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PROJETO
DE VIDA
Meu
MANUAL DO Projeto
PROFESSOR
de Vida
Uma aventura
e desafios
entre
sonhos
entree sonhos
desafios
9 786599 049323
Alexandre Barbosa Pereira
Graduado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo
e doutor em Antropologia Social pela mesma Universidade.
Professor do Departamento de Ciências Sociais
da Universidade Federal de São Paulo.
Meu Projeto
de Vida
Uma aventura
entre sonhos
e desafios
PROJETO
DE VIDA
MANUAL DO Canoas
1. a edição
PROFESSOR 2020
© Tulipa Editora, 2020
© Alexandre Pereira Barbosa, 2020
1
O meu encontro comigo 27
O que é um projeto de vida? 28
Módulo
As tecnologias e as transformações em nossa vida 35
A identidade e os papéis sociais da juventude 40
Biografias 47
Diário pessoal 54
Sonhos: entre imaginação e fantasia 62
Vivência de transição 67
Avaliação do Módulo 1 68
2
O meu encontro com os outros 69
Conhecendo o outro, conhecendo-se melhor 71
Módulo
3
O meu encontro com o mundo 109
Um mundo em transformação 110
Módulo
Mapear o mundo, mapear a si mesmo 114
Nós – as conexões que nos fortalecem 120
Da escola para o mundo 128
Um propósito para a vida 135
Vivência de fechamento 139
Avaliação do Módulo 3 141
6
Prezadas e prezados estudantes,
Este será o seu livro de projeto de vida durante o Ensino Médio! Sugerimos que
utilize um caderno para fazer as anotações e as atividades solicitadas.
Por meio deste livro, você caminhará em busca de muitas descobertas sobre o
seu lugar no mundo e o que quer para o futuro. Você sabe o que é um projeto de vida?
Se não sabe, este livro o ajudará a descobrir!
Já pensou em transformar seus sonhos em um projeto efetivo para a sua vida?
Tem ideia de como organizar seus objetivos em um plano para o futuro?
Prepare-se, então, pois aqui vamos conversar sobre tudo isso, e ainda discutir
sobre a importância de construir um plano de ação para o futuro.
O que estamos propondo a você, portanto, é uma viagem ao seu próprio inte-
rior, para refletir sobre como você lida com seus sentimentos e anseios, e também
ao mundo que quer explorar em sua trajetória no futuro, com todos os seus desafios.
Quem é você, de onde veio e o que quer?
Essas são algumas das muitas questões que você fará a si mesmo e aos seus
colegas de turma.
Para ajudá-lo em sua jornada, organizamos o volume em três módulos:
1
O meu
encontro
comigo
2
O meu
encontro
com os outros
3
O meu
encontro
com o mundo
7
Qual é o seu propósito
para a vida?
Em todos os módulos, você vai encontrar um convite para uma pro-
funda reflexão sobre o seu lugar no mundo em que vivemos, seja na es-
cola, no bairro ou na família. Entender o seu papel em cada um desses
espaços sociais é fundamental para que você tenha maior consciência
de suas potencialidades, de seus limites e daquilo que pode melhorar
para alcançar seus sonhos!
Em outras palavras, este livro de projeto de vida é, na verdade, um
livro sobre sonhos. Nele, você encontra dicas para ampliar seu repertório
cultural e convites para uma reflexão mais aprofundada sobre si mesmo
e a sociedade ao seu redor.
Trabalharemos também com propostas de rodas de conversa e com-
partilhamento de ideias, atividades de reflexão e pesquisa e com a reali-
zação de vivências, entre muitas outras experiências instigantes. A fina-
lidade principal é discutir em conjunto qual é o seu propósito para a vida.
Esperamos que aprecie!
Antes de começarmos efetivamente a pensar sobre os seus so-
nhos e projeto de vida, vamos tentar entender um pouco melhor, afinal,
o que é e para que serve um projeto.
projeto?
O que é um
Veja comentários Todos nós temos sonhos e gostamos de imaginar como será o nos-
na Assessoria
Pedagógica. so futuro.
De certa maneira, essa é, ou pelo menos deveria ser, uma das prin-
cipais motivações de nossas vidas. Entretanto, há uma grande questão
que sempre surge: quais as reais possibilidades de esses sonhos se
concretizarem?
Isso demonstra a importância de sempre nos indagarmos sobre
quais condições efetivas temos, no presente instante, para alcançá-los
e o que é preciso fazer para superar algumas limitações.
8 Apresentação
Este é o primeiro convite que fazemos a você: adentrar um pouco
o cenário dos projetos, com o objetivo de realizar um exercício prelimi-
nar de aquecimento para a verdadeira viagem que propomos: a busca
da compreensão de quem você é, como são as suas relações sociais e
aonde, afinal, você quer chegar.
já experimentamos e aprendemos.
Ele atesta a nossa capacidade de
nos organizarmos hoje para o ama-
nhã, mas tomando como referência
o que aprendemos ao longo de toda
a nossa vida.
Além disso, um projeto pode ser tanto um empreendimento indivi-
dual quanto uma mobilização coletiva. Entretanto, mesmo quando se tra-
ta de algo individual, sua construção depende de como nos posicionamos
no mundo e interagimos com as outras pessoas. Nossas relações sociais
9
podem não só fortalecer nossos projetos, como também ser fundamen-
tais para a sua realização e efetivação no futuro. Porém, falaremos disso
mais adiante. Por ora, queremos fundamentalmente que você entenda o
que é um projeto de maneira mais geral, fazendo um levantamento das
atividades que dependem dele para serem concretizadas.
2. O projeto arquitetônico
Qual o projeto arquitetônico da obra que se pretende construir? Ou
seja, qual será o desenho que determinará o seu formato externo e in-
terno? Essas são as principais perguntas dessa etapa, que geralmen-
te acontece com base no diálogo com quem encomendou a obra, mas
também com a legislação municipal e o plano diretor, que definem como
deverá ser a sua realização. Ou seja, há também um conjunto de regras
ou limites que designa o que se pode e o que não se pode fazer em de-
terminados espaços.
RAWPIXEL.COM/SHUTTERSTOCK
MAKSYM DYKHA/SHUTTERSTOCK
3. O projeto de construção
Após o projeto arquitetônico, é preciso definir o projeto da constru-
ção, para, justamente, pensar a sua viabilidade e quais materiais serão
necessários para a sua realização com êxito.
11
4. O acompanhamento do projeto
Por fim, há a construção da obra, que deve sempre ser acompanha-
da pelos responsáveis pelo projeto original, a fim de certificar-se de que
Veja comentários o que foi planejado está sendo seguido e de que nada sairá errado. Ou
na Assessoria
Pedagógica.
seja, mesmo durante sua execução, não se deve abrir mão do projeto,
pois ele é fundamental para que os objetivos sejam alcançados.
MICROGEN/SHUTTERSTOCK
Mestre de obras em ação.
#FICA A DICA
TOMÁS FAQUINI
aliás, reside no fato de elas não serem resultado de um projeto. Ou seja,
não foram planejadas adequadamente e, assim, cresceram de maneira
desordenada, gerando uma série de questões ambientais e sociais.
#FICA A DICA
YANLEV/SHUTTERSTOCK
Químico trabalhando
em laboratório.
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
16 Apresentação
O profissional de game design é responsável por projetar e dese-
nhar todos os ambientes do jogo digital. Ele formula as ideias de jogos
e pensa nos planos para colocá-las em prática, como algo divertido e
que atraia a nossa atenção; ele pensa nos diversos cenários (a interface
visual), níveis, objetos e personagens controlados pelo computador ou
pelos jogadores. Um game, portanto, também é resultado de um projeto!
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
Veja comentários
Pesquise mais a respeito de qual é o trabalho de um game designer na Assessoria
e quais programas e aplicativos existem para a criação de games. Pedagógica.
Roda de conversa
Um projeto de pesquisa
Um dos objetivos da escola é justamente preparar você para ser ca-
paz de, entre outras coisas, elaborar um projeto de pesquisa. Esse pro-
jeto pode caracterizar-se como um levantamento histórico, uma obser-
vação de campo sociológica ou mesmo uma investigação laboratorial no
campo da bioquímica.
Embora a universidade seja o local em que se desenvolvem efetiva-
mente os projetos de pesquisa científica, na escola já podemos conhe-
cer um pouco a esse respeito e entender o que é e quais são os passos
para a elaboração de um projeto de pesquisa.
Ampliando o repertório
6. Quando? (Cronograma)
Toda pesquisa tem um prazo para começar e para ter-
CRIS EICH
7. Quanto? (Orçamento)
As pesquisas científicas no Brasil são realizadas no âmbito de ins-
tituições de pesquisas quase sempre ligadas às universidades. Essas
instituições, por sua vez, solicitam, junto a agências de fomento, finan-
Fomento ciamento para que os seus pesquisadores tenham condições de traba-
Auxílio, estímulo. lhar. As agências de fomento à pesquisa no Brasil são, em sua maioria,
instituições públicas que concedem bolsas de pesquisa e auxílio para
compra de materiais para os cientistas.
20 Apresentação
#FICA A DICA A principal agência de fomento à pesquisa no Brasil é o
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-
nológico). Ele financia projetos inclusive para a concessão de
bolsas de iniciação científica a estudantes do Ensino Médio, ge-
▲▲ Logomarca do CNPQ.
ralmente por meio de convênios com instituições de ensino su-
perior. Acesse o site do CNPq, saiba mais a respeito e entenda
como funciona um projeto de pesquisa científica: www.cnpq.br
(acesso em: 19 nov. 2019).
E fique sempre atento às universidades, especialmente às
públicas, próximas da região onde você mora, porque elas po-
dem publicar editais de chamada para concessão de bolsas de
iniciação científica para estudantes do Ensino Médio que quei-
ram conhecer e aprofundar-se no campo da ciência.
CRIS EICH
21
Veja comentários ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
na Assessoria
Pedagógica. Você acabou de ver como se estrutura um projeto de pesquisa cien-
tífica. Se você fosse um cientista, em qual área de pesquisa imagina
que se enquadraria: das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, das
Ciências da Natureza, da Matemática ou das Linguagens? Escolha
uma dessas áreas e reúna-se com os colegas. Sob a orientação do
professor, definam um tema e um objeto para desenvolver um es-
boço de projeto de pesquisa que seria realizado em seis meses.
Pesquisa 1
Esperança contra o zika
Pesquisa 2
Aira Bonfim, a pesquisadora que resgata a verdadeira
história do futebol no Brasil
[...]
Tudo em torno dos campos e dessa que é mais do que uma
modalidade esportiva, mas sim uma parte da cultura do bra-
sileiro: o futebol. E foi a isso, essas histórias e lugares como
esse que Aira se dedicou nos últimos sete anos. Nesse pe-
ríodo, ela ajudou a implementar o Centro de Referência do
Futebol Brasileiro dentro do Museu do Futebol. “Minha vida
foi conhecer e registrar essas histórias e levar para o museu,
que é um espaço público, que legitima a memória das pes-
soas, dos espaços e acho isso muito potente. A gente nasce
em um lugar que todos dizem ser o país do futebol, mas não
entendemos direito que futebol é esse que estamos falando”.
[...]
Recentemente Aira deixou o centro de referência e se dedica a
seu mestrado, em que pesquisa o futebol feminino na década
de 30. Muito do que motiva esse trabalho surgiu nesses anos
todos de pesquisa. Ela conta que a ficha sobre a pouca atenção
a esse tipo de futebol foi caindo com o passar do tempo. Ainda ➜
23
➜ no museu, ela lembra que precisavam de uma foto da seleção
feminina posada em cada um dos principais campeonatos:
Copa do Mundo, Pan-americano e Olimpíadas. “Não tinha ima-
gem! Copa do Mundo, a primeira foi 91, então você pensa que
é óbvio que vai ter. E não tinha”. Aos poucos, o espaço para
essa história foi crescendo ali dentro. “A memória não está
dada. A gente pegava a caixa de recorte de jornal que a mãe
de alguém tinha na casa dela, digitalizava e vira um acervo
público que serve de pesquisa. Criamos essa base”.
BONFIM, Aira. Futebol feminino. HuffPost Brasil, 1.o dez. 2018.
Disponível em: www.huffpostbrasil.com/2018/11/30/aira-bonfim-
a-pesquisadora-que-resgata-a-verdadeira-historia-do-futebol-no-
brasil_a_23603801/. Acesso em: 29 set. 2019.
A.RICARDO/SHUTTERSTOCK
Jogo de futebol femi-
nino entre as seleções
do Brasil e da Suécia,
no Rio de Janeiro (RJ),
em 2018.
1. A vida pessoal
Envolve os seus afetos e compromissos consigo mesmo e com as
pessoas próximas. No projeto de vida pessoal, você deve pensar com
base em seus gostos, conhecimentos e escolhas.
24 Apresentação
2. A vida cidadã
Diz respeito à sua participação na sociedade, como ser coletivo e
cooperativo que é. No projeto de vida cidadã, você deve entender que
não há progresso pessoal sem a colaboração e o respeito ao outro.
Atividades e vivências
Como você já pôde ter uma pequena amostra nesta Apresentação,
este livro propõe a realização de uma série de atividades sobre o seu
projeto de vida. O objetivo é fornecer instrumentos para que você pos-
sa refletir sobre os seus sonhos e o desenvolvimento de seu projeto de
vida, trabalhando com diferentes competências e habilidades.
Roda de conversa
Aquecimento
26 Apresentação
1
O meu
Módulo
encontro
comigo Veja comentários
na Assessoria
Pedagógica.
CRIS EICH
O que é um projeto de vida?
Você já sabe que é importante elaborar um projeto para realizar as
mais diferentes ações no mundo em que vivemos. E em sua vida pes-
soal, será que o projeto também é importante? Como ele poderia aju-
dá-lo em atividades cotidianas e na realização de sonhos nos mais di-
ferentes planos? Em diferentes aspectos do mundo em que vivemos, é
fundamental elaborar um projeto a fim de planejar os passos que devem
ser seguidos para alcançar um objetivo no futuro. Do mesmo modo,
também é importante pensar um projeto para a sua vida.
Com as constantes e intensas mudanças que a sociedade tem vi-
venciado a partir do desenvolvimento das novas tecnologias digitais da
informação e da comunicação, cada vez mais se torna necessário ado-
tar um projeto que nos permita planejar minimamente quais serão os
próximos passos de nossa trajetória.
Repertório cultural
O conjunto de experiências
e saberes que se adquire Repertório cultural e campo de possibilidades
ao longo da vida, em casa, Como você já pôde observar nos mais diferentes projetos que fo-
no bairro, no trabalho e na
ram analisados, embora sejam voltados para o futuro, como uma for-
escola. Quanto mais rico e
diversificado for o repertório
ma de organizá-los em etapas, eles dependem fundamentalmente do
cultural, maior será sua ca- passado, dos saberes e das experiências que acumulamos sobre de-
pacidade de compreensão terminado assunto ou atividade. Nossos diversificados conhecimentos
do mundo. e informações são fundamentais para a realização de determinadas ta-
Campo de possibilidades refas. Da perspectiva de um projeto de vida, esse é o nosso repertório
As condições reais para cultural. Porém, além disso, para o seu projeto de vida, também é impor-
a sua ação no mundo. O tante levar em consideração o seu campo de possibilidades. Em outras
campo de possibilidades
palavras, se você tem um sonho ou um objetivo para sua vida em um
refere-se aos recursos e às
futuro mais próximo ou mais distante, precisa considerar quais são as
escolhas que você tem, no
presente, para tomar deci- condições para a realização desse sonho.
sões e planejar o futuro. Em uma sociedade desigual, esse campo de possibilidades não se
constitui da mesma forma para todos os indivíduos. Algumas pessoas
possuem um campo de possibilidades mais amplo, no sentido de terem
28 O meu encontro comigo
mais opções de escolha, por contarem com certos privilégios sociais, cul-
turais e econômicos. Isso não significa que uma pessoa com um campo
de possibilidades mais restrito, ou seja, com menos opções de caminhos
para a realização de seus sonhos, não possa desenvolver estratégias para
alcançar seus objetivos, ainda que tenha de superar maiores obstáculos.
Uma das formas de ampliar o seu campo de possibilidades se dá, justa-
mente, por meio do enriquecimento de seu repertório cultural, em outras pa-
lavras, pela sua capacidade de expandir o seu conhecimento sobre os mais
diferentes aspectos do mundo e da vida. Portanto, as noções de campo de
possibilidades e repertório cultural estão intrinsecamente relacionadas.
O repertório cultural pode ser adquirido em nossa vida familiar, na
relação com nossos amigos e vizinhos, na escola, nos museus, nos cen-
tros culturais, nos livros, nos jornais, nos coletivos de juventude e nos
mais diferentes ambientes sociais que frequentamos. Na vida estamos
sempre aprendendo com todas as pessoas com quem nos relaciona-
mos. Quanto maior o seu repertório cultural, maiores serão as suas con-
dições de planejamento do futuro e de construção de um projeto de vida
bem estruturado e condizente com o seu campo de possibilidades.
Autoconhecimento
CRIS EICH
2 Com base no que estudou até aqui, você conseguiria refletir um
pouco sobre qual é o seu repertório cultural e qual é o seu campo
de possibilidades para realizar um determinado curso superior ou
seguir uma determinada carreira profissional?
29
Em outras palavras, você pode investir um grande esforço e energia em
algo que não leva em consideração aspectos que não dependem apenas de
você mesmo, constituindo, assim, uma perspectiva irrealista e, às vezes, até
egoísta ou muito autocentrada sobre o mundo e as condições sociais para
a realização de seus sonhos. Por isso, conhecer-se bem, identificando suas
potencialidades e seus limites, é um passo fundamental para a elaboração
de um projeto de vida efetivo e realista, que não seja uma fantasia ou ilusão.
Veja comentários
na Assessoria Autoconhecimento
Pedagógica.
Ampliando o repertório
SIMON DAVIS/DFID
Malala Yousafzai é uma estudante paquistanesa que, em 2012,
quando tinha 15 anos, foi baleada na cabeça
por lutar para que as meninas pudessem estudar livremente em seu
país. Ela criou um blog chamado “Diário de uma estudante paquistane-
sa” para, justamente, manifestar seu amor aos estudos e reivindicar o
direito das meninas de ter acesso à educação formal no lugar onde nas-
ceram. Em 2014, aos 17 anos, por conta de seu projeto ativista de enga-
jar-se numa luta por melhores condições para as mulheres paquista- ▲▲ A jovem Malala Yousafzai.
nesas, tornou-se a pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz.
MAIS SOBRE ➜ YOUSAFZAI, Malala; LAMB, Christina. Eu sou Malala. A história da garo-
ta que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã. São Paulo: Companhia das
Letras, 2013.
LUCAS JACKSON/REUTERS/
FOTOARENA
Greta Thunberg é uma jovem estudante sueca que, em 2018,
aos 14 anos, tomou como seu projeto de
vida a defesa do meio ambiente e do direito dos animais. Durante as
eleições em seu país, ela decidiu protestar sozinha pelo aumento de
medidas contra o aquecimento global e de proteção ao meio ambien-
te, segurando um cartaz em frente ao parlamento da Suécia. Poste-
riormente, esse protesto solitário ecoou entre outros jovens da Eu-
ropa e do mundo, desdobrando-se em uma marcha dos jovens pelo ▲▲ A jovem Greta Thunberg.
clima, que reuniu mais de 1,5 milhão de estudantes em mais de 100
países. Em 2019, aos 16 anos, em discurso na ONU, ela responsabili-
zou os adultos por não protegerem o meio ambiente e roubarem os
sonhos de sua infância e os de toda uma geração.
MAIS SOBRE ➜ O discurso da jovem ativista Greta Thunberg na ONU em 5
pontos. Instituto Humanitas Unisinos. Disponível em: www.ihu.unisinos.br/78-
noticias/592829-o-discurso-da-jovem-ativista-greta-thunberg-na-onu-em-5-
pontos. Acesso em: 29 set. 2019.
ARNO BURGI/PICTURE-ALLIAN-
CE/DPA/AP IMAGES
31
de Kátia Lund, lançou o filme Cidade de Deus, baseado no livro de Paulo
Lins. O filme obteve quatro indicações para o Oscar.
MAIS SOBRE ➜ LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Planeta, 2012.
nado pela dança que, aos 11 anos, enfrenta uma série de desafios
para poder traçar o seu projeto de vida de tornar-se um grande
bailarino. Seu pai trabalhava em uma mina de carvão e desejava
que o filho aprendesse a lutar boxe, mas Billy não gostava da luta
e encantava-se com as aulas de balé que aconteciam próximo ao
lugar onde treinava. Assim, a dança passa a dar um sentido a sua
vida. Apesar de enfrentar uma série de preconceitos, inclusive de
seu próprio pai, Billy torna-se um importante bailarino da Royal
Ballet School, uma reconhecida companhia de dança inglesa.
MAIS SOBRE ➜ Billy Elliot, um filme de Stephen Daldry. Inglaterra, 2001.
Autoconhecimento
33
Roda de conversa
As tecnologias e as
transformações em nossa vida
Aceleração da vida e cultura do imediatismo
No mundo atual, a atitude de parar e voltar-se para si mesmo, a fim
de analisar-se e entender-se é um exercício muito difícil de fazer, por uma
série de razões. A primeira delas reside no fato de que, em uma sociedade
de consumo como a nossa, tudo nos chama para fora de nós, seja a tela do
smartphone ou as vitrines das lojas do shopping center. Estamos na era
do excesso de informação, em que nossos olhares, desejos e pensamen-
tos são capturados a todo instante para um foco fora de nossas preocupa-
ções essenciais: um novo produto, uma nova série, uma nova música, um
novo estilo de vestir-se, e assim sucessivamente... Tudo isso ocorre numa
velocidade incessante e em progressiva aceleração.
CRIS EICH
35
Assim, estamos sempre em busca da última novidade, que logo já
deixa de ser novidade na manhã seguinte. A obsolescência programa-
da dos dispositivos tecnológicos acaba tornando-se também a obso-
lescência programada de nossos desejos e de nossas relações sociais.
Portanto, torna-se cada vez mais complicado conseguir pensar a longo
prazo e imaginar sonhos viáveis e com um propósito de vida que seja
nobre. Acabamos, dessa maneira, por nos render à cultura do imedia-
tismo, que exige uma solução, a mais rápida possível, para tudo, mesmo
para aquilo que precisa de tempo para ser realizado ou conquistado de
forma plena.
Ampliando o repertório
Reflexão
Observe a tirinha do cartunista André Dahmer e depois responda
às perguntas.
©ANDRÉ DAHMER
1 O que você consegue compreender da tirinha de André Dahmer? Não
escreva
2 Como o aumento da velocidade de processamento de informa- no livro
ção dos smartphones afeta o ritmo da nossa vida?
3 Você tem domínio do tempo que fica conectado ao seu smart-
phone? Por quê?
4 Você conseguiria destacar aspectos positivos e negativos que
os smartphones e as tecnologias digitais da informação e da
comunicação, de maneira geral, podem ocasionar na vida das
pessoas?
ALBUM/FOTOARENA
#FICA A DICA
37
As tecnologias e seus efeitos
Cada vez mais, as inovações tecnológicas tornam-se elementos
cotidianos e essenciais em nossa vida. Por meio delas, obtemos infor-
mações importantes sobre qualquer lugar do mundo. Atualmente, com
o desenvolvimento dos chamados aplicativos, por meio de seu smar-
tphone você pode pedir comida ou um carro para levá-lo para passear,
procurar emprego e até mesmo paquerar. Por meio da internet, você
pode acessar uma série de conhecimentos que, tempos atrás, seria
muito difícil de conseguir.
Hoje, esse acesso não só ocorre, como também é possível aprofun-
dar-se em muitos assuntos. Se bem orientado, você pode encontrar na
internet muitas coisas interessantes e úteis para o seu projeto de vida. Por
exemplo, há muitos cursos de idiomas online, explicações das matérias
escolares e palestras de importantes intelectuais e cientistas de todo o
mundo, dentro das mais diferentes áreas do saber. Além disso, a internet
e as redes sociais podem tornar-se excelentes espaços para a criação de
novas ideias e mesmo oportunidades de trabalho. Em todo o mundo, pes-
soas que aderem a uma determinada causa social conseguem entrar em
contato com possíveis parceiros nas mais diversas partes do planeta.
Como você pode perceber, as tecnologias digitais da informação e
da comunicação apresentam-se como potencialidades para sua vida, na
medida em que, por meio delas, é possível abrir uma série de portas para
o mundo e para a ampliação de seu conhecimento. Elas permitem que
você tenha acesso a uma enorme quantidade e diversidade de informa-
ções que podem ajudar em muitos aspectos de sua vida. Porém, por ou-
tro lado, é importante que você saiba como transitar por essas informa-
ções sem ser enganado por notícias distorcidas ou falsas promessas.
SAMIRA KAZIMOVA/SHUTTERSTOCK
admirar e curtir o momento? Ao fazer isso, será que foi mesmo o pôr do
sol ou o show que você estava vendo? Ou seria apenas uma imagem
projetada na tela de seu smartphone e gravada em vídeo para ser exi-
bida posteriormente? Estamos vivendo para aproveitar o momento ou
apenas pensando nas postagens que serão feitas posteriormente?
Torna-se cada vez mais difícil acompanhar as novidades e res-
ponder às demandas de postar coisas que transmitam uma imagem
interessante de nós para os outros, nas redes sociais. A necessidade
de dar respostas rápidas a tudo e a todos nos torna pessoas angustia- ▲▲ Ícone de visualização do
das. Precisamos refletir que nós mesmos é que estamos nos impondo WhatsApp.
essa velocidade alucinada. Ou será que você nunca ficou bravo quan-
do alguém visualizou sua mensagem no WhatsApp e não respondeu
imediatamente em seguida? E quantas vezes você não deixou de fazer
coisas importantes para dar conta de responder rapidamente a alguém?
Tudo isso apenas pela pressão social de retornar rapidamente, algo que
poderia ser feito com calma e de maneira mais refletida. Muitas vezes
nos deixamos subordinar a uma velocidade que não é humana, mas de
máquinas. Por isso, em diferentes momentos de sua vida, você precisa
aprender a desacelerar e a contemplar aspectos importantes do mundo
em que vive e de seu próprio eu interior.
MINERVA STUDIO/SHUTTERSTOCK
Você já ouviu falar do livro 1984? Trata-se de um título
#FICA A DICA
39
Veja comentários Exposição e felicidade permanente
na Assessoria
Pedagógica. No processo de exposição constante de si que as redes sociais esta-
belecem atualmente, muitas pessoas, de alguma maneira, praticamen-
te se obrigam a se expor como se vivessem uma felicidade constante
e incessante. Porém, devemos nos perguntar se essa é uma condição
possível, de estar sempre alegre e feliz. A resposta será: é claro que não!
Todos nós temos momentos de alegria, de satisfação e grande felicida-
de, mas também temos os de tristeza, de raiva e de decepção. Apren-
der a desfrutar com maior plenitude dos momentos de descontração e
felicidade que vivemos e, ao mesmo tempo, entender que sentimentos
negativos são comuns e normais nos leva a um importante aprendizado:
o de lidar com nossas frustrações. Essa capacidade de vivenciar dife-
rentes sentimentos é o que nos torna humanos.
Não estamos sugerindo aqui que você abandone as tecnologias e
as redes sociais, muito pelo contrário, mas chamamos sua atenção para
uma análise de como tirar o melhor proveito delas, a fim de fazer com
CRIS EICH
Veja comentários
na Assessoria A identidade e os papéis sociais
da juventude
Pedagógica.
Verifique com os alunos se Em cada fase de nossa vida, assumimos responsabilidades diferen-
eles sabem o que significa tes. Com base em algumas correntes teóricas da Psicologia, Wivian Weller
essa indicação de ano
entre parênteses. Caso (2014) mostra-nos que o desenvolvimento na juventude tem como expec-
não saibam, comente que
se trata de uma remissão tativa principal a formação de alguns papéis sociais que preparam o sujeito
à obra indicada nas
Referências bibliográficas, para a inserção na vida adulta. Conforme essa perspectiva, a juventude é
no fim deste livro.
uma etapa em que se começam a vislumbrar os seguintes papéis sociais:
1 Papel profissional;
2 Papel conjugal e familiar;
3 Papel cultural e como consumidor;
4 Papel como cidadão.
O grande problema com esses papéis sociais é que, em muitos ca-
sos, não é fácil preparar-se para assumi-los, pois eles são cada vez mais
40 O meu encontro comigo
flexíveis e diversificados. Com isso, você pode se atrapalhar ou sentir-
-se desorientado. Daí, mais uma vez, a importância da construção de
um projeto de vida que o ajude na passagem por essa fase de transição.
FLAMINGO IMAGES/SHUTTERSTOCK
DWPHOTOS/SHUTTERSTOCK
RAWPIXEL.COM/SHUTTERSTOCK
RAWPIXEL.COM/SHUTTERSTOCK
▲▲ Estamos a todo momento
assumindo diferentes papéis sociais.
Ampliando o repertório
Apresentamos agora dois textos que abordam como é ser jovem nos
dias atuais e o desafio dessa trajetória para a vida adulta. Você já parou
para pensar sobre isso? Esse é o convite que lhe fazemos agora. Leia
os textos com atenção, procurando refletir sobre os diferentes papéis
sociais que temos de assumir na juventude e na vida adulta, e depois
realize a atividade de autoconhecimento. Consulte o professor caso
tenha dúvida sobre algum termo ou significado de algumas expres-
sões no texto.
A singularidade da condição juvenil é dada pelo que se
vive nesse momento da vida numa dada conjuntura históri-
ca. No período histórico atual, trata-se de uma longa transição
da infância para a idade adulta, caracterizada por um intenso
processo de definições, escolhas e arranjos para a construção
de uma trajetória de inserção e autonomia. Cada vez mais os
elementos necessários para realizar esse processo de transi-
ção se multiplicam e se diversificam, fazendo com que os jo-
➜
41
➜ vens tenham de compor uma equação com inúmeros elemen-
tos para viver a vida presente e preparar a vida futura: escola,
trabalho, vida familiar e sociabilidade, sexualidade, namoro,
lazer, vida cultural. É, assim, um momento crucial de formula-
ção de projetos de vida, de escolhas e construção de caminhos.
Ademais, é preciso ressaltar que hoje, mais que em períodos
passados, tais percursos não são necessariamente lineares
nem compostos por etapas sucessivas e ordenadas, mas mui-
tas vezes concomitantes e reversíveis.
(ABRAMO, Helena. Identidades juvenis: estudo, trabalho e
conjugalidade em trajetórias reversíveis. In: PINHEIRO, Diógenes
et al (Orgs.). Agenda Juventude Brasil: leituras sobre uma década de
mudanças. Rio de Janeiro: Unirio, 2016.)
Autoconhecimento
Genealogia e identidade
Você sabe o que é uma genealogia? Trata-se de um estudo de nos-
sas origens. Por meio dela, traçamos um mapa de nossas ligações com
IVANOVA MARIA/
SHUTTERSTOCK
Autoconhecimento
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
1 De onde você vem? Em qual cidade você vive? Como é esse lugar?
CRIS EICH
2 De onde são os seus familiares? Eles nasceram na mesma cidade
em que você mora?
3 Quais são os lugares que você mais costuma frequentar?
4 Como é o seu dia a dia? Quais são seus hábitos e que atividades
você costuma realizar?
5 O que você mais gosta de fazer?
Não
escreva
6 Quem são as pessoas com as quais você mais convive diaria- no livro
mente?
Ampliando o repertório
CRIS EICH
drinhos, skate, estudar inglês e fazer natação. Provavelmente, ele não
terá nenhum outro amigo que pratique todas essas mesmas ativida-
des, mas, ao transitar por cada uma delas ou pelos espaços em que
elas ocorrem, conhecerá pessoas com gostos diferentes. Um amigo
que adora hip-hop pode não ter tanto interesse por história em quadri-
nhos ou preferir aprender espanhol como língua estrangeira, enquanto
um amigo da natação pode adorar histórias em quadrinhos, mas não
ser muito fã de hip-hop. Ou seja, há muitas relações constituindo-se ao
mesmo tempo e, em cada contexto, um dos assuntos em comum será o
predominante em determinado momento. Assim, você poderá definir o
papel que assumirá em cada espaço ou atividade de que participa com
as mais diferentes pessoas.
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
MASCHA TACE/SHUTTERSTOCK
Nossas emoções no corpo
A proposta agora é de uma vivência semelhante à que você fez com
seus colegas sobre os papéis sociais.
Biografias emoções.
TALLES AZIGON
Leitura, Curador de Eventos Literários e Contador de
Histórias. Foi um dos fundadores da Editora Substân-
sia, editora cearense independente com mais de 35
títulos publicados. Foi Secretário Geral do Conselho
de Políticas Culturais de Fortaleza, representando
no mesmo o segmento da Literatura, no biênio
2013/2014. Foi Criador, Produtor e Curador de diver-
sos eventos de livro, leitura e literatura. Pesquisa
▲▲ O poeta cearense
Poesia, Literatura e Leitura.
Talles Azigon.
(Disponível em: https://tallesazigon.wordpress.com/author/
tallesazigon/. Acesso em: 5 out. 2019.)
49
Professora por vocação, historiadora pelo destino. Acredito
ACERVO PESSOAL
Roda de conversa
Veja comentários
na Assessoria
O que sei de mim?
Pedagógica.
Em um primeiro exercício de autoconhecimento, você ficou saben-
do o que é um perfil biográfico e elaborou o seu próprio perfil. Pensou
também nos diversos papéis sociais que desempenha, bem como nas
suas qualidades e no melhor modo de se apresentar para os outros. O
convite agora é para mergulhar mais profundamente no seu próprio eu.
Comece indagando a si mesmo:
1 Quem sou eu?
2 Do que eu gosto?
3 O que eu quero para minha vida?
Nesse sentido, a primeira coisa a ser feita é refletir sobre como você
se relaciona consigo mesmo e como se cuida. Isso envolve olhar para dois
aspectos fundamentais que o constituem: (1) o seu corpo; (2) a sua sub-
jetividade. O seu corpo é o limite do seu ser e também o modo pelo qual
52 O meu encontro comigo
você experimenta o mundo, com todas as suas dores e delícias. Já a sub-
jetividade refere-se ao território existencial de seu eu interior, ou seja, ao
espaço interno onde abriga os sentimentos e pensamentos mais íntimos e
profundos, que, muitas vezes, inclusive, não compartilha facilmente com as
pessoas.
Autoconhecimento
CRIS EICH
Roda de conversa
gosta de fazer em sua vida, qual seria? Por que você gosta mais
dessa atividade especificamente?
2 Em que lugar você se sente com maior liberdade? Por quê?
3 Qual lugar é considerado como o mais importante para o futuro?
Autoconhecimento
Diário pessoal
O diário pessoal é um tipo de escrita autobiográfica, que pode ser de-
finido como uma narrativa ou escrita sobre si mesmo, ou seja, trata-se de
uma forma de se expressar e se descrever no mundo. Ao fazer isso, de al-
guma maneira você não está apenas dizendo quem é, mas também está
se conhecendo. Por isso, a escrita do diário é um exercício fundamental de
54 O meu encontro comigo
autoconhecimento. Para projetar o seu futuro, você precisa antes conhecer
bem suas condições no presente, quem você é e o que pode fazer hoje.
O diário pode ajudá-lo nesse empreendimento, pois se trata de uma
história ou romance no qual você desponta como personagem principal.
Por meio dele, você ensaia para exercer seu protagonismo na vida e no
mundo. Essa forma de escrita, aliás, sempre foi muito popular entre os jo-
vens, embora seu formato tenha se transformado ao longo do tempo. As-
sim, o diário, que antes era um espaço reservado e até mesmo escondido
de confidências e reflexões pessoais, com as novas tecnologias digitais
da informação e da comunicação transformou-se em um espaço no qual
CRIS EICH
se publicam as questões mais íntimas em busca de visibilidade.
Atualmente, as pessoas mais jovens costumam escrever seus diá-
rios em blogs ou mesmo em seus perfis e postagens de redes sociais.
Os blogs, aliás, já têm se transformado em vlogs (videoblogs), ou seja,
em diários audiovisuais, nos quais as experiências de vida são relatadas
para inserção em plataformas de vídeos.
O diário íntimo, fechado “a sete chaves”, funcionou durante
muito tempo como um ritual de passagem para os jovens, sim-
bolizando a entrada na adolescência, em especial para as me-
ninas. O término da adolescência era acompanhado, frequen-
temente, pelo desinteresse por esse tipo de prática. O caráter
transitório dessa escrita permite levantar a hipótese de que o
diário desempenhava uma importante função subjetiva nes-
se momento da vida.
Na contemporaneidade, a difusão da internet pos-
REGISSER/SHUTTERSTOCK
sibilitou que muitos adolescentes começassem a
escrever seus diários na rede, nos chamados
blogs, passando assim dos diários ínti-
mos às páginas on-line, que podem
ser acessadas livremente. Nesse es-
paço virtual, os jovens escrevem seu
perfil, poemas, pensamentos, letras
de músicas, fazem protestos, colocam fotos
e interagem com leitores que deixam seus comen-
tários em suas páginas. Os blogs de adolescentes multi-
plicam-se de maneira surpreendente no ciberespaço, mantendo
o seu lugar de destaque entre os jovens, apesar do surgimento de
várias redes sociais da internet. Seriam os blogs hoje os substitutos
dos diários íntimos? O que essa nova forma de escrita revela sobre ▲▲ O diário pessoal
diz respeito ao mundo privado.
o adolescente na contemporaneidade?
(LIMA, Nádia Laguárdia de. A escrita virtual na adolescência:
Uma leitura psicanalítica. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014.
p. 15-16.)
55
Autoconhecimento
Veja orientações 6 Quais são os cuidados necessários com o que dizemos publica-
na Assessoria mente sobre nós ou sobre nossos amigos nas redes sociais?
Pedagógica.
Ampliando o repertório
O diário na literatura
O diário é considerado uma vertente do que se convencionou chamar
de “literatura de introspecção”, ou seja, aquela que se volta para nossos
aspectos mais íntimos, em tom confessional ou subjetivo. Na literatura
brasileira, há dois célebres exemplos de diários que, ao seu modo, re-
fletem a vida pessoal de duas mulheres e, ao mesmo tempo, nos apre-
sentam as condições de vida da maioria das mulheres de sua época,
com todas as dificuldades e os preconceitos que tinham de enfrentar.
USP IMAGENS
Terça-feira, 17 de abril
Hoje deu-se comigo uma coisa tão horrível que eu fiquei
triste o resto do dia.
➜
56 O meu encontro comigo
➜ Todas as alunas da Escola já estão com o uniforme de fa-
zenda azul. Algumas demoraram a fazer mas todas já fizeram.
Foi a melhor invenção que eu já vi até hoje. Era muito difícil
para nós termos sempre o mesmo vestido pronto para a Es-
cola; umas andavam bem-vestidas, mostrando sua riqueza e
outras sua pobreza. Agora estamos todas iguais, graças a Deus.
Senhor Bispo, falando a uma colega do quarto ano que
gostou da ideia do uniforme na Escola e perguntando se era
bonito, ela prometeu levar lá algumas alunas para ele ver.
Como eu moro para baixo do Palácio, Maria Pena disse: “Não
deixe de me esperar na saída da Escola. Eu quero levar você e
outras que moram perto do Palácio para o Senhor Bispo ver os
uniformes”. Acabadas as aulas ela chamou umas alunas e fo-
mos para o Palácio. Chegando lá fomos logo subindo, eu escor-
reguei, rolei a escada um bom pedaço e meus livros se espalha-
ram. Eu me levantei, pus-me a ajuntar os livros e dei por falta
de minha geografia novinha. Fiquei tão triste de ter perdido
meu livro que Maria Pena teve uma ideia e disse: “Vou procu-
rar nos livros de todas; pode ser que alguma tenha apanhado
por engano”. Foi correndo os livros e o meu estava metido no
meio dos de V... Maria Pena tirou-o, entregou-me e ninguém
falou mais nada.
Estou boba até agora.
(MORLEY, Helena. Minha vida
de menina. São Paulo: Companhia de Bolso, 2016. p. 141.)
AUGUSTO RIEDEL/BIBLIOTECA NACIONAL
RAWPIXEL.COM/SHUTTERSTOCK
No diário de Helena Morley, ela cita o momento em que a escola
onde estudava começou a adotar uniformes. E ela gostou da mudan-
ça, pois não precisava mais se preocupar com as roupas que usaria
para ir à escola.
Leia e converse com seus colegas.
1 O que você acha disso? Na sua escola há uniforme? O que você
pensa a respeito?
2 O que o uniforme nos diz sobre papéis sociais? ▲▲ Jovens estudantes uniformizados.
1. Nível singular
Diz respeito a como cada indivíduo traça a sua própria trajetória bio-
gráfica. Nos dois exemplos apresentados, estamos tratando de como
duas mulheres, Carolina Maria de Jesus e Helena Morley, ao escreverem
seus relatos, tornaram-se pessoas únicas.
2. Nível particular
Diz respeito a características que são comuns a um grupo especí-
fico de pessoas, mas não a todas. Por exemplo, quando Carolina Maria
de Jesus reflete sobre suas condições de vida na favela do Canindé, ela
também está explicitando diferentes aspectos que são vividos por mui-
tos de seus vizinhos. Quando Helena Morley fala da vida na cidade de
Diamantina, no final do século XIX, ela também nos relata questões que
certamente foram vivenciadas por outras pessoas desse mesmo lugar
e período histórico.
3. Nível universal
Embora haja coisas que compartilhamos somente com um grupo
menor de pessoas, seja na escola, no bairro ou na cidade, há determi-
nadas características que partilhamos com todos os seres humanos do
mundo, pois são universais. Embora as motivações possam ser diferen-
tes e variar culturalmente, todos os seres humanos sorriem, choram,
sentem medo ou raiva em determinadas situações específicas, confor-
me as regras de sua própria sociedade.
59
Autoconhecimento
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
também dos temas que definem o grupo social ao qual pertence seu
autor, bem como dos dilemas que dizem respeito a toda a humanidade.
Neste exato momento, por exemplo, é possível que outros jovens em
Veja orientações diferentes partes do mundo tenham preocupações muito parecidas com
na Assessoria as suas a respeito do processo de amadurecimento.
Pedagógica.
A proposta agora é que você desenvolva um diário durante um
período determinado pelo seu professor. O diário pode ser ge-
ral, como são os de Carolina Maria de Jesus e Helena Morley, mas
também pode ser temático, em que você elege um aspecto de sua
vida pessoal que considera mais relevante para ser discutido. Por
exemplo, seu diário pode enfocar sua vida cotidiana na escola ou
com os amigos. Cabe a você escolher, porém, lembre-se de que,
por se tratar de um diário escrito para uma atividade escolar, você
o compartilhará com o professor e os colegas.
Veja orientações
Roda de conversa na Assessoria
Pedagógica.
Veja orientações
Protagonismo juvenil na Assessoria
Pedagógica.
Autoconhecimento
Sonhos: entre
imaginação e fantasia
Os sonhos estão diretamente ligados à nossa capacidade de ima-
ginação. Toda vez que imaginamos algo, de certa maneira, estamos
atribuindo a isso algum sentido de realidade. Contudo, devemos tomar
muito cuidado para não nos perdermos em uma fantasia que tem pouca
conexão com a realidade.
Seus sonhos podem ou não se realizar de fato. Em alguns casos,
eles podem efetivar-se parcialmente. Em outros, o sonho pode ser
algo muito distante da realidade e, por isso, provavelmente não toma-
rá nenhuma forma concreta, ainda que parcialmente. Ou seja, nada do
que sonhamos se realiza ou chega perto disso. Quando isso acontece,
quando você não consegue materializar aquilo que deseja e não pen-
62 O meu encontro comigo
sa em alternativas, não elabora, portanto, um “plano B”, pode-se dizer
que esse sonho constituiu-se como uma fantasia. Ou seja, como algo
irrealista e voltado apenas para você mesmo, sem estabelecer possi-
bilidades de diálogo com o mundo e com as outras pessoas à sua volta.
Agora, quando o sonho consegue se realizar, ainda que parcialmente e
não de uma única vez, mas em etapas a serem conquistadas, ou quando
esse sonho pode ser reavaliado e transformado, pode-se dizer que ele
se tornou um projeto de vida.
Roda de conversa
65
5.a etapa: A estratégia
Esse é o momento em que se define como serão alcançados os
objetivos. Em um modelo de projeto científico, essa seria a metodolo-
gia. Aqui se determinam quais serão os procedimentos adotados para
alcançar os objetivos estabelecidos para a realização dos sonhos pos-
síveis. Nesta parte do projeto, traçamos também as estratégias para
superar possíveis obstáculos à realização de nossos sonhos. Em outras
palavras, afirma-se o que é preciso fazer de fato para chegar ao resul-
tado almejado.
Agora, em seu caderno, siga as três etapas mínimas previstas para a
elaboração de um projeto de vida pessoal e trace três objetivos, pensan-
do em termos de curto, médio e longo prazo. Lembre-se de que se trata
apenas de um exercício, por enquanto.
Veja orientações
Vivência de transição
na Assessoria
Pedagógica.
Neste livro, o trabalho com seu projeto de vida está dividido em três
módulos. Ao final de cada módulo, está proposta uma vivência coletiva,
em que deverá ser apresentado à escola o que foi aprendido e produzido
naquele módulo, como preparação para a próxima etapa. A ideia é reunir
todas as turmas da escola que trabalharam a temática do projeto de vida
em um evento com:
•• exposição da primeira versão do mural dos perfis e sonhos;
•• relatos do que se aprendeu sobre projeto de vida;
•• depoimentos sobre a importância de sua criação.
A vivência de fechamento de um módulo e de transição para o outro
também deve ser um momento importante para uma primeira reflexão
sobre como a escola dialoga com o projeto de vida de cada estudante,
pensando principalmente nestas quatro questões:
1 Do que eu gosto e o que aproveito na escola?
2 O que falta ou o que deveria ter na escola, na minha opinião?
3 O que eu deixo a desejar em minha participação nas atividades
escolares?
4 O que posso fazer para melhorar?
Para a vivência deste Módulo 1, a proposta é que você discuta com
Competências gerais
seus colegas como as questões pessoais de seus projetos de vida dia- 6, 7 e 10
logam com a escola. A ideia é realizar um grande levantamento para Competências específicas
refletir sobre quais são as questões pessoais mais fundamentais com 1 (Linguagens e suas
Tecnologias)
as quais a escola pode interagir para fortalecer o projeto de cada um de 6 (Ciências Humanas e
vocês. O professor vai organizá-los em grupos a fim de apresentar, em Sociais Aplicadas)
slides ou outro formato que considerarem mais adequado, as discus- Habilidades
sões coletivas realizadas em sala de aula. Para essa primeira vivência de EM13LGG104
EM13CHS606
transição, a proposta é de uma atividade coletiva envolvendo apenas a
comunidade escolar, incluindo a participação de seus familiares.
67
Avaliação do Módulo 1
Após a vivência de transição, faça uma avaliação final deste módulo,
anotando em seu caderno:
Roda de conversa
CRIS EICH
Módulo
encontro
com os Veja orientações
outros
na Assessoria
Pedagógica.
“em mim
eu vejo o outro
e outro As referências bibliográficas
completas encontram-se
enfim dezenas...”
CRIS EICH
(Paulo Leminski, Toda poesia)
contranarciso
em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas
o outro
que há em mim
é você
você
e você
assim como
eu estou em você
CRIS EICH
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós
(Paulo Leminski, Toda poesia)
CRIS EICH
Conhecendo o outro,
conhecendo-se melhor
O autoconhecimento é importante, mas também é fundamental sa-
ber sair do mundo fechado em si mesmo para estabelecer relação com
os outros, não necessariamente concordando e aceitando tudo que lhe
for apresentado, mas aprendendo a respeitar as diferenças, sejam elas
de opinião, de crença ou de comportamento.
Considerar apenas as suas próprias questões como as únicas do
mundo ou como as mais corretas, bem como agir desconsiderando o
que as outras pessoas vão pensar ou mesmo se você poderia prejudi-
cá-las é o que se caracterizaria como um comportamento narcisista. O
poema de Leminski apresenta a importância de superar essa postura,
pois, só assim, segundo ele, se encontra a paz.
71
Autoconhecimento
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
73
Os meus sonhos em relação aos dos outros
No Módulo 1, você refletiu sobre o seu projeto de vida pessoal. Ago-
ra é o momento de pensar como o projeto que você elaborou é afetado
pelas pessoas que estão ao seu redor, as que são mais próximas e as
mais distantes. Embora você tenha formulado um projeto pessoal pau-
tando-se principalmente em suas próprias perspectivas e sonhos, você
sabe que não é possível efetivar um projeto ou alcançar um sonho des-
considerando as outras pessoas do lugar em que vive ou do mundo de
maneira geral.
Autoconhecimento
Roda de conversa
77
Autoconhecimento
CRIS EICH
Ampliando o repertório
Com base nesse texto sobre corpo e afeto nas culturas juvenis, pense Veja orientações
no que costuma afetar você positivamente e deixá-lo feliz e no que o na Assessoria
Pedagógica.
afeta negativamente, deixando-o triste. Como seu corpo reage nes-
ses diferentes momentos?
Autoconhecimento
79
Roda de conversa
LIGHTFIELD STUDIOS/SHUTTERSTOCK
Grupo de amigos
que compartilham os
mesmos gostos.
Veja mais
informações O amor como encontro e as
muitas formas de amar
na Assessoria
Pedagógica.
Autoconhecimento
São inúmeras as
expressões de amor.
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
O que é o amor?
1.a etapa: Após cada um refletir sobre o que é o amor e as suas dife-
rentes manifestações, você vai discutir com a turma o que acha que
é o amor e qual a sua importância no mundo de hoje. O professor
anotará na lousa as definições que forem surgindo. Será que todos
entendem o amor da mesma forma?
1 O que você entendeu dos textos? De que tipo de amor eles falam?
Não
escreva 2 De que tipo de amor os dois autores, Maturana e Bauman, estão
no livro
falando?
3 Você concorda com esses autores?
4 Como essas novas definições de amor se relacionam com as que
foram levantadas na 1.a etapa da roda de conversa?
5 Você acha que pratica essa forma de amor descrita no texto em
sua vida cotidiana?
6 Como esse tipo de amor pode ajudar você em seu projeto de vida?
CRIS EICH
Roda de conversa
2 Você acha que o amor romântico é importante para vida dos jo-
vens? Por quê?
3 Você acha que em alguns momentos o amor romântico pode atra-
palhar a sua vida? Como?
4 O que você acha que essa discussão sobre o amor diz a respeito do
tema deste Módulo 2, O meu encontro com os outros?
83
Veja comentários ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
na Assessoria
Pedagógica.
Genealogia e identidade das pessoas que amamos
1) sua família;
2) seu bairro ou sua escola.
Roteiro inicial
O que você achou das entrevistas? Você descobriu algo que não
sabia? Após as entrevistas, você conseguiria escrever o perfil bio-
gráfico dessas pessoas, pautado nessas sugestões de questões e
nas que foram elaboradas especialmente para cada entrevistado? ➜
84 O meu encontro com os outros
➜ Com essa atividade, você descobre para quem foi reservada a se-
gunda linha do mural de perfis e sonhos iniciado no Módulo 1. Essa
linha foi reservada para as pessoas que são importantes para você,
para os perfis desses dois protagonistas especiais em sua vida.
Lembre-se de que você deve tomar o mesmo cuidado que teve
anteriormente com a elaboração do seu perfil pessoal, pensando
principalmente nos aspectos da vida das pessoas que você admira
que são importantes para serem apresentados publicamente.
CRIS EICH
O estranho, o familiar e o
respeito às diferenças
O processo de constituição da pessoa que somos diz respeito à for-
mação de nossa identidade. Trata-se de um jogo constante de familiari-
zação e estranhamento. Isso quer dizer que estamos, a todo momento,
avaliando quem consideramos mais próximos de nós, portanto, quem
nos é familiar, e quem estaria mais distante de nós, ou seja, quem nos
seria, ao menos inicialmente, desconhecido ou estranho. Assim, defini-
mos quem nós somos com base nas aproximações e distanciamentos
daqueles com quem nos identificamos mais ou menos.
Conhecer-se nesse jogo de encontro com os outros pode levar-nos
a outra etapa de autoconhecimento, a que nos faz distanciar de coisas
que nos parecem familiares, por um lado, e, por outro, nos faz buscar en-
tender o que não é conhecido. Esse duplo procedimento pode desenca-
dear outro movimento, que nos leva ao respeito às diferenças, porque,
ao tentarmos nos familiarizar, no sentido de conhecer e compreender,
não necessariamente concordar, com quem ou o que nos parece estra-
nho, refletimos também sobre nossas questões e ampliamos nosso re-
pertório cultural. Em um mundo globalizado e cada vez mais conectado
85
como o atual, aprender a respeitar e a conviver com as diferenças é uma
habilidade fundamental.
ZETA FILM
#FICA A DICA
Babel – O filme, de 2006, dirigido por Alejandro Gonzá-
lez Iñárritu, aborda a questão das diferenças e da relação com
o outro em um mundo globalizado. Nele, a viagem de um casal
de estadunidenses para o Marrocos desemboca em uma trama
que revela que os nossos destinos no mundo podem estar en-
trelaçados com pessoas que nem imaginamos. Esse é também
um bom filme para pensar o multiculturalismo e a relação com os
outros em uma sociedade global conectada.
▲▲ Fôlder de divulgação
do filme Babel, de
Alejandro González
No Módulo 1, você fez uma série de exercícios de distanciamento
Iñárritu. de aspectos que lhe seriam familiares ou nos quais estaria tão imerso
em seu cotidiano que não pararia para pensar a respeito, pois se trata
de coisas muito próprias de seu eu interior. No dia a dia, há muitas ati-
vidades que você realiza de modo quase automático, sem refletir sobre
as consequências para sua vida e seu futuro. O que propomos agora é
que você preste atenção nesse duplo movimento que realiza a todo mo-
mento: o de distanciar-se das outras pessoas e o de familiarizar-se com
elas e os seus modos de ser e de estar no mundo.
Veja mais
informações
Exercícios de aproximação e distanciamento
na Assessoria
Pedagógica.
Agora, você vai realizar um exercício de aproximação com o que
lhe seria ou pareceria distante ou com o que não tem tanta intimidade.
Quando falamos do encontro com os outros, podemos estar nos refe-
rindo às pessoas que são próximas em termos espaciais, mas também
àquelas que estão mais distantes. Algumas vezes, há pessoas ou gru-
pos sociais que podem estar do seu lado, mas, ainda assim, lhe parecer
estranhos ou desconhecidos. Por exemplo, uma família de imigrantes ou
refugiados de outro país pode ser sua vizinha, mas, certamente, você
sabe muito pouco ou praticamente nada sobre sua cultura e religião.
Contudo, o fato de não conhecermos alguém ou um grupo social, e
mesmo de este nos parecer muito diferente, não nos dá o direito de agir
com desrespeito ou discriminação. Nosso dever, aliás, tem de ser exata-
mente o contrário, o de nos abrirmos para o contato com as pessoas que
talvez pudéssemos achar estranhas em um primeiro contato. O impor-
tante é sempre estabelecer um diálogo, mesmo que não concordemos
com o outro. Quando respeitamos as diferenças, reafirmamos também
nosso direito de ter as nossas diferenças respeitadas.
Ampliando o repertório
87
Veja orientações Culturas juvenis
na Assessoria
Pedagógica. Às vezes, há também pessoas e grupos sociais que podem estar
fisicamente muito distantes de nós, mas dos quais temos profundo co-
nhecimento ou, ao menos, sentimos que temos alguma familiaridade.
Isso é o que acontece, por exemplo, no Brasil com os fãs de K-pop, a
cultura pop coreana, ou com aspectos da cultura pop japonesa, como os
animes e mangás, respectivamente, desenhos animados e revistas em
quadrinhos produzidos no Japão, com características peculiares. Ainda
que possa haver muitos imigrantes e seus descendentes da Coreia do
Sul e do Japão em algumas cidades brasileiras, certamente tais referên-
cias culturais não seriam muito próximas para grande parte dos jovens.
No entanto, isso não impede que mesmo aqueles sem nenhuma ascen-
dência japonesa ou coreana possam se familiarizar com aspectos cultu-
rais de países distantes e mesmo querer adotá-los em sua vida.
Um jovem fã de K-pop, por sua vez, pode distanciar-se e, portan-
to, considerar estranhos outros movimentos culturais brasileiros, como
o sertanejo universitário ou o funk. Todos nós temos o direito de gostar
da produção artístico-cultural que quisermos. O fato de não admirarmos
determinada manifestação estética ou política, entretanto, não nos ha-
bilita a destratar ou menosprezar quem gosta de algo diferente de nós.
Podemos manter certa distância, mas sempre devemos praticar a lição
de respeito mútuo.
Quando falamos desses aspectos culturais envolvendo manifesta-
ções como o K-pop, a cultura pop japonesa, o sertanejo universitário, o
funk, mas também o hip-hop, o gospel, os grupos de maracatu, a música
eletrônica, o brega ou tecnobrega paraense, o brega funk de Recife ou o
rock em suas diferentes vertentes, entre muitos outros, estamos em to-
dos esses casos tratando do que se costuma denominar como culturas
juvenis.
As culturas juvenis são formas específicas de os jovens se organi-
zarem em torno de um determinado componente cultural, que pode ser
a música, mas também muitos outros tipos de produção artística e de
prática social ou tecnológica, como as histórias em quadrinhos e os ga-
mes, além de determinadas atividades corporais e esportivas. Por meio
delas, os jovens articulam-se coletivamente em torno de certos estilos
de se vestir e se portar no espaço público.
Você pode participar de uma cultura juvenil apenas como público,
acompanhando mais à distância as novidades pelas redes sociais, ou,
como acontece em muitos casos, pode participar ativamente dela. Há
muitos encontros presenciais de integrantes de determinadas culturas
89
Sertanejo universitário Embora não seja necessariamente um mo-
vimento jovem, o chamado sertanejo uni-
versitário recebeu esse nome justamente por tentar renovar ou dar um
aspecto mais juvenil à música sertaneja. No Brasil, historicamente, esse
gênero musical estaria mais ligado às populações que vivem no campo,
mas, desde meados dos anos 1980, tem conquistado o público das gran-
des cidades de todo o país, com as duplas sertanejas. Nos últimos tempos,
com esse novo movimento, surgiram mais cantores seguindo carreira
solo, e também houve uma intensa presença de mulheres cantando mú-
sica sertaneja em duplas ou sozinhas, colocando, de alguma maneira, as
mulheres em pé de igualdade com os homens, em movimento que ficou
conhecido como “feminejo”.
DAN KOSMAYER/SHUTTERSTOCK
tempos modernos. Surgiu entre o final dos anos 1940 e iní-
cio dos anos 1950, por influência de determinados elementos da músi-
ca estadunidense, como o blues, o country e o gospel, e alcançou grande
notoriedade nos anos 1950, com o cantor Elvis Presley. O rock tornou-se
então um símbolo do desejo dos jovens por novidade e de seu ímpeto de
contrariar os valores estabelecidos. Espalhou-se pelo mundo e passou,
ao longo dos anos, a dividir-se em vertentes, como o heavy metal, o punk
rock, o gótico, entre muitas outras.
▲▲ Capa de disco Elvis’ Gold
Records, de Elvis Presley, lançado
pela RCA Victor, onde se lê:
“50 milhões de fãs de Elvis não
podem estar errados”.
AIJA LEHTONEN/SHUTTERSTOCK
Show da cantora punk
rock Joan Jett em Helsinki,
Finlândia, em 2010.
BRUNO VARGAS/SHUTTERSTOCK
91
A.PAES/SHUTTERSTOCK
MATTIA B/SHUTTERSTOCK
DJ animando a plateia
em Belo Horizonte
(MG), em 2019.
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Outras culturas juvenis
Games SEZER66/SHUTTERSTOCK
HQs Skate/Surf
EDITORA SALAMANDRA
HURRICANEHANK/SHUTTERSTOCK
LOUISLOTTERPHOTOGRAPHY/
SHUTTERSTOCK
▲▲ Dois exemplos
clássicos de HQs
MAURICIO DE SOUZA EDITORA
nacionais: a Turma do
Pererê, de Ziraldo, e a
Turma da Mônica, de
Mauricio de Sousa.
Reggae
AJMCBARRETO
ANDRE LUIZ MOREIRA/SHUTTERSTOCK
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
Agora que você já sabe o que são as culturas juvenis e conhece al-
gumas delas, de várias partes do Brasil, chegou o momento de, por
meio delas, exercitar sua capacidade de distanciar-se do que lhe
é familiar e familiarizar-se com o que é desconhecido ou estranho
para você. Como fazer isso?
Roda de conversa
97
Autoconhecimento
99
Outro exemplo de jovem protagonista é Thiago Vinicius, da Agência
Popular Solano Trindade, do bairro Jardim Maria Sampaio, na periferia
da cidade de São Paulo. A Agência Popular Solano Trindade, movimento
no qual atua, trabalha em muitas frentes, como a cultural e a econômica,
com a criação de um banco comunitário e uma moeda social no bair-
ro onde mora. Desse modo, Thiago e seus parceiros trabalham também
com empreendedorismo social.
Thiago Vinicius,
em São Paulo (SP),
em 2017.
101
Todos nós somos formados por singularidades, ou seja, temos mar-
cas próprias que nos diferenciam das outras pessoas, que podem ser
sociais ou individuais. Você nasceu em um local específico, em uma fa-
mília com características sociais particulares e, ao longo de sua vida, de-
senvolve características que também lhe são próprias, mais ou menos
alinhadas com as características de seus familiares.
A essas nossas características peculiares dá-se o nome de marca-
dores sociais da diferença. Ou seja, são atributos que, ao mesmo tempo,
nos enquadram em um grupo social ao qual nos sentimos pertencen-
tes e que delimitam a nossa subjetividade, pois apontam para as espe-
cificidades de cada indivíduo. Assim, um marcador social de diferença
importante e mais geral que sustentamos é a nossa nacionalidade. Por
nascermos em determinado território, delimitado por uma fronteira, so-
mos considerados de uma determinada nacionalidade. Outro importan-
te marcador social de diferença é a identidade étnico-racial, que no Brasil
é constituída por três grupos principais: o branco, o negro e o indígena.
Nesse caso, tomam-se aspectos físicos e culturais para definir como
nos apresentamos e somos vistos no mundo.
Alguns desses marcadores sociais de diferença, entretanto, podem
tornar-se desigualdades se houver preconceito e injustiça na distribui-
ção de alguns bens sociais pelo Estado, como educação, saúde e opor-
tunidades de moradia e trabalho digno.
RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS
FABIO COLOMBINI
103
com um olho só – portava uma anormalidade ameaçadora. O
que mostra que a anormalidade não parece repelente e assusta-
dora em função de sua inerente inferioridade, mas por se chocar
com a ordem construída de acordo com necessidades, hábitos e
expectativas dos ‘normais’ – ou seja, da maioria. No geral, a dis-
criminação contra o ‘anormal’ (quer dizer, a condição de mino-
ria) é uma atividade destinada a defender e preservar a ordem,
uma criação sociocultural.”
(BAUMAN, Zygmunt. Sobre educação e juventude. Rio de
Janeiro: Zahar, 2013. p 71-72.)
Roda de conversa
Ampliando o repertório
Roda de conversa
#FICA A DICA
•• divulgar o evento;
•• realizar a apresentação.
107
Avaliação do Módulo 2
Após a vivência de transição, faça uma avaliação deste Módulo 2,
anotando em seu caderno:
1 Como me senti neste módulo de discussão sobre o projeto de
Não
escreva vida?
no livro
2 Quais foram os novos aprendizados?
3 Como foi a minha participação nas atividades propostas?
4 Consegui interagir nas atividades com os outros de maneira pro-
dutiva, ajudando e sendo ajudado pelos colegas?
5 Este Módulo 2 colaborou para o reconhecimento da importância
de compreender os outros e seus pontos de vista, ainda que eu
não concorde com eles?
6 Como foi a experiência de criação de um projeto coletivo?
7 O que foi mais desafiador até aqui?
Se julgar necessário, acrescente outras observações.
Roda de conversa
CRIS EICH
Módulo
encontro
com o
mundo Veja orientações
na Assessoria
Pedagógica.
CRIS EICH
MAFALDA
Um mundo em transformação
Seu projeto de vida depende sempre das condições do mundo em
que vivemos e de sua capacidade de estabelecer relações sociais. Com
as tecnologias digitais da informação e da comunicação, o modo como
interagimos no mundo e com o mundo tende a transformar-se cada vez
mais rápido. As formas de trabalho, a forma como aprendemos e até
mesmo as relações afetivas estão em constante mudança. Por isso, ao
criar um projeto de vida é fundamental que você saiba, inclusive, lidar
com as alterações de planos e de rota em um mundo que está em cons-
tante movimento.
“Projeto vital é uma intenção estável e generalizada de al-
cançar algo que é ao mesmo tempo significativo para o eu e gera
consequências no mundo além do eu.
Autoconhecimento
2 O que seria um propósito nobre para a sua vida, para o seu futuro?
3 Qual é a principal motivação para você ir em busca de seus sonhos?
4 O que um projeto de vida precisa ter de especial para não ser ape-
nas um objetivo imediatista?
Fôlder do filme A Máquina: o amor é
o combustível, de João Falcão.
DILER & ASSOCIADOS
2006, dirigido por João Falcão, que retrata uma cidade chamada
Nordestina. De tão pequena, não está nem no mapa. Devido ao
seu tamanho diminuto, boa parte de sua população começou a
sair mundo afora em busca de um futuro melhor. Apaixonado por
“Karina da rua de baixo”, que também decide ir embora, “Antônio
de Dona Nazaré” decide construir uma máquina do tempo, para ir
ao futuro e trazer o mundo para a sua amada. Um filme que nos
faz pensar, portanto, em sonhos, no futuro e em nosso lugar no
mundo. Inspirado no livro de mesmo nome, de Adriana Falcão.
111
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
Cooperação e resiliência
No Módulo 2, comentamos que a cooperação abre um caminho
fundamental para a constituição de seu projeto de vida. Agora leia o
texto abaixo, reflita novamente sobre a importância da cooperação
e realize as atividades indicadas logo a seguir.
[...]
CRIS EICH
ou apesar das consequências de uma catástrofe natural, entre
outras (LUTHAR e outros, 2000). Na área de intervenção psicos-
social, a resiliência tenta promover processos que envolvam
o indivíduo e seu ambiente social, ajudando-o a superar a ad-
versidade (e o risco), adaptar-se à sociedade e ter melhor qua-
lidade de vida.”
(INFANTE, Francisca. A resiliência como processo: uma revisão da
literatura recente. In: MELILO, A.; OJEDA, E. N. S. (Orgs.). Resiliência:
descobrindo as próprias fortalezas. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 23.)
Ampliando o repertório
Imagem artística
PXHERE
representando a ideia de
mapeamento do mundo,
ao refletir nossas
relações com ele.
O que é um mapa?
Um mapa é a representação gráfica de uma área geográfica. Ele nos
orienta no espaço, mas também nos conta a história de como o local
onde vivemos se organizou e se reorganizou ao longo do tempo. Entre-
tanto, mapas não correspondem exatamente à realidade, mas nos aju-
dam a entendê-la.
Mapa afetivo
Todos nós temos caminhos que gostamos mais de seguir em
nossas jornadas diárias, bem como lugares em que gostamos mais de
estar ou realizar alguma atividade, no bairro e na cidade em que mora-
mos. Isso compõe o que aqui denominamos mapa afetivo. A proposta
agora é que você desenhe com os colegas um mapa afetivo coletivo da
turma, indicando os lugares que conhecem e de que gostam na locali-
dade onde vivem.
A
ST
X
A proposta agora é que você pense nos lugares que
E
AL
CRIS EICH
sa abrigar esse tipo de atividade na escola. Se houver recursos
tecnológicos disponíveis, há também a possibilidade de criação
de um mapa on-line, para ficar disponível na internet.
Autoconhecimento
117
Roda de conversa
Percursos
Sua trajetória de vida consiste em um lon-
go percurso que você vem trilhando desde a
sua chegada ao mundo. Seu percurso de vida
possui muitos roteiros diferentes. Como vimos
até aqui, você pode analisá-lo, retrospectiva-
mente, com base em sua relação com as cultu-
ras juvenis, com os seus amigos, com o bairro
onde vive, com os coletivos culturais, enfim,
com base em diferentes perspectivas. Neste
momento, gostaríamos de chamar a sua aten-
ção para um percurso especial: o de sua forma-
ção escolar.
Chegar ao final do Ensino Médio não é
uma tarefa fácil. Você já parou para pensar em
tudo que vivenciou até aqui, desde que entrou
na escola, quando ainda era bem pequeno?
Houve momentos de muita alegria e outros
de maior dificuldade. Porém, com toda certe-
CRIS EICH
Estudantes guarani-kaiowá
na cerimônia de formatura do
Ensino Médio na Escola Estadual
Indígena Aldeia de Amambai, em
Amambai (MS). em 2012.
119
Nós – as conexões que nos
fortalecem
Há muitas coisas em sua vida que você não conseguiria realizar
sozinho e outras que você faria ainda melhor se estivesse conectado
a outras pessoas. Uma proposta de limpeza de uma praça ou de
implantação de coleta seletiva em sua escola será muito mais
efetiva se você conseguir uma articulação com indivíduos
que aceitem ajudá-lo nessas tarefas. Sozinho, sua ação te-
ria muito pouca repercussão e/ou efetividade. Da mesma
forma, organizar um evento em sua escola, que pode ser
uma festa beneficente ou uma feira literária, vai funcionar
apenas se você conseguir engajar um grande número de
pessoas, fazendo com que cada uma assuma uma tarefa
CRIS EICH
CRIS EICH
para a efetivação de seu projeto de vida. Esse guia, portanto, levantará,
em grande parte, lugares que você ainda não conhece ou sobre os quais
sabe muito pouco. Por isso, será preciso incorporar outras metodologias
para a sua confecção. A primeira, e a principal delas, será a pesquisa na
internet, mas também com pessoas e espaços dentro do seu bairro que
podem, eventualmente, ajudá-lo.
Uma ação prévia será definir quem ou quais instituições podem co-
laborar para a consolidação de seu projeto de vida, tanto em termos de
formação quanto de escolha profissional. Propomos que seja uma ati-
vidade coletiva e colaborativa, afinal, quanto mais pessoas trabalharem
juntas, mais completo será o guia de oportunidades. Com isso, ganham
todos, que poderão acessar informações mais diversificadas e ampliar
as oportunidades.
Após uma conversa inicial sobre a opinião de todos os colegas a res-
peito de quais instituições poderiam dar algum tipo de apoio ou orien-
tação aos projetos de vida da turma, a ideia é que, com base nessa lista
inicial de sugestões, se possa aumentá-la ainda mais, com a finalidade
de construir uma rede de contatos que fortaleça sua caminhada rumo
ao futuro almejado. Ou seja, não se trata apenas de citar lugares, mas
de discutir como eles podem ajudar a cada um dos alunos e sua comu-
nidade. O importante é que o guia aponte para o maior número de dados
possíveis do que se conseguiu levantar, descrevendo a área de atuação,
contatos, endereço etc.
Sugestões de pontos de partida para a pesquisa
• Universidades públicas
• Cursinhos pré-vestibulares comunitários
• Cursos gratuitos de idiomas
• Cursos gratuitos de tecnologia da informação
• Cursos técnicos e/ou profissionalizantes
121
• Cursos de música, dança, teatro e/ou outras atividades artísticas
• ONGs ou projetos sociais
• Associações comunitárias
• Grupos de apoio ao jovem
• Bibliotecas
• Centros culturais
• Cinemas
• Teatros
• Espaços de lazer
• Espaços de atendimento e orientação em saúde
• Espaços de acolhimento e orientação em psicologia
• CEDECAs (Centros de Defesa da Criança e do Adolescente)
• Conselhos Tutelares
Não
escreva 1 Além desses pontos, quais outros espaços e instituições você
no livro
considera importantes para a sua formação e para o seu projeto
de vida?
Mapas da Cultura
Você sabia que o governo nacional oferece uma ferramenta criada
para mapeamento de coletivos e espaços culturais, denominada Mapas
da Cultura?
MAIS SOBRE ➜ Disponível em: http://mapas.cultura.gov.br. Acesso em: 22 nov. 2019.
REPRODUÇÃO
CRIS EICH
guirá encontrar um propósito ou sentido maior para a
sua trajetória no mundo. Saber administrar bem o pró-
prio dinheiro por meio de uma educação financeira pode
ser muito útil para o seu projeto de vida, no entanto, o dinheiro
ou o consumo de determinados bens deve ser sempre um dos meios
para chegar aos seus sonhos, e nunca se transformar na finalidade ou
no objetivo a ser perseguido. Além disso, você deve refletir sempre
sobre o que consome e como o que você consome afeta a vida das
outras pessoas e o meio ambiente em que vive. Muitos jovens mo-
bilizam-se por um propósito que pode envolver a busca por melho-
res condições de vida para eles mesmos e para sua comunidade, mas
também ações de defesa do meio ambiente ou de combate à poluição.
1 Você consegue imaginar-se em projetos com um propósito Não
escreva
maior, ultrapassando expectativas imediatistas e individualistas no livro
123
Ampliando o repertório
Coletivo Marianas
Da cidade de Curitiba, criado em 2015, o Coletivo Marianas
tem como principal objetivo incentivar e legitimar a produção
literária e artística feminina. Ele realiza uma série de ativida-
des de promoção da literatura com o protagonismo das mulhe- ➜
124 O meu encontro com o mundo
➜ res, como saraus, recitais e intervenções de poéticas. O coleti-
vo surgiu de um projeto intitulado Meninas que Escrevem, em
2014. Desde então tem promovido eventos literários, projetos
de publicação literária e de discussão das condições sociais da
mulher no mundo contemporâneo.
(COLETIVO MARIANAS. Disponível em: https://www.
coletivomarianas.com/sobre. Acesso em: 25 fev. 2020.
Texto adaptado.)
Integrantes do
Coletivo Marianas
durante lançamento
de antologia, em 2019.
Periferia em Movimento
“A Periferia em Movimento é uma produtora de Jornalis-
mo de Quebrada que gera e distribui informação dos extremos
ao centro.
Fundada em 2009 por jovens jornalistas que moram em
periferias da Zona Sul de São Paulo (Aline Rodrigues, Sueli Reis
Carneiro e Thiago), a Periferia em Movimento tem como mis-
são fazer um jornalismo sobre, para e a partir das periferias,
em nossa complexidade, para ocupar espaços que sempre nos
negaram e garantir o acesso a direitos. [...]
Como a gente trabalha
Atuamos a partir do Extremo Sul de São Paulo (Grajaú, Pa-
relheiros, Marsilac e Cidade Dutra) até os centros de poder nas
frentes:
Conteúdo: produção de conteúdo jornalístico de dentro
para dentro, pautando a cidade a partir da visibilização de
histórias de quem está nas frentes de luta pela garantia de di-
reitos pela cultura, saúde, educação, mobilidade, moradia, pre-
servação ambiental, trabalho e renda, com questões de gênero,
raça e classe de forma transversal.
Articulação: aproximar, representar e incidir politicamen-
te dentro e fora dos territórios de atuação na busca pela garan-
tia de direitos a partir da discussão sobre Jornalismo, Periferias
e Direitos Humanos, por meio de encontros de aprendizagem
(palestras, oficinas, cursos, vivências), curadoria e consultoria”.
(PERIFERIA EM MOVIMENTO. Disponível em: http://
periferiaemmovimento.com.br/quem-somos/.
Acesso em: 25 fev. 2020.)
125
Autoconhecimento
127
Veja comentários
na Assessoria Da escola para o mundo
Pedagógica.
Quando criança, uma das primeiras grandes transformações pelas quais
você passou foi a entrada na escola. Nesse processo, você deixou o mundo
familiar para adentrar um espaço mais ampliado de formação e de relações
sociais com pessoas que eram bem diferentes de você, como vimos no Mó-
dulo 2. Mesmo que muitas inseguranças e receios possam rondar a sua tra-
jetória, na escola você ainda está em um ambiente mais protegido.
Chegando ao fim da trajetória escolar na Educação Básica, com o
término do Ensino Médio se aproximando, chega o momento de definir
outra importante transição: a da escola para os primeiros passos rumo
à participação efetiva na vida adulta. E quem definirá como será esse
outro mundo, em que assumirá maiores responsabilidades, será você
mesmo, com base em seu repertório cultural, seu campo de possibilida-
des e seu projeto de vida.
Há muitas decisões a serem tomadas nesse movimento de saída do
mundo escolar:
1 Como você dará continuidade a seus estudos?
2 Onde poderá encontrar seu primeiro emprego?
3 Como organizará seu tempo para ter espaço de lazer e de encon-
tro com amigos e familiares?
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
Segunda linha:
Não Não Não
Módulo 2 escreva escreva escreva
no livro no livro no livro
Terceira linha:
Não Não Não
Módulo 3 escreva escreva escreva
no livro no livro no livro
Roda de conversa
CRIS EICH
ção, mais opções de trabalho surgirão. Mas é importante saber que, tanto
para a continuidade dos estudos quanto para a inserção profissional, não
há solução mágica. Tudo se constrói com organização e muito esforço!
Não acredite na cultura do imediatismo, de que haverá um cami-
nho rápido para uma grande conquista, como se costuma observar em
alguns filmes, programas de televisão e mesmo nas redes sociais. Em
muitos casos, é preciso analisar quais são as reais condições que você
tem para conseguir um determinado trabalho, refletindo sempre sobre
o que é preciso fazer para melhorar suas ofertas de oportunidades. E o
fundamental, que é o objetivo deste livro: desenvolva um projeto de vida
que lhe permita organizar-se para a realização de seus sonhos e para o
mundo do trabalho, com base em uma análise realista da sociedade em
que vive.
Roda de conversa
O superpoder de compartilhar
Vamos fazer uma retrospectiva de nossos estudos até aqui. Abor-
damos a importância de conhecer e entender os próprios sentimentos e
emoções para aprender a lidar melhor com eles, e também de conhecer
as pessoas ao seu redor, compreendendo que deve, ao mesmo tem-
po, respeitá-las e exigir respeito. Você não está sozinho no mundo e,
portanto, é fundamental lembrar-se de que pode contar com as outras
pessoas com quem convive para compartilhar seus dilemas. Se algum
dia estiver com algum problema, mesmo que lhe pareça algo enorme,
procure alguém em quem confie e compartilhe suas angústias ou peça
orientações; isso certamente o ajudará muito! Como você não tem su-
perpoderes, a ajuda das outras pessoas pode ser decisiva em sua vida.
A adolescência é um período em que as emoções se tornam
muito mais intensas e ainda se está aprendendo a lidar com
elas. Por isso, muitas vezes, um problema que pode parecer
simples para um adulto, para um jovem pode parecer algo
maior do que realmente é, quase como se fosse uma bar-
reira impossível de se ultrapassar. Nesse momento, você
pode até pensar como seria bom ter superpoderes para
superar as dificuldades em um estalar de dedos. Porém,
compreenda que nada é para sempre, e a vida está todo
dia se transformando.
Você gosta de super-heróis? O que você mais ad-
mira neles? E quem você gostaria de ser, nem que fosse
por um instante? Se você tivesse superpoderes como as
personagens das histórias em quadrinhos ou dos filmes,
que tipo de poder gostaria de ter? Que problemas você gos-
taria de resolver com suas habilidades fantásticas? A imagi-
nação nos leva a pensar melhor sobre as nossas vidas, porém,
CRIS EICH
133
instantaneamente nossos objetivos. Assim, é fundamental contar sem-
pre com outras pessoas para ajudar você, seja alguém da família, da es-
cola ou da vizinhança. Os problemas tornam-se menores quando so-
mos capazes de compartilhá-los.
FOX PICTURES
#FICA A DICA
than Dayton e Valerie Faris. Vencedor do Oscar 2007, a produção
conta a saga da garotinha Olive para tentar participar de um con-
curso de beleza para crianças. Ela vive com uma família cheia de
problemas e pequenos fracassos. Um pai que tenta vender um
programa de autoajuda para quem quer ser um vencedor, mas
ele próprio não obtém sucesso. Um tio depressivo. O irmão mais
velho, que é um jovem revoltado e que promete fazer voto de si-
lêncio até realizar o seu grande sonho: tornar-se piloto da força
aérea americana. E um avô meio maluco que ensaiará a garoti-
nha para sua participação no concurso. O concurso acontecerá
em outra cidade; toda a família segue numa Kombi e, ali, naquela
viagem, em meio a uma série de conflitos, dilemas e trapalha-
das, de certa maneira, todos encontrarão um objetivo maior para
suas vidas: apoiar Olive em seu sonho. Um filme divertido, que
▲▲ Fôlder do filme Pequena Miss nos faz refletir profundamente sobre como o sentido da vida
Sunshine, de Jonathan Dayton e está nas pequenas coisas.
Valerie Faris.
Autoconhecimento
Veja mais Leia o poema a seguir, de Paulo Leminski. Em seguida, reflita so-
informações
na Assessoria bre ele, respondendo às questões que seguem.
Pedagógica.
Bem no fundo
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela – silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar para trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
➜
134 O meu encontro com o mundo
➜ mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
1 O que você pode aprender com a bela poesia de Leminski sobre os Não
escreva
problemas da vida? no livro
2 Por que será que não dá para resolver nossos problemas por
decreto?
3 Você considera que é importante reconhecer que, embora a vida
possa lhe dar muitas alegrias, também terá de enfrentar muitos
obstáculos e problemas ao longo da jornada? Por quê?
4 Como um planejamento para o seu futuro, por meio de um projeto
de vida, pode ajudar você a enfrentar melhor os problemas que po-
derão aparecer em sua trajetória?
135
minutos e logo já querer comprar outro produto para preencher o vazio
que ficou, mas sim de sentir-se satisfeito por algo muito maior que você
pode e quer realizar, para você e para as outras pessoas.
VIDEO FILMES
#FICA A DICA
les. Dora é uma mulher amargurada e mesquinha que engana
pessoas mais pobres e não alfabetizadas, prometendo, em
troca de dinheiro, escrever e enviar cartas aos parentes dis-
tantes delas, porém ela não as enviava. Em determinado mo-
mento de sua vida, ela encontra Josué, um menino que acabara
de perder a mãe, ficando sozinho numa cidade desconhecida.
Ela reluta em ajudá-lo a voltar para a sua cidade natal e reen-
contrar o pai, mas, ao final, acaba aceitando. Assim, ela não só
descobre o caminho da casa de Josué, mas também para o seu
próprio sentido de vida. Ao ajudar o garoto, ela, que até então
trapaceava e prejudicava as pessoas, descobre um belo pro-
pósito para seguir.
Os dois textos que você vai ler têm um tema em comum: o propó-
sito ou o sentido para a vida.
Na leitura dos textos, procure identificar como cada um constrói
essa ideia de sentido para a vida. Logo após, reflita sobre as questões
que seguem.
“Desejos de curto prazo vêm e vão. Um jovem pode desejar
uma boa nota em uma prova, uma namorada, o mais recente
PlayStation do mercado, uma oportunidade no time de bas-
quete ou entrar em uma faculdade prestigiada. Todos esses
são desejos; refletem objetivos imediatos que podem ou não
ter significado em longo prazo. Um projeto vital, ao contrário,
é um fim em si mesmo.
Uma pessoa, ao longo dos anos, pode mudar de projetos
vitais, ou adquirir novos; mas eles costumam durar pelo me-
nos o bastante para que um compromisso sério seja criado e
algum progresso na direção desse objetivo seja conquistado.
Um propósito pode organizar uma vida inteira, concedendo-
-lhe não apenas significado, como também inspiração e moti-
vação para o aprendizado contínuo e a realização.”
(DAMON, William. O que o jovem quer da vida? – Como pais e
professores podem orientar e motivar adolescentes. São Paulo:
Summus, 2009. p. 43.)
➜
136 O meu encontro com o mundo
➜ AMinhaPoesia
Há tempos percebi que tinha tempos
que perdia minha poesia
Perdia porque não encontrava nenhuma razão pra ela.
Buscava nas mais simples coisas, mas lá, não estava.
E nas grandes coisas também. Sem sucesso.
Quando a perdi, chorei.
Onde estava a minha poesia?
Não tem como viver sem ela
Sem ela não tem porque.
Não tem pra quem, pra onde...
Não tem sujeito, não tem verbo, não tem luta.
Não se pode perder assim uma poesia. A poesia.
De tanto procurar, a encontrei novamente em meus
sonhos.
Voltei a sonhar.
Ela vem me visitar na realidade, na fantasia.
Olha, sente, e vai embora.
E quando ela ameaça se perder de mim, deixo-me levar
com ela.
AMinhaPoesia.
(Nina Fideles. In: BUZO, Alessandro (Curad.). Pelas periferias do Brasil.
São Paulo: Suburbano Convicto, 2010. v. 4.)
1 Que propósito maior você pensou para os seus projetos de vida? Não
escreva
no livro
2 Esse seu propósito maior é só seu ou é algo que você quer conquis-
tar para beneficiar a sua família, seus amigos e sua comunidade?
3 Por que é importante ter um propósito para a vida?
4 Como esse propósito ou sentido pode ajudar você com seus proje-
tos de vida?
cola hoje?
3 O que o profissional dessa área faz?
Não
escreva 4 Quais são os seus principais campos de trabalho?
no livro
5 Você consegue ver-se realizando as tarefas desse profissional?
Roda de conversa
CRIS EICH
Roda de conversa
141
142
Fim da jornada
143
amor, entendido como a capacidade de estabelecer relações saudáveis
e coletivas, é o principal sentimento para a sua articulação no mundo.
Com base nele, é possível conseguir, entre outras coisas, juntar forças
para pensar em sonhos e projetos coletivos, que mudem não apenas
sua vida, mas também a das pessoas com quem convive.
Por fim, no terceiro e último módulo, O meu encontro com o
mundo, você produziu uma síntese dos dois módulos anteriores,
avançando em direção a um objetivo fundamental, que é o de pensar
a sua inserção no mundo após a conclusão do Ensino Médio. Por isso,
focou-se principalmente nos aspectos de formação e do trabalho.
Nessa parte da jornada de tantas descobertas, servimo-nos da me-
todologia de mapeamento e levantamento de informações impor-
tantes para esse processo de amadurecimento que a conclusão do
Ensino Médio representa. Da mesma forma, você começou a com-
preender que é preciso aprender a lidar com os problemas, pois eles
são presença constante na vida de todos, e a capacidade de saber
superá-los é justamente o que lhe permitirá realizar seus projetos de
vida e alcançar seus sonhos.
Esperamos que você tenha aproveitado essa aventura de auto-
conhecimento e de aprofundamento sobre a importância dos proje-
tos de vida. Ao longo do livro, foi proposta uma série de atividades de
autoconhecimento, com questões reflexivas, de ampliação de reper-
tório, com textos para aprofundar o estudo de determinados aspec-
tos e algumas dicas de filmes, séries e leituras. Esperamos que você
tenha aproveitado cada atividade e que este livro tenha lhe deixado
muitos aprendizados. Esperamos ter, de alguma forma, ajudado em
uma reflexão mais apurada sobre os seus sonhos e no planejamento
para um futuro promissor e transformador!
CRIS EICH
Roda de conversa
145
Relação das competências gerais e específicas
e habilidades mencionadas nesta obra
1. Competências gerais
10
2. Compreender os pro-
cessos identitários,
conflitos e relações de EM13LGG202: Analisar interesses, relações de
poder que permeiam poder e perspectivas de mundo nos discursos
as práticas sociais de das diversas práticas de linguagem (artísticas, Autoconheci-
linguagem, respeitando corporais e verbais), compreendendo critica- mento
as diversidades e a mente o modo como circulam, constituem-se
pluralidade de ideias e (re)produzem significação e ideologias.
e posições, e atuar
socialmente com base
em princípios e valores
assentados na demo-
cracia, na igualdade e
nos Direitos Humanos, EM13LGG204: Dialogar e produzir entendi-
exercitando o autoco- mento mútuo, nas diversas linguagens (artís- Etapas de Etapas de
nhecimento, a empatia, ticas, corporais e verbais), com vistas ao inte- elaboração elaboração
o diálogo, a resolução resse comum pautado em princípios e valores de um pro- de um pro-
de conflitos e a coope- de equidade assentados na democracia e nos jeto de vida jeto de vida
ração, e combatendo Direitos Humanos.
preconceitos de qual-
quer natureza.
147
3. Ciências Humanas e Sociais Aplicadas:
competências específicas e habilidades
Presente em
Competência
Habilidade Atividades
específica Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3
/ seções
Etapas de
EM13CHS402: Analisar e comparar indicadores elaboração
de emprego, trabalho e renda em diferentes de um pro-
4. Analisar as relações espaços, escalas e tempos, associando-os a jeto de vida
de produção, capital e processos de estratificação e desigualdade
trabalho em diferentes socioeconômica. Vivência de
territórios, contextos e fechamento
culturas, discutindo o
papel dessas relações EM13CHS403: Caracterizar e analisar os im- Etapas de
na construção, consoli- pactos das transformações tecnológicas nas elaboração
dação e transformação relações sociais e de trabalho próprias da con- de um pro-
das sociedades. temporaneidade, promovendo ações voltadas jeto de vida
à superação das desigualdades sociais, da Vivência de
opressão e da violação dos Direitos Humanos. fechamento
149
Referências bibliográficas comentadas
ABRAMO, Helena. Identidades juvenis: estudo, tra- BITTENCOURT, João. Corpo e afeto nas culturas ju-
balho e conjugalidade em trajetórias reversíveis. In: venis. Latitude, v. 6, n. 1, p. 25-36, 2012. Disponível
PINHEIRO, Diógenes et al (Orgs.). Agenda Juventude em: www.seer.ufal.br/index.php/latitude/article/
Brasil: leituras sobre uma década de mudanças. Rio view/852. Acesso em: 25 out. 2019.
de Janeiro: Unirio, 2016. Artigo instigante, baseado em pesquisa sociológica
Importante texto que trata das transformações nas do autor com grupos juvenis, que trata da importân-
trajetórias da juventude em direção à vida adulta. A cia do corpo e do afeto nas relações dos jovens entre
obra como um todo aborda questões sobre o tema si e com integrantes de outras gerações.
da juventude na contemporaneidade.
BORGES, Jorge Luís. Do rigor da ciência, O Fazedor.
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. No seu pescoço. São Obras Completas II. São Paulo: Globo, 1999.
Paulo: Companhia das Letras, 2017. Nesse texto, o escritor argentino brinca com a inutili-
Neste livro de contos, a autora nigeriana discute te- dade de uma representação cartográfica que corres-
máticas fundamentais do mundo contemporâneo, ponda exatamente à realidade.
como a migração, a desigualdade racial e os conflitos
religiosos e familiares. BUZO, Alessandro (Curadoria). Pelas periferias do
Brasil. São Paulo: Suburbano Convicto, 2010. v. 4.
ALCALDE, Emerson. (A) massa: poesias e dramatur- Obra coletiva de poesias de diferentes autores, orga-
gias. São Paulo: Edicon, 2013. nizada por Alessandro Buzzo, poeta suburbano con-
Coletânea de poesias cujo autor retrata o seu coti- victo da periferia de São Paulo.
diano como morador da periferia de São Paulo. Po-
de-se enquadrá-lo como uma das muitas produções CAMPOS, Vinícius. O amor nos tempos do blog. São
da chamada literatura periférica. Paulo: Reviravolta, 2018.
Obra de literatura juvenil que relata as novas formas
AZIGON, Talles. O mar original. Fortaleza: Substânsia, de comunicação e relacionamento dos jovens na
2015. contemporaneidade, a partir das novas tecnologias.
Livro de micropoemas de Talles Azigon que faz refe-
rência à poesia marginal dos anos 1970. CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do
Brasil para jovens. São Paulo: Global, 2006.
BAUMAN, Zygmunt. O amor líquido: sobre a fragilida- Coletânia de contos populares recolhidos por Câma-
de dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. ra Cascudo em seu estado, o Rio Grande do Norte,
Aqui, o autor discute as transformações nas relações que narram diferentes temáticas importantes para a
sociais no mundo contemporâneo. Sendo assim, a di- constituição histórica do povo brasileiro.
mensão amorosa seria apenas um dos aspectos a se
pensar. Trata-se de uma discussão fundamental para DAMON, William. O que o jovem quer da vida? Como
entender as novos modos de relacionar-se consigo e pais e professores podem orientar e motivar adoles-
com o mundo na juventude contemporânea. centes. São Paulo: Summus, 2009.
William Damon é um psicólogo responsável por uma
. Sobre educação e juventude. Rio de Janeiro: discussão bastante aprofundada sobre juventude e
Zahar, 2013. projeto de vida. Nesta obra, ele aborda a importância
Em diferentes textos e propostas, são abordadas as de se trabalhar com a ideia de projeto e propósito de
mudanças na educação e na juventude no mundo vida para que os jovens construam trajetórias bem-
atual. Um convite para se pensar as diferenças como -sucedidas.
questão fundamental para as relações sociais em um
mundo globalizado.
151
PENNAC, Daniel. Diário de Escola. Rio de Janeiro: Roc- SIBILIA, Paula. Do homo psico-lógico ao homo tecno-
co, 2008. -lógico: a crise da interioridade. Semiosfera, ano 3, n.
7, 2004.
Nessa obra, Pennac narra a importância da leitura e da
escrita para a sua vida de estudante e de professor. Nesse artigo, a autora trata das mudanças do modo
como as pessoas entendem a si mesmas e apresen-
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio tam-se no mundo. Se no passado havia um mundo
de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. interior altamente valorizado, com os romances e o
Obra fundamental da literatura brasileira. Nela, o diário privado, no presente, o que se tem é uma va-
autor narra poeticamente a saga de Riobaldo pelos lorização do mundo exterior cada vez mais intensa.
sertões do Brasil.
VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose: antropolo-
SARAMAGO, José. O conto da ilha desconhecida. São gia das sociedades complexas. Rio de Janeiro: Zahar,
Paulo: Companhia das Letras, 1998. 2003.
Pequeno livro em que o autor português descreve Inspirado na discussão de Alfred Schutz, o antro-
as aventuras de um homem que vai em busca de pólogo brasileiro discute as noções de projeto e de
seu sonho, arrumar um barco para encontrar uma campo de possibilidades.
ilha desconhecida. Uma obra para se refletir sobre os
sentidos da vida. YOUSAFZAI, Malala; LAMB, Christina. Eu sou Malala.
A história da garota que defendeu o direito à educa-
SCHUTZ, Alfred. Sobre fenomenologia e relações so- ção e foi baleada pelo Talibã. São Paulo: Companhia
ciais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. das Letras, 2013.
Nessa obra fundamental das ciências sociais, Al- Autobiografia da jovem paquistanesa, que relata sua
fred Schutz discute as noções de mundo e campo de luta pelo direito à educação em seu país.
possiblidades.
ZAMBONI, Márcio. Marcadores sociais da diferença.
SCHUYETEMA, Paul. Design de games: uma aborda- Sociologia: grandes temas do conhecimento (Espe-
gem prática. São Paulo: Cengage Learning, 2008. cial Desigualdades), São Paulo, v. 1, 1 ago. 2014.
Livro para quem deseja aprender um pouco mais so- Artigo em que se discute a complexidade das dife-
bre design de games. renças no mundo contemporâneo, apontando para
a importância de se entender em que momento elas
SENNETT, Richard. Juntos. Rio de Janeiro: Record, podem se tornar desigualdades.
2018.
Nesta importante obra, Richard Sennett trata da im-
portância da cooperação para a constituição da so-
ciedade. Em um mundo em que as diferenças tendem
a ser acentuadas, pensar em projetos e propostas de
construção coletivas mostram-se, segundo o autor,
fundamentais para um futuro promissor.
Assessoria Pedagógica
Sumário
Apresentação..................................................................................................................................... 155
Cronograma.......................................................................................................................................................... 157
Apresentação .....................................................................................................................................................168
Módulo 3 ................................................................................................................................................................184
Prezado(a) professor(a), mo, compreenda que ele vive com outras pessoas e
que, por isso, precisa pensar também na sua interação
A proposta deste livro é trabalhar com os sonhos
com essas pessoas. Nesse momento, o convite é para
e anseios dos estudantes, orientando-os a definir ob-
aprofundar a compreensão de seu papel social. Desse
jetivos e um propósito para organizar seus projetos de
modo, a questão do respeito às diferenças surge com
vida. O livro está dividido em três módulos:
bastante força, principalmente com base em uma re-
1 O meu encontro comigo flexão sobre as culturas juvenis. Portanto, no Módulo
2 O meu encontro com os outros 1, o foco é o projeto de vida pessoal e, no Módulo 2,
a ideia é pensar nos sonhos e projetos coletivos da
3 O meu encontro com o mundo
turma. Trabalha-se também com o amor, entendido
O Módulo 1 concentra o trabalho com atividades como a capacidade de estabelecer relações saudá-
de autoconhecimento, em que é sugerido aos jovens veis e construir uma participação cidadã, pensando no
refletir sobre sua subjetividade e como ela se insere amor em suas múltiplas representações. O principal
em um mundo em transformação. Nesse momento, aprendizado nesse módulo é o de distanciamento do
eles são convidados a conhecer-se melhor e a pen- que é familiar e de familiarização com o que é estra-
sar na configuração de sua própria biografia, refletin- nho/desconhecido. Esse é um ponto importante, na
do, inclusive, sobre a distinção entre público e privado. medida em que o primeiro movimento permite am-
Os estudantes também são convidados a escrever pliar o autoconhecimento, agora inserido na socieda-
um diário, entendendo essa atividade simultanea- de, pois, quando se analisam questões que eram na-
mente como um processo de ampliação do autoco- turalizadas, pode-se perceber o que é preciso mudar
nhecimento, mas também de uma escrita e auto- ou melhorar em si mesmo e na relação com os outros.
ria de sua história, convocando o jovem a assumir o Da mesma forma, discute-se como a abertura para a
protagonismo de sua vida. O projeto de vida é apre- familiarização com o estranho ou desconhecido pode
sentado aqui com seus múltiplas questionamentos, levar, ao mesmo tempo, ao respeito a diferenças e a
inclusive na possibilidade de não realização. Inicia-se novos aprendizados sobre o mundo.
aqui um aprendizado sobre frustrações e a capacida- Por fim, o terceiro e último módulo trata do en-
de de resiliência, de criação de novos projetos de vida contro dos jovens com o mundo, pensando principal-
com base nos diferentes contextos que a vida venha mente na aproximação do fim do Ensino Médio e na
a apresentar. necessidade de pensar na continuidade da trajetória
No Módulo 2, a proposta é que o estudante, a par- da formação e nas perspectivas para o trabalho ou
tir desse primeiro exercício de encontro consigo mes- a escolha de uma carreira profissional. A ideia aqui é
Apresentação 155
trabalhar com o mapeamento do mundo em que vi- o jovem aprenda a explorar ao máximo as inovações,
vemos, sob diferentes perspectivas, partindo do ma- mas sempre atento a possíveis maus usos, como o
peamento afetivo do que está próximo dos jovens e do compartilhamento de notícias falsas ou de um uso
ampliando o olhar para lugares e oportunidades que excessivo da tecnologia em detrimento das relações
podem ser encontradas na cidade ou nas proximida- sociais.
des de onde eles vivem. O objetivo é que os jovens Ao final de cada módulo é proposta uma vivên-
desenvolvam meios de acionar recursos e institui- cia de transição ou de fechamento, no caso do último
ções que possam ajudá-los e orientá-los em seus módulo. A ideia é que os estudantes articulem, em
projetos de vida. Do mesmo modo, retoma-se a dis- um formato de apresentação, as questões principais
cussão, iniciada no Módulo 1, a respeito de como lidar que vivenciaram no processo de aprendizado sobre
com os problemas e as frustrações, entendendo-os o projeto de vida. Como cada módulo apresenta uma
como parte importante da vida de todas as pessoas. proposta específica, essas vivências também têm
Embora cada módulo tenha um enfoque diferen- suas especificidades, e o professor pode adaptá-las
te, eles estão interligados por uma série de temáticas conforme as particularidades da turma e da escola.
e questões, como a reflexão sobre os papéis sociais Ao final de cada módulo, há também avaliações co-
e a constante provocação feita aos jovens para que letivas e individuais do percurso realizado. Não há um
pensem sobre o seu papel no mundo, em sua relação perfil disciplinar definido para o trabalho com projeto
consigo mesmo, mas também com as outras pessoas de vida, pois, de maneira geral, todos os perfis teriam
e as instituições, e com o mercado de trabalho. A di- condição de aplicar a metodologia proposta. Contudo,
mensão do cuidado consigo mesmo e da sensibilida- conforme as competências e habilidades destacadas,
de na relação com as outras pessoas é transversal ao docentes das áreas de Linguagens e suas Tecnologias
conteúdo do livro. Da mesma forma, procura-se ex- para o Ensino Médio e Ciências Humanas e Sociais
plorar as transformações que as tecnologias digitais aplicadas para o Ensino Médio poderão ter maior fa-
da informação e da comunicação imprimem às rela- miliaridade com as temáticas abordadas e a proposta
ções sociais, profissionais e afetivas. O objetivo é que metodológica.
O cronograma para realização das atividades e vivências desta obra pode ser estruturado bimestral, trimes-
tral, semestral ou anualmente, a depender da realidade de cada escola.
Veja a seguir as sugestões que oferecemos a cada um dos sistemas:
Cronograma bimestral
Apresentação
1. O meu encontro
comigo
2. O meu encontro
com os outros
3. O meu encontro
com o mundo
Cronograma trimestral
Apresentação
1. O meu encontro
comigo
2. O meu encontro
com os outros
3. O meu encontro
com o mundo
Apresentação 157
Cronograma semestral
•• Apresentação e O meu encontro comigo – 2 semestres
•• O meu encontro com os outros – 2 semestres
•• O meu encontro com o mundo – 1 semestre
Apresentação
1. O meu encontro
comigo
2. O meu encontro
com os outros
3. O meu encontro
com o mundo
Cronograma anual
•• Apresentação e O meu encontro comigo – 1.o ano
•• O meu encontro com os outros – 2.o ano
•• O meu encontro com o mundo – 3.o ano (Concentrado na primeira metade do 3.º ano do Ensino Médio)
Apresentação
1. O meu encontro
comigo
2. O meu encontro
com os outros
3. O meu encontro
com o mundo
Este é um livro que, embora apresente um diag- A todos aqueles que hoje imputam a cons-
nóstico da sociedade contemporânea para que o jo- tituição de bandos unicamente ao fenômeno
vem possa se situar, traz uma referência propositiva dos subúrbios, eu digo: vocês têm razão, sim,
e positiva para os jovens. Entende-se que o diagnós- o desemprego, sim, a concentração dos excluí-
tico dos problemas é fundamental para que se possa dos, sim, os reagrupamentos étnicos, sim, a ti-
pensar em soluções ou alternativas. Trata-se de uma rania das marcas, a família monoparental, sim,
obra que apresenta propostas de reflexão, ação e pla- o desenvolvimento de uma economia paralela
nejamento de futuro, apontando caminhos possíveis, e os tráficos de toda a espécie, sim, sim, sim...
sem desprezar os obstáculos, tomando-os, inclusive, Mas deixemos de subestimar a única coisa com
como parte das rotas a serem traçadas pelos jovens. relação à qual podemos pessoalmente agir e
Entendemos, porém, que é preciso ir além das cons- que data da noite dos tempos pedagógicos: a
tatações dos problemas, em busca de propostas de solidão e a vergonha do aluno que não enten-
ações para a superação deles. Uma das formas de se de, perdido num mundo em que todos os ou-
alcançar isso é enfocar as potencialidades dos estu- tros se entendem.
dantes em seus processos educativos, apontando,
Somente nós podemos tirá-lo dessa prisão, quer
inclusive, para as possibilidades de transformação.
sejamos ou não formados para isso.
Hoje em dia, conta-se com um considerável acú-
Os professores que me salvaram – e que fizeram
mulo de pesquisas e discussão teórica a respeito do
de mim um professor – não eram formados para isso.
reflexo das desigualdades da sociedade no desempe-
Eles não se preocuparam com as origens de minha
nho escolar. Elas certamente cumpriram e ainda cum-
enfermidade escolar. Eles não perderam tempo em
prem um papel importante de denunciar o processo
buscar as causas nem em me passar sermões. Eles
por meio do qual o fracasso escolar seria apenas o
resultado de determinações sociais mais amplas. O eram adultos confrontados com adolescentes em pe-
grande problema, como apontam Bernard Charlot e rigo. Eles se disseram que havia urgência. Eles mergu-
Rosemeire Reis (2014), é que, para reverter tal dura lharam. Perderam-me. Mergulharam de novo, dia após
realidade, esse diagnóstico abriria poucas saídas para dia, mais e mais... Acabaram me tirando de lá. E muitos
a atuação da escola e dos educadores. No limite, em outros, comigo. Eles literalmente nos resgataram. Nós
alguns casos, quase não há mais o que o professor lhes devemos a vida. (PENNAC, 2008)
possa fazer em seu trabalho cotidiano, a não ser resig- Em síntese, não se trata de desprezar as desi-
nar-se à ideia de que há na escola apenas fracasso e gualdades e os processos de reprodução do fracas-
uma incontornável reprodução das desigualdades. O so escolar, que são sua consequência mais direta
escritor Daniel Pennac, em um livro muito inspirador, na escola, mas sim de também olhar a partir de uma
intitulado Diário de escola (2008), traz o relato de um perspectiva das potencialidades. Ou seja, trata-se de,
aluno que era considerado lerdo, mas que passa a ser como afirmam Masschelein e Simons (2015), tomar
um professor que se preocupa justamente com alunos um plano de igualdade como ponto de partida do tra-
considerados lerdos, tentando oferecer a eles um pro- balho docente, o de que todos os alunos são capazes
pósito para a vida por meio do aprendizado da literatu- de aprender, independentemente dos recursos e da
ra. Em um determinado trecho do livro, Pennac afirma: origem social.
Apresentação 159
Enfoque integrador –
Competências e Habilidades
Esta obra trabalha fundamentalmente com as áreas que fornecem recursos para a formulação do
competências gerais 6 e 7 da Educação Básica, pro- projeto de vida, mas que, ao mesmo tempo, propiciam
postas na Base Nacional Comum Curricular: a ampliação do repertório dos jovens para uma parti-
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivên- cipação cidadã na vida pública. Portanto, a formação
cias culturais e apropriar-se de conhecimentos focada no projeto de vida não se prende a uma área ou
e experiências que lhe possibilitem entender as componente curricular específico. O que se recomen-
relações próprias do mundo do trabalho e fazer da ao professor que trabalhará com a metodologia de
escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e projeto de vida é justamente atuar prioritariamente
ao seu projeto de vida, com liberdade, autono- para o desenvolvimento de habilidades ligadas a es-
mia, consciência crítica e responsabilidade. sas duas competências gerais da BNCC apresenta-
7. Argumentar com base em fatos, dados e in- das. Por isso, cabe ao professor avaliar se, no decorrer
formações confiáveis, para formular, negociar do trabalho, os estudantes são capazes, entre outras
e defender ideias, pontos de vista e decisões habilidades, de:
comuns que respeitem e promovam os direitos
•• argumentar de maneira clara e com base em fun-
humanos, a consciência socioambiental e o con-
damentos sólidos;
sumo responsável em âmbito local, regional e
global, com posicionamento ético em relação ao •• realizar inferências a partir de evidências;
cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. •• confrontar pontos de vista de forma respeitosa;
(BRASIL, 2018, p. 9) •• entender a perspectiva global e o seu lugar em um
Em tese, a proposta de trabalho com o projeto mundo de interconexões;
de vida deveria ser encaminhada pelos professores •• desenvolver consciência e engajamento cidadão;
dos componentes curriculares de Sociologia e Filo- •• agir com determinação em busca de seus projetos;
sofia. Contudo, há também grande proximidade das
•• esforçar-se para alcançar os objetivos e planejar
questões dos outros componentes da área de Ciên-
meios de superar desafios e adversidades;
cias Humanas e Sociais Aplicadas, bem como da área
de Linguagens e suas Tecnologias. Por isso, embo- •• reconhecer suas potencialidades e fragilidades;
ra indicando o perfil dos professores de Sociologia e •• atuar com perseverança;
Filosofia como o mais adequado para a abordagem
•• autoavaliar-se de maneira realista e construtiva;
deste livro, ela também pode ser feita por professores
com o perfil mais voltado aos componentes de His- •• compreender as dinâmicas atuais do mundo do
tória, Geografia e Língua Portuguesa. Isso porque as trabalho;
atividades propostas estão todas focadas no enten- •• formular um projeto efetivo para o seu futuro e sua
dimento dos saberes e conhecimentos de diferentes inserção no mundo do trabalho.
Para a discussão sobre projeto de vida, este livro basta só planejar um futuro sólido, mas é preciso es-
inspira-se, fundamentalmente, na obra de quatro au- tabelecer também um propósito nobre para a vida.
tores: o indiano Arjun Appadurai; o francês Jean-Pierre Ou seja, causas em que acreditar e caminhos positi-
Boutinet; o estadunidense William Damon; e o brasi- vos a seguir que forneçam motivações para buscar a
leiro Gilberto Velho. Todos tratam o projeto de vida a realização dos sonhos. Em alguma medida, portanto,
partir de uma perspectiva específica. a reflexão de Damon encontra-se com a de Appadu-
Appadurai (1996), por exemplo, aborda a impor- rai a respeito da necessidade de que se evite, no pro-
tância de atentar para a capacidade que as pessoas cesso de construção dos projetos de vida, a armadi-
desenvolvem de aspirar a um futuro. Segundo esse lha das fantasias ou das perspectivas imediatistas e
autor, esse futuro pode ser elaborado a partir de duas ilusórias.
perspectivas: Além da divisão em módulos e das temáticas
1. a da imaginação, que pode constituir um projeto principais de cada um deles, o livro também apresenta
coletivo de transformação efetiva da realidade in- algumas seções particulares para levar os estudantes
dividual social; a novas reflexões e ligações com outras questões. Por
isso, visando à ampliação de repertório cultural dos
2. a da fantasia, caracterizada como um impulso estudantes, a elaboração de uma consciência crítica
egoísta, autotélico e pouco calcado na realidade. e, principalmente, o desenvolvimento das compe-
Gilberto Velho (2003), por sua vez, apresen- tências e habilidades apresentadas na BNCC, os es-
ta uma ampla reflexão sobre as noções de projeto e tudantes poderão estabelecer novas conexões nas
campo de possibilidades, sendo estas últimas as es- seguintes seções:
colhas que são dadas a cada indivíduo com base em
seu pertencimento social e cultural, e o primeiro, o Autoconhecimento
modo como cada indivíduo avalia esse campo de pos-
sibilidades a fim de construir o seu próprio desempe- Sempre que houver essa chamada, o estudante
nho e/ou performance. será convidado a fazer uma reflexão pessoal.
O trabalho de Jean-Pierre Boutinet (2002) abor- Objetivo: articular-se com a proposta de levá-lo a
da uma reflexão mais técnica sobre o quanto a socie- pensar mais sobre si mesmo e seu papel no mundo.
dade ocidental tornou os projetos um procedimento
Justificativa da pertinência do objetivo: a construção
central de reflexão e atuação no mundo. Em seu livro
do projeto de vida tem de partir do autoconhecimento
Antropologia do projeto, ele inclusive sistematiza for-
e da capacidade de reconhecer as próprias emoções,
mas de organizar e pensar as etapas de um projeto,
considerando potencialidades e limitações.
nas quais nos inspiramos para a proposição das ati-
vidades de elaboração de projetos no fechamento de Para as atividades desta seção, serão desen-
cada um dos módulos. volvidas as seguintes competências gerais, compe-
tências específicas e habilidades, conforme a BNCC e
Por fim, mas não menos importante, deve-se
com ênfase em alguns aspectos mais voltados à me-
destacar o trabalho de William Damon (2009) a res-
todologia de trabalho com projeto de vida:
peito do que ele denomina de projetos vitais para a
juventude. Conforme esse autor, com base em ex- Competências gerais da educação básica
tensa pesquisa com jovens a respeito de como or- 7. Argumentar com base em fatos, dados e infor-
ganizavam suas perspectivas de futuro, elaborar um mações confiáveis, para formular, negociar e de-
projeto de vida é fundamental para que os jovens fender ideias, pontos de vista e decisões comuns
consigam estabelecer uma trajetória de sucesso que respeitem e promovam os direitos humanos,
para si mesmos. E ele vai além, afirmando que não a consciência socioambiental e o consumo res-
Apresentação 161
ponsável em âmbito local, regional e global, com volvidas as seguintes competências gerais, compe-
posicionamento ético em relação ao cuidado de tências específicas e habilidades, conforme a BNCC e
si mesmo, dos outros e do planeta. com ênfase em alguns aspectos mais voltados à me-
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua todologia de trabalho com projeto de vida:
saúde física e emocional, compreendendo-se Competências gerais da educação básica
na diversidade humana e reconhecendo suas
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivên-
emoções e as dos outros, com autocrítica e
cias culturais e apropriar-se de conhecimentos
capacidade para lidar com elas. (BRASIL, 2018,
e experiências que lhe possibilitem entender as
p. 9-10)
relações próprias do mundo do trabalho e fazer
Competências específicas de Linguagens e suas escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e
Tecnologias para o Ensino Médio ao seu projeto de vida, com liberdade, autono-
2. Compreender os processos identitários, mia, consciência crítica e responsabilidade.
conflitos e relações de poder que permeiam 7. Argumentar com base em fatos, dados e in-
as práticas sociais de linguagem, respeitando formações confiáveis, para formular, negociar
as diversidades e a pluralidade de ideias e po- e defender ideias, pontos de vista e decisões
sições, e atuar socialmente com base em prin- comuns que respeitem e promovam os direitos
cípios e valores assentados na democracia, na humanos, a consciência socioambiental e o con-
igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando sumo responsável em âmbito local, regional e
o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a global, com posicionamento ético em relação ao
resolução de conflitos e a cooperação, e com- cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
batendo preconceitos de qualquer natureza. (BRASIL, 2018, p. 9)
(BRASIL, 2018, p. 490).
Competências específicas de Linguagens e suas
Habilidades Tecnologias para o Ensino Médio
(EM13LGG202) Analisar interesses, relações de 1. Compreender o funcionamento das diferen-
poder e perspectivas de mundo nos discursos tes linguagens e práticas culturais (artísticas,
das diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e verbais) e mobilizar esses conhe-
corporais e verbais), compreendendo critica- cimentos na recepção e produção de discursos
mente o modo como circulam, constituem-se e nos diferentes campos de atuação social e nas
(re)produzem significação e ideologias. (BRASIL, diversas mídias, para ampliar as formas de par-
2018, p. 492). ticipação social, o entendimento e as possibili-
dades de explicação e interpretação crítica da
Ampliando o repertório realidade e para continuar aprendendo. (BRASIL,
2018, p. 490).
Nesse caso, propiciam-se informações extras ou Ciências Humanas e Sociais Aplicadas para o
ligadas a um contexto complementar ao que estiver
Ensino Médio
sendo discutido.
1. Analisar processos políticos, econômicos, so-
Objetivo: aguçar a curiosidade científica dos estudan-
ciais, ambientais e culturais nos âmbitos local, re-
tes, incentivando-os a descobrir novas referências.
gional, nacional e mundial em diferentes tempos,
Justificativa da pertinência do objetivo: permitir o a partir da pluralidade de procedimentos episte-
aprofundamento dos temas abordados e a constitui- mológicos, científicos e tecnológicos, de modo a
ção de novos links, por meio dos quais os estudantes compreender e posicionar-se criticamente em
possam produzir novas pesquisas e outras associa- relação a eles, considerando diferentes pontos
ções. Ampliam-se, assim, as possibilidades de reali- de vista e tomando decisões baseadas em argu-
zação de um projeto de vida exitoso. mentos e fontes de natureza científica. (BRASIL,
Para as atividades desta seção, serão desen- 2018, p. 570).
Apresentação 163
Justificativa da pertinência do objetivo: permitir a vida com base no diálogo com os colegas.
aproximação dos estudantes com novos conheci-
Justificativa da pertinência do objetivo: as rodas de
mentos e aprofundar o envolvimento deles no traba-
conversa são momentos preciosos para os estudan-
lho com seus projetos de vida.
tes trabalharem com a argumentação e a necessária
Para as atividades desta seção, serão desen-
mediação sociocultural para respeitar as diferenças
volvidas as seguintes competências gerais, compe-
de opiniões.
tências específicas e habilidades, conforme a BNCC e
com ênfase em alguns aspectos mais voltados à me- Para as atividades desta seção, serão desen-
todologia de trabalho com projeto de vida: volvidas as seguintes competências gerais, compe-
Competências gerais da educação básica tências específicas e habilidades, conforme a BNCC e
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências com ênfase em alguns aspectos mais voltados à me-
culturais e apropriar-se de conhecimentos e ex- todologia de trabalho com projeto de vida:
periências que lhe possibilitem entender as rela- Competências gerais da educação básica
ções próprias do mundo do trabalho e fazer es-
7. Argumentar com base em fatos, dados e in-
colhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao
seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, formações confiáveis, para formular, negociar
consciência crítica e responsabilidade. (BRASIL, e defender ideias, pontos de vista e decisões
2018, p. 9). comuns que respeitem e promovam os direitos
humanos, a consciência socioambiental e o con-
Competências específicas de Linguagens e suas
sumo responsável em âmbito local, regional e
Tecnologias para o Ensino Médio
global, com posicionamento ético em relação ao
1. Compreender o funcionamento das diferentes
cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
linguagens e práticas culturais (artísticas, corpo-
rais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos (BRASIL, 2018, p. 9)
na recepção e produção de discursos nos dife- Competências específicas de Ciências Humanas e
rentes campos de atuação social e nas diversas
Sociais Aplicadas para o Ensino Médio
mídias, para ampliar as formas de participação
social, o entendimento e as possibilidades de ex- 6. Participar do debate público de forma crítica,
plicação e interpretação crítica da realidade e para respeitando diferentes posições e fazendo es-
continuar aprendendo. (BRASIL, 2018, p. 490). colhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao
seu projeto de vida, com liberdade, autonomia,
Habilidades
consciência crítica e responsabilidade. (BRASIL,
(EM13LGG102) Analisar visões de mundo, confli-
2018, p. 570).
tos de interesse, preconceitos e ideologias pre-
sentes nos discursos veiculados nas diferentes Habilidades
mídias, ampliando suas possibilidades de expli-
(EM13CHS606) Analisar as características so-
cação, interpretação e intervenção crítica da/na
realidade. (BRASIL, 2018, p. 491). cioeconômicas da sociedade brasileira – com
base na análise de documentos (dados, tabelas,
mapas etc.) de diferentes fontes – e propor me-
Roda de conversa
didas para enfrentar os problemas identificados
Sempre que houver indicação para a roda de e construir uma sociedade mais próspera, justa
conversa, a proposta é que os estudantes realizem e inclusiva, que valorize o protagonismo de seus
uma discussão coletiva sobre determinado assunto. cidadãos e promova o autoconhecimento, a au-
Objetivo: realizar discussões coletivas que permitam toestima, a autoconfiança e a empatia. (BRASIL,
afinar percepções sobre a elaboração do projeto de 2018, p. 579).
De modo a aguçar nos jovens uma consciência Direitos da Criança e do Adolescente; Diversidade
cidadã que os prepare para uma participação crítica na Cultural; Educação em Direitos Humanos; Educação
sociedade em que vivem, esta obra procura trabalhar para valorização do multiculturalismo nas matrizes
com temas que ressaltem e valorizem esse pensa- históricas e culturais brasileiras; Vida Familiar e Social.
mento. Assim, ao se debruçarem sobre a elaboração Considera-se o envolvimento dos jovens com
de seu próprio projeto de vida, eles também encon- tais temáticas de relevância social, cultural e cidadã
tram espaço para uma reflexão sobre si e seu papel como fundamental para a organização de um projeto
em um mundo de constantes e intensas mudanças de vida consistente e realista, pois, além da formação
em diferentes âmbitos, do trabalho, do lazer, das no- para um posicionamento ético e reflexivo, destaca-se
vas tecnologias, da família e mesmo o da educação. a importância de eles terem condições de estabelecer
Para que tudo isso ocorra de fato, uma série de um propósito para a sua vida.
temas contemporâneos de grande relevância social O convite aqui, portanto, é para que se propor-
será aqui abordada de maneira transversal por meio cione as condições para que os estudantes possam
das atividades, vivências e reflexões propostas. Des- realizar um movimento constante entre questões
sa forma, sob as mais diferentes perspectivas, o li- mais particulares, que dizem respeito ao seu projeto
vro traz à tona importantes temas contemporâneos de vida singular, e esses temas mais abrangentes, de
transversais como: Ciência e Tecnologia; Trabalho; relevância coletiva.
Apresentação 165
exercitar uma série de competências e habilidades a cação, os estudantes já estão inseridos num contexto
partir das muitas propostas de investigação e vivên- de muitas e diferentes formas de escrita. Sendo assim,
cias coletivas apresentadas em Roda de conversa. os exercícios de escrita propostos nessa obra têm a in-
tenção de trabalhar com base em uma escrita cotidiana
Por fim, Coulon, propõe a escrita como um ele-
que os jovens já realizam nas redes sociais, por exem-
mento fundamental das propostas de uma pedago-
plo, a fim de ampliá-la, proporcionando maior reflexivi-
gia da afiliação. Por meio da escrita cotidiana sobre si
dade e capacidade de instrumentalização para a cons-
mesmos, os estudantes podem trabalhar suas próprias
trução de um projeto de vida efetivo e transformador.
emoções e distanciamentos frente à escola e às ativi- Levando em consideração todos esses aspectos, você
dades propostas nas discussões sobre projeto de vida, perceberá que há uma série de trabalhos com a escrita
ao mesmo tempo que materializam melhor o seu per- dos jovens, desde os perfis biográficos até a proposta
curso escolar e, assim, podem formular com maior cla- do diário pessoal, além da escrita de diferentes versões
reza os seus projetos de vida. No mundo transformado de projetos de vida, formulados com base nos objetivos
pelas tecnologias digitais da informação e da comuni- e propósitos discutidos.
O trabalho com projeto de vida deve levar sem- Esse é um âmbito muito importante para os jo-
pre em consideração as especificidades da juventude. vens, pois, por meio das culturas juvenis, muitas
Ou seja, trata-se de entender o quanto é difícil para os vezes, eles estabelecem o seu primeiro contato au-
mais jovens articular um pensamento mais metódico tônomo com o espaço público e com relações mais
sobre o seu futuro, tendo em vista que essa é uma amplas, que transcendem a família. Trata-se, portan-
fase em que as preocupações com o presente ten- to, de uma instância importante de amadurecimento.
dem a ser mais intensas. Esse é o momento da vida Por isso, é preciso levar as culturas juvenis a sério.
em que se tem de atentar para as transformações Elas podem e devem ser importantes pontos de par-
no corpo, para as inseguranças nas relações afetivas, tida para a discussão sobre os projetos de vida. Nessa
obra, sugerimos aos estudantes uma atividade mais
para as novas responsabilidades de uma autonomia
específica sobre as culturas juvenis, mas propomos
maior frente à família e para as novidades da indústria
que o trabalho com o projeto de vida valorize sempre
cultural e do entretenimento.
esse aspecto. Não se trata, entretanto, de tomá-las
Para os jovens, lazer é coisa séria! Os momentos acriticamente, mas sim de suscitar problematizações
de diversão e fruição cultural são fundamentais para o e experimentos de distanciamento para que os estu-
seu desenvolvimento. No tempo livre é que as cultu- dantes possam indagar-se, por sua própria conta, a
ras juvenis se formam, por meio da criação de grupos respeito de quais aspectos de suas culturas juvenis
de pares em que se estabelecem dinâmicas de bus- podem ajudá-los ou atrapalhá-los na implementação
ca por reconhecimento e distinção social. Em outras de seu projeto de vida. Assim, valoriza-se o repertó-
palavras, nas culturas juvenis, o que se quer é dife- rio cultural dos jovens, oferecendo, ao mesmo tem-
renciar-se dos mais velhos e de outros jovens e, ao po, elementos para que possam ampliá-lo e torná-lo
mesmo tempo, estabelecer um grupo de iguais. Esse mais complexo.
movimento levaria ao que o pensador francês Michel O mais importante para o trabalho docente com
Maffesoli (2014, p. XXVIII) denomina de ressurgimen- as culturas juvenis é entender que o estudante não
to de um sentimento tribalista, definido como a recria- é uma função ou papel social automatizado que os
ção de certo espírito comunitário e gregário. indivíduos assumem ao adentrarem o espaço esco-
Acreditamos que o trabalho com protagonismo panorama da discussão em língua portuguesa sobre
juvenil no cotidiano escolar é tão importante que todo as culturas juvenis desde o final dos anos 1990, com
professor que atua no Ensino Médio deveria minima- maior foco na realidade brasileira. Há muitas perspec-
mente atentar para a temática das culturas juvenis ou tivas e abordagens diferentes para aprofundamento
até especializar-se nela. Desse modo, oferecemos ao do tema. Esperamos que possam contribuir não ape-
final desta Assessoria Pedagógica algumas indica- nas para o trabalho com o projeto de vida proposto
ções de leitura que vão além das próprias referências neste livro, mas com toda a trajetória docente no En-
bibliográficas do livro, mas que apresentam um bom sino Médio.
Apresentação 167
Orientações específicas da obra
Apresentação
A apresentação introduz o universo dos projetos aos alunos, de modo que percebam o
quanto estes fazem parte do mundo à sua volta. Além disso, revela como os procedimen-
tos de planejamento estão presentes em muitos campos de trabalho. Assim, em grande
medida, essa introdução prepara o estudante para o uso do livro todo, pois anuncia, ainda
que indiretamente e de maneira mais lúdica, logo de início, muitas questões que levarão, de
forma processual, à discussão de encerramento: as perspectivas de formação e inserção
profissional após a conclusão do Ensino Médio.
comigo
Este livro tem como inspiração fundamental as competências gerais da educação bá-
sica, conforme a Base Nacional Comum Curricular, prioritariamente as Competências ge-
rais 6 e 7. Assim, no Módulo 1, trabalhamos com:
•• Quais eram as brincadeiras que vocês faziam na infância e quais as atividades que reali-
zavam na escola? O que mudou desde então?
Pode-se realizar uma dinâmica na qual se pede a cada um dos estudantes que faça,
numa mesma folha de papel, um desenho de si mesmo, em três fases da vida (peça que
não se identifiquem colocando o nome na atividade, que será entregue a você):
1. na brincadeira de que mais gostava na infância;
2. no que mais gosta de fazer hoje no Ensino Médio;
3. no que gostaria de fazer no futuro (pensando principalmente em trabalho e estudo).
Depois que todos fizerem o desenho e o entregarem a você, embaralhe-os e distri-
bua-os aleatoriamente entre os estudantes. Por enquanto, a única regra é que ninguém
pegue o seu próprio desenho. A partir daí, os estudantes sentam-se em roda e analisam os
desenhos de um colega, ainda anônimo, tentando descobrir o que foi representado como
brincadeira da infância, do que mais gosta hoje e o que pretende para o futuro. No final, o
autor do desenho identifica-se e dá sua explicação para o que representou. Esse mesmo
Essa atividade será uma das principais refe- O que sei de mim?
rências materiais do trabalho com o projeto de vida, Segundo Félix Guattari (1992, p. 19), a subjetivi-
por isso, ela deve ser bem orientada. Sugerimos que dade pode ser definida provisoriamente como:
esse mural tenha três grandes linhas, que deverão ser “O conjunto das condições que torna pos-
preenchidas ao final de cada um dos módulos do livro. sível que instâncias individuais e/ou coletivas
•• Na primeira linha, que se refere ao Módulo 1: o perfil estejam em posição de emergir como território
biográfico pessoal e o sonho. existencial autorreferencial, em adjacência ou
•• Na segunda linha, que se refere ao Módulo 2: o per- em relação de delimitação com uma alteridade
fil de pessoas que os estudantes admiram e que ela mesma subjetiva”.
são importantes em sua vida. (GUATTARI, Félix. Caosmose: um novo paradig-
ma estético. São Paulo: Editora 34, 1992.)
•• Na terceira linha, que se refere ao Módulo 3: o perfil
profissional. Sherry Ortner (2007, p. 376), por sua vez, afirma:
O formato do mural deve ser definido com base “Por subjetividade irei me referir ao con-
nos recursos e espaços da escola. Pode ser um mural junto de modos de percepção, afeto, pensa-
fixo em sala de aula; em suporte móvel, para ser guar- mento, desejo, medo e assim por diante, que
dado e retomado; ou ainda, se for possível, ser elabo- animam os sujeitos atuantes. Mas eu sem-
rado digitalmente. Nesse momento, deve ser discuti- pre me refiro, da mesma forma, às forma-
da apenas a atividade que preencherá a primeira linha ções culturais e sociais que modelam, orga-
do mural; o que irá compor o restante será revelado nizam e provocam aqueles modos de afeto,
em cada um dos seguintes módulos. O objetivo dessa pensamento, etc.”.
atividade é trabalhar com uma série de questões rela- (ORTNER, Sherry. Subjetividade e crítica cultu-
cionadas ao projeto de vida: ral. Horizontes antropológicos, Porto Alegre,
ano 13, n. 28, p. 375-405, jul./dez. 2007.)
•• suscitar nos estudantes uma compreensão maior
da importância de seu papel na sociedade;
Pág. 54
•• levá-los a refletir sobre os seus sonhos, pensando
como eles estão ligados ao seu repertório cultural e
Autoconhecimento
ao seu campo de possibilidades.
A discussão sobre a separação entre o público
Nos próximos módulos, os estudantes serão e o privado deve ter um duplo objetivo: sensibilizar
provocados a pensar em como seus perfis e sonhos para o entendimento de como expressar-se e com-
estão articulados com os perfis de outras pessoas portar-se adequadamente em cada uma dessas
e no quanto todo esse contexto é importante para a esferas e também preparar o estudante para falar
criação de um perfil profissional, voltado ao mundo do em público de modo claro e com segurança. O tex-
trabalho. to a seguir, do psicanalista Christian Dunker, apro-
Além disso, essa atividade estimula nos jovens o funda mais essa dimensão, evidenciando algumas
exercício de uma escrita sobre si mesmos e o mundo problemáticas:
com os outros
Pág. 79 Pág. 80
Para saber mais sobre a noção de afeto em Espi- O estilo foi pensado aqui em termos de hábi-
nosa, acesse: tos, gostos e jeito de ser. Podem servir de exem-
•• https://razaoinadequada.com/2014/07/15/ plo os modos de se vestir, as músicas que se gosta
espinosa-origem-e-natureza-dos-afetos/. de ouvir, as práticas de lazer ou mesmo aspectos
Acesso em: 26 out. 2019. mais subjetivos, como ser extrovertido ou mais in-
trovertido.
•• http://www.revistas.usp.br/espinosanos/
article/view/105572/. Acesso em: 26 out. 2019.
com o mundo
Neste Módulo 3, assim como no livro todo, a Competência geral 7 da BNCC foi contem-
plada de forma ampla, pois os estudantes foram convidados a pensar questões sobre seu
lugar como cidadãos de um mundo em transformação e a importância de aprender a ex-
pressar-se nos mais diferentes âmbitos, distinguindo o público e o privado, a fim de melhor
construir sua argumentação.
Além disso, a Competência geral 6 da BNCC ganhou ainda mais destaque neste mó-
dulo, pois se propõe uma reflexão mais detida sobre o mundo do trabalho e as escolhas
profissionais e de formação.
O Módulo 3 aborda ainda questões da Competência geral 10 da BNCC, a partir da re-
flexão e da vivência de experiências voltadas para uma análise, de forma autônoma e res-
ponsável, sobre o lugar onde se está e aonde se quer chegar. Incentiva-se uma postura
que não abandone a busca determinada pela realização dos sonhos, mas que saiba ser
flexível e resiliente. Em outras palavras, o jovem é instigado a uma compreensão de que se
deve ser capaz de planejar muitas alternativas para o projeto de vida.
gente não serve para nada, é um lugar sem afe- Atividade de aprofundamento –
to. E é o afeto, junto com as relações, que vão Conectados
sustentar as mudanças que queremos para um O Guia de Oportunidades é uma atividade funda-
lugar”, explica Inês Maria, arquiteta que faz mental para este Módulo 3, pois ele ajudará os estu-
parte do grupo Acupuntura Urbana, que atua dantes a pesquisar e traçar uma rede de apoio para os
há três anos em São Paulo. seus projetos de vida. Esse trabalho deve ser cuida-
Engajado na transformação de “espaços doso e bem elaborado, com o qual você pode e deve
públicos em comunidades”, o coletivo costuma colaborar, com as mais diferentes sugestões. A ideia
partir de mapeamentos afetivos para reunir ati- é que esse guia seja divulgado o mais amplamente
vos de um espaço, criar articulações, desvelar possível na escola e para a comunidade, conforme
potências e criar vínculos. A Plataforma Cidades orientações dadas na Vivência de fechamento deste
Educadoras conversou com Inês Maria, que aju- módulo. Sendo assim, pode-se pensar na elaboração
dou a contar como fazer essa prática valer. de um suporte digital para ele.
ALMEIDA, Maria Isabel Mendes; EUGÊNIO, Fernanda BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Co-
(Orgs.). Culturas jovens: novos mapas do afeto. mum Curricular. Brasília: MEC, 2018.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. Nova Base Nacional Comum Curricular, que es-
Coletânea que apresenta e discute diferentes tabelece um conjunto mínimo de aprendizagens
culturas juvenis brasileiras, ressaltando relações que seriam essenciais a todos os estudantes
afetivas e relação com a cidade. brasileiros, com base em dez competências ge-
rais para a educação.
AUBERT, Nicole; HAROCHE, Claudine (Orgs.). Tiranias
da visibilidade: o visível e o invisível nas socieda- BUCKINGHAM, David. Cultura digital, educação
des contemporâneas. São Paulo: Editora da Uni- midiática e o lugar da escolarização. Educação
fesp, 2013. & Realidade, v. 35, n. 3, p. 37-58, set./dez.
Livro que aborda as novas configurações das 2010. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/
subjetividades em um mundo de mudanças tec- educacaoerealidade/article/view/13077.
nológicas e sociais, demonstrando que o ideal de Acesso em: 23 out. 2019.
visibilidade constante tornou-se um imperativo. David Buckingham discute nesse artigo o im-
pacto das tecnologias digitais da informação
BAUMAN, Zygmunt. O amor líquido: sobre a fragili-
e da comunicação na educação, conclamando
dade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge
educadores a não recorrem a visões que exal-
Zahar, 2004. tem ou condenem as tecnologias no cotidiano
Nesse livro, Bauman discute as transformações escolar, encarando-as com realismo.
nas relações sociais e amorosas no mundo con-
temporâneo. Trata-se de uma discussão funda- CASTRO, Lúcia Rabello. Onde estão os (sujeitos) jo-
mental para entender as novas subjetividades vens nas teorias da juventude? In: COLAÇO, V. et
das juventudes. al (Orgs.). Juventudes em movimento: experiên-
cias, redes e afetos. Fortaleza: Expressão, 2019.
BORELLI, Sílvia; FREIRE FILHO, João (Orgs.). Culturas
Artigo que discute a importância de as reflexões
juvenis no século XXI. São Paulo: Educ, 2008.
teóricas sobre as juventudes incorporarem de
Coletânea que apresenta e discute as diferentes fato as perspectivas dos jovens.
culturas juvenis brasileiras, ressaltando as rela-
ções com a cultura de massa e com as tecnolo- CHARLOT, Bernard; REIS, Rosemeire. As relações com
gias digitais da informação e da comunicação. os estudos de alunos brasileiros de Ensino Médio.
In: KRAWCZYK, Nora (Org.). Sociologia do Ensino
BOUTINET, Jean-Pierre. Antropologia do projeto. Por-
Médio: crítica ao economicismo na política edu-
to Alegre: Artmed, 2002.
cacional. São Paulo: Cortez, 2014.
Nesse livro, Jean-Pierre Boutinet explora a cen-
Nesse texto, os atores discutem a importância
tralidade da organização por projetos na socie-
de se refletir sobre como os estudantes, a partir
dade ocidental. O autor também apresenta as
de suas realidades sociais, concebem a sua pró-
diferentes formas de se construir um projeto.
pria relação com o saber.
PROJETO
DE VIDA
Meu
MANUAL DO Projeto
PROFESSOR
de Vida
Uma aventura
e desafios
entre
sonhos
entree sonhos
desafios
ISBN 978-65-99049-32-3
9 786599 049323