sociólogo Carlos Eduardo Martins,
atribui a este fato o controle hegemônico da elite conservadora no processo de democratização
do país, que formaram seus impérios midiáticos construídos nos anos de chumbo, “vinculou-
se à construção do império midiático e ao monopólio das telecomunicações representado pela
Rede Globo, criada oficialmente em 1965 e beneficiada pela associação “ilegal” com o capital
estrangeiro por meio do grupo Time-Life”.
Outro império midiático que se favoreceu dessa falta de regulamentação foi o
Grupo Silvio Santos, que passava em seus programas dominicais na década de
1980 a famosa “Semana do Presidente”, onde uma equipe fazia um resumo dos
atos dos ditadores, sempre enaltecendo os feitos semanais do presidente/ditador,
Martins continua com sua observação dizendo que, “Os laços da ditadura
se estenderam a outros grupos de comunicação como é o caso da família
Abravanel, produzindo uma concentração privada do espaço midiático nacional
muito superior à concentração fundiária”. Fonte: http://blogdaboitempo.com.
br/2014/04/01/o-golpe-militar-de-1964-e-o-brasil-passado-e-presente.
Evidente que desta “farra do boi” não poderia ficar de fora antigas famílias herdeiras das
velhas oligarquias do país, sendo assim vários políticos de diversos partidos se associaram aos
grupos que estavam “dando certo” e trataram de se associar a eles,
Diversos políticos conservadores e reacionários se tornaram proprietários de
retransmissoras locais de impérios midiáticos, sendo os casos mais notórios os
que envolveram dois ex-presidentes da República, das famílias Sarney e Arnon de
Mello, e o ministro das telecomunicações do governo Sarney, todos vinculados à
Rede Globo. Em 2008, 271 políticos eram sócios dos grandes grupos midiáticos
do país – que concentravam 61,3% dos veículos de comunicação – entre estes 20
senadores e 47 deputados federais. 58 pertenciam ao DEM, 48 ao PMDB, 43 ao
PSDB, 23 ao PP, 16 ao PTB e 14 ao PPS, representando 74,8% das concessões
a políticos. Tal situação contraria o inciso 5º do artigo 220 da constituição
brasileira de 1988 que determina que os meios de comunicação não podem ser
direta ou indiretamente objeto de monopólio. A ausência de regulamentação do
artigo e a promiscuidade de interesses entre os oligopólios midiáticos e certos
partidos políticos mantém esta situação de violação constitucional cuja estrutura
foi plantada na ditadura. Fonte: http://blogdaboitempo.com.br/2014/04/01/o-
golpe-militar-de-1964-e-o-brasil-passado-e-presente
8 http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/As-manchetes-do-golpe-militar-de-1964/4/15195. 12 Fev15
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Unidade: A Ditadura Brasileira: Governando Para as Elites!
Hoje sabemos que o golpe que a elite chamava/chama de Revolução, não contava com o
apoio popular que os golpistas se arrogavam ter, se não procurarmos informações em veículos
alternativos à mídia hegemônica corremos o sério risco de sermos manipulados na segunda
década do século XXI.Os meios de comunicação hegemônicos, apesar do mea-culpa que
fizeram nas “comemorações” do Golpe de 64 como, por exemplo, o jornal “Folha de São
Paulo” e as Organizações Globo, através de artigo publicado no jornal “O Globo”continuam
manipulando.9 Estamos longe de contar com a imparcialidade da “Grande Mídia” que insiste
em defender as causas neoliberais das elites brasileiras,pesquisas que só foram reveladas anos
após a instalação da Ditadura confirmam o apoio popular a Jango, mesmo assim como vimos
nas imagens dos jornais “Ultima Hora” e “Jornal do Brasil” – imperava/impera a manipulação,
vejamos as pesquisas de março de 1964,
Pesquisas do Ibope realizadas entre os dias 20 de março e 30 de março de 1964
mostraram o forte apoio popular a Jango. 49,8% da população pretendia votar
em Jango nas próximas eleições presidenciais, contra 41,2%. 15% consideravam
o seu governo ótimo, 30% bom e apenas 16% o consideravam mal ou péssimo.
O dado é ainda mais relevante porque a pesquisa foi realizada principalmente
no estado de São Paulo, onde Jango havia perdido a eleição de 1960 para
Milton Campos, a pedido da Federação do Comércio de São Paulo.10
9 http://oglobo.globo.com/brasil/apoio-editorial-ao-golpe-de-64-foi-um-erro-9771604.
10 http://blogdaboitempo.com.br/2014/04/01/o-golpe-militar-de-1964-e-o-brasil-passado-e-presente.
11 COMPARATO, Fabio Konder. Compreensão Histórica do Regime Empresarial-Militar Brasileiro, São Leopoldo (RS), Unisinos,
Cadernos IHU Ideias, ano 12, n. 205, v. 12, 2014, pp. 16-17.
12
A Folha de São Paulo que havia lançado ataques a Jango desde outubro de 1963 por causa
do episódio da tentativa do presidente decretar estado de sítio, acusando-o de Golpe, passou
a incentivar o Golpe contra Jango no inicio de 1964, como nos relata Dias, “Neste editorial
é possível verificar a mudança de posição do jornal. No episódio do pedido de
Estado de Sítio, em 1963, o jornal convocou os deputados para evitar um “golpe”
do presidente e agora convocava as Forças Armadas”, para dar o Golpe de Estado. O
editorial escolhido por Dias para ilustrar seu comentário é o seguinte.
O comício de ontem, se não foi um comício de pré-ditadura, terá sido um
comício de lançamento de um espúrio movimento de reeleição do próprio
Sr. João Goulart. Resta saber se as Forças Armadas, peça fundamental para
qualquer mudança deste tipo, preferirão ficar com o Sr. João Goulart, traindo
a Constituição, a pátria e as instituições. Por sua tradição, elas não haverão de
permitir essa burla. (Folha de S. Paulo, 14/03/1964)12
Ao serem contrariados, alguns grupos midiáticos que apoiaram o Golpe passaram da defesa ao
ataque, com isso, os ditadores no poder foram impondo decretos de “cala-boca” aos opositores
de ultima hora como, por exemplo, parte da imprensa hegemônica, alémdos opositores habituais:
os sindicatos, as uniões estudantis, os partidos de esquerda, os trabalhadores rurais que tiveram
abortada a reforma agrária que estava nas Reformas de Base do governo Jango. Paraà mídia
hegemônica foi uma traição dos ditadores que haviam recebido todas as honras e glórias da
“Grande Imprensa” que os elevara aos altares por “nos” salvar do comunismo.
12 DIAS, Luiz Antônio. Entre letras e números: uma análise do jornal folha de S. Pauloe de pesquisas de opinião do ibope (1963-1964).
in, Mídias e Governos Autoritários: 60 anos do suicídio de Getúlio Vargas e 50 anos do Golpe Civil-Militar no Brasil. FERNANDES, Carla
M.; CHAGAS, Genira. (Orgs.). João Pessoa: Ideia, 2014. pp. 97-125.
13 DIAS, Luiz Antônio. Entre letras e números: uma análise do jornal folha de S. Pauloe de pesquisas de opinião do ibope (1963-1964).
in, Mídias e Governos Autoritários: 60 anos do suicídio de Getúlio Vargas e 50 anos do Golpe Civil-Militar no Brasil. FERNANDES, Carla
M.; CHAGAS, Genira. (Orgs.). João Pessoa: Ideia, 2014. pp. 97-125.
13
Unidade: A Ditadura Brasileira: Governando Para as Elites!
Para Lins da Silva, uma análise com espírito crítico era capaz de perceber
algumas técnicas através das quais o Jornal Nacional passava à população (...)
uma imagem altamente positiva do regime e negativa das oposições. Conforme
lembra Simões (...), “no Jornal nacional, a estratégia era transparente e
implicava começar o bloco noticioso relatando algum sucesso isolado da
Arena”. Já em relação aos opositores, mesmo quando o regime começou a
enfraquecer e a Globo pode dar os passos para conquistar sua autonomia, a
visão ainda era áspera (...) greve dos metalúrgicos do ABC paulista, em 1978,
pelo noticiário simboliza claramente tal postura. Simões (...) destaca que a
cobertura foi fraca, desqualificando a importância do evento, e mostrando-se
favorável ao patronato. 14
A censura endureceu com o Ato Institucional n. 5, dele não escapou nenhum “inimig o”
do regime ditatorial, e nele estava incluso todo veículo de comunicação que ousasse noticiar
de maneira crítica os atos dos altos mandatários da nação, digo que a ditadura endureceu
porque desde o dia nove de abril de 1964 o Ato Institucional n. 1 cassou e calou opositores, a
constituição foi suspensa por seis meses e com ela todos os direitos dos cidadãos.
Texto da Profa. Dra. Carla Montuori sobre o JN da Rede Globo e sua conivência
com a Ditadura
• http://www.insite.pro.br/elivre/governos_autoritarios.pdf
O AI-5 foi o mais truculento ato do regime militar. Este ato reiterava
alguns artigos de atos institucionais anteriores, e em seus novos artigos
ampliava desmesuradamente o autoritarismo do supremo mandatário
da nação e dos seus principais assessores, que, com ele, compunham
o quadro de detentores do poder,era um poder absoluto que ficava
evidente na leitura dos artigos do ato. Se o regime apertou o “cinto”foi
porque a insatisfação com os ditadores era latente na sociedade, o ex-
chefe do SNI e futuro presidente João Batista Figueiredo, no dia 13 de
janeiro de 1969 escreveu uma carta a Heitor Ferreira, secretário do futuro
presidente Geisel, “Os erros da Revolução foram se acumulando e agora
só restou ao governo partir para a ignorância”.15
14 FERNANDES, Carla Montuori. A Ditadura Militar e o Surgimento do Jornal Nacional: oficialismo e submissão na transmissão da
notícia, in, Mídias e Governos Autoritários: 60 anos do suicídio de Getúlio Vargas e 50 anos do Golpe Civil-Militar no Brasil. FERNANDES,
Carla M.; CHAGAS, Genira. (Orgs.). João Pessoa: Ideia, 2014, pp. 153-177.
15 http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/hotsites/ai5/ai5.
14
y16O AI-5 foi acompanhado de expurgos, tirou de cena varias personalidades da vida publica
como políticos de esquerda, professores universitários, sindicalistas e lideres estudantil, entre
os intelectuais cassados podemos citar Florestan Fernandes, Octávio Ianni, Caio Prado Junior,
entre tantos outros. A censura estendeu-se a parte da imprensa aliada que tentava espernear
com a sanções impostas à ela pelo regime, volto a frisar que a imprensa que se manteve acrítica
e submissa ao regime contou com o apoio dos militares, os aliados mediam milimétricamente
as palavras, criticavam a oposição e enaltecia qualquer feito dos ditadores e seus aliados. Sob
o controle dos militares, a mídia ficou proibida de fazer qualquer menção aos movimentos
operários e ou estudantil.
Atenção
··http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-05-68.htm
Acessar AI-5 neste site é possível ouvir o áudio integral da reunião que instituiu o AI-5
··http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/hotsites/ai5/
O Estado e a lei são os militares, durante um longo período que se estendeu pelo menos de
1968 a 1977 a perseguição foi intensificada, a morte do jornalista Vladmir Herzog foi um marco
da perseguição do regime aos membros da mídia que combatia a Ditadura. Foi montada toda
uma farsa de suicídio para justificativa de sua morte, Vlado, como era conhecido se apresentou
voluntariamente ao DOI-CODI após ser convocado para dar explicações sobre sua ligação com
o PCB. Herzog era diretor de jornalismo da TV Cultura e ficou preso com os também jornalistas:
George Benigno Jatahy Duque Estrada e Rodolfo Oswaldo Konder, Herzog foi torturado até a
morte no DOI-CODI no II Exército em São Paulo. Vladimir Herzog foi entre muitos assassinados
pela Ditadura Civil-Empresarial-Militar no Brasil. Enforcamentos e atropelamentos foram alguns
dos disfarces para encobrir os assassinatos praticados pelo regime. Tortura e censura caminhava
de mãos dadas, eram ferramentas de poder dos ditadores,
Na ditadura militar brasileira, a tortura foi uma política de Estado. Por isso, havia
responsáveis maiores do que seus executores diretos. Ainda assim é inaceitável
considerar que estes últimos apenas cumpriam ordens. Que ninguém se iluda,
pela própria natureza da tortura, militares ou policiais que a praticassem a
contragosto não seriam obrigados a fazê-lo (...) foi cortado o contato dos presos
políticos com os soldados no serviço militar. Ficaram apenas os “profissionais”.
E surgiram as “casas da morte” – centros clandestinos de prisão, martírio e
assassinato de presos. Muitos dos que estavam marcados para morrer iam
diretamente para lá.17
O MDB, partido de “oposição” ao governo, tentou intimar o ministro Alfredo Buzaid para falar
sobre a censura, mas a ARENA, partido governista bloqueou a ação dos opositores, a censura não
era algo camuflado, O Diário Oficial publicou em 1973 a seguinte autorização de censura,
16 http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/hotsites/ai5/ai5.
17 BENJAMIN, Cid. Gracias a La Vida: memórias de um militante. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013, pp. 74-75.
15
Unidade: A Ditadura Brasileira: Governando Para as Elites!
Um dos “inimigos” prediletos do regime foi D. Paulo Evaristo Arns,cardeal de São Paulo,
enquanto seu par na hierarquia católica, D. Eugenio Sales, Cardeal do Rio de Janeiro, “acreditava
na preservação do relacionamento tradicional entre a Igreja e o estado como forma de resolver
os desacordos. Especialmente em uma ditadura, refletia, canais confidenciais funcionavam
melhor”19 , enquanto que D. Paulo e D. Helder, desde 1970 deixaram de lado os rodeios e
partiram para o ataque aos militares denunciando as torturas no Brasil e no Exterior, o jornalista
Roberto Marinho, como vimos acima não perdeu oportunidade para expô-los às criticas em
seu jornal. Segundo Serbin, D. Eugênio não deixou de defender os torturados, mas o fez de
forma a não desagradar publicamente os ditadores, com quem manteve uma relação cordial. 20
Poucos anos depois, em 1967, o importante militante de esquerda, Cid Benjamin, na ocasião
um calouro universitário, nos conta que, seu envolvimento com a política foi se estreitando
ao ingressar no curso superior da Escola de Engenharia; apesar de pertencer a uma família
politizada de centro-esquerda, seu pai, Ney, coronel formado em engenharia química pelo IME,
admirador de Miguel Arraes e Jango, sua mãe uma mulher progressista, Iramaya era professora
e química. Neste ano Cid foi recrutado para a Dissidência Comunista da Guanabara.21
18 Diário Oficial da União de 20 de junho de 1973, Apud, GOMES, Edgar da Silva. Ditadura Militar (1964-1985) e censura à imprensa, pp. 526-
537, in, Souza, Ney (Org.). Catolicismo em São Paulo: 450 anos de presença da igreja Católica em São Paulo. São Paulo: Paulinas, 2004.
19 SERBIN, Kenneth P. Diálogos nas Sombras. São Paulo: Cia. das Letras, 2001, p. 181.
20 SERBIN, Kenneth P. Diálogos nas Sombras. São Paulo: Cia. das Letras, 2001, p. 181..
21 BENJAMIN, Cid. Gracias a La Vida: memórias de um militante. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013, pp. 121-142.
16
No ano de 1968, Cid Benjamin, passou a integrar a diretoria da UME (União Metropolitana
de Estudantes), “como o Rio era o maior centro de agitação estudantil do período, ela chegava a
ter mais importância que a UNE”. Os principais líderes dos estudantes na época foram: Vladimir
Palmeira, que presidiu a UME, e Luís Travassos, a UNE,“a diretoria da UME era composta por
Vladimir e quatro vice-presidentes: Franklin Martins. Eu, Belvedere (os três da DI-GB) e Clênia
Teixeira (da Polop)”. 22
Explore
Vladimir Palmeira - Biografia
• http://www.vladimirpalmeira.com.br/biografia.html
22 BENJAMIN, Cid. Gracias a La Vida: memórias de um militante. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013, p. 131.
23 BENJAMIN, Cid. Gracias a La Vida: memórias de um militante. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013, p. 131.
24 BENJAMIN, Cid. Gracias a La Vida: memórias de um militante. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013, pp. 131-132.
17
Unidade: A Ditadura Brasileira: Governando Para as Elites!
manifestações foram mais brandas, até porque com as férias escolares de julho o ímpeto inicial
deu vez a certa desmobilização dos protestos contra o arrocho das liberdades civis que já eram
restritas antes do fatídico AI-5, que ao contrário dos outros atos, não teve previsão para acabar,
e duraram dez anos, até outubro de 1978. Com isso,
A combinação do esgotamento dos movimentos de rua, com o aumento da
repressão e a mudança do quadro político geral, com a decretação do AI-5,
pôs fim às passeatas e manifestações. E ajudou a radicalizar uma minoria de
militantes, que acabaram aderindo à guerrilha, que começou a ser vista, por
muitos, como a única forma de resistência possível à ditadura (...) Che Guevara
afirmou, certa vez que, enquanto houvesses expectativas da população na
disputa democrática numa sociedade, as condições para a guerrilha não
estariam dadas. 25
25 BENJAMIN, Cid. Gracias a La Vida: memórias de um militante. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013, pp. 134-135.
26 Para saber mais sobre o CEPAL: http://www.cepal.org/brasil; COLISTETE, Renato Perim. O Desenvolvimentismo Cepalino: problemas
teóricos e influência no Brasil. Estudos Avançados, 15 (41), 2001; SANTOS, Ulisses Pereira dos; OLIVEIRA, Francisco Horácio Pereira de.
Três Fases da Teoria Cepalina: uma análise de suas principais contribuições ao pensamento econômico latino-americano, Análise, Porto
Alegre, v. 19, n. 2, p. 4-17, jul/dez, 2008.
27 SINGER, Paul. O Processo econômico. in, SCHWARCZ, Lilia Moritz (Dir.). Modernização, Ditadura e Democracia (1964-2010). v. 5. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 186.
18
Segundo Fausto, “As Forças Armadas, nesse contexto, deviam ter um papel permanente e ativo,
tendo por objetivo derrotar o inimigo, garantindo a segurança e o desenvolvimento da nação”.28
No início da década de 1970 a luta armada praticamente desapareceu do cenário brasileiro,
no primeiro governo militar o foco foi combater a inflação e estabilizar a economia, esse foi o
foco no governo de Castelo Branco (1964-1967), uma das medidas para garantir a produção e
estabilizar os preços foi à intervenção do ditador nos sindicatos proibindo as greves, as tentativas
de paralisação foram reprimidas pela ditadura, naquele contexto o tabelamento de preços e a
fixação dos salários eram comuns. No final da década de 1960 o cenário inflacionário já estava
melhor que em seu início. Em 1965 a taxa de inflação esteve na casa de 71,42%, caindo para
54,78% em 1966 e para 34,14% no ano de 1967. A taxa de crescimento do país passou de
2,4% em 1965 subindo para 6,7% em 1966 e voltando a cair em 1967 para 4,2%.
Teoria Keynesiana: Conjunto de idéias que propunham a intervenção estatal na vida econômica
com o objetivo de conduzir a um regime de pleno emprego. As teorias de John Maynard Keynes
tiveram enorme influência na renovação das teorias clássicas e na reformulação da política de livre
mercado. Acreditava que a economia seguiria o caminho do pleno emprego, sendo o desemprego
uma situação temporária que desapareceria graças às forças do mercado. Na década de 1970 o
keynesianismo sofreu severas críticas por parte de uma nova doutrina econômica: o monetarismo.
Fonte: http://www.economiabr.net/teoria_escolas/teoria_keynesiana.html
Durante a ditadura houve uma política de favorecimento das grandes empresas nacionais,
estatais e estrangeiras, e fusão bancária foi bastante estimulada pelo regime. Empresas receberam
estímulos fiscais e abundancia de crédito para garantir a competitividade dos produtos produzidos
no Brasil em escala mundial. O objetivo foi estimular o crescimento das industriais de alumínio,
petroquímica e siderurgia, “o poder publico patrocinava a formação de conglomerados com
participação de capitais nacionais, estrangeiros e de sociedades de economia mista”.29
O problema desta politica de incentivos do governo federal foi que só as grandes empresas
se beneficiaram desta politica, “a promoção aberta da concentração do capital era justificada
pela necessidade de incorporar à economia brasileira avanços tecnológicos, o que só as grandes
empresas seriam capazes de realizar”30 . No inicio da década de 1970 começou o processo
de Globalização com a livre movimentação de mercadorias e o afrouxamento do controle da
circulação de capitais pelo Estado. Países ricos começaram a explorar a mão de obra barata em
países pobres, instalando filiais, onde o lucro seria maior e com a certeza do poderenviar os
lucros para a matriz no país de origem.
O regime militar procurou atrair para o Brasil grandes empresas americanas, europeias
e japonesas, garantindo assim a circulação no país de uma moeda forte, a transferência de
tecnologia e a possibilidade das empresas brasileiras distribuir seus produtos em mercados antes
fechados para os produtos nacionais, Estudos realizados por Fernando Fajnzylber, economista
chileno, para Ipea demonstraram que de 1960 a 1969, “o crescimento das exportações industriais
28 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 10 ed. São Paulo: Edusp, 2002, p. 452.
29 SINGER, Paul. O Processo econômico. in, SCHWARCZ, Lilia Moritz (Dir.). Modernização, Ditadura e Democracia (1964-2010). v. 5.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 188-189.
30 SINGER, Paul. O Processo econômico. in, SCHWARCZ, Lilia Moritz (Dir.). Modernização, Ditadura e Democracia (1964-2010). v. 5. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 189.
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Unidade: A Ditadura Brasileira: Governando Para as Elites!
brasileiras foi de 654% nos setores predominantemente nacionais e de 1.650% nos setores
predominantemente internacionais”, esta diferença se deveu devido as melhores condições de
penetração das industrias estrangeiras em outros mercados com produtos manufaturados.31
Entre os anos de 1969-1973 houve um elevado crescimento da economia brasileira com uma baixa
inflacionária, este período ficou conhecido como “Milagre Econômico Brasileiro”, ou simplesmente
como “Milagre Brasileiro”. A média anual do crescimento do PIB batia a casa dos 11% e seu pico foi
no anode de 1973 com aproximadamente 13%, enquanto que a inflação média anual se estabilizou
na casa dos 18%, alta para os dias de hoje, na segunda década do século XXI, mas razoável para os
que vivenciaram uma taxa inflacionaria anual que batia a casa dos 70%.
A frente do planejamento estava Delfim Neto com uma equipe que se beneficiou com a
abundância de recursos. Os empréstimos internacionais também foram vultosos, o objetivo
era manter a economia aquecida alavancada pelo crescimento e baixa inflação. No país se
instalaram diversas empresas estrangeiras atrás de se aproveitar o mercado em expansão,
a indústria automobilística injetou bastante capital para fabricação de carros médios para o
brasileiro, entre elas estavam: General Motors, Ford e Chrysler. As importações brasileiras de
bens de consumo cresceram, assim como as exportações de produtos industrializados no país.
Toda esta euforia foi estimulada pela abundância de credito e isenções de tributos por parte dos
ditadores. Na agricultora houve uma forte expansão da exportação de soja.
As exportações brasileiras se diversificaram tanto que o carro chefe de nossas exportações, o
café, que entre as décadas de 1940 e 1960 batia a casa dos 50% em volume exportado, passou
a representar na década de 1970 apenas 15%. O governo passou a arrecadar mais tributos
o que colaborou para diminuir o déficit público e puxar a inflação para baixo. Defim Netto
chamou sua política econômica de “Capitalista Associada”, o estado intervinha na economia
não deixando que “a mão do mercado” agisse livremente.
A politica econômica dos ditadores estava dando certo, mas era muito dependente do
mercado externo e de empréstimos realizados com instituições financeiras internacionais para
continuar injetando crédito e incentivos no mercado nacional. O país também era extremamente
dependente da importação de petróleo, qualquer variação para cima destes produtos colocava
em estado de alerta o governo, que mantinha a economia funcionando quase que de forma
artificial, pois o Estado era a fonte principal dos recursos para aquecer a economia, injetando
incentivos e crédito.
Outra fragilidade do plano econômico era que apesar do PIB estar acima dos dois dígitos à
renda não era distribuído de forma equitativa entre a população, os maiores beneficiados com
os recursos provindos dos cofres do governo continuavam sendo os membros da elite. Esta
politica privilegiou o fortalecimento dos grandes capitalistas e deixou a mingua a maior parte
da população brasileira, os salários estavam baixos demais na segunda metade da década de
1970. Apesar da expansão de empregos o salário baixo não dava condições de haver uma
mobilidade social maior no país. Não é necessário nem dizer que os programas sociais do
governo dos ditadores foram pífios: educação, saúde e moradia para pessoas de baixa renda
foram bastante negligenciadas neste período.
31 SINGER, Paul. O Processo econômico. in, SCHWARCZ, Lilia Moritz (Dir.). Modernização, Ditadura e Democracia (1964-2010). v. 5. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 192.
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A “lua-de-mel” entre empresários e ditadores estava chegando ao fim, e não estava chegando
a um fim por causa do endurecimento do regime e das perseguições, a causa empresarial não
foi humanitário o fim deveu-se justamente quando o “milagre econômico” estava patinando,
e como ressaltou Comparato, no Brasil políticos e empresários se completam, mas em alguns
momentos da história, quando o empresariado deixa de ser privilegiado pelo sistema de governo
o “caldo entorna”.
A crise da dívida externa a partir do fim dos anos 1970 estrangulou este projeto
de modernização, deixando incompleto o setor industrial, particularmente
o segmento de produção de bens de capital, e iniciou o processo de
financeirização da economia brasileira com a formação de uma dívida interna
crescente, destinada primeiramente a transferir os dólares dos exportadores
para pagamentos dos juros e amortizações, mas que ganhou dinâmica própria,
baixando drasticamente as taxas de crescimento econômico e de investimento,
elevando ainda a pobreza em níveis absolutos e relativos nas décadas de 1980
e 1990. A economia brasileira apenas apresentaria taxas de crescimento mais
expressivas com o boom das commodities iniciado em 2003, em função da
projeção da China na economia mundial.32
A lei de Anistia foi apresentada e aprovadano governo do ditador, João Baptista de Oliveira
Figueiredo, o regime fez uma distensão lenta e “segura” para não comprometer mais do já
estavam comprometidos com as atrocidades do regime, membros do governo militar, seus
colaboradores e uma parcela do empresariado envolvido desde a consecução do Golpe na
década de 1960 até seus desdobramentos mais sórdidos no inicio da década de 1970, com
torturas e mortes. Empresários como Mesquita dono do jornal O Estado de São Paulo, e a
FIESP já estavam abandonando o barco há alguns anos. A FIESP já na metade da década de
1970 se incomodava com o “peso” do Estado na economia. Os ditadores foram perdendo o
apoio da elite que eles ajudaram capitalizar durante os anos de ditadura, em mais um atrito de
interesses a aliança entre políticos e empresários se diluiu no ar!
32 http://blogdaboitempo.com.br/2014/04/01/o-golpe-militar-de-1964-e-o-brasil-passado-e-presente.
33 COMPARATO, Fabio Konder. Compreensão Histórica do Regime Empresarial-Militar Brasileiro, São Leopoldo (RS), Unisinos,
Cadernos IHU Ideias, ano 12, n. 205, v. 12, 2014, pp. 21-22.
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Unidade: A Ditadura Brasileira: Governando Para as Elites!
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6683.htm
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