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RELATÓRIO SOBRE
DIREITOS HUMANOS
MOÇAMBIQUE
2020 / 2021
FICHA TÉCNICA
Título
Relatório Sobre Direitos Humanos em Moçambique 2020 / 2021
Propriedade
Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM)
Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Moçambique (CDHOAM)
Cidade de Maputo, Av. Vladimir Lenine, n.º 1935 | R/C
Tel. +258 21 414743 | Fax: +258 21 414744
Mobile: (+258) 82 3038218
Tiragem
300 exemplares
Consultora
ReStart Consulting and Business, Lda
Cidade de Maputo, Av. Paulo Samuel Kankhomba, 1063
restart@restart.co.mz | www.restart.co.mz
Mobile: (+258) 829 332 862 | 849 3328 62 | 876 220 783
Revisão Linguística
Sónia Pinho (4Ever Lda.)
Maputo
2022
iii
ÍNDICE
ÍNDICE DE TABELAS.......................................................................................................... vi
ÍNDICE DE GRÁFICOS........................................................................................................ vi
LISTA DE ACRÓNIMOS...................................................................................................... vii
SUMÁRIO EXECUTIVO...................................................................................................... xi
INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 1
1. AMBIENTE POLÍTICO E DE GOVERNAÇÃO................................................................. 3
1.1 Actos Políticos e Aspectos Político-legais............................................................. 3
1.2 Ambiente Político Nacional.................................................................................. 4
1.3 Início da Implementação do Pacote de Descentralização................................... 6
2. INSTITUIÇÕES DE DEFESA DOS DIREITOS DO CIDADÃO................................. 8
2.1 Convenções Internacionais.................................................................................. 8
2.2 Quadro Institucional de Protecção e Promoção dos Direitos Humanos................. 10
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 99
Documentos Importantes.............................................................................................. 99
Sítios da Internet............................................................................................................ 101
vi
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Evolução da composição do Parlamento moçambicano entre
2015/2019 e 2020/2014........................................................................................ 5
Tabela 2. Composição do Governo, Legislaturas 2015/19 e 2020/24................................ 6
Tabela 3. Lista de tratados internacionais e regionais ratificados por Moçambique......... 8
Tabela 4. Sumário dos principais instrumentos do sistema universal e regional de
promoção dos direitos humanos.......................................................................... 9
Tabela 5. Tribunais Judiciais de Distrito criados e que ainda não entraram em
funcionamento...................................................................................................... 13
Tabela 6. Efectivo de pessoal e quadros envolvidos no acesso à justiça em 2020.............. 15
Tabela 7. Distribuição dos Magistrados do Ministério Público pelo país, 2020 – 2021.... 16
Tabela 8. Distribuição de Assistentes Jurídicos do IPAJ por província, 2020 - 2021........ 17
Tabela 9. Dados relativos ao movimento processual........................................................... 21
Tabela 10. Dados relativos aos Tribunais Judiciais, 2019 - 2021........................................ 22
Tabela 11. Alterações pontuais ao CCP no que respeita à prisão preventiva....................... 25
Tabela 12. Dados estatísticos relativos à população em prisão preventiva em 2020-2021 27
Tabela 13. Comparação entre 2020 e 2021 em relação aos prazos de prisão
preventiva expirados.......................................................................................... 28
Tabela 14. Comparação da situação reclusória 2020-2021................................................. 30
Tabela 15. Dados sobre a Covid-19 em Moçambique, 2020 e 2021.................................... 51
Tabela 16. Número de pessoas vacinadas contra a Covid-19 em Moçambique em 2021... 55
Tabela 17. Evolução das consultas externas e de SMI, 2019-2020..................................... 60
Tabela 18. Rácio de mortalidade materna intra-hospitalar por província, 2019-2020...... 61
Tabela 19. População vacinada segundo o tipo de vacina (2019-2020).............................. 62
Tabela 20. Adultos, mulheres grávidas e crianças (0-14 anos)
activos em TARV, 2019-2020............................................................................. 63
Tabela 21. Dados sobre violência doméstica contra a criança, 2019-2021......................... 67
Tabela 22. Uniões prematuras, 2020-2021......................................................................... 68
Tabela 23. Violência contra a pessoa adulta, 2019-2021..................................................... 69
Tabela 24. Casos de violência contra idosos........................................................................ 70
Tabela 25. Empresas afectadas pela pandemia da Covid-19, entre Abril e Junho 2020.... 71
Tabela 26. Empresas e pessoal afectado pela Covid-19, segundo as medidas adoptadas.. 72
Tabela 27. Apoio à tesouraria das MPMEs.......................................................................... 74
Tabela 28. Transferências para as famílias e apoio aos micro-negócios (MGCAS)........... 76
Tabela 29. Quadro jurídico-legal da indústria extractiva em Moçambique....................... 77
Tabela 30. Lista de empresas de exploração mineira e respectivos incumprimentos........ 83
Tabela 31. Total de receitas transferidas para as comunidades no âmbito dos
projectos de exploração mineira (2,75%), 2014-2020........................................ 85
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Meios de ensino durante o estado de emergência, 2020.................................... 65
vii
LISTA DE ACRÓNIMOS
Prefácio
Ao longo dos últimos anos o cenário dos direitos humanos mudou consideravelmen-
te, com um número cada vez crescente de organizações da sociedade civil na defesa
dos Direitos Humanos, que não retiram, antes reforçam as atribuições da Ordem dos
Advogados de Moçambique como defensor do Estado de Direito Democrático em Mo-
çambique, que o faz também através da sua publicação periódica do Relatório de Direi-
tos Humanos, que ora apresentamos e constitui um orgulho.
Esta 5a edição, refente ao relato dos factos mais relevantes no que aos Direitos Huma-
nos diz respeito, durante o período de 2020 a 2021, é marcada pelo facto de ser um
produto financiado por fundos exclusivos da Ordem dos Advogados de Moçambique,
produzido pela ReStart Consulting and Business, Lda, sob a égide da Comissão dos
Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Moçambique (CDHOAM), o que de-
monstra o seu alto compromisso para com a Comunidade.
Com este Relatório, a OAM pretende ajudar a criar uma cultura de mensuração do im-
pacto, que através das conclusões e recomendações que nele constam, visa permitir às
organizações e demais instituições criarem um processo de mudança cultural, nas suas
diversas actuações, como por exemplo o acesso à informação, além de tantas outras
que nem sempre são fáceis de rastreiar.
Tal como na última edição, o período em referência foi mantido para 2 anos, de modo
a permitir uma melhor análise dos resultados dos fenómenos, que ocorreram, como,
por exemplo, os desfechos de processos judiciais, e o tempo necessário para obter as
respostas aos pedidos de informação do último período, bem assim ter acesso à com-
paração estatística e qualitativa.
Esperamos que o conteúdo do presente relatório seja um valor acrescentado para aca-
dêmicos, consultores, estudantes, defensores de direitos humanos, as instituições pú-
blicas, privadas, e os cidadãos para que através das conclusões e recomendações possa
servir de bússola para uma mudança na cultura da defesa dos direitos humanos em
Moçambique, porque não, no Mundo!
Uma palavra final de apreço às entidades que nos ajudaram no processo de partilha
com os consultores de informações essenciais para a elaboração desta edição.
O BASTONÁRIO
Duarte Casimiro
SUMÁRIO EXECUTIVO xi
SUMÁRIO EXECUTIVO
Apesar dos avanços, a questão dos raptos e dos sequestros, bem como o gozo
do direito de acesso à informação e de liberdade de imprensa regrediram nos
últimos anos. O relatório apresenta exemplos de casos de hostilização de pro-
fissionais de comunicação social, preocupações sobre a ocorrência de raptos e
dados sobre o envolvimento de elementos das autoridades na prática de alguns
desses crimes. A situação real consubstancia uma afronta ao direito dos cida-
dãos de serem livremente informados.
O sector privado não escapou aos efeitos da crise, num contexto em que muitas
empresas foram forçadas a tomar medidas que afectaram a renda familiar, o
que teve impacto no gozo de alguns direitos básicos por parte das famílias.
Nas conclusões finais, a OAM apresenta recomendações exaustivas sobre cada um dos
aspectos discutidos. O objectivo é melhorar o quadro de defesa e protecção dos direitos
humanos no país.
INTRODUÇÃO 1
INTRODUÇÃO
O presente relatório aborda a situação de direitos humanos em Moçambique nos anos
2020 e 2021. O mesmo enquadra-se no mandato da Ordem dos Advogados de Moçam-
bique (OAM), enquanto entidade incumbida da defesa do Estado de Direito Demo-
crático e dos direitos e liberdades fundamentais que constituem bases de fundação do
Estado moçambicano, conforme o artigo 3 da Constituição da República (CRM).
O relatório analisa a situação dos direitos humanos no país atendendo às obrigações
do Estado de promover, proteger, respeitar e garantir a sua observância. Embora o
relatório abarque acontecimentos dos anos 2020 e 2021, o mesmo desenvolve temáti-
cas sobre os direitos humanos abordadas nos relatórios da OAM publicados em anos
anteriores. Desta forma, este relatório constitui-se como um instrumento de avaliação
periódica e de monitoria da evolução da situação dos direitos humanos, tendo em con-
ta as constatações dos relatórios anteriores publicados e a situação actual.
Objectivos
Como objectivo geral, o presente relatório visa analisar o ponto de situação e a evolu-
ção da implementação dos direitos humanos em Moçambique em 2020 e 2021. Espe-
cificamente, o relatório visa (i) identificar as questões candentes de direitos humanos
que clamam pela atenção das autoridades; (ii) identificar os elementos negativos e po-
sitivos na implementação dos direitos humanos em Moçambique; (ii) analisar as me-
didas normativas, políticas e institucionais que se traduzem em avanços ou retrocessos
na promoção, protecção e defesa dos direitos em causa; (iv) tecer recomendações para
melhorar o quadro actual de promoção e protecção dos Direitos em alusão.
Metodologia
A elaboração do relatório observou um conjunto de etapas previamente seleccionadas,
tendo como ponto de partida a recolha e análise de documentos primários e o estudo
de documentos secundários sobre direitos humanos em Moçambique. Foram também
recolhidos e analisados instrumentos normativos, regulamentares e políticas nacionais
sobre os direitos humanos, tendo-se procedido ao estudo e análise de informações em
documentos produzidos por organizações não-governamentais (ONGs) e da sociedade
civil (OSCs) vocacionadas para a temática dos direitos humanos. Por último, foram fei-
tos esforços no sentido de confirmar as constatações através do envolvimento de insti-
tuições públicas relevantes, que trabalham na área dos direitos humanos ou em maté-
rias relacionadas. Adicionalmente, foram realizadas entrevistas e visitados os centros
de reassentamento das vítimas dos ataques da autoproclamada da Junta Militar em
Gondola, tendo sido estabelecido contactos para aferir a situação de vítimas de ataques
armados noutros pontos do país (Pemba e Metuge, na Província de Cabo Delgado).
Os indicadores aplicados na medição dos avanços e desafios no quadro da implemen-
tação dos direitos humanos em Moçambique incluem informação relativa à existên-
cia de instrumentos normativos, políticas e programas que cobrem os direitos ora em
causa, as mudanças institucionais e atitudes ou prática de agentes públicos em prol da
concretização efectiva da promoção, protecção e gozo dos direitos humanos pelo cida-
dão. Em termos concretos, o relatório documenta aspectos que reflectem avanços ou
retrocessos no grau de cumprimento das obrigações internacionais e constitucionais
do Estado moçambicano na promoção, protecção, respeito e concretização dos direitos
humanos.
Estrutura do relatório
O presente relatório contempla algumas diferenças estruturais comparativamente aos
relatórios anteriores. Houve um esforço no sentido de sistematizar a informação tor-
nando o relatório mais acessível ao leitor através de uma abordagem objectiva, clara
e sucinta. A sistematização impôs a necessidade de redefinir alguns temas abordados,
tendo em conta a relevância dos mesmos, o que abriu espaço para um melhor enqua-
dramento das matérias discutidas comparativamente aos relatórios anteriores. Com
efeito, na sua nova roupagem, para além da introdução, que apresenta os objectivos e
a metodologia, o relatório apresenta a seguinte estrutura:
Secção 1: Ambiente político e de governação
Secção 2: Instituições de defesa dos direitos do cidadão
Secção 3: Direitos civis e políticos
Secção 4: Direitos económicos, culturais e sociais
Secção 5: Direitos humanos na indústria extractiva
Secção 6: Violência militar no Centro e Norte do país
Secção 7: Resumo das principais constatações e recomendações/ matriz de se
guimento
AMBIENTE POLÍTICO E DE GOVERNAÇÃO 3
Constatação
Recomendação
Fonte: https://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Imprensa/Noticias/Quem-sao-os-deputados-da-AR
6 Convenção das Nações Unidas para a Eliminação de Todas as formas de Discriminação contra Mu-
lheres.
7 Idem.
8 https://www.dw.com/pt-002/mo%C3%A7ambique-secret%C3%A1rios-de-estado-provinciais-
-v%C3%A3o-ofuscar-governadores/a-52141123 (acedido em 19.11.2021).
AMBIENTE POLÍTICO E DE GOVERNAÇÃO 7
9 Há quem diga que, grosso modo, houve concertação interna para diminuir conflitos e litígios entre
Governadores e Secretários de Estado. A esse respeito é de salientar que na sua maioria, tanto os
Secretários de Estado como os Governadores, são membros do partido no poder o que facilitou a
tal concertação.
8 INSTITUIÇÕES DE DEFESA DOS DIREITOS DO CIDADÃO
África Austral (SADC). O Artigo 4, alínea c), do Tratado da SADC estabelece que “os di-
reitos humanos, a Democracia e o Estado de Direito” são princípios orientadores dos
actos dos seus membros. No quadro desse desiderato existem vários instrumentos de
direitos humanos adoptados pela SADC que visam a protecção dos direitos humanos
nos países membros.10
10 Lei Modelo da SADC para HIV-SIDA; Lei Modelo da SADC para a Erradicação das Casamentos
Prematuros e Protecção da Criança já Casada; entre outros.
10 INSTITUIÇÕES DE DEFESA DOS DIREITOS DO CIDADÃO
Fazem parte deste quadro as instituições vocacionadas para a defesa dos direitos dos
cidadãos tais como:
14 A data da entrada em vigor dos códigos foi alterada para Dezembro de 2020.
15 Relatório anual dos tribunais judiciais de 2020. Disponível em: http://www.ts.gov.mz/images/
pdf_files/relatorios/Relatorio%20Anual%20dos%20Tribunais%20Judiciais%202020%20.pdf
(acedido em 26.10.2021).
16 Inaugurados nos dias 24 e 31 de Julho, e 5, 7 e 13 de Agosto de 2020, respectivamente, por Filipe
Jacinto Nyusi, Sua Excelência o Presidente da República de Moçambique.
17 Discurso do Presidente do Tribunal Supremo na Abertura do Ano Judicial de 2021.
18 Cerimónia de Abertura do Ano Judicial de 2022 – Tribunal Supremo.
DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS 13
ram criados Tribunais Judiciais de Distrito que, por diversas razões, incluindo a falta
de instalações e recursos humanos, ainda não se encontram em funcionamento (Cfr.
tabela 7).
Tabela 5. Tribunais Judiciais de Distrito criados e que ainda não entraram em fun-
cionamento
Cidade
Cabo Del- Mani-
Nampula Zambézia Tete Sofala Gaza de Ma-
gado ca
puto
1. Luabo
1. Metuge
1. Nacarôa 2. Mulevala 1. Zumbo
2. Ibo Maca- Marín-
2. Liúpo 3. Mocubela 2. Marrara Mapai KaNyaka
3. Quissanga te gue
3. Larde 4. Derre 3. Doa
4. Muidumbe
5. Molumbo
Fonte: Tribunal Supremo
No ano de 2021 foram nomeados 58 Juízes de Direito D22 pelo Conselho Superior da
Magistratura Judicial, dos quais, 22 mulheres e 36 homens, contra 4 nomeações de
Juízes de Direito D em 2020.23 Portanto, os números revelam que houve um aumen-
to de Juízes nomeados em 2021, ressalvando, no entanto, que o rácio de Juízes e a
população ainda se encontra muito aquém do desejado. Em 2020 foram igualmente
construídos 3 edifícios para a PGR na Província de Nampula, sendo um para funciona-
mento da Sub-procuradoria da República, um para o Gabinete Provincial de Combate
à Corrupção e outro para a Procuradoria Provincial da República.24
Em 2021, foram nomeados 30 magistrados25 do Ministério Público contra 35 magis-
trados nomeados em 202026. Em termos comparativos, houve menos 5 nomeações de
magistrados do Ministério Público em 2021, comparativamente ao ano anterior. Se-
gundo o informe do Procurador Geral à Assembleia da República, estes procurado-
res foram colocados nas seguintes Procuradorias Distritais: Chimbonila; Mecanhelas;
Majune; Muembe; Lago; Mecula; Metarica; Mavugo; e Sanga na Província de Niassa;
Mongincual, e Moma e Nampula; Namarrói, Inhassunge, Gilé e Pebane, em Zambézia;
Chifunde, Cabora Bassa, Marara, Dôa, Zumbo e Chiúta, em Tete; Macate, e Machaze,
em Manica; Búzi, Macanga, Chibabava e Muanza, em Sofala; e Jangamo, Govuro e Fu-
nhalouro, em Inhambane. Alguns dos Procuradores nomeados em 2020 foram coloca-
dos nos tribunais, outros nas Procuradorias Provinciais, ao passo que alguns exercem
funções de assessoria e de direcção na PGR.
Apesar da nomeação dos referidos magistrados, o Informe Anual da PGR relativo ao
ano de 2020, destacou que a maioria das Procuradorias Distritais funcionaram com
um único magistrado e que nesse período não foi possível a nomeação e colocação de
Oficiais e Assistentes de Oficiais de Justiça nos diversos órgãos do Ministério Público,
os quais têm a função de prestar auxílio aos Magistrados.27 Assim, pode-se dizer que,
em 2020, se registaram pequenos avanços no que tange ao problema da distância física
entre as populações que vivem nas zonas rurais e os tribunais, comparativamente aos
anos anteriores. Porém, o informe de 2021 da PGR destacou que, apesar dos avanços
em relação ao preenchimento de todos os distritos com serviços do Ministério Púbico,
com a nomeação de 252 assistentes de oficiais de justiça28, existem outros desafios, que
se traduzem na colocação de mais de um magistrado por distrito, o que implica tam-
bém a admissão e colocação de mais oficiais e assistentes de oficiais de justiça.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) projectava para 2021 uma população de cer-
ca de 30 832 244 habitantes31, o que significa que, em 2021, estimava 1 juiz por cada
100 mil habitantes. Este rácio fica aquém da média aceitável, de 1 magistrado judicial
por cada 10 mil habitantes.32 Em 2021, a par com os Tribunais, o MP contava com um
Tabela 7. Distribuição dos Magistrados do Ministério Público pelo país, 2020 – 2021
Província 2020 2021
Procuradoria-Geral da República 42 42
Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público 1 1
Inspecção do Ministério Público 6 7
Gabinete Central de Combate à Corrupção 9 10
Gabinete Provincial de Combate à Corrupção de Nampula 4 4
Gabinete Provincial de Combate à Corrupção da Zambézia 0 3
Gabinete Provincial de Combate à Corrupção de Tete 0 3
Gabinete Provincial de Combate à Corrupção de Sofala 4 4
Gabinete Provincial de Combate à Corrupção de Inhambane 3 3
Gabinete Provincial de Combate à Corrupção de Maputo 4 4
Sub-Procuradoria-Geral de Nampula 4 6
Sub-Procuradoria-Geral da Beira 3 6
Sub-Procuradoria-Geral de Maputo 9 9
Procuradorias Provinciais 193 207
Procuradorias Distritais 217 215
Centro de Formação Jurídica e Judiciária 0 1
Total 499 525
Fonte: Procuradoria-Geral, 2022
37 Ordem dos Advogados de Moçambique. 2020. Plano Estratégico da Ordem dos Advogados de Mo-
çambique 2021-2025.
38 Idem.
39 Relatório Anual de Actividades do Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica 2021. p.9.
40 Relatório Anual de Actividades do Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica 2020. p.12.
41 Informação Anual da Procuradora-geral da República à Assembleia da República 2020. Abril de
2021. p.30.
18 DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS
Constatações
Recomendações
tituição nos locais onde a população dificilmente consegue aceder aos servi-
ços do IPAJ para a defesa dos seus direitos e interesses.
51 Vide secção 3.1.4 referente ao tema Acesso à Justiça Versus Defesa e Assistência Jurídica.
52 Relatório anual dos tribunais judiciais de 2020. Disponível em: http://www.ts.gov.mz/images/
pdf_files/relatorios/Relatorio%20Anual%20dos%20Tribunais%20Judiciais%202020%20.pdf
(acedido em 26.10.2021).
Tabela 9. Dados relativos ao movimento processual
Pendentes Entrados Findos Transitados
Tribunais
2019 2020 2021 2019 2020 2021 2019 2020 2021 2019 2020 2021
Tribunal Supremo 300 381 307 338 396 172 257 470 129 381 307 350
Tribunais Superiores de
5063 4901 4816 1040 1558 2548 1202 1643 2852 4901 4816 4512
Recurso
Tribunais Judiciais de
55 180 62 964 73282 63 020 57 199 60417 55 236 46 881 83470 62 964 73 282 50229
Província
Tribunais Judiciais de
96 026 100 797 97176 91 213 93 436 91978 86 442 97 057 109 722 100 797 97 176 79432
Distrito
Total 156 569 169 043 175 581 155 611 152 589 155 115 143 137 146 051 196173 169 043 175 581 134 523
A análise comparativa dos anos 2020 e 2021 mostra que em 2021 houve uma redução do nú-
mero de processos que entraram nos tribunais, na ordem de 2 313, correspondente a 1,5%. Re-
gistou-se, ainda, uma redução na ordem de 23,2% do número de processos pendentes no início
de 2021, transitados de 2020, quando comparados com o número de processos pendentes em
2020, transitados de 2019.53 Em 2021, os Tribunais de Distrito melhoraram o seu desempenho
em 13% em relação ao ano de 2020, a nível dos processos findos. Efectivamente findaram 109
722 processos em 2021, contra 97 057 em 2020. Os dados relativos aos tribunais judiciais são
apresentados na tabela 12.
Constatação
Os ditames do n.º 1 do artigo 2 do novo CPC servem como alavanca para resol-
ver a problemática da morosidade processual.
Recomendações
57 Idem.
58 Disponível em: https://cartamz.com/index.php/economia-e-negocios/item/6391-morosidade-
-processual-lidera-queixas-ao-provedor-de-justica-em-mocambique (acedido em 22.10.2021).
59 Vide Jornal Notícias, edição de 08.07.2020.
60 Disponível em: https://cartamz.com/index.php/opiniao/carta-de-opiniao/item/8265-institucio-
nalizacao-e-legalizacao-da-morosidade-processual-no-contexto-do-acesso-a-justica (acedido em
29.12.2021).
24 DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS
68 Idem.
69 Esta percentagem foi calculada tendo em conta o total de reclusos internados em 2021.
70 Esta percentagem foi calculada tendo em conta o total de reclusos internados em 2020.
DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS 27
Tabela 13. Comparação entre 2020 e 2021 em relação aos prazos de prisão preven-
tiva expirados
Preventivos com Instrução
Preparatória aguardando Preventivos aguardando Julgamento
Perío- Julgamento
SERNIC PGR Dentro do prazo Fora do Prazo Total
dos
Dentro Em Proc. Aguar- Em Proc. Aguar-
Fora do Dentro Fora do
do de Julga- dando de Julga- dando
Prazo do Prazo Prazo
Prazo mento Sentença mento Sentença
2021 492 162 1 358 263 2 701 478 502 316 6 272
2020 568 214 1 275 193 2 331 322 801 342 6 046
Recomendações
Visando reforçar o quadro de pessoal existente, de uma forma que contribua para o
exercício efectivo das competências dos serviços penitenciários, iniciou-se em, 2020, a
formação a 1 032 guardas penitenciários.76 Uma vez formados, a OAM espera que estes
guardas contribuam para resolver o problema da superlotação nos EPs, cumprindo na
íntegra os ditames da lei no que tange à verificação do cumprimento de penas pelos
reclusos e encaminhamento às autoridades de processos relativos aos indivíduos que
tenham excedido os prazos de execução da pena e de prisão preventiva.
76 Idem.
DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS 31
regionais têm um posto de saúde, com funcionários formados pelo SERNAP. No entan-
to, o desafio encontra-se a nível dos distritos, onde muitos EPs não dispõem de postos
médicos. Nestes casos, os reclusos que padeçam de alguma doença são encaminhados
para as unidades sanitárias mais próximas para receberem cuidados médicos, o que
também é difícil num contexto em que faltam ambulâncias ou viaturas apropriadas
para o seu transporte. Os referidos EPs também beneficiam de visitas de rotina feitas
por profissionais de saúde duas vezes por semana. De reter que num universo de 157
EPs, somente 31 (19,7%) têm unidades sanitárias.
Recomendações
Recomendações
Constatações
Recomendações
103 Idem.
104 Informação Anual da Procuradora-Geral da República à Assembleia da República 2020. Abril de
2021. p.41.
105 Intervenção da Digníssima Procuradora-Geral da República, Beatriz Buchili, em 2020, no decurso
da VI Reunião PGR-SERNIC. Informação disponível em: https://www.opais.co.mz/combate-ao-
-crime-nao-se-compadece-com-uma-policia-apatica-e-sem-meios/ (acedido em 26.10.2021).
106 Disponível em: https://www.opais.co.mz/combate-ao-crime-nao-se-compadece-com-uma-poli-
cia-apatica-e-sem-meios/ (acedido em 26.10.2021).
107 Disponível em: https://www.dw.com/pt-002/nyusi-quer-desmantelamento-de-grupos-de-rapto-
res/a-59586896 (acedido em 29.12.2021).
108 Disponível em: https://www.voaportugues.com/a/mo%C3%A7ambique-pol%C3%ADcia-cria-u-
nidade-anti-raptos-e-anti-terrorismo-ap%C3%B3s-queda-de-ministros/6310615.html (acedido
em 29.12.2021)
109 Disponível em: https://www.jornalnoticias.co.mz/destaque/em-matalane-pr-
exige-accoes-firmes-contra-raptos/ (acedido em 03.01.2022).
DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS 39
Constatações
Recomendações
devem ser de domínio público”.127 Pese embora o CC não ter dado provimento ao pedi-
do do Provedor no que toca à declaração de inconstitucionalidade daquela norma, o CC
reconhece que a Lei sobre o Segredo do Estado deve ser revista de modo a adequá-la ao
espírito e valor do Estado de Direito Democrático que Moçambique abraçou.
De referir que já passam 30 anos desde a aprovação da Lei da Imprensa em 1991 e a
mesma ainda continua em vigor. De salientar também que o processo de revisão da
norma em causa apenas teve o seu início em 2006. Entretanto, até 2020, o processo
ainda estava em curso e longe de terminar.128 Na mesma linha, o debate da Lei da Rádio
e Televisão129 teve o seu início em 2008, tendo sido aprovada pelo Governo e submetida
à apreciação da AR apenas em Dezembro de 2020, deixando um vazio em certas maté-
rias que precisam de adequação à nova realidade, as quais continuam a ser reguladas
com a antiga Lei da Rádio e Televisão.130
Em Março de 2021, as propostas de novas leis da comunicação social e de radiodifu-
são foram debatidas pela primeira vez na AR. Organizações da sociedade civil como o
MISA (Instituto para a Comunicação Social da África Austral) Moçambique e o EISA
(Instituto Eleitoral para a Democracia Sustentável em África) expressaram grande
preocupação durante a audiência pública de que estas leis pudessem criminalizar os
jornalistas, por um lado, mas também restringir a liberdade de expressão e de impren-
sa, por outro lado.131 Essas organizações defendem que, com a proibição da retransmis-
são de conteúdos políticos, os moçambicanos ficariam privados de muitas fontes de
informação sobre acontecimentos no país, em África e no mundo.132
133 Relatório do Centro para Democracia e Desenvolvimento, sobre os Direitos Humanos e dos Defen-
sores dos Direitos Humanos, referente ao primeiro semestre de 2020. Disponível em: https://Cdd-
moz.Org/Wp-Content/Uploads/2020/09/relat%c3%93rio-de-direitos-humanos-e-dos-defenso-
res-dos-direitos-humanos-referente-ao-primeiro-semestre-de-2020-em-MO%C3%87AMBIQUE.
pdf (acedido em 17.102021).
134 Disponível em: https://www.dw.com/pt-002/liberdade-de-express%C3%A3o-em-mo%-
C3%A7ambique/t-55318437 (acedido em 06.01.2022).
135 Disponível em: http://misa.org.mz/documentos/relatorio-sobre-o-estado-das-liberdades-de-im-
prensa-e-de-expressao-em-2019-2020.pdf (acedido em 26.10.2021).
136 “MISA (2022). Relatório sobre o estado da liberdade de imprensa e de expressão em Moçambi-
que - 2021. Maputo: MISA-Moçambique”.
137 Disponível em: https://www.misa.org.mz/index.php/destaques/Notícias/77-relatorio-sobre-
-o-desaparecimento-do-jornalista-ibraimo-abu-mbaruco-em-palma-cabo-delgado (acedido em
20.20.2021).
DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS 45
138 Relatório do Centro para Democracia e Desenvolvimento, sobre os Direitos Humanos e dos Defen-
sores dos Direitos Humanos, referente ao primeiro semestre de 2020. Disponível em: https://cdd-
moz.org/wp-content/uploads/2020/09/Relat%C3%93rio-de-Direitos-Humanos-e-dos-Defenso-
res-dos-Direitos-Humanos-Referente-ao-Primeiro-Semestre-De-2020-em-Mo%C3%87ambique.
Pdf (acedido em 18.20.2021).
139 Relatório do Centro para Democracia e Desenvolvimento, sobre os Direitos Humanos e dos De-
fensores dos Direitos Humanos, referente ao primeiro semestre de 2020. Disponível em: https://
cddmoz.org/wp-content/uploads/2020/09/RELAT%C3%93RIO-DE-DIREITOS-HUMANOS-E-
-DOS-DEFENSORES-DOS-DIREITOS-HUMANOS-REFERENTE-AO-PRIMEIRO-SEMESTRE-
-DE-2020-EM-MO%C3%87AMBIQUE.pdf (acedido em 18.20.2021).
140 Disponível em: https://www.dw.com/pt-002/nampula-jornalistas-v%C3%ADtimas-de-viol%-
C3%AAncia-policial-durante-manifesta%C3%A7%C3%A3o/a-59134786 (acedido em 06.01.2022).
141 https://www.dw.com/pt-002/amea%C3%A7as-veladas-das-autoridades-contra-imprensa-preo-
cupam-o-misa/a-57888319 (acedido em 06.01.2022).
46 DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS
contexto em que foram registadas acções visando limitar o trabalho dos jornalistas em
Cabo Delgado, numa manifesta violação a todos os princípios da liberdade de impren-
sa. Estes são apenas alguns dos vários exemplos de violações de direitos humanos em
2020 e 2021. É importante destacar que, ainda que tivesse sido registado apenas um
único caso, na óptica da OAM, esta situação consubstancia violação grave da Constitui-
ção, das normas internas e internacionais reconhecidas pelo país.
Constatações
Do acima exposto constatou-se que o país tende a regredir, nos últimos anos,
no que se refere ao acesso à informação, devido ao incremento evidente de ca-
sos de hostilização dos profissionais de comunicação social, o que limita o livre
exercício da liberdade de imprensa e de opinião.
A hostilização dos profissionais da comunicação social é uma afronta ao direito
dos cidadãos de serem livremente informados.
Recomendações
xuais. O pedido de registo da associação não surtiu efeito. De seguida, o aludido grupo
de cidadãos submeteu várias exposições e requerimentos ao Ministério da Justiça, As-
suntos Constitucionais e Religiosos solicitando a apreciação da situação sem ter obtido
qualquer resposta.
A questão do registo da LAMBDA continua a ser um ponto para reflexão. É de lembrar
que, em 2016, a OAM interpôs (a favor da LAMBDA) junto do Tribunal Administrati-
vo da Cidade de Maputo uma acção para o reconhecimento de um direito e interesse
legalmente protegido contra o Estado moçambicano, através do Ministério da Justiça,
Assuntos Constitucionais e Religiosos. A reposta foi dada em Agosto de 2021, no sen-
tido de indeferir o pedido feito pela OAM por falta de preenchimento de pressupostos
legais, absorvendo o réu da instância.142 No cômputo geral, ainda há espaço para explo-
rar a matéria recorrendo ao Conselho Constitucional para se pronunciar sobre ques-
tões com dignidade constitucional, em particular, a violação do direito a liberdade de
associação causada pela recusa do registo da LAMBDA.
Pensamos que a questão do registo da LAMBDA é associada ao quadro regulador do
direito de livre associação em Moçambique. No relatório de 2019, a OAM143 deu conta
de que a Lei n.º 8/91, de 18 de Junho, Lei das Associações, estava desajustada, por
considerar o associativismo como única forma de organização colectiva dos cidadãos, o
que, no seu entender, restringe o âmbito de aplicação do conceito de organização social
previsto no artigo 78 da CRM.
Sobre o assunto, é de recordar que o CC, através do Acórdão n.º 7/CC/2017 declarou
inconstitucional a cláusula na Lei das Associações evocada pelo Ministério da Justiça,
Assuntos Constitucionais e Religiosos para inviabilizar o registo dessa associação. Em
2018, o Relator Especial associou-se a esses apelos, considerando injustificada a recusa
das autoridades de legalizar a LAMBDA e instou à implementação das observações e
recomendações do Comité de Direitos Humanos em 2013 atinentes à sua legalização.
A Lei do Trabalho144 é um dos poucos instrumentos normativos que aborda de forma
explicita a questão da orientação sexual. Já a CRM não é explícita sobre essa matéria,
embora preveja a igualdade independentemente da “cor, raça, sexo, origem étnica,
lugar de nascimento, religião” (artigo 35). De salientar ainda que as especificidades
da população LGBT são tratadas de forma implícita e por vezes explícita nas políticas
e estratégicas públicas sobre a educação, saúde, família e assistência social. Se no pla-
no legal a situação a situação da LAMBDA não tem conhecido progressos, no plano
prático ela desenvolve as suas actividades participando em vários fóruns nacionais e
internacionais.
142 Ofício n.º 729/TACM-560/2021. Em 2021, através do acórdão n.º 61/TACM/ 2021, o Tribunal Ad-
ministrativo da Cidade de Maputo (TACM) indeferiu o pedido formulado pela OAM, no âmbito do
Processo n.º 133/2016 - CA, Acção para o reconhecimento de Direitos legalmente protegidos que
a Ordem dos Advogados de Moçambique, em representação da Lambda, intentou contra o Estado
Moçambicano, através do Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos.
143 OAM, 2020
144 Lei n.º 23/2007, de 1 de Agosto.
48 DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS
Recomendações
750 em 2021. A maior parte dessas novas unidades sanitárias foram construídas nas
províncias de Zambézia (11), Nampula (11), Sofala (11) e Tete (10). Contrariando essa
tendência, a Província de Cabo Delgado viu reduzida a sua capacidade de oferta dos
serviços de saúde em 55,4%, devido ao efeito do ciclone Keneth, situação agravada pe-
los ataques dos insurgentes, que num universo de 131 unidades sanitárias, destruíram
de 77, das quais 10 ficaram totalmente destruídas; 29 parcialmente destruídas e as
restantes 39 vandalizadas. A destruição destas infra-estruturas de saúde em Cabo Del-
gado também teve impacto nos distritos não afectados pelos ataques que viram crescer
bruscamente a demanda pelos serviços devido à chegada massiva de deslocados pro-
venientes de Mocímboa da Praia, Palma, Muidumbe, Nangade, Macomia, Quissanga,
Meluco, Ibo e Mueda, distritos alvos de ataques pelos insurgentes.146
A já mencionada expansão da rede sanitária do país não teve grande impacto no rácio
habitantes/ unidade sanitária, que continua elevado, estando neste momento estimado
em 17 290 habitantes/ unidade sanitária, ainda acima do rácio recomendado pela OMS
(10 000 habitantes/ unidade sanitária). Por conseguinte, o Governo deverá continuar
a apostar na expansão da rede sanitária para que mais moçambicanos tenham acesso
aos serviços de saúde.147
146 ADIN – Agência de Desenvolvimento do Norte. 2021. Plano de Reconstrução de Cabo Delgado Das
Zonas Afectadas pelo Terrorismo (2021-2024). Disponível em: https://adin.gov.mz/wp-content/
uploads/2021/11/PRCD-Plano-de-Reconstrucao-de-Cabo-Delgado.pdf (acedido em 22.03.22).
147 MISAU. Boletim Estatístico Mensal de Saúde Dezembro 2020/21. Disponível em: https://www.
misau.gov.mz/index.php/anuarios-estatistico (acedido em 30.01.2022)
148 Idem.
149 MISAU. 2020 (a). Coronavírus (Covid-19). Boletim diário n.º 289. Actualizado a 31 de Dezembro
de 2020. & MISAU (b). 2021. Coronavírus (Covid-19). Boletim diário n.º 656. Actualizado a 31 de
Dezembro de 2021. Disponível em: https://www.misau.gov.mz/index.php/covid-19-boletins-dia-
rios. (acedido em 07.03.2021).
DIREITOS ECONÓMICOS, CULTURAIS E SOCIAIS 51
Março de 2020. Os primeiros meses da pandemia foram marcados por níveis muito
baixos de infecção por Covid-19 comparativamente aos países vizinhos, mas a situação
alterou-se a partir de Janeiro de 2021, altura em que o país registou um aumento ex-
ponencial de contaminações e de óbitos por Covid-19 (vide tabela 3).150
150 Idem.
151 Idem.
52 DIREITOS ECONÓMICOS, CULTURAIS E SOCIAIS
A CRM estabelece, no artigo 298, que “no termo do estado de sítio ou de emergên-
cia, o Presidente da República faz uma comunicação à Assembleia da República com
a informação detalhada sobre as medidas tomadas e a relação nominal dos cida-
dãos atingidos”. Com efeito, o Chefe de Estado indicou a Ministra da Justiça, Assuntos
Constitucionais e Religiosos, Helena Kida, para proceder à apresentação do relatório
dos 120 dias da implementação do estado emergência à Assembleia da República. Este
acto ocorreu no dia 3 de Agosto de 2020. O referido relatório foi “chumbado” pelos
partidos da oposição, nomeadamente a RENAMO e o MDM, com o argumento de que
o mesmo era omisso sobre a aplicação dos cerca de 68,2 mil milhões de meticais an-
gariados pelo Governo junto dos parceiros de cooperação para fazer face à crise da
pandemia. Contestou-se ainda a não apresentação da lista de empresas contratadas
para a provisão de bens e serviços emergenciais no contexto da pandemia, bem como
a ausência de uma lista nominal dos cidadãos atingidos pelo estado de emergência.152
A sociedade civil, por sua vez, criticou o relatório por omissões em matérias relaciona-
das com a gestão dos mesmo fundos, bem como sobre a omissão de informação sobre
os montantes canalizados para o apoio às empresas e às famílias para fazerem face à
crise.153 Já a bancada da FRELIMO no Parlamento aprovou o relatório do PR alegando
que o mesmo era preciso a nível do seu conteúdo e que as medidas tomadas, segundo
152 https://cddmoz.org/wp-content/uploads/2020/08/Oposi%C3%A7%C3%A3o-lan%C3%A7a-du-
ras-cr%C3%ADticas-ao-relat%C3%B3rio-de-Filipe-Nyusi-e-Frelimo-fala-de-%E2%80%9Cde-
cis%C3%B5es-s%C3%A1bias%E2%80%9D-.pdf (acedido em 07.03.2021).
153 https://www.rfi.fr/pt/mo%C3%A7ambique/20200805-mo%C3%A7ambique-oposi%C3%A7%-
C3%A3o-critica-relat%C3%B3rio-sobre-fim-estado-de-emerg%C3%AAncia (acedido em
07.03.2021).
DIREITOS ECONÓMICOS, CULTURAIS E SOCIAIS 53
Constatações
154 Idem.
155 https://cipmoz.org/wp-content/uploads/2020/08/Regime-excepcional-1.pdf (acedido em
07.03.2021).
156 Procuradoria-Geral da República. 2021. Informação Anual do Procurador-Geral da República à
Assembleia da República.
54 DIREITOS ECONÓMICOS, CULTURAIS E SOCIAIS
Recomendações
Recomenda-se ainda:
157 O Reino Unido foi o primeiro país ocidental a administrar a vacina contra a Covid-19, a 8 de De-
zembro de 2020, após o qual se seguiram outros países.
DIREITOS ECONÓMICOS, CULTURAIS E SOCIAIS 55
dos Unidos, Índia e Rússia).158 Com efeito, os países ocidentais iniciaram o processo de
vacinação nas primeiras semanas do mês de Dezembro de 2020. Moçambique lançou o
seu Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19 a 5 de Agosto159 de 2021, dias após a
recepção das primeiras doses de vacina. O plano previa a imunização de 17 milhões de
moçambicanos. Os profissionais de saúde, os idosos, as FDS, os doentes crónicos com
comorbidades e os professores primários foram definidos como os grupos prioritários
para a primeira fase de imunização. Outros grupos prioritários foram integrados à me-
dida que novos lotes da vacina chegaram ao país.160
A administração da vacina começou no dia 8 de Março de 2021. Até finais de 2021 um
total de 8 991 420 pessoas foram imunizadas. Deste número, 6 488 993 foram comple-
tamente imunizadas contra a Covid-19, com 1 ou 2 doses, conforme o tipo de vacina. As
províncias de Nampula (2 278 855) e Zambézia (1 216 230) destacaram-se por regista-
rem o maior número de pessoas imunizadas, enquanto Niassa (503 585), Inhambane
(507 943) e Gaza (501 540) registaram o menor número de imunizados.161 No âmbito
dos acordos bilaterais, Moçambique recebeu 1 704 400 doses de vacinas contra a Co-
vid-19 da Índia, China, Portugal, França e dos Estados Unidos da América. Um total
de 315 empresas adquiriu 500 000 doses vacinas contra a Covid-19, das quais 361 000
foram usadas para vacinar os seus colaboradores e 139 mil foram doadas ao Ministério
da Saúde (MISAU).162
158 Shrotri, Swinnen, Kampmann, Parker (2021). An interactive website tracking COVID-19 vaccine
development. Lancet Global Health; 9(5): e590-e592. Actualizado em 07 Março de 2022. (acedido
em 25.03.2022).
159 As primeiras 384 000 doses da vacina AstraZeneca, parte de um total de 2 064 000 doses que o
país receberia no âmbito da COVAX, uma iniciativa cujo objectivo é garantir que todas as pessoas
tenham acesso à vacina contra a Covid-19, independentemente da sua condição social chegaram no
dia 5 de Agosto.
160 Disponível em: https://www.afro.who.int/pt/news/chefe-de-estado-lanca-campanha-nacional-
-de-vacinacao-em-massa-contra-covid-19-no-ambito-dos (acedido em 25.03.2022).
161 MISAU. 2021. Boletim Estatístico Mensal de Saúde Dezembro 2021. Disponível em: https://www.
misau.gov.mz/ (acedido em 16.05.2022).
162 Disponível em: https://www.rfi.fr/pt/mo%C3%A7ambique/20210630-setor-privado-mo%-
C3%A7ambicano-compra-500-mil-vacinas-contra-covid-19 (acedido em 25.03.2022).
56 DIREITOS ECONÓMICOS, CULTURAIS E SOCIAIS
Constatação
Recomendações
• Definição de planos para a aquisição de novos lotes de vacinas a médio e
longo prazo, o que inclui o investimento, bem como o uso e exploração de
recursos locais (universidades, centros de pesquisa e laboratórios médicos)
na investigação e desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19.
Com efeito, o Instituto Nacional das Actividades Económicas (INAE), a PGR, a PRM e
a Polícia Municipal nas cidades e vilas autárquicas estiveram de alerta para fiscalizar o
cumprimento dos decretos presidenciais de estado de emergência. De um modo geral,
as acções de fiscalização culminaram com a responsabilização administrativa e crimi-
nal dos infractores por desobediência, um crime previsto e punido pelo artigo 353 do
Código Penal.163 A responsabilização administrativa consistiu na cobrança de multas,
cancelamento de licenças de exercício da actividade e, nos casos mais graves, no encer-
ramento de estabelecimentos. Já a responsabilização criminal consistiu na investiga-
ção, instauração e julgamento de processos-crime. Em 2020, foram instaurados 2 896
processos por desobediência em todo o país, destacando-se Nampula (856), Maputo
(784) e Gaza (302), como as províncias que registaram o maior número de processos
instaurados.164 Do total de processos instaurados foram jugados 2 845, tendo resultado
na condenação de 1 439 pessoas a pena de prisão efectiva; 844 viram as penas conver-
tidas em multa; 81 tiveram as penas substituídas por trabalhos comunitários; 46 penas
suspensas; 410 indivíduos foram absolvidos; e, ainda durante a elaboração do presen-
te, 37 aguardavam julgamento.
Em 2021 houve menos processos investigados e poucos casos instaurados e julgados
atendendo à redução do número de infecções e consequente relaxamento das medidas
de contenção das medidas de propagação da Covid-19. Outrossim, segundo a PGR,
em 2020, as acções de fiscalização do cumprimento dos decretos presidenciais, foram,
nalguns casos, marcadas por actuações abusivas e excessivas das autoridades, sobretu-
do dos agentes da PRM e Polícias Municipais cujas intervenções se traduziram no uso
excessivo da força, agressões físicas, execuções de cidadãos, apreensão de crianças e de
menores, apreensão ilegal de bens da população e detenções ilegais, em que os detidos
eram transportados de forma inapropriada nas viaturas policiais e aglomeradas nas
esquadras da polícia sem observância das medidas de distanciamento social, colocan-
do as mesmas em risco de serem infectadas pela Covid-19. Contra os referidos agentes
foram instaurados processos disciplinares e criminais.165 A imprensa e as organizações
da sociedade prestaram um grande serviço público ao denunciar a actuação dos refe-
ridos agentes. Das diversas acções desastrosas da polícia destacam-se a apreensão de
menores e acções que resultaram na morte de dois cidadãos entre os meses de Abril e
Junho de 2020, a saber:
Constatações
Recomendações
Consulta pré-natal 1 691 630 1 722 401 1 895 836 1,8% 10,1%
Consulta pós-parto 1 251 651 1 270 754 1 365 057 1,5% 7,4%
Consultas externas 45 848 396 34 978 873 30 896 678 -23,7% -11,7%
Saúde materno-infantil (SMI) 21 712 955 20 743 409 23 730 535 -4,5% 14,4%
Foi notória a redução da procura em alguns serviços de saúde. Essa redução pode estar
relacionada com a restrição da circulação de pessoas em cumprimento das medidas
administrativas e sanitárias de contenção da Covid-19. A redução da procura dos serviços
também poderá estar relacionada com a percepção de que as unidades sanitárias eram
um foco de disseminação da Covid-19. Seria importante que as autoridades sanitárias
trabalhassem no sentido para reverter esse quadro de percepções, pois no curto ou
médio prazo havia risco de muitas pessoas com doença crónica interromperem o
tratamento, o que poderia dar origem a variantes mais resistentes ao tratamento e à
falência, dando azo a um outro problema de saúde pública.
Constatações
Recomendações
Vacina DPT3 /Hep B (0-11 Meses) 3ª. Dose 1 179 936 1 133 859 961 487 -3,9% -17,9%
Constatações
Os anos 2020 e 2021 foram marcados por uma tendente redução na presta-
ção de serviços de imunização de crianças devido à Covid-19 (sarampo, difte-
ria, tosse convulsa, tétano, entre outras). Diante de vários desafios, o Governo
preocupou-se em manter a prestação desses serviços em vários quadrantes do
país, tendo registado maiores dificuldades nas zonas afectadas pelos ataques
armados.
Tabela 20. Adultos, mulheres grávidas e crianças (0-14 anos) activos em TARV, 2019-
2020
Adultos (H/M) 1 243 020 1 319 820 1 646 924 6,2% 24,8%
Mulheres grávidas em
112 282 107 533 113 787 -4,2% 5,8%
PTV
Crianças 95 080 83 082 101 831 -12,6% 22,6%
Fonte: SISMA- DIS/DPC/MISAU Programa Nacional de HIV/SIDA/PTV/MISAU
preventivo da tuberculose (TB), com o pressuposto de que esta estratégia exigiria uma
reavaliação contínua e, possivelmente, um ajustamento, com base nos fornecimentos
disponíveis.176
Constatações
Recomendação
pelo Movimento de Educação para Todos (MEPT)180 mostrou que, durante o primeiro
semestre de 2020, 57% dos alunos do ensino básico acompanharam as aulas através
de fichas de leitura produzidas pelos seus professores181, 17% tiveram aulas através das
plataformas digitais, enquanto 11% assistiram através da televisão e os restantes 12%
não assistiram aulas por falta de condições de acesso aos meios de ensino adoptados
para a continuidade das aulas durante a pandemia. Esta situação manteve-se durante
todo o período em que as aulas presenciais estiveram suspensas em cumprimento das
medidas sanitárias.
Como se pode notar, uma parte dos alunos foram literalmente excluídos do processo
de ensino e aprendizagem durante o período em que todas as actividades escolares
presenciais estiveram suspensas o que representa uma negação do seu direito
constitucional de acesso à educação (artigo 88 da CRM). Um outro factor importante,
em geral, as aulas remotas não asseguraram a qualidade de ensino durante o período
em que a pandemia se fez sentir de forma acentuada.
Constatação
Recomendação
182 Os maiores progressos nessa matéria ocorreram em 2018 e 2019 o que inclui, entre outros, Es-
tratégia de Inclusão de Género no Sector da Saúde (2018 -2023), Plano Nacional de Acção para o
Avanço da Mulher (2018-2024) e Lei da Prevenção e Combate à Uniões Prematuras (2019).
DIREITOS ECONÓMICOS, CULTURAIS E SOCIAIS 67
183 Departamento de Atendimento à Família e Menores Vítimas de Violência. 2020/ 2021. Relatório
das Actividades Realizadas de Janeiro a Dezembro de 2020 & 2021. Maputo.
68 DIREITOS ECONÓMICOS, CULTURAIS E SOCIAIS
Como se depreende da tabela 20, acima, o maior número de casos de violência domés-
tica contra a criança ocorreu nos anos 2020 e 2021, altura em que a pandemia estava o
seu pico. Assim, é de se pensar que o isolamento sanitário poderá ter contribuído para
o aumento de casos desta natureza.
O Governo e os seus parceiros têm implementado várias acções para estancar a proble-
mática das uniões prematuras. A título de exemplo, o Ministério do Género, Criança e
Acção Social coordena várias acções em parceria com o Ministério da Educação e De-
184 Selemane, Thomas. 2019. O impacto das uniões prematuras na educação, saúde e nutrição em
Moçambique. ROSC, Maputo, 45 p. Disponível em: https://bettercarenetwork.org/sites/default/
files/2021-04/O%20impacto%20das%20unio%CC%83es%20prematuras%20na%20educa-
c%CC%A7a%CC%83o%2C%20sau%CC%81de%20e%20nutric%CC%A7a%CC%83o%20-%20FI-
NAL_28Junho2019.pdf (acedido em 29.03.2022).
185 Lei n.º 19/2019, de 22 de Outubro, Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras.
186 Departamento de Atendimento à Família e Menores Vítimas de Violência. 2020/ 2021. Relatório
das Actividades Realizadas de Janeiro a Dezembro de 2020 & 2021. Maputo.
DIREITOS ECONÓMICOS, CULTURAIS E SOCIAIS 69
situação agravada pelo stress resultante da perda parcial ou total da renda devido ao
encerramento de algumas actividades.
Constatações
Recomendações
e que cada cidadão tem direito à livre escolha da profissão”. O gozo desse direito foi
afectado devido aos impactos da pandemia que determinaram a redução da actividade
em algumas empresas e encerramento total de outras. Em 2020 e 2021 não houve
progresso atinente ao desenvolvimento e reforma legislativa laboral. O único avanço
que vale a pena mencionar é a redução do horário normal de trabalho, constituição de
equipas de trabalho em turnos, entre outras medidas laborais tomadas administrativa-
mente de forma temporária e não regular.
Tabela 25. Empresas afectadas pela pandemia da Covid-19, entre Abril e Junho 2020
Empresas afectadas pela crise
Província N.º total de empresas
n %
Niassa 2 450 2 116 86,4%
Cabo Delgado 4 634 3 619 78,1%
Nampula 7 862 7 004 89,1%
Zambézia 5 825 4 488 77,0%
Tete 5 324 4 813 90,4%
Manica 4 411 3 591 81,4%
Sofala 9 084 8 432 92,8%
Inhambane 5 382 5 317 98,8%
Gaza 5 414 5 131 94,8%
Maputo Província 13 672 12 857 94,0%
Maputo Cidade 25 327 23 397 92,4%
Total 89 385 80 765 90,4%
Fonte: INE, 2020
A crise no sector empresarial pode ter-se agravado no primeiro semestre de 2021, al-
tura em que o país atingiu o pico da pandemia. Foi nessa altura que o Governo se viu
obrigado a agravar as restrições tendo como foco a paralisação das actividades consi-
deradas não essenciais. As medidas impostas também tiveram impacto no sector in-
formal, onde não foi possível estimar o número de pessoas afectadas, mas sabe-se que
absorve a maior parte da população não integrada no sector formal.
Tabela 26. Empresas e pessoal afectado pela Covid-19, segundo as medidas adoptadas
Empresas Trabalhadores
Medida adoptada
N.º % global N.º % global
Encerramento da empresa 2 316 2,9 43 578 1,3
Suspensão de actividades 3 163 3,9 49 612 1,5
Suspensão de contratos 6 151 7,6 62 700 1,9
Férias colectivas 2 126 2,6 65 512 2,0
Rescisão de contratos 3 619 4,5 77 489 2,3
Regime de rotatividade 45 238 56,0 1 275 413 38,5
Home office 11 564 14,3 210 893 6,4
Redução de horas de trabalho 16 739 20,7 400 785 12,1
Solicitou autorização para trabalhar com
1 132 1,4 53 832 1,6
mais de 1/3
Mudança de actividade, produto ou
3 075 3,8 - -
serviço
Outra medida 16 392 20,3 412 926 12,5
Global 80 765 3 316 361
Fonte: INE, 2020
Constatações
A crise afectou o exercício da actividade empresarial e da iniciativa privada,
com impacto nas relações laborais.
As entidades económicas viram-se obrigadas a ajustar-se à nova realidade
adoptando medidas de toda a índole para manter a produtividade até onde foi
possível.
Recomendações
191 Idem.
192 A suspensão temporária do contrato de trabalho está prevista no artigo 123 da Lei do Trabalho, Lei
n° 23/2007, de 1 de Agosto, que prevê que o empregador suspenda os contratos de trabalho por
razões económicas. No caso em apreço entende-se por razões económicas a crise gerada pela Co-
vid-19, que afectou a actividade normal da empresa em razão da redução da actividade que afectou
o seu nível de facturação.
193 Lei n° 23/2007, de 1 de Agosto.
74 DIREITOS ECONÓMICOS, CULTURAIS E SOCIAIS
196 O Programa Subsídio Social Básico (PSSB) consiste na transferência monetária regular, numa
base mensal e por tempo indeterminado, com objectivo de reforçar o nível de consumo, autono-
mia e resiliência das famílias que vivem no limiar da pobreza, bem como a melhoria da situa-
ção nutricional das crianças que vivem em situação de vulnerabilidade social, revisto através do
Decreto 47/2018 de 6 de Agosto, do Conselho de Ministros. Disponível em: http://alternactiva.
co.mz/2020/04/02/o-trabalho-e-a-proteccao-social-num-contexto-do-estado-de-emergencia/
(acedido em 21.11.2021).
197 O MEF esclarece que os parceiros desembolsaram 34 162 076,24 dólares americanos, com os quais
se iniciou o pagamento de subsídios aos beneficiários existentes nos programas de protecção social.
198 Visando assegurar maior celeridade no processo de pagamento dos subsídios aos beneficiários, os
mesmos foram efectuados com recurso a meios electrónicos, designadamente, através da carteira
móvel. Para o efeito, foi celebrado um contrato para o uso da plataforma digital Mpesa, com a
empresa de telefonia móvel Vodacom Moçambique. Foram desencadeadas negociações com outra
empresa de telefonia móvel, a Movitel para o uso da sua carteira móvel, a eMola. Foram desenca-
deadas também negociações com a banca comercial.
199 MEF, 2020.
76 DIREITOS ECONÓMICOS, CULTURAIS E SOCIAIS
Durante o período em análise (2020 e 2021), o país não registou progressos na revisão
legislativa atinente à indústria extractiva. Lembramos que no seu relatório de 2018
e 2019, a OAM apreciou positivamente a iniciativa do Decreto n.º 31/2012, de 8 de
Agosto (Regulamento Sobre Reassentamento Decorrente da Actividade Económica),
tendo manifestado a preocupação de as alterações não serem abrangentes e pela forma
deficiente como a matéria foi tratada.200 Entre as preocupações da OAM continuam
relevantes os aspectos abaixo elencados:
1. No quadro do direito à justa compensação: é necessário que o regime do
artigo 30 da Lei de Minas201 e o artigo 7 da Lei de Petróleos202 adoptem
a filosofia estabelecida no regime do ordenamento territorial, constante da
Lei n.º 19/2007, de 18 de Julho (Lei do Ordenamento do Território) e do
Regulamento do Ordenamento do Território, aprovado pelo Decreto n.º
23/2008, de 1 de Novembro, segundo os quais o bem expropriado não é to-
mado enquanto a compensação não for paga, o que significa que enquanto
não terminar o processo de reassentamento, não deve haver concessão ou
emissão de licenças de exploração de recursos naturais.
2. No que respeita ao direito ao consentimento livre e informado das comu-
nidades: conforme a interpretação da Comissão Africana dos Direitos do
Homem e dos Povos (ComADHP), o direito à livre disposição dos recursos
naturais, consagrado no artigo 20 da Carta Africana dos direitos humanos e
dos Povos (CADHP), compreende o dever de o Estado informar as comuni-
dades e garantir-lhes o direito ao livre consentimento sobre a concessão dos
recursos naturais nas suas comunidades – Free, Prior and Informed Con-
sent (FPIC). Comparativamente, os artigos 32 da Lei de Minas e 11 da Lei de
Petróleos apenas consagram o direito à informação prévia às comunidades,
as quais não têm o direito de consentimento para a exploração dos recursos
situados nas suas áreas.
3. Segundo a ComADHP, o direito de participação das comunidades no pro-
cesso negocial previsto no artigo 21 da CADHP confere às comunidades lo-
cais o direito de participarem no processo de negociação para a concessão
das suas áreas para a implementação de projectos de prospecção e explo-
ração de recursos naturais. Este processo deverá incluir consultas e diálo-
go baseados no princípio da boa-fé. A Lei de Minas, a Lei de Petróleos e o
Regulamento de Reassentamentos resultantes de Actividades Económicas,
aprovado pelo Decreto n.º 31/ 2012, de 8 de Agosto, asseguram o direito de
participação das comunidades nos procedimentos concessionários, porém,
não estabelecem procedimentos sobre essa participação, nem esclarecem os
respectivos objectivos.
Recomendação
203 Associado a isso está a questão do incumprimento das obrigações com a comunidade e a violação
sistemática de direitos humanos das comunidades afectadas pelos projectos de exploração minei-
ra, algumas vezes apadrinhadas pelas autoridades ou perante a inércia destas. Essa situação mo-
bilizou diversas organizações de defesa dos direitos humanos, incluindo a OAM, com o objectivo
de assistir as comunidades na busca da reposição dos direitos violados e reparação dos danos de-
correntes do incumprimento das obrigações, especialmente na componente de reassentamento. A
violação dos direitos humanos das comunidades e o incumprimento das obrigações para com as
comunidades é recorrente na maior parte dos empreendimentos do sector da indústria extractiva
no país.
204 A indústria extractiva, especificamente minérios e hidrocarbonetos, pode ter impactos económi-
cos através da arrecadação de impostos, geração de emprego e renda para as populações, mas o
seu impacto é degradante para o meio ambiente e para as comunidades na qual está implantada.
Do ponto de vista ambiental a extracção mineira resulta na poluição dos mananciais de água su-
perficiais e subterrâneos por produtos químicos usados na extracção de minérios; contaminação
dos solos; poluição atmosférica resultante da emissão do pó nas centrais de extracção de carvão;
poluição sonora resultante do uso de equipamento de perfuração e de processamento; evasão for-
çada de animais selvagens; destruição da vegetação em todas as áreas de extracção. A nível social,
a exploração dos recursos minerais tem resultado na deslocação compulsiva e reassentamento de
comunidades em áreas que nem sempre oferecem as mesmas condições das que foram “forçadas
a abandonar” e sem direito a compensações justas; destruição de locais de interesse histórico e ce-
mitérios familiares e comunitários, que muitas vezes resultam em conflitos entre as comunidades
locais e as empresas concessionadas, por estas últimas se furtarem de cumprir as suas obrigações
com as comunidades.
DIREITOS HUMANOS NA INDÚSTRIA EXTRACTIVA 81
cias ou lacunas em matérias de protecção dos direitos humanos. O que segue é uma
análise da actuação de duas empresas do sector extractivo relativamente ao cumpri-
mento das normas dos direitos humanos. As empresas referenciadas neste relatório,
designadamente a Jindal e a Anadarko Moçambique foram escolhidas tendo em conta
a intervenção da OAM em processos de violação de direitos humanos envolvendo essas
empresas nos anos transactos. Grosso modo, a análise continua relevante face a algum
desenvolvimento registado em 2020 e 2021 ou por mera necessidade de retomar a dis-
cussão em relação a questões que ainda não foram ultrapassadas.
A Jindal Mozambique Minerais Limitada, subsidiária da indiana Jindal Steel and Power
(JSPL), é uma empresa de exploração mineira que opera no país desde 2013. Tem li-
cença para a exploração mineira na aldeia de Chirodzi, província de Tete. A Jindal foi
denunciada205 pelas comunidades e diversas OSCs de defesa dos direitos humanos por
faltar ao cumprimento da obrigação de reassentar das famílias em comunidades afec-
tadas pelas suas operações. Estava em causa a violação dos princípios estabelecidos no
Regulamento de Reassentamentos Resultantes de Actividades Económicas, aprovado
pelo Decreto n.º 31/2012, de 8 de Agosto.206 O litígio data de 2011. Em 2019 a OAM207
interpôs uma acção judicial junto do tribunal Administrativo.
Em 2020, o Tribunal Administrativo da província de Tete através do Acórdão n.º 02/
TAPT/2020 condenou a empresa a reassentar 70 novas famílias que foram “surgindo”
nas comunidades enquanto se aguardava pelo desfecho do processo de reassentamen-
to. Esse desenvolvimento vai ao encontro da protecção dos direitos humanos.
Anadarko Moçambique
A Anadarko Moçambique está envolvida na exploração do Gás Natural Liquefeito
(GNL) na zona de Palma. Em 2016, a OAM intentou uma acção judicial contestando o
processo do direito de uso e aproveitamento da terra (DUAT) a essa empresa. O litígio
girou em torno da necessidade de se incluir no plano de reassentamento geral da Ana-
darko uma comunidade (Quitupo) não contemplada.208 Em 2019, o Tribunal Adminis-
trativo pronunciou-se dizendo que as comunidades estavam satisfeitas da indemniza-
205 Estava em causa o reassentamento de 289 famílias nas comunidades Cassaco, Luane, Cassica,
Dzinda e Gulo, localidade Chirodzi (distrito de Marrara, província de Tete).
206 Concessão Mineira n.º 3605C.
207 Através do seu projecto de “Monitoria Legal dos Direitos sobre a Terra e Segurança Alimentar das
Comunidades Afectadas pelos Grandes Investimentos”.
208 Salomão, A. Governação Participativa de Terras em Moçambique: Breve Revisão do Quadro Legal
e Desafios de Implementação. Ambiente & Sociedade, São Paulo. Vol. 24, 2022, Ideias em Debate.
2-21 P. Disponível em https://www.scielo.br/j/asoc/a/dmrBw6N499PXXXPrwCFWpch/?forma-
t=pdf&lang=pt (acedido em 17.03.2022).
82 DIREITOS HUMANOS NA INDÚSTRIA EXTRACTIVA
ção paga pela Anadarko. Porém, no que é relevante, o processo de reassentamento das
comunidades não registou avanços em face dos ataques209 dos insurgentes ocorridos
nas imediações das zonas designadas para o reassentamento das comunidades em cau-
sa.
Relativamente ao que aconteceu nos anos transactos (2018/19), ainda subsistem preo-
cupações sobre a observância dos direitos humanos, relacionadas com processos de
reassentamento e exploração de recursos, que envolvem empresas da indústria extrac-
tiva. Entre essas questões, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos identificou al-
gumas fragilidades relacionadas com o gozo dos direitos humanos no quadro da indús-
tria extractiva, a saber:
1. Prevalência de níveis extremamente altos de pobreza e baixo desenvolvi-
mento, o que contrasta com a percepção geral de existência de abundantes
recursos naturais.
2. Fraca capacidade de intervenção comunitária no processo de negociação na
fase das consultas comunitárias.
3. Incumprimento generalizado dos prazos de implementação dos processos
de reassentamento, bem como das promessas acordadas no âmbito das
consultas comunitárias.
4. Deficiências da legislação em relação ao regime do modelo de critérios de
fixação de compensações.
5. Não divulgação das actas das consultas comunitárias para a implantação de
projectos da indústria extractiva.
6. Pouca transparência na gestão de receitas provenientes de fundos dos 2,75%
que devem ser canalizados para as comunidades.
7. Fraco envolvimento dos membros da comunidade nos processos de preser-
vação e protecção ambiental.
8. Incumprimento do princípio da contratação de mão-de-obra local.
9. Fraca capacidade do Governo em monitorar todas as fases de implementa-
ção de projectos da indústria extractiva.
10. Insuficiência de mecanismos de denúncia para que as comunidades possam
agir em caso de ocorrência de irregularidades.
Por sua vez, a OAM210 elencou uma lista de actos que qualifica como violações dos direi-
tos no âmbito da indústria extractiva. No tocante a alguns exemplos concretos, a OAM
pronunciou-se argumentando que:
209 Esses ataques levaram à suspensão das operações de construção da central de processamento de
GNL na Península de Afungi.
210 OAM, 2020.
DIREITOS HUMANOS NA INDÚSTRIA EXTRACTIVA 83
Nome da
Lista de incumprimentos
empresa
Em relação à empresa Vale de Moçambique, a OAM, constatou o seguinte:
1. Falta de auscultação dos líderes comunitários e membros das comunidades
para mapear as reclamações e inquietações.
2. Incapacidade das comunidades reassentadas no bairro 25 de Setembro
para suportar o pagamento mensal da rede pública de abastecimento de
água.
3. Falta de projectos de empoderamento financeiro das comunidades
reassentadas para mitigar a perda dos meios naturais de produção.
Vale Moçambique
4. Falta de planos anuais de responsabilidade social e empresarial das partes
interessadas;
5. Não apresentação anual de relatórios de implementação dos planos de
responsabilidade social.
6. Número de tractores agrícolas disponibilizados à comunidade de Cateme
é insuficiente para o incremento da produtividade agrícola.
7. Falta de apoio à comunidade de 25 de Setembro no plantio de árvores
fruteiras e sombreiras.
No que se refere ao relacionamento com as comunidades na execução da
concessão mineira da Jindal, a OAM constatou os seguintes problemas:
1. Fraca divulgação dos planos de reassentamento às partes afectadas e
Jindal interessadas.
2. Alegada cobrança de 40 000 (quarenta mil meticais) para o desbravamento
das matas na abertura de machambas.
3. Insuficiência de bebedouros para o pasto em Nhamatua.
Fonte: OAM, 2020
5.2 Gestão das Receitas Geradas pela Indústria Extractiva (A Parte que
Cabe às Comunidades)
As Leis de Minas e dos Petróleos alocam uma percentagem das receitas da actividade
de mineira para o desenvolvimento local. Trata-se de 2,75% do imposto da produção
mineira. Esse montante deve reverter a favor das comunidades. A reversão dessas re-
ceitas às comunidades ocorre através do orçamento do Estado, o que tem vindo a acon-
tecer desde 2013. Entre 2014 e 2020, o Governo transferiu um total de 290,3 milhões
de meticais referente aos 2,75% de impostos sobre a produção mineira. A tabela abaixo
mostra o volume de receitas dos impostos sobre a produção mineira em algumas co-
munidades.
VIOLÊNCIA MILITAR NO CENTRO E NORTE DO PAÍS 85
Tabela 31. Total de receitas transferidas para as comunidades no âmbito dos projec-
tos de exploração mineira (2,75%), 2014-2020
Montante em milhões
Província Distrito Localidade/ comunidade
(10^6) de meticais
Pande
Inhambane Govuro 42,5
Maimelane
Manica
Manica Manica 3,8
Penhalonga
Cabo Delgado Montepuez Namanhumbir 68,5
Nampula Larde Topuíto 26,5
Cateme
25 de Setembro
Tete Moatize Chipanga II 145,6
Benga
Marara
Zambézia Chinde Mitange 3,6
Total 290,5
Recomendações
212 A Junta Militar foi constituída em Agosto de 2019, em Piro, nas imediações da Serra da Gorongo-
sa, província de Sofala, num encontro que juntou mais de 80 guerrilheiros da RENAMO, no qual
Mariano Nhongo foi designado líder do grupo. Disponível em: https://www.dn.pt/mundo/braco-
-armado-da-renamo-reune-se-na-gorongosa-para-eleger-novo-presidente-11215639.html
213 Para além disso, acusava Ossufo Momade de ser o responsável pelo rapto e execução dos membros
da RENAMO com ligações a Afonso Dhlakama, antigo líder da RENAMO. Disponível em: https://
tvi24.iol.pt/internacional/renamo/lider-da-oposicao-em-mocambique-diz-se-aberto-para-rece-
ber-inquietacoes-de-grupo-dissidente
214 O Acordo de Paz Definitiva de Agosto de 2019, assinado pelo Governo e pela RENAMO, definiu
entre outros aspectos, as bases para a implementação do processo de desarmamento, desmobili-
zação e reintegração (DDR). Estabeleceu, ainda, o processo de integração dos quadros superiores
da RENAMO na estrutura de comando das FADM e da PRM. O processo de desmobilização e rein-
tegração teve início em Outubro de 2020, envolvendo perto de 300 combatentes. Este processo
foi retomado depois de meses de interregno devido, por um lado, à falta de recursos para o paga-
mento de subsídios aos combatentes desmobilizados e, por outro, ao cumprimento das medidas
restritivas de prevenção da disseminação da Covid-19. O evento teve lugar numa base localizada no
distrito de Mabote, província de Inhambane. Trata-se da primeira de um total de 16 bases a serem
desactivadas em todo o país, num processo que se espera que abranja um total de 5 221 ex-comba-
tentes da RENAMO. Ver mais informações em: Disponível em: https://www.dw.com/pt-002/pa-
z-encerrada-primeira-base-militar-da-renamo-em-mo%C3%A7ambique/a-53801580. O processo
de DDR, conforme estipulado pelo Acordo de Paz Definitiva de Agosto de 2019, prosseguiu, tendo
sido desmobilizados e reintegrados, até finais de 2021, um total de 3 267 ex-combatentes da RENA-
MO, sendo 3 141 homens e 156 mulheres. Esse número representa 63% dos 5 221 ex-combatentes
previstos no referido acordo. Foram igualmente encerradas 11 das 16 bases da RENAMO. As refe-
ridas bases foram desmanteladas em cinco províncias. Trata-se das bases de Savane, Muxúnguè,
VIOLÊNCIA MILITAR NO CENTRO E NORTE DO PAÍS 87
tema em foco.
Já os ataques na zona norte do país, particularmente em alguns distritos da província
de Cabo Delgado, foram perpetrados por supostos insurgentes, vulgo terroristas, até
aqui pessoas pouco conhecidas. Com excepção dos ataques perpetrados por combaten-
tes da RENAMO, que ocorreram até 2019, os temas aqui enunciados serão abordados
com mais detalhe abaixo.
218 Hanlon, Joseph (8 de Janeiro de 2018). «Alleged Islamist base shelled near Mocímboa da Praia».
Club of Mozambique (acedido em 26.01.2018)
219 Disponível em: https://acleddata.com/cabo-ligado-mozambique-conflict-observatory/ (acedido
em 14.03.2022).
220 No país desde Junho de 2021.
221 No país desde Setembro do mesmo ano.
222 Disponível em: https://www.dw.com/pt-002/mo%C3%A7ambique-for%C3%A7a-militar-conjun-
ta-anuncia-morte-de-14-terroristas-em-macomia/a-60237221. (acedido em 11.03.2022).
223 Disponível em: https://www.karingana.co.mz/tag/terroristas/(acedido em 02.03.2022).
224 Disponível em: 00-mortos-em-tres-anos-de-conflito-em-cabo-delgado/(acedido em 02.03.2022).
VIOLÊNCIA MILITAR NO CENTRO E NORTE DO PAÍS 89
Recomendações
7.1 Conclusões
O ambiente de protecção dos direitos humanos em Moçambique em 2020 e 2021 foi
marcado pela ocorrência de eventos atípicos, designadamente ciclones e o surto de
Covid-19. Os ciclones no Centro e Norte do país e um pouco pela região sul, aliados ao
surto da Covid-19 colocaram pressão nos esforços para garantir a protecção e gozo dos
direitos em alusão. Na região centro e norte, a situação agravou-se devido à ocorrência
de conflitos armados, que causaram a deslocação das populações e geraram oportuni-
dades para a violação dos direitos humanos.
Apesar dos desafios, o país continuou a alargar o quadro normativo de protecção dos
direitos humanos, embora de uma forma tímida, num contexto em que o foco era re-
solver a questão da pandemia e os efeitos dos desastres naturais. Perante vários de-
safios reais, deve dar-se seguimento aos esforços no sentido de melhorar o quadro de
protecção dos direitos humanos no país.
7.2 Recomendações
ou calamidade pública.
• Realização de auditorias periódicas e frequentes às instituições públicas
que adquirirem bens e contratarem serviços com fundos de emergência da
Covid-19.
• Identificação e responsabilização criminal dos possíveis desvios de conduta
pelos agentes envolvidos nos processos de contratação pública no âmbito
da Covid-19.
Direito à saúde
REFERÊNCIAS
Documentos Importantes
Acórdão n.º 13/TAPT/20 do Tribunal Administrativo da província de Tete.
Acórdão n.º 5/CC/2020, de 30 de Março.
Código Civil.
Código de Execução das Penas.
Código do Processo Penal.
Departamento de Atendimento à Família e Menores Vítimas de Violência. Relatório das
Actividades Realizadas de Janeiro a Dezembro de 2021. Maputo. 2022.
____. Relatório das Actividades Realizadas de Janeiro a Dezembro de 2020. Maputo. 2021.
___. Relatório das Actividades Realizadas de Janeiro a Dezembro de 2019. Maputo. 2020.
Estratégia de Inclusão de Género no Sector da Saúde (2018 -2023), Plano Nacional de Acção
para o Avanço da Mulher (2018-2024) e Lei da Prevenção e Combate à Uniões Prematuras
(2019).
IPAJ. Relatório Anual de Actividades do 2021.
______. Relatório Anual de Actividades do 2020.
Discurso do Presidente do Tribunal Supremo, Abertura do Ano Judicial de 2022.
Discurso do Presidente do Tribunal Supremo, na Abertura do Ano Judicial de 2021.
Jornal Notícias, edição de 27.08.2020.
Jornal Notícias, edição de 08.07.2020.
Jornal Notícias, edição de 17.07.2020.
Jornal Notícias, edição de 19.06 de 2020.
Jornal Notícias, edição de 11.04.2020.
Lei n.º 19/2019, de 22 de Outubro, Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras.
Lei n.º 20/2014, de 18 de Agosto.
Lei n.º 23/2007, de 1 de Agosto.
Lições e Desafios para a Justiça Criminal”. Organizado pelo REFORMAR – Research for
Mozambique, Março de 2021. - Apresentação feita pelo então Director Geral do SERNAP,
Jeremias Cumbe, no âmbito de uma intervenção no Webinar subordinado ao tema “Um ano
com a Covid-19.
MEPT. Estudo sobre Impacto das Medidas de Mitigação da Covid-19 na Educação Básica em
Moçambique. Maputo, 2020.
MISAU. Anuário Estatístico de Saúde, 2020.
______. Anuário Estatístico de Saúde, 2019.
Constituição da República de Moçambique. Maputo: Assembleia da República, 2018.
OAM. Plano Estratégico da Ordem dos Advogados de Moçambique 2021-2025. Maputo. 2020.
OAM. Relatório de Direitos Humanos 2018/19. 2020.
____. Relatório de Direitos Humanos 2017. 2019.
PGR. Informação Anual do Procurador-Geral da República à Assembleia da República, 2021.
100 REFERÊNCIAS
Sítios da Internet
Acórdão n° 4/CC/2020 de 26 de Março. http://www.ts.gov.mz/images/pdf_files/--_
Ac%C3%B3rd%C3%A3o_n_4-CC-2020_-_Processo_Sumario.pdf (acedido em 27.10.2021).
ADIN – Agência de Desenvolvimento do Norte. 2021. Plano de Reconstrução de Cabo
Delgado Das Zonas Afectadas pelo Terrorismo (2021-2024). https://adin.gov.mz/wp-
content/uploads/2021/11/PRCD-Plano-de-Reconstrucao-de-Cabo-Delgado.pdf (acedido em
22.03.22).
Adriano Nuvunga, Director Executivo do Centro para Democracia e Desenvolvimento
(CDD), afirmou que os prazos introduzidos pelo CPP abrem espaço para abusos. https://
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