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CAPÍTULO 1· HISTÓRIA CRÍTICA DA

SEXUALIDADE

i\ sexualidade pode ser considerada um dos principais remas dt:


interesse da humanidade. Desde as civilizações antigas até os <lias atuais,
t· posshrel identificar teorias sobre o comportamento e o funci<>nament o
sexual humano, passando por textos religiosos, médicos, filosófico s, aca-
dêmicos, científicos e literários, de modo que os estudos sobre o tern a
acabam sendo intensamente afetados pelos press upostos ideológicos
\'ige ntes etn cada época (Rodrigues, 2014). Este capítulo discorre sobre
a história da sexualidade para compreender melhor a sexualidade na
atualidade.
As atitudes sexuais são profundamente afetadas por aspectos sociais.
Cotnportamentos sexuais mudam de acordo com o contexto e a época
em que estão inseridos e sofrem pressão direta dos fatores normati\-os da
sociedade. Muitos dos mitos e das crenças que regem comportamentos
atuais têm suas origens nas mais remotas sociedades humanas. Não se
pode desvincular completamente a sexualidade dos aspectos biológicos,
mas é certo que a atividade sexual humana tem menos vinculações com a
reprodução do que as outras espécies.
Assim, com o objetivo de compreender as queL'Cas que hoje se apre-
sentam na clínica das disfunções sexuais, é importante conhecer a evolu-
ção da história da sexualidade. Para tal, faz-se necessário estudar a modi-
ficação das crenças adquiridas pela formação familiar, educacional, social
e religiosa de acordo com o tempo, uma vez que esses fatores norteia1n o
comportamento humano, principalmente no que diz respeito à conduta
sexual.
Apesar de o sexo ter relevância ímpar na trajetória humana, apenas
no século passado passou a ser estudado de fonna mais objetiva. () de5-
conhecimento da anatomia e da fisiologia do funcionamento sexual foi a
témica de muitas culturas pelo mundo que levaram a várias teorias equi-
vocadas sobre concepção e procriação. Todavia, 1nesn10 con1 o de5en-
volvimento da ciência do sexo, 1nuitas ideias distorcidas ainda acon1etem
várias sociedades. Estas influcncian1 a construção <le crenças e / o u su-
pl'.tstiçôes c.iuc impactan1 diretan1ente o trabalho do terapeuta cogniti,-o -
sc:xual.
- -- -- -- ~ - -- -------- Linha do tempo da sexualidade
1
Desejo é pecado 11
Sexo e psicopatologia
1 1 1 i
1 1 1 1
1
1886 1905 1926 1927 Psicanálise :
"Psychopath ia "I deal "A funç ão do hister ia, repressã o,
sexualis" ma rri age orgasm o sexua lidade fe m inina
Kra fft- Ebing Velde Wilhel m Reich
Pecado Inquisição
original
Freud e a pu lsão
Comportamento e função sexual Mudanças sociais pós-Segunda Guerra 1
1 1 1 1 1 1 1 1
Anos 1940 1950 1966 1976 Anos 1960 1971 1973 Divórc io
"Kinsey Reports " " Ponto G" " Human sex ua l "O Relatório Pílula APA re tira
Aids
A l fred Kinsey Grafenberg res ponse Hite" ant ico ncepcional homossexua- 1
Maste r s e Johnson Shere Hite l ida de do OSM 1
1
Terapia seuxal Disfunção sexual masculina Disfunção sexual fem inina
1 1 1 1 1 1 1 1 1
1977 1978 1980 1982 1998 Anos 1990/2000 2006 a 2013 2013 2015
Desejo Fatores DSM-111 Papave r ina Viagra® Viagra® Fl ibanserina Lobby Fl1banseri na
sex ua l cognitivos Ba ixo fem in ino ? Rejeição FOA ··Even the ap rovada
H . Kaplan Josep h deseJO Testosterona Abando no s core com res trições
LoPiccolo sex ual
Figura 1 .1 Fi gura represen ta ndo os acontecimentos ao longo da história da sexual id ade .
História e ,1
r i 1ca da sex ui:il td,-Hl r: • 11

Pode-se imaginar <.jlll'. 17


'ºP'1ssa] ·
:i
. 1
resposta scxua t'
' · · ' <. o
a fecundação . ., ' .n1Lut( > e.J, ) desconhec11rn.'
. . . nto sobn:
.. .. . . , . . Ct rl oriundo U'l , . . ._ .· .
corno o 1111uuscop10. 1·•,ntreta . ' <1uscnc1a dl'. tecnolug1as,
· nto, as ideologias · ,·
eram o tator prt'ponderantc 11 0 _ . ' c.iue vigoravam na l'. poca
· yue diz respeit0 , .
(erto ou errado, tal como acont . ao c.iue era <.:<>ns1c.k:rado
i- . .•• • ., _ _ , . · _ece ainda hoje.
,\s questoes polittcas soci •. . .
. ,• ' · ais e religiosas dev. . . JºJ .
de turma critica para que O t)rofi . . · em ser e<>mpreen< 1 as
. . ssional neutralií'.c •. . · 1
sa atuar de 1nane1ra 11nparcial e des . . _ - seus)~ gamentos e pos-
prov1da de preconceitos.

Sexualidade na Antiguidade

Egito

O pouco que sabemos· sobre a atltu


· d e d os eg1p1c1os
, . . em relação ao
sexo, em geral,
. acaba por_ ter um teor de natureza funerana, · ou re ligiosa,
·
posto que as 1nformacoes
, sobre os habitantes do A n a·go E...,g1to
· sao
- quase
sempre fragmentadas, raras e oriundas, principalmente, de túmulos e tem-
plos (Meskell, 2004), com uma relativa iconografia quando se refere ao
ato sexual entre divindades, mas pouquissímas na esfera humana. Como
exemplo disso, destacamos a potência sexual da múmia, que era sempre
mantida e esti111ulada, embora apenas as do gênero masculino, e nunca do
feminino (Meskell, 2004).
O mesmo autor destaca que, em alguns casos, o pênis da múmia era
guardado separadamente. Não se sabe qual o objetivo das referências eró-
ticas no contexto funerário, mas especula-se que a potência tinha a função
de assegurar o renascimento na outra vida ou proporcionar ao 1norto uma
existência prazerosa.
Tannahill (1983) complementa ainda que o erotismo, para os egíp-
cios, tinha um caráter diferente de para os greco-romanos. A autora acres-
centa que a ideia do sagrado e a ligação com a origem da vida n1arcaYarr1
o comportamento sexual na época. No entanto, a vi_da sexual dos egípcios
era p ermeada p ela vaidade e, assim como etn 1nu1tas culturas, o cabelo
. } · ·fi d ero' tico sendo fa111osa a frase: ' \ -este a tua peruca e
tl n 1a um s1gn1 ca o , · .
\'amos para a carna.
" (M ,kel]
es .,
20()4) Nota-se entao, oue
· · ' 1 o
, .
fetiche sexual
' ·nt() sexual de nossa espcc1e.
se1npre fez parte do comportan1e , , · , . ., , ,
. _ oenYis de amor e ero t1s1no, 1nostr,1ndo
O ro111ant1s1110 aparece etn 1J '· -, .- _.
. , . l " , ·agrado. l~leinentos da natureza, pnne1-
o sexo associado a d elicac eza e ao s
')') • Í(! r r1 p Ia cog n11·Iv;:i sexud l

p,dnwnfl' :i :ígua , 10111:i,·am di111cn s1'>cs c ró tio s, di frn:nte mcntc da nude'.I.,


tjlll' na cn nnin1 til> di:1 :1 di:1 dos <:gípcios (1\lk s kcll , 2004).
l·:m u,n:i L'P•K;I nn que a mortalidade cm t;-1.r, ck:vadít, íl forrilid ade; <:r~t
al~i I niuito m:iis ,·:tlnrizadn de>que o erotismo, e.: a propaganda da scxuali
d,.ith- d :t mulher egípcia , como í=t de Cleúpatra, po ssiv<.: lmcnt e s<.: n.:laciqna
v:t com rodo esse co1Hcxto. 1\rkskeU (2004) ckscreve ajnda L]UC 0 ato ~<:xual
n:1o I inh:1 :is conotaçoes de pecado no sentido ju<laico-cristãu, cc,m 0 co.
nht'ccmos, sendo o ato com penetração netn positivo nem negativo.
,\ s mulheres no Antigo Egito tinham total liberdade e casavam ~<.:
cu m c.1uem escolhiam, diferente1nente das outras sociedades patriarcais
L uc marrnram a história. Elas tinhain participação ativa na sociedade <.:
1
ocupaYam cargos de poder, como é o caso da primeira faraó mulber, Hat-
shcpsut (Gregersen, 1983) .

.....
· · , .--\.~"'
'
' ' \,,

\.

•. ....

Figura 1.2 Hatshepsut .

Grécia

Na 1\nriga Grécia , .
.
a\, arn-se no g
, • tts nounas para o con11)ortamento sexual base-
. enero na idade e n 0 t t . l (' l , , . .d J
sexual d h ' . . s a 11s soem . ..,otn re açao a anv1 aoe
o ornern existia u , l 1· . , .
' , ma e ara c1st1nçao entre ativos e passivos, pe-
neLrado r e penetrado, c1ue estaria associada aos papéis sociais do1ninantc :-.
e submissos (Tannahill, 1983; G-regersen, 1983). Na lógica de poder, qual-
quer atividade sexual na qual um homem penetrasse alguém socialmentl"
inferior era considerado normal, apesar de ser \·isto t~mbém co mo um
rnoti\·o de vergonha.
Os homens joven s, estrangeiros, p rostitutas e escraYos eram consi-
derados socialmente inferiores as mulheres (Tannahill, 1983). ,\ hom osse-
xualidade rnasculina era U1n a prática inaceitáYel e socialmente condenada
(San felice, 2010). ;\ pederastia, na ,\ ntiga Grécia, contudo, não tinha um
caráter homossexual e era entendida como urna relação entre um hon1,em
mais \'elh o, chamado de erastes, c um jovem adolescente, den01ninado
erornen os (Percy, 1996). O vínculo e 111 rc ambos tinha como objetivo o
mais velho educar, proteger, amar e <lar cxcmplo para seu pupilo. Por ou-
tro lado, d o joven1 esperava-se a retribuição ao amante com beleza, juven-
tude e compro tnisso (Ta nnahill, 1983; Sanfdice, 201O; Gordon, 2002).
/\ pederastia era uma instituição social e educacional, po r isso exis-
tiam ,,árias protocolos para pro teger os jovens da desonra de ser penetra-
do. Logo, era esperad o que o jovem respeitasse e honrasse o erastes, mas
não que o d esejasse sexualmente (G regersen, 1983; Sanfelice, 201O; Percy,
1996).

. ntan do as relac ões homosse-


Figura 1.3 Figura represe ,
xuai s masculinas .
~ t-~; ll t1\l 11 l ;1-cgcrsc11 \ l 1)~ _, ), .t 1 hnnw m grego tinha muito mais privi]. _
git ,:,: dP ~-1' ,e· .t 111 ullicr. h,t.1 ru n unh~t '.ll.'nhuma rcpresen_raçào irnportant:
!\,\\ ) f'P \·11.1 Ili\ ,,·crrn l(.TSSnS, (1 ll11J11 :ll ou vender propriedades e nào '
. . , ,. . , j, ., c it tl, w 11s 1llici:1is. Di rL·itns políticos ou 1 ·urídicos lhe era
1l 1"" 11 .1, . 1 111 1· • • . . , era111
, . , ·11,s 1~ 111 (d i,,:c. ,2()1( )) . () cas:1me n l"o, nessa epoca, tinha como u · .
1, l ~. 1, • ,, , . ., . rucos
o bjt't in i:-: ~n:ir tillws d,l mascul1110 e a untao de interesses financei-
S('X< l
r ()S. \ 'nti.)s de :imnr, tiddid:1dc 0 ~1 devoção ~ào existiam, mas sim de pros-

pnid:idc l' fr rtilid:1dt-. Ncss,1snoedade patriarcal, o adultério era creditado


:t!'cnas ,is mulhct\:S. ljlll' c r:1111 expulsas de casa por traírem seus maridos
\t ;,vgC'rscn. 11>t-U).
'l:rnnnhill ( 11>tU) infere t]ll t', para_,~ mulher, o casamento era monogâ-
mirP. L'lltt\'t:lllt P :H) htHncm era pernutido tnanter relações extraconjugais.
:\ mulher l)t:t1p.1,·,1. predominantemente, dois tipos de posições sociais:
c~po~a Pll hctcr:1. Cumo esposa. exercia o papel de procriaçào e cuidava
lb casa: j:Í a hctcr:1. cnrtl'~:t de alto nível, acompanhava os homens aos
b:rnqucte~ e 11,11..) er:1 c~cullüda por seus dotes físicos, mas por suas habi-
lidaLks inrnpcsso:üs. fruto exatamente daquilo que os homens gregos
impediam que st1:1~ mulheres ,·ivenciassem. Com isso, frequentemente
iL'YaYam yant 1gem. pois tinham rnna vida melhor que a das esposas (Tan-
nahilL l l)8]).

Roma

Sanfrlice (20 l O) descrtTe que, con10 en1 toda parte do mundo anti-
go. :is mulheres e os filhos eram bens dos homens. 1fas as mulheres, em
Roma, tinh:m1 um papel mais ativo, que lhes possibilitava ter uma vida
menos confinada do que suas conte1nporâneas. Elas administravam os
escnffos, faziam as refeições con1 o 1narido, podiam ir ao teatro e aos tri•
bunais. Os homens de Roma participavam de várias guerras e, geralmente,
esnn-am fora. Com isso, suas esposas tinham mna autonomia inimagináYel
se comparada às das 1nulheres gregas (Gordon, 2002). A matrona roma-
na c01nandava o lar e a família, estando presente na vida pública. Dessa
forma, tinha respeito e consideração, apesar de não ter poderes políticos
na sociedade (Gordon, 2002). O adultério, em Rmna, era punido comª
pena de n1orte, sendo a 1nulher adúltera jogada na arena para diversão do
público e dada às feras para ser devorada viva.
Pesquisas destacan1 ainda que, en1 Roma, a virgindade era valorizada
(G ordon, 2002; Sanfelice, 2010; Gregersen, 1983). Consideravam-se corn
Hi st ória crít 1c;3 da ~:,e xua t1 dad r~ • ; tl

c1ualidades 1nágicas LJuem a tini , ()


_ _ · . •· . 1,l. s LJUC cassassem com um,1 rnulh <.: r LJ U<.'.
s
nao to~ c m :us 'trg~m te nain 111á sonc, principalmente se casal furma<lCJ O
foss L'. de classe social 111ais alta · I),.'--• '\C<)rc
, ·I<> cc)n1 os mesmos csruLl<>~, na-
nucla C-poca SL' pL·ns,l\·a <.Jue '' l 11 trL
.• - \ ·\ ·. · 1 J
7 a La vugtnt at e antts do casamento, n t1.
:1risrncracia, era urn , que r1oderi-i, levar
. .fator , ,',t incncIe t·J J · l e·
1 a e con Juga . ,<,n ·
:cqul'nrcmcnte, dumnuta as possibilidades de um casam<.:nt(J para a noi va,
::-,q._!;undo
<_
os mcs111os
• •
autores
• '
o cas,· an1e11to
'
rotnan<>
,
.
vigorava etn u tn',i r'·
___-
bçao sooal e econoinica. Ao ho1ne1n, era pennitido manter rdaç<>es ex-
rraco r:jugais, contanto que a outra parceira não fosse fixa. Já a mulher nà<J
podena ter essa inesma conduta, devendo ser fiel ao marido (Gregersen,
2010; (;ordon, 2002; Tannahill, 1983; Sanfelice, 2010).
Stearns (201 O) relata que os gladiadores tinham um status social infe-
rior ao dos escravos e, apesar da vida curta, despertavatn o desejo erótico
das jovens e das aristocratas ricas romanas. Ao que tudo indica, as mulhe-
res romanas tinham seu erotismo despertado pelas cicatrizes, brutalidade
e \·ida sangrenta desses homens.
O poeta romano Ovídio (43 a.C.-17 d.C.), em sua obra A arte de amar,
foi um dos primeiros a tentar dar à mulher, na história da civilização, o
direito a uma aproximação civilizada e respeitosa (Taylor, 1997; Stearns,
201 O). Com isso, ela ganhava o direito de se deixar seduzir e de escolher.
"Que a mulher sinta o prazer de Vênus se abater até o fundo do seu ser,
e que o gozo seja igual para o amante e para ela", eram as palavras de
Ovídio. Porém, a ousadia de seus escritos levou o imperador Augusto (63
a.C.-14 d.C.) a decretar o exílio do poeta. Sua obra foi considerada amoral
na época (Taylor, 1997; Stearns, 2010). Observa-se aqui, mais un1a Yez,
como as questões sociais e políticas ditam regras no que diz respeito ao
comportamento sexual humano.
A prostituição era comum em Roma, sendo uma importante fon-
te: de renda para O tesouro romano, principalmente quando os in1postos
eram arrecadados com a prostituição masculina (Tannahill, 1983). Tanto
<J S romanos quanto os gregos considerava1n-na un1a necessidadt para ,1

manutenção do lar e da segurança das esposas (Gregersen, 1983; Gordon.


- . ,1\ s pros t.1' t u. tra,s rotnanas se }Jarccian1 con1. as de L\ttnas: gostaYan1 .de
2(J(J?)
c<;mer . eram n1·L11' tc)
Je l)e1)<.:r S'" nst1r11· s C se
. , \,. , ' , ·
\'CStlillTI cotn un1a toga
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e: curta' 1)c:n1 l 1·1f'.cren t.e ela tn"t·i·c)0'l


,l , ,
L\lll'. us:wa rnna longa túnica branca.
... _ .
·
( ,om ' · · . . . ~c·- 1-rict tr:l difícil um romanl) contundir
cssa vcsttrnenta 1na1s exc 11 ', · . , .,
.1• " honcsn '' (C rcgersen, l lJ~b; Stcarns,
uma pn >st:nuta corn un1a 1nu e 111 · - ' ,
2()1 O).
-, l -.n1 ··1 ( 11L1i\lt IV,l :;<' Xll , il

_O • 01 n~ • ·

M, dia do Renascentismo e do lluminisrno


Influências da Ida de e '
na sexualidade
. tH, início do cri stia ní smo, a única finalidade
T·1 j)!·( ll)<) / ) ;ipot11;1qul , . . _ .
. .1.1·.1,-,10 sendo cons1Jcrado pccaJ<J 9ual9ulr
i . . . .u r, \) , L. xli ; ' • ' r
·' (
11 ' 1·· 1 '1 1<)C ' "' ' .
1
, .
l. n tnH. tl . . . ·t-. .. s ·xual que diferisse desse pro pos1to. O mesmr)
. it )l' {:ltnL'tllO 11 ;1 L s t t.l ' l'. . . - .
t om1 . t- .,- less·i crença marca a intensa repressao sofnda
. ·itirm:1 que ;l t 1l US,10 C · ·' . .
.1utt )1 • . l . . cjiz res1x:i to ao prazer do corpo. fendo em Ytsta
·I ) )()\'() )li( t'll 110 l]lll 1 · • .
pl l l . . .l . : -,oca do f mpéno Romano, aprendeu-se que <J
;1:- :n n )c1d:1des YIVH ,is na e 1 . , . . "- .
. ., ,, l )t é ciuc O importante er~tm os prazeres unundos
corpt) t'fíl a1µo sem ' ,l l , . " . . .. .
. 1 , 1 · , crenças atreladas a 11nportane1a da vu gindade e a
d:i ;1lma. r\ tnu,l 101e, · . '· . .
· . .,~ )Clipaca-<) com O coito norteiatn o compo rtamento no Oci-
c:-.:.cess1, a p1 -. l ' .• '
denre.
() apóstolo Paulo descreve que a sexualidade coi:npleta só p_oderia ser
realizada no marrim()nio; até então, que1n pudesse viver em celibato, que
ll fizesse (rannahill, 1983). 1\lcançar esse objetivo seria um dos maiores

praze res da ,-ida, mas nem todos conseguiam ter esse dom. As~im, quem
não pudesse se manter em celibato, que se casasse. Esse conceito denota
uma formulação da moral sobre a virgindade, o que remete ao moralismo
e à repressào, que eram provenientes da rígida sociedade da época. Ainda
sobre a sexualidade, o sexo era permitido apenas no casamento, e a única
possibilidade de encontrar um novo parceiro estava atrelada à morte de
um dos cônjuges (I Cor 7, 1-11 ; 25-28; Taylor, 1997).
Esse estudo de Taylor (1997) ressalta que a submissão da mulher já
era algo que existia resistente e fortalecido, baseado em um condiciona-
mcnro culrural e religioso. O modelo da instituição matrimonial ,·iyen-
ci:ido nessa época, em muitos aspectos, ainda alimenta mitos e crenças
nos cas:imentos contemporâneos. Segundo Taylor (1997), baseado ness:1s
crenças, o cas:imento era uma espécie de proteção para a 1nulher.
,\ Idade L\fédia foi marcada por u1n total domínio da Igreja sobre :1
sociedade (Grcgersen, 201 O; Gordon, 2002, Stearns, 201 O; Ta d or. ·1997).
C)s conet~itos sobre a desvalorizaçào do sexo são an1plan1ente ~bsen·ados,
scnclo esrc apenas permitido no casatnento corn o único objetiYo: o de
prucriac;:'iu. Todas as práticas sexuais que nào leYassetn à procriaçào, como
0 sexo oral, anal o u homossexual, cran1 condenadas. () ideal de pureza es-
fa\';t nrrcladn 'l<> cr•li· 1..,,1tc> .
. ' · . . . L,,. , l', ljUcm . ·
\ 'l\Tssc cn1 pccaclo, a I gre1a · ques u·on a~'a''
CílStltrava · CSS'l 1•1·., ., "S anta rnqu1s1çao
- b . ' , · • ..... " "
. . - ,,. 1-·;.ntrc essas regras impostas,
. Po -
demos ntar· '--is· 11<·>si - ·ç•-)es
, , ur .1 • ·
coiro, ;ts quais· · •
perm1aa1n ao h ornem somenr·e
11 1•, l <.,1 1,1 < r1l 1l , 1 d,1 '.·,L'XL1 ,il icl c1lie • '27

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L' \..L'fft ·l dt\"t't"S(lS j)'\j'll'IS 11 ·1 '( .· ' 1· ·I N
_· ' . · · · · · s >ctL l ,lL e. a co11t 1·1çao . de l'sposa, dc\'l't'ta . gerar
itlhns t.' cuidar deles, l'nL\llí1t1tn na de amante dcYnia s,nisfazl'r a luxúria c.k
st us p:, rcs. ( h ll()hres pndia1T1 violc1Har as mulhcrcs de classes mais baixas
de fornu Ítnpune. Ncsst' Sl'ntidn, o abuso sexual aparl'.ce sendo prcdomi-
nantcinent'l' l'\..crcido pelo g2-ncro masculino (fannahill, l 9H3).
Segundo Pnmeroy ( l 990), o início do século XV foi rnarcado por
um grande medo de dem<.'\nios e bruxas. As mulheres era1n acusadas de
enfririçar os homens, e tudo negativo para o <-1ue não tinha explicaçào era
provl'nicnte de bruxaria. Nessa época, foi massiva a <-1uantidade de 1nulhe-
res e doentes mentais que foram perseguidos e condenados à morte e à
tortura (Pon1eroy, l 990).
() Renascitnento surge e, com ele, u1na pequena n1udança en1 relaçào
à sexualidade, alguns 1n01nentos de repressão e outros con1 certa liberali-
c.hde. De acordo con1 Pon1eroy ( 1990), as prostitutas trabalhavam e1n suas
próprias casas, pois eran1 pessoas respeitadas dentro da sociedade. Con1 o
surgiinento da epiden1ia de sífilis, doença que contanunava as pessoas pelo
ato sexual, as prostitutas deixaram de ter o n1es1no valor. A doença sexual
foi percebida co1no un1 castigo de Deus sobre a pronuscuidade, e a leYe
chama de liberalidade foi apagada pelo n1edo de adoecer (Po1neroy, 1990).
Taylor (1997) revela que, na Renascença, e1nbora a Igreja Católica
fosse n1ais pennissiva, o celibato era teoricainente 1nantido entre os padres
e as freiras, e a necessidade de n1anter o casa1nento como utna instituiçào
indissolúvel pennanecia. Era con1rnn aos padres saíretn con1 as concubi-
nas (n1ulheres que ocupavan1 a função de esposas secundárias) e teren1
filhos ilegítimos provenientes desses relacionan1entos (TannahilL l 983). :\
Reforn1a Protestante, de Nfartinho Lutero, rnn1peu con1 a lgreja Católica
por rtconhecer os in1pulsos sexuais, pennitindo o fm1 do casan1entu sen1
prejuízo dos deveres religiosos (Tannahill, 198'.'>; Taylor, 1997).
Com a fundação do protestanüsn10, a sexuali<ladc sofreu transfor-
1naç<>es do stculo XVl ao Xl X. Por causa do dl'.scontcntamento da. bur-
guesia COffl a estrutura vigente, surge uma 111LH.bnça no descnvoh-in1ento
intelectual que culrnina no surgirncnt'o do lluminisn'.o (Cregersen, 19~3).
Inician1-sc, então, as contribuições cientíCicas, inclusl\'e sobre a se:xualida-
28 • Terapi a cogni ti va sex ual

,. . 1 ·11 l t)H '\ · (.. . regersen,


. 19º'})
o .J · ·
;\ inda com essas mudanças, o scvc ... .
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Ol' 1\ [anna .
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J ., c•
lí• rrnc-'1 taçao,
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na acctto apenas ul'llll o <. o ',' . , . . .. . , . ..,
.· : , . ·r·i ,1 mulher fna, LlllC dcsprc zassc o s<: xo. !\
() idctl cb esposa 'ttot 1t1t1.1 L ' '
. .
srxualtd,H.k :Hm1a l (t perce J
.
.1., ". _. 1 ida como algo 1.moral (Steuns, l O).
, , . ?

, ·• ·
-º ·

. ,
.. , , .· ia ,assa a ter um papd mais tmpot ttntc no
No llumin1smo, .1 c11.:nc 1 ..
. • ; . , . 1·d, de A relação da saúde mental com os compor.
que diz rcspetrn ,l sexua 1 '1 . r '

. . ,..; . desvÍ'tntes se destaca no seculo XVII (Blanc, 201 O; l .1se,


ramentos sexu,us · ·' · . • • ,
l <.J<.Jll). No início do século XIX, Krafft Ebbmg, um_dos p~tm~tros medi-
. C<)mpor·tamento desviante, deu mn rotulo cientifico a uma
cos a esnidar o ( . , , .
. al repressi·va I)assou a ser conhecido na epoca como um medi-
mora l sexu . '· .
s do pecado. Quando o sexo era realizado sem 0
co que tratava as doença . _ .
objetivo da procriação, ou seja, na masturbaçao, na ho~ossexualidade e ~a
prostituição, era visto como um con1portamento especificamente doent10,
devendo.os desviantes ser tratados (Blanc, 2010; Lise, 1990).

A ciência como precursora de mudança na sexualidade con-


temporânea

A partir do século XVII, começam a surgir ideias contrárias às re-


pressões sexuais e, rapidamente, com o avanço da ciência, surgem novos
olhares acerca da sexualidade (Blanc, 2010; Lise, 1990). Magnus Hirsch-
feld, no século final do XIX e início do XX, foi pioneiro na defesa de que
o comportamento homossexual não era doença (Blanc, 2010). Acreditava
no modelo biológico determinante da sexualidade, porém acrescentou em
seus estudos que os papéis sexuais tinham relação com os fluidos hor-
monais. Conheceu Sigmund Freud em Viena; pouco tempo depois, Hirs-
chfeld tornou-se um dos me1nbros fundadores da seção em Berlim da
Sociedade Psicanalítica de Viena. Sua teoria corroborou a da sexualidade e
pulsào freudiana (Gordon, 2002; Blanc, 2010; Stearns, 2010).
Com namralidade, os comportan1entos sexuais humanos passaram
ser estu<la<los e (re)construídos com base na ciência, e nào n1ais sob a
força da religião. Havelock Ellis, médico e psicólogo britânico, em 1897,
foi coautor <lo primeiro livro médico cm inglês sobre a homossexualida-
de e também publicou vários trabalhos sobre as práticas e inclinações
sexuais atuais. Entre eles, citou a liberdade da masturbação e da sexualida-
de feminina, além da psicologia dos transgeneros (Go~do n, 2002; Blanc,
2010; Stearns, 2010). Acrescentou à psicopatologia os conceitos introdu-
111 • 1 ' 1.1 1 . 1/
' UI • 11l1 1 ,1 d , 1 ' ,í •/IJ ,d l rl,1/l l · • /

tórios sobre aut()n . . .


naI-c1s1sm<> t· .
. ' . OII S1llll, (!llV rnaI :,, ' 1 /'1 1 1
.,dos ps1canaltstas (Blanr "'> ()!() · St ,,.. . ;ir, t n ra 1n ~H ,,1í1( <, '. .
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( ,,u U,l - Ro z,t (20UlJ) ªJ)unt·, I . .. .
. • 1,11,1 o 1alo de l<Jdr, . . . . t. h' ,
-·co ter scrYtdo corno b· . . . . . . . l '-S<.: cun L x 1<> 11., 1, i
11 • · ,lstp,uausur r 1· ·
: • , J • . , I 1 • . . • • .g ltnllll< J rc ')rtnad1> r d :;1 nova l(..:r ina
de l I u1u, ,l t1u,1 (1en1onstrou ljUc . . . 1 ,
. ,. . . , • • , .- , ,L1)<.:sar < c o s 1mpulsq:-, " <.: XUí:IÍ '.-. ~<.: n:m d~ t
natu1c z.1 hun1,1n.1, eh: vct 1an1 ser cont. l· 1 , , . •
, to ,te o s 11t1 suuc·dadc. C) mc \ ITT(> aur,,r
cotnenta t.]Ut' as pulsocs sào a orio· . 1· · , .
. .. . . , ,....,t:tn l ,L energ ia ps1t1u1ca acum ula<la nu
1nrer1nr do tt1d1v1duo, gerando u . . - .
. . . . , . 111,t tcnsao <..jUt pn.:c1sa sL:r dc.:scarr(:uada.
() ob1et1vo do ~u1e1to sena alca · nç,u , . um 1Ja1.xo · ,
111vd · ""
<lc t<.: nsao int<.: rna.
Ne~se processo de descarga de te 11 . • . . , · .. ,
. . . . soes psK1u1cas, as tr<::s estrutura~ m<.:n
ra.1s 111consc1entes

(1d ,
ego
<-
e st1p

-.
erego . ) eiesc.:mpen ham papd prtmr · ,r<l1·al,
deternunando a fonna como essa descarga se manifestará ((;arcía -R<Jza,
2009).
No que tange à força do coinponente erótico, Freud conceitua a hí~-
teria como a representação da sexualida<le. É, caracterizada pelo amor in -
fantil do filho pel~ màe ou da filha pelo pai, chamados, consecutivamente,
de complexo de Edipo e co1nplexo de Electra. () desejo de reprimir os
complexos faz com que haja e1nbotamento da sexualidade, mas as ideias
reprimidas continuam inalteradas e exercem influência no inconsciente.
De acordo co1n a teoria freudiana, de maneira geral, os histéricos têm
medo de não ser a1nados e, assim, tentam influenciar diretamente as pes-
soas que os cercam. A histeria é caracterizada pela mudança da realidade
para a fantasia e, dessa forma, ocorre a substituição dos objetos sexuais
reais por representantes infantis, produzindo a somatizaçào dos sintomas
físicos e emocionais (Garcia-Roza, 2009).
Valorizando os aspectos fisiológicos da sexualidade humana, foi lan-
çado por Van de Velde, em 1926, o livro chamado Ideal marric~ge, que escla-
recia a fisiologia e a anatomia dos órgãos sexuais masculinos e f emini~os
(Gregersen, 1983). O principal objetivo alcançado por ~sse m~ual foi o
de trazer os conceitos de base científica para a promoçao da vida sexual
do casal (Gregersen, 1983). . .
Em 1927, Wilhelm Reich, un1 psicanalista que ~on1peu_ com 1·reu~,
· ·d
pois cons1 erava as ques oes
·t - . políticas e sociais como tatores tundament~us
- · . ,- . . ..
e , d d. . ·
na 1ormaçao os 1re1tos um, · , ,
, h 'tnos escreveu sobre a tunç,10 do orgasmo,
.
. . blonue-1cb se transtormaYa tm doenças e
alertando que to da a energia 7 ' .
. . (R '; h 199 5). Sua nroposta de tratamento con-
transtornos ernoc1ona1s etc , r .
. . . f "_ ue essa energia, chamada de orgone,
s1st1a basicamente en1 azet. coin l 1 . . ,.
. ' . ' . . P'trtindo dessa pre1mssa, teorias ps1Co-
c1rculasse livremente pelo cot Pº· '
.· l ··sen,·o!Yidas para tratamento das dificul-
, . e corporal toram e. e
1ogicas e1e 6 ",
,.,c.

<ladc~ sexuai,;;. . iaJ em destaque na década de 1950.


.;. . d comportame nto sext , . . .
, \ cienoa o . . , da medicina e da psicologia. ()s co nce1-
, imporranre nas areas . .
J a um sa1to . d, . l atolócnco passam a ser o o 6JenYo de
orramento sau a\ e e P· b. . .
rus e1o comp · . , . d osici\·ism o à ciência sexual. K1nse\· et
. · . d s do pnnc1p10 o P ·
esru dns onun °- . ,. . bre O comportamento sexual
ui (1953) escre\·em dois relat~r~os. um so
masculino e outro sobre o ferruruno. , . - . .
. . f. d desmistificados os estereoupos sexua1s, e Kinse~·
.-\ ssun. oram sen o . . . ,
(! ai (1953) .concluíram com seu estudo de relatos de 18 ~ A m~nduos que
·\·eram pelo menos uma expenene1a homosse-
17º o da amostra masculina t1 , . _
~ual· 14º,.o das mulheres re\·elaram apresentar orgasmos muluplos co m tre-
. ' · - (Jº d1 lheres u·yeram relacàes sexuais antes do casamento;
quencia; .J o as mu º

so~-0 dos homens e 26% das mulheres experimentaram pelo menos uma
relação extraconjugal; 62% do total da amostra admitiram se masturbar; e
13º~ já ha\·iam tido experiéncia homossexual. Esses dados causaram um
,·erdadeiro impacto na sociedade e influenciaram ainda mais a mudança
dos papéis femininos e masculinos.
A descoberta do ponto G, também conhecido como ponto de Gra-
fenberg, em referéncia ao ginecologista alemão Ernst Grafenberg, abriu
espaço para um novo olhar sobre a importância do autoconhecimento
corporal feminino, como também sobre a possibilidade da masturbação. _-\
ideia do ponto G era caracterizar uma zona erógena da vagina que, quando
estimulada, poderia conduzir a elevados níveis de excitação sexual, com
intensos orgasmos e uma potencial ejaculação feminina (\' argas, 2001).
Ele se localizaria, segundo Gregersen (1983), aproximadamente de 5, l a
7 ,6 cm (2 a 3 polegadas) acima da parte frontal (anterior) da parede \·agi-

nal, entre a abertura vaginal e o canal da uretra, sendo uma área sensiti\·:1
da g_enüália feminin~. Quando estimulado, inicialmente a mulher poderi:1
senur vontade de unnar, mas, se a estimulação fosse continua, poderia ser
sc:x~al~enre ?razeroso. Como em qualquer outro estímulo humano, po-
derrn nao ser igualmente prazeroso para todas. A singularidade no autoco-
nhcc1mento
, . é de exrPema 11nportanc1a
do corpo · , · na busca do prazer sexuaJ
(Gn.:gcrstn, 1983; Vargas, 2001 ).
O s estudos sobre o pont0 ( 1· • , .
. . . · · • marcam o tnJC10 de uma ideologia que
visa a nc:cess1<lade de um controle sobre a sexuali j a(le 1e1ruruna,
, • L • • C (
e . . .. S~ab e•S·e'
que nao existe um borà(J ciue li . J • 1. .
. . ga t ues 1ga o prazer sexual, e que este surge
do conhecimento e de uma m ~Ih . ,
e or aceaaçao <la própria sexualidade.
H1 stór1,-i cr 1l 1c 0 dc1 r,e x11 ,:i lHJ.1d 1· • ·; 1

Partindo dessas littraturas sobre sexualidade human,l pui>lic:1di1!', :11 ,


longo do século XX após a Segunda Guerra í\liundial, com í1 idt1 do s ho
mens para a guerra e o deslocamento das mulheres para os gnu1<. k s c c 11
rros em busca de trabalho, deu-se início a uma das etapas da cmancip,1\·:~l<,
sexual feminina (Gregersen, 2010; Nobre, 2006; Reich, 1995) . L"ngc lb
família e com independência financeira, a mulher libertou-se ele rdgu11 !',
preconceitos e desvinculou sua sexualidade da procriação. J Ja passa, cn
tào, a ser fonte de inspiração para o amor e a sedução do homcrn . Assim,
a mulher inicia uma nova fase, lutando por um espaço na sociedade, pd, ,
direito de votar e até modificando suas vestimentas, com saias e cahcl<ls
mais curtos (Gregersen, 2010; Nobre, 2006; Reich, 1995).
Alguns eventos marcaram o ano 1956, como o desenvolvin1cnro d<>
primeiro anticoncepcional, a pílula. Esse progresso é tido como a Revo-
lução Sexual da década de 1960. A luta da mulher por um espaço na so
ciedade estava cada vez mais frequente e aceitável, e a busca do prazer
de viver com autenticidade é uma das mais incisivas mudanças ao longo
desses anos. Apesar de o crescimento feminista continuar ativo, o papel
do homem na sociedade começou a modificar também. E les passaram a
estar mais presentes no contexto familiar, no cuidado com os filhos e <>
lar, potencializando a equalizaçào da função social e afetiva masculina e
feminina (Lise, 1990; Gordon, 2002; Gregersen, 1983).
Baseado nesse momento, o Relatório Hite (1979) ativa o movimente>
político da época em favor do feminismo, quando as mulheres passam a
ter mais poderes de decisão, principalmente na busca de um espaço na
sociedade, incluindo seus direitos e desejos como mulheres.
Ainda no início do século XX, os papéis sociossexuais são carac-
terizados pelas diferentes formas de educação dada a cada gênero (Hite,
1979). No que diz respeito às meninas, predominam a afetividade, o ca-
risma e a delicadeza, sendo elas mais presas em casa para aprender os
afazeres domésticos e obter, mais tarde, a função de boa esposa e dona
de casa. Já os meninos têm uma criação mais solta e livre, ficam na rua,
são mais agressivos, objetivos e dinâmicos e brigam com os colegas, pois
necessitam atender às expectativas de performance e sucesso profissional dos
pais e da sociedade em geral (Stearns, 2010).
Nessa época, vivia-se dentro de uma estrutura social m,üs rígida, na
qual os papéis do hotnem e <la mulher eram bem-definidos e os indivíduos
submetiam-se ao grupo, abrindo mão de sua individualidade. Esse cenário
estático deu lugar a um bem mais dinâmico a partir do desenvolvime nto
l) • l r : l,lj ll, 1 1.i ll jllli lVtl ' ,í '.:l ll ,JI

ltTl iql/,1.1ic() r d;,


ai()r r ()ncct ividadc, criando uma sociedade bast acia ll <J
111

e< inlicri 1'11 r11to, t;tl c:r,111< > vivemos atualmente.


1:,111 1Jorn ci-cnça s baseadas ncsst n1oclelo antigo de definiçào <los gê-
iwn ,s ainda permeiem algumas sociedades, consideram-se, hoje em Jia,
t·ssas i11 H11 l'tH:ias 111uito mai s fracas se comparadas com antigamente. Com
1 , :iiinH·nt<> da ro11cuivídade, valoriza-se muita mais a autonon1ia indi\·i-

du;il t·rn dct rirncnt< > dos modelos ditados por instituições sociais. Dessa
fortna, ns papL·is do homc.:m c.: da mulher adquirem uma característica mais
flexível e dinámica.
;\ terapia sexual ganha maior importância quando ~fasters e Johnson
(!()(li, 1970), ao estudarc.:m os mecanismos fisiológicos associados à res-
p( ,si-a sexual, classificaram as disfunções sexuais e criaratn um protocolo
dv interven(,'.<>cs terapêuticas etnpiricamcnte validadas.
Basl"ados cn1 suas pesquisas, publicaram dois livros que norteiam
ainda hoje o i-rabalho dos terapeutas sexuais: Human sexual response (A res-
posta sexual humana) e [-fumem sexual inadequary (A inadequação sexual
humana). 'l<>tnaram como base as evidências dos estudos de Joseph Wolpe
(Wolpl: & J,azarus, 1990) sobre a técnica de dessensibilização sistemática,
o >nsi<leraram que a não adequação da resposta sexual estava associada à
ansiedade e utilizaram-na para seu tratamento. O indivíduo descrevia uma
s<.:lJUência de situações sexuais e, em uma hierarquia da menor para a maior
ansiedade, experimentava cada situação, até diminuir por inteiro sua ansie-
dade (Wolpe & Lazarus, 1990). Isso deu origem à técnica de foco sensorial
(Masters & Johnson, 1970).
Como até então foi discutido neste capítulo, os diferentes tratamen-
tos da sexualidade masculina representam uma nova configuração de
ideias e intervenções que se transformaram ao longo de várias décadas,
seja por parte da medicina, seja por parte da psicoterapia. O olhar do pri-
meiro tratamento para as disfunções sexuais, como eram anteriormente
denominadas, tinha um modelo mais médico do que psicológico e consa-
grou a Masters e Johnson (1970) um amplo campo de trabalho na terapia
sexual.
A primeira publicação de Masters e Johnson, Humcm sexual response
(19(.C,, Fstados Unidos), resultou de investigações laboratoriais das rea-
ç<->cs fisiológicas e.: anatômicas observadas en1 694 voluntários (31 2 ho-
mens e 382 mulheres) após o acompanhamento de 1Omil relações sexuai~
durantt' longos 11 anos de estudo. J\ segunda, J-Jmnan sexual inadeq11ary, foi
produzida a partir de tratamentos clínicos, sendo publicada em 1970, fruto
Histór·ia crítica da sex uali da de • 33

dc um 1,r()~ r:1111:1 de pcstp1Ís;1 l·lí11ic1 especializada n<> tr,Hamcnt<i de di s


ft 1nç('ics St''.\lli\Ís. cm ljll(.' 7 t)() pessoas (e >ram atendidas pclc >s d< ,i s aut<irL· !:>.
.\pcs;ir de() scgut1dCl livni SL' base1r cm trahalh()s clínicos, o casal 1\-la, tcrc.,
,· _lphn:-:rn1 ut ili z, n1 -st· das d escol >l'ftas dos estudos lahorat(Jriais yue f< Jf ,tm
1,uhlictd():-- nn primeiro tL·xtu para os trat,irncntos psicotcrapé·utic<Js.
.\ Listcrs e _lnhnson ( 1970), de tnédico e ela psic<'>loga, rcc(Jrrcrarn a
t1111 conjunto de procedimentos para a coleta dos dados, como entre vistas

e i11tcrrog,1tt)rios, e a un1a boa anamnese para um levanramcnto do pcrEl


médicn, social e psicossexual dos indivíduos que participavam das pesyui -
sas. Assim, com essas observaçàes minuciosas diretas, o uso de filmagen s
coloridas e estudos laboratoriais dos aspectos físicos e fisiológicos <las
relações sexuais, conseguiam entender detalhadamente o processo das re~-
posras sexuais. U tilizava1n como recursos utna vagina sintética e um pénis
de plástico transparente para observações de coitos artificiais por meio de
récnicas radiofísicas, ilutninaçào e dispositivo fotográfico em miniatura.
Esses recursos sofisticados de equipamentos tecnológicos indicaran1 uma
quebra de paradign1a nos procedimentos de in,·estigação da sexualidade,
pois a obsen·açào tornou-se biológica e 1nicrométrica, coletando todos os
dctallws nas \'ariá\'eis responsivas da sexualidade.
A população estudada foi sucessivamente sendo alterada, alguns \'O -
lun tários forarn nrnntidos no grupo durante anos como membros mais ati-
\·os e outros foram aos poucos sendo substituídos. O llue prevalecia como
um critério de aYaliaçào relati,·o à permanência no grupo experimental
era a obsen·açào das reações à estimulação sexual efetiva dos candidatos
\·oluntários e as alteraçà cs diante do ambiente artificial <lc labnrarúrio. ~n
entanto, essa artificialidade constinuu-se em uma preocupação constank
de ~fastcrs e Johnson (1970), pois, 1nesmo com os cuidados da presenç:l
discreta dos obse1Tadores, significa,·a un1a , ·ariável que interferia 11,1s a\'a-
li 1-çc'.> es das respostas sexuais. O grupo experin1cntal era composto tk 2: (i
casais, I 06 mulheres solteiras e 3() homens solteiros.
,\ s pesquisas e os trabalhos de ~lasters e Johnson ( 1!J71\), muiru L' ll1-
bora C()nrcnh,11n intcrrogat('>rins, foram muito difrrcntl's metodologicl-
mcn re d"s de Kinsc\' ( 195.1) e, mais tarde, dos rebrt\ri, )S <.k l litl' ( l l.J791.
j)<lÍ~ utilizaram ohsct:\·aç<'ics dirl't.ls d:t pr.'ttica d,1 rL·h~·;tl) L~ estimub~·:tn se.'
'.\uai. l ·'.s~l'. S pron.·dimcntos de ohsen·a(;:"to foram cunsidnados inu,·:1do rc:s
e ousados; porl'. tn, e<,mu toe.la n< 1\ a incri ld1 ilogi:1, cxisrnn prós e Ct H1fLts:
críticas furam lc\·antadas, cuml) a pouca c.'.spurn:1m·i\.Ltdt· l ' a ·.1rtificialidadc
pn)\·;l\·elnwnrc prest nrc s na s rl'Ll~·ci cs SL·~uais pn >g Ltmadas.
. _ _, . ta suas contribuiçõe.,
•l . . -rc sct 11 · ,,
. . . . • -:.e~() t)µ; ,1, ,l l- • 1º70) - b
- ( l 995) p:,;1c 1n:1h~1.1 t: , \ hnso n ( t 966, -.; so re as
K~plan · Í\h..:.tcr:,; e e, · . d l h
. . ·d· Je dn rrab~tlho l1e . . . . , : . " ,r YiYenc1a a tanto pe o o-
na conunLU a d •tis uff1~1 b~t ·' ·
· · ropon o n1• ·
re. ) OS taS sexual~ p .
~1 •· ' pela n1ulhl'r: u desel 0 · :\ . d :k· l 970 e l 980, levantan-
1nem quanto ' , ·~ .,. ntre ·,s l eca as e... . •
.: t:inal do ~éculo ."\...... , t ' . . d ·isco entre ho n1ossexuais e
.\ ,1 no . tos sexrnu~ e r ,
. , iras de con1porr.1men , . . . .,,..icas surge a s1ndrome de
J o ~uspe · , . d , bstancrns qU1hu ' . ,
. . as com dependenna e su . ·nglês). E la fo1 responsavel
pes~o, - . . . , (Aids na s1g1a e1n 1 ,
itnunodeficiência adq~nd,1 d -_, . al que estava a pleno vapor na deca-
liberda e sexu ' .. .
)or um retrocesso na arelhar com as expenenc1as
l. d d 11orte passou a emp
da de 1970. O 1ne o ª 1 to hoinossexual, que ganhava
. • e O con1portan1en .
sexuais dos 1ovens casais, . f. duro golpe, uma vez que a ep1-
. d d americana so reu um
espaço na socie ª e · ' · d "peste gcry" •
: . . d s ºªJ'S sendo deno1mna a
deima foi associa a ao º ' _ , . . t dessa maneira, mas como um
Atualmente a doença nao e inais v1s a ul - . d
'de risco. que ocasiona danos a uma pop açao mais es-
comportamento - , . al (Stearns 2010). O aumento das doenças
revenida e sem educaçao sexu ' . ,
p · , T • casais heterossexuais trouxe a tona que o
sexualmente transnuss1, eis em ' . -
padrão monogâmico de comportamento sexual unposto por questoes po-
líticas e sociais não se mantém. . , . .
De acordo com os avanços do conhecimento c1ent1fico, a psiquia-
tria se renovou, e o 1fanual de Diagnóstico em Saúde Mental (DSM-III/
APA, 1980) passou a não considerar mais a homossexualidade como um
transtorno.
A sexualidade feminina se expande ainda mais, e outra importante
publicação surge abordando os prazeres sexuais femininos, Descobrindo o
prazer: uma proposta de crescimento sexual para a mulher (Heiman & LoPiccolo,
1976). 1Iais do que nunca, a questão cognitiva em relação aos mitos fe-
mininos é abordada de maneira mais simples e científica, dando maiores
possibilidades de aumentar a funcionalidade sexual em um relacionamen-
to e abrindo a possibilidade de a mulher tratar suas queixas sexuais sem
necessariamente a presença do parceiro.
J\ ssuntos sobre sexualidade no século XXI tê1n sido mais abordado$
nas grandes mí<lias (f\Ts, rádios, cinemas, teatros) com o objetivo de tor-
nar acessível à população todas as informaçôes necessárias para a refor-
mulação de um 1nais amplo pensar sobre a sexualidade atual e a influência
<la e<lucaçào sexual ao longo de toda a histó ria J e vida de um indivíduo.
~\ .i~ei: de que as pessoas deven1 ter familiaridade com, compreender a
miciaçao sexual, 0 funcionamento sexual, a prevenção de doenças sexuais
t'

da crr:ffick.z. t ~ (()t11!1ll'latnt·ntc v-,1 1t<.· !·.t< 1·,1 p 1 11. n, ltH l,1 .., <ptc rd,,rçam
· w~ t: VJ·
i ~netas no~tttY.lS
te r ela IH't'\Tt1, ·: 1 . ,..utut<>s
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1UCíl.Çar
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se~ual 11;1s csçulas, e Rthctro (2001 ) descreve , ,.., P:1râmcrr< , <; Currícula
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ck Pré -alfabctizaçào até o Ensino M"<'.:di<,, baseada n<>s clin:Ít<>"> da crian ça
e d o adolescente (ECA) , surge com a J ,ci de Dirctrizcs <.: Hast '-> (J ,ei n:.i
9.394/ 1996), objetivando n1inim.izar a incidt:ncia ck gravic.kz inclescjada
na adolescência e tatnbém prevenir doenças sexualmc:nt<.: tran smi ssív(:Í <;
desde tenra idade, visto que o número <le adolescentes contaminados c<,m
o papilomavírus hmnano (HPV) aumenta extraordinariamente.
Em 1982, o cirurgião vascular Ronald Vírag descobre, ao acas<J, um
pritneiro tratamento efetivo para a disfunção erétil. Ele percebe que as
aplicações de injeções de papaverina que fazia nos corpos cavernosos para
observar as obstruções das artérias penianas provocavam ereções (Kosh,
2005). Na mesma época, o inglês Brindley fascina um auditório de médi-
cos aplicando em seu próprio pênis fenoxibenzamina e demonstrando a
possibilidade de ereção. Assim começou a era da terapêutica intracaverno-
sa, que evoluiu da papaverina para a prostaglandina E (PgE2). Todaúa, tal
propedêutica para o tratamento da disfunção erétil apresenta limitações,
principalmente por ser invasiva e exigir um doseamento e aprendizagem,
o que tornava o uso, para muitos homens, d.ifícil (Kosh, 2005). Fazia-se
mister mn agente farmacológico para disfunção erétil que tivesse eficácia
co1nprovada, pudesse ser tomado por demanda, não apresentasse efeitos
secundários, fosse de fácil admin.istração, barato e com efeito rápido, alé rn
de ser específico para o transtorno de ereção (Rohden, 20() 1).
O sildenafil, testado in.icialmente para angina no peito, não tcYe bons
resultados; entretanto, o efeito adverso consistia na melhora Ja qualiJade
das ereções (Bhasin et ai., 201 O). Em 1998, o sildenafil foi aprovado pcb
Food anel Drug Administration (FDA) para o tratamento da att entio
denominada itnpotência. Surgia, assim, um medicamt:nt< > c.1uc mdhoraYa
significativaniente a qualidade das ereções, dando mais rigidez e.: tornan-
do-as mais duradouras, com leYes efeitos colaterais t: fúcil dt· ser tomado
(Rohden, 2001 ).
() silJcnafil n:volucionou os conlTt·r< >S l IL' f1 siol< w-ia i-,
da crec"r_·ào e, na
prática clínica, caracterizou-se como a primcir:t lin_h'. t de rra_rarncnto da
dl.st- , ·1. ,-,
, eret1
, unçao :·.ntre. t an t o, ....-u·t
. , 1-11 ,,11' <,1· rc11cn:uss;'io l()t trazer a tona oues-
1
]6 • Ter-apia coq nitiva sex ual

' ' então eram rabu; a tlisfunçãc)


. .1 1 , qL1c ·1re
- ··xua1tu:10l

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rchctonaoas J -
com ·•1 st: · - - , ·-
. .. . ' - . . . l1 . fa como uma doença, e nao mats apenas
erétil finalmeni-e toi recon ecic " ·r .
. _ ,\J .· -s " desse modo, um precedente perigoso. a me-
como um estigma. ' Jt tu · e, . J . , 1 .·
, lid i i 0 homem. :\ ss1m como o oesen'- o v1m ento
clicalizaçào Ja sexua a<. e <. , · . , ·
· • , . . .· d· . , . produção, con10 a pilula ant1concepc1onal,
das tecnologias ,1ssocrn as a .re . - r 'R,
" .d . . . ; 11 cias da reproduçao, o \ 1agra1..t~ passou a
ljbertou a mull1er as conseque .
ser a suposta garantia · d a sa u· s-fação
, . ' .sexual
. do hon1e1n.

Os três marcos na história da sexologia e o futuro da terapia


sexual

Em suma, baseada nessas yariáYeis históricas que influenciam a~


crenças, os pensainentos, as ernoçóes e os co1nportaA mentos da socie~ade
humana, a sexualidade pode ser representada por tres grandes conceitos,
denonunados pritneira, segunda e terceira sexologia. A prüneira sexolo-
gia apontava como perversão todo tipo de cotnportamento sexual nào
relacionado com fins reprodutivos, tendo entre seus grandes opositores
.l\1agnus Hirshfeld e Haverlock Ellis (Rohden, 2001 ). Ainda, a partir de um
caráter higierusta, associava a patologia sexual a perigos sociais.
A época das perversóes sexuais incluía atos de promiscuidade, ho-
mossexualidade, masturbação, sendo esses comportan1entos considerados
"desvios sexuais". A ciência sexual do século XIX também se associava
aos altos índices de doenças venéreas e1n função da prostituição e pela
questão da eugerua (Gordon, 2002).
A segunda fase da sexologia teve seu apogeu nos trabalhos de ~Iasters
e Johnson (1966, 1970) e abordou o conceito de disfunção - atualtnente
transtorno, segundo o DSl\iI-V (APA, 2013) -, no qual o nonnal seria um
ciclo sexual com quatro fases bem distintas: excitação (quando se iniciam
as sensações sexu:is), platô (o orgarus1no mantém-se excitado). orgasmo
~descarga das tensoes acmnuladas) e resolução (quando O organisrno Yolta
a fase d~ repouso). _Quando houvesse a ausência de alguina dessas fase~.
carac terizava-se
, a. d1sfunça
. ' o sexual
- . ' o d o terapeuta sexua1 :.1
, senclo fLinça
re~~1per~çao cio ~1clo. Após as p esquisas d e I<. aplan (1995), uma no,·a fa ~e
foi 1nst-r1da no ciclo das respostas sexuais, 0 desejo.
( ~orn seu a1)og·cu ª{)Ós a S · d· ( '
( · • egun t1 1 uerra · i\IunJrnl · en1 razào elo~
a,·anços da medicina e dos .m _,, t -I - I - . - - · - ·
. e ocos e e pesqu1sa, a segunda sexok>lrJ.a cíl-
ractl'nzou-se 1wla preocUJJaçio . . . _. . d _'- . 0
. ' em con1p1eu1 er o tunoona1nenro nor-
H1st6r1 a crítica da sexualid ade • 37

m~il, Ía:,,cnd<J "urgir a ll<Jc;ã,> d<.: disfuncào sexual, marca<la pela ausência
ou mau funci()namcntr > ele uma da') fase s d() ciclo sexual. Desde então,
a dic, >1<!1nia fun çà()-di . , fun çà(i tem c.lriminad<> a terapêutica ela sexualjda-
de. l ·.s<;a rr,>posta de tratamt ntq, contudo, dei xou brechas importantes,
que culminaram na ascensão da terceira sexologia, urna vez que levava
(.'tll C<Jn sideracà<> apenas CJUestôes cr>mportamentais, em detrimento dos

aspecr, >S cugnirin>s da queixa sexual. Pode-se citar, por exemplo, a técnica
compnnamental pare-inicie, amplamente utilizada para O tratamento da
cjacula6t< > prematura, ou precoce, alvo de críticas por sua pouca eficácia,
abrind<> espaço para a inilicação de inúmeras drogas em seu tratamento.
l-'o cando (J desempenho sexual, uma demanda da segunda sexologia,
as intcrvençôes cirúrgicas e a venda de medicamentos foram um pontapé
inicial para o próximo momento da sexologia. Surge, então, a terceira se-
xologia, que patologiza os problemas sexuais como ilisfunções fisiológicas
a serem tratadas farrnacologicamente. O lançamento do sildenafil (Via-
gra®) , no ano 1998, foi um marcador cronológico dessa fase.
E mbora esse novo modelo tenha aproximado a ciência do sexo de
urna medicina de resultados, apresentou também outro olhar, que colocou
em sobreposição a patologização dos problemas sexuais, a desvalorização
da investigação etiológica, a minimização dos aspectos afetivos, culturais e
sociais, a simplificação e a banalização da sexualidade, a redução da sexua-
lidade ao funcionamento genital e o aumento da necessidade de medica-
mentos para uma melhoria da peiformance de forma indiscrirrúnada.
Nessa nova fase em que ,-ivemos agora, o terapeuta cognitivo-sexual
precisa ficar atento para um crescente movimento da medicalizaçào da
sexualidade humana, o qual tende a olhar de forma mais simples todo o
processo do funcionamento sexual. Conforme ressaltado até então, mui-
tas influências ao longo da história da sexualidade reforçaram crenças e
mitus nos indidduos quanto ao desempenho sexual. O surgimento de
uma medicação que resolve o problema passa a ser objeto de desejo, n1es-
mo trazendo desvantagens secundárias. Na clínica sexual, a excessiva pa-
tologizaçào dos problemas sexuais tem sido observada junta1nente à de~-
\'alorizaçào das investigaçôes etiológicas e, mais do que nunca, à tendência
de submeter um paciente com uma queixa psicogênica a uma terapia oral
prírntira opção de tratamento.
C<)!ll()

Po<ll'. -Se dizer que, (1Uando unimos a pcs(1uisa à clínica, as tTidên-


cias científic as em relação às Jisfunçôcs sexrnús passam a ser reconhecidas
pelos médicos e psicó logos como algo grave e llue precisa ser tratado,
. . e interfere dirernmente na qualidade de
,n11ri1,,tlmctll1' pi ir Sl't" um httot qu . - . 1· J d - - 1;:,
l .- , • . , - ·1 ser uma b oa func10na ma e sexua . Qual
, a la dn l·:1sal. bs O llllt ' ctn ' . ' ·d
. . , .-, . 1,,..J l··1s ·11'ividadcs sexrnus? Em unu rap1 a en9uete
1
srru :\ l n'ljlll'lll t,l tt t:" l , • b -
. .; < )brcrhmos como resultados: ter utna oa ereçao e urn
l "l)tn :1 p1ipt1 1,\Ç,l ), 1
. . . 1 • _.
' . 'I . l
., o hon1ern e n1u tlp os o rgasmos, para a
h1H11 l'1llltn)k l'J:icu ,\tono, pat.1 ' .
mul11L-r. ( :(ltn rcbç,h) ;\ freLJtH~ncia, ~uanto ina1or, r:1e:~or o_s des:mpenhos
nusct11ino l' feminino. Mas não senatn exatamente esses tipos e crenças
. . , ais~ O prazer ficou em segundo
'-Jlll' l'srnriam levando aos transtornos_sexu, .
pbn(), arrdado à necessidade de ereçao e/ ou orgas1n~. . . ,
·1 l
N o hna lo secu o
xxr
,
1
- -I .
e ·n
11 'cio do
,
XXI a cura rap1da das d1sfunçoes
Sl':--uais por meio dessas medicações se mostrou muito _lucrativa ~ara a
indúst-ria farmacêutica, grande patrocinadora das pesquisas sexuais. Se-
gundo Bhasin e/ ai. (201 O), o prazer passa a ser materializado_ em respost_a
l't'l'til e no cont-role ejaculatório, atrelando essa resposta, 1nuitas vezes h1-
pt-rl·stimada, à necessidade de uma substância que distorce a percepção
da n.:sposta sexual e é facilmente adquirida em qualquer farmácia, sem
rl'cL"ita médica. Talvez isso explique o sucesso mundial da venda desses
medicamentos.
Paradoxalmente, apesar de tanta pesquisa na esfera do sexo mascu-
lino nos últimos anos, nunca o homem sofreu tanto por quei.xas sexuais
como agora. Perdeu a possibilidade de redescobrir sensorialmente seus
yaJores e ficou mais hipervigilante de sua ereção, o que tem aumentado
significativamente a ansiedade no desempenho sexual.
Nesse turbilhão de procura por soluções rápidas, após o lançamento
do Viagrn®, em 1998, as mulheres passaram a ser o foco das pesquisas,
que buscam um medicamento que lhes proporcionaria o mesmo efeito do
Viagra® (Rohden, 2001). Muitas pesquisas sobre a sexualidade feminina
esrào em seu apogeu e aqueceram a discussão sobre o prazer sexual da
mulher, ficando evidente, segundo Rohden (2001), que o mercado ofere-
ce cada vez mais produtos destinados ao melhora1nento do desempenho
sex ual.
Fssa mesma ideia de favorecer as dificuldades co1n soluções rápidas,
patrocinada pelos g randes grupos que comercializan1 medicamentos legal-
mente, esbarra etn lJUestôes fisiológicas da sexualidade feminina, uma vez
lJUC, para a mulht:r, a sex ualidade não está atrelada a uma resposta fisio-
lógica, como a tumescência pe niana ou o tempo d e ejacular nos ho mens.
Em rnzào disso, existe uma grande dificuldade con1 relação à desco berta
de uma medicação para a sexualidade da 111ulher. ·
Hi 5 lória c rít ica da sP.xu ;:iltcldd e • ~~i'J

A.inda assim, a indústria ba · · ,-


__ . . seia seus estudos c1ent:1ficos en1 utna ótica
fis1ologtca, onunda dos trabalhos de tiasters e John ,. . ,
(nAJ:>A ()l ) c,- dl .
2 -3 . esse m o e o funciono b son(1966)edol)Si\-1-\
, ., u em para a d escob erta de un1a subs--
t'anc1a para o hCJmem contudo - ,. · no que diz
• respeito a
. , nao encontra exito
urn medicamento tào eficaz ql1anto os 1111 · ·b 1·d ores da fosfochesterasc
- - · para
as mulheres.
Com a grande alternativa medicamentosa para os tratamentos sexuais ·
e Oau~ento da demanda de pacientes querendo tratar sua sexualidade,
ficou evidente que, em muitos casos, as terapias existentes nào apresenta-
va~ re~ul~ad?s satisfatórios. A terapia sexual praticada ainda hoje se ba-
seia, pnontanamente, nas técnicas comportamentais (Instituto Paulista <lc
Sexualidade, 2001 ), e acredita-se que a brecha deixada nos aspectos cog-
nitivos e emocionais nos tratamentos da segunda sexologia tenha aberto
espaço para uma intervenção medicamentosa da sexualidade, o que é o
marco da terceira sexologia.
O futuro da terapia sexual, o qual poderíamos chamar de quarta se-
xologia, começa nesse espaço, no qual se visa a incorporar a prática da
psicoterapia aplicada à sexualidade aos novos paradigmas teóricos empi-
ricamente validados pelas teorias de segunda e terceira ondas das TCCs e,
a partir deles, desenvolver intervenções clínicas especificamente voltadas
para o tratamento das disfunções sexuais (Sardinha & Carvalho, 2016) .
Seria o início de um quarto momento na sexologia, no qual o indi-
víduo entende que crenças distorcidas a respeito do sexo, ben1 como a
forma como interpreta as situações sexuais, têm u1n impacto direto na
maneira como a pessoa se sente, em como o organismo se prepara para
a relação e também no comportamento sexual. O foco não está 111ais no
desempenho, e sim em um novo padrão de comportan1ento sexual, foca-
do no prazer e no respeito às idiossincrasias de _cada un1, d~trin1tnto :º~
Je um padrão imposto por mitos e regras da sociedade. () Ze1t_ge1st em <..1uc
vivemos, no qual instituições rígidas perd~n1 ~o:ça e1~ prol de un1 n1odc-
· d.1v1·d uali za d o- e c onectado e·1n c1ue o 1ndiv1duo e o Cl'ntro do poder,
lo. 111
f avorece esse novo- mo delo de psicotera1)ia · , denotninada terapia cognitiva
·
sexual.

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