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Escola Superior de Economia e Gestão

Curso de Licenciatura em Direito

Disciplina: Direito Economico

Constituição Económica

Alberto Sawalo
Célia Ntuva Saide
José da Graça
Nacir Janfar
Omar Amisse Docente: Msc. Achegar Tiodósio Matias

Pemba, Abril de 2022


Escola Superior de Economia e Gestão

Curso de Licenciatura em Direito

3º Grupo

Disciplina: Direito Economico

Constituição Económica

Alberto Sawalo
Célia Ntuva Saide
José da Graça
Nacir Janfar
Omar Amisse

Trabalho de Pesquisa submetido


à Escola Superior de Economia e
Gestão, como requisito para a
obtenção do grau de Licenciatura
em Direito.

Orientado por: Msc. Achegar


Tiodósio Matias

Pemba, Abril de 2022


Índice
1. Introdução......................................................................................................4
1.1. Objectivos Gerais..........................................................................................4
1.2. Objectivos Específicos........................................................................................4
CAPITULO I.............................................................................................................5
1.1. CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA.....................................................................5
1.2. Funções da Constituição Económica..................................................................6
1.3. Constituição de 1976..........................................................................................7
1.3.1. Instrumentos de Tipo Socialista......................................................................7
1.4. A 4ª Revisão Constitucional (1997)...................................................................8
1.5. A Constituição Económica.................................................................................9
1.6. Princípio da Constituição de 1997......................................................................9
2. A intervenção do Estado na vida económica........................................................10
3. Artigo 80º da Constituição..........................................................................11
4. A Constituição Económica (sentido formal e sentido material); A
tipologia (caracterização)......................................................................................12
5. Os Direitos e Deveres Económicos (arts. 58º a 62º)..................................12
6. A evolução dos princípios fundamentais da organização económica (art.
80º) ……………………………………………………………………………...13
Capitulo III..............................................................................................................14
3.1. Conclusão.........................................................................................................14
Referências………………………………………………………………………..15

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1. Introdução
A compreensão acerca da Constituição Económica percorre, necessariamente,
alguns caminhos atrelados à Teoria Constitucional. Tratar de Constituição Económica
impõe a abordagem da ordem jurídica da economia, do mundo do “dever ser”. Com
efeito, a preocupação do direito com a economia, nascida no século XX, não é sem
propósito e surge de uma necessidade real de se garantir e possibilitar mudanças no
campo económico, a partir do momento em que este espaço tornou-se um problema.
O liberalismo do século XIX trouxe importantes conquistas no âmbito das liberdades.
Contudo, foi cenário de uma assombrosa acumulação de direitos de propriedade em
poucas mãos. As tensões aumentaram com o poder económico nas mãos de poucos e o
poder político mais distribuído em razão da democracia (BERCOVICI, 2004, p. 129).
A partir disso, no século XX, se altera o papel da Constituição Económica de apenas
retratar e garantir a ordem económica existente, para tornar-se uma Constituição
normativa, promotora e garantidora de profundas transformações na economia,
entendidas necessárias com o advento do Constitucionalismo Social no século XX e da
Teoria da Constituição Dirigente.
O que é inovador nesse tipo de Constituição não é a previsão de normas que
disponham sobre o conteúdo económico, mas é a positivação das tarefas a serem
realizadas pelo Estado e pela sociedade no âmbito económico, buscando atingir certos
objectivos determinados, também, no texto constitucional (BERCOVICI, 2004, p. 39).
No presente trabalho, não será aprofundada esta análise, embora se entenda que tal
concepção é fundamental para a devida compreensão da Constituição Económica.

1.1. Objectivos Gerais


 A disciplina do Direito Económico será leccionada com o objectivo de fazer
tomar consciência aos estudantes sobre a sua importância na vida económica do
homem, na sociedade em geral e no seu relacionamento económico com o
Estado e outros homens;

1.2. Objectivos Específicos


 Proporcionar conhecimento amplo e avançado do direito económico
contemporâneo;
 Dar a conhecer aos estudantes sobre o papel do Estado na economia do pais e a
sua dupla missão (produtora e reguladora);

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CAPITULO I
1.1. CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA
A Constituição Económica. Noção de Constituição Económica
Constituição, segundo o constitucionalista moçambicano, AMÉRICO SIMANGO, “é
um documento estruturador do poder político”. Exerce uma função organizativa
porque estabelece os órgãos do Estado, seus fins, funções e competências;
regulamenta a titularidade e as formas de exercício e controle do poder; declara os
direitos individuais dos cidadãos e prevê os sistemas de garantias e especialmente de
fiscalização do cumprimento das suas disposições.
Segundo ANTÓNIO CARLOS DOS SANTOS, “é o conjunto de normas e princípios
constitucionais relativo às actividades económicas”.
É na Constituição que encontramos a raiz, o cerne do Direito Económico, porque aí
se encerram os princípios fundamentais sobre os quais se vai erigir a organização
económica, matriz dos operadores económicos, e se fixam os objectivos primordiais a
atingir pelo poder político.
Toda a Constituição inclui uma caracterização da ordem económica, ainda que seja
por omissão; na verdade, mesmo que uma Constituição pertença ao modelo liberal e se
limite a estatuir os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e as formas de exercício
do poder político, o facto de nada se dizer sobre a economia, mormente a propriedade
dos meios de produção, significa que nesse âmbito vigora a ordem constitucional dos
direitos fundamentais; por conseguinte, será a propriedade privada a dominar os meios
de produção e a iniciativa privada a pontuar a vida económica, através da liberdade de
acesso.
A Constituição pode ser considerada tendo em conta o seu objecto, o seu conteúdo
ou a sua função (sentido material) e pode, por outro lado, ser vista atendendo à
integração normativa, ou seja, à posição das suas normas face às demais regras jurídicas
(sentido formal).
A Constituição em sentido formal dá-nos uma noção de conjunto de normas com
força específica, situadas num Plano hierarquicamente superior, enquanto o sentido
material aponta para uma sensibilidade jurídica, uma capacidade de sentir o valor da
norma no contexto do ordenamento jurídico, embora o seu lugar de formulação seja
extra-constitucional.

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Em sentido formal: consiste no conjunto de normas e princípios que fazem parte da
Constituição Política e que tem objectivo de estruturar a Economia a partir da
intervenção do Estado. Divide-se:
 Princípios Fundamentais (arts. 2º a 9º);
 Direitos e Deveres Económicos (arts. 58º a 62º);
 Organização Económica (arts. 80º a 100º).

A Constituição Económica portuguesa surgiu de forma bastante extensa no texto de


1976, consagrando uma intervenção directa muito forte a qual se traduzia na
irreversibilidade das nacionalizações e na existência de um amplo Sector Público com
as diversas revisões, a Constituição Económica foi perdendo expressão de carácter
ideológico em grande parte resultantes da linguagem socialista do texto originário e
actualmente consiste num núcleo de preceitos que se encontram distribuídos por
diversas partes do texto constitucional.
A actividade económica actual surge na doutrina como uma Constituição de
mercado intervencional, este conceito significa que a base do regime económico é a
oferta e a procura com observância da livre concorrência entre agentes económicos. A
propriedade privada é essencial e surge como Direito Económico fundamental dos
cidadãos, no entanto o Estado intervém na Economia tanto por via directa através do seu
Sector (Público) como por via indirecta, através das leis e decretos-lei que têm objectivo
regular o mercado.
O sistema económico, modelo teórico e abstracto, não se conseguindo atingir na sua
pureza ideológica.
Regime económico, forma concreta em que se aplica, condicionado pelo Estado em
que ele existe, variará diacronicamente, ao longo do tempo e sincronicamente, de
Estado para Estado.

1.2. Funções da Constituição Económica


São funções da Constituição Económica:
 Garantia dos direitos, liberdades e garantias do domínio económico;
 Delimitação dos poderes do Estado, das entidades menores e dos grupos sociais
no domínio económico;
 Delimitação dos objectivos socioeconómicos a prosseguir pelo Estado ou por
outras entidades;

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 Definição dos elementos jurídicos do sistema económico e do regime
económico, bem como os princípios gerais da ordem jurídica económica;
 Formulação de tarefas económicas gerais do Estado e de critérios jurídicos para
selecção dos objectivos da política económica;
 Definição de modelos de reformas estruturais (reforma fiscal, descentralização,
etc);
 Formulação de um processo de evolução histórica que visa a construção de
novos sistemas económicos.

 1.3. Constituição de 1976


1ª Génese e versão originária: consagração de um regime político-económico de
natureza mista: influência ideológica socialista (terminologia) garantia da propriedade e
da iniciativa privada.
2ª Evolução:
1.º. Revisão – 1982 – actualização da linguagem;
2.º. Revisão – 1989 – actualização estrutural – consagração de um regime político-
económico intervencionado;
3.º. Revisão – 1992 – Revisão extraordinária;
4.º. Revisão – 1997 – apuramento do regime de mercado.
 
1.3.1. Instrumentos de Tipo Socialista
Planos: que aparecem inclusivamente dotados de força imperativa, para o Sector
Público Estadual; força obrigatória, só aparecia por força de contratos programa (todo o
Sector Económico que celebrasse o contrato com o Estado).
Irreversibilidade das Nacionalizações (1976 a 1989):
 Nacionalizações directas (feitas por via legislativa): consistiam em diplomas
vários que identificavam as empresas nacionalizadas, as nacionalizações eram
feitas apenas sobre capital nacional. As empresas de capital estrangeiro foram
salvaguardadas, não sendo nacionalizadas.
 Nacionalizações Indirectas (por arrastamento): algumas nacionalizações não
foram planeadas pelo Estado. Mas ao nacionalizar algumas empresas,
nacionaliza segundas empresas que pertenciam ao grupo das primeiras, mas
estas segundas poderiam vir a ser desnacionalizadas: (1) tinham de ser pequenas
ou médias empresas; (2) a empresa tinha que se situar fora dos sectores básicos
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da Economia (Lei 46/77); (3) os trabalhadores da empresa tinham de ser
ouvidos, não podendo entrar nos modelos de autogestão ou de Cooperativa, se
isso se desse não podia ser desnacionalizada.
 
1.4. A 4ª Revisão Constitucional (1997)
É o mercado que surge em todo o mundo como modelo económico de referência,
sem prejuízo das diferenças locais ou regionais motivadas por entendimentos político-
sociais de natureza pontual (menor ou maior intervenção do Estado, preferência pela
regulação ou pela inserção em organizações supranacionais, etc.).
Assim, denotando um regime misto, a Constituição de 1976 possibilitou uma ampla
intervenção do Estado, em ambas as vertentes, situação esta que a 1ª Revisão (em 1982)
não veio alterar de modo significativo.
Desde a 2ª Revisão Constitucional, veio a acentuar-se um novo enquadramento para
o Sector Público e uma nova moldura jurídica para as nacionalizações; por
consequência, o Estado tem podido, desde então, diminuir o peso da intervenção directa,
afastando-se de uma presença excessiva como agente económico, sem prejuízo de, ao
nível de intervenção indirecta, ter visto reforçada a sua autoridade na Constituição em
vigor; na verdade, não só o vasto elenco de alíneas do art. 81º exige uma intervenção
minuciosa e traduzida sobretudo na prática de actos legislativos, como a matéria
correspondente às Políticas Económicas deixa supor uma programação interventiva de
amplo alcance ao nível do enquadramento do processo produtivo.
a)      Direitos e deveres económicos:
 Arts. 58º e 59º (Direito ao trabalho e direitos dos trabalhadores);
 Art. 60º (Direitos dos consumidores);
 Art. 61º (Iniciativa privada, cooperativa e autogestionária);
 Art. 62º (Direito de propriedade privada).
b)      Organização económica: há uma quase que “afinação” dos preceitos
ordenadores da parte económica da Constituição, tendo por finalidade a
adaptação de um mercado indiscutível, embora sujeito, em certa medida, à
“acção voluntária dos poderes públicos, directa ou indirecta, exercida sobre a
economia com vista a orientá-la num sentido conforme à política económica
adoptada”. Ao nível dos sectores de propriedade dos meios de produção, se
continua a tríade originária (Sector Público, Sector Privado e Sector Cooperativo
e Social), na ordem sistemática conferida pela 1ª Revisão Constitucional, há uma

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nova densificação do Sector de gestão colectiva, uma vez que aí são inseridos os
meios de produção vocacionados para a solidariedade social, desde que sem fins
lucrativos (art. 82º/4-d).
 
1.5. A Constituição Económica
A tipologia das Constituições Económicas, consiste nos vários modelos consagrados
ao longo do tempo para ordenar as relações de produção no contexto das Constituições
Políticas; existem três tipos fundamentais que podem ser encontrados durante o séc.
XX:
 Tipo Liberal: caracterizando-se por um mínimo de normas económicas e pela
garantia da propriedade e da iniciativa privada;
 Tipo Socialista: que foi adoptada na URSS e surgiu ao longo do séc. XX em
todos os Estados que adoptaram o Sistema Socialista baseando-se na intervenção
do Estado na planificação da Economia e na restrição por vezes total do Sector
Privado;
 Mercado regulado: este tipo contempla diversas formas desde o dirigismo
visível na nossa Constituição de 33 até ao actual modelo de mercado
intervencionista e caracteriza-se pela atitude activa do Estado face à Economia.
 
1.6. Princípio da Constituição de 1997
Artigo 2º:
 Estado de Direito Democrático;
 Soberania popular; pluralismo; organização política;
 Direitos Liberdades e Garantias dos cidadãos;
 Separação/interdependência de poderes;
 Democracia económica, social e cultural/democracia participativa.

É um artigo de caracterização geral do Estado. O voto tem de se reflectir na


organização pública. Órgãos de soberania diferenciados, mas são independentes em
relação aos poderes. O Estado vai ter intervenção na Economia directa e indirecta.
A noção de Estado de Direito Democrático é fundamental para caracterizar a
República Portuguesa, assim as ideias de primado da lei e da soberania popular
conjugam-se com os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos os quais devem ser

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promovidos e diferenciados pelo Estado. A democracia surge na qualidade de objectivo,
sendo destacadas as vertentes económica, social e cultural.
Artigo 9º: tarefas fundamentais o Estado – vinculativos para os órgãos de soberania.
 Independência nacional;
 Direitos, Liberdades e Garantias / respeito pelos princípios do art. 2º;
 Democracia política;
 Direitos económicos, sociais, culturais e ambientais;
 Património cultural;
 Língua portuguesa;
 Desenvolvimento de todo o território.
As tarefas fundamentais do Estado, dizem respeito a várias vertentes sendo a
Economia contemplada na alínea d); esta alínea remete-nos para os direitos económicos
consagrados nos arts. 58º a 62º e também para o art. 81º que trata de especificar as
tarefas do Estado em matéria económica.
 
2. A intervenção do Estado na vida económica
Intervenção económica do Estado é todo o comportamento do Estado (ou de outras
entidades) cuja função e finalidade consiste na modificação concreta do comportamento
de outros agentes ou sujeitos ou das condições concretas da actividade económica.

Não se limita à ordenação abstracta de regras ou instituições jurídicas que orientam,


enquadram ou condicionam o desenvolvimento da actividade económica própria
(orientação económica);
Nem se traduz nos comportamentos em que o próprio Estado ou entidade equiparada
desenvolve uma actividade económica própria, dispondo de bens raros susceptíveis de
aplicações alternativas para satisfazer necessidades (próprias do aparelho estadual ou da
sociedade) que lhe cumpre satisfazer (actividade financeira).
As incumbências prioritárias do Estado em matéria económica consistem num
conjunto de actos de intervenção indirecta, ou seja, de condicionamento dos agentes
económicos através da criação de regras, de políticas, e de medidas de apoio. No art. 81º
encontramos diversas linhas de actuação do Estado de acordo com os objectivos visados
em cada alínea:

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1. Orientação do crescimento económico: a alínea a) pertence a este grupo bem
como as alíneas c) e d), visto que apresentam o objectivo comum de promover
um quadro de desenvolvimento económico;
2. Justiça social: alínea b) dirige-se à garantia de intervenção do Estado do sentido
de correcção dos desequilíbrios na destruição da riqueza e dos rendimentos, esta
actuação do Estado vai realizar-se sobretudo através da Política Fiscal.
3. Relações económicas internacionais: a alínea f) consagra a necessidade de ser
estabelecida uma cooperação económica internacional.
4. Regulação de mercado: esta função central da intervenção indirecta do Estado
expressa nas alíneas e), g), h), i), em particular mediante a aprovação de leis de
defesa dos consumidores e de protecção da livre concorrência, em todos os
sectores da actividade económica;
5. Políticas sobre os recursos: as alíneas j), l), m), são dirigidas à necessidade de
intervenção do Estado no âmbito do desenvolvimento científico e tecnológico,
bem como no que diz respeito à eficaz repartição dos recursos hídricos e à maior
rentabilização dos recursos energéticos.
O art. 81º, articula-se com os Planos e com as Políticas Económicas, construindo o
programa obrigatório para todos os Governos quanto aos objectivos que estabelece, é
este preceito que nos leva a caracterizar a medida da intervenção indirecta do Estado na
Economia.
 
3. Artigo 80º da Constituição
Os princípios fundamentais da organização económica têm por objectivo definir e
caracterizar o regime económico, assim em 1976, o art. 80º, explicitava a forte
influência do Sistema Socialista, indicando como objectivos económicos e sociais, o
desenvolvimento das relações de produção socialista e apagando a importância da
propriedade privada deste sector.
Com a 1ª Revisão em 1982, o art. 80º é estruturado de forma diferente e passa a
conter um conjunto de princípios indicados por alíneas como forma de salientar a fase
de organização económica, ao mesmo tempo são retiradas algumas expressões
ideológicas de tipo socialista, passando a ser utilizada uma sistematização mista. A 2ª
Revisão Constitucional de 1989, trouxe algumas mudanças à Constituição Económica
adaptando-a ao regime de mercado intervencionado, mas o art. 80º não acompanha de
forma plena esta evolução, só em 1997, o texto constitucional consagra como um dos

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princípios da organização económica o investimento empresarial e a denúncia privada,
ao mesmo tempo surge também o princípio da concertação social, ou seja, do diálogo
entre os parceiros sociais, para a resolução de conflitos no processo produtivo. Os
princípios hoje constantes no art. 80º são desenvolvidos ao longo de toda a Constituição
Económica.
 
4. A Constituição Económica (sentido formal e sentido material); A tipologia
(caracterização)
A Constituição Económica é o núcleo do Direito Económico, tanto do ponto de vista
da hierarquia das normas como da sua própria dimensão funcional; isto significa que a
Constituição Económica estabelece as normas programáticas e as normas estatutárias do
regime económico vigente: (a) sentido formal, da Constituição corresponde às normas
que fazem parte da Constituição Política; (b) Constituição Económica em sentido
material, corresponde a determinados diplomas (lei ou decretos-lei) cuja a matéria é
essencialmente para o regime económico.
A tipologia das Constituições económicas é formada pelos vários modelos de
regulação da Economia no contexto constitucional. Podemos distinguir vários textos
históricos, sendo mais característico a Liberal (a Constituição Económica é quase
inexistente), o Socialista (Constituição Económica máxima), a Dirigista e a de Mercado
intervencionado.
 
5. Os Direitos e Deveres Económicos (arts. 58º a 62º)
Os Direitos e Deveres económicos estão previstos na qualidade de deveres
fundamentais análogos pelo que gozam particular protecção constitucional:
a) Direitos relacionados com o trabalho (arts. 58º e 59º): referem-se sobretudo à
obrigação do Estado no tocante às políticas de pleno emprego e à definição do
estatuto dos trabalhadores sendo esta categoria entendida no sentido
desenvolvido pelo Direito do Trabalho, ou seja, trabalhadores por conta de
outrem.
b) Direito na qualidade de consumidor: este é um Direito Económico recente que
visa proteger a parte da procura considerando que se encontra vulnerável e que
deve ser por isso protegido pelo Estado.

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c) Direito ao investimento: surge como Direito de iniciativa económica no art. 61º,
não se restringindo à iniciativa privada garantindo também as formas,
Cooperativa e autogestionária (iniciativa económica colectiva ou de tipo social).
d) Propriedade privada: este é um direito essencial para a caracterização do sistema
económico referencial, uma vez que a propriedade privada dos meios de
produção, implica a adopção do sistema económico de mercado.
 
6. A evolução dos princípios fundamentais da organização económica (art.
80º)
A organização económica, assenta num conjunto de princípios basicamente diversos
entre si. As várias alíneas do art. 80º, foram revistas em 1997 de modo a reflectirem o
modelo de mercado intervencionado onde concorrem agentes económicos diferenciados
e onde o Estado fornece indicações através dos Planos e orienta por meio das Políticas
Económicas. O art. 80º tem hoje um carácter descritivo dos vários preceitos que
constituem a organização económica.

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Capitulo III
3.1. Conclusão
Tem-se ciência das limitações contidas na discussão exposta neste artigo, considerando
a diversificação de perspectivas para a análise da Constituição Económica, mais ainda
quando se trata da Constituição Económica Portuguesa, sendo assim forçosa a
realização de certos recortes teóricos, como foi de facto foi feito.
A relação entre economia e direito neste artigo foi realizada a partir da análise da
Constituição Económica no contexto do Constitucionalismo Social do século XX e da
Teoria da Constituição Dirigente, ou seja, como instrumento normativo apto a realizar
transformações no espaço económico, com vistas a realizar justiça social, no sentido de
promover uma verdadeira democracia económica, conforme preconiza Vital Moreira,
através da criação de uma comunidade económica, composta pela interpenetração das
funções dos vários sujeitos económicos, confluindo em um mesmo objectivo comum: a
melhor satisfação possível das necessidades comuns.
É através da vida económica que a maior parte dos sujeitos alçam condições de
sobrevivência. Logo, a ordem jurídica da economia necessita lograr eficácia, afinal,
trata de direitos e valores fundamentais. As condições económicas, sociais e políticas do
Estado Português exigem reflexões no sentido de se buscarem caminhos, alternativas,
para a superação da miserabilidade e da violência estrutural nascida desse círculo
vicioso.

A ordem jurídica da economia está consagrada constitucionalmente. O maior desafio é


torná-la vida, através de um amplo comprometimento com seus ditames, sob pena de
permanecemos submetidos ao regime de excepção que, quotidianamente, vitima vidas
sob o jugo da fome, da falta de acesso a direitos fundamentais, sob a “protecção” de um
Estado Democrático de Direito.

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Referências
SIMANGO, Américo. Direitos fundamentais………books, Nampula.
DOS SANTOS, A. C. Direito económico, 7ª edição, 2014 (nova reimpressão: 2016).
BERCOVICI, Gilberto. Constituição económica e desenvolvimento. São Paulo:
Malheiros, 2005.
BERCOVICI, Gilberto. A Constituição Dirigente e a crise da Teoria da Constituição.
In: Teoria da Constituição: estudos sobre o lugar da política no direito constitucional.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição Dirigente e vinculação do legislador:
contributo para a compreensão de normas constitucionais programáticas. 2. ed.
Coimbra: Coimbra Editora, 2001.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Rever ou romper com a Constituição Dirigente?
Defesa de um constitucionalismo moral reflexivo. Revista dos Tribunais, ano 4, n.15,
abr./jun. 1996.
FRENCH, John D. Afogados em leis: A CLT e a cultura política dos trabalhadores
brasileiros. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.

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