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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO CATÓLICO DE

BENGUELA
DEPARTAMENTO DO CURSO DE DIREITO
Criado ao Abrigo do Decreto Presidencial N.º 168/12 de 24 de
Junho, DR 1 Série – N.º 141

MONOGRAFIA

A autonomia financeira e o sistema tributário como fonte de


financiamento do orçamento autárquico - Estudo de caso:
Município do Tômbwa (Namibe).

NOME: ETELVINO LUIS FRANCISCO TEÓFILO

LICENCIATURA EM DIREITO

OPÇÃO: JURIDICO-ECONÓMICO

ORIENTADOR: Msc CELESTINO LUMBO VALENTE

CATUMBELA, junho de 2021


INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO CATÓLICO
DE BENGUELA

MONOGRAFIA

A autonomia financeira e o sistema tributário como


fonte de financiamento do orçamento autárquico -
Estudo de caso: Município do Tômbwa (Namibe).

NOME: ETELVINO LUIS FRANCISCO TEÓFILO

FACULDADE DE DIREITO

OPÇÃO: JURIDICO-ECONÓMICO

CONTACTO: 931076555

CATUMBELA, junho de 2021


EPÍGRAFE

Talvez não tenhamos conseguido fazer o


melhor,

mas lutamos para que o melhor fosse feito.

Não somos o que deveríamos ser, não somos o que iremos ser,

mas Graças a Deus, não somos o que éramos.

Martin Luther King


DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho, em especial à minha Mãe, aos meus Irmãos e a minha
Família no geral que muito me apoiaram, me ajudaram e me compreenderam
incondicionalmente, durante os 5 anos que duraram o meu ciclo de formação
universitária. Sem eles jamais seria possível a concretização deste sonho, tornando-o
realidade.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à Deus o Pai Todo Poderoso por me dar o dom da vida,
ao meu tutor por ter aceite este desafio, o meu mais sincero e precioso obrigado. E de
forma extensiva agradeço também aos docentes do ISPOCAB, em particular aos do
Departamento de Direito pelos valiosos ensinamentos dados durante a formação
académica.

Agradecer aos funcionários da Administração Municipal do Tômbwa, nas pessoas


de Vossas Excelências Administrador Municipal, Alexandre A. A. T. Niyúca,
Administrador Adjunto para Área Económica e Financeira, Joaquim Augusto Baza e
também ao Director Municipal do Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatísticas –
GEPE, Marcolino Satchawayala, pela disponibilidade em cederem o material, o meu muito
obrigado pela paciência e pelo tempo disposto.

Sem esquecer de agradecer da forma mais sincera aos meus queridos colegas que
durante 5 anos foram como irmãos, por tudo que passamos juntos, mas principalmente
pelos momentos de discussão académica e pelos momentos de descontração.

E por último, agradecer a aquelas que são as pessoas mais importantes da minha
vida, aos meus pais Elias Teófilo e Maria Esperança Domingos Francisco, às minhas
segundas mães, Rita Francisco Kakuarta, Verónica Regina, Rosa Lopes Francisco, Rosa
Ambrósio (IN MEMORIAM), Eulália Tchopeca, ao meu tio/pai Augusto Pascoal
Tyikusu que abriu as portas da sua humilde residência para nos abrigar durante os anos
em que estávamos a nos formar, aos meus irmãos, Sandro Francisco Sawime, Eliane
Francisco Teófilo e principalmente ao Juasener Francisco Teófilo que muito me tem dado
apoio, a Mara Maria Claret Dutra, aos meus primos, Márcia Welver Francisco Kakuarta,
Ruben Ambrósio, Francisco Domingos da Conceição (Kurrumba), Sebastião Bento
Ambrósio, Amilton Costa Malanga, aos meus amigos/irmãos Ânderson Manuel M.
Dionísio, Euclides Paulo Cumpanhe a Eulália Isabel dos Santos (grande amiga) e a todos
aqueles que não foram cá mencionados que directa ou indirectamente estiveram presentes
na minha vida contribuindo com um suporte moral para que a formação chegasse ao fim
sem quaisquer sobressaltos.
SIGLÁRIO
art. - Artigo
CRA - Constituição da República de Angola;
CRP - Constituição da República Portuguesa;
FFM - Fundo de Financiamento dos Municípios;
ICE - Imposto sobre Consumos Especiais;
IUR - Imposto Único sobre os Rendimentos;
IVA - Imposto sobre o Valor Acrescentado;
LC - Lei Constitucional;
LFL - Lei das Finanças Locais;
OGE - Orçamento Geral do Estado;
TFUE - Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia;
RESUMO
Para que haja um desenvolvimento justo e democrático em Angola é necessário
haver descentralização. Portanto, é importante salientar que a descentralização só será
efectiva se as autarquias locais forem verdadeiramente mestres das suas finanças.
Buscamos por meio do presente trabalho estudar a autonomia financeira e o sistema
tributário como fontes de sustentabilidade das autarquias: caso do Município do Tômbwa.
Para alcançar os resultados propostos, quanto aos objectivos da pesquisa foi descritiva,
baseada no levantamento bibliográfico, de modo a proporcionar uma visão geral sobre o
tema em estudo, usamos também, o método dedutivo, pois as hipóteses levantadas acima
partimos da descrição dos conceitos gerais para os particulares. Os resultados confirmam
qua a situação económica do Município é muito baixa em todos os Sectores, atestando o
alto grau de dependência financeira averiguada. Esse cenário é associado ao facto da
superioridade da arrecadação dos impostos estarem concentrados para A Capital do País.
Assim, segunda Hipótese verifica-se, na medida que o sistema Tributário do Município
do Tômbwa, não possui força para suportar autarquias, porque as potencialidades que
tendem a contribuir para o desenvolvimento sócio – económico e infra-estruturais
contribuem de forma pouco significativa.

Palavras- Chaves: Autonomia financeira. Sistema tributário. Tômbwa.


ABSTRACT

For there to be a fair and democratic development in Angola, decentralization is needed.


It is therefore important to point out that decentralization will only be effective if local
authorities are truly masters of their finances. We seek through this work to study
financial autonomy and the tax system as sources of sustainability of municipalities: case
of the municipality of Tômbwa. To achieve the proposed results, as to the objectives of
the research was descriptive, based on the bibliographic survey, in order to provide an
overview on the theme under study, we also used the deductive method, because the
hypotheses raised above start from the description of the general concepts for individuals.
The results confirm that the economic situation of the municipality is very low in all
sectors, attesting to the high degree of financial dependence ascertained. This scenario is
associated with the fact that the superiority of tax collection is concentrated for The
Capital of the Country. Thus, second hypothesis is verified, to the extent that the Tax
System of the Municipality of Tômbwa, does not have the strength to support
municipalities, because the potentialities that tend to contribute to the socio- economic
and infra-structural development contribute in a little significant way.

Keywords: Financial autonomy. Tax system. Tombwa.


INDICE
INTRODUÇÃO .................................................................................................................8
PROBLEMÁTICA ..........................................................................................................11
HIPÓTESES ..................................................................................................................11
OBJECTIVOS GERAIS ...............................................................................................11
OBJECTIVOS ESPECIFICOS .................................................................................11

INTERESSE NA ESCOLHA DO TEMA ...................................................................12


METODOLOGIA..........................................................................................................13
CAPITULO I - NOÇÃO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS AUTARQUIAS
LOCAIS.
1.1. Noção de Autarquias Locais. ................................................................................... 14
1.2. Espécies de Autarquias Locais ............................................................................... 18
1.3. Controle das Autarquias Locais ............................................................................... 20
1.4. Necessidades locais e a actividade económica das Autarquias Locais. ................. 21
1.5. Regime Financeiro das Autarquias Locais ............................................................. 22
1.5.1. Recursos Financeiros à disposição das Autarquias .......................................... 23
1.6. Orçamento autárquico e a fiscalização da execução orçamental ............................ 26
1.7. O Principio da Autonomia Local ............................................................................ 28
1.8. Conceito, âmbito, natureza e funções do princípio da autonomia local ................. 30
1.9. Discussão de vários autores sobre a Autonomia Local ........................................... 31
1.9.1. A posição de Diogo Freitas do Amaral ............................................................ 31
1.9.2. A posição de Marcelo Rebelo de Sousa ........................................................... 33
1.9.3. A posição de António Francisco de Sousa ....................................................... 34
1.9.4. A posição de António Cândido de Oliveira ..................................................... 35
1.9.5. A posição de João Baptista Machado .............................................................. 36
1.10. Regimes e garantias do Principio da Autonomia Local ........................................ 37
1.11. A Actividade financeira do Estado ........................................................................ 37
1.11.1. Meios de financiamento do Estado ................................................................ 39
CAPITULO II - A AUTONOMIA FINANCEIRA COMO GARANTE DO
DESENVOLVIMENTO DAS AUTARQUÍAS LOCAIS EM ALGUNS PAISES DA
LUSOFONÍA.
2.1. Em Portugal ............................................................................................................. 41
2.2. Em Cabo – Verde .................................................................................................... 42
2.2. Em Moçambique ..................................................................................................... 45
CAPITULO III - A AUTONOMIA DO SISTEMA FINANCEIRO E
TRIBUTÁRIO DO MUNICIPIO DO TÔMBWA (NAMIBE).
3.1. Tômbwa: Caracterização Fisico – Geográfica......................................................... 48
3.1.1. Clima, Flora e Fauna ......................................................................................... 48
3.1.2. Densidade Populacional do Município ............................................................. 49
3.1.3. O Poder Local .................................................................................................. 49
3.2. Sistemas de Financiamentos no Munícipio do Tômbwa ........................................ 50
3.3. Fundamento dos Tributos ........................................................................................ 55
3.3.1. Tributos Face ao Ordenamento Jurídico Angolano .......................................... 59
3.4. O Sistema Tributário do Municipio do Tômbwa (Namibe) .................................... 61
CONCLUSÃO............................................................................................................... 63
RECOMENDAÇÕES................................................................................................... 65
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 66
ANEXOS ....................................................................................................................... 69
INTRODUÇÃO
A autonomia financeira implica, principalmente a existência de um orçamento
elaborado e aprovado pelos órgãos competentes, mediante o qual se afectam as receitas
próprias a despesas livremente escolhidas e determinadas. As autarquias dispõem de
independência decisória em matéria de afectação dos seus recursos e no que diz respeito
à gestão do seu património1.

O sistema tributário das futuras autarquias locais será sustentada por receitas de
finanças locais, e falar de finanças locais, não só induz-nos a falar das autarquias locais
como também da descentralização, e estes recursos financeiros devem ser proporcionais
as atribuições previstas pela Constituição ou por lei, bem como os programas de
desenvolvimento aprovados2.

Nas autarquias locais, tal como acontece na administração estadual, torna-se


necessário que as receitas a cobrar e as despesas a realizar se contenham (sejam previstas)
num documento financeiro – o orçamento3.

Também à semelhança do orçamento estadual, o orçamento autárquico deve ser


elaborado de acordo com um conjunto de princípios e regras. Tratando-se de um dos
elementos em que se consagra a autonomia financeira das autarquias, o orçamento
autárquico é um documento financeiro, autónomo do orçamento estadual, sendo por isso
elaborado, aprovado e executado pelos órgãos da própria autarquia4.

Há que referir que o orçamento autárquico deve ser elaborado com base em metas
e objectivos a prosseguir pelas autarquias em cada ano, ou ao longo de vários anos, e que
aparecem definidos no plano de actividades, que é o meio privilegiado e orientador de
toda a acção das autarquias. Tal como na administração central, e para efeitos de
desenvolvimento económico e social, o planeamento estratégico refere-se a horizontes de
longo prazo, assim o plano de actividades das autarquias poderá também vir a definir as

1
Cfr. Elisa Rangel NUNES, Finanças Locais em Angola –Conceitos Básicos e Elementos Essenciais para
o Sistema Financeiro das Futuras Autarquias Locais,Disponivel em: https://library.fes.de/pdf-
files/bueros/angola/hosting/nunes.pdf, , Acesso em 6 de Fevereiro de 2019 p.6
2
Cfr. Art 215º nº 1 da Constituição da República de Angola, (ANGOLA, 2010)
3
Cfr. Elisa Rangel NUNES, op, cit,. p.11
4
Ibidem.

8
linhas de desenvolvimento estratégico, que em cada ano aparecerão corporizadas no plano
anual de actividades e cuja execução se torna possível através do orçamento5.

Autarquias locais são pessoas colectivas territoriais que visam a prossecução dos
interesses próprios das populações, dispondo para o efeito de órgãos representativos
eleitos e de liberdades de administração das pessoas colectivas (Organização angolana
em prol da cidadania angolana, do Centro Nacional de Aconselhamento)6.

Para que haja um desenvolvimento justo e democrático em Angola é necessário


haver descentralização, pois, achamos que é através deste que poderemos construir um
estado democrático íntegro e eficiente e também acreditamos que se houver
descentralização os serviços chegarão com maior eficiência e eficácia a população.
Portanto, é importante salientar que a descentralização só será efectiva se as autarquias
locais forem verdadeiramente mestres das suas finanças7.

As finanças autárquicas são todas actividades que visam a captação e a aplicação


racional de recursos financeiros por parte das autarquias locais, com vista a provisão de
bens e prestação de serviços públicos sob sua responsabilidade8.

Como as autarquias locais são feitas nos municípios, existem alguns aspectos
importantes a ter-se em conta para definir o tipo de autarquia locais que se pretende
implementar. Para sua implementação com êxito em Angola, Cremildo Paca considera
importante analisar-se objectivamente o grau de urbanização, tipo de infra-estruturas
técnicas e administrativas existentes e a criar, a base económica de cada município,
densidade populacional, a disponibilidade estruturas jurídico - administrativas, vias de
acesso e de comunicação, para se poder dimensionar que tipo de autarquias locais
queremos para o nosso país e que sirva as populações, já que a vida deve fazer-se nos
respectivos municípios.9

5
Cfr. Elisa Rangel NUNES, op, cit,. p.11
6
CONSELHO NACIONAL DE ACONSELHAMENTO (CNC). Boletim Informativo, Descentralização
Administrativas e Autarquias Locais. Luanda: NCC, 2010.
7
José Graça Lopes SILVESTRE, Autarquias Regionais e Modelos de Financiamento em Angola: Um
Estudo de Caso na Província do Kuanza-Sul, Dissertação de Mestrado em Finanças. Universidade
Portucalense. Setembro, 2015
8
Amândio Vasco GUIMARÃES, Descentralização e Finanças Autárquicas: análise da Eficácia do
Sistema Tributário Autárquico Como Fonte de Financiamento do Orçamento Autárquico – O Caso do
Município de Maputo (2006 - 2008). Faculdade de Letras e Ciências Sociais Departamento de Ciência
Política e Administração Pública. Universidade Eduardo Mondlane. Maputo 2010
9
Cfr.Cremildo PACA. Discurso de Cremildo Paca na Abertura da Conferência Sobre a Experiência
Autárquica Espanhola. In: ANGOP, 24 de Junho de 2013. Disponível em:

9
E é praticamente sobre a base económica do município, onde vai incidir o nosso
trabalho, o facto do financiamento não ser o fim da acção autárquica mas sim um auxilio,
não se deve, porém, ignorar que os recursos financeiros são uma condicionante
importante de escolhas politicas. A autonomia financeira implica, principalmente a
existência de um orçamento elaborado e aprovado pelos órgãos competentes, mediante o
qual se afectam as receitas próprias a despesas livremente escolhidas e determinadas e
permite também a definição dos limites da acção económica das autarquias, cujo
objectivo consiste em aumentar o bem-estar colectivo, através da satisfação das
necessidades públicas (locais), sendo seu elemento fundamental a oferta de bens e
serviços locais de qualidade, com o menor dispêndio de recursos possível10.

<http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/politica/2013/5/26/MAT/visualizadesafiosobstaculosautarqui
as-locais,019d7d8a-a325-4a84-8e-71-027a971f1854.html>. Acesso em: 30 dez. 2016.
10
Cfr. Elisa Rangel NUNES, op, cit,. p. 6

10
PROBLEMÁTICA

A questão da implementação das autarquias, depende muito do sistema tributário


de cada município, é bem verdade que nem todos os municípios possuem a capacidade
financeira suficiente para seguir em frente com as autarquias, face ao nosso estudo de
caso, será o sistema tributário do Município do Tômbwa suficientemente forte para
suportar as autarquias locais?

HIPÓTESES
HP1 - Acreditamos que o Sistema Tributário do Município do Tômbwa, possui
sim força para suportar autarquias, porque possui um leque enorme de potencialidades,
estás que giram em volta, das actividades pesqueiras, agrícolas e turísticas.

HP2 – Acreditamos que o Sistema Tributário do Município do Tômbwa, não


possui força para suportar autarquias, porque as potencialidades que tendem a contribuir
para o desenvolvimento sócio – económico e infraestruturais contribuem de forma pouco
significativa.

OBJECTIVOS GERAIS
 Estudar a autonomia financeira e o sistema tributário como fontes de
sustentabilidade das autarquias: caso do município do Tômbwa.

OBJECTIVOS ESPECÍFICOS
 Identificar a importância das receitas tributárias no financiamento do
orçamento local e perceber o grau de dependência financeira dos Municípios
em relação as transferências orçamentais do Estado e dos parceiros de
cooperação;

 Analisar o sistema tributário como meio de arrecadação de receitas;

 Proporcionar um melhor conhecimento das Receitas Públicas, face às Leis


complementares;

11
 Melhorar a qualidade e a consistência das informações prestadas a toda a
sociedade no processo de fiscalização e do funcionamento do sistema
tributário autárquico.

INTERESSE NA ESCOLHA DO TEMA


O interesse pelo qual se escolheu esse tema, primeiro é pelo facto de estarmos na
iminência de implementar as autarquias locais que consequentemente dará origem a
descentralização, sendo que esta descentralização vê como garantia da sua materialização
o sistema tributário, este que deve ser a maior fonte de receita autárquica, pois, grande
parte dos gastos à realizar pelas autarquias deve depender de receitas que elas podem e
devem obter.
Em segundo é porque este tema também faz parte da recente e reavaliada
discussão que a ciência económico-política contemporânea enfrenta em contexto africano
num quadro global em que o Estado pós-colonial admite transferir algumas das suas
competências para outros níveis de organização territorial ou funcional como forma de
diminuir a incidência da centralização do poder persistente e integrar as localidades nos
processos de decisão.
Pelas razões supracitadas, julgamos importante analisar o tema escolhido, e os
resultados que almejamos alcançar podem servir de suporte para estudos num futuro
próximo.

Mas em boa verdade foram três os fundamentos que nos levaram a optar pelo
tema: a necessidade de realizar a monografia para conclusão do ciclo de Licenciatura,
segundo porque este tema adopta uma particular importância na conjuntura social actual
angolana e por fim por necessidade pessoal.

12
METODOLOGIA
Para alcançar os resultados propostos, quanto aos objectivos da pesquisa foi
descritiva, por estar baseada no levantamento bibliográfico, livros, teses e sites, de modo
a proporcionar uma visão geral sobre o tema em estudo; usamos também o método
dedutivo, pois para criarmos as hipóteses levantadas acima, partimos da descrição dos
conceitos gerais para os particulares.

Quanto ao instrumento de colecta de dados, usamos o questionário, dirigido aos


funcionários da Administração Municipal do Tômbwa. O estudo quanto a natureza, foi o
qualitativo-quantitativo, tendo em conta a sua natureza, permitiu - nos descrever,
interpretar e apreciar o sistema tributário do Município.

13
CAPITULO I - NOÇÃO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS
AUTARQUIAS LOCAIS.
1.1. Noção de Autarquias Locais.
As autarquias Locais, de acordo ao artigo 217º. da Constituição da República de
Angola, “são pessoas colectivas territoriais correspondentes ao conjunto de residentes em
certas circunscrições do território nacional e que asseguram a prossecução de interesses
específicos resultantes da vizinhança, mediante órgãos próprios representativos das
respectivas populações”.

Consideram-se, assim, como elementos implícitos constitutivos do conceito de


autarquias locais a personalidade jurídica, comunidade de residentes, território, interesses
próprios, carácter electivo dos órgãos e poderes locais11.

De acordo com o artigo 218º. da CRA, as autarquias locais organizam-se em


municípios, sem prejuízo de, poderem ser constituídas autarquias de nível supra-
municipal, tendo em conta as especificidades culturais, históricas e o grau de
desenvolvimento ou estabelecidos outros escalões infra-municipais da organização
territorial da administração autónoma12.

Ora, o termo autarquia entrou no leque de termos jurídicos dos vários países do
mundo com sentidos diferentes.

No Brasil, por exemplo, a autarquia só designa os institutos públicos, retirando-


lhe a pessoa colectiva territorial. Assim, no Brasil o conceito de autarquia designa uma
realidade distinta daquela a que estamos acostumados em Portugal ou em Angola13.

Tanto em Portugal como em Angola, o conceito de autarquia é indissociável da


população e território e são conceituados com pessoas colectivas de população e território,
distintas do Estado. Aqui, elas não fazem parte do Estado, não são Estado, em suma não
pertencem ao Estado embora sejam por Ele fiscalizadas, controladas ou subsidiadas.

11
Cfr. TEIXEIRA. Administração e governação local em Angola, p. 52.
12
Cfr. Constituição da República de Angola. (2010)
13
Para MEIRELLES, as autarquias são órgãos autônomos da Administração, criados por lei, com
personalidade jurídica de direito público, patrimônio próprio e atribuições estatais específicas. São
órgãos autónomos, mas não têm autonomia porque não legislam por si mas administra-se por si
próprias segundo as leis editadas pela entidade que as criou. Assim no Brasil existem autarquias
municipais, estaduais e federais. Cfr. Hely Lopes MEIRELLES, (2014) Autarquias e Entidades paraestatais,
p.19

14
As autarquias locais fazem parte da Administração autónoma.

A Constituição da República Portuguesa conceitua as Autarquias Locais no artigo


235.º nº 2, como sendo «pessoas colectivas territoriais dotados de órgãos representativos,
que visam a prossecução de interesses próprios das populações respectivas»14.

Em Angola, a Constituição, como vimos acima, traz um conceito de Autarquias


Locais bastante rico em que para a sua delimitação confluíram a história, o direito
comparado e a doutrina por se tratar de um conceito universalizável, na base da história
jurídica. Neste caso, dizíamos, a CRA vai buscar o essencial que trazia a LC (Lei
Constitucional) e faz uma construção hermenêutica, lógica e com um alcance profundo
do ponto de vista do Direito Comparado15.

Nas duas cartas constitucionais (LC artigo 146.º e CRA nº 1 do artigo 217.º),
contêm um conceito de Autarquia Local que permitem chegar a uma formulação perfeita
da ideia. Dizia a LC: «as Autarquias Locais são pessoas colectivas territoriais que visam
a prossecução de interesses próprios das populações, dispondo para o efeito de órgãos
representativos eleitos e da liberdade de administração das respectivas colectividades»;
a CRA dispõe no artigo 217.º, n.º1, que: «as Autarquias Locais são pessoas colectivas
territoriais correspondentes ao conjunto de residentes em certas circunscrições do
território nacional e que asseguram a prossecução de interesses específicos resultantes
da vizinhança, mediante órgãos representativos eleitos das respectivas populações»16.

Em ambos os textos, o conceito envolve os cinco elementos definidores do


conceito de Autarquias Locais quais sejam: personalidade jurídica, comunidade de
residentes, território, interesses próprios, carácter electivo dos órgãos e poderes locais17.

Para AMARAL (2012), as Autarquias Locais são pessoas colectivas públicas de


população e território, correspondente aos agregados de residentes em diversas
circunscrições do território nacional, e que asseguram a prossecução dos interesses

14
Cfr: Artigo 235.º nº 2 da CRP.
15
Cfr. Lázaro Manuel JAIME, O Conceito de Autarquias Locais na Constituição da República de Angola
– O caso do Município; Disponível em:
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/39042/1/Lázaro%20Manuel%20Jaime.pdf; Acesso
em 20 de Abril de 2020., p. 120
16
Ibidem
17
Ibidem

15
comuns resultantes da vizinhança mediante órgãos próprios, representativos dos
respectivos habitantes18.

Já para SOUSA (2014), a Autarquia Local é uma pessoa colectiva de fins


múltiplos, isto é, que tem a seu cargo a prossecução de todas as funções específicas
exigidas pelas necessidades da respectiva localidade que não sejam satisfeitas pelo poder
central. Trata-se, acrescenta o autor, de funções genéricas sujeitas ao princípio de
subsidiariedade por isso, as Autarquias têm sob sua responsabilidade qualquer assunto de
âmbito local que não esteja por lei, reservada ao Estado19.

Tanto no ordenamento português, quanto no angolano, o conceito de Autarquias


Locais apresenta bem claro os cinco elementos definidores de Autarquias como sejam:

 Personalidade jurídica: A autarquia Local é tanto em Angola como em


Portugal, uma pessoa colectiva de fins múltiplos, que tem a seu cargo a
prossecução de todas as funções específicas exigidas pela necessidade das
respectivas localidades que não sejam satisfeitas pelo poder central. Trata-
se portanto de funções genéricas sujeitas ao princípio de subsidiariedade.
Elas são criadas por lei para gerirem por si só interesses próprios distintos
do Estado.
 Território: A Autarquia Local é uma pessoa colectiva de população e
território, pois o seu âmbito de acção está confinado a uma determinada
área geográfica. Segundo Amaral (2012), o território é um elemento da
maior importância no conceito da Autarquia Local, tanto que as
Autarquias se definem como «pessoas colectivas territoriais» (CRP nº 2
artigo 235.º e CRA nº 1 artigo 217.º) ou «pessoas colectivas de população
e território» noutras terminologias20.
 Comunidade de residentes: o agregado populacional tem uma grande
importância nos elementos definidores de Autarquias Locais porque será
em função deles que se definirá os interesses a prosseguir pela autarquia e
porque ela constitui o substrato humano da autarquia. É o critério de
residência ou vizinhança, na terminologia da constituição angolana, que

18
Cfr. Lázaro Manuel JAIME, op. cit ,. p. 120
19
Ibidem, p. 121
20
Cfr. Diogo. Freitas do AMARAL,. (2012). Curso de Direito Administrativo Vol I. Coimbra : Edições
Almedina. pág. 482. Citado por : . Lázaro Manuel JAIME, op. cit ,. p. 121

16
determina o direito de voto na eleição dos órgãos dirigentes dessas
autarquias;
 Interesses próprios: o interesse próprio das populações de residentes é
outro elemento essencial nessa definição, pois, são estes interesses que
servem de fundamento à existência de Autarquias Locais as quais se
formam para prosseguir interesses resultantes do facto de eles conviverem
numa área determinada, unidos pelos laços de vizinhança;
 O carácter electivo dos órgãos e poderes locais: finalmente os caracteres
electivos dos seus órgãos, ou seja, as Autarquias Locais caracterizam-se
por terem órgãos próprios (Artigo 220.º da CRA) que são eleitos pela
respectiva população com eleições livres e periódicas. São órgãos
representativos da população. Em rigor não há autarquias locais quando
elas não são administradas por órgãos eleitos, são as chamadas eleições
locais ou eleições autárquicas.

É assim que CAETANO (2010), que entre nós foi um dos percursores do Estudo
da História do Direito Administrativo e da administração local autónoma em particular,
definiu Autarquia Local como «a pessoa colectiva de direito público correspondente ao
agregado formado pelos residentes em certa circunscrição do território nacional para que
os interesses comuns resultantes da vizinhança sejam prosseguidos por órgãos próprios
dotados de autonomias dentro dos limites da lei»21.

Paralelamente a definição de autarquia, sobrevive a definição de espaço territorial


no qual o mais básico tem sido considerado o Município.

Em muitos países influenciados pelo Direito Administrativo francês, o município


é considerado a categoria básica da autarquia local devido ao facto de o município ser
anterior ao Estado e consequentemente anterior a Constituição de acordo com Santos
(2012). Assim Angola não podia ser excepção embora o municipalismo angolano tenha
passado por momentos de consolidação distintos da realidade portuguesa22.

21
Cfr. Marcelo CAETANO, (2010), Manual de Direito Administrativo Vol I 10ª
Edição . Coimbra: Almedina. p. 193. Citado por: . Lázaro Manuel JAIME, op. cit ,. p. 122
22
Cfr. Lázaro Manuel JAIME, op. cit ,. p. 123

17
A Lei Constitucional de 1975, dividia o território de Angola, no artigo 53.º, em
Províncias, Conselhos, Comunas, Círculos, Bairros e Povoações. Entenda-se que o termo
«Conselho» foi uma herança tradicional da história municipal portuguesa, depois que
Portugal substituiu o termo «Conselho» na Constituição de 1976 por município, Angola
também o fez na revisão Constitucional publicada a 7 de Fevereiro de 1978 23. Esta
substituição não significou renegar o passado histórico-cultural, mas visou tão-somente
actualizar a linguagem jurídica pelos padrões europeus por parte de Portugal, e Angola
acompanhou também essa evolução. Por sua vez, o artigo 47.º determinava que a
administração local se baseiava nos princípios de unidade, da descentralização e de
iniciativa local24.

A Lei Constitucional de 1992, retomou a formulação do legislador anterior e


dividia, no seu artigo nº 55.º, o território de Angola, para fins político-administrativos,
em Províncias, Municípios, Comunas e Bairros ou Povoações. Na alínea d) do artigo 54
estabelecia que a organização do Estado obedecia ao princípio da autonomia local25.

1.2. Espécies de Autarquias Locais


Uma vez tipificadas a figura das Autarquias Locais na CRA, vale a pena também
enunciar as espécies de autarquias locais que a doutrina e o direito mais próximo do
nosso apresentam26.

Assim, encontramos no direito português (CRP, artigo 236º, n.º1) e na doutrina


portuguesa27 três espécies de autarquias locais28:

i) A freguesia - uma autarquia infra – municipal, ou seja, é a autarquia local de


expressão territorial mais reduzida;

23
Cfr. Adérito CORREIA, e OUTRO, (1996) Angola, História Constitucional pág 169
24
Cfr. Lázaro Manuel JAIME, op. cit ,. p. 123
25
Ibidem
26
Cfr. Lazarino POULSON (2009), As Autarquias Locais e as Autoridades Tradicionais no Direito
Angolano. Iª Edição. Luanda: Casa das Ideias – Divisão Editorial, p. 76
27
“O direito português (e, consequentemente, a doutrina portuguesa) é muito próximo do direito angolano.
Aliás, o cordão umbilical ainda não foi inteiramente cortado, daí a constante e recorrente busca e
interação com a doutrina e com o ordenamento jurídico luso. Esperemos que num futuro próximo tal não
venha a ocorrer com a mesma frequência, não por desmérito das soluções encontradas naquele quadrante
jurídico, mas porque tal representará, sobretudo, uma importante conquista do povo angolano”. Citado
por: Cfr. Lazarino POULSON (2009), op, cit, p. 77
28
Cfr. Diogo Freitas do AMARAL., op. cit., pp. 432-433; João CAUPERS (2013), Introdução Ao Direito
Administrativo. Lisboa: Âncora Editora. pp. 114-116. Citado por: Cfr. Lazarino POULSON (2009), op, cit,
p. 77

18
ii) O município – sucedânea do concelho, o município “é a única autarquia local
portuguesa com uma existência histórica estável; é mesmo o único ponto de
referência organizatório da administração local…”29
iii) A região administrativa – é uma autarquia supra municipal (“não obstante terem
sido publicadas a respectiva lei quadro – Lei nº 56191, de 13 de Agosto – e a lei
da criação – Lei nº 19198, de 28 de Abril – não foram institucionalizadas, mercê
do resultado desfavorável do referendo realizado em 1998”)30.

No caso de Angola, conforme citado anteriormente, a actual CRA estabelece na


artigo 5.º, nº 3, que a Republica de Angola organiza-se territorialmente para fins
político-administrativos em Províncias, estas em Municípios, podendo ainda
estruturar-se em Comunas e em Entes Territoriais equivalentes nos termos da
constituição e da lei. Por sua vez, o artigo 218.º sob a epígrafe “Categoria de
Autarquias Locais”, determina que as autarquias locais organizam-se nos municípios
no seu nº 1. E no nº 2 deste preceito constitucional prevê-se a possibilidade de serem
constituídas autarquias de nível supramunicipais tendo em conta as especificidades
culturais, históricas e o grau de desenvolvimento. Também está prevista na CRA a
possibilidade de a lei estabelecer outros escalões inframunicipais de organização
territorial da administração local autónoma consoante condições específicas (nº 3)31.

Da análise das disposições constitucionais enunciadas, entende-se que o legislador


constituinte consagrou e distinguiu duas categorias de autarquias locais.
AlEXANDRINO, (2013) chega mesmo a classifica-las em autarquias previstas e
autarquias admitidas32. Estas induzem-nos ainda a pensar que a CRA estabelece como
regra de implementação das autarquias a municipalização. Ou seja, em regra, as
autarquias tomarão a feição municipal e excepcionalmente poderão tomar as outras

29
Cfr. João CAUPERS, (2013).op., cit. p. 115
30
Idem. p. 114. vai mais longe quando afirma que “com o sucedâneo de recurso para o fracasso da
regionalização, foram publicadas, em 13 de Maio de 2003, duas leis, com as quais se pretendeu
concretizar a descentralização administrativa do pais numa base voluntária, isto é, em vez de organizar
territorialmente Portugal em obediência a um modelo adoptado pelos órgãos competentes do Estado,
devolveu-se a iniciativa aos municípios, que, por via dos instrumentos previstos por lei, se associaram,
dando origem a espaços mais amplos, dotados de maior massa critica, supostamente capazes de uma
outra dinâmica politica, social, e económica. Esses espaços, designados por grandes áreas
metropolitanas, comunidades urbanas, comunidades intermunicipais de fins gerais e associações de
municípios de fins específicos – que não são autarquias locais – têm vindo a ser constituídos. Se de tal
processo resultará um real reforço da descentralização territorial, somente o futuro o poderá dizer”.
31
Cfr. Lázaro Manuel JAIME, op. cit ,. p. 124
32
Cfr . José de Mello ALEXANDRINO (2013), O Novo Constitucionalismo Angolano, Lisboas: I C J da
Universidade de Lisboa pág 67

19
duas feições constitucionalmente admitidas. Isto significa que a única autarquia local
de existência obrigatória é o Município. As outras, de nível superior ou inferior ao
município, são de existência facultativa, consoante a apreciação que se faça dos
critérios enunciados na CRA33.

1.3. Controle das Autarquias Locais


Tutela ou controle das autarquias”- isto é, o poder de influir sobre elas com o
propósito de conformá-las ao cumprimento dos objetivos públicos em vista dos quais
foram criadas, harmonizando-as com a actuação administrativa global do Estado-Está
designado como supervisão ministerial. Todas as entidades da Administração indireta
encontram-se sujeitas á supervisão da Presidência da Republica ou do Ministério cuja
pasta esteja vinculada. Este ultima o desempenho auxiliado pelos órgãos superiores
do Ministério34.

São objectivos deste controle ou “supervisão” assegurar o compromisso dos


objectivos fixados em seu acto de criação; harmonizar sua actuação com a politica e
programação do governo no correspondente sector de actividade, zelar pela obtenção
de eficiência administrativa e pelo asseguramento de sua autonomia administrativa,
operacional e financeira”35.

Existem diversos tipos de controle. Pode ser prevêntivo, quando a autarquia para
a realização de certo acto, necessita de prévia manifestação do controlado; ou pode
ser repressivo quando o controle não se faz necessário préviamente para a
manifestação do acto, diferindo assim, substancialmente do controle preventivo36.

Nota-se que o controle preventivo pode ser de legalidade (ou legitimidade) quando
a lei tiver habilitado o controlador a examinar o comportamento da autarquia em
acordo comos textos legais. Poderá este ser de mérito ,no caso do controlador analisar,
por força da lei, o comportamento autárquico sob o ponto de vista da conveniência e
oportunidade37.

33
Cfr. Lázaro Manuel JAIME, op. cit ,. p. 124
34
Cfr. José Graça Lopes SILVESTRE op, cit. p. 29
35
Ibidem
36
Ibidem p. 30
37
Ibidem

20
Igualmente, ressalta a existência de um controlo extraordinário, não
necessariamente previsto por lei, que cabe á Administração Central e visa coibir
desmandos das autarquias. Exemplificando-se este controle através dos actos de
intervenção e de destituição dos entes autárquicos38.

Entretanto, GASPARINI, a respeito do controlo das autarquias, faz uma ressalva:


”Esses controles não velam nem inibem, por parte da autarquia, a propõem duras
medidas judiciais contra os actos abusivos da Administração Pública a que pertence.
A autarquia é pessoa jurídica de direito público e como pessoa é sujeito de direitos e
obrigações. Pode, ademais, não se conformar com os actos de tutela, por entendê-las
ilegais, e tomar juízo, as medidas cabíveis com o fito de anulá-las”39.

A Administração Pública, só poderá efetuar tal controlo dentro dos princípios


abrangentes do direito administrativo, ou seja, os actos efetuados devem ser legítimos
e concordantes com o bem da colectividade. Actos que não atendam os princípios pré
estabelecidos estão viciados e sofrerão posterior anulação, tanto pela própria
Administração, quanto pelo Poder Judiciário40.

O que diferencia a Administração Indireta (autarquias) da Administração Direta


(centralizada), é que a primeira possui controle finalístico, isto é, tem administração
própria e vinculada a um órgão da entidade estatal que a criou, enquanto a
administração direta possui uma subordinação hierárquica plena e ilimitada41.

1.4. Necessidades locais e a actividade económica das autarquias


locais.
Vimos que não constitui tarefa fácil o estabelecimento da distinção entre
necessidades individuais e colectivas. Do mesmo modo não é fácil determinar entre as
necessidades que devem ser satisfeitas pelo poder central (Estado) e pelas autarquias
locais, as denominadas necessidades locais, em face da interpenetração que cada vez mais
se faz sentir entre umas e outras (necessidades estaduais e locais)42.

38 38
Cfr. José Graça LOPES SILVESTRE, op. cit,. p. 30
39
Ibidem
40
Ibidem
41
Ibidem
42
Ibidem, p. 8

21
Deve entender-se por necessidade local a que é satisfeita pelo consumo de bens e
serviços públicos fornecidos pelas autarquias locais (órgãos autárquicos), no exercício da
cooperação que mantém com os fins do Estado43.
O grau de satisfação das necessidades locais pelas autarquias depende do nível de
descentralização das funções que lhes estejam atribuídas e da autonomia financeira de
que gozem44.
É a autonomia financeira que vai permitir a definição dos limites da acção
económica das autarquias, cujo objectivo consiste em aumentar o bem-estar colectivo,
através da satisfação das necessidades públicas (locais), sendo seu elemento fundamental
a oferta de bens e serviços locais de qualidade, com o menor dispêndio de recursos
possível45.
Porque em abono da verdade se diga, o bem-estar de cada um é medido pelo grau
de satisfação que obtém na procura de bens e serviços públicos46.
A actividade económica das autarquias pode assim ser traduzida no conjunto de
acções que visam assegurar a satisfação das necessidades das colectividades locais
(residentes), através da transformação de bens económicos, que vão garantir a oferta de
bens e serviços colectivos locais47.

1.5. Regime Financeiro das Autarquias Locais


A expressão regime financeiro aqui adoptada visa dar cobertura ao conjunto de
acções desenvolvidas pelas autarquias locais no domínio financeiro, pelo que nela se
englobam o quadro de vários recursos financeiros de que possam dispor, as decisões que
a nível financeiro têm de ser tomadas pelos órgãos autárquicos, do ponto de vista das
despesas a realizar e receitas a afectar, concretizáveis através da elaboração e aprovação
de planos de actividade e orçamentos próprios e as formas de fiscalização exercida sobre
a gestão desses recursos (controlo da execução orçamental e responsabilização
financeira)48.
Considerando que a CRA, consagra o Principio da Autonomia Financeira Local49
e tendo em conta que as Autarquias Locais são entes colectivos de base territorial, que

43
Cfr. José Graça LOPES SILVESTRE, op. cit,. p. 8
44
Ibidem
45
Ibidem
46
Ibidem
47
Ibidem
48
Ibidem
49
Cfr. Artigo 265º, ANGOLA, 2010, op, cit.,

22
têm como finalidade prosseguir e realizar a satisfação das necessidades colectivas das
referidas circunscrições, o órgão do Poder Legislativo, pelo poder que Lhe confere,
aprovou a Lei nº 13/20 de 14 de Maio - Lei do Regime Financeiro das Autarquias Locais.
Esta Lei estabelece os princípios fundamentais das finanças autárquicas,
determina quais são as receitas próprias das autarquias locais, prevê a possibilidade de as
autarquias locais criarem contribuições especiais e estabelece normas sobre o
endividamento, a elaboração, aprovação e execução do orçamento das autarquias locais,
bem como sobre a fiscalização e responsabilidade orçamental50.

1.5.1. Recursos Financeiros à disposição das Autarquias


No que aos recursos financeiros se refira, a opção por uma estrutura adequada de
recursos financeiros depende em primeiro lugar e principalmente das funções que venham
a ser atribuídas às futuras autarquias angolanas, de acordo com o grau de descentralização
que se pretenda implantar. Subjacente à definição das funções das autarquias parece estar
o reconhecimento das diferenças existentes em cada localidade, designadamente entre as
áreas rurais e urbanas e entre áreas urbanas de diferente grandeza51.
No quadro de receitas faremos alusão às receitas fiscais, às taxas, às transferências
e ao crédito52.
Cada uma destas fontes de financiamento tem um diferente impacto e incidência
no grau de autonomia financeira das autarquias locais. Esta é tanto maior, quanto maior
for o volume de receitas que dependam do poder de decisão das autarquias (receitas
próprias, por contraposição às receitas “externas” ou não próprias – transferências e
crédito)53.
A inserção dos impostos locais no sistema fiscal implicará que se estabeleça a
compatibilidade necessária entre estes e os impostos estaduais, em função dos objectivos
prosseguidos quer pelo poder central, quer pelas autarquias locais, justificando, assim, o
tipo de impostos atribuídos (numa perspectiva de descentralização financeira)54.
O estabelecimento de um quadro de impostos locais depara à partida com um
conjunto de dificuldades que se situam designadamente: a) na escolha de figuras

50
Cfr, ANGOLA, Lei nº 13/20 de 14 de Maio, Lei do Regime Financeiro das Autarquias Locais, Angola:
Diário da República, Série I, Nº 64, de 14 de Maio, Disponível em:
<http://www.governo.gov.ao/VerLegislacao.aspx?id=528>. Acesso em: 09 de Fevereiro de 2021
51
Cfr, Elisa Rangel NUNES (2001), op,cit p. 8
52
Ibidem, p. 9
53
Ibidem
54
Cfr, Elisa Rangel NUNES (2001), op, cit, p. 9

23
tributárias que traduzam as diferenças nas preferências dos cidadãos, assim como na
oferta diferenciada de bens e serviços; b) na relação entre o benefício obtido pelos
contribuintes e as despesas públicas por eles financiadas, devendo ser nessa base
determinadas, quer a base de incidência, quer a taxa dos impostos; c) na correspondência
entre os custos de administração do imposto com a dimensão da autarquia onde seja
tributado, com o sentido de ser mais baixo o imposto, quanto menor for a autarquia55.
A forma mais comum de tributação local é a que recai sobre a propriedade
imobiliária56.
Trata-se de impostos que podem recair sobre a terra e/ou construções e que incide
sobre todo o tipo de propriedade de natureza comercial, industrial, habitacional e
institucional57.
Uma outra forma de tributação é a que incide sobre o rendimento. Embora por
norma os impostos desta natureza tenham por sujeito activo o Estado, em alguns países
as autarquias locais também são sujeitos activos deste tipo de impostos58.
Os impostos sobre a despesa ou consumo, que são impostos que atingem a riqueza
revelada pela aquisição onerosa de bens e serviços, também são utilizados como impostos
locais em alguns países59.
Entre estes três tipos de impostos, existe uma preferência para os impostos sobre
a propriedade imobiliária, em virtude da sua implantação, já que situa numa zona de fácil
percepção para os contribuintes, dá origem a custos administrativos não muito elevados,
apresenta uma carga fiscal repartida em função dos benefícios conseguidos e são impostos
pouco permissivos à evasão fiscal60.
Não obstante esta preferência, por impostos que assentam a obrigação de
pagamento no benefício retirado pelos contribuintes, na escolha de impostos locais haverá
que saber conjugar impostos que se baseiem no princípio do benefício com impostos que
se fundem na ideia de que os custos devem ser distribuídos por todos os cidadãos61.
Ao lado dos impostos locais, as autarquias poderão arrecadar recursos financeiros
que se situam dentro do seu poder de decisão, provenientes de outro tipo de receitas
tributárias, como sejam taxas, licenças e tarifas, e ainda de receitas resultantes da

55
Ibidem
56
Ibidem
57
Ibidem
58
Ibidem
59
Ibidem
60
Ibidem
61
Cfr, Elisa Rangel NUNES (2001), op, cit, p. 10

24
exploração e administração do seu património, e bem assim de multas, aplicadas pela
prática de infracções aos regulamentos autárquicos62.
Já no domínio das receitas não próprias, encontram-se as transferências e os
recursos ao crédito63.
As transferências financeiras do Estado ou intergovernamentais são o principal
meio de concretizar a perequação financeira que assenta no princípio da igualdade activa
e que se traduz na igualdade de oportunidades entre as autarquias, em matéria de recursos
financeiros, para a satisfação de necessidades públicas64.
As transferências do Estado podem ser afectas ou condicionadas à realização de
certos investimentos (comparticipação), ou não ser afectas a qualquer tipo de despesa –
transferências não afectas65. Este último tipo de transferências financeiras aparece por
vezes sob a forma de um fundo que permite a participação das autarquias nas receitas
estaduais (ou de vários impostos desta natureza ou apenas de um só) –« participação no
rendimento» –, que assenta em determinados critérios de distribuição, tais como:
densidade populacional, objectivos de compensação de certas carências e de certos
encargos, compensação, como resultado da adopção de certas políticas sociais,
necessidade de implementar um certo sentido de justiça redistributiva, tendo em conta a
capacidade das autarquias beneficiárias66.
Por fim, há que também falar do recurso ao crédito pelas autarquias, como uma
importante fonte de financiamento, principalmente no que se refere à implantação e
desenvolvimento de projectos de investimento. Por vezes também se permite que as
autarquias contraiam empréstimos de curto prazo que se destinam a ocorrer a dificuldades
de tesouraria67.
Haverá que cuidar de não estabelecer um quadro financeiro de receitas que assente
só em impostos ou só em transferências (caso em que a autonomia financeira aparece
mais comprometida), mas que apresente um leque de receitas o mais diversificado
possível, tendo em atenção os desequilíbrios existentes entre as várias regiões e entre
autarquias do mesmo grau ou de grau diferente68.

62
Ibdem
63
Ibdem
64
Ibdem
65
As transferências afectas porque se destinam a projectos específicos, obedecem a um controlo mais
rígido por parte do poder central, por essa razão se diz que constituem uma limitação mais acentuada à
autonomia financeira das autarquias locais, relativamente às transferências não afectas. (NUNES 2001)
66
Cfr, Elisa Rangel NUNES (2001), op, cit, p. 10
67
Ibidem
68
Cfr, Elisa Rangel NUNES (2001), op, cit, p. 10

25
Os recursos financeiros às disposições das autarquias estarão devidamente
definidas no pacote legislativo autárquico aprovados ou em aprovação pela Assembleia
Nacional. Contudo, acreditamos que uma parte será alocada do OGE e outra das receitas
locais69.

1.6. Orçamento autárquico e a fiscalização da execução orçamental


O orçamento autárquico é um instrumento normativo que incorpora a previsão das
receitas e das despesas municipais para o ano financeiro e dá corpo a uma das mais
importantes dimensões da autonomia financeira local. Com efeito, as possibilidades de
em exclusividade — sem dependência autorizações, de consentimentos ou de
interferências do Estado — elaborar a proposta orçamental, discuti-la, e aprová-la, e
posteriormente executar o aprovado, demonstram sem equívocos que as Autarquias são,
efectivamente, entes financeiramente autónomos. No extremo, pode mesmo dizer-se que
este é um dos poucos casos em que, num certo sentido, até se pode falar em verdadeira
independência70.

O orçamento das Autarquias Locais é unitário e universal e compreende todas as


suas receitas e despesas71.

O orçamento é anual sem prejuízo da possibilidade de neles serem integrados


programas e projectos que implicam encargos plurianuais72.

A proposta do orçamento autárquico para o ano económico seguinte é elaborado


pela Câmara Municipal e submetida a Assembleia Autárquica correspondente, até ao dia
31 de Julho do ano anterior ao da sua vigência73.

69
Informação Fornecida por: Joaquim Baza AUGUSTO, Administrador Municipal. Adjunto. p/ Área
Económica e Financeira do Tômbwa, Entrevista março, 2021, Entrevistador, Etelvino L. F. Teófilo,
Questionário Eletrónico (9 questões).
Entrevista concedida para a pesquisa sobre A autonomia financeira e o sistema tributário como fonte de
financiamento do orçamento autárquico.
70
Cfr. Joaquim Freitas da ROCHA, Finanças Locais, Disponível em:
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/35552/1/17%20-
%20Finan%C3%A7as%20locais.pdf. Acesso em: 22 de Fevereiro de 2021, p. 6
71
Cfr, ANGOLA, Lei nº 13/20 de 14 de Maio, Lei do Regime Financeiro das Autarquias Locais, Angola:
Diário da República, Série I, Nº 64, de 14 de Maio, art 33º nº1, Disponível em:
<http://www.governo.gov.ao/VerLegislacao.aspx?id=528>. Acesso em: 09 de Fevereiro de 2021
72
Cfr, ANGOLA, Lei nº 13/20 de 14 de Maio, op, cit, art 33º nº 2
73
Ibidem, art 34º nº1

26
O orçamento engloba as receitas e despesas, o qual deve refletir, as politicas, os
objectivos, as metas e as actividades a serem desenvolvidas de acordo com o plano de
actividades74.

A fiscalização orçamental consiste em verificar em que medida os actos decisórios


praticados pela administração autárquica estão em conformidade com a lei ou com os
objectivos definidos, podendo ser exercida sob a perspectiva da avaliação económica ou
da legalidade ou de ambas75

Um dos documentos financeiros que permite essa fiscalização é a conta. Através


dele faz-se o apuramento do valor global das receitas cobradas e das receitas realizadas e
mede-se o grau de capacidade da administração local, que se manifesta pelos vários níveis
de execução orçamental76.

A Conta de Gerência Autárquica, deve ter uma estrutura idêntica a do orçamento


municipal, sendo elaborada pela Câmara Municipal com clareza, exatidão e simplicidade
de modo a facilitar a sua análise económica e financeira77.

A fiscalização administrativa e financeira da execução orçamental, compete além


da própria Câmara Municipal, ao Tribunal de Contas, à Assembleia Autárquica e ao
Órgão de Tutela, nos termos da legislação aplicável78.

A Câmara Municipal deve estabelecer e executar dispositivos permanentes de


acompanhamento, avaliação e fiscalização orçamental e financeira, pelo menos
trimestralmente79. A Câmara Municipal pode recorrer aos serviços de auditoria externos
através de contratação pública80.

A Assembleia Municipal e a Câmara Municipal devem estabelecer dispositivos


pontuais ou permanentes de acompanhamentos das actividades dos serviços municipais
autónomos81.

74
Ibidem, nº 2
75
Cfr, Joaquim dos Santos CARVALHO, O Processo Orçamental das Autarquias Locais, Almedina,
1996, p.164.
76
Cfr, Elisa Rangel NUNES (2001), op, cit, p. 12
77
Cfr, ANGOLA, Lei nº 13/20 de 14 de Maio, op, cit, art 40º nº 5.
78
I, art 42º nº 1.
79
Cfr, ANGOLA, Lei nº 13/20 de 14 de Maio, op, cit, art 42º nº 2
80
Ibidem, nº 3
81
Ibidem, nº 5

27
A fiscalização jurisdicional da execução orçamental compete ao Tribunal de
Contas e é efectuada nos termos da legislação aplicável82.

1.7. O Principio da Autonomia Local


Como se pode ver, em Angola, de acordo com o artigo 213.º da CRA, o Poder
Local é um fenómeno do âmbito do poder político, diz respeito à organização democrática
do Estado ao nível local, sedimentada pelo princípio da descentralização político-
administrativa. Repare-se neste particular, tal como afirma BRANCA83, num grande
número de Estados a descentralização é apenas administrativa mas, em Angola, o
legislador constituinte optou por atribuir às autarquias locais, além de poderes
administrativos, determinados poderes políticos, a serem fixados por lei.

Segundo o Professor, AMARAL84, para que exista Poder Local é necessário que
exista, além da auto-administração, um amplo grau de autonomia administrativa e
financeira, isto é, quando forem suficientemente largas as suas atribuições e
competências, quando forem dotadas de meios humanos e técnicos necessários, bem
como dos recursos materiais suficientes, para prosseguir e exercer, e quando não forem
excessivamente controladas pela tutela administrativa e financeira do poder local.

Para FEIJÓ, citado pelo professor Lazarino POULSON85, a “expressão poder


local é polissémica”. Por isso, aconselha o juspublicista de Luanda, “quando nos
debruçamos sobre ela, é necessário conhecer o sentido em que ela vai ser tomada”.

Tem Razão FEIJÓ86, uma vez que, como ele próprio afirma, “a expressão
comporta dois vocábulos: poder e Local”. Na realidade, a palavra “poder” é igualmente
polissémica na ciência jurídica e politica. Todavia, para o presente trabalho, a expressão
“poder” deve significar “a faculdade atribuída pela constituição a determinadas entidades,
criadas ou reconhecidas por lei, de definir e impor aos outros o respeito da própria conduta
ou traçar a conduta alheia”. Já o vocábulo “local” vai aqui ser tomado no sentido da

82
Ibidem, nº 6
83
Rosa BRANCA, O Poder Local na Constituição da República de Angola. Lições do Curso de Pós
Graduação em Políticas Públicas e Administração Local, Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.5335/rjd.v28i1.4837>, Acesso: 25 de Abril de 2020.
84
Diogo Freitas do AMARAL, Curso de Direito Administrativo, vol. I, Coimbra, Edições Almedina,
2005, p. 488.
85
Cfr. Lazarino POULSON, op., cit., p. 44.
86
Carlos FEIJÓ, Problemas Actuais de Direito Público Angolano – Contributo para a Sua Compreensão,
Cascais, Principia, 2001, p. 64.

28
delimitação territorial ou espacial, onde as entidades autónomas vão desenvolver as suas
actividades, de acordo a divisão administrativa em vigor no nosso país.

Entretanto, o poder local deve ser analisado no contexto histórico, politico e


jurídico, como sugere FEIJÓ87.

Para aquele académico, “no plano histórico, o poder local é explicado pela
necessidade que têm os habitantes de uma determinada parcela do território de se
organizarem em função das relações de vizinhança e dos interesses comuns e próprios.
No plano politico, o poder local quer significar a necessidade que têm as populações de
um determinado território de se auto-administrarem e de gerirem, autonomamente, os
seus interesses próprios e comuns (…). No plano jurídico, o poder local funda-se nos
princípios da autonomia local e da descentralização administrativa. Aqui, é necessário
não confundir as expressões que se equivalham ou sejam sinónimas”.

O poder local consiste no poder político, originário ou derivado, exercido, nos


termos da lei, ao nível das comunidades locais, através de órgãos descentralizados, de
instituições organizatórias tradicionais e de outras formas de organização e participação
democrática das populações, visando a satisfação dos seus interesses próprios88.

Para FEIJÓ e PACA (2015) o poder político do Estado-comunidade não se esgota


nos órgãos de soberania, tendo porem por uma manifestação do poder politico. Por outro
lado, é possível, falar-se, hoje, de uma divisão territorial ou vertical de poderes, ao lado
da clássica divisão territorial ou vertical de poderes, ao lado da clássica divisão horizontal
de poderes89.

O poder local visa a satisfação dos interesses próprios das populações respectivas.
Portanto, ele não visa a prossecução do interesse geral ou nacional que ao Estado compete
prosseguir. Trata apenas de interesses ou assuntos próprios das populações respectivas, e
não dos interesses nacionais da comunidade nacional90.

87
Ibidem
88
Cfr, Carlos FEIJÓ, Cremildo PACA, Direito Administrativo, 4ª edição, Luanda, Mayamba Editora,
2015, p. 232.
89
Ibidem, p. 234.
90
Cfr, Carlos FEIJÓ, Cremildo PACA, Direito Administrativo, 4ª edição, Luanda, Mayamba Editora,
2015, p. 236.

29
Fica evidente que diante do exposto que o Poder Local visa a satisfação dos
interesses próprios das respectivas populações, não visando a prossecução do interesse
geral ou nacional que acaba sendo competência do Estado.

1.8. Conceito, âmbito, natureza e funções do princípio da autonomia


local
A autonomia é um conceito em que se reconhece uma grande variedade de
acepções. No entanto, a ideia que a palavra expressa é relativamente clara desde a sua
própria etimologia, «auto/nomos: própria norma», uma noção contrária à de dependência.
Além disso, interessa aqui focar a discussão apenas na autonomia referida às entidades
subnacionais e aos Municípios especificamente91.

Na literatura, aparece recorrentemente uma série de elementos convergentes com a


autonomia, especialmente a disposição de recursos fiscais, a capacidade de optar
livremente sobre o destino dos recursos, a capacidade para eleger as próprias autoridades
92
e a atribuição para definir competências próprias. Segundo Leme (1992, p 17) , são
atributos da autonomia local:

 Poder para definir as leis locais;


 Autogoverno;
 Estabelecer as competências do seu executivo local;
 Exercer competência residual (todas as atribuições que a Constituição não torna
exclusivas ao Estado)
 Competência fiscal (tributar e criar receita).
Por outro lado, Bobbio (1994), que trata da autonomia dentro do conceito de self
government, se refere à autonomia local como aquelas entidades que, ligadas
necessariamente a um território e população determinados, são caracterizadas pela
amplitude e pela generalidade dos fins para cuja consecução são exigidas determinações
políticas autônomas que podem até contrastar dentro de certos limites com as do aparelho
do Estado.

Assim, continua Bobbio (1994)

91
Ibidem. p.110
92
Cfr. Heladio José, LEME. 1992. O federalismo na Constituição de 1988: representação política e
distribuição de recursos tributários. Campinas, IFCH/Unicamp; Citado por: Lázaro Manuel JAIME, op,
cit,. p. 111

30
Self government em sentido próprio se refere aos órgãos locais situados no âmbito
da administração autónoma, caracterizados pela sua personalidade jurídica ou pelo
menos por uma autonomia de gestão, não ligados por relação de hierarquia ao aparelho
central e dirigidos por funcionários de origem eletiva designada diretamente pela
comunidade administrativa.

Na Constituição da República de Angola, a autonomia local constitui uma norma


jurídica fundamental, como dissemos acima, a autonomia local foi elevado a categoria de
princípio material da Constituição, com um determinado conceito constitucional no artigo
214.º, um âmbito ou conteúdo no artigo 215.º e envolvendo um conjunto de princípios no
artigo 216.º 93.

Desde logo, segundo Amartaya Sen (2010), essa norma apresenta-se como um
princípio jurídico ordenador e estruturante de uma forma específica e politicamente
qualificada de descentralização, que é simultaneamente territorial e democrática,
envolvendo por isso necessariamente a participação no exercício do poder político e
estando directamente articulada com as várias expressões do princípio democrático94.

1.9. Discussão de vários autores sobre a Autonomia Local

1.9.1. A posição de Diogo Freitas do Amaral


Para Freitas do AMARAL95, a autonomia Local tem vários aspectos essenciais, a
saber:

a) O direito e a capacidade efectiva das autarquias regularem e gerirem, nos


termos da lei, uma parte importante dos assuntos públicos;
b) O direito de participarem na definição das politicas públicas nacionais que
afectem as respectivas populações;
c) O direito de partilharem com o Estado as decisões sobre matérias de
interesse comum;

93
Cfr. Lázaro Manuel JAIME, op, cit,. p. 112
94
Cfr. Amartaya SEN (2010) “A Ideia de Justiça. Coimbra: Editora Almedina pág. 215; citado por: Lázaro
Manuel JAIME, op, cit,. p. 112
95
Cfr. Diogo de Freitas do AMARAL (2005) – Curso de Direito Administrativo. Coimbra: Almedina,
pp. 491 – 492, citado por: Vasco VALDEZ (2014) – Autonomia Tributária dos Municípios. Porto: Vida
Económica – Editorial S.A, p. 51

31
d) O direito de, sempre que possível, regulamentarem a aplicação de normas
ou planos nacionais e adapta-los às realidades nacionais.

O mesmo autor, distingue ainda numa perspetiva de Direito Comparado, entre os


municípios independentes e os independentes, sendo que os primeiros, a que corresponde
ao modelo anglo-saxónico, são concebidos como “uma sociedade natural ou comunidade
espontânea formada de per si e brotando das necessidades locais de vida em comum”. E
acrescenta que, “neste modelo de município independente”, estamos em presença de algo
mais do que uma mera formula de “administração local”: pode se dizer que existe um
verdadeiro “governo local”. Assim, cada município tem o seu próprio património,
finanças próprias, cobra os seus respectivos impostos, contrai empréstimos, realiza
despesas, celebra contratos e organiza os seus próprios serviços96.

Nos municípios dependentes, estes são vistos “como uma agência ou sucursal do
Estado, por esta criada, ou pelo menos constitui um aproveitamento pelo poder central de
algo que ele enquadra, contorna e submete”, e corresponde, no essencial ao modelo
napoleônico francês97.

Todavia, o mesmo autor salienta que nenhum destes modelos existe hoje em dia em
estado puro. É evidente que os Estados democráticos se aproximam mais do primeiro dos
modelos, enquanto que os Estados autoritários se aproximam mais do segundo, como era
o caso de Portugal até ao 25 de abril ou dos países comunistas98.

Dai que o professor Freitas do AMARAL, estabeleceu uma dicotomia de principio,


para os dias de hoje, entre regimes democráticos e não democráticos, sendo que, no que
toca aos primeiros, haverá três subdivisões, a saber:

1. Municípios com autonomia plena: a lei define o número e os limites de cada


município e estabelece as relações entre o Estado e aquele, cabendo aos
municípios administrarem-se a si mesmos; a tutela é somente pontual e o
único controlo global que pode fazer-se é o exercido pelos tribunais. É o
sistema em vigor na Grã-Bretanha, na Alemanha e na Suíça;

96
Cfr. Diogo de Freitas do AMARAL (2005) – op. cit, pp. 457 – 461, citado por: Idem
97
Cfr. Diogo de Freitas do AMARAL (2005) – op. cit, p. 553, citado por: Idem . p. 52
98
Vasco VALDEZ (2014) – op. cit,.p. 52

32
2. Municípios com autonomia semiplena: os municípios dispõem de poderes de
decisão e de consideráveis recursos financeiros, se bem que menores do que
na autonomia plena, havendo uma tutela administrativa de legalidade e
algumas vezes de mérito, sendo o sistema em vigor em França, na Bélgica ou
na Itália;
3. Municípios com autonomia restrita: distingue-se sobretudo da anterior por as
atribuições e competências próprias dos municípios serem em número
insuficiente e os meios financeiros escassos, entendendo o autor que nesta
classificação estão os munícipes de Portugal, Espanha e Grécia.

Por contraponto, encontram-se os municípios que existem nos Estados não


democráticos, em que se verifica ou uma dependência vertical, que se traduz,
designadamente, no facto de serem os titulares dos órgãos designados pelo Estado central,
ou uma dependência horizontal, em que os titulares dos mesmos são eleitos, mas em listas
únicas patrocinadas pelo partido ou força politica no poder. A primeira das situações
verificar-se-ia predominantemente nas ditaduras de direita e a segunda nas de esquerda99.

1.9.2. A posição de Marcelo Rebelo de Sousa


Marcelo Rebelo de Sousa acentua que “a descentralização administrativa
verificada em relação às autarquias locais é mais intensa do que a verificada quanto
às Universidades públicas e mesmo às associações públicas” tratando-se, “em
qualquer caso, de descentralização da função administrativa do Estado-colectividade,
ou descentralização administrativa, e não de descentralização das funções politicas e
legislativas ou descentralização politico-legislativa”100.

De todo o modo, o autor salienta a representatividade dos respectivos


órgãos, ou seja, as electividade dos respectivos titulares, acrescentando que a
descentralização pode conhecer diferentes graus, consoante amplitude das
atribuições, a subordinação ao poder de tutela do Estado-Administração e os recursos
disponíveis101.

99
Vasco VALDEZ (2014) – op. cit,.p. 53
100
Marcelo Rebelo de SOUSA (1999), Lições de Direito Administrativo, Lisboa: pp. 330 – 331, citado
por: Vasco VALDEZ (2014) – op. cit,.p. 53
101
Marcelo Rebelo de SOUSA (1999), Lições de Direito Administrativo, Lisboa: pp. 330 – 331, citado
por: Vasco VALDEZ (2014) – op. cit,.p. 53

33
Por outro lado Marcelo Rebelo de Sousa, realça a relativa escassez das
transferências por parte do Estado Central, seja porque mesmo assim este “é pródigo
em não cumprir a lei quanto aos montantes destinados ao Poder Local e em fugir a
regras gerais claras e transparentes na celebração de contratos-programa de apoio
financeiro às autarquias locais” , para “já não falar nessa outra dependência, que se
traduz em a participação das autarquias locais , impostos estar sujeita às vicissitudes
que rodeiam esses impostos, sobre os quais a vontade do Estado é , naturalmente
determinante”102.

De todo modo, o autor salienta que, “ em termos gerais, cumpre reconhecer que a
Constituição de 1976 acolhe o Poder Local com um espirito descentralizador sem
precedentes no constitucionalismo português”103.

1.9.3. A posição de António Francisco de Sousa


Por sua vez, António Francisco de Sousa104, salienta que, para se chegar à essência
da autonomia local, importa delimita-la positiva e negativamente.

Quanto a esta ultima não pode a autonomia local ser concebida como um direito
contra o Estado, mas surgindo dentro da Constituição e ligado naturalmente à
organização do próprio Estado. Na vertente positiva, a autonomia local deve ser
concebida para que as “entidades locais possam atender aos seus assuntos de acordo
com as suas próprias opções e critérios, os quais, sendo assumidos sob a sua própria
responsabilidade, estão livres de controlo alheio”105.

Por seu turno, a garantia institucional da autonomia local pode ser entendida num
tríplice sentido:

1. Garantia subjectiva das autarquias locais, enquanto sujeitos de direito;


2. Garantia objectiva como instituição jurídica da autonomia local;
3. Garantia da posição jurídica subjectiva das autarquias locais contra
eventuais ataques à autonomia local.

102
Marcelo Rebelo de SOUSA (1999), op. cit,. pp. 331 – 332, citado: por: Vasco VALDEZ (2014) – op.
cit,.p. 53
103
Ibidem
104
Cfr. António Francisco de SOUSA, Direito Administrativo das Autarquias Locais. 3ª ed, Lisboa: pp.
92 – 94, citado por: Vasco VALDEZ (2014) – op. cit,.p. 54
105
Cfr. Vasco VALDEZ (2014) – op. cit,.p. 54

34
Na verdade, na concepção do referido autor, “a autonomia local não é um direito
fundamental, mas sim uma garantia institucional. Através desta fórmula pretende-se
proteger as autarquias locais contra o legislador, o qual poderia chegar ao esvaziamento
do seu conteúdo nas múltiplas limitações que fixa a autonomia local”, sendo que, para
assegurar tal garantia institucional, são lhe asseguradas as garantias a que o autor acima
alude106.

Por outro lado, quanto a delimitação positiva da autonomia local a mesma


materializa-se numa forma de administração autónoma, “concebida para que as entidades
locais possas atender aos seus assuntos de acordo as suas próprias opções e critérios, os
quais, sendo assumidos sob a sua própria responsabilidade, estão livres de controlo
alheio”107.

1.9.4. A posição de António Cândido de Oliveira


Também Cândido de Oliveira108 aponta diversos significados à autonomia
local constitucionalmente consagrada. Desde logo, que se trata de um principio,
fundamental da Constituição e que é o principio-chave da administração local ou,
como a Constituição também designa, do Poder Local.
Tal materializa-se, desde logo, no “facto de a noção de autarquia local estar
directamente ligada à ideia de eleição por sufrágio universal de uma assembleia
dotada de poderes deliberativos e ao facto de possuir quadros de pessoal
próprio”109.
Por outro lado, a autonomia local implica autonomia financeira e “ainda a
dotação de poder regularmente próprio”, poder esse que se circunscreve à esfera
de acção das autarquias locais respectivas e assim terá de ter conta os limites
constitucionais, legislativos e ainda poder regulamentar as autarquias de grau
superior110.

106
Cfr. Vasco VALDEZ (2014) – op. cit,.p. 55
107
Cfr. António Francisco de SOUSA, Direito Administrativo das Autarquias Locais. 3ª ed, Lisboa: pp.
92– 94, citado por: Vasco VALDEZ (2014) – op. cit,.p. 55
108
Ibidem, p. 56
109
Ibidem
110
Ibidem, p.57

35
Acrescenta ainda, o autor que a tutela administrativa fica limitada de forma
rigorosa de tal sorte que só se limita “à verificação do cumprimento da lei por
parte do órgão autárquicos”111.
Este conjunto de preceitos da Constituição “dão uma ideia do que deve
entender-se por autonomia local” e que se traduz “numa situação especial das
autarquias locais particularmente em relação ao Estado entendido como titular da
Administração Central”, que se materializa numa “relação de não subordinação
das autarquias locais em relação ao Estado-Administração”, sendo que aquelas
não são prolongamentos desse último112.

1.9.5. A posição de João Baptista Machado


Por seu turno, Baptista Machado, cotejando o grau de autonomia
subjacente aos institutos públicos e às autarquias locais, salienta o seguinte:
“Não obstante os conceitos de autonomia e de descentralização serem
correntemente aplicados a estas duas espécies de autarquias, é preciso ter presente
que existe entre elas uma diferença profunda. Autarquias locais como os
municípios radicam de uma tradição histórica de autonomia face ao Estado que
não permite concebe-las sem mais como criação deste, como entes que o Estado
tenha instituído e aos quais tenha atribuído certos poderes. Com efeito, as
autarquias municipais são muito anteriores ao próprio Estado moderno”113.
Enfim, como diz o mesmo autor, “ o conceito de autonomia no seu sentido
mais genérico significa o poder de se autodeterminar, de autorregular os próprios
interesses – ou o poder se dar a própria norma. Neste sentido, opõe-se a
heteronomia, que traduz a ideia de subordinação a normas dadas (e impostas) por
outrem. Deste modo, e neste sentido amplo, o ente público autónomo exerce o seu
poder de autonomia muito especialmente quando elabora os seus próprios
estatutos e emana os seus regulamentos”114.
Em suma, os entes autárquicos têm, no que concerne ao respectivo regime,
dois traços essenciais, a saber: (i) o facto de que podem dar a si próprios uma
orientação ou direcção político-administrativa que lhes não é definida pelo

111
Cfr. Vasco VALDEZ (2014) – op. cit,.p. 57
112
Ibidem
113
Cfr. João Baptista MACHADO – Participação e descentralização, democratização e neutralidade na
Constituição de 76. Coimbra: pp. 8 – 9; Citado por: Vasco VALDEZ (2014) – op. cit,.p. 58
114
Ibdem, p.8

36
Estado; e (ii) o facto de a tutela se destinar apenas a verificar se os respectivos
órgãos ultrapassaram os limites que lhes são fixados por lei115.

1.10. Regimes e garantias do Principio da Autonomia Local


A CRA ao consagrar o princípio da Autonomia Local no artigo 214.º, atribui direito
e capacidade efectiva da gestão dos assuntos e interesses das populações locais às
autarquias. Isto acontece também em Portugal e na generalidade dos países democráticos
que consagram constitucionalmente o princípio da autonomia local. No entanto, segundo
Freitas do Amaral (2012), o sentido e alcance deste princípio tem variado conforme as
épocas históricas, conforme os regimes políticos, e mesmo na actualidade não há
unanimidade de opiniões acerca da autonomia local116.

Antes, o que era de interesse nacional competia ao Estado e o que era de interesse
local competia às autarquias locais. Mas hoje, tudo o que é local tem que ser enquadrado
numa política pública definida a nível nacional e por outro lado, inversamente todas as
políticas nacionais têm uma dimensão regional e local diversificada exigindo adaptações,
especialidades, respeito pelas particularidades de cada área e localidade117. Dai, continua
o autor, que muitos autores pretendam agora prescindir da autonomia local e substituir o
conceito ou reconvertê-lo, de modo a assegurar sobretudo o direito de as autarquias locais
participarem na definição das grandes orientações nacionais (leis, políticas públicas
planeamento), assim como na respectiva execução.

1.11. A Actividade Financeira do Estado


Basicamente a actividade financeira do Estado desenvolve-se em três áreas118:

a) Receita (obtenção de recursos)


b) Gestão (administração dos recursos e do património do Estado);
c) A despesa (aplicação dos recursos no pagamento das verbas autorizadas
no orçamento).

115
Cfr. Vasco VALDEZ (2014) – op. cit,.p. 58
116
Cfr. Diogo Freitas do AMARAL, (2012); Curso de Direito Administrativo Vol. I, pág. 490; Citado por:
Lázaro Manuel JAIME, op, cit,. p. 112
117
Ibidem
118
Cfr. Paulo Jorge Lopes FERREIRA. (2012), O impacto dos impostos no orçamento das
Câmaras Municipais : o caso do Município do Tarrafal de Santiago – Universidade do Minho,
Disponível em : http://hdl.handle.net/1822/20630. Acesso em: 27 de Abril de 2020, p. 45

37
Estas últimas (as despesas públicas) são, na acepção de Aliomar Balleeiro,
conjunto de desembolsos do Estado ou de outra pessoa de direito público, para
funcionamento dos serviços públicos. Por outras palavras, constituem a aplicação de certa
quantia, em dinheiro, por parte da autoridade ou agente público competente dentro de
uma autorização legislativa para a execução de um fim a cargo do governo. O fim é
sempre o mesmo (ou deve ser): o interesse público ou interesse colectivo119.

Toda a despesa tem que ter respaldo constitucional, gerando benefícios para o
Poder Publico e para a sociedade. Num quadro legal, elegem-se prioridades da acção
governamental para depois se estudar os meios existentes de obtenção de recursos
financeiros necessários ao atendimento de metas politicamente estabelecidas120.

De acordo a Kiyosha Harada, as despesas podem ser classificadas do seguinte


modo:

- Ordinárias – rotina dos serviços públicos e que são renovados anualmente a cada
orçamento.

- Extraordinárias – Têm carácter esporádico e não se renovam a cada ano.

- Correntes: produzem variação negativa no património líquido, ou seja, redução


do valor do activo. Dividem-se em: (i) Despesas destinadas à manutenção de serviços
criados anteriores à lei orçamental, assim como os gastos de conservação e de adaptação
de bens e imóveis e (ii) Transferências Correntes que são as despesas para as quais não
corresponde uma contraprestação directa de bens ou serviços. As transferências correntes
são destinadas a cobrir despesas de custeio de instituições públicas ou privadas de carácter
social ou cultural, sem fim lucrativo.

- De capital: representam simples trocas de valores do activo. São divididas em (i)


Despesas de investimento - São despesas necessárias ao planeamento e à execução de
obras, aquisição de instalações, equipamentos, material permanente e constituição ou
aumento de capital de empresas desde que não sejam de carácter comercial ou financeiro.
(ii) Inversões Financeiras - São despesas de aquisição de imóveis, bens de capital já em
utilização, aquisição de títulos de capital e constituição ou aumento de capital de
entidades que visem objectivos comerciais ou financeiros, incluindo operações bancárias

119
Cfr. Paulo Jorge Lopes FERREIRA. (2012), op. cit.., p. 46
120
Ibidem

38
ou de seguros. (iii) Transferências de Capital: consistem na transferência de bens
numéricos á outras entidades que devem realizar investimentos ou inversões financeiras.
Essas transferências denominam-se auxílios ou contribuições e incluem-se entre as
despesas de capital e aquelas destinadas a amortização da divida publica121.

No conjunto das despesas produtivas, aparecem os serviços públicos em geral:


defesa, segurança, educação, saúde, transporte, habitação, comunicação, saneamento,
segurança social, energia etc122.

Essas despesas vistas de outra forma cobrem, na realidade, as necessidades


públicas123.

Existe também o critério de despesas fundamentais e não fundamentais, que são


considerados como mais apropriados para os países em desenvolvimento como é o nosso
caso124.

1.11.1. Meios de financiamento do Estado


Financiamento segundo um Dicionário de Língua Portuguesa significa, acto ou efeito
de financiar; importância concedida para financiar. Financiar por sua vez significa, prover
recursos, dinheiro, linha de crédito, estrutura financeira ou física, para que um determinado
objectivo seja alcançado125.
Do ponto de vista financeiro, os meios de financiamento aparecem sob a forma de
preços, empréstimos, impostos e outras receitas tributárias, tais como as taxas, as
contribuições especiais e as receitas parafiscais; os dois primeiros resultam de operações de
troca, concretizados por meio de negócios jurídicos bilaterais, e no caso dos impostos e das
outras receitas tributárias, do exercício do poder de autoridade do Estado, isto é, do seu poder
tributário126.
Quando analisados os meios de financiamento do Estado, do ponto de vista jurídico,
já não se põe em causa a natureza económica da relação que dá origem à receita, mas a
natureza da fonte que lhe está subjacente: consensual ou legal da obrigação de quem paga.

121
Cfr. Paulo Jorge Lopes FERREIRA. (2012), op. cit ,. p. 47
122
Ibidem
123
Ibidem
124
Ibidem
125
Cfr. Valdano Afonso Cabenda PEDRO (2013), O Imposto, Sua Importância Nas Finanças Públicas
Angolanas, p. 10
126
Cfr. José Casalta NABAIS (2004), O dever fundamental de pagar impostos, contributo para a
compreensão do Estado fiscal contemporâneo, Almedina Coimbra, pág. 682; Citado por: Valdano
Afonso Cabenda PEDRO (2013), Op Cit, p. 10

39
Sob este prisma, haverá receitas que o Estado arrecada, em virtude de obrigações resultantes
de negócios jurídicos, ou seja, de manifestações de vontade de as criar: receitas voluntárias,
e haverá receitas que o Estado arrecada, em virtude de obrigações impostas, pela lei aos
cidadãos, e que resultam da ocorrência de determinados factos (que revelam uma determinada
capacidade contributiva): receitas coactivas127.
Segundo o critério jurídico, a classificação das receitas ou meios de financiamento do
Estado pode apresentar-se do seguinte modo128:
1. Preços negocialmente estabelecidos que o Estado recebe pela venda dos produtos do seu
domínio privado, pela prestação de alguns serviços e pela venda de bens semi-públicos, estas
são receitas que se fundamentam em obrigações voluntárias assumidas pelos cidadãos.
2. Prestações que o Estado cobra sem dar especificamente nada em troca a quem as paga
(impostos) ou que implicam uma contrapartida a quem as paga, que pode retirar determinada
utilidade relacionada com o funcionamento de um serviço ou a utilização de um bem (taxa).
3. Somas pecuniárias que o Estado obtém através do recurso ao crédito (empréstimos).

127
Cfr. Elisa Rangel NUNES (2011), Lições de Finanças Públicas e de Direito Financeiro, 3.ª Edição
revista e actualizada, Luanda, p. 53 - 54
128
Cfr. Valdano Afonso Cabenda PEDRO (2013), Op Cit, p. 10

40
CAPITULO II - A AUTONOMIA FINANCEIRA COMO
GARANTE DO DESENVOLVIMENTO DAS AUTARQUÍAS
LOCAIS EM ALGUNS PAISES DA LUSOFONÍA.
2.1. Em Portugal
Nos termos do art.º 238.º n.º 1 da Constituição portuguesa (CRP), as autarquias
locais têm património e finanças próprias. Numa leitura juridicamente orientada, e tendo
em conta os dados fornecidos pelo legislador ordinário (especificamente a Lei 73/2013,
genericamente considerada e lei das finanças locais - LFL), ter “património e finanças
próprias” significa ser titular de um conjunto vasto de prerrogativas, as quais, na sua
globalidade, podem ser vistas como o núcleo essencial de uma garantia institucional, aí
se incluindo a suscetibilidade de ter património próprio (e as consequentes possibilidades
de administração e alienação, quando for caso disso); de ter orçamento próprio, distinto
do orçamento do Estado; de ter tributos próprios (receitas tributárias por si geridas ou cuja
arrecadação para si reverta); de ter possibilidades de recorrer ao crédito; e de praticar os
seus próprios actos de tesouraria, sem dependência de autorizações administrativas
externas129.

Porém, este enfoque positivo e garantístico da autonomia financeira local — que,


inclusivamente chega ao ponto de constituir um limite material de revisão constitucional
— não existe isoladamente, antes devendo ser complementado com um enfoque restritivo
ou negativo que coloca em evidência as respetivas limitações e inerentes
responsabilidades130.

Duas ideias devem aqui ser salientadas.

Por um lado, não obstante o importantíssimo estatuto que pode desempenhar e a


importantíssima garantia em que se materializa, a autonomia financeira não pode ser
entendida como independência. A corroborar tal conclusão apresentam-se não apenas os
denominados limites naturais (por exemplo, nem todos os entes locais dispõem dos
mesmos recursos naturais para captar receitas de natureza patrimonial e nem todas eles
dispõem do mesmo número de habitantes para captar receitas tributárias ou per
equitativas ), como também os limites legais (impostos pelo ordenamento jurídico). No
contexto destes últimos relevam quer as exigências subjacentes ao princípio da reserva

129
Cfr. Joaquim Freitas da ROCHA, Autonomia e sustentabilidade financeira das autarquias locais,. p. 2
130
Cfr. art.º 288.º, alínea n) da CRP, Citado por. Joaquim Freitas da ROCHA, op. cit. p. 2

41
de lei (e.g., os limites de conformação normativa referentes à disciplina jurídica dos
impostos), quer as imposições decorrentes do Direito da União europeia, e
particularmente do Tratado sobre o funcionamento da União europeia (TFUE).
Compreensivelmente, estas coordenadas de contraposição influem decisivamente quando
se perceciona a autonomia local de um modo abrangente e global, não admitindo que a
mesma se reconduza a um mero agregado de poderes, faculdades ou prerrogativas de
natureza política, de uso mais ou menos discricionário ou incontrolado131.

Por outro lado, uma análise racional impõe a constatação de que pode haver um mau
uso da autonomia financeira, não se tornando difícil descortinar situações de uso indevido
de dinheiros públicos por parte de entes locais. Aqui deve ser acentuada, não tanto a
componente da receita pública — embora esta também o possa ser, pois por vezes ela é
sustentada quase exclusivamente em crédito a médio e longo prazo impagável, ou em
alienações de património inalienável ou ainda em taxas aparentes (escondendo
verdadeiros impostos) —, mas principalmente a componente da despesa pública,
colocando em evidência que muito gasto é desnecessário, injustificado e / ou
desadequado, violando flagrantemente um princípio essencial que é o da seletividade do
gasto público. Em consequência, num avultado número de situações, a autonomia
financeira dos entes locais degenera em patologia financeira, quando não em autênticas
situações de ruptura ou verdadeiro estado insolvência (de facto, não de Direito)132.

2.2. Em Cabo – Verde


O artigo 3º da Lei nº 134/IV/95, 3 de Julho, confere a autonomia financeira aos
municípios, facultando-lhes os meios e o poder financeiro indispensáveis para levar a
cabo a prossecução das suas atribuições. Assim, o Orçamento das Autarquias Locais é
independente do Orçamento do Estado, como decorre do princípio da autonomia
financeira prevista na Lei das Finanças Locais. Porém, as transferências de meios
financeiros devem ser equivalentes às respectivas atribuições consagrando deste modo o
direito de as autarquias locais se auto-administrarem e gerirem livremente os seus
problemas para promover o desenvolvimento à base da governação local133.

131
Cfr. Joaquim Freitas da ROCHA, op. cit. p. 3
132
Ibidem
133
Cfr. Floresvindo BARBOSA, (2007), “Análise Financeira dos Municípios em Cabo Verde de 1996 a
2002”.

42
Neste sentido, “os municípios participam nas receitas provenientes dos impostos
directos e indirectos do Estado, nomeadamente, o Imposto Único sobre os Rendimentos
(IUR), o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), o Imposto sobre Consumos
Especiais (ICE), o Imposto de Selo e os Direitos Aduaneiros” 134.

Para esse efeito foi criado o Fundo de Financiamento dos Municípios (FFM), que é
anualmente dotado no Orçamento do Estado pela transferência não consignada de 10%
do valor dos impostos directos e indirectos efectivamente cobrados no penúltimo ano
anterior aquela a que o Orçamento se refere, excluindo os impostos eventualmente
cobrados pela administração fiscal do Estado135.

Salienta-se que a percentagem do FFM foi aumentada, pois anteriormente era apenas
de 7% e, segundo as informações do Sr. Ministro da descentralização, esse aumento foi
exactamente para “favorecer a descentralização, promover mais recursos”, uma vez que
o montante anteriormente transferido era insuficiente136.

No entanto, embora com o aumento do FFM e com os direitos à cobrança dos


impostos, bem como as taxas acima referidas e tarifas, aos olhos do Ministro da
descentralização, e não só, estes recursos revelam-se insuficientes para que os municípios
possam cumprir todas as suas atribuições, tendo em conta que as despesas de
funcionamento são elevadas e, para além disso, os municípios ainda são os únicos
empregadores, sobretudo os do meio rural, devido à falta de empresas geradoras de
empregos e receitas para os municípios. Deste modo, a maioria dos municípios
restringem-se apenas aos recursos de carácter endógeno e alguns no âmbito da cooperação
descentralizada137.

(…) Temos recursos próprios provenientes da venda de lotes, que é a maior fatia dos
recursos, temos ainda o imposto sobre o património, temos também as taxas concessão
de licenças, os emolumentos municipais, receitas provenientes de emissão de certidões e
temos conseguido alguns financiamento externos directamente com a alemã, durante

134
Cfr. Floresvindo BARBOSA, op. cit.
135
Ibidem.
136
Cfr. Antonieta Lopes ORTET, Desconcentração, descentralização e desenvolvimento local em Cabo
Verde: os casos dos concelhos da Praia e do Tarrafal. Lisboa: ISCTE-IUL, 2008. Dissertação de
mestrado. Extraido em: 22/02/2021, Disponível em www:<http://hdl.handle.net/10071/9156>. p. 81
137
Ibidem

43
algum tempo, temos projectos que também foram financiados directamente do exterior
(Presidente da Câmara Municipal do Tarrafal).

Para além disso, segundo os entrevistados, existe o problema de ordem financeira a


nível geral, fazendo com que estes não consigam cumprir cabalmente todas as suas
atribuições. Isto é, não há uma correspondência entre as transferências das atribuições e
o correspondente montante do FFM transferido, o que limita a autonomia financeira das
autarquias, fazendo com que a autonomia seja relativa138.

Contudo, o presidente da Câmara Municipal do Tarrafal, por sua vez confirma que
de facto o aumento do FFM veio melhorar financeiramente a referida Câmara, mas,
acrescentou ainda que essa melhoria também se deve ao facto da alienação da parte de
acção que aquela Câmara possuía na companhia de tabacos de Cabo-Verde, o que fez
com que a questão financeira não se traduzisse por enquanto, num problema, com o qual
enfrenta a maioria, ou senão, todos os municípios do país139.

“Neste momento estamos a viver um momento financeiro que nos dá uma certa
tranquilidade (…) que até facilita a tomada decisão. (…) Já há mais de dois três anos
que temos estado a conseguir os recursos necessários para a concretização dos projectos
dos nossos planos de actividades (…) alienamos parte das acções que tínhamos na
sociedade cabo-verdiana de tabacos, (…) esses recursos estão depositados a prazo no
banco, até para dar mais … mais e… autonomia financeira (…) também graças ao
reforço da comparticipação dos municípios no orçamento geral do estado” (Presidente
da Câmara municipal do Tarrafal).

Em síntese pode afirmar-se que de todas as modalidades de autonomia analisadas, só


a política se traduz num facto real, uma vez que em todas as autarquias os seus
representantes foram eleitos pelo povo e dado a esse facto gozam de um amplo poder de
decisão a nível político. Quanto à autonomia administrativa e financeira estas são
limitadas ou condicionadas e logo relativas. A primeira é condicionada pela falta de meios
técnicos, materiais e humanos necessários, sobretudo nos municípios do meio rural, dada
a elevada concentração destes meios apenas nas três ilhas, São Vicente, Sal e Santiago,

138
Cfr. Antonieta Lopes ORTET, op. cit,. p. 82
139
Ibidem

44
sendo a última com a maior concentração na capital. Neste sentido, a maioria dos
municípios deparam-se com problemas relativos à realização das suas tarefas140.

No que concerne à autonomia financeira, esta é limitada pela conjugação de três


factores, por um lado, há o problema da não correspondência entre o montante transferido
e as respectivas atribuições, por outro lado, é agravada ainda pelo baixo potencial das
receitas ligadas às actividades económicas locais, sobretudo nos municípios do meio rural
e, por fim, “a descentralização dos serviços de cobrança dos impostos tem sido muito
lenta, dadas as limitações das estruturas e dos instrumentos de acesso aos recursos
provenientes das receitas fiscais” 141.

2.3. Em Moçambique
Em função da legislação autárquica moçambicana, o que foi concedido aos
municípios é mesmo autonomia, o que faculta-lhes elaborar, aprovar e executar os
respectivos planos de actividades e orçamentos dentro dos limites que a lei lhes atribui.
Porém, não são independentes aos órgãos centrais do Estado, visto que, ainda que
elaborado e aprovado localmente, os orçamentos, devem ser ractificados pelo ministério
de tutela, nos termos do artigo 11 da Lei nº 1/2008, de 16 de Janeiro. Os actos
administrativos das autarquias locais estão também sujeitos a verificação da legalidade
nos termos da lei, conforme estabelece o nº 2 do artigo 277 da Constituição da República
de Moçambique (CRM)142.

Não há que se falar em autonomia local plena sem recursos financeiros apropriados.
A autonomia financeira dos municípios é a que advém fundamentalmente de receitas
fiscais próprias que possibilitam uma menor dependência das verbas da Administração
Central. Entretanto, esta dependência não se mostra ser em menor escala, visto que, ela é
quase total na maioria dos municípios do país, exceptuando os de nível A e B, que
conseguem pagar salários de funcionários, remunerações dos Titulares e Membros dos
Órgãos das Autarquias Locais dentro dos limites fixados por lei e ainda financiar seus

140
Cfr. Antonieta Lopes ORTET, op. cit,. p.83
141
Cfr. Floresvindo BARBOSA, op. cit.
142
Cfr. Simão XAVIER, AUTONOMIA FINANCEIRA DAS AUTARQUIAS MOÇAMBICANAS: Uma
Utopia?. Disponivel em: https://www.webartigos.com/artigos/autonomia-financeira-das-autarquias-
mocambicanas-uma-utopia/165388, acesso em: 22/02/2021

45
programas. O termo autonomia fica sufocado quando o grau de dependência é
extremamente excessivo143.

As Autarquias sendo governos em miniatura, então a lei deveria abrir espaço para
que estes representantes legítimos de seus autarcas tivessem a iniciativa ou propusessem
áreas que alargassem a base tributária autárquica e não se limitar nos órgãos permitidos
pelo artigo 183 da CRM, nomeadamente: os deputados, as bancadas parlamentares, às
comissões da Assembleia da República, o Presidente da República e o Governo144.

As receitas não fiscais que são a base de manobra das autarquias locais mostram-se
insustentáveis em certos Municípios, como os de nível C e D. Estas constituem a fonte
principal de receitas para a autonomia financeira das autarquias, ainda que a lei imponha
que:

Na determinação do valor das tarifas e taxas a cobrar, […] devem actuar com
equidade, sendo interdita a fixação de valores que, pela sua dimensão, ultrapassem uma
relação equilibrada entre a contrapartida dos serviços prestados e o montante recebido
(nº 2 do artigo 7 da Lei nº 1/2008, de 16 de Janeiro)

Este facto vem confirmar que as autarquias não possuem uma autonomia plena, mas
sim relativa, na medida em que, os órgãos autárquicos não possuem tanta liberdade (como
da soberania do Estado) por isso devem obediência à Constituição, à Lei e demais
legislação, dentro dos poderes atribuídos e os fins conferidos no quadro legal145.

Assim, as taxas e tarifas a praticar devem ser moderado (socais), facto que, em certas
autarquias, poderá haver sustentabilidade (autonomia plena) e noutras dependências total
aos fundos advindos dos cofres do Estado. E, infelizmente as pequenas autarquias, as de
vila, poderão não ser uma alternativa contígua a sustentabilidade local, em algumas
circunscrições municipais, capaz de se desapegar num futuro próximo dos fundos do
Estado146.

Para que a autonomia financeira seja real, é necessário que na autarquia hajam
condições económicas, infra-estruturais e humanas suficientes para que ela tenha a devida

143
Cfr. João BILHIM, A Governação Nas Autarquias Locais. Principia, Publicações Universitárias e
Científicas. Porto: p.12
144
Cfr. Simão XAVIER, op cit.p. 8
145
Ibidem. p. 9
146
Ibidem

46
autonomia. Caso contrário, a autonomia atribuída não será efectiva, se a base legal que
prevê tal autonomia municipal ser incapaz de produzir efeitos que levem à concretização
do fim da própria norma (autonomia como independência nas esferas política,
administrativa e financeira)147.

Contudo, As autarquias moçambicanas ainda não vivem a real autonomia financeira,


pois estas são fortemente dependentes das transferências do Estado, recorrem destas
transferências para realizar maior parte dos seus programas municipais. Caso um dia o
Estado decida paralisar as transferências para os municípios, o que se esperará serão
dívidas com os funcionários, paralisação de muitos serviços municipais e
consequentemente, será o fim dos governos municipais. Esta dependência que hoje se
observa fragiliza a actuação dos respectivos órgãos, facto que faz com que as edilidades
não se esforcem ou não explorem todas fontes de suas receitas de forma a capitalizar a
sua autonomia. O outro aspecto que se pode apontar é a fraca proactividade dos membros
dos Conselhos Municipais em operacionalizar seus programas, ficando apegados a
actividades de rotina, não apostando assim novas parcerias, busca de potencialidades
internas e torna-las fontes de receita. Em outras zonas municipalizadas, o apego é
derivado da forma rápida e agressiva que este tipo de governação chegou, visto que,
muitas só foram elevadas sem antes terem condições suficientes ou adequadas para seu
funcionamento e muito menos a respectiva população percebem desse fenómeno de
autarquias locais. O pessoal afecto nas autarquias é outro factor agudizante à
sustentabilidade local, visto que, maior parte de técnicos são provenientes dos governos
locais (administração), sem experiências profundas para enfrentar desafios de serviços
municipais, mas mesmo assim, todas autarquias estão caminhando cada uma ao seu passo,
na espectativa de um dia conseguirem autonomia plena148.

147
Cfr. Mónica Ellen Pinto Bezerra ANTINARELLI (2012), Federalismo, Autonomia Municipal e a
Constitucionalização Simbólica: uma análise da dependência financeira dos pequenos municípios
mineiros. Belo Horizonte, citado por: Simão XAVIER, op cit.p. 10
148
Cfr. Simão XAVIER, op cit.p. 16

47
CAPITULO III - A AUTONOMIA DO SISTEMA
FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO DO MUNICIPIO DO
TÔMBWA (NAMIBE).
3.1. Tômbwa: Caracterização Fisico – Geográfica
O Tômbwa, é um dos 5 Municípios da Província do Namibe, situa-se entre o Mar
e o Deserto com uma superfície de 18.019 km², limita-se a Norte pelo Município de
Moçâmedes, a Sul pela República da Namíbia, a Nordeste pelo município do Virei, a
Sudeste pela Província do Cunene e a Oeste pelo Oceano Atlântico, as suas coordenadas
extremas são: 15ᵒ 37´- latitude Sul Norte, 17ᵒ 10´- latitude Sul, 12ᵒ 30´ - longitude Este e
11ᵒ 46´- longitude Oeste149.

3.1.1. Clima, Flora e Fauna


O seu clima é bastante variável, desértico – húmido com escassas pluviosidades,
o tempo de inverno é o mais prolongado, cuja à temperatura máxima anual é de 30 ᵒC,
alcançando a média de 17 ᵒC, e a mínima entre os 12 ᵒC e 15 ᵒC, ao passo que o tempo de
verão tem a duração de quase 4 meses150.

Os ventos que se assistem no seu perímetro sopram no sentido noroeste, e por


vezes, até ao oeste. A variação diurna de temperatura do vento causa brisas locais que em
regra, no período da tarde sopram da terra para o mar. No verão, é normal soprar de
quadrante leste (isto é, de Junho á Agosto), cujos ventos são quentes secos, que originam
tempestades de areias. Maioritariamente, os solos são arenosos, argilosos como
características desérticas e outros valiosos, A sua vegetação é predominantemente
desértica, contudo, algumas áreas estão revestidas de florestas, encontrando nelas alguns
animais domésticos e selvagens.151

149
Informação fornecida por Marcolino SATCHAWAYALA, Tômbwa, Entrevista outubro, 2020,
Entrevistador, Etelvino L. F. Teófilo, Questionário Eletrónico (4 perguntas).
Entrevista concedida para a pesquisa sobre A autonomia financeira e o sistema tributário como fonte de
financiamento do orçamento autárquico.
150
Informação fornecida por: Marcolino SATCHAWAYALA, Director Municipal do Gabinete de
Estudos, Planeamento e Estatísticas – GEPE - Tômbwa, Entrevista outubro, 2020 , Entrevistador,
Etelvino L. F. Teófilo, Questionário Eletrónico (4 perguntas).
Entrevista concedida para a pesquisa sobre A autonomia financeira e o sistema tributário como fonte de
financiamento do orçamento autárquico.
151
Ibidem

48
O rio Curoca é de curso intermitente, tem como principal afluente o Otchifengo,
que faz parte da vertente Atlântica. O rio Cunene de caudal permanente, ocupa toda a
extensão da fronteira sul do Município com uma capacidade hídrica considerável152.

3.1.2. Densidade Populacional do Município


O Município conta com uma população estimada em cerca de 65.924 habitantes
dentre os quais 32.698 do sexo masculino e 33.226 do sexo feminino, de acordo com o
Censo de 2014 mas, presume-se que actualmente a densidade esteja a rondar em 187.573
habitantes153.

3.1.3. O Poder Local


O poder Local é constituído com base o Decreto Presidencial nº 202/19 de 25 de
Junho, onde o Estatuto Orgânico da Administração Municipal do Tômbwa compreende
os seguintes Órgãos e Serviços154:

1. Órgão de Direcção:
a) Administrador Municipal;
b) Administração Municipal
c) Administradores Municipais-Adjuntos.
2. Órgãos de Apoio Consultivo:
a) Conselho Municipal de Auscultação da Comunidade;
b) Conselho Municipal de Concertação Social;
c) Conselho Municipal de Vigilância comunitária;
3. Serviços de Apoio Técnico:
a) Secretaria Geral;
b) Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística;
c) Gabinete Jurídico, Intercâmbio e Apoio ás Comissões de Moradores;
d) Gabinete de Recursos Humanos;
e) Gabinete de Comunicação social.

152
Ibidem
153
Ibidem
154
Informação Fornecida por: Joaquim Baza AUGUSTO, Administrador Municipal. Adjunto. p/ Área
Económica e Financeira do Tômbwa, Entrevista março, 2021, Entrevistador, Etelvino L. F. Teófilo,
Questionário Eletrónico (9 questões).
Entrevista concedida para a pesquisa sobre A autonomia financeira e o sistema tributário como fonte de
financiamento do orçamento autárquico.

49
4. Serviços de Apoio Instrumental:
a) Gabinete do Administrador Municipal e dos Administradores Municipais-
Adjuntos;
b) Comissão Municipal de Protecção Civil;
5. Serviços Executivos Desconcentrados:
a) Direcção Municipal da Educação;
b) Direcção Municipal da Saúde;
c) Direcção Municipal de Promoção do Desenvolvimento Económico Integrado;
d) Direcção Municipal do Ambiente e Saneamento Básico;
e) Direcção Municipal de Acção Social, Antigos combatentes e Veteranos da Pátria;
f) Direcção Municipal dos transportes, Tráfego e Mobilidade;
g) Direcção Municipal do Turismo, Cultura, Tempos Livres, Juventude e Desportos;
h) Direcção Municipal de Energia e Águas;
i) Direcção Municipal de Infra-Estruturas, Ordenamento do Território e Habitação;
j) Direcção Municipal de Agricultura, Pecuária e Pescas;
k) Direcção Municipal dos Registos e Modernização Administrativa;
l) Direcção Municipal de Fiscalização.

3.2. Sistemas de Financiamentos no Munícipio do Tômbwa


O financiamento é um meio auxiliar e não um fim da ação autárquica.
Disponibiliza os recursos necessários para as instituições do poder local implantar
politica, politicas essas que são a escolha responsável dos autarcas legitimados pelo voto
popular155.

Não se deve, porém, ignorar que os recursos financeiros são uma condicionante
importante de escolhas politicas. A atenção que os autarcas devem prestar ás finanças
locais é provavelmente maior hoje do que no passado. Com efeito, e do lado da despesa,
as autoridades municipais veem-se confrontando com responsabilidades crescentes, seja
por força do aproveitamento dos valiosos investimentos em infraestruturas efetuadas das
competências adicionais da administração central ou de maiores exigências de qualidade
por parte dos cidadãos locais156.

155
Cfr. José Graça Lopes SILVESTRE, op cit,. p. 44
156
Ibidem

50
Ao mesmo tempo, do lado da receita, há cada vez mais desafios. As regras de
equilíbrio orçamental existente, dependentes da classificação das rubricas em correntes e
de capital, e fixada há muitos anos atrás, estão a atrofiar a gestão corrente. A persistente
fraca diversidade de instrumentos financeiros próprios, vulnerabiliza os municípios, ao
expô-los em demasia a saúde económica de um numero reduzido de sectores de
actividade. A concentração da população e actividades económicas no litoral limita
consideravelmente o acesso a recursos próprios e a capacidade de actuação dos
municípios pequenos do interior. Há potencialidades nas tarifas e taxas que devem ser
exploradas157.

O enquadramento internacional das finanças publicas não favorece um modelo de


financiamento local assente em transferência sempre crescente para todos os municípios.
Finalmente, o endividamento virtuoso para financiar despesas de investimentos,
comporta sérios riscos para a sustentabilidade futura dos municípios que têm de ser
enfrentados quanto antes158.

A generalidade dos sistemas de financiamento das autarquias locais comporta


subvenções (gerais e especificas), impostos e receitas próprias não fiscais donde ressaltam
os preços pagos pelos serviços prestados e os rendimentos de propriedade. Marginalmente
constam-se ainda as liberdades financeiras á terceiros a favor das autarquias e o recurso
ao endividamento, que como se sabe, gera receitas não efetivas, uma vez que há que
proceder ao seu reembolso e ao pagamento dos encargos que a divida originará159.

No sistema de repartição dos recursos pelos municípios encontramos os três


grupos de receitas referidas, com predomínio para a subvenção, seguem-se as receitas
fiscais, as receitas provenientes da prestação de serviços ou da venda de bens e por ultimo,
o recurso ao crédito160.

Em teoria, a razão de ser uma destas formas de financiamento está associada á


natureza dos bens e serviços fornecidos pelos autarcas e a residência/natureza jurídica dos
seus utentes161.

157
Ibidem. p. 45
158
Cfr. José Graça Lopes SILVESTRE, op cit,. p. 45
159
Ibidem
160
Ibidem
161
Ibidem

51
A produção de bens públicos justifica o financiamento através de uma subvenção
ou impostos, enquanto que a prestação de bens privados, equiparáveis, ou que entram em
concorrência com os fornecidos pelas empresas, deve ser financiado na base dos
preços162.

Quando maioritariamente os utentes são residentes no município, é aconselhável


que o financiamento esteja assente nos impostos locais, mas se existe uma universalidade
de utilizadores (residentes e não residentes) ou se a utilidade dos mesmos ultrapassa o
beneficio da coletividade local e se projeta como utilidade social generalizada, justifica-
se o financiamento através da concessão de uma subvenção por uma autoridade supra -
local (regional ou nacional)163.

Numa sociedade caracterizada cada vez mais pela mobilidade individual dos seus
membros é difícil estabelecer os contornos acima descritos, mas não custará admitir que
do primeiro grupo fizessem parte, por exemplo, a iluminação publica e os espaços verdes,
do segundo grupo a rede viária, no que se refere á diversidade geográfica de utentes e o
ensino no que importa ás economias externas de fricção social164.

Os serviços económicos mais comuns são o fornecimento de água, o direito de


utilização de equipamentos comerciais do município e da infraestrutura de apoio á
produção, como sejam os parques industriais165.

O Estado reparte os recursos públicos adotando mecanismos de subvenção (geral


ou especifica) criando impostos locais ou partilhando os nacionais com as autarquias166.

Em regime que assentam nas competências delegadas, os financiamentos


especificam ”per capita” ou por “custo padrão” constitui geralmente mais adaptada167.

Em matéria de impostos não há um modelo que possa servir de paradigma. Há, no


entanto denominadores comuns. Os impostos sobre o rendimento são muito disputados,
pelas autarquias em especial, devido a sua elasticidade, mas deve salientar-se que os

162
Ibidem
163
Ibidem, p. 46
164
Cfr. José Graça Lopes SILVESTRE, op cit,. p. 46
165
Ibidem
166
Ibidem
167
Ibidem

52
municípios situados em regiões onde é maior a prosperidade são fortemente beneficiados
relativamente aos de menores níveis de rendimento168.

Os impostos sobre a propriedade têm grande tradição, quer os que incidem sobre
prédios urbanos, quer os que incidem sobre terras agrícolas ou terrenos destinados á
construção. Porém a sua elasticidade é geralmente fraca porque as reavaliações de
propriedade não são automatizadas nem se fazem de modo periódico e , quando se fazem,
são raros, se tem de mitigar a sua aplicação, ou mesmo suspendê-la169.

Alguns Países, adotam mecanismos de coordenação de níveis de fiscalidade,


nomeadamente através de sistemas de créditos por impostos, que consiste na dedução, no
montante de imposto a pagar aos poderes centrais do valor das coletas pagas ás
autarquias170.

Os impostos locais são concebidos para responder a determinados princípios de


autonomia, democracia e de liberdade autárquica171.

-Decisão sobre o seu lançamento, base de incidência, taxas e regime de benefícios


fiscais172.

Na medida em que por norma o imposto autárquico está associado ao beneficio,


exige dele transparência, para uma efetiva responsabilização das politicas locais. Como
já se referiu, a democracia aconselha a que os impostos locais devem incidir sobre quem
reside na autarquia, tendo por isso a possibilidade de controlar, pelo voto e por outros
mecanismos de participação direta dos cidadãos locais173.

Se num prato de balança colocarmos, os valores da liberdade autárquica e no outro


temos de colocar os direitos dos cidadãos, a liberdade das administrações locais
contrapõe-se a necessidade de harmonização fiscal a nível nacional e mesmo comunitário.
O cidadão é igual perante a lei. Por isso a liberdade autárquica tem de estar fundada nas
preferências dos cidadãos e no direito á diferença de cada uma das comunidades, desde

168
Ibidem
169
Ibidem
170
Cfr. José Graça Lopes SILVESTRE, op cit,. p. 46
171
Ibidem, p. 47
172
Ibidem
173
Ibidem

53
que não prejudiquem a coesão nacional, a unidade do Estado e as regras da
concorrência174.

A equidade vertical que diz respeito á capacidade contributiva dos cidadãos, deve
complementar-se com qualidade horizontal, ou seja, a que se exerce sobre o território,
principio que deve colocar todo o contribuinte em igualdade de circunstâncias, qualquer
que seja o município. Porque deve haver um compromisso entre princípios antagónicos,
os poderes de autonomia autárquica, em matéria fiscal, devem ser mitigados e sempre
fundados no exercício da democracia local devendo caber diretamente aos cidadãos uma
grande responsabilidade nesta matéria175.

No âmbito da técnica fiscal, dos critérios de gestão e de controlo a exercer pelo


contribuinte exige-se aos impostos locais176:

-Ligação ás atividades autárquicas;

-Base tributária estável;

-Previsibilidade dos montantes de cobrança;

-Crescimento sustentado;

-Simplificação administrativa e facilidade de gestão:

-Alguma diversificação do seu leque;

-Abrangência (o maior número possível de contribuintes);

-Não transferibilidade para não residentes.

O município do Tômbwa não possui um sistema financeiro propriamente dito.


Porquanto que as políticas relacionadas com a elaboração e gestão do Orçamento Geral
do Estado (OGE) são de âmbito nacional. Entretanto, anualmente é alocado verbas do
OGE para a realização de despesas e investimentos para a satisfação das necessidades
coletivas. Por outro lado, com a aprovação do Decreto Presidencial nº47/18 de 14 de
fevereiro o Município tem vindo a arrecadar taxas via Portal do Munícipe, importa

174
Ibidem
175
Ibidem
176
Cfr. José Graça Lopes SILVESTRE, op cit,. p. 47

54
salientar que os valores arrecadados ainda são exíguos face as necessidades dos órgãos
da Administração Local do Estado177.
A centralização substancial da execução do OGE contribui para que a execução
financeira de cada exercício económico não exceda a 60% do tecto orçamental; por outro
lado, a exiguidade de receitas locais arrecadadas no Portal do Munícipe é insuficientes
para satisfazer as necessidades e investimentos prioritários do Município178.
A fraca capacidade actual de arrecadação de receitas locais poderá condicionar o
crescimento da autarquia e torná-la dependente das verbas do OGE. As arrecadações
locais actualmente nem cobrem os custos com pessoal dos órgãos, portanto a solução de
alguns problemas só serão resolvidas ou minimizadas com os fundos do OGE179.
Presumindo que o Órgão Titular do Poder Executivo determine que as autarquias
locais sejam implementadas daqui há mais 1 ano, podemos afirmar que o Município do
Tômbwa ainda assim até lá não estará em condições de suportar as autarquias, pois,
existem algumas situações de carácter interno que tem de ser totalmente sanadas, como é
o caso da prestação de contas à a Administração por parte da AGT e as taxas e outras
arrecadações de competência das Administrações Municipais são ínfimas, por exemplo
no ano de 2020 a arrecadação anual fixou-se abaixo de 12.000.000,00 KZ (Doze Milhões
de Kwanzas), resultantes dos pagamentos de emolumentos, licenças e multas através dos
serviços da Secretaria da Administração municipal, Direcção da Saúde, Fiscalização, dos
Serviços Económicos, dos Tempos Livres, Serviços Técnicos, Transportes e da
Agricultura, este valor está muito distante de pelo menos fazer funcionar os órgãos da
Administração Local do Estado, não mencionamos os impostos porque a fonte da nossa
pesquisa centrou-se somente na Administração municipal porque a Repartição Fiscal do
Tômbwa negou-nos fornecer informações acerca do nosso tema, o mesmo acontece com
dados sobre as pescas, o imposto é pago além da AGT nos serviços da Capitania do

177
Informação fornecida por: Joaquim Baza AUGUSTO, Administrador Municipal. Adjunto. p/ Área
Económica e Financeira do Tômbwa, Entrevista março, 2021, Entrevistador, Etelvino L. F. Teófilo,
Questionário Eletrónico (9 questões).
Entrevista concedida para a pesquisa sobre A autonomia financeira e o sistema tributário como fonte de
financiamento do orçamento autárquico.
178
Ibidem
179
Informação fornecida por: Joaquim Baza AUGUSTO, Administrador Municipal. Adjunto. p/ Área
Económica e Financeira do Tômbwa, Entrevista março, 2021, Entrevistador, Etelvino L. F. Teófilo,
Questionário Eletrónico (9 questões).
Entrevista concedida para a pesquisa sobre A autonomia financeira e o sistema tributário como fonte de
financiamento do orçamento autárquico.

55
Município de Moçâmedes, ou seja, praticantes da pesca artesanal do município do
Tômbwa, pagam os seus impostos na Capitania do município de Moçâmedes180.

3.3. Fundamento dos Tributos


O estudo do tributo (do termo latino tributu), de um modo geral, abarca uma trípla
dimensão ou compreensão, sendo que, primeiro, no campo das relações entre Estado e
cidadão pode ser entendido como toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou
cujo valor nela se possa exprimir, que não se constitua sanção de acto ilícito, instituída
em lei e cobrada mediante actividade administrativa plenamente vinculada; segundo, no
campo das relações entre Estados, é uma quantia que um Estado paga a outro em sinal de
dependência; e, finalmente, no campo das relações entre indivíduos, pode ser sinônimo
de homenagem. Por exemplo, tributo ao Iron Maiden181.

Segundo os livros de história, os tributos surgiram como uma espécie de


indeminização de guerra, em que os povos vencidos, em sinal de submissão ao povo
vencedor, tinham que efectuar pagamentos em ouro, escravos ou qualquer outra
modalidade. Mais modernamente, o tributo passou a ser exigido dos próprios súbditos e
ainda com características de submissão e servidão, só que desta vez perante o Estado. No
-quadro do estudo do fundamento dos tributos de que o Estado se serve, devido a sua
intensa actividade financeira envolvendo despesas e a sua contrapartida receitas, a
conservação dos bens públicos, o patrimônio, o controle monetário, o orçamento público,
demandam a necessidade de arrecadação de tributos, para garantir o seu meio de
subsistência, para dirigir a economia e direcioná-la para o bem-estar social.
Num Estado de Direito, a arrecadação de receitas e a realização de despesas pelo Estado
não pode ser feita de forma discricionária ou arbitrária; ela pauta-se por princípios e regras
jurídicas182.
Segundo a formulação de Elisa Rangel, a actividade do Estado e dos restantes entes
públicos concretiza-se na realização de despesas e na arrecadação de receitas ou se
quisermos, na obtenção, dispêndio, e afectação dos dinheiros públicos. O Estado adquire

180
Ibidem
181
Cfr. A. B. H. FERREIRA. (1986), Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro.
Nova Fronteira. p. 1712.
182
Cfr. Jónatas E.M. MACHADO, (2017), Direito Fiscal Angolano, 2ª edição, Petrony, Fevereiro. p. 13.

56
receitas, transforma essas receitas em despesas e essa actividade dá origem a um
complexo de relações entre os particulares e os agentes do Estado (normas internas)183.
De acordo com CAUXEIRO, tributos são “prestações patrimoniais, pecuniárias
ou susceptiveis de avaliação pecuniária, sem caracter de sanção, impostas pelo Estado ou
outras entidades de direito público ou concessionárias de serviços públicos, com vista à
satisfação das necessidades colectivas e à prossecução do interesse público”184.
A Lei Quadro do Orçamento Geral do Estado no seu art. 8.º, n.º 2, emprega o
conceito tributo, com o sentido de tratar-se de uma receita derivada, que compreende no
seu seio, os imposto, as taxas e as contribuições185.
Na mesma senda, sustenta a autora supracitada que, são tributos todas as receitas
públicas que comportem as seguintes características: a) receitas coactivas ou obrigatórias,
ou seja, resultam de uma imposição obrigatória do Estado às entidades sujeitas à sua
autoridade, e não de um contrato ou outro comportamento livre destas entidades; b) têm
como finalidade o financiamento de encargos públicos, pela participação dos cidadãos e
outras entidades ou instituições sujeitas ao poder do Estado, na criação de receitas, e não
na punição da prática de actos considerados ilícitos.
Para J.L. Saldanha Sanches e João Taborda da Gama, tributos são, em termos
latos, as receitas cobradas pelo Estado ou por outros entes públicos para a satisfação de
necessidades públicas, sem função sancionatória186.
Para estes autores, é comum agruparem-se os tributos em três figuras distintas: os
impostos, as taxas e as contribuições especiais. Para os referidos autores, para além da
figura central do imposto, o legislador angolano utiliza o conceito “tributo” como
categoria mais geral para as receitas coactivas do Estado que não tenham fins
sancionatórios, referindo as taxas (art. 165.º 1, alínea o), e art. 88.º da CRA de 2010 e as
contribuições especiais (art. 165.º 1, alínea o). Esta tripartição pode ser considerada como
questão pacífica.
Porém, dito isto, é momento reservado para desenvolver cada um dos tipos de tributos
acima considerados, começando pelo conceito de imposto
Imposto

183
Cfr. , Elisa Nunes RANGEL. (2015), Lições de Finanças Públicas e de Direito Financeiro, 6 edição,
Luanda, Abril, p. 71
184
Cfr. Isménia Júnior CAUXEIRO, (2016), Imposto – Tudo o que precisa saber, Plural Editores,
Junho, Luanda, p. 15 e Ver também art. 2.º, n.º 1, al. x) do Código Geral Tributário.
185
Cfr. , Elisa Nunes RANGEL, (2015), op. cit., p. 258
186
Cfr. J.L. Saldanha SANCHES e João Taborda da GAMA, (2010) Manual de Direito Fiscal angolano,
Coimbra Editora, Julho. p. 15.

57
Segundo a formulação de PEREIRA, a noção moderna de imposto tem como
ponto de partida a conhecida definição de Jeze. “o imposto é uma prestação pecuniária,
exigida aos particulares por via de autoridade, a título definitivo e sem qualquer
contrapartida, com vista à cobertura dos encargos públicos. A ela foram introduzidos
posteriormente alguns ajustamentos, designadamente para sublinhar a diversificação das
finalidades do imposto: este deixou de ter como único objectivo a obtenção de receitas
para ser progressivamente visualizado como instrumento de política económica e
social187.
Para CAUXEIRO, “imposto deve entender-se como uma prestação definitiva e
unilateral, estabelecida por lei a favor de uma pessoa colectiva de direito público, para a
realização de fins públicos, e que não constitui sanção de um acto ilícito”188.
Taxas
As taxas são tributos que pressupõem uma contraprestação específica, pecuniária,
ou avaliável em dinheiro, que se pode traduzir (i) na prestação individualizada, concreta
e efectiva de um serviço público, (ii) na utilização de um bem de domínio público ou (iii)
na remoção de um limite ou obstáculo jurídico ao exercício de uma actividade. Assim,
enquanto os impostos são estruturalmente unilaterais, as taxas caracterizam-se pela
bilateralidade, revestindo uma natureza sinalagmática. A taxa, de acordo com a sua
definição, é uma relação obrigacional sinalagmática, pois a prestação do contribuinte é
contraprestação da entidade pública189.
Contribuições Especiais
A contribuição especial é um tributo que nem na doutrina nem na legislação
portuguesa tem sido muito trabalhado, pelo que a sua autonomização assenta
fundamentalmente em critérios financeiros190.
Os fundamentos da contribuição especial assentam nos seguintes pressupostos: a)
ou num benefício individualizado reflexamente resultante da actuação de um sujeito
público (contribuição de melhoria, através da qual se cobram mais-valias resultantes de
certa obra – os denominados encargos de mais valia), b) ou na necessidade de compensar
o sujeito público pelo uso anormal de bens ou serviços públicos por parte de certos
particulares, os quais oneram, pelas maiores despesas públicas, mais gravemente as

187
Cfr, Manuel Henrriques de Freitas PEREIRA, (2017), Fiscalidade, Almedina, SA, Março. p.15
188
Cfr. Isménia Junior CAUXEIRO, (2016), op. cit., p. 16
189
Cfr. Jónatas E.M. MACHADO, (2017), op. cit., pp. 21,22
190
Cfr. , Elisa Nunes RANGEL, (2015), op. cit., p. 279

58
finanças do Estado ou deterioram os bens públicos (a circulação de veículos pesados dá
origem – em algumas ordens jurídicas- ao pagamento do imposto de camionagem). A
satisfação individual é ocasional e indirecta, não resulta directamente dos fins da
actividade estadual que lhe dá origem, nem por outro lado, resulta dela, qualquer
contraprestação específica, dai que a contribuição especial não se confunda com a taxa191.

3.3.1. Tributos Face ao Ordenamento Jurídico Angolano


A Lei n.º 21/14 de 22 de outubro altera o Código Geral Tributário aprovado pelo
Diploma Legislativo n.º 3.868, de 30 de dezembro de 1968, não obstante as diversas
alterações que lhe foram introduzidas, o referido Código, oriundo do período colonial, já
não se ajustava à realidade política, económica e social do País, havendo deste modo a
necessidade de se efectuar uma profunda revisão desse Diploma, tornando-o compatível
com os princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito, reconhecidos na
Constituição da República de Angola, e com as exigências do actual quadro económico,
bem como as especificidades das actividades económicas desenvolvidas por agentes de
micro, pequenas e médias empresas, sem esquecer o desafio que a inserção do País numa
economia globalizada coloca à sua fiscalidade.

Esta nova Lei traz consigo a classificação dos tributos, diz que eles podem ser,
consoante a titularidade do respectivo direito de crédito, estaduais ou locais192.

Consideram-se tributos estaduais, aqueles cujo sujeito activo seja a administração


directa do Estado ou qualquer órgão da sua administração indirecta e tibutos locais, os
aqueles cujos sujeitos activos sejam municípios, organizações supra municipais ou outros
órgãos territoriais do Estado assim designados por Lei193.

Ainda seguindo o estabelecido nessa Lei, os tributos podem ser impostos


incluindo direitos aduaneiros, taxas ou contribuições especiais194.

191
Ibidem, p. 280
192
Cfr. ANGOLA, Lei n.º 21/14 de 22 de Outubro, Código Geral Tributário, Angola: Diário da
República, I SÉRIE – N.º 192 – DE 22 DE OUTUBRO DE 2014, Disponível em :
<http://www.governo.gov.ao/VerLegislacao.aspx?id=528>. Acesso em: 23 de Outubro de 2020.
193
Cfr. art 3º nºs 2 e 3, Código Geral Tributário (ANGOLA, 2014)
194
Ibidem, art 3º nº 4

59
São impostos os tributos com natureza unilateral, em virtude da sua obrigação não
constituir a contrapartida de qualquer prestação individualizada do Estado e demais ente
públicos195.

Consideram-se taxas, os tributos que constituam contraprestações pecuniárias ou


avaliáveis em dinheiro, exigidas por entidades públicas, em regime de direito público, em
virtude da prestação individualizada, concreta e efectiva de um serviço público, da
utilização de um bem do domínio público ou da remoção de um limite ou obstáculo
jurídico ao exercício de uma actividade196.

São contribuições especiais197:

a) As contribuições de melhoria e de maior desgaste que assentem,


respectivamente, na obtenção pelo sujeito passivo de benefícios ou
aumentos de valor dos seus bens em resultado de obras públicas ou da
criação e ampliação de serviços públicos ou no especial desgaste de bens
públicos ocasionado pelo exercício de uma actividade;
b) As contribuições financeiras constituídas por prestações pecuniárias e
coactivas de natureza parafiscal exigidas por uma entidade pública, para
compensação de prestações provocadas ou aproveitadas por determinado
grupo e presumivelmente provocadas ou aproveitadas por um sujeito
passivo que nele se integre.

De acordo a Lei supracitada, os tributos são regidos pelos seguintes princípios:


princípios da igualdade, da legalidade fiscal, da equivalência e o da justiça material198.

O principio da igualdade pressupõe que ninguém pode ser prejudicado,


privilegiado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em matéria
tributária, por causa da sua ascendência, sexo, raça, etnia, cor, deficiência, língua, local
de nascimento, religião, convicções políticas, ideológicas ou filosóficas, grau de
instrução, condição económica, social ou profissional199.

195
Ibidem, art 3º nº 5
196
Ibidem, art 3º nº 7
197
Ibidem, art 3º nº 6
198
Ibidem, art 4º nº1
199
Cfr. art 4º nº2, Código Geral Tributário (ANGOLA, 2014)

60
Para o principio da legalidade fiscal, a obrigação de imposto depende da
capacidade económica dos contribuintes, revelada pelo rendimento ou o património e sua
utilização200.

Já o principio da equivalência, a incidência pessoal e real, os benefícios fiscais e


as taxas de cada imposto estadual ou local, as garantias impugnatórias ou não
impugnatórias dos contribuintes e as competências de arrecadação dos tributos locais, são
determinados por Lei ou decreto legislativo presidencial autorizado201.

E para o principio da justiça material, a obrigação de pagamento de taxas e outras


contribuições especiais que têm por base o princípio da equivalência, onerando os sujeitos
passivos na medida dos custos que estes provoquem ou dos benefícios que para eles
resultem, em concretização de um princípio de igualdade tributária202.

O sistema tributário visa satisfazer as necessidades financeiras do Estado e demais


entidades públicas, assegurar a realização da política económica e social do Estado e
proceder a uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza nacional203.

A tributação deve igualmente promover a estabilidade financeira do Estado,


através da diversificação das suas fontes de receitas204.

3.4. O Sistema Tributário do Municipio do Tômbwa (Namibe)


Actualmente, o Município sobrevive das verbas do OGE e das receitas locais-
Portal do Munícipe. Após a implementação das autarquias o funcionamento local será
com base no pacote legislativo autárquico aprovado pela Assembleia Nacional.

A situação económica do Município está em baixa em todos os Sectores


produtivos comparativamente ao ano de 2019. No Sector das Pescas as capturas baixaram
circunstancialmente na ordem de 54% em 2020, isto é, de 16.942,81 toneladas capturadas
em 2019 com a força de trabalho de 1977 para 9.149,70 toneladas em 2020 com uma
força de trabalho de 919. Com uma redução de força de trabalho de 1058 trabalhadores
em 2020.

200
Ibidem, art 4º nº3
201
Ibidem, art 4º nº4
202
Ibidem, art 4º nº5
203
Ibidem, art 10º nº1
204
Ibidem art 10º nº2

61
No Sector de Comércio as redes comerciais cresceram de 340 em 2019 para 350
em 2020.

No Sector da Agropecuária a produção agrícola também tivera uma baixa


considerável de 2.241 tonelada em 2019 para 2.149,5 em 2020.

62
CONCLUSÃO

As autarquias dispõem de independência decisória em matéria de afectação dos


seus recursos e no que diz respeito à gestão do seu património. A implementação das
autarquias, ao consagrar o princípio da responsabilidade local, quer diante da Assembleia
Municipal, quer diante dos munícipes, através de eleições periódicas, é fundamental para
a alteração do sistema nacional de prestação de contas, proporcionando a sua
democratização e a profissionalização da administração autárquica. A CRA prevê a
implementação das mesmas, mas, até agora tem se adiando a sua institucionalização.

Quanto a importância das receitas tributárias no financiamento do orçamento local


e perceber o grau de dependência financeira dos Municípios em relação as transferências
orçamentais do Estado e dos parceiros de cooperação, percebe-se por meio do estudo que,
a autonomia financeira não pode ser entendida como independência. A corroborar tal
conclusão apresentam-se não apenas os denominados limites naturais.

Quanto a análise do sistema tributário como meio de arrecadação de receitas, a


pesquisa expôs que o sistema tributário visa satisfazer as necessidades financeiras do
Estado e demais entidades públicas, assegurar a realização da política económica e social
do Estado e proceder a uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza nacional. A
tributação deve igualmente promover a estabilidade financeira do Estado, através da
diversificação das suas fontes de receitas.

No que se refere ao terceiro objectivo especifico, proporcionar um melhor


conhecimento das Receitas Públicas, face às Leis complementares, a Lei-Quadro do
Orçamento Geral do Estado no seu art. 8.º, n.º 2, emprega o conceito tributo, com o
sentido de tratar-se de uma receita derivada, que compreende no seu seio, os imposto, as
taxas e as contribuições.

Quanto a questão relacionada a qualidade e a consistência das informações


prestadas a toda a sociedade no processo de fiscalização e do funcionamento do sistema
tributário autárquico, esta Lei estabelece os princípios fundamentais das finanças
autárquicas, determina quais são as receitas próprias das autarquias locais, prevê a
possibilidade de as autarquias locais criarem contribuições especiais e estabelece normas
sobre o endividamento, a elaboração, aprovação e execução do orçamento das autarquias
locais, bem como sobre a fiscalização e responsabilidade orçamental.

63
Quanto a questão da implementação das autarquias, pressupõe entre outros
aspectos a elaboração de uma lei de base do sistema de organização e funcionamento do
poder local e da participação dos cidadãos e das autoridades tradicionais no seu exercício
e lei eleitoral autárquica. A administração local pública centralizada que se assiste em
Angola tem apresentado problemas de várias ordens que se vão tornando cada vez mais
difíceis de se ultrapassar, oprimindo o país de um desenvolvimento sustentado.

Porém, o estudo mostrou que o sistema tributário do Município do Tômbwa não


é suficientemente forte para suportar as autarquias locais. Actualmente, o Município
sobrevive das verbas do OGE e das receitas locais-Portal do Munícipe. Após a
implementação das autarquias o funcionamento local será com base no pacote legislativo
autárquico aprovado pela Assembleia Nacional. A situação económica do Município é
muito baixa em todos os Sectores produtivos comparativamente ao ano de 2019.

No Sector das Pescas as capturas baixaram circunstancialmente na ordem de 54%


em 2020, isto é, de 16.942,81 toneladas capturadas em 2019 com a força de trabalho de
1977 para 9.149,70 toneladas em 2020 com uma força de trabalho de 919. Com uma
redução de força de trabalho de 1058 trabalhadores em 2020.

Reconhecemos que, muitas vantagens podem ser apontadas em termos de


desenvolvimento político-institucional, económico-social e ético-cultural, associadas à
descentralização democrática. Especificamente, qualquer cidadão poderia testar a
instituição da eleição dos seus líderes políticos locais e submete-los a regular prestação
de contas, o incentivo para mobilização local de recursos com consequente e necessário
afastamento da dependência das rendas do petróleo, bem como a possibilidade de partilha
de poder sem necessidade de mudança no regime central.

Mesmo assim, a primeira hipótese do estudo no contexto actual não se verifica. A


segunda Hipótese verifica-se, na medida que o sistema Tributário do Município do
Tômbwa, não possui força para suportar autarquias, porque as potencialidades que
tendem a contribuir para o desenvolvimento sócio – económico e infra-estruturais
contribuem de forma pouco significativa.

64
RECOMENDAÇÕES

As autarquias quando implementadas de forma correcta, ou seja, respeitando todos


tramites e ultrapassar todos desafios e obstáculos são bem-vindas, pois contribuem no
desenvolvimento de Angola, permitindo assim melhor reorganização e gestão eficiente
dos recursos e potencialidades existentes em cada município e garantindo a melhoria e
qualidade de vida das populações.

A estabilidade ou incrementos positivos nos indicadores de auto-suficiência e


autonomia financeira do Município do Tômbwa confirmam o alto grau de dependência
financeira averiguada. Esse cenário é associado ao facto da superioridade da arrecadação
dos impostos estarem concentrados para A Capital do País, devido ao efeito da
concentração dos poderes. Apontamos aqui a necessidade de um maior esforço tributário
por parte dos Agentes da Administração Geral Tributária localmente, para garantir-se os
serviços de necessidades básicas às populações do Tômbwa, para não se tornar
vulneráveis as possíveis oscilações económicas.

Sugere-se que no caso do Município do Tômbwa, antes da aplicação da autonomia


financeira, que seja feita a análise de indicadores de despesas orçamentárias, uma vez que
além da relevância do efectivo cumprimento da arrecadação, é necessário analisar se elas
conseguem sustentar as despesas orçamentárias e garantir o equilíbrio do orçamento
público para o Município em estudo.

65
BIBLIOGRAFIA
FONTES LEGISLATIVAS
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Constituição da República de Cabo – Verde

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Essenciais para o Sistema Financeiro das Futuras Autarquias Locais, Disponivel em:
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experiência autárquica Espanhola. In: ANGOP, 24 de Junho de 2013. Disponível em:
<http://www.angop.ao/angola/pt_pt/ noticias/politica/2013/5/26/MAT-visualiza-
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Acesso em: 30 dez. 2016.Extraido aos 23 de Março de 2019

SILVESTRE, José Graça Lopes “Autarquias Regionais e Modelos de Financiamento em Angola:


Um Estudo do Caso na Província do Kuanza Sul” Disponível em:
http://www.repositorio.uportu.pt/jspui/bitstream/11328/1453/1/TMF%20105.pdf, Acesso em 13
de Agosto de 2020 .

XAVIER, Simão. AUTONOMIA FINANCEIRA DAS AUTARQUIAS MOÇAMBICANAS:


Uma Utopia?. Disponivel em: https://www.webartigos.com/artigos/autonomia-financeira-das-
autarquias-mocambicanas-uma-utopia/165388, acesso em: 22/02/2021

68
ANEXOS

ANEXO - I
AO
EXMO SENHOR
ADMINISTRADOR MUNICIPAL
ADJUNTO PARA ÁREA ECONÓMICA
E FINANCEIRA
– TÔMBWA –

ASSUNTO: Pedido de colaboração da tese de Licenciatura em Direito, sobre o tema “A


autonomia financeira e o sistema tributário como fonte de financiamento do orçamento
autárquico - Estudo de caso: Município do Tômbwa (Namibe)”.

Antes de mais permita-nos endereçar as nossas cordiais saudações de acordo ao


horário, vimos por este meio pedir colaboração no âmbito de uma investigação que
estamos a desenvolver, conducente á elaboração da dissertação de Licenciatura em
Direito, com a opção Jurídico - Económico, pretendemos aplicar um questionário que
visa a recolha de dados sobre o Processo de Gestão e de Captação de Receitas para a
Constituição e Gestão das Futuras Autarquias.

Como compreenderá, os dados que pretendemos recolher, revestem-se de máxima


importância para a elaboração do nosso trabalho e pensamos que a análise dos resultados
obtidos poderá contribuir para uma maior compreensão dos fatores que norteiam a
escolha do tema.

Em todas as respostas que lhe solicitamos, deve ter sempre aquilo que tem sido o
percurso como Administrador, logo a sua opinião pessoal deve ser sincera, pois, é de
extrema importância, dado que neste tipo de questionário não existem respostas certas
nem erradas, e todas respostas são estritamente confidenciais.

Espero que, nos possa ajudar neste trabalho de investigação, agradeço


antecipadamente toda colaboração que nos possa prestar.

EIS MAIS ABAIXO AS QUESTÕES:

69
1. Como é composto o Sistema de Financiamento do Município do Tômbwa?
2. Qual é o principal constrangimento desse Sistema de Financiamento?
3. Face ao actual Sistema de Financiamento do Município, como poderá ser
eventualmente esse Sistema nas Autarquias?
4. Uma vez implementada as Autarquias, estará o Município capacitado para
suportar estas mesmas Autarquias, somente com os Impostos ou Receitas
Próprias sem ser possível recorrer aos endividamentos? Se Sim. Nos
esclareça. Se Não. Ibdem.
5. Como é constituído, o Sistema Tributário do Município do Tômbwa
actualmente e como pensam constitui-lo, após a implementação das
Autarquias?
6. Fala-me da Situação Económica do Município, com dados actuais e
provisórios?
7. Como é constituído o Poder Local ou A Gestão Municipal?
8. Como avaliam a influência ou o contributo da Sociedade Civil no
crescimento do Município.
9. Quais são os Recursos que estarão á disposição das Autarquias?

Sentimo-nos gratificados com a vossa resposta.

Com os melhores cumprimentos.

ETELVINO LUÍS FRANCISCO TEÓFILO

Tômbwa – Bairro Kambanda ( De Fronte ao Parque Infantil)

Em caso de dúvidas ou alguma questão que tenha e que pretende ser esclarecida pode
sempre contactar-me pelas seguintes vias :

Telef: +244931076555
Email: etelvinosonoro13@gmail.com
Linkedin: Etelvino Teófilo

70
Anexo – II
AO
EXMO SENHOR
DIRECTOR MUNICIPAL DO
GABINETE DE ESTUDOS
PLANEAMENTO E ESTATÍSTICAS
– TÔMBWA –
ASSUNTO: Pedido de colaboração da tese de Licenciatura em Direito, sobre o tema “A
autonomia financeira e o sistema tributário como fonte de financiamento do orçamento
autárquico - Estudo de caso: Município do Tômbwa (Namibe)”.

Antes de mais permita-nos endereçar as nossas cordiais saudações de acordo ao


horário, vimos por este meio pedir colaboração no âmbito de uma investigação que
estamos a desenvolver, conducente á elaboração da dissertação de Licenciatura em
Direito, com a opção Jurídico - Económico, pretendemos aplicar um questionário que
visa a recolha de dados sobre a descrição do município.

Como compreenderá, os dados que pretendemos recolher, revestem-se de máxima


importância para a elaboração do nosso trabalho e pensamos que a análise dos resultados
obtidos poderá auxiliar naquilo que toca conhecer mais sobre o município no geral.

Espero que, nos possa ajudar neste trabalho de investigação, agradeço


antecipadamente toda colaboração que nos possa prestar.

EIS MAIS ABAIXO AS QUESTÕES:

1 – Como está caracterizado física e geograficamente o Município do Tômbwa?

2 – Como é formado, o clima, a flora e a fauna do Município?

3 – Como o Município está em relação a densidade populacional?

71
72

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