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A cadeia agroindustrial da apicultura

Book · August 2017

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Isac Gabriel Abrahão Bomfim Mikail Olinda de Oliveira


Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão PE) Universidade Federal Rural de Pernambuco
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Isac Gabriel Abrahão Bomfim
Mikail Olinda de Oliveira
Breno Magalhães Freitas

Curso Técnico em Apicultura


A Cadeia Agroindustrial
da Apicultura
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - FUNECE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE
MEDIOTEC

Prof. Hidelbrando dos Santos Soares


Coordenador Geral Pronatec/Funece

Prof. José Nelson Arruda


Coordenador Adjunto do Pronatec/Funece

Profa. Germana Costa Paixão


Coordenadora Pedagógica Adjunta do Pronatec/Funece

Maria Marlene Amâncio Vieira


Assessora de Projeto Pedagógico

Ana Léa Bastos de Lima


Assessora de Projeto Pedagógico

Guaraciara Barros Leal


Assessora de Projeto Pedagógico

Eleonora Figueiredo Correia Lucas de Morais


Assessora de Material Didático

Narcélio de Sousa Lopes


Diagramador

Francisco Oliveira
Diagramador

Afonso Odério Nogueira Lima


Coordenador de Área Técnica – Apicultura

Aldemir Freire Moreira


Coordenador de Área Técnica – Contabilidade

Fábio Perdigão Vasconcelos


Coordenador de Área Técnica – Pesca

Marcus Aurélio Maia


Coordenador de Área Técnica – Comércio

Pablo Garcia da Costa


Coordenador de Área Técnica – Instrumento Musical / Regência

Teócrito Silva Ramos


Coordenador de Área Técnica – Segurança do Trabalho

Magda Regina Correa Rodrigues


Coordenadora de Área Técnica – Agronegócio

Francisca Gomes Montesuma


Coordenadora de Área Técnica – Gerência em Saúde

Edna Maria Dantas Guerra


Coordenadora de Área Técnica - Enfermagem

Universidade Estadual do Ceará - UECE - Av. Dr. Silas Munguba, 1700, Campus do Itaperi, Fortaleza-CE
CEP: 60.714.903 - Fone/Fax: (85) 3101-9600 / 9601
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Secretaria de Apoio às Tecnologias Educacionais
Fone: (85) 3101-9962
Apresentação

A apicultura se configura como uma importante atividade agropecuária


para o Brasil. Muitas vezes se associa esta atividade apenas com a produ-
ção de mel, o que seria menosprezar os outros produtos desta atividade que
trazem grandes oportunidades de negócio para pequenos, médios e grandes
produtores. Além disso, o início da atividade apícola data de mais de um sé-
culo e vários acontecimentos já marcaram e mudaram o cenário da apicultura
nacional até os tempos atuais.
Dessa forma, essa publicação disponibiliza em seus capítulos iniciais
informações sobre a importância econômica, social e ambiental da apicultura,
os produtos das abelhas, a história da apicultura no mundo, Brasil e Ceará,
e dados importantes a respeito do mercado apícola e a configuração de sua
cadeia produtiva.
Esperamos que ao final da disciplina, os alunos sejam capazes de en-
tender como se deu a história e evolução da apicultura mundial, nacional e
cearense, além de entender a dinâmica do mercado dos produtos apícolas e
reconhecer os principais fatores sociais, ambientais e econômicos impactan-
tes da apicultura brasileira.

Bons estudos!
Sumário

UNIDADE I - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA APICULTURA.................................. 7

CAPÍTULO 1. IMPORTÂNCIA DA APICULTURA....................................................... 9


1.1. Apicultura como atividade agropecuária...................................................... 9

CAPÍTULO 2. PRODUTOS DA APICULTURA.......................................................... 13


2.1. Mel..................................................................................................................... 13
2.1.1. Definição e utilidade.................................................................................... 13
2.1.2. Transformação do néctar em mel............................................................. 14
2.1.3. Composição e características do mel...................................................... 15
2.1.4. Cristalização do mel.................................................................................... 15
2.1.5. Fermentação e outras alterações que o mel pode sofrer..................... 16
2.2. Cera de abelha................................................................................................. 17
2.2.1. Definição e utilidade.................................................................................... 17
2.2.2. Transformação do mel em cera pelas abelhas....................................... 18
2.2.3. Composição e características da cera..................................................... 18
2.2.4. Mercado da cera de abelha........................................................................ 19
2.3. Pólen apícola................................................................................................... 20
2.3.1. Definição, composição e utilidade............................................................ 20
2.3.2. Coleta e armazenamento do pólen pelas abelhas................................. 21
2.3.3. Mercado do pólen........................................................................................ 22
2.4. Própolis............................................................................................................. 22
2.4.1. Definição, composição e utilidade............................................................ 22
2.4.3. Mercado da própolis.................................................................................... 23
2.5. Geleia real......................................................................................................... 24
2.6. Veneno das abelhas (Apitoxina)................................................................... 25
2.7. Polinização....................................................................................................... 26
2.8. Outros produtos.............................................................................................. 28
UNIDADE II – HISTÓRICO E ATUALIDADES DA ATIVIDADE APÍCOLA............. 29

CAPÍTULO 3. HISTÓRIA DA APICULTURA NO MUNDO, BRASIL E CEARÁ..... 31


3.1. A exploração irracional das abelhas pelo homem primitivo e o nasci-
mento da apicultura............................................................................................... 31
3.2. As descobertas que impulsionaram o desenvolvimento da apicultura
moderna................................................................................................................... 34
3.3. Apicultura no Brasil........................................................................................ 36
3.3.1. Chegada das abelhas melíferas (Apis mellifera L.) ao país.................. 36
3.3.2. A africanização da apicultura nas Américas........................................... 36
3.3.3. Impactos iniciais da africanização no país.............................................. 37
3.3.4. Cronologia do Agronegócio da Apicultura no Ceará............................ 40

UNIDADE III – MERCADO DO MEL E CADEIA PRODUTIVA DA APICULTURA.43

CAPÍTULO 4. MERCADO DO MEL............................................................................ 45


4.1. A situação atual da produção de mel no Brasil......................................... 45
4.2. Mercado interno.............................................................................................. 46
4.3. Mercado Externo............................................................................................. 47

CAPÍTULO 5. ASPECTOS GERAIS DA CADEIA PRODUTIVA DA APICULTURA.. 49


5.1. Aspectos gerais da cadeia produtiva do mel............................................. 49
5.2. Caracterização da apicultura nordestina.................................................... 51
5.3. Entraves ao desenvolvimento da cadeira produtiva apícola nordestina..
52
5.4. Oportunidades................................................................................................. 53

REFERÊNCIA................................................................................................................ 54
Unidade 1
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA
APICULTURA
Objetivos
Conhecer a importância do agronegócio apícola e seus produtos.
Capítulo 1
IMPORTÂNCIA DA
APICULTURA

1.1. Apicultura como atividade agropecuária


Apicultura é como chamamos a criação racional de abelhas melíferas
(Apis mellifera), com fins recreativos ou econômicos. Já o apicultor é a pessoa
que cria essas abelhas, e o apiário é o nome dado ao local onde está instalado
um grupo de colmeias habitadas pelas colônias de abelhas.

SAIBA MAIS
A abelha Apis mellifera é uma espécie de abelha de hábito de vida social, nativa da
Europa e África e conhecida mundialmente, principalmente, pela sua excelente produção
de mel. Essa abelha é a mais conhecida, criada e estudada ao redor do mundo, e, portanto
é sobre ela que concentraremos nossa atenção.

Ao contrário do que muita gente pensa, as abelhas não produzem so-


mente mel. Delas também se pode obter outros produtos e serviços, os quais
serão abordados no próximo capítulo. Assim, a grande importância de criar
abelhas está em primeiro lugar nos produtos que elas fornecem, os quais são
importantes para a alimentação e saúde humana, além de promovem um re-
torno financeiro para o apicultor e demais membros da cadeia apícola. Além
disso, a apicultura, por meio dos seus produtos, poderá modificar os hábitos
alimentares de crianças e adultos camadas mais carentes onde sempre ocor-
rem deficiências de energia e proteínas.
Comparada à criação de outros animais de interesse econômico, a cria-
ção de abelhas não custa tão caro. Normalmente, com apenas duas pessoas
é possível realizar o manejo adequado de um apiário. Outro fator importante é
que as abelhas quando criadas nas colmeias podem produzir muito mais do
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pronatec

que quando vivendo de maneira silvestre nas matas. Além disso, a apicultura
é uma atividade de fácil trabalho e bastante adaptada às condições climáticas
de todas as regiões do Brasil.
No que se refere à sustentabilidade, a apicultura é uma das poucas
atividades agropecuárias que atende aos seus três requisitos básicos: o eco-
nômico, o social e o ecológico. Atende ao econômico por fornecer renda para
o apicultor; social por exigir mão de obra familiar ou contratada; e ambiental
por contribuir para a conservação e reprodução da flora nativa ou cultivada,
pois sem a flora as abelhas ficam impossibilitadas de extraírem seus recursos
alimentares, componentes essenciais para vida desses insetos.
No Brasil, grande parte da produção de mel e de outros produtos das
abelhas depende principalmente das matas nativas. Assim, muitas plantas da
fazenda que em outras atividades agropecuárias poderiam ser consideradas
sem serventia alguma, para as abelhas podem ter inestimável valor, pois é
nelas que as abelhas obtêm néctar, pólen e resinas. Por este motivo, o apicul-
tor é naturalmente um defensor da natureza e trabalha por sua conservação.
Sem falar que muitos apicultores tem a necessidade de praticar o refloresta-
mento com espécies de plantas nativas e atrativas às abelhas para melhorar a
produtividade de suas colmeias. Além disso, ao coletarem seus alimentos nas
flores, as abelhas contribuem no processo de polinização da flora nativa ou
mesmo da cultivada, transferindo grãos de pólen entre flores da mesma espé-
cie. Dessa forma, elas garantem a reprodução da grande parte das plantas e
produção de sementes e frutos. Estes, por sua vez, servirão de alimento para
vários animais silvestres e para o próprio homem.

SAIBA MAIS
As matas nativas são as principais fornecedoras de néctar e pólen para as abelhas no
Brasil, sendo responsáveis pela matéria prima da maior parte do mel produzido. Criar
abelhas é aproveitar este potencial nato do Brasil e uma maneira de melhorar o aprovei-
tamento do uso da terra, e de gerar trabalho e renda ao homem do campo.
Fonte: Adaptado de Souza, 2007.

No Brasil, a apicultura é uma atividade eminentemente familiar visto que


grandes empreendimentos são pouco representativos neste país comparado
à agricultura familiar. Esta atividade não exige necessariamente uma dedi-
cação exclusiva, permitindo aos apicultores desenvolverem outras atividades
sem que isso prejudique na criação de abelhas. Essa característica, aliada ao
fato de na maioria das vezes os apicultores serem os próprios membros da
família, viabiliza a geração de renda extra, assegurando a diversificação da
produção na pequena propriedade.
11
APICULTURA

No tocante à questão fundiária, cabe lembrar também que não há


cercas para confinar as abelhas. Logo, a atividade pode ser conduzida sem
maiores problemas em pequenas propriedades. O que deve ser levado em
conta é a localização quanto à segurança para os habitantes que vivem nas
proximidades e a mitigação de riscos com relação à contaminação do mel por
resíduos de produtos químicos e poluentes.

SAIBA MAIS
Vantagens da apicultura com relação a outras atividades pecuárias:
a) favorece-se da imensa quantidade e diversidade de flora apícola naturalmente exis-
tente no país fornecem a alimentação das abelhas sem custos, e, consequentemente, a
produção de mel e dos demais produtos das abelhas (mel, própolis, pólen, cera, geleia
real e apitoxina);
b) promove a fixação do homem ao campo por ser uma atividade de baixo custo de im-
plantação e manutenção, rápido retorno financeiro, boa renda anual complementar e por
ser uma atividade que congrega as comunidades em associações e cooperativas, favore-
cendo a socialização da atividade;
c) fornece grande diversidade de produtos das abelhas (mel, própolis, pólen, cera, geleia
real e apitoxina), atividades remuneradas (coleta de pólen, criação de rainhas, produção
de enxames e aluguel de colônias para polinização de diversas culturas agrícolas) e ser-
viços ambientais à natureza, como a conservação do meio ambiente por meio da poli-
nização da flora nativa, além da própria conservação e reflorestamento da mata nativa
promovida pelo apicultor;
d) utiliza pequenas áreas para sua implantação, não dependendo de instalações sofistica-
das, nem de despesas com vacinas e medicamentos;
e) possui mercado interno e externo em plena expansão, além de preços atrativos dos
seus produtos para a comercialização;
f) favorece-se da expansão do mercado orgânico, que encontra grande potencial na flora
nativa da região Nordeste para sua produção, junto com a vasta extensão territorial deten-
tora de potencial para apicultura e ainda não explorada nessa região.
Fonte: Adaptado de Paula Neto & Almeida Neto, 2006.

Estas características fazem da apicultura uma das melhores alterna-


tivas para a diversificação das atividades no setor agropecuário voltadas ao
pequeno e médio produtor.

EXERCENDO A PROFISSÃO
: para que a atividade possa ser desempenhada com eficiência, o apicultor deve ter
conhecimentos mínimos em diversas frentes, por exemplo: a biologia do inseto envolvi-
do, apetrechos utilizados, escolha de áreas para instalação de apiários etc. Além disso, a
apicultura é uma atividade que demanda diversas habilidades tais como: concentração,
poder de observação, delicadeza nos movimentos e força física para atividades gerais den-
tro do apiário.
Fonte: Adaptado de Paula Neto & Almeida Neto, 2006.
Capítulo 2
PRODUTOS DA
APICULTURA

A Apicultura, atividade antes direcionada somente à produção de mel,


vem sendo explorada cada vez mais e dando ao ser humano uma gama de
produtos que alcançam altos valores no mercado devido às propriedades fun-
cionais e benefícios que trazem quando utilizados ou consumidos pelo ho-
mem. Os produtos apícolas mais comercializados são: mel, pólen, geleia real,
cera, própolis e apitoxina (veneno da abelha). Além desses produtos as abe-
lhas melíferas fornecem os serviços de polinização que são de fundamental
importância na produção e melhoria na qualidade de frutos e sementes.

2.1. Mel
2.1.1. Definição e utilidade
O mel é o principal produto da colmeia, em termos comerciais no Brasil.
Entende-se por mel, o produto alimentício produzido pelas abelhas melíferas,
a partir do néctar das flores ou das secreções procedentes de partes vivas das
plantas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam com substâncias
específicas próprias, armazenam e deixam madurar nos favos da colmeia.
Para as abelhas, o mel é um alimento que funciona como fonte de ener-
gia e por isso é armazenado na colmeia. As abelhas normalmente produzem
bastante mel nos períodos com muitas flores para que possam ter alimento
nas épocas em que a quantidade de flores na área não seja suficiente para a
sobrevivência da colônia.
Para a humanidade, o mel é utilizado como adoçante desde a antigui-
dade e é considerado um alimento de fácil digestão e que é muito importante
para o equilíbrio do processo biológico do corpo humano.
14
pronatec

Além da vasta utilização na indústria alimentícia, o mel tem sido testado


com êxito, principalmente devido às suas qualidades antissépticas e cicatri-
zantes. A indústria de higiene e cosméticos, também tem utilizado o mel como
base para diversos produtos como: xampus, condicionadores, sabonetes, cre-
mes, loções e óleos.
Assim, o mel tem é reconhecido por:
- Fonte imediata de energia;
- Favorecer as funções intestinais;
- Fortalecer os músculos do coração;
- Estimular da atividade cerebral;
- Auxilia ao combate de gripes e resfriados;
- Possuir ação laxativa suave e natural;
- Possuir ação bacteriana.

2.1.2. Transformação do néctar em mel


Esse alimento é produzido pelas abelhas principalmente a partir do néc-
tar das flores ou, em alguns casos específicos, de outras secreções das plan-
tas ou de insetos sugadores de seiva. As abelhas coletam esses materiais,
os transportam na vesícula melífera ou papo até a colmeia, onde são trans-
formados em mel. Para essa transformação, as abelhas operárias adicionam
substâncias (enzimas) que elas mesmas produzem ao mesmo tempo em que
retiram o excesso de água. O néctar em processo de transformação em mel é
depositado nos alvéolos, onde a retirada parcial da água (desidratação) conti-
nua até que o mel esteja “maduro”, ou seja, pronto para o consumo (umidade
entre 17 e 18 %). Nesse ponto, as abelhas fecham os alvéolos com uma fina
camada de cera (opérculo) para que o mel fique armazenado até que seja
usado como alimento.
Assim, na produção do mel, as abelhas processam o néctar em duas
etapas. Em uma ocorrem transformações físicas e na outra as transforma-
ções são de natureza química.
- Transformação física: É a perda de água do néctar por evaporação
devido ao calor existente na colmeia (em torno de 35 ºC) e a constante venti-
lação produzida pelo movimento das asas das abelhas.
- Transformação química: ocorre pela a ação de uma enzima denomina-
da invertase, produzida pelas abelhas que atuam sobre a sacarose, principal
açúcar do néctar, transformando-o em dois açúcares mais simples: glicose e
frutose.
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APICULTURA

2.1.3. Composição e características do mel


A composição média básica do mel é de frutose, glicose, sacarose,
água e outros componentes. Esses outros componentes são enzimas, vitami-
nas (A, B, B1, B5, B6, BC, C, G, M, PP) e sais minerais (Ca, P, S, K, Cl, Na,
Fe, Mg, Cu, Mn), além de pequenas quantidades aminoácidos, substâncias
aromáticas, ácidos orgânicos, pigmentos e outras substâncias.
A cor, o aroma, o sabor e a consistência do mel estão diretamente rela-
cionados com a florada visitada pelas abelhas. Um dos fatores responsáveis
pela cor do mel é a riqueza em minerais. É observado também, uma relação
entre a cor e o sabor do mel, geralmente méis mais claros, possuem sabores
mais suaves, ao passo que méis escuros, possuem sabor mais forte.

Figura 2.1. Representação básica da composição básica do mel

Fonte: SEBRAE, 2009.

SAIBA MAIS
A perda da qualidade do mel não pode ser recuperada durante o seu processamento
no entreposto de mel. Por isso devemos ser sempre cuidadosos ao longo do processo
produtivo.

2.1.4. Cristalização do mel


Todo mel puro tende a cristalizar dentro da geladeira ou com o tempo.
A cristalização é simplesmente a separação dos açúcares do mel da parte
líquida, porém sem afetar o valor nutritivo do mel. A velocidade de cristalização
do mel varia muito em função da origem floral, isto porque está diretamente
relacionado com a relação glicose/frutose do mel. Quanto mais próximo de 1
for essa relação, mais rápida será a velocidade cristalização do mel. Como
certas plantas produzem néctar mais rico em glicose do que outras, os méis
16
pronatec

produzidos destas plantas tendem a cristalizar mais rápido. Porém, a velocida-


de de cristalização também é afetada pela temperatura e presença de partícu-
las no mel que possam ajudar a aglomeração dos cristais de glicose. Quanto
mais baixa for a temperatura e pequenas bolhas de ar existirem no mel, mais
rapidamente ele cristalizará.
Muitos apicultores não gostam que seu mel cristalize porque a forma-
ção de cristais de açúcar de tamanhos diferentes e totalmente ao acaso dá
uma aparência feia ao mel, além do fato de que alguns consumidores ainda
pensam que mel cristalizado foi adulterado com açúcar. Para reverter este
quadro é só levar o mel ao banho-maria a temperaturas que não passem dos
40°C, para não destruir as enzimas do mel nem contribuir para o escureci-
mento mais rápido do mel. Os cristais se dissolverão e o mel voltará a sua
forma líquida.
A cristalização, no entanto, pode ser dirigida para formar bonitas formas
de apresentação do mel (cristais finos, uniformes, mais pastoso, mais cremo-
so, mais sólido etc.), que é muito apreciado por alguns consumidores mais
esclarecidos e por isso mesmo mais dispostos a pagar um pouco mais por
esses méis.

2.1.5. Fermentação e outras alterações que o mel pode sofrer


A fermentação é um processo causado pela ação de leveduras (micror-
ganismos) que interfere na composição e na qualidade do mel, tornando-o
impróprio para o consumo humano. O alto teor de umidade favorece a fermen-
tação. Assim, a colheita de mel deve ser feita quando mais de 80 % dos lados
dos favos estiverem operculados, ou seja, coberto com uma fina camada de
cera, que dependendo da idade do favo, pode ser clara ou escura. Em favos
novos os opérculos são claros.
Apesar do mel O mel deve sempre ser armazenado em local fresco,
ventilado e protegido da luz. Isto porque tanto o calor como a luminosidade
aceleram transformações naturais que ocorrem no mel com a idade. Estas
transformações são notadas principalmente pelo escurecimento do mel de-
vido ao aumento do teor de uma substância chamada hidroximetilfurfural. O
calor e/ou a luminosidade fazem com que esta substância seja produzida em
maior quantidade escurecendo o mel muito mais rapidamente e diminuindo o
seu valor comercial e nutritivo.
SAIBA MAIS
Você sabia que o mel absorve água do ar?
O mel é um alimento que, por natureza, pode absorver água. Essa característica rece-
be o nome de higroscopicidade e depende da quantidade de água existente no ar. Assim,
por exemplo, quando a umidade relativa do ar está alta (acima de 60%), o mel tende a
absorver água do mesmo.

2.2. Cera de abelha


2.2.1. Definição e utilidade
A cera de abelhas melíferas é uma substância sólida de consistência
escorregadia e graxa em temperatura ambiente. Ela é utilizada pelas abelhas
para armazenamento de alimento e abrigo para a cria, formando os chama-
dos “favos”. Pode se dizer que o favo é um conjunto de alvéolos, os quais
são células (espaços) de cera onde a colônia armazena o alimento, e onde a
rainha põe seus ovos e há o desenvolvimento das crias.
A comunicação entre as abelhas também é feita na superfície dos al-
véolos, por meio de danças que informam a localização do alimento no cam-
po. Portanto, as abelhas necessitam de cera para construírem seus ninhos e
manterem a colônia em pleno funcionamento.
Essa substância é tão antiga quanto à própria história das abelhas e da
sua exploração pelo homem. Conhecida desde a mais remota antiguidade, a
cera era usada, dentre outras inúmeras aplicações, como pagamentos de tri-
butos, taxas e multas. Há registros que em 181 d.C. Córsega pagava a Roma
um tributo anual de 38 toneladas de cera. Além, disso foram encontrados blo-
cos de cera inalterados em túmulos egípcios e em navios naufragados, pois a
oxidação da cera é muito lenta.
Também no Egito as mulheres usavam uma solução de cera com mel
para depilar braços e pernas. Entre os romanos a cera servia para serem
feitas esculturas do perfil humano e confecção de velas, sendo ainda utiliza-
da pelos povos na antiguidade em cerimônias religiosas. Na idade média os
escribas utilizavam pedaços de madeira recobertos com uma fina camada de
cera, escrevendo por cima da cera com estiletes.
Atualmente, muitas empresas utilizam a cera como principal compo-
nente ou como parte de alguns produtos. Para usos não apícolas, a cera pode
ser utilizada na fabricação de velas e esculturas, que vão desde flores e frutas
artificiais a réplicas de pessoas expostas em museus. Ela entra na composi-
ção de pomadas, unguentos, emplastos e diversos medicamentos. Por ser
impermeável, pode também ser utilizada como isolante em materiais elétricos.
18
pronatec

Serve ainda como revestimento, ajudando a prevenir a corrosão de produtos


metalúrgicos e pode ser utilizada para polir móveis e objetos.
Assim, entre outros usos, a cera é reconhecida por:
- Ativar a secreção salivar quando mascado com mel;
- Destruir o tártaro dentário;
- Destruir o depósito de nicotina dos fumantes;
- Ser usada na cosmetologia para cremes e máscaras;
- Ser usada na indústria farmacêutica em pomadas e emplastros.

2.2.2. Transformação do mel em cera pelas abelhas


A cera é um produto secretado por quatro pares de glândulas cerígenas,
localizadas na face ventral do 4º ao 7º segmento abdominal. Normalmente a
cera é secretada pelas abelhas operárias com idade que varia entre 12 e 18
dias, as quais estão na fase em que são denominadas de construtoras ou en-
genheiras. Após este período normalmente as glândulas atrofiam-se e param
de funcionar nas abelhas mais velhas.
Esse produto provém da metabolização do mel que é transformado de
carboidrato para ácido graxo e expelidos pelas glândulas cerígenas na forma
líquida, solidificando-se assim que entra em contato com o meio. Ao ser ex-
pelida a cera fica em forma de escama ou placa branca perfeitamente visível
ao olho nu, sendo produzida no número de duas em cada um dos segmentos
abdominais que contém as glândulas cerígenas.
Para produzir a cera, as abelhas enchem o papo de mel e penduram-se
umas nas outras, amontoando-se no local onde o novo favo vai ser construí-
do. Mantendo a temperatura corporal em torno de 35 °C, as construtoras co-
meçam a secretar a cera em forma líquida que solidifica em contato com o ar.
Em seguida, elas coletam a cera do seu abdômen usando as pernas traseiras,
levam à boca e mastigam, moldando-a para construir os favos imediatamente.

2.2.3. Composição e características da cera


A cera é uma complexa mistura de lipídeos, não solúveis em água, mas
solúveis em solventes orgânicos como o éter, clorofórmio e benzeno, sendo
composta basicamente de ésteres, ácidos graxos e hidrocarbonetos. A cera é
branca quando produzida pela abelha, porém sua coloração final dependerá
da presença de pólen e própolis armazenado nos favos.
Cada abelha produz de 1,6 a 6,3 mg de cera por hora e a colônia pre-
cisa consumir mais de 8 kg de mel para produzir 1 kg de cera. Com um quilo-
grama de cera, as abelhas constroem 77.000 alvéolos capazes de armazenar
22 kg de mel.
19
APICULTURA

Os favos são construídos obedecendo ao espaço-abelha (6 a 9 mm),


que é a distância necessária para que as abelhas possam andar e trabalhar
entre dois favos. Os alvéolos de cada favo são feitos ligeiramente inclinados
para cima (o fundo do alvéolo fica mais baixo que a boca) em um ângulo de 11
a 13 graus. Por isso não podemos virar os favos quando capturamos colônias
de abelhas.

2.2.4. Mercado da cera de abelha


A própria atividade apícola é grande consumidora da cera de abelhas
utilizando-a como insumo, sobre a forma de lâminas alveoladas colocadas
nas melgueiras, que têm como objetivo otimizar o trabalho das abelhas na
elaboração da cera, e consequentemente aumentar a produção de mel. Al-
guns apicultores têm a cera de abelha como fonte principal de renda, com
grande demanda nos períodos que antecedem as safras e na implantação de
apiários.
O apicultor facilita o trabalho das abelhas ao oferecer a cera em formato
de lâminas alveoladas, que orienta as abelhas na construção do favo, e as
ajuda na confecção do tamanho da célula de operária, estimulando assim a
rainha a por ovos que darão origem a operárias, as quais são fundamentais na
manutenção das atividades da colônia.
A cera é praticamente insubstituível na construção dos favos, daí a im-
portância da secreção dela pelo organismo das abelhas. Foram feitas muitas
tentativas para se produzir favos artificiais como de plástico, fibra de vidro,
ferro e alumínio ou mesmo lâminas de papel. No entanto, apesar da aceitação
em alguns casos, há maior dificuldade e pior aproveitamento em sua utilização
pelas colônias.
É muito importante a intervenção do apicultor, para observar o momento
em que é necessária a troca dessa cera velha. Pois o favo de cera ao longo
do desenvolvimento do enxame vai escurecendo deixando o alvéolo cada vez
menor. Isso ocorre porque durante a limpeza realizada pelas operárias em
cada nascimento das crias, elas esterilizam as células com própolis, e conse-
quentemente estas vão ficando mais estreitas, chegando a um ponto em que
a rainha deixa de colocar ovos nesse favo, que passa a ser utilizado apenas
para armazenamento de mel.
Dessa forma, a produção pode ser prejudicada se, por exemplo, esse
quadro se encontrar na parte do ninho, onde deveria ter apenas uma pequena
quantidade de alimento e uma maior quantidade de crias. Além disso, uma
colmeia com favos velhos também pode contribuir para a divisão natural do
enxame (exameação) mesmo abandono da colônia, doenças ou ataque de
traças.
20
pronatec

O mercado de cera é muito ligado ao de mel, pois é um dos insumos


diretos quando se trata de expansão de fronteiras e do aumento do número
de colônias. A média de produção de cera corresponde a 2% da produção
normal de mel. A produção nacional média por colmeia é estimada em 1,2 kg/
ano. Em 2014, o Brasil produziu 1.700 toneladas de cera.

2.3. Pólen apícola


2.3.1. Definição, composição e utilidade
Existem diferenças entre o pólen das flores e o pólen apícola, o qual
já passou pela manipulação das abelhas campeiras. Sendo assim, o pólen
é encontrado exclusivamente nas flores e contém o gameta masculino das
plantas superiores. Tendo esses vegetais às abelhas como seus principais po-
linizadores. Já o pólen apícola é o resultado da aglutinação do pólen das flo-
res, efetuada pelas abelhas operárias campeiras, mediante adição de néctar e
substâncias salivares, que são normalmente coletados na entrada da colmeia
(alvado) por um equipamento denominado de coletor de pólen ou caça-pólen,
e posteriormente passa por várias etapas de beneficiamento, incluindo conge-
lamento, limpeza e desidratação.
Quando o pólen não é coletado pelo apicultor na entrada da colmeia, as
abelhas o depositam no fundo dos alvéolos, onde este passa por um processo
de fermentação, tornando-se assim o “pão da abelha”, utilizado principalmente
no preparo de alimento para larvas.
Sendo assim, o grão de pólen, além de fundamental para reprodução
da grande maioria das espécies vegetais, é também vital na dieta da abelha,
sendo a principal fonte de proteína, minerais, vitaminas e gorduras. Dessa for-
ma, sem o pólen as abelhas não teriam condições de desenvolver satisfatoria-
mente seus órgãos e glândulas, tão importantes para produção de cera, geleia
real, feromônios e veneno. Também é utilizado para o fortalecimento de col-
meias fracas ou em épocas de escassez de alimentos, além de ser uma das
matérias-primas fundamentais para a produção em larga escala de geleia real.
O pólen contém componentes essenciais da vida corrigindo as falhas
de uma alimentação deficiente e desequilibrada. O valor nutricional do pó-
len também modifica conforme a espécie botânica. O teor de proteína bruta,
por exemplo, pode variar de 8 a 40%. Em sua composição química o pólen
contém ácidos graxos, açúcares, fibras, proteínas, aminoácidos, enzimas, vi-
taminas, minerais e polifenóis, sendo esse último responsável por sua ação
antioxidante.
Para o ser humano, o pólen é um estimulador biológico, e seu uso tem
sido tanto para fins alimentícios, como medicinais, por ser um complexo ali-
21
APICULTURA

mentar. Seu consumo diário auxilia no combate ao estresse, recuperando o


vigor físico e mental. Além disso, seu uso é recomendado para pessoas que
têm problemas de visão deficiente, envelhecimento cerebral, anemia, apa-
relho digestivo, cardiovascular e urinário, hormônios sexuais e prostatismo.
Seu consumo também regula a flora intestinal, regenera a hemoglobina e os
glóbulos vermelhos e, por conseguinte, contribui para a melhor oxigenação do
sangue e dos tecidos.
Dessa forma, o pólen tem sido usado para:
- Tratar anemias;
- Abrir o apetite;
- Restabelecer o equilíbrio e a harmonia das funções orgânicas;
- Favorecer as funções cerebrais;
- Combater o desgaste físico e intelectual;
- Descongestionar a próstata, rins e fígado;
- Melhorar a pele e fortifica os cabelos;
- Estimular o pâncreas no combate o diabetes;
- Favorecer a virilidade e a fertilidade;
- Amenizar os transtornos da gravidez e menopausa;
- Prevenir o envelhecimento precoce;
- Regular o funcionamento e o equilíbrio da flora intestinal;
- Auxiliar como antidepressivo;
- Ajuda no combate ao raquitismo e atraso no crescimento;
- Auxilia na dessensibilização de alergias, na profilaxia de queda de ca-
belos.

2.3.2. Coleta e armazenamento do pólen pelas abelhas


Na coleta do pólen as abelhas podem visitar entre uma e 500 flores
para completar a carga, que varia de 10 a 30 mg, e realizar em média 10 a
15 viagens por dia que, em geral levam 10 minutos, mas podem chegar a
187 minutos. No ninho, o pólen não é estocado em grande quantidade como
o mel, havendo necessidade constante de repor o estoque, por isso que as
abelhas podem procurar seu alimento proteico em distâncias maiores do que
procuram o alimento energético.
Para a coleta do pólen as abelhas movimentam suas pernas e língua
sobre a flor, raspando as anteras e jogando os grãos de pólen em seus cor-
pos, que ficam presos nos pelos ramificados. Posteriormente, esses insetos
usam os pelos existentes nas pernas dianteiras para escovar a cabeça e o
tórax, recolhendo o pólen e aglomerando os grãos com uma pequena gota
22
pronatec

de néctar. Enquanto a abelha paira no ar próximo à flor, transfere a mistura


de pólen e néctar para o segundo par de pernas e dessa para a corbícula,
localizada nas pernas posteriores, onde as pelotas de pólen são transporta-
das até a colônia. Na colônia, as abelhas retiram o pólen da corbícula com
o segundo par de pernas e colocam em uma célula, usando as mandíbulas,
pernas anteriores e cabeça para pressionar o pólen, deixando o alimento bem
compactado no favo.
Antes de ser estocado, o pólen é tratado com substâncias com função
evitar sua germinação nos favo. Além desse processo, o pólen sofre fermen-
tação causada por microorganismos específicos, que facilitam sua ingestão e
digestão pelas crias e abelhas em desenvolvimento.

2.3.3. Mercado do pólen


O mercado brasileiro ainda é deficiente na oferta de pólen, dada a falta
de divulgação de informações sobre o sistema de produção e de reconheci-
mento de demandas que justifiquem tal iniciativa. Dessa forma, há dificulda-
des de exportação em larga escala de pólen no momento, devido à pequena
produção registrada.
A Espanha continua sendo o maior produtor de pólen do mundo (em
torno de 500 t/ano). Não pode ser descartado o potencial nordestino para pro-
dução de pólen, principalmente em seu litoral. Uma ampla faixa de palmei-
ras por todo litoral nordestino podem ser exploradas praticamente o ano todo,
além de algumas áreas de produção em períodos mais curtos que podem dar
subsídios à produção de pólen em uma escala bem maior do que se tem hoje.

2.4. Própolis
2.4.1. Definição, composição e utilidade
A própolis é uma substância resinosa, gomosa e balsâmica, elaborada
pelas abelhas a partir da coleta em brotos, botões florais, gemas e exsudados
de plantas em cortes da casca dos vegetais, que depois de coletada e trans-
portada às colmeias, as abelhas acrescentam cera e enzimas. Esse produto
não é utilizado como alimento pelas abelhas. Depois de coletado e trabalhado,
a própolis é utilizada dentro do ninho como material para construção, imper-
meabilização, fechamento de frestas, união de partes e na mumificação de
invasores mortos incapazes de serem retirados, evitando seu apodrecimento
dentro da colmeia. É utilizada também na limpeza e desinfecção dos alvéolos,
purificação do ar dentro do ninho, regulação da temperatura interna da col-
meia entre outros proveitos.
23
APICULTURA

Sua composição, odor, propriedades medicinais e cor dependem da ori-


gem botânica, apresentando tons amarelado, pardo, avermelhado, acinzenta-
do, esverdeado, entre outro menos comum. Em geral, a própolis é composta
em sua maior parte por resina vegetal e bálsamos, cera de abelha, óleos es-
senciais, pólen (contaminação acidental), ácidos graxos, sais minerais, vitami-
nas, enzimas e antibióticos naturais.
A própolis vem sendo usada pelo homem desde os tempos mais remo-
tos, para vários propósitos, e especialmente na medicina, por causa de suas
propriedades antimicrobianas e terapêuticas, com ações anticancerígena,
antioxidante, anestésica, atuando no sistema imunológico, além de possuir
efeitos cicatrizantes e recuperadores do tecido humano, dentre outras pro-
priedades.
No curso da história, era utilizada pelos sacerdotes egípcios nos rituais
de mumificação, sendo mais tarde nomeada pelos gregos de própolis, que
significa: pro (em prol ou a favor de) e polis (cidade ou povoado). Há rela-
tos antigos de que os Incas utilizavam esta substância em infecções gerais
e febris. Mas sua maior aplicação foi em guerras, onde se utilizou a própolis
extraída em álcool para aplicar em feridas inflamadas e como cicatrizantes.
Dessa forma, a própolis vem sendo utilizada no:
- Tratamento de doenças das vias respiratórias e urinárias;
- Tratamento de feridas, queimaduras, tumores e micoses;
- Tratamento de afecções da cavidade bucal e dos olhos;
- Possui grande poder bactericida;
- Possui ação sobre o sistema capilar.

2.4.3. Mercado da própolis


Devido ao seu alto valor comercial, produzir própolis pode ser mais uma
importante fonte de renda complementar para o apicultor. Cada colmeia pode
produzir até 600 gramas de própolis por ano, dependendo dos métodos de
produção e extração, além de fatores como época do ano, tipo de colmeia, ta-
manho da colônia, disponibilidade de plantas fornecedoras e condições climá-
ticas. Dependendo do seu estado de pureza e sua origem botânica, o preço
do quilograma da própolis equivale ao preço de 15 a 30 kg de mel.
De fato, nos últimos anos, constatou-se um aumento na produção de
própolis, chegando o Brasil a ser o segundo maior produtor mundial, logo atrás
da China, com uma produção anual de 150 toneladas. Desse volume, dois ter-
ços são destinados à exportação, principalmente para Japão, China, Estados
unidos e Alemanha. O Japão é o principal importador deste produto apícola
brasileiro, movimentando cerca de 300 milhões de dólares anuais.
24
pronatec

O preço da própolis no Brasil varia dependendo da origem e da quali-


dade do produto, sendo sua demanda embasada em suas propriedades cos-
méticas e, principalmente, terapêuticas. Os melhores preços quanto à origem
botânica são pagos a própolis verde e a própolis vermelha do mangue.
No que concerne à qualidade do processo de coleta e beneficiamento
da própolis, tem se verificado que o baixo volume e a falta de cuidado na co-
leta e no acondicionamento do produto são responsáveis pela queda do seu
preço quando da prospecção de negócios. Tais problemas podem ser mitiga-
dos com a difusão de tecnologias de coleta e concentração em entrepostos
de cooperativas e associações.

2.5. Geleia real


A geleia real é uma substância branco-leitosa de sabor adstringente e
levemente picante de consistência pastosa produzida pelas operárias a par-
tir da ação, principalmente, das glândulas hipofaringeanas, mandibulares, as
quais estão localizadas e ativas na cabeça de operárias nutrizes. Esse produto
é usado como alimento para larvas até o terceiro dia de desenvolvimento e
para rainha durante toda sua vida. Pode-se dizer que é graças à geleia real
que a abelha rainha tem sua longevidade e desenvolvimento corporal bem
superior em relação às operárias.
Esse superalimento é rico em proteínas, água, açúcares, gorduras e
vitaminas. Apresenta ação biocatalizadora nos processos de regeneração de
células no corpo humano, dada sua composição e quantidades de proteínas,
carboidratos, vitaminas, hormônios, enzimas e substância minerais. Sua pro-
dução no Brasil ainda é incipiente, com foco em demandas da área médica,
sendo utilizado principalmente para o tratamento de arteriosclerose, estimu-
lante do apetite, ativação das funções cerebrais, dentre outras.
Dessa forma, a geleia real tem sido utilizada principalmente para:
- Rejuvenescimento celular;
- Tratamento de asteriosclerose;
- Esgotamento nervoso;
- Cansaço mental;
- Atonia sexual;
- Úlceras gástricas e duodenais;
- Regulação da atividade endócrina.
A geleia real é produzida por alguns apicultores para comercialização
em estado natural, misturada com mel ou mesmo liofilizada em tabletes. As
indústrias de produtos de beleza e de medicamentos também usam esse pro-
25
APICULTURA

duto. Sua produção é bastante trabalhosa e a quantidade extraída por colmeia


é mínima, em torno de 250 gramas por colmeia por ano, se a produção for
contínua.
Para produzir geleia real em grande quantidade a colônia precisa de
uma motivação especial. Então, o apicultor baseia-se em enganar as abe-
lhas, Isolando a rainha e assim diminuindo o feromônio que inibe produção
de outras rainhas. Dessa forma, as operárias tentarão produzir novas rainhas
que serão eliminadas, ainda enquanto crias de menos de 72h de vida, pelo
apicultor para coleta da geleia real depositada em sua maior quantidade nas
realeiras.

2.6. Veneno das abelhas (apitoxina)


Somente a rainha e as operárias possuem ferrão e consequentemente
veneno para injetar nos inimigos. Porém, as rainhas somente usam o ferrão
contra outra rainha rival. As operárias por sua vez, usam o veneno com finali-
dade de defesa da colônia, injetando veneno em qualquer ser vivo que possa
tornar-se uma ameaça para a colônia, e depois morrem.
A apitoxina é uma substância transparente, solúvel em água, composta
de proteínas, aminoácidos, lipídeos e enzimas, produzida pelas glândulas de
veneno das operárias e armazenada na “bolsa de veneno” situada na base do
ferrão, para ser utilizado na defesa da colônia.
Cada operária produz 0,3 mg de veneno, que se dissolve em água e
é composta por proteínas, lipídeos e enzimas. Tendo como principal compo-
nente do veneno uma proteína chamada de melitina.
O veneno purificado é historicamente reconhecido como tendo proprie-
dades antiartríticas potentes. Estudos científicos revelam ser um eficiente me-
dicamento para a saúde humana, recomendado para doenças como artrite,
reumatismo, tendinite, bursite, nevrite, afecções cutâneas, doenças oftalmo-
lógicas e tratamento de esclerose múltipla. Médicos têm usado o produto em
pacientes, sem quaisquer complicações sérias, efeitos colaterais ou morte.
Sua aplicação se realiza através de ferroadas controladas, micro injeções em
determinadas regiões, dentre outros métodos.
Sob a ótica financeira, a apitoxina é valiosa, porém pouco explorada.
Há um potencial considerável deste produto, devido à comprovação cientifica
dos seus efeitos. Apesar de seu reconhecido valor, o uso da apitoxina não tem
grande expressão no Brasil, pois há carência de fornecedores. Além disso,
trata-se de um produto de difícil comercialização, pois, ao contrário de ou-
tros produtos apícolas, o veneno deve ser comercializado para farmácias de
manipulação e indústrias de processamento químico, em razão da sua ação
26
pronatec

tóxica. Assim, sua demanda está concentrada em laboratórios que produzem


remédios para reumatismo, artrite, tendinite, bursite, entre outras moléstias.
Por esse motivo, sua produção deve ser orientada para a compra da apitoxina
por comprador previamente acordado.
A tolerância do homem à dose do veneno é bastante variada. Existem
relatos de pessoas que sofreram mais de cem ferroadas e não apresentaram
sintomas graves. Entretanto, indivíduos extremamente alérgicos podem apre-
sentar choque anafilático e falecer com uma única ferroada.

2.7. Polinização
É comum a introdução de colmeias com abelhas melíferas durante a
fase de florescimento de várias culturas agrícolas. A finalidade é de garantir a
polinização e maximizar a produção comercial de frutos e/ou sementes, prin-
cipalmente em grandes áreas de monocultivo, cujos serviços de polinização
oferecidos pelos ecossistemas nem sempre são capazes de atender a grande
demanda por polinização das culturas-alvo.
Uma polinização bem conduzida pelas abelhas pode: levar ao aumento
no número de sementes, vagens ou frutos vingados; pode melhorar a quali-
dade dos frutos; diminuir o percentual de frutos deformados; aumentar o teor
de óleos e outras substâncias extraídas das sementes; além de encurtar o
ciclo de certas culturas agrícolas e uniformizar o amadurecimento dos frutos
diminuindo as perdas na colheita.
Além desses produtos, a polinização, apresenta uma enorme potencial
em nosso Estado, principalmente devido à demanda gerada pela chegada,
na última década, de grandes empresas produtoras e exportadoras de melão
(Cucumis melo) e melancia (Citrullus lanatus). Outras culturas de grande im-
portância econômica plantadas no Estado do Ceará também se beneficiam
com a polinização dessas abelhas, como é o caso do caju (Anacardium occi-
dentale).
Um dos maiores empecilhos para o desenvolvimento do mercado de
polinização, por incrível que possa parecer, tem sido os próprios resultados
obtidos com o uso de abelhas como polinizadoras. Como a grande maioria
dos apicultores não se preocupa em acompanhar a eficiência polinizadora de
suas colmeias, mas apenas em produzir a maior quantidade de mel possível,
os resultados de polinização normalmente são aquém do que seria esperado.
Os resultados insignificantes fazem com que os agricultores não incorporem
os serviços de polinização como fatores de produção de suas atividades agrí-
colas, nem atraiam outros agricultores para utilizarem agentes polinizadores
em suas lavouras. A preocupação por parte dos apicultores em adotarem pro-
27
APICULTURA

gramas racionais de polinização, que considerassem esses e outros fatores,


certamente aumentaria consideravelmente a eficiência dos agentes poliniza-
dores e a demanda por seus serviços.

2.8. Outros produtos


Atualmente, a atividade apícola conta com mais outros produtos das
abelhas, a venda de colônias e rainhas selecionadas. A aquisição de colônias
por parte do apicultor, além de tornar mais dinâmico o processo de implanta-
ção do apiário, permite-o escolher a qualidade dessas, sendo capaz de prever
sua produtividade, a partir do conhecimento da colônia matriz que a originou.
Não existem dados sobre a produção e comercialização mundial desse pro-
duto.
Assim como os enxames, a rainha selecionada passou a ser um produ-
to comercializado como insumo da atividade apícola. Com um papel de des-
taque na colônia, a rainha, é a peça chave para a melhoria do desempenho
produtivo da colônia. Metade das informações genéticas de toda a família é de
sua responsabilidade, por isso é que sem uma rainha de boa qualidade, fica
inviável à obtenção de uma boa produtividade.

Na prática
1- O que é apicultura?

2- Quais são as vantagens da apicultura com relação a outras atividades agro-


pecuárias?

3- Quais produtos se podem obter com a atividade apícola?

4- O que é a cristalização do mel?

5- O que é o serviço de polinização?


Unidade 2
HISTÓRICO E ATUALIDADES
DA ATIVIDADE APÍCOLA

Objetivos
Fornecer informações sobre os acontecimentos históricos que marca-
ram a evolução da apicultura no mundo, no Brasil e no Ceará.
Capítulo 3
HISTÓRIA DA APICULTURA NO
MUNDO, NO BRASIL E NO CEARÁ

3.1. A exploração irracional das abelhas pelo homem pri-


mitivo e o nascimento da apicultura
A relação entre o homem e as abelhas é bastante antiga, havendo regis-
tro disso nas pinturas primitivas encontradas na Espanha e na África. Estima-
-se que o homem tenha começado a fazer uso dos produtos das abelhas
há mais de 7.000 anos, utilizando-os para fins alimentares e medicinais. O
mel foi o primeiro produto explorado pelo homem, que o utilizava em rituais
e momentos festivos. Naquela época o mel que era a única substância doce
usada na cozinha, só teve seu uso diminuído com expansão dos cultivos de
cana-de-açúcar ao redor do mundo e da descoberta da fabricação do açúcar
século XVII.
O mel, por vários séculos foi retirado de ninhos de abelhas sociais de
forma extrativista e predatória, muitas vezes causando danos ao meio am-
biente, matando as abelhas etc. O processo de obtenção do mel passou por
três fases distintas: a da caça, quando era obtido de maneira extrativista; o da
criação rústica das abelhas em cortiços e caixas primitivas; e, finalmente, a
criação racional quando as abelhas passaram a ser mantidas em colmeias ra-
cionais ou mobilistas. Dessa forma, no momento em que o homem foi apren-
dendo a proteger suas colônias, instalando-as em caixas racionais e realizan-
do manejos de forma que houvesse um melhor aproveitamento do mel sem
causar prejuízo para as abelhas, nasceu a apicultura.
No início da exploração das abelhas sociais pelo homem primitivo era
uma verdadeira “caçada ao mel”, com esse tendo que procurar e localizar as
colônias, que muitas vezes nidifica­vam em locais de difícil acesso e de grande
risco para os coletores. Naquela época, o alimento obtido nos ninhos de abe-
32
pronatec

lhas e consumido era uma mistura de mel, pólen, crias e cera, pois o homem
ainda não sabia como separar cada um desses produtos dos favos. Dessa
maneira, as colônias, muitas vezes, morriam ou fugiam, obrigando o homem a
procurar novos ninhos cada vez que necessitasse retirar o mel para consumo.

Figura 3.1. Abelhas são mais antigas do que o homem das cavernas, que já consu-
mia o produto como uma mistura de mel, pólen e cera.

Fonte: Sebrae Agronegócios, 2006.

A abelha é encontrada na mitologia, na lenda e na história dos povos da


antiguidade como Egito, Grécia, Palestina e Roma e sempre indicada como
um inseto útil exemplo de trabalho e organização, sendo, portanto, digno de
proteção. Para muitos povos, as abelhas passaram a assumir importância cul-
tural e religiosa, sendo consideradas sagradas por essas civilizações.
De todos esses povos são os egípcios os pioneiros na criação de abe-
lhas, afirmação feita na base de autênticos documentos históricos. Em esca-
vações feitas no Egito foram encontrados potes de barros cheios de mel nos
túmulos dos faraós com idade aproximadamente 3.000 anos. Há, aproxima-
damente, 2.400 anos a.C., os egípcios começa­ram a colocar as abelhas em
potes de barro. A retirada do mel ainda era muito similar à “caçada” primitiva,
entretanto, as colônias podiam ser transportadas e colocadas próximo à resi-
dência do criador.
33
APICULTURA

Figura 3.2. Registros históricos da exploração das abelhas polo homem. a. Cena de
uma coleta de mel registrada há aproximadamente 6000 d.C. em uma pintura em
rocha na Espanha. b. Colheita de mel de ninhos de barro registradas em pintura em
parede há aproximadamente 1450 d.C. no Egito.

Fonte: Adaptado de Crane, 1992.

Apesar de os egípcios serem considerados os pioneiros na criação de


abelhas, os gregos também se destacaram na valorização e comércio do mel.
Na Grécia foram encontradas ânforas cheias de mel cristalizado com idade
aproximada de 2.000 anos. O mais interessante é que foi lá que a palavra
colmeia surgiu, pois esse povo foi o primeiro a colocar suas colônias em re-
cipientes com forma de sino feitos de colmos (caules de gramíneas) secos
e trançados, e assim, dando origem ao nome colmeia. Assim, foram princi-
palmente os egípcios e gregos que desenvolveram técnicas rudimentares de
manejo apícola que só foram aperfeiçoadas no final do século XVII.

Figura 3.3. Ilustração de uma das primeiras colmeias arquitetadas pelos gregos.

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/39899146669494686/
34
pronatec

Naquela época, as abelhas já assumiam tanta importância que eram


consideradas sagradas para muitas civilizações. Com isso várias lendas e
cultos surgiram a respeito desses insetos. Com o tempo, elas também pas-
saram a assumir grande importância econômica e a ser considerado símbolo
de poder para reis, rainhas, papas, cardeais, duques, condes e príncipes, fa-
zendo parte de brasões, cetros, coroas, moedas, mantos reais, entre outros.
Na Idade Média, em algumas regiões da Europa, as árvores eram pro-
priedade do governo, sendo proibido derrubá-las, pois elas poderiam servir
de abrigo a uma colônia no futuro. As colônias eram registradas em cartório
e deixadas de herança por escrito, o roubo destas era considerado um crime
imperdoável, podendo o criminoso ser punido com a morte.
Com o passar do tempo, as técnicas de criar abelhas foram sendo mo-
dernizadas, pois muitos criadores de abelhas já não suportavam mais destruir
suas colônias para coletar o mel. Assim, vários estudos foram iniciados no
sentido de minimizar esse problema.

3.2. As descobertas que impulsionaram o desenvolvi-


mento da apicultura moderna
O homem sempre teve um grande fascínio pelo mundo das abelhas e
isto está registrado nos estudos de comportamento, organização e ecologia
deste pequeno inseto. Como relatado anteriormente, foi no século XVII que
várias descobertas que impulsionaram o desenvolvimento da apicultura mo-
derna ocorreram. Contudo, foram as grandes descobertas científicas e inven-
tos acontecidos nos últimos 150 anos que fizeram com que a apicultura pu-
desse ganhar a dimensão global que possui hoje, tornando-se um importante
segmento do setor agropecuário.
Um grande passo na modernização da apicultura foi dado quando o
inglês Butler, em 1609, descobriu o sexo da rainha. Até aquele momento a
rainha era chamada equivocadamente de rei. Ainda no século XVII surgiu o
primeiro estudo da anatomia das abelhas feito pelo cientista holandês Swam-
merdam. No século XVIII surgiram estudiosos como Maraldi e Reaumur que
inventaram as primeiras colmeias de observação e Huber (apicultor cego),
que com a ajuda da esposa e de um amigo descobriu que a fecundação da
rainha era feita fora da colmeia.
Na busca pelo aperfeiçoamento das colmeias, o uso de recipientes ho-
rizontais e com comprimento maior que o braço do produtor foi uma das pri-
meiras tentativas de se acessar o mel sem sacrificar muito a colônia. Nessas
colmeias, para colheita do mel, o apicultor jogava fumaça na entrada da caixa,
35
APICULTURA

fazendo com que todas as abelhas fossem para o fundo, in­clusive a rainha,
e depois retirava somente os favos da frente, deixando uma reserva para as
abelhas.
Alguns anos depois, surgiu a ideia de se trabalhar com recipientes so-
brepostos, em que o apicultor removeria a parte superior, deixando reserva
para as abelhas na caixa inferior. Embora resolvesse a questão da colheita do
mel, o produtor não tinha acesso à área de cria sem destruí-la, o que impos-
sibilitava um manejo mais racional dos enxames. Para resolver essa questão,
os produtores começaram a colocar barras horizontais no topo dos recipien-
tes, separadas por uma distância igual à distância dos favos construídos em
ninhos naturais. Assim, as abelhas construíam os favos nessas barras, o que
facilitava a inspeção por parte do apicultor. Entretanto, as laterais dos favos
ainda ficavam presas às paredes da colmeia, o que impossibilitava que o api-
cultor retirasse esses favos para uma inspeção mais detalhada e para realiza-
ção de manejos como fortalecimento de colônias com a troca de crias entre
colmeias.
Em 1851, o americano, reverendo Lorenzo Lorraine Langstroth verificou
que as abelhas depositavam própolis em qualquer espaço inferior a 4,7 mm e
construíam favos em espaços superiores a 9,5 mm. A medida entre esses dois
espaços Langstroth chamou de “espaço abelha”, que é o menor espaço livre
existente no interior da colmeia e por onde podem passar duas abelhas ao
mesmo tempo (valor médio de 6,0mm). Essa descoberta simples foi uma das
chaves para o desenvolvimento da apicultura racional. Inspirado no modelo
de colmeia usado por Francis Huber, que prendia cada favo em quadros pre-
sos pelas laterais e os movimentava como as páginas de um livro, Langstroth
resolveu estender as barras superiores já usadas e fechar o quadro nas late-
rais e abaixo, mantendo sempre o espaço abelha entre cada peça da caixa.
Dessa forma, foram criados os quadros móveis que poderiam ser retirados
das colmeias pelo topo e mo­vidos lateralmente dentro da mesma colmeia ou
mesmo introduzidos em outras. Foi também Langstroth quem revolucionou
a apicultura com a primeira colmeia com suas partes móveis, chamada de
colmeia Langstroth ou colmeia americana, ou ainda colmeia universal. A partir
daí, iniciou-se, então, a era da colmeia mobilista. Assim, foram esses tipos
de descobertas que favoreceram o avanço tecnológico da atividade apícola
como a conhecemos hoje. Outras importantes invenções também colabora-
ram para a melhoria da atividade apícola, porém estas serão tratadas nos
próximos livros.
36
pronatec

3.3. Apicultura no Brasil


3.3.1. Chegada das abelhas melíferas (Apis mellifera L.) ao país
A apicultura iniciou-se no Brasil somente no século XIX. Antes dessa
data não existia Apis mellifera L. na América. Até hoje a única espécie do
gênero Apis introduzida nas Américas foi A. melífera, conhecida também por
abelha melífera. Essa espécie foi trazida pelos colonizadores europeus e in-
troduzida em diversos pontos do continente americano. No Brasil, apenas as
subespécies A. mellifera mellifera e A. mellifera carnica foram trazidas inicial-
mente. A introdução oficial deu-se por meio de um decreto real, assinado pelo,
então, imperador D. Pedro II em 1839, concedendo ao padre Antônio Pinto
Carneiro o direito de importar abelhas para o Rio de Janeiro. Acredita-se, po-
rém, que essas abelhas já teriam sido trazidas do Paraguai para as Missões
dos jesuítas no Rio Grande do Sul antes do decreto oficial. Após a importação
do padre Antônio Pinto Carneiro, muitas outras ocorreram quando, então, as
famosas abelhas italianas (A. mellifera ligustica) foram introduzidas no país.
Na região Nordeste do Brasil, a primeira introdução conhecida ocorreu
em 1895 quando Dom Amaro van Emelen importou abelhas italianas (A. melli-
fera ligustica) diretamente da Itália para cidade de Olinda, Pernambuco. Em
1906 Dom Amaro von Emelen voltou a importar abelhas melíferas da Itália,
mas desta vez o destino foi o Ceará.

3.3.2. A africanização da apicultura nas Américas


As subespécies de A. mellifera introduzidas no Brasil eram todas de ori-
gem europeia. Nas regiões frias do país com condições climáticas semelhan-
tes à Europa, como os estados sulinos, essas abelhas apresentavam desem-
penho satisfatório. Nos demais estados brasileiros, tipicamente tropicais, as
abelhas europeias tinham grandes dificuldades de adaptação e sua produção
ficava bem abaixo dos níveis desejados.
Visando tornar a apicultura brasileira mais produtiva, o governo brasileiro
autorizou o Professor Warwick Estevan Kerr a importar da África rainhas de
raças africanas para desenvolver pesquisas com essas abelhas no país. O
motivo da importação de subespécies africanas se deu baseado nos relatos de
altas produtividades dessas abelhas em regiões do continente africano de con-
dições climáticas semelhantes às brasileiras. Assim, em 1956 o prof. Kerr co-
letou na África 170 rainhas fecundadas da subespécie A. mellifera scutelatta,
das quais apenas 46 sobreviveram à viagem para o Brasil e foram introduzidas
em colônias de uma estação experimental em Rio Claro, Estado de São Paulo.
Experimentos iniciais mostraram que essas rainhas importadas au-
mentaram a produção de mel de suas colônias em quase 100% em relação
às rainhas de origem europeia. No entanto, antes que a pesquisa pudesse
37
APICULTURA

continuar, diz a história oficial, que uma pessoa desavisada retirou as telas
excluidoras que guardavam a entrada (alvado) das colmeias permitindo que
26 colônias enxameassem para a mata. Tendo encontrado nas matas brasilei-
ras condições climáticas propícias, abundância de alimento sem competição
de outras colônias e sem seus inimigos naturais que ficaram na África, as
26 colônias africanas teriam se multiplicado rapidamente e seus descenden-
tes colonizado novas área do país e miscigenado com as abelhas de origem
europeia existentes no Brasil. Esse processo foi que deu origem a um poli-
-híbrido entre raças europeias e africanas, que se convencionou chamar de
abelha africanizada.
Atualmente alguns cientistas duvidam dessa versão e acreditam que
além do acidente que liberou os 26 enxames, também houve uma distribuição
de rainhas descendentes das colônias remanescentes devido a uma empol-
gação pela boa produtividade obtida nos experimentos iniciais. Seja qual for a
versão correta, o fato é que as abelhas africanizadas apresentaram uma ca-
pacidade e velocidade de colonização de novas regiões assustadora (avan-
çavam de 300 a 500 km/ano). Assim, essas abelhas em apenas 10 anos já
haviam avançado para o oeste até a fronteira do Brasil com a Bolívia, alcan-
çado o norte da Argentina, Paraguai e Rio Grande do Sul em direção ao sul
do continente e o Ceará em direção ao norte. O avanço continuou acelerado
nos anos seguintes com as abelhas africanizadas tendo chegado aos Estados
Unidos em 1990.
Atualmente, as abelhas africanizadas já ocuparam grande parte ou a
totalidade dos estados do Texas, Califórnia, Arizona, Novo México, e Nevada
no Sul dos EUA, e parte da Flórida. Seu limite ao norte, embora em uma ve-
locidade muito menor do que a registrada nas regiões de clima tropical (300
a 500 km/ano), ela continua em expansão. As únicas regiões do continente
americano que não são povoadas por essas abelhas são o sul da Argentina,
devido ao clima muito frio, as áreas a oeste da cordilheira dos Andes que os
enxames não conseguem ultrapassar e os estados e regiões americanas ao
norte do Texas, Arizona e Califórnia, e o Canadá. Assim, o certo é que o clima
frio dos estados americanos, situados mais ao norte, freou o avanço das afri-
canizadas da mesma forma que aconteceu na parte sul da Argentina.

3.3.3. Impactos iniciais da africanização no país


No seu avanço sem controle as abelhas africanizadas causaram muitos
problemas. No Brasil a população de abelhas europeias era muito pequena,
quase não existindo, portanto, competição por fontes de alimento e locais de
nidificação para as abelhas africanas, o que favoreceu a sua rápida expan-
são territorial. A baixa densidade de abelhas europeias em várias regiões do
38
pronatec

país também pouco contribuiu para a diluição do material genético africano,


mantendo as colônias com uma bagagem genética africana quase pura. Isso
significa que essas colônias mantinham as características de produzir muitos
enxames com grande frequência, abandono de ninhos em condições desfa-
voráveis e a principal delas, a grande defensividade.
No inicio da africanização, tanto a população quanto a apicultura bra-
sileira conheciam apenas as abelhas europeias e desconheciam os hábitos
de abelhas africanas. Porém, o uso do manejo e manipulação aplicados para
abelhas europeias mostrou-se inadequado para as africanas causando mui-
tos acidentes com pessoas e animais. Com isso, essas abelhas foram con-
sideradas pragas da apicultura e começaram a surgir campanhas para sua
erradicação, não só nos apiários, mas também nas matas com aplicação de
inseticida em todo o país. Nessa época, as abelhas africanizadas foram con-
sideradas animais assassinos pela imprensa sensacionalista e pela popula-
ção leiga no assunto. Outro reflexo foi o abandono da atividade por muitos
apicultores e a queda da produção de mel do país por uma inadequação da
forma de criação e manejo até então praticada à nova realidade moldada pelo
processo de africanização. Somente após estudos de apicultores e cientistas
acerca, principalmente, do comportamento, biologia e manejo dessas abelhas
levou ao desenvolvimento de técnicas apropriadas para lidar com as abelhas
africanizadas, mostrando que a grande maioria dos acidentes foi causada por
ignorância das pessoas sobre essas abelhas.
Além dos aspectos culturais, esse novo cenário exigiu a profissionaliza-
ção do setor, a necessidade de adequação das indumentárias, das práticas
e dos processos para tentar minimizar os aspectos negativos relacionados à
maior defensividade da abelha africanizada; vestimentas foram remoldadas,
fumegadores tornaram-se maiores e mais potentes, apiários passaram a ser
instalados distante das residências, estradas, aglomeração de pessoas e cria-
ções de animais etc.
Durante muitos anos houve no Brasil uma grande discussão sobre se
devíamos tentar eliminar as abelhas africanizadas da nossa apicultura e en-
contrar uma maneira de trazer as europeias novamente ou não. A resposta foi
dada pelas próprias abelhas visto que a africanização da apicultura brasilei-
ra, embora tenha sido problemática no seu inicio, possibilitou a expansão da
atividade apícola em escala econômica para regiões do país onde a abelha
europeia mostrava-se inadequada, como o Nordeste por exemplo.
Assim, apesar de ainda existirem muitos críticos desse processo de afri-
canização pelo qual passou nossa apicultura, a atividade se consolidou e tem
se destacado dentro do agronegócio com uma das que mais se desenvolve.
A prova disso é que a produção de mel do Brasil saltou de aproximadamente
39
APICULTURA

6.000 toneladas por ano antes da africanização, quando o país nem figurava
no ranking dos maiores produtores de mel do mundo, para mais de 37,82 mil
toneladas anuais em 2015, segundo o IBGE, levando o país a oitava posição
mundial.
De fato, os avanços em técnicas de manejo e equipamentos apícolas
dos últimos 40 anos certamente teriam aumentado a produtividade da apicul-
tura independentemente da africanização, porém nunca a níveis tão elevados.
Hoje em dia já não se discute mais no Brasil sobre se as abelhas africanizadas
deveriam ficar ou não.
É importante ressaltar que a “africanização” não ocorreu uniformemente
em todos os locais colonizados pelas abelhas africanizadas. Na verdade, es-
tudos de DNA tem demonstrado que o nível de miscigenação entre as abelhas
de origem europeia e africana varia enormemente de região para região, tanto
em função da densidade de colônias de abelhas europeias existentes na área
quanto às condições climáticas. Assim, o clima frio do sul da Argentina impede
a penetração das abelhas com material genético africano, fazendo com que
apenas abelhas europeias sejam encontradas. Na parte central da Argenti-
na, com temperaturas mais amenas já predomina a miscigenação europeia-
-africana, enquanto que no Nordeste do Brasil geneticamente as abelhas são
africanas.
Realmente a população de abelhas no Nordeste brasileiro era muito
pequena e pouco deve ter influenciado no material genético das africanas. No
entanto, para distinguir as abelhas da África com as que hoje são criadas no
Brasil, convencionou-se a chamar essas abelhas de “africanizadas”.

SAIBA MAIS

Pontos positivos da africanização para a apicultura nacional:


• Abundância de enxames, graças à tendência enxameatória da raça ancestral, faci-
litando a aquisição de colônias na natureza;
• Alta produtividade em ambiente tropical;
• Elevada resistência a doenças;
• Estímulo à pesquisa e seleção de linhagens menos agressivas;
• Adaptação e desenvolvimento de práticas de manejo adequadas à nova
realidade;
• Estimulo à pesquisa e seleção de linhagens.
Fonte: Adaptado de Freitas, 1998.
40
pronatec

Figura 3.4. Evolução da produção de mel no Brasil

3.3.4. Cronologia do Agronegócio da Apicultura no Ceará


A apicultura só começou a ganhar “status” de negócio no Estado do
Ceará após a segunda metade do século XX. Abaixo seguem as etapas cro-
nológicas do desenvolvimento da apicultura após a africanização até o estado
atual.
- Anos 70: introdução da abelha africanizada no Nordeste brasileiro e o mito
quanto a sua utilização na apicultura local. Logo em seguida se iniciou o pro-
cesso de aprendizagem quanto à convivência e o manejo racional das abe-
lhas africanizadas.
- Anos 80: entrave junto ao apicultor de abelhas europeias, entretanto, foi
grande a euforia dos pequenos agricultores extrativistas que obtiveram grande
volume de mel comparado ao que produziam antes da chegada das abelhas
africanizadas. Nesse período também que os apicultores e cientistas desmitifi-
caram as crenças negativas sobre a reputação da abelha africanizada quanto
sua produção e manejo em campo. Nesta década também foi inserida a disci-
plina de apicultura no curso de Agronomia da Universidade Federal do Ceará
(UFC).
41
APICULTURA

- Anos 90: a atividade ganha apoio quanto às linhas de financiamento, promo-


vendo o desenvolvimento da cadeia produtiva da apicultura cearense, geran-
do ocupação e renda. São lançados projetos de incentivo a cadeia apícola,
que receberam apoio do Governo do Estado, Bancos e agências de suporte
ao pequeno e médio empreendedor, com capacitação e financiamento, foi
implantado um grande programa de apicultura, tendo seu modelo replicado
em vários outros Estados brasileiros.
- Ano de 2001: estimulado pelo embargo imposto ao mel chinês e argentino
pela União Europeia e Estados Unidos, o Estado do Ceará e outros Estados
entram firme no comércio internacional aumentando vertiginosamente suas
exportações. O Ceará iniciou suas exportações com uma marca de 244 tone-
ladas, gerando um valor bruto nas exportações de quase 1,5 milhão de reais.
- Ano de 2002: nesse ano é criada a FECAP - Federação Cearense de Api-
cultura.
- Ano de 2003: o mel cearense chega a um valor histórico nas exportações,
atingindo US$ 2,36 / kg.
- Ano de 2005: inicia-se a comercialização de mel de abelha através da CO-
NAB (Companhia Nacional de Abastecimento) para merenda escolar e ex-
pansão desta ação por parte de prefeituras municipais. Esta ação fortaleceu
a cadeia apícola.
- Ano de 2007: redução nas exportações no Ceará devido ao embargo do mel
brasileiro imposto pela Europa desde o ano anterior.
- Ano de 2008: fim do embargo Europeu ao mel brasileiro. Nesse ano o setor
apícola no país mais que dobrou o valor das exportações com relação a 2007
atingindo US$ 43,57 milhões (incremento 106%) e aumentou 42% na quanti-
dade. Iniciam-se trabalho junto as Cooperativas de Apicultores para agrega-
ção de valor ao mel produzido (Certificação Orgânica, Comércio Justo e Indi-
cação Geográfica). No Ceará a produção de mel cresceu aproximadamente
30,0%. Limoeiro do Norte foi o município que apresentou a maior produção
nacional de mel.
- Ano de 2009: entre os produtos do agronegócio cearense, merece destaque
absoluto o crescimento extraordinário das exportações de mel de abelhas do
Ceará, passando de 3° para 2° exportador brasileiro, desbancando o Estado
do Rio Grande do Sul, ficando apenas atrás do Estado de São Paulo nesse
quesito. Os Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Ceará são os maiores
produtores de mel, mantendo, respectivamente, 18,5%, 12,5% e 12,2% do
total nacional. Limoeiro do Norte é o maior produtor nacional, seguido por Ara-
ripina (PE) e Apodi (RN). Foi criada a Câmara Setorial do Mel, agregando os
agentes que compõem a cadeia apícola no Estado do Ceará.
42
pronatec

- Ano de 2012: a produção de mel de abelha teve redução de 19,3% entre os


anos de 2011 e 2012. A variação no valor de produção também foi negativa
(-3,6%), mas proporcionalmente menor, visto que houve o aumento dos pre-
ços do produto que passaram de R$ 5,96 o quilo, em 2011, para R$ 7,11, em
2012. Ressalta-se a grande queda de produção nos Estados do Nordeste do
País, sobretudo no Piauí, Ceará, Pernambuco e Bahia. As Regiões Sudeste,
Sul e Centro-Oeste aumentaram suas produções em 2012, mas em volume
insuficiente para compensar as quedas do Nordeste e do Norte do País.
Atualmente, o Estado do Ceará ainda continua enfrentando problemas na pro-
dução de mel face aos consecutivos anos de seca, com chuvas abaixo da
média. As secas seguidas alteram a o ciclo de floração natural das plantas
nativas, e, portanto, limitam o alimento natural das abelhas. Como consequ-
ência se aumenta o índice de abandono de colônias das colmeias. Esse pe-
ríodo prolongado de seca também levou ao aumento no uso da alimentação
artificial, o que onera por demais os custos de produção dessa atividade. Es-
ses acontecimentos levam a redução no plantel e na produtividade, além de
desestimularem vários apicultores a continuarem na atividade. Sendo assim,
o grande desafio da apicultura atual está na adoção de práticas de manejo
sustentáveis adequadas às contrastantes sazonalidades das condições am-
bientais enfrentadas por essas abelhas na maioria das localidades no Estado
do Ceará.
Outros entraves que impedem o avanço na apicultura cearense são que
a cadeia produtiva desta atividade ainda não se encontra bem estruturada e
há falta de integração entre seus componentes. Além disso, o apicultor possui
baixo nível de profissionalização, existe dificuldade de acesso a tecnologias e
assistência técnica, o setor é fortemente dependente do mercado externo, há
carência de entrepostos e existe um grande número de casas de mel que não
atendem às normas do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento
(MAPA).

Na prática:
1- Quais os primeiros povos a criar as abelhas evitando destruir seu ninho?
2- O que é o espaço-abelha?
3- O que foi a africanização?
4- Qual os pontos positivos da africanização para a apicultura nacional?
5- Quando e qual município do Ceará se tornou pela primeira vez o maior
produtor de mel no país?
Unidade 3
MERCADO DO MEL E CADEIA
PRODUTIVA DA APICULTURA

Objetivos
Entender a cadeia produtiva apícola, seus segmentos da produção, in-
dustrialização e comercialização no Brasil, no Nordeste e no Ceará, e analisar
os principais entraves ao desenvolvimento da cadeira produtiva apícola no
Ceará.
45
APICULTURA

Capítulo 4
MERCADO DO MEL

4.1. A situação atual da produção de mel no Brasil


O mel e demais produtos apícolas vêm conquistando cada vez mais
consumidores no mundo, gerando a perspectiva de crescimento da participa-
ção da apicultura no agronegócio brasileiro.
A China é o maior produtor mundial de mel, a partir de 2008 a Turquia
passou a ocupar o segundo lugar na produção mundial, ultrapassando os Esta-
dos Unidos. O Brasil, em 2015 ocupou o 8º lugar na produção mundial de mel.
Em 2015 a produção de mel brasileira alcançou 37,82 mil toneladas. Ain-
da nesse ano de 2015 a região Sul foi a maior produtora de mel, sendo respon-
sável por 37,3% do total nacional, seguida pelas Regiões Nordeste (32,6%),
Sudeste (23,4%), Centro-Oeste (4,2%) e Norte (2,5%). A queda da produção
ocorreu em três Grandes Regiões brasileiras – Sul, Norte e Centro-Oeste. O
Sul do País, onde ocorreu a maior queda, apresentou redução de 14,2% de
sua produção em relação ao ano anterior, e as causas principais foram o ex-
cesso de chuvas que atingiu a região, diminuindo a visitação das flores, além
de relatos de morte de abelhas ocasionados pelo uso de agrotóxicos em la-
vouras. No Norte, a queda foi de 9,8%; e no Centro-Oeste, 5,7%. A retração da
produção só não foi maior devido ao aumento observado no Nordeste (16,6%),
que ampliou sua participação na produção, mesmo com a seca que afetou
os estados da região. O aumento registrado na produção de mel nordestino
ocorreu principalmente na Bahia e no Piauí. O Sudeste também conseguiu um
aumento da produção (1,5%), puxado por Minas Gerais e Espírito Santo.
Com a produção do Rio Grande do Sul novamente em queda (-17,2%),
o Paraná, que cresceu 10,5%, assumiu a primeira posição nacional, com 6,29
mil toneladas de mel produzidas. O Rio Grande do Sul, na segunda posição,
46
pronatec

produziu 4,96 mil toneladas e foi seguido de perto por Bahia (4,60 mil tone-
ladas) e Minas Gerais (4,37 mil toneladas). Santa Catarina, que ocupava a
terceira posição em 2014, registrou queda de 40,0% na produção e passou
ao sétimo lugar do ranking nacional.
O valor da produção total de mel foi de R$ 358,85 milhões, indicando
aumento de 13,9% em relação a 2014. O preço médio nacional foi de R$ 9,49
o quilo do produto. A média de preço mais alta foi registrada no Norte (R$
15,64), enquanto a menor, no Nordeste (R$ 8,34). A produção de mel no ano
de 2015 ocorreu em 3.993 municípios, sendo Arapoti (PR), Ortigueira (PR) e
Campo Alegre de Lourdes (BA) os que mais sobressaíram.

4.2. Mercado interno


O Brasil, apesar de apresentar um grande potencial de consumo de
mel, este é pouco significativo. O consumo de mel no país é muito baixo em
relação ao consumo de outros países, e internamente ainda sofre alterações
significativas nas diversas regiões do país. O baixo consumo de mel é ex-
plicado pela falta de um hábito consolidado do consumo deste produto pela
população, que o utiliza, na maioria das vezes, de forma medicinal; e pela
relação direta entre poder aquisitivo e consumo, já que o preço do produto,
afeta diretamente o consumo.
Um ponto difícil de estabelecer é o tamanho do mercado interno real.
Sabe-se que no Brasil, de uma forma geral, o consumo per capita anual gira
entre 250 e 300 gramas entre as classes alta e média. Para o Sul, esse valor
sobe para 400 gramas/ano, caindo para somente 150 gramas/ano na região
Nordeste. Enquanto em países como Estados Unidos e Alemanha esse con-
sumo atinge 1,0 kg/pessoa/ano e 2,4 kg/pessoa/ano, respectivamente.
Na indústria alimentícia, o mel é utilizado principalmente como ingredien-
te na mistura em alguns produtos (iogurte, biscoitos, etc.). O mesmo acontece
com a indústria de higiene e cosméticos, que têm utilizado o mel como base
para diversos produtos como xampus, condicionadores, sabonetes, cremes,
loções e óleos. O mel na hotelaria é ingrediente em diversas receitas e oferta-
do no café da manhã, principalmente, nos hotéis que recebem turistas euro-
peus e americanos, que possuem hábito de consumir mel no café da manhã.
Existem ainda dificuldades inerentes ao setor produtor nordestino que
limitam o pleno desenvolvimento da atividade. O apicultor possui baixo nível
de profissionalização, existe dificuldade de acesso a tecnologias e assistência
técnica, há carência de entrepostos e casas de mel devidamente equipadas
e a infraestrutura de laboratórios para pesquisa e controle de qualidade dos
produtos é limitada.
47
APICULTURA

Apesar de todos esses problemas, a apicultura está se consolidando


na Região como importante atividade para diversificação da produção dos
pequenos produtores do Semiárido onde existe grande limitação de recur-
sos hídricos que juntamente com outros fatores reduzem as alternativas de
produção.
O aumento do consumo interno faz com que o País se torne menos vul-
nerável às oscilações do mercado externo. Além disso, existem dificuldades
de se enviar o mel fracionado para a União Europeia. Logo, o referido produto
deve ser direcionado ao mercado interno que tem realmente um grande po-
tencial consumidor.
Existe uma evidente carência de esforços de planejamento de divul-
gação e marketing no setor, como forma de incentivar o consumo de mel, a
exemplo do que vem sendo feito por inúmeros outros produtos alimentícios
no Brasil. Estimular o aumento do consumo por meio de campanhas para
introdução do mel nas refeições diárias é uma estratégia viável no aumento
do consumo de mel no mercado interno. Uma ação importante, realizada por
algumas prefeituras, é a introdução de sachês de mel na merenda escolar
do município com consumo diário estimado em 10g/aluno/dia. Além dessas,
existem outras estratégias importantes que elevam o consumo no mercado
interno, tais como a criação e divulgação de catálogos sobre mel e derivados
de cada região de produção, destacando sua importância para a alimenta-
ção humana.

4.3. Mercado externo


A produção brasileira de mel era voltada para o mercado interno até
o ano 2000, pois o volume produzido era muito baixo. No entanto, em 2001
verificou-se um aumento de mais de 800% nas exportações brasileiras de
mel, em decorrência do embargo sofrido pela China e Argentina, principais
exportadores mundiais, por conta de práticas inadequadas. Desde então, no-
ta-se que grande parte da produção brasileira de mel destina-se ao mercado
internacional.
Por conta da grande aceitação do mel brasileiro no exterior e do baixo
consumo no mercado interno, grande parte da produção nacional é destinada
à exportação, requerendo do setor, especial atenção para o atendimento das
exigências desse mercado. Apesar das vantagens comparativas, o Brasil ain-
da é bastante vulnerável no mercado externo de mel, que está centralizado na
mão de poucas empresas importadoras que, portanto, possuem grande poder
de mercado. Além disso, grande parte do volume do mel brasileiro é exportada
a granel, com baixo valor agregado.
48
pronatec

Assim, o direcionamento de um elevado percentual da produção nacio-


nal para o comércio internacional pode representar um fator de risco para a
apicultura brasileira, uma vez que, o mercado mundial de mel é bastante rigo-
roso e instável. Exemplos disso foram quando crescimento das exportações
brasileiras foi interrompido em 2005, quando a China e a Argentina retornaram
ao mercado mundial, após o embargo sofrido. O retorno destes países au-
mentou a oferta de mel e diminuiu o preço do produto. Houve uma queda na
demanda pelo mel brasileiro e também no seu preço, afetando diretamente os
apicultores/exportadores nacionais. E quando se teve o embargo sofrido pelo
Brasil no período 2006-2008 pela União Europeia, que vetou as importações
do mel brasileiro sob a alegação de ausência de diretivas para controle de
resíduos, conforme as regras europeias.
Espera-se, portanto, que a posição dos produtores nacionais de mel seja
revista, pois a grande dependência do mercado externo é um fator de risco para
toda a cadeia produtiva. A conquista de consumidores brasileiros e a expansão
do mercado nacional certamente reduzirão as incertezas quanto à comerciali-
zação do mel, às quais estão susceptíveis os produtores/exportadores de mel,
podendo citar o embargo sofrido pelo Brasil no período 2006-2008, quando
a União Europeia vetou as importações do mel brasileiro sob a alegação de
ausência de diretivas para controle de resíduos, conforme as regras europeias.

Figura 4.1. Características da produção de mel de alguns dos principais países pro-
dutores comparados ao Brasil

Fonte: Khan et al., 2014.


Capítulo 5
ASPECTOS GERAIS DA CADEIA
PRODUTIVA DA APICULTURA

5.1. Aspectos gerais da cadeia produtiva do mel


Uma cadeia produtiva envolve uma sucessão de operações de trans-
formação de uma matéria-prima em um produto intermediário ou final, bem
como a sua distribuição até o consumidor final. Desse modo, essas cadeias
são os elos entre as matérias-primas básicas, as máquinas e equipamentos,
os produtos de consumo intermediário e produto final assim como sua distri-
buição e comercialização.
As condições favoráveis à expansão das exportações de mel e à di-
fusão da apicultura como atividade geradora de renda estimularam o cresci-
mento do setor apícola brasileiro nos últimos anos. Em consequência, ocorreu
o surgimento de empresas especializadas no fornecimento dos insumos em-
pregados no processo produtivo do mel e nota-se um número cada vez maior
de apiários espalhados por todo Brasil.
Uma cadeia produtiva de produtos agrícolas é composta basicamente
pelos seguintes agentes: os fornecedores de insumos, os agricultores, os pro-
cessadores, os comerciantes e o mercado consumidor. Esses agentes são
caracterizados da seguinte forma:
• fornecedores: são as empresas que suprem os produtores dos insu-
mos necessários à produção;
• produtores agrícolas: aqueles que transformam os insumos ou ma-
téria-prima no produto final em sua forma in natura;
• processadores: são as agroindústrias responsáveis pelo beneficia-
mento ou transformação dos produtos in natura;
50
pronatec

• comerciantes: neste segmento existem dois tipos: os atacadistas


e os varejistas. Os atacadistas são os grandes distribuidores que
possuem por função abastecer redes de supermercados, pontos
de vendas e mercados exteriores. Já os varejistas constituem os
pontos cuja função é comercializar os produtos junto aos consumi-
dores finais;
• consumidor final: ponto final da cadeia produtiva.
A cadeia produtiva do mel no Brasil e no Nordeste encontra-se em fase
de amadurecimento e profissionalização, com níveis elevados de fragmenta-
ção e desorganização. Pode-se caracterizar a atividade por meio de alguns
critérios:
• Floradas: provenientes de espécies vegetais nativas ou de áreas
cultivadas;
• Aproveitamento das floradas: apicultura fixa (quando o apicultor per-
manece fixo em sua região, aguardando as floradas principais) e
migratória (quando o apicultor identifica as floradas que ocorrem
durante o ano e se desloca com as suas abelhas para os locais
destas floradas. É mais produtiva);
• Extração do mel: em casas de mel;
• Processamento: ocorre em entrepostos com o objetivo de retirar im-
purezas. Os processadores de mel são os próprios apicultores, as
cooperativas e/ou associações de apicultores;
• Distribuição do produto ao consumidor final: geralmente em barris
(quando o mel é destinado às indústrias e ao mercado externo) ou
fracionados em pequenos volumes para o mercado interno.
Os elos ou segmentos que interagem na cadeia de produção apícola
no Nordeste compreendem: os fornecedores de insumos, máquinas e equipa-
mentos; os apicultores (associados ou não), as associações e cooperativas;
os intermediários; os entrepostos ou empresas de envase; a distribuição, com-
preendendo o atacado e o varejo; e, finalmente, o consumidor.
A figura do intermediário ou atravessador atua junto aos produtores e
processadores/fracionadores geralmente com a função de viabilizar a distri-
buição do produto, oferecer serviços comerciais e financeiros. Dessa forma,
estes desempenham um importante papel na cadeia do mel, pois possibilitam
o escoamento da produção dos apicultores que muitas vezes estão instalados
em locais de difícil acesso.
51
APICULTURA

5.2. Caracterização da apicultura nordestina


A localização do Brasil, de modo especial, do Nordeste é bastante pro-
pícia ao bom desempenho da apicultura, pois o País possui vasta extensão
territorial, grande diversidade florística, possibilidade de produção durante
todo o ano e em algumas regiões, a exemplo do Semiárido, as condições
climáticas desfavorecem a incidência de pragas e doenças.
O Semiárido nordestino proporciona excelentes condições para a ex-
ploração apícola, não só pelo clima favorável, mas também pela riqueza nec-
tarífera de sua vegetação. O Nordeste é uma região, entre poucas do mundo,
com possibilidade de produzir mel orgânico, pois grande parte do volume do
mel nordestino é proveniente da flora nativa (caatinga) que possibilita a pro-
dução de mel livre de resíduos de pesticidas agrícolas. Além disso, existem
áreas onde não se utilizam agrotóxicos nas lavouras e os enxames são bas-
tante resistentes às pragas e doenças o que dispensa o uso de antibiótico.
Dessa maneira, o mel nordestino possui boas perspectivas no mercado exter-
no que tem uma grande reocupação com a presença de contaminantes nos
alimentos. O Semiárido possui também grande potencial para a produção de
pólen e própolis. A produção de mel ocorre somente no período chuvoso do
ano, porém permite que o pequeno produtor desenvolva outras atividades na
propriedade.
A apicultura desenvolvida no Nordeste tem caráter eminentemente
familiar. De cada família que trabalha na apicultura, em média, 2,1 pessoas
se envolvem na atividade. A quantidade de colmeias por apicultor é bastante
diversificada, porém, a maioria possui menos de 100, o que significa que a
atividade está na fase de crescimento com características essencialmente
familiares. Por ser uma atividade praticada predominantemente por pequenos
produtores, tem se configurado numa alternativa para diversificação da fonte
de renda nas pequenas propriedades rurais.
Por todas essas características, a apicultura está se expandido de for-
ma acentuada em todos os estados do Nordeste e tem se mostrado de grande
importância no Semiárido na geração de renda, postos de trabalho, conserva-
ção e recuperação da vegetação nativa. Contribui ainda para o fortalecimento
das relações associativas, visto que a atividade requer o trabalho comunitário.
No entanto, a cadeia produtiva do mel no Nordeste ainda não se en-
contra bem estruturada e falta a integração a entre seus componentes, contri-
buindo para isso o fato de se tratar de uma atividade comercial relativamente
recente e formada basicamente por produtores de origem familiar que têm na
produção de mel um meio de complementação da renda.
52
pronatec

Para que a atividade seja eficiente, a apicultura exige do produtor co-


nhecimento sobre biologia do inseto (abelha), sobre os instrumentos utiliza-
dos, a escolha da área ideal para instalação do apiário e manejo adequa-
do, principalmente no período seco do ano. Observa-se que, para o apicultor
familiar, a ausência ou insuficiência de assistência técnica tem reflexos não
apenas na qualidade do mel, mas também em sua reduzida produtividade e,
consequentemente, na rentabilidade da atividade apícola.

5.3. Entraves ao desenvolvimento da cadeira produtiva


apícola nordestina
Na apicultura nordestina, os maiores entraves ocorrem na área de ob-
servância das normas sanitárias, contribuindo para que o apicultor ou o esta-
belecimento processador mantenha suas atividades em completa informalida-
de. Por outro lado, a fragilidade dos serviços de inspeção ajuda a manter essa
informalidade e se torna um fator agravante para a manutenção do padrão
internacional do mel brasileiro.
O setor apícola nordestino possui carência de entrepostos de beneficia-
mento devidamente equipados e de casas de mel que atendam as exigências
legais. Outro problema que limita o desenvolvimento do setor é o baixo nível
tecnológico dos apicultores que ainda adotam tecnologias rudimentares. As
inovações tecnológicas são fatores determinantes da competitividade, pois
imprescindíveis aos ganhos de lucratividade e competitividade deste setor.

Outros importantes gargalos são apresentados abaixo:


a) A produtividade nordestina é baixa, em comparação à de países como Ar-
gentina, Estados Unidos e China;
b) Baixo nível de profissionalização do apicultor;
c) Pequena capacidade de estocagem. Além disso, no Nordeste, não se pode
armazenar mel por um longo período de tempo, pois em altas temperaturas
aumenta o Hidroximetilfurfural (HMF) do produto;
d) Concentração de estabelecimentos processadores;
e) Poucos apicultores conseguem aproveitar o primeiro fluxo de néctar, por-
que no início do período chuvoso as colmeias estão com população muito
abaixo da necessária para produzir mel. Esse é um dos principais motivos da
baixa produtividade no Nordeste;
f) Exportação de mel a granel;
g) Concentração das exportações para os Estados Unidos;
h) A baixa produção e irregularidade da oferta de cera, pólen, própolis, geleia
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APICULTURA

real e apitoxina dificultam a comercialização desses produtos;


i) Déficit no número de casas de mel;
j) Dificuldade do apicultor em transportar as melgueiras até a casa de mel, pois
a maioria não possui transporte e o custo do frete é alto;
k) Falta de fidelidade dos apicultores às cooperativas, ao vender a produção
para empresas que oferecem um valor superior ao que a cooperativa pode
pagar;
l) Baixo nível escolar dos apicultores;
m) Carência de estratégias de promoção e divulgação do produto decorrente
da falta de planejamento;
n) Informalidade das transações comerciais e quase inexistência de contratos
de vendas;
o) Falta de padronização e higienização do produto;
p) Grande número de apicultores não realiza controle de qualidade;
q) Baixo nível tecnológico dos apicultores, inclusive com uso de tecnologias
inapropriadas;
r) Poucos produtores recebem o selo de certificação orgânica.

5.4. Oportunidades
Mesmo com tantos entraves a apicultura nordestina apresenta várias
oportunidades. Algumas delas são listadas abaixo:
a) Além do mel, que geralmente é o principal produto da atividade, a apicultura
pode proporcionar a geração de renda por meio da produção de cera, pólen,
própolis, geleia real e apitoxina;
b) Produção de mel orgânico e/ou certificado. Obtenção de indicação geográ-
fica para aproveitar o reconhecimento da qualidade (mel produzido no Semi-
árido, flora nativa, livre de contaminantes) que o mel nordestino já possui no
mercado externo;
c) Estabelecimento de parcerias dos apicultores com pecuaristas, pois são
eles que possuem maior extensão de terras no Semiárido nordestino;
d) Grande área potencial para expansão da atividade;
e) Preferência dos consumidores por produtos naturais sem contaminantes;
f) Produção de indumentárias de qualidade que proporcionem maior conforto
ao apicultor.
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pronatec

Na prática
1- Quais atores estão envolvidos na cadeia do agronegócio apícola?
2- Quais são os elos ou segmentos que interagem na cadeia de produção
apícola?
3- Quais os dois acontecimentos históricos que afetaram a exportação do mel
nacional nos últimos 17 anos?
4- Aponte cinco fatores que atrapalham o crescimento da apicultura nordes-
tina.
5- Cite três oportunidades de crescimento para a apicultura nordestina.

Referência
ADECE - Apicultura e Meloponicultura no Ceará. Agência de Desenvolvimento do
Ceará, 2010. Disponível em: http://www.adece.ce.gov.br/downloads/folders/AdeceFol-
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BANCO DO BRASIL. Apicultura. Desenvolvimento Regional Sustentável. Série
Cadernos de Propostas para atuação em cadeias produtivas. Vol 5. Brasília, novem-
bro de 2010.
BARBOSA, A. de L. B.; PEREIRA, F. de M.; VIEIRA NETO, J. M.; REGO, J. G. de
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ra). Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; Teresina: Embrapa Meio Norte,
2007. 113 p. il. (ABC da agricultura familiar, 18).
COUTO, R. H. N.; COUTO, L. A. Apicultura: manejo e produtos. Jaboticabal: FU-
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KHAN, A. S.; MATOS, V. D. de; SALES LIMA, P. V. P. Desempenho da apicultura no
estado do Ceará: competitividade, nível tecnológico e fatores condicionantes. Revista
de Economia e Sociologia Rural, v. 47, n. 3. Brasília, 2009.
KHAN, A. S.; VIDAL, M. F.; LIMA, P. V. P. S.; BRAINER, M. S. C. P. Perfil da apicul-
tura no Nordeste brasileiro Fortaleza. Banco do Nordeste do Brasil, 2014. 246 p.: il.
(Série Documentos do ETENE n° 33).
PAULA NETO, F. L. de; ALMEIDA NETO, R. M. de.  Apicultura nordestina: prin-
cipais mercados, riscos e oportunidades. Fortaleza: BNB, 2006. 77 p. il. (BNB-
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Sebrae, 2004.
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WINSTON, L. M. The biology of the honey bee. Cambridge: Press, 1987. 281p.
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APICULTURA

Autores
Isac Gabriel Abrahão Bomfim
O autor possui graduação (2005), mestrado (2008) e doutorado (2013)
em Zootecnia pela Universidade Federal do Ceará. Tem experiência em Zoo-
tecnia com ênfase em: polinização de culturas agrícolas (requerimentos de
polinização, eficiência de polinizadores, criação e manejo de polinizadores em
cultivo protegido e em campo aberto); apicultura; produção de mel; criação
racional de abelhas africanizadas, abelhas sem ferrão e abelhas solitárias.
Atualmente atua como pesquisador pós-doc no Setor de Abelhas do Departa-
mento de Zootecnia da
Universidade Federal do Ceará e é professor do curso de medicina ve-
terinária da Faculdade Cisne de Quixadá.

Mikai Olinda de Oliveira


O autor é formado em Zootecnia, Mestre e Doutor em Abelhas e Polini-
zação pela Universidade Federal do Ceará com ênfase em apicultura, melipo-
nicultura, abelhas solitárias, abelhas Bombus, polinização agrícola e manejo e
criação de abelhas nativas. Desenvolveu pesquisas na Universidade de Wa-
geningen, na Holanda sobre o declínio populacional das abelhas na Europa
e promoveu iniciativas para o desenvolvimento de técnicas que permitam o
criatório racional de abelhas silvestres para sua conservação e utilização na
polinização de culturas agrícolas. Bolsista CAPES de Pós-Doutorado, vincula-
do a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a EMBRAPA Amazônia Oriental,
onde desenvolveu pesquisas na região amazônica sobre a biologia e o mane-
jo de abelhas com potencial para polinização agrícola.

Breno Magalhaes Freitas


O autor possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universi-
dade Federal do Ceará (1988), mestrado em Zootecnia pela Universidade
Federal do Ceará (1991) e PhD em Abelhas e Polinização - University of Wa-
les College of Cardiff (1995), Grã-Bretanha. Atualmente é Professor Titular da
Universidade Federal do Ceará. Tem experiência na área de Zootecnia, com
ênfase em Criação de Animais, atuando principalmente nos seguintes temas:
abelhas africanizadas, abelhas sem ferrão e solitárias, requerimentos de poli-
nização de culturas agrícolas, polinização agrícola, eficiência de polinizadores
56
pronatec

e criação e manejo de polinizadores na agricultura. Ministra disciplinas e orien-


ta estudantes nos cursos de graduação em Zootecnia e Agronomia, como
também nas pós-graduações (mestrado e doutorado) em Zootecnia (Depto
de Zootecnia) e Ecologia (Depto. de Biologia) da UFC. É pesquisador em pro-
dutividade do CNPq, membro da Iniciativa Brasileira dos Polinizadores, mem-
bro do Conselho da International Comission for Plant-Pollinator Relationship
e Coordinating Leader Author da IPBES - Intergovernmental Platform for Bio-
diversity and Ecosystem Services das Nações Unidas para a temática dos
polinizadores, polinização e produção de alimentos.

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