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PORQUE PRECISAMOS DE SUPLEMENTOS

Pedro Bastos , Dezembro 2005

Porque é que necessitamos de suplementos? A maior parte das frutas e vegetais é colhida,
armazenada, transportada e novamente armazenada até
Se seguirmos uma dieta equilibrada, conseguimos obter ser adquirida. Ora, a partir do momento em que são
todos os nutrientes essenciais à manutenção da saúde, colhidos, há uma perda gradual de vitaminas, como o
pelo que a utilização de suplementos é desnecessária! demonstra um estudo antigo (de 1988) publicado no
Journal of the American Dietetic Association, segundo o
Será esta noção correcta? qual os vegetais, desde o momento em que são colhidos
até serem ingeridos em restaurantes, perdem cerca de
Na minha opinião, não. 40% do seu conteúdo em vitamina C. (10)

Grande parte da população ocidental não consome as 5 Do mesmo modo, as couves de Bruxelas congeladas
a 9 doses de fruta e vegetais recomendadas pelo durante 6 meses apresentam quantidades de vitamina C
National Cancer Institute (1, 2), mas mesmo quem o faz 14 a 32% menores do que no momento da colheita (11) .
poderá não estar a ingerir as quantidades necessárias Outro processo que contribui para a perda de nutrientes
de nutrientes? Porquê? é a confecção. A cozedura do arroz e de vegetais de
folha verde destrói 40 a 50% do seu conteúdo de tiamina
• A quantidade de nutrientes dos solos varia (12) e 30 a 35% do valor de vitamina A, no caso dos
vegetais de folha amarela. (13)
consideravelmente.

As técnicas agrícolas e factores ambientais provocam o Estes factos sugerem que devemos procurar outras
esgotamento de vários minerais, como o selénio e o fontes de vitaminas, minerais, fitonutrientes e
iodo, que não se encontram na maior parte dos solos, a aminoácidos, surgindo, assim, os suplementos
nível mundial (3). alimentares, que existem no mercado sob a forma de
cápsulas, comprimidos e em pó.
O zinco também se encontra ausente em muitos solos,
em especial na zona do Mediterrâneo, onde o trigo, que As vozes que se opõem a esta opinião afirmam que os
cresce no mesmo solo há 4000 anos, esgotou as alimentos conseguem fornecer-nos as doses diárias
reservas deste mineral (4). recomendadas. Esta afirmação levanta três questões:
em primeiro lugar, as doses diárias recomendadas
Vários estudos epidemiológicos demonstram que as (DDR) actuais referem-se ao mínimo indispensável para
populações que vivem em áreas, onde, os solos evitar certas doenças, como o escorbuto (no caso da
possuem baixos níveis de selénio, magnésio e zinco, vitamina C). Ora, vários estudos demonstram que são
apresentam ingestões desses minerais abaixo das doses necessárias doses muito superiores às DDR para obter
diárias recomendadas, o que se correlaciona com maior efeitos benéficos sobre a saúde do organismo. O poder
incidência de diversos tipos de cancro, no caso do antioxidante das vitaminas C e E, por exemplo, foi
selénio (5,6), maior incidência de doenças demonstrado com doses superiores a 300 e 100 mg,
cardiovasculares, respiratórias e gastrointestinais, no respectivamente (sendo as DDR de 60 e 30 mg,
caso do magnésio (7-9) e atrasos na maturação de respectivamente) (14). Para obter essa dose de vitamina
adolescentes, no caso do zinco. (4) E, através dos alimentos, seria necessário ingerir 950 ml
de azeite ou 215 g de amêndoas ou 7 kgs de espinafres
ou 7 kgs de manteiga. (15)
• Transporte, armazenamento e confecção
dos alimentos.

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A segunda questão prende-se com o facto dos alimentos trabalhamos em edifícios iluminados artificialmente, não
conterem quantidades de nutrientes, cada vez menores, vemos a luz do sol, bebemos água duvidosa, ingerimos
pelos motivos já referidos. alimentos ricos em calorias e pobres em nutrientes
(sujeitos a pesticidas, herbicidas, hormonas, antibióticos
Por último, é extremamente difícil ingerir os alimentos e outras toxinas), dormimos muito pouco e de forma
certos na quantidade certa, mesmo para obter algo tão irregular e não fazemos qualquer tipo de exercício.
pequeno como as DDR. Num dos seus livros (16), o
nutricionista e bioquímico Michael Colgan, refere duas Em suma, as nossas necessidades de nutrientes são
dietas equilibradas elaboradas por dois nutricionistas, maiores, as nossas necessidades calóricas são menores
que eram ambas deficientes em crómio e faz a seguinte e os alimentos que ingerimos têm cada vez menos
afirmação: “Se dois investigadores não conseguem nutrientes, o que explica a existência de tantos estudos
encontrar um plano alimentar que forneça a dose diária epidemiológicos que estabelecem a relação entre as
recomendada de todos os nutrientes essenciais, que deficiências vitamínicas e minerais e várias patologias
hipóteses temos nós de o fazer?!” (cancro, doenças cardiovasculares, cataratas,
osteoporose, etc.) (6,20-22).
E se ainda persistem dúvidas, os resultados do Third
National Health and Nutrition Examination Survey Assim, qual a solução? De acordo com o Dr. Michael
revelaram que parte da população americana e com Colgan (que já elaborou planos nutricionais para mais de
recursos económicos para se alimentar correctamente, 30 mil pessoas, entre elas centenas de atletas):
apresenta níveis inferiores às DDR de nutrientes “Simplesmente procurar adoptar um estilo de vida
essenciais à saúde, designadamente vitamina E, ácido saudável (dormir entre 7 a 9 horas, fazer exercício físico
fólico, cálcio e magnésio. (17) e ingerir alimentos orgânicos e integrais, como faziam os
nossos antepassados) e utilizar suplementos”. (23)
Tendo conhecimento destes factos, vários autores
defendem a necessidade de suplementos, como os Referências:
investigadores Willet e Stampfer da Harvard Medical
School e Harvard School of Public Medicine, que 1. Ames BN. Micronutrient deficiencies. A major
apresentaram (18) a nova pirâmide alimentar americana, cause of DNA damage. Ann N Y Acad Sci.
que recomenda a utilização de multivitamínicos por 1999;889:87-106.
todos, mas o primeiro grande passo nesse sentido foi 2. Bastos, P. Inquérito realizado, no período 2001-
dado em 1998, pelo New England Journal of Medicine, 2004, a uma amostra de 517 indivíduos
que publicou um artigo que, apoiando-se em estudos residentes na área urbana de Lisboa.
que indicavam que a ingestão de suplementos de 3. Kohrle J. The trace element selenium and the
vitamina B12, B6 e ácido fólico poderiam reduzir os thyroid gland. Biochimie. 1999;81(5):527-33.
níveis de homocisteína e, desta forma, diminuir a 4. Shambaugh GE Jr. Zinc: the neglected nutrient.
incidência de enfartes do miocárdio e de acidentes Am J Otol. 1989;10(2):156-60.
cerebrais vasculares, terminava, recomendando o uso de 5. Maksimovic Z, Rsumovic M, Jovic V, Kosanovic M,
multivitamínicos. (18) Jovanovic T. Selenium in soil, grass, and human
serum in the Zlatibor mountain area (Serbia):
Importa, ainda, referir que os nossos antepassados geomedical aspects. J Environ Pathol Toxicol
viviam num ambiente, onde a água e o ar eram puros e Oncol. 1998;17(3-4):221-7.
acordavam e deitavam-se, de acordo com a luz solar 6. Clark LC, Cantor KP, Allaway WH. Selenium in
(esta permite obter vitamina D). No entanto, ingeriam forage crops and cancer mortality in U.S.
cerca de 4000 calorias provenientes de alimentos counties. Arch Environ Health. 1991;46(1):37-42.
integrais muito ricos em nutrientes. Essas calorias eram 7. Leary WP, Reyes AJ, Lockett CJ, Arbuckle DD, van
utilizadas no trabalho físico, pelo que não eram der Byl K. Magnesium and deaths ascribed to
armazenadas sob a forma de gordura. ischaemic heart disease in South Africa. A
preliminary report. S Afr Med J. 1983;64(20):775-6.
Hoje em dia, vivemos constantemente em stress,
estamos expostos a níveis brutais de poluição,

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8. Karppanen H. Epidemiological studies on the 23. Colgan, M. Power Program, Apple Publications,
relationship between magnesium intake and 2000.
cardiovascular diseases. Artery. 1981;9(3):190-9.
9. Miron W, Sobaniec-Lotowska M, Sulkowski S.
[Malignant neoplasms in autopsy specimens and
the magnesium level in the soil of the
communities of Grodek and Tykocin]. Wiad Lek.
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10. Carlson BL, Tabacchi MH. Loss of vitamin C in
vegetables during the foodservice cycle. Journal
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size of fresh and frozen brussels sprouts on the
vitamin C level. Rocz Panstw Zakl Hig.
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24.
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16. Colgan, M. Sports nutrition guide – Minerals,
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