Você está na página 1de 107

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Faculdade de Letras e Ciências Sociais (FLCS)


Departamento de Sociologia
Curso: Sociologia

Título:
A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano*

Sheila Mariza da Glória Chemane


(Autora)

Supervisora: Prof.ª Dr. ª Nair Teles

* Monografia de Fim de Curso apresentada à


Universidade Eduardo Mondlane, em cumprimento parcial
dos requisitos necessários para à obtenção
do Grau de Licenciatura em Sociologia

Maputo, Agosto de 2013


UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
Faculdade de Letras e Ciências Sociais (FLCS)
Departamento de Sociologia
Curso: Sociologia

Título:
A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

(Autora)
Sheila Mariza da Glória Chemane

Maputo
Agosto de 2013

O Júri

____________________ _________________________ __________________


(O Presidente) (O Supervisor) (O Oponente)
Declaração de Honra

Eu, Sheila Mariza da Glória Chemane, estudante da Faculdade de Letras e Ciências


Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, declaro por minha honra que o presente
trabalho de fim de curso para a obtenção do grau de Licenciatura em Sociologia, nunca
foi apresentado na sua essência ou parcialmente para a obtenção de qualquer outro grau
académico. E, por este constituir resultado da minha pesquisa pessoal, nele estão
indicadas as fontes e as referências bibliográficas por mim utilizadas e citadas ao longo
do presente trabalho.

A Autora

______________________________________________________________________
(Sheila Mariza da Glória Chemane)

Maputo
Agosto de 2013
DEDICATÓRIA

À minha mãe, Maria de Fátima Manjate, e a minha avó, Marta Manjate


(em memória), pelo exemplo de sabedoria e paciência que sempre me
deram, que fizeram de mim o que eu sou hoje.

i
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar gostaria de agradecer aos meus pais, se não fossem eles eu não
estaria aqui. Sou-lhes grata pela educação e pela formação que me foram dadas, por
terem estado sempre presentes e prontos para dar conselhos e me apoiar nas decisões
que foi tomando ao longo do meu percurso académico e não só.

Aos meus irmãos (Ivan, Diana e Fatiminha), por todo o apoio, dedicação, cuidado e
carinho que me deram e tem vindo a dar ao longo destes anos. Com eles sempre contei
para dividir as minhas alegrias e tristezas. À minha família, em especial a tia Sandra, a
tia Melita e a minha madrinha, pelos conselhos e pelo encorajamento neste percurso.

A Profª. Dra. Nair Teles pelo apoio e conselhos dados durante o percurso académico,
pela disponibilidade que me demostrou e pela sua orientação durante a realização do
presente trabalho, o meu muito obrigada.

Gostaria também de agradecer a todos os professores do departamento de Sociologia


por todos os ensinamentos transmitidos ao longo dos 4 anos, em especial ao Dr.
Baltazar Muianga, pela oportunidade que me abriu na carreira profissional.

Aos membros do Grupo I (Clemente, Lucília, Maguweny, Olga e Olívia), que acabaram
constituindo uma segunda família para mim, pois ao longo dos quatro anos trabalhamos
juntos (sem descanso, até aos fins de semana) e enfrentamos diversas batalhas. Em
especial as meninas, com as quais desenvolvi um laço de amizade forte e que é nutrido
até hoje, pelos puxões de orelha, pelas chamadas de atenção e pela força que me deram
ao longo deste percurso, muito obrigada.

À minha melhor amiga, Rassy, pelo seu apoio ao longo desta longa caminhada

Ao meu namorado por sempre me ter incentivado a terminar o curso, por me ter apoiado
e estado sempre lá quando precisei, muito obrigada.

E a todos aqueles que não foram mencionados, mas que contribuíram para a minha
formação, para que eu seja quem eu sou hoje, acompanhando todos os meus passos,
estando sempre ali para me apoiar e dar-me lições de vida, a vocês, eu só tenho a dizer

Muito Obrigada Por Tudo!

ii
RESUMO

A democracia é constituida por vários princípios, e um deles defende a participação dos


cidadãos no sistema político. Essa participação engloba várias actividades, sendo a
principal o acto de votar, e constatamos que um dos meios utilizados pelos partidos
políticos para mobilizar a população a votar é a publicidade política. Nesse sentido, o
presente trabalho se propôs a compreender como é feita a publicidade política em
Moçambique, analisando não somente o período eleitoral, como também um período
intermédio, que serviu de grupo de controlo no que toca a divulgação da publicidade
política, deste modo escolhemos os anos de 2009 e de 2011. Sendo a publicidade
política apresentada nos meios de comunicação, escolhemos trabalhar com os jornais
impressos, publicados em semanas comemorativas, e utilizamos a análise de conteúdo
como técnica que possibilitou a leitura dos jornais. Para possibilitar a leitura dos dados
obtidos escolhemos a teoria do discurso e acção de Arentd e o conceito de campo
político de Bourdieu.

Da análise dos resultados, foi possível verificar que o campo político moçambicano no
período eleitoral é caracterizado por lutas entre os partidos políticos com vista ao
alcance do poder político, e como forma de fazer com que a sociedade se identifique
com os seus discursos e assim angariarem votos, os partidos políticos nos seus discursos
apelavam para o aumento do emprego, acesso à água, aumento da produção
agrícola/industrial e aumento da alfabetização. No período intermédio verificamos que o
campo era caracterizado por um controlo das actividades levadas a cabo pelo partido no
poder, e as principais questões apresentadas no discurso político prendem-se com o
aumento do emprego, combate a corrupção e promoção da boa governação, aumento do
acesso às tecnologias de informação e comunicação e aumento da produção
agricola/industrial.

Palavras-chaves: Democracia, Novas Democracias, Participação Política,


Publicidade Política, Discurso e Acção, Campo Político.

iii
ABSTRACT

Democracy is constituted by several principles, one of which supports the participation


of citizens in the political system. This participation includes several activities, the main
one being the act of voting, and we have found that one of the means used by political
parties to mobilize people to vote is political advertising. Accordingly, the present study
aimed to understand how is the political advertising made in Mozambique, and for that
we set out to analyze not only the election period, as well as an intermediate period, to
serve as a control group with regard to disclosure of political advertising, so we chose
the years 2009 and 2011. Being that political advertising is presented in the media, we
have chosed to work with newspapers, published in celebratory weeks, and used content
analysis as a technique which enabled the reading of newspapers. To facilitate the
reading of the data collected, we have worked with the theory of discourse and action of
Arentd and the concept of the political field of Bourdieu.

Analyzing the results, it was verified that the Mozambican political field in the election
period is characterized by struggles between political parties towards the achievement
of political power, and as a way to make society identifies with his speeches and so vote
on that parties, political parties in their speeches appealed to increase of employment,
access to water, increase of agricultural / industrial production and increase of literacy.
In the intermediate period we find that the political field is characterized by a control of
the activities undertaken by the party that has the power, and the key questions in
political discourse relate to employment growth, combating corruption and promoting
good governance, increasing access to information and communication technologies and
increase of agricultural / industrial production.

Keywords: Democracy, New Democracies, Political Participation, Political


Advertising, Discourse and Action, Political Field.

iv
Índice

Pag.
Dedicatória i

Agradecimentos ii

Resumo iii

Abstract iv

Lista de Tabelas vii

Lista de Acrónimos viii

Introdução………………………………………………………………………… 1

Capítulo I: Pensando a Democracia ……………………………………………… 7

1. O Conceito de Democracia ………………………………………………… 8

1.1.Democracia: Os seus Princípios ……………………………………………… 12

1.2.Regimes Políticos e suas Tipologias …………………………………………. 13

2. A Democracia em Moçambique ………………………………………………. 24

2.1. A Publicidade Política ………………...…...........................................……. 29

2.1.1. Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio como Variáveis de


Análise……………………………………………………………………………. 33

Capítulo II: Objectivos de Desenvolvimento do Milénio ………………………... 35

1. Objectivos de Desenvolvimento do Milénio ………………………………….. 36

1.1.Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio em Moçambique …………. 42

Capítulo III: A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político


Moçambicano …………………………………………………………………..… 52

1. Democracia, ODM´s ao Discurso do Campo Político ………………………… 53

v
2. Método de Análise …………………………………………………………….. 55

3. Moçambique e o conceito de Democracia …………………………………….. 60

4. Apresentação e discussão dos Resultados …………………………………….. 65

4.1. Período eleitoral – 2009 ……………………………………………………. 66

4.2. Período Intermédio – 2011 …………………………………………………. 69

4.3. Os Dados por Variáveis ……………………………………………………. 73

4.4. A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político ………………… 76

Capítulo IV: Conclusão ………………………………………………………….. 79

1. Conclusão ……………………………………………………………………… 80

Referências Bibliográficas ……………………………………………………….. 83

ANEXOS ………………………………………………………………………… 92

vi
Lista de Tabelas

Pag.

Tabela 1: Tipologia de Governos de Aristóteles …………………………………...… 15

Tabela 2: Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e suas metas ………………… 37

Tabela 3: Variáveis e Indicadores utilizados no trabalho ………………………...….. 60

Tabela 4: Número de jornais lidos …………………………………………..……….. 65

Tabela 5: Resultados obtidos da leitura do jornal “O País” – 2009 ……………..…… 66

Tabela 6: Resultados obtidos da leitura do jornal “Notícias” – 2009 …………..……. 67

Tabela 7: Resultados obtidos da leitura dos jornais de 2009 ……………..…..……… 68

Tabela 8: Resultados obtidos da leitura do jornal “O País” – 2011 …………..……… 70

Tabela 9: Resultados obtidos da leitura do jornal “Notícias” – 2011 …………..……. 71

Tabela 10: Resultados obtidos da leitura dos jornais de 2011 ………………..……… 72

Tabela 11: Resultados obtidos da leitura dos jornais para cada variável
………………………………………………………………………………………… 74

Tabela 12: Frequência de ocorrência dos indicadores nos períodos em análise ...…… 74

vii
Lista de Acrónimos

DOTS - Tratamento de Curto Prazo Directamente Observado

DPT-3 – Vacina contra a difteria, tétano e coqueluche

EP1 – Ensino Primário do 1º Gau

FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique

HB – Hepatite B

HIV – Vírus de Imunodeficiência Humana

HIV/SIDA - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, provocada pelo HIV

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

MDM – Movimento Democrático de Moçambique

ODM´s – Objectivos de Desenvolvimento do Milénio

PIB – Produto Interno Bruto

Renamo - Resistência Nacional Moçambicana

TARV – Tratamento Anti-retroviral

UD – União Democrática

USD - Dólar Norte-americano

viii
ix
A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

INTRODUÇÃO

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 1


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

1. Introdução

A implementação do regime democrático em Moçambique começou a dar os seus primeiros


passos após a adopção da Constituição de 1990 que criou espaço para a implementação do
sistema multipartidário e a realização de eleições regulares. De salientar, que Moçambique
conquistou a sua independência em 25 de Junho de 1975.

Um dos princípios que o sistema democrático implantado em Moçambique defende é a


participação dos cidadãos no sistema político, e essa participação compreende um vasto conjunto
de actividades. Dessas actividades, o acto de votar é considerado como sendo o ponto mais alto
da participação política. E analisando os determinantes do voto, constatamos que um desses
determinantes defende que o que faz com que os cidadãos votem em determinado partido
político é o facto destes se “identificarem” com as propostas apresentadas.

Procurando analisar este determinante, o presente trabalho se propõem a estudar a publicidade


política em Moçambique, procurando analisar os temas que são apresentados pelos partidos
políticos durante as campanhas, pois nelas os partidos políticos apresentam manifestos políticos
contendo as suas propostas de planos de actuação caso sejam eleitos. Para tal, partimos do
princípio que os partidos políticos procuram, através dos seus discursos, mobilizar os cidadãos a
votarem neles.

E como forma de mobilizarem as pessoas através dos seus dircursos, os partidos recorrem a
publicidade política. Defendendo que os cidadãos participam do sistema político porque se
identificam com os temas abordados e que os meios de comunicação procuram dar a conhecer
aos cidadãos o que acontece na sociedade, temos como pergunta de partida, que guiou a nossa
pesquisa: quais são as principais questões apresentadas na publicidade política moçambicana?

E avançamos como preposição provisória que irá fornecer resposta condicional ao problema
levantado, que as principais questões apresentadas espelham aspectos abordados nos Objectivos
de Desenvolvimento do Milénio – ODM’s, aos quais Moçambique subscreveu, porque eles
espelham um conjunto de acções que visam o combate a pobreza e a melhoria de condições de
vida.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 2


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

O papel desempenhado pelos meios de comunicação para a divulgação da publicidade política é


de destacar, pois nem todos os cidadãos têm acesso a fonte directa da informação, então servem-
se dos meios de comunicação para tomar conhecimento do que se passa ao seu redor. E durante o
processo eleitoral, constatamos que existe uma maior concentração, nos meios de comunicação,
de notícias que abordam o processo eleitoral, mostrando como é que as campanhas estão a
decorrer, olhando para os comícios realizados e as campanhas porta-a-porta, entre outros, os
meios de comunicação procuram fazer a divulgação da publicidade política.

Sendo a publicidade política apresentada nos meios de comunicação, para os objectivos do


presente trabalho nos propusemos a trabalhar com a imprensa escrita, procurando a partir da
leitura destes, através do uso da técnica de análise de conteúdo, identificar as questões mais
recorrentes.

Como em Moçambique existem vários jornais, tivemos que seleccionar jornais que serviriam de
objecto de análise. Essa escolha foi guiada com base num estudo realizado em 2010 pela
empresa Intercampus – Estudos de Mercado cujo objectivo, dentre vários, era o de dar a
conhecer a evolução das taxas de audiência para os vários meios de comunicação, e no caso da
imprensa escrita, dar a conhecer quais os jornais mais lidos pelos moçambicanos. Com base
nesse estudo os jornais mais lidos em Moçambique são: jornal “A Verdade” (1º lugar), jornal
“Notícias” (2º lugar) e jornal “O País” (3º lugar)1. E foram estes jornais que seleccionamos para
a realização do presente trabalho.

Como período de análise, escolhemos o ano de 2009, quando se realizaram as Eleições


Presidenciais, Legislativas e para as Assembleias Provinciais pois este é o período eleitoral mais
próximo. E por crermos que a publicidade política apresentada (ideias, valores e princípios)
versavam sobre o estado em que o país se encontrava até ao período eleitoral bem como
propostas de acções a serem concretizadas com vistas a melhoria de condições/desenvolvimento
do país.

Além de fazer a análise sobre o período eleitoral, surgiu a necessidade de fazer uma análise
comparativa com um período intermédio, com vista a analisarmos se as questões levantadas no

1
De salientar que este estudo foi feito em todas as capitais provinciais de 28 de Junho a 28 de Setembro de 2010,
com uma amostra representativa de 35.234 pessoas. O jornal “A Verdade” é o mais lido com 42% de audiência,
seguido pelo jornal “Notícias” com 24% e o jornal “O País” com 8% (http://www.intercampus.co.mz/noticias3.htm).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 3


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

período eleitoral são as mesmas que são abordadas num período não eleitoral. E nesse sentido
escolhemos o ano de 2011, pois neste ano já se haviam passado quase dois anos da realização das
eleições, e restavam três anos para a realização das eleições seguintes.

Para além destes motivos, a escolha de 2009 e 2011 como períodos de análise foi guiada pelo
facto de, tanto em 2009 como em 2011, terem sido definidos como anos em que se faria a
homenagem aos antigos presidentes da FRELIMO2, sendo que o ano 2009 foi tido como “Ano
Eduardo Mondlane” e 2011 como “Ano Samora Machel”.

O objectivo central que guiou a realização do presente trabalho foi o seguinte:

 Compreender a forma como é feita a construção da publicidade política em Moçambique.

Para tal, tivemos especificamente que:

o Colher informações sobre a publicidade política;

o Identificar as principais questões apresentadas na publicidade política;

o Comparar as principais questões referenciadas na publicidade política durante o período


eleitoral e o período intermédio;

o Relacionar as principais questões apresentadas na publicidade com os Objectivos de


Desenvolvimento do Milénio

Como forma de alcançar o objectivo definido utilizamos determinados procedimentos


científicos, como método de abordagem utilizamos o hipotético-dedutivo, que consiste na
formulação de hipóteses para responder a um determinado problema. Usamos como método de
procedimento o monográfico, que defende que o estudo de um caso em profundidade faz com
que o estudo seja considerado representativo. E escolhemos a técnica de análise de conteúdo para
nos permitir a leitura dos jornais seleccionados. De referir que o trabalho que se segue foi guiado
por uma pesquisa quantitativa, onde os resultados obtidos podem ser quantificados.

2
Frente de Libertação de Moçambique, movimento que lutou pela libertação de Moçambique do jugo colonial
português.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 4


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Para possibilitar a leitura dos dados obtidos através da leitura dos jornais escolhemos a teoria do
discurso e a acção de Hannah Arendt e o conceito de campo político de Pierre Bourdieu, pois a
teoria de Arendt (1987) defende que é no espaço público que os políticos apresentam os seus
discursos, e as acções a que eles fazem refêrencia. E como na modernidade a distinção entre o
espaço privado e o espaço público ser ténue, nos socorremos do conceito de campo político de
Bourdieu para delimitar o nosso espaço de análise.

A escolha do presente tema prende-se ao facto de, como se verá ao longo do trabalho, a
participação política em Moçambique ficar restringida a momentos eleitorais, sendo assim surgiu
a necessidade de procurar compreender o que move as pessoas, que normalmente não participam
do sistema político, a participarem dele num período específico.

E esperamos, com o mesmo, contribuir para a literatura existente sobre o cenário político em
Moçambique, apresentando os temas que são referenciados pelos partidos políticos com vista a
angariar votos. Acreditamos que o presente trabalho permitirá compreender algumas questões
apresentadas no discurso político. E por fim, a relevância sociológica do estudo, a que nos
propusemos, reside no entendimento da forma como as propostas políticas são veiculadas pela
imprensa escrita.

Em termos de apresentação, o presente trabalho encontra-se estruturado em torno de 4 capítulos,


sendo que num primeiro momento temos a introdução, onde apresentamos e delimitamos o tema
da pesquisa, os objectivos que a guiaram, e de forma resumida a metodologia e o quadro teórico
que guiou a leitura dos resultados obtidos.

No primeiro capítulo procuramos fazer um enquadramento do conceito de democracia,


começando por apresentar algumas das várias definições do conceito e algumas críticas feitas
sobre essas definições. De seguida, procuramos mostrar também os tipos de democracia e os
princípios que regem o sistema democrático, para depois fazer a abordagem sobre os regimes
políticos e as suas tipologias, pois da implementação dos princípios do sistema democrático
surge a necessidade de se redefinir os regimes políticos e a sua tipologia.

No terceiro momento do primeiro capítulo, procuramos fazer uma análise sobre o tipo de regime
político patente em Moçambique. Depois abordamos a questão da publicidade política em
Moçambique, apresentando ao longo deste subcapítulo o problema de pesquisa que guiou o

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 5


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

presente trabalho, os motivos pela escolha dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio –


ODM´s como hipótese e as variáveis com as quais trabalhamos.

Decorrente do último subcapítulo, no segundo capítulo apresentamos de uma forma breve os


ODM’s, as metas que eles visam alcançar e as ideias que levaram a que se traçasse cada um dos
ODM’s, para depois apresentarmos o estágio em que Moçambique se encontra para cada um dos
ODM´s e a perspectiva de alcance ou não das metas preconizadas.

No terceiro capítulo, apresentamos o enquadramento teórico, a base teórica que serviu de fio
condutor para a explicação do fenómeno em análise. De seguida apresentamos os métodos e a
técnica de análise que utilizamos, bem como a descrição de como a técnica foi aplicada para
possibilitar a leitura e interpretação do material apresentado nos jornais. Antes de procedermos a
apresentação dos resultados, fazemos uma reflexão sobre a aplicação do conceito de democracia
à realidade moçambicana. Depois, apresentamos também os resultados, subdivididos em três
pontos: no primeiro, temos os resultados da leitura relativa aos jornais de 2009; no segundo,
apresentamos os resultados de 2011, e, no terceiro momento encontramos uma leitura global dos
resultados; como também apresentamos a análise feita dos resultados.

E por fim no último capítulo, a conclusão, apresentamos as considerações finais do trabalho.


Depois temos as referências bibliográficas e um total de 3 anexos: no Anexo I apresentamos os
feriados considerados para o presente trabalho e as semanas consideradas para a análise; no
Anexo II apresentamos a evolução do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de
Moçambique ao longo dos últimos anos; no Anexo III apresentamos uma tabela com a situação
de Moçambique para cada um dos ODM’s com relação ao alcance das metas preconizadas.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 6


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

CAPÍTULO I:

PENSANDO A DEMOCRACIA

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 7


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

1. O Conceito de Democracia

O presente trabalho se propõem a abordar a temática da publicidade política em Moçambique,


entretanto antes de discorrermos sobre esta temática surge a necessidade de tratar do conceito de
democracia. Pois, visto que a publicidade política constitui um elemento utilizado, nos últimos
tempos pelos partidos políticos, com vista a angariar votos da população, e essa angariação
enquadra-se dentro do período eleitoral, período em que há realização de eleições quer sejam
internas ou de âmbito nacional.

De salientar que, a realização de eleições constitui um dos vários princípios democráticos, e por
isso pretendemos abordar primeiramente o conceito de democracia, seus princípios, tipos, para
de seguida abordarmos a questão da publicidade política.

O termo Democracia (demo+krato3) tem sua origem na Grécia Antiga, e, de forma simplista,
significa “governo pelo demos, o povo” (Rede Municipal de Bibliotecas Públicas do Concelho de
Palmela, 2009, p. 3). Apesar de haver consenso sobre o seu significado etimológico, existem
várias definições de democracia e consequentemente de regimes políticos democráticos.
Entretanto, podemos agrupá-las com base nos aspectos comuns que nelas existem.

Para Da Silva (S.D.) as significações do conceito de democracia acompanham o momento


histórico, e nesse sentido, pode-se afirmar que a democracia é um processo de convivência
social, onde o poder provém do povo, e será exercido, directa ou indirectamente, pelo povo e em
benefício do povo.

Seguindo nesta perspectiva histórica, tem-se Aristóteles (apud HEYWOOD, 2002), para quem a
democracia é um tipo de governo, onde quem domina é o número, isto é, a maioria. Para além
desse aspecto, a democracia tem incorporada em si o princípio da liberdade, onde todos são
iguais entre si. Na mesma óptica, Abraham Lincoln (apud GARCIA, S.D., p. 5) define
democracia como “o governo do povo, pelo povo e para o povo”.

Ainda neste mesmo grupo de autores, encontramos Kelsen (apud LISBOA, 2006), que a
significa como sendo um regime político que garante a participação do povo nas funções
executiva e legislativa através de um método específico de criação da ordem jurídica, “no sentido

3
Demo=povo e kracia=governo (Rede Municipal de Bibliotecas Públicas do Concelho de Palmela, 2009, p. 3)

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 8


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

de que, (…), haja uma identidade entre governantes e governados, entre sujeito e objecto do
poder, governo do povo sobre o povo” (idem, 2006, p.78). Na mesma linha de pensamento, o
Escritório de Programas Internacionais de Informação4 - EPII (S.D.) defende que na democracia
o povo é que detém o poder soberano sobre o poder legislativo e o executivo.

Outro grupo de autores que trabalham com a temática da democracia chamam a atenção para os
aspectos característicos da democracia, como a igualdade, liberdade, entre outros, sem descurar o
facto de ser o povo quem elege os seus representantes. Neste grupo encontramos Marx, onde na
sua obra “O Capital” defende que na esfera de circulação de mercadorias, encontramos
elementos essenciais da democracia, que são eles a liberdade, igualdade, propriedade e
Bentham5.
“A esfera da circulação ou do intercâmbio de mercadorias, dentro de cujos limites se movimentam
compra e venda de força de trabalho, era de fato um verdadeiro éden dos direitos naturais do homem.
O que aqui reina é unicamente Liberdade, Igualdade, Propriedade e Bentham. Liberdade! Pois
comprador e vendedor de uma mercadoria, por exemplo, da força de trabalho, são determinados
apenas por sua livre-vontade. Igualdade! Pois eles se relacionam um com o outro apenas como
possuidores de mercadorias e trocam equivalente por equivalente. Propriedade! Pois cada um dispõe
apenas sobre o seu. Bentham! Pois cada um dos dois só cuida de si mesmo” (MARX apud PRADO,
S.D, p. 3).

Olhando para os aspectos característicos da democracia, Alexis de Tocqueville defende que a


democracia é um processo futuro das sociedades, e que a igualdade, a liberdade e o
individualismo, são os ideais da democracia, assim como um Estado mínimo, que consiste em o
governo não interferir na vida dos cidadãos, mas sim controlar o cumprimento das regras
estabelecidas, de modo a garantir a coesão social (BRAGA DA CRUZ, 1995).

Na visão de Maia (2004), a democracia consiste num sistema ou construção política cujo
objectivo principal é a concretização, através das instituições, dos ideais de igualdade, liberdade
e participação dos cidadãos na vida pública. Neste grupo, encontramos Pinto Ferreira (apud

4
Escritório de Programas Internacionais de Informação – EPII, Departamento de Estado dos Estados Unidos da
América
5
Jeremy Bentham, um dos fundadores do Utilitarismo, defende que o homem é governado por dois sentidos, o
prazer e a dor, e ao tomar uma decisão ele faz um cálculo sobre o mínimo de dor e o máximo de felicidade, com
base nesse cálculo, o príncipio da utilidade defende que os homens na sua vida, tanto pública como privada
procuram, através de uma atitude prudente, alcançar a felicidade. E na democracia, caberia ao Estado o papel de
garantir a felicidade dos indivíduos (MAIA 2004).
Marx partindo de uma crítica a teoria proposta por Bentham, facto que o levou a cunhar o termo Bentham, defende
que a teoria utilitarista coloca as necessidades individuais antes da existência social. No seu entender é somente
através das relações de troca que os indivíduos mantêm uns com os outros que se deduzir a utilidade de um
determinado acto, ou seja, que existe um primado do social face aos interesses individuais (ALBINATI, S.D).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 9


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

NETO, S.D, p. 3), para quem a democracia é uma “forma constitucional de governo da maioria,
que, sobre a base da liberdade e igualdade, garante às minorias no parlamento o direito de
representação, fiscalização e crítica”.

Num terceiro grupo, Schumpeter (apud FERREIRA, S.D.), para apresentar a sua conceituação de
democracia parte da crítica a definições existentes. Uma prende-se ao facto de se ter a
democracia como um sistema em que o povo toma parte das decisões através da eleição de seus
representantes, que irão fazer valer a vontade do “povo”.

Na visão deste autor, esta concepção defende que o povo tem uma opinião definida e racional
sobre todas as questões, e que o povo objectiva essa opinião, e com base nessa objectivação
escolhem os seus representantes que irão zelar para que essa opinião seja seguida. Ou seja, essa
concepção pressupõe a existência de um bem ou interesse comum, cujos executores e guardiões
são os políticos. Porém, Schumpeter advoga não existir algo que seja um bem comum
unicamente determinado; isto é, que para diferentes indivíduos e grupos, o bem comum irá
significar coisas diferentes (FERREIRA, S.D.).

Schumpeter critica igualmente a significação de soberania popular. O que se chama de governo


do povo é uma ficção; o que existe, na verdade, é o governo aprovado (eleito) pelo povo, pois
este nunca pode, de forma concreta, governar ou dirigir. Nesse sentido, o que existem são
governos para o povo, e não governos pelo povo (FERREIRA, S.D.).

Ainda destaca que a vontade dos cidadãos é um factor político merecedor de atenção, entretanto
é necessário que todos saibam precisamente o que desejam. Porém, isso não acontece, pois a
vontade, os desejos e as opiniões dos indivíduos compõem “um feixe indeterminado de impulsos
vagos envolvidos em torno de palavras de ordem ou de impressões equivocadas” (FERREIRA,
S.D, p.6).

A partir da exposição acima feita, podemos destacar algumas semelhanças e diferenças


conceptuais nestes grupos de definições. A principal semelhança é que têm a democracia como
um tipo de governo/tipo de regime em que os seus representantes são eleitos pelo povo, e
partindo desta principal característica advêm as diferenças.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 10


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Para o primeiro grupo a democracia é um tipo de governo em que o povo elege os seus
representantes, e estes representantes trabalham para e em função da vontade do povo (governo
pelo povo). Já para o segundo grupo a democracia é um tipo de governo em que o povo é que
elege os seus representantes, porém, esses representantes visam salvaguardar alguns direitos
fundamentais dos indivíduos como a liberdade, a igualdade, entre outros.

A diferença entre estes dois grupos é muito ténue, pois os representantes ao trabalharem em
função da vontade do povo acabam salvaguardando alguns dos direitos fundamentais dos
homens. Então podemos aferir que a principal diferença entre estes grupos prende-se no facto de
o segundo grupo enquadrar as suas definições a partir dos direitos fundamentais da pessoa
humana, como sendo o aspecto intrínseco da própria democracia.

O terceiro grupo defende que os representantes eleitos não governam em função da vontade ou
desejos do povo, pois isso implicaria que este conheça as suas aspirações. Na perspectiva deste
grupo os representantes tem por objectivo alcançar decisões políticas, sejam elas legislativas ou
administrativas, e o papel do povo para este grupo cinge-se as eleições dos representantes.

Como corolário, encontramos diferentes princípios de democracia, que são moldados pela forma
como a democracia é implantada numa determinada sociedade.

De referir que existem diferentes tipos de democracia, e fazendo uma análise sobre a
Democracia Directa, Weber coloca-se extremamente céptico a respeito dela, não por acreditar
que ela seja impossível, mas porque ela exige algumas condições que já não se fazem presentes
no mundo contemporâneo. Na visão de Weber
“ (...) o perigo político da democracia de massas para o Estado jaz primeiramente na possibilidade de
elementos emocionais virem a predominar na política. A ‘massa’ como tal (independentemente das
camadas sociais que a compõem em qualquer exemplo particular) só é capaz de pensar a curto prazo.
Pois, como toda experiência mostra, ela está sempre exposta a influências directas puramente
emocionais e irracionais” (WEBER apud DA SILVA e AMORIM, 2006, p. 13).

Com base numa outra afirmação de Weber, podemos inferir que este autor defende a Democracia
Representativa, onde os representantes do povo, reunidos em Parlamentos ou Assembleias,
exercem o poder, pois, “para o político moderno a escola de lutas apropriadas é o parlamento e
as disputas dos partidos perante o público geral; nem a concorrência pelo avanço burocrático

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 11


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

nem qualquer outra coisa se constituirá num substituto adequado” (WEBER apud DA SILVA e
AMORIM, 2006, p. 11).

1.1.Democracia: seus princípios

A democracia está assente em alguns princípios básicos, princípios estes que moldam a forma
como a democracia é implementada em diferentes países.

De acordo com EPII (S.D), a democracia está assente nos seguintes princípios:

1º Democracia é um tipo de governo em que o poder e a responsabilidade cívica são exercidos


pelos cidadãos, quer de forma directa ou através de representantes eleitos através do voto livre;
2º A democracia consiste num conjunto de princípios e práticas que salvaguardam a liberdade
humana, ela é, em si, a institucionalização da liberdade;
3º A democracia apoia-se em dois princípios, governo da maioria e direitos individuais e das
minorias. E, apesar de as democracias respeitarem a vontade da maioria, elas protegem os
direitos fundamentais individuais e das minorias;
4º Nas democracias há a descentralização do governo ao nível mínimo, ou seja, ao nível regional
e local, pois entendesse que o governo deve ser, para as pessoas, acessível e receptivo. E ao
adoptar-se esta prática, as democracias acabam protegendo a população de governos
centralizados;
5º As democracias têm como principal função proteger os direitos humanos fundamentais, e
garantir que os homens tenham acesso a eles direitos, direitos como a liberdade de expressão,
participar plenamente na vida política, económica e cultural da sociedade, entre outros;
6º Nas democracias realizam-se, regularmente, eleições livres e justas, nas quais os cidadãos
devem participar. Nela as eleições devem ser verdadeiras competições pelo apoio do povo;
7º A democracia garante que todos os cidadãos tenham acesso a “mesma” protecção legal, e os
seus direitos devem ser protegidos pelo sistema judiciário, submetendo assim todos os governos
ao Estado de Direito;
8º A democracia reflecte a vida política, social e cultural de uma sociedade, sendo assim há
diferença entre os tipos de democracia. E por serem diferentes, elas baseiam-se nos mesmos
princípios, porém adoptam práticas diferentes;

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 12


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

9º Numa democracia, os cidadãos têm o dever de participar do sistema político que, em


contrapartida, protege seus direitos e as suas liberdades;
10º As sociedades que adoptam o regime democrático estão comprometidas com valores como a
tolerância, a cooperação, entre outros, pois acreditam que para se chegar a um consenso é
necessário um compromisso (facto que nem sempre é realizável).

Numa visão similar a de EPII (S.D.), Maia (2004) defende que a democracia assenta em alguns
princípios básicos, que orientam a forma como ela é implementada, e são:

1º Eleição através do sufrágio universal, onde a vontade do povo é expressa e legitimada por
meio do voto livre para a escolha dos representantes do Estado. O voto constitui-se, assim, num
instrumento de pacificação social, na medida em que reafirma a igualdade política entre os
cidadãos;

2º Através da separação e de controlo de poderes limitam-se as atribuições dos governantes


durante o exercício do poder. Nesse sentido, encontramos a separação entre o poder executivo,
legislativo e judicial;

3º Tem-se a concepção de Estado de Direito que é o garante da liberdade individual e dos


grupos. Este defende a independência dos juízes em relação ao poder político e económico.
Entretanto, o Estado de Direito não defende somente uma igualdade dos direitos como também a
criação de condições igualitárias.

É da implementação destes e de outros princípios democráticos, associados a aspectos que


reflectem a vida política, social e económica de cada sociedade, que vão surgindo novos tipos de
democracia. Esses novos tipos de democracia fazem com que seja necessário uma redefinição do
conceito de regimes políticos e da sua tipologia.

1.2. Regimes políticos e suas tipologias

No que toca a definição do conceito de regime político há que destacar que existem várias
definições, colocando todas elas em destaque a organização do governo, podendo a este aspecto
acrescentar outros. Kelsen define regime político como sendo “a forma de organização dos

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 13


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

governos, mais precisamente, forma de organização do poder de governar” (Kelsen apud


LISBOA, 2006, p. 75).

Outra definição de regime político é a de Duverger (apud NETO S/D), para este autor regime
político
“Constitui um conjunto de instituições políticas que, em determinado momento, funcionam em dado
país, em cuja base se acha o fenómeno essencial da autoridade, do poder, da distinção entre
governantes e governados, aparecendo, assim, como um conjunto de respostas a quatro problemas
fundamentais relativos à:

(1) Autoridade dos governantes e sua obediência;


(2) Escolha dos governantes;
(3) Estrutura dos governantes;
(4) Limitação dos governantes” (DUVERGER apud NETO, S/D, p. 2).

Corroborando a visão apresentada na definição acima, Heywood (2002, p.26) defende que um
“sistema ou regime político é um termo amplo, pois abarca dentro de si para além dos
mecanismos do governo e as instituições do Estado, ele inclui as estruturas e os processos
através dos quais eles interagem com a sociedade6”.

Nesse sentido, regime ou sistema político diz respeito a um subsistema de um amplo sistema
social. “Sistema político é um ‘sistema’ porque há inter-relações dentro de um todo complexo, e
‘político’ no sentido em que essas inter-relações estão relacionadas com a distribuição do
poder, riqueza e recursos dentro da sociedade” (idem, 2002, p. 26).

Quanto a tipologia, há que ressaltar que, a classificação clássica foi apresentada pela primeira
vez por Aristóteles numa análise feita sobre as 158 Cidades-Estado Gregas. A sua classificação
visava responder a duas perguntas: “quem governa?” e “quem beneficia da governação?”.
Partindo destas questões, Aristóteles acreditava que o poder podia estar nas mãos de um
indivíduo, de um pequeno grupo e nas mãos de muitos, e a governação poderia ser feita tendo em
vista o alcance de objectivos dos governantes como também com vista ao alcance dos objectivos
da comunidade. Nesse sentido, temos a seguinte tabela:

Quem governa?
Um Indivíduo Poucos Indivíduos A Maioria

6
Tradução nossa de “a political system or regime, on the other hand, is a broader term that encompasses not only
the mechanisms of government and the institutions of the state, but also the structures and processes through which
these interact with the large society” (HEYWOOD, 2002, p. 26).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 14


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Quem se Governantes Tirania Oligarquia Democracia


beneficia? Todos Monarquia Aristocracia Polity
Tabela 1: Tipologia de Governos de Aristóteles (HEYWOOD, 2002, p. 27)

Para Aristóteles a tirania, a oligarquia e a democracia eram formas de governo imperfeitas pois o
poder estava concentrado nas mãos de um indivíduo, de um pequeno grupo ou das massas, e o
poder era exercido com vista ao alcance dos seus interesses e não dos da população. Enquanto,
na monarquia, aristocracia e polity o poder era exercido com vista ao alcance dos interesses da
população. Estes eram tipos de regimes preferíveis, mas não perfeitos, por isso Aristóteles
defendia uma mistura que combinasse os elementos da democracia e da aristocracia, onde a
governação seria entregue nas mãos da classe média (HEYWOOD, 2002).

Na visão de Lisboa (2006), apesar de existirem vários regimes ou sistemas políticos, os sistemas
básicos são os seguintes: monarquia, aristocracia e democracia. Para este autor, o que diferencia
esses tipos básicos de regimes políticos é a forma como é feita a distribuição do poder. “Quando
esse poder é concentrado em um só indivíduo, temos a monarquia; quando está concentrado em
uns poucos indivíduos, temos a aristocracia; e, quando está nas mãos da maioria do povo, temos
uma democracia” (idem, 2006, p. 75).

De destacar que, este sistema de classificação foi substituído, durante o século XX7, tendo em
conta a grande ênfase que foi sendo atribuída aos elementos constitucionais e institucionais do
jogo político. Nesse sentido, Heywood (2002) defende que pode-se enquadrar historicamente as
actuais classificações em dois períodos. O primeiro que se seguiu logo após a 2ª Guerra Mundial
até as décadas de 1980 e 1990, e o segundo período vai desde a década de 1980 até os dias
actuais.

No primeiro período a classificação dos regimes políticos8 era a seguinte: (i) O primeiro mundo,
capitalista; (ii) O segundo mundo, comunista; e, (iii) O terceiro mundo, em desenvolvimento.
Esta classificação foi feita com base em dimensões económicas, ideológicas, políticas e

7
No século XX o surgimento de novos regimes como o Fascismo na Itália, o Nazismo na Alemanha ou Estalinismo
na Rússia, trouxeram mudanças e fizeram com que se visse o mundo como estando dividido em duas formas/tipos
de regimes políticos, os Estados Democráticos e os Estados Totalitários (HEYWOOD, 2002).
8
Esta classificação surgiu em decorrência das ideologias vigentes durante a Guerra Fria, e ficou conhecida como a
Classificação dos Três Mundos, onde se acreditava que se podia dividir o mundo político em três blocos distintos
(HEYWOOD, 2002).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 15


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

estratégicas. No que toca as dimensões, em termos económicos o primeiro mundo que detinha
15% da população mundial produzia 63%9 do produto interno bruto mundial10; o segundo mundo
com 33% da população mundial produzia 19% do produto interno bruto mundial, e, o terceiro
mundo, com 52% da população mundial, produzia 18% do produto interno bruto mundial
(HEYWOOD, 2002).

Em termos ideológicos, no primeiro mundo predominavam princípios capitalistas como:


empreendimentos privados, incentivos materiais e mercado livre. Enquanto no segundo mundo
predominavam “princípios comunistas como igualdade social, trabalho colectivo e a
necessidade de uma planificação descentralizada” (idem, 2002, p. 29).

Estas diferenças ideológicas implicavam em manifestações políticas completamente diferentes.


No primeiro praticavam-se políticas democrático-liberais, baseadas numa luta competitiva pelo
poder durante o período de realização de eleições; no segundo encontravam-se Estados de
partidos únicos, onde o poder estava centrado nas mãos do partido comunista; no terceiro, na sua
maioria, eram regimes totalitários em que o poder era exercido por monarquias tradicionais,
ditadores ou pelo exército (idem, 2002).

Cada um desses regimes tinha elementos constitutivos distintos. Para Heywood (2002) os países
que estavam no primeiro mundo, podem ser enquadrados no regime democrático liberal, que na
sua visão é uma “forma de governo democrático que faz um balanço entre os princípios e os
limites do governo” (idem, 2002, p. 30), por um lado, e “a ideia de consentimento popular”
(idem, 2002, p. 30), por outro.

Este regime é liberal pois o governo garante a liberdade e protecção dos cidadãos contra o
Estado. É democrático porque se baseia num “sistema de eleições regulares e competitivas,
conduzidas com base no sufrágio universal e na igualdade política” (idem, 2002, p. 30). De
acordo com o autor, os elementos constitutivos deste regime são:

 Governo Constitucional baseado em regras, normalmente legais (idem, 2002);


 Há proteção dos direitos individuais e da liberdade civil (idem, 2002);

9
De acordo com dados relativos ao ano de 1983 disponibilizados pelo Banco Mundial (HEYWOOD, 2002).
10
Tradução de “world’s gross domestic product” (HEYWOOD, 2002, p. 29).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 16


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

 “Institucionalização fragmentarizada e um sistema de verificação e balanço”


(idem, 2002, p. 30);
 Realização de eleições regulares que respeitam o princípio de ‘uma pessoa, um
voto; um voto, um significado’ (idem, 2002);
 No sistema democrático existe uma competição partidária e pluralismo político
(idem, 2002);
 Existe a independência de grupos organizados e dos seus interesses do governo
(idem, 2002);
 Existência de uma economia que advoga o empreendimento privado, que está
assente nos limites do mercado (idem, 2002).

Os países que estavam na classificação de segundo mundo, podiam ser enquadrados no regime
comunista. Pode-se dizer que o comunismo fundamenta-se na organização da vida social baseada
na propriedade colectiva. Este regime é associado ao pensamento de Marx, para quem o
comunismo significava uma sociedade sem classes na qual a riqueza era propriedade comum, a
produção tinha como objectivo satisfazer as necessidades humanas e o Estado se tinha retirado,
permitindo assim uma harmonia e a auto-realização. Os elementos do comunismo ortodoxo são:

 Tem-se o marxismo-leninismo como ideologia oficial (idem, 2002);


 O partido comunista, que tem inerente em si princípios do centralismo
democrático, detém o monopólio do poder político (HEYWOOD, 2002);
 O partido comunista domina a máquina do Estado, criando uma fusão entre o
Estado e o partido (idem, 2002);
 Tem-se no partido comunista o principal comandante da sociedade, a quem
cabe o controlo de todas as instituições, incluindo as instituições culturais,
económicas, recreativas e educacionais (idem, 2002);
 A vida económica era baseada na colectivização do Estado, e na sua
organização através do sistema de planificação centralizada (idem, 2002).

Os países que se encontravam na classificação de terceiro mundo tinham como regime político o
totalitarismo. Pode-se dizer que o totalitarismo é um regime político em que a ordem e a
autoridade eram estabelecidas e mantidas através de uma manipulação ideológica persuasiva, do

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 17


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

terror e da brutalidade. O totalitarismo se diferencia dos outros regimes políticos pois ele procura
alcançar o poder total através da politização de todos aspectos da vida social e individual, nesse
sentido, o totalitarismo implica a abolição do “privado” e da sociedade civil. Os elementos do
totalitarismo são:

 Existência de uma ideologia oficial (idem, 2002);


 Estado de partido único onde o líder é ‘todo-poderoso’ (idem, 2002);
 Existe uma espécie de ‘policiamento terrorista’ (idem, 2002);
 Há um monopólio sobre os meios de comunicação (idem, 2002);
 Monopólio do exército (idem, 2002);
 O Estado detém o controle de todos os aspectos da vida económica
(HEYWOOD, 2002).

De ressaltar que, a partir dos anos de 1970 a 1990 foi difícil manter a classificação acima
apresentada, pois as mudanças que foram acontecendo inviabilizaram a manutenção desta
classificação de forma estrita. Mudanças como o desenvolvimento económico de alguns Estados
do Médio Oriente, do Este Asiático e da América Latina, acompanhado, em contrapartida, por
um maior empobrecimento da África subsaariana. E, o avanço da democratização na Ásia,
América Latina e África, nos anos 1980 e 1990, o que significou que países que estavam no
grupo terceiro mundo já não eram governados exclusivamente por regimes autoritários
(HEYWOOD, 2002).

Apesar dessas mudanças, o facto mais importante que fez com que se abandonasse a
classificação dos “três mundos” foi a queda do regime comunista ortodoxo da União das
Repúblicas Sociais Soviéticas (URSS), que levou à uma “abertura para o processo de
liberalização política e reformas no mercado” (idem, 2002, p. 30). Corroborando com esta ideia,
Aron (apud FERREIRA, S. D, p. 4) defende que

“A valorização da democracia relaciona-se com a desilusão com as experiências socialistas, com o


estranho destino de uma ideia que começou sendo um humanismo prometético e culminou na
monstruosa tirania Estalinista ou numa opressão totalitária e despótica sem similares na História
moderna”.

Em consequência desta “desilusão”, Heywood (2002) defende que tem sido difícil aos teóricos
elaborarem uma tipologia que abarque os contornos do novo cenário político mundial, e é por

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 18


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

este motivo que o autor propõe uma outra classificação que tome em conta os aspectos
económicos, políticos e culturais das sociedades. Na sua visão os regimes são caracterizados, em
menor dimensão, por aspectos políticos, económicos ou culturais, e em maior dimensão, pela
forma como esses aspectos (políticos, económicos e culturais) interagem entre si na sociedade.

Esta proposta de classificação de Heywood (2002) tem a particularidade de enfatizar o efeito que
os arranjos políticos e económicos têm e que variam de sociedade para sociedade, pois eles
dependem do contexto cultural.

Na sua nova classificação11, Heywood (2002) defende que existem, no mundo moderno, 5 tipos
de regimes. Sendo os seguintes:

 Poliarquias Ocidentais12

Para Heywood (2002), este regime é equivalente a democracia ou democracia liberal, e optou-se
pelo termo poliarquia pois democracia liberal, às vezes, é tida como uma ideia política e, em
consequência disso, é revestida de implicações normativas; e porque o uso do termo poliarquia
implica que se reconhece que estes regimes não conseguem alcançar na totalidade os princípios
da democracia.

De referir que o termo “poliarquia” foi utilizado pela primeira vez por Dahl e Lindblom na sua
obra “Politics, Economics and Welfare” publicada em 1953, e fazia referência a regimes que se
distinguem pela combinação de duas características principais:

1ª) há uma relativa tolerância a oposição, que é suficiente para controlar as tendências
arbitrárias do governo, tal facto é garantido por um sistema competitivo de partidos, garantias
institucionais e protecção da liberdade civil, e, por uma sociedade civil vigorosa e saudável
(HEYWOOD, 2002);

2ª) as oportunidades para a participação na política devem ser abertas o suficiente para
garantir um nível confiante de sensibilidade popular, e para que tal aconteça há a existência de

11
De referir que os próprios regimes estão sempre em mudança e, como consequência, as classificações dos regimes
estão sempre em mudança, com vista a abarcar as mudanças que vão acontecendo no campo político.
12
O título é tradução de Western Polyarchies, regime patente no norte da América, na Europa ocidental e
Australásia (HEYWOOD, 2002).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 19


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

eleições competitivas e regulares, que operam como um mecanismo através do qual as pessoas
podem controlar, e se necessário, mudar de líderes (HEYWOOD, 2002).

Na visão de Heywood (2002), todos os Estados que realizam eleições multipartidárias têm
características da poliarquia. Porém, as poliarquias ocidentais são mais distintivas e particulares
pois, são marcadas por serem democracias representativas e organizações capitalistas
económicas, como também por uma orientação cultural e ideológica que deriva do liberalismo
ocidental, onde o individualismo liberal13 constitui uma característica marcante.

De salientar que dentro do regime poliárquico existe uma divisão relativa ao tipo de governo, se
o poder deve ser centralizado e majoritário ou fragmentado e pluralista. O primeiro grupo
defende que o poder deve ser centralizado, neste tipo de governo as democracias majoritárias são
organizadas ao longo das linhas parlamentares de acordo com o modelo Westminster14, e os
elementos deste regime são:

 “Governo de partido único” (HEYWOOD, 2002, p. 34);


 Falta de separação de poderes entre o executivo e a Assembleia (idem, 2002);
 Uma Assembleia que é ‘unicameral’ ou, com traços muito fracos, ‘bicameral’
(idem, 2002);
 “Sistema bipartidário” (idem, 2002, p. 34);
 “a single-member plurality or first-past-the-post electoral system” (idem,
2002, p. 34);
 “Governo unitário e centralizado” (idem, 2002, p. 34);
 “Uma Constituição acessível e uma Assembleia soberana” (idem, 2002, p.
34).

O segundo grupo é defensor da divisão do poder através do sistema governamental e partidário,


tem tendências consensuais ou pluralistas, e os seus principais elementos são:

 Governo formado por coligação (idem, 2002);

13
O individualismo é visto como sendo um dos valores da cultura ocidental, que faz referencia ao facto de cada ser
humano ser único, e a sociedade deve proporcionar as condições necessárias para que cada um possa alcançar os
seus interesses e suprir as suas necessidades (HEYWOOD, 2002).
14
“Westminster model é um tipo de governo em que o poder executivo é exercido (em teoria) em Assembleias ou
Parlamentos” (HEYWOOD, 2002, p. 33).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 20


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

 Existe uma separação entre os poderes do executivo e da Assembleia (idem,


2002);
 “Um sistema ‘bicameral’ efectivo” (idem, 2002, p. 34);
 Caracterizado por um sistema multipartidário;
 “Representação proporcional” (idem, 2002, p. 34);
 “Federalismo ou ‘devolution’” (idem, 2002, p. 34);
 “Uma constituição Codificada e uma Carta de Direitos” (idem, 2002, p. 34).

 Novas democracias15

Novas Democracias são regimes em que a consolidação do processo democrático está


incompleta, ou seja, ainda há vestígios da existência do antigo regime16. Este regime é
característico de países que com a queda do comunismo adoptaram a democracia, que está
baseada no modelo ocidental liberal, e o elemento central deste regime foi a adopção de eleições
multipartidárias e a introdução de reformas económicas no mercado (HEYWOOD, 2002).

Neste regime tem-se a coexistência de elementos de regimes diferentes, democracia e


comunismo ou autoritarismo. Países que têm este regime enfrentam problemas que os países que
tem o regime poliárquico não tem, como:

- a repressão e a censura da oposição patente nos regimes comunistas fizeram com que a cultura
cívica de participação política não se desenvolvesse (HEYWOOD, 2002);

- insegurança económica gerada pela transição da planificação centralizada para o capitalismo,


que fez com que os níveis de desemprego, inflação e desigualdade social crescessem (idem,
2002); e,

- fragilidade do poder do Estado, principalmente quando o Estado entra em contacto com forças
que durante o regime comunista estavam suprimidas17 (idem, 2002).

15
O título é tradução de New Democracy (HEYWOOD, 2002, p. 34).
16
Estes regimes também são tratados por semi-democracias, que são regimes nos quais características do regime
democrático e do regime autoritário operam em simultâneo, numa combinação harmoniosa (HEYWOOD, 2002).
17
Um exemplo disso, são as lutas étnicas que começaram a existir nas novas nações que surgiram do colapso da
URSS (HEYWOOD, 2002).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 21


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

 Regimes do Leste Asiático 18

Refere-se a países do Leste Asiático que se destacaram pelo seu elevado desenvolvimento
económico, que não são necessariamente democráticos, e que são influenciados por ideais
confucionistas19 e por valores asiáticos20. Estes regimes têm os seguintes elementos:

 São orientados por objectivos económicos e não por políticos, a sua prioridade
é aumentar o crescimento da economia e a prosperidade, ao invés de aumentar
a liberdade individual e o senso de liberdade civil (idem, 2002);

 Há um governo forte (idem, 2002);

 O elemento precedente é acompanhado por uma disposição para respeitar os


líderes derivada dos ideais confucionistas de dever, lealdade e disciplina
(idem, 2002);

 Grande ênfase na comunidade e coesão social, onde a família desempenha um


papel principal para tal (HEYWOOD, 2002).

 Regimes islâmicos21

Faz referência a regimes, que após a “desilusão” com o comunismo, foram reconstruidos com
base em ideais islâmicos, criando assim Estados ou regimes Teocráticos. Porém, o Islão não é
somente uma religião, é um modo de vida que define como os indivíduos devem se comportar
tanto no âmbito económico, político e moral, nesse sentido. O Islão, enquanto um regime
político, visa a construção de uma teocracia em que a política e outros assuntos são estruturados
de acordo com princípios religiosos (idem, 2002).

 Regimes militares22

18
O título é tradução nossa de East Asian Regimes (HEYWOOD, 2002, p. 36).
19
Confucionismo é um sistema de ética, que se preocupa com temas de relações humanas e o cultivo do self, através
da capacidade para o desenvolvimento humano e do potencial para a perfeição alcançável através da educação
(HEYWOOD, 2002).
20
Valores asiáticos fazem referência a valores que reflectem as origens da cultura e religião das sociedades asiáticas
(HEYWOOD, 2002).
21
O título é tradução nossa de Islamic Regimes (idem, 2002, p. 37)

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 22


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

São regimes que se baseiam no poder militar e na repressão sistemática para a manutenção do
poder, e por isso podem ser classificados como regimes autoritários. Os seus principais
elementos/características são:

 Os lugares de destaque no governo são ocupados com base na posição que os


militares ocupam no exército (idem, 2002);

 Os arranjos políticos e constitucionais são suspensos e as instituições através


das quais a oposição se expressava, como as Assembleias eleitas e a Imprensa
independente, são enfraquecidas ou abolidas (idem, 2002).

Há dois tipos de regimes militares: 1º) Junta23 militar, neste tipo, as forças armadas assumem o
controlo directo do governo, e operam através de uma forma de governo militar colectivo ao
comando de um concelho de oficiais que representam o exército, a força aérea e a marinha; 2º)
“ditadura personalizada apoiada pelos militares”24, neste caso um único indivíduo ganha a
proeminência dentro da Junta ou regime, e este indivíduo é amparado por um culto de
personalidade que visa transformá-lo numa autoridade carismática. Neste último tipo, a lealdade
das forças armadas é o factor decisivo que suporta este tipo de regime (HEYWOOD, 2002).

Nesse quadro complexo de significações, tipos, princípios, regimes políticos democráticos, surge
a necessidade de discorrermos sobre a democracia em Moçambique, fazendo uma apreciação
sobre o regime vigente, suas características e elementos, na medida em que o nosso estudo à ela
está relacionado.

2. A Democracia em Moçambique

Com base nos tipos de regimes anteriormente expostos podemos afirmar que a democracia
moçambicana encontra-se na classificação de Nova Democracia, pois defendemos que o seu
regime político ainda está no processo de solidificação.
22
O título é tradução nossa de Military Regimes (idem, 2002, p. 38)
23
Junta é um concelho, normalmente militar, que alcança o poder através de revoluções ou golpes de Estado
(HEYWOOD, 2002).
24
Designação do regime é uma tradução nossa de “military-backed personalized dictatorship” (HEYWOOD, 2002,
p. 39)

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 23


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Esta afirmação é fundamentada no facto de, como defende a tipologia apresentada por Heywood
(2002), países que tem este regime vigente são países que encontram-se implantando ou já
implantaram a democracia, porém, esta democracia ainda não está solidificada. De salientar que
o regime democrático em Moçambique está vigente a menos de 20 anos.

Corroborando a nossa visão, Sitoe et al. (2006) defendem que apesar da introdução da
democracia multipartidária em Moçambique ter sido feita através da Constituição de 1990, nos
dias actuais essa democracia ainda enfrenta problemas, que são derivados principalmente do tipo
de democracia que foi implementada, que é ‘adversarial’ e muito próxima do modelo do
elitismo competitivo.

Ainda nesta ordem de ideias, De Tollenaere (2002) defende que Moçambique adoptou a
democracia na chamada “terceira onda de democracia”, e para se passar de um regime
autocrático para um regime democrático há três fases: abertura, catalisação e consolidação.

“No caso de Moçambique as primeiras duas etapas coincidiram com o processo de paz. A aprovação
de uma nova constituição (1990) e as negociações de paz podem ser consideradas como a abertura. A
implementação do Acordo Geral de Paz e as primeiras eleições multipartidárias constituem, (…), a
fase de catalisação. O que restava era a consolidação da jovem democracia” (idem, 2002, p. 228).

E essa consolidação seria alcançada através da criação ou reforço de instituições como o sistema
eleitoral, o parlamento, uma administração pública capaz, uma justiça neutra e eficiente e
desenvolvimento dos media.

Corroborando com a visão De Tollenaere, Sitoe et al. (2006) defendem que os primeiros passos
para a democratização de Moçambique foram dados através: da adopção de uma Constituição
multipartidária (1990); da assinatura dos Acordos Gerais de Paz em Roma em 1992 que pôs fim
a guerra civil entre o governo da Frelimo e a Renamo; e, com a realização das primeiras eleições
gerais multipartidárias em 1994 e das primeiras eleições autárquicas em 1998.

Entretanto, apesar de entendermos que o regime patente em Moçambique seja Nova Democracia,
não podemos assumir que as características dos outros países com este tipo de regime sejam as
mesmas em Moçambique, pois como defende Heywood (2002), a forma como os factores
políticos, culturais e económicos interagem na sociedade demonstram características específicas
dessa sociedade/regime. Nesse sentido, o regime democrático em Moçambique apresenta
características próprias.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 24


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Baseando-nos numa análise feita por Sitoe et al (2006) sobre os partidos políticos e o
desenvolvimento político em Moçambique, podemos reter os seguintes elementos, como sendo
elementos constitutivos da democracia moçambicana:

 No regime presidencial moçambicano há uma separação de poderes entre o executivo,


o legislativo e o judiciário (idem, 2006);
 Os membros do parlamento são eleitos por um período de 5 anos. A eleição dos
membros da Assembleia é baseada na ‘representação proporcional’, onde os
deputados são eleitos com base em listas provinciais, onde cada província é tida como
um círculo eleitoral. Os partidos precisam de um mínimo de 5% dos votos para
poderem ter representação na Assembleia (idem, 2006).
 O sistema político moçambicano oscila entre o sistema de partido dominante e o
sistema bipartidário, e tende a ser bipartidário (idem, 2006);
 Eleições multipartidárias regulares realizadas de 5 em 5anos, transparentes, livres e
justas (idem, 2006);
 A escolha dos governantes é feita com base no que vem estipulado na Constituição da
República, e obedece aos princípios nela definidos (idem, 2006).

De referir que, na visão de Heywood (apud SITOE et al., 2006), o sistema do partido dominante
consiste num sistema “em que um número de partidos compete pelo poder em eleições regulares
e populares, mas são dominadas por um partido que goza consequentemente de períodos
prolongados no poder” (SITOE et al., 2006, p. 16). E o sistema bipartidário consiste num

“Sistema onde os dois maiores partidos tem uma estrutura piramidal e disciplina claras, tem, aos
olhos dos seus membros, diferenças continuadas em termos dos seus programas, e tem tipicamente
uma diferença substancial entre a composição social das suas elites” (JUPP apud Sitoe et al., 2006, p.
16).

Para os autores o sistema político moçambicano oscila entre o sistema de partido dominante e o
sistema bipartidário, pois observando o resultado das eleições é esse o cenário que se nos
apresenta. Num primeiro momento, nas eleições de 1994 e de 2003 há a impressão que em
Moçambique o vigente é um sistema bipartidário, com as duas maiores forças políticas a
disputarem o poder (idem, 2006).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 25


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Procurando fundamentar este facto, os autores defendem que, nas eleições de 1994, o partido
Frelimo e a Renamo venceram 82% dos votos validos, sendo que 44% foram para a Frelimo e
38% para a Renamo, e para além destes partidos a UD conseguiu uma percentagem de 5% o que
lhe dava acesso a lugares na Assembleia da República. Para além destes partidos, não houve
nenhum outro partido que conseguiu alcançar a fasquia dos 5%, deixando a Renamo e a Frelimo
como sendo os partidos com maior destaque na área política (tendo 44% e 51% respectivamente)
(idem, 2006).

Nas eleições de 1999, o partido Frelimo e a Renamo venceram 88% dos votos válidos, sendo que
49% foram para Frelimo e 39% para a Renamo. E como não houve nenhum outro partido que
conseguiu a fasquia dos 5%, estes dois eram os únicos partidos com assentos no Parlamento.
Nesse âmbito a discussão sobre o futuro do país girava em torno destes dois partidos (SITOE et
al., 2006).

Outro facto que os autores procuram destacar nas eleições de 1999 é que houve um aumento de
eleitores tanto para o candidato da Frelimo como também para o candidato da Renamo, apesar da
percentagem não ter variado muito (de 38% para 39%). O candidato da Renamo teve um
acréscimo de 500 000 votos com relação as eleições de 1994, enquanto o candidato da Frelimo
teve acréscimo de 300 000 votos (idem, 2006).

De referir que, nestas eleições a Renamo concorreu como Renamo-União Eleitoral, em que este
partido fez uma coligação com 10 partidos minoritários com o intuito de “evitar a divisão dos
votos dos eleitores que não apoiavam a Frelimo” (SITOE et al., 2006, p. 20), como também
uma forma de garantir que esses partidos apoiassem a Renamo e o seu candidato.

Na visão dos autores, os partidos minoritários aceitaram fazer esta coligação pois ainda não
haviam construído uma estrutura organizacional que cobrisse todo o país ou uma parte
significante deste, e estes partidos tinham as suas sedes na Cidade de Maputo, perto dos seus
líderes (idem, 2006).

Apesar da Renamo ter optado por não participar das primeiras eleições autárquicas, o que acabou
resultando na vitória do partido Frelimo em todas autarquias, o cenário nas segundas eleições
autárquicas foi diferente, com a participação da Renamo-União Eleitoral no pleito, o que resultou

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 26


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

na vitória da Renamo em 4 municípios. A Frelimo conseguiu vitória em 28 municípios, inclusive


em municípios, em que nas eleições gerais a vitória ia sempre para a Renamo (idem, 2006).

Este facto significou que pela primeira vez foi eleito um corpo governativo não era constutuido
por membros do partido Frelimo, bem como a Renamo aumentava a sua participação nas
instituições do país, acrescentando a governação dos Conselhos Municipais, a sua representação
no parlamento, no exército e nos órgãos eleitorais. Além disso, os resultados indicavam que a
Renamo ganhava experiência de governação sobre o contexto moçambicano (idem, 2006).

Porém, nas eleições de 2004 constata-se que Moçambique está se dirigindo para um sistema de
partido dominante, pois com base nos resultados das eleições de 2004 o que se notou foi que o
partido Frelimo teve um acréscimo na sua representação no parlamento, indo dos 133 assentos
que tinha em 1999 para 160 assentos em 2004, o que significava que a Renamo perde 27
assentos, indo dos 117 assentos que detinha em 1999 para 90 em 2004 (SITOE et al., 2006).

O que significa, na visão de alguns comentadores citados pelos autores, que o partido Renamo se
fragiliza, e que a Frelimo, aos poucos, se torna no partido dominante do país. Outro facto a
salientar-se nestas eleições, prende-se com o facto de pela primeira vez ter-se verificado uma
transferência de poder pacífica dentro do partido Frelimo (idem, 2006).

Os autores entendem que a afirmação de que o partido Frelimo estaria se tornando no partido
dominante requer um maior aprofundamento, pois tal afirmação deve merecer uma análise mais
aprofundada dos dados obtidos na eleição de 2004. Os resultados relacionam-se com o grau de
abstenção do que com a redução de eleitorado que suportava o partido Renamo.

Analisando os níveis de abstenção, os autores constatam que nas eleições de 2004 os níveis de
abstenção foram elevados, atingindo os 64% contra os 13% das eleições de 1994 e 30% das
eleições de 1999. Para além dos níveis de abstenção, os autores defendem que o partido Frelimo
foi mais eficaz em fazer com que o seu eleitorado se dirige-se às urnas, criando assim a ideia que
o eleitorado da Renamo diminuía (idem, 2006).

Assim, o sistema que vigora hoje em Moçambique é considerado como bipartidário em que os
resultados variam com os níveis de abstenção, e os resultados das eleições/votos válidos apontam

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 27


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

para essa bipartidarização, onde os dois partidos (Frelimo e Renamo) detêm a maioria dos votos
(82% nas eleições de 1994, 88% nas eleições de 1999 e 92% nas eleições de 2004) (idem, 2006).

A concepção de sistema de partido dominante deve-se ao facto de o partido Frelimo ter


aumentado a sua representação no parlamento, o que na sua visão demonstra que nas primeiras
duas eleições gerais o padrão dos resultados era um e nas terceiras eleições (2004) o padrão dos
resultados sofreu alguns desvios fazendo com que se criasse a falsa imprensão de sistema do
partido dominante (idem, 2006).

Nas eleições de 2009 apareceu um novo partido político, o MDM (Movimento Democrático de
Moçambique), que por causa do peso com que surgiu na arena política trouxe consigo muitas
expectativas e se apresentava como uma alternativa aos partidos políticos dominantes, Frelimo e
Renamo (CHICHAVA, 2010). Podia-se argumentar que este partido iria abalar o sistema
bipartidário patente em Moçambique (idem, 2010).

Porém, apesar de ter conseguido bons resultados nas eleições presidenciais de 2009, como a
eleição de mais de 5 deputados em representação de algumas províncias (círculos eleitorais) na
Assembleia da República, e os resultados que o candidato deste partido à presidência obteve,
Chichava (2010) defende que o MDM ainda não tem forças para abalar o sistema bipartidário
moçambicano, e para este partido poder mudar esse sistema, teria que criar uma estrutura mais
forte,

“Para vencer a Frelimo, ou impor-se politicamente, será preciso que o MDM se transforme numa
‘máquina’ política bem organizada, estruturada e disciplinada e com militantes bem formados que,
não podendo ser pagos, consigam ser dedicados e que sejam capazes de resistir aos ‘sete milhões’
(…) ” (CHICHAVA, 2010, p. 21).

De referir que, em Moçambique, com base em dados disponibilizados no portal do governo da


República de Moçambique25, temos actualmente 4726 partidos políticos inscritos, porém desses,
somente 3 têm, actualmente, destaque na arena política moçambicana, com assentos na
Assembleia da República. Os restantes partidos surgem em períodos eleitorais e depois ficam
num “silêncio profundo” à espera do período eleitoral seguinte.

25
Com base nos dados disponíveis em http://www.portaldogoverno.gov.mz/Informacao/politica/sistema-
politico/part_pol/
26
São 47 partidos sem incluir o MDM, e outros partidos políticos que possam ter surgido depois das eleições de
2004.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 28


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

2.1. A Publicidade Política

Como vimos, um dos pilares da democracia, segundo EPII (S.D), é o dever e o direito que os
cidadãos têm de participar no sistema político. Esta perspectiva é compartilhada por Maia
(2004), que afirma que a democracia tem como um dos seus princípios reguladores a
participação dos cidadãos no sistema político.

Entretanto, a participação política é feita de várias formas27, sendo a eleição dos


governantes/representantes por parte dos cidadãos considerada um dos seus pontos altos.

De referir que, na visão de De Tollenaere (2002) e Sitoe et al. (2006) a realização das primeiras
eleições em Moçambique constituiu um dos passos decisivos para a implementação da
democracia, o que significa que, uma das várias formas de participação política já se encontrava
presente na democracia moçambicana desde o seu período embrionário.

E se no período embrionário, a democracia moçambicana garantia a participação dos cidadãos no


sistema político através da eleição dos seus representantes, no seu período de consolidação, ela
garante a participação dos cidadãos através de diferentes maneiras. De acordo com a
Constituição da República de Moçambique (2008), no tocante a participação política, para além
da criação e associação a partidos políticos e organizações sociais,
“O povo moçambicano exerce o poder político através do sufrágio universal, directo, igual, secreto e
periódico para a escolha dos seus representantes, por referendo sobre as grandes questões nacionais
e pela permanente participação democrática dos cidadãos na vida da Nação” (idem, 2008, p. 31).

De referir que, para os efeitos deste trabalho, a participação política corresponde a um


“Conjunto de actos e de atitudes que aspiram a influenciar de forma mais ou menos directa e mais ou
menos legal as decisões dos detentores do poder no sistema político ou em organizações políticas
particulares, bem como a própria escolha daqueles, com o propósito de manter ou modificar a
estrutura do sistema de interesses dominantes” (PASQUINO, 2002, p. 50)

Entretanto, num estudo realizado por Ivala (2000) sobre a participação política em Moçambique,
o autor concluiu que esta, enquanto uma actividade que envolve a participação da maioria da

27
Na visão de Sani (apud Ivala, 2000) a participação política engloba várias actividades, dentre elas o acto do voto,
a militância num partido político, a participação em manifestações, a contribuição para uma certa agremiação
política, a discussão de acontecimentos políticos, a participação num comício ou numa reunião de secção, o apoio a
um determinado candidato no decorrer da campanha eleitoral, a pressão exercida sobre um determinado dirigente
político, a difusão de informações políticas.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 29


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

população, desde a proclamação da independência nacional (1975), pode ser resumida na


participação em comícios promovidos por formações políticas, nas eleições internas ao nível de
partidos políticos e, mais recentemente, nas eleições gerais realizadas em 1994 e 1999.

Neste sentido, fica patente o facto de que a participação política em Moçambique restringe-se a
momentos eleitorais, de eleições internas ou gerais, quando os cidadãos vão depositar o seu voto,
após um período de campanha e comícios eleitorais, para a eleição dos seus representantes. E,
durante o período eleitoral (para eleições gerais), assiste-se a um forte uso dos meios de
comunicação, para além dos comícios eleitorais e campanhas porta-a-porta, como forma de
mobilizar ou ganhar o voto dos eleitores.

E, se a participação política fica restringida aos momentos eleitorais, a publicidade política


começa a desempenhar um papel crucial. Pois, como defende Schumpeter (apud FERREIRA,
S.D), ela visa, recorrendo a técnicas adoptadas pela publicidade comercial, formar, manipular e
condicionar a vontade do eleitor. A racionalidade que está por detrás do comportamento do
eleitor não é baseada na observação, na interpretação objectiva dos factos e na capacidade de
tirar conclusões racionais. Mas sim é motivada por elementos irracionais, onde os indivíduos
transformados em multidões psicológicas, na decorrência da aglomeração, agem de acordo com a
influência dos meios de comunicação.

Corroborando com esta ideia, Albuquerque (2004), analisando o uso dos meios de comunicação
nas campanhas eleitorais brasileiras, defende que há um crescente uso da publicidade política ou
propaganda política por parte dos partidos políticos com o objectivo de divulgar as suas ideias,
princípios e valores políticos.

O autor defende também que a publicidade/propaganda política brasileira se tem mostrado um


recurso bastante eficiente nas campanhas eleitorais, “tendo impacto sobre uma parcela
significativa do eleitorado e, consequentemente, tornando-se com frequência o centro do debate
político-eleitoral” (ALBUQUERQUE, 2004, p. 6).

De referir que, de acordo com Rabaça e Barbosa (1995, p. 481), a publicidade comercial ou
propaganda corresponde ao “conjunto das técnicas e actividades de informação e de persuasão,
destinadas a influenciar as opiniões, os sentimentos e as atitudes do público num determinado

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 30


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

sentido”. E para os efeitos do presente trabalho, consideramos que a publicidade política


corresponde ao uso dos meios de comunicação para a divulgação das vantagens, qualidades e
superioridade de uma ideia a população, ou seja, constitui o processo de disseminação de
informações para fins políticos28.

Pelo facto da publicidade política ser apresentada nos meios de comunicação, a liberdade de
imprensa se torna numa das vertentes da democracia. Nas campanhas eleitorais assiste-se a um
uso massivo de meios de comunicação como forma de divulgar as ideias defendidas por cada
candidato/partido político.

Ao fazer-se o uso dos meios de comunicação é necessário que estes prezem pela imparcialidade
no tratamento da informação (relativa a campanha eleitoral, manifestos apresentados pelos
partidos políticos, etc.) ou na divulgação de ideias provenientes dos mais diversos partidos
políticos. E analisando o caso de Moçambique, podemos afirmar que não há esta imparcialidade
no tratamento da informação relativa aos mais diversos partidos políticos, pois como defendem
OSISA (2009) e Namburete (2003), a liberdade de imprensa está condicionada ao tipo de
propriedade que se têm sobre os meios de comunicação.

Os meios de comunicação do sector público apresentam-se como reprodutores da visão do


governo, e em associação, do partido no poder, o partido Frelimo. E, devido a este facto, na
divulgação da informação (relativa a campanha política e não só) dão primazia aos factos
referentes ao partido no poder. Consolidando esta visão, OSISA (2009, p. 62) defende que:

“A capacidade de influência do partido no poder sobre os principais meios de comunicação social do


país, em especial o Notícias, que é o jornal de maior tiragem e circulação, a RM e a TVM, …, traduz-
se numa forma desequilibrada de tratamento dos vários assuntos e numa informação tendenciosa …”.

Corroborando a visão apresentada por OSISA (2009), Magaia (apud NAMBURETE, 2003, p.
34) defende que:

“Existe a tendência dos órgãos governamentais para pretender que os meios de comunicação social
sejam meros reprodutores das suas posições e declarações, e quando isso não acontece, interferirem
nas decisões editoriais (……), o que faz com que os jornalistas das empresas públicas sirvam como
porta-vozes quase oficiais dos órgãos governamentais em lugar de realizarem a sua tarefa de
investigação da realidade factual e da elaboração de notícias e reportagens com base nela”.

28
De acordo com Szymaniak (2000), as definições de publicidade devem fazer referência aos seguintes aspectos: -
arte que visa exercer acção psicológica sobre o público; - comunicação de massa para difundir uma mensagem.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 31


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Enquanto os meios de comunicação do sector privado apresentam-se como sendo os que fazem o
tratamento e divulgação “imparcial” da informação, estando aberto, no que toca ao debate
político, a acolher não só a visão do partido Frelimo, bem como dos restantes partidos políticos

Corroborando esta ideia, Namburete (2003) defende que os meios de comunicação do sector
privado abrem espaço para que haja debate sobre os assuntos políticos do país, colhendo as
posições dos diversos partidos da oposição e dos diversos sectores da sociedade. Uma ideia
similar é apresentada por OSISA (2009), que defende que estes meios de comunicação estão
cada vez mais abertos à denúncia da violação dos direitos políticos e de casos de corrupção e má
gestão de fundos públicos, bem como para o debate sobre questões políticas.

Da reflexão por nós realizada até ao momento, percebemos que o nosso objectivo, compreender
as principais questões apresentadas na publicidade política moçambicana, poderia ser
viabilizado através da análise dos discursos políticos veinculados nos meios de comunicação.
Partindo do pressuposto defendido por Schumpeter, de que o comportamento dos eleitores é
influenciado pelos meios de comunicação, e aceitando a ideia de que a publicidade política visa
moldar a visão dos eleitores sobre os partidos políticos, procuraremos olhar para Moçambique
onde a participação política fica restringida a momentos eleitorais.

Para tal, há que se fazer uma análise sobre o período eleitoral, e nele a divulgação política
através de alguns jornais onde é possível encontrar a apresentação por parte dos partidos
políticos das suas ideias, valores e princípios. O período intermediário entre as eleições serve
igualmente de período analítico na medida em que ele serve como “grupo de controlo” quanto a
divulgação política por parte dos partidos políticos.

De salientar que, a publicidade política é exposta ou apresentada nos meios de comunicação


social. E para a realização do nosso trabalho optamos por recorrer a imprensa escrita, apesar de,
como defende OSISA (2009), ser a rádio o meio de comunicação ao qual a maior parte da
população tem acesso, inclusive a população iletrada, onde temos vários tipos desde as públicas e
privadas até as comunitárias. Nos propomos trabalhar, no presente estudo, com a imprensa
escrita, devido ao seu carácter perene e ao facto desta ter uma circulação de nível nacional (idem,
2009).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 32


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Para podermos fazer a leitura da publicidade política moçambicana na imprensa escrita, bem
como podermos identificar as principais questões da publicidade política moçambicana,
utilizamos a técnica análise de conteúdo. Que, segundo Bardin (S/D, p. 20), “é uma técnica de
investigação que tem por finalidade a descrição objectiva, sistemática e quantitativa do
conteúdo manifesto da comunicação”. A análise de conteúdo, enquanto técnica, procura, através
de indicadores seleccionados, fazer uma leitura sobre o material disponibilizado. De referir que,
como na publicidade política os partidos procuram apresentar as suas ideias, valores e princípios,
tomaremos essas variáveis para fazer a leitura do material em estudo.

2.1.1. Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio como Variáveis de Análise


Entretanto, ideias, valores e princípios são conceitos abstractos, deste modo construímos
variáveis (e indicadores) a eles relacionados e que possibilitarão a análise do material dos jornais
Notícias e O País, e que serão melhor aprofundados no capítulo de metodológico do presente
trabalho.
Nesse sentido, fomos buscar as variáveis (e os indicadores) nos Objectivos de Desenvolvimento
do Milénio (ODM’s), por várias razões:
1) Moçambique ser signatário dos ODM’s;
2) Os ODM’s têm como objectivo fundamental a erradicação da pobreza e da fome, nos
Estados membros das Nações Unidas, bem como a criação de uma parceria global entre
os Estados membros29;
3) O país situa-se entre os países com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixo, e
hoje é o terceiro país mais pobre;
4) O enfrentamento das causas da pobreza (como a luta de libertação, a guerra civil, etc.)
estar presente nos discursos políticos até os dias de hoje;
5) Os ODM’s foram incorporados na definição das políticas públicas do país;
6) A relação estreita entre os ODM’s e os princípios democráticos por nós já destacados

Sendo assim, as variáveis que iremos utilizar são: Comercial, Financeiro, Educação, Saúde e
Meio Ambiente. Mas antes, há que se reflectir sobre os ODM’s e sua relação com a discussão
sobre democracia realizada até ao momento

29
Os ODM’s foram criados tendo em consideração a “preservação da dignidade humana, da igualdade e da
equidade a escala global” (PNUD, 2006, p. iii).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 33


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

CAPÍTULO II:

OBJECTIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÉNIO

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 34


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

1. Objectivos de Desenvolvimento do Milénio

Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) foram formulados durante a Cimeira do


Milénio que se realizou de 6 a 8 de Setembro de 2000 em Nova Iorque. Estes objectivos foram
consolidados, em 2001, através do “Roteiro Rumo à Implementação da Declaração do Milénio
das Nações Unidas: Relatório do Secretariado Geral à Assembleia Geral” (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, 2006).

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF30 (S/D), foi durante a
Cimeira do Milénio que os 189 Estados Membros das Nações Unidas se comprometeram a unir
esforços com o intuito de melhorar as condições de vida dos indivíduos, especialmente dos mais
vulneráveis e, em particular, as crianças. Tornando-se signatários de um conjunto de objectivos
específicos, os ODM’s passam a guiar os esforços colectivos e governamentais no que diz
respeito ao combate à pobreza e ao desenvolvimento sustentável.

Através dos ODM’s os governos signatários e os líderes mundiais reiteraram o seu cometimento
para com os valores e princípios das Nações Unidas, no tocante “a preservação da dignidade
humana, da igualdade e da equidade a escala global” (PNUD, 2006, p. iii). Com vista a alcançar
este desiderato, na Declaração do Milénio vêm consagrados oito ODM’s, que se debruçam sobre
os sectores sociais, económicos e temas transversais, fundamentais para a erradicação da pobreza
e da fome nos Estados membros, e para uma parceria global necessária para um mundo
interconectado (idem, 2006).

30
Sigla em inglês para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (United Nations Children's Fund).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 35


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

De referir que para a medição e avaliação de cada objectivo, foram traçados 18 metas31 e 48
indicadores que os países se comprometeram a cumprir até 201532. Sendo os ODM e as metas os
seguintes:

Objectivo Metas
1. Erradicar a pobreza Reduzir para metade a percentagem de pessoas cujo
extrema e a fome rendimento é inferior a 1 dólar por dia.
Reduzir para metade a percentagem da população que sofre
de fome.
2. Alcançar o ensino primário Garantir que todos os rapazes e raparigas terminem o ciclo
universal completo do ensino primário.
3. Promover a igualdade de Eliminar as disparidades de género no ensino primário e
género e a autonomização da secundário, se possível até 2005, e em todos os níveis, até
mulher 2015.
4. Reduzir a mortalidade de Reduzir em dois terços a taxa de mortalidade de menores de
crianças cinco anos.
5. Melhorar a saúde materna Reduzir em três quartos a taxa de mortalidade materna.
6. Combater o HIV/SIDA, a Travar e começar a inverter a propagação do HIV/SIDA.
malária e outras doenças Travar e começar a reduzir a incidência de malária e outras
doenças graves.
7. Garantir a sustentabilidade Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas
ambiental políticas e programas nacionais; inverter a actual tendência
para a perda de recursos ambientais.
Reduzir para metade a percentagem da população sem acesso
permanente a água potável.
Melhorar consideravelmente a vida de pelo menos 100 000
habitantes de bairros degradados, até 2020.
8. Criar uma parceria global Continuar a desenvolver um sistema comercial e financeiro
para o desenvolvimento multilateral aberto, baseado em regras, previsível e não
discriminatório. Inclui um compromisso em relação a uma
boa governação, ao desenvolvimento e à redução da pobreza,
tanto a nível nacional como internacional.
Satisfazer as necessidades especiais dos países menos
avançados. Inclui: o acesso a um regime isento de direitos e
não sujeito a quotas para as exportações dos países menos

31
Embora tenham surgido mais metas para serem alcançadas, optamos por trabalhar com estas 18 metas pois elas,
dentre as existentes, são as que se relacionam com o presente trabalho.
32
A partir dos anos 1990, após uma crise económica nos países em vias de desenvolvimento nos anos 1980, os
países membros das Nações Unidas começaram a implementar acções e medidas que visavam alcançar o
desenvolvimento. A implementação dessas acções começou em 1990, e apesar da Declaração do Milénio ter sido
assinada em 2000, ela tem como marco de partida para a implementações das suas actividades o ano de 1990, e deve
vigorar por 25 anos, o que implica que em 2015 estarão completos os 25 anos (PNUD, 2006).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 36


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

avançados; um programa melhorado de redução da dívida


dos países muito endividados; o cancelamento da dívida
bilateral oficial; e, a concessão de uma ajuda pública ao
desenvolvimento mais generosa aos países empenhados em
reduzir a pobreza.
Satisfazer as necessidades especiais dos países em
desenvolvimento sem litoral e dos pequenos estados
insulares.
Tratar de uma maneira global os problemas da dívida dos
países em desenvolvimento através de medidas nacionais e
internacionais, a fim de tornar a sua dívida sustentável a
longo prazo.
Em cooperação com os países em desenvolvimento, formular
e aplicar estratégias que proporcionem aos jovens um
trabalho digno e produtivo.
Em cooperação com as empresas farmacêuticas, proporcionar
acesso a medicamentos essenciais, a preços acessíveis, nos
países em desenvolvimento.
Em cooperação com o sector privado, tornar acessíveis os
benefícios das novas tecnologias, em particular os das
tecnologias da informação e comunicação.
Tabela 2: Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e suas metas (fonte: PNUD, 2006, p. 5 – 7)

De salientar que, cada um destes objectivos tem uma ideia que lhes subjaz, e auxiliou no seu
traçado e na delimitação das metas. Iremos de forma resumida apresentar as ideias ou
significados que subjazem em cada objectivo:

 Objectivo 1: Erradicar a pobreza extrema e a fome

O alcance do desenvolvimento torna-se difícil enquanto persistir a pobreza extrema e a fome


crónica. A pobreza extrema produz a subnutrição e doenças, que, consequentemente, reduzem o
rendimento e a produtividade económica. Factores que aumentam a pobreza extrema e a fome,
pois as pessoas não têm como ter acesso a alimentação, a habitações condignas e cuidados de
saúde, e não têm como investir na educação dos seus filhos ou numa iniciativa económica
autónoma (http://www.objectivo2015.org/inicio/).

Este objectivo parte do princípio que a pobreza extrema está intrinsicamente ligada à fome
crónica, e com base em dados disponíveis, constatou-se que 850 milhões de pessoas no mundo
não tem como obter uma alimentação satisfatória que lhes possibilite satisfazer as necessidades
calóricas básicas (idem).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 37


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

A fome crónica leva ao mau funcionamento do organismo, produzindo situações como:


subnutrição, incapacidade física e mental, fraqueza e inanição, factos que tornam as pessoas
vulneráveis às doenças e debilita o organismo. De modo que a capacidade de defesa fica afectada
e não se sobreviva a doenças às quais deveriam/poderiam sobreviver, e esta situação tende a
agravar-se no continente africano, especialmente na África subsaariana (idem).

 Objectivo 2: Alcançar o ensino primário universal

A educação é uma das principais formas para se combater a pobreza, tal facto é demonstrado
pela relação existente entre o nível de instrução de uma sociedade e o seu nível de vida, e através
das bases criadas pela educação pode-se alcançar o desenvolvimento e consequentemente atingir
os ODM´s (http://www.objectivo2015.org/inicio/).

Para além deste facto, a educação consiste num direito humano ao qual todos devem ter acesso, e
é uma componente fundamental no empoderamento das mulheres, visto que proporciona as bases
que possibilitam o alcance da igualdade em diversos aspectos, tais como sociais, políticos,
económicos, etc. (idem).

De referir que, ao se defender o ensino primário universal, não se restringe somente ao aumento
da percentagem de alunos matriculados em escolas. Engloba-se também a qualidade do ensino, o
que implica que as crianças que frequentam as escolas devem adquirir conhecimentos básicos
sobre a alfabetização e de aritmética, e devem terminar o ensino primário dentro do tempo
regular (idem).

 Objectivo 3: Promover a igualdade de género e a autonomização da mulher

As mulheres emponderadas desempenham um papel crucial em todos os aspectos do


desenvolvimento social e económico, pois ao auferirem um sálario mensal, ao incentivarem os
seus filhos a estudar e permanecendo informadas sobre cuidados básicos de saúde, constituem
uma força que pode contribuir para o alcance dos ODM´s (idem).

Entretanto, a desigualdade de género é um aspecto constitutivo de determinadas sociedades,


chegando a estar enraizada em diversas culturas. O que faz com que as mulheres para além de
terem de enfrentar a discriminação social e familiar, tenham que enfrentar obstáculos no que toca
ao acesso ao emprego no sector formal. O que acaba impedindo que elas possam contribuir para

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 38


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

o desenvolvimento das suas famílias e sociedades, e consequentemente para o alcance dos ODM
(idem).

No que toca a sectores específicos, na área da educação, notou-se uma melhoria no acesso das
raparigas às escolas, sendo que a percentagem de raparigas que frequentam as escolas aumentou
mais do que a dos rapazes nos países em vias de desenvolvimento de 2000 a 2006. No que toca a
participação parlamentar, apesar de haver uma maior participação das mulheres, o seu acesso a
cargos mais elevados no governo é algo difícil de ser alcançado. Porém, apesar destes avanços,
eles ainda não são suficientes para promover a igualdade de género (idem).

 Objectivo 4: Reduzir a mortalidade de crianças

As taxas de mortalidade infantil nos países em vias de desenvolvimento são uma situação
preocupante, em 2006 verificou-se que apesar da África Subsahariana ter 20% das crianças do
mundo, a sua taxa de mortalidade infantil correspondia a cerca de 50% a nível mundial.
(http://www.objectivo2015.org/inicio/).

Associado a este facto, os países membros ao subscreverem este objectivo pretendiam que
fossem dadas as crianças oportunidades iguais para poderem viver uma vida saudável,
indenpendente da sua condição social, económica, etc. De referir que, actuar sobre a mortalidade
infantil investindo na saúde das crianças, de acordo com o Banco Mundial, produz resultados até
sete vezes maior que o valor investido, pois há redução nas despesas com a segurança social e
um aumento da produtividade, para além de se salvarem vidas inocentes (idem).

 Objectivo 5: Melhorar a saúde materna

Anualmente, mais de 500 mil mulheres morrem por complicações relacionadas com a gravidez e
com o parto, e cerca de 10 milhões são expostas a infecções, doenças, entre outras, e destas a
larga maioria vive em países em vias de desenvolvimento. A taxa de mortalidade materna torna-
se no espelho da disparidade, as mulheres pobres têm maior probabilidade de morrerem por
complicações que resultam da gravidez ou do parto (idem).

A maioria das mortes causadas por complicações que resultam da gravidez ou do parto são
evitáveis, por exemplo, mortes por infecções ou hemorragias podem ser evitadas através da
medicação com fármacos ou transfusões de sangue. Quando os partos ocorrem em ambientes

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 39


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

hospitalares e são acompanhados por pessoal qualificado, as mulheres acabam recebendo


cuidados de saúde adequados, o que reduz o risco de mortalidade (idem).

Entretanto, um aspecto que se nota é que a falta de acesso a cuidados básicos de saúde não é um
problema que se restringe somente à maternidade, e a situação é mais crítica nos países em vias
de desenvolvimento, onde a maioria não tem acesso aos profissionais de saúde e a serviços de
saúde reprodutiva. (idem).

 Objectivo 6: Combater o HIV/SIDA, a malária e outras doenças

A debilidade física e as doenças reduzem a produtividade e o rendimento, e consequentemente


agravam-se os problemas de saúde, porque as pessoas não têm como ter rendimentos
satisfatórios para uma alimentação condigna, habitação e tratamento adequados. O SIDA em
particular tem um grande impacto na sociedade pois grande parte das pessoas que se encontram
padecendo desta doença estão em idade produtiva, o que acaba alterando o tecido económico e
social. O combate a doenças infecciosas não pode ser visto como algo relativo aos países em vias
de desenvolvimento, pois as doenças transmissíveis não respeitam fronteiras, pelo que o seu
combate deve ser um objectivo de todos (http://www.objectivo2015.org/inicio/).

 Objectivo 7: Garantir a sustentabilidade ambiental

Os ODM´s advogam que a saúde das pessoas e o ambiente estão interligados. E por isso
defendem a adopção de políticas de desenvolvimento sustentável e melhorias no planeamento
urbanístico, não somente para atingir os ODM´s, como também para que se faça a prevenção de
conflitos causados pelo acesso aos recursos naturais e, ainda, para se prevenir que a degradação
ambiental atinja um nível irreversível (idem).

Constata-se que existe uma forte vulnerabilidade às alterações climáticas nas pessoas que vivem
nas regiões mais pobres, e essa vulnerabilidade mostra-se mais crítica no que concerne ao acesso
a água potável e a degradação ambiental. Uma das formas para se fazer face a vulnerabilidade
seria a adopção de novas técnicas agrícolas, o investimento em infra-estruturas que satisfaçam as
necessidades concernentes ao acesso a água potável, a alimentação, entre outras (idem).

Porém, o que se constata é que os países em vias de desenvolvimento não dispõem de recursos
financeiros suficientes que lhes permitam investir em medidas que garantam a protecção contra
as mudanças climatéricas (idem).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 40


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

 Objectivo 8: Criar uma parceria global para o desenvolvimento

Quando os países membros da ONU subscreveram a Declaração do Milénio, eles prometeram


apoiar uma parceria global para o desenvolvimento como modo de atingir os ODM´s. Os países
em vias de desenvolvimento concordaram implementar políticas que visavam alcançar os
ODM´s e a melhorar a sua “governação, transparência e prestação de contas”. Em
contrapartida, os países desenvolvidos concordaram apoiar os países em vias de desenvolvimento
na luta para o alcance dos ODM´s, “reestruturando a ajuda externa, as dívidas e as políticas
comerciais” (idem).

A Ajuda Pública para o Desenvolvimento (APD) oferece aos países em vias de desenvolvimento
os recursos necessários para o investimento em reformas que se mostrem cruciais na luta para o
desenvolvimento sustentável e para o alcance dos ODM´s. Os países que se subscreveram aos
ODM´s esperam que a APD consista numa ajuda temporária que visa impulsionar o
desenvolvimento, tendo como objectivo final o desenvolvimento e a autonomia dos países em
vias de desenvolvimento (idem).

1.1.Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio em Moçambique

Após termos apresentado os ODM’s e as suas metas, é necessário apresentar o ponto de situação
de Moçambique para cada um dos ODM’s, este ponto de situação será guiado com base nas
metas a serem alcançadas como meio de se concretizar cada objectivo.

De referir que, para podermos fazer esta apreciação, nos socorremos do “Relatório sobre os
Objectivos de Desenvolvimento do Milénio – Moçambique – 2010”, que foi produzido tendo em
conta os anos que faltam para se chegar ao ano de 2015, ano em que se espera que todos os
países membros da ONU tenham alcançado os ODM’s33.

 Objectivo 1: Erradicar a pobreza extrema e a fome

No concernente a meta “Redução da pobreza absoluta”, ela é monitorizada através do Inquérito


Nacional aos Orçamentos Familiares (IOF 08/09) que procura medir a taxa da incidência da
33
O quadro apresentado no anexo 2, retirado de MPD (2010, p. 1), apresenta de forma resumida a situação de
Moçambique para cada um dos ODM, em termos de alcance ou não de cada uma das metas preconizadas para cada
objectivo.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 41


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

pobreza (que se refere a percentagem da população vivendo abaixo da linha da pobreza).


Verificou-se que a taxa de incidência decresceu de 80% em 1990 para 69.4% em 1996/97, depois
para 54,1% em 2002/03 e 54.7% em 2008/09. De referir que, o país deverá reduzir a incidência
da pobreza para 40% até 2015 de modo a alcançar esta meta (MPD, 2010).

De acordo com o Ministério da Planificaçao e Desenvolvimento – MPD (2010), o governo


moçambicano defende que o alcance desta meta até ao ano de 2015 é concretizável, visto que o
país tem que reduzir a taxa em 14 pontos percentuais em 5 anos (tendo o ano de 2010 como
ponto de partida), e tem-se como base os anos anteriores, onde em 6 anos o país conseguiu
reduzir a taxa de incidência em 16 pontos percentuais.

Referente a segunda meta, “Garantir o emprego”, que tem como meio de avaliação o IFTRAB
(Inquérito à Força de Trabalho), que começou a ser realizado em 2004, o que significa que antes
da realização deste inquérito, não houve nenhum inquérito oficial sobre o emprego. O que
implica que não existem dados oficiais que permitam tecer considerações sobre a tendência do
desemprego (MPD, 2010).

Entretanto, os dados que são obtidos, a partir de fontes administrativas, sobre o emprego
apontam para uma subida contínua dos níveis de emprego em termos anuais. Procurando-se fazer
uma análise, tendo como base de apoio Censo Populacional de 1997, onde 11.1% da população
era assalariada, e destes 4.1% estava no sector público e 7% no sector privado, em 2004-2005
pode-se dizer que houve um aumento para 18.7%, medido através do IFTRAB (2004-2005)
(idem, 2010).

A terceira meta, “Reduzir a Fome” é avaliada através da taxa de prevalência de crianças de


baixo peso, Percentagem de Mal Nutrição Aguda Moderada e Severa em crianças (menores de 5
anos) e Percentagem Crónica Moderada e Severa em crianças. Relativamente a esta meta,
Moçambique deve até 2015 reduzir a taxa de prevalência para 17.0%, e o governo moçambicano
defende que o país irá alcançar esta meta, pois até 2008 a taxa de prevalência era de 17.5%
(idem, 2010).

 Objectivo 2: Alcançar o ensino primário universal

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 42


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

No segundo objectivo, que tem como meta “Alcance da Educação Primária Universal”,
constatamos que em Moçambique o ensino primário compreende dois graus, o 1º grau (que vai
da 1ª a 5ª classe) e o 2º grau (da 6ª a 7ª classe), e que os ODM’s defendem que até 2015 todas as
crianças em idade para frequentar o ensino primário deverão estar matriculadas (idem, 2010).

Tendo como base os dados estatísticos disponíveis, o governo moçambicano se compromete a


alcançar esta meta e consequentemente o Objectivo. Analisando a Taxa de Frequência no ensino
primário que em 2008 rondava os 81.3%, até 2015 tem que estar nos 100%, bem como a Taxa de
Conclusão do ensino primário que rondou os 22% em 1997, passando para os 38.7% em 2003,
depois para 77.1% em 2008 e até 2015 tem que se alcançar os 100% (MPD, 2010).

Objectivo 3: Promover a igualdade de género e a autonomização da mulher

Este objectivo é medido através dos seguintes indicadores: Rácio de Raparigas por rapazes no
EP1, que até 2015 tem que ser de 1.0; Rácio entre mulheres e homens alfabetizados de 15-24
anos de idade que até 2015 tem de ser de 1.0; Taxa de analfabetismo das mulheres; e, Proporção
de assentos ocupados por mulheres no parlamento nacional, que até 2015 tem de ser de 50%
(idem, 2010).

Com base nesses indicadores pode-se concluir que, no que toca ao Rácio de Raparigas a
frequentar o EP1, este tem vindo a crescer, tendo passado de 0.71 em 1997, para 0.83 em 2003,
depois para 0.89 em 2008 e o governo projecta que até 2015 o país terá alcançado um rácio de
0.97 raparigas por rapazes no EP1. Analisando a proporção de raparigas no EP1, que em 2004
representavam 41,7% e em 2009 45.6%, nota-se que esta tem vindo a crescer, porém enfrentam-
se problemas quanto a permanência das raparigas nas escolas, seja por questões de distância ou
factores socioculturais, como os casamentos precoces (MPD, 2010).

Quanto a taxa de analfabetismo da mulher, apesar de elevada, tem vindo a diminuir, tendo
passado de 74.1% em 1997, para 68.8% em 2003, depois para 64.1% em 2008 e para 56% em
2009. A participação da mulher na governação tem vindo a crescer, tendo a percentagem de
assentos ocupados por mulheres no parlamento vindo a crescer, passando do 28% em 2003 para
38.2% em 2008 e 39.2% em 2010. Acompanhando este crescimento, a percentagem de mulheres
que estão no Órgão Executivo também tem vindo a crescer, tendo a percentagem de Ministras

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 43


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

passado de 25.9% em 2008 para 28.5% em 2010, e a percentagem de governadoras passado de


18.1% em 2008 para 27.2% em 2010 (idem, 2010).

 Objectivo 4: Reduzir a Mortalidade Infantil

Este objectivo é monitorizado através dos seguintes indicadores: Taxa de mortalidade de


menores de cinco anos (por 1000 nados vivos); Taxa de mortalidade Infantil (0-1 ano por 1000
nados vivos); Proporção de Crianças de 1 ano de idade vacinadas contra o Sarampo; e, Taxa de
cobertura com DPT-334 e HB35 em Crianças aos 0-12 meses (MPD, 2010).

No que toca ao primeiro indicador, ele decresceu de 245.3% em 1997, para 154% em 2003,
depois para 147.2% em 2007 e para 138% em 2008. Quanto a taxa de mortalidade infantil,
passou de 143.7% em 1997 para 101% em 2003, depois para 95.5% em 2007 e depois para 93%
em 2008 (idem, 2010).

No que se refere as vacinações, tanto contra o Sarampo, como contra o DPT-3 e HB, Pólio, entre
outras, nota-se que a taxa de imunizações tem vindo a crescer, tendo a taxa de imunização contra
o Sarampo passado de 58% em 1997 para 67% em 2003 e de seguida para 71% em 2008, e a
taxa de imunização contra o DPT-3 e HB passado de 55% em 1997 para 63% em 2003 e para
64% em 2008 (idem, 2010).

Fazendo uma análise mais pormenorizada sobre as causas da mortalidade neonatais


institucionalizada, são apontadas como as principais causas as seguintes: prematuridade, asfixia
grave e sepsis neonatal, que resultam de cuidados inadequados durante a gravidez, o parto e os
primeiros dias após o parto, bem como de uma saúde materna deficiente. Olhando para as
principais causas da mortalidade infantil (menores de 5 anos), elas são: malária, HIV/SIDA,
pneumonias e diarreias (MPD, 2010).

 Objectivo 5: Melhorar a Saúde Materna

Este objectivo é medido através dos seguintes indicadores: Rácio de mortalidade materna (por
100.000 nados vivos); Proporção de partos assistidos por técnicos de saúde (15 – 49 anos, %);
Taxa de prevalência da Contracepção; Cobertura da Consulta Pré-natal com pelo menos 1ª

34
A vacina DPT-3 que combate a difteria, tétano e coqueluche (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2002).
35
A vacina HB previne a contaminação do vírus de Hepatite B (http://www.vacinas.org.br/vacinas05.htm).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 44


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

consulta (%); Cobertura da Consulta Pré-natal com 4 ou mais consultas (%); e, Necessidades
Não Satisfeitas Para o Planeamento Familiar (%) (idem, 2010).

No que toca ao Rácio da mortalidade materna, que até 2015 tem de ser de 250/100.000 nados
vivos, este tem vindo a decrescer, tendo passado dos 692/100.000 em 1997 para 500,1/100.000
nados vivos em 2009. Quanto a proporção de partos assistidos, ela tem vindo a aumentar, tendo
passado de 44.2 em 1997 para 47.7 em 2003 e depois para 55.3 em 2008, e espera-se que até
2015 tenha-se atingido um proporção de 66 partos assistidos por técnico de saúde (MPD, 2010).

Relativamente a cobertura da consulta pré-natal com pelo menos 1ª consulta, esta taxa tem vindo
a crescer, tendo passado dos 71.4% em 1997, para 84.5% em 2003, depois para 92.4% em 2008 e
espera-se que até 2015 seja de 95%. De referir que, quanto aos restantes indicadores não há
dados que permitam fazer uma comparação das taxas e nem uma previsão para o ano de 2015
(idem, 2010).

Apesar destas melhorias no que concerne aos cuidados com a saúde materna, ainda há que se
enfrentar muitos desafios para o alcance deste ODM, tais como: contínua formação e expansão
dos Cuidados Obstétricos de Emergência e dos Cuidados Obstétricos Essenciais; implementação
da Estratégia de Planeamento Familiar; Insuficiência de Recursos Humanos em número e
qualidade para responder à necessidade de melhoria da gestão dos Programas e Serviços a todos
os níveis; entre outros (idem, 2010).

 Objectivo 6: Combater o HIV/SIDA, a Malária e outras doenças

Quanto ao primeiro aspecto deste Objectivo, combate ao HIV/SIDA, é monitorado através dos
seguintes indicadores: taxa de prevalência do HIV/SIDA entre os adultos (15-49 anos de idade);
Prevalência do HIV nas mulheres grávidas de 15-24 anos de idade; taxa de uso do preservativo
da taxa de prevalência do contraceptivo; rácio de frequência escolar dos órfãos de pai e mãe por
frequência escolar de não órfãos de 10- 14 anos de idade (MPD, 2010).

No primeiro indicador, nota-se que vinha crescendo, mas a partir de 2008 está estagnado nos
11.5%, e não há uma previsão sobre qual será a taxa em 2015. Relativamente a prevalência do
HIV nas mulheres grávidas era de 11.0 em 1997 e 12.9 em 2003, de referir que desde 2008 para

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 45


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

cá não há dados relativos a este indicador. Quanto aos outros indicadores há que salientar que
não há dados recentes e nem previsões a serem alcançadas no ano 2015 (idem, 2010).

De referir que, para o alcance desta meta do ODM é necessário que se ultrapassem alguns
desafios, como: promoção e massificação do uso consistente do preservativo feminino e
masculino; desenvolvimento de estratégias de comunicação específicas para mudança social e de
comportamento; continuação da expansão do tratamento anti-retroviral (TARV) pediátrico e
Adulto com qualidade; diminuição da desigualdade regional do acesso aos cuidados e tratamento
de HIV; entre outros (idem, 2010).

No segundo aspecto, combate à malária e outras doenças graves, é monitorizado pelos seguintes
indicadores: Prevalência e taxas de letalidade associadas à malária; Taxa de incidência da
malária em crianças menores de 5 anos de idade (por 10.000); Proporção da população que usa
medidas efectivas de prevenção; Prevalência e taxas de fatalidade associadas à tuberculose;
Prevalência e taxas de fatalidade associadas à tuberculose (em número) por 100.000 habitantes;
Proporção de casos curados; Proporção de casos de tuberculose detectados e no âmbito do
DOTS36 (idem, 2010).

Quanto à prevalência e taxas de fatalidade associadas à malária, constata-se que têm estado a
decrescer, tendo passado dos 58% em 2003 para 52% em 2008, depois 47% em 2009 e prevê-se
que até 2015 se alcance os 35%. Relativamente a taxa de incidência da malária em crianças, esta
taxa tem vindo a decrescer, tendo passado de 134% em 2003 para 108% em 2008, depois para
94% em 2009 e prevê-se que em 2015 ela seja de 80% (idem, 2010).

No tocante a proporção da população que usa medidas efectivas de prevenção, esta tem vindo a
crescer. A prevalência e taxa de fatalidade associadas a tuberculose, apesar de não se ter muitos
dados, os únicos disponíveis são relativos a 2003, em que esta era de 11.0, foi com base nela que
se fez a previsão da taxa de prevalência para 2015, que deve ser de 6.0 (MPD, 2010).

Quanto a prevalência e taxas de mortalidade associadas a tuberculose, ela tem vindo a decrescer,
tendo passado dos 636 casos em 2003 para 624 em 2008 depois para 504 casos em 2009 e prevê-

36
DOTS - Directly Observed Treatment, Short-course. Sigla em inglês para Tratamento de Curto Prazo Diretamente
Observado, que consiste numa estrategia de combate à tuberculose (VILLA et al., 2008).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 46


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

se que em 2015 seja de 144. Os dados relativos à proporção de casos curados tem oscilado, entre
os 81 e 82, sendo que em 1997 era de 82, tando passado para 81 em 2003, voltando para 82 em
2008, proporção que se manteve em 2009, e se prevê que em 2015 seja de 85. Relativamente a
proporção de casos detectados de tuberculose, espera-se que este número cresça e alcance os
80% em 2015, sendo que em 1997 rondava os 50%, em 2003 os 47%, em 2008 50% e em 2009
os 53% (idem, 2010).

De referir que para se alcançar as metas deste ODM é necessário que se ultrapassem alguns
desafios como: a fraca adesão das comunidades às campanhas de pulverização; fraco nível de
atendimento das mulheres grávidas às consultas pré-natais e a fraca cobertura das redes
mosquiteiras; a baixa taxa de detecção de casos, devido ao fraco acesso aos serviços de Saúde e a
fraca rede laboratorial; a alta taxa de seroprevalência do VIH e a baixa cobertura do tratamento
anti-retroviral para doentes co-infectados TB/HIV (Tuberculose e HIV) contribuem muito para
alta mortalidade (idem, 2010).

 Objectivo 7: Garantir a Sustentabilidade Ambiental

Este ODM é monitorado através dos seguintes indicadores: Proporção de terras cobertas por
florestas; Rácio de áreas protegidas por área de superfície; Uso de energia (equivalente a kg de
combustível) USD per capita; Consumo de Substâncias que destroem a camada de ozono (ton.
ODs); Proporção da população com acesso a uma fonte de água melhorada; Proporção da
população com acesso a saneamento melhorado (idem, 2010).

No tocante a proporção de terras cobertas por florestas, nota-se um incremento das áreas com
cobertura florestal, tendo a proporção passado de 21% em 2001 para 51% em 2008. Quanto ao
rácio de áreas protegidas, nota-se, apesar de não haver muitos dados, que o rácio está crescendo
pois aumentaram o número de parques nacionais e reservas incluindo ambientes marinhos e
costeiros (idem, 2010).

Relativamente ao Uso de energia, não há dados que permitam fazer uma avaliação sobre este
indicador. Com relação ao consumo de substâncias que destroem a camada de ozono, em
Moçambique, o consumo destas substâncias tem vindo a aumentar, tendo o seu consumo em

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 47


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

toneladas passado de 503148 milhões de toneladas em 2003 para 898835 milhões de toneladas
em 2009 (MPD, 2010).

Quanto a proporção da população que tem acesso a água potável, nota-se que o país tem
registado tendências de crescimento significativas, tendo a cobertura nacional em abastecimento
de água potável passado de 37.3% em 1997 para 42.2% em 2008 e depois para 56.0% em 2009, e
em 2015 prevê-se que seja de 70% (idem, 2010).

Em relação a proporção da população com acesso ao saneamento melhorado, a cobertura


nacional passou de 29,0% em 1997 para 43,0% em 2009, e em 2015 prevê-se que seja de 50%.
Com este ritmo, de acordo com MPD (2010), Moçambique irá atingir as metas de 2015, tanto
para o acesso a água como para o saneamento melhorado.

Entretanto, apesar destes resultados, persistem ainda alguns constrangimentos que devem ser
ultrapassados com vista ao alcance deste ODM, tais como: falta de capacitação dos importadores
em matérias sobre as substâncias químicas banidas; assegurar a sustentabilidade dos serviços de
abastecimento de água e saneamento; promoção de medidas de adaptação as Mudanças
Climáticas; fortalecimento das acções de educação ambiental (idem, 2010).

Sobre este ODM, a Water Aid (2012) defende que os governos têm investido muitos fundos para
o alcance dos objectivos relacionados com a saúde e com a educação, deixando poucos fundos
para investir no alcance deste objectivo, o que acaba influenciando os progressos feitos no sector
da educação e da saúde. Pois a falta de acesso a água limpa, e as doenças a ela associadas, são a
principal causa da mortalidade infantil em África e a segunda principal causa da mortalidade
infantil no sul da Ásia; e a falta de água limpa faz com que as mulheres e crianças tenham que
percorrer longas distâncias para ter acesso a fontes de água potável.

E, para Moçambique, este relatório defende que com os investimentos que o governo tem feito,
este objectivo só será alcançado em 2117, o que poderá influenciar no alcance dos outros
objectivos, pois para alcançar este objectivo, Moçambique tem que aumentar para 56% a
percentagem de população com acesso a água potável, e em 2012 somente 18% da população
tem acesso ao saneamento seguro e a água potável (Water Aid, 2012).

 Objectivo 8: Criar uma parceria global para o desenvolvimento

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 48


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Este objectivo está subdividido em dois pontos Finanças Públicas e Tecnologias de Informação e
Comunicação. O primeiro é monitorizado através dos seguintes indicadores: ajuda líquida ao
desenvolvimento recebida como percentagem do PIB; alívio da dívida comprometido ao abrigo
da Iniciativa HIPC37 (sigla em inglês de Países Pobres Altamente Endividados) ($ Milhões); e,
serviço da dívida (% das exportações de bens e serviços) (MPD, 2010).

Para o primeiro indicador, apesar de não se ter uma previsão para 2015, quer-se com este
indicador reduzir-se ao máximo possível a ajuda externa recebida, o que implica que há um
desenvolvimento económico que permite que as receitas internas sejam suficientes para suprir as
necessidades do Orçamento Geral do Estado, e em termos concretos a percentagem tem vindo a
decrescer de 25.2% em 2003 para 18.3% em 2008 (MPD, 2010).

Relativamente ao segundo indicador não há nenhum dado disponível, mas há que ressalvar que
Moçambique, como vários países pobres ao abrigo da iniciativa HIPC, tem vindo a beneficiar de
sucessivos perdões da dívida e de aumento de financiamentos. Quanto ao serviço da dívida,
pode-se concluir que a dívida de Moçambique manteve-se sustentável nos últimos anos, visto
que se encontra abaixo do limite do rácio de sustentabilidade, que é de 20%, tendo este se
situado em 2009, em 2,54% (idem, 2010).

Apesar dos resultados destes indicadores, há que se ultrapassar alguns constrangimentos de


modo a se alcançar este ODM, como: criação de um ambiente de negócio favorável ao
investimento; elaboração de uma estratégia da dívida que inclua a análise do risco, limites e
indicadores da sustentabilidade da dívida; entre outros (idem, 2010).

Quanto ao ponto Tecnologias de Informação e Comunicação, é monitorado através dos seguintes


indicadores: Linhas telefónicas por 100 pessoas/população; Assinantes de celulares por 100
pessoas/população; Computadores pessoais em uso por 100 pessoas/População; Utilizadores da
Internet por 100 pessoas/população (idem, 2010).

E pode-se constatar que de 1997 a 2009 o número de utilizadores da internet aumentou de 0.01
para 2.68 utilizadores por 100 habitantes. O número de utilizadores de computadores pessoais
aumentou de 0.82 para 0,87 utilizadores por 100 habitantes e o número de utilizadores de linhas

37
Heavily Indebted Poor Countries – Países Pobres Altamente Endividados.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 49


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

de telefones sofreu um ligeiro decréscimo de 0,42 para 0,4 utilizadores por 100 habitantes. O
número de assinantes de celulares aumentou de 0.01 por cem habitantes em 1997 para 29.08 por
100 habitantes em 2009 (idem, 2010).

Porém, apesar destes avanços, ainda existem alguns constrangimentos que necessitam de ser
ultrapassados, como: fornecimento de energia eléctrica deficitário em algumas zonas do país;
baixo poderio económico da maior parte do povo moçambicano no que toca a aquisição de
tecnologias de informação para o uso privado e consequentemente para o uso da internet (MPD,
2010).

A nossa discussão até ao presente momento, buscou apresentar o conceito de democracia, que
enquanto regime político é regido por determinados princípios, e um desses princípios garante a
participação dos cidadãos no sistema político, e como forma de mobilizar os cidadãos a
participarem do sistema político os partidos políticos procuram, através da publicidade política,
mobiliza-los a participarem. Neste quadro se insere uma determinada realidade social, e para
pudermos fazer a sua leitura iremos nos basear na “Teoria do Discurso e Acção” de Hannah
Arendt, bem como no conceito de “Campo Político” de Pierre Bourdieu.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 50


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

CAPÍTULO III

A PUBLICIDADE POLÍTICA E OS DISCURSOS DO CAMPO POLÍTICO


MOÇAMBICANO

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 51


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

1. Democracia, ODM’s ao Discurso do Campo Político

Diante das reflexõe havidas até o presente ponto do trabalho, achamos oportuno introduzir os
conceitos de acção e discurso de Hanna Arendt e de campo político de Bourdieu. Ambos autores
destacam o facto de o discurso ocorrer dentro de um determinado espaço e ele ser feito com o
intuito de alcançar um determinado fim, aspectos que complementam a análise por nós feita até
ao presente momento.

Hannah Arendt, em seu trabalho “A Condição Humana”, defende que a vita activa designa três
actividades humanas fundamentais: o labor, o trabalho e a acção, e cada uma delas corresponde
a uma condição humana. O labor é a actividade que corresponde ao processo biológico do corpo
humano, as necessidades vitais e a sua condição humana é a vida (ARENDT, 1987).

O trabalho é a actividade que corresponde ao artificialismo da existência humana, refere-se a


capacidade que o homem tem de produzir um mundo artificial de coisas, e a sua condição
humana é a mundanidade. A acção é a actividade que é exercida pelos homens sem a
intervenção das coisas ou matéria e a sua condição humana é a pluralidade. A acção é a
actividade política por excelência, e está em estreita relação com o Discurso, pois o acto de
encontrar palavras adequadas no momento certo constitui uma acção (idem, 1987).

Das três actividades, a acção, e em consequência o discurso, é a que define a vida humana, pois
os homens podem viver sem trabalhar e podem viver sem criar ou acrescentar nenhum objecto ao
mundo das coisas. Porém, a vida sem discurso e sem acção não é uma vida humana, na medida
em que a acção e o discurso dependem da presença constante uns dos outros (idem, 1987).

Na visão de Arendt (1987), é com actos e palavras que participamos do mundo humano, e “sem
o discurso, a acção deixaria de ser acção, pois não haveria actor; e o actor, o agente do acto, só

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 52


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

é possível se for, ao mesmo tempo o autor das palavras. A acção que ele inicia é humanamente
revelada através de palavras” (idem, 1987, p. 191). Embora possa-se perceber o acto pelos
gestos que o acompanham, a acção “só se torna relevante através da palavra falada na qual o
autor se identifica, anuncia o que fez, faz e pretende fazer” (idem, 1987, p. 191).

Para Arendt (1987), é através do discurso e da acção que os indivíduos se apresentam ao mundo
quotidiano, dando a conhecer-se, e revelando o que pretendem alcançar. Entretanto, se os
indivíduos pretendem alcançar algum fim é porque existe algo que os move para tal, um interesse
que os leva a se revelarem de determinado modo para os outros.

E, na visão da autora, a acção e o discurso são sempre revestidos de interesses “mundanos”,


objectivos e específicos, interesses que são comuns entre os indivíduos de uma sociedade, de tal
modo que os relaciona e os interliga, fazendo com que ajam e falem directamente uns com os
outros, e é nesse sentido “que a maior parte das palavras e actos, além de revelar o agente que
fala e age, refere-se a alguma realidade mundana e objectiva” (ARENDT, 1987, p. 195).

Entretanto, Arendt ressalta que o discurso e a acção, que cativam o interesse para a área política,
são os que ocorrem no espaço público, e como na era moderna a separação entre o espaço
público e o espaço privado é muito ténue, precisa-se enquadrar o discurso e a acção dentro de um
espaço para que se possa analisar.

Nesse sentido, entendemos que o conceito de campo político pode nos guiar na medida em que
ele é um “microcosmo autónomo no interior do macrocosmo social” (BOURDIEU, 2011, p.
195). Um microcosmo porque nele se desenvolvem relações, acções, processos e propriedades
que também se desenvolvem no mundo social, porém no campo político eles se revestem de
particularidades específicas.

Deste campo só participam os profissionais da política, ou seja, só podem participar pessoas que
estão envolvidas na área política (membros de partidos políticos, pessoas que não sendo
membros de partidos são apoiadas por partidos políticos). A participação no campo político
implica que os participantes conhecem as regras que regem o campo, ressalvando que as regras
variam de campo para campo. A todos os que participam do campo político, tecendo

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 53


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

comentários, fazendo valer as suas ideias e valores, sem serem membros de partidos políticos,
Bourdieu (2011) chama de profanos (idem, 2011).

Na visão de Bourdieu (2011), dentro do campo político existem lutas entre os diversos
profissionais, partidos ou, no dizer de Bourdieu, polos opostos do campo político (BOURDIEU,
2011, p. 196), que visam o ganho ou manutenção do poder político, o direito de poder falar e
actuar em nome do povo. E o povo não participa deste campo pois, o poder na política encontra-
se concentrado nas mãos de alguns, e no campo político “só os políticos tem competência para
falar de política” (idem, 2011, p. 196).

A escolha pelas duas perspectivas teóricas prende-se ao facto de na teoria de Arendt (1987)
defender-se que os homens apresentam o que são e pretendem fazer através do seu discurso e da
sua acção. E as acções que eles desenvolverão são as que interessam a sociedade como um todo e
é por isso que a sociedade se identifica nos discursos dos políticos, pois a acção e os discursos
que Arendt (1987) faz refência são os que decorrem no espaço público.

E, no período eleitoral, os políticos apresentam os seus manifestos eleitorais, contendo os


programas que irão desenvolver caso sejam eleitos. Para que estes manifestos possam captar a
atenção da sociedade, é necessário que abordem temas que são do interesse da mesma sociedade,
e que esta se identifique com o programa.

A discussão política trazida ao público através da media tem em consideração esses manifestos,
os objectivos políticos a alcançar, as dinâmicas democráticas em jogo. Por isso, a acção e o
discurso que são objecto da análise de Arendt (1987) são os que ocorrem no espaço público, e
como na modernidade esta distinção é ténue, nos socorremos do conceito de Bourdieu (2011)
para limitar o espaço. O nosso objecto de análise é o campo político, o espaço em que os
políticos aparecem para falar de política, apresentando suas ideias, valores e interesses, e esta
análise será feita através dos meios de comunicação.

2. Método de Análise

Os estudos académicos precisam de procedimentos sistemáticos que lhes possibilitem a


descrição e explicação dos fenómenos. Esses procedimentos sistemáticos correspondem aos

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 54


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

métodos e técnicas que serão utilizados. O presente trabalho foi guiado pelo método quantitativo,
que consiste no uso do instrumental estatistico para a análise de um problema.

No presente trabalho utilizamos como método de abordagem o hipotético-dedutivo que, de


acordo com Gil (1999), foi formulado por Karl Popper. Que defende que, de modo a explicar o
problema em questão, são formuladas hipóteses ou conjecturas que serão submetidas a um teste
de falseamento, onde se procurarão evidências que corraborão ou não as hipóteses formuladas.
Se a hipótese for corroborada ela assume um carácter provisório, pois “a hipótese mostra-se
válida, pois superou todos os testes, mas não definitivamente confirmada, já que a qualquer
momento poderá surgir um facto que a invalide” (GIL, 1999, p. 31).

O método de procedimento adoptado no presente trabalho assenta no método monográfico ou


estudo de caso, que consiste no estudo de uma determinada realidade em profundidade com o
objectivo de poder criar generalizações que podem ser aplicadas a todos os casos semelhantes
(GIL, 1999). O método de procedimento fornece a orientação para a realização da pesquisa
concretamente no que se refere “à obtenção, processamento e validação dos dados” (idem,
1999, p. 33).

Deste modo, a técnica usada para a leitura e interpretação da publicidade política moçambicana,
meio para atingirmos o nosso objectivo, foi a técnica de análise de conteúdo, que é um
instrumento de análise das comunicações que estuda numericamente a frequência de ocorrência
de determinados termos, expressões, etc. em um texto. A sua aplicação compreende três fases:

1ª Fase – A pré-análise: esta fase consiste na organização do material a ser analisado. E para
que se possa fazer essa organização é necessário fazer: a escolha dos documentos a serem
analisados; a formulação da hipótese e dos objectivos; e, selecção dos indicadores que
permitam a interpretação do material a ser analisado (BARDIN, S.D).

De salientar que, estes três procedimentos não seguem uma ordem entre si, porém, apesar disso,
eles estão interligados, pois “a escolha dos documentos depende dos objectivos, (…) o objectivo
só é possível em função dos documentos disponíveis; os indicadores serão construídos em
função das hipóteses, (…) as hipóteses serão criadas na presença de certos índices” (BARDIN,
S.D, p. 121).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 55


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Quanto à escolha de documentos, após a delimitação dos textos a serem analisados há que se
proceder a “constituição de um corpus38”, e esse elemento implica o cumprimento de algumas
regras:

- Regras da exaustividade, após a delimitação dos textos a serem analisados, todos os textos que
estiverem dentro desse intervalo devem ser levados em conta na análise;

- Regra da representatividade, nem sempre é possível fazer análise de todos os textos


delimitados, e nesses casos pode-se recorrer a amostras desde que estas sejam representativas do
universo/textos delimitados;

- Regra da homogeneidade, “os documentos retidos devem ser homogéneos, quer dizer, devem
obedecer a critérios precisos de escolha e não apresentar demasiada singularidade fora destes
critérios de escolha” (idem, S.D, p. 124);

- Regra de pertinência, os textos seleccionados devem ser relevantes e adequados, com vista a
responderem aos objectivos da pesquisa.

Quanto à formulação das hipóteses e dos objectivos, consiste na elaboração de hipóteses e


objectivos que irão guiar a pesquisa. No que toca à selecção de indicadores, eles são construídos
ou seleccionados com base nas palavras ou temas que são frequentemente mencionados nas
comunicações, e é com base nesses temas/palavras que são seleccionados os indicadores. De
salientar que, quanto mais um tema ou aspecto é repetido numa comunicação, maior importância
lhe está sendo atribuída pelo seu interlocutor.

2ª Fase – A exploração do material: Depois de concluídas todas as operações da primeira fase,


na segunda fase faz-se a aplicação dos critérios anteriormente definidos na leitura do material.

3ª Fase – Tratamento dos resultados: Os dados obtidos são submetidos a análises estatísticas
de modo a que possamos fazer inferências sobre eles. Mas antes de serem submetidos à análise
estatística, os dados tem que passar pelo recorte (que seria a escolha das unidades de análise que
irão guiar a leitura do material seleccionado); e pela enumeração39 (que é a escolha das regras de

38
“O Corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos”
(BARDIN, S.D, p. 122)
39
Existem vários tipos de enumeração, dentre eles: a presença (ou ausência), a frequência ponderada, a intensidade,
a direcção, a ordem, entre outras (BARDIN, S.D).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 56


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

contagem). Depois de passarem por estes itens os dados já podem ser submetidos à análise
estatística.

Para a prossecução dos objectivos do presente trabalho, seguiram-se as três fases da técnica
análise de conteúdo, e de seguida iremos expor como foi feita a sua aplicação para a leitura do
nosso objecto de análise.

Num primeiro momento, definiu-se o problema a ser estudado, e com base nesse problema
definiu-se os objectivos, a hipótese e os documentos a serem analisados. De salientar que, os
jornais seleccionados foram: jornal “A Verdade”, jornal “Notícias”, e jornal “O País”. E nestes
jornais, a nossa leitura cingiu-se à secção/capítulo “Política” presente nos jornais “Notícias” e “O
País”.

O mesmo não foi feito para o jornal “A Verdade”, pois como este jornal não possui a
secção/capítulo “Política”, a leitura, numa primeira fase, cingiu-se a todo o jornal. Porém,
seguindo a regra da homogeneidade, onde os documentos seleccionados para a análise devem ser
homogéneos entre si, excluímos o jornal “A Verdade”, na medida em que a estrutura que este
jornal apresenta difere da estrutura dos restantes jornais. Para além deste motivo excluímos este
jornal pois, decorrente da análise realizada, no jornal “A Verdade” não encontramos os
indicadores que usamos, mas somente aborda-se a questão do combate à pobreza e de
mecanismos que seriam necessários para esse combate40.

Após a selecção dos jornais para serem lidos, seguiu-se a delimitação do período de análise, de
notar que o nosso período de análise compreende dois momentos. O primeiro período é o
eleitoral, onde os partidos políticos apresentam as suas ideias, valores e princípios, e o segundo é
o período intermediário, que servirá como “grupo de controlo”.

De recordar que, para o período eleitoral escolhemos o ano de 2009, onde se realizaram as
Eleições Gerais e Presidenciais, pois este é o período eleitoral mais próximo. Cremos também
que a publicidade política apresentada (ideias, valores e princípios) versava sobre Moçambique,
o estado em que o país se encontrava até ao período eleitoral e as propostas de acções a serem
concretizadas com vista à melhoria de condições/desenvolvimento do país. Para o período

40
Com base na leitura dos Jornais “A Verdade” dos dias 02 de Outubro de 2009 e 24 de Junho de 2011.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 57


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

intermédio escolhemos o ano de 2011, pois neste ano já haviam-se passado quase dois anos da
realização das eleições.

Após termos definidos o período de análise e os jornais que iriamos ler, definimos a nossa
amostra, ou seja, para o presente trabalho não foram lidos todos os jornais publicados nos anos
de 2009 e 2011, e sim jornais publicados em períodos específicos.

Assim sendo, o nosso corpus analítico recaiu sobre todos os jornais que foram publicados em
semanas em que se comemorava algum feriado nacional41. Pois consideramos que, por se tratar
dum momento comemorativo, os diversos actores políticos apresentavam a sua visão sobre o
estado do país, bem como de áreas a serem trabalhadas com vistas ao seu desenvolvimento. Para
além das semanas comemorativas, escolhemos também a semana em que o Presidente da
República apresenta o Estado da Nação e as semanas em que se comemoraram os aniversários
das mortes dos antigos presidentes da FRELIMO como período de análise.

Para além destas semanas, no caso do período eleitoral, escolhemos ainda o período
compreendido entre 20/10/2009 – 27/10/2009, pois cremos que neste período após vários dias de
campanha eleitoral e de discussão com a população sobre o que defendiam como políticas
públicas para Moçambique, as questões que os candidatos à presidência da República defendiam
já estavam mais focalizadas e com as eleições à porta, este consistia no período de relembrar aos
eleitores o que cada candidato defendia.

Depois seguiu-se a exploração e o tratamento dos resultados, de referir que no ponto seguinte
iremos apresentar a análise dos dados. Mas antes de serem submetidos à análise, os dados
passaram por dois processos, o primeiro foi a definição das unidades de análise, que para os
efeitos do presente trabalho nos socorremos dos ODM, os quais agrupamos pelas suas principais
áreas de acção, com vista a servirem de variáveis para analisar, sendo que deste agrupamento
resultaram os seguintes indicadores:

41
Os feriados nacionais são: 1 de Janeiro, 3 de Fevereiro, 7 de Abril, 1 de Maio, 25 de Junho, 7 de Setembro, 25 de
Setembro, 4 de Outubro e 25 de Dezembro.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 58


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Variáveis Indicadores
Financeiro Redução do endividamento
Aumento do rendimento
Emprego/trabalho
Boa governação/corrupção
Comercial Exportação
Produção agrícola/industrial
Educação Alfabetização
Equidade
Tecnologia
Saúde Redução da mortalidade materna/infantil
Doenças graves
Acesso a medicamentos
Meio ambiente Desenvolvimento sustentável
Água
Tabela 3: Variáveis e indicadores utilizados no trabalho

O segundo processo foi a selecção do tipo de enumeração, que optamos pela frequência simples,
que defende que “a importância de uma unidade de registro aumenta com a frequência de
aparição” (BARDIN, p. 135).

E como nós pretendemos identificar quais são as principais questões apresentadas na publicidade
política moçambicana, é necessário sabermos quantas vezes um indicador aparece nos discursos,
ou textos. De modo que, com base nas frequências, possamos indicar quais os que são mais
mencionados, classificando-os como sendo os principais, por assim dizer, “a aparição de um
item será tanto mais significativa quanto mais esta frequência se repetir” (idem, p. 135),
atribuindo-lhes assim um grau de importância.

Após termos apresentado a técnica de pesquisa que guiou a nossa recolha de dados, iremos de
seguida apresentar os resultados da nossa leitura.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 59


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

3. Moçambique e o conceito de Democracia

Antes de apresentarmos os resultados da presente pesquisa, surge a necessidade de fazermos uma


apreciação sobre a aplicação do conceito Democracia à realidade moçambicana. Pois os
resultados que depois serão apresentados fazem referência aos temas apresentados pelos partidos
políticos com vista a angariação de votos, e esta prática surge dentro dum regime democrático,
nesse sentido, surgiu a necessidade de se fazer uma reflexao sobre a “democracia” vigente em
Moçambique.

O conceito de Democracia que guia este trabalho é o apresentado por Schumpeter, e será a luz
dele que faremos uma análise da realidade moçambicana. Schumpeter defende que o conceito de
democracia

“Caracteriza-se muito mais pela concorrência organizada pelo voto do que pela soberania do povo,
ou sufrágio universal, como afirma a teoria clássica. (…) A democracia poderá ser formulada da
seguinte forma ou através dos seguintes preceitos: 1º A Democracia é um método político, ou seja,
um certo tipo de arranjo institucional para se alcançarem decisões políticas – legislativas e
administrativas-, e portanto não pode ser um fim em si mesma, não importando as decisões que
produza sob condições históricas dadas; 2º Acordo institucional para se chegar a decisões políticas
em que os indivíduos adquirem o poder de decisão através de uma luta competitiva pelos votos da
população; 3º Método que uma nação usa para chegar a decisões; 4º Livre competição pelo voto
livre; 5º Governo aprovado pelo povo” (SCHUMPETER apud FERREIRA, S.D, p. 8-9).

O processo de implementação da Democracia em Moçambique teve início em 1990, com a


adopção da nova Constituição da República, e com a realização das primeiras eleições Gerais e
Presidenciais em 1994. A Constituição adoptada em 1990 abriu espaço para o multipartidarismo
e para a realização de eleições livres.

A luz dos preceitos defendidos por Schumpeter (apud FERREIRA, S.D), podemos defender que
em Moçambique temos uma democracia, pois há a realização de eleições regulares onde o povo
escolhe os seus governantes. E após a realização dessas eleições, existe a proclamação dos
vencedores e ainda não houve manifestação (reclamação) do povo contra os resultados
divulgados.

O que, no nosso entender, significa que o povo “aprova” os resultados divulgados, e os


governantes eleitos, o que vai de acordo com o 5º preceito, que defende que a democracia
consiste de um “Governo aprovado pelo povo” (SCHUMPETER apud FERREIRA, S.D, p. 6).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 60


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Entretanto, se o povo não reclamou dos resultados o mesmo não se pode dizer dos partidos
políticos, pois, como defende o Open Society Initiative for Southern Africa – OSISA (2009), o
facto do partido Renamo não reconhecer os resultados das eleições 42, e concomitantemente o
governo aprovado, já se tornou normal.

Chegando-se ao ponto de, em consequência dos resultados divulgados das eleições autárquicas
de 2008, o líder da Renamo, Afonso Dlakhama, manifestar a “sua vontade de incitar as
populações das diversas autarquias do país à desobediência civil. (…) e a constituição de
governos paralelos em vários municípios do país (…)” (idem, 2009, p. 106).

Podemos ainda, inferir que em Moçambique há democracia porque o governo eleito, governo
aprovado pelo povo e faz uso do poder e da autoridade que obteve através da “aprovação” do
povo, e torna-se no primeiro nível de tomada de decisão no Estado, ao qual cabe “conduzir os
destinos da Nação” através do desenho de programas43. Esta assunção é baseada no primeiro
preceito do conceito de democracia proposto por Schumpeter (apud FERREIRA, S.D, p. 6),
segundo o qual “a democracia é um método político, (…) para se alcançarem decisões políticas
(…), não importando as decisões que produza (…) ”.

A tomada de decisões políticas e o desenho de programas pressupõe que haja um acordo entre os
diversos círculos de tomada de decisão existentes na sociedade (círculos como o religioso,
económico, administrativos, entre outros) e o governo. É nesse sentido que entendemos que a
realidade moçambicana se adequa ao pressuposto defendido pelo segundo preceito do conceito,
onde a democracia consiste num “acordo institucional para se chegar a decisões políticas em
que os indivíduos adquirem o poder de decisão através de uma luta competitiva pelos votos da
população” (apud FERREIRA, S.D, p. 9).

O quarto preceito do conceito defende que nas democracias existe uma livre competição e
analisando o conceito sociológico de competição através da definição de Maia (2004), onde
42
“Até à data, nas três eleições gerais, presidenciais e legislativas (1994, 1999, 2004), organizadas por
Moçambique, em todas elas a RENAMO (1994) ou a RENAMO-UE (1999 – 2004), como principal coligação
eleitoral de oposição, consideraram ter havido fraude e recusaram-se a aceitar os resultados” (OSISA, 2009, p. 8).
43
O nosso posicionamento é baseado no conceito de Decisão Política de Karl Deutsch, segundo o qual ela
corresponde a “tomada de decisões através de meios públicos em qualquer comunidade maior que a família. (… )
Tem a ver com o nível das decisões e dos programas, isto é, com o governo, com a decisão primária, e não com as
actuações secundárias e derivadas, como são as da mera administração” (MALTEZ, S.D).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 61


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

competição corresponde a luta entre concorrentes, sejam eles individuais ou grupos sociais, com
vista à obtenção de uma posição mais elevada, quer seja social, económica, cultural ou de poder.
No âmbito político a competição exerce-se através da luta partidária (ou no interior dos próprios
partidos políticos) com vista ao acesso ou manutenção do poder político.

Podemos dizer que este preceito é “cumprido” pois em Moçambique desde o período de
implementação da democracia, concretamente desde a realização das Primeiras Eleições Gerais e
Presidenciais de 1994, temos a competição entre partidos (e os seus concorrentes, no caso das
eleições presidenciais e municipais). Esses partidos buscam, através do processo eleitoral,
cumprindo as normas definidas, quer pela Constituição da República e pela Lei Eleitoral, para o
processo, alcançar o poder político através do voto, poder que é legitimado pelo Conselho
Constitucional através da “validação e proclamação dos resultados finais do processo eleitoral”
(http://www.cconstitucional.org.mz/O-Conselho/Breve-Historial).

Entretanto, a competição pelo poder político que existe em Moçambique não é equitável pois,
como defende Hanlon (2009), os partidos partem para as eleições de forma desigual, enquanto
por lei está estipulado que os partidos estão em pé de igualdade44 no que toca a oportunidades
para concorrer às eleições e apresentar as suas ideias.

Na prática, a situação é diferente, pois o partido no poder utiliza os meios do Estado para fazer
campanha política (especialmente as viaturas do Estado), os funcionários públicos demoram na
emissão de documentos para os partidos da oposição, entre outras situações que “mancham” a
igualdade que os partidos têm para concorrer às eleições e apresentar as suas ideias (HANLON,
2009).

Esta situação transparece a imagem de que em Moçambique, o partido político no poder, em


períodos eleitorais, se sobrepõe ao Estado, chegando ao ponto deste, mesmo tendo acesso a
fundos disponibilizados pelo Estado para a campanha eleitoral, fazer uso dos meios e recursos do
Estado para a realização das campanhas eleitorais sem que nenhum órgão competente (seja o
STAE – Secretariado Técnico da Administração Eleitoral ou a CNE – Comissão Nacional de
Eleições) puna essa prática.

44
Todos os partidos tem tempo de antena equivalente ao seu tamanho, quer na rádio ou televisão pública, e recebem
fundos para a campanha (também equivalente ao seu tamanho) (HANLON, 2009).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 62


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Para além da livre competição, o quarto preceito do conceito de Schumpeter defende o voto
livre. Em Moçambique o acto de votar é um direito cívico do cidadão, cabendo a ele a decisão de
participar ou não do acto eleitoral, demonstrando assim que o acto de votar não é obrigatório
(OSISA, 2009). O nosso conceito de voto livre está assente no facto de que em alguns países,
como o Brasil, existir a obrigatoriedade legal de os cidadãos votarem, esta obrigação vem
estipulada na Lei Eleitoral, e o não cumprimento desta obrigação resulta em sanções 45 para o
cidadão (GICO, 2007).

No que diz respeito ao terceiro preceito da democracia defendido por Schumpeter, podemos
dizer que a democracia presente em Moçambique não se adequa. O terceiro preceito do conceito
defende que a democracia é um “método que uma nação usa para chegar a decisões” (apud
FERREIRA, S.D, p. 9).

Esta afirmação implica que o povo (ou as organizações da sociedade civil em representação do
povo46) dotado de vontade política participa na tomada de decisões que dizem respeito ao
Estado/País, auxiliando/influenciando o governo na formulação de políticas públicas. O que no
caso de Moçambique não acontece, pois, como defende OSISA (2009), no que tange a
intervenção social e participação política, as organizações da sociedade civil moçambicanas não
tem protagonismo para influenciar/auxiliar o governo na tomada de decisões.

Após esta breve análise, entendemos que em Moçambique há uma democracia pois há uma
competição pelo voto livre com vista ao alcance do poder político; encontramos um governo
aprovado pelo povo; o governo existente toma decisões políticas com base em acordos
estabelecidos; o que corresponde a quatro dos cinco preceitos defendidos por Schumpeter para a
democracia.

45
Sanções como: multas que variam de 3% a 10% sobre o salario mínimo, suspensão do direito de obtenção de
documentos de identificação (Bilhete de Identidade, Passaporte), impossibilitam ao cidadão à obtenção de
empréstimos em qualquer instituição financeira que seja comparticipada pelo governo, entre outras (GICO, 2007).
46
Optamos por trabalhar com o conceito de organizações da sociedade civil, pois, como defende Hegel (apud
Bobbio, 1982), as organizações sociais (associações e comunidades da sociedade civil) servem de mediadores no
relacionamento entre o indivíduo e o Estado, ou seja, as organizações da sociedade civil desempenham um papel de
mediadoras entre o povo e o Estado, actuando como representantes do povo junto ao Estado na formulação de
políticas públicas.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 63


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

4. Apresentação dos Resultados

Para se conhecer quais as principais questões apresentadas na publicidade política moçambicana


procedeu-se ao uso da técnica de análise de conteúdo para a leitura dos jornais publicados
durante o período eleitoral e o período intermédio entre as eleições à presidência da República
(de 2009 e de 2014). Pretendemos neste ponto apresentar os resultados obtidos dessa leitura.

De salientar que, para a realização do presente trabalho recorremos à leitura dos jornais “O País”
e “Notícias” publicados nas semanas em que se comemorava um feriado nacional, o que perfez
um total de 100 jornais lidos para os dois períodos em análise, distribuídos da seguinte forma:

Jornais
Notícias O País Total
2009 21 6 27
2011 27 46 73
Tabela 4: Número de Jornais lidos

A apresentação dos resultados será guiada por dois momentos , no primeiro iremos apresentar os
resultados da leitura relativa a cada um dos jornais, depois iremos apresentar uma leitura feita
para cada um dos períodos eleitorais, de modo a nos permitir fazer uma análise da forma como
os meios de comunicação de tipos de propriedades diferentes apresentam aspectos relativos à
temática política de Moçambique.

Em termos estruturais, iremos primeiramente apresentar os resultados obtidos da leitura dos


jornais para o ano de 2009, para de seguida apresentarmos os dados obtidos para o ano de 2011,
e por fim faremos a apresentação dos dados conjugados relativos aos dois anos.

O principal constrangimento que encontramos na realização do presente trabalho foi o acesso aos
jornais impressos, com principal destaque para os do ano 2009, isto porque o acervo
bibliográfico do Jornal “O País” e do Jornal “Notícias” não são para consulta pública, o que
explica o reduzido número de jornais analisados, com principal destaque para os jornais de 2009,
onde ao todo foram lidos somente 27 jornais. De referir, que a maior parte dos jornais objecto de
análise no presente trabalho foram consultados na Biblioteca Nacional e na Biblioteca do Centro
de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 64


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

4.1. Período Eleitoral – 2009

Com relação ao período eleitoral – período em que se realizaram as eleições gerais e


presidenciais de 2009 – foi-nos possível constatar que, ao nível do jornal “O País” as reportagens
que foram feitas sobre a campanha eleitoral e apresentadas na secção “Política” do jornal
trataram de um modo global a forma como esta decorreu, sendo que as ideias, princípios e
valores que os candidatos apresentavam foram tratadas de um modo geral.

A tabela abaixo apresenta os indicadores e a frequência de ocorrência patentes no jornal “O País”


relativos ao ano de 2009:

Variáveis Indicadores Frequência de Ocorrência Percentagem


Financeiro Redução do endividamento 0 0%
Aumento do rendimento 1 3%
Emprego/trabalho 5 16%
Boa governação/corrupção 1 3%
Comercial Exportação 0 0%
Produção agrícola/industrial 6 19%
Educação Alfabetização 4 13%
Equidade 0 0%
Tecnologia 3 9%
Saúde Redução da mortalidade 2 6%
materna/infantil
Doenças graves 1 3%
Acesso a medicamentos 0 0%
Meio Desenvolvimento sustentável 2 6%
ambiente Água 7 22%
Tabela 5: Resultados obtidos da leitura do jornal O País - 2009

Nos dados acima apresentados, vemos que o indicador com maior frequência de ocorrência é
“água” com uma frequência de 7, o que corresponde a 22%, seguido pelo indicador “produção
agrícola/industrial” com uma frequência de 6, o que corresponde a 19%, e pelo indicador
“emprego/trabalho” com uma frequência de 5, o que corresponde a 16%.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 65


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Com base nestes dados é nos possível concluir, que nos jornais “O País” impressos em 2009, as
principais questões apresentadas pelos partidos políticos são: aumento do acesso a água potável,
aumento da produção agrícola e/ou industrial e aumento do emprego ou trabalho.

Nos jornais “Notícias” publicados no período de 2009, foi-nos possível verificar que as
reportagens relativas à campanha eleitoral apresentadas na secção “Política” do jornal eram
relativas à acção de um determinado partido/candidato num determinado local, apresentando as
suas ideias, valores e princípios expostos pelos mesmos com vista a angariarem o voto da
população, onde eles defendiam o que se comprometiam a fazer caso vencessem as eleições.

Na tabela que se segue apresentamos os indicadores e as suas frequências de ocorrência, com


base na leitura dos jornais “Notícias”:

Variáveis Indicadores Frequência de Ocorrência Percentagem


Financeiro Redução do endividamento 0 0%
Aumento do rendimento 7 4%
Emprego/trabalho 52 31%
Boa governação/corrupção 5 3%
Comercial Exportação 0 0%
Produção agrícola/industrial 28 17%
Educação Alfabetização 18 11%
Equidade 2 1%
Tecnologia 4 2%
Saúde Redução da mortalidade 13 8%
materna/infantil
Doenças graves 8 5%
Acesso a medicamentos 1 0%
Meio Desenvolvimento sustentável 3 2%
ambiente Água 28 17%
Tabela 6: Resultados obtidos da leitura do jornal Notícias - 2009

Como se pode constatar com base nos dados apresentados acima, o indicador com a maior
frequência de ocorrência é “emprego/trabalho” (com 52, o que corresponde a 31%), seguido
pelos indicadores “produção agrícola/industrial” e “água” (ambos com uma frequência de 28, o
que corresponde a 17%), e o indicador “alfabetização” (com 18, o que corresponde a 11%).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 66


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Com base nestes dados podemos concluir que, através da leitura dos jornais “Notícias”, as
principais questões apresentadas pelos partidos políticos no período eleitoral são: aumento do
emprego ou trabalho, aumento da produção agrícola e/ou industrial, aumento do acesso à água
por parte da população e aumento da população alfabetizada.

Da leitura dos jornais “O País” e “Notícias” relativos ao período eleitoral, foi-nos possível
produzir a tabela abaixo, onde apresentamos os indicadores e a frequência de ocorrência para o
período de 2009.

Variáveis Indicadores Frequência de Ocorrência Percentagem


Financeiro Redução do endividamento 0 0%
Aumento do rendimento 8 4%
Emprego/trabalho 57 28%
Boa governação/corrupção 6 3%
Comercial Exportação 0 0%
Produção agrícola/industrial 34 17%
Educação Alfabetização 22 11%
Equidade 2 1%
Tecnologia 7 3%
Saúde Redução da mortalidade 15 7%
materna/infantil
Doenças graves 9 4%
Acesso a medicamentos 1 0%
Meio Desenvolvimento sustentável 5 2%
ambiente Água 35 17%
Tabela 7: Resultados obtidos da leitura dos jornais de 2009

Ao longo do período eleitoral, as principais questões apresentadas na publicidade política


divulgada pelos partidos políticos/candidatos versavam sobre a maioria das metas definidas para
o alcance dos ODM, dando maior destaque para o aumento do emprego ou trabalho (com 57, o
que corresponde 28% da frequência de ocorrência), aumento do acesso à água (com 35, o que
corresponde a 17%), aumento da produção agrícola/industrial (com 34, o que corresponde a
17%) e aumento da alfabetização (com 22, correspondendo a 11%).

Com base nestes dados foi-nos também possível verificar que os indicadores “redução do
endividamento”, “exportação” e “acesso a medicamentos” tem todos uma frequência de

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 67


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

ocorrência inferior a 2, o que corresponde a 0%, e que os indicadores da variável saúde não
apresentam um peso significativo, sendo que cada um deles corresponde a menos de 10% da
frequência de ocorrência de todos os indicadores apresentados nos jornais em análise.

Dos 8 ODM’s a que o Estado moçambicano se comprometeu a alcançar até 2015, constatamos
que os que mais se destacam na perspectiva dos partidos políticos/candidatos são:

1) Objectivo 1: Erradicar a pobreza extrema e a fome, através do alcance das metas: (i)
redução para metade a percentagem de pessoas cujo rendimento é inferior a 1 dólar por dia;
(ii) redução para metade a percentagem da população que sofre de fome. Que seriam
concretizadas através do aumento do emprego ou trabalho, como forma de aumentar o
rendimento das pessoas, e aumento da produção agrícola e/ou industrial.

2) Objectivo 7: Garantir a sustentabilidade ambiental, através do alcance da meta: redução


para metade a percentagem da população sem acesso permanente à água potável. Que seria
concretizada através do aumento do acesso à água.

3) Objectivo 2: Alcançar o ensino primário universal, que seria alcançado pela garantia de
que todos os rapazes e raparigas terminem o ciclo completo do ensino primário. Que seria
concretizado através da conclusão do ensino primário pelas crianças.

4.2.Período Intermédio – 2011

Com relação ao período intermédio entre as eleições realizadas entre 2009 e as que irão ser
realizadas em 2014, foi possível verificar que as reportagens apresentadas na secção “Política”
dos jornais “Notícias” e “O País” seguiram a mesma estrutura, tratavam-se de reportagens que
buscavam debater temas que estavam em destaque na arena política.

Nos jornais “O País” foi possível fazer a seguinte leitura dos indicadores, apresentada na tabela
abaixo:

Variáveis Indicadores Frequência de Ocorrência Percentagem


Financeiro Redução do 0 0%
endividamento

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 68


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Aumento do rendimento 0 0%
Emprego/trabalho 10 15%
Boa governação/corrupção 12 18%
Comercial Exportação 0 0%
Produção 16 24%
agrícola/industrial
Educação Alfabetização 6 9%
Equidade 0 0%
Tecnologia 11 16%
Saúde Redução da mortalidade 0 0%
materna/infantil
Doenças graves 0 0%
Acesso a medicamentos 5 7%
Meio Desenvolvimento 2 3%
ambiente sustentável
Água 5 7%
Tabela 8: Resultados obtidos da leitura do jornal O País - 2011

Como se pode ver com base nos dados acima apresentados, da leitura dos jornais “O País”
relativos ao ano de 2011, o indicador com maior frequência de ocorrência é “produção
agrícola/industrial” com uma frequência de 16, correspondendo a 24%, seguido do indicador
“boa governação/corrupção” com 12, correspondendo a 18%, depois pelo indicador “tecnologia”
com 11, correspondendo a 16%, e pelo indicador “emprego/trabalho” com 10, correspondendo a
15% da frequência de ocorrência dos indicadores apresentados no jornal.

Podemos concluir, da leitura dos jornais “O País” impressos ao longo do ano de 2011, que as
principais questões divulgadas pelos partidos políticos no período intermédio prendem-se com o
aumento da produção agrícola e/ou industrial, combate à corrupção, acesso às tecnologias de
informação e comunicação e aumento do acesso ao emprego.

Da leitura dos jornais “Notícias” impressos ao longo do ano de 2011, foi-nos possível produzir a
tabela abaixo, onde apresentamos os indicadores e a sua frequência de ocorrência.

Variáveis Indicadores Frequência de Ocorrência Percentagem


Financeiro Redução do endividamento 0 0%
Aumento do rendimento 0 0%
Emprego/trabalho 37 36%

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 69


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Boa governação/corrupção 16 15%


Comercial Exportação 1 1%
Produção agrícola/industrial 5 5%
Educação Alfabetização 6 6%
Equidade 5 5%
Tecnologia 11 11%
Saúde Redução da mortalidade 0 0%
materna/infantil
Doenças graves 20 19%
Acesso a medicamentos 1 1%
Meio Desenvolvimento sustentável 1 1%
ambiente Água 1 1%
Tabela 9: Resultados obtidos da leitura do jornal Notícias - 2011

Como se pode verificar na tabela acima, da leitura feita aos jornais “Notícias”, o indicador com
maior frequência de ocorrência é “emprego/trabalho” correspondendo a 36% da frequência de
ocorrência, seguido pelo indicador “doenças graves” que equivale a 19%, seguido por “boa
governação/corrupção” (15%), e pelo indicador “tecnologia” (11%).

Com base nestes dados podemos concluir que as principais ideias, valores e princípios
divulgados pelos partidos políticos prendem-se com o aumento do acesso ao emprego ou
trabalho, combate de doenças graves como HIV/SIDA, tuberculose, entre outras, combate à
corrupção e acesso às tecnologias de informação e comunicação.

Da leitura dos jornais selecionados, referentes ao ano de 2011, foi-nos possível constatar que
durante o período intermédio entre as eleições, os partidos políticos acrescentam às ideias,
valores e princípios divulgados durante o período eleitoral, outros aspectos que visam auxiliar o
país com vistas ao desenvolvimento. Como se pode ver na tabela que se segue, alguns
indicadores tomam posições que não tinham no ano de 2009.

Variáveis Indicadores Frequência de Ocorrência Percentagem


Financeiro Redução do endividamento 0 0%
Aumento do rendimento 0 0%
Emprego/trabalho 47 27%
Boa governação/corrupção 28 16%
Comercial Exportação 1 1%

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 70


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Produção agrícola/industrial 21 12%


Educação Alfabetização 12 7%
Equidade 5 3%
Tecnologia 22 13%
Saúde Redução da mortalidade 0 0%
materna/infantil
Doenças graves 20 12%
Acesso a medicamentos 6 4%
Meio Desenvolvimento sustentável 3 2%
ambiente Água 6 4%
Tabela 10: Resultados obtidos da leitura dos jornais de 2011

Assim, o indicador com maior frequência de ocorrência é “emprego/trabalho” (27%), seguido


pelo indicador “boa governação/corrupção” (16%), de seguida temos o indicador “tecnologia”
(13%), e os indicadores “produção agrícola/industria” e “doenças graves” correspondendo cada
um a 12%.

Com base nos dados apresentados na tabela acima, podemos concluir que as principais questões
apresentadas na publicidade política divulgadas pelos partidos políticos ao longo do ano de 2011
prendiam-se com o aumento do emprego, combate à corrupção, aumento do acesso da população
às tecnologias de informação e comunicações, aumento da produção agrícola ou industrial e
combate às doenças graves.

Depriende-se destes dados, que os partidos políticos no período intermediário destacam o


combate à corrupção, como segunda questão mais apresentada na publicidade política, o que
pode ser explicado pelo facto de que em 2009 os partidos políticos visavam alcançar o poder
político, e tendo-o alcançado como não, em 2011, os partidos buscavam garantir que eram
impostas, pelo partido que detivesse o poder, medidas que promovessem práticas de boa
governação, e que levassem ao combate à corrupção nas instituições Estado.

De salientar que, ao longo do ano de 2011, os indicadores “redução do endividamento”,


“aumento do rendimento” e “redução da mortalidade materna/infantil” não tiveram frequência de
ocorrência.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 71


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Dos dados obtidos relativos ao ano de 2011, é possível verificar que dos 8 ODM’s, os que se
encontram patentes na publicidade política apresentada nos jornais relativos ao período em
análise, são:

1) Objectivo 1: Erradicar a pobreza extrema e a fome, através do alcance das metas: (i)
redução para metade a percentagem de pessoas cujo rendimento é inferior a 1 dólar por dia;
(ii) redução para metade a percentagem da população que sofre de fome. Que seriam
concretizados através do aumento do emprego ou trabalho como forma de aumentar o
rendimento das pessoas, e aumento da produção agrícola e/ou industrial.

2) Objectivo 8: Criação de uma parceria global para o desenvolvimento, através do alcance


da meta: (i) criação de uma relação de boa governação; (ii) facilitar o acesso às novas
tecnologias, em particular as de informação e comunicação. Que seria concretizado através
do combate à corrupção e aumento do acesso às tecnologias de informação e comunicação.

3) Objectivo 6: Combate ao HIV/SIDA, malária e outras doenças, que seria alcançado


através das metas: (i) inversão da propagação do HIV/SIDA; e, (ii) redução da incidência da
malária e outras doenças graves. Que seriam alcançadas através do combate às doenças
graves.

4.3.Apresentação dos dados por Variáveis

Após termos apresentado os resultados por cada um dos períodos aos quais nos propusemos
analisar, iremos de seguida apresentar os dados de uma forma global, procurando olhar para as
variáveis destacando as que têm maior frequência de ocorrência, salientando o comportamento
que a frequência de ocorrência teve em cada um dos períodos em análise. Para nos auxiliar neste
objectivo, produzimos a tabela que se segue, onde procuramos fazer uma comparação dos
indicadores em cada um dos períodos.

Ano: 2009 Ano: 2011


Variáveis Frequência de Percentagem Frequência de Percentagem
Ocorrência Ocorrência
Financeiro 71 35% 75 44%

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 72


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Comercial 34 17% 22 13%


Educação 31 15% 39 23%
Saúde 25 12% 26 15%
Meio ambiente 40 20% 9 5%
Tabela 11: Resultados obtidos da leitura dos jornais para cada variável

Com base nestes dados foi possível notar que a variável financeira é a que tem a maior
frequência de ocorrência com 146, sendo que em 2009 correspondia a 35% das frequências de
ocorrência, e em 2011 ele correspondia a 44%. Segue-se a variável educação com uma
frequência de ocorrência de 70, onde em 2009 ele correspondia a 15%, e em 2011 correspondia a
23%. Em último lugar está a variável comércio, com uma frequência de ocorrência de 56, onde
em 2009 correspondia a 17% das frequências de ocorrência, e em 2011 correspondia a 13%.

Neste ponto procuramos também fazer uma apreciação do comportamento que cada um dos
indicadores foi assumindo dentro de cada variável, e para tal produzimos a tabela que se segue:

Ano: 2009 Ano: 2011


Variáveis Indicadores Freq. de Percent. Freq. de Percent.
Ocorrência Ocorrência
Financeiro Redução do 0 0% 0 0%
endividamento
Aumento do 8 4% 0 0%
rendimento
Emprego/trabalho 57 28% 47 27%
Boa governação 6 3% 28 16%
/corrupção
Comercial Exportação 0 0% 1 1%
Produção agrícola 34 17% 21 12%
/industrial
Educação Alfabetização 22 11% 12 7%
Equidade 2 1% 5 3%
Tecnologia 7 3% 22 13%
Saúde Redução da 15 7% 0 0%
mortalidade materna
/infantil
Doenças graves 9 4% 20 12%
Acesso a 1 0% 6 4%
medicamentos
Meio Desenvolvimento 5 2% 3 2%
ambiente sustentável

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 73


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Água 35 17% 6 4%
Tabela 12:Frequência de ocorrência dos indicadores nos períodos em análise

Com relação à variável financeira, verificamos que o indicador com maior destaque é o
“emprego/trabalho” com uma frequência de 104, seguido pelo indicador “boa
governação/combate à corrupção” com uma frequência de 34, e por último o “aumento do
rendimento” com uma frequência de 8. De salientar que dentro desta variável o indicador
“redução do endividamento” não teve uma frequência de ocorrência.

No tocante à variável saúde, notamos que o indicador “doenças graves” tem a maior frequência
de ocorrência, com 29, seguido pelo indicador “mortalidade infantil/materna” com uma
frequência de ocorrência de 15, e por último o “acesso a medicamentos” com uma frequência de
ocorrência de 7.

Relativamente à variável meio ambiente, constatamos que o indicador com maior frequência de
ocorrência é “acesso à água potável” (41), seguido pelo indicador “desenvolvimento sustentável”
com uma frequência de ocorrência de 8. Na variável comercial, verificamos que o indicador
“produção agrícola/industrial” tem a maior frequência de ocorrência de 55, seguido pelo
indicador “exportação” com uma frequência de ocorrência de 1.

No concernente à variável educação notamos que o indicador com maior frequência de


ocorrência é “alfabetização” com 34, seguido pelo indicador “tecnologia” com uma frequência
de 29, e por último o indicador “equidade” com uma frequência de ocorrência de 7.

Da análise dos jornais impressos nos dois períodos em análise, foi possível verificar que o
Objectivo de Desenvolvimento do Milénio 1, com a componente de aumento do rendimento, que
passaria pelo aumento do acesso ao emprego ou trabalho é a que tem maior frequência de
ocorrência (104) de todos os ODM’s.

E, que na publicidade política apresentada nos jornais 5 dos 8 ODM’s a que o Estado
moçambicano se subscreveu são os mais destacados, sendo eles: (i) Objectivo 1 – Erradicar a
pobreza extrema e a fome; (ii) Objectivo 2 – Alcançar o ensino primário universal; (iii)
Objectivo 6 – Combate ao HIV/SIDA, malária e outras doenças graves; (iv) Objectivo 7 –

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 74


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Garantir a sustentabilidade ambiental; e, (v) Objectivo 8 – Criação de uma parceria global para o
desenvolvimento.

Como corolário, verificamos que as principais questões apresentadas na publicidade política


patente nos jornais impressos nos períodos em análise, com o intuito de mobilizar os votos dos
cicadaos, prendem-se com o aumento do número de empregos/trabalho (com uma frequência de
ocorrência de 104), aumento da produção, tanto agrícola como industrial (com uma frequência
de ocorrência de 55), acesso à água potável (com uma frequência de ocorrência de 41), combate
à corrupção (com uma frequência de ocorrência de 34), aumento da população alfabetizada (com
uma frequência de 34) e redução do nível de incidência das doenças graves (com uma frequência
de ocorrência de 29), pois estes são os indicadores que apresentaram maior frequência de
ocorrência.47

4.4. A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político

Diante dos resultados apresentados, verificamos que a participação política, um dos pilares da
democracia, está dependente da mobilização da população a participar nos actos eleitorais. E,
uma das formas de mobilização é feita através dos discursos proferidos pelos candidatos/partidos
políticos, que são consubstanciados através da publicidade política apresentada nos jornais. Onde
as reportagens visavam dar a conhecer aos leitores as ideias, valores e princípios defendidos
pelos partidos políticos perante a população.

O discurso envolve em si uma acção, ou seja, um discurso anuncia o que um determinado actor
pretende ou irá fazer, e é através dessa enunciação que se consegue mobilizar a participação da
população nos actos políticos. O discurso envolve ainda a presença do outro ser social, pois ele
anuncia quem é, e o que esse indivíduo irá fazer em prol de um determinado grupo, e é com base
no que o indivíduo se propõe a fazer que as pessoas irão ou não votar nele.

Para o discurso poder mobilizar a participação das pessoas nos actos eleitorais é necessário que
ele foque questões que são do interesse da sociedade. Questões com as quais a sociedade se

47
Estes indicadores correspondem a 80% das frequências de ocorrência para as áreas de intervenções defendidas
pelos partidos políticos, , com base na análise da publicidade política apresentada nos jornais publicados em 2009 e
em 2011.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 75


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

identifique e sinta que há uma necessidade de trabalhar sobre elas, isto é, questões sentidas pela
sociedade no seu dia-a-dia.

E estando num país que luta para alcançar o desenvolvimento, que tinha em 2008/09 uma taxa de
incidência da pobreza de 54,7%48, o que faz com que a pobreza seja um tema sentido pela maior
parte da população e a realidade social espelhada no discurso apresentado pelos partidos
políticos/candidatos aborda o combate à pobreza e, consequentemente, a luta pelo
desenvolvimento.

A partir da leitura da publicidade política apresentada nas reportagens compreende-se que,


apesar da principal característica que compõe a realidade “mundana e objectiva” (ARENDT,
1987, p. 195) ser o combate à pobreza, as questões apresentadas nos discursos variam de acordo
com o período em que o mesmo é proferido.

No período eleitoral as principais questões que fazem com que a sociedade se identifique com o
discurso político prendem-se com: aumento do emprego ou trabalho, aumento da produção
agrícola e industrial, acesso à água potável e alfabetização. No período intermédio as principais
questões prendem-se com: aumento do emprego ou trabalho, combate à corrupção e promoção
de práticas de boa governação, acesso às tecnologias de comunicação e informação e aumento da
produção agrícola e industrial.

Da mesma forma que as questões mudam consoante o período, os interesses dos membros do
campo político também mudam. Se no período eleitoral os membros do campo político
apresentam os interesses da sociedade como sendo os seus interesses, onde as acções que
prometem realizar prendem-se com o labor (aumento da produção agrícola e industrial, acesso à
água potável) e o trabalho (aumento do emprego ou trabalho, alfabetização). Aspectos que
Arendt (1987) considera fazerem parte do espaço privado, e que a sua defesa no espaço público
pode levar a uma privatização do mesmo espaço.

No período intermédio, apesar de ainda haver esta “privatização do espaço público”, onde as
principais questões apresentadas prendem-se com o labor e o trabalho (duas da actividades

48
De acordo com MPD (2010).

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 76


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

humanas fundamentais), vemos também que há referência para um controle das actividades
levadas a cabo pelo governo.

Onde os membros procuram, acrescentando aos seus discursos questões sobre o combate à
corrupção e promoção de práticas de boa governação, limitar o exercício do poder por parte dos
representantes eleitos. De salientar que, no campo político moçambicano só participam os
membros dos partidos políticos, que procuram, através da luta que ocorre dentro do campo,
alcançar ou manter o poder.

Ao longo do período eleitoral, o campo político é caracterizado por uma competição pelo voto
com vistas ao alcance do poder político, do poder sobre o Estado. Estas lutas são protagonizadas
pelos membros dos diferentes partidos políticos que apresentando as suas ideias, valores e
princípios buscam mobilizar o voto do cidadão a seu favor. Pelas questões apresentadas pelos
membros do campo nota-se que existe uma privatização do espaço público, tanto no período
eleitoral como no intermédio, onde as acções a que os partidos se propõem a realizar estão
voltadas para aspectos particulares dos indivíduos.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 77


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

CAPÍTULO IV

CONCLUSÃO

1. Conclusão

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 78


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Da realização do trabalho foi possível verificar que as principais questões apresentadas na


publicidade política abordam os ODM’s, sendo que o enfoque que é dado a cada um deles varia
de acordo com o período. No período eleitoral a enfase é dada ao aumento do emprego, aumento
da produção agrícola e industrial, acesso à água e alfabetização da população, aspectos que
focam as variáveis Financeira, Comercial, Meio Ambiente e Educação. Enquanto no período
intermédio a enfase é dada ao aumento do emprego, combate à corrupção, acesso às tecnologias
de informação e comunicação e aumento da produção agrícola e industrial, aspectos que tocam
as variáveis Financeira, Educação e Comercial.

Ou seja, os interesses dos membros do campo político variam de acordo com o período em que
se encontram. Se no período eleitoral, o campo político é caracterizado pela luta pelo alcance ou
manutenção do poder político, em que para ter acesso a ele, os candidatos/partidos políticos nos
seus discursos abordam questões que visam o alcance das necessidades humanas básicas
(alimentação, emprego, água), como forma de revesti-los de interesses com os quais a sociedade
se identifique.

No período intermédio, o campo político é caracterizado por lutas que visam regular o exercício
do poder pelos que o detêm, nesse sentido, os discursos políticos para além de serem revestidos
de questões que se prendem com o alcance das necessidades básicas, incorporam o aspecto do
combate à corrupção e promoção de práticas de boa governação.

As lutas que ocorrem dentro do campo político são lutas que visam o alcance do poder, do direito
de poder falar e actuar em nome do povo, pois o povo não participa do campo político. E como
forma de alcançar esse poder, os candidatos/partidos políticos se comprometem a desenvolver
acções que vão de encontro às necessidades da sociedade, de modo a que esta possa se identificar
com os seus discursos, e votar neles. E estando numa sociedade que luta para alcançar o
desenvolvimento, em que metade da população ressente-se da pobreza, a forma de fazer com que
a sociedade se identifique com um discurso, é fazer com que este prenda-se com o combate à
pobreza e o suprimento das necessidades básicas.

Chegados ao fim do presente trabalho há que referir que não existe uma definição consensual
sobre democracia. Sendo que as diferentes definições que existem podem ser agrupadas por
aspectos históricos, características constitutivas da democracia e processos a ela inerentes.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 79


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

A democracia é regida pela aplicação de princípios que reflectem a vida social, económica e
política de uma sociedade, e a relação destes aspectos faz com que surjam novos tipos de
democracia, o que faz com que seja necessário redefinir o conceito de regimes políticos e a sua
tipologia. É da redefinição da tipologia de regimes, que surge o regime nova democracia, que é o
regime vigente em Moçambique e caracteriza-se por ser bipartidário, onde vemos que a arena
política tende a ser dominada pelos partidos Frelimo e Renamo.

Para a realização do presente trabalho, defendemos que o regime democrático patente em


Moçambique apresenta alguns dos pressupostos defendidos pelo conceito de democracia de
Schumpeter, dentre eles o facto de o governo ser aprovado pelo povo, as eleições que são
realizadas consistem numa competição pelo voto livre da população.

A hipótese por nós formulada foi submetida a um teste de falseamento e foi corroborada. Nesse
sentido, verificamos que as principais questões apresentadas na publicidade política
moçambicana abordam aspectos defendidos nos ODM’s, principalmente no que se refere ao
aumento do emprego/trabalho, aumento da produção agrícola e/ou industrial, acesso à água
potável, combate à corrupção, acesso à educação e pelo combate às doenças graves. Com base
nestes aspectos defendemos que a publicidade política veiculada nos meios de comunição está
mais centrada em 5 dos 8 ODM’s.

O quadro teórico utilizado mostrou-se valido, na medida em que a teoria de Arendt (1987) nos
permitiu compreender que os partidos políticos procuram mobilizar a população a votar através
dos seus discursos, e das acções que eles implicam. E como forma de mobilizar a população,
procuram revestir os discursos de interesses que são os interesses da sociedade, de modo a que
esta possa se identificar com os discursos e assim votar no determinado partido.

Nesse sentido, a principal temática utilizada para revestir os discursos de interesses com os quais,
se crê que, a população se identifique é o aumento do emprego. Visto que esta foi a principal
questão apresentada na publicidade política nos dois períodos, sendo que as outras questões
variavam de acordo com os interesses dos membros do campo político.

Através do conceito de campo político de Bourdieu, foi possível verificar que o campo político
moçambicano caracteriza-se por ser um campo fragilizado, onde os seus membros não

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 80


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

participam nele o tempo todo, mas sim em momentos específicos, o que acabou fazendo com que
a nossa amostra recaisse sobre os momentos comemorativos.

No período eleitoral foi possível constatar que o campo se caracteriza por haver uma luta entre os
membros do campo com vista ao alcance do poder político. Para tal os candidatos apresentam
nos seus discursos questões que se prendem com o alcance das necessidades humanas básicas.

No período intermédio, encontramos os membros do campo político dialogando entre si em


determinados momentos, e esse diálogo é caracterizado pela referência a existência de
mecanismos que visam o controlo das actividades exercidadas pelos que detêm o poder.

Ou seja, no periodo intermédio os membros do campo político que não detêm o poder dialogam
com os que detêm o poder atraves da referência a questões que visam o combate da corrupção e
promoção de práticas de boa governação.

Referência Bibliográfica

 ALBINATI, Ana S. Economia e Moralidade na obra de Marx: a crítica da moral


utilitarista. In: V Colóquio Internacional Marx e Engels, Centro de Estudos Marxistas
(CEMARX) da UNICAMP, 3., S.D, São Paulo. Anais electrónicos… Disponível em:

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 81


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

http://www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt1/s
essao3/Ana_Selva_Albinati.pdf. Acesso em 25 de Janeiro de 2013.

 ARENDT, Hannah. Capítulo I: A Condição Humana. in A Condição Humana.


(Tradução Roberto Raposo) Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987. P. 15 – 59.

 _________ . Capítulo V: Acção. in A Condição Humana. (Tradução Roberto Raposo)


Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987. P. 188 – 205.

 BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Edição revista e actualizada. Coimbra:


Edições 70, S.D.

 BOBBIO, Norberto. Gramsci e a Concepção da Sociedade Civil. in O Conceito de


Sociedade Civil. (trad. Carlos Coutinho). Rio de Janeiro: Edições Graal, 1982. P. 19 –
31.

 BOURDIEU, Pierre. O Campo Político. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília,


n° 5, p. 193 – 216, Jan-Jul 2011. Disponível em:
http://seer.bce.unb.br/index.php/rbcp/article/viewFile/6274/5133. Acesso em: 20 Junho
de 2012.

 BRAGA DA CRUZ, Manuel. 1. Democracia, Igualdade e Liberdade. in Teorias


Sociológicas: Os Fundadores e os Clássicos (Antologia de Textos). I Volume. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. P. 259 – 282.

 Capítulo IV: Direitos, Liberdades e garantias de Participação Política. in Constituição da


República 2004 (Actualizada). Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique, 2008. P.
31 – 33.

 CHICHAVA, Sérgio. Movimento Democrático de Moçambique: uma nova força política


na democracia moçambicana? Cadernos IESE (Instituto de Estudos Sociais e
Económicos), Maputo, nº2, 2010. Disponível em:
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/cad_iese/CadernosIESE_02_SC.pdf. Acesso em 20
de Novembro de 2011.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 82


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

 DA SILVA, Lílian; AMORIM, Wellington. Política, Democracia e o conceito de


“Representação Política” em Weber. Revista Interdisciplinar Científica Aplicada,
Blumenau, v.2, n.4, p. 01 – 16, Sem II. 2008. Disponível em:
http://rica.unibes.com.br/index.php/rica/article/viewFile/244/235. Acesso em: 20 de
Novembro de 2011.

 DE ALBUQUERQUE, Afonso. Advertising ou propaganda? O audiovisual político


brasileiro numa perspectiva comparativa. Revista Alceu – Revista de Comunicação,
Cultura e Política, SL, v. 5, nº10, p. 215 – 227, Janeiro/Junho de 2005. Disponível em:
http://revistaalceu.com.puc-rio.br/media/alceu_n10_albuquerque.pdf. Acesso em 20 de
Novembro de 2011.

 DE TOLLENAERE, Marc. Democracia e eleições em Moçambique: Teoria e Prática. in


MAZULA, Brazão (coord.). Moçambique. 10 Anos de Paz. Volume I. Maputo: CEDE –
Centro de Estudos de Democracia e Desenvolvimento, 2002. P 227 – 297.

 Escritório de Programas Internacionais de Informação - EPII. Princípios da


Democracia. O que é Democracia? S.L: Departamento de Estado dos Estados Unidos
da Ámerica, S.D. Disponível em: http://www.embaixada-
americana.org.br/democracia/democracy.pdf. Acesso em 15 de Março de 2012.

 FERREIRA, Nuno Miguel. O Conceito de Democracia segundo Schumpeter. Centro de


Estudos Jurídicos, Políticos e Sociais, Lisboa, Universidade Independente, S.D.
Disponível em:
http://empreende.org.br/pdf/Democracia%20e%20Participa%E7%E3o/O%20conceito%2
0de%20democracia%20segundo%20Joseph%20Schumpeter.pdf. Acesso em 10 de
Janeiro de 2012.
 GARCIA, Maria da Glória F. P. D. Valores, Democracia e Terceiro Sector. In:
CONFERÊNCIA SOBRE VALORES, DEMOCRACIA E TERCEIRO SECTOR.
Lisboa: Instituto Dom João de Castro, 24 de Junho de 2010. Resumo dos Trabalhos
apresentados... Disponível em:
http://www.idjc.pt/PDFs/Valores_democracia_e_terceiro_sector.pdf. Acesso em 10 de
Janeiro de 2012.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 83


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

 GICO, Ivo. Liberdade de Voto. Latin American and Caribbean Law and Economics
Association, S.L., p. 1 – 5, Janeiro 2007. Disponível em:
http://works.bepress.com/cgi/viewcontent.cgi?article=1021&context=ivo_teixeira_gico_j
unior. Acesso em 17 de Setembro de 2012.
 GIL, António C. Capítulo 2: Métodos das Ciências Sociais. in Métodos e Técnicas de
Pesquisa Social. 5ª edição. São Paulo: Editora Atlas, 1999. P. 26 – 35.
 HANLON, Joseph (editor). Que quer dizer realmente “level playing field”? Boletim
sobre o Processo Político em Moçambique, Maputo, nº43, p. 3 – 5, 19 de Novembro de
2009. Disponível em:
http://www.cip.org.mz/election2009/ndoc2009/289_Mo%C3%A7ambique_Boletim_%20
43_elei%C3%A7%C3%B5es.pdf. Acesso em 29 de Maio de 2012

 HEYWOOD, Andrew. Chapter 2: Governments, Systems and Regimes. in Politics. 2ª


edição. Nova Iorque: Palgrave MacMillan, 2002. P. 25 – 40.

 IVALA, Adelino Zacarias. Formas Tradicionais de Participação Comunitária na


Tomada de Decisões, Gestão de Recursos Naturais e Resolução de Conflitos.
Disponível em:
http://www.iid.org.mz/formas_tradicionais_de_participacao_comunitaria_tomada_deciso
es.pdf. Acesso em 07 de Março de 2012

 LISBOA, Marcelo. O Conceito de Democracia em Hans Kelsen. 2006. 122 f. (folhas).


Dissertação (Mestrado em Direito) - Curso de Pós-Graduação em Direito, Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. Disponível em:
http://server05.pucminas.br/teses/Direito_LisboaMM_1.pdf. Acesso em 20 de Novembro
de 2012.

 MACAGNO, Lorenzo. Fragmentos de uma Imaginação Nacional. Revista Brasileira de


Ciências Sociais, Brasil, vol. 24, nº70, p. 17 – 35, Junho de 2009.

 MAIA, Rui Leandro (coord.) Dicionário de Sociologia. Porto: Porto Editora, 2004. Pp
96, 396 – 397.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 84


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

 MALTEZ, José. Decisão Política. Centro de Estudos do Pensamento Político,


Portugal, S.D. Disponível em:
http://www.iscsp.utl.pt/~cepp/indexfro1.php3?http://www.iscsp.utl.pt/~cepp/conceitos_p
oliticos/decisao_politica.htm. Acesso em 15 de Setembro de 2012.

 Ministério da Planificação e Desenvolvimento – MPD. Relatório Sobre os Objectivos


de Desenvolvimento do Milénio de 2010. Maputo: Diname, 2010.

 NAMBURETE, Eduardo. A Comunicação Social em Moçambique: da Independência à


Liberdade. In: ANUÁRIO INTERNACIONAL DE COMUNICAÇÃO LUSÓFONA.
Resumo dos Trabalhos apresentados… Lisboa: 2003. Disponível em:
<http://revcom.portcom.intercom.org.br/index.php/anuariolusofono/article/view/1137/88
5>. Acesso em 27 de Novembro de 2009.

 NETO, Francisco. XI – Regimes Políticos e Democracia (Democrático – Não


democrático). Aulas sobre Teoria Geral do Estado. Disponível em:
http://www.profbruno.com.br/aulas2/02%20TEORIA%20GERAL%20DO%20ESTADO
%20-%20TGE/RES%2011a%20AULA%20-
%20REGIMES%20POL%CDTICOS%20E%20DEMOCRACIA.pdf. Acesso em 6 de
Fevereiro de 2012

 Open Society Initiative for Southern Africa – OSISA. Moçambique: Democracia e


Participação Política. Joanesburgo, África do Sul: OSISA, 2009. Disponível em:
<http://www.afrimap.org/english/images/report/AfriMAP-Moz-PolPart-PT.pdf>. Acesso
em 27 de Novembro de 2009.

 PASQUINO, Gianfranco. Capítulo 2: A Participação Política. in Curso de Ciência


Política. (Tradução Ana da Mota) Cascais: Principia, 2002. P. 49 – 62.

 Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD.Moçambique. Relatório


Nacional do Desenvolvimento Humano 2005. Desenvolvimento Humano até 2015:
Alcançando os Objectivod de Desenvolvimento do Milénio. Maputo: PNUD, 2006.

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 85


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

 _______________. Moçambique. Relatório Nacional do Desenvolvimento Humano


2007. Desafios e Oportunidades. A resposta ao HIV e SIDA. Maputo: PNUD, 2007.

 ______________. Africa Human Development Report 2012. Towards a Food Secure


Future. Nova Iorque: UNDP, 2012. P. 153 – 156.

 PRADO, Carlos B. A dialética do conceito de Democracia em O Capital de Karl Marx.


Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, São
Paulo, p. 1 – 10, S.D. Disponível em:
http://www.ifch.unicamp.br/formulario_cemarx/selecao/2009/trabalhos/a-dialetica-do-
conceito-de-democracia-em-o-capital-de-karl-m.pdf. Acesso em 14 de Dezembro de
2012.

 RABAÇA, Carlos A.; BARBOSA, Gustavo G. Dicionário de Comunicação. 2ª edição.


So Paulo: Editora Ática, 1995. Pp 481 – 486.

 REDE MUNICIPAL DE BIBLIOTECAS PÚBLICAS DO CONCELHO DE


PALMELA. Democracia Grega. Dossier temático dirigido às Escolas. Palmela:
Novembro 2009.

 SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Vacina Tríplice (DTP) contra –


Difteria/Tétano/Coqueluche. Projecto Directrizes – Associação Médica Brasileira e
Conselho Federal de Medicina, S.L, Setembro 2002. Dsiponível em:
http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/125.pdf.

 SITOE, Eduardo et all. 4. Contemporary History of Political Parties and Party Systems.
in Parties and Political Development in Mozambique. EISA Research Report nº22.
Joanesburgo: EISA, 2005. P. 14 – 25.

 SZYMANIAK, Wlodzimierz J. (coord.). Dicionário de Ciências da Comunicação.


Porto: Porto Editora, 2000. P. 193 – 199.

 VILLA, Tereza. Cobertura do tratamento directamente observado (DOTS) da tuberculose


no Estado de São Paulo (1993 a 2004). Revista da Escola de Enfermagem da

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 86


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Universidade de São Paulo, São Paulo, volume 42, nº 1, p. 98 – 99, 2008. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n1/13.pdf.

 Jornais Consultados

Jornal “O País” Jornal “Notícias”


2009 2009
Quinta-feira 1 de Outubro de 2009 Ano VII nº555 Quarta-feira, 4 de Fevereiro de 2009

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 87


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

nº27468
Sexta-feira 2 de Outubro de 2009 Ano VII nº556 Sexta-feira, 6 de Fevereiro de 2009 nº27470
Segunda-feira 5 de Outubro de 2009 Ano VII
Sábado, 7 de Fevereiro de 2009 nº27471
nº557
Terça-feira 6 de Outubro de 2009 Ano VII nº558 Terça-feira, 7 de Abril de 2009 nº27521
Quarta-feira 7 de Outubro de 2009 Ano VII nº559 Quarta-feira, 8 de Abril de 2009 nº27522
Quinta-feira 8 de Outubro de 2009 Ano VII nº560 Quinta-feira, 9 de Abril de 2009 nº27523
2011 Sexta-feira, 10 de Abril de 2009 nº27524
Segunda-feira 31 de Janeiro de 2011 Ano VII
Sexta-feira, 1 de Maio de 2009 nº27542
nº927
Terça-feira 1 de Fevereiro de 2011 Ano VII nº928 Sábado, 2 de Maio de 2009 nº27543
Quarta-feira 2 de Fevereiro de 2011 Ano VII nº929 Quarta-feira, 6 de Maio de 2009 nº 27546
Segunda-feira, 22 de Junho de 2009
Quinta-feira 3 de Fevereiro de 2011 Ano VII nº930
nº27586
Sexta-feira 4 de Fevereiro de 2011 Ano VII nº931 Terça-feira, 23 de Junho de 2009 nº27587
Sábado 5 de Fevereiro de 2011 Ano VII nº930 Quinta-feira, 25 de Junho de 2009 nº27589
Segunda-feira 4 de Abril de 2011 Ano VII nº980 Sexta-feira, 26 de Junho de 2009 nº27590
Terça-feira 5 de Abril de 2011 Ano VII nº981 Sábado, 27 de Junho de 2009 nº27591
Quarta-feira 6 de Abril de 2011 Ano VII nº982 Quinta-feira 1 de Outubro de 2009 nº27672
Sexta-feira 8 de Abril de 2011 Ano VII nº984 Sexta-feira 2 de Outubro de 2009 nº27673
Segunda-feira 5 de Outubro de 2009
Segunda-feira 2 de Maio de 2011 Ano VII nº1003
nº27675
Terça-feira 3 de Maio de 2011 Ano VII nº1004 Terça-feira 6 de Outubro de 2009 nº27676
Quarta-feira 4 de Maio de 2011 Ano VII nº1005 Quarta-feira 7 de Outubro de 2009 nº27677
Quinta-feira 5 de Maio de 2011 Ano VII nº1006 Quinta-feira 8 de Outubro de 2009 nº27678
Sexta-feira 6 de Maio de 2011 Ano VII nº1007 2011
Segunda-feira 31 de Janeiro de 2011
Sábado 7 de Maio de 2011 Ano VII nº1008
nº28087
Segunda-feira 20 de Junho de 2011 Ano VII
Terça-feira 1 de Fevereiro de 2011 nº28088
nº1043
Quinta-feira 3 de Fevereiro de 2011
Terça-feira 21 de Junho de 2011 Ano VII nº1044
nº28090
Quarta-feira 22 de Junho de 2011 Ano VII nº1045 Sábado 5 de Fevereiro de 2011 nº28092
Quinta-feira 23 de Junho de 2011 Ano VII nº1046 Segunda-feira 4 de Abril de 2011 nº28141
Sexta-feira 24 de Junho de 2011 Ano VII nº1047 Terça-feira 5 de Abril de 2011 nº28143
Sábado 25 de Junho de 2011 Ano VII nº1048 Quarta-feira 6 de Abril de 2011 nº28144
Segunda-feira 27 de Junho de 2011 Ano VII
Quinta-feira 7 de Abril de 2011 nº28145
nº1047
Segunda-feira 5 de Setembro de 2011 Ano VII
Sexta-feira 8 de Abril de 2011 nº28146
nº1102
Terça-feira 6 de Setembro de 2011 Ano VII nº1103 Sábado 9 de Abril de 2011 nº28147

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 88


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Quarta-feira 7 de Setembro de 2011 Ano VII


Segunda-feira 2 de Maio de 2011 nº28166
nº1104
Quinta-feira 8 de Setembro de 2011 Ano VII
Terça-feira 3 de Maio de 2011 nº28167
nº1105
Sexta-feira 9 de Setembro de 2011 Ano VII nº1106 Quarta-feira 4 de Maio de 2011 nº28168
Sábado 10 de Setembro de 2011 Ano VII nº1107 Sexta-feira 6 de Maio de 2011 nº28170
Quinta-feira 22 de Setembro de 2011 Ano VII
Segunda-feira 20 de Junho de 2011 nº28208
nº1117
Sexta-feira 23 de Setembro de 2011 Ano VII
Terça-feira 21 de Junho de 2011 nº28209
nº1118
Sábado 24 de Setembro de 2011 Ano VII nº1119 Quarta-feira 22 de Junho de 2011 nº28210
Segunda-feira 26 Setembro de 2011 Ano VII
Quinta-feira 23 de Junho de 2011 nº28211
nº1120
Terça-feira 27 Setembro de 2011 Ano VII nº1121 Sexta-feira 24 de Junho de 2011 nº28212
Quarta-feira 28 de Setembro de 2011 Ano VII
Segunda-feira 27 de Junho de 2011 nº28215
nº1122
Terça-feira 4 de Outubro de 2011 Ano VII nº1127 Terça-feira 4 de Outubro de 2011 nº28301
Quarta-feira 5 de Outubro de 2011 Ano VII nº1128 Quinta-feira 6 de Outubro de 2011 nº28303
Quinta-feira 6 de Outubro de 2011 Ano VII nº1129 Sexta-feira 7 de Outubro de 2011 nº28304
Sexta-feira 7 de Outubro de 2011 Ano VII nº1130 Sábado 8 de Outubro de 2011 nº28305
Segunda-feira, 17 de Outubro de 2011
Sábado 8 de Outubro de 2011 Ano VII nº1131
nº28312
Segunda-feira 17 de Outubro de 2011 Ano VII Quarta-feira 19 de Outubro de 2011
nº1138 nº28314
Quinta-feira, 20 de Outubro de 2011
Terça-feira 18 de Outubro de 2011 Ano VII nº1139
nº28315
Quarta-feira 19 de Outubro de 2011 Ano VII
nº1139
Quinta-feira 20 de Outubro de 2011 Ano VII
nº1140
Sexta-feira 21 de Outubro de 2011 Ano VII nº1141
Sábado 22 de Outubro de 2011 Ano VII nº1142

 Endereços da internet consultados


 Portal do Governo da República de Moçambique (Acesso em

http://www.portaldogoverno.gov.mz/Informacao/politica/sistema-politico/part_pol/

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 89


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

 Portal do Conselho Constitucional de Moçambique (Acesso em

http://www.cconstitucional.org.mz/O-Conselho/Breve-Historial

 Portal da Empresa Intercampus – Estudos de Mercado (Acesso em )

http://www.intercampus.co.mz/noticias3.htm

 Portal dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (Acesso em

http://www.objectivo2015.org/inicio/

 Portal da Organização Não Governamental Water Aid:

http://www.wateraid.org/documents/12924_portuguese_briefing_note_off_track_off_target_final
.pdf
 Portal do Fundo das Nações Unidas para a Infancia

http://www.unicef.pt/docs/os_objectivos_de_desenvolvimento_do_milenio.pdf

 Portal do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

http://www.undp.org.mz/

 Portal da Wikipedia

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_%C3%8Dndice_de_Desenvol
vimento_Humano

 Portal sobre Vacinação

http://www.vacinas.org.br/vacinas05.htm

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 90


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

ANEXOS

ANEXO I

Feriados Nacionais

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 91


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Data Feriado Motivo Comemorativo

1 de Janeiro Ano Novo Primeiro dia do Ano


Em homenagem a Eduardo Mondlane - 1º
Dia dos Heróis
3 de Fevereiro Presidente da Frente de Libertação de
Moçambicanos
Moçambique, falecido nesta data em 1969
Em homenagem a Josina Machel, antiga
combatente da FRELIMO falecida nesta data
Dia da Mulher
7 de Abril em 1971, e em reconhecimento ao papel
Moçambicana
dedempenhado pela mulher na luta de libertação
colonial
Dia Internacional do Feriado comemorado pela maioria dos países
1 de Maio
Trabalhador em homenagem aos trabalhadores
Dia da Independência Proclamação da independência nacional em
25 de Junho
Nacional 1975
Em homenagem à assinatura dos Acordos em
Lusaka entre o governo colonial portugês e a
7 de Setembro Dia dos Acordos de Lusaka
FRELIMO, onde se reconheceu o direito do
povo moçambicano à independência
25 de Dia das Forças Armadas de Em homenagem ao início da luta armada de
Setembro Defesa de Moçambique libertação nacional
Em homenagem ao Acordo Geral de Paz
assinado em 1992, que pôs termo a Guerra
4 de Outubro Dia do Acordo Geral de Paz
Civil, e foi assinado entre o partido Frelimo e a
RENAMO
25 de
Dia da Família Natal
Dezembro

Período de Análise

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 92


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Semanas de 2009

De 31 de Dezembro de 2008 a 6 de Janeiro de 2009


De 1 de Fevereiro a 7 de Fevereiro
De 6 de Abril a 12 de Abril
De 30 de Abril a 6 de Maio
De 22 de Junho a 28 de Junho
De 3 de Setembro a 9 de Setembro
De 21 de Setembro a 27 de Setembro
De 1 de Outubro a 7 de Outubro
De 21 de Dezembro a 27 de Dezembro

Semanas de 2011

De 30 de Dezembro de 2010 a 5 de Janeiro de 2011


De 31 de Janeiro a 6 de Fevereiro
De 4 de Abril a 10 de Abril
De 1 de Maio a 7 de Maio
De 20 de Junho a 26 de Junho
De 5 de Setembro a 11 de Setembro
De 22 de Setembro a 28 de Setembro
De 3 de Outubro a 9 de Outubro
De 17 de Outubro a 23 de Outubro
De 22 de Dezembro a 28 de Dezembro

ANEXO II

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 93


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Tabela mostrando a evolução do Índice de Desenvolvimento Humano de Moçambique49

Ano Índice de Desenvolvimento Humano de Moçambique (IDH)

2000 0.366
2001 0.385
2002 0.402
2003 0.414
2004 0.428
2005 0.448
2006 0.458
2007 0.466
2008 0.402
2009 0.317
2010 0.322
2011 0.322
2012 0.327

ANEXO III

49
Tabela produzida com base em dados obtidos nos relatórios: PNUD (2006), PNUD (2007), PNUD (2012) e nos
sites
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_%C3%8Dndice_de_Desenvolvimento_Humano,
e http://www.undp.org.mz/

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 94


A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano

Sheila Mariza da Glória Chemane Página 95

Você também pode gostar