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Prof: Nestor Távora – Ação Penal

AÇÃO PENAL

1- Conceito: é um direito público e subjetivo positivado na CF de exigir do Estado-juiz a aplicação da lei ao


caso concreto, para a solução da demanda penal.
Obs. Já o processo é a ferramenta que viabiliza a implementação e o desenvolvimento da ação.

2- Modalidades de ação penal- levaremos em consideração a titularidade para a propositura da demanda,


vejamos:
2.1- Ação penal pública
2.2- Ação penal privada
3- Ação penal pública
3.1- Conceito: é aquela titularizada PRIVATIVAMENTE pelo MP, de acordo com o art. 129, I, CF e de
acordo com o art. 257, I, CPP.
Obs.1. Adotamos no Brasil o sistema acusatório, que tem como principal característica a separação de
funções.
Obs.2. O art. 26 do CPP, permitindo que juízes e delegados apresentassem ação penal, encontra-se
tacitamente revogado, já que não foi recepcionado pela CF.
Obs.3. Enquadramento terminológico- a petição inicial que caracteriza o exercício da ação pública é a
denúncia, sendo que os seus requisitos estão no art. 41 do CPP.
3.2- Princípios:
3.2.1- Princípio da OBRIGATORIEDADE
I- Conceito: o exercício da ação pública é um dever funcional inerente a atuação do MP.
II- Princípio da obrigatoriedade mitigada/ princípio da discricionariedade regrada- o princípio da
obrigatoriedade é mitigado por meio da JUSTIÇA PENAL DO CONSENSO, caracterizada pelos seguintes
institutos:
a) Transação penal no Juizado Especial (art. 76, Lei 9099/95);
b) Colaboração premiada: ela pode levar ao não oferecimento da denúncia, desde que o sujeito seja o
primeiro a colaborar, não integre a chefia da organização criminosa, e o fato revelado seja desconhecido
da autoridade (art. 4°, § 4°, Lei 12.850/013);

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c) Acordo de não persecução penal- ANPP: ele é cabível nos crimes com pena MÍNIMA inferior a 4 anos,
praticados sem violência ou grave ameaça contra a pessoa, e fora do contexto da Lei Maria da Penha (art.
28-A, CPP).
3.2.2- Princípio da INDISPONIBILIDADE
I- Conceito: o MP não poderá desistir da demanda ajuizada, devendo impulsioná-la até o fim, como
desdobramento do dever funcional (art. 42, CPP).
II- Postura do MP:
a) O MP pode requerer a absolvição do réu, o que não significa desistência.
ADVERTÊNCIA: o requerimento feito pelo MP não vincula o juiz, que poderá condenar o imputado (art.
385, CPP).
b) Nada impede que o MP recorra em favor do imputado.
ADVERTÊNCIA.1. Os recursos são essencialmente VOLUNTÁRIOS.
ADVERTÊNCIA.2. Se o MP recorrer, ele não poderá desistir do recurso interposto, pois o recurso é um
desdobramento do direito de ação (art. 576, CPP).
3.2.3- Princípio da divisibilidade:
I- Conceito: para os Tribunais Superiores a ação pública é DIVISÍVEL por admitir desmembramento.
Obs. Para a doutrina majoritária, a ação pública é indivisível, afinal, usualmente todos aqueles que
concorreram para o crime devem ser processados na mesma demanda.
3.2.4- Princípio da intranscendência/princípio da pessoalidade
I- Conceito: os efeitos da ação penal não podem ultrapassar a figura do réu.
3.3- Modalidades de ação penal pública (classificação):
3.3.1- Ação pública INCONDICIONADA:
I- Conceito: é aquela titularizada pelo MP, onde a atividade persecutória ocorrerá de ofício, independente
da manifestação de vontade da vítima ou de terceiros.
Obs.1. Ela é apontada como REGRA GERAL (art. 100, caput, CP).
Conclusão: quando a lei é omissa, presumimos que o crime é de ação pública incondicionada.
Obs.2. Quando o crime é de ação pública incondicionada, o IP deve ser instaurado de ofício (art. 5°, I,
CPP).
3.3.2- Ação pública CONDICIONADA
I- Conceito: ela é titularizada pelo MP, mas que dependerá de uma prévia manifestação de vontade do
legítimo interessado.

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Obs.1. Para que o crime seja de ação pública condicionada, é necessário expressa previsão legal (§ 1°, art.
100, CP).
Obs.2. Com a inovação do § 5° do art. 171 do CP, o estelionato, como regra, passa a ser crime de AÇÃO
PÚBLICA CONDICIONADA. Excepcionalmente teremos AÇÃO PÚBLICA INCONDICIONADA para o
estelionato, quando encontramos como vítima os seguintes sujeitos:
i) Administração Pública, direta ou indireta;
ii) Criança ou adolescente;
iii) pessoa com deficiência mental;
iv) maior de 70 anos ou incapaz.
II- Institutos condicionantes:
a) Representação:
a.1) Conceito: é o pedido e ao mesmo tempo a autorização que condiciona o início da persecução penal.
Conclusão: sem ela não haverá ação, IP ou lavratura de flagrante.
a.2) Natureza jurídica: ela é enquadrada como condição de procedibilidade, leia-se, condição para a
adoção de providências penais.
a.3) Legitimidade:
a.3.1) Destinatários:
i) Delegado;
ii) MP;
iii) Juiz.
a.3.2) Legitimidade ativa- a representação é exercida pela vítima ou por seu representante legal, nas
hipóteses de incapacidade (art. 24, caput, CPP).
Obs.1. A emancipação não tem reflexos na esfera penal. Logo, o menor emancipado representa por meio
de um curador especial.
Obs.2. Diante da morte ou da declaração judicial de ausência da vítima, o direito de representar passa aos
seguintes sucessores:
Cônjuge;
Ascendentes;
Descendentes;
Irmãos

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Obs.1. O rol tratado no § 1° do art. 24 do CPP é preferencial e taxativo.
Obs.2. Para o STJ, ao lado do cônjuge podemos incluir o companheiro (a).
a.4) Prazo- 6 meses contados do CONHECIMENTO DA AUTORIA DA INFRAÇÃO (art. 38, CPP).
Obs.1. O prazo é contado de acordo com o art. 10 do CP, de forma que o 1° dia entra na contagem.
Obs.2. O prazo tem natureza DECADENCIAL, o que significa dizer que o prazo é FATAL, não admitindo
suspensão, interrupção ou prorrogação.
a.5) Forma- a representação tem forma livre, podendo ser apresentada oralmente ou por escrito a
qualquer dos destinatários.
a.6) Retratação:
a.6.1) Regra geral- a vítima poderá se retratar até ANTES DO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA (art. 25, CPP).
Obs. Se a vítima se retratou, ela poderá se arrepender e reapresentar a representação, desde que dentro
do prazo, que está contando do conhecimento da autoria da infração.
Conclusão: “Cabe retratação da retratação da representação” (V)
a.6.2- Regra especial- Violência doméstica
Conclusão1. Existem crimes de ação pública condicionada no contexto da violência doméstica, como
ocorre com a ameaça (art. 147, CP).
Conclusão2. Se a vítima representou, ela poderá retirar a representação, em audiência específica, na
presença do juiz, ouvindo-se o MP (art. 16, Lei Maria da Penha). Além disso, a retratação é cabível até
antes do RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
Conclusão3. A lesão corporal, mesmo que leve, quando praticada no contexto da violência doméstica, é
crime de AÇÃO PÚBLICA INCINDICIONADA, pois não aplicamos o art. 88 da Lei dos Juizados, por força do
art. 41 da Lei Maria da Penha (Súmula 542 STJ).
b) Requisição do Ministro da Justiça:
b.1) Conceito: é uma autorização essencialmente política que condiciona o início da persecução penal.
Conclusão1. Sem ela inexiste ação, IP ou lavratura de flagrante.
Conclusão2. Em razão da independência funcional do MP, a requisição não importa em vinculação.
b.2) Natureza jurídica: ela é enquadrada como condição de procedibilidade, ou seja, uma condição para a
adoção de providências penais.
b.3) Legitimidade:
b.3.1) DestinatáriO: o ato é endereçado ao PG do MP.
b.3.2) Legitimidade ativa- ela é do Ministro da Justiça.
b.4) Prazo- não há prazo decadencial para o exercício da requisição.

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Conclusão: Logo, o Ministro poderá requisitar a qualquer tempo, desde que não esteja extinta a
punibilidade pela prescrição ou por qualquer outra causa.
b.5) Retratação:
b.5.1) 1°posição: parte da doutrina entende que o ato comporta retratação, em analogia ao que ocorre
com a representação da vítima, aplicando-se o art. 25 do CPP.
b.5.2) 2° posição: a doutrina tradicional entende que o ato é irretratável, não só por ausência de previsão
legal (argumento jurídico), como também para não comprometer a imagem do país (argumento político).
ADVERTÊNCIA.1. É necessário salientar que o Código é omisso no tratamento do tema.
ADVERTÊNCIA.2. O STF e o STJ nunca julgaram a matéria.
4- Ação penal privada:
4.1- Conceito: é aquela titularizada pela vítima ou por seu representante legal na condição de
SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL, já que ela atua em nome próprio pleiteando a punição, que será exercida
pelo estado.
Obs. Enquadramento terminológico:
a) Vítima: ela é chamada de querelante.
b) Réu: ele é rotulado de querelado;
c) Petição inicial: ela é chamada de queixa-crime, sendo que os seus requisitos estão no art. 41 do CPP.
4.2- Princípios:
4.2.1- Princípio da OPORTUNIDADE
I- Conceito: a vítima só exercerá a ação privada se lhe for conveniente.
II- Institutos correlatos:
a) Decadência:
a.1) Conceito: é a perda da faculdade de ingressar com a ação privada em razão do decurso do tempo,
qual seja, em regra 6 meses contados do conhecimento da autoria da infração (art. 38, CPP).
a.2) Consequência- a decadência provoca a EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE (art. 107, IV, CP).
b) Renúncia:
b.1) Conceito: ela ocorre quando a vítima declara expressamente que não pretende ingressar com a ação
privada, ou quando ela pratica ato incompatível com essa vontade (arts. 50 e 57, CPP).
Conclusão: a renúncia pode ser expressa ou tácita, admitindo todos os meios de prova.
b.2) Consequência- a renúncia provoca a extinção da punibilidade (art. 107, V, CP).
b.3) Irretratabilidade: inexistindo vício, a renúncia é irretratável.

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4.2.2- Princípio da disponibilidade
I- Conceito: a vítima poderá desistir da demanda ajuizada.
II- Institutos correlatos:
a) Perdão
a.1) Conceito: ele ocorre quando a vítima declara expressamente que não pretende continuar com a ação
ajuizada, ou quando ela pratica ato incompatível com essa vontade (art. 58, CPP).
Conclusão: o perdão pode ser OFERECIDO de forma expressa ou tácita.
a.2) Bilateralidade: para que o perdão surta o efeito pretendido, qual seja, a extinção da punibilidade, é
necessário que ele seja aceito, o que pode ocorrer de forma expressa ou tácita (art. 59, CPP).
ADVERTÊNCIA: o réu que recusa o perdão deseja que o processo prossiga, tendo a esperança de ao final
ser absolvido.
a.3) Procedimento- se a vítima declara nos autos o perdão, o réu será intimado e dispõe de 3 dias para
dizer se o aceita (art. 58, CPP). A omissão faz presumir a aceitação (aceitação tácita).
a.4) Procurador: tanto a oferta quanto a aceitação do perdão podem ocorrer por meio de PROCURADOR,
exigindo-se PODERES ESPECIAIS (art. 55, CPP).
a.5) Momento: o perdão pressupõe que a ação tenha sido exercida, sendo admitido, inclusive, na fase
recursal.
b) Perempção (descaso)
b.1) Conceito: é a sanção judicialmente imposta pelo descaso da vítima na condução da ação penal
privada.
b.2) Hipóteses: elas estão previstas no art. 60 do CPP, ocasionando a extinção da punibilidade (art. 107,
IV, CP).
4.2.3- Princípio da indivisibilidade:
I- Conceito: se a vítima optar por ingressar com a ação privada, deverá fazer contra TODOS os infratores
conhecidos.
II- Fiscalização- cabe ao MP fiscalizar o respeito ao princípio da indivisibilidade da ação privada.
III- Consequências:
a) SE A VÍTIMA dolosamente processa apenas parte dos infratores, ela estará RENUNCIANDO ao direito
em face dos não processados, extinguindo a punibilidade me face de todos.
b) Se a vítima involuntariamente não processou todos, caberá a ela promover os esforços para processar
os sujeitos faltantes, respeitando a indivisibilidade.
c) Se durante o processo a vítima resolve perdoar, o perdão oferecido a um ou alguns é aplicado a TODOS
que desejem aceitar (art. 51, CPP).

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4.2.4- Princípio da intranscedência/princípio da pessoalidade
I- Conceito: os efeitos da ação privada não podem ultrapassar a figura do réu.
4.3- Modalidades de ação privada (classificação):
a) Ação privada exclusiva/ação privada propriamente dita
a.1) Conceito: é aquela titularizada pela vítima ou por seu representante legal, nas hipóteses de
incapacidade.
a.2) Sucessão: diante da morte ou da declaração judicial de ausência, o direito é transferido aos seguintes
sucessores:
Cônjuge/companheiro(a)
Ascendentes
Descendentes
Irmãos (art. 31, CPP).
a.3) Prazo- usualmente 6 meses contados do CONHECIMENTO DA AUTORIA DA INFRAÇÃO.

b) Ação privada PERSONALÍSSIMA


b.1) Conceito: é aquela que possui um único titular, quem seja, a vítima.
Conclusão: não há intervenção de representante legal ou sucessão por morte ou ausência.
b.2) Aplicação- o único crime de ação personalíssima é O INDUZIMENTO A ERRO OU OCULTAÇÃO DE
IMPEDIMENTO AO CASAMENTO (art. 236, CP).
b.3) Prazo- 6 meses contados do trânsito em julgado da sentença cível que invalidar o casamento.
c) Ação privada subsidiária da pública:
c.1) Conceito: ela é positivada no art. 5°, LIX, CF, como cláusula pétrea, autorizando que a vítima ingresse
com a ação em um delito da esfera pública, pois o MP não atuou nos prazos conferidos por lei.
Conclusão: caso o MP ofereça a denúncia, requeira diligência ou promova o arquivamento nos prazos
legais, não caberá ação privada subsidiária.
c.2) Enquadramento normativo:
- art. 5°, LIX, CF;
- art. 29, CPP;
- art. 100, § 3°, CP
c.3) Prazo- 6 meses contados do esgotamento do prazo que o MP dispunha para agir, qual seja, em regra
5 dias se o sujeito está preso ou 15 dias se está em liberdade.

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c.4) Poderes do MP: o promotor deve intervir em todos os termos do processo, sob pena de nulidade (art.
564, III, “d”, CPP). Em acréscimo, o MP tem amplos poderes, vejamos:
- propor provas;
- apresentar recursos;
- aditar a inicial da vítima, até mesmo para incluir mais réus;
- a todo tempo, se a vítima fraquejar, ela será afastada, cabendo ao MP retomar a demanda como parte
principal.
ADVERTÊNCIA.1. Não cabe perdão ou perempção na ação privada subsidiária.
ADVERTÊNCIA.2. O MP dispõe de 3 dias para promover eventual aditamento. Vale lembrar que a inclusão
de mais réu é específica na ação privada subsidiária.

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