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SEXUALIDADE
Sexualidade na Antiguidade
Egito
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Grécia
Na 1\nriga Grécia , .
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, • tts nounas para o con11)ortamento sexual base-
. enero na idade e n 0 t t . l (' l , , . .d J
sexual d h ' . . s a 11s soem . ..,otn re açao a anv1 aoe
o ornern existia u , l 1· . , .
' , ma e ara c1st1nçao entre ativos e passivos, pe-
neLrado r e penetrado, c1ue estaria associada aos papéis sociais do1ninantc :-.
e submissos (Tannahill, 1983; G-regersen, 1983). Na lógica de poder, qual-
quer atividade sexual na qual um homem penetrasse alguém socialmentl"
inferior era considerado normal, apesar de ser \·isto t~mbém co mo um
rnoti\·o de vergonha.
Os homens joven s, estrangeiros, p rostitutas e escraYos eram consi-
derados socialmente inferiores as mulheres (Tannahill, 1983). ,\ hom osse-
xualidade rnasculina era U1n a prática inaceitáYel e socialmente condenada
(San felice, 2010). ;\ pederastia, na ,\ ntiga Grécia, contudo, não tinha um
caráter homossexual e era entendida como urna relação entre um hon1,em
mais \'elh o, chamado de erastes, c um jovem adolescente, den01ninado
erornen os (Percy, 1996). O vínculo e 111 rc ambos tinha como objetivo o
mais velho educar, proteger, amar e <lar cxcmplo para seu pupilo. Por ou-
tro lado, d o joven1 esperava-se a retribuição ao amante com beleza, juven-
tude e compro tnisso (Ta nnahill, 1983; Sanfdice, 201O; Gordon, 2002).
/\ pederastia era uma instituição social e educacional, po r isso exis-
tiam ,,árias protocolos para pro teger os jovens da desonra de ser penetra-
do. Logo, era esperad o que o jovem respeitasse e honrasse o erastes, mas
não que o d esejasse sexualmente (G regersen, 1983; Sanfelice, 201O; Percy,
1996).
Roma
Sanfrlice (20 l O) descrtTe que, con10 en1 toda parte do mundo anti-
go. :is mulheres e os filhos eram bens dos homens. 1fas as mulheres, em
Roma, tinh:m1 um papel mais ativo, que lhes possibilitava ter uma vida
menos confinada do que suas conte1nporâneas. Elas administravam os
escnffos, faziam as refeições con1 o 1narido, podiam ir ao teatro e aos tri•
bunais. Os homens de Roma participavam de várias guerras e, geralmente,
esnn-am fora. Com isso, suas esposas tinham mna autonomia inimagináYel
se comparada às das 1nulheres gregas (Gordon, 2002). A matrona roma-
na c01nandava o lar e a família, estando presente na vida pública. Dessa
forma, tinha respeito e consideração, apesar de não ter poderes políticos
na sociedade (Gordon, 2002). O adultério, em Rmna, era punido comª
pena de n1orte, sendo a 1nulher adúltera jogada na arena para diversão do
público e dada às feras para ser devorada viva.
Pesquisas destacan1 ainda que, en1 Roma, a virgindade era valorizada
(G ordon, 2002; Sanfelice, 2010; Gregersen, 1983). Consideravam-se corn
Hi st ória crít 1c;3 da ~:,e xua t1 dad r~ • ; tl
praze res da ,-ida, mas nem todos conseguiam ter esse dom. As~im, quem
não pudesse se manter em celibato, que se casasse. Esse conceito denota
uma formulação da moral sobre a virgindade, o que remete ao moralismo
e à repressào, que eram provenientes da rígida sociedade da época. Ainda
sobre a sexualidade, o sexo era permitido apenas no casamento, e a única
possibilidade de encontrar um novo parceiro estava atrelada à morte de
um dos cônjuges (I Cor 7, 1-11 ; 25-28; Taylor, 1997).
Esse estudo de Taylor (1997) ressalta que a submissão da mulher já
era algo que existia resistente e fortalecido, baseado em um condiciona-
mcnro culrural e religioso. O modelo da instituição matrimonial ,·iyen-
ci:ido nessa época, em muitos aspectos, ainda alimenta mitos e crenças
nos cas:imentos contemporâneos. Segundo Taylor (1997), baseado ness:1s
crenças, o cas:imento era uma espécie de proteção para a 1nulher.
,\ Idade L\fédia foi marcada por u1n total domínio da Igreja sobre :1
sociedade (Grcgersen, 201 O; Gordon, 2002, Stearns, 201 O; Ta d or. ·1997).
C)s conet~itos sobre a desvalorizaçào do sexo são an1plan1ente ~bsen·ados,
scnclo esrc apenas permitido no casatnento corn o único objetiYo: o de
prucriac;:'iu. Todas as práticas sexuais que nào leYassetn à procriaçào, como
0 sexo oral, anal o u homossexual, cran1 condenadas. () ideal de pureza es-
fa\';t nrrcladn 'l<> cr•li· 1..,,1tc> .
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. • ; . , . 1·d, de A relação da saúde mental com os compor.
que diz rcspetrn ,l sexua 1 '1 . r '
so~-0 dos homens e 26% das mulheres experimentaram pelo menos uma
relação extraconjugal; 62% do total da amostra admitiram se masturbar; e
13º~ já ha\·iam tido experiéncia homossexual. Esses dados causaram um
,·erdadeiro impacto na sociedade e influenciaram ainda mais a mudança
dos papéis femininos e masculinos.
A descoberta do ponto G, também conhecido como ponto de Gra-
fenberg, em referéncia ao ginecologista alemão Ernst Grafenberg, abriu
espaço para um novo olhar sobre a importância do autoconhecimento
corporal feminino, como também sobre a possibilidade da masturbação. _-\
ideia do ponto G era caracterizar uma zona erógena da vagina que, quando
estimulada, poderia conduzir a elevados níveis de excitação sexual, com
intensos orgasmos e uma potencial ejaculação feminina (\' argas, 2001).
Ele se localizaria, segundo Gregersen (1983), aproximadamente de 5, l a
7 ,6 cm (2 a 3 polegadas) acima da parte frontal (anterior) da parede \·agi-
nal, entre a abertura vaginal e o canal da uretra, sendo uma área sensiti\·:1
da g_enüália feminin~. Quando estimulado, inicialmente a mulher poderi:1
senur vontade de unnar, mas, se a estimulação fosse continua, poderia ser
sc:x~al~enre ?razeroso. Como em qualquer outro estímulo humano, po-
derrn nao ser igualmente prazeroso para todas. A singularidade no autoco-
nhcc1mento
, . é de exrPema 11nportanc1a
do corpo · , · na busca do prazer sexuaJ
(Gn.:gcrstn, 1983; Vargas, 2001 ).
O s estudos sobre o pont0 ( 1· • , .
. . . · · • marcam o tnJC10 de uma ideologia que
visa a nc:cess1<lade de um controle sobre a sexuali j a(le 1e1ruruna,
, • L • • C (
e . . .. S~ab e•S·e'
que nao existe um borà(J ciue li . J • 1. .
. . ga t ues 1ga o prazer sexual, e que este surge
do conhecimento e de uma m ~Ih . ,
e or aceaaçao <la própria sexualidade.
H1 stór1,-i cr 1l 1c 0 dc1 r,e x11 ,:i lHJ.1d 1· • ·; 1
du;il t·rn dct rirncnt< > dos modelos ditados por instituições sociais. Dessa
fortna, ns papL·is do homc.:m c.: da mulher adquirem uma característica mais
flexível e dinámica.
;\ terapia sexual ganha maior importância quando ~fasters e Johnson
(!()(li, 1970), ao estudarc.:m os mecanismos fisiológicos associados à res-
p( ,si-a sexual, classificaram as disfunções sexuais e criaratn um protocolo
dv interven(,'.<>cs terapêuticas etnpiricamcnte validadas.
Basl"ados cn1 suas pesquisas, publicaram dois livros que norteiam
ainda hoje o i-rabalho dos terapeutas sexuais: Human sexual response (A res-
posta sexual humana) e [-fumem sexual inadequary (A inadequação sexual
humana). 'l<>tnaram como base as evidências dos estudos de Joseph Wolpe
(Wolpl: & J,azarus, 1990) sobre a técnica de dessensibilização sistemática,
o >nsi<leraram que a não adequação da resposta sexual estava associada à
ansiedade e utilizaram-na para seu tratamento. O indivíduo descrevia uma
s<.:lJUência de situações sexuais e, em uma hierarquia da menor para a maior
ansiedade, experimentava cada situação, até diminuir por inteiro sua ansie-
dade (Wolpe & Lazarus, 1990). Isso deu origem à técnica de foco sensorial
(Masters & Johnson, 1970).
Como até então foi discutido neste capítulo, os diferentes tratamen-
tos da sexualidade masculina representam uma nova configuração de
ideias e intervenções que se transformaram ao longo de várias décadas,
seja por parte da medicina, seja por parte da psicoterapia. O olhar do pri-
meiro tratamento para as disfunções sexuais, como eram anteriormente
denominadas, tinha um modelo mais médico do que psicológico e consa-
grou a Masters e Johnson (1970) um amplo campo de trabalho na terapia
sexual.
A primeira publicação de Masters e Johnson, Humcm sexual response
(19(.C,, Fstados Unidos), resultou de investigações laboratoriais das rea-
ç<->cs fisiológicas e.: anatômicas observadas en1 694 voluntários (31 2 ho-
mens e 382 mulheres) após o acompanhamento de 1Omil relações sexuai~
durantt' longos 11 anos de estudo. J\ segunda, J-Jmnan sexual inadeq11ary, foi
produzida a partir de tratamentos clínicos, sendo publicada em 1970, fruto
Histór·ia crítica da sex uali da de • 33
m~il, Ía:,,cnd<J "urgir a ll<Jc;ã,> d<.: disfuncào sexual, marca<la pela ausência
ou mau funci()namcntr > ele uma da') fase s d() ciclo sexual. Desde então,
a dic, >1<!1nia fun çà()-di . , fun çà(i tem c.lriminad<> a terapêutica ela sexualjda-
de. l ·.s<;a rr,>posta de tratamt ntq, contudo, dei xou brechas importantes,
que culminaram na ascensão da terceira sexologia, urna vez que levava
(.'tll C<Jn sideracà<> apenas CJUestôes cr>mportamentais, em detrimento dos
aspecr, >S cugnirin>s da queixa sexual. Pode-se citar, por exemplo, a técnica
compnnamental pare-inicie, amplamente utilizada para O tratamento da
cjacula6t< > prematura, ou precoce, alvo de críticas por sua pouca eficácia,
abrind<> espaço para a inilicação de inúmeras drogas em seu tratamento.
l-'o cando (J desempenho sexual, uma demanda da segunda sexologia,
as intcrvençôes cirúrgicas e a venda de medicamentos foram um pontapé
inicial para o próximo momento da sexologia. Surge, então, a terceira se-
xologia, que patologiza os problemas sexuais como ilisfunções fisiológicas
a serem tratadas farrnacologicamente. O lançamento do sildenafil (Via-
gra®) , no ano 1998, foi um marcador cronológico dessa fase.
E mbora esse novo modelo tenha aproximado a ciência do sexo de
urna medicina de resultados, apresentou também outro olhar, que colocou
em sobreposição a patologização dos problemas sexuais, a desvalorização
da investigação etiológica, a minimização dos aspectos afetivos, culturais e
sociais, a simplificação e a banalização da sexualidade, a redução da sexua-
lidade ao funcionamento genital e o aumento da necessidade de medica-
mentos para uma melhoria da peiformance de forma indiscrirrúnada.
Nessa nova fase em que ,-ivemos agora, o terapeuta cognitivo-sexual
precisa ficar atento para um crescente movimento da medicalizaçào da
sexualidade humana, o qual tende a olhar de forma mais simples todo o
processo do funcionamento sexual. Conforme ressaltado até então, mui-
tas influências ao longo da história da sexualidade reforçaram crenças e
mitus nos indidduos quanto ao desempenho sexual. O surgimento de
uma medicação que resolve o problema passa a ser objeto de desejo, n1es-
mo trazendo desvantagens secundárias. Na clínica sexual, a excessiva pa-
tologizaçào dos problemas sexuais tem sido observada junta1nente à de~-
\'alorizaçào das investigaçôes etiológicas e, mais do que nunca, à tendência
de submeter um paciente com uma queixa psicogênica a uma terapia oral
prírntira opção de tratamento.
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