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Alexandre Barbosa Pereira

PROJETO
DE VIDA
Meu
MANUAL DO Projeto
PROFESSOR
de Vida
Uma aventura
e desafios
entre
sonhos
entree sonhos
desafios

9 786599 049323
Alexandre Barbosa Pereira
Graduado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo
e doutor em Antropologia Social pela mesma Universidade.
Professor do Departamento de Ciências Sociais
da Universidade Federal de São Paulo.

Meu Projeto
de Vida
Uma aventura
entre sonhos
e desafios

PROJETO
DE VIDA

MANUAL DO Canoas
1. a edição
PROFESSOR 2020
© Tulipa Editora, 2020
© Alexandre Pereira Barbosa, 2020

Coordenação editorial e de produção: DB Produções Editoriais


Edição: Sâmia Rios
Projeto gráfico, edição de arte e editoração eletrônica: A+ com
Imagens de capa: Rawpixel.com/Shutterstock
Pexels
Ilustrações: Cris Eich
Iconografia: Marcia Sato
Revisão: Solange Pereira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

P436 Pereira, Alexandre Barbosa


Meu projeto de vida: uma aventura entre sonhos e desafios /
Alexandre Barbosa Pereira. – Canoas, RS: Tulipa, 2020.

ISBN 978-65-81722-02-9 (aluno)


ISBN 978-65-99049-32-3 (professor)

1. Educação. 2. Educação Integral. 3. Educação Inovadora.


4. Práticas Pedagógicas. 5. Metodologias Ativas. 6. Projeto
de Vida. 7. Autonomia. I. Título. II. Uma aventura entre sonhos
e desafios. III. O meu encontro comigo. IV. O meu encontro
com os outros. V. O meu encontro com o mundo. VI. Fim da
jornada.

CDU 37 CDD 370


Catalogação elaborada por Regina Simão Paulino – CRB 6/1154

Canoas, 1.a edição, 2020.

Tulipa Editora Ltda. – Todos os direitos reservados.

Rua Padre Anchieta, 215 / cj. 105


Nossa Senhora das Graças
Canoas-RS
CEP 92110-050
“Existimos como seres humanos na existência
social, e a linguagem, a razão e a autoconsciência
surgem e se dão como fenômenos sociais: sem
socialização não há linguagem, não há razão, não há
autoconsciência, não há apercebimento de emoções e,
sem amor, nós não somos seres sociais.”

MATURANA, Humberto. A ontologia da realidade.


Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.
ILUSTRAÇÕES CRIS EICH
Sumário
Apresentação 6

1
O meu encontro comigo 27
O que é um projeto de vida? 28

Módulo
As tecnologias e as transformações em nossa vida 35
A identidade e os papéis sociais da juventude 40
Biografias 47
Diário pessoal 54
Sonhos: entre imaginação e fantasia 62
Vivência de transição 67
Avaliação do Módulo 1 68

2
O meu encontro com os outros 69
Conhecendo o outro, conhecendo-se melhor 71
Módulo

Afinal, quem são os outros? 75


O amor como encontro e as muitas formas de amar 80
O estranho, o familiar e o respeito às diferenças 85
Sonhos coletivos e o bem comum 97
O meu projeto no mundo e o mundo no meu projeto 105
Vivência de transição 107
Avaliação do Módulo 2 108

3
O meu encontro com o mundo 109
Um mundo em transformação 110
Módulo
Mapear o mundo, mapear a si mesmo 114
Nós – as conexões que nos fortalecem 120
Da escola para o mundo 128
Um propósito para a vida 135
Vivência de fechamento 139
Avaliação do Módulo 3 141

Fim da jornada 143


Avaliação final 145
Relação das competências gerais e específicas
e habilidades mencionadas nesta obra 146
Referências bibliográficas comentadas 150
Apresentação
Veja comentários
na Assessoria
Pedagógica.
ILUSTRAÇÕES: CRIS EICH

6
Prezadas e prezados estudantes,
Este será o seu livro de projeto de vida durante o Ensino Médio! Sugerimos que
utilize um caderno para fazer as anotações e as atividades solicitadas.
Por meio deste livro, você caminhará em busca de muitas descobertas sobre o
seu lugar no mundo e o que quer para o futuro. Você sabe o que é um projeto de vida?
Se não sabe, este livro o ajudará a descobrir!
Já pensou em transformar seus sonhos em um projeto efetivo para a sua vida?
Tem ideia de como organizar seus objetivos em um plano para o futuro?
Prepare-se, então, pois aqui vamos conversar sobre tudo isso, e ainda discutir
sobre a importância de construir um plano de ação para o futuro.
O que estamos propondo a você, portanto, é uma viagem ao seu próprio inte-
rior, para refletir sobre como você lida com seus sentimentos e anseios, e também
ao mundo que quer explorar em sua trajetória no futuro, com todos os seus desafios.
Quem é você, de onde veio e o que quer?
Essas são algumas das muitas questões que você fará a si mesmo e aos seus
colegas de turma.
Para ajudá-lo em sua jornada, organizamos o volume em três módulos:

1
O meu
encontro
comigo

2
O meu
encontro
com os outros

3
O meu
encontro
com o mundo
7
Qual é o seu propósito
para a vida?
Em todos os módulos, você vai encontrar um convite para uma pro-
funda reflexão sobre o seu lugar no mundo em que vivemos, seja na es-
cola, no bairro ou na família. Entender o seu papel em cada um desses
espaços sociais é fundamental para que você tenha maior consciência
de suas potencialidades, de seus limites e daquilo que pode melhorar
para alcançar seus sonhos!
Em outras palavras, este livro de projeto de vida é, na verdade, um
livro sobre sonhos. Nele, você encontra dicas para ampliar seu repertório
cultural e convites para uma reflexão mais aprofundada sobre si mesmo
e a sociedade ao seu redor.
Trabalharemos também com propostas de rodas de conversa e com-
partilhamento de ideias, atividades de reflexão e pesquisa e com a reali-
zação de vivências, entre muitas outras experiências instigantes. A fina-
lidade principal é discutir em conjunto qual é o seu propósito para a vida.
Esperamos que aprecie!
Antes de começarmos efetivamente a pensar sobre os seus so-
nhos e projeto de vida, vamos tentar entender um pouco melhor, afinal,
o que é e para que serve um projeto.

projeto?
O que é um

Veja comentários Todos nós temos sonhos e gostamos de imaginar como será o nos-
na Assessoria
Pedagógica. so futuro.
De certa maneira, essa é, ou pelo menos deveria ser, uma das prin-
cipais motivações de nossas vidas. Entretanto, há uma grande questão
que sempre surge: quais as reais possibilidades de esses sonhos se
concretizarem?
Isso demonstra a importância de sempre nos indagarmos sobre
quais condições efetivas temos, no presente instante, para alcançá-los
e o que é preciso fazer para superar algumas limitações.

8 Apresentação
Este é o primeiro convite que fazemos a você: adentrar um pouco
o cenário dos projetos, com o objetivo de realizar um exercício prelimi-
nar de aquecimento para a verdadeira viagem que propomos: a busca
da compreensão de quem você é, como são as suas relações sociais e
aonde, afinal, você quer chegar.

Os tempos do projeto de vida


Quando falamos em projeto, estamos nos referindo, principalmen-
te, a um procedimento que envolve uma mudança de comportamento,
que consiste em conceder um tempo para analisar e pensar a respeito
de quais ações devem ser realizadas para chegar à concretização de um
objetivo.
Trata-se, portanto, de algo que elaboramos com a finalidade de
planejar nossas ações futuras ou de garantir a melhor solução para um
problema ou desafio. No entanto, muitas vezes não encontramos tempo
para planejar nossos atos mais importantes, porque estamos imersos
nas inúmeras tarefas da vida cotidiana.
Por isso, o principal movimento que este livro propõe a você é de
parar para refletir sobre essas e outras questões muito relevantes.
Se um projeto é muito impor-
tante para o futuro, ele não se re-   Para muitos, a ampulheta é uma
metáfora da vida e do tempo.
sume apenas a esse olhar à frente,
porque é formulado com as condi-
ções que temos no presente e que
foram acumuladas no passado,
em nossa trajetória de vida. Assim,
trata-se de um instrumento que
planeja o que está por vir, mas de-
pende fundamentalmente do que
LEIGH PRATHER/SHUTTERSTOCK

já experimentamos e aprendemos.
Ele atesta a nossa capacidade de
nos organizarmos hoje para o ama-
nhã, mas tomando como referência
o que aprendemos ao longo de toda
a nossa vida.
Além disso, um projeto pode ser tanto um empreendimento indivi-
dual quanto uma mobilização coletiva. Entretanto, mesmo quando se tra-
ta de algo individual, sua construção depende de como nos posicionamos
no mundo e interagimos com as outras pessoas. Nossas relações sociais
9
podem não só fortalecer nossos projetos, como também ser fundamen-
tais para a sua realização e efetivação no futuro. Porém, falaremos disso
mais adiante. Por ora, queremos fundamentalmente que você entenda o
que é um projeto de maneira mais geral, fazendo um levantamento das
atividades que dependem dele para serem concretizadas.

Quem ou o que precisa


de projeto?
Você já deve ter entendido que um projeto diz respeito a como
nos organizamos para o futuro. No entanto, você sabe como ele é rea-
lizado no presente? O que é necessário fazer para se obter ou cons-
truir um projeto? Afinal, quem ou o que, de fato, precisa desse tipo de
procedimento?
Na verdade, a ideia de projeto está inserida nas mais diferentes es-
feras da sociedade em que vivemos. Por isso, até mesmo ações mais
cotidianas ou produtos que consumimos são resultado de um ou até de
muitos projetos.

Vamos caminhar e observar o


que os projetos podem fazer?
O que vamos propor a partir de agora é um passeio
para que você saiba melhor quem ou o que precisa de pro-
jeto e a importância deles em nossas vidas.
Comece com uma jornada imaginária pelas cidades
brasileiras, onde já se pode encontrar uma série de projetos.
Caminhe pela sua cidade ou por uma cidade próxima de onde
você mora. Se nela houver prédios, pontes ou alguma outra
grande obra, certamente houve ali um projeto de construção
que permitiu que tudo isso existisse. E o que seria um proje-
to de construção? Bem, trata-se de algo que envolve todos
os procedimentos necessários para a realização segura de
uma obra, com a finalidade de evitar problemas futuros.
Nesse sentido, um projeto pode abranger outros pro-
jetos dentro dele. No caso da construção de um prédio, por
CRIS EICH

exemplo, é preciso seguir várias etapas e, em cada uma de-


las, há algumas perguntas a serem respondidas e cuidados
a serem tomados.
10 Apresentação
1. A escolha do lugar
Onde a obra será construída? Quais as condições desse local para
que ela possa ocorrer ali? O terreno é seguro? Essas são algumas das
questões prévias antes mesmo de iniciar o projeto de construção de
uma obra.

2. O projeto arquitetônico
Qual o projeto arquitetônico da obra que se pretende construir? Ou
seja, qual será o desenho que determinará o seu formato externo e in-
terno? Essas são as principais perguntas dessa etapa, que geralmen-
te acontece com base no diálogo com quem encomendou a obra, mas
também com a legislação municipal e o plano diretor, que definem como
deverá ser a sua realização. Ou seja, há também um conjunto de regras
ou limites que designa o que se pode e o que não se pode fazer em de-
terminados espaços.
RAWPIXEL.COM/SHUTTERSTOCK

MAKSYM DYKHA/SHUTTERSTOCK

▲▲ Arquiteto em ação. ▲▲ Projeto arquitetônico


de uma edificação.

3. O projeto de construção
Após o projeto arquitetônico, é preciso definir o projeto da constru-
ção, para, justamente, pensar a sua viabilidade e quais materiais serão
necessários para a sua realização com êxito.
11
4. O acompanhamento do projeto
Por fim, há a construção da obra, que deve sempre ser acompanha-
da pelos responsáveis pelo projeto original, a fim de certificar-se de que
Veja comentários o que foi planejado está sendo seguido e de que nada sairá errado. Ou
na Assessoria
Pedagógica.
seja, mesmo durante sua execução, não se deve abrir mão do projeto,
pois ele é fundamental para que os objetivos sejam alcançados.

MICROGEN/SHUTTERSTOCK
Mestre de obras em ação. 
#FICA A DICA

O plano diretor de um município também é um projeto! Tra-


ta-se do modo como esse município planeja o uso de suas mais
diferentes áreas urbanas. Por exemplo, por meio dele, definem-
-se onde podem ser construídos prédios comerciais e onde é
permitida apenas a presença de residências. O plano diretor or-
ganiza a ocupação do solo urbano, com a finalidade de garantir o
bem-estar da maioria dos habitantes de uma cidade. Um plano
diretor municipal deve, portanto, orientar para a preservação do
meio ambiente e da memória da população local, entre outras
preocupações. Ele é obrigatório para as cidades com mais de 20
mil habitantes, conforme o artigo 182 da nossa Constituição Fe-
deral. Você sabe se a sua cidade se enquadra nesse critério? Em
Veja comentários caso afirmativo, você conhece o plano diretor dela?
na Assessoria
Pedagógica.

Se a obra de um prédio não possui um projeto sério e muito bem


elaborado e executado, ela pode apresentar problemas posteriores e
até mesmo colocar em risco a segurança das pessoas. Por isso a impor-
tância de um projeto que planeje corretamente as ações futuras, ava-
liando todos os riscos que devem ser evitados e suas consequências.
12 Apresentação
As cidades e seus projetos
Você já deve ter notado então, ao caminhar pela cidade, que grande
parte do que observa ao seu redor é resultado de um projeto e, muitas
vezes, a própria cidade é resultado de um projeto prévio. Um dos gran-
des problemas que encontramos na maioria das cidades brasileiras,

TOMÁS FAQUINI
aliás, reside no fato de elas não serem resultado de um projeto. Ou seja,
não foram planejadas adequadamente e, assim, cresceram de maneira
desordenada, gerando uma série de questões ambientais e sociais.
#FICA A DICA

Brasília é uma das poucas cidades planejadas do país. Pro-


jetada pelos famosos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer,
ela se tornou modelo para o mundo de projeto arquitetônico e
urbanístico moderno. Por isso, recebeu o título de patrimônio
cultural da humanidade pela Unesco – organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

▲▲ Brasília, capital federal do país.

Existe projeto no supermercado?


O que propomos agora é que você continue o seu passeio pela ci-
dade. Que tal entrar em um supermercado? A construção da edificação
que o abriga é também resultado de um projeto arquitetônico, como
acabamos de observar. Porém, sabemos que ali funciona um empreen-
dimento comercial. Sendo assim, para que fosse um empreendimento
bem-sucedido, certamente os seus responsáveis devem ter formulado
minimamente um projeto para pesquisar as condições reais para a sua
instalação e o início do empreendimento. Ou seja, foi necessário criar
um plano de negócios que deve ter formulado ao menos as seguintes
questões prévias:
1 Quem será o público consumidor?
2 Quais serão os produtos oferecidos?
3 Quem serão os respectivos fornecedores?
4 Qual será o investimento necessário para garantir que o negócio
ocorra bem?
Toda abertura de empresa – seja ela grande ou pequena – depen-
de de um projeto que leve em consideração as reais condições de quem
quer empreender. Do contrário, a chance de as coisas não caminharem
bem é grande.
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O projeto e seus produtos
Que interessante, não? Você nem chegou a entrar no supermerca-
do e já descobriu que, para criá-lo, foram necessários pelo menos dois
projetos: o de construção e o de negócios.
Agora, imagine-se dentro desse supermercado. Olhando ao seu re-
dor, o que você vê? Uma grande quantidade de produtos à venda, certo?
Porque, se o responsável pelo supermercado pensou bem o seu pro-
jeto de negócios, é bem provável que haja uma enorme e diversificada
oferta de produtos. De um lado, há os produtos de limpeza; do outro, os
alimentícios; mais adiante, as utilidades domésticas. O que queremos
saber agora é:
1 Será que para tudo isso estar lá dentro também foi necessário um
projeto?
2 Será que para cada um daqueles produtos foi necessário um pro-
jeto? O que você acha?
Sim! Grande parte dos produtos que está ali resultou de um ou mais
projetos, elaborados e realizados em muitas etapas. A criação dos pro-
dutos pode ter envolvido um projeto científico ou químico. No caso de
um item de limpeza ou de um alimento industrializado, por exemplo, foi
preciso um projeto químico, que indicasse a sua melhor composição.

YANLEV/SHUTTERSTOCK

Químico trabalhando
em laboratório. 

Porém, da mesma forma que ocorre com o empreendimento do


supermercado, aquele que comercializa o produto também deve ter
elaborado um projeto de negócios, pensando na sua distribuição, por
exemplo.
E como os supermercados podem saber se haverá interesse no
que pretendem vender? Certamente, será preciso um projeto específi-
co, que demande uma pesquisa para avaliar os reais interesses dos con-
14 Apresentação
sumidores em determinado produto ou no que é preciso fazer para que
que esse produto atraia a atenção dos consumidores. Ou seja, é preciso
elaborar um projeto ou plano de divulgação e publicidade, pensando em
como, onde e de que maneira se deve divulgar o produto.
Se houver recursos financeiros suficientes, e caso se deseje anun-
ciar o produto em um comercial de televisão, por exemplo, será preciso
pensar também em um projeto ou roteiro muito bem estudado e pla-
nejado para que essa propaganda seja bem-sucedida e cumpra com os
seus objetivos de despertar interesse e motivar as vendas.

ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO

Imagine agora que você precisa criar e vender um produto, pensan-


do em todas as etapas necessárias para esse projeto. O que se-
ria necessário planejar para que o seu projeto seja bem-sucedido?
Faça uma pesquisa sobre outros produtos similares ao seu e pense
num projeto de divulgação para o produto que você criou. Compar-
tilhe com a turma.

O que comemos também faz


parte de um projeto?
Aproveitando que está “no” supermercado, por que não comprar
alguma coisa para fazer uma refeição especial hoje? Para isso, você
também precisa de dois projetos:
1 Primeiro, o seu planejamento financeiro: quanto você pode gas-
tar? Até mesmo a lista de compras para o supermercado é um
projeto que alinha o que você precisa e o que tem reais condições
financeiras de adquirir.
2 Segundo, para preparar o seu prato favorito, você precisa saber
quais são os ingredientes necessários e anotá-los na lista de
compras que levou ao supermercado.
Voltando para casa, é hora de cozinhar a sua esperada refeição!
Chega dessa história de projeto, pois você deve estar com fome,
certo? Não! Espere um momento! E a receita? Sem ela, pode ser que
o prato não dê certo. Veja se alguém da sua família tem uma recei-
ta ou pesquise na internet. E o que é uma receita se não um projeto
de como preparar uma refeição cotidiana ou uma comida especial de
que gostamos muito? Basta seguir a receita que a chance de tudo
dar certo é enorme.
15
O mesmo ocorre com um projeto comum. Sempre que precisamos
alcançar um objetivo futuro, o ideal é planejar, escrever um projeto e
pensar nos passos para se chegar a ele e nas condições que se têm no
momento para isso. Isso é o que se tem de fazer para cozinhar também,
pois é preciso saber quais são os ingredientes necessários e o modo de
preparo.

ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO

Pesquise em casa sobre as receitas que são utilizadas pelas pes-


Não soas mais velhas com quem você convive ou em sua vizinhança.
escreva
no livro
1 Como será que elas chegaram a essas receitas? Alguém as
ensinou? Quem?
2 Quais etapas e cuidados são necessários para cozinhar um
prato especial, ou fazer um bolo bem gostoso?
3 Alguém que você conhece possui um livro de receitas? Você já
o viu? Como ele é?

Pesquise na internet a receita de uma comida de que você goste


muito e veja os passos para a sua elaboração. Caso esteja com co-
Veja comentários
na Assessoria
ragem e disposição, por que não tentar preparar esse prato especial
Pedagógica. do modo que a receita indica?

Projeto para a sua diversão


Pausa para descansar depois dessa longa caminhada! Se você pos-
sui algum game no seu celular, que tal jogar um pouquinho? Opa, será
que tem projeto aqui também? Claro que tem! Começando pelo seu ce-
lular: assim como os produtos que você encontrou no supermercado, ele
é resultado de inúmeros estudos e projetos.
E o game? Sem um projeto, ele certamente não exis-
KOKTARO/SHUTTERSTOCK

tiria. Os jogos digitais são produzidos por profissionais do


campo de game design, responsáveis, justamente, por
desenvolver o projeto desses aplicativos. O projeto de um
game, nesse caso, apresenta muitas similaridades com o
projeto arquitetônico de uma casa ou de qualquer outra
obra. Ou seja, ele parte de um desenho, daí o nome em in-
glês design.

  Adolescente jogando game no celular.

16 Apresentação
O profissional de game design é responsável por projetar e dese-
nhar todos os ambientes do jogo digital. Ele formula as ideias de jogos
e pensa nos planos para colocá-las em prática, como algo divertido e
que atraia a nossa atenção; ele pensa nos diversos cenários (a interface
visual), níveis, objetos e personagens controlados pelo computador ou
pelos jogadores. Um game, portanto, também é resultado de um projeto!

E você, já pensou em ser ou conhecer mais sobre o que faz


#FICA A DICA

um game designer? Sabia que há inúmeros programas gratuitos


de desenvolvimento de jogos? Alguns, inclusive, para iniciantes
que saibam pouco de programação? Uma rápida pesquisa na in-
ternet já pode lhe revelar uma série de alternativas. E o restante
é com você!
MAIS SOBRE ➜ SCHUYETEMA, Paul. Design de games: uma abordagem
prática. São Paulo: Cengage Learning, 2008.

ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
Veja comentários
Pesquise mais a respeito de qual é o trabalho de um game designer na Assessoria
e quais programas e aplicativos existem para a criação de games. Pedagógica.

E na escola, existe projeto?


Depois desse passeio pelo supermercado, pela cozinha e pelo en-
tretenimento com os games, vamos voltar à escola? Aliás, nela também
há muitos projetos. Tudo que o professor ensina faz parte de um projeto
que está alinhado com o que o Ministério da Educação prevê para cada
etapa de ensino em que o aluno se encontra, e também com o que a es-
cola determina como seu projeto pedagógico e com o que ele mesmo
seleciona em seus planos de aula.
Assim, antes de chegar à sala de aula,
o professor construiu um projeto para de-
finir o conteúdo, a metodologia de ensino
CRIS EICH

e o planejamento de cada aula. Ou seja,


todas as matérias que você estuda e as li-
ções que faz são parte de um projeto que
tem como objetivo garantir-lhe o melhor
aprendizado e dar-lhe condições para que
você possa construir uma boa base esco-
lar, que certamente será útil em sua traje-
tória profissional e em sua vida.
17
Psiu, um segredo: este livro também é resultado de um projeto, que
envolveu o planejamento de temáticas e questões, sempre pensando
em você e nas suas expectativas de aprendizado.
Será que até aqui o livro tem cumprido com o seu objetivo, que é de
apresentar claramente, ainda que de forma inicial, o que é um projeto e
sua importância em nossa vida?

Roda de conversa

Como saber se um projeto está dando certo? Propondo ativida-


des de avaliação! Por isso, discuta com o professor e os colegas sobre
o que aprendeu no livro até aqui.
1 O que você entende que seja um projeto e qual a sua importância
para as diferentes esferas da vida?
2 O que ou quem, afinal, precisa de um projeto?
Veja comentários 3 Considerando o que estudou até aqui, você teria vontade de proje-
na Assessoria
Pedagógica. tar algo?

Um projeto de pesquisa
Um dos objetivos da escola é justamente preparar você para ser ca-
paz de, entre outras coisas, elaborar um projeto de pesquisa. Esse pro-
jeto pode caracterizar-se como um levantamento histórico, uma obser-
vação de campo sociológica ou mesmo uma investigação laboratorial no
campo da bioquímica.
Embora a universidade seja o local em que se desenvolvem efetiva-
mente os projetos de pesquisa científica, na escola já podemos conhe-
cer um pouco a esse respeito e entender o que é e quais são os passos
para a elaboração de um projeto de pesquisa.

O que é uma pesquisa científica?


A pesquisa científica é aquela que se desenvolve com base em uma
metodologia específica, a fim de alcançar um objetivo, seja ele descobrir
novos fatos ou testar uma hipótese, por meio de uma pergunta que se
elabora previamente a fim de afirmá-la ou negá-la com base em uma
experiência científica.
Em outras palavras, uma pesquisa científica depende de uma for-
ma rigorosa de procedimento a fim de garantir que seja o mais objetiva
18 Apresentação
e precisa possível. Uma pesquisa científica, dependendo do campo de
estudo, pode desenvolver metodologias específicas. As Ciências Hu-
manas e Sociais Aplicadas, as Ciências da Natureza, a Matemática e as
Linguagens, cada uma delas demanda um ou mais tipos de investigação
com métodos próprios, que permitam alcançar os objetivos da área, por
meio de um enfoque, que pode ser qualitativo ou quantitativo.
MOTORTION FILMS/SHUTTERSTOCK

▲▲ A pesquisa científica em laboratório.

Ampliando o repertório

Em uma pesquisa, nada se faz ao acaso. Desde a escolha


do tema, fixação dos objetivos, determinação da metodologia,
coleta dos dados, sua análise e interpretação para a elabora-
ção do relatório final, tudo é previsto no projeto de pesquisa.
Este, portanto, deve responder às clássicas questões: o quê?
por quê? para quê e para quem? onde? como, com o quê, quan-
to e quando? quem? com quanto?
(LAKATOS, Eva; MARCONI, Marina. Metodologia do trabalho científico.
São Paulo: Atlas, 1992.)

Conforme a definição das autoras Lakatos e Marconi, um projeto de


pesquisa deve responder minimamente às seguintes questões:

1. Quem? (Apresentação do autor)


Informa-se quem é o autor da proposta, a instituição à qual é filiado
e onde a pesquisa será realizada.
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2. O quê? (Introdução e apresentação do objeto da pesquisa)
Introduz ao leitor ou avaliador o tema e o objeto da pesquisa, ou
seja, o que efetivamente será pesquisado. Em alguns casos, esse é o
momento de mostrar como se dialoga com outros trabalhos já realiza-
dos na mesma área de investigação.

3. Para que ou para quem? (Objetivos)


Discutem-se quais são as finalidades da pesquisa, apontando quais
resultados se espera alcançar e, se for o caso, a quem esses resultados
beneficiarão ou servirão de base.

4. Por quê? (Justificativa)


Na justificativa, evidencia-se a relevância da pesquisa, demons-
trando por que ela é importante e em que a sua contribuição se destaca
de outras pesquisas já realizadas. Esse é o ponto em que se afirmam
quais são os seus propósitos mais amplos.

5. Como? Com o quê? (Metodologia e referencial


teórico)
A metodologia diz respeito a como a pesquisa será
realizada, ressaltando qual caminho será seguido e quais
instrumentos serão utilizados para chegar aos resultados
finais. Uma metodologia e a pesquisa, de maneira geral,
estão sempre embasadas em um quadro referencial teó-
rico, ou seja, em discussões anteriores feitas por pesqui-
sadores já consagrados na temática investigada e que aju-
dam a esclarecer e a justificar a metodologia empregada.

6. Quando? (Cronograma)
Toda pesquisa tem um prazo para começar e para ter-
CRIS EICH

minar. E, assim como acontece com todo projeto, apresen-


tam-se os passos para sua realização, ou seja, indica-se
o tempo para realizar a pesquisa empírica, a análise dos
dados e, finalmente, para redigir o relatório científico final
com os resultados consolidados da pesquisa.

7. Quanto? (Orçamento)
As pesquisas científicas no Brasil são realizadas no âmbito de ins-
tituições de pesquisas quase sempre ligadas às universidades. Essas
instituições, por sua vez, solicitam, junto a agências de fomento, finan-
Fomento ciamento para que os seus pesquisadores tenham condições de traba-
Auxílio, estímulo. lhar. As agências de fomento à pesquisa no Brasil são, em sua maioria,
instituições públicas que concedem bolsas de pesquisa e auxílio para
compra de materiais para os cientistas.
20 Apresentação
#FICA A DICA A principal agência de fomento à pesquisa no Brasil é o
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-
nológico). Ele financia projetos inclusive para a concessão de
bolsas de iniciação científica a estudantes do Ensino Médio, ge-
▲▲ Logomarca do CNPQ.
ralmente por meio de convênios com instituições de ensino su-
perior. Acesse o site do CNPq, saiba mais a respeito e entenda
como funciona um projeto de pesquisa científica: www.cnpq.br
(acesso em: 19 nov. 2019).
E fique sempre atento às universidades, especialmente às
públicas, próximas da região onde você mora, porque elas po-
dem publicar editais de chamada para concessão de bolsas de
iniciação científica para estudantes do Ensino Médio que quei-
ram conhecer e aprofundar-se no campo da ciência.

8. Com quê? (Bibliografia)


Na bibliografia, devem ser inseridos todos os livros que serviram de
referência para embasar a metodologia, a teoria e a discussão sobre o
tema específico da pesquisa.

O que descobrimos até aqui


O projeto é o instrumento principal para realizar grandes e pequenas
obras na sociedade em que vivemos. Para abrir uma empresa, construir
um viaduto, criar um produto, cozinhar uma refeição especial ou realizar
uma pesquisa científica de alta complexidade, você sempre precisará de
um projeto se quiser alcançar seu objetivo com maior eficiência, redu-
zindo assim as chances de erro. O projeto permite o planejamento de
suas ações para a realização efetiva de uma tarefa.
CRIS EICH

CRIS EICH

21
Veja comentários ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
na Assessoria
Pedagógica. Você acabou de ver como se estrutura um projeto de pesquisa cien-
tífica. Se você fosse um cientista, em qual área de pesquisa imagina
que se enquadraria: das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, das
Ciências da Natureza, da Matemática ou das Linguagens? Escolha
uma dessas áreas e reúna-se com os colegas. Sob a orientação do
professor, definam um tema e um objeto para desenvolver um es-
boço de projeto de pesquisa que seria realizado em seis meses.

Lembre-se de que, nesse esboço de projeto, deverão constar


pelo menos os seguintes itens: Quem? O quê? Para quê? Por quê?
Como? Quando? A seguir, como inspiração, veja alguns modelos de
projetos desenvolvidos em diferentes campos de pesquisa. Antes
de pensar sua ideia para um projeto de pesquisa, discuta com seus
colegas de grupo as duas investigações científicas apresentadas.
Como será que foram elaborados os seus projetos? Quais etapas
eles teriam seguido?

Pesquisa 1
Esperança contra o zika

Em testes iniciais, formulações imunizantes e


medicamentos contra outras enfermidades protegeram
células e camundongos do vírus

Depois que pesquisadores da Bahia confirmaram a presença


do zika no Nordeste há um ano, o vírus avançou para quase
todo o país. Pegos de surpresa, os pesquisadores e autoridades
de saúde tiveram de se mobilizar e direcionar esforços para
conhecer o vírus e buscar formas de detê-lo. Os primeiros re-
sultados começam a aparecer e são promissores.
CECÍLIA BASTOS/USP IMAGEM

▲▲ As pesquisas científicas em laboratório são importantes para a


área da saúde.

22 Apresentação
➜ Ao longo de junho, vieram a público resultados de estudos
importantes que ajudam a compreender as reações que o
vírus desperta no sistema de defesa em uma situação de
especial interesse para a população brasileira: os casos em
que o zika infecta pessoas que já entraram em contato com
alguma das quatro variedades do vírus da dengue (90% das
pessoas já tiveram dengue em certas áreas do Nordeste). Pu-
blicado na revista Nature Immunology por pesquisadores da
Inglaterra, da França, da Polinésia e da Tailândia, esse tra-
balho confirma que os anticorpos que protegem da dengue
também atuam contra o vírus zika – é o que os imunologis-
tas chamam de reação cruzada –, mas não são capazes de
neutralizá-lo completamente. O que se verificou para o zika
em relação aos anticorpos contra a dengue também pode
ocorrer com a dengue em relação aos anticorpos antizika.
ZORZETTO, Ricardo. Pesquisa Fapesp, ed. 245, jul. 2016. Disponível
em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2016/07/14/esperanca-
contra-o-zika/?cat=ciencia. Acesso em: 7 dez. 2019.

Pesquisa 2
Aira Bonfim, a pesquisadora que resgata a verdadeira
história do futebol no Brasil

Pesquisadora ajudou a implementar Centro de Referência


do Futebol Brasileiro: “Minha vida foi conhecer e registrar
essas histórias e levar para o museu”

[...]
Tudo em torno dos campos e dessa que é mais do que uma
modalidade esportiva, mas sim uma parte da cultura do bra-
sileiro: o futebol. E foi a isso, essas histórias e lugares como
esse que Aira se dedicou nos últimos sete anos. Nesse pe-
ríodo, ela ajudou a implementar o Centro de Referência do
Futebol Brasileiro dentro do Museu do Futebol. “Minha vida
foi conhecer e registrar essas histórias e levar para o museu,
que é um espaço público, que legitima a memória das pes-
soas, dos espaços e acho isso muito potente. A gente nasce
em um lugar que todos dizem ser o país do futebol, mas não
entendemos direito que futebol é esse que estamos falando”.

[...]
Recentemente Aira deixou o centro de referência e se dedica a
seu mestrado, em que pesquisa o futebol feminino na década
de 30. Muito do que motiva esse trabalho surgiu nesses anos
todos de pesquisa. Ela conta que a ficha sobre a pouca atenção
a esse tipo de futebol foi caindo com o passar do tempo. Ainda ➜
23
➜ no museu, ela lembra que precisavam de uma foto da seleção
feminina posada em cada um dos principais campeonatos:
Copa do Mundo, Pan-americano e Olimpíadas. “Não tinha ima-
gem! Copa do Mundo, a primeira foi 91, então você pensa que
é óbvio que vai ter. E não tinha”. Aos poucos, o espaço para
essa história foi crescendo ali dentro. “A memória não está
dada. A gente pegava a caixa de recorte de jornal que a mãe
de alguém tinha na casa dela, digitalizava e vira um acervo
público que serve de pesquisa. Criamos essa base”.
BONFIM, Aira. Futebol feminino. HuffPost Brasil, 1.o dez. 2018.
Disponível em: www.huffpostbrasil.com/2018/11/30/aira-bonfim-
a-pesquisadora-que-resgata-a-verdadeira-historia-do-futebol-no-
brasil_a_23603801/. Acesso em: 29 set. 2019.

A.RICARDO/SHUTTERSTOCK
Jogo de futebol femi-
nino entre as seleções
do Brasil e da Suécia,
no Rio de Janeiro (RJ),
em 2018.  

Rumo ao projeto de vida


Em seu percurso até aqui, você já viu o que é um projeto, ainda que
de maneira bastante ampla e geral. Daqui em diante, você avançará para
aprofundar seu entendimento do que, de fato, é um projeto de vida, sob
três perspectivas:
1) a do autoconhecimento;
2) a da sua relação com os outros no mundo;
3) a do planejamento de suas trajetórias de formação e atuação pro-
fissional.
Um projeto de vida contempla pelo menos três grandes perspecti-
vas, que serão trabalhadas nos três módulos deste livro:

1. A vida pessoal
Envolve os seus afetos e compromissos consigo mesmo e com as
pessoas próximas. No projeto de vida pessoal, você deve pensar com
base em seus gostos, conhecimentos e escolhas.
24 Apresentação
2. A vida cidadã
Diz respeito à sua participação na sociedade, como ser coletivo e
cooperativo que é. No projeto de vida cidadã, você deve entender que
não há progresso pessoal sem a colaboração e o respeito ao outro.

3. A vida escolar ou profissional


Trata do modo de se engajar no processo de produção de conheci-
mento e de riqueza sustentável para o mundo em que vivemos. Sua tra-
jetória escolar e profissional depende fundamentalmente de como você
atua e se planeja para sua vida pessoal e uma prática cidadã.

Atividades e vivências
Como você já pôde ter uma pequena amostra nesta Apresentação,
este livro propõe a realização de uma série de atividades sobre o seu
projeto de vida. O objetivo é fornecer instrumentos para que você pos-
sa refletir sobre os seus sonhos e o desenvolvimento de seu projeto de
vida, trabalhando com diferentes competências e habilidades.

Autoconhecimento Competências gerais


7e8
Competências específicas
Nessa seção, você será convidado a fazer uma reflexão pessoal. O obje-
2 (Linguagens e suas Tecnologias)
tivo é propiciar momentos de reflexão sobre quem você é e qual é seu papel
Habilidades
no mundo. Essa é uma ação que se justifica pela importância de reconhecer as
EM13LGG202
próprias emoções, potencialidades e limitações.

Ampliando o repertório Competências gerais


6e7
Competências específicas
Nesse caso, apresentamos informações extras ou ligadas a um contexto
1 (Linguagens e suas Tecnologias)
complementar ao que estiver sendo discutido. O objetivo é aguçar sua curio- 1 (Ciências Humanas e Sociais
sidade científica e promover a descoberta de novas referências. Essa atividade Aplicadas)
justifica-se pela importância de se aprofundar o conhecimento sobre determi- Habilidades
nados temas e assuntos, a fim de aumentar as possibilidades de realização de EM13LGG103
EM13CHS103
um projeto de vida de sucesso.

ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO Competências gerais


6e7
Como o próprio nome já diz, o objetivo dessa seção é aprofundar algu- Competências específicas
mas questões importantes trabalhadas em cada módulo. A justificativa para 1 (Linguagens e suas Tecnologias)
esse olhar mais profundo é a potencialização das capacidades de analisar, 1 (Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas)
discutir e argumentar sobre questões fundamentais para a elaboração do
Habilidades
projeto de vida pessoal.
EM13LGG105 / EM13CHS102
EM13CHS103
25
#FICA A DICA Competências gerais
6
Essa seção apresenta links que levam você para outros contextos. O objeti- Competências específicas
vo é apresentar as informações mais diversificadas possíveis, que se relacionem 1 (Linguagens e suas Tecnologias)
com a temática discutida. Trata-se de dicas culturais, de filmes, séries, livros e Habilidades
instituições, entre outras referências, que se justificam por permitir novos co- EM13LGG102
nhecimentos de questões abordadas no livro com base em diferentes lingua-
gens artísticas.

Roda de conversa Competências gerais


7
Competências específicas
Sempre que houver indicação para uma roda de conversa, o objetivo é a
6 (Ciências Humanas e Sociais
realização de um debate coletivo sobre determinado assunto. Assim, depois de Aplicadas)
uma reflexão pessoal em Autoconhecimento, a roda de conversa propiciará uma Habilidades
oportunidade de afinar as percepções com base no diálogo com os colegas. As EM13CHS606
rodas de conversa justificam-se no âmbito de um trabalho com projeto de vida
por permitirem momentos preciosos para trabalhar a argumentação e o respeito
às diferenças de opiniões.

Além das atividades apresentadas, ao final dos Módulos 1 e 2 há


uma proposta de Vivência de transição e, no Módulo 3, de Vivência de
fechamento, todas elas pautadas no processo de elaboração do projeto
de vida. O objetivo das vivências de transição é consolidar os conheci-
mentos adquiridos no módulo e preparar-se para o módulo seguinte. A
justificativa para a realização das vivências de transição e fechamento é
permitir uma troca mais ampla de experiências e saberes sobre os dife-
rentes projetos de vida: individual, coletivo e mais focado na formação e
no mundo do trabalho.

Roda de conversa

Aquecimento

1 Quais são as suas expectativas em relação a este livro?


2 O que você imagina que aprenderá com ele?

26 Apresentação
1
O meu

Módulo
encontro
comigo Veja comentários
na Assessoria
Pedagógica.

O meu próprio mistério


Sou tão misteriosa que As referências bibliográficas
completas encontram-se
não me entendo. no fim do volume.

(Clarice Lispector, Aprendendo a viver)

CRIS EICH
O que é um projeto de vida?
Você já sabe que é importante elaborar um projeto para realizar as
mais diferentes ações no mundo em que vivemos. E em sua vida pes-
soal, será que o projeto também é importante? Como ele poderia aju-
dá-lo em atividades cotidianas e na realização de sonhos nos mais di-
ferentes planos? Em diferentes aspectos do mundo em que vivemos, é
fundamental elaborar um projeto a fim de planejar os passos que devem
ser seguidos para alcançar um objetivo no futuro. Do mesmo modo,
também é importante pensar um projeto para a sua vida.
Com as constantes e intensas mudanças que a sociedade tem vi-
venciado a partir do desenvolvimento das novas tecnologias digitais da
informação e da comunicação, cada vez mais se torna necessário ado-
tar um projeto que nos permita planejar minimamente quais serão os
próximos passos de nossa trajetória.
Repertório cultural
O conjunto de experiências
e saberes que se adquire Repertório cultural e campo de possibilidades
ao longo da vida, em casa, Como você já pôde observar nos mais diferentes projetos que fo-
no bairro, no trabalho e na
ram analisados, embora sejam voltados para o futuro, como uma for-
escola. Quanto mais rico e
diversificado for o repertório
ma de organizá-los em etapas, eles dependem fundamentalmente do
cultural, maior será sua ca- passado, dos saberes e das experiências que acumulamos sobre de-
pacidade de compreensão terminado assunto ou atividade. Nossos diversificados conhecimentos
do mundo. e informações são fundamentais para a realização de determinadas ta-
Campo de possibilidades refas. Da perspectiva de um projeto de vida, esse é o nosso repertório
As condições reais para cultural. Porém, além disso, para o seu projeto de vida, também é impor-
a sua ação no mundo. O tante levar em consideração o seu campo de possibilidades. Em outras
campo de possibilidades
palavras, se você tem um sonho ou um objetivo para sua vida em um
refere-se aos recursos e às
futuro mais próximo ou mais distante, precisa considerar quais são as
escolhas que você tem, no
presente, para tomar deci- condições para a realização desse sonho.
sões e planejar o futuro. Em uma sociedade desigual, esse campo de possibilidades não se
constitui da mesma forma para todos os indivíduos. Algumas pessoas
possuem um campo de possibilidades mais amplo, no sentido de terem
28 O meu encontro comigo
mais opções de escolha, por contarem com certos privilégios sociais, cul-
turais e econômicos. Isso não significa que uma pessoa com um campo
de possibilidades mais restrito, ou seja, com menos opções de caminhos
para a realização de seus sonhos, não possa desenvolver estratégias para
alcançar seus objetivos, ainda que tenha de superar maiores obstáculos.
Uma das formas de ampliar o seu campo de possibilidades se dá, justa-
mente, por meio do enriquecimento de seu repertório cultural, em outras pa-
lavras, pela sua capacidade de expandir o seu conhecimento sobre os mais
diferentes aspectos do mundo e da vida. Portanto, as noções de campo de
possibilidades e repertório cultural estão intrinsecamente relacionadas.
O repertório cultural pode ser adquirido em nossa vida familiar, na
relação com nossos amigos e vizinhos, na escola, nos museus, nos cen-
tros culturais, nos livros, nos jornais, nos coletivos de juventude e nos
mais diferentes ambientes sociais que frequentamos. Na vida estamos
sempre aprendendo com todas as pessoas com quem nos relaciona-
mos. Quanto maior o seu repertório cultural, maiores serão as suas con-
dições de planejamento do futuro e de construção de um projeto de vida
bem estruturado e condizente com o seu campo de possibilidades.

Autoconhecimento

Pare, pense e reflita:


1 O que você entendeu sobre as ideias de repertório cultural e campo Não
escreva
de possibilidades? no livro

CRIS EICH
2 Com base no que estudou até aqui, você conseguiria refletir um
pouco sobre qual é o seu repertório cultural e qual é o seu campo
de possibilidades para realizar um determinado curso superior ou
seguir uma determinada carreira profissional?

O projeto que dá sentido para a sua vida


O projeto de vida funciona como um potencializador que, com base
em seu repertório cultural e em seu campo de possibilidades, abre as
portas do início de uma trajetória para o futuro que você quer conquis-
tar. O projeto de vida envolve, portanto, uma organização e a conquis-
ta de um sentido, de uma razão para a sua vida. Se você não consegue
articular bem o seu projeto de vida, considerando, ao mesmo tempo, o
seu repertório cultural, o seu campo de possibilidades e a pertinência de
seu projeto para a sociedade em que vivemos, há uma grande chance de
seus sonhos tornarem-se mera fantasia.
CRIS EICH

29
Em outras palavras, você pode investir um grande esforço e energia em
algo que não leva em consideração aspectos que não dependem apenas de
você mesmo, constituindo, assim, uma perspectiva irrealista e, às vezes, até
egoísta ou muito autocentrada sobre o mundo e as condições sociais para
a realização de seus sonhos. Por isso, conhecer-se bem, identificando suas
potencialidades e seus limites, é um passo fundamental para a elaboração
de um projeto de vida efetivo e realista, que não seja uma fantasia ou ilusão.

Veja comentários
na Assessoria Autoconhecimento
Pedagógica.

Até aqui, você aprendeu que um projeto de vida depende tanto de


seu conhecimento e capacidade de se organizar para o futuro quanto do
campo de possibilidades, ou seja, das condições efetivas que a sociedade
lhe proporciona para isso. Com base nisso, sugerimos que você reflita so-
bre quais são os principais obstáculos para a realização de seu projeto de
vida. Esses obstáculos podem ser superados? De que maneira?
Por outro lado, reflita também sobre o seu campo de possibili-
dades. Que vantagens ou oportunidades você considera que poderia
aproveitar em benefício de seu projeto de vida?

Inspirações: Projetos de vida desafiadores


Muitas vezes, o projeto de vida não guarda relação apenas com o
sucesso individual, mas também com uma grande satisfação pessoal
de engajar-se em uma causa social importante. Há muitos exemplos
de jovens que deram um sentido para sua vida com base em objetivos
que não diziam respeito apenas a interesses próprios, mas também a
questões fundamentais para o progresso da sociedade onde viviam e
até mesmo da humanidade de uma maneira geral.

Ampliando o repertório

Nem sempre a realização de um projeto de vida é fácil. Em diversos


momentos, é preciso enfrentar muitas dificuldades e desafios enor-
mes. A seguir, apresentamos alguns exemplos de pessoas que come-
çaram seus projetos de vida ainda bem jovens e enfrentaram, e ainda
enfrentam, uma série de desafios e mesmo dramas terríveis para al-
cançá-los. Em todos os casos, não há um projeto de vida puramente
individual, mas a busca por uma transformação mais ampla do lugar
onde vivem e das condições sociais das pessoas próximas, seja por
meio da denúncia de situações de injustiça, seja por meio de ações
concretas de participação cidadã.

30 O meu encontro comigo


Inspirações
Leia os perfis de pessoas com trajetórias de vida inspiradoras e re-
flita sobre os obstáculos que elas tiveram de enfrentar.

SIMON DAVIS/DFID
Malala Yousafzai é uma estudante paquistanesa que, em 2012,
quando tinha 15 anos, foi baleada na cabeça
por lutar para que as meninas pudessem estudar livremente em seu
país. Ela criou um blog chamado “Diário de uma estudante paquistane-
sa” para, justamente, manifestar seu amor aos estudos e reivindicar o
direito das meninas de ter acesso à educação formal no lugar onde nas-
ceram. Em 2014, aos 17 anos, por conta de seu projeto ativista de enga-
jar-se numa luta por melhores condições para as mulheres paquista- ▲▲ A jovem Malala Yousafzai.
nesas, tornou-se a pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz.
MAIS SOBRE ➜ YOUSAFZAI, Malala; LAMB, Christina. Eu sou Malala. A história da garo-
ta que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã. São Paulo: Companhia das
Letras, 2013.

LUCAS JACKSON/REUTERS/
FOTOARENA
Greta Thunberg é uma jovem estudante sueca que, em 2018,
aos 14 anos, tomou como seu projeto de
vida a defesa do meio ambiente e do direito dos animais. Durante as
eleições em seu país, ela decidiu protestar sozinha pelo aumento de
medidas contra o aquecimento global e de proteção ao meio ambien-
te, segurando um cartaz em frente ao parlamento da Suécia. Poste-
riormente, esse protesto solitário ecoou entre outros jovens da Eu-
ropa e do mundo, desdobrando-se em uma marcha dos jovens pelo ▲▲ A jovem Greta Thunberg.
clima, que reuniu mais de 1,5 milhão de estudantes em mais de 100
países. Em 2019, aos 16 anos, em discurso na ONU, ela responsabili-
zou os adultos por não protegerem o meio ambiente e roubarem os
sonhos de sua infância e os de toda uma geração.
MAIS SOBRE ➜ O discurso da jovem ativista Greta Thunberg na ONU em 5
pontos. Instituto Humanitas Unisinos. Disponível em: www.ihu.unisinos.br/78-​
noticias/592829-o-discurso-da-jovem-ativista-greta-thunberg-na-onu-em-­5-
pontos. Acesso em: 29 set. 2019.
ARNO BURGI/PICTURE-ALLIAN-
CE/DPA/AP IMAGES

Paulo Lins é um escritor brasileiro, romancista, roteirista,


poeta e autor do célebre livro Cidade de Deus.
Nascido em 1958, iniciou sua trajetória como poeta. Ainda bem jovem,
nos anos 1980, publicou seu primeiro livro de poemas, Sobre o Sol. Então
morador da favela de Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, começou a cur-
sar Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro. O romance Cidade
de Deus, publicado em 1997, descreve justamente o cotidiano violento do
lugar onde morava. Em 2002, o diretor Fernando Meirelles, com codireção ▲▲ O escritor Paulo Lins.

31
de Kátia Lund, lançou o filme Cidade de Deus, baseado no livro de Paulo
Lins. O filme obteve quatro indicações para o Oscar.
MAIS SOBRE ➜ LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Planeta, 2012.

Esses são projetos inspiradores de pessoas que tiveram de batalhar


para superar uma série de obstáculos para realizar seus sonhos. O que
você acha dos projetos que essas pessoas traçaram para a vida delas ou
para tentar vencer os desafios que lhes foram colocados? Você já tinha
ouvido falar a respeito delas? Será que em algum momento elas pensa-
ram em desistir?
UNIVERSAL PICTURES

Billy Elliot – O filme narra a história de Billy Elliot, um apaixo-


#FICA A DICA

nado pela dança que, aos 11 anos, enfrenta uma série de desafios
para poder traçar o seu projeto de vida de tornar-se um grande
bailarino. Seu pai trabalhava em uma mina de carvão e desejava
que o filho aprendesse a lutar boxe, mas Billy não gostava da luta
e encantava-se com as aulas de balé que aconteciam próximo ao
lugar onde treinava. Assim, a dança passa a dar um sentido a sua
vida. Apesar de enfrentar uma série de preconceitos, inclusive de
seu próprio pai, Billy torna-se um importante bailarino da Royal
Ballet School, uma reconhecida companhia de dança inglesa.
MAIS SOBRE ➜ Billy Elliot, um filme de Stephen Daldry. Inglaterra, 2001.

▲▲ Fôlder de divulgação do filme


Billy Elliot.

Autoconhecimento

Não Depois de ler o texto da seção Fica a dica, responda às perguntas a


escreva
no livro seguir.
1 Para você, quem são as pessoas inspiradoras?
2 Quais projetos de vida essas pessoas empreenderam? São pro-
jetos transformadores delas mesmas e também do mundo onde
vivem?

Um projeto deve ter planos A e B


Como você pôde perceber, um projeto de vida não se desenvolve
necessariamente de maneira linear e sem qualquer turbulência. Muitos
obstáculos podem surgir ao longo de uma trajetória. Em alguns mo-
mentos, inclusive, é preciso avaliar se o planejamento que você elaborou
não será muito difícil de se concretizar. Desse modo, sem abrir mão dos
sonhos, é preciso sempre pensar em alternativas de projeto de vida, no
chamado “plano B”. Por isso, a importância de investir em sua formação
32 O meu encontro comigo
ENCIERRO/SHUTTERSTOCK
escolar e prosseguir nela o máximo que você puder, inclusive no ensino
superior e nas muitas possibilidades de pós-graduação, além dos mais
diversificados cursos complementares em áreas técnicas ou no apren-
dizado de outros idiomas. Com isso, você consegue justamente ampliar
o seu campo de possibilidades.
O sonho de tornar-se um grande artista, por exemplo, pode mos-
trar-se muito difícil, mas, ainda assim, talvez seja plausível formar-se ▲▲ Muitas vezes nos deparamos
com escolhas que devemos fazer.
em Educação Artística e trabalhar como um educador de Artes, que
será responsável pela formação de outros grandes artistas. A trajetória
como atleta de sucesso pode ceder lugar a um projeto mais viável ao
seu campo de possibilidades, como o de tornar-se um educador físico
competente e inspirador. Enfim, você pode escolher qualquer outra for-
mação que também considere relevante e interessante e que pode até
não ter relação com o seu plano A, mas ainda assim lhe trazer grande
satisfação e realização pessoal. Não há um caminho único para chegar
aonde se quer, são muitas as possibilidades.
Nenhum de nós deve ter um único projeto de vida, mas sim muitos,
que podem realizar-se simultaneamente ou ao longo de nossa histó-
ria. Em sua trajetória, alguns projetos também podem ser abandonados,
enquanto você adere a novos. Eles não podem ser muito rígidos a pon-
to de se tornar uma camisa de força, do tipo “tudo ou nada”. Você deve
sempre persistir em seus projetos, mas também entendê-los como algo
que necessita de uma flexibilidade, de uma leitura do mundo em que vi-
vemos, para definir a melhor forma de adaptá-los e transformá-los, ou
mesmo para avaliar se não cabe planejar outras possibilidades de futuro,
de experimentar novos sonhos.

Um projeto para a sua vida


Na apresentação deste livro, fizemos um convite para uma cami-
nhada pelo lugar onde você mora a fim de observar e fazer um levanta-
mento dos projetos que havia nele. Assim, você descobriu que há proje-
to em muitas coisas de seu cotidiano.
Neste Módulo 1, começamos a discutir a necessidade de atentar
para a forma de organizar os seus sonhos, o seu projeto de vida. Esta é
justamente a jornada que estamos propondo a você. Para isso, primeiro
convidamos você para o início de uma viagem bastante especial e pro-
funda, um passeio pelo seu interior, que lhe permita refletir sobre quem
você é, propiciando, assim, maior autoconhecimento. Só é possível pen-
sar em um projeto de vida se você consegue, antes de tudo, olhar para
si mesmo e refletir sobre quem você é e onde está, para depois analisar
aonde quer chegar.
CRIS EICH

33
Roda de conversa

1  Leia o trecho abaixo. Após a leitura, o professor fará uma reflexão


coletiva com toda a turma:
Todo homem é uma ilha [...] É necessário sair da ilha para
ver a ilha, que não nos vemos se não saímos de nós
(SARAMAGO, José. O conto da ilha desconhecida. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998.)

Em O conto da ilha desconhecida, o escritor português José Sa-


ramago narra a história de um homem que insiste em procurar o rei
para conseguir um barco e sair para descobrir uma ilha desconhecida.
De tanto insistir, apesar de ser tomado como louco, ele consegue o
barco e parte em busca de seu sonho. Na verdade, mais importante
que o barco é o sentido que ele consegue dar a sua vida a partir des-
se objetivo inicial. A ilha desconhecida era apenas uma metáfora para
o propósito que estava buscando para sua vida. Que propósito seria
esse? Aí, só lendo o livro! Não trabalhamos com spoilers!
2 A partir dessa breve resenha, discuta o que você entende pelo
trecho acima do livro de José Saramago.
a Em sua opinião, o que o autor quer expressar quando diz que
precisamos sair de nós para nos vermos?
b E você, tem um propósito para a sua vida? Qual é?

Do que você precisa para o seu projeto de vida


Depois de entender um pouco o que é um projeto e como ele se
aplica a diferentes instâncias da sociedade e de refletir sobre a impor-
tância de elaborar um projeto de vida, chegou o momento de pensar
mais detidamente sobre como constituir um projeto bem-sucedido para
a sua própria vida. Um dos pontos fundamentais para a sua elaboração
envolve conquistar um bom repertório cultural e saber avaliar qual é o
real campo de possibilidades que você tem para traçar os seus objetivos
de vida.
Como vimos na atividade de elaboração de um projeto científico, um
de seus aspectos importantes está na formulação dos objetivos futuros
que se desejam alcançar. Em outras palavras, os pontos de partida ne-
cessários para a formulação de um projeto de vida que tenha bons re-
sultados situam-se na ampliação de seus conhecimentos, não somente
os escolares, mas de tudo o que você aprende no mundo e sobre ele,
em suas múltiplas relações sociais. Com base nisso, você será capaz de
avaliar quais são as suas reais condições no presente para chegar aonde
34 O meu encontro comigo
quer. Muitas vezes, até mesmo as experiências ruins podem nos ajudar
a aprender com os erros, para não os repetir mais.
Em resumo, um primeiro passo essencial para conquistar essas ha-
bilidades de ampliação do repertório cultural e de avaliação realista do
próprio campo de possibilidades consiste em voltar-se para si mesmo.
Ou seja, antes de mais nada, você precisa se conhecer muito bem. É
fundamental compreender suas potencialidades e também suas fragi-
lidades, a fim de saber como lidar com elas da melhor forma. Somente
quando somos capazes de, minimamente, ter tempo para refletir sobre
nossa própria vida é que conseguimos, de fato, projetá-la e nos plane-
jarmos para o futuro. Afinal, como disse Saramago, “é necessário sair da
ilha para ver a ilha”.

As tecnologias e as
transformações em nossa vida
Aceleração da vida e cultura do imediatismo
No mundo atual, a atitude de parar e voltar-se para si mesmo, a fim
de analisar-se e entender-se é um exercício muito difícil de fazer, por uma
série de razões. A primeira delas reside no fato de que, em uma sociedade
de consumo como a nossa, tudo nos chama para fora de nós, seja a tela do
smartphone ou as vitrines das lojas do shopping center. Estamos na era
do excesso de informação, em que nossos olhares, desejos e pensamen-
tos são capturados a todo instante para um foco fora de nossas preocupa-
ções essenciais: um novo produto, uma nova série, uma nova música, um
novo estilo de vestir-se, e assim sucessivamente... Tudo isso ocorre numa
velocidade incessante e em progressiva aceleração.
CRIS EICH

35
Assim, estamos sempre em busca da última novidade, que logo já
deixa de ser novidade na manhã seguinte. A obsolescência programa-
da dos dispositivos tecnológicos acaba tornando-se também a obso-
lescência programada de nossos desejos e de nossas relações sociais.
Portanto, torna-se cada vez mais complicado conseguir pensar a longo
prazo e imaginar sonhos viáveis e com um propósito de vida que seja
nobre. Acabamos, dessa maneira, por nos render à cultura do imedia-
tismo, que exige uma solução, a mais rápida possível, para tudo, mesmo
para aquilo que precisa de tempo para ser realizado ou conquistado de
forma plena.

Ampliando o repertório

Você sabe o que é obsolescência programada?


Trata-se de uma estratégia da indústria de programar uma vida útil
menor do que a esperada para os dispositivos tecnológicos. Com isso,
as pessoas são obrigadas a adquirir novos produtos, descartando os
antigos. Ou seja, de certa maneira, os criadores estipulam um prazo
para que seu equipamento pare de funcionar. Não se trata, portanto,
de um desgaste natural. Considerando que nossa vida está cada vez
mais entrelaçada com as tecnologias, devemos, portanto, refletir so-
bre como esse mecanismo de obsolescência programada não só nos
faz comprar produtos novos antes do prazo que seria razoável, como
também altera nossa maneira de nos comportarmos no mundo. Na
atualidade, muitas pessoas têm se pautado por uma cultura da busca
constante por novidades ou atualizações, desvalorizando as tradições
e experiências de longo prazo, por exemplo.
MAIS SOBRE ➜ Entenda o que é obsolescência programada. Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor. Disponível em: https://idec.org.br/
consultas/dicas-e-direitos/entenda-o-que-e-obsolescencia-progra-
mada. Acesso em: 15 out. 2019. GOODSTUDIO/SHUTTERSTOCK

36 O meu encontro comigo


As tecnologias no dia a dia

Reflexão
Observe a tirinha do cartunista André Dahmer e depois responda
às perguntas.

©ANDRÉ DAHMER
1 O que você consegue compreender da tirinha de André Dahmer? Não
escreva
2 Como o aumento da velocidade de processamento de informa- no livro
ção dos smartphones afeta o ritmo da nossa vida?
3 Você tem domínio do tempo que fica conectado ao seu smart-
phone? Por quê?
4 Você conseguiria destacar aspectos positivos e negativos que
os smartphones e as tecnologias digitais da informação e da
comunicação, de maneira geral, podem ocasionar na vida das
pessoas?

ALBUM/FOTOARENA
#FICA A DICA

Isso é muito Black Mirror!


Você já assistiu a algum episódio ou ouviu falar da série
Black Mirror? Nela são retratados diversos efeitos das tecno-
logias num futuro que, a princípio, parece muito distante, mas,
se analisarmos bem, pode ser a mais perfeita representação
do nosso presente. Os episódios são independentes entre si,
pois cada um narra uma história diferente; neles há reflexões
sobre os diversos desdobramentos das inovações tecnoló-
gicas em nossa vida. Em um deles, as pessoas são avaliadas
constantemente por likes e só conseguem um bom empre-
go ou comprar coisas dependendo de sua popularidade e da
quantidade de reações positivas que conseguem receber. Em
muitos episódios, é retratado o modo como entregamos nossa
vida totalmente ao controle desses dispositivos tecnológicos. ▲▲ Cena da série Black Mirror,
A série mostra como nos deixamos seduzir pela tela preta de série televisiva britânica de 2011,
produzida por Barney Reisz.
nossos smartphones, muitas vezes deixando de lado aspectos
fundamentais de nossa vida.

37
As tecnologias e seus efeitos
Cada vez mais, as inovações tecnológicas tornam-se elementos
cotidianos e essenciais em nossa vida. Por meio delas, obtemos infor-
mações importantes sobre qualquer lugar do mundo. Atualmente, com
o desenvolvimento dos chamados aplicativos, por meio de seu smar-
tphone você pode pedir comida ou um carro para levá-lo para passear,
procurar emprego e até mesmo paquerar. Por meio da internet, você
pode acessar uma série de conhecimentos que, tempos atrás, seria
muito difícil de conseguir.
Hoje, esse acesso não só ocorre, como também é possível aprofun-
dar-se em muitos assuntos. Se bem orientado, você pode encontrar na
internet muitas coisas interessantes e úteis para o seu projeto de vida. Por
exemplo, há muitos cursos de idiomas online, explicações das matérias
escolares e palestras de importantes intelectuais e cientistas de todo o
mundo, dentro das mais diferentes áreas do saber. Além disso, a internet
e as redes sociais podem tornar-se excelentes espaços para a criação de
novas ideias e mesmo oportunidades de trabalho. Em todo o mundo, pes-
soas que aderem a uma determinada causa social conseguem entrar em
contato com possíveis parceiros nas mais diversas partes do planeta.
Como você pode perceber, as tecnologias digitais da informação e
da comunicação apresentam-se como potencialidades para sua vida, na
medida em que, por meio delas, é possível abrir uma série de portas para
o mundo e para a ampliação de seu conhecimento. Elas permitem que
você tenha acesso a uma enorme quantidade e diversidade de informa-
ções que podem ajudar em muitos aspectos de sua vida. Porém, por ou-
tro lado, é importante que você saiba como transitar por essas informa-
ções sem ser enganado por notícias distorcidas ou falsas promessas.

As tecnologias como meio, e não como fim


Lembre-se sempre de que as tecnologias devem servir como meios
para os seus objetivos, e não como fins. Elas não podem servir como
propósito de vida. Dispositivos tecnológicos como os smartphones têm
de servir aos seus desejos, e não o contrário; você não deve ceder ao
tempo e às demandas deles.
Caso não tome cuidado, em vez de encontrar um mundo novo e
ampliado, as tecnologias podem levar você a se perder em um mundo
sem sentido. E, como já vimos anteriormente, o principal motivo para
elaborar o seu projeto de vida é justamente encontrar um sentido para a
sua trajetória. Quantas vezes, por exemplo, você não deixou de contem-
plar coisas belas da vida, como um pôr do sol ou uma apresentação de
38 O meu encontro comigo
sua banda de música favorita, porque preferiu filmar em vez de apenas

SAMIRA KAZIMOVA/SHUTTERSTOCK
admirar e curtir o momento? Ao fazer isso, será que foi mesmo o pôr do
sol ou o show que você estava vendo? Ou seria apenas uma imagem
projetada na tela de seu smartphone e gravada em vídeo para ser exi-
bida posteriormente? Estamos vivendo para aproveitar o momento ou
apenas pensando nas postagens que serão feitas posteriormente?
Torna-se cada vez mais difícil acompanhar as novidades e res-
ponder às demandas de postar coisas que transmitam uma imagem
interessante de nós para os outros, nas redes sociais. A necessidade
de dar respostas rápidas a tudo e a todos nos torna pessoas angustia- ▲▲ Ícone de visualização do
das. Precisamos refletir que nós mesmos é que estamos nos impondo WhatsApp.

essa velocidade alucinada. Ou será que você nunca ficou bravo quan-
do alguém visualizou sua mensagem no WhatsApp e não respondeu
imediatamente em seguida? E quantas vezes você não deixou de fazer
coisas importantes para dar conta de responder rapidamente a alguém?
Tudo isso apenas pela pressão social de retornar rapidamente, algo que
poderia ser feito com calma e de maneira mais refletida. Muitas vezes
nos deixamos subordinar a uma velocidade que não é humana, mas de
máquinas. Por isso, em diferentes momentos de sua vida, você precisa
aprender a desacelerar e a contemplar aspectos importantes do mundo
em que vive e de seu próprio eu interior.

MINERVA STUDIO/SHUTTERSTOCK
Você já ouviu falar do livro 1984? Trata-se de um título
#FICA A DICA

que se tornou muito famoso. Publicado em 1949, ele é consi-


derado uma das mais importantes obras do século XX. George
Orwell, o autor, narra um futuro que ocorreria justamente em
1984. Nele, as pessoas estariam sendo vigiadas, a todo mo-
mento, por câmeras instaladas em todos os lugares e contro-
ladas por um ditador poderoso, o Grande Irmão (Big Brother),
que não deixaria as pessoas pensar e viver livremente. Quem
fugisse às regras seria duramente punido! Hoje, de certa forma,
também vivemos sob uma vigilância constante, por meio das
câmeras dos smartphones, que podem registrar tudo, e das
redes sociais. Contudo, de alguma maneira, nossa submissão
a esse controle absoluto é voluntária. Ninguém, pelo menos
em tese, nos obrigou a aderir às redes sociais e postar coisas
sobre nossa vida privada para que outras pessoas possam sa-
ber dela e nos controlar, mas mesmo assim o fazemos. Por que
será? Você já parou para pensar a respeito? ▲▲ Imagem representando a
Curiosamente, o livro 1984 ganhou uma adaptação para o figura do Big Brother.

cinema naquele mesmo ano, em produção britânica dirigida por


Michael Radford.

39
Veja comentários Exposição e felicidade permanente
na Assessoria
Pedagógica. No processo de exposição constante de si que as redes sociais esta-
belecem atualmente, muitas pessoas, de alguma maneira, praticamen-
te se obrigam a se expor como se vivessem uma felicidade constante
e incessante. Porém, devemos nos perguntar se essa é uma condição
possível, de estar sempre alegre e feliz. A resposta será: é claro que não!
Todos nós temos momentos de alegria, de satisfação e grande felicida-
de, mas também temos os de tristeza, de raiva e de decepção. Apren-
der a desfrutar com maior plenitude dos momentos de descontração e
felicidade que vivemos e, ao mesmo tempo, entender que sentimentos
negativos são comuns e normais nos leva a um importante aprendizado:
o de lidar com nossas frustrações. Essa capacidade de vivenciar dife-
rentes sentimentos é o que nos torna humanos.
Não estamos sugerindo aqui que você abandone as tecnologias e
as redes sociais, muito pelo contrário, mas chamamos sua atenção para
uma análise de como tirar o melhor proveito delas, a fim de fazer com
CRIS EICH

que sirvam como potencializadoras ou facilitadoras de seu projeto de


vida, e não como um obstáculo. Por isso, o que vamos lhe propor agora
é que você estabeleça alguns momentos para deixar de lado o seu dis-
positivo eletrônico. O objetivo é conseguir alguns períodos necessários
de tranquilidade e concentração para pensar sobre si mesmo. Posterior-
mente, você pode tirar melhor proveito de seu dispositivo para realizar
pesquisas e outras tarefas fundamentais nos dias atuais.

Veja comentários
na Assessoria A identidade e os papéis sociais
da juventude
Pedagógica.

Verifique com os alunos se Em cada fase de nossa vida, assumimos responsabilidades diferen-
eles sabem o que significa tes. Com base em algumas correntes teóricas da Psicologia, Wivian Weller
essa indicação de ano
entre parênteses. Caso (2014) mostra-nos que o desenvolvimento na juventude tem como expec-
não saibam, comente que
se trata de uma remissão tativa principal a formação de alguns papéis sociais que preparam o sujeito
à obra indicada nas
Referências bibliográficas, para a inserção na vida adulta. Conforme essa perspectiva, a juventude é
no fim deste livro.
uma etapa em que se começam a vislumbrar os seguintes papéis sociais:
1  Papel profissional;
2  Papel conjugal e familiar;
3   Papel cultural e como consumidor;
4   Papel como cidadão.
O grande problema com esses papéis sociais é que, em muitos ca-
sos, não é fácil preparar-se para assumi-los, pois eles são cada vez mais
40 O meu encontro comigo
flexíveis e diversificados. Com isso, você pode se atrapalhar ou sentir-
-se desorientado. Daí, mais uma vez, a importância da construção de
um projeto de vida que o ajude na passagem por essa fase de transição.
FLAMINGO IMAGES/SHUTTERSTOCK

DWPHOTOS/SHUTTERSTOCK
RAWPIXEL.COM/SHUTTERSTOCK

RAWPIXEL.COM/SHUTTERSTOCK
▲▲ Estamos a todo momento
assumindo diferentes papéis sociais.
Ampliando o repertório

Apresentamos agora dois textos que abordam como é ser jovem nos
dias atuais e o desafio dessa trajetória para a vida adulta. Você já parou
para pensar sobre isso? Esse é o convite que lhe fazemos agora. Leia
os textos com atenção, procurando refletir sobre os diferentes papéis
sociais que temos de assumir na juventude e na vida adulta, e depois
realize a atividade de autoconhecimento. Consulte o professor caso
tenha dúvida sobre algum termo ou significado de algumas expres-
sões no texto.
A singularidade da condição juvenil é dada pelo que se
vive nesse momento da vida numa dada conjuntura históri-
ca. No período histórico atual, trata-se de uma longa transição
da infância para a idade adulta, caracterizada por um intenso
processo de definições, escolhas e arranjos para a construção
de uma trajetória de inserção e autonomia. Cada vez mais os
elementos necessários para realizar esse processo de transi-
ção se multiplicam e se diversificam, fazendo com que os jo-

41
➜ vens tenham de compor uma equação com inúmeros elemen-
tos para viver a vida presente e preparar a vida futura: escola,
trabalho, vida familiar e sociabilidade, sexualidade, namoro,
lazer, vida cultural. É, assim, um momento crucial de formula-
ção de projetos de vida, de escolhas e construção de caminhos.
Ademais, é preciso ressaltar que hoje, mais que em períodos
passados, tais percursos não são necessariamente lineares
nem compostos por etapas sucessivas e ordenadas, mas mui-
tas vezes concomitantes e reversíveis.
(ABRAMO, Helena. Identidades juvenis: estudo, trabalho e
conjugalidade em trajetórias reversíveis. In: PINHEIRO, Diógenes
et al (Orgs.). Agenda Juventude Brasil: leituras sobre uma década de
mudanças. Rio de Janeiro: Unirio, 2016.)

Diante das sérias escolhas que terão de fazer ao chega-


rem à vida adulta, sentem-se sem rumo; seu desenvolvimento
pessoal e social parece estar atravancado. Grande parcela dos
jovens de hoje hesita em se comprometer com quaisquer pa-
péis que definem a vida adulta, como o de pais, trabalhadores,
cônjuges ou cidadãos.
(DAMON, William. O que o jovem quer da vida? – Como pais e
professores podem orientar e motivar adolescentes. São Paulo:
Summus, 2009. p. 24.)

Autoconhecimento

Após ler os textos da seção anterior, responda às perguntas a seguir.


Não
escreva 1 Como você se sente nesse processo de transição da infância para a
no livro
idade adulta?
2 Quais são os seus maiores desafios?
3 Do que você mais gosta em ser adolescente ou jovem?
4 Como você se vê em cada um dos quatro papéis sociais apontados
por Wivian Weller, no futuro?
5 Que projeto de vida você gostaria de elaborar para cada um deles?

Genealogia e identidade
Você sabe o que é uma genealogia? Trata-se de um estudo de nos-
sas origens. Por meio dela, traçamos um mapa de nossas ligações com
IVANOVA MARIA/
SHUTTERSTOCK

antepassados, com pessoas de outras gerações que, por vezes, nem


chegamos a conhecer pessoalmente. Elabora-se uma genealogia por
meio de estudos sobre a história de uma família, por exemplo. Em gran-

42 O meu encontro comigo


de medida, nossa história e nossas origens explicam quem somos, nos-
sa identidade. Por isso, é tão importante saber de onde viemos, pois só
assim conseguimos definir, com maior clareza, aonde queremos ir.

Autoconhecimento

A proposta agora é traçar um esboço de sua genealogia e conversar


Não
sobre a formação de sua identidade. Para começar, é preciso fazer os escreva
seguintes questionamentos: no livro

1 De onde eu vim? Quais são as minhas origens?


2 De onde vieram ou quais são as origens das pessoas com quem eu
convivo?
3 O que mais gosto de fazer? Quais são os meus hábitos?

ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO

Imagine que você precisa escrever um breve perfil pessoal, dizendo


quem você é, para um blog ou uma matéria de jornal. Como faria?
Que tópicos deveria abordar?

A seguir, há algumas questões básicas para começar a pensar so-


bre isso e esboçar uma primeira versão do seu perfil. Além dessas
questões, quais outras você acha que seriam fundamentais para
apresentá-lo da melhor forma? Pense e formule pelo menos mais
duas questões e, com base nisso, escreva o seu perfil.

1 De onde você vem? Em qual cidade você vive? Como é esse lugar?

CRIS EICH
2 De onde são os seus familiares? Eles nasceram na mesma cidade
em que você mora?
3 Quais são os lugares que você mais costuma frequentar?
4 Como é o seu dia a dia? Quais são seus hábitos e que atividades
você costuma realizar?
5 O que você mais gosta de fazer?
Não
escreva
6 Quem são as pessoas com as quais você mais convive diaria- no livro
mente?

Ao elaborar o seu perfil e relatar um pouco de seu cotidiano, é bem


possível que você tenha citado uma série de lugares, como a casa, a
escola, a rua, o ônibus e assim sucessivamente, bem como grupos
sociais diferentes, como a família, os amigos, os vizinhos, entre ou-
tros. Cada um desses lugares e grupos sociais possui características
muito particulares. E você, provavelmente, não se comporta da mes-
ma forma em todos eles. O tipo de comportamento que uma pessoa ➜
43
➜ desenvolve em uma biblioteca costuma ser muito diferente daquele
que assume em uma festa com os amigos. Da mesma forma, o seu
modo de portar-se na escola também será muito distinto de como
está acostumado a ficar em casa. Por que será que isso acontece? Na
verdade, isso se deve ao fato de que, embora você seja uma pessoa
única, exerce, todos os dias, diferentes papéis sociais. Em determi-
nados momentos e contextos, você age mais como estudante; em
outros, como filho; em outros ainda, como amigo, pedestre ou cliente.

Ampliando o repertório

Papel social é um conceito sociológico que diz respeito ao modo dife-


rente de agir em sociedade, ou seja, diz respeito ao comportamento de
acordo com o ambiente em que uma pessoa está e das pessoas com
quem ela se relaciona. Atuamos no mundo com base no modo como
avaliamos os lugares e as pessoas com que nos relacionamos, mas
também com base no modo como elas nos avaliam ou de como pen-
samos que elas nos avaliariam se adotássemos um comportamento
CRIS EICH

reprovável ou disséssemos algo que poderia ser considerado mais ou


menos adequado.
MAIS SOBRE ➜ GOFFMAN. Erving. A representação do eu na vida coti-
diana. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

Muitos lugares, muitos papéis sociais


Por que será que nos comportamos de forma tão diferente depen-
Nossos papéis sociais dendo do lugar, às vezes mais descontraído, às vezes mais sério, por
dependem também das exemplo? Porque os lugares possuem regras, explícitas ou implícitas,
situações com que nos
deparamos. de comportamento. Se você não as seguir, haverá grandes chances de
sofrer algum tipo de desaprova-
ção social. Por exemplo, se você
IAKOV FILIMONOV/SHUTTERSTOCK

falar alto durante a explicação do


professor em uma aula, alguém,
provavelmente, lhe pedirá silên-
cio. Da mesma forma, se numa
festa você estiver desanimado
e calado em um canto, alguém
G-STOCK STUDIO/SHUTTERSTOCK

pode vir lhe perguntar o motivo


de estar tão quieto e pouco en-
volvido no clima do evento. Em
alguns casos, as regras podem
implicar punições específicas,
como a de ser convidado a se re-
44 O meu encontro comigo
tirar de uma sala de cinema por mau comportamento. Em outras situa-
ções, você pode não ter uma punição mais drástica, mas talvez cause
estranhamento ou mesmo afaste as pessoas de seu entorno, por não
cumprir com o papel social esperado e, por isso, será considerado uma
pessoa inconveniente.
Com isso, queremos reforçar a importância do autoconhecimento,
pois somos seres complexos, envolvidos em redes de relações e com-
prometimento social. Cada um de nós é singular, no sentido de que não
há ninguém exatamente igual a ninguém no mundo. Porém, ao mesmo
tempo, também somos múltiplos, no sentido de que somos o resultado
das diversas relações sociais que estabelecemos e dos múltiplos papéis
sociais que assumimos. Por isso, também compartilhamos muitas coisas
com diferentes pessoas em nossa vida.
Por exemplo, um jovem pode gostar de hip-hop, história em qua-

CRIS EICH
drinhos, skate, estudar inglês e fazer natação. Provavelmente, ele não
terá nenhum outro amigo que pratique todas essas mesmas ativida-
des, mas, ao transitar por cada uma delas ou pelos espaços em que
elas ocorrem, conhecerá pessoas com gostos diferentes. Um amigo
que adora hip-hop pode não ter tanto interesse por história em quadri-
nhos ou preferir aprender espanhol como língua estrangeira, enquanto
um amigo da natação pode adorar histórias em quadrinhos, mas não
ser muito fã de hip-hop. Ou seja, há muitas relações constituindo-se ao
mesmo tempo e, em cada contexto, um dos assuntos em comum será o
predominante em determinado momento. Assim, você poderá definir o
papel que assumirá em cada espaço ou atividade de que participa com
as mais diferentes pessoas.

Os papéis sociais no dia a dia


Retome o perfil que você esboçou e pense nos papéis que costuma
assumir em seu cotidiano. Você conseguiria escrever perfis diferentes
de si mesmo com base no lugar em que precise se apresentar? Coloque
essas questões em prática na atividade a seguir.

ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO Veja comentários


na Assessoria
Representação dos papéis sociais Pedagógica.

Para aprofundar o conhecimento sobre si mesmo e seus muitos pa-


péis sociais, faça um levantamento dos diferentes papéis que você
assume nos lugares a seguir, escrevendo, em seu caderno, um per-
fil para cada um, com base nas ações que protagoniza e no modo
que é esperado que se apresente neles. Essa atividade será des-
dobrada em duas etapas, com algumas tarefas a serem realizadas. ➜
45
➜ 1.a etapa: Descreva o seu perfil com base no papel social que assu-
me em cada um dos espaços a seguir.
•• Eu na escola
•• Eu em casa
•• Eu no bairro ou região onde moro
•• Eu nas festas
•• Eu nas redes sociais
•• Eu no shopping center
Pense ao menos em mais três outros lugares em que você de-
senvolveria um papel diferente (preferencialmente um local que já
frequente, mas também pode ser um lugar ainda desconhecido).
Anote esses três lugares em seu caderno e escreva um perfil seu
específico para cada um deles.

2.a etapa: Encenando os papéis sociais


Este exercício é para a turma toda.
1 Posicione-se em roda com os colegas.
2 Em uma folha de papel, escreva os nomes dos lugares apontados e
dos outros sugeridos por você.
3 Os papéis serão dobrados e embaralhados, para ocultar a identida-
de de quem os escreveu. A seguir, serão colocados em um saco ou
recipiente não transparente. Cada um de vocês escolherá aleato-
riamente um desses papéis.
4 Leia em silêncio os espaços descritos no papel sorteado e encene,
em forma de mímica, o tipo de comportamento exigido em cada
ambiente.
Haverá duas chances. Na primeira, você deve representar apenas o
seu próprio comportamento em cada um dos ambientes. Se o lugar
que está sendo representado não for descoberto, siga para a segun-
da fase, em que deverá indicar qual seria o comportamento de outros
personagens naquele ambiente. Por exemplo, na escola você pode
encenar como o professor costuma atuar; em casa, como os pais
costumam agir. O objetivo é pensar como esses papéis sociais são
representados com o corpo, para entender que sua atuação no mun-
do acontece por meio de práticas e aprendizados corporais.
CRIS EICH

Seu corpo: imagem e autocuidado


Quando somos jovens, a imagem corporal costuma ser um aspecto
fundamental de como gostamos de nos apresentar ao mundo e desem-
penhar nossos papéis sociais. O investimento na imagem pessoal, por
meio das roupas, dos acessórios e das marcas que se impõem ao pró-
46 O meu encontro comigo
prio corpo, possibilita a criação de um processo de diferenciar-se das
outras pessoas. Trata-se da busca por se tornar uma pessoa única no
mundo, ao mesmo tempo que se insere num grupo de iguais. Os jovens
não são apenas detentores de um corpo, eles são um corpo. Em outras
palavras, as suas experiências acontecem no corpo e por meio dele. Não
se trata apenas de um suporte material, mas de um aspecto fundamen-
tal da identidade juvenil. Com base nessas reflexões iniciais, a proposta
agora é aprofundar a observação de como o seu corpo é acionado nos Veja comentários
na Assessoria
diferentes papéis sociais que você representa, bem como nas diversas Pedagógica.
emoções que sente ou experimenta.

ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO

MASCHA TACE/SHUTTERSTOCK
Nossas emoções no corpo
A proposta agora é de uma vivência semelhante à que você fez com
seus colegas sobre os papéis sociais.

1 Posicione-se em roda com seus colegas e sigam as instruções.


2 Escreva em uma folha de papel as diversas emoções que você
costuma sentir no dia a dia: alegria, raiva, tristeza, frustração, felici-
dade, amor etc.
3 Dobre o papel, que será embaralhado com os de seus colegas, para
ocultar a identificação, e todos serão inseridos em um saco ou
recipiente não transparente.
4 Cada um de vocês escolherá, na sua vez, aleatoriamente, um des-
ses papéis e representará, em forma de mímica, uma das emoções
que sorteou.

Agora, além de adivinhar qual é a emoção, cada um de vocês tam-


bém deverá dizer como lida com ela. O objetivo é fazer com que
você comece a reconhecer as emoções e a pensar em estratégias
para lidar melhor com elas.

▲▲ Emoticons representando diversas

Biografias emoções.

Biografia Veja comentários


na Assessoria
A minha vida Pedagógica.

eu amarrei nas asas da poesia.


(Talles Azigon, MARoriGINAL)

Você acabou de ver que a sociedade exige comportamentos dife-


renciados, de acordo com o lugar e as pessoas com quem se relaciona,
e que a isso chamamos de papéis sociais. Também começou a enten-
47
der que há modos diferentes de expressar e de lidar com as emoções
por meio de seu corpo e suas experiências pessoais. Com base nesses
aprendizados, você pode compreender que olhar para si mesmo é uma
tarefa desafiadora, mas fascinante. Todos nós somos, simultaneamen-
te, seres sociais, psicológicos e biológicos. Portanto, cheios de detalhes,
complexidade e riqueza.
Com base nessa constatação, chegamos ao momento de criar um
perfil mais amplo, reunindo os diferentes modos de ser e estar nos muitos
contextos trabalhados, a fim de descrever de modo mais completo quem
você é. Escreva uma espécie de minibiografia sua com base nos breves
perfis de cada um de seus papéis sociais. Ou seja, descreva-se consideran-
do quem você é ou o que costuma fazer em casa, na escola, no bairro, nas
redes sociais etc.
Uma biografia é um texto do gênero literário narrativo que relata a
história de vida de alguém, escrito com base em ampla pesquisa sobre
a pessoa retratada. Quando é a própria pessoa que escreve sua história,
temos uma autobiografia.
A atividade que propomos não trata exatamente da descrição de
sua história desde a infância até a adolescência, mas sim da história de
sua vida atual. Por isso, trata-se aqui de uma minibiografia ou perfil bio-
gráfico. Esse tipo de texto geralmente é utilizado para apresentar o autor
de alguma obra ou atividade pública.

Veja comentários Perfis biográficos


na Assessoria
Pedagógica. Costumamos encontrar perfis biográficos em contracapas ou ore-
lhas de livro. Por exemplo, na orelha do livro No seu pescoço, há o se-
guinte perfil biográfico de sua autora:

Chimamanda Ngozi Adichie nasceu em Enu-


LEV RADIN/SHUTTERSTOCK

gu, na Nigéria, em 1977. Sua obra foi traduzida


para mais de trinta línguas e apareceu em inú-
meros periódicos, como as revistas New Yorker
e Granta. Além da reunião de contos No seu pes-
coço, é autora também dos romances Meio sol
amarelo – vencedor do Orange Prize e adaptado
ao cinema em 2013 –, Hibisco roxo e Americanah
A escritora Chimamanda – best-seller vencedor do National Book Critics
Ngozi Adichie.  Circle Award –, [...] todos publicados no Brasil pela
Companhia das Letras.

(ADICHIE, Chimamanda Ngozi. No seu pescoço. São Paulo:


Companhia das Letras, 2017.)

48 O meu encontro comigo


Já no livro (A) massa: poesias e dramaturgias, o autor paulista
Emerson Alcalde apresenta-se dessa maneira em seu perfil biográfico:
Nascido no bairro do Cangaíba, Zona Leste de São

ANTONIO MIOTTO / FOTOARENA


Paulo, passou sua infância em Itaquaquecetuba. Filho
de pai nortista e mãe descendente de espanhóis. Tem
30 anos. Formado em teatro pela Universidade Anhem-
bi Morumbi e em dramaturgia pela SP Escola de Tea-
tro. Membro-fundador da Companhia Extremos Altos.
Professor de teatro e criação literária. Organiza o Slam
da Guilhermina (Campeonato de Poesias Faladas). Par-
ticipou do EP “... Entre...” do Kamau, com três poesias.
Campeão do ZAP-SLAM 2010 na Bienal de Artes de SP e no mesmo ▲▲ O escritor paulista
ano participou do Circuito SESC de Artes com o Sarau Suburbano Emerson Alcalde.

de Alessandro Buzo. Ministrou workshop e fez intervenções poé-


ticas na Entrepola Venezuela em 2012. Colaborou para
Revista FOLHA SP.
(ALCALDE, Emerson. (A) massa: poesias e dramaturgias. São Paulo:
Edicon, 2013.)

O poeta cearense Talles Azigon, por sua vez, assim se descreve em


seu blog:
Poeta, Produtor Cultural, Editor, Mediador de

TALLES AZIGON
Leitura, Curador de Eventos Literários e Contador de
Histórias. Foi um dos fundadores da Editora Substân-
sia, editora cearense independente com mais de 35
títulos publicados. Foi Secretário Geral do Conselho
de Políticas Culturais de Fortaleza, representando
no mesmo o segmento da Literatura, no biênio
2013/2014. Foi Criador, Produtor e Curador de diver-
sos eventos de livro, leitura e literatura. Pesquisa
▲▲ O poeta cearense
Poesia, Literatura e Leitura.
Talles Azigon.
(Disponível em: https://tallesazigon.wordpress.com/author/
tallesazigon/. Acesso em: 5 out. 2019.)

Percebe-se, por esses exemplos, que o perfil biográfico é um tipo de


texto no qual, geralmente, se destacam aspectos positivos ou que mais
chamam a atenção em uma trajetória pessoal. Ele pode ser encontrado
nos mais diferentes espaços, desde matérias de jornais até descrição de
vídeos, passando por catálogos de exposições de artistas ou mesmo por
currículos de cientistas.
No blog “Aventuras na Leitura”, de Kelly Cominoti, apresentam-se
resenhas e dicas de livros e temáticas afins. Nele, Kelly apresenta dois
perfis biográficos, um mais breve e outro mais completo e detalhado. Em
seu perfil breve, ela se descreve da seguinte maneira:

49
Professora por vocação, historiadora pelo destino. Acredito
ACERVO PESSOAL

que somos todos iguais na diferença e, por isso, me especializei


em Educação Especial e Inclusiva. Apaixonada pelo universo
literário e pelas aventuras que ele me proporciona, decidi cursar
Letras (que sempre foi minha grande paixão).
(Disponível em: https://aventurasnaleitura.wordpress.com/.
Acesso em: 5 out. 2019.)

Já no seu perfil mais completo, Kelly apresenta maiores detalhes


▲▲ A blogueira carioca
Kelly Cominoti. sobre si mesma e seus gostos. Diz onde mora, a idade, os livros que gos-
ta de ler e conta dos projetos de leitura que promove. Nessa descrição
mais completa de si mesma, ela revela mais a respeito de suas áreas de
formação e experiência profissional com a educação especial e os cam-
pos de estudo da história e das letras.

No livro O amor nos tempos do blog, Vinícius Campos con-


#FICA A DICA

ta-nos sobre um menino de 13 anos que se apaixona por uma


garota na escola e relata, em seu blog, o amor que vive à distân-
cia. A trama desenvolve-se, aliás, a partir de histórias de amor e
de interação entre o blogueiro que narra sua história de amor e
sua única seguidora virtual.
MAIS SOBRE ➜ CAMPOS, Vinicius. O amor nos tempos do blog. São Paulo:
Reviravolta, 2018.)

Os perfis nas redes sociais


Como as tecnologias digitais da informação e da comunicação
estão em constante mudança, sabemos que hoje os blogs não estão
mais isolados, mas articulados em múltiplas plataformas, de comparti-
lhamento de imagens e vídeos e em todas as redes sociais de manei-
ra geral. Fala-se muito mais, inclusive, em vlog, videoblog ou em canais
em plataformas digitais de vídeos. Normalmente, pessoas com algum
destaque nas redes sociais são chamadas de digital influencers, dada
a grande quantidade de seguidores que angariam e sua capacidade de
pautar opiniões e comportamentos.
Com base em sua experiência como internauta, responda:
Não
escreva
no livro 1 Você conhece ou segue algum digital influencer? O que pensa
dele?
2 Como ele se apresenta? Há perfis biográficos nas redes sociais
dele?
3 Você se imagina ou já quis ser um digital influencer?
4 Sobre quais temas você gostaria de conversar com as outras
pessoas em vídeos na internet?

50 O meu encontro comigo


Veja comentários
Autoconhecimento na Assessoria
Pedagógica.

Agora que você já leu diferentes modelos de perfis biográfi-


cos, elabore um perfil mais completo seu, descrevendo quem você
é com base em cada um dos papéis sociais que costuma assumir.
Lembre-se de que o perfil biográfico é algo que escrevemos para
um público mais amplo. Por isso, nele devem constar apenas dados
que você gostaria de divulgar e que revelam uma perspectiva po-
sitiva sobre você.

Roda de conversa

Apresentação dos perfis biográficos

Depois de escrever o seu perfil biográfico, chegou a hora de apre-


sentá-lo à turma, explicando o que você considerou mais relevante
apresentar sobre si mesmo. Esse é o momento importante de ouvir
e ser ouvido. O modo como nos descrevemos é o modo como quere-
mos nos apresentar para o mundo.
Portanto, além de caprichar no seu próprio perfil, deve-se sempre
ter muito respeito com as apresentações dos perfis dos colegas!

Dos perfis aos sonhos

Agora que você já se apresentou aos colegas, chegou a hora de,


em roda, cada um contar qual é o seu maior sonho. Essa é uma dinâmi-
ca importante, pois é ela que disparará todas as atividades de elabora-
ção de projetos de vida daqui em diante. Por isso, como acabamos de
recomendar em relação à apresentação dos perfis biográficos, esse é
um momento de muito respeito! Deve-se ouvir com atenção e contri-
buir construtivamente para a discussão.

ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO Veja comentários


na Assessoria
Mural dos perfis e sonhos Pedagógica.

O professor vai organizar a montagem de um mural com os perfis


biográficos e os sonhos da turma. Para isso, você deve retomar o
perfil biográfico que escreveu e acrescentar um item: o seu maior
sonho. Será que no final do ano você ainda concordará com o per-
fil elaborado ou vai propor alterações? E o seu sonho, ainda será o
mesmo? Será que você terá avançado em direção à sua realização?
O que você acha? ➜
51
➜ Mãos à obra!
Para a montagem do mural, é importante escolher, com o professor
e os colegas, o melhor lugar para fixá-lo. O mural pode ser fixo, em
algum espaço importante da sala de aula ou da escola, ou móvel,
feito em papel kraft, por exemplo, para ser montado apenas quan-
do se for trabalhar com ele. Se houver recursos tecnológicos dis-
poníveis, pode ser um mural digital, em um blog ou site da escola,
com acesso público ou apenas concedido aos estudantes da turma
e ao professor. Se quiser, você pode colocar uma foto sua ou uma
imagem que o represente no perfil, como se fosse inseri-lo em uma
rede social. O mural deve ter três grandes linhas: na primeira, colo-
que o seu perfil pessoal, tarefa que será feita neste Módulo. O que
será feito em cada uma das outras duas linhas, você descobrirá nos
próximos módulos.

Primeira linha: Não Não Não


escreva escreva escreva
Perfil pessoal no livro no livro no livro

Segunda linha: Não Não Não


escreva escreva escreva
Módulo 2 no livro no livro no livro

Terceira linha: Não Não Não


escreva escreva escreva
Módulo 3 no livro no livro no livro

Veja comentários
na Assessoria
O que sei de mim?
Pedagógica.
Em um primeiro exercício de autoconhecimento, você ficou saben-
do o que é um perfil biográfico e elaborou o seu próprio perfil. Pensou
também nos diversos papéis sociais que desempenha, bem como nas
suas qualidades e no melhor modo de se apresentar para os outros. O
convite agora é para mergulhar mais profundamente no seu próprio eu.
Comece indagando a si mesmo:
1 Quem sou eu?
2 Do que eu gosto?
3 O que eu quero para minha vida?
Nesse sentido, a primeira coisa a ser feita é refletir sobre como você
se relaciona consigo mesmo e como se cuida. Isso envolve olhar para dois
aspectos fundamentais que o constituem: (1) o seu corpo; (2) a sua sub-
jetividade. O seu corpo é o limite do seu ser e também o modo pelo qual
52 O meu encontro comigo
você experimenta o mundo, com todas as suas dores e delícias. Já a sub-
jetividade refere-se ao território existencial de seu eu interior, ou seja, ao
espaço interno onde abriga os sentimentos e pensamentos mais íntimos e
profundos, que, muitas vezes, inclusive, não compartilha facilmente com as
pessoas.

Autoconhecimento

Para aprofundar o autoconhecimento, retome o perfil dos papéis


sociais que você assume em diferentes lugares e conte do que você
mais gosta de fazer quando está nesses lugares, e também do que
menos gosta. Este momento é reservado para refletir mais detida-
mente sobre a importância desses lugares em sua vida.

CRIS EICH
Roda de conversa

Após o exercício de autoconhecimento, o professor vai organizar


uma roda de conversa para que cada um compartilhe os gostos pes-
soais com os colegas. O objetivo é discutir, ao mesmo tempo, sobre
o que há de comum entre vocês e de singular em cada um. Nesse
momento, é importante respeitar os gostos e opiniões dos colegas e,
principalmente, refletir se você consegue ver coisas semelhantes às
suas, sentimentos ou modos de pensar, nas falas dos colegas. O que
há de comum entre vocês?

Tópicos para iniciar a discussão em grupo com toda a turma:


Não
escreva
1 Se você pudesse eleger apenas uma atividade como a que mais no livro

gosta de fazer em sua vida, qual seria? Por que você gosta mais
dessa atividade especificamente?
2 Em que lugar você se sente com maior liberdade? Por quê?
3 Qual lugar é considerado como o mais importante para o futuro?

Entre o público e o privado


O mundo é dividido em dois grandes cenários de atuação: o público
e o privado. No cenário público, estão as questões que podemos parti-
lhar e dividir com pessoas que não são tão próximas de nós. Por exem-
plo, realizar um abaixo-assinado para reivindicar melhorias no transpor-
te público do bairro é uma questão pública, pois se trata de algo que deve
ser compartilhado e que remete a uma questão política: a melhoria das
condições de vida no lugar onde vivemos.
53
No cenário privado, encontram-se as questões referentes à nos-
sa vida pessoal, como nossa casa, as relações familiares, os namoros,
ou seja, geralmente, são temas que não precisam ser expostos publi-
camente, para que nossa intimidade possa, assim, ser resguardada.
Nem tudo o que acontece conosco precisa ser dito a todos. Um diá-
rio, a princípio, diz respeito principalmente a esse mundo privado, das
coisas que não gostaríamos de revelar a todos, mas que, em alguns
momentos, precisamos colocar para fora, até para que possamos nos
entender. No entanto, com as redes sociais, as pessoas passaram a
construir diários on-line, nos quais expõem aspectos muito particu-
CRIS EICH

lares de sua vida pessoal, por meio de blogs, vídeos ou mesmo em


seus perfis nas redes sociais.
Você sabia que uma grande parte dos problemas que as pessoas
vivenciam no dia a dia são consequências do modo como entendem ou
não essa distinção entre o público e o privado? Por exemplo, uma pes-
soa que desrespeita um sinal de trânsito e comete um acidente faz isso
porque desconsidera que, no ambiente público, devemos respeitar as
regras de convivência, que valem para todos, para não prejudicar o pró-
ximo. Da mesma forma, os casos de corrupção política são o resultado
da recusa a compreender e seguir regras sociais que determinam que
alguns bens são públicos, pertencem a todos e, por isso, não devem ser-
vir a interesses particulares.

Autoconhecimento

1 O que você entendeu da distinção entre público e privado?


2 O que você acha dessa distinção? Você consegue percebê-la em
sua vida?
3 Quais problemas uma pessoa pode ter quando expõe questões de
sua vida pessoal?
4 Em um ambiente de trabalho, por exemplo, você está num espaço
Veja orientações
na Assessoria público ou privado? Como deveria se comportar?
Pedagógica.

Diário pessoal
O diário pessoal é um tipo de escrita autobiográfica, que pode ser de-
finido como uma narrativa ou escrita sobre si mesmo, ou seja, trata-se de
uma forma de se expressar e se descrever no mundo. Ao fazer isso, de al-
guma maneira você não está apenas dizendo quem é, mas também está
se conhecendo. Por isso, a escrita do diário é um exercício fundamental de
54 O meu encontro comigo
autoconhecimento. Para projetar o seu futuro, você precisa antes conhecer
bem suas condições no presente, quem você é e o que pode fazer hoje.
O diário pode ajudá-lo nesse empreendimento, pois se trata de uma
história ou romance no qual você desponta como personagem principal.
Por meio dele, você ensaia para exercer seu protagonismo na vida e no
mundo. Essa forma de escrita, aliás, sempre foi muito popular entre os jo-
vens, embora seu formato tenha se transformado ao longo do tempo. As-
sim, o diário, que antes era um espaço reservado e até mesmo escondido
de confidências e reflexões pessoais, com as novas tecnologias digitais
da informação e da comunicação transformou-se em um espaço no qual

CRIS EICH
se publicam as questões mais íntimas em busca de visibilidade.
Atualmente, as pessoas mais jovens costumam escrever seus diá-
rios em blogs ou mesmo em seus perfis e postagens de redes sociais.
Os blogs, aliás, já têm se transformado em vlogs (videoblogs), ou seja,
em diários audiovisuais, nos quais as experiências de vida são relatadas
para inserção em plataformas de vídeos.
O diário íntimo, fechado “a sete chaves”, funcionou durante
muito tempo como um ritual de passagem para os jovens, sim-
bolizando a entrada na adolescência, em especial para as me-
ninas. O término da adolescência era acompanhado, frequen-
temente, pelo desinteresse por esse tipo de prática. O caráter
transitório dessa escrita permite levantar a hipótese de que o
diário desempenhava uma importante função subjetiva nes-
se momento da vida.
Na contemporaneidade, a difusão da internet pos-

REGISSER/SHUTTERSTOCK
sibilitou que muitos adolescentes começassem a
escrever seus diários na rede, nos chamados
blogs, passando assim dos diários ínti-
mos às páginas on-line, que podem
ser acessadas livremente. Nesse es-
paço virtual, os jovens escrevem seu
perfil, poemas, pensamentos, letras
de músicas, fazem protestos, colocam fotos
e interagem com leitores que deixam seus comen-
tários em suas páginas. Os blogs de adolescentes multi-
plicam-se de maneira surpreendente no ciberespaço, mantendo
o seu lugar de destaque entre os jovens, apesar do surgimento de
várias redes sociais da internet. Seriam os blogs hoje os substitutos
dos diários íntimos? O que essa nova forma de escrita revela sobre ▲▲ O diário pessoal
diz respeito ao mundo privado.
o adolescente na contemporaneidade?
(LIMA, Nádia Laguárdia de. A escrita virtual na adolescência:
Uma leitura psicanalítica. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014.
p. 15-16.)

55
Autoconhecimento

Não 1 Alguma vez em sua vida você já escreveu ou pensou em escrever


escreva um diário ou algum texto, poesia ou letra de música que falasse de
no livro
sua vida e de seus sentimentos? Por quê?
2 Você acompanha algum blog, vlog ou canal de vídeos? Qual(is)?
3 Do que mais gosta neles e por quê?
4 Você tem ou já teve um blog ou vlog? Se não tem, gostaria de ter um?
5 Do que é preciso para ter um blog ou vlog?

Veja orientações 6 Quais são os cuidados necessários com o que dizemos publica-
na Assessoria mente sobre nós ou sobre nossos amigos nas redes sociais?
Pedagógica.

Ampliando o repertório

O diário na literatura
O diário é considerado uma vertente do que se convencionou chamar
de “literatura de introspecção”, ou seja, aquela que se volta para nossos
aspectos mais íntimos, em tom confessional ou subjetivo. Na literatura
brasileira, há dois célebres exemplos de diários que, ao seu modo, re-
fletem a vida pessoal de duas mulheres e, ao mesmo tempo, nos apre-
sentam as condições de vida da maioria das mulheres de sua época,
com todas as dificuldades e os preconceitos que tinham de enfrentar.
USP IMAGENS

Um deles é o livro Minha vida de menina, escrito por Helena Morley,


pseudônimo da brasileira Alice Dayrell Caldeira Brant. O livro traz os re-
latos pessoais da autora em sua adolescência, narrando sua vida na
cidade de Diamantina, em Minas Gerais, entre os anos de 1893 e 1895,
quando tinha entre 13 e 15 anos de idade. Ao retratar sua própria vida,
a jovem autora narra as transformações da cidade em que vivia, com
a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República, bem como
as alegrias, angústias e dificuldades de sua família. No livro, todas as
contradições e a desigualdade da sociedade brasileira despontam a
partir da descrição que Helena faz de sua própria vida. Em Minha vida
de menina, aprendemos que o diário, além de registrar os sentimen-
▲▲ A escritora mineira Helena
tos e pensamentos mais particulares, ampliando o autoconhecimen-
Morley. to, é também um importante instrumento para descrever as questões
sociais do lugar que habitamos. Demonstra-se, assim, que aquilo que
acontece à nossa volta tem profunda relação com nossa vida pessoal.

Terça-feira, 17 de abril
Hoje deu-se comigo uma coisa tão horrível que eu fiquei
triste o resto do dia.

56 O meu encontro comigo
➜ Todas as alunas da Escola já estão com o uniforme de fa-
zenda azul. Algumas demoraram a fazer mas todas já fizeram.
Foi a melhor invenção que eu já vi até hoje. Era muito difícil
para nós termos sempre o mesmo vestido pronto para a Es-
cola; umas andavam bem-vestidas, mostrando sua riqueza e
outras sua pobreza. Agora estamos todas iguais, graças a Deus.
Senhor Bispo, falando a uma colega do quarto ano que
gostou da ideia do uniforme na Escola e perguntando se era
bonito, ela prometeu levar lá algumas alunas para ele ver.
Como eu moro para baixo do Palácio, Maria Pena disse: “Não
deixe de me esperar na saída da Escola. Eu quero levar você e
outras que moram perto do Palácio para o Senhor Bispo ver os
uniformes”. Acabadas as aulas ela chamou umas alunas e fo-
mos para o Palácio. Chegando lá fomos logo subindo, eu escor-
reguei, rolei a escada um bom pedaço e meus livros se espalha-
ram. Eu me levantei, pus-me a ajuntar os livros e dei por falta
de minha geografia novinha. Fiquei tão triste de ter perdido
meu livro que Maria Pena teve uma ideia e disse: “Vou procu-
rar nos livros de todas; pode ser que alguma tenha apanhado
por engano”. Foi correndo os livros e o meu estava metido no
meio dos de V... Maria Pena tirou-o, entregou-me e ninguém
falou mais nada.
Estou boba até agora.
(MORLEY, Helena. Minha vida
de menina. São Paulo: Companhia de Bolso, 2016. p. 141.)
AUGUSTO RIEDEL/BIBLIOTECA NACIONAL

▲▲ Cidade de Diamantina, em Minas Gerais, onde se desenvolve a trama de


Minha vida de menina. Imagem do fim do século XIX.

Outro importante exemplo de diário na literatura brasileira foi escri-


to por Carolina Maria de Jesus, mulher negra, com pouca escolarida- ➜
57
➜ de e moradora da favela do Canindé, em São Paulo, onde enfrentava
grandes dificuldades. Carolina narra seu cotidiano em uma obra que se
tornou de referência, intitulada Quarto de despejo: Diário de uma fa-
velada. Quando foi lançado, em 1960, seu livro esgotou-se na primeira
semana, tamanho o sucesso. A partir daí, foram milhões de exempla-
res vendidos, traduzido para mais de 14 línguas e publicado em mais
de 40 países. No relato pessoal de Carolina de Jesus, além da extrema
desigualdade e injustiça social do país, outra questão vem à tona com
força: o racismo. Do mesmo modo como ocorre em Minha vida de me-
nina, a narrativa pessoal da autora não revela apenas sua vida, mas as
relações sociais de toda uma época e de nosso país de uma maneira
geral. Em um dos trechos do diário, ela conta:

23 de julho... Liguei o radio para ouvir o drama. Fiz o almoço


e deitei. Dormi uma hora e meia. Nem ouvi o final da peça. Mas,
PRESS

eu já conhecia a peça. Comecei a fazer o meu diario. De vez


/FOLHA

em quando parava para repreender os meus filhos. Bateram


na porta. Mandei o João José abrir e mandar entrar. Era o Seu
HOR A

João. Perguntou-me onde encontrar folhas de batatas para


ULTIMA

sua filha buchechar um dente. Eu disse que na Portuguesi-


nha era possível encontrar. Quiz saber o que eu escrevia. Eu
disse ser o meu diario.
– Nunca vi uma preta gostar tanto de livros como
você.
Todos tem um ideal. O meu é gostar de ler. O Seu João
deu cinquenta centavos para cada menino. Quando ele
me conheceu eu tinha só dois meninos.
Ninguem tem me aborrecido. Graças a Deus.
(JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: Diário de uma favelada.
São Paulo: Ática, 2007. p. 25-26.)
▲▲ A escritora
Carolina Maria de Jesus. MAIS SOBRE ➜ Literatura. Poética da diáspora. Pesquisa Fapesp. Dispo-
nível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2015/06/24/poetica-da-
-diaspora/. Acesso em: 14 nov. 2019.

Com base na leitura desses relatos, leia e responda às perguntas


a seguir.
1 O que você achou dos dois trechos dos famosos diários de Helena
Morley e Carolina Maria de Jesus?
Não
escreva 2 Quais aspectos da vida delas são possíveis de se apreender ape-
no livro nas com a leitura dessas duas passagens curtas?
3 Em que cenário cada uma delas está?
Veja orientações 4 O que cada uma delas descreve, efetivamente?
na Assessoria
Pedagógica. 5 Por que será que elas resolveram escrever seus diários?

58 O meu encontro comigo


Roda de conversa

RAWPIXEL.COM/SHUTTERSTOCK
No diário de Helena Morley, ela cita o momento em que a escola
onde estudava começou a adotar uniformes. E ela gostou da mudan-
ça, pois não precisava mais se preocupar com as roupas que usaria
para ir à escola.
Leia e converse com seus colegas.
1 O que você acha disso? Na sua escola há uniforme? O que você
pensa a respeito?
2 O que o uniforme nos diz sobre papéis sociais? ▲▲ Jovens estudantes uniformizados.

O diário e sua subjetividade


Pelo que vimos até aqui, os diários apresentam nossa experiência
subjetiva, ou seja, eles falam de nosso modo de ser e de estar no mun-
do, que é, ao mesmo tempo, individual e compartilhado com outras pes-
soas. Conforme Paula Sibilia (2004), nossa experiência subjetiva, nosso
modo de ser e estar no mundo, pode ser pensada sob três dimensões:

1. Nível singular
Diz respeito a como cada indivíduo traça a sua própria trajetória bio-
gráfica. Nos dois exemplos apresentados, estamos tratando de como
duas mulheres, Carolina Maria de Jesus e Helena Morley, ao escreverem
seus relatos, tornaram-se pessoas únicas.

2. Nível particular
Diz respeito a características que são comuns a um grupo especí-
fico de pessoas, mas não a todas. Por exemplo, quando Carolina Maria
de Jesus reflete sobre suas condições de vida na favela do Canindé, ela
também está explicitando diferentes aspectos que são vividos por mui-
tos de seus vizinhos. Quando Helena Morley fala da vida na cidade de
Diamantina, no final do século XIX, ela também nos relata questões que
certamente foram vivenciadas por outras pessoas desse mesmo lugar
e período histórico.

3. Nível universal
Embora haja coisas que compartilhamos somente com um grupo
menor de pessoas, seja na escola, no bairro ou na cidade, há determi-
nadas características que partilhamos com todos os seres humanos do
mundo, pois são universais. Embora as motivações possam ser diferen-
tes e variar culturalmente, todos os seres humanos sorriem, choram,
sentem medo ou raiva em determinadas situações específicas, confor-
me as regras de sua própria sociedade.

59
Autoconhecimento

Veja orientações O meu diário


na Assessoria
Pedagógica.
O convite agora é para que você escreva um diário pessoal. Antes,
reflita sobre o que você gostaria de escrever nele. Sobre quais ques-
tões de sua vida pessoal seria mais importante falar? Pense a respeito
e anote em seu caderno.

ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO

Orientações para a elaboração de um diário pessoal


Com base nos três níveis de formação de nossa subjetividade e de sua
apresentação no mundo, pode-se afirmar que a escrita de um diário
pessoal trata não só das questões particulares de quem o escreve, mas
CRIS EICH

também dos temas que definem o grupo social ao qual pertence seu
autor, bem como dos dilemas que dizem respeito a toda a humanidade.
Neste exato momento, por exemplo, é possível que outros jovens em
Veja orientações diferentes partes do mundo tenham preocupações muito parecidas com
na Assessoria as suas a respeito do processo de amadurecimento.
Pedagógica.
A proposta agora é que você desenvolva um diário durante um
período determinado pelo seu professor. O diário pode ser ge-
ral, como são os de Carolina Maria de Jesus e Helena Morley, mas
também pode ser temático, em que você elege um aspecto de sua
vida pessoal que considera mais relevante para ser discutido. Por
exemplo, seu diário pode enfocar sua vida cotidiana na escola ou
com os amigos. Cabe a você escolher, porém, lembre-se de que,
por se tratar de um diário escrito para uma atividade escolar, você
o compartilhará com o professor e os colegas.

Independentemente do foco que você escolher, tente seguir o roteiro


dos três níveis de constituição da subjetividade propostos por Paula
Sibilia. Ou seja, pense em como descrever determinados aspectos
cotidianos de sua vida, refletindo sobre como você se sente e/ou se
vê no mundo de uma forma singular e única, mas, ao mesmo tem-
po, inserido num contexto particular, que pode ser sua família, sua
cidade, seu bairro, sua escola etc., com sentimentos que podem ser
universais. De acordo com o que costuma observar na internet e nas
redes sociais, reflita sobre como suas experiências dialogariam com
as de outros jovens no mundo. Em sua opinião, o que sua vida teria
em comum, por exemplo, com a de um jovem de sua idade que vive
em outro país e/ou continente?

Apresentamos a seguir um roteiro de aspectos importantes de


subjetividade que podem constar no diário: ➜
60 O meu encontro comigo
➜ 1 Como você se relaciona com seus diferentes afetos/sentimentos?
Não
2 O que costuma deixar você triste ou alegre em seu dia a dia? escreva
no livro
3 Como você se relaciona com o seu corpo? Quais os cuidados que
tem com ele?
4 Qual é o seu estilo? Você acha que seu estilo se assemelha ao de
outros jovens?
5 De quais tipos de música você mais gosta?
6 Como você reflete sobre o futuro em seu cotidiano?
7 Quais são seus sonhos nos campos familiar, afetivo, profissional,
pessoal etc.?
8 Quem ou o que pode ajudar na realização de seus sonhos?
9 O que poderia impedir a realização de seus sonhos?
10 O que você pretende fazer para conseguir realizar seu maior
sonho?
11 Como você acha que seus sonhos dialogam com os sonhos dos
outros jovens que conhece?

Veja orientações
Roda de conversa na Assessoria
Pedagógica.

Após a vivência de registro de seu dia a dia no diário pessoal, como


um processo de autoconhecimento e de lançamento das bases para o
seu projeto de vida, escolha algum ponto que considera importante e pos-
sível de tornar público para compartilhar com a turma. Lembre-se da dis-
cussão que fizemos sobre a distinção entre o público e o privado. A ideia
é que, ao descrever aos colegas algo relevante de seu cotidiano, dos seus
hábitos e gostos ou de seus sonhos, você explique por que esse ponto é
importante e por que escolheu falar a respeito dele com os colegas.

Veja orientações
Protagonismo juvenil na Assessoria
Pedagógica.

Ao escrever um diário, de alguma forma, você se torna protago-


nista de uma história muito importante. No caso, a sua. O protagonis-
ta é aquele que toma a frente de um processo, realiza suas atividades
de maneira autônoma ou que se organiza para buscar seus sonhos.
CRIS EICH

O protagonista define os aspectos fundamentais de sua própria vida,


ou seja, ele tem autonomia para tomar a frente das decisões que
poderão afetar sua vida para sempre. Desenvolver um protagonis-
mo em qualquer âmbito da vida implica sempre ter também grande
responsabilidade sobre as escolhas que se fazem e os atos que se
realizam.
61
Protagonismo juvenil, portanto, diz respeito ao modo como os jo-

MONKEY BUSINESS IMAGES/SHUTTERSTOCK


vens conseguem estar à frente dos processos que definirão a sua vida.
Se a juventude é o momento em que nos preparamos para assumir pa-
péis próprios da vida adulta, você, jovem, quer ter o direito de participar
desse processo. Na escola, por exemplo, o protagonismo juvenil reve-
la-se em atividades das quais você participa ativamente, apresentando
suas criações, propondo novos caminhos, refletindo sobre o processo
de construção de seu conhecimento e avaliando a sua própria parti-
cipação nas atividades de ensino. Na comunidade em que vivemos, o
▲▲ O ambiente escolar é extremamente
propício para você praticar o seu prota- protagonismo é exercido quando participamos de questões que podem
gonista juvenil. mudar nossa vida e a de nossos amigos, familiares e vizinhos. Há muitos
exemplos de jovens que se engajam em projetos de transformação de
seu bairro ou de sua escola. E você, como exerce o seu protagonismo?

Autoconhecimento

No diário, você se colocou como o centro de uma história muito


especial, a da sua vida. Nele você relatou as marcas do passado que
o fizeram ser quem você é no presente, mas também apontou, ou ao
menos esboçou, seus anseios e expectativas para o futuro.
Agora, leia e responda às perguntas a seguir.
Não
escreva 1 Você se considera um protagonista?
no livro
2 Em quais atividades você desempenha ou poderia desempenhar
maior protagonismo?
3 Por que é importante ser protagonista nos meios em que você atua?

Sonhos: entre
imaginação e fantasia
Os sonhos estão diretamente ligados à nossa capacidade de ima-
ginação. Toda vez que imaginamos algo, de certa maneira, estamos
atribuindo a isso algum sentido de realidade. Contudo, devemos tomar
muito cuidado para não nos perdermos em uma fantasia que tem pouca
conexão com a realidade.
Seus sonhos podem ou não se realizar de fato. Em alguns casos,
eles podem efetivar-se parcialmente. Em outros, o sonho pode ser
algo muito distante da realidade e, por isso, provavelmente não toma-
rá nenhuma forma concreta, ainda que parcialmente. Ou seja, nada do
que sonhamos se realiza ou chega perto disso. Quando isso acontece,
quando você não consegue materializar aquilo que deseja e não pen-
62 O meu encontro comigo
sa em alternativas, não elabora, portanto, um “plano B”, pode-se dizer
que esse sonho constituiu-se como uma fantasia. Ou seja, como algo
irrealista e voltado apenas para você mesmo, sem estabelecer possi-
bilidades de diálogo com o mundo e com as outras pessoas à sua volta.
Agora, quando o sonho consegue se realizar, ainda que parcialmente e
não de uma única vez, mas em etapas a serem conquistadas, ou quando
esse sonho pode ser reavaliado e transformado, pode-se dizer que ele
se tornou um projeto de vida.

Roda de conversa

Discuta livremente com seus colegas sobre as seguintes questões,


que já foram trabalhadas em seu diário pessoal:

1 Quais são seus sonhos?


2 Como fazer para que esses sonhos não se tornem uma fantasia?
Ou seja, como torná-los realidade? Quais as dificuldades que você
espera encontrar?
3 Como você gostaria de estar daqui a dez anos? O que gostaria de
estar fazendo?
4 Quem poderia ajudá-lo a realizar seus sonhos?

O seu projeto de vida


Até agora, você refletiu sobre a importância de se autoconhecer,
mas também acabou de descobrir que, se mantiver o foco somente
em si mesmo, sem analisar o mundo à sua volta, não conseguirá traçar
um projeto de vida realista e realizável. Por que será que isso acontece?
Porque não vivemos isolados em uma bolha e precisamos das outras
pessoas e das coisas do mundo para nos constituirmos como pessoas e
para realizarmos nossos sonhos.
Essa discussão será aprofundada no próximo módulo, mas, antes
disso, reflita um pouco mais sobre a sua própria trajetória, a fim de pen-
sar em seu projeto de vida. Para isso, propomos a atividade a seguir.

Qual é o seu projeto de vida?


Agora que você sabe o que é uma biografia e já exercitou o au-
toconhecimento por meio da escrita de um diário e da reflexão sobre
os muitos papéis sociais que representa e as emoções que vivencia,
dependendo do contexto, convidamos você a iniciar um processo de
análise mais profunda e de organização para a construção de um pro-
63
jeto de vida que lhe permita ir em busca de seus sonhos. Nesse pri-
meiro momento, propomos que você eleja três metas pessoais para
alcançar seus sonhos. Ou seja, o que você, por conta própria, deveria
realizar, ou ao menos se preparar, para começar a trilhar o caminho
em busca de seus sonhos. Pode ser um comportamento que você
queira mudar, um aprendizado que queira ampliar ou algo que queira
conquistar. Deve ser, portanto, um sonho importante, que precisa ser
planejado em etapas.
Comece a pensar em quais são os seus objetivos de curto, médio e
longo prazo para seu projeto de vida. Antes, porém, vamos aprender qual
é a estrutura e como se elabora e executa um projeto de vida.
Conforme você já aprendeu quando estudamos como se escreve
um projeto científico, um projeto de vida deve ser desenvolvido em eta-
pas. A seguir, apresentamos algumas etapas que devem ser estabele-
cidas para a formulação de um projeto de vida, inspiradas no livro Antro-
pologia do projeto, do francês Jean-Pierre Boutinet (2002).

Veja orientações As etapas de elaboração de um projeto de vida


na Assessoria
Pedagógica. 1.a etapa: A definição do sonho ou conquista
O que você quer conquistar para sua vida.

2.a etapa: Os objetivos


O que se tem de alcançar para realizar o sonho a:
•• curto prazo;
•• médio prazo;
•• longo prazo.
3.a etapa: A análise do contexto e do campo de possibilidades
Nessa etapa inicial de elaboração do projeto, é preciso refletir so-
bre a posição da qual se fala e investigar quais são as possibilidades para
a realização dos objetivos que se quer alcançar. Em cada contexto, um
tipo de projeto diferente será necessário. Não há um projeto único e defi-
nitivo. Assim, é preciso, antes de qualquer coisa, refletir muito bem sobre
aonde se quer chegar, para, só então, começar a esboçar a elaboração
do projeto. Esse é o momento de pensar na hipótese de que tudo pode
dar certo, mas também podem ocorrer alguns problemas. Por isso, in-
sistimos na importância de analisar as reais condições e já estabelecer
um plano B ou até mesmo um plano C para o projeto de vida.

4.a etapa: Ajuste entre o sonho e o campo de possibilidades


Mapeados o contexto e o campo de possibilidades para a realização
do projeto, esse é o momento de pensar se os seus sonhos cabem no
64 O meu encontro comigo
seu ponto de partida atual, se não é o caso de diminuir expectativas ou
adaptar o projeto a condições mais realistas.
Um projeto de sucesso precisa proporcionar aberturas para que se
possa agir com resiliência, com a capacidade necessária de saber lidar
com as novas condições que vão se impondo ao longo do percurso para
a realização dos objetivos almejados.
Assim, além do ajuste inicial entre os sonhos e o campo de possibi-
lidades, é fundamental que se esteja aberto e preparado para possíveis
mudanças e adaptações. Em alguns momentos, as condições podem
até melhorar e haver uma ampliação das expectativas ou dos horizon-
tes de realização dos sonhos.
Na maioria dos casos, entretanto, o que surgem são limitações e
problemas inicialmente inesperados. Pense a respeito do que pode sur-
gir para ajudar ou atrapalhar o seu projeto.
Escreva o que seria preciso ajustar, ou talvez seja necessário adiar
o sonho parcialmente ou mesmo, em muitos casos, colocar em prática
o plano B ou, se preciso, até o plano C. Descreva também, ainda que de
forma inicial, quais seriam os seus planos B ou C. Acerta-se aqui, portan-
to, um projeto possível, mas coerente com os objetivos que se querem
e se podem alcançar. Definem-se, assim, as condições para a sua efeti-
vação e descreve-se o que talvez seja preciso ajustar. Tudo isso, é bom
lembrar, para a fase de planejamento do projeto.
CRIS EICH

65
5.a etapa: A estratégia
Esse é o momento em que se define como serão alcançados os
objetivos. Em um modelo de projeto científico, essa seria a metodolo-
gia. Aqui se determinam quais serão os procedimentos adotados para
alcançar os objetivos estabelecidos para a realização dos sonhos pos-
síveis. Nesta parte do projeto, traçamos também as estratégias para
superar possíveis obstáculos à realização de nossos sonhos. Em outras
palavras, afirma-se o que é preciso fazer de fato para chegar ao resul-
tado almejado.
Agora, em seu caderno, siga as três etapas mínimas previstas para a
elaboração de um projeto de vida pessoal e trace três objetivos, pensan-
do em termos de curto, médio e longo prazo. Lembre-se de que se trata
apenas de um exercício, por enquanto.

Apenas um breve exemplo


Um projeto pessoal pode ter como definição o objetivo geral de me-
lhorar o próprio desempenho escolar. Para tentar alcançá-lo, você pre-
cisaria definir o que tem de mudar em seu comportamento.
•• A curto prazo: passar menos tempo nas redes sociais e dedicar-se
mais aos estudos e às tarefas que os professores solicitam.
•• A médio prazo: estudar mais para as provas e dedicar-se mais para
a realização das avaliações que são solicitadas.
•• A longo prazo: organizar-se para leituras e estudos complementa-
res das diferentes matérias escolares.
Agora, tente encaixar esses três objetivos nas etapas seguintes de
elaboração do projeto:
1 Qual o contexto e meu campo de possibilidades para cada um
Competências gerais desses objetivos?
6, 7 e 8
2 O que talvez eu precise ajustar caso não consiga cumpri-los ple-
Competências específicas
namente?
2 (Linguagens e suas
Tecnologias) 3 Qual estratégia devo elaborar para alcançar esses objetivos?
6 (Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas) (Estipular um horário para acesso às redes sociais e um horário
Habilidades para os estudos, por exemplo.)
EM13LGG204
EM13CHS606
O projeto que apresentamos é apenas uma amostra para que você
tenha ideia de como seguir os passos para a elaboração do seu próprio
projeto. O objetivo aqui, na verdade, é que você escreva um projeto to-
talmente seu, que diga respeito a algum grande sonho que tem na vida.
Com isso, você conseguirá, ao mesmo tempo, conhecer-se melhor e or-
ganizar-se para o futuro. Mãos à obra!
66 O meu encontro comigo
Roda de conversa

Em uma roda de conversa, cada um da turma vai dizer qual é o seu


sonho e como pensou o seu projeto de vida para a realização dele.

Veja orientações

Vivência de transição
na Assessoria
Pedagógica.

Neste livro, o trabalho com seu projeto de vida está dividido em três
módulos. Ao final de cada módulo, está proposta uma vivência coletiva,
em que deverá ser apresentado à escola o que foi aprendido e produzido
naquele módulo, como preparação para a próxima etapa. A ideia é reunir
todas as turmas da escola que trabalharam a temática do projeto de vida
em um evento com:
•• exposição da primeira versão do mural dos perfis e sonhos;
•• relatos do que se aprendeu sobre projeto de vida;
•• depoimentos sobre a importância de sua criação.
A vivência de fechamento de um módulo e de transição para o outro
também deve ser um momento importante para uma primeira reflexão
sobre como a escola dialoga com o projeto de vida de cada estudante,
pensando principalmente nestas quatro questões:
1 Do que eu gosto e o que aproveito na escola?
2 O que falta ou o que deveria ter na escola, na minha opinião?
3 O que eu deixo a desejar em minha participação nas atividades
escolares?
4 O que posso fazer para melhorar?
Para a vivência deste Módulo 1, a proposta é que você discuta com
Competências gerais
seus colegas como as questões pessoais de seus projetos de vida dia- 6, 7 e 10
logam com a escola. A ideia é realizar um grande levantamento para Competências específicas
refletir sobre quais são as questões pessoais mais fundamentais com 1 (Linguagens e suas
Tecnologias)
as quais a escola pode interagir para fortalecer o projeto de cada um de 6 (Ciências Humanas e
vocês. O professor vai organizá-los em grupos a fim de apresentar, em Sociais Aplicadas)
slides ou outro formato que considerarem mais adequado, as discus- Habilidades
sões coletivas realizadas em sala de aula. Para essa primeira vivência de EM13LGG104
EM13CHS606
transição, a proposta é de uma atividade coletiva envolvendo apenas a
comunidade escolar, incluindo a participação de seus familiares.

67
Avaliação do Módulo 1
Após a vivência de transição, faça uma avaliação final deste módulo,
anotando em seu caderno:

Não 1 Como me senti neste módulo de discussão sobre o projeto de


escreva
no livro vida?
2 Quais foram os novos aprendizados?
3 Como foi a minha participação nas atividades propostas?
4 Consegui expressar bem minhas ideias e meus pontos de vista?
5 Este módulo colaborou para o meu autoconhecimento e para um
maior reconhecimento de minhas emoções e das emoções dos
colegas?
6 Eu me sinto mais seguro para pensar o meu projeto de vida?
7 O que foi mais desafiador até aqui?
Se julgar necessário, acrescente outras observações.

Roda de conversa

Para finalizar este módulo, reúna-se com os colegas em uma roda


de conversa e discutam o que acharam deste módulo e da vivência de
transição com base nas anotações individuais de cada um.

CRIS EICH

68 O meu encontro comigo


2
O meu

Módulo
encontro
com os Veja orientações

outros
na Assessoria
Pedagógica.

“em mim
eu vejo o outro
e outro As referências bibliográficas
completas encontram-se

e outro no fim do volume.

enfim dezenas...”

CRIS EICH
(Paulo Leminski, Toda poesia)
contranarciso

em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas
o outro
que há em mim
é você
você
e você
assim como
eu estou em você
CRIS EICH

eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós
(Paulo Leminski, Toda poesia)
CRIS EICH

70 O meu encontro com os outros


Roda de conversa

O professor vai organizar uma leitura coletiva do poema “contranar-


ciso”, de Paulo Leminski.

1 O que você entendeu da leitura do poema?


2 Começando pelo título, o que será que o poeta quis dizer com “con-
tranarciso”?
3 Você sabe quem foi Narciso?
4 Como Leminski entende a relação do eu com os outros?
No Módulo 1, você refletiu sobre a importância do autoconhe-
cimento para que cada um possa descobrir suas potencialidades e
fragilidades, a fim de melhor trabalhá-las na relação consigo mesmo.
Porém, será que conseguimos viver sozinhos ou existir isolados no
mundo? O que a poesia de Paulo Leminski nos ajuda a compreender
sobre isso?
Com base nessa discussão, o que você acha que será abordado
neste Módulo 2, intitulado O meu encontro com os outros?

Conhecendo o outro,
conhecendo-se melhor
O autoconhecimento é importante, mas também é fundamental sa-
ber sair do mundo fechado em si mesmo para estabelecer relação com
os outros, não necessariamente concordando e aceitando tudo que lhe
for apresentado, mas aprendendo a respeitar as diferenças, sejam elas
de opinião, de crença ou de comportamento.
Considerar apenas as suas próprias questões como as únicas do
mundo ou como as mais corretas, bem como agir desconsiderando o
que as outras pessoas vão pensar ou mesmo se você poderia prejudi-
cá-las é o que se caracterizaria como um comportamento narcisista. O
poema de Leminski apresenta a importância de superar essa postura,
pois, só assim, segundo ele, se encontra a paz.

71
Autoconhecimento

Como você encontra a paz na interação com as outras pessoas?


Você acha que há certos comportamentos no mundo atual que podem
nos levar a uma postura narcisista ou egoísta diante dos outros? Quais
seriam essas posturas? Se você não tem tempo para os outros ou não
se preocupa com eles, como espera que os outros tenham tempo para
você ou se preocupem com suas questões e seus projetos? Você con-
sidera que as relações sociais na atualidade permitem às pessoas que
se conheçam em profundidade? Observe a imagem a seguir, um gra-
fite do artista inglês Banksy, e reflita sobre isso. Depois, sob a orienta-
ção do professor, compartilhe as suas reflexões com a turma.

COURTESY OF PEST CONTROL OFFICE, BANKSY, MOBILE LOVERS, BRISTOL, 2014.


▲▲ Grafite de Bansky localizado em Londres, Inglaterra.

A importância de levar os outros em


consideração
Se você não atentar para o que os outros pensam, sentem, fazem
ou desejam, a fim de conhecer e respeitar essas diferenças, não con-
seguirá perceber quais são os limites para a sua ação no mundo. Adotar
uma postura egoísta dificulta a compreensão de qual é o seu real campo
de possibilidades e pode, portanto, levar você a incorrer em ilusões, fi-
cando sem condições de formular um projeto de vida coerente e efetivo.
Esse também é um princípio básico para que você possa exigir os seus
direitos. Se você quer ter seus sonhos e sentimentos respeitados, tam-
bém precisa saber respeitar o que as outras pessoas sonham ou sen-
tem, mesmo que o façam de maneira muito diferente da sua.
72 O meu encontro com os outros
Ampliando o repertório
Alteridade
O narcisista “não consegue perceber o outro em sua alteridade e reco- Capacidade de compreen-
nhecer essa alteridade. Ele só encontra significação ali onde consegue der as diferenças dos outros
reconhecer de algum modo a si mesmo. Vagueia aleatoriamente nas pelo contraste que ressalta
sombras de si mesmo até que se afoga em si mesmo”. (HAN, Byung- a sua identidade. Ou seja,
-Chul. A agonia do Eros. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017. p. 10.) trata-se de, ao olhar para
os outros, perceber o que
1 O que você pode apreender da citação do filósofo coreano Byung-
há de particular neles e em
-Chul Han?
você.
2 O que isso lhe diz sobre o modo como deve se relacionar consigo
mesmo e com os muitos outros que encontra ao longo de sua tra-
jetória de vida? Não
escreva
3 Esses outros podem ser mais próximos ou mais distantes? no livro

ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO

Agora vamos refletir em conjunto sobre a importância das outras


pessoas em nossas vidas.

1 Em um pedaço de papel, anote o que acha que há em você que foi


inspirado por sua convivência com outra pessoa ou admiração por
ela (pode ser um comportamento, um gosto pessoal, um jeito de
falar, um conhecimento transmitido por ela, entre muitas outras
possibilidades). Não é para anotar quem foi a pessoa que o ins-
pirou ou motivou, apenas o que passou a fazer ou aprendeu por
causa dessa pessoa.
2 Depois que todos tiverem feito suas anotações, dobre o papel e
insira-o numa caixa ou sacola plástica.
3 Por fim, em roda, como em uma brincadeira de amigo oculto, cada
um de vocês retirará um papel; caso pegue o seu próprio, deve
devolver e retirar outro.
4 Escolham quem iniciará a atividade, lendo o que foi escrito para
a turma. A seguir, cada um dirá o que pensa a respeito do que foi
relatado, como vê isso em sua própria vida e quem considera que
pode ter inspirado aquele colega oculto.
5 Após a discussão, o colega que escreveu a anotação revela-se
e diz por que descreveu aquele aspecto, quem é a pessoa que o
inspirou e por quê. Então será a vez dele de sortear um novo papel,
CRIS EICH

e assim, sucessivamente, a atividade prossegue.

73
Os meus sonhos em relação aos dos outros
No Módulo 1, você refletiu sobre o seu projeto de vida pessoal. Ago-
ra é o momento de pensar como o projeto que você elaborou é afetado
pelas pessoas que estão ao seu redor, as que são mais próximas e as
mais distantes. Embora você tenha formulado um projeto pessoal pau-
tando-se principalmente em suas próprias perspectivas e sonhos, você
sabe que não é possível efetivar um projeto ou alcançar um sonho des-
considerando as outras pessoas do lugar em que vive ou do mundo de
maneira geral.

Os papéis sociais das outras pessoas


Até aqui, você viu que desempenha um papel social diferente em
cada um dos ambientes que frequenta e dependendo do grupo social
em que esteja. Ou seja, você age conforme as regras de convívio es-
tabelecidas. Agora é o momento de retomar os lugares sobre os quais
você refletiu no Módulo 1, considerando o modo de se portar no papel
social exigido em cada um deles. Desta vez, você deve pensar em quem
são as outras pessoas que frequentam esses lugares, de que modo elas
se portam e quais são os papéis sociais exercidos por elas. Quais são os
comportamentos esperados de cada uma delas?
Por exemplo, na escola, qual é o papel social esperado do professor,
do diretor ou dos colegas de turma? Em um shopping center, qual é o
papel dos seguranças, dos atendentes de lanchonete e dos vendedo-
res? Você já reparou que, geralmente, os vendedores estão sempre sor-
rindo? Por que será? A ideia é elaborar uma reflexão sobre as pessoas
com as quais interagimos cotidianamente.
Retome os lugares sobre os quais você refletiu no Módulo 1 – esco-
la, casa, rua onde mora, festas, redes sociais, shopping center e outros
três lugares de sua escolha – e descreva em seu caderno as pessoas
que encontra nesses lugares e seus papéis sociais.
CRIS EICH

1 Quem são essas pessoas?


2 O que costumam fazer nesses lugares?
3 Como você vê essas pessoas em seus diferentes papéis nesses
espaços?
Não
4 O que sabe sobre elas? escreva
no livro
5 Você costuma compreendê-las e respeitá-las?

74 O meu encontro com os outros


Afinal, quem são os outros?
Muitas pessoas exercem um papel fundamental em sua vida, e você
só é quem você é porque elas o influenciam ou porque você avalia o que
ou quem seria interessante seguir. Às vezes, você também se afasta de
alguém que não considera que seja exemplar ou confiável. Essas pes-
soas podem ser mais próximas ou mais distantes de você. Assim, somos
o resultado de nossas múltiplas relações e das avaliações que fazemos
de como elas são ou não importantes para nós. Definimos nossa identi-
dade tanto pelo que admiramos nos outros e, portanto, queremos seguir
ou fazer parecido, quanto pelo que não concordamos e desejamos nos
afastar ou fazer exatamente o oposto. Em outras palavras, somos o que
somos por complementação ou contraste ao que as pessoas à nossa
volta são, fazem ou pelo modo como elas nos afetam.
RAWPIXEL.COM/SHUTTERSTOCK

  As nossas múltiplas relações com


o outro ajudam a nos definir como
seres humanos.

Parece complicado? Mas não é, não! Para simplificar, o que que-


remos dizer aqui é que nossas relações sociais são marcadas por um
constante movimento de aproximação e afastamento de outras pes-
soas e grupos sociais. Como estabelecemos inúmeras relações sociais
ao longo de nossa vida, e essas vão se modificando no tempo e no es-
paço, nossa identidade está em constante transformação por meio das
muitas interações que temos com outras pessoas, outros lugares, outras
práticas e outros conhecimentos em nossas vidas. Em outras palavras,
nosso modo de ser e estar no mundo está em constante transformação;
75
mudam nossas opiniões, nosso modo de vestir e até as pessoas com
CIA DAS LETRAS
quem mais gostamos de estar juntos. Como já dizia Heráclito, um antigo
filósofo grego, nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio, pois as
águas que fluem ali não são as mesmas de quinze minutos atrás e nem a
pessoa que entrará nas águas será a mesma, pois ela também já se terá
modificado. Assim é com a vida, que está em constante transformação.
“O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pes-
soas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas –
mas que elas vão sempre mudando.”
(ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas.)
▲▲ Capa da obra Grande
sertão: veredas, clássico E com você, o que acha que mudou desde quando era criança?
da literatura nacional.

Autoconhecimento

Eu com as outras pessoas


Você já viu que o seu comportamento e o das outras pessoas to-
mam formas diferentes de acordo com o lugar em que estão e com as
regras estabelecidas. Reflita agora sobre como o seu comportamento
muda de acordo com as pessoas com quem você está se relacionando
em determinados momentos.
1 Como você é com cada uma dessas pessoas ou grupos sociais?
Não
escreva 2 Como você costuma se comportar em cada ocasião em que as en-
no livro
contra?
3 Com quem você conversa de maneira mais informal?
4 Com quem você se relaciona de forma mais respeitosa?
5 Com quem você dá mais risadas?
6 Com quem você aprende mais?
Responda a essas perguntas refletindo sobre o seu comporta-
mento nos seguintes ambientes:
• Com os amigos da rua
• Com os amigos da escola
• Com a família (Diferenciar como é com cada um dos familiares:
os pais, os avós, os irmãos, os tios, os primos etc.)
• Com os vizinhos
• Com os professores
• Com a direção da escola
• Com pessoas desconhecidas na rua ou no ônibus
• Com as pessoas que não conhece pessoalmente nas redes
sociais

76 O meu encontro com os outros
➜ Depois de pensar sobre os comportamentos diferentes que você
adota com todas essas pessoas, reflita sobre as seguintes questões:
1 O que sei sobre essas pessoas?
Não
2 Elas me respeitam e/ou eu sou capaz de respeitá-las? escreva
no livro
3 Elas são importantes para os meus propósitos e meu projeto de vida?

Roda de conversa

O professor vai organizar uma roda de conversa para discutir so-


bre o nosso comportamento na relação com os nossos amigos e co-
nhecidos nas redes sociais, de que forma nos portamos em nossas
interações on-line.
1 O que muda quando a interação é presencial e quando é mediada
pelas redes sociais ou aplicativos de envio de mensagens?
2 Sua postura é diferente? O que muda no seu corpo?
3 Você diz coisas que não diria pessoalmente?
4 Há questões específicas que você só consegue dizer pessoal-
mente, e não por meio das redes sociais ou aplicativos de co-
municação?
5 Você considera que as redes sociais e aplicativos de trocas de
mensagens facilitam ou atrapalham a comunicação? Por quê?
6 Você já foi mal interpretado quando enviou uma mensagem a
alguém?
7 Você costuma enviar emojis? O que acha deles? Eles refletem o
seu verdadeiro sentimento ou reação quando você os envia?
CRIS EICH

77
Autoconhecimento

As influências em sua vida


Quem são as pessoas que influenciam sua vida? Como elas in-
fluenciam o seu comportamento e suas opiniões? Para essa reflexão,
considere:
• os familiares;
• os amigos;
• os ídolos ou pessoas famosas que você costuma seguir
nas redes sociais;
• outras pessoas que você considera que influenciam a sua
vida e por quê.

Meu corpo em interação com o mundo


Nosso corpo está em relação intrínseca com nossa alma. Por isso,
entender o nosso eu é compreender que as coisas do mundo trazem
implicações para o nosso bem-estar físico ao afetarem nossa alma, as-
sim como tudo que marca nosso corpo deixará marcas em nossa alma.
Um dos grandes problemas contemporâneos está no fato de que muitas
pessoas investem apenas em um desses aspectos de sua vida. Algu-
mas se dedicam apenas à sua aparência e bem-estar corporal, esque-
cendo-se do bem-estar mental e da importância das atividades inte-
lectuais. Outras se aprofundam intelectualmente em vários assuntos,
desenvolvem muitos aprendizados, mas se esquecem de cuidar do cor-
po e da saúde física.
CRIS EICH

CRIS EICH

78 O meu encontro com os outros


Por isso, o fundamental é que você saiba equilibrar o cuidado consi-
go mesmo, atentando para aspectos exteriores e interiores, para o seu
corpo e a sua alma, o seu eu interior, com seu intelecto e sentimentos,
porque ambos estão interligados e, quando você cuida melhor de um,
interfere diretamente no outro! Por isso, muitas das coisas que você
pensa ou sente costumam refletir-se em seu corpo, da mesma forma
que a sua saúde física interfere em sua saúde mental.

Ampliando o repertório

“De acordo com Espinosa, quando um corpo encontra ou-


tro, e este se compõe com o nosso, ou quando uma ideia se
encontra com nossa alma e com ela se compõe, sentimos ale-
gria. Inversamente, quando um corpo ou ideia ameaça nossa
coerência sentimos tristeza. Em poucas palavras somos um
grau de potência definidos pela capacidade de afetar e ser
afetado, e tudo depende de uma questão de experimentação.
Selecionar a matéria que aumenta nossa potência de agir ou
por outro lado excluir aquela que diminui nossa potência, é
um aprendizado.”
(BITTENCOURT, João. Corpo e afeto nas culturas juvenis. Latitude, v.
6, n. 1, p. 25-36, 2012, p. 27. Disponível em: www.seer.ufal.br/index.php/
latitude/article/view/852. Acesso em: 25 out. 2019.)

Com base nesse texto sobre corpo e afeto nas culturas juvenis, pense Veja orientações
no que costuma afetar você positivamente e deixá-lo feliz e no que o na Assessoria
Pedagógica.
afeta negativamente, deixando-o triste. Como seu corpo reage nes-
ses diferentes momentos?

Autoconhecimento

Convidamos você a pensar também sobre como os outros afe-


Não
tam a sua opinião e a relação que tem com o seu corpo. Para isso, pri- escreva
no livro
meiro você precisa refletir sobre como se relaciona com os diferentes
afetos, gostos e estilos das outras pessoas.
1 Você consegue lidar bem e mesmo apoiar alguém que está triste?
2 Você consegue dizer a uma pessoa que não gostou de algum com-
portamento mais agressivo dela?
3 Você consegue expressar o quanto você gosta das pessoas à sua
volta?
Reflita um pouco a respeito e anote em seu caderno.

79
Roda de conversa

Após anotar no caderno sua reflexão pessoal, , discuta com a tur-


ma os seguintes pontos:
1 Qual é o seu estilo? Em quem você se inspira para adotá-lo?
2 Há algum estilo de que não goste?
3 Você conhece os sonhos e os desejos das pessoas com quem se
relaciona?
4 Como os sentimentos dos outros costumam afetar você?
5 Você se coloca à disposição para ouvir o que as pessoas à sua volta
sentem?
6 As pessoas à sua volta colocam-se à disposição para ouvir o que
você sente? O que você acha disso?
7 Como imagina que os seus sentimentos afetam os outros?
8 Como você se relaciona com quem tem gostos iguais aos seus e
Veja orientações
na Assessoria com quem tem gostos diferentes dos seus?
Pedagógica.

LIGHTFIELD STUDIOS/SHUTTERSTOCK
Grupo de amigos
que compartilham os
mesmos gostos. 

Veja mais
informações O amor como encontro e as
muitas formas de amar
na Assessoria
Pedagógica.

Autoconhecimento

Há muitas formas de amar e de amor. Podemos amar a família a


que pertencemos, a escola em que estudamos e os nossos amigos de
uma forma específica. Já a namorada ou namorado pode ser amada/
amado de uma forma mais intensa e, diríamos, romântica. É possível
amar também o conhecimento ou uma causa. O amor é aquilo que, em
grande medida, nos movimenta e nos faz seguir em frente.

80 O meu encontro com os outros
➜ A seguir elencamos algumas expressões de amor.
• Amor romântico
• Amor à comunidade onde vivemos
• Amor aos nossos familiares
• Amor aos amigos
• Amor próprio
• Amor ao conhecimento
• Amor à natureza
• Amor a uma causa
1 O que você pensa a respeito das muitas formas de amar aponta-
das acima? Não
escreva
2 Quais outras formas de amor você destacaria? no livro
MONKEY BUSINESS IMAGES/SHUTTERSTOCK

  São inúmeras as
expressões de amor.

ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO

O que é o amor?
1.a etapa: Após cada um refletir sobre o que é o amor e as suas dife-
rentes manifestações, você vai discutir com a turma o que acha que
é o amor e qual a sua importância no mundo de hoje. O professor
anotará na lousa as definições que forem surgindo. Será que todos
entendem o amor da mesma forma?

2.a etapa: Encerrada a primeira parte da discussão coletiva, retorne


ao livro e tente ver outras perspectivas sobre o amor com base na
leitura coletiva dos textos a seguir.

3.a etapa: A turma deve explorar e debater as definições de amor


que surgirem após a leitura. Para guiar a reflexão conjunta para o
debate, leia as questões que seguem. ➜
81
➜ “O amor é constitutivo da vida humana, mas não é nada es-
pecial. O amor é o fundamento do social, mas nem toda con-
vivência é social. O amor é a emoção que constitui o domínio
de condutas em que se dá a operacionalidade da aceitação do
outro como legítimo outro na convivência, e é esse modo de
convivência que conotamos quando falamos do social. Por
isso, digo que o amor é a emoção que funda o social. Sem a
aceitação do outro na convivência, não há fenômeno social.

Em outras palavras, digo que só são sociais as relações que


se fundam na aceitação do outro como um legítimo outro na
convivência, e que tal aceitação é o que constitui uma con-
duta de respeito. Sem uma história de interações suficiente-
mente recorrentes, envolventes e amplas, em que haja acei-
tação mútua num espaço aberto às coordenações de ações,
não podemos esperar que surja a linguagem. Se não há inte-
rações na aceitação mútua, produz-se a separação ou a des-
truição. Em outras palavras, se há na história dos seres vivos
algo que não pode surgir na competição, isso é a linguagem.”
(MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na
política. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998. p. 23-24.)

“Aceitar o preceito do amor ao próximo é o ato de origem da


humanidade. Todas as outras rotinas da coabitação humana,
assim como suas ordens preestabelecidas ou retrospectiva-
mente descobertas, são apenas uma lista (sempre incomple-
ta) de notas de rodapé a esse preceito. Se ele fosse ignorado
ou abandonado, não haveria ninguém para fazer essa lista
ou refletir sobre sua incompletude.”
(BAUMAN, Zygmunt. O amor líquido: sobre a fragilidade dos laços
humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. p. 98.)

1 O que você entendeu dos textos? De que tipo de amor eles falam?
Não
escreva 2 De que tipo de amor os dois autores, Maturana e Bauman, estão
no livro
falando?
3 Você concorda com esses autores?
4 Como essas novas definições de amor se relacionam com as que
foram levantadas na 1.a etapa da roda de conversa?
5 Você acha que pratica essa forma de amor descrita no texto em
sua vida cotidiana?
6 Como esse tipo de amor pode ajudar você em seu projeto de vida?

82 O meu encontro com os outros


Ampliando o repertório

Humildade e coragem para o amor


“Em todo amor há pelo menos dois seres, cada qual a
grande incógnita na equação do outro. É isso que faz o amor
parecer um capricho do destino – aquele futuro estranho e
misterioso, impossível de ser descrito antecipadamente, que
deveria ser realizado ou protelado, acelerado ou interrompi-
do. Amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas
as condições humanas, em que o medo se funde ao regozijo
num amálgama irreversível. Abrir-se ao destino significa, em
última instância, admitir a liberdade no ser: aquela liberdade
que se incorpora no Outro, o companheiro no amor. ‘A satisfa-
ção no amor individual não pode ser atingida... sem a humil-
dade, a coragem, a fé e a disciplina verdadeiras’, afirma Erich
Fromm – apenas para acrescentar adiante, com tristeza, que,
em uma cultura na qual são raras essas qualidades, atingir a
capacidade de amar será sempre, necessariamente, uma rara
conquista.”
(BAUMAN, Zygmunt. O amor líquido: sobre a fragilidade dos laços
humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. p. 21.)

CRIS EICH
Roda de conversa

Depois de discutir o amor ao próximo, é chegada a hora de abor-


dar o amor romântico:
Veja comentários
1 O que você entende do excerto do texto de Bauman? Como o amor na Assessoria
é descrito nesse trecho? Pedagógica.

2 Você acha que o amor romântico é importante para vida dos jo-
vens? Por quê?
3 Você acha que em alguns momentos o amor romântico pode atra-
palhar a sua vida? Como?
4 O que você acha que essa discussão sobre o amor diz a respeito do
tema deste Módulo 2, O meu encontro com os outros?

83
Veja comentários ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
na Assessoria
Pedagógica.
Genealogia e identidade das pessoas que amamos

No Módulo 1, a atividade de genealogia consistiu em investigar


quem você é, do que gosta e de onde veio. O procedimento foi o de
perguntar sobre suas origens e relações, pois o objetivo era chegar
à descrição do seu perfil. A proposta agora é que você trace a ge-
nealogia de duas pessoas que sejam muito importantes para você.
Aqui, o objetivo é chegar a um perfil biográfico dessas pessoas.
Para isso, você terá de entrevistá-las. Sugerimos que escolha uma
pessoa de cada um desses ambientes:

1) sua família;
2) seu bairro ou sua escola.

Para entrevistar essas pessoas, formule perguntas semelhantes


às que fez para si mesmo no Módulo 1. Abaixo, sugerimos algumas
questões, retomando as anteriores e acrescentando outras. Para
cada pessoa escolhida por ser considerada especial, você deverá
elaborar pelo menos mais três perguntas. Lembre-se de que es-
sas pessoas têm perfis diferentes; então, ainda que as questões
possam coincidir para ambas, tente pensar nas particularidades de
cada uma delas para formular as questões mais pertinentes, a fim
de entender suas especificidades. Com base em seus conhecimen-
tos, avalie o que seria importante saber melhor ou perguntar. Grave
e/ou anote as respostas.

Roteiro inicial

1 Qual é sua origem? Onde você nasceu? De onde você vem?


Não
escreva 2 De onde são os seus familiares? Eles nasceram na mesma cidade
no livro
que você?
3 Quais são os lugares que você mais costuma frequentar?
4 Como é o seu dia a dia? Quais atividades você realiza?
5 O que você faz da vida?
6 O que mais gosta de fazer?
7 Quem são as pessoas com as quais mais convive diariamente?
8 Quais são os seus sonhos?

Perfis de pessoas importantes em nossas vidas

O que você achou das entrevistas? Você descobriu algo que não
sabia? Após as entrevistas, você conseguiria escrever o perfil bio-
gráfico dessas pessoas, pautado nessas sugestões de questões e
nas que foram elaboradas especialmente para cada entrevistado? ➜
84 O meu encontro com os outros
➜ Com essa atividade, você descobre para quem foi reservada a se-
gunda linha do mural de perfis e sonhos iniciado no Módulo 1. Essa
linha foi reservada para as pessoas que são importantes para você,
para os perfis desses dois protagonistas especiais em sua vida.
Lembre-se de que você deve tomar o mesmo cuidado que teve
anteriormente com a elaboração do seu perfil pessoal, pensando
principalmente nos aspectos da vida das pessoas que você admira
que são importantes para serem apresentados publicamente.

Primeira linha: Não Não Não


escreva escreva escreva
Perfil pessoal no livro no livro no livro

Segunda linha: Não Não Não


escreva escreva escreva
Módulo 2 no livro no livro no livro

Terceira linha: Não Não Não


escreva escreva escreva
Módulo 3 no livro no livro no livro

CRIS EICH
O estranho, o familiar e o
respeito às diferenças
O processo de constituição da pessoa que somos diz respeito à for-
mação de nossa identidade. Trata-se de um jogo constante de familiari-
zação e estranhamento. Isso quer dizer que estamos, a todo momento,
avaliando quem consideramos mais próximos de nós, portanto, quem
nos é familiar, e quem estaria mais distante de nós, ou seja, quem nos
seria, ao menos inicialmente, desconhecido ou estranho. Assim, defini-
mos quem nós somos com base nas aproximações e distanciamentos
daqueles com quem nos identificamos mais ou menos.
Conhecer-se nesse jogo de encontro com os outros pode levar-nos
a outra etapa de autoconhecimento, a que nos faz distanciar de coisas
que nos parecem familiares, por um lado, e, por outro, nos faz buscar en-
tender o que não é conhecido. Esse duplo procedimento pode desenca-
dear outro movimento, que nos leva ao respeito às diferenças, porque,
ao tentarmos nos familiarizar, no sentido de conhecer e compreender,
não necessariamente concordar, com quem ou o que nos parece estra-
nho, refletimos também sobre nossas questões e ampliamos nosso re-
pertório cultural. Em um mundo globalizado e cada vez mais conectado
85
como o atual, aprender a respeitar e a conviver com as diferenças é uma
habilidade fundamental.
ZETA FILM

#FICA A DICA
Babel – O filme, de 2006, dirigido por Alejandro Gonzá-
lez Iñárritu, aborda a questão das diferenças e da relação com
o outro em um mundo globalizado. Nele, a viagem de um casal
de estadunidenses para o Marrocos desemboca em uma trama
que revela que os nossos destinos no mundo podem estar en-
trelaçados com pessoas que nem imaginamos. Esse é também
um bom filme para pensar o multiculturalismo e a relação com os
outros em uma sociedade global conectada.

▲▲ Fôlder de divulgação
do filme Babel, de
Alejandro González
No Módulo 1, você fez uma série de exercícios de distanciamento
Iñárritu. de aspectos que lhe seriam familiares ou nos quais estaria tão imerso
em seu cotidiano que não pararia para pensar a respeito, pois se trata
de coisas muito próprias de seu eu interior. No dia a dia, há muitas ati-
vidades que você realiza de modo quase automático, sem refletir sobre
as consequências para sua vida e seu futuro. O que propomos agora é
que você preste atenção nesse duplo movimento que realiza a todo mo-
mento: o de distanciar-se das outras pessoas e o de familiarizar-se com
elas e os seus modos de ser e de estar no mundo.

Veja mais
informações
Exercícios de aproximação e distanciamento
na Assessoria
Pedagógica.
Agora, você vai realizar um exercício de aproximação com o que
lhe seria ou pareceria distante ou com o que não tem tanta intimidade.
Quando falamos do encontro com os outros, podemos estar nos refe-
rindo às pessoas que são próximas em termos espaciais, mas também
àquelas que estão mais distantes. Algumas vezes, há pessoas ou gru-
pos sociais que podem estar do seu lado, mas, ainda assim, lhe parecer
estranhos ou desconhecidos. Por exemplo, uma família de imigrantes ou
refugiados de outro país pode ser sua vizinha, mas, certamente, você
sabe muito pouco ou praticamente nada sobre sua cultura e religião.
Contudo, o fato de não conhecermos alguém ou um grupo social, e
mesmo de este nos parecer muito diferente, não nos dá o direito de agir
com desrespeito ou discriminação. Nosso dever, aliás, tem de ser exata-
mente o contrário, o de nos abrirmos para o contato com as pessoas que
talvez pudéssemos achar estranhas em um primeiro contato. O impor-
tante é sempre estabelecer um diálogo, mesmo que não concordemos
com o outro. Quando respeitamos as diferenças, reafirmamos também
nosso direito de ter as nossas diferenças respeitadas.

86 O meu encontro com os outros


Autoconhecimento

Viajar ou mesmo apenas caminhar pela cidade onde moramos é


sempre uma experiência enriquecedora. Quando viajamos ou anda-
mos por espaços em nossa cidade ou mesmo em nosso bairro pelos
quais nunca passamos, o exercício de aproximar-se do outro ou do
desconhecido é constante. A partir desse contato com o que é estra-
nho para nós, descobrimos novos lugares, pessoas diferentes e enri-
quecemos o nosso repertório pessoal. Ou seja, a viagem por um lugar
não visitado antes acaba por tornar-se uma viagem pelo nosso pró-
prio conhecimento sobre o mundo e sobre nós mesmos.
Você já viajou ou esteve em um lugar que antes lhe era desconhe-
cido, mas que você adorou descobrir? Do que você mais gostou nesse
lugar? O que mudou nas suas percepções a respeito dele?

Ampliando o repertório

“No livro Wanderlust: a history of walking (A ânsia de


vagar: uma história da caminhada), de 2000, Rebecca Solnit
diz que andar permite ‘conhecer o mundo através do corpo’,
ou, nas palavras do poeta modernista Wallace Stevens (1879-
-1955): ‘Eu sou o mundo no qual caminho’. Trata-se, pois, de
uma experiência cognitiva, muito necessária nesses tempos
em que as pessoas se deslocam sobretudo utilizando carros,
trens, aviões. Mas caminhar também envolve um processo
de autoconhecimento, quando não de inspiração. ‘Os grandes
pensamentos resultam da caminhada’, diz o filósofo Friedrich
Nietzsche (1844-1900), uma ideia que Raymond Inmon expres-
sa de forma mais poética: ‘Os anjos sussurram para aqueles
que caminham’. O escritor francês Anatole France (1844-1924)
faz uma comparação interessante: ‘É bom colecionar coisas,
diz ele, mas é melhor caminhar. Porque caminhar também é
uma forma de colecionar coisas: as coisas que a gente vê, as
coisas que a gente pensa’. Esse processo é facilitado pela re-
novação da paisagem, seja ela rural ou urbana, e pelo próprio
automatismo do ato de caminhar”.
(SCIENTIFIC AMERICAN MENTE CÉREBRO. A arte de caminhar.
Disponível em: www2.uol.com.br/vivermente/artigos/a_arte_de_
caminhar.html. Acesso em: 18 out. 2019.)
CRIS EICH

87
Veja orientações Culturas juvenis
na Assessoria
Pedagógica. Às vezes, há também pessoas e grupos sociais que podem estar
fisicamente muito distantes de nós, mas dos quais temos profundo co-
nhecimento ou, ao menos, sentimos que temos alguma familiaridade.
Isso é o que acontece, por exemplo, no Brasil com os fãs de K-pop, a
cultura pop coreana, ou com aspectos da cultura pop japonesa, como os
animes e mangás, respectivamente, desenhos animados e revistas em
quadrinhos produzidos no Japão, com características peculiares. Ainda
que possa haver muitos imigrantes e seus descendentes da Coreia do
Sul e do Japão em algumas cidades brasileiras, certamente tais referên-
cias culturais não seriam muito próximas para grande parte dos jovens.
No entanto, isso não impede que mesmo aqueles sem nenhuma ascen-
dência japonesa ou coreana possam se familiarizar com aspectos cultu-
rais de países distantes e mesmo querer adotá-los em sua vida.
Um jovem fã de K-pop, por sua vez, pode distanciar-se e, portan-
to, considerar estranhos outros movimentos culturais brasileiros, como
o sertanejo universitário ou o funk. Todos nós temos o direito de gostar
da produção artístico-cultural que quisermos. O fato de não admirarmos
determinada manifestação estética ou política, entretanto, não nos ha-
bilita a destratar ou menosprezar quem gosta de algo diferente de nós.
Podemos manter certa distância, mas sempre devemos praticar a lição
de respeito mútuo.
Quando falamos desses aspectos culturais envolvendo manifesta-
ções como o K-pop, a cultura pop japonesa, o sertanejo universitário, o
funk, mas também o hip-hop, o gospel, os grupos de maracatu, a música
eletrônica, o brega ou tecnobrega paraense, o brega funk de Recife ou o
rock em suas diferentes vertentes, entre muitos outros, estamos em to-
dos esses casos tratando do que se costuma denominar como culturas
juvenis.
As culturas juvenis são formas específicas de os jovens se organi-
zarem em torno de um determinado componente cultural, que pode ser
a música, mas também muitos outros tipos de produção artística e de
prática social ou tecnológica, como as histórias em quadrinhos e os ga-
mes, além de determinadas atividades corporais e esportivas. Por meio
delas, os jovens articulam-se coletivamente em torno de certos estilos
de se vestir e se portar no espaço público.
Você pode participar de uma cultura juvenil apenas como público,
acompanhando mais à distância as novidades pelas redes sociais, ou,
como acontece em muitos casos, pode participar ativamente dela. Há
muitos encontros presenciais de integrantes de determinadas culturas

88 O meu encontro com os outros


juvenis, seja para ir a um show ou apenas para fazer novas amizades.
Há também quem decida se tornar protagonista, por meio da música, de
uma atividade cultural ou de alguma prática esportiva, criando um grupo
musical ou aprendendo a andar de skate, por exemplo.

K-pop (Korean Pop) Grupos musicais formados por jovens sul-


-coreanos, que gravam videoclipes super-
produzidos, divulgados nas plataformas de vídeo da internet, com mui-
tos efeitos visuais, estilo próprio e coreografias bem encenadas. O
interesse pela música pop juvenil coreana tem despertado, inclusive, o
interesse de jovens brasileiros por diferentes aspectos culturais desse
país asiático, como o cinema, as novelas, os programas de televisão e
até mesmo a culinária. Muitos jovens brasileiros têm manifestado, inclu-
sive, grande interesse em aprender o idioma coreano e mesmo em mo-
rar na Coreia do Sul.
JSTONE/SHUTTERSTOCK

  Apresentação da banda sul-


-coreana BTS em Nova York,
Estados Unidos, em 2019.

Cultura pop japonesa Outro movimento forte em nosso país é o de


PJ_PHOTOGRAPHY/SHUTTERSTOCK

fãs de elementos da cultura pop japonesa,


como os mangás, as revistas em quadrinhos com estilo próprio, cujo sen-
tido da leitura é o contrário das HQs produzidas no Brasil, e os animes, de-
senhos animados produzidos no Japão. Embora não necessariamente li-
gados a personagens da cultura japonesa, há também os cosplayers, que
costumam integrar os eventos de fãs de animes e mangás. Cosplayers
são jovens que se vestem como seus perso-
nagens favoritos, chegando mesmo a atuar
como um deles nos encontros promovidos.
Em muitos casos, escolhem-se persona-
gens de animes e/ou mangás para encenar
nos eventos. ▲▲ Cosplayers do video
game Danganronpa em
Tóquio, no Japão.
EDITORA JBC

Reprodução de mangá japonês. 

89
Sertanejo universitário Embora não seja necessariamente um mo-
vimento jovem, o chamado sertanejo uni-
versitário recebeu esse nome justamente por tentar renovar ou dar um
aspecto mais juvenil à música sertaneja. No Brasil, historicamente, esse
gênero musical estaria mais ligado às populações que vivem no campo,
mas, desde meados dos anos 1980, tem conquistado o público das gran-
des cidades de todo o país, com as duplas sertanejas. Nos últimos tempos,
com esse novo movimento, surgiram mais cantores seguindo carreira
solo, e também houve uma intensa presença de mulheres cantando mú-
sica sertaneja em duplas ou sozinhas, colocando, de alguma maneira, as
mulheres em pé de igualdade com os homens, em movimento que ficou
conhecido como “feminejo”.

RICHARD WAGNER/FUTURA PRESS


Show da dupla Maiara e Maraisa
em Araruama (RJ), em 2019.

Funk O funk, ou funk carioca, é um gênero musical juvenil dançante


que surgiu nas favelas do Rio de Janeiro, a partir da organiza-
ção de festas, no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, para ouvir e
dançar a música negra estadunidense, com artistas como James Brown,
entre outros. Logo, esses jovens começaram a produzir sua própria músi-
ca, com um estilo peculiar, e a tocá-las em bailes nas favelas ou mesmo
em áreas mais ricas da cidade. Há muitas vertentes dentro do funk, e, ao
longo do tempo, esse estilo expandiu-se para diferentes estados do Bra-
sil, tornando-se muito popular.
DANIEL MARENCO/FOLHAPRESS

Jovem participa da “Batalha


do Passinho”, concurso de
dança ao som de funk entre
comunidades pacificadas no
Rio de Janeiro (RJ), em 2013. 

90 O meu encontro com os outros


▲▲ Legenda
Rock O rock pode ser considerado a primeira cultura juvenil dos

DAN KOSMAYER/SHUTTERSTOCK
tempos modernos. Surgiu entre o final dos anos 1940 e iní-
cio dos anos 1950, por influência de determinados elementos da músi-
ca estadunidense, como o blues, o country e o gospel, e alcançou grande
notoriedade nos anos 1950, com o cantor Elvis Presley. O rock tornou-se
então um símbolo do desejo dos jovens por novidade e de seu ímpeto de
contrariar os valores estabelecidos. Espalhou-se pelo mundo e passou,
ao longo dos anos, a dividir-se em vertentes, como o heavy metal, o punk
rock, o gótico, entre muitas outras.
▲▲ Capa de disco Elvis’ Gold
Records, de Elvis Presley, lançado
pela RCA Victor, onde se lê:
“50 milhões de fãs de Elvis não
podem estar errados”.

AIJA LEHTONEN/SHUTTERSTOCK
Show da cantora punk
rock Joan Jett em Helsinki,
Finlândia, em 2010. 

Hip-hop Criado nas comunidades negras dos Estados Unidos no fi-


nal dos anos 1970, como uma forma artística de os jovens
negros denunciarem o racismo e a segregação que sofriam, o hip-hop
acabou contribuindo, inclusive, para apaziguar a violência que existia en-
tre as gangues. Como aconteceu com o rock, o hip-hop também se glo-
balizou e passou a ser consumido e produzido em diferentes partes do
mundo. Ele é formado por diferentes elementos e estéticas, como a mú-
Apresentações de rap e hip hop
sica, com o MC que canta o rap e o DJ que toca os discos e faz mixagens durante festival de cultura de
com a base musical, o graffiti e o break. rua em Pinheiro Machado (RS),
em 2019. 
BRUNO VARGAS/SHUTTERSTOCK

BRUNO VARGAS/SHUTTERSTOCK

91
A.PAES/SHUTTERSTOCK

Gospel A música gospel tem raízes na música negra cristã estadu-


nidense e, no Brasil, tem conquistado cada vez mais fãs. O
movimento gospel no Brasil não pode ser enquadrado dentro de um esti-
lo musical específico, pois há nele muitas releituras de outros estilos den-
tro de padrões da cultura gospel, como o rock e o hip-hop, por exemplo.

 Cantora gospel Bruna Karla durante


show em São Gonçalo (RJ), em 2013.
RICARDO TELES/PULSAR IMAGENS

Maracatu Pode-se dizer que o maracatu é formado pela percussão,


a dança e a performance, com influências culturais africa-
nas. Embora seja antigo e mesmo tradicional, criado no início do século
XVIII, no estado de Pernambuco, esse ritmo afro-brasileiro tem sido reen-
cenado por grupos juvenis, não apenas de Pernambuco, mas de todo o
Nordeste e mesmo de todo o Brasil.

  Apresentação de maracatu em Aliança (PE), em 2015.

Música eletrônica Música criada ou modificada por meio de dispo-


sitivos eletrônicos, como baterias eletrônicas ou
mesmo programas de computadores. Trata-se de ritmo dançante e vol-
tado principalmente para as culturas juvenis de casas noturnas e festas
ao ar livre, em que a música é tocada por um DJ responsável pela produ-
ção e seleção do repertório que animará a noite. Como no rock, há muitas
vertentes dentro da música eletrônica.

MATTIA B/SHUTTERSTOCK

DJ animando a plateia
em Belo Horizonte
(MG), em 2019. 

92 O meu encontro com os outros


MARCO MOURA/FUTURA PRESS
Tecnobrega paraense O tecnobrega é um estilo musical juvenil
produzido principalmente em Belém do Pará.
Sua principal característica é a fusão de ritmos e estilos, que vão desde
a música eletrônica, o funk e o hip-hop até o calypso e o forró. Em Be-
lém, o tecnobrega é responsável por toda uma economia da diversão no-
turna, conhecida como festas de aparelhagem. Nelas, alguns grupos são
responsáveis por organizar eventos com os últimos sucessos em bairros
populares de Belém. O termo brega, que durante muito tempo denomi-
nou mau gosto musical, é reinventando nesse estilo, como uma música ▲▲ Apresentação da paraense
Gaby Amarantos, em Garanhuns (PE),
romântica e dançante, que fala do cotidiano afetivo e dos dilemas do jo- em 2018.
vem comum.

Brega funk O brega funk é uma produção musical localizada prin-

LECO VIANA/FUTURA PRESS


cipalmente na cidade de Recife, mas com produções e
adeptos em diferentes estados e cidades do Norte e Nordeste brasileiro.
Há, inclusive, muito diálogo com o tecnobrega paraense. Neste caso es-
pecífico, a junção de influências musicais deu-se fundamentalmente com
base no brega de Recife e no funk carioca.

MC Loma e as Gêmeas Lacração


em São Paulo (SP), em 2018. 

Movimentos poéticos literários Em todo o Brasil, ocorre ainda uma


série de movimentos poéticos e li-
terários, inspirados em culturas juvenis como o hip-hop, mas não somen-
te, dentre os quais, podemos destacar:
JOSUÉ EMIDIO/FUTURA PRESS

•• Saraus literários: encontros de escritores e poetas para recitar


suas obras.
•• Slams: performances poéticas, geralmente realizadas em praças e
outros espaços públicos, por meio das quais os jovens concorrem
a notas dadas por um júri que se estabelece em cada evento. Há
inclusive etapas internacionais de slams que ocorrem em diferen-
tes países do mundo.
•• Batalhas de rap: as batalhas assemelham-se muito aos desafios
dos repentes nordestinos. A diferença é que, neste caso, a trilha
▲▲ Apresentação durante o Slam
sonora é o rap, e não o forró. Nessas batalhas, os jovens desafiam- BR 18, Campeonato Brasileiro de
-se com rimas que provocam e gozam do adversário. O público es- Poesia Falada, ocorrido em São
Paulo (SP), em 2018.
colhe o vencedor por meio de aplausos e gritos. Como nos slams,
as praças e ruas são o seu cenário principal.

93
Outras culturas juvenis

Games SEZER66/SHUTTERSTOCK

 Jovem gamer jogando


video-game em São Paulo (SP).

HQs Skate/Surf
EDITORA SALAMANDRA

HURRICANEHANK/SHUTTERSTOCK

  Ao lado, jovem skatista


em ação. Abaixo, a
surfista cearense Silvana
Lima em competição na
África do Sul, em 2019. 

LOUISLOTTERPHOTOGRAPHY/
SHUTTERSTOCK
▲▲ Dois exemplos
clássicos de HQs
MAURICIO DE SOUZA EDITORA

nacionais: a Turma do
Pererê, de Ziraldo, e a
Turma da Mônica, de
Mauricio de Sousa. 

Reggae
AJMCBARRETO
ANDRE LUIZ MOREIRA/SHUTTERSTOCK

Ao lado, a banda de reggae nacional


Cidade Negra, durante show no Rio
de Janeiro (RJ). À direita, o Museu
do Reggae em São Luís (MA),
considerada por muitos a capital
nacional do reggae. 

94 O meu encontro com os outros


Roda de conversa

Agora, em debate organizado pelo professor, discuta o sentido


das culturas juvenis com base nas seguintes questões:
1 O que você acha das culturas juvenis que foram apresentadas?
2 Quais delas você já conhecia e quais são novidade para você?
3 Além das culturas juvenis apresentadas, quais outras você conhe-
ce ou tem vontade de conhecer?
4 Quais têm mais popularidade onde você mora e na escola em que
estuda?
5 Os seus pais, avós ou as pessoas mais velhas com quem você
mora compreendem as culturas juvenis de que você gosta ou das
quais participa? Por quê?

ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO

Agora que você já sabe o que são as culturas juvenis e conhece al-
gumas delas, de várias partes do Brasil, chegou o momento de, por
meio delas, exercitar sua capacidade de distanciar-se do que lhe
é familiar e familiarizar-se com o que é desconhecido ou estranho
para você. Como fazer isso?

Pesquisando e descrevendo essas culturas. Nesse exercício, não


emita nenhum juízo de valor, nem a respeito do que você gosta,
nem do que não conhece. Imagine que você é um repórter que vai
produzir uma matéria para uma revista ou um programa de televi-
são e precisa apresentar essas culturas juvenis de modo imparcial
ao público. Essa atividade pode ser feita em grupo ou individual-
mente, e está dividida em cinco etapas.

1.a etapa: Comece pelo movimento mais fácil de apresentar. Escolha


uma cultura juvenil de que você nunca ouviu falar ou que conhece
pouco; pode ser uma das que foram apresentadas neste livro ou
outra que, por meio de buscas na internet, considerar interessante
ou inusitada. Pode ser mais relacionada à música ou ao esporte ou
a qualquer atividade artístico-cultural. O importante é que seja uma
atividade que congregue jovens.

Escolhida a cultura juvenil, pesquise a respeito dela para apresen-


tá-la aos colegas em sala de aula. Alguns tópicos são importantes
para descrever bem uma cultura juvenil. Seguem alguns pontos bá-
sicos para sua investigação:

95
➜ 1 O que é essa cultura juvenil?
2 Quando e onde surgiu?
Não
escreva 3 Quais as influências que ela teve?
no livro
4 Quais são as linguagens artísticas e atividades que a compõem?
(Por exemplo: música, dança, vestimenta, produtos consumidos ou
produzidos, ideais etc.)
5 Essa cultura juvenil tem um estilo próprio? Qual é e como é?
6 Quem são e como são os principais protagonistas dessa cultura
juvenil?
7 Em quais lugares do mundo ou do Brasil ela tem mais adeptos?
8 Há espaços de encontro dos integrantes dessa cultura juvenil?
Onde e como são esses lugares?
9 Essa cultura torna-se oportunidade de trabalho para alguns jovens
que fazem parte dela? De que maneira?

Pense se há outras questões importantes a serem levantadas ou


reserve um espaço para contar se há algo mais que você descobriu
em sua pesquisa sobre a cultura juvenil que não conhecia.

2.a etapa: Neste segundo movimento, você deverá colocar-se em


posição de distanciamento em relação à cultura juvenil de que mais
gosta. Para isso, descreva-a, seguindo o mesmo roteiro que adotou
para pesquisar sobre a cultura juvenil que era desconhecida para
você, como se a estivesse conhecendo pela primeira vez ou como
se precisasse apresentá-la a alguém que não faz a menor ideia do
que seja.

3.a etapa: Ao final da pesquisa e da descrição das duas culturas


juvenis, você deverá compará-las, respondendo a uma questão
principal:

•• Que elementos em comum você percebe entre a cultura juvenil


Não
escreva desconhecida que pesquisou e aquela de que você gosta e com a
no livro
qual tem mais familiaridade?

4.a etapa: Prepare uma apresentação para retratar aos colegas as


duas culturas juvenis e o que você descobriu que há em comum en-
tre elas. Pode ser feita em slides, banners, cartazes ou no formato
que considerar mais adequado, em acordo com o professor. O mais
importante é que a apresentação mostre aos colegas:

1 qual cultura juvenil você pesquisou que ainda não conhecia;


2 o que você pesquisou e descobriu sobre a cultura juvenil de sua
preferência;
3 o que você notou que há em comum entre as duas. ➜
96 O meu encontro com os outros
➜ 5.a etapa: Após as apresentações, a turma deve realizar uma roda
de conversa sobre as seguintes questões:

1 Há alguém nas culturas juvenis que você admira ou segue com


Não
mais frequência? escreva
no livro
2 Por que essa pessoa é considerada importante?
3 Você a considera um ídolo? Por quê?
4 Há algum ídolo ou pessoa famosa cuja biografia você já leu ou gos-
taria de ler?
5 Você já leu alguma biografia? Qual?

Sonhos coletivos e o bem


comum
No Módulo 1, você pensou em um projeto pessoal para algum de
seus sonhos. Agora é o momento de refletir, em primeiro lugar, sobre
como esse projeto dialoga com as pessoas com quem costuma se rela-
cionar em seu cotidiano e, em segundo lugar, indagar se há sonhos co-
letivos ou comuns entre você e as pessoas que conhece. Seria possível
pensar também em um projeto para a realização desse sonho coletivo?

Roda de conversa

A proposta é tentar descobrir como você lida com os seus sonhos


e com os sonhos das pessoas que ama. O professor vai organizar uma
roda de conversa para discutir as questões abaixo.
1 Você conhece os sonhos e gostos das pessoas com quem convive
em casa, na escola e no bairro?
2 Costuma conversar sobre isso com essas pessoas? Por quê?
3 Você tem sonhos em comum com as pessoas com quem convive?
Quais são?
4 Como você poderia contribuir para a realização dos sonhos das
pessoas com quem se relaciona?
5 O que você tem feito para colocar esses projetos/sonhos coletivos
em prática?
6 Quais pessoas você gostaria que fizessem parte de seu projeto de
vida?

97
Autoconhecimento

Faça agora uma reflexão pessoal sobre as influências positivas e


negativas na formulação do seu projeto de vida. Como as opiniões e
os comportamentos de outras pessoas podem ajudar ou atrapalhar
o seu projeto de vida? Como você lida com as críticas e opiniões das
pessoas a seu respeito?
Esse é o momento de uma autoanálise para investigar o que está
ao seu redor que pode contribuir ou criar obstáculos para a formula-
ção e execução de seu projeto de vida. Essa é uma questão íntima, só
sua, que não deve ser compartilhada. Como já foi mencionado neste
livro, um dos aspectos fundamentais de sua relação com os outros
está justamente na capacidade de diferenciar o que se pode expor em
público do que deve permanecer no âmbito privado ou mesmo íntimo.
Reflita sobre como você consegue fazer essa distinção.
1 Há questões em sua vida que você entende que atrapalham o seu
Não
escreva desenvolvimento?
no livro
2 O que você poderia fazer para mudá-las?
3 O que você compreende que poderia prejudicar a realização dos
seus sonhos?
4 Você confiaria em alguém para compartilhar essas questões e
mesmo pedir ajuda, se necessário?

Veja comentários Protagonismo e empreendedorismo nas


na Assessoria
Pedagógica. culturas juvenis
As culturas juvenis abrem caminho para que você exerça o seu pro-
tagonismo, ou seja, para que construa, de modo autônomo e criativo,
sua participação numa atividade coletiva. Muitas vezes, esse é o primei-
ro passo para o contato com pessoas mais distantes do universo fami-
liar. Na medida em que as culturas juvenis ampliam o leque de relações
sociais e fazem com que você assuma certos compromissos junto aos
parceiros de atividade, elas auxiliam no seu amadurecimento. Em al-
guns casos, inclusive, elas podem se tornar um meio de sustentar-se
financeiramente. Esse é o caso de muitos jovens que se envolvem com
práticas esportivas, como o skate, ou criam canais de vídeos para ob-
ter alguma visibilidade e sucesso. Há também aqueles que conseguem
manter-se ligados às culturas juvenis vendendo produtos que interes-
sam aos outros jovens ou mesmo atuando como produtores culturais
nas atividades.

98 O meu encontro com os outros


Um dos exemplos de jovens que conseguiram ascender a uma po-
sição de destaque graças ao seu gosto por uma linguagem artística, no
caso a audiovisual, e a sua relação com uma cultura juvenil, o rap e o
funk, é Konrad Dantas. Ele é o fundador de um canal do YouTube que, no
início de 2019, figurava como o terceiro maior do mundo em termos de
acesso e popularidade, o KondZilla, que é o nome de sua produtora de
videoclipes, o mais importante empreendimento de criação e divulga-
ção do funk no Brasil. Da periferia pobre da cidade do Guarujá, no litoral
paulista, a partir do seu sonho de tornar-se cineasta, ele transformou-
-se em um empreendedor de sucesso. É um dos idealizadores de uma
série de sucesso, Sintonia, lançada em 2019, que narra a história de três
jovens na periferia de São Paulo. Ao comentar sobre a produção da série,
Konrad Dantas afirmou:
“É o projeto mais antigo da minha vida, eu sempre sonhei
em criar e dirigir uma ficção. Espero que seja mais uma das mi-
nhas realizações a inspirar mais molecada de favela a persistir
com seus sonhos também, nada é impossível. Favela venceu!”.

MAIS SOBRE ➜ https://catracalivre.com.br/entretenimento/kondzilla-produtora-


-que-domina-o-funk-em-sp-expande-para-o-rio/. Acesso em: 17 nov. 2019.
LUCAS REZENDE/FUTURA PRESS

  Konrad Dantas durante


palestra no Rio de Janeiro (RJ),
em 2019.

Veja que o próprio Konrad Dantas afirma que tinha um sonho e o


transformou em projeto de vida, definindo suas prioridades e buscan-
do ampliar seu repertório cultural. Você conhece outras pessoas que se
destacaram ou tomaram a cultura juvenil que admiravam ou de que par-
ticipavam como trabalho ou empreendimento econômico?

99
Outro exemplo de jovem protagonista é Thiago Vinicius, da Agência
Popular Solano Trindade, do bairro Jardim Maria Sampaio, na periferia
da cidade de São Paulo. A Agência Popular Solano Trindade, movimento
no qual atua, trabalha em muitas frentes, como a cultural e a econômica,
com a criação de um banco comunitário e uma moeda social no bair-
ro onde mora. Desse modo, Thiago e seus parceiros trabalham também
com empreendedorismo social.

“Thiago Vinicius, da Agência Solano Trindade: transfor-


mação cultural na periferia
Por Rony Meisler, 06/11/2017.

Desde pequeno ele queria mudar as manchetes sobre a co-


munidade onde nasceu, no bairro do Campo Limpo, zona sul de
São Paulo. Os índices de violência, um dos mais altos da cidade,
eram a única coisa que levava a região ao noticiário. Thiago
Vinicius assumiu cedo essa missão. Aos 15 anos, já estava na
primeira turma de empreendedores sociais da Artemisia, onde
desenvolveu um projeto de coleta seletiva para resolver o pro-
blema das enchentes no Córrego Pirajussara, que passava perto
de sua casa. Passou pela ONG Projeto Arrastão e pelo programa
de aprendiz da Comgás até perceber que as organizações preci-
savam olhar para o desenvolvimento da periferia. ‘A quebrada
tem muita ONG, muito assistencialismo, e a gente se ligou que a
economia ia ser o fio condutor para trazer várias coisas ligadas
ao desenvolvimento da nossa comunidade e ao aumento da qua-
lidade de vida’, diz.
Aos 20 anos, trabalhando na União Popular de Mulheres de
Campo Limpo e Adjacências, ele participou da criação do Banco
Comunitário União Sampaio. Desde 2009 o banco oferece mi-
crocrédito a moradores e empreendedores da região. O dinheiro
pode ser tirado em reais, a juros muito baixos, ou em Sampaios,
uma moeda social criada por eles para incentivar a circulação
de dinheiro na comunidade e o desenvolvimento da economia
local – a iniciativa já girou mais de 1 milhão de reais. Mas ainda
não era o suficiente. Em 2012, Thiago Vinicius criou a Agência
Popular Solano Trindade, que nasceu com o papel de articular
o arranjo produtivo local. ‘Aqui tem muita gente boa fazendo
coisas maravilhosas, mas é desorganizado’, diz. ‘Para uma pes-
soa fazer um livro, por exemplo, precisa de um designer. A gente
montou uma rede sistematizada que é ativada quando recebe-
mos o pedido para fazer um produto cultural’.”
MEISLER, Rony. Thiago Vinicius, da Agência Solano Trindade:
transformação cultural na periferia. Disponível em: http://revista.
usereserva.com/2017/11/06/thiago-vinicius-agencia-popular-solano-
trindade/. Acesso em: 25 out. 2019.
100 O meu encontro com os outros
THAYS BITTAR/AGÊNCIA POPULAR SOLANO TRINDADE

  Thiago Vinicius,
em São Paulo (SP),
em 2017.

1 O que você achou dos trabalhos desenvolvidos por Thiago Vini-


cius em seu bairro?
2 Você já tinha ouvido falar em banco comunitário e moeda social?
3 O que você acha que motivou Thiago Vinicius a criar o banco co-
munitário e a Agência Popular Solano Trindade em seu bairro?
Além dos trabalhos citados, Thiago e a Agência Popular Solano Trin-
dade realizam mais uma série de atividades, descrita na matéria com-
pleta. Acesse o link da matéria, leia e descubra mais a respeito.

Juventude e marcadores sociais da diferença


Ao estudar as culturas juvenis, você aprendeu que, apesar de ha-
ver muitas questões comuns entre os jovens de diferentes contextos,
há também muitas maneiras particulares de vivenciar a juventude. Ou
seja, ao observarmos as culturas juvenis, notamos como a diferença
é importante para nos relacionarmos no mundo com quem é próximo
e com quem é distante. As diferenças são cruciais para a definição de
quem somos, para a nossa identidade.
Você sabia que, conforme o Estatuto da Juventude, instituído em
2013, pela Lei nº 12.852, deve-se, entre outros direitos, assegurar a to-
dos os jovens brasileiros:
•• o respeito à sua identidade e diversidade individual e coletiva;
•• a promoção da solidariedade e da não discriminação.
Você conhece o Estatuto da Juventude? Sabe do que ele trata?
MAIS SOBRE ➜ www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12852.
htm. Acesso em: 6 out. 2019.

101
Todos nós somos formados por singularidades, ou seja, temos mar-
cas próprias que nos diferenciam das outras pessoas, que podem ser
sociais ou individuais. Você nasceu em um local específico, em uma fa-
mília com características sociais particulares e, ao longo de sua vida, de-
senvolve características que também lhe são próprias, mais ou menos
alinhadas com as características de seus familiares.
A essas nossas características peculiares dá-se o nome de marca-
dores sociais da diferença. Ou seja, são atributos que, ao mesmo tempo,
nos enquadram em um grupo social ao qual nos sentimos pertencen-
tes e que delimitam a nossa subjetividade, pois apontam para as espe-
cificidades de cada indivíduo. Assim, um marcador social de diferença
importante e mais geral que sustentamos é a nossa nacionalidade. Por
nascermos em determinado território, delimitado por uma fronteira, so-
mos considerados de uma determinada nacionalidade. Outro importan-
te marcador social de diferença é a identidade étnico-racial, que no Brasil
é constituída por três grupos principais: o branco, o negro e o indígena.
Nesse caso, tomam-se aspectos físicos e culturais para definir como
nos apresentamos e somos vistos no mundo.
Alguns desses marcadores sociais de diferença, entretanto, podem
tornar-se desigualdades se houver preconceito e injustiça na distribui-
ção de alguns bens sociais pelo Estado, como educação, saúde e opor-
tunidades de moradia e trabalho digno.
RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS

FABIO COLOMBINI

▲▲ Artesãs de comunidade quilombola em Alcântara, ▲▲ Crianças indígenas na Amazônia, em 2017.


Maranhão, em 2018.

102 O meu encontro com os outros


“Diferença e Desigualdade

Os seres humanos se mostram como diferentes uns dos ou-


tros das mais diversas formas e em múltiplas dimensões. Mos-
tram-se diferentes nos formatos, cores e proporções corporais,
nos usos do corpo e da linguagem, nas maneiras de se alimentar,
de se vestir e de consumir bens e nos meios de se relacionar
com outros – seja em esportes, seja em brigas ou em práticas
sexuais. Cada indivíduo compartilha com outros algumas dessas
características e não as compartilha com outros. Entre essas ca-
racterísticas, algumas têm um peso profundo na definição da ex-
periência dos indivíduos. Elas estão ligadas a relações de poder
e sistemas de dominação mais amplos, sendo responsáveis pela
produção e reprodução de desigualdades. É para refletir sobre
esse tipo de diferença que a perspectiva dos marcadores sociais
da diferença foi elaborada.”
(ZAMBONI, Márcio. Marcadores sociais da diferença. Sociologia: Veja mais
grandes temas do conhecimento (Especial Desigualdades, São Paulo, informações
na Assessoria
v. 1, 1 ago. 2014, p. 15.) Pedagógica.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman apresenta-nos uma forma


interessante de pensar a questão do estigma e dos preconceitos que
costumam classificar algumas pessoas como normais ou não normais.
Ele demonstra que se trata, na verdade, de algo que não é dado, mas
sim construído por aqueles que têm o poder e que determinariam o que
seria considerado “normal”. O “anormal”, aquele que é mais suscetível
a sofrer preconceito e os efeitos da desigualdade, portanto, seria todo
aquele que fugisse aos padrões impostos por esse grupo que estaria no
poder e constituiria uma maioria, não necessariamente numérica, mas
política. Bauman retoma um conto famoso do escritor H. G. Wells, A terra
dos cegos, em que

“essa questão é apresentada e habilmente explorada: numa


sociedade de cegos, será que o homem de um olho só seria o rei?
Era essa a expectativa da pessoa que vagava pelo vale para es-
capar da sociedade das pessoas com dois olhos, onde ter apenas
um era visto como falha aviltante. Se ele de fato se tornasse rei
ao procurar a companhia dos cegos, o pressuposto subjacente
de nossa sociedade – de que a superioridade da visão sobre a
cegueira é um veredicto da natureza e não uma criação social –
seria endossado, reforçado e talvez ‘provado’. Mas não foi assim.
O estranho de um olho só não foi aclamado rei a ser adorado e
obedecido, mas classificado como um monstro a ser abominado
e escorraçado! Diante da ‘normalidade’ feita sob medida pelos
habitantes do vale, que por acaso eram cegos, ele – o homem

103
com um olho só – portava uma anormalidade ameaçadora. O
que mostra que a anormalidade não parece repelente e assusta-
dora em função de sua inerente inferioridade, mas por se chocar
com a ordem construída de acordo com necessidades, hábitos e
expectativas dos ‘normais’ – ou seja, da maioria. No geral, a dis-
criminação contra o ‘anormal’ (quer dizer, a condição de mino-
ria) é uma atividade destinada a defender e preservar a ordem,
uma criação sociocultural.”
(BAUMAN, Zygmunt. Sobre educação e juventude. Rio de
Janeiro: Zahar, 2013. p 71-72.)

Roda de conversa

Reflita individualmente sobre as questões abaixo por alguns mi-


Veja comentários
na Assessoria nutos. Em seguida, o professor vai organizar uma roda de conversa
Pedagógica
para discutir o tema dos marcadores sociais de diferença.
1 O que você entendeu por marcadores sociais de diferença?
2 Segundo o texto de Bauman, como é definido o que é considerado
normal ou mais aceitável numa sociedade? Como você acha que
isso pode gerar preconceitos?
3 No cotidiano de seu bairro, de sua escola e de sua cidade, as dife-
renças são respeitadas?
4 Há nesses espaços diferenças que se tornam desigualdades?
5 Como as diferenças podem tornar-se desigualdades?
6 Você identifica preconceitos em seu dia a dia, contra você ou pes-
soas próximas? Como lida com eles?
7 Quais seriam essas desigualdades e esses preconceitos? Por que
você acha que isso acontece?
8 Em sua opinião, o que deveria ser feito para valorizar as diferenças
e combater o preconceito e a desigualdade em sua escola, em seu
bairro e em sua cidade?
9 E você, respeita as diferenças de seus amigos e colegas?
10 Quais marcadores sociais de diferença você considera que definem
quem você é e o modo como se relaciona com as outras pessoas?
11 Você considera que o respeito aos seus marcadores sociais de di-
ferença é importante para que consiga realizar seu projeto de vida?
Por quê?
CRIS EICH

104 O meu encontro com os outros


O meu projeto no mundo e o
mundo no meu projeto

Ampliando o repertório

“Em busca do outro


Não é à toa que entendo os que buscam caminho. Como
busquei arduamente o meu! E como hoje busco com sofregui-
dão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já
que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido O
Caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à
procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho
com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o
atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei
de uma coisa: meu caminho não sou eu, é outro, é os outros.
Quando eu puder sentir plenamente o outro estarei salva e
pensarei: eis o meu porto de chegada.”
(LISPECTOR, Clarice, Aprendendo a viver.) As referências bibliográficas
completas encontram-se
no fim do volume.
1 O que você entende das palavras de Clarice Lispector sobre a bus-
ca do outro?
2 Você consegue realizar seus objetivos sozinho? Não
escreva
3 Como a cooperação com outras pessoas e a abertura a elas podem no livro

ajudar você em seu projeto de vida?


4 Você está disposto a cooperar com as pessoas à sua volta para a
realização do projeto de vida delas?

Quais tarefas você só conseguiria resolver cooperativamente ou


precisaria do apoio de ao menos uma outra pessoa para realizar? Pense
sobre esses três ambientes:
•• sua casa;
•• seu bairro;
•• sua escola.

Retome seu projeto de vida pessoal para analisar em que medida


a relação com os outros ajuda você ou não na sua realização, nas pers-
pectivas a curto, médio e longo prazo. Neste momento, há algo que você
queira mudar em seu projeto de vida, formulado no módulo anterior?
Neste Módulo 2, você refletiu mais sobre sua relação com o outro.
Lembre-se de que um projeto nunca pode ser algo fechado e rígido, mas
105
flexível o suficiente para adaptar-se às mudanças em sua vida e nas re-
lações que estabelece com as mais diferentes pessoas.

Roda de conversa

Veja comentários Respeito às diferenças na escola


na Assessoria
Pedagógica.
O convite agora é para refletir um pouco mais sobre as relações
entre os colegas na escola. O que é positivo e o que incomoda você na
relação com os colegas na escola?
Sabemos que, em muitas escolas, o cotidiano é marcado por
zombarias e pelo bullying, que se caracterizam por gozações ou mes-
mo perseguições a estudantes, muitas vezes motivadas por precon-
ceitos ou pela própria insegurança do agressor.
1 Como você pode pensar nas relações sociais na escola, buscando
compreender como elas podem fortalecer ou atrapalhar seu proje-
to de vida?
2 Como o clima escolar afeta o seu desempenho? E o que você pode
fazer para melhorá-lo?
WARNER BROS

#FICA A DICA

As melhores coisas do mundo – O filme, de 2010, dirigido


por Laís Bodanzky, retrata os dilemas e os sonhos de um adoles-
cente de 15 anos, de classe média, o Mano, para lidar com o fato
de tornar-se adulto, e também com a questão das diferenças, do
preconceito, da zoeira e do bullying na escola em que estuda.

Um projeto de vida coletivo


No Módulo 1, você elaborou o esboço das etapas para um projeto
de vida individual. Agora, no Módulo 2, a hora é de pensar em um pro-
jeto de vida coletivo!
Reúna-se em um grupo de até quatro pessoas. A ideia é planejar
ações cooperativas que possam impactar positivamente na escola ou
▲▲ Fôlder do filme As melhores na localidade onde vivem. Primeiro, pensem no que os incomoda na
coisas do mundo, de Laís Bodanzky.
escola e no lugar onde vivem e o que poderia ser feito para melhorar
isso. Tentem idealizar um projeto simples de ser realizado. Retomem
os passos do projeto de vida individual no Módulo 1 para pensar desta
vez no projeto coletivo, conforme as etapas já trabalhadas lá e indica-
das a seguir.

106 O meu encontro com os outros


As etapas de elaboração de um projeto Veja comentários
na Assessoria
de vida Pedagógica.

1.a etapa: A definição do sonho ou conquista Competências gerais


6, 7 e 9
2.a etapa: Os objetivos (o que se tem de alcançar para realizar o so-
Competências específicas
nho a curto, médio e longo prazo) 2 (Linguagens e suas
Tecnologias)
3.a etapa: A análise do contexto e do campo de possibilidades 6 (Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas)
4.a etapa: Ajuste entre o sonho e o campo de possibilidades
Habilidades
5.a etapa: A estratégia EM13LGG204
EM13CHS605

Vivência de transição Veja orientações


na Assessoria
Pedagógica.
Chegamos ao final deste módulo e, como ocorreu no anterior, te-
remos uma vivência de transição, em que os projetos elaborados serão
apresentados à comunidade escolar. A proposta é que a turma mostre
os projetos coletivos elaborados para a escola e o bairro em que vivem.
Essa pode ser uma excelente oportunidade de abrir a escola à comu-
nidade local a fim de apresentar suas propostas de intervenção e me-
Competências gerais
lhoria. Esse evento pode ser uma das etapas para a operacionalização
6, 7 e 9
dos projetos. Quais seriam as sugestões de seus amigos, familiares e Competências específicas
vizinhos? 1 (Linguagens e suas
Tecnologias)
Antes, porém, é preciso planejar a realização desse evento, que 6 (Ciências Humanas e
deve ocorrer em algumas etapas: Sociais Aplicadas)
Habilidades
•• definir o que será apresentado; EM13LGG104
•• dividir as tarefas para a realização do evento; EM13CHS606

•• divulgar o evento;
•• realizar a apresentação.

107
Avaliação do Módulo 2
Após a vivência de transição, faça uma avaliação deste Módulo 2,
anotando em seu caderno:
1 Como me senti neste módulo de discussão sobre o projeto de
Não
escreva vida?
no livro
2 Quais foram os novos aprendizados?
3 Como foi a minha participação nas atividades propostas?
4 Consegui interagir nas atividades com os outros de maneira pro-
dutiva, ajudando e sendo ajudado pelos colegas?
5 Este Módulo 2 colaborou para o reconhecimento da importância
de compreender os outros e seus pontos de vista, ainda que eu
não concorde com eles?
6 Como foi a experiência de criação de um projeto coletivo?
7 O que foi mais desafiador até aqui?
Se julgar necessário, acrescente outras observações.

Roda de conversa

Para finalizar, reúna-se com os colegas em uma roda de conversa


e discutam o que acharam deste módulo e da vivência de transição
com base nas anotações individuais de cada um.

CRIS EICH

108 O meu encontro com os outros


3
O meu

Módulo
encontro
com o
mundo Veja orientações
na Assessoria
Pedagógica.

Sim e não As referências bibliográficas


completas encontram-se
no fim do volume.
Eu sou sim. Eu sou não.
Aguardo com paciência
a harmonia dos contrários.
Serei um eu, o que significa
também vós.
(Clarice Lispector, Aprendendo a viver)

CRIS EICH
MAFALDA

© JOAQUÍN SALVADOR LAVADO (QUINO)


TODA MAFALDA /FOTOARENA
▲▲ QUINO. Toda a Mafalda. 2. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2010.
Roda de conversa

Leia com atenção a tirinha acima e, retomando o texto de Clari-


ce Lispector, na página anterior, converse com seus colegas sobre as
questões que seguem.
1 O que vocês podem deduzir das mensagens transmitidas pela Ma-
falda e por Clarice Lispector?
2 Vocês imaginam que a ideia de ser “um eu que significa também um
vós” tenha alguma relação com o que aprendemos no Módulo 2?
3 O que a mensagem transmitida pela tirinha da Mafalda ajuda vocês
a compreender sobre o mundo em que vivemos?
4 Por que nosso projeto de vida depende do modo como nos relacio-
namos com o mundo?
5 O que vocês imaginam que será discutido neste último módulo?

Um mundo em transformação
Seu projeto de vida depende sempre das condições do mundo em
que vivemos e de sua capacidade de estabelecer relações sociais. Com
as tecnologias digitais da informação e da comunicação, o modo como
interagimos no mundo e com o mundo tende a transformar-se cada vez
mais rápido. As formas de trabalho, a forma como aprendemos e até
mesmo as relações afetivas estão em constante mudança. Por isso, ao
criar um projeto de vida é fundamental que você saiba, inclusive, lidar
com as alterações de planos e de rota em um mundo que está em cons-
tante movimento.
“Projeto vital é uma intenção estável e generalizada de al-
cançar algo que é ao mesmo tempo significativo para o eu e gera
consequências no mundo além do eu.

110 O meu encontro com o mundo


Escolhemos essa definição porque ela destaca dois pontos-
-chaves: (1) projeto vital é uma espécie de objetivo, mas tem longo
alcance e é mais estável do que objetivos mais simples e comuns
como ‘divertir-se esta noite’, ‘encontrar um lugar para estacionar
na cidade’, ‘comprar um par de sapatos barato, mas que seja boni-
to’ ou ‘passar na prova de química’; (2) o projeto vital pode ajudar
na busca pessoal de um sentido de vida, mas vai além do aspecto
pessoal, e, por essa razão, não é um sinônimo exato. O projeto vi-
tal comunica-se com o mundo além do eu. Isso implica um desejo
de fazer diferença no mundo, talvez de contribuir com algo para
os outros, criar algo novo ou realizar algo de sua autoria.”
(DAMON, William. O que o jovem quer da vida? – Como pais
e professores podem orientar e motivar adolescentes. São Paulo:
Summus, 2009. p. 53-54.)

Autoconhecimento

No trecho acima, o psicólogo William Damon, especialista no tema


de projetos de vida para a juventude, reafirma a importância de enten-
der a relação de seu projeto de vida com o mundo onde vivemos, com
base no propósito ou sentido que você atribui para o seu futuro. Ou
seja, seu projeto de vida pode fortalecer-se ainda mais se você conse-
guir definir um sentido nobre e transformador a longo prazo. Por meio
dele é que você fará diferença no mundo.
1 Você já parou para pensar sobre qual contribuição você gostaria de Não
escreva
oferecer para o lugar onde vive? no livro

2 O que seria um propósito nobre para a sua vida, para o seu futuro?
3 Qual é a principal motivação para você ir em busca de seus sonhos?
4 O que um projeto de vida precisa ter de especial para não ser ape-
nas um objetivo imediatista?
  Fôlder do filme A Máquina: o amor é
o combustível, de João Falcão.
DILER & ASSOCIADOS

A Máquina: o amor é o combustível – Filme brasileiro de


#FICA A DICA

2006, dirigido por João Falcão, que retrata uma cidade chamada
Nordestina. De tão pequena, não está nem no mapa. Devido ao
seu tamanho diminuto, boa parte de sua população começou a
sair mundo afora em busca de um futuro melhor. Apaixonado por
“Karina da rua de baixo”, que também decide ir embora, “Antônio
de Dona Nazaré” decide construir uma máquina do tempo, para ir
ao futuro e trazer o mundo para a sua amada. Um filme que nos
faz pensar, portanto, em sonhos, no futuro e em nosso lugar no
mundo. Inspirado no livro de mesmo nome, de Adriana Falcão.

111
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO

Cooperação e resiliência
No Módulo 2, comentamos que a cooperação abre um caminho
fundamental para a constituição de seu projeto de vida. Agora leia o
texto abaixo, reflita novamente sobre a importância da cooperação
e realize as atividades indicadas logo a seguir.

“A cooperação azeita a máquina de concretização das coisas,


e a partilha é capaz de compensar aquilo que acaso nos falte
individualmente. A cooperação está embutida em nossos ge-
nes, mas não pode ficar presa a comportamentos rotineiros:
precisa desenvolver-se e ser aprofundada. O que se aplica
particularmente quando lidamos com pessoas diferentes de
nós; com elas, a cooperação torna-se um grande esforço.

[...]

Assim é que procurei explorar a cooperação como uma ha-


bilidade. Ela requer a capacidade de entender e mostrar-se
receptivo ao outro para agir em conjunto, mas o processo é
espinhoso, cheio de dificuldades e ambiguidades.”
(SENNETT, Richard. Juntos. Rio de Janeiro: Record, 2018. p. 9-10.)

Nesse texto, o autor, Richard Sennett, reafirma a relevância da


cooperação, pois, quando juntamos esforços, podemos compensar
algumas fragilidades individuais, fortalecendo o desenvolvimento
dos objetivos que queremos alcançar. Ele nos ensina também que
realizar uma atividade conjunta não é tarefa fácil, porque temos de
ser capazes, entre outras coisas, de negociar ou mesmo ceder em
algumas decisões a fim de contemplar a opinião da maioria e mes-
mo tentar superar alguma dificuldade. A capacidade de adaptar-se
aos diferentes cenários que surgem para a nossa ação no mundo é
o que se costuma denominar resiliência.

Não 1 Você concorda com o autor do texto sobre a importância e as difi-


escreva
no livro culdades da cooperação?
2 Você também acredita que por meio da cooperação podemos
compensar nossos pontos mais frágeis?
3 Você costuma realizar ou já realizou atividades que dependiam de
uma ação coletiva coordenada para alcançar um objetivo?
4 Como ocorrem a cooperação e a solidariedade na escola em que
você estuda?
5 Você se considera uma pessoa resiliente? Ou seja, você é capaz de
readequar seus objetivos a partir das dificuldades e oportunidades
que surgem em sua vida?
112 O meu encontro com o mundo
Ampliando o repertório

Para saber mais sobre resiliência, leia o texto que segue:


“A resiliência (mais estudada na infância) tenta entender
como crianças, adolescentes e adultos são capazes de sobrevi-
ver e superar adversidades, apesar de viverem em condições
de pobreza, violência intrafamiliar, doença mental dos pais

CRIS EICH
ou apesar das consequências de uma catástrofe natural, entre
outras (LUTHAR e outros, 2000). Na área de intervenção psicos-
social, a resiliência tenta promover processos que envolvam
o indivíduo e seu ambiente social, ajudando-o a superar a ad-
versidade (e o risco), adaptar-se à sociedade e ter melhor qua-
lidade de vida.”
(INFANTE, Francisca. A resiliência como processo: uma revisão da
literatura recente. In: MELILO, A.; OJEDA, E. N. S. (Orgs.). Resiliência:
descobrindo as próprias fortalezas. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 23.)

Você no mundo e o mundo em você


O mundo em que habitamos, entendido como a sociedade ou o
lugar em que vivemos, tem grande influência sobre nós, pois, simulta-
neamente, nos apresenta as possibilidades de ação e nos impõe limites.
Assim, se o mundo forma você, define caminhos e molda a pessoa que
você é, você também tem o poder de mudar muitas coisas nele. Como
diz Alfred Schutz no texto a seguir, o fato é que as coisas já existiam an-
tes de você e, por isso, é preciso, antes de mais nada, desenvolver um
esforço para compreendê-las. Uma das formas de conhecer e traçar
seus próprios caminhos no mundo em que vivemos é mapeando-o.

Ampliando o repertório

“O ‘mundo da vida cotidiana’ deve ser considerado como


o mundo intersubjetivo que já existia muito antes de nosso
nascimento, que já foi experimentado e interpretado por ou-
tros, nossos antecessores, como um mundo organizado. Toda
interpretação sobre esse mundo é baseada sobre um estoque
de experiências prévias a seu respeito, nossas próprias expe-
riências e aquelas transmitidas a nós por nossos pais e pro-
fessores que, sob a forma de um ‘conhecimento à mão’, opera
como um esquema de referência [...]
O mundo da vida cotidiana é o cenário e também o objeto
de nossas ações e interações. Nós temos que dominá-lo e trans-
formá-lo de modo a ser possível concretizar os propósitos que ➜
113
➜ buscamos realizar nele, entre nossos semelhantes. Portanto,
nós não agimos no mundo, mas também sobre o mundo.”
(SCHUTZ, Alfred. Sobre fenomenologia e relações sociais.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. p. 84-5.)

1 O que você entende desse texto?


Não
escreva 2 O que será que o autor quis dizer com o trecho: “nós não agimos no
no livro
mundo, mas também sobre o mundo”?

Mapear o mundo, mapear


a si mesmo
Acabamos de discutir como o seu projeto de vida dialoga com o
mundo; agora é o momento de ampliar seu conhecimento sobre o lu-
gar em que vive, de fazer um levantamento das oportunidades que você
pode conquistar. No Módulo 1, você teve um encontro consigo mesmo;
no Módulo 2, você se abriu para o encontro com os outros. Chegamos
agora à última etapa desse processo de descoberta e aprendizado, a do
encontro com as coletividades, que, conforme você observou nos mó-
dulos anteriores, acontece nos mais diferentes contextos: a família, a es-
cola, o bairro etc. Ou seja, trata-se de um olhar mais detido para a rede
de relações sociais de que você faz parte, para o mundo que habitamos,
refletindo sobre as expectativas que você tem para o futuro de maneira
mais profunda.

Imagem artística

PXHERE
representando a ideia de
mapeamento do mundo,
ao refletir nossas
relações com ele. 

114 O meu encontro com o mundo


O mapa é um instrumento importante para visualizar o mundo em
que vivemos, a partir de um olhar mais abrangente, e orientar as ações
que você quer empreender. A Cartografia é a ciência responsável por
sua elaboração. Cabe a ela estudar, levantar dados e planejar o traçado
dos mapas com base nas características espaciais e da paisagem.
1 Você já utilizou um mapa para se orientar ou chegar a algum lugar? Não
escreva
no livro

O que é um mapa?
Um mapa é a representação gráfica de uma área geográfica. Ele nos
orienta no espaço, mas também nos conta a história de como o local
onde vivemos se organizou e se reorganizou ao longo do tempo. Entre-
tanto, mapas não correspondem exatamente à realidade, mas nos aju-
dam a entendê-la.

“[...] Naquele império, a arte da cartografia alcançou tama-


nha perfeição que o mapa de uma única província ocupava uma
cidade inteira, e o mapa do império uma província inteira. Com
o tempo, estes mapas exagerados não bastaram e os colégios de
cartógrafos fizeram um mapa do império que tinha o tamanho
do império e coincidia com ele ponto por ponto. Menos dedica-
das ao estudo da cartografia, as gerações seguintes decidiram
que esse mapa exagerado era inútil e não sem impiedade deixa-
ram-no debaixo do sol e dos invernos. Nos desertos do oeste se
perduram despedaçados pedaços desse mapa, agora utilizados
por animais e mendigos; em todo o País não há outra reprodu-
ção equivalente… (MIRANDA, Suárez. Viajes de Varones Pruden-
tes, livro quatro, cap. XLV. Lérida, 1658)”
(BORGES, Jorge Luís. Do rigor da ciência, O Fazedor. Obras
Completas II. São Paulo: Globo, 1999. p. 247.)

Os mapas não são a realidade, mas uma representação dela. No


conto acima, o escritor Jorge Luís Borges zomba justamente da preten-
são de se querer representar a realidade de forma rígida, exatamente
como ela é. Um mapa em tamanho real seria inútil, pois não nos guiaria
em nada. Da mesma forma, um projeto de vida extremamente rígido e
que aponte tudo o que acontecerá não seria apenas impossível, como
também seria inútil ou até mesmo poderia atrapalhar você. O mundo
não é estático, muito pelo contrário, o que estamos percebendo aqui
é que ele é dinâmico, está em constante transformação. A capacidade
de adaptar-se às novas condições que a vida impõe aponta para o que
definimos anteriormente como resiliência. Por isso, um projeto de vida
precisa ser capaz de fazê-lo compreender as necessidades de adaptar-
-se às mudanças do curso da história.
115
Seu projeto de vida cabe num mapa?
Nos módulos anteriores, você aprendeu que um projeto envolve
fundamentalmente uma organização de suas ações no tempo, por meio
de um planejamento que desenha as etapas a serem seguidas. Porém,
um projeto também depende de como você se organiza no espaço. Para
isso, precisa conhecer os diversos lugares que habita e as potencialida-
des que oferecem.

Mapa afetivo
Todos nós temos caminhos que gostamos mais de seguir em
nossas jornadas diárias, bem como lugares em que gostamos mais de
estar ou realizar alguma atividade, no bairro e na cidade em que mora-
mos. Isso compõe o que aqui denominamos mapa afetivo. A proposta
agora é que você desenhe com os colegas um mapa afetivo coletivo da
turma, indicando os lugares que conhecem e de que gostam na locali-
dade onde vivem.

Veja mais O que é um mapa afetivo?


informações
na Assessoria O mapa afetivo é aquele que orienta você a
Pedagógica.
aprofundar o seu conhecimento sobre o lugar
onde vive, com base nas influências que esse
ERSTOCK

lugar tem sobre você. Trata-se, portanto, de


uma representação sensível do mundo que ha-
HUT T

bitamos. Em alguma medida, retomamos aqui o


V/ S

exercício de distanciamento do que é familiar a


SE
LT
SE

você, mas com outro objetivo e outra metodologia.


RO

A
ST
X
A proposta agora é que você pense nos lugares que
E
AL

costuma frequentar e de que mais gosta. Provavelmente,


Bússola. 
você pouco pensa a respeito deles e sua importância para você
e seus amigos.
Essa atividade propõe, portanto, que você se distancie dos espaços
que são familiares e representativos em sua vida, a fim de melhor com-
preendê-los e, dessa maneira, compreender a si mesmo. Por que será
que esses espaços são tão importantes para você?

Como criar um mapa afetivo


Agora que você tem alguma noção do que é um mapa afetivo, veja
quais são os passos para a sua criação:
1 Definição coletiva sobre quais são os lugares afetivamente im-
portantes.
116 O meu encontro com o mundo
2 Alguém (que pode ser um ou mais colegas de classe) fica res-
ponsável por anotar que lugares são esses e por que eles são
considerados importantes.
3 Seleção das principais referências afetivas para todos. Nessa
etapa, pode-se ter de negociar para abrir mão da indicação de
algum lugar para o mapa.
4 Selecionadas as referências, descreve-se o porquê de cada um
desses lugares ser importante, quais práticas são realizadas ali.
5 Esboçam-se versões prévias do mapa – projetos – em uma fo-
lha de papel sulfite ou cartolina. Nessa etapa, podem-se eleger
aqueles que têm melhor facilidade com desenho para assumir a
tarefa.
6 Escolhe-se qual desenho seria o mais representativo para toda a
turma.
7 Enfim, chega-se à criação da versão final de um mapa ampliado,
que pode ser feito em papel kraft, por exemplo. O mapa pode fi-
car exposto na própria sala de aula ou em outro espaço que pos-

CRIS EICH
sa abrigar esse tipo de atividade na escola. Se houver recursos
tecnológicos disponíveis, há também a possibilidade de criação
de um mapa on-line, para ficar disponível na internet.

Mapa afetivo – o outro


Após a criação do mapa afetivo, há uma etapa posterior que é fun-
damental: a avaliação do trabalho. O professor vai organizar a turma em
roda para discutir como foi a construção do mapa e quais as dificuldades
que vocês tiveram. Porém, o mais importante dessa etapa é discutir o
que não está no mapa. O que será que foi ocultado nele, seja porque nin- Veja comentários
na Assessoria
guém se lembrou, seja por se tratar de lugares desconhecidos ou aos Pedagógica.

quais não se tem apego sentimental.

Autoconhecimento

Mapa e projeto de vida


Reflita sobre quais espaços representados nesse mapa são im-
portantes para o seu projeto de vida, traçado no Módulo 1, e aos quais
você acrescentou sugestões ou fez alterações no Módulo 2. Pensar
sobre como o projeto de vida de cada um se situa nesse mapa do lugar
onde vive deve levá-lo a uma reflexão ainda mais ampla: como o seu
projeto de vida se situa no mundo? Esse é o momento de indagar que
outros lugares e/ou instituições poderiam ser pontos de apoio impor-
tantes para a realização do seu projeto de vida.

117
Roda de conversa

A reflexão sobre como o seu projeto de vida se enquadra no mapa


afetivo do lugar onde vive e também em um contexto mais amplo deve
levar você a aprofundar seu conhecimento sobre o mundo. Discuta em
roda de conversa os seguintes tópicos:
1 Eu conseguiria realizar meus sonhos sozinho?
2 Quem poderia me ajudar a conquistar meus sonhos?
3 Eu consigo colaborar com os sonhos de quem está à minha volta?
4 Os meus sonhos e os sonhos das pessoas que me são próximas,
na família, na escola, no lugar onde vivo, têm coisas em comum?
5 Com quem e onde eu consigo construir projetos coletivos e, desse
modo, fortalecer também os meus projetos pessoais?
6 O que eu preciso construir na coletividade, como grupo social, para
alcançar meus sonhos?
7 O que eu precisaria mudar no mundo ao meu redor para que o meu
projeto de vida seja ainda mais bem-sucedido?

Percursos
Sua trajetória de vida consiste em um lon-
go percurso que você vem trilhando desde a
sua chegada ao mundo. Seu percurso de vida
possui muitos roteiros diferentes. Como vimos
até aqui, você pode analisá-lo, retrospectiva-
mente, com base em sua relação com as cultu-
ras juvenis, com os seus amigos, com o bairro
onde vive, com os coletivos culturais, enfim,
com base em diferentes perspectivas. Neste
momento, gostaríamos de chamar a sua aten-
ção para um percurso especial: o de sua forma-
ção escolar.
Chegar ao final do Ensino Médio não é
uma tarefa fácil. Você já parou para pensar em
tudo que vivenciou até aqui, desde que entrou
na escola, quando ainda era bem pequeno?
Houve momentos de muita alegria e outros
de maior dificuldade. Porém, com toda certe-
CRIS EICH

za, foi um percurso de muita aprendizagem e


amadurecimento.

118 O meu encontro com o mundo


EDSON SATO/PULSAR IMAGENS

  Estudantes guarani-kaiowá
na cerimônia de formatura do
Ensino Médio na Escola Estadual
Indígena Aldeia de Amambai, em
Amambai (MS). em 2012.

Você consegue refletir sobre o que aprendeu e quanto você mu-


dou desde o fim do Ensino Fundamental e o início do Ensino Médio? E
como será que esse percurso seguirá após o Ensino Médio? Você já
parou para pensar sobre isso? Há muitas possibilidades, desde rea-
lizar um curso técnico até fazer um curso superior, em uma univer-
sidade que pode ser pública ou privada. Você também pode arrumar
um trabalho de período parcial ou integral ou dedicar-se a alguns in-
teresses de formação, como aprender um novo idioma, entre muitas
outras possibilidades. Pense sobre essas questões e depois com-
partilhe com a turma, em roda de conversa organizada pelo profes-
sor, com base na seguinte questão provocadora:
•• O que você vai fazer quando acabar o Ensino Médio? Já pensou a
respeito?

FLÁVIO TAMBELLINI PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS

Pro dia nascer feliz – Documentário de 2007, dirigido por


#FICA A DICA

João Jardim. Esse belo filme retrata o cotidiano de estudantes


do Ensino Médio de escolas de diferentes estados do Brasil. Por
meio de entrevistas, os estudantes revelam seus conflitos com
o percurso escolar e seus dilemas a respeito do futuro. Consta-
ta-se assim que, mesmo com grandes diferenças socioeconô-
micas, todos os jovens possuem incertezas a respeito de seus
percursos. Porém, de uma forma ou de outra, a escola pode ser
uma grande aliada nessa trajetória para o futuro.

Fôlder do filme Pro dia nascer feliz,


de João Jardim. 

119
Nós – as conexões que nos
fortalecem
Há muitas coisas em sua vida que você não conseguiria realizar
sozinho e outras que você faria ainda melhor se estivesse conectado
a outras pessoas. Uma proposta de limpeza de uma praça ou de
implantação de coleta seletiva em sua escola será muito mais
efetiva se você conseguir uma articulação com indivíduos
que aceitem ajudá-lo nessas tarefas. Sozinho, sua ação te-
ria muito pouca repercussão e/ou efetividade. Da mesma
forma, organizar um evento em sua escola, que pode ser
uma festa beneficente ou uma feira literária, vai funcionar
apenas se você conseguir engajar um grande número de
pessoas, fazendo com que cada uma assuma uma tarefa
CRIS EICH

específica para contribuir com um resultado final de sucesso.


Com as inovações das tecnologias digitais da informação
e da comunicação, muitas vezes essa ajuda não precisa nem mes-
mo ser presencial, pois as pessoas podem conversar pelas redes so-
ciais e definir o que fazer à distância. O nosso bem-estar, em grande
medida, está associado ao modo como conseguimos nos conectar
com outras pessoas. Precisamos, portanto, nos associar em redes
para obter ajuda em tarefas mais complexas ou que não conseguiría-
mos realizar sozinhos. Atualmente, essa conexão em rede está cada
vez mais fácil de ser feita, pois as tecnologias proporcionam um con-
tato rápido e eficaz.
Fortalecemos nossa rede quando saímos de nossos laços familia-
res e entramos em contato com pessoas de diferentes lugares e con-
dições sociais. Dessa maneira, também amadurecemos e aprendemos
mais sobre a vida. E apenas conseguimos isso quando somos capazes
de construir uma participação na cena pública, dialogando com espaços
de decisão e articulação social, como centros culturais, bibliotecas, em-
presas, ONGs e mesmo alguns órgãos mais formais de governo, como
secretarias ou coordenações.
1 Você consegue pensar em uma rede de contatos e apoio, com
Não
escreva pessoas e instituições, que fortaleceria o seu projeto de vida?
no livro
2 Se você tivesse de desenhar agora um outro mapa, apenas com
essa rede de apoio para o seu projeto de vida, que lugares você
destacaria?

120 O meu encontro com o mundo


Guia de oportunidades
Até aqui você aprendeu que é importante estender sua rede de rela-
ções sociais para além da família, pois isso pode proporcionar o contato
com espaços e instituições que podem ajudá-lo em seu projeto de vida.
Por isso, a orientação agora é para a construção de um guia ampliado,
não mais do bairro ou da localidade onde você vive, mas da cidade onde
mora e seus arredores. Embora a metodologia para a sua elaboração
seja muito parecida com a da construção do mapa, o guia ampliado de
oportunidades não diz respeito ao que desperta boas memórias afeti-
vas, mas aos lugares na cidade que seriam fontes importantes de apoio

CRIS EICH
para a efetivação de seu projeto de vida. Esse guia, portanto, levantará,
em grande parte, lugares que você ainda não conhece ou sobre os quais
sabe muito pouco. Por isso, será preciso incorporar outras metodologias
para a sua confecção. A primeira, e a principal delas, será a pesquisa na
internet, mas também com pessoas e espaços dentro do seu bairro que
podem, eventualmente, ajudá-lo.
Uma ação prévia será definir quem ou quais instituições podem co-
laborar para a consolidação de seu projeto de vida, tanto em termos de
formação quanto de escolha profissional. Propomos que seja uma ati-
vidade coletiva e colaborativa, afinal, quanto mais pessoas trabalharem
juntas, mais completo será o guia de oportunidades. Com isso, ganham
todos, que poderão acessar informações mais diversificadas e ampliar
as oportunidades.
Após uma conversa inicial sobre a opinião de todos os colegas a res-
peito de quais instituições poderiam dar algum tipo de apoio ou orien-
tação aos projetos de vida da turma, a ideia é que, com base nessa lista
inicial de sugestões, se possa aumentá-la ainda mais, com a finalidade
de construir uma rede de contatos que fortaleça sua caminhada rumo
ao futuro almejado. Ou seja, não se trata apenas de citar lugares, mas
de discutir como eles podem ajudar a cada um dos alunos e sua comu-
nidade. O importante é que o guia aponte para o maior número de dados
possíveis do que se conseguiu levantar, descrevendo a área de atuação,
contatos, endereço etc.
Sugestões de pontos de partida para a pesquisa
• Universidades públicas
• Cursinhos pré-vestibulares comunitários
• Cursos gratuitos de idiomas
• Cursos gratuitos de tecnologia da informação
• Cursos técnicos e/ou profissionalizantes
121
• Cursos de música, dança, teatro e/ou outras atividades artísticas
• ONGs ou projetos sociais
• Associações comunitárias
• Grupos de apoio ao jovem
• Bibliotecas
• Centros culturais
• Cinemas
• Teatros
• Espaços de lazer
• Espaços de atendimento e orientação em saúde
• Espaços de acolhimento e orientação em psicologia
• CEDECAs (Centros de Defesa da Criança e do Adolescente)
• Conselhos Tutelares
Não
escreva 1 Além desses pontos, quais outros espaços e instituições você
no livro
considera importantes para a sua formação e para o seu projeto
de vida?

Mapas da Cultura
Você sabia que o governo nacional oferece uma ferramenta criada
para mapeamento de coletivos e espaços culturais, denominada Mapas
da Cultura?
MAIS SOBRE ➜ Disponível em: http://mapas.cultura.gov.br. Acesso em: 22 nov. 2019.

Existe algum lugar interessante que seja próximo de onde você


mora? Ele seria importante para a ampliação de seu repertório cultural
e/ou para ajudar você a fortalecer seu projeto de vida? Você o incluiria
no guia de oportunidades?

REPRODUÇÃO

Imagem com mapeamento de coletivos


e espaço culturais no Brasil. Disponível
em: http://mapas.cultura.gov.br/
busca/##(global:(enabled:(space:!t),-
filterEntity:space),space:(keyword:’’)).
Acesso em: 25 fev. 2020. 

122 O meu encontro com o mundo


ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO Veja orientações
na Assessoria
Conectados Pedagógica.

Você já fez com seus colegas um levantamento de espaços de


formação, orientação e apoio presenciais. Considerando que es-
tamos na era das tecnologias digitais da informação e da comu-
nicação, que tal elaborar uma lista de endereços na internet que
também possam ser úteis? Ou mesmo criar um mapa virtual dos
lugares selecionados para divulgar em sua comunidade?

Sonhos coletivos e coletivos de sonhos Veja orientações


na Assessoria
Você já sabe que é muito importante ter um projeto de vida pes- Pedagógica.

soal ou de realização profissional. Além disso, não pode perder de


vista a sua participação como cidadão na sociedade. Se você
quiser ter condições plenas para a realização de um proje-
to profissional, certamente precisará de uma sociedade
que lhe propicie melhores condições para organizar-
-se e de um mundo sustentável do ponto de vista
ambiental. É legítimo que qualquer pessoa queira
usufruir de certo conforto e conquistar bens mate-
riais, porém o dinheiro não pode ser o objetivo pri-
mordial de sua vida. Do contrário, você não conse-

CRIS EICH
guirá encontrar um propósito ou sentido maior para a
sua trajetória no mundo. Saber administrar bem o pró-
prio dinheiro por meio de uma educação financeira pode
ser muito útil para o seu projeto de vida, no entanto, o dinheiro
ou o consumo de determinados bens deve ser sempre um dos meios
para chegar aos seus sonhos, e nunca se transformar na finalidade ou
no objetivo a ser perseguido. Além disso, você deve refletir sempre
sobre o que consome e como o que você consome afeta a vida das
outras pessoas e o meio ambiente em que vive. Muitos jovens mo-
bilizam-se por um propósito que pode envolver a busca por melho-
res condições de vida para eles mesmos e para sua comunidade, mas
também ações de defesa do meio ambiente ou de combate à poluição.
1 Você consegue imaginar-se em projetos com um propósito Não
escreva
maior, ultrapassando expectativas imediatistas e individualistas no livro

da sua vida e voltando-se para o bem comum?


2 Conhece iniciativas ou coletivos que persigam objetivos trans-
formadores para todos ao seu redor?
3 Gostaria de participar de algum projeto transformador para sua
comunidade? Em caso afirmativo, qual seria?

123
Ampliando o repertório

Muitos jovens têm se organizado em coletivos para uma atuação


cidadã e de transformação de suas condições de vida. Esses movi-
mentos têm inúmeras motivações e propostas.
A seguir, apresentamos alguns coletivos que atuam em diferentes
frentes de construção da cidadania, que ocorrem por meio da defesa
dos direitos humanos, do protagonismo juvenil e da promoção de um
convívio social pautado por valores de igualdade e respeito ao outro.

“Selo Noventa90 ajuda jovens da periferia


a lucrar com pequenos negócios
A mobilização dos jovens também tem se mostrado impor-
tante na criação de oportunidades inclusivas de trabalho. Um
exemplo é o selo Noventa90.
Autodenominada a primeira holding periférica do mun-
do, a Noventa90 incentiva o desenvolvimento de projetos da
juventude da periferia, ajudando jovens empreendedores a
monetizar pequenos negócios.
‘A ideia é conseguir trazer todo mundo que está produ-
zindo, gente que faz música, gente que trabalha com audiovi-
suaempreendedorismo, grafite, todas essas vertentes criativas
que saem de dentro da favela, juntar isso e botar todo mundo
para trabalhar no mesmo intuito, para ganhar dinheiro e viver
disso’, conta um dos fundadores, Lucas Zampieri.
Ele afirma que uma das intenções do grupo é ter uma es-
trutura mais estável, de modo que as pessoas se sintam segu-
ras em trabalhar dentro da holding.
De acordo com Lívia, a questão da sustentabilidade financei-
ra é um dos grandes desafios que os coletivos enfrentam atual-
mente no Brasil. Para a especialista, grupos precisam ‘encontrar
formas alternativas de sobrevivência’. ‘As políticas públicas e a
iniciativa privada precisam dialogar com esse protagonismo ju-
venil, para que ele possa se desenvolver melhor’, afirma.”
(NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Selo Noventa90 ajuda jovens da periferia a
lucrar com pequenos negócios. Disponível em: https://nacoesunidas.
org/coletivos-sao-novo-modelo-de-mobilizacao-entre-os-jovens/.
Acesso em: 9 out. 2019.)

Coletivo Marianas
Da cidade de Curitiba, criado em 2015, o Coletivo Marianas
tem como principal objetivo incentivar e legitimar a produção
literária e artística feminina. Ele realiza uma série de ativida-
des de promoção da literatura com o protagonismo das mulhe- ➜
124 O meu encontro com o mundo
➜ res, como saraus, recitais e intervenções de poéticas. O coleti-
vo surgiu de um projeto intitulado Meninas que Escrevem, em
2014. Desde então tem promovido eventos literários, projetos
de publicação literária e de discussão das condições sociais da
mulher no mundo contemporâneo.
(COLETIVO MARIANAS. Disponível em: https://www.
coletivomarianas.com/sobre. Acesso em: 25 fev. 2020.
Texto adaptado.)

  Integrantes do
Coletivo Marianas
durante lançamento
de antologia, em 2019.

Periferia em Movimento
“A Periferia em Movimento é uma produtora de Jornalis-
mo de Quebrada que gera e distribui informação dos extremos
ao centro.
Fundada em 2009 por jovens jornalistas que moram em
periferias da Zona Sul de São Paulo (Aline Rodrigues, Sueli Reis
Carneiro e Thiago), a Periferia em Movimento tem como mis-
são fazer um jornalismo sobre, para e a partir das periferias,
em nossa complexidade, para ocupar espaços que sempre nos
negaram e garantir o acesso a direitos. [...]
Como a gente trabalha
Atuamos a partir do Extremo Sul de São Paulo (Grajaú, Pa-
relheiros, Marsilac e Cidade Dutra) até os centros de poder nas
frentes:
Conteúdo: produção de conteúdo jornalístico de dentro
para dentro, pautando a cidade a partir da visibilização de
histórias de quem está nas frentes de luta pela garantia de di-
reitos pela cultura, saúde, educação, mobilidade, moradia, pre-
servação ambiental, trabalho e renda, com questões de gênero,
raça e classe de forma transversal.
Articulação: aproximar, representar e incidir politicamen-
te dentro e fora dos territórios de atuação na busca pela garan-
tia de direitos a partir da discussão sobre Jornalismo, Periferias
e Direitos Humanos, por meio de encontros de aprendizagem
(palestras, oficinas, cursos, vivências), curadoria e consultoria”.
(PERIFERIA EM MOVIMENTO. Disponível em: http://
periferiaemmovimento.com.br/quem-somos/.
Acesso em: 25 fev. 2020.)

125
Autoconhecimento

Pare, pense e reflita:


Veja mais
informações
na Assessoria
1 O que você acha da proposta de atuação desses coletivos?
Pedagógica.
2 Você gostaria de participar ou saber mais sobre algum deles?
3 Você conhece algum coletivo de jovens?
4 Onde você mora há algum coletivo parecido com alguns desses?

Veja agora alguns exemplos de propostas de atuação em torno das


quais os coletivos que lutam por determinadas causas sociais costumam
se organizar.

• Projetos e coletivos • Projetos e coletivos de


pelos direitos e pelo defesa dos direitos da
protagonismo das criança e do adolescente
mulheres • Projetos e coletivos
• Projetos e coletivos de que trabalham pelos
combate ao racismo direitos da pessoa com
e demais formas de deficiência (Imagem C)
preconceito • Projetos e coletivos que
• Projetos e coletivos de trabalham com educação
veganismo ou de luta e conscientização no
pelos direitos dos animais trânsito
• Projetos e coletivos de • Projetos e coletivos que
defesa do meio ambiente trabalham com direitos
(Imagem D) indígenas (Imagem A)
• Projetos e coletivos • Projetos e coletivos que
culturais de literatura, trabalham com direitos
teatro e audiovisual dos povos quilombolas
• Projetos e coletivos de (Imagem B)
defesa dos direitos do
idoso

Pesquise na internet a respeito desses exemplos e depois reflita:

5 O que você encontrou e como são os coletivos ligados a cada uma


Não
escreva dessas causas?
no livro
6 Qual a sua opinião a respeito deles?
7 Eles são importantes para quem?
8 Você concorda com a causa que eles defendem?

(C)Jogo de basquete para


cadeirantes em Breda,
na Holanda, em 2013. 

126 O meu encontro com o mundo


FABIO COLOMBINI
(A) Cacique ensinando
crianças na tribo Kalapalo
no Parque Indígena do Xingu
(MT), em 2018. 

(B) Grupo de jongo do


Quilombo Boa Esperança,
em Presidente Kennedy
(ES), em 2019. 

LUCIANA WHITAKER/PULSAR IMAGENS

(D) Jovens estudantes abraçando


a Vovó Sumaúma, árvore secular
gigante considerada a maior de
toda a região amazônica, em
Belterra (PA), em 2019. 

RUBENS CHAVES/PULSAR IMAGENS


ROB VAN ESCH/SHUTTERSTOCK

127
Veja comentários
na Assessoria Da escola para o mundo
Pedagógica.
Quando criança, uma das primeiras grandes transformações pelas quais
você passou foi a entrada na escola. Nesse processo, você deixou o mundo
familiar para adentrar um espaço mais ampliado de formação e de relações
sociais com pessoas que eram bem diferentes de você, como vimos no Mó-
dulo 2. Mesmo que muitas inseguranças e receios possam rondar a sua tra-
jetória, na escola você ainda está em um ambiente mais protegido.
Chegando ao fim da trajetória escolar na Educação Básica, com o
término do Ensino Médio se aproximando, chega o momento de definir
outra importante transição: a da escola para os primeiros passos rumo
à participação efetiva na vida adulta. E quem definirá como será esse
outro mundo, em que assumirá maiores responsabilidades, será você
mesmo, com base em seu repertório cultural, seu campo de possibilida-
des e seu projeto de vida.
Há muitas decisões a serem tomadas nesse movimento de saída do
mundo escolar:
1 Como você dará continuidade a seus estudos?
2 Onde poderá encontrar seu primeiro emprego?
3 Como organizará seu tempo para ter espaço de lazer e de encon-
tro com amigos e familiares?

Os caminhos para o projeto de vida


Para refletir sobre o seu projeto de vida, os rumos que se podem se-
guir serão divididos em dois grandes caminhos que estão entrelaçados:
•• A formação – continuidade dos estudos
•• O trabalho – inserção profissional

Não Para ajudar na sua reflexão, seguem algumas perguntas:


escreva
no livro 1 O que você tem pensado a respeito da trajetória que pretende
seguir após o Ensino Médio?
2 Quais as possibilidades que você considera mais viáveis? Elas
dialogam com os seus sonhos?
3 Há algo que você precisaria adaptar ou postergar por conta de al-
guma dificuldade a ser superada?
4 Essa decisão consta no projeto de vida que você vem traçando
desde o Módulo 1?
5 Como você poderia aprofundar e pensar melhor sobre o seu pro-
jeto de vida com base nessas duas perspectivas, da formação e
do trabalho? Qual deve ser o próximo passo?

128 O meu encontro com o mundo


Perfil profissional
Ao longo dos módulos anteriores, você elaborou o seu perfil pes-
soal. Para o mundo do trabalho, é importante aprender a elaborar o perfil
profissional e o currículo, um documento que contém a síntese de sua
formação escolar e também técnica ou profissionalizante, bem como
as experiências profissionais e outros conhecimentos e aprendizados,
como o domínio falado e escrito de línguas estrangeiras, por exemplo.

ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO

Currículo e perfil profissional


Vamos exercitar agora o papel profissional, que é outro papel social,
esboçando um currículo, que deve conter os seguintes pontos:

1 Dados pessoais: nome completo, data de nascimento, endereço


residencial, endereço eletrônico, telefone
2 Dados escolares e de formação: data de conclusão do Ensino Mé-
dio e nome da(s) instituição(ões) em que estudou
3 Dados de suas experiências e outros conhecimentos: se tiver al-
guma experiência profissional, citar o nome da empresa e descre-
ver brevemente a função que exerce(ia); conhecimentos de língua
estrangeira (básico, intermediário, avançado)

Hoje em dia, há redes sociais específicas em que se consegue divul-


gar o perfil profissional e estabelecer contatos com pessoas que po-
deriam ajudar na inserção no mercado de trabalho. Propomos agora
o exercício de apresentar-se em uma rede social com fins profissio-
nais. Escreva o seu perfil, destacando os seguintes pontos:

•• qualidades pessoais que podem ser importantes para o trabalho


que deseja;
•• suas habilidades na relação
ESTEVESF/SHUTTERSTOCK

com as outras pessoas;


•• seus conhecimentos, des-
tacando, além de sua previ-
são de conclusão do Ensino
Médio, os demais cursos que
fez, como idiomas, tecnolo-
gias da informação, profis-
sionalizantes;
•• as perspectivas para a sua
formação, indicando em que
▲▲ Carteira de Trabalho e Previdência
área pretende continuar os Social.
estudos. ➜
129
➜ O perfil profissional é público, voltado para a apresentação a pessoas
que não conhecem você e buscam candidatos para preencher vagas
nas instituições em que trabalham. Nesse perfil, queremos causar
uma boa primeira impressão, assim como no perfil pessoal, porém
este destaca aspectos mais particulares, que não interessam a em-
presas que estão em busca de profissionais para compor seu quadro
de funcionários e colaboradores.

Mural dos perfis e sonhos


Depois de escrever o seu perfil profissional, o professor vai retomar
o mural dos perfis e sonhos para que a turma preencha a tercei-
ra linha. Agora, com o perfil profissional de todos os estudantes da
turma, o mural ficará completo!

Primeira linha: Não Não Não


escreva escreva escreva
Perfil pessoal no livro no livro no livro

Segunda linha:
Não Não Não
Módulo 2 escreva escreva escreva
no livro no livro no livro

Terceira linha:
Não Não Não
Módulo 3 escreva escreva escreva
no livro no livro no livro

1 O que você achou do seu perfil profissional? Como você avalia o


Não
escreva seu perfil pessoal, escrito lá no início dessa jornada? Você muda-
no livro
ria algo?
2 E com relação ao perfil das pessoas que lhe serviram de inspira-
ção? Você faria alguma alteração?

Roda de conversa

O professor vai organizar uma roda de conversa para que a tur-


ma avalie como foi a experiência de construir o mural dos perfis e
sonhos.
1. O que você aprendeu com a elaboração desse mural?
2. Qual foi o maior desafio para você: escrever o seu perfil pessoal,
o das pessoas que lhe serviram de inspiração ou o seu perfil pro-
fissional?

130 O meu encontro com o mundo


Não há solução mágica
Todos nós sabemos que investir na formação amplia nossos ho-
rizontes, nosso olhar para a vida e, portanto, nosso repertório cultural e
nosso campo de possibilidades. Consequentemente, uma boa formação
aumenta suas chances de conseguir uma boa colocação no mercado de
trabalho. Ou seja, quanto mais consistente e diversificada for a sua forma-

CRIS EICH
ção, mais opções de trabalho surgirão. Mas é importante saber que, tanto
para a continuidade dos estudos quanto para a inserção profissional, não
há solução mágica. Tudo se constrói com organização e muito esforço!
Não acredite na cultura do imediatismo, de que haverá um cami-
nho rápido para uma grande conquista, como se costuma observar em
alguns filmes, programas de televisão e mesmo nas redes sociais. Em
muitos casos, é preciso analisar quais são as reais condições que você
tem para conseguir um determinado trabalho, refletindo sempre sobre
o que é preciso fazer para melhorar suas ofertas de oportunidades. E o
fundamental, que é o objetivo deste livro: desenvolva um projeto de vida
que lhe permita organizar-se para a realização de seus sonhos e para o
mundo do trabalho, com base em uma análise realista da sociedade em
que vive.

Roda de conversa

A escola é uma grande fonte de formação e de informação, porém Veja orientações


na Assessoria
também se aprende com as pessoas à sua volta e com os amigos, nos Pedagógica.
mais diferentes espaços. Estamos sempre aprendendo! O mais impor-
tante é saber avaliar como esses aprendizados podem ajudar você em
seu projeto de vida. A seguir apresentamos um pouco da sabedoria
dos contos populares. De um jeito divertido, por meio da linguagem
do povo, você pode acessar os conhecimentos tradicionais, que são
transmitidos oralmente, de geração em geração, ao longo dos anos. O
professor vai promover uma roda de conversa para ler o conto em voz
alta e discutir as questões apresentadas a seguir.

Quem tudo quer tudo perde


Quando Nosso Senhor andava no mundo chegou a uma
casinha de gente muito pobre e pediu de comer e de beber. Os
velhos que moravam aí deram o que possuíam e agradaram
muito o Nosso Senhor. Quando este ia embora, abençoou-os e
disse:
– Pelo que fizeram por mim, e, como são pobres e temen-
tes a Deus, podem pedir três coisas que serão realizadas ime-
diatamente. ➜
131
➜ O velho e a velha ficaram saltando de contentes. À noite,
foram jantar e conversaram sobre o sucedido, meio descon-
fiados daquelas promessas. A velha, vendo a pobreza da janta,
disse alto:
– O que eu queria agora era uma roda de linguiças assando
naquele fogo!
Palavras não eram ditas e apareceu uma roda de linguiças
assando em cima das brasas.
O velho ficou tão zangado com o pedido da mulher que
não se conteve e gritou:
– E a minha vontade é que essa linguiça fique na ponta de
sua venta para você não ser maluca!
A linguiça voou do fogo e grudou-se na ponta do nariz da
velhota que começou a chorar e lastimar-se pela desgraça.
– Acuda-me, maridinho de minh’alma! Acuda-me, mari-
dinho!
Tanto chorou e se lastimou que o velho marido teve pena
do caso e pediu que a linguiça saísse do nariz de sua mulher.
A linguiça desapareceu.
Os três pedidos não serviram de nada. Quem tudo quer
tudo perde.
Contado por Francisco Cascudo,
em Natal, Rio Grande do Norte.
(CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais
do Brasil para jovens. São Paulo: Global, 2006.)

No conto tradicional popular coletado e apresentado por Luís da


Câmara Cascudo, um casal de idosos recebe uma grande dádiva, o di-
reito de fazer três pedidos que poderiam mudar sua vida, mas algo dá
errado.
1 O que será que aconteceu para que se atrapalhassem tanto? O que
faltou a eles?
2 O que você pode aprender com esse conto popular?
3 Há algo que tenha lhe incomodado?
4 Você conhece alguma história de pessoas que tiveram uma grande
oportunidade, mas não aproveitaram? Conte aos colegas.
5 Você se lembra de outro conto ou ditado popular que considera
uma grande lição? Conte aos colegas e diga por quê.

Veja comentários Aprendendo a lidar com os problemas


na Assessoria
Pedagógica. Como ensina o conto popular, os seus sonhos não se realizarão num
passe de mágica e você não encontrará nenhum gênio que lhe conceda

132 O meu encontro com o mundo


três pedidos. Portanto, você precisa estar preparado para os obstáculos
que aparecerão à sua frente ao longo da vida. Para isso, uma das primei-
ras e mais importantes atitudes a ser tomada é enfrentar os problemas
com os pés no chão. Ao aprender que problemas fazem parte da trajetó-
ria de todas as pessoas, você descobrirá que, justamente, a disposição
de encarar o desafio de tentar superá-los é que lhe dará a motivação de
prosseguir. Se ninguém consegue viver momentos felizes e alegres o
tempo todo, pois a vida é assim, também é verdade que nenhum pro-
blema é tão grande que não possa ser enfrentado e superado.

O superpoder de compartilhar
Vamos fazer uma retrospectiva de nossos estudos até aqui. Abor-
damos a importância de conhecer e entender os próprios sentimentos e
emoções para aprender a lidar melhor com eles, e também de conhecer
as pessoas ao seu redor, compreendendo que deve, ao mesmo tem-
po, respeitá-las e exigir respeito. Você não está sozinho no mundo e,
portanto, é fundamental lembrar-se de que pode contar com as outras
pessoas com quem convive para compartilhar seus dilemas. Se algum
dia estiver com algum problema, mesmo que lhe pareça algo enorme,
procure alguém em quem confie e compartilhe suas angústias ou peça
orientações; isso certamente o ajudará muito! Como você não tem su-
perpoderes, a ajuda das outras pessoas pode ser decisiva em sua vida.
A adolescência é um período em que as emoções se tornam
muito mais intensas e ainda se está aprendendo a lidar com
elas. Por isso, muitas vezes, um problema que pode parecer
simples para um adulto, para um jovem pode parecer algo
maior do que realmente é, quase como se fosse uma bar-
reira impossível de se ultrapassar. Nesse momento, você
pode até pensar como seria bom ter superpoderes para
superar as dificuldades em um estalar de dedos. Porém,
compreenda que nada é para sempre, e a vida está todo
dia se transformando.
Você gosta de super-heróis? O que você mais ad-
mira neles? E quem você gostaria de ser, nem que fosse
por um instante? Se você tivesse superpoderes como as
personagens das histórias em quadrinhos ou dos filmes,
que tipo de poder gostaria de ter? Que problemas você gos-
taria de resolver com suas habilidades fantásticas? A imagi-
nação nos leva a pensar melhor sobre as nossas vidas, porém,
CRIS EICH

sabemos que os super-heróis existem apenas no mundo da fantasia


e do entretenimento, e que não há truque para conseguirmos alcançar

133
instantaneamente nossos objetivos. Assim, é fundamental contar sem-
pre com outras pessoas para ajudar você, seja alguém da família, da es-
cola ou da vizinhança. Os problemas tornam-se menores quando so-
mos capazes de compartilhá-los.
FOX PICTURES

Pequena Miss Sunshine – Filme de 2006, dirigido por Jona-

#FICA A DICA
than Dayton e Valerie Faris. Vencedor do Oscar 2007, a produção
conta a saga da garotinha Olive para tentar participar de um con-
curso de beleza para crianças. Ela vive com uma família cheia de
problemas e pequenos fracassos. Um pai que tenta vender um
programa de autoajuda para quem quer ser um vencedor, mas
ele próprio não obtém sucesso. Um tio depressivo. O irmão mais
velho, que é um jovem revoltado e que promete fazer voto de si-
lêncio até realizar o seu grande sonho: tornar-se piloto da força
aérea americana. E um avô meio maluco que ensaiará a garoti-
nha para sua participação no concurso. O concurso acontecerá
em outra cidade; toda a família segue numa Kombi e, ali, naquela
viagem, em meio a uma série de conflitos, dilemas e trapalha-
das, de certa maneira, todos encontrarão um objetivo maior para
suas vidas: apoiar Olive em seu sonho. Um filme divertido, que
▲▲ Fôlder do filme Pequena Miss nos faz refletir profundamente sobre como o sentido da vida
Sunshine, de Jonathan Dayton e está nas pequenas coisas.
Valerie Faris.

Autoconhecimento

Veja mais Leia o poema a seguir, de Paulo Leminski. Em seguida, reflita so-
informações
na Assessoria bre ele, respondendo às questões que seguem.
Pedagógica.
Bem no fundo
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela – silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar para trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

134 O meu encontro com o mundo
➜ mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia.


São Paulo: Companhia das Letras, 2013).

1 O que você pode aprender com a bela poesia de Leminski sobre os Não
escreva
problemas da vida? no livro

2 Por que será que não dá para resolver nossos problemas por
decreto?
3 Você considera que é importante reconhecer que, embora a vida
possa lhe dar muitas alegrias, também terá de enfrentar muitos
obstáculos e problemas ao longo da jornada? Por quê?
4 Como um planejamento para o seu futuro, por meio de um projeto
de vida, pode ajudar você a enfrentar melhor os problemas que po-
derão aparecer em sua trajetória?

Um propósito para a vida


Encontrar um propósito para a vida significa repensá-la muitas ve-
zes e tentar problematizar se você está no caminho certo. Um propósito
relaciona-se com algo grandioso que queira conquistar para você e que
poderá ajudar outras pessoas. Você consegue se lembrar de alguém
que tem ou teve um importante propósito de vida que chamou a sua
atenção?
Muitas vezes, embora o propósito possa ser grandioso, as ações
que lhe permitem encontrá-lo podem ser pequenas. Uma delas seria,
por exemplo, começar a pensar sobre o que você precisa mudar em sua
vida a fim de fugir de objetivos mais imediatistas ou fantasias que pro-
metem uma resolução rápida para a vida.
Nesta trajetória de autoconhecimento, a fim de refletir sobre seus
sonhos e seu futuro, você já aprendeu que não há um caminho rápido,
tudo envolve tempo, trabalho e dedicação. Além disso, quando somos
capazes de não pensar apenas em nossos interesses, mas de construir
sonhos compartilhados, em que ajudamos e somos ajudados por quem
está a nossa volta, o caminho para os nossos sonhos não apenas se tor-
na mais empolgante como mais recompensador e satisfatório. Não se
trata mais do desejo de comprar algo caro para se satisfazer por alguns

135
minutos e logo já querer comprar outro produto para preencher o vazio
que ficou, mas sim de sentir-se satisfeito por algo muito maior que você
pode e quer realizar, para você e para as outras pessoas.
VIDEO FILMES

Central do Brasil – Filme de 1998, dirigido por Walter Sal-

#FICA A DICA
les. Dora é uma mulher amargurada e mesquinha que engana
pessoas mais pobres e não alfabetizadas, prometendo, em
troca de dinheiro, escrever e enviar cartas aos parentes dis-
tantes delas, porém ela não as enviava. Em determinado mo-
mento de sua vida, ela encontra Josué, um menino que acabara
de perder a mãe, ficando sozinho numa cidade desconhecida.
Ela reluta em ajudá-lo a voltar para a sua cidade natal e reen-
contrar o pai, mas, ao final, acaba aceitando. Assim, ela não só
descobre o caminho da casa de Josué, mas também para o seu
próprio sentido de vida. Ao ajudar o garoto, ela, que até então
trapaceava e prejudicava as pessoas, descobre um belo pro-
pósito para seguir.

▲▲ Fôlder de Central do Brasil, de


Walter Salles.
Autoconhecimento

Os dois textos que você vai ler têm um tema em comum: o propó-
sito ou o sentido para a vida.
Na leitura dos textos, procure identificar como cada um constrói
essa ideia de sentido para a vida. Logo após, reflita sobre as questões
que seguem.
“Desejos de curto prazo vêm e vão. Um jovem pode desejar
uma boa nota em uma prova, uma namorada, o mais recente
PlayStation do mercado, uma oportunidade no time de bas-
quete ou entrar em uma faculdade prestigiada. Todos esses
são desejos; refletem objetivos imediatos que podem ou não
ter significado em longo prazo. Um projeto vital, ao contrário,
é um fim em si mesmo.
Uma pessoa, ao longo dos anos, pode mudar de projetos
vitais, ou adquirir novos; mas eles costumam durar pelo me-
nos o bastante para que um compromisso sério seja criado e
algum progresso na direção desse objetivo seja conquistado.
Um propósito pode organizar uma vida inteira, concedendo-
-lhe não apenas significado, como também inspiração e moti-
vação para o aprendizado contínuo e a realização.”
(DAMON, William. O que o jovem quer da vida? – Como pais e
professores podem orientar e motivar adolescentes. São Paulo:
Summus, 2009. p. 43.)

136 O meu encontro com o mundo
➜ AMinhaPoesia
Há tempos percebi que tinha tempos
que perdia minha poesia
Perdia porque não encontrava nenhuma razão pra ela.
Buscava nas mais simples coisas, mas lá, não estava.
E nas grandes coisas também. Sem sucesso.
Quando a perdi, chorei.
Onde estava a minha poesia?
Não tem como viver sem ela
Sem ela não tem porque.
Não tem pra quem, pra onde...
Não tem sujeito, não tem verbo, não tem luta.
Não se pode perder assim uma poesia. A poesia.
De tanto procurar, a encontrei novamente em meus
sonhos.
Voltei a sonhar.
Ela vem me visitar na realidade, na fantasia.
Olha, sente, e vai embora.
E quando ela ameaça se perder de mim, deixo-me levar
com ela.
AMinhaPoesia.
(Nina Fideles. In: BUZO, Alessandro (Curad.). Pelas periferias do Brasil.
São Paulo: Suburbano Convicto, 2010. v. 4.)

1 Que propósito maior você pensou para os seus projetos de vida? Não
escreva
no livro
2 Esse seu propósito maior é só seu ou é algo que você quer conquis-
tar para beneficiar a sua família, seus amigos e sua comunidade?
3 Por que é importante ter um propósito para a vida?
4 Como esse propósito ou sentido pode ajudar você com seus proje-
tos de vida?

Um sentido para as escolhas


Você já parou para pensar, dentre as áreas de conhecimento do En-
sino Médio – Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Ciências da Natu-
reza e suas tecnologias, Matemática e suas tecnologias e Linguagens e
suas tecnologias –, de qual você mais gosta?
Essa é uma questão importante porque pode ajudar na definição de
qual carreira seguir, nos estudos e no mercado de trabalho. Você deve
considerar, por exemplo, que se tem maior afinidade com números, pro-
vavelmente a melhor opção seria mais voltada para a área de Exatas.
Agora, se você gosta mais de escrever, talvez algo na área de Humanas
ou mais ligado à comunicação.
137
Enfim, você pode estabelecer muitas outras possibilidades de cor-
respondência entre o que aprende na escola e o que quer seguir. De re-
pente, um conteúdo específico de uma área do saber pode estar muito
relacionado com um curso e um campo de trabalho específico.
A reflexão sobre essas questões é importante porque elas aju-
dam não apenas na escolha, mas também a atribuir um propósito
para essa definição. Ou seja, se você seguir por um caminho de que
gosta mais, certamente encontrará muito mais satisfação no que vai
estudar e com o que vai trabalhar posteriormente. Assim, conquistará
efetivamente um sentido para a sua trajetória após o Ensino Médio.
Pesquise na internet sobre as áreas de formação e trabalho que você
gostaria de seguir.
1 Quais são os temas estudados?
2 Esses temas têm relação com o que mais gosta de fazer na es-
CRIS EICH

cola hoje?
3 O que o profissional dessa área faz?
Não
escreva 4 Quais são os seus principais campos de trabalho?
no livro
5 Você consegue ver-se realizando as tarefas desse profissional?

Veja comentários Um projeto de vida profissional e de formação


na Assessoria
Pedagógica. Neste livro, você começou pensando livremente, no Módulo 1, em
um sonho pessoal; depois seguiu, no Módulo 2, para um projeto de vida
coletivo, com proposta de intervenção e transformação social. Agora
convidamos você a refletir de novo sobre os seus sonhos, lembrando
sempre que nunca estamos isolados do mundo. Por isso, mesmo quan-
do focar em seus próprios interesses, é importante avaliá-los na intera-
ção com as outras pessoas.
Sendo assim, chegou o momento de pensar mais detidamente a
respeito de sua formação e escolha profissional após a conclusão do
Ensino Médio. Com base na pesquisa que você acabou de fazer, ao re-
fletir sobre o propósito para as suas escolhas, pense a respeito das se-
guintes questões:
1 O que planeja para a sua vida ao encerrar o Ensino Médio?
Não
escreva 2 Você já havia parado para pensar sobre isso?
no livro
3 Quem pode ajudar você a realizar esse seu projeto de vida?

Siga novamente as etapas de elaboração de um projeto de vida que


aprendeu no Módulo 1 e retomou no Módulo 2, mas, desta vez, tome
como referência os seus objetivos após o término do Ensino Médio.
Pense em termos do repertório cultural que precisa conquistar e avalie o
138 O meu encontro com o mundo
seu campo de possibilidades, conforme as etapas já trabalhadas lá, que
indicamos a seguir.

As etapas de elaboração de um projeto de vida Competências gerais


6e7
1.a etapa: A definição do sonho ou conquista
Competências específicas
2. etapa: Os objetivos (o que se tem de alcançar para realizar o sonho a
a 4 (Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas)
curto, médio e longo prazo)
Habilidades
3. etapa: A análise do contexto e do campo de possibilidades
a
EM13CHS401
EM13CHS402
4.a etapa: Ajuste entre o sonho e o campo de possibilidades EM13CHS403
EM13CHS404
5.a etapa: A estratégia

Roda de conversa

Esta roda de conversa será importante, pois se trata de uma das


últimas rodas de conversa para pensar sobre seus projetos de vida.
Neste momento, cada um apresenta o que elaborou como pro-
jeto de vida para a formação e escolha profissional e o que preten-
de fazer para alcançá-lo. Esse compartilhamento de experiências e
projetos será muito importante, porque o que cada um pensou para si
pode ser útil para o colega avaliar o campo de possibilidades de seu
próprio projeto.
Nesta etapa, você e seus colegas já devem começar a refletir
sobre as alternativas que terão de elaborar caso precisem alterar ou
adaptar o seu projeto de vida principal.
Essa também é a hora de, coletivamente, colocar-se a pergunta
principal: Qual é o propósito para o meu projeto de vida?

Vivência de fechamento Veja orientações


na Assessoria
Pedagógica.
Nesta vivência de fechamento, a proposta é criar um grande evento
no qual se apresentem todos os trabalhos que foram criados ao longo
dessa trajetória de reflexão sobre o projeto de vida. Este é o momento
de expor para toda a escola e a comunidade do entorno os seguintes
trabalhos realizados:
1 O mural dos perfis e sonhos da turma, contendo:
a) perfil pessoal;
b) perfil das pessoas inspiradoras;
c) perfil profissional.
139
2 O mapa afetivo do lugar onde vivemos.
3 O guia de oportunidades para os jovens do bairro.
Como este é o momento final de sua reflexão sobre o projeto de
vida, seria interessante trazer convidados que pudessem contar um
pouco sobre a sua experiência profissional. O que você e seus colegas
acham dessa ideia?
Vocês poderiam convidar pessoas que tenham inserções no mer-
cado de trabalho ligadas às profissões que uma boa parte dos estudan-
tes gostaria de seguir.
Organizem uma mesa-redonda com convidados interessantes para
Competências gerais conversar sobre suas trajetórias profissionais. Empreendedores da re-
6, 7, 9 e 10 gião também poderiam ser convidados para contar os desafios que en-
Competências específicas frentaram para colocar em prática os seus projetos.
4 (Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas) Os professores e gestores da escola podem ajudar a pensar na es-
Habilidades colha das pessoas e fazer os convites. Da mesma forma, você e seus
EM13CHS401 colegas podem retomar seus mapas afetivos e guias de oportunidades
EM13CHS402
EM13CHS403 para também pensar em inspirações profissionais para o projeto de vida,
EM13CHS404 com base nessas referências.

CRIS EICH

140 O meu encontro com o mundo


Avaliação do Módulo 3
Após a primeira parte da vivência, de volta à sala de aula, é hora de
avaliar o último módulo desta jornada. Cada um, individualmente, anota
em seu caderno:
1 Como me senti neste módulo de discussão sobre o projeto de Não
escreva
vida? no livro

2 Quais foram os novos aprendizados?


3 Como foi a minha participação nas atividades propostas?
4 Como foi pensar sobre as escolhas profissionais e em um projeto
a esse respeito?
5 Qual é a importância da reflexão sobre um propósito para a vida?
Ela me fez pensar diferente a respeito dos meus projetos?
6 Este Módulo 3 forneceu elementos para lidar melhor com os pro-
blemas ou entendê-los de outra forma?
7 O que foi mais desafiador até aqui?
Se quiser, anote outras observações que julgar necessárias.

Roda de conversa

Após essa reflexão individual, o professor vai organizar a turma


para discutir o que você e seus colegas acharam do trabalho deste
módulo e da vivência de fechamento, com base nas questões que
cada um anotou.

141
142
Fim da jornada

Chegamos ao final desta proposta de autoconhecimento e de com-


preensão de seu papel no mundo em que vivemos, a fim de que possa
ter mais condições de pensar no futuro e organizar-se para a realização
de seus sonhos por meio da formulação de um projeto de vida. O ca-
minho traçado nessa jornada começou com uma sensibilização para o
mundo dos projetos, a fim de conhecer melhor o quanto ele é necessá-
rio em muitos âmbitos da sociedade. Depois, seguiu pelos três módulos,
cada um com uma proposta específica de experimentação e aprendiza-
do, mas sempre interligados.
Dessa maneira, no Módulo 1, O meu encontro comigo, você apro-
fundou a reflexão sobre projeto de vida e vivenciou metodologias de
autoconhecimento e de estímulo ao protagonismo juvenil, com o intui-
to principal de pensar melhor sobre os sonhos e como realizá-los. Por
isso, discutiu-se inclusive sobre a distinção entre imaginação e fantasia,
com a primeira apontando para uma perspectiva criativa e necessária e
a segunda remetendo a uma postura menos realista e até mais egoísta.
Ao final do módulo, você experimentou colocar no papel seu projeto de
vida pessoal, já pensando no caminho necessário para a sua realização
de modo efetivo.
No Módulo 2, O meu encontro com os outros, discutimos a impor-
tância de atentar para o fato de que você não está sozinho no mundo.
Quem você é e como é depende muito de quem são as pessoas com
as quais se relaciona. Houve um exercício importante de aprendizado do
convívio com o outro, que pode servir para a vida toda, que são os pro-
cedimentos de familiarização e distanciamento. Por meio deles, é pos-
sível organizar-se no mundo de modo a pensar criticamente a respeito
do que está próximo de você e, ao mesmo tempo, reconhecer a impor-
tância de estar aberto às diferenças. Nesse módulo, discutimos como o

143
amor, entendido como a capacidade de estabelecer relações saudáveis
e coletivas, é o principal sentimento para a sua articulação no mundo.
Com base nele, é possível conseguir, entre outras coisas, juntar forças
para pensar em sonhos e projetos coletivos, que mudem não apenas
sua vida, mas também a das pessoas com quem convive.
Por fim, no terceiro e último módulo, O meu encontro com o
mundo, você produziu uma síntese dos dois módulos anteriores,
avançando em direção a um objetivo fundamental, que é o de pensar
a sua inserção no mundo após a conclusão do Ensino Médio. Por isso,
focou-se principalmente nos aspectos de formação e do trabalho.
Nessa parte da jornada de tantas descobertas, servimo-nos da me-
todologia de mapeamento e levantamento de informações impor-
tantes para esse processo de amadurecimento que a conclusão do
Ensino Médio representa. Da mesma forma, você começou a com-
preender que é preciso aprender a lidar com os problemas, pois eles
são presença constante na vida de todos, e a capacidade de saber
superá-los é justamente o que lhe permitirá realizar seus projetos de
vida e alcançar seus sonhos.
Esperamos que você tenha aproveitado essa aventura de auto-
conhecimento e de aprofundamento sobre a importância dos proje-
tos de vida. Ao longo do livro, foi proposta uma série de atividades de
autoconhecimento, com questões reflexivas, de ampliação de reper-
tório, com textos para aprofundar o estudo de determinados aspec-
tos e algumas dicas de filmes, séries e leituras. Esperamos que você
tenha aproveitado cada atividade e que este livro tenha lhe deixado
muitos aprendizados. Esperamos ter, de alguma forma, ajudado em
uma reflexão mais apurada sobre os seus sonhos e no planejamento
para um futuro promissor e transformador!
CRIS EICH

144 Fim da jornada


Avaliação final
Encerrada a jornada pelo projeto de vida, avalie como foi essa ex-
periência e o que foi possível aprender para uma ação mais efetiva no
mundo. Anote em seu caderno como você acredita que foi o seu apro-
veitamento em termos de sua habilidade de:
•• falar em público e argumentar;
•• realizar discussões com base em fatos e evidências;
•• participar de um debate de forma ativa e respeitosa com as opi-
niões divergentes;
•• entender seu papel social no mundo;
•• refletir sobre o futuro profissional;
•• compreender a importância da participação cidadã;
•• organizar-se para o planejamento de um projeto de vida;
•• reconhecer as próprias potencialidades e fragilidades;
•• atuar com perseverança em busca dos sonhos.

Roda de conversa

O professor vai organizar uma última roda de conversa, para que


você e seus colegas discutam coletivamente cada um desses apren-
dizados.

145
Relação das competências gerais e específicas
e habilidades mencionadas nesta obra

1. Competências gerais

Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-


‑se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender
as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas
ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade,
autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis,


para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões
comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência
socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e
global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo,
dos outros e do planeta.

Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional,


compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas
emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com
elas.

Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação,


fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos
direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de
indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, iidentidades, culturas e
potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10

Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade,


flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base
em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

146 Fim da jornada


2. Linguagens e suas Tecnologias:
competências específicas e habilidades
Presente em
Competência
Habilidade Atividades
específica Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3
/ seções

EM13LGG102: Analisar visões de mundo, con-


1. Compreender o funcio- flitos de interesse, preconceitos e ideologias
namento das diferentes presentes nos discursos veiculados nas dife-
#FicaADica
linguagens e práticas rentes mídias, ampliando suas possibilidades
culturais (artísticas, de explicação, interpretação e intervenção
corporais e verbais) e crítica da/na realidade.
mobilizar esses conhe-
EM13LGG103: Analisar o funcionamento das
cimentos na recepção e
linguagens, para interpretar e produzir critica- Ampliando o
produção de discursos
mente discursos em textos de diversas semio- repertório
nos diferentes campos
ses (visuais, verbais, sonoras, gestuais).
de atuação social e nas
diversas mídias, para
EM13LGG104: Utilizar as diferentes linguagens,
ampliar as formas de
levando em conta seus funcionamentos, para Vivência de Vivência de
participação social,
a compreensão e produção de textos e discur- transição transição
o entendimento e as
sos em diversos campos de atuação.
possibilidades de expli-
cação e interpretação EM13LGG105: Analisar e experimentar diver-
crítica da realidade e sos processos de remidiação de produções Atividade de
para continuar apren- multissemióticas, multimídia e transmídia, aprofunda-
dendo. desenvolvendo diferentes modos de participa- mento
ção e intervenção social.

2. Compreender os pro-
cessos identitários,
conflitos e relações de EM13LGG202: Analisar interesses, relações de
poder que permeiam poder e perspectivas de mundo nos discursos
as práticas sociais de das diversas práticas de linguagem (artísticas, Autoconheci-
linguagem, respeitando corporais e verbais), compreendendo critica- mento
as diversidades e a mente o modo como circulam, constituem-se
pluralidade de ideias e (re)produzem significação e ideologias.
e posições, e atuar
socialmente com base
em princípios e valores
assentados na demo-
cracia, na igualdade e
nos Direitos Humanos, EM13LGG204: Dialogar e produzir entendi-
exercitando o autoco- mento mútuo, nas diversas linguagens (artís- Etapas de Etapas de
nhecimento, a empatia, ticas, corporais e verbais), com vistas ao inte- elaboração elaboração
o diálogo, a resolução resse comum pautado em princípios e valores de um pro- de um pro-
de conflitos e a coope- de equidade assentados na democracia e nos jeto de vida jeto de vida
ração, e combatendo Direitos Humanos.
preconceitos de qual-
quer natureza.

147
3. Ciências Humanas e Sociais Aplicadas:
competências específicas e habilidades
Presente em
Competência
Habilidade Atividades
específica Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3
/ seções

1. Analisar processos EM13CHS102: Identificar, analisar e discutir as


políticos, econômicos, circunstâncias históricas, geográficas, políticas,
sociais, ambientais e econômicas, sociais, ambientais e culturais de
culturais nos âmbitos matrizes conceituais (etnocentrismo, racismo, Atividade de
local, regional, na- evolução, modernidade, cooperativismo/ aprofunda-
cional e mundial em desenvolvimento etc.), avaliando criticamente mento
diferentes tempos, a seu significado histórico e comparando-as a
partir da pluralidade de narrativas que contemplem outros agentes e
procedimentos episte- discursos.
mológicos, científicos
e tecnológicos, de
EM13CHS103: Elaborar hipóteses, selecionar
modo a compreender
evidências e compor argumentos relativos a
e posicionar-se criti- Atividade de
processos políticos, econômicos, sociais, am-
camente em relação aprofunda-
bientais, culturais e epistemológicos, com base
a eles, considerando mento
na sistematização de dados e informações
diferentes pontos de
de diversas naturezas (expressões artísticas, Ampliando o
vista e tomando de-
textos filosóficos e sociológicos, documen- repertório
cisões baseadas em
tos históricos e geográficos, gráficos, mapas,
argumentos e fontes
tabelas, tradições orais, entre outros).
de natureza científica.

EM13CHS401: Identificar e analisar as rela- Etapas de


ções entre sujeitos, grupos, classes sociais e elaboração
sociedades com culturas distintas diante das de um pro-
transformações técnicas, tecnológicas e infor- jeto de vida
macionais e das novas formas de trabalho ao
longo do tempo, em diferentes espaços (urba- Vivência de
nos e rurais) e contextos. fechamento

Etapas de
EM13CHS402: Analisar e comparar indicadores elaboração
de emprego, trabalho e renda em diferentes de um pro-
4. Analisar as relações espaços, escalas e tempos, associando-os a jeto de vida
de produção, capital e processos de estratificação e desigualdade
trabalho em diferentes socioeconômica. Vivência de
territórios, contextos e fechamento
culturas, discutindo o
papel dessas relações EM13CHS403: Caracterizar e analisar os im- Etapas de
na construção, consoli- pactos das transformações tecnológicas nas elaboração
dação e transformação relações sociais e de trabalho próprias da con- de um pro-
das sociedades. temporaneidade, promovendo ações voltadas jeto de vida
à superação das desigualdades sociais, da Vivência de
opressão e da violação dos Direitos Humanos. fechamento

EM13CHS404: Identificar e discutir os múl- Etapas de


tiplos aspectos do trabalho em diferentes elaboração
circunstâncias e contextos históricos e/ou de um pro-
geográficos e seus efeitos sobre as gerações, jeto de vida
em especial, os jovens, levando em considera-
ção, na atualidade, as transformações técnicas, Vivência de
tecnológicas e informacionais. fechamento

148 Fim da jornada


Presente em
Competência
Habilidade Atividades
específica Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3
/ seções

EM13CHS605: Analisar os princípios da de-


claração dos Direitos Humanos, recorrendo às
noções de justiça, igualdade e fraternidade,
identificar os progressos e entraves à concreti- Etapas de
zação desses direitos nas diversas sociedades elaboração
contemporâneas e promover ações concretas de um pro-
6. Participar do debate
diante da desigualdade e das violações desses jeto de vida
público de forma crítica,
direitos em diferentes espaços de vivência,
respeitando diferentes
respeitando a identidade de cada grupo e de
posições e fazendo
cada indivíduo.
escolhas alinhadas ao
exercício da cidadania e
EM13CHS606: Analisar as características
ao seu projeto de vida,
socioeconômicas da sociedade brasileira –
com liberdade, autono- Etapas de
com base na análise de documentos (dados,
mia, consciência crítica elaboração
tabelas, mapas etc.) de diferentes fontes – e
e responsabilidade. de um pro-
propor medidas para enfrentar os problemas Vivência de Roda de
identificados e construir uma sociedade mais jeto de vida transição conversa
próspera, justa e inclusiva, que valorize o Vivência de
protagonismo de seus cidadãos e promova o transição
autoconhecimento, a autoestima, a autocon-
fiança e a empatia.

149
Referências bibliográficas comentadas

ABRAMO, Helena. Identidades juvenis: estudo, tra- BITTENCOURT, João. Corpo e afeto nas culturas ju-
balho e conjugalidade em trajetórias reversíveis. In: venis. Latitude, v. 6, n. 1, p. 25-36, 2012. Disponível
PINHEIRO, Diógenes et al (Orgs.). Agenda Juventude em: www.seer.ufal.br/index.php/latitude/article/
Brasil: leituras sobre uma década de mudanças. Rio view/852. Acesso em: 25 out. 2019.
de Janeiro: Unirio, 2016. Artigo instigante, baseado em pesquisa sociológica
Importante texto que trata das transformações nas do autor com grupos juvenis, que trata da importân-
trajetórias da juventude em direção à vida adulta. A cia do corpo e do afeto nas relações dos jovens entre
obra como um todo aborda questões sobre o tema si e com integrantes de outras gerações.
da juventude na contemporaneidade.
BORGES, Jorge Luís. Do rigor da ciência, O Fazedor.
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. No seu pescoço. São Obras Completas II. São Paulo: Globo, 1999.
Paulo: Companhia das Letras, 2017. Nesse texto, o escritor argentino brinca com a inutili-
Neste livro de contos, a autora nigeriana discute te- dade de uma representação cartográfica que corres-
máticas fundamentais do mundo contemporâneo, ponda exatamente à realidade.
como a migração, a desigualdade racial e os conflitos
religiosos e familiares.   BUZO, Alessandro (Curadoria). Pelas periferias do
Brasil. São Paulo: Suburbano Convicto, 2010. v. 4.
ALCALDE, Emerson. (A) massa: poesias e dramatur- Obra coletiva de poesias de diferentes autores, orga-
gias. São Paulo: Edicon, 2013. nizada por Alessandro Buzzo, poeta suburbano con-
Coletânea de poesias cujo autor retrata o seu coti- victo da periferia de São Paulo.
diano como morador da periferia de São Paulo. Po-
de-se enquadrá-lo como uma das muitas produções CAMPOS, Vinícius. O amor nos tempos do blog. São
da chamada literatura periférica. Paulo: Reviravolta, 2018.
Obra de literatura juvenil que relata as novas formas
AZIGON, Talles. O mar original. Fortaleza: Substânsia, de comunicação e relacionamento dos jovens na
2015. contemporaneidade, a partir das novas tecnologias.
Livro de micropoemas de Talles Azigon que faz refe-
rência à poesia marginal dos anos 1970. CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do
Brasil para jovens. São Paulo: Global, 2006.
BAUMAN, Zygmunt. O amor líquido: sobre a fragilida- Coletânia de contos populares recolhidos por Câma-
de dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. ra Cascudo em seu estado, o Rio Grande do Norte,
Aqui, o autor discute as transformações nas relações que narram diferentes temáticas importantes para a
sociais no mundo contemporâneo. Sendo assim, a di- constituição histórica do povo brasileiro.
mensão amorosa seria apenas um dos aspectos a se
pensar. Trata-se de uma discussão fundamental para DAMON, William. O que o jovem quer da vida? Como
entender as novos modos de relacionar-se consigo e pais e professores podem orientar e motivar adoles-
com o mundo na juventude contemporânea. centes. São Paulo: Summus, 2009.
William Damon é um psicólogo responsável por uma
. Sobre educação e juventude. Rio de Janeiro: discussão bastante aprofundada sobre juventude e
Zahar, 2013. projeto de vida. Nesta obra, ele aborda a importância
Em diferentes textos e propostas, são abordadas as de se trabalhar com a ideia de projeto e propósito de
mudanças na educação e na juventude no mundo vida para que os jovens construam trajetórias bem-
atual. Um convite para se pensar as diferenças como -sucedidas.
questão fundamental para as relações sociais em um
mundo globalizado.

150 Fim da jornada


GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida . Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras,
cotidiana. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. 2013.
Nessa obra de sociologia e psicologia social, discute- Coletânia de poesias de Leminski.
-se como cada um de nós, conforme o ambiente e/
ou instituição, pode assumir um papel social diferen- LIMA, Nádia Laguárdia de. A escrita virtual na ado-
te, com base nas expectativas que temos sobre os lescência: Uma leitura psicanalítica. Belo Horizonte:
outros e que imaginamos que os outros têm de nós. Editora da UFMG, 2014.
A partir da análise de blogs, a autora discute, de uma
HAN, Byung-Chul. A agonia do Eros. Petrópolis, RJ: perspectiva psicanalítica, a importância da escrita
Vozes, 2017. virtual na adolescência. Demonstra as tranforma-
A obra trata das mudanças nas relações sociais e ções que essa prática apresenta, da escrita privada
afetivas na sociedade tecnológica, com um especial à escrita pública na internet.
chamado para se compreender a importância do ou-
tro em nossa vida. LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Planeta, 2012.
Relato vivo do cotidiano da favela de Cidade de
INFANTE, Francisca. A resiliência como processo: uma Deus, no Rio de Janeiro, nos anos 1970 e 1980. Ins-
revisão da literatura recente. In: MELILO, A.; OJEDA, E. pirou o premiadíssimo filme homônimo.
N. S. (Orgs.). Resiliência: descobrindo as próprias for-
talezas. Porto Alegre: Artmed, 2005. LISPECTOR, Clarice. Aprendendo a viver. Rio de Ja-
Capítulo em que a autora realiza uma revisão biblio- neiro: Rocco, 2004.
gráfica da discussão sobre a importância da resiliên- Livro que reúne crônicas que a escritora publicou no
cia para os jovens. Jornal da Tarde, entre 1967 e 1973. Nele, há muitos
textos autobiográficos.
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário
de uma favelada. São Paulo: Ática, 2007. MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na
Diário pessoal em que a autora narra sua vida na fa- educação e na política. Belo Horizonte: Editora da
vela do Canindé, em São Paulo. Obra emblemática e UFMG, 1998.
inspiradora de uma mulher negra batalhadora que, Para o autor, as emoções são aspectos funda-
apesar da pouca instrução formal, escreveu um sen- mentais da vida humana. O amor, entendido como
sível e importante registro literário. a capacidade de compreensão do outro, é o senti-
mento fundamental da construção de si e da pró-
LAKATOS, Eva; MARCONI, Marina. Metodologia do pria sociedade.
trabalho científico. São Paulo: Atlas, 1992.
Trabalho de discussão de diferentes aspectos da MORLEY, Helena. Minha vida de menina. São Paulo:
metodologia científica, desde como fazer uma pes- Companhia de Bolso, 2016.
quisa bibliográfica até como escrever um texto aca- Diário em que a autora narra sua infância em Dia-
dêmico. Recomendado para pesquisadores ou para mantina, cidade mineira, no século XIX.
quem quer saber mais a respeito dos métodos da
pesquisa científica. ORWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009.
LEMINSKI, Paulo. Ensaios e anseios crípticos. Campi-
Obra distópica que previa um futuro, em 1984, no qual
nas: Editora da Unicamp, 2011.
todas as pessoas seriam vigiadas o tempo inteiro por
Livros de ensaios e poesias desse importante câmeras controladas por um Estado autoritário.
poeta curitibano, que transita entre o erudito e a
cultura pop.

151
PENNAC, Daniel. Diário de Escola. Rio de Janeiro: Roc- SIBILIA, Paula. Do homo psico-lógico ao homo tecno-
co, 2008. -lógico: a crise da interioridade. Semiosfera, ano 3, n.
7, 2004.
Nessa obra, Pennac narra a importância da leitura e da
escrita para a sua vida de estudante e de professor. Nesse artigo, a autora trata das mudanças do modo
como as pessoas entendem a si mesmas e apresen-
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio tam-se no mundo. Se no passado havia um mundo
de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. interior altamente valorizado, com os romances e o
Obra fundamental da literatura brasileira. Nela, o diário privado, no presente, o que se tem é uma va-
autor narra poeticamente a saga de Riobaldo pelos lorização do mundo exterior cada vez mais intensa.
sertões do Brasil.
VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose: antropolo-
SARAMAGO, José. O conto da ilha desconhecida. São gia das sociedades complexas. Rio de Janeiro: Zahar,
Paulo: Companhia das Letras, 1998. 2003.
Pequeno livro em que o autor português descreve Inspirado na discussão de Alfred Schutz, o antro-
as aventuras de um homem que vai em busca de pólogo brasileiro discute as noções de projeto e de
seu sonho, arrumar um barco para encontrar uma campo de possibilidades.
ilha desconhecida. Uma obra para se refletir sobre os
sentidos da vida. YOUSAFZAI, Malala; LAMB, Christina. Eu sou Malala.
A história da garota que defendeu o direito à educa-
SCHUTZ, Alfred. Sobre fenomenologia e relações so- ção e foi baleada pelo Talibã. São Paulo: Companhia
ciais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. das Letras, 2013.
Nessa obra fundamental das ciências sociais, Al- Autobiografia da jovem paquistanesa, que relata sua
fred Schutz discute as noções de mundo e campo de luta pelo direito à educação em seu país.
possiblidades.
ZAMBONI, Márcio. Marcadores sociais da diferença.
SCHUYETEMA, Paul. Design de games: uma aborda- Sociologia: grandes temas do conhecimento (Espe-
gem prática. São Paulo: Cengage Learning, 2008. cial Desigualdades), São Paulo, v. 1, 1 ago. 2014.
Livro para quem deseja aprender um pouco mais so- Artigo em que se discute a complexidade das dife-
bre design de games. renças no mundo contemporâneo, apontando para
a importância de se entender em que momento elas
SENNETT, Richard. Juntos. Rio de Janeiro: Record, podem se tornar desigualdades.
2018.
Nesta importante obra, Richard Sennett trata da im-
portância da cooperação para a constituição da so-
ciedade. Em um mundo em que as diferenças tendem
a ser acentuadas, pensar em projetos e propostas de
construção coletivas mostram-se, segundo o autor,
fundamentais para um futuro promissor.

152 Fim da jornada


Projeto
de Vida

Assessoria Pedagógica
Sumário

Apresentação..................................................................................................................................... 155

Cronograma.......................................................................................................................................................... 157

Uma abordagem propositiva........................................................................................................................159

Enfoque integrador – Competências e Habilidades........................................................................160

A inspiração conceitual para os projetos de vida................................................................................161

Temas Contemporâneos Transversais na Base Nacional Comum Curricular.....................165

Uma pedagogia da afiliação ao projeto de vida..................................................................................165

Culturas juvenis e protagonismo...............................................................................................................166

O trabalho docente com as culturas juvenis........................................................................................ 167

Orientações específicas da obra.................................................................................................. 168

Apresentação .....................................................................................................................................................168

Módulo 1 ................................................................................................................................................................. 170

Módulo 2 ................................................................................................................................................................ 179

Módulo 3 ................................................................................................................................................................184

Referências bibliográficas............................................................................................................... 190

154 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


Apresentação

Prezado(a) professor(a), mo, compreenda que ele vive com outras pessoas e
que, por isso, precisa pensar também na sua interação
A proposta deste livro é trabalhar com os sonhos
com essas pessoas. Nesse momento, o convite é para
e anseios dos estudantes, orientando-os a definir ob-
aprofundar a compreensão de seu papel social. Desse
jetivos e um propósito para organizar seus projetos de
modo, a questão do respeito às diferenças surge com
vida. O livro está dividido em três módulos:
bastante força, principalmente com base em uma re-
1 O meu encontro comigo flexão sobre as culturas juvenis. Portanto, no Módulo
2 O meu encontro com os outros 1, o foco é o projeto de vida pessoal e, no Módulo 2,
a ideia é pensar nos sonhos e projetos coletivos da
3 O meu encontro com o mundo
turma. Trabalha-se também com o amor, entendido
O Módulo 1 concentra o trabalho com atividades como a capacidade de estabelecer relações saudá-
de autoconhecimento, em que é sugerido aos jovens veis e construir uma participação cidadã, pensando no
refletir sobre sua subjetividade e como ela se insere amor em suas múltiplas representações. O principal
em um mundo em transformação. Nesse momento, aprendizado nesse módulo é o de distanciamento do
eles são convidados a conhecer-se melhor e a pen- que é familiar e de familiarização com o que é estra-
sar na configuração de sua própria biografia, refletin- nho/desconhecido. Esse é um ponto importante, na
do, inclusive, sobre a distinção entre público e privado. medida em que o primeiro movimento permite am-
Os estudantes também são convidados a escrever pliar o autoconhecimento, agora inserido na socieda-
um diário, entendendo essa atividade simultanea- de, pois, quando se analisam questões que eram na-
mente como um processo de ampliação do autoco- turalizadas, pode-se perceber o que é preciso mudar
nhecimento, mas também de uma escrita e auto- ou melhorar em si mesmo e na relação com os outros.
ria de sua história, convocando o jovem a assumir o Da mesma forma, discute-se como a abertura para a
protagonismo de sua vida. O projeto de vida é apre- familiarização com o estranho ou desconhecido pode
sentado aqui com seus múltiplas questionamentos, levar, ao mesmo tempo, ao respeito a diferenças e a
inclusive na possibilidade de não realização. Inicia-se novos aprendizados sobre o mundo.
aqui um aprendizado sobre frustrações e a capacida- Por fim, o terceiro e último módulo trata do en-
de de resiliência, de criação de novos projetos de vida contro dos jovens com o mundo, pensando principal-
com base nos diferentes contextos que a vida venha mente na aproximação do fim do Ensino Médio e na
a apresentar. necessidade de pensar na continuidade da trajetória
No Módulo 2, a proposta é que o estudante, a par- da formação e nas perspectivas para o trabalho ou
tir desse primeiro exercício de encontro consigo mes- a escolha de uma carreira profissional. A ideia aqui é

Apresentação 155
trabalhar com o mapeamento do mundo em que vi- o jovem aprenda a explorar ao máximo as inovações,
vemos, sob diferentes perspectivas, partindo do ma- mas sempre atento a possíveis maus usos, como o
peamento afetivo do que está próximo dos jovens e do compartilhamento de notícias falsas ou de um uso
ampliando o olhar para lugares e oportunidades que excessivo da tecnologia em detrimento das relações
podem ser encontradas na cidade ou nas proximida- sociais.
des de onde eles vivem. O objetivo é que os jovens Ao final de cada módulo é proposta uma vivên-
desenvolvam meios de acionar recursos e institui- cia de transição ou de fechamento, no caso do último
ções que possam ajudá-los e orientá-los em seus módulo. A ideia é que os estudantes articulem, em
projetos de vida. Do mesmo modo, retoma-se a dis- um formato de apresentação, as questões principais
cussão, iniciada no Módulo 1, a respeito de como lidar que vivenciaram no processo de aprendizado sobre
com os problemas e as frustrações, entendendo-os o projeto de vida. Como cada módulo apresenta uma
como parte importante da vida de todas as pessoas. proposta específica, essas vivências também têm
Embora cada módulo tenha um enfoque diferen- suas especificidades, e o professor pode adaptá-las
te, eles estão interligados por uma série de temáticas conforme as particularidades da turma e da escola.
e questões, como a reflexão sobre os papéis sociais Ao final de cada módulo, há também avaliações co-
e a constante provocação feita aos jovens para que letivas e individuais do percurso realizado. Não há um
pensem sobre o seu papel no mundo, em sua relação perfil disciplinar definido para o trabalho com projeto
consigo mesmo, mas também com as outras pessoas de vida, pois, de maneira geral, todos os perfis teriam
e as instituições, e com o mercado de trabalho. A di- condição de aplicar a metodologia proposta. Contudo,
mensão do cuidado consigo mesmo e da sensibilida- conforme as competências e habilidades destacadas,
de na relação com as outras pessoas é transversal ao docentes das áreas de Linguagens e suas Tecnologias
conteúdo do livro. Da mesma forma, procura-se ex- para o Ensino Médio e Ciências Humanas e Sociais
plorar as transformações que as tecnologias digitais aplicadas para o Ensino Médio poderão ter maior fa-
da informação e da comunicação imprimem às rela- miliaridade com as temáticas abordadas e a proposta
ções sociais, profissionais e afetivas. O objetivo é que metodológica.

156 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


Cronograma

O cronograma para realização das atividades e vivências desta obra pode ser estruturado bimestral, trimes-
tral, semestral ou anualmente, a depender da realidade de cada escola.
Veja a seguir as sugestões que oferecemos a cada um dos sistemas:

Cronograma bimestral

1.º ano 2.º ano 3.º ano


Módulos 1.º 2.º 3.º 4.º 1.º 2.º 3.º 4.º 1.º 2.º 3.º 4.º
bim. bim. bim. bim. bim. bim. bim. bim. bim. bim. bim. bim.

Apresentação
1. O meu encontro
comigo

2. O meu encontro
com os outros

3. O meu encontro
com o mundo

Cronograma trimestral

1.º ano 2.º ano 3.º ano


Módulos 1.º 2.º 3.º 1.º 2.º 3.º 1.º 2.º 3.º
trim. trim. trim. trim. trim. trim. trim. trim. trim.

Apresentação
1. O meu encontro
comigo

2. O meu encontro
com os outros

3. O meu encontro
com o mundo

Apresentação 157
Cronograma semestral
•• Apresentação e O meu encontro comigo – 2 semestres
•• O meu encontro com os outros – 2 semestres
•• O meu encontro com o mundo – 1 semestre

1.º ano 2.º ano 3.º ano


Módulos 1.º 2.º 1.º 2.º 1.º 2.º
semestre semestre semestre semestre semestre semestre

Apresentação
1. O meu encontro
comigo

2. O meu encontro
com os outros

3. O meu encontro
com o mundo

Cronograma anual
•• Apresentação e O meu encontro comigo – 1.o ano
•• O meu encontro com os outros – 2.o ano
•• O meu encontro com o mundo – 3.o ano (Concentrado na primeira metade do 3.º ano do Ensino Médio)

Módulos 1.º ano 2.º ano 3.º ano

Apresentação
1. O meu encontro
comigo

2. O meu encontro
com os outros

3. O meu encontro
com o mundo

158 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


Uma abordagem propositiva

Este é um livro que, embora apresente um diag- A todos aqueles que hoje imputam a cons-
nóstico da sociedade contemporânea para que o jo- tituição de bandos unicamente ao fenômeno
vem possa se situar, traz uma referência propositiva dos subúrbios, eu digo: vocês têm razão, sim,
e positiva para os jovens. Entende-se que o diagnós- o desemprego, sim, a concentração dos excluí-
tico dos problemas é fundamental para que se possa dos, sim, os reagrupamentos étnicos, sim, a ti-
pensar em soluções ou alternativas. Trata-se de uma rania das marcas, a família monoparental, sim,
obra que apresenta propostas de reflexão, ação e pla- o desenvolvimento de uma economia paralela
nejamento de futuro, apontando caminhos possíveis, e os tráficos de toda a espécie, sim, sim, sim...
sem desprezar os obstáculos, tomando-os, inclusive, Mas deixemos de subestimar a única coisa com
como parte das rotas a serem traçadas pelos jovens. relação à qual podemos pessoalmente agir e
Entendemos, porém, que é preciso ir além das cons- que data da noite dos tempos pedagógicos: a
tatações dos problemas, em busca de propostas de solidão e a vergonha do aluno que não enten-
ações para a superação deles. Uma das formas de se de, perdido num mundo em que todos os ou-
alcançar isso é enfocar as potencialidades dos estu- tros se entendem.
dantes em seus processos educativos, apontando,
Somente nós podemos tirá-lo dessa prisão, quer
inclusive, para as possibilidades de transformação.
sejamos ou não formados para isso.
Hoje em dia, conta-se com um considerável acú-
Os professores que me salvaram – e que fizeram
mulo de pesquisas e discussão teórica a respeito do
de mim um professor – não eram formados para isso.
reflexo das desigualdades da sociedade no desempe-
Eles não se preocuparam com as origens de minha
nho escolar. Elas certamente cumpriram e ainda cum-
enfermidade escolar. Eles não perderam tempo em
prem um papel importante de denunciar o processo
buscar as causas nem em me passar sermões. Eles
por meio do qual o fracasso escolar seria apenas o
resultado de determinações sociais mais amplas. O eram adultos confrontados com adolescentes em pe-
grande problema, como apontam Bernard Charlot e rigo. Eles se disseram que havia urgência. Eles mergu-
Rosemeire Reis (2014), é que, para reverter tal dura lharam. Perderam-me. Mergulharam de novo, dia após
realidade, esse diagnóstico abriria poucas saídas para dia, mais e mais... Acabaram me tirando de lá. E muitos
a atuação da escola e dos educadores. No limite, em outros, comigo. Eles literalmente nos resgataram. Nós
alguns casos, quase não há mais o que o professor lhes devemos a vida. (PENNAC, 2008)
possa fazer em seu trabalho cotidiano, a não ser resig- Em síntese, não se trata de desprezar as desi-
nar-se à ideia de que há na escola apenas fracasso e gualdades e os processos de reprodução do fracas-
uma incontornável reprodução das desigualdades. O so escolar, que são sua consequência mais direta
escritor Daniel Pennac, em um livro muito inspirador, na escola, mas sim de também olhar a partir de uma
intitulado Diário de escola (2008), traz o relato de um perspectiva das potencialidades. Ou seja, trata-se de,
aluno que era considerado lerdo, mas que passa a ser como afirmam Masschelein e Simons (2015), tomar
um professor que se preocupa justamente com alunos um plano de igualdade como ponto de partida do tra-
considerados lerdos, tentando oferecer a eles um pro- balho docente, o de que todos os alunos são capazes
pósito para a vida por meio do aprendizado da literatu- de aprender, independentemente dos recursos e da
ra. Em um determinado trecho do livro, Pennac afirma: origem social.

Apresentação 159
Enfoque integrador –
Competências e Habilidades

Esta obra trabalha fundamentalmente com as áreas que fornecem recursos para a formulação do
competências gerais 6 e 7 da Educação Básica, pro- projeto de vida, mas que, ao mesmo tempo, propiciam
postas na Base Nacional Comum Curricular: a ampliação do repertório dos jovens para uma parti-
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivên- cipação cidadã na vida pública. Portanto, a formação
cias culturais e apropriar-se de conhecimentos focada no projeto de vida não se prende a uma área ou
e experiências que lhe possibilitem entender as componente curricular específico. O que se recomen-
relações próprias do mundo do trabalho e fazer da ao professor que trabalhará com a metodologia de
escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e projeto de vida é justamente atuar prioritariamente
ao seu projeto de vida, com liberdade, autono- para o desenvolvimento de habilidades ligadas a es-
mia, consciência crítica e responsabilidade. sas duas competências gerais da BNCC apresenta-
7. Argumentar com base em fatos, dados e in- das. Por isso, cabe ao professor avaliar se, no decorrer
formações confiáveis, para formular, negociar do trabalho, os estudantes são capazes, entre outras
e defender ideias, pontos de vista e decisões habilidades, de:
comuns que respeitem e promovam os direitos
•• argumentar de maneira clara e com base em fun-
humanos, a consciência socioambiental e o con-
damentos sólidos;
sumo responsável em âmbito local, regional e
global, com posicionamento ético em relação ao •• realizar inferências a partir de evidências;
cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. •• confrontar pontos de vista de forma respeitosa;
(BRASIL, 2018, p. 9) •• entender a perspectiva global e o seu lugar em um
Em tese, a proposta de trabalho com o projeto mundo de interconexões;
de vida deveria ser encaminhada pelos professores •• desenvolver consciência e engajamento cidadão;
dos componentes curriculares de Sociologia e Filo- •• agir com determinação em busca de seus projetos;
sofia. Contudo, há também grande proximidade das
•• esforçar-se para alcançar os objetivos e planejar
questões dos outros componentes da área de Ciên-
meios de superar desafios e adversidades;
cias Humanas e Sociais Aplicadas, bem como da área
de Linguagens e suas Tecnologias. Por isso, embo- •• reconhecer suas potencialidades e fragilidades;
ra indicando o perfil dos professores de Sociologia e •• atuar com perseverança;
Filosofia como o mais adequado para a abordagem
•• autoavaliar-se de maneira realista e construtiva;
deste livro, ela também pode ser feita por professores
com o perfil mais voltado aos componentes de His- •• compreender as dinâmicas atuais do mundo do
tória, Geografia e Língua Portuguesa. Isso porque as trabalho;
atividades propostas estão todas focadas no enten- •• formular um projeto efetivo para o seu futuro e sua
dimento dos saberes e conhecimentos de diferentes inserção no mundo do trabalho.

160 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


A inspiração conceitual para os projetos de vida

Para a discussão sobre projeto de vida, este livro basta só planejar um futuro sólido, mas é preciso es-
inspira-se, fundamentalmente, na obra de quatro au- tabelecer também um propósito nobre para a vida.
tores: o indiano Arjun Appadurai; o francês Jean-Pierre Ou seja, causas em que acreditar e caminhos positi-
Boutinet; o estadunidense William Damon; e o brasi- vos a seguir que forneçam motivações para buscar a
leiro Gilberto Velho. Todos tratam o projeto de vida a realização dos sonhos. Em alguma medida, portanto,
partir de uma perspectiva específica. a reflexão de Damon encontra-se com a de Appadu-
Appadurai (1996), por exemplo, aborda a impor- rai a respeito da necessidade de que se evite, no pro-
tância de atentar para a capacidade que as pessoas cesso de construção dos projetos de vida, a armadi-
desenvolvem de aspirar a um futuro. Segundo esse lha das fantasias ou das perspectivas imediatistas e
autor, esse futuro pode ser elaborado a partir de duas ilusórias.
perspectivas: Além da divisão em módulos e das temáticas
1. a da imaginação, que pode constituir um projeto principais de cada um deles, o livro também apresenta
coletivo de transformação efetiva da realidade in- algumas seções particulares para levar os estudantes
dividual social; a novas reflexões e ligações com outras questões. Por
isso, visando à ampliação de repertório cultural dos
2. a da fantasia, caracterizada como um impulso estudantes, a elaboração de uma consciência crítica
egoísta, autotélico e pouco calcado na realidade. e, principalmente, o desenvolvimento das compe-
Gilberto Velho (2003), por sua vez, apresen- tências e habilidades apresentadas na BNCC, os es-
ta uma ampla reflexão sobre as noções de projeto e tudantes poderão estabelecer novas conexões nas
campo de possibilidades, sendo estas últimas as es- seguintes seções:
colhas que são dadas a cada indivíduo com base em
seu pertencimento social e cultural, e o primeiro, o Autoconhecimento
modo como cada indivíduo avalia esse campo de pos-
sibilidades a fim de construir o seu próprio desempe- Sempre que houver essa chamada, o estudante
nho e/ou performance. será convidado a fazer uma reflexão pessoal.
O trabalho de Jean-Pierre Boutinet (2002) abor- Objetivo: articular-se com a proposta de levá-lo a
da uma reflexão mais técnica sobre o quanto a socie- pensar mais sobre si mesmo e seu papel no mundo.
dade ocidental tornou os projetos um procedimento
Justificativa da pertinência do objetivo: a construção
central de reflexão e atuação no mundo. Em seu livro
do projeto de vida tem de partir do autoconhecimento
Antropologia do projeto, ele inclusive sistematiza for-
e da capacidade de reconhecer as próprias emoções,
mas de organizar e pensar as etapas de um projeto,
considerando potencialidades e limitações.
nas quais nos inspiramos para a proposição das ati-
vidades de elaboração de projetos no fechamento de Para as atividades desta seção, serão desen-
cada um dos módulos. volvidas as seguintes competências gerais, compe-
tências específicas e habilidades, conforme a BNCC e
Por fim, mas não menos importante, deve-se
com ênfase em alguns aspectos mais voltados à me-
destacar o trabalho de William Damon (2009) a res-
todologia de trabalho com projeto de vida:
peito do que ele denomina de projetos vitais para a
juventude. Conforme esse autor, com base em ex- Competências gerais da educação básica
tensa pesquisa com jovens a respeito de como or- 7. Argumentar com base em fatos, dados e infor-
ganizavam suas perspectivas de futuro, elaborar um mações confiáveis, para formular, negociar e de-
projeto de vida é fundamental para que os jovens fender ideias, pontos de vista e decisões comuns
consigam estabelecer uma trajetória de sucesso que respeitem e promovam os direitos humanos,
para si mesmos. E ele vai além, afirmando que não a consciência socioambiental e o consumo res-

Apresentação 161
ponsável em âmbito local, regional e global, com volvidas as seguintes competências gerais, compe-
posicionamento ético em relação ao cuidado de tências específicas e habilidades, conforme a BNCC e
si mesmo, dos outros e do planeta. com ênfase em alguns aspectos mais voltados à me-
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua todologia de trabalho com projeto de vida:
saúde física e emocional, compreendendo-se Competências gerais da educação básica
na diversidade humana e reconhecendo suas
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivên-
emoções e as dos outros, com autocrítica e
cias culturais e apropriar-se de conhecimentos
capacidade para lidar com elas. (BRASIL, 2018,
e experiências que lhe possibilitem entender as
p. 9-10)
relações próprias do mundo do trabalho e fazer
Competências específicas de Linguagens e suas escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e
Tecnologias para o Ensino Médio ao seu projeto de vida, com liberdade, autono-
2. Compreender os processos identitários, mia, consciência crítica e responsabilidade.
conflitos e relações de poder que permeiam 7. Argumentar com base em fatos, dados e in-
as práticas sociais de linguagem, respeitando formações confiáveis, para formular, negociar
as diversidades e a pluralidade de ideias e po- e defender ideias, pontos de vista e decisões
sições, e atuar socialmente com base em prin- comuns que respeitem e promovam os direitos
cípios e valores assentados na democracia, na humanos, a consciência socioambiental e o con-
igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando sumo responsável em âmbito local, regional e
o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a global, com posicionamento ético em relação ao
resolução de conflitos e a cooperação, e com- cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
batendo preconceitos de qualquer natureza. (BRASIL, 2018, p. 9)
(BRASIL, 2018, p. 490).
Competências específicas de Linguagens e suas
Habilidades Tecnologias para o Ensino Médio
(EM13LGG202) Analisar interesses, relações de 1. Compreender o funcionamento das diferen-
poder e perspectivas de mundo nos discursos tes linguagens e práticas culturais (artísticas,
das diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e verbais) e mobilizar esses conhe-
corporais e verbais), compreendendo critica- cimentos na recepção e produção de discursos
mente o modo como circulam, constituem-se e nos diferentes campos de atuação social e nas
(re)produzem significação e ideologias. (BRASIL, diversas mídias, para ampliar as formas de par-
2018, p. 492). ticipação social, o entendimento e as possibili-
dades de explicação e interpretação crítica da
Ampliando o repertório realidade e para continuar aprendendo. (BRASIL,
2018, p. 490).
Nesse caso, propiciam-se informações extras ou Ciências Humanas e Sociais Aplicadas para o
ligadas a um contexto complementar ao que estiver
Ensino Médio
sendo discutido.
1. Analisar processos políticos, econômicos, so-
Objetivo: aguçar a curiosidade científica dos estudan-
ciais, ambientais e culturais nos âmbitos local, re-
tes, incentivando-os a descobrir novas referências.
gional, nacional e mundial em diferentes tempos,
Justificativa da pertinência do objetivo: permitir o a partir da pluralidade de procedimentos episte-
aprofundamento dos temas abordados e a constitui- mológicos, científicos e tecnológicos, de modo a
ção de novos links, por meio dos quais os estudantes compreender e posicionar-se criticamente em
possam produzir novas pesquisas e outras associa- relação a eles, considerando diferentes pontos
ções. Ampliam-se, assim, as possibilidades de reali- de vista e tomando decisões baseadas em argu-
zação de um projeto de vida exitoso. mentos e fontes de natureza científica. (BRASIL,
Para as atividades desta seção, serão desen- 2018, p. 570).

162 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


Habilidades sumo responsável em âmbito local, regional e
(EM13LGG105) Analisar e experimentar diversos global, com posicionamento ético em relação ao
processos de remidiação de produções multis- cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
semióticas, multimídia e transmídia, desenvol- (BRASIL, 2018, p. 9)
vendo diferentes modos de participação e inter- Competências específicas de Ciências Humanas e
venção social. (BRASIL, 2018, p. 491). Sociais Aplicadas para o Ensino Médio
(EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar
1. Analisar processos políticos, econômicos, so-
evidências e compor argumentos relativos a
ciais, ambientais e culturais nos âmbitos local, re-
processos políticos, econômicos, sociais, am-
gional, nacional e mundial em diferentes tempos,
bientais, culturais e epistemológicos, com base
a partir da pluralidade de procedimentos episte-
na sistematização de dados e informações de di-
mológicos, científicos e tecnológicos, de modo a
versas naturezas (expressões artísticas, textos
compreender e posicionar-se criticamente em
filosóficos e sociológicos, documentos históricos
relação a eles, considerando diferentes pontos
e geográficos, gráficos, mapas, tabelas, tradições
de vista e tomando decisões baseadas em argu-
orais, entre outros). (BRASIL, 2018, p. 572).
mentos e fontes de natureza científica. (BRASIL,
2018, p. 571).
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
Habilidades
Como o próprio nome diz, esta seção propõe al-
(EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as
gumas questões que são explicitadas e experimen-
circunstâncias históricas, geográficas, políticas,
tadas por meio de atividades individuais ou coletivas.
econômicas, sociais, ambientais e culturais de
Objetivo: aprofundar questões importantes de cada matrizes conceituais (etnocentrismo, racismo,
módulo. evolução, modernidade, cooperativismo/desen-
Justificativa da pertinência do objetivo: um olhar mais volvimento etc.), avaliando criticamente seu sig-
aprofundado pode contribuir para a potencialização nificado histórico e comparando-as a narrativas
das capacidades de análise, discussão e argumenta- que contemplem outros agentes e discursos.
ção sobre questões fundamentais para a elaboração (EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar
do projeto de vida pessoal. evidências e compor argumentos relativos a
processos políticos, econômicos, sociais, am-
Para as atividades desta seção, serão desen-
bientais, culturais e epistemológicos, com base
volvidas as seguintes competências gerais, compe-
na sistematização de dados e informações de
tências específicas e habilidades, conforme a BNCC e
diversas naturezas (expressões artísticas,
com ênfase em alguns aspectos mais voltados à me-
textos filosóficos e sociológicos, documentos
todologia de trabalho com projeto de vida:
históricos e geográficos, gráficos, mapas, ta-
Competências gerais da educação básica belas, tradições orais, entre outros). (BRASIL,
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivên- 2018, p. 572).
cias culturais e apropriar-se de conhecimentos
e experiências que lhe possibilitem entender as #FICA A DICA
relações próprias do mundo do trabalho e fazer
escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e Esta seção apresenta links que levam os estu-
ao seu projeto de vida, com liberdade, autono- dantes para outros contextos e informações as mais
mia, consciência crítica e responsabilidade. diversificadas possíveis. Trata-se de dicas culturais
7. Argumentar com base em fatos, dados e in- de filmes, séries, livros, instituições, entre outras refe-
formações confiáveis, para formular, negociar rências que lhes agucem a curiosidade de saber mais
e defender ideias, pontos de vista e decisões sobre um determinado assunto.
comuns que respeitem e promovam os direitos Objetivo: apresentar informações adicionais em dife-
humanos, a consciência socioambiental e o con- rentes linguagens artísticas.

Apresentação 163
Justificativa da pertinência do objetivo: permitir a vida com base no diálogo com os colegas.
aproximação dos estudantes com novos conheci-
Justificativa da pertinência do objetivo: as rodas de
mentos e aprofundar o envolvimento deles no traba-
conversa são momentos preciosos para os estudan-
lho com seus projetos de vida.
tes trabalharem com a argumentação e a necessária
Para as atividades desta seção, serão desen-
mediação sociocultural para respeitar as diferenças
volvidas as seguintes competências gerais, compe-
de opiniões.
tências específicas e habilidades, conforme a BNCC e
com ênfase em alguns aspectos mais voltados à me- Para as atividades desta seção, serão desen-
todologia de trabalho com projeto de vida: volvidas as seguintes competências gerais, compe-
Competências gerais da educação básica tências específicas e habilidades, conforme a BNCC e
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências com ênfase em alguns aspectos mais voltados à me-
culturais e apropriar-se de conhecimentos e ex- todologia de trabalho com projeto de vida:
periências que lhe possibilitem entender as rela- Competências gerais da educação básica
ções próprias do mundo do trabalho e fazer es-
7. Argumentar com base em fatos, dados e in-
colhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao
seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, formações confiáveis, para formular, negociar
consciência crítica e responsabilidade. (BRASIL, e defender ideias, pontos de vista e decisões
2018, p. 9). comuns que respeitem e promovam os direitos
humanos, a consciência socioambiental e o con-
Competências específicas de Linguagens e suas
sumo responsável em âmbito local, regional e
Tecnologias para o Ensino Médio
global, com posicionamento ético em relação ao
1. Compreender o funcionamento das diferentes
cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
linguagens e práticas culturais (artísticas, corpo-
rais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos (BRASIL, 2018, p. 9)
na recepção e produção de discursos nos dife- Competências específicas de Ciências Humanas e
rentes campos de atuação social e nas diversas
Sociais Aplicadas para o Ensino Médio
mídias, para ampliar as formas de participação
social, o entendimento e as possibilidades de ex- 6. Participar do debate público de forma crítica,
plicação e interpretação crítica da realidade e para respeitando diferentes posições e fazendo es-
continuar aprendendo. (BRASIL, 2018, p. 490). colhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao
seu projeto de vida, com liberdade, autonomia,
Habilidades
consciência crítica e responsabilidade. (BRASIL,
(EM13LGG102) Analisar visões de mundo, confli-
2018, p. 570).
tos de interesse, preconceitos e ideologias pre-
sentes nos discursos veiculados nas diferentes Habilidades
mídias, ampliando suas possibilidades de expli-
(EM13CHS606) Analisar as características so-
cação, interpretação e intervenção crítica da/na
realidade. (BRASIL, 2018, p. 491). cioeconômicas da sociedade brasileira – com
base na análise de documentos (dados, tabelas,
mapas etc.) de diferentes fontes – e propor me-
Roda de conversa
didas para enfrentar os problemas identificados
Sempre que houver indicação para a roda de e construir uma sociedade mais próspera, justa
conversa, a proposta é que os estudantes realizem e inclusiva, que valorize o protagonismo de seus
uma discussão coletiva sobre determinado assunto. cidadãos e promova o autoconhecimento, a au-
Objetivo: realizar discussões coletivas que permitam toestima, a autoconfiança e a empatia. (BRASIL,
afinar percepções sobre a elaboração do projeto de 2018, p. 579).

164 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


Temas Contemporâneos Transversais
na Base Nacional Comum Curricular

De modo a aguçar nos jovens uma consciência Direitos da Criança e do Adolescente; Diversidade
cidadã que os prepare para uma participação crítica na Cultural; Educação em Direitos Humanos; Educação
sociedade em que vivem, esta obra procura trabalhar para valorização do multiculturalismo nas matrizes
com temas que ressaltem e valorizem esse pensa- históricas e culturais brasileiras; Vida Familiar e Social.
mento. Assim, ao se debruçarem sobre a elaboração Considera-se o envolvimento dos jovens com
de seu próprio projeto de vida, eles também encon- tais temáticas de relevância social, cultural e cidadã
tram espaço para uma reflexão sobre si e seu papel como fundamental para a organização de um projeto
em um mundo de constantes e intensas mudanças de vida consistente e realista, pois, além da formação
em diferentes âmbitos, do trabalho, do lazer, das no- para um posicionamento ético e reflexivo, destaca-se
vas tecnologias, da família e mesmo o da educação. a importância de eles terem condições de estabelecer
Para que tudo isso ocorra de fato, uma série de um propósito para a sua vida.
temas contemporâneos de grande relevância social O convite aqui, portanto, é para que se propor-
será aqui abordada de maneira transversal por meio cione as condições para que os estudantes possam
das atividades, vivências e reflexões propostas. Des- realizar um movimento constante entre questões
sa forma, sob as mais diferentes perspectivas, o li- mais particulares, que dizem respeito ao seu projeto
vro traz à tona importantes temas contemporâneos de vida singular, e esses temas mais abrangentes, de
transversais como: Ciência e Tecnologia; Trabalho; relevância coletiva.

Uma pedagogia da afiliação ao projeto de vida

O livro trabalha com a proposta metodológica de projeto para as suas vidas.


uma pedagogia da afiliação, desenvolvida por Alain Com isso, parte-se de dois princípios: (1) de que
Coulon (2017) em pesquisa na qual discute a integra- eles possuem sua própria reflexividade e, portanto,
ção de estudantes ao contexto escolar e universitá- são capazes de fazer suas próprias análises e esco-
rio. Na verdade, ainda segundo esse autor, o trabalho lhas, exercendo o protagonismo juvenil; (2) de que
de afiliação se dá por meio de um enfoque etnome- eles, além dessa capacidade reflexiva, já possuem um
todológico, centrado na análise dos métodos ou pro- importante repertório cultural, que deve ser valorizado
cedimentos que as pessoas adotam em seu dia a dia e incentivado a ser ampliado e enriquecido pelo con-
para realizar as mais diferentes tarefas. “Podemos tato com outros repertórios culturais. Dessa manei-
dar uma definição menos sofisticada da etnometo- ra, as propostas de Autoconhecimento e Atividades
dologia: é o estudo do que as pessoas sabem sobre de aprofundamento são fundamentais para explorar
o que elas fazem e sobre as consequências de suas a reflexividade desses estudantes, provocando-a a
ações” (COULON, 2017, p. 1243). Ou seja, a proposta refinar-se por novas questões. As outras atividades
da pedagogia da afiliação é conseguir a participação propostas têm o intuito de possibilitar novos elemen-
dos estudantes, seja na vida escolar, seja numa ati- tos para ampliação de repertório dos jovens. Decor-
vidade específica. Em nosso caso específico, o que rem daí as propostas em Ampliando o repertório e
se quer é afiliar os estudantes a uma perspectiva de #FicaADica. Os estudantes ainda são convidados a

Apresentação 165
exercitar uma série de competências e habilidades a cação, os estudantes já estão inseridos num contexto
partir das muitas propostas de investigação e vivên- de muitas e diferentes formas de escrita. Sendo assim,
cias coletivas apresentadas em Roda de conversa. os exercícios de escrita propostos nessa obra têm a in-
tenção de trabalhar com base em uma escrita cotidiana
Por fim, Coulon, propõe a escrita como um ele-
que os jovens já realizam nas redes sociais, por exem-
mento fundamental das propostas de uma pedago-
plo, a fim de ampliá-la, proporcionando maior reflexivi-
gia da afiliação. Por meio da escrita cotidiana sobre si
dade e capacidade de instrumentalização para a cons-
mesmos, os estudantes podem trabalhar suas próprias
trução de um projeto de vida efetivo e transformador.
emoções e distanciamentos frente à escola e às ativi- Levando em consideração todos esses aspectos, você
dades propostas nas discussões sobre projeto de vida, perceberá que há uma série de trabalhos com a escrita
ao mesmo tempo que materializam melhor o seu per- dos jovens, desde os perfis biográficos até a proposta
curso escolar e, assim, podem formular com maior cla- do diário pessoal, além da escrita de diferentes versões
reza os seus projetos de vida. No mundo transformado de projetos de vida, formulados com base nos objetivos
pelas tecnologias digitais da informação e da comuni- e propósitos discutidos.

Culturas juvenis e protagonismo

O trabalho com projeto de vida deve levar sem- Esse é um âmbito muito importante para os jo-
pre em consideração as especificidades da juventude. vens, pois, por meio das culturas juvenis, muitas
Ou seja, trata-se de entender o quanto é difícil para os vezes, eles estabelecem o seu primeiro contato au-
mais jovens articular um pensamento mais metódico tônomo com o espaço público e com relações mais
sobre o seu futuro, tendo em vista que essa é uma amplas, que transcendem a família. Trata-se, portan-
fase em que as preocupações com o presente ten- to, de uma instância importante de amadurecimento.
dem a ser mais intensas. Esse é o momento da vida Por isso, é preciso levar as culturas juvenis a sério.
em que se tem de atentar para as transformações Elas podem e devem ser importantes pontos de par-
no corpo, para as inseguranças nas relações afetivas, tida para a discussão sobre os projetos de vida. Nessa
obra, sugerimos aos estudantes uma atividade mais
para as novas responsabilidades de uma autonomia
específica sobre as culturas juvenis, mas propomos
maior frente à família e para as novidades da indústria
que o trabalho com o projeto de vida valorize sempre
cultural e do entretenimento.
esse aspecto. Não se trata, entretanto, de tomá-las
Para os jovens, lazer é coisa séria! Os momentos acriticamente, mas sim de suscitar problematizações
de diversão e fruição cultural são fundamentais para o e experimentos de distanciamento para que os estu-
seu desenvolvimento. No tempo livre é que as cultu- dantes possam indagar-se, por sua própria conta, a
ras juvenis se formam, por meio da criação de grupos respeito de quais aspectos de suas culturas juvenis
de pares em que se estabelecem dinâmicas de bus- podem ajudá-los ou atrapalhá-los na implementação
ca por reconhecimento e distinção social. Em outras de seu projeto de vida. Assim, valoriza-se o repertó-
palavras, nas culturas juvenis, o que se quer é dife- rio cultural dos jovens, oferecendo, ao mesmo tem-
renciar-se dos mais velhos e de outros jovens e, ao po, elementos para que possam ampliá-lo e torná-lo
mesmo tempo, estabelecer um grupo de iguais. Esse mais complexo.
movimento levaria ao que o pensador francês Michel O mais importante para o trabalho docente com
Maffesoli (2014, p. XXVIII) denomina de ressurgimen- as culturas juvenis é entender que o estudante não
to de um sentimento tribalista, definido como a recria- é uma função ou papel social automatizado que os
ção de certo espírito comunitário e gregário. indivíduos assumem ao adentrarem o espaço esco-

166 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


lar. Não existe, aliás, um papel social ou função de- dois lados teriam muito a perder, mas de reconhecê-
finida previamente para o que é ser um estudante. -las como parte fundamental do cotidiano do Ensino
O que há são as muitas singularidades que os jo- Médio, cabendo à escola oferecer roteiros para que
vens experimentam em sua vida e que adentrarão os jovens transitem criticamente pelos seus mais
as escolas com muita intensidade, ainda mais com diferentes interesses culturais. Levar as culturas
as novas tecnologias digitais da informação e da co- juvenis a sério e garantir aos jovens protagonismo
municação. Cabe ao professor colocar-se no papel sobre seu processo de construção do aprendizado
de mediador dessas particularidades das culturas certamente permitirá uma afiliação bem-sucedida à
juvenis no contexto escolar. Assim, a proposta é de instituição escolar e ao seu trabalho com os projetos
não as enfrentar ou combater, pois certamente os de vida.

O trabalho docente com as culturas juvenis

Acreditamos que o trabalho com protagonismo panorama da discussão em língua portuguesa sobre
juvenil no cotidiano escolar é tão importante que todo as culturas juvenis desde o final dos anos 1990, com
professor que atua no Ensino Médio deveria minima- maior foco na realidade brasileira. Há muitas perspec-
mente atentar para a temática das culturas juvenis ou tivas e abordagens diferentes para aprofundamento
até especializar-se nela. Desse modo, oferecemos ao do tema. Esperamos que possam contribuir não ape-
final desta Assessoria Pedagógica algumas indica- nas para o trabalho com o projeto de vida proposto
ções de leitura que vão além das próprias referências neste livro, mas com toda a trajetória docente no En-
bibliográficas do livro, mas que apresentam um bom sino Médio.

Apresentação 167
Orientações específicas da obra

Apresentação

A apresentação introduz o universo dos projetos aos alunos, de modo que percebam o
quanto estes fazem parte do mundo à sua volta. Além disso, revela como os procedimen-
tos de planejamento estão presentes em muitos campos de trabalho. Assim, em grande
medida, essa introdução prepara o estudante para o uso do livro todo, pois anuncia, ainda
que indiretamente e de maneira mais lúdica, logo de início, muitas questões que levarão, de
forma processual, à discussão de encerramento: as perspectivas de formação e inserção
profissional após a conclusão do Ensino Médio.

Pág. 8 tante sem um projeto muito bem feito. Nossa suges-


O que é um projeto? tão é que se trabalhe com os prédios tortos da orla da
cidade de Santos, no litoral do estado de São Paulo,
Nesse primeiro momento, a discussão sobre a
demonstrando como um projeto pouco aprofundado
ideia de projeto deve sensibilizar os estudantes de
no estudo das características do solo local levou os
maneira leve, mas bastante informativa, a respeito da
importância de um projeto nos mais diferentes âmbi- prédios a entortarem com o tempo. Podem-se coletar
tos da sociedade. Não se discutirá ainda o conceito de algumas imagens desses prédios tortos na internet
projeto de vida propriamente dito. A proposta é que e exibir para os estudantes. Abaixo, sugerimos dois
eles percebam a importância de se estabelecer um links como referência para pensar sobre essa ques-
projeto, ou um planejamento mínimo, para as mais tão. Em um deles há uma matéria jornalística, e no ou-
diferentes esferas da vida e da sociedade. Sugerimos tro há um documentário sobre os prédios tortos, com
iniciar com uma sondagem a respeito do que seria um entrevistas com os moradores. Trata-se de um curta-
projeto e para que serviria. -metragem realizado pelo Instituto Querô, em 2006,
com direção de Samuel Castro.
Pág. 12
•• Santos a cidade dos prédios tortos. Disponível
O acompanhamento do projeto em: http://www.jornaldaorla.com.br/noticias/
Ao final dessa atividade, pode-se falar a respeito 6050-santos-a-cidade-dos-predios-tortos.
das consequências da realização de uma obra impor- Acesso em: 23 out. 2019.

168 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


•• Torto. Disponível em: https://www.youtube.com/ Pág. 18
watch?v=at-dafcLKxY&feature=youtu.be. Acesso Roda de conversa
em: 23 out. 2019.
Nessa roda de conversa, caso a escola trabalhe
Pág. 12
com a metodologia steam e/ou com a cultura maker,
#FICA A DICA você poderia incentivar os jovens a pensar em uma par-
ticipação mais efetiva nessas atividades, por meio da
Sugestão de atividade: Depois de explicar aos alu- elaboração de um projeto. Pode, inclusive, haver alguma
nos o que é um plano diretor, pode-se pedir a eles articulação com o professor dessa área, com atividades
que, na própria sala de aula, pesquisem matérias que reforcem mutuamente as duas perspectivas.
jornalísticas na internet a respeito da existência ou
não de um plano diretor na cidade em que vivem. Pág. 22

Faça uma pesquisa prévia para orientar a atividade e ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO


conversar mais a respeito, caso haja um plano diretor Para esta atividade, recomenda-se que o exercí-
na cidade. Promova um debate sobre aspectos que cio de escrita seja apenas um esboço de uma página,
ressaltem a importância de projetos de ocupação do para que os alunos realizem um primeiro treino lúdico
solo urbano. de como é construir um projeto de pesquisa ou um
projeto de maneira geral. Detalhe os itens solicitados
Pág.16
da seguinte maneira:
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
1. Quem? Quem realizará a pesquisa e onde (nesse
Como se trata de uma etapa prévia à discus- caso, na escola em que se estuda).
são sobre o projeto de vida, essa atividade com as
2. O quê? O que será pesquisado.
receitas deve ter um caráter bem exploratório e lú-
dico e, principalmente, mostrar como as pessoas 3. Para quê? Qual a finalidade ou o objetivo do projeto;
mais próximas dos estudantes elaboram pequenos o que se quer descobrir.
projetos para realizar as tarefas rotineiras. Nessa 4. Por quê? A justificativa e/ou motivação do projeto.
apresentação, ainda estamos sensibilizando os es- Esse é o momento de dizer por que ele é um proje-
tudantes para os três módulos de trabalho com o to importante ou relevante para a sociedade.
projeto de vida. 5. Como? Aqui os estudantes definem a metodologia;
como esta pode ser a parte mais difícil, você pode
Pág. 17
orientar os alunos, dizendo-lhes que devem defi-
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO nir em que área o projeto se enquadra: Ciências da
Indicamos a leitura de uma matéria para ser dis- Natureza, Ciências Humanas e Sociais, Exatas ou
cutida em sala de aula, sobre desenvolvedores de ga- Linguagens. Você pode dar exemplos de pesquisas
mes na periferia de São Paulo. Esse pode ser um mo- em cada uma dessas áreas.
mento importante para que os estudantes, ao mesmo 6. Quando? Os estudantes definem um esboço de
tempo, ampliem seu repertório cultural e já comecem cronograma e as etapas do projeto, pensando num
a pensar em novos caminhos para sua trajetória, am- prazo de seis meses.
pliando o campo de possibilidades. Quebrada Gamer. Lembre-se de que esse é apenas um treinamen-
Disponível em: https://www.uol.com.br/start/re- to lúdico para que os estudantes tenham um primeiro
portagens-especiais/quebrada-gamer-desenvol- contato com um projeto mais específico e também já
vedores-na-periferia/#estudio-sue-the-real. Aces- se sensibilizem com a necessidade de formulação de
so em: 30 set. 2019. um projeto para suas próprias vidas.

Orientações específicas da obra 169


1 O meu encontro
Módulo

comigo

Este livro tem como inspiração fundamental as competências gerais da educação bá-
sica, conforme a Base Nacional Comum Curricular, prioritariamente as Competências ge-
rais 6 e 7. Assim, no Módulo 1, trabalhamos com:

•• A importância da valorização da diversidade de saberes e experiências, a fim de garantir


uma melhor compreensão do mundo do trabalho, ampliando o repertório cultural para a
elaboração do projeto de vida.
•• O estímulo a uma tomada de posição ética sobre as questões do mundo em que se vive,
embora, nesse momento, ainda mais focado no autoconhecimento, mas já trabalhando
com a capacidade argumentativa e a defesa de pontos de vista.
Além disso, nesse Módulo 1, a Competência geral 8 também foi bastante trabalhada,
na medida em que os estudantes foram convidados a conhecer-se e refletir mais sobre
suas emoções, sua corporeidade e sua identidade em um mundo de constante inovação
tecnológica.
Antes de iniciar o Módulo 1, sugerimos a realização de uma atividade de acolhimento
para a temática do projeto de vida e da preocupação pessoal com o futuro. Um dos objeti-
vos é levar os estudantes a uma primeira reflexão sobre como era a sua vida na infância ou
no início do Ensino Fundamental, para que percebam o que mudou desde então. Comece
com a seguinte indagação:

•• Quais eram as brincadeiras que vocês faziam na infância e quais as atividades que reali-
zavam na escola? O que mudou desde então?
Pode-se realizar uma dinâmica na qual se pede a cada um dos estudantes que faça,
numa mesma folha de papel, um desenho de si mesmo, em três fases da vida (peça que
não se identifiquem colocando o nome na atividade, que será entregue a você):
1. na brincadeira de que mais gostava na infância;
2. no que mais gosta de fazer hoje no Ensino Médio;
3. no que gostaria de fazer no futuro (pensando principalmente em trabalho e estudo).
Depois que todos fizerem o desenho e o entregarem a você, embaralhe-os e distri-
bua-os aleatoriamente entre os estudantes. Por enquanto, a única regra é que ninguém
pegue o seu próprio desenho. A partir daí, os estudantes sentam-se em roda e analisam os
desenhos de um colega, ainda anônimo, tentando descobrir o que foi representado como
brincadeira da infância, do que mais gosta hoje e o que pretende para o futuro. No final, o
autor do desenho identifica-se e dá sua explicação para o que representou. Esse mesmo

170 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


aluno passa a falar o que achou do desenho que lhe foi entregue, e assim sucessivamente,
como em uma brincadeira de amigo oculto.
Os principais objetivos dessa atividade são explorar as transformações pelas quais
todos nós passamos e já apontar para as perspectivas de futuro. Reafirme que o tema des-
te livro e de suas atividades é justamente produzir uma reflexão sobre como pensamos
sobre o futuro e nos preparamos para ele. Inicia-se, assim, a discussão mais geral sobre o
que é um projeto.
Atividades como essa também são excelentes para que você conheça melhor a turma
e suas expectativas e para que os jovens iniciem uma reflexão pessoal sobre o passar do
tempo em sua vida.

Pág. 28 parou os estudos no Ensino Médio. Em um


O que é um projeto de vida? exemplo simples, isso quer dizer que, se um
trabalhador com nível médio ganha R$ 1.000,
Neste primeiro momento, no início deste módu-
outro com curso superior ganhará R$ 2.400.”
lo, a discussão sobre a ideia de projeto de vida deve
(Uol Educação. Disponível em: https://
cumprir o papel de sensibilizar os estudantes, de uma
educacao.uol.com.br/noticias/2017/09/12/
maneira leve, mas bastante informativa, a respeito da
trabalhador-com-nivel-superior-ganha-140-a-
importância de um projeto nos mais diferentes âmbi- mais-mostra-estudo.htm?cmpid=copiaecola.
tos da sociedade. Ainda não se discutirá o projeto de Acesso em: 25 out. 2019.)
vida em si. A proposta é que eles percebam a impor-
tância de se estabelecer um projeto, ou um planeja- Pág.40
mento mínimo, para as mais diferentes esferas da vida
Exposição e felicidade permanente
e da sociedade. Sugerimos iniciar com uma sonda-
gem entre eles a respeito do que seria um projeto de David Buckingham (2010), em texto sobre as tec-
vida e para que serviria. nologias na escola, afirma que é preciso evitar tanto a
tecnofobia como a tecnofilia. Ou seja, não se trata de
Pág. 30 provocar uma aversão e exclusão das tecnologias da
Autoconhecimento escola, nem de tomá-las acriticamente, como liberta-
doras ou como a solução fundamental para o ensino e
Para iniciar essa atividade, você pode sugerir aos a aprendizagem. O que se sugere é que a tecnologia,
estudantes que ouçam a música “A vida é desafio”, ou a reflexão a respeito dela, seja inserida na escola de
dos Racionais MC’s, e reflitam sobre o que é relatado maneira crítica, na medida em que ela pode auxiliar no
na letra, os desafios que podem desviar os jovens da trabalho cotidiano.
elaboração de seu projeto de vida. Para Buckingham, a escola tem de abrir caminhos
Depois disso, você pode promover uma discus- para uma relação efetiva e criativa com as inovações
são prévia que valorize a escola como um importante tecnológicas. Os estudantes têm de ser capazes de
agente de aumento do repertório cultural e do campo de transitar criticamente por tudo o que, principalmente,
possibilidades, apresentando pesquisas que demons- as tecnologias digitais da informação e da comunica-
trem que, quanto mais amplas a formação escolar e a ção oferecem.
qualificação, maiores o salário e a possibilidade de ga- Não se trata, como bem demonstra Pierre Lévy
rantir um emprego. Veja o destaque da matéria abaixo: (1997), de apenas inserir equipamentos nas escolas,
“Com um diploma de nível superior na sem o devido treinamento dos professores e sem
mão, um trabalhador brasileiro ganha, em que a instituição dialogue de fato com essas novas
média, 140% a mais do que o profissional que tecnologias.

Orientações específicas da obra 171


Em outras palavras, a escola não conseguirá além do texto escrito. Sugira aos alunos que pensem
competir com as dinâmicas que os jovens desenvol- em novos suportes e possibilidades, como podcast,
vem com as tecnologias fora da escola, mas deve ser vídeo e texto no formato de blog.
plenamente capaz de ampliar o repertório dos jovens
sobre como lidar melhor com elas. Pág. 47
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
Com isso, apresentamos a você duas importan-
tes sugestões de leitura para aprofundar a reflexão Nossas emoções no corpo
sobre o uso das tecnologias no contexto escolar: Atividades como essa devem ser conduzidas com
•• BUCKINGHAM, David. Cultura digital, educação cuidado e sensibilidade, pois certamente você estará
midiática e o lugar da escolarização. Educação & lidando com aspectos centrais e sensíveis da vida dos
Realidade, v. 35, n. 3, p. 37-58, set./dez. 2010. jovens. Permita que eles tenham a liberdade de apenas
Disponível em: https://seer.ufrgs.br/educacaoe- acompanhar e não se manifestar, caso não queiram,
realidade/article/view/13077. Acesso em: 23 out. bem como que se retirem da dinâmica, caso se sintam
2019. desconfortáveis ou não estejam preparados para falar
a respeito de seus afetos. Para saber mais a respei-
•• LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futu-
to de emoções e corporeidade, indicamos a leitura de:
ro do pensamento na era da informática. São Paulo:
REZENDE, Cláudia; COELHO, Maria. Antropologia das
Editora 34, 1997.
emoções. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2010.
Pág. 40
Pág. 47
A identidade e os papéis sociais da
Biografias
juventude
Esse é o momento de trabalhar com o gênero
Para essa atividade, propomos que promova uma
literário biografia. Sugerimos a entrevista de Mário
discussão aprofundada sobre os papéis apresenta-
Magalhães, importante biógrafo brasileiro, à TV Brasil,
dos e pergunte aos alunos como eles se imaginam em
tanto como inspiração para você como possibilida-
cada um desses quatro papéis. Para embasar melhor
de de exibição de trechos aos alunos. Disponível em:
a atividade, sugerimos a leitura completa do capítulo
https://www.youtube.com/watch?v=1CkJ4rrZ29k.
de Wivian Weller (2014) sobre projeto de vida para os
Acesso em: 23 out. 2019.
jovens do Ensino Médio, em livro com outros capítulos
muito interessantes sobre juventude e Ensino Médio, Pág. 48
conforme referência:
Sugerimos alguns perfis biográficos, mas você
•• WELLER, Wivian. Jovens no Ensino Médio: projetos pode trazer muitos outros para trabalhar em sala de
de vida e perspectivas de futuro. In: DAYRELL, aula com os estudantes.
Juarez; CARRANO, Paulo; MAIA, Carla (Orgs.).
Juventude e ensino médio: sujeitos e currículos Pág. 51
em diálogo. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014.
Autoconhecimento
Disponível em: http://observatoriodajuventude.
ufmg.br/publication/juventude-e-ensino- Essa é uma atividade importante para que os
medio-sujeitos-e-curriculos-em-dialogo/. estudantes também reflitam sobre o fato de que a
Acesso em: 13 nov. 2019. pessoa que cada um é, ou como entende que é, está
em constante transformação ao longo do tempo.
Pág. 45
Por isso, é importante reservar momentos para que
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
os estudantes reflitam se algo mudou na descrição
1ª Etapa que fizeram de si anteriormente. Cabe ainda indagar
Nesse caso, como se trata de uma atividade mais se haveria algo que gostariam de acrescentar. Essa
ampla, que trabalha com os outros perfis já escritos, também é uma atividade para trabalhar a relevância
pode-se optar por outros formatos comunicativos, do modo como as pessoas se apresentam ao mun-

172 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


do. Por isso, deve-se ressaltar a importância de res- à sua volta, que, de certa forma, acaba por configu-
peitar os perfis dos colegas. Não revele ainda aos es- rar-se como uma escrita de si próprio com algo que
tudantes, mas é bom já trabalhar com a perspectiva atribui sentido à sua trajetória biográfica.
de que esses perfis integrarão uma atividade maior: Sugerimos o formato mural para que haja uma
o mural dos perfis e sonhos da turma, que será deta- exposição pública, mas, se você considerar mais ade-
lhado a seguir. quado, essa atividade também pode ser feita no for-
mato de portfólio, desde que reserve um momento de
Pág. 51
compartilhamento dessa produção.
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO
Mural dos perfis e sonhos Pág.52

Essa atividade será uma das principais refe- O que sei de mim?
rências materiais do trabalho com o projeto de vida, Segundo Félix Guattari (1992, p. 19), a subjetivi-
por isso, ela deve ser bem orientada. Sugerimos que dade pode ser definida provisoriamente como:
esse mural tenha três grandes linhas, que deverão ser “O conjunto das condições que torna pos-
preenchidas ao final de cada um dos módulos do livro. sível que instâncias individuais e/ou coletivas
•• Na primeira linha, que se refere ao Módulo 1: o perfil estejam em posição de emergir como território
biográfico pessoal e o sonho. existencial autorreferencial, em adjacência ou
•• Na segunda linha, que se refere ao Módulo 2: o per- em relação de delimitação com uma alteridade
fil de pessoas que os estudantes admiram e que ela mesma subjetiva”.
são importantes em sua vida. (GUATTARI, Félix. Caosmose: um novo paradig-
ma estético. São Paulo: Editora 34, 1992.)
•• Na terceira linha, que se refere ao Módulo 3: o perfil
profissional. Sherry Ortner (2007, p. 376), por sua vez, afirma:
O formato do mural deve ser definido com base “Por subjetividade irei me referir ao con-
nos recursos e espaços da escola. Pode ser um mural junto de modos de percepção, afeto, pensa-
fixo em sala de aula; em suporte móvel, para ser guar- mento, desejo, medo e assim por diante, que
dado e retomado; ou ainda, se for possível, ser elabo- animam os sujeitos atuantes. Mas eu sem-
rado digitalmente. Nesse momento, deve ser discuti- pre me refiro, da mesma forma, às forma-
da apenas a atividade que preencherá a primeira linha ções culturais e sociais que modelam, orga-
do mural; o que irá compor o restante será revelado nizam e provocam aqueles modos de afeto,
em cada um dos seguintes módulos. O objetivo dessa pensamento, etc.”.
atividade é trabalhar com uma série de questões rela- (ORTNER, Sherry. Subjetividade e crítica cultu-
cionadas ao projeto de vida: ral. Horizontes antropológicos, Porto Alegre,
ano 13, n. 28, p. 375-405, jul./dez. 2007.)
•• suscitar nos estudantes uma compreensão maior
da importância de seu papel na sociedade;
Pág. 54
•• levá-los a refletir sobre os seus sonhos, pensando
como eles estão ligados ao seu repertório cultural e
Autoconhecimento
ao seu campo de possibilidades.
A discussão sobre a separação entre o público
Nos próximos módulos, os estudantes serão e o privado deve ter um duplo objetivo: sensibilizar
provocados a pensar em como seus perfis e sonhos para o entendimento de como expressar-se e com-
estão articulados com os perfis de outras pessoas portar-se adequadamente em cada uma dessas
e no quanto todo esse contexto é importante para a esferas e também preparar o estudante para falar
criação de um perfil profissional, voltado ao mundo do em público de modo claro e com segurança. O tex-
trabalho. to a seguir, do psicanalista Christian Dunker, apro-
Além disso, essa atividade estimula nos jovens o funda mais essa dimensão, evidenciando algumas
exercício de uma escrita sobre si mesmos e o mundo problemáticas:

Orientações específicas da obra 173


Falar em público é uma atividade cada mo e o seu lugar no mundo. No momento de abordar
vez mais estimulada nas escolas, no mun- o diário pessoal, cabe retomar a discussão sobre a
do corporativo e nas situações sociais. Isso importância de compreender a distinção entre pú-
pode ser pensado como uma exigência geral blico e privado. Saber o que está mais para o domí-
de uma forma de vida orientada pelo inves- nio do público e se pode mostrar, e o que é privado
timento na sociabilidade do contato múlti- e, portanto, deve ser tratado com alguma reserva, é
plo e permanente. É possível que, com o au- fundamental para o entendimento do sentido da ati-
mento da importância proporcional da fala vidade com o diário pessoal. Esse é um debate im-
pública, tornem-se também mais visíveis e portante para que o jovem entenda a sua inserção no
preocupantes as dificuldades que cercam mundo contemporâneo, com todos os seus dilemas.
tal ato. Um caso como o que se acompanhou Para um aprofundamento dessas questões, suge-
no filme O discurso do rei (The King’s Spee- rimos a seguinte referência bibliográfica, em que se
ch, Tom Hooper, 2010) seria pouco plausível trata justamente de como haveria na contempora-
hoje, na medida em que o papel cotidiano de neidade, inclusive por conta das tecnologias digitais
qualquer dirigente implica falar em público. da informação e da comunicação, uma série de im-
Fazer apresentações, seminários, aulas, inter- bricações entre público e privado, como a criação de
venções e comentários é hoje parte inerente esferas que não seriam nem privadas nem públicas,
de uma nova forma de trabalho, mais compar- que alguns autores denominam de “extimidade”. O
tilhada, flexível e com maior horizontalidade livro aponta um rico panorama das consequências
dos processos decisórios. A ascensão de uma desses processos entre a juventude. Para saber
cultura participativa, na qual a exposição, a mais: AUBERT, Nicole; HAROCHE, Claudine (orgs.).
comparação e a confrontação de posições Tiranias da visibilidade: o visível e o invisível nas
viram uma regra maior, torna o compartilha- sociedades contemporâneas. São Paulo: Editora da
mento de afetos uma espécie de valor moral. Unifesp, 2013.

É compreensível que a queixa clínica de Pág. 56


que no momento de falar em público sobreve-
Autoconhecimento
nham dificuldades corporais, impedimentos
e embaraços tenha se tornado mais rotineira
Reforçamos a importância de trabalhar os diários
do que era tempos atrás. Uma cultura que se
com os jovens como metodologia de autoconheci-
organiza em estrutura de espetáculo cria difi-
mento. Conforme Nádia Laguárdia de Lima, autora de
culdades para aqueles para quem a privacida-
livro sobre a escrita virtual na adolescência da pers-
de é essencial. Por exemplo, no quadro clínico
pectiva da psicanálise, o diário pode ser um disposi-
chamado mutismo seletivo, crianças e adoles-
tivo fundamental nessa fase da vida para se pensar e
centes, mas raramente adultos, criam para si
se constituir reflexivamente.
situações de vida na qual falar com o outro se
torna algo gradualmente prescindível, ou en- O diário é paradigmático da adolescên-
tão reduzido a poucas pessoas mais próximas. cia. Assim, busquei conceituar a adolescên-
Argumenta-se que dispositivos digitais têm cia na psicanálise para tentar compreender a
função que a escrita pode exercer nesse mo-
ajudado a sustentar tais quadros, mas essa
mento da vida. Se a adolescência enquanto
não parece ser sua determinação última.
uma fase da vida é uma construção social, na
(DUNKER, 2017, p. 95)
psicanálise a adolescência pode ser conside-
rada como um sintoma da puberdade. Nesse
Pág. 54
tempo lógico, o sujeito é convocado a realizar
Diário pessoal um trabalho psíquico. Diante das exigências
A escrita é um elemento fundamental para que o que se impõem ao jovem adolescente – passa-
jovem construa uma reflexão pessoal sobre si mes- gem do pai à lei social na ampliação do pacto

174 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


edípico ao pacto social, elaboração do luto A tematização do jovem e da juventude
dos pais infantis, ressignificação da relação no campo da Psicologia ao longo do século
com o corpo e encontro com o outro sexo –, XX assumiu problematizações diversas ao
a escrita de um diário pode ser um instru- campo da Sociologia. A constituição do su-
mento que possibilita esse trabalho psíquico, jeito moderno e suas formas de ser, pensar,
operando sobre a adolescência tomada como agir e sentir no âmbito de uma matriz his-
um sintoma. Fiz a leitura de alguns diários ín- tórico-cultural de individualização das sub-
timos de adolescentes que foram publicados, jetividades (WATT, 1996) torna-se foco de inte-
mas me detive, em especial, na leitura de dois resse. Assim, a demanda que se colocou neste
que tiveram grande repercussão: O diário de campo do saber foi inquirir e compreender
Anne Frank (século 20) e Cem escovadas an- como a individualização – como processo
tes de ir para a cama (século 21), escrito por histórico e modo de subjetivação dominante
Melissa Paranello. Ilustro, através do diário na modernidade – produz as subjetividades.
de Melissa, o encontro com o real do sexo no Essas se realizam ao longo do tempo biográ-
tempo da adolescência e a escrita operando fico que, nas sociedades modernas, se ins-
como uma forma de “dizer esse encontro com titucionaliza através da organização da (re)
o inominável”. produção da vida e da sociedade. Para muitos
(LIMA, 2014, p. 18) estudiosos da Psicologia, uma questão cen-
tral foi justamente compreender as mudan-
ças nas formas de ser, sentir, pensar e agir
Pág. 58
ao longo do tempo biográfico, uma vez que
Ampliando o repertório essas resultam do encontro entre as forças
e disposições internas ao sujeito e aquelas
Em 2018, o vestibular da Unicamp (Universida- resultantes de coerções e possibilidades nas
de Estadual de Campinas) inseriu o álbum Sobrevi- circunstâncias em que ele vive. Portanto, as
vendo no inferno, do grupo de rap Racionais MC’s, teorias psicológicas buscaram explicar o “de-
em sua lista de leituras obrigatórias. Nele, há a mú- senvolvimento dos sujeitos ao longo do tem-
sica “Diário de um detento”, que narra o cotidiano po biográfico”, focalizando a emergência das
em uma Casa de Detenção de São Paulo, o Caran- mudanças ao longo da vida cuja regularidade
diru, que se tornou internacionalmente conhecida poderia ser sistematizada segundo um deter-
pelo massacre de 111 presos, em 1992. O presídio minado padrão. Por um lado, o que é interno
foi desativado e implodido em 2002. O episódio do e o que é exterior ao sujeito tornaram-se as-
massacre do Carandiru é narrado nessa música com pectos de relevância teórica neste contexto
base no diário de um ex-presidiário desse local. Você de análise para definir uma teoria de sujeito/
pode tomar essa música como mais uma atividade indivíduo (esse distinto da sociedade); por
para pensar o formato diário, discutindo como ele outro lado, as teorias de sujeito variaram em
suscita a relação consigo mesmo e com a história e a relação a como considerar o ajuste e a re-
sociedade em que se está inserido. gulação entre as forças internas ao sujeito/
indivíduo e aquelas advindas da sociedade.
Pág. 60 Para Freud (1996), por exemplo, o ajuste entre
Autoconhecimento o indivíduo e a sociedade é sempre precário
e conflituoso, pois, para o indivíduo, ele se
O meu diário traduz como um ônus em termos da renúncia
à sua realização mais livre e imediata.
Para reafirmar a importância do trabalho com o
(CASTRO, 2019, p. 73-4)
diário e para que o estudante comece a refletir melhor
sobre seu lugar no mundo, destacamos o trecho abai-
xo, de Lúcia Rabello de Castro:

Orientações específicas da obra 175


Pág. 60 rante o processo de pesquisa, mas também em
ATIVIDADE DE APROFUNDAMENTO meu cotidiano como educador. A experiência
da pesquisa mostrou-me que ver e lidar com
Orientações para a elaboração de um
o jovem como sujeito, capaz de refletir, de ter
diário pessoal
suas próprias posições e ações, é uma aprendi-
Defina o tempo de realização dessa atividade com zagem que exige um esforço de autorreflexão,
base nas condições efetivas de cada trabalho. Suge-
distanciamento e autocrítica.
rimos, no entanto, que o tempo de duração não seja
(DAYRELL, 2003, p. 44)
menor do que quinze dias, a fim de trazer um período
maior de reflexões e relações para a discussão. Você
Págs. 64-66
deve acompanhar o processo de escrita ao longo do
tempo determinado, indagando aos estudantes como As etapas de elaboração de um
tem sido a escrita e se haveria aspectos que gostariam projeto de vida
de partilhar ou mesmo dúvidas. Ao final do prazo esta- A divisão feita por Jean-Pierre Boutinet (2002),
belecido, retome essa atividade para fazer uma roda de em Antropologia do projeto, apresenta-se da seguin-
conversa, lembrando sempre aos alunos da importân- te forma:
cia de ouvir os colegas com respeito e de preservar os •• Análise e diagnóstico da situação
aspectos mais sensíveis de sua intimidade.
•• Esboço de um ajuste entre o possível e o desejável
Pág. 61 •• Determinação das opções estratégicas

Roda de conversa Há muitas maneiras de recortar as se-


quências de elaboração de um projeto. Contu-
Após a atividade coletiva de discussão de alguns do, reteremos três etapas que nos parecem es-
aspectos do diário, você pode definir com a turma que senciais: a análise da situação, o esboço de um
o exercício de escrita do diário será mantido, com a projeto possível e a estratégia entrevista. Essas
previsão de realização de outras rodas de conversa três etapas da elaboração se desenrolam sobre
para abordar algum novo aspecto desse processo. o fundo de uma dominante espacial. Trata-se,
em uma, de conferir ao projeto sua materiali-
Pág. 61 dade, fazendo-o sair do campo das ideias para
Protagonismo juvenil ancorá-lo em alguma parte no espaço.

Com essa discussão sobre protagonismo juvenil, (BOUTINET, 2002, p. 236)

a intenção é promover procedimentos de valorização Tomando esses preceitos de Boutinet como


da participação efetiva dos estudantes no proces- base, inspiramo-nos livremente para indicar um exer-
so de produção de conhecimento, iniciativa que se cício em etapas para que os estudantes esbocem uma
mostra ainda mais necessária quando se trata de um proposta de projeto de vida. A ideia é que eles escre-
livro em que se quer, justamente, suscitar uma refle- vam no caderno como planejam as etapas de seu pró-
xão sobre projeto de vida. Concordamos assim com a prio projeto de vida. Trata-se novamente de servir-se
afirmação de Juarez Dayrell (2003), de que o prota- da escrita como um processo reflexivo. Esse trabalho
gonismo juvenil não pode reduzir-se apenas a uma de elaboração do projeto de vida é uma etapa prévia e
discussão teórica ou a uma frase de efeito a ser citada preparatória da vivência de transição deste Módulo 1.
para emular um efeito democrático em seu trabalho Por isso, é importante que você realize essa ativida-
pedagógico. O que se propõe é levar a sério a partici- de tomando como referência a vivência de transição.
pação e o protagonismo dos jovens ao longo de todo Desse modo, embora tenham algumas competências
o processo de desenvolvimento proposto neste livro. gerais, competências específicas e habilidades parti-
Tomar os jovens como sujeitos não se re- culares, essas duas atividades têm muitos pontos em
duz a uma opção teórica. Diz respeito a uma comum e, de maneira geral, compartilham as mesmas
postura metodológica e ética, não apenas du- competências e habilidades.

176 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


Competências gerais da educação básica comum pautado em princípios e valores de equi-
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivên- dade assentados na democracia e nos Direitos
cias culturais e apropriar-se de conhecimentos Humanos. (BRASIL, 2018, p. 492).
e experiências que lhe possibilitem entender as (EM13CHS606) Analisar as características socioe-
relações próprias do mundo do trabalho e fazer conômicas da sociedade brasileira – com base na
escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e análise de documentos (dados, tabelas, mapas
ao seu projeto de vida, com liberdade, autono- etc.) de diferentes fontes – e propor medidas para
mia, consciência crítica e responsabilidade. enfrentar os problemas identificados e construir
7. Argumentar com base em fatos, dados e infor- uma sociedade mais próspera, justa e inclusiva,
mações confiáveis, para formular, negociar e de- que valorize o protagonismo de seus cidadãos e
fender ideias, pontos de vista e decisões comuns promova o autoconhecimento, a autoestima, a au-
que respeitem e promovam os direitos humanos, toconfiança e a empatia. (BRASIL, 2018, p. 579).
a consciência socioambiental e o consumo res-
ponsável em âmbito local, regional e global, com Pág.67

posicionamento ético em relação ao cuidado de Vivência de transição


si mesmo, dos outros e do planeta. O Módulo 1, que trata de questões pessoais, en-
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua cerra-se com uma atividade de reflexão sobre a relação
saúde física e emocional, compreendendo-se na dessas questões com a escola. Recomenda-se que a
diversidade humana e reconhecendo suas emo- vivência dessa primeira transição de módulo seja feita
ções e as dos outros, com autocrítica e capaci- de forma interna, mais focada na comunidade escolar. O
dade para lidar com elas. (BRASIL, 2018, p. 9-10) que se quer com essa vivência de transição é, ao mesmo
Competências específicas de Linguagens e suas tempo, produzir uma reflexão final coletiva sobre todas
Tecnologias para o Ensino Médio as atividades e temas abordados nesse Módulo 1 e pre-
parar os estudantes para o próximo módulo. É importan-
2. Compreender os processos identitários, confli-
te retomar o trabalho realizado com o mural dos perfis,
tos e relações de poder que permeiam as práti-
em especial com a elaboração do perfil pessoal. Nos pró-
cas sociais de linguagem, respeitando as diversi-
ximos módulos, as propostas serão ampliadas.
dades e a pluralidade de ideias e posições, e atuar
socialmente com base em princípios e valores Nessa vivência de transição, são trabalhadas as
assentados na democracia, na igualdade e nos seguintes competências e habilidades, em conexão
Direitos Humanos, exercitando o autoconheci- com a elaboração do projeto de vida:
mento, a empatia, o diálogo, a resolução de con- Competências gerais da educação básica
flitos e a cooperação, e combatendo preconceitos
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivên-
de qualquer natureza. (BRASIL, 2018, p. 490).
cias culturais e apropriar-se de conhecimentos
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas para o e experiências que lhe possibilitem entender as
Ensino Médio relações próprias do mundo do trabalho e fazer
6. Participar do debate público de forma crítica, escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e
respeitando diferentes posições e fazendo es- ao seu projeto de vida, com liberdade, autono-
colhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao mia, consciência crítica e responsabilidade.
seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, 7. Argumentar com base em fatos, dados e infor-
consciência crítica e responsabilidade. (BRASIL, mações confiáveis, para formular, negociar e de-
2018, p. 570). fender ideias, pontos de vista e decisões comuns
que respeitem e promovam os direitos humanos,
Habilidades a consciência socioambiental e o consumo res-
(EM13LGG204) Dialogar e produzir entendimen- ponsável em âmbito local, regional e global, com
to mútuo, nas diversas linguagens (artísticas, posicionamento ético em relação ao cuidado de
corporais e verbais), com vistas ao interesse si mesmo, dos outros e do planeta.

Orientações específicas da obra 177


10. Agir pessoal e coletivamente com autono- colhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao
mia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e seu projeto de vida, com liberdade, autonomia,
determinação, tomando decisões com base em consciência crítica e responsabilidade. (BRASIL,
princípios éticos, democráticos, inclusivos, sus- 2018, p. 570).
tentáveis e solidários. (BRASIL, 2018, p. 9-10)
Habilidades
Competências específicas de Linguagens e suas
(EM13LGG104) Utilizar as diferentes linguagens,
Tecnologias para o Ensino Médio
levando em conta seus funcionamentos, para a
1. Compreender o funcionamento das diferentes compreensão e produção de textos e discursos
linguagens e práticas culturais (artísticas, corpo- em diversos campos de atuação social. (BRASIL,
rais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos
2018, p. 491).
na recepção e produção de discursos nos dife-
(EM13CHS606) Analisar as características so-
rentes campos de atuação social e nas diversas
cioeconômicas da sociedade brasileira – com
mídias, para ampliar as formas de participação
base na análise de documentos (dados, tabelas,
social, o entendimento e as possibilidades de ex-
mapas etc.) de diferentes fontes – e propor me-
plicação e interpretação crítica da realidade e para
didas para enfrentar os problemas identificados
continuar aprendendo. (BRASIL, 2018, p. 490).
e construir uma sociedade mais próspera, justa
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas para o e inclusiva, que valorize o protagonismo de seus
Ensino Médio cidadãos e promova o autoconhecimento, a au-
6. Participar do debate público de forma crítica, toestima, a autoconfiança e a empatia. (BRASIL,
respeitando diferentes posições e fazendo es- 2018, p. 565)

178 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


2 O meu encontro
Módulo

com os outros

No Módulo 2, as Competências 6 e 7 da BNCC continuam sendo os elementos fundan-


tes, principalmente no trabalho com:
•• A importância da valorização da diversidade de saberes e experiências, a fim de garantir
uma melhor compreensão do mundo do trabalho, ampliando o repertório cultural para a
elaboração do projeto de vida, tomando agora maior consciência da importância do ou-
tro e do projeto de vida também como um espaço do exercício da cidadania.
•• Neste módulo, enfoca-se mais a perspectiva de uma tomada de consciência cidadã do
mundo, do respeito à diversidade cultural e de ideias. Do autoconhecimento avança-se
para o conhecimento de sua interação no mundo com as outras pessoas, com respeito e
posicionamento ético.
Neste Módulo 2, aspectos da Competência geral 9 da BNCC pautaram as propostas
de atividades e vivências, na medida em que foi estimulado o exercício da empatia, do
diálogo e da cooperação, valorizando-se, assim, a posição do estudante como um cida-
dão que atua no mundo, mas também é capaz de reconhecer os posicionamentos das
outras pessoas e suas experiências culturais particulares. Apontou-se, dessa maneira,
para uma desnaturalização de determinados preconceitos ou de atitudes que levariam
a eles.
Como atividade de acolhimento e introdução ao Módulo 2, apresentamos o trabalho
com o poema “contranarciso”, de Paulo Leminski. Os estudantes devem fazer uma leitura
coletiva e, em roda de conversa, discuti-lo com base nas questões apresentadas.

Pág. 79 Pág. 80

Ampliando o repertório Roda de conversa

Para saber mais sobre a noção de afeto em Espi- O estilo foi pensado aqui em termos de hábi-
nosa, acesse: tos, gostos e jeito de ser. Podem servir de exem-
•• https://razaoinadequada.com/2014/07/15/ plo os modos de se vestir, as músicas que se gosta
espinosa-origem-e-natureza-dos-afetos/. de ouvir, as práticas de lazer ou mesmo aspectos
Acesso em: 26 out. 2019. mais subjetivos, como ser extrovertido ou mais in-
trovertido.
•• http://www.revistas.usp.br/espinosanos/
article/view/105572/. Acesso em: 26 out. 2019.

Orientações específicas da obra 179


Pág. 80 Desidealização do amor
O amor como encontro e as muitas Até agora, o amor era um ideal de autor-
formas de amar realização afetiva que acenava para um tipo
Texto para aprofundamento e preparação da dis- de felicidade no qual o êxtase da dissolução
cussão sobre o amor como categoria relacional e de no outro era compatível com a consciência da
respeito ao outro: individualização do desejo. Esse ideal, é óbvio,
não correspondia à prática amorosa efetiva.
Amor, por Jurandir Freire Costa Consciência de separação e êxtase fusional ra-
ramente andam juntos. Mesmo assim, o ideal
Amor é uma palavra com muitos sentidos. se mantinha, pelo fato de incitar a realidade a
Falamos de amor aos pais, aos filhos, a Deus, se superar em direção à idealidade.
à pátria, ao próximo, à causa etc. Vamos reter,
Atualmente, o amor vem sendo desideali-
dessas acepções, a de amor como sinônimo de
zado e, em consequência, a realidade emocio-
“amor erótico”. Amor erótico ou amor-paixão
nal parece privada daquilo que a empurrava
romântico é um complexo emocional formado
para a autossuperação. Ora, na cultura indivi-
por sensações, sentimentos, crenças e julga-
dualista de nosso tempo, o amor romântico se
mentos. Saber o que é amor é poder reconhe-
tornou o reino do maravilhoso, do mágico, da
cer, em si ou nos outros, sensações físicas ou vontade criativa que resistia aos assaltos da
mentais de um tipo específico; atitudes ou dis- razão calculista, instrumental e utilitarista. No
posições para com o objeto amado chamadas amor valia a regra das exceções que a emoção
de sentimentos; convicções sobre a natureza permite. Podíamos ser excessivos sem culpa,
do objeto amado e do amante e, por fim, julga- generosos sem temor, doadores avarentos,
mentos sobre o valor do amor, isto é, sobre sua egoístas com boa consciência, rebeldes cientes
bondade, sua beleza ou sua necessária partici- do valor da transgressão, enfim, podíamos vi-
pação na felicidade e no equilíbrio psicológico ver afetos ambivalentes e, ainda assim, estar
do indivíduo. psicologicamente satisfeitos.
O amor erótico, portanto, não é apenas Mas, já se disse, o hábito faz o monge.
uma atração sexual acompanhada de senti- Novos mundos, novos sujeitos, novas emo-
mentos ternos (enlevo, carinho, preocupação, ções. No momento, estamos, pouco a pouco,
cuidado, dedicação, devoção etc.) ou violentos aceitando que a experiência amorosa é fugaz
(desejos de posse exclusiva, ciúmes, descon- e seu destino é a provisoriedade. Resta saber,
fianças, rivalidades etc.). Pensar no amor dessa portanto, para onde vai migrar a vontade de
maneira já faz parte do aprendizado amoroso, ir além do bom senso, o desafio de realizar o
pois significa estar convencido de que ele foi impossível ou o ímpeto de vencer a brevidade,
sempre o que é hoje, ou seja, uma emoção sem em matéria de felicidade emocional. O amor
memória e sem história. romântico encarnava essas promessas. Em sua
ausência, quem ou o que vai se ocupar do sen-
O amor romântico, entretanto, é uma emo-
tido da vida de cada dia ou da fantasia da re-
ção recente na história ocidental. Sua gênese
denção afetiva? Ainda o mesmo amor? Outras
é indissociável do enorme enriquecimento da
formas de amar? Ou outras maneiras de criar
esfera da vida íntima, da repressão à sexuali-
um mundo emocional sem a onipresença do
dade e, por fim, da valorização moral da famí-
romantismo? Difícil de responder; impossível
lia nuclear e conjugal. Não é surpreendente,
não querer responder; a cada um a tarefa de
assim, que a liberalização da sexualidade, a
procurar responder.
ruptura com a tradição familiar e a diluição da
intimidade na publicidade estejam mudando a Jurandir Freire Costa é psicanalista e pro-
face do amor. fessor de medicina social na Universidade

180 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


Estadual do Rio de Janeiro. É autor, entre ridades e exotismos como fontes de conheci-
outros títulos, de Sem fraude nem favor e mento ou desconhecimento, respectivamente.
Razões públicas, emoções privadas, am- (VELHO, 2004, p. 126)
bos publicados pela editora Rocco. Escre-
ve regularmente na seção Brasil 501 d.C. Pág. 88
(Disponível em: https://www1.folha.uol.com. Culturas juvenis
br/fsp/mais/fs3112200003.htm. Acesso em: 19
out. 2019.) O trabalho com as culturas juvenis deve sem-
pre envolver um duplo movimento: o de valorizar o
Pág. 83 repertório cultural dos estudantes e o de ampliá-lo.
Sendo assim, a discussão sobre as culturas juvenis
Roda de conversa
deve valorizar os saberes dos estudantes, mas tam-
bém conduzi-los a uma postura crítica, que os ajude a
Uma perspectiva interessante para a condução
reconhecer o imediatismo e mesmo algumas postu-
dessa atividade seria explorar as diferentes maneiras
ras de desrespeito aos direitos humanos que podem,
como meninas e meninos relacionam-se com a te-
eventualmente, ser encontradas em algumas delas.
mática do amor. Por que eles teriam mais dificuldade
de falar a respeito do que elas? O que isso diz sobre Pág. 98
como meninas e meninos são educados em nossa
Protagonismo e empreendedorismo
sociedade? Há ainda a possibilidade de aprofundar a
nas culturas juvenis
reflexão de Bauman (2004) a respeito do amor líquido
nas relações afetivas contemporâneas. Assim como foi sugerido no trabalho com a te-
mática das culturas juvenis, a trajetória de Konrad
Pág. 84 Dantas também deve ser analisada por meio de uma
Atividade de aprofundamento aproximação crítica, para entender que seu caso pode
ser uma exceção ou uma condição que não é muito
Para essa atividade, em alguns casos, a pes-
soa importante na vida do jovem pode ser um ído- fácil de se alcançar. O objetivo é justamente fugir da
lo famoso ou alguém a quem o estudante não teria cultura imediatista ou da ideia do sucesso fácil e ins-
acesso pessoalmente. Podem-se aceitar essas tantâneo.
referências também, principalmente se pensadas
Pág.103
como inspirações. Nesse caso, fundamentalmente,
deve-se realizar a pesquisa na internet, com indica- Diferença e desigualdade
ção das fontes. Para complementar o texto do livro do aluno, se-
gue outro trecho do mesmo autor:
Pág. 86
A perspectiva dos marcadores sociais da
Exercícios de aproximação e diferença oferece um instrumental útil para
distanciamento entender a complexidade desse momento, tan-
Gilberto Velho é um antropólogo que discute a to em termos de seu potencial quanto de seus
questão da observação do familiar e do distante em desafios. Ela aponta, por um lado, para a seme-
seu trabalho de pesquisa e conhecimento do outro. lhança entre os diversos processos de produ-
Em um texto intitulado “Observando o familiar”, ele ção de desigualdade e para as possibilidades de
afirma: aliança entre os atores que lutam contra eles.
O que sempre vemos e encontramos pode Ela nos alerta, por outro, para as articulações
ser familiar mas não é necessariamente conhe- perversas entre formas de desigualdade e so-
cido e o que não vemos e encontramos pode bre os conflitos entre sujeitos de discrimina-
ser exótico mas, até certo ponto, conhecido. No ções distintas.
entanto, estamos sempre pressupondo familia- (ZAMBONI, 2014, p. 18)

Orientações específicas da obra 181


Pág. 104 ponsável em âmbito local, regional e global, com
Roda de conversa posicionamento ético em relação ao cuidado de
si mesmo, dos outros e do planeta.
Após a realização dessa roda de conversa, re- 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de
tome o Estatuto da Juventude, a fim de aprofundar conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar
e discutir aspectos que dizem respeito aos marca- e promovendo o respeito ao outro e aos direi-
dores sociais de diferença e ao projeto de vida dos tos humanos, com acolhimento e valorização da
jovens. diversidade de indivíduos e de grupos sociais,
seus saberes, identidades, culturas e potencia-
Pág. 106 lidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
(BRASIL, 2018, p. 9-10)
Roda de conversa
Competências específicas de Linguagens e suas
Caso haja tempo e espaço adequado, essa dis- Tecnologias para o Ensino Médio
cussão pode ser promovida após a exibição do filme 2. Compreender os processos identitários, con-
As melhores coisas do mundo, sugerido a seguir em flitos e relações de poder que permeiam as prá-
#FicaADica, que discute justamente a questão das di- ticas sociais de linguagem, respeitando as di-
ferenças e do bullying na escola. versidades e a pluralidade de ideias e posições,
e atuar socialmente com base em princípios e
Pág.107
valores assentados na democracia, na igualdade
As etapas de elaboração de um e nos Direitos Humanos, exercitando o autoco-
projeto de vida nhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução
No caso do projeto coletivo, é preciso pensar de conflitos e a cooperação, e combatendo pre-
em propostas de intervenção na comunidade local. conceitos de qualquer natureza. (BRASIL, 2018,
Oriente os estudantes nesse sentido. Conseguir tirar p. 490).
esse projeto coletivo do papel pode ser uma grande
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas para o
conquista para esse trabalho, pois materializa-se a
Ensino Médio
importância de elaborar um projeto de vida com base
em uma atividade criativa e transformadora. Assim 6. Participar do debate público de forma crítica,
como no módulo anterior, o trabalho de elaboração respeitando diferentes posições e fazendo es-
do projeto de vida é uma etapa prévia e preparatória colhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao
da vivência de transição para o próximo módulo. Por seu projeto de vida, com liberdade, autonomia,
isso, é importante tomar como referência a vivência consciência crítica e responsabilidade. (BRASIL,
de transição. 2018, p. 570).

Competências gerais da educação básica Habilidades


6. Valorizar a diversidade de saberes e vivên- (EM13LGG204) Dialogar e produzir entendimen-
cias culturais e apropriar-se de conhecimentos to mútuo, nas diversas linguagens (artísticas,
e experiências que lhe possibilitem entender as corporais e verbais), com vistas ao interesse
relações próprias do mundo do trabalho e fazer comum pautado em princípios e valores de equi-
escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e dade assentados na democracia e nos Direitos
ao seu projeto de vida, com liberdade, autono- Humanos. (BRASIL, 2018, p. 492).
mia, consciência crítica e responsabilidade. (EM13CHS605) Analisar os princípios da de-
7. Argumentar com base em fatos, dados e infor- claração dos Direitos Humanos, recorrendo às
mações confiáveis, para formular, negociar e de- noções de justiça, igualdade e fraternidade,
fender ideias, pontos de vista e decisões comuns identificar os progressos e entraves à concreti-
que respeitem e promovam os direitos humanos, zação desses direitos nas diversas sociedades
a consciência socioambiental e o consumo res- contemporâneas e promover ações concretas

182 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


diante da desigualdade e das violações desses e promovendo o respeito ao outro e aos direi-
direitos em diferentes espaços de vivência, res- tos humanos, com acolhimento e valorização da
peitando a identidade de cada grupo e de cada diversidade de indivíduos e de grupos sociais,
indivíduo. (BRASIL, 2018, p. 579). seus saberes, identidades, culturas e potencia-
lidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
Pág. 107 (BRASIL, 2018, p. 9-10)
Vivência de transição Competências específicas de Linguagens e suas
A vivência de transição do Módulo 2 para o Mó- Tecnologias para o Ensino Médio
dulo 3, assim como a do Módulo 1 para o Módulo 2, 1. Compreender o funcionamento das diferen-
deve ser capaz, ao mesmo tempo, de fechar as ques- tes linguagens e práticas culturais (artísticas,
tões, atividades e temas trabalhados coletivamen- corporais e verbais) e mobilizar esses conhe-
te neste módulo e apontar para questões que serão cimentos na recepção e produção de discursos
abordadas no próximo módulo. O mais importante é nos diferentes campos de atuação social e nas
considerar sempre que essa vivência é, simultanea- diversas mídias, para ampliar as formas de par-
mente, uma continuidade e um desfecho da atividade ticipação social, o entendimento e as possibili-
de elaboração do projeto, que neste módulo é coleti- dades de explicação e interpretação crítica da
vo. Nesse momento, retome o mural dos perfis e dis- realidade e para continuar aprendendo. (BRASIL,
cuta os perfis biográficos. A apresentação final deve 2018, p. 490).
necessariamente remeter a esse trabalho, com base
no percurso e no formato que a escola e o docente, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas para o
em acordo com a turma, acharem mais interessantes. Ensino Médio
Ao contrário do Módulo 1, em que o foco do trabalho 6. Participar do debate público de forma crítica,
era mais pessoal, de autoconhecimento, no Módulo respeitando diferentes posições e fazendo es-
2 a perspectiva do trabalho é coletiva, de empatia e colhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao
cooperação. As competências e habilidades trabalha- seu projeto de vida, com liberdade, autonomia,
das serão as seguintes: consciência crítica e responsabilidade. (BRASIL,
Competências gerais da educação básica 2018, p. 570).

6. Valorizar a diversidade de saberes e vivên- Habilidades


cias culturais e apropriar-se de conhecimentos (EM13LGG104) Utilizar as diferentes linguagens,
e experiências que lhe possibilitem entender as levando em conta seus funcionamentos, para a
relações próprias do mundo do trabalho e fazer compreensão e produção de textos e discursos
escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e em diversos campos de atuação social. (BRASIL,
ao seu projeto de vida, com liberdade, autono- 2018, p. 491).
mia, consciência crítica e responsabilidade. (EM13CHS606) Analisar as características so-
7. Argumentar com base em fatos, dados e infor- cioeconômicas da sociedade brasileira – com
mações confiáveis, para formular, negociar e de- base na análise de documentos (dados, tabelas,
fender ideias, pontos de vista e decisões comuns mapas etc.) de diferentes fontes – e propor me-
que respeitem e promovam os direitos humanos, didas para enfrentar os problemas identificados
a consciência socioambiental e o consumo res- e construir uma sociedade mais próspera, justa
ponsável em âmbito local, regional e global, com e inclusiva, que valorize o protagonismo de seus
posicionamento ético em relação ao cuidado de cidadãos e promova o autoconhecimento, a au-
si mesmo, dos outros e do planeta. toestima, a autoconfiança e a empatia. (BRASIL,
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de 2018, p. 579).
conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar

Orientações específicas da obra 183


3 O meu encontro
Módulo

com o mundo

Neste Módulo 3, assim como no livro todo, a Competência geral 7 da BNCC foi contem-
plada de forma ampla, pois os estudantes foram convidados a pensar questões sobre seu
lugar como cidadãos de um mundo em transformação e a importância de aprender a ex-
pressar-se nos mais diferentes âmbitos, distinguindo o público e o privado, a fim de melhor
construir sua argumentação.
Além disso, a Competência geral 6 da BNCC ganhou ainda mais destaque neste mó-
dulo, pois se propõe uma reflexão mais detida sobre o mundo do trabalho e as escolhas
profissionais e de formação.
O Módulo 3 aborda ainda questões da Competência geral 10 da BNCC, a partir da re-
flexão e da vivência de experiências voltadas para uma análise, de forma autônoma e res-
ponsável, sobre o lugar onde se está e aonde se quer chegar. Incentiva-se uma postura
que não abandone a busca determinada pela realização dos sonhos, mas que saiba ser
flexível e resiliente. Em outras palavras, o jovem é instigado a uma compreensão de que se
deve ser capaz de planejar muitas alternativas para o projeto de vida.

Dinâmica de acolhimento e iniciação ao módulo


Recursos necessários: balões e barbante.
Para aquecer e introduzir os jovens nesse terceiro e último módulo, em que é trabalha-
da a importância de levar os estudantes a compreender sua inserção no mundo e a pen-
sar cooperativamente, atentando para as regras sociais, sugerimos que você realize uma
atividade com balões. Peça a cada estudante que encha o seu próprio balão e amarre-o
com barbante aos seus pés. Quando todos tiverem realizado o procedimento, ofereça um
prêmio, que pode ser um bombom ou chocolate, a todos que conseguirem chegar ao final
sem estourar o balão. Em geral, quando se dá esse comando, a reação dos estudantes é de
tentar estourar o balão uns dos outros.
Ao final, pergunte se eles sabem o porquê de terem agido assim e explique que, na ver-
dade, se todos tivessem se respeitado e entregado os balões, todos ganhariam o prêmio.
Não se tratava, portanto, de uma competição.
Essa atividade pode gerar reflexões sobre cooperação, competição e também sobre a
importância de entendermos como são as regras dos espaços e atividades que realizamos.
Após essa dinâmica, promova coletivamente a Roda de conversa, com base na tirinha
da Mafalda e no texto de Clarice Lispector.

184 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


Pág.116 Conforme ela ressalta, o Mapeamento Afe-
O que é um mapa afetivo? tivo, apesar de ser amplamente utilizado, não
foi fundado ou inventado por ninguém – e por-
Para saber mais sobre o mapa afetivo e como fa-
tanto, pode ser feito e readaptado de acordo
zê-lo, apresentamos aqui alguns excertos que podem
com quem for participar. Além do mais, ele não
inspirar você e, caso haja interesse, indicamos a refe-
precisa necessariamente ser feito nas ruas.
rência para a leitura do texto completo, com maiores
Por que não pensar, como ponto de partida, no
orientações.
mapeamento afetivo de uma escola e depois
Esse instrumento metodológico busca
transpô-lo ao território?
acessar os sentimentos por intermédio de de-
(Disponível em: https://cidadeseducadoras.
senhos, metáforas e palavras, direcionando org.br/metodologias/mapeamento-afetivo-
uma compreensão da relação da pessoa com como-transformar-o-espacos-publico-em-
o entorno físico. Bomfim (2003) reconhece o comunidade/. Acesso em: 25 out. 2019.)
desafio que é trabalhar com emoções e sen-
timentos. Fundamentada em Vigotski (2001), Pág.117
considera os afetos como parte do subtexto da Mapa afetivo – Eu e o outro
linguagem. Para entendermos o pensamento
Pensar quem ou o que entra no mapa envolve re-
de uma pessoa, torna-se necessário entender-
lações de poder, do que se quer deixar visível ou es-
mos sua base afetivo-volitiva. Entendemos,
conder. Por isso, há uma série de projetos em comuni-
então, que os mapas afetivos podem ser um
dades carentes do Brasil, em especial no Rio de Janeiro,
caminho para alcançar o sentido que está vela-
mas não apenas lá, que tentam criar seus próprios ma-
do nos significados das palavras. As metáforas,
pas, representando as questões que consideram mais
por sua capacidade de síntese pela analogia,
importantes, ou mesmo inserindo o lugar onde vivem
também cumprem esse objetivo.
nos diferentes aplicativos de mapeamento existentes.
(FURLANI, Daniela; BONFIM, Zulmira. Juven-
Em alguns contextos, essa pode ser uma discussão
tude e afetividade: tecendo projetos de vida
pela construção dos mapas afetivos. Psicolo-
interessante de se mobilizar com os estudantes, para
gia & Sociedade, v. 22, n. 1, p. 50-59, 2010. Dis- pensar a importância dos mapas, mas também os as-
ponível em: http://www.scielo.br/pdf/psoc/ pectos de uma inclusão desigual, que se reflete na re-
v22n1/v22n1a07.pdf. Acesso em: 23 out. 2019.) presentação gráfica do espaço onde se vive.
“O Mapeamento Afetivo configura um ou- Para saber mais: https://www.archdaily.com.br/
tro olhar para a cidade. Ao invés de enxergar a br/799117/a-importancia-e-os-desafios-de-colocar-
estrutura, a dinâmica viária, se trata de desco- as-favelas-no-mapa. Acesso em: 25 out. 2019.
brir quem são as pessoas, quais são as histórias
e potências daquele espaço. Uma cidade sem Pág. 123

gente não serve para nada, é um lugar sem afe- Atividade de aprofundamento –
to. E é o afeto, junto com as relações, que vão Conectados
sustentar as mudanças que queremos para um O Guia de Oportunidades é uma atividade funda-
lugar”, explica Inês Maria, arquiteta que faz mental para este Módulo 3, pois ele ajudará os estu-
parte do grupo Acupuntura Urbana, que atua dantes a pesquisar e traçar uma rede de apoio para os
há três anos em São Paulo. seus projetos de vida. Esse trabalho deve ser cuida-
Engajado na transformação de “espaços doso e bem elaborado, com o qual você pode e deve
públicos em comunidades”, o coletivo costuma colaborar, com as mais diferentes sugestões. A ideia
partir de mapeamentos afetivos para reunir ati- é que esse guia seja divulgado o mais amplamente
vos de um espaço, criar articulações, desvelar possível na escola e para a comunidade, conforme
potências e criar vínculos. A Plataforma Cidades orientações dadas na Vivência de fechamento deste
Educadoras conversou com Inês Maria, que aju- módulo. Sendo assim, pode-se pensar na elaboração
dou a contar como fazer essa prática valer. de um suporte digital para ele.

Orientações específicas da obra 185


Pág. 123 2. O debate amplo e crítico dos jovens a respeito do
Sonhos coletivos e coletivos de que pensam sobre as motivações de cada um dos
sonhos projetos e coletivos que pesquisaram.
Uma perspectiva que ajuda a aprofundar essa O professor pode ainda sugerir outras propos-
dimensão da construção de uma perspectiva cidadã tas de coletivos e projetos sociais para além das
voltada para o bem comum está na reflexão de Jan citadas no livro, a fim de englobar temáticas consi-
Masschelein e Maarten Simons (2015), no livro Em deradas relevantes em cada contexto trabalhado. O
defesa da escola. Conforme esses dois autores: objetivo é que os estudantes pesquisem a respeito
e tragam para o debate em sala de aula. Sugerimos
O elemento democrático – e político – da
que essa atividade seja feita em grupos de até 4
educação está localizado nessa dupla expe-
pessoas e depois se realize uma discussão coletiva
riência do mundo como um bem comum e do
em roda de conversa com toda a turma. A proposta
“eu posso” (em oposição a “eu devo”). É a aber-
com essa atividade é já conduzir os jovens ao en-
tura de um mundo fora de nós mesmos e o en-
tendimento da importância de desenvolverem um
volvimento da criança ou do jovem nesse mun-
protagonismo em diferentes segmentos da socie-
do compartilhado. Assim, não é uma questão
dade, levando-os a refletir mais sobre o protagonis-
de começar a partir do mundo (matemática,
mo em seu próprio projeto de vida, principalmente
inglês, culinária, marcenaria) e, literalmente,
em relação às escolhas nos campos profissionais e
persuadindo-os ao contato com essas coisas co-
de continuidade dos estudos, temas que serão tra-
locando-os em sua companhia, para que essas
tados logo a seguir.
coisas – e, com elas, o mundo – comecem a se
tornar significativas para eles. É isso que capa-
Pág.128
cita o jovem a se experimentar como cidadão
do mundo.
Da escola para o mundo
(MASSCHELEIN e SIMON, 2015) Com essa temática, retomamos muitas das
questões abordadas na atividade de acolhimento do
Pág. 126 Módulo 1, em que os estudantes se debruçaram so-
bre as brincadeiras de sua infância, e o que mudou
Autoconhecimento desde então. Contudo, agora direcionamos para uma
reflexão sobre as novas responsabilidades que já co-
Professor, esse é o momento de explorar pontos meçam a despontar ao final do Ensino Médio, como as
fundamentais da discussão sobre o projeto de vida expectativas de continuidade dos estudos e a entrada
que serão ressaltados nesse Módulo 3, retomando no mundo do trabalho.
aspectos do Módulo 2, pois trataremos do encontro
dos estudantes com o mundo e do reconhecimento Pág. 131
do outro como apoio fundamental para o seu próprio
Roda de conversa
projeto de vida. Assim, a proposta é trabalhar aqui
com a compreensão de que não estamos sozinhos no
Quem tudo quer tudo perde
mundo, de que dependemos das outras pessoas para
uma vida melhor, de que precisamos defender o direi- O trabalho com contos ou mesmo ditados popu-
to de todas as pessoas a uma vida melhor, e, por fim, lares também pode abordar falas de senso comum.
de que é importante construir um propósito de vida O importante é fazer com que os estudantes reflitam
para motivar os projetos pessoais. Por isso, a discus- sobre o que os incomoda nessas falas e saibam, efe-
são sobre os projetos sociais e coletivos voltados para tivamente, aproximar-se de um pensamento científi-
determinadas causas e defesas de direitos deve ser co ou reflexivo, capaz de superar esse senso comum.
explorada em dois sentidos: Contudo, a tarefa principal aqui é discutir os três ensi-
namentos desse conto para a reflexão sobre o projeto
1. A pesquisa dos jovens a respeito de cada uma das
de vida:
sugestões feitas.

186 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


1. Reconhecer a importância de pensar bem e plane- Pág. 138
jar o que se quer. Um projeto de vida profissional e de
2. Saber delimitar os sonhos de forma realista, afinal, formação
“quem tudo quer tudo perde”. Neste último módulo, a perspectiva da elabo-
3. Entender que não há soluções mágicas para alcan- ração do projeto de vida está na formação pessoal e
çar os objetivos ou resolver problemas, tema que na entrada no mundo do trabalho. Nesse momento, o
será aprofundado no próximo tópico. estudante deve pensar em seu futuro mais próximo,
que é o término do Ensino Médio, e em sua trajetória
Pág. 132 posterior. Cabe lembrar que essa atividade sempre
Aprendendo a lidar com os problemas deve ter como referência a vivência, que neste módu-
lo é de fechamento. Para a elaboração do projeto de
Converse com os alunos sobre os super-heróis
vida profissional e de formação, serão trabalhadas as
e o número enorme de produções sobre o tema que
seguintes competências gerais, competências espe-
têm sido lançadas em filmes nos últimos tempos. In-
cíficas e habilidades:
dicamos que ouça um podcast, com Rogério Campos,
diretor da Editora Veneta e autor do livro Super-Ho- Competências gerais da educação básica
mem e o romantismo de aço (publicado em 2018, 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivên-
pela Editora Ugra), em que ele dá algumas dicas so- cias culturais e apropriar-se de conhecimen-
bre o tema. Podcast, Guilhotina #08, Rogério Campos, tos e experiências que lhe possibilitem enten-
20/12/2018. Le Monde Diplomatique Brasil. Disponí- der as relações próprias do mundo do trabalho
vel em: https://diplomatique.org.br/guilhotina-08/. e fazer escolhas alinhadas ao exercício da ci-
Acesso em: 28 out. 2019. dadania e ao seu projeto de vida, com liberda-
Para saber mais, leia ensaio a respeito do livro. de, autonomia, consciência crítica e responsa-
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ bilidade.
ilustrissima/2018/04/fortao-que-bota-ordem-na- 7. Argumentar com base em fatos, dados e in-
casa-superman-e-acusado-de-ser-fascista-ha- formações confiáveis, para formular, negociar
80-anos.shtml. Acesso em: 15 out. 2019. e defender ideias, pontos de vista e decisões
comuns que respeitem e promovam os direitos
Pág. 134 humanos, a consciência socioambiental e o con-
#FICA A DICA sumo responsável em âmbito local, regional e
global, com posicionamento ético em relação ao
Uma dica de leitura inspiradora de como os
cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
maiores problemas podem ser superados a partir do
(BRASIL, 2018, p. 9)
encontro de um propósito para a vida: Instrumental,
de James Rhodes (2017). Nesse livro, o autor narra Competências específicas de Ciências Humanas e
uma história de violências e abusos sofridos na in- Sociais Aplicadas para o Ensino Médio
fância e que deixaram marcas profundas em sua 4. Analisar as relações de produção, capital e
vida. Embora com uma série de consequências psi- trabalho em diferentes territórios, contextos e
cológicas sérias, James consegue, de certa manei- culturas, discutindo o papel dessas relações na
ra, aprender a lidar com essas questões a partir do construção, consolidação e transformação das
encontro de um sentido para sua vida, por meio do sociedades. (BRASIL, 2018, p. 570).
amor pela música clássica e o piano. Torna-se, as-
sim, um aclamado concertista e escritor. A música Habilidades
salvou sua vida, como ele mesmo revela. Qual o sen- (EM13CHS401) Identificar e analisar as relações
tido que você e seus alunos podem encontrar para entre sujeitos, grupos, classes sociais e socie-
a vida? Será que é possível inspirá-los minimamente dades com culturas distintas diante das trans-
por meio das reflexões, provocações e vivências que formações técnicas, tecnológicas e informacio-
este livro propõe? nais e das novas formas de trabalho ao longo do

Orientações específicas da obra 187


tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) Competências gerais da educação básica
e contextos. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivên-
(EM13CHS402) Analisar e comparar indicado- cias culturais e apropriar-se de conhecimentos
res de emprego, trabalho e renda em diferentes e experiências que lhe possibilitem entender as
espaços, escalas e tempos, associando-os a relações próprias do mundo do trabalho e fazer
processos de estratificação e desigualdade so- escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e
cioeconômica. ao seu projeto de vida, com liberdade, autono-
(EM13CHS403) Caracterizar e analisar os im- mia, consciência crítica e responsabilidade.
pactos das transformações tecnológicas nas 7. Argumentar com base em fatos, dados e infor-
relações sociais e de trabalho próprias da con- mações confiáveis, para formular, negociar e de-
temporaneidade, promovendo ações voltadas à fender ideias, pontos de vista e decisões comuns
superação das desigualdades sociais, da opres- que respeitem e promovam os direitos humanos,
são e da violação dos Direitos Humanos. a consciência socioambiental e o consumo res-
(EM13CHS404) Identificar e discutir os múltiplos ponsável em âmbito local, regional e global, com
aspectos do trabalho em diferentes circunstân- posicionamento ético em relação ao cuidado de
cias e contextos históricos e/ou geográficos e si mesmo, dos outros e do planeta.
seus efeitos sobre as gerações, em especial, os 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de
jovens, levando em consideração, na atualidade, conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar
as transformações técnicas, tecnológicas e in- e promovendo o respeito ao outro e aos direitos
formacionais. (BRASIL, 2018, p. 576). humanos, com acolhimento e valorização da di-
versidade de indivíduos e de grupos sociais, seus
Pág. 139 saberes, identidades, culturas e potencialidades,
Vivência de fechamento sem preconceitos de qualquer natureza.
A última vivência coletiva deve retomar as ques- 10. Agir pessoal e coletivamente com autono-
tões que a atividade final de projeto de vida suscitar, mia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e
focando a formação pessoal e o mundo do trabalho determinação, tomando decisões com base em
para fechar esse roteiro de descobertas sobre o pro- princípios éticos, democráticos, inclusivos, sus-
jeto de vida. Nessa vivência coletiva e aberta ao pú- tentáveis e solidários. (BRASIL, 2018, p. 9-10)
blico, é importante abordar os inúmeros aprendizados Competências específicas de Ciências Humanas e
que se desenvolveram ao longo dessa jornada de ati- Sociais Aplicadas para o Ensino Médio
vidades. Esse é o momento de relembrar e apresentar
4. Analisar as relações de produção, capital e
o desfecho das seguintes atividades:
trabalho em diferentes territórios, contextos e
1. O mural dos perfis e sonhos da turma, contendo: culturas, discutindo o papel dessas relações na
a) perfil pessoal; construção, consolidação e transformação das
b) perfil das pessoas inspiradoras; sociedades. (BRASIL, 2018, p. 570).

c) perfil profissional. Habilidades


2. O mapa afetivo do lugar onde vivemos; (EM13CHS401) Identificar e analisar as relações
entre sujeitos, grupos, classes sociais e socie-
3. O guia de oportunidades para os jovens do bairro.
dades com culturas distintas diante das trans-
Essa vivência final é muito importante, pois re- formações técnicas, tecnológicas e informacio-
presenta o desfecho da trajetória do estudante no nais e das novas formas de trabalho ao longo do
Ensino Médio. Por isso, ela deve ser bem planejada, e tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais)
a comunidade, principalmente os familiares, deve re- e contextos.
ceber um convite especial para participar. (EM13CHS402) Analisar e comparar indicado-
Nessa vivência de fechamento, são trabalhadas res de emprego, trabalho e renda em diferentes
as seguintes competências e habilidades: espaços, escalas e tempos, associando-os a

188 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


processos de estratificação e desigualdade so- (EM13CHS404) Identificar e discutir os múl-
cioeconômica. tiplos aspectos do trabalho em diferentes cir-
(EM13CHS403) Caracterizar e analisar os im- cunstâncias e contextos históricos e/ou geo-
pactos das transformações tecnológicas nas gráficos e seus efeitos sobre as gerações, em
relações sociais e de trabalho próprias da con- especial, os jovens, levando em consideração,
temporaneidade, promovendo ações voltadas à na atualidade, as transformações técnicas,
superação das desigualdades sociais, da opres- tecnológicas e informacionais. (BRASIL, 2018,
são e da violação dos Direitos Humanos. p. 576).

Orientações específicas da obra 189


Referências bibliográficas

ALMEIDA, Maria Isabel Mendes; EUGÊNIO, Fernanda BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Co-
(Orgs.). Culturas jovens: novos mapas do afeto. mum Curricular. Brasília: MEC, 2018.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. Nova Base Nacional Comum Curricular, que es-
Coletânea que apresenta e discute diferentes tabelece um conjunto mínimo de aprendizagens
culturas juvenis brasileiras, ressaltando relações que seriam essenciais a todos os estudantes
afetivas e relação com a cidade. brasileiros, com base em dez competências ge-
rais para a educação.
AUBERT, Nicole; HAROCHE, Claudine (Orgs.). Tiranias
da visibilidade: o visível e o invisível nas socieda- BUCKINGHAM, David. Cultura digital, educação
des contemporâneas. São Paulo: Editora da Uni- midiática e o lugar da escolarização. Educação
fesp, 2013. & Realidade, v. 35, n. 3, p. 37-58, set./dez.
Livro que aborda as novas configurações das 2010. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/
subjetividades em um mundo de mudanças tec- educacaoerealidade/article/view/13077.
nológicas e sociais, demonstrando que o ideal de Acesso em: 23 out. 2019.
visibilidade constante tornou-se um imperativo. David Buckingham discute nesse artigo o im-
pacto das tecnologias digitais da informação
BAUMAN, Zygmunt. O amor líquido: sobre a fragili-
e da comunicação na educação, conclamando
dade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge
educadores a não recorrem a visões que exal-
Zahar, 2004. tem ou condenem as tecnologias no cotidiano
Nesse livro, Bauman discute as transformações escolar, encarando-as com realismo.
nas relações sociais e amorosas no mundo con-
temporâneo. Trata-se de uma discussão funda- CASTRO, Lúcia Rabello. Onde estão os (sujeitos) jo-
mental para entender as novas subjetividades vens nas teorias da juventude? In: COLAÇO, V. et
das juventudes. al (Orgs.). Juventudes em movimento: experiên-
cias, redes e afetos. Fortaleza: Expressão, 2019.
BORELLI, Sílvia; FREIRE FILHO, João (Orgs.). Culturas
Artigo que discute a importância de as reflexões
juvenis no século XXI. São Paulo: Educ, 2008.
teóricas sobre as juventudes incorporarem de
Coletânea que apresenta e discute as diferentes fato as perspectivas dos jovens.
culturas juvenis brasileiras, ressaltando as rela-
ções com a cultura de massa e com as tecnolo- CHARLOT, Bernard; REIS, Rosemeire. As relações com
gias digitais da informação e da comunicação. os estudos de alunos brasileiros de Ensino Médio.
In: KRAWCZYK, Nora (Org.). Sociologia do Ensino
BOUTINET, Jean-Pierre. Antropologia do projeto. Por-
Médio: crítica ao economicismo na política edu-
to Alegre: Artmed, 2002.
cacional. São Paulo: Cortez, 2014.
Nesse livro, Jean-Pierre Boutinet explora a cen-
Nesse texto, os atores discutem a importância
tralidade da organização por projetos na socie-
de se refletir sobre como os estudantes, a partir
dade ocidental. O autor também apresenta as
de suas realidades sociais, concebem a sua pró-
diferentes formas de se construir um projeto.
pria relação com o saber.

190 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


CORTI, Ana Paula; SOUZA, Raquel. Diálogos com o MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos: o declínio do
mundo juvenil: subsídios para educadores. São individualismo nas sociedades de massas. Rio de
Paulo: Ação Educativa, 2005. Janeiro: Forense, 2014.
Livro que aborda a importância de a escola esta- Obra fundamental em que se defende como as
belecer diálogos com as culturas juvenis. culturas juvenis seriam o resultado de uma ne-
COSTA, Márcia Regina da; SILVA, Elizabeth da (Orgs.). cessidade de se organizar em grupos, a fim de
Sociabilidade juvenil e cultura urbana. São Paulo: romper certo individualismo reinante.
Educ, 2006. MAGNANI, José Guilherme; MANTESE, Bruna (Orgs.).
Coletânea de pesquisas sobre as juventudes em Jovens na metrópole: etnografias de circuitos de
que se aborda a importância as sociabilidades lazer, encontro e sociabilidade. São Paulo: Tercei-
juvenis para a constituição das identidades indi-
ro Nome, 2007.
viduais e coletivas.
Coletânea de pesquisas empíricas sobre dife-
COULON, Alain. O ofício de estudante: a entrada na rentes culturas juvenis na cidade de São Paulo.
vida universitária. Educação & Pesquisa, São Nela, os autores abordam a importância do es-
Paulo, v. 43, n. 4, p. 1239-1250, out./dez., 2017. paço urbano para as juventudes e suas práticas
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ep/ culturais.
v43n4/1517-9702-ep-43-4-1239.pdf. Acesso
MASSCHELEIN, Jan; SIMONS, Maarten. Em defesa da
em: 28 out. 2019.
escola: uma questão pública. Belo Horizonte: Au-
Artigo em que Alain Coulon discute uma peda-
gogia da afiliação que torne o estudante mem- têntica, 2015.
bro dos diferentes processos políticos e educati- Obra importante, que defende a escola como
vos da instituição de ensino. espaço fundamental para a formação social
dos indivíduos. A escola é a instituição que po-
DAMON, William. O que o jovem quer da vida? – Como
deria garantir às novas gerações a compreen-
pais e professores podem orientar e motivar
são e a transformação do mundo em que vi-
adolescentes. São Paulo: Summus, 2009.
vemos.
William Damon é um psicólogo responsável por
uma discussão bastante aprofundada sobre ju- PAIS, José Machado. Culturas juvenis. Lisboa: Impren-
ventude e projeto de vida. Neste livro, ele aborda sa Nacional - Casa da Moeda, 2003.
a importância de se trabalhar com a ideia de pro- Obra de referência para o estudo das culturas ju-
jeto e propósito de vida para que os jovens cons- venis. Nela, o sociólogo português José Macha-
truam trajetórias bem-sucedidas.
do Pais demonstra a relação intrínseca entre as
DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Revis- juventudes e as práticas de lazer.
ta Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 24, p.
PAIS, José Machado; BLASS, Leila Maria da Silva
40-52, set./dez. 2003.
(Orgs.). Tribos urbanas: produção artística e
Artigo em que se discute a importância dos jovens
identidades. São Paulo: Annablume, 2004.
para a escola contemporânea e por que se deve
estimular o protagonismo juvenil, incentivando a Coletânea de estudos sobre as culturas juvenis
participação dos jovens em todos os processos. no Brasil e em Portugal, com foco nas criações
artísticas que ajudam os jovens a organizarem
GROPPO, Luís Antonio. Juventude: ensaios sobre so- suas identidades individuais e coletivas.
ciologia e história das juventudes modernas. Rio
de Janeiro: Difel, 2000. PENNAC, Daniel. Diário de escola. Rio de Janeiro:
Livro em que se apresenta a história do surgi- Rocco, 2008.
mento da noção ocidental de juventude, discu- Nessa obra, Pennac narra a importância da lei-
tindo suas múltiplas transformações e implica- tura e da escrita para a sua vida de estudante e
ções na sociedade. de professor.

Referências bibliográficas 191


REZENDE, Cláudia; COELHO, Maria. Antropologia das VIANNA, Hermano (Org.). Galeras cariocas: territórios
emoções. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2010. de conflito e encontros culturais. Rio de Janeiro:
Livro que discute os aspectos socioculturais das Editora da UFRJ, 1997.
emoções. Desse modo, um mesmo evento pode Coletânea de estudos sobre juventudes e cultu-
desencadear diferentes reações emocionais em ras juvenis no Rio de Janeiro, que aborda diferen-
diferentes lugares e tempos históricos. tes aspectos da relação dos jovens cariocas com
a música, com o espaço urbano e os seus pares.
RHODES, James. Instrumental: memórias de música,
medicação e loucura. Rio de Janeiro: Rádio Lon- WELLER, Wivian. Jovens no Ensino Médio: projetos
dres, 2017. de vida e perspectivas de futuro. In: DAYRELL,
Livro que conta a história de superação do músi- Juarez; CARRANO, Paulo; MAIA, Carla (Orgs.). Ju-
co inglês James Rhodes, após uma vida de abu- ventude e ensino médio: sujeitos e currículos em
sos e sofrimentos. Importante para professores diálogo. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014.
se sensibilizarem para aspectos referentes à Disponível em: http://observatoriodajuventu-
saúde mental das juventudes. de.ufmg.br/publication/juventude-e-ensino-
SIBILIA, Paula. Redes ou paredes: a escola em tempos medio-sujeitos-e-curriculos-em-dialogo/.
de dispersão. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. Acesso em: 13 nov. 2019.
Nesse livro, Paula Sibilia discute a importância de Livro que discute a importância de se compreen-
se tomar as tecnologias como elemento funda- der e trabalhar com os projetos de vida e pers-
mental do processo de relação da escola com as pectivas de futuro com estudantes do Ensino
juventudes no cotidiano escolar. A escola tem de Médio.
aprender a abrir-se em redes, defende a autora. WHYTE, William Foote. Sociedade de esquina: a es-
SPOSITO, Marília Pontes. A sociabilidade juvenil e a trutura social de uma área urbana pobre e degra-
rua: novos conflitos e ação coletiva na cidade. dada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
Tempo Social, Revista de Sociologia da USP, São Pesquisa empírica com grupos jovens e a relação
Paulo, v. 5, n. 1-2, 1993. com as ruas nos Estados Unidos. Nela, o autor
Artigo em que Marília Sposito aborda a relação discute aspectos da relação dos jovens com o
das culturas juvenis com o espaço público em ci- trabalho, a educação e a violência.
dades como São Paulo. WILLIS, Paul. Aprendendo a ser trabalhador: escola,
VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose: antropo- resistência e reprodução social. Porto Alegre: Ar-
logia das sociedades complexas. Rio de Janeiro: tes Médicas, 1991.
Jorge Zahar, 2003. Obra clássica sobre estudos culturais das juven-
Livro em que Gilberto Velho discute a centralida- tudes no contexto escolar. Nesse livro, o autor
de da noção de projeto para o estudo das popu- estuda a relação de jovens ingleses da classe
lações urbanas. Por meio dos projetos, os indiví- operária com a escola e o confronto com o mun-
duos organizam-se a partir de seus campos de do do trabalho.
possibilidades.
ZAMBONI, Márcio. Marcadores sociais da diferença.
. Individualismo e cultura: notas para uma antro- Sociologia: grandes temas do conhecimento
pologia da sociedade contemporânea. Rio de Ja- (Especial Desigualdades), São Paulo, v. 1, 1 ago.
neiro: Jorge Zahar, 2004. 2014, p. 18.
Nesse livro, o antropólogo Gilberto Velho apre- Artigo que aborda a relação entre diferença e
senta uma série de perspectivas importantes de desigualdade na formação dos indivíduos na so-
seu pensamento, como as ações de familiarida- ciedade contemporânea. Proporciona o enten-
de e estranhamento como formas de conheci- dimento de como certas diferenças podem virar
mento do mundo. marcas de desigualdade.

192 ASSESSORIA PEDAGÓGICA


Alexandre Barbosa Pereira

PROJETO
DE VIDA
Meu
MANUAL DO Projeto
PROFESSOR
de Vida
Uma aventura
e desafios
entre
sonhos
entree sonhos
desafios

ISBN 978-65-99049-32-3

9 786599 049323

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