Título:
A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano*
Título:
A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano
(Autora)
Sheila Mariza da Glória Chemane
Maputo
Agosto de 2013
O Júri
A Autora
______________________________________________________________________
(Sheila Mariza da Glória Chemane)
Maputo
Agosto de 2013
DEDICATÓRIA
i
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar gostaria de agradecer aos meus pais, se não fossem eles eu não
estaria aqui. Sou-lhes grata pela educação e pela formação que me foram dadas, por
terem estado sempre presentes e prontos para dar conselhos e me apoiar nas decisões
que foi tomando ao longo do meu percurso académico e não só.
Aos meus irmãos (Ivan, Diana e Fatiminha), por todo o apoio, dedicação, cuidado e
carinho que me deram e tem vindo a dar ao longo destes anos. Com eles sempre contei
para dividir as minhas alegrias e tristezas. À minha família, em especial a tia Sandra, a
tia Melita e a minha madrinha, pelos conselhos e pelo encorajamento neste percurso.
A Profª. Dra. Nair Teles pelo apoio e conselhos dados durante o percurso académico,
pela disponibilidade que me demostrou e pela sua orientação durante a realização do
presente trabalho, o meu muito obrigada.
Aos membros do Grupo I (Clemente, Lucília, Maguweny, Olga e Olívia), que acabaram
constituindo uma segunda família para mim, pois ao longo dos quatro anos trabalhamos
juntos (sem descanso, até aos fins de semana) e enfrentamos diversas batalhas. Em
especial as meninas, com as quais desenvolvi um laço de amizade forte e que é nutrido
até hoje, pelos puxões de orelha, pelas chamadas de atenção e pela força que me deram
ao longo deste percurso, muito obrigada.
À minha melhor amiga, Rassy, pelo seu apoio ao longo desta longa caminhada
Ao meu namorado por sempre me ter incentivado a terminar o curso, por me ter apoiado
e estado sempre lá quando precisei, muito obrigada.
E a todos aqueles que não foram mencionados, mas que contribuíram para a minha
formação, para que eu seja quem eu sou hoje, acompanhando todos os meus passos,
estando sempre ali para me apoiar e dar-me lições de vida, a vocês, eu só tenho a dizer
ii
RESUMO
Da análise dos resultados, foi possível verificar que o campo político moçambicano no
período eleitoral é caracterizado por lutas entre os partidos políticos com vista ao
alcance do poder político, e como forma de fazer com que a sociedade se identifique
com os seus discursos e assim angariarem votos, os partidos políticos nos seus discursos
apelavam para o aumento do emprego, acesso à água, aumento da produção
agrícola/industrial e aumento da alfabetização. No período intermédio verificamos que o
campo era caracterizado por um controlo das actividades levadas a cabo pelo partido no
poder, e as principais questões apresentadas no discurso político prendem-se com o
aumento do emprego, combate a corrupção e promoção da boa governação, aumento do
acesso às tecnologias de informação e comunicação e aumento da produção
agricola/industrial.
iii
ABSTRACT
Analyzing the results, it was verified that the Mozambican political field in the election
period is characterized by struggles between political parties towards the achievement
of political power, and as a way to make society identifies with his speeches and so vote
on that parties, political parties in their speeches appealed to increase of employment,
access to water, increase of agricultural / industrial production and increase of literacy.
In the intermediate period we find that the political field is characterized by a control of
the activities undertaken by the party that has the power, and the key questions in
political discourse relate to employment growth, combating corruption and promoting
good governance, increasing access to information and communication technologies and
increase of agricultural / industrial production.
iv
Índice
Pag.
Dedicatória i
Agradecimentos ii
Resumo iii
Abstract iv
Introdução………………………………………………………………………… 1
v
2. Método de Análise …………………………………………………………….. 55
1. Conclusão ……………………………………………………………………… 80
ANEXOS ………………………………………………………………………… 92
vi
Lista de Tabelas
Pag.
Tabela 11: Resultados obtidos da leitura dos jornais para cada variável
………………………………………………………………………………………… 74
Tabela 12: Frequência de ocorrência dos indicadores nos períodos em análise ...…… 74
vii
Lista de Acrónimos
HB – Hepatite B
UD – União Democrática
viii
ix
A Publicidade Política e os Discursos do Campo Político Moçambicano
INTRODUÇÃO
1. Introdução
E como forma de mobilizarem as pessoas através dos seus dircursos, os partidos recorrem a
publicidade política. Defendendo que os cidadãos participam do sistema político porque se
identificam com os temas abordados e que os meios de comunicação procuram dar a conhecer
aos cidadãos o que acontece na sociedade, temos como pergunta de partida, que guiou a nossa
pesquisa: quais são as principais questões apresentadas na publicidade política moçambicana?
E avançamos como preposição provisória que irá fornecer resposta condicional ao problema
levantado, que as principais questões apresentadas espelham aspectos abordados nos Objectivos
de Desenvolvimento do Milénio – ODM’s, aos quais Moçambique subscreveu, porque eles
espelham um conjunto de acções que visam o combate a pobreza e a melhoria de condições de
vida.
Como em Moçambique existem vários jornais, tivemos que seleccionar jornais que serviriam de
objecto de análise. Essa escolha foi guiada com base num estudo realizado em 2010 pela
empresa Intercampus – Estudos de Mercado cujo objectivo, dentre vários, era o de dar a
conhecer a evolução das taxas de audiência para os vários meios de comunicação, e no caso da
imprensa escrita, dar a conhecer quais os jornais mais lidos pelos moçambicanos. Com base
nesse estudo os jornais mais lidos em Moçambique são: jornal “A Verdade” (1º lugar), jornal
“Notícias” (2º lugar) e jornal “O País” (3º lugar)1. E foram estes jornais que seleccionamos para
a realização do presente trabalho.
Além de fazer a análise sobre o período eleitoral, surgiu a necessidade de fazer uma análise
comparativa com um período intermédio, com vista a analisarmos se as questões levantadas no
1
De salientar que este estudo foi feito em todas as capitais provinciais de 28 de Junho a 28 de Setembro de 2010,
com uma amostra representativa de 35.234 pessoas. O jornal “A Verdade” é o mais lido com 42% de audiência,
seguido pelo jornal “Notícias” com 24% e o jornal “O País” com 8% (http://www.intercampus.co.mz/noticias3.htm).
período eleitoral são as mesmas que são abordadas num período não eleitoral. E nesse sentido
escolhemos o ano de 2011, pois neste ano já se haviam passado quase dois anos da realização das
eleições, e restavam três anos para a realização das eleições seguintes.
Para além destes motivos, a escolha de 2009 e 2011 como períodos de análise foi guiada pelo
facto de, tanto em 2009 como em 2011, terem sido definidos como anos em que se faria a
homenagem aos antigos presidentes da FRELIMO2, sendo que o ano 2009 foi tido como “Ano
Eduardo Mondlane” e 2011 como “Ano Samora Machel”.
2
Frente de Libertação de Moçambique, movimento que lutou pela libertação de Moçambique do jugo colonial
português.
Para possibilitar a leitura dos dados obtidos através da leitura dos jornais escolhemos a teoria do
discurso e a acção de Hannah Arendt e o conceito de campo político de Pierre Bourdieu, pois a
teoria de Arendt (1987) defende que é no espaço público que os políticos apresentam os seus
discursos, e as acções a que eles fazem refêrencia. E como na modernidade a distinção entre o
espaço privado e o espaço público ser ténue, nos socorremos do conceito de campo político de
Bourdieu para delimitar o nosso espaço de análise.
A escolha do presente tema prende-se ao facto de, como se verá ao longo do trabalho, a
participação política em Moçambique ficar restringida a momentos eleitorais, sendo assim surgiu
a necessidade de procurar compreender o que move as pessoas, que normalmente não participam
do sistema político, a participarem dele num período específico.
E esperamos, com o mesmo, contribuir para a literatura existente sobre o cenário político em
Moçambique, apresentando os temas que são referenciados pelos partidos políticos com vista a
angariar votos. Acreditamos que o presente trabalho permitirá compreender algumas questões
apresentadas no discurso político. E por fim, a relevância sociológica do estudo, a que nos
propusemos, reside no entendimento da forma como as propostas políticas são veiculadas pela
imprensa escrita.
No terceiro momento do primeiro capítulo, procuramos fazer uma análise sobre o tipo de regime
político patente em Moçambique. Depois abordamos a questão da publicidade política em
Moçambique, apresentando ao longo deste subcapítulo o problema de pesquisa que guiou o
No terceiro capítulo, apresentamos o enquadramento teórico, a base teórica que serviu de fio
condutor para a explicação do fenómeno em análise. De seguida apresentamos os métodos e a
técnica de análise que utilizamos, bem como a descrição de como a técnica foi aplicada para
possibilitar a leitura e interpretação do material apresentado nos jornais. Antes de procedermos a
apresentação dos resultados, fazemos uma reflexão sobre a aplicação do conceito de democracia
à realidade moçambicana. Depois, apresentamos também os resultados, subdivididos em três
pontos: no primeiro, temos os resultados da leitura relativa aos jornais de 2009; no segundo,
apresentamos os resultados de 2011, e, no terceiro momento encontramos uma leitura global dos
resultados; como também apresentamos a análise feita dos resultados.
CAPÍTULO I:
PENSANDO A DEMOCRACIA
1. O Conceito de Democracia
De salientar que, a realização de eleições constitui um dos vários princípios democráticos, e por
isso pretendemos abordar primeiramente o conceito de democracia, seus princípios, tipos, para
de seguida abordarmos a questão da publicidade política.
O termo Democracia (demo+krato3) tem sua origem na Grécia Antiga, e, de forma simplista,
significa “governo pelo demos, o povo” (Rede Municipal de Bibliotecas Públicas do Concelho de
Palmela, 2009, p. 3). Apesar de haver consenso sobre o seu significado etimológico, existem
várias definições de democracia e consequentemente de regimes políticos democráticos.
Entretanto, podemos agrupá-las com base nos aspectos comuns que nelas existem.
Seguindo nesta perspectiva histórica, tem-se Aristóteles (apud HEYWOOD, 2002), para quem a
democracia é um tipo de governo, onde quem domina é o número, isto é, a maioria. Para além
desse aspecto, a democracia tem incorporada em si o princípio da liberdade, onde todos são
iguais entre si. Na mesma óptica, Abraham Lincoln (apud GARCIA, S.D., p. 5) define
democracia como “o governo do povo, pelo povo e para o povo”.
Ainda neste mesmo grupo de autores, encontramos Kelsen (apud LISBOA, 2006), que a
significa como sendo um regime político que garante a participação do povo nas funções
executiva e legislativa através de um método específico de criação da ordem jurídica, “no sentido
3
Demo=povo e kracia=governo (Rede Municipal de Bibliotecas Públicas do Concelho de Palmela, 2009, p. 3)
de que, (…), haja uma identidade entre governantes e governados, entre sujeito e objecto do
poder, governo do povo sobre o povo” (idem, 2006, p.78). Na mesma linha de pensamento, o
Escritório de Programas Internacionais de Informação4 - EPII (S.D.) defende que na democracia
o povo é que detém o poder soberano sobre o poder legislativo e o executivo.
Outro grupo de autores que trabalham com a temática da democracia chamam a atenção para os
aspectos característicos da democracia, como a igualdade, liberdade, entre outros, sem descurar o
facto de ser o povo quem elege os seus representantes. Neste grupo encontramos Marx, onde na
sua obra “O Capital” defende que na esfera de circulação de mercadorias, encontramos
elementos essenciais da democracia, que são eles a liberdade, igualdade, propriedade e
Bentham5.
“A esfera da circulação ou do intercâmbio de mercadorias, dentro de cujos limites se movimentam
compra e venda de força de trabalho, era de fato um verdadeiro éden dos direitos naturais do homem.
O que aqui reina é unicamente Liberdade, Igualdade, Propriedade e Bentham. Liberdade! Pois
comprador e vendedor de uma mercadoria, por exemplo, da força de trabalho, são determinados
apenas por sua livre-vontade. Igualdade! Pois eles se relacionam um com o outro apenas como
possuidores de mercadorias e trocam equivalente por equivalente. Propriedade! Pois cada um dispõe
apenas sobre o seu. Bentham! Pois cada um dos dois só cuida de si mesmo” (MARX apud PRADO,
S.D, p. 3).
Na visão de Maia (2004), a democracia consiste num sistema ou construção política cujo
objectivo principal é a concretização, através das instituições, dos ideais de igualdade, liberdade
e participação dos cidadãos na vida pública. Neste grupo, encontramos Pinto Ferreira (apud
4
Escritório de Programas Internacionais de Informação – EPII, Departamento de Estado dos Estados Unidos da
América
5
Jeremy Bentham, um dos fundadores do Utilitarismo, defende que o homem é governado por dois sentidos, o
prazer e a dor, e ao tomar uma decisão ele faz um cálculo sobre o mínimo de dor e o máximo de felicidade, com
base nesse cálculo, o príncipio da utilidade defende que os homens na sua vida, tanto pública como privada
procuram, através de uma atitude prudente, alcançar a felicidade. E na democracia, caberia ao Estado o papel de
garantir a felicidade dos indivíduos (MAIA 2004).
Marx partindo de uma crítica a teoria proposta por Bentham, facto que o levou a cunhar o termo Bentham, defende
que a teoria utilitarista coloca as necessidades individuais antes da existência social. No seu entender é somente
através das relações de troca que os indivíduos mantêm uns com os outros que se deduzir a utilidade de um
determinado acto, ou seja, que existe um primado do social face aos interesses individuais (ALBINATI, S.D).
NETO, S.D, p. 3), para quem a democracia é uma “forma constitucional de governo da maioria,
que, sobre a base da liberdade e igualdade, garante às minorias no parlamento o direito de
representação, fiscalização e crítica”.
Num terceiro grupo, Schumpeter (apud FERREIRA, S.D.), para apresentar a sua conceituação de
democracia parte da crítica a definições existentes. Uma prende-se ao facto de se ter a
democracia como um sistema em que o povo toma parte das decisões através da eleição de seus
representantes, que irão fazer valer a vontade do “povo”.
Na visão deste autor, esta concepção defende que o povo tem uma opinião definida e racional
sobre todas as questões, e que o povo objectiva essa opinião, e com base nessa objectivação
escolhem os seus representantes que irão zelar para que essa opinião seja seguida. Ou seja, essa
concepção pressupõe a existência de um bem ou interesse comum, cujos executores e guardiões
são os políticos. Porém, Schumpeter advoga não existir algo que seja um bem comum
unicamente determinado; isto é, que para diferentes indivíduos e grupos, o bem comum irá
significar coisas diferentes (FERREIRA, S.D.).
Ainda destaca que a vontade dos cidadãos é um factor político merecedor de atenção, entretanto
é necessário que todos saibam precisamente o que desejam. Porém, isso não acontece, pois a
vontade, os desejos e as opiniões dos indivíduos compõem “um feixe indeterminado de impulsos
vagos envolvidos em torno de palavras de ordem ou de impressões equivocadas” (FERREIRA,
S.D, p.6).
Para o primeiro grupo a democracia é um tipo de governo em que o povo elege os seus
representantes, e estes representantes trabalham para e em função da vontade do povo (governo
pelo povo). Já para o segundo grupo a democracia é um tipo de governo em que o povo é que
elege os seus representantes, porém, esses representantes visam salvaguardar alguns direitos
fundamentais dos indivíduos como a liberdade, a igualdade, entre outros.
A diferença entre estes dois grupos é muito ténue, pois os representantes ao trabalharem em
função da vontade do povo acabam salvaguardando alguns dos direitos fundamentais dos
homens. Então podemos aferir que a principal diferença entre estes grupos prende-se no facto de
o segundo grupo enquadrar as suas definições a partir dos direitos fundamentais da pessoa
humana, como sendo o aspecto intrínseco da própria democracia.
O terceiro grupo defende que os representantes eleitos não governam em função da vontade ou
desejos do povo, pois isso implicaria que este conheça as suas aspirações. Na perspectiva deste
grupo os representantes tem por objectivo alcançar decisões políticas, sejam elas legislativas ou
administrativas, e o papel do povo para este grupo cinge-se as eleições dos representantes.
Como corolário, encontramos diferentes princípios de democracia, que são moldados pela forma
como a democracia é implantada numa determinada sociedade.
De referir que existem diferentes tipos de democracia, e fazendo uma análise sobre a
Democracia Directa, Weber coloca-se extremamente céptico a respeito dela, não por acreditar
que ela seja impossível, mas porque ela exige algumas condições que já não se fazem presentes
no mundo contemporâneo. Na visão de Weber
“ (...) o perigo político da democracia de massas para o Estado jaz primeiramente na possibilidade de
elementos emocionais virem a predominar na política. A ‘massa’ como tal (independentemente das
camadas sociais que a compõem em qualquer exemplo particular) só é capaz de pensar a curto prazo.
Pois, como toda experiência mostra, ela está sempre exposta a influências directas puramente
emocionais e irracionais” (WEBER apud DA SILVA e AMORIM, 2006, p. 13).
Com base numa outra afirmação de Weber, podemos inferir que este autor defende a Democracia
Representativa, onde os representantes do povo, reunidos em Parlamentos ou Assembleias,
exercem o poder, pois, “para o político moderno a escola de lutas apropriadas é o parlamento e
as disputas dos partidos perante o público geral; nem a concorrência pelo avanço burocrático
nem qualquer outra coisa se constituirá num substituto adequado” (WEBER apud DA SILVA e
AMORIM, 2006, p. 11).
A democracia está assente em alguns princípios básicos, princípios estes que moldam a forma
como a democracia é implementada em diferentes países.
De acordo com EPII (S.D), a democracia está assente nos seguintes princípios:
Numa visão similar a de EPII (S.D.), Maia (2004) defende que a democracia assenta em alguns
princípios básicos, que orientam a forma como ela é implementada, e são:
1º Eleição através do sufrágio universal, onde a vontade do povo é expressa e legitimada por
meio do voto livre para a escolha dos representantes do Estado. O voto constitui-se, assim, num
instrumento de pacificação social, na medida em que reafirma a igualdade política entre os
cidadãos;
No que toca a definição do conceito de regime político há que destacar que existem várias
definições, colocando todas elas em destaque a organização do governo, podendo a este aspecto
acrescentar outros. Kelsen define regime político como sendo “a forma de organização dos
Outra definição de regime político é a de Duverger (apud NETO S/D), para este autor regime
político
“Constitui um conjunto de instituições políticas que, em determinado momento, funcionam em dado
país, em cuja base se acha o fenómeno essencial da autoridade, do poder, da distinção entre
governantes e governados, aparecendo, assim, como um conjunto de respostas a quatro problemas
fundamentais relativos à:
Corroborando a visão apresentada na definição acima, Heywood (2002, p.26) defende que um
“sistema ou regime político é um termo amplo, pois abarca dentro de si para além dos
mecanismos do governo e as instituições do Estado, ele inclui as estruturas e os processos
através dos quais eles interagem com a sociedade6”.
Nesse sentido, regime ou sistema político diz respeito a um subsistema de um amplo sistema
social. “Sistema político é um ‘sistema’ porque há inter-relações dentro de um todo complexo, e
‘político’ no sentido em que essas inter-relações estão relacionadas com a distribuição do
poder, riqueza e recursos dentro da sociedade” (idem, 2002, p. 26).
Quanto a tipologia, há que ressaltar que, a classificação clássica foi apresentada pela primeira
vez por Aristóteles numa análise feita sobre as 158 Cidades-Estado Gregas. A sua classificação
visava responder a duas perguntas: “quem governa?” e “quem beneficia da governação?”.
Partindo destas questões, Aristóteles acreditava que o poder podia estar nas mãos de um
indivíduo, de um pequeno grupo e nas mãos de muitos, e a governação poderia ser feita tendo em
vista o alcance de objectivos dos governantes como também com vista ao alcance dos objectivos
da comunidade. Nesse sentido, temos a seguinte tabela:
Quem governa?
Um Indivíduo Poucos Indivíduos A Maioria
6
Tradução nossa de “a political system or regime, on the other hand, is a broader term that encompasses not only
the mechanisms of government and the institutions of the state, but also the structures and processes through which
these interact with the large society” (HEYWOOD, 2002, p. 26).
Para Aristóteles a tirania, a oligarquia e a democracia eram formas de governo imperfeitas pois o
poder estava concentrado nas mãos de um indivíduo, de um pequeno grupo ou das massas, e o
poder era exercido com vista ao alcance dos seus interesses e não dos da população. Enquanto,
na monarquia, aristocracia e polity o poder era exercido com vista ao alcance dos interesses da
população. Estes eram tipos de regimes preferíveis, mas não perfeitos, por isso Aristóteles
defendia uma mistura que combinasse os elementos da democracia e da aristocracia, onde a
governação seria entregue nas mãos da classe média (HEYWOOD, 2002).
Na visão de Lisboa (2006), apesar de existirem vários regimes ou sistemas políticos, os sistemas
básicos são os seguintes: monarquia, aristocracia e democracia. Para este autor, o que diferencia
esses tipos básicos de regimes políticos é a forma como é feita a distribuição do poder. “Quando
esse poder é concentrado em um só indivíduo, temos a monarquia; quando está concentrado em
uns poucos indivíduos, temos a aristocracia; e, quando está nas mãos da maioria do povo, temos
uma democracia” (idem, 2006, p. 75).
De destacar que, este sistema de classificação foi substituído, durante o século XX7, tendo em
conta a grande ênfase que foi sendo atribuída aos elementos constitucionais e institucionais do
jogo político. Nesse sentido, Heywood (2002) defende que pode-se enquadrar historicamente as
actuais classificações em dois períodos. O primeiro que se seguiu logo após a 2ª Guerra Mundial
até as décadas de 1980 e 1990, e o segundo período vai desde a década de 1980 até os dias
actuais.
No primeiro período a classificação dos regimes políticos8 era a seguinte: (i) O primeiro mundo,
capitalista; (ii) O segundo mundo, comunista; e, (iii) O terceiro mundo, em desenvolvimento.
Esta classificação foi feita com base em dimensões económicas, ideológicas, políticas e
7
No século XX o surgimento de novos regimes como o Fascismo na Itália, o Nazismo na Alemanha ou Estalinismo
na Rússia, trouxeram mudanças e fizeram com que se visse o mundo como estando dividido em duas formas/tipos
de regimes políticos, os Estados Democráticos e os Estados Totalitários (HEYWOOD, 2002).
8
Esta classificação surgiu em decorrência das ideologias vigentes durante a Guerra Fria, e ficou conhecida como a
Classificação dos Três Mundos, onde se acreditava que se podia dividir o mundo político em três blocos distintos
(HEYWOOD, 2002).
estratégicas. No que toca as dimensões, em termos económicos o primeiro mundo que detinha
15% da população mundial produzia 63%9 do produto interno bruto mundial10; o segundo mundo
com 33% da população mundial produzia 19% do produto interno bruto mundial, e, o terceiro
mundo, com 52% da população mundial, produzia 18% do produto interno bruto mundial
(HEYWOOD, 2002).
Cada um desses regimes tinha elementos constitutivos distintos. Para Heywood (2002) os países
que estavam no primeiro mundo, podem ser enquadrados no regime democrático liberal, que na
sua visão é uma “forma de governo democrático que faz um balanço entre os princípios e os
limites do governo” (idem, 2002, p. 30), por um lado, e “a ideia de consentimento popular”
(idem, 2002, p. 30), por outro.
Este regime é liberal pois o governo garante a liberdade e protecção dos cidadãos contra o
Estado. É democrático porque se baseia num “sistema de eleições regulares e competitivas,
conduzidas com base no sufrágio universal e na igualdade política” (idem, 2002, p. 30). De
acordo com o autor, os elementos constitutivos deste regime são:
9
De acordo com dados relativos ao ano de 1983 disponibilizados pelo Banco Mundial (HEYWOOD, 2002).
10
Tradução de “world’s gross domestic product” (HEYWOOD, 2002, p. 29).
Os países que estavam na classificação de segundo mundo, podiam ser enquadrados no regime
comunista. Pode-se dizer que o comunismo fundamenta-se na organização da vida social baseada
na propriedade colectiva. Este regime é associado ao pensamento de Marx, para quem o
comunismo significava uma sociedade sem classes na qual a riqueza era propriedade comum, a
produção tinha como objectivo satisfazer as necessidades humanas e o Estado se tinha retirado,
permitindo assim uma harmonia e a auto-realização. Os elementos do comunismo ortodoxo são:
Os países que se encontravam na classificação de terceiro mundo tinham como regime político o
totalitarismo. Pode-se dizer que o totalitarismo é um regime político em que a ordem e a
autoridade eram estabelecidas e mantidas através de uma manipulação ideológica persuasiva, do
terror e da brutalidade. O totalitarismo se diferencia dos outros regimes políticos pois ele procura
alcançar o poder total através da politização de todos aspectos da vida social e individual, nesse
sentido, o totalitarismo implica a abolição do “privado” e da sociedade civil. Os elementos do
totalitarismo são:
De ressaltar que, a partir dos anos de 1970 a 1990 foi difícil manter a classificação acima
apresentada, pois as mudanças que foram acontecendo inviabilizaram a manutenção desta
classificação de forma estrita. Mudanças como o desenvolvimento económico de alguns Estados
do Médio Oriente, do Este Asiático e da América Latina, acompanhado, em contrapartida, por
um maior empobrecimento da África subsaariana. E, o avanço da democratização na Ásia,
América Latina e África, nos anos 1980 e 1990, o que significou que países que estavam no
grupo terceiro mundo já não eram governados exclusivamente por regimes autoritários
(HEYWOOD, 2002).
Apesar dessas mudanças, o facto mais importante que fez com que se abandonasse a
classificação dos “três mundos” foi a queda do regime comunista ortodoxo da União das
Repúblicas Sociais Soviéticas (URSS), que levou à uma “abertura para o processo de
liberalização política e reformas no mercado” (idem, 2002, p. 30). Corroborando com esta ideia,
Aron (apud FERREIRA, S. D, p. 4) defende que
Em consequência desta “desilusão”, Heywood (2002) defende que tem sido difícil aos teóricos
elaborarem uma tipologia que abarque os contornos do novo cenário político mundial, e é por
este motivo que o autor propõe uma outra classificação que tome em conta os aspectos
económicos, políticos e culturais das sociedades. Na sua visão os regimes são caracterizados, em
menor dimensão, por aspectos políticos, económicos ou culturais, e em maior dimensão, pela
forma como esses aspectos (políticos, económicos e culturais) interagem entre si na sociedade.
Esta proposta de classificação de Heywood (2002) tem a particularidade de enfatizar o efeito que
os arranjos políticos e económicos têm e que variam de sociedade para sociedade, pois eles
dependem do contexto cultural.
Na sua nova classificação11, Heywood (2002) defende que existem, no mundo moderno, 5 tipos
de regimes. Sendo os seguintes:
Poliarquias Ocidentais12
Para Heywood (2002), este regime é equivalente a democracia ou democracia liberal, e optou-se
pelo termo poliarquia pois democracia liberal, às vezes, é tida como uma ideia política e, em
consequência disso, é revestida de implicações normativas; e porque o uso do termo poliarquia
implica que se reconhece que estes regimes não conseguem alcançar na totalidade os princípios
da democracia.
De referir que o termo “poliarquia” foi utilizado pela primeira vez por Dahl e Lindblom na sua
obra “Politics, Economics and Welfare” publicada em 1953, e fazia referência a regimes que se
distinguem pela combinação de duas características principais:
1ª) há uma relativa tolerância a oposição, que é suficiente para controlar as tendências
arbitrárias do governo, tal facto é garantido por um sistema competitivo de partidos, garantias
institucionais e protecção da liberdade civil, e, por uma sociedade civil vigorosa e saudável
(HEYWOOD, 2002);
2ª) as oportunidades para a participação na política devem ser abertas o suficiente para
garantir um nível confiante de sensibilidade popular, e para que tal aconteça há a existência de
11
De referir que os próprios regimes estão sempre em mudança e, como consequência, as classificações dos regimes
estão sempre em mudança, com vista a abarcar as mudanças que vão acontecendo no campo político.
12
O título é tradução de Western Polyarchies, regime patente no norte da América, na Europa ocidental e
Australásia (HEYWOOD, 2002).
eleições competitivas e regulares, que operam como um mecanismo através do qual as pessoas
podem controlar, e se necessário, mudar de líderes (HEYWOOD, 2002).
Na visão de Heywood (2002), todos os Estados que realizam eleições multipartidárias têm
características da poliarquia. Porém, as poliarquias ocidentais são mais distintivas e particulares
pois, são marcadas por serem democracias representativas e organizações capitalistas
económicas, como também por uma orientação cultural e ideológica que deriva do liberalismo
ocidental, onde o individualismo liberal13 constitui uma característica marcante.
De salientar que dentro do regime poliárquico existe uma divisão relativa ao tipo de governo, se
o poder deve ser centralizado e majoritário ou fragmentado e pluralista. O primeiro grupo
defende que o poder deve ser centralizado, neste tipo de governo as democracias majoritárias são
organizadas ao longo das linhas parlamentares de acordo com o modelo Westminster14, e os
elementos deste regime são:
13
O individualismo é visto como sendo um dos valores da cultura ocidental, que faz referencia ao facto de cada ser
humano ser único, e a sociedade deve proporcionar as condições necessárias para que cada um possa alcançar os
seus interesses e suprir as suas necessidades (HEYWOOD, 2002).
14
“Westminster model é um tipo de governo em que o poder executivo é exercido (em teoria) em Assembleias ou
Parlamentos” (HEYWOOD, 2002, p. 33).
Novas democracias15
- a repressão e a censura da oposição patente nos regimes comunistas fizeram com que a cultura
cívica de participação política não se desenvolvesse (HEYWOOD, 2002);
- fragilidade do poder do Estado, principalmente quando o Estado entra em contacto com forças
que durante o regime comunista estavam suprimidas17 (idem, 2002).
15
O título é tradução de New Democracy (HEYWOOD, 2002, p. 34).
16
Estes regimes também são tratados por semi-democracias, que são regimes nos quais características do regime
democrático e do regime autoritário operam em simultâneo, numa combinação harmoniosa (HEYWOOD, 2002).
17
Um exemplo disso, são as lutas étnicas que começaram a existir nas novas nações que surgiram do colapso da
URSS (HEYWOOD, 2002).
Refere-se a países do Leste Asiático que se destacaram pelo seu elevado desenvolvimento
económico, que não são necessariamente democráticos, e que são influenciados por ideais
confucionistas19 e por valores asiáticos20. Estes regimes têm os seguintes elementos:
São orientados por objectivos económicos e não por políticos, a sua prioridade
é aumentar o crescimento da economia e a prosperidade, ao invés de aumentar
a liberdade individual e o senso de liberdade civil (idem, 2002);
Regimes islâmicos21
Faz referência a regimes, que após a “desilusão” com o comunismo, foram reconstruidos com
base em ideais islâmicos, criando assim Estados ou regimes Teocráticos. Porém, o Islão não é
somente uma religião, é um modo de vida que define como os indivíduos devem se comportar
tanto no âmbito económico, político e moral, nesse sentido. O Islão, enquanto um regime
político, visa a construção de uma teocracia em que a política e outros assuntos são estruturados
de acordo com princípios religiosos (idem, 2002).
Regimes militares22
18
O título é tradução nossa de East Asian Regimes (HEYWOOD, 2002, p. 36).
19
Confucionismo é um sistema de ética, que se preocupa com temas de relações humanas e o cultivo do self, através
da capacidade para o desenvolvimento humano e do potencial para a perfeição alcançável através da educação
(HEYWOOD, 2002).
20
Valores asiáticos fazem referência a valores que reflectem as origens da cultura e religião das sociedades asiáticas
(HEYWOOD, 2002).
21
O título é tradução nossa de Islamic Regimes (idem, 2002, p. 37)
São regimes que se baseiam no poder militar e na repressão sistemática para a manutenção do
poder, e por isso podem ser classificados como regimes autoritários. Os seus principais
elementos/características são:
Há dois tipos de regimes militares: 1º) Junta23 militar, neste tipo, as forças armadas assumem o
controlo directo do governo, e operam através de uma forma de governo militar colectivo ao
comando de um concelho de oficiais que representam o exército, a força aérea e a marinha; 2º)
“ditadura personalizada apoiada pelos militares”24, neste caso um único indivíduo ganha a
proeminência dentro da Junta ou regime, e este indivíduo é amparado por um culto de
personalidade que visa transformá-lo numa autoridade carismática. Neste último tipo, a lealdade
das forças armadas é o factor decisivo que suporta este tipo de regime (HEYWOOD, 2002).
Nesse quadro complexo de significações, tipos, princípios, regimes políticos democráticos, surge
a necessidade de discorrermos sobre a democracia em Moçambique, fazendo uma apreciação
sobre o regime vigente, suas características e elementos, na medida em que o nosso estudo à ela
está relacionado.
2. A Democracia em Moçambique
Com base nos tipos de regimes anteriormente expostos podemos afirmar que a democracia
moçambicana encontra-se na classificação de Nova Democracia, pois defendemos que o seu
regime político ainda está no processo de solidificação.
22
O título é tradução nossa de Military Regimes (idem, 2002, p. 38)
23
Junta é um concelho, normalmente militar, que alcança o poder através de revoluções ou golpes de Estado
(HEYWOOD, 2002).
24
Designação do regime é uma tradução nossa de “military-backed personalized dictatorship” (HEYWOOD, 2002,
p. 39)
Esta afirmação é fundamentada no facto de, como defende a tipologia apresentada por Heywood
(2002), países que tem este regime vigente são países que encontram-se implantando ou já
implantaram a democracia, porém, esta democracia ainda não está solidificada. De salientar que
o regime democrático em Moçambique está vigente a menos de 20 anos.
Corroborando a nossa visão, Sitoe et al. (2006) defendem que apesar da introdução da
democracia multipartidária em Moçambique ter sido feita através da Constituição de 1990, nos
dias actuais essa democracia ainda enfrenta problemas, que são derivados principalmente do tipo
de democracia que foi implementada, que é ‘adversarial’ e muito próxima do modelo do
elitismo competitivo.
Ainda nesta ordem de ideias, De Tollenaere (2002) defende que Moçambique adoptou a
democracia na chamada “terceira onda de democracia”, e para se passar de um regime
autocrático para um regime democrático há três fases: abertura, catalisação e consolidação.
“No caso de Moçambique as primeiras duas etapas coincidiram com o processo de paz. A aprovação
de uma nova constituição (1990) e as negociações de paz podem ser consideradas como a abertura. A
implementação do Acordo Geral de Paz e as primeiras eleições multipartidárias constituem, (…), a
fase de catalisação. O que restava era a consolidação da jovem democracia” (idem, 2002, p. 228).
E essa consolidação seria alcançada através da criação ou reforço de instituições como o sistema
eleitoral, o parlamento, uma administração pública capaz, uma justiça neutra e eficiente e
desenvolvimento dos media.
Corroborando com a visão De Tollenaere, Sitoe et al. (2006) defendem que os primeiros passos
para a democratização de Moçambique foram dados através: da adopção de uma Constituição
multipartidária (1990); da assinatura dos Acordos Gerais de Paz em Roma em 1992 que pôs fim
a guerra civil entre o governo da Frelimo e a Renamo; e, com a realização das primeiras eleições
gerais multipartidárias em 1994 e das primeiras eleições autárquicas em 1998.
Entretanto, apesar de entendermos que o regime patente em Moçambique seja Nova Democracia,
não podemos assumir que as características dos outros países com este tipo de regime sejam as
mesmas em Moçambique, pois como defende Heywood (2002), a forma como os factores
políticos, culturais e económicos interagem na sociedade demonstram características específicas
dessa sociedade/regime. Nesse sentido, o regime democrático em Moçambique apresenta
características próprias.
Baseando-nos numa análise feita por Sitoe et al (2006) sobre os partidos políticos e o
desenvolvimento político em Moçambique, podemos reter os seguintes elementos, como sendo
elementos constitutivos da democracia moçambicana:
De referir que, na visão de Heywood (apud SITOE et al., 2006), o sistema do partido dominante
consiste num sistema “em que um número de partidos compete pelo poder em eleições regulares
e populares, mas são dominadas por um partido que goza consequentemente de períodos
prolongados no poder” (SITOE et al., 2006, p. 16). E o sistema bipartidário consiste num
“Sistema onde os dois maiores partidos tem uma estrutura piramidal e disciplina claras, tem, aos
olhos dos seus membros, diferenças continuadas em termos dos seus programas, e tem tipicamente
uma diferença substancial entre a composição social das suas elites” (JUPP apud Sitoe et al., 2006, p.
16).
Para os autores o sistema político moçambicano oscila entre o sistema de partido dominante e o
sistema bipartidário, pois observando o resultado das eleições é esse o cenário que se nos
apresenta. Num primeiro momento, nas eleições de 1994 e de 2003 há a impressão que em
Moçambique o vigente é um sistema bipartidário, com as duas maiores forças políticas a
disputarem o poder (idem, 2006).
Procurando fundamentar este facto, os autores defendem que, nas eleições de 1994, o partido
Frelimo e a Renamo venceram 82% dos votos validos, sendo que 44% foram para a Frelimo e
38% para a Renamo, e para além destes partidos a UD conseguiu uma percentagem de 5% o que
lhe dava acesso a lugares na Assembleia da República. Para além destes partidos, não houve
nenhum outro partido que conseguiu alcançar a fasquia dos 5%, deixando a Renamo e a Frelimo
como sendo os partidos com maior destaque na área política (tendo 44% e 51% respectivamente)
(idem, 2006).
Nas eleições de 1999, o partido Frelimo e a Renamo venceram 88% dos votos válidos, sendo que
49% foram para Frelimo e 39% para a Renamo. E como não houve nenhum outro partido que
conseguiu a fasquia dos 5%, estes dois eram os únicos partidos com assentos no Parlamento.
Nesse âmbito a discussão sobre o futuro do país girava em torno destes dois partidos (SITOE et
al., 2006).
Outro facto que os autores procuram destacar nas eleições de 1999 é que houve um aumento de
eleitores tanto para o candidato da Frelimo como também para o candidato da Renamo, apesar da
percentagem não ter variado muito (de 38% para 39%). O candidato da Renamo teve um
acréscimo de 500 000 votos com relação as eleições de 1994, enquanto o candidato da Frelimo
teve acréscimo de 300 000 votos (idem, 2006).
De referir que, nestas eleições a Renamo concorreu como Renamo-União Eleitoral, em que este
partido fez uma coligação com 10 partidos minoritários com o intuito de “evitar a divisão dos
votos dos eleitores que não apoiavam a Frelimo” (SITOE et al., 2006, p. 20), como também
uma forma de garantir que esses partidos apoiassem a Renamo e o seu candidato.
Na visão dos autores, os partidos minoritários aceitaram fazer esta coligação pois ainda não
haviam construído uma estrutura organizacional que cobrisse todo o país ou uma parte
significante deste, e estes partidos tinham as suas sedes na Cidade de Maputo, perto dos seus
líderes (idem, 2006).
Apesar da Renamo ter optado por não participar das primeiras eleições autárquicas, o que acabou
resultando na vitória do partido Frelimo em todas autarquias, o cenário nas segundas eleições
autárquicas foi diferente, com a participação da Renamo-União Eleitoral no pleito, o que resultou
Este facto significou que pela primeira vez foi eleito um corpo governativo não era constutuido
por membros do partido Frelimo, bem como a Renamo aumentava a sua participação nas
instituições do país, acrescentando a governação dos Conselhos Municipais, a sua representação
no parlamento, no exército e nos órgãos eleitorais. Além disso, os resultados indicavam que a
Renamo ganhava experiência de governação sobre o contexto moçambicano (idem, 2006).
Porém, nas eleições de 2004 constata-se que Moçambique está se dirigindo para um sistema de
partido dominante, pois com base nos resultados das eleições de 2004 o que se notou foi que o
partido Frelimo teve um acréscimo na sua representação no parlamento, indo dos 133 assentos
que tinha em 1999 para 160 assentos em 2004, o que significava que a Renamo perde 27
assentos, indo dos 117 assentos que detinha em 1999 para 90 em 2004 (SITOE et al., 2006).
O que significa, na visão de alguns comentadores citados pelos autores, que o partido Renamo se
fragiliza, e que a Frelimo, aos poucos, se torna no partido dominante do país. Outro facto a
salientar-se nestas eleições, prende-se com o facto de pela primeira vez ter-se verificado uma
transferência de poder pacífica dentro do partido Frelimo (idem, 2006).
Os autores entendem que a afirmação de que o partido Frelimo estaria se tornando no partido
dominante requer um maior aprofundamento, pois tal afirmação deve merecer uma análise mais
aprofundada dos dados obtidos na eleição de 2004. Os resultados relacionam-se com o grau de
abstenção do que com a redução de eleitorado que suportava o partido Renamo.
Analisando os níveis de abstenção, os autores constatam que nas eleições de 2004 os níveis de
abstenção foram elevados, atingindo os 64% contra os 13% das eleições de 1994 e 30% das
eleições de 1999. Para além dos níveis de abstenção, os autores defendem que o partido Frelimo
foi mais eficaz em fazer com que o seu eleitorado se dirige-se às urnas, criando assim a ideia que
o eleitorado da Renamo diminuía (idem, 2006).
Assim, o sistema que vigora hoje em Moçambique é considerado como bipartidário em que os
resultados variam com os níveis de abstenção, e os resultados das eleições/votos válidos apontam
para essa bipartidarização, onde os dois partidos (Frelimo e Renamo) detêm a maioria dos votos
(82% nas eleições de 1994, 88% nas eleições de 1999 e 92% nas eleições de 2004) (idem, 2006).
Nas eleições de 2009 apareceu um novo partido político, o MDM (Movimento Democrático de
Moçambique), que por causa do peso com que surgiu na arena política trouxe consigo muitas
expectativas e se apresentava como uma alternativa aos partidos políticos dominantes, Frelimo e
Renamo (CHICHAVA, 2010). Podia-se argumentar que este partido iria abalar o sistema
bipartidário patente em Moçambique (idem, 2010).
Porém, apesar de ter conseguido bons resultados nas eleições presidenciais de 2009, como a
eleição de mais de 5 deputados em representação de algumas províncias (círculos eleitorais) na
Assembleia da República, e os resultados que o candidato deste partido à presidência obteve,
Chichava (2010) defende que o MDM ainda não tem forças para abalar o sistema bipartidário
moçambicano, e para este partido poder mudar esse sistema, teria que criar uma estrutura mais
forte,
“Para vencer a Frelimo, ou impor-se politicamente, será preciso que o MDM se transforme numa
‘máquina’ política bem organizada, estruturada e disciplinada e com militantes bem formados que,
não podendo ser pagos, consigam ser dedicados e que sejam capazes de resistir aos ‘sete milhões’
(…) ” (CHICHAVA, 2010, p. 21).
25
Com base nos dados disponíveis em http://www.portaldogoverno.gov.mz/Informacao/politica/sistema-
politico/part_pol/
26
São 47 partidos sem incluir o MDM, e outros partidos políticos que possam ter surgido depois das eleições de
2004.
Como vimos, um dos pilares da democracia, segundo EPII (S.D), é o dever e o direito que os
cidadãos têm de participar no sistema político. Esta perspectiva é compartilhada por Maia
(2004), que afirma que a democracia tem como um dos seus princípios reguladores a
participação dos cidadãos no sistema político.
De referir que, na visão de De Tollenaere (2002) e Sitoe et al. (2006) a realização das primeiras
eleições em Moçambique constituiu um dos passos decisivos para a implementação da
democracia, o que significa que, uma das várias formas de participação política já se encontrava
presente na democracia moçambicana desde o seu período embrionário.
Entretanto, num estudo realizado por Ivala (2000) sobre a participação política em Moçambique,
o autor concluiu que esta, enquanto uma actividade que envolve a participação da maioria da
27
Na visão de Sani (apud Ivala, 2000) a participação política engloba várias actividades, dentre elas o acto do voto,
a militância num partido político, a participação em manifestações, a contribuição para uma certa agremiação
política, a discussão de acontecimentos políticos, a participação num comício ou numa reunião de secção, o apoio a
um determinado candidato no decorrer da campanha eleitoral, a pressão exercida sobre um determinado dirigente
político, a difusão de informações políticas.
Neste sentido, fica patente o facto de que a participação política em Moçambique restringe-se a
momentos eleitorais, de eleições internas ou gerais, quando os cidadãos vão depositar o seu voto,
após um período de campanha e comícios eleitorais, para a eleição dos seus representantes. E,
durante o período eleitoral (para eleições gerais), assiste-se a um forte uso dos meios de
comunicação, para além dos comícios eleitorais e campanhas porta-a-porta, como forma de
mobilizar ou ganhar o voto dos eleitores.
Corroborando com esta ideia, Albuquerque (2004), analisando o uso dos meios de comunicação
nas campanhas eleitorais brasileiras, defende que há um crescente uso da publicidade política ou
propaganda política por parte dos partidos políticos com o objectivo de divulgar as suas ideias,
princípios e valores políticos.
De referir que, de acordo com Rabaça e Barbosa (1995, p. 481), a publicidade comercial ou
propaganda corresponde ao “conjunto das técnicas e actividades de informação e de persuasão,
destinadas a influenciar as opiniões, os sentimentos e as atitudes do público num determinado
Pelo facto da publicidade política ser apresentada nos meios de comunicação, a liberdade de
imprensa se torna numa das vertentes da democracia. Nas campanhas eleitorais assiste-se a um
uso massivo de meios de comunicação como forma de divulgar as ideias defendidas por cada
candidato/partido político.
Ao fazer-se o uso dos meios de comunicação é necessário que estes prezem pela imparcialidade
no tratamento da informação (relativa a campanha eleitoral, manifestos apresentados pelos
partidos políticos, etc.) ou na divulgação de ideias provenientes dos mais diversos partidos
políticos. E analisando o caso de Moçambique, podemos afirmar que não há esta imparcialidade
no tratamento da informação relativa aos mais diversos partidos políticos, pois como defendem
OSISA (2009) e Namburete (2003), a liberdade de imprensa está condicionada ao tipo de
propriedade que se têm sobre os meios de comunicação.
Corroborando a visão apresentada por OSISA (2009), Magaia (apud NAMBURETE, 2003, p.
34) defende que:
“Existe a tendência dos órgãos governamentais para pretender que os meios de comunicação social
sejam meros reprodutores das suas posições e declarações, e quando isso não acontece, interferirem
nas decisões editoriais (……), o que faz com que os jornalistas das empresas públicas sirvam como
porta-vozes quase oficiais dos órgãos governamentais em lugar de realizarem a sua tarefa de
investigação da realidade factual e da elaboração de notícias e reportagens com base nela”.
28
De acordo com Szymaniak (2000), as definições de publicidade devem fazer referência aos seguintes aspectos: -
arte que visa exercer acção psicológica sobre o público; - comunicação de massa para difundir uma mensagem.
Enquanto os meios de comunicação do sector privado apresentam-se como sendo os que fazem o
tratamento e divulgação “imparcial” da informação, estando aberto, no que toca ao debate
político, a acolher não só a visão do partido Frelimo, bem como dos restantes partidos políticos
Corroborando esta ideia, Namburete (2003) defende que os meios de comunicação do sector
privado abrem espaço para que haja debate sobre os assuntos políticos do país, colhendo as
posições dos diversos partidos da oposição e dos diversos sectores da sociedade. Uma ideia
similar é apresentada por OSISA (2009), que defende que estes meios de comunicação estão
cada vez mais abertos à denúncia da violação dos direitos políticos e de casos de corrupção e má
gestão de fundos públicos, bem como para o debate sobre questões políticas.
Da reflexão por nós realizada até ao momento, percebemos que o nosso objectivo, compreender
as principais questões apresentadas na publicidade política moçambicana, poderia ser
viabilizado através da análise dos discursos políticos veinculados nos meios de comunicação.
Partindo do pressuposto defendido por Schumpeter, de que o comportamento dos eleitores é
influenciado pelos meios de comunicação, e aceitando a ideia de que a publicidade política visa
moldar a visão dos eleitores sobre os partidos políticos, procuraremos olhar para Moçambique
onde a participação política fica restringida a momentos eleitorais.
Para tal, há que se fazer uma análise sobre o período eleitoral, e nele a divulgação política
através de alguns jornais onde é possível encontrar a apresentação por parte dos partidos
políticos das suas ideias, valores e princípios. O período intermediário entre as eleições serve
igualmente de período analítico na medida em que ele serve como “grupo de controlo” quanto a
divulgação política por parte dos partidos políticos.
Para podermos fazer a leitura da publicidade política moçambicana na imprensa escrita, bem
como podermos identificar as principais questões da publicidade política moçambicana,
utilizamos a técnica análise de conteúdo. Que, segundo Bardin (S/D, p. 20), “é uma técnica de
investigação que tem por finalidade a descrição objectiva, sistemática e quantitativa do
conteúdo manifesto da comunicação”. A análise de conteúdo, enquanto técnica, procura, através
de indicadores seleccionados, fazer uma leitura sobre o material disponibilizado. De referir que,
como na publicidade política os partidos procuram apresentar as suas ideias, valores e princípios,
tomaremos essas variáveis para fazer a leitura do material em estudo.
Sendo assim, as variáveis que iremos utilizar são: Comercial, Financeiro, Educação, Saúde e
Meio Ambiente. Mas antes, há que se reflectir sobre os ODM’s e sua relação com a discussão
sobre democracia realizada até ao momento
29
Os ODM’s foram criados tendo em consideração a “preservação da dignidade humana, da igualdade e da
equidade a escala global” (PNUD, 2006, p. iii).
CAPÍTULO II:
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF30 (S/D), foi durante a
Cimeira do Milénio que os 189 Estados Membros das Nações Unidas se comprometeram a unir
esforços com o intuito de melhorar as condições de vida dos indivíduos, especialmente dos mais
vulneráveis e, em particular, as crianças. Tornando-se signatários de um conjunto de objectivos
específicos, os ODM’s passam a guiar os esforços colectivos e governamentais no que diz
respeito ao combate à pobreza e ao desenvolvimento sustentável.
Através dos ODM’s os governos signatários e os líderes mundiais reiteraram o seu cometimento
para com os valores e princípios das Nações Unidas, no tocante “a preservação da dignidade
humana, da igualdade e da equidade a escala global” (PNUD, 2006, p. iii). Com vista a alcançar
este desiderato, na Declaração do Milénio vêm consagrados oito ODM’s, que se debruçam sobre
os sectores sociais, económicos e temas transversais, fundamentais para a erradicação da pobreza
e da fome nos Estados membros, e para uma parceria global necessária para um mundo
interconectado (idem, 2006).
30
Sigla em inglês para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (United Nations Children's Fund).
De referir que para a medição e avaliação de cada objectivo, foram traçados 18 metas31 e 48
indicadores que os países se comprometeram a cumprir até 201532. Sendo os ODM e as metas os
seguintes:
Objectivo Metas
1. Erradicar a pobreza Reduzir para metade a percentagem de pessoas cujo
extrema e a fome rendimento é inferior a 1 dólar por dia.
Reduzir para metade a percentagem da população que sofre
de fome.
2. Alcançar o ensino primário Garantir que todos os rapazes e raparigas terminem o ciclo
universal completo do ensino primário.
3. Promover a igualdade de Eliminar as disparidades de género no ensino primário e
género e a autonomização da secundário, se possível até 2005, e em todos os níveis, até
mulher 2015.
4. Reduzir a mortalidade de Reduzir em dois terços a taxa de mortalidade de menores de
crianças cinco anos.
5. Melhorar a saúde materna Reduzir em três quartos a taxa de mortalidade materna.
6. Combater o HIV/SIDA, a Travar e começar a inverter a propagação do HIV/SIDA.
malária e outras doenças Travar e começar a reduzir a incidência de malária e outras
doenças graves.
7. Garantir a sustentabilidade Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas
ambiental políticas e programas nacionais; inverter a actual tendência
para a perda de recursos ambientais.
Reduzir para metade a percentagem da população sem acesso
permanente a água potável.
Melhorar consideravelmente a vida de pelo menos 100 000
habitantes de bairros degradados, até 2020.
8. Criar uma parceria global Continuar a desenvolver um sistema comercial e financeiro
para o desenvolvimento multilateral aberto, baseado em regras, previsível e não
discriminatório. Inclui um compromisso em relação a uma
boa governação, ao desenvolvimento e à redução da pobreza,
tanto a nível nacional como internacional.
Satisfazer as necessidades especiais dos países menos
avançados. Inclui: o acesso a um regime isento de direitos e
não sujeito a quotas para as exportações dos países menos
31
Embora tenham surgido mais metas para serem alcançadas, optamos por trabalhar com estas 18 metas pois elas,
dentre as existentes, são as que se relacionam com o presente trabalho.
32
A partir dos anos 1990, após uma crise económica nos países em vias de desenvolvimento nos anos 1980, os
países membros das Nações Unidas começaram a implementar acções e medidas que visavam alcançar o
desenvolvimento. A implementação dessas acções começou em 1990, e apesar da Declaração do Milénio ter sido
assinada em 2000, ela tem como marco de partida para a implementações das suas actividades o ano de 1990, e deve
vigorar por 25 anos, o que implica que em 2015 estarão completos os 25 anos (PNUD, 2006).
De salientar que, cada um destes objectivos tem uma ideia que lhes subjaz, e auxiliou no seu
traçado e na delimitação das metas. Iremos de forma resumida apresentar as ideias ou
significados que subjazem em cada objectivo:
Este objectivo parte do princípio que a pobreza extrema está intrinsicamente ligada à fome
crónica, e com base em dados disponíveis, constatou-se que 850 milhões de pessoas no mundo
não tem como obter uma alimentação satisfatória que lhes possibilite satisfazer as necessidades
calóricas básicas (idem).
A educação é uma das principais formas para se combater a pobreza, tal facto é demonstrado
pela relação existente entre o nível de instrução de uma sociedade e o seu nível de vida, e através
das bases criadas pela educação pode-se alcançar o desenvolvimento e consequentemente atingir
os ODM´s (http://www.objectivo2015.org/inicio/).
Para além deste facto, a educação consiste num direito humano ao qual todos devem ter acesso, e
é uma componente fundamental no empoderamento das mulheres, visto que proporciona as bases
que possibilitam o alcance da igualdade em diversos aspectos, tais como sociais, políticos,
económicos, etc. (idem).
De referir que, ao se defender o ensino primário universal, não se restringe somente ao aumento
da percentagem de alunos matriculados em escolas. Engloba-se também a qualidade do ensino, o
que implica que as crianças que frequentam as escolas devem adquirir conhecimentos básicos
sobre a alfabetização e de aritmética, e devem terminar o ensino primário dentro do tempo
regular (idem).
o desenvolvimento das suas famílias e sociedades, e consequentemente para o alcance dos ODM
(idem).
No que toca a sectores específicos, na área da educação, notou-se uma melhoria no acesso das
raparigas às escolas, sendo que a percentagem de raparigas que frequentam as escolas aumentou
mais do que a dos rapazes nos países em vias de desenvolvimento de 2000 a 2006. No que toca a
participação parlamentar, apesar de haver uma maior participação das mulheres, o seu acesso a
cargos mais elevados no governo é algo difícil de ser alcançado. Porém, apesar destes avanços,
eles ainda não são suficientes para promover a igualdade de género (idem).
As taxas de mortalidade infantil nos países em vias de desenvolvimento são uma situação
preocupante, em 2006 verificou-se que apesar da África Subsahariana ter 20% das crianças do
mundo, a sua taxa de mortalidade infantil correspondia a cerca de 50% a nível mundial.
(http://www.objectivo2015.org/inicio/).
Associado a este facto, os países membros ao subscreverem este objectivo pretendiam que
fossem dadas as crianças oportunidades iguais para poderem viver uma vida saudável,
indenpendente da sua condição social, económica, etc. De referir que, actuar sobre a mortalidade
infantil investindo na saúde das crianças, de acordo com o Banco Mundial, produz resultados até
sete vezes maior que o valor investido, pois há redução nas despesas com a segurança social e
um aumento da produtividade, para além de se salvarem vidas inocentes (idem).
Anualmente, mais de 500 mil mulheres morrem por complicações relacionadas com a gravidez e
com o parto, e cerca de 10 milhões são expostas a infecções, doenças, entre outras, e destas a
larga maioria vive em países em vias de desenvolvimento. A taxa de mortalidade materna torna-
se no espelho da disparidade, as mulheres pobres têm maior probabilidade de morrerem por
complicações que resultam da gravidez ou do parto (idem).
A maioria das mortes causadas por complicações que resultam da gravidez ou do parto são
evitáveis, por exemplo, mortes por infecções ou hemorragias podem ser evitadas através da
medicação com fármacos ou transfusões de sangue. Quando os partos ocorrem em ambientes
Entretanto, um aspecto que se nota é que a falta de acesso a cuidados básicos de saúde não é um
problema que se restringe somente à maternidade, e a situação é mais crítica nos países em vias
de desenvolvimento, onde a maioria não tem acesso aos profissionais de saúde e a serviços de
saúde reprodutiva. (idem).
Os ODM´s advogam que a saúde das pessoas e o ambiente estão interligados. E por isso
defendem a adopção de políticas de desenvolvimento sustentável e melhorias no planeamento
urbanístico, não somente para atingir os ODM´s, como também para que se faça a prevenção de
conflitos causados pelo acesso aos recursos naturais e, ainda, para se prevenir que a degradação
ambiental atinja um nível irreversível (idem).
Constata-se que existe uma forte vulnerabilidade às alterações climáticas nas pessoas que vivem
nas regiões mais pobres, e essa vulnerabilidade mostra-se mais crítica no que concerne ao acesso
a água potável e a degradação ambiental. Uma das formas para se fazer face a vulnerabilidade
seria a adopção de novas técnicas agrícolas, o investimento em infra-estruturas que satisfaçam as
necessidades concernentes ao acesso a água potável, a alimentação, entre outras (idem).
Porém, o que se constata é que os países em vias de desenvolvimento não dispõem de recursos
financeiros suficientes que lhes permitam investir em medidas que garantam a protecção contra
as mudanças climatéricas (idem).
A Ajuda Pública para o Desenvolvimento (APD) oferece aos países em vias de desenvolvimento
os recursos necessários para o investimento em reformas que se mostrem cruciais na luta para o
desenvolvimento sustentável e para o alcance dos ODM´s. Os países que se subscreveram aos
ODM´s esperam que a APD consista numa ajuda temporária que visa impulsionar o
desenvolvimento, tendo como objectivo final o desenvolvimento e a autonomia dos países em
vias de desenvolvimento (idem).
Após termos apresentado os ODM’s e as suas metas, é necessário apresentar o ponto de situação
de Moçambique para cada um dos ODM’s, este ponto de situação será guiado com base nas
metas a serem alcançadas como meio de se concretizar cada objectivo.
De referir que, para podermos fazer esta apreciação, nos socorremos do “Relatório sobre os
Objectivos de Desenvolvimento do Milénio – Moçambique – 2010”, que foi produzido tendo em
conta os anos que faltam para se chegar ao ano de 2015, ano em que se espera que todos os
países membros da ONU tenham alcançado os ODM’s33.
Referente a segunda meta, “Garantir o emprego”, que tem como meio de avaliação o IFTRAB
(Inquérito à Força de Trabalho), que começou a ser realizado em 2004, o que significa que antes
da realização deste inquérito, não houve nenhum inquérito oficial sobre o emprego. O que
implica que não existem dados oficiais que permitam tecer considerações sobre a tendência do
desemprego (MPD, 2010).
Entretanto, os dados que são obtidos, a partir de fontes administrativas, sobre o emprego
apontam para uma subida contínua dos níveis de emprego em termos anuais. Procurando-se fazer
uma análise, tendo como base de apoio Censo Populacional de 1997, onde 11.1% da população
era assalariada, e destes 4.1% estava no sector público e 7% no sector privado, em 2004-2005
pode-se dizer que houve um aumento para 18.7%, medido através do IFTRAB (2004-2005)
(idem, 2010).
No segundo objectivo, que tem como meta “Alcance da Educação Primária Universal”,
constatamos que em Moçambique o ensino primário compreende dois graus, o 1º grau (que vai
da 1ª a 5ª classe) e o 2º grau (da 6ª a 7ª classe), e que os ODM’s defendem que até 2015 todas as
crianças em idade para frequentar o ensino primário deverão estar matriculadas (idem, 2010).
Este objectivo é medido através dos seguintes indicadores: Rácio de Raparigas por rapazes no
EP1, que até 2015 tem que ser de 1.0; Rácio entre mulheres e homens alfabetizados de 15-24
anos de idade que até 2015 tem de ser de 1.0; Taxa de analfabetismo das mulheres; e, Proporção
de assentos ocupados por mulheres no parlamento nacional, que até 2015 tem de ser de 50%
(idem, 2010).
Com base nesses indicadores pode-se concluir que, no que toca ao Rácio de Raparigas a
frequentar o EP1, este tem vindo a crescer, tendo passado de 0.71 em 1997, para 0.83 em 2003,
depois para 0.89 em 2008 e o governo projecta que até 2015 o país terá alcançado um rácio de
0.97 raparigas por rapazes no EP1. Analisando a proporção de raparigas no EP1, que em 2004
representavam 41,7% e em 2009 45.6%, nota-se que esta tem vindo a crescer, porém enfrentam-
se problemas quanto a permanência das raparigas nas escolas, seja por questões de distância ou
factores socioculturais, como os casamentos precoces (MPD, 2010).
Quanto a taxa de analfabetismo da mulher, apesar de elevada, tem vindo a diminuir, tendo
passado de 74.1% em 1997, para 68.8% em 2003, depois para 64.1% em 2008 e para 56% em
2009. A participação da mulher na governação tem vindo a crescer, tendo a percentagem de
assentos ocupados por mulheres no parlamento vindo a crescer, passando do 28% em 2003 para
38.2% em 2008 e 39.2% em 2010. Acompanhando este crescimento, a percentagem de mulheres
que estão no Órgão Executivo também tem vindo a crescer, tendo a percentagem de Ministras
No que toca ao primeiro indicador, ele decresceu de 245.3% em 1997, para 154% em 2003,
depois para 147.2% em 2007 e para 138% em 2008. Quanto a taxa de mortalidade infantil,
passou de 143.7% em 1997 para 101% em 2003, depois para 95.5% em 2007 e depois para 93%
em 2008 (idem, 2010).
No que se refere as vacinações, tanto contra o Sarampo, como contra o DPT-3 e HB, Pólio, entre
outras, nota-se que a taxa de imunizações tem vindo a crescer, tendo a taxa de imunização contra
o Sarampo passado de 58% em 1997 para 67% em 2003 e de seguida para 71% em 2008, e a
taxa de imunização contra o DPT-3 e HB passado de 55% em 1997 para 63% em 2003 e para
64% em 2008 (idem, 2010).
Este objectivo é medido através dos seguintes indicadores: Rácio de mortalidade materna (por
100.000 nados vivos); Proporção de partos assistidos por técnicos de saúde (15 – 49 anos, %);
Taxa de prevalência da Contracepção; Cobertura da Consulta Pré-natal com pelo menos 1ª
34
A vacina DPT-3 que combate a difteria, tétano e coqueluche (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2002).
35
A vacina HB previne a contaminação do vírus de Hepatite B (http://www.vacinas.org.br/vacinas05.htm).
consulta (%); Cobertura da Consulta Pré-natal com 4 ou mais consultas (%); e, Necessidades
Não Satisfeitas Para o Planeamento Familiar (%) (idem, 2010).
No que toca ao Rácio da mortalidade materna, que até 2015 tem de ser de 250/100.000 nados
vivos, este tem vindo a decrescer, tendo passado dos 692/100.000 em 1997 para 500,1/100.000
nados vivos em 2009. Quanto a proporção de partos assistidos, ela tem vindo a aumentar, tendo
passado de 44.2 em 1997 para 47.7 em 2003 e depois para 55.3 em 2008, e espera-se que até
2015 tenha-se atingido um proporção de 66 partos assistidos por técnico de saúde (MPD, 2010).
Relativamente a cobertura da consulta pré-natal com pelo menos 1ª consulta, esta taxa tem vindo
a crescer, tendo passado dos 71.4% em 1997, para 84.5% em 2003, depois para 92.4% em 2008 e
espera-se que até 2015 seja de 95%. De referir que, quanto aos restantes indicadores não há
dados que permitam fazer uma comparação das taxas e nem uma previsão para o ano de 2015
(idem, 2010).
Apesar destas melhorias no que concerne aos cuidados com a saúde materna, ainda há que se
enfrentar muitos desafios para o alcance deste ODM, tais como: contínua formação e expansão
dos Cuidados Obstétricos de Emergência e dos Cuidados Obstétricos Essenciais; implementação
da Estratégia de Planeamento Familiar; Insuficiência de Recursos Humanos em número e
qualidade para responder à necessidade de melhoria da gestão dos Programas e Serviços a todos
os níveis; entre outros (idem, 2010).
Quanto ao primeiro aspecto deste Objectivo, combate ao HIV/SIDA, é monitorado através dos
seguintes indicadores: taxa de prevalência do HIV/SIDA entre os adultos (15-49 anos de idade);
Prevalência do HIV nas mulheres grávidas de 15-24 anos de idade; taxa de uso do preservativo
da taxa de prevalência do contraceptivo; rácio de frequência escolar dos órfãos de pai e mãe por
frequência escolar de não órfãos de 10- 14 anos de idade (MPD, 2010).
No primeiro indicador, nota-se que vinha crescendo, mas a partir de 2008 está estagnado nos
11.5%, e não há uma previsão sobre qual será a taxa em 2015. Relativamente a prevalência do
HIV nas mulheres grávidas era de 11.0 em 1997 e 12.9 em 2003, de referir que desde 2008 para
cá não há dados relativos a este indicador. Quanto aos outros indicadores há que salientar que
não há dados recentes e nem previsões a serem alcançadas no ano 2015 (idem, 2010).
De referir que, para o alcance desta meta do ODM é necessário que se ultrapassem alguns
desafios, como: promoção e massificação do uso consistente do preservativo feminino e
masculino; desenvolvimento de estratégias de comunicação específicas para mudança social e de
comportamento; continuação da expansão do tratamento anti-retroviral (TARV) pediátrico e
Adulto com qualidade; diminuição da desigualdade regional do acesso aos cuidados e tratamento
de HIV; entre outros (idem, 2010).
No segundo aspecto, combate à malária e outras doenças graves, é monitorizado pelos seguintes
indicadores: Prevalência e taxas de letalidade associadas à malária; Taxa de incidência da
malária em crianças menores de 5 anos de idade (por 10.000); Proporção da população que usa
medidas efectivas de prevenção; Prevalência e taxas de fatalidade associadas à tuberculose;
Prevalência e taxas de fatalidade associadas à tuberculose (em número) por 100.000 habitantes;
Proporção de casos curados; Proporção de casos de tuberculose detectados e no âmbito do
DOTS36 (idem, 2010).
Quanto à prevalência e taxas de fatalidade associadas à malária, constata-se que têm estado a
decrescer, tendo passado dos 58% em 2003 para 52% em 2008, depois 47% em 2009 e prevê-se
que até 2015 se alcance os 35%. Relativamente a taxa de incidência da malária em crianças, esta
taxa tem vindo a decrescer, tendo passado de 134% em 2003 para 108% em 2008, depois para
94% em 2009 e prevê-se que em 2015 ela seja de 80% (idem, 2010).
No tocante a proporção da população que usa medidas efectivas de prevenção, esta tem vindo a
crescer. A prevalência e taxa de fatalidade associadas a tuberculose, apesar de não se ter muitos
dados, os únicos disponíveis são relativos a 2003, em que esta era de 11.0, foi com base nela que
se fez a previsão da taxa de prevalência para 2015, que deve ser de 6.0 (MPD, 2010).
Quanto a prevalência e taxas de mortalidade associadas a tuberculose, ela tem vindo a decrescer,
tendo passado dos 636 casos em 2003 para 624 em 2008 depois para 504 casos em 2009 e prevê-
36
DOTS - Directly Observed Treatment, Short-course. Sigla em inglês para Tratamento de Curto Prazo Diretamente
Observado, que consiste numa estrategia de combate à tuberculose (VILLA et al., 2008).
se que em 2015 seja de 144. Os dados relativos à proporção de casos curados tem oscilado, entre
os 81 e 82, sendo que em 1997 era de 82, tando passado para 81 em 2003, voltando para 82 em
2008, proporção que se manteve em 2009, e se prevê que em 2015 seja de 85. Relativamente a
proporção de casos detectados de tuberculose, espera-se que este número cresça e alcance os
80% em 2015, sendo que em 1997 rondava os 50%, em 2003 os 47%, em 2008 50% e em 2009
os 53% (idem, 2010).
De referir que para se alcançar as metas deste ODM é necessário que se ultrapassem alguns
desafios como: a fraca adesão das comunidades às campanhas de pulverização; fraco nível de
atendimento das mulheres grávidas às consultas pré-natais e a fraca cobertura das redes
mosquiteiras; a baixa taxa de detecção de casos, devido ao fraco acesso aos serviços de Saúde e a
fraca rede laboratorial; a alta taxa de seroprevalência do VIH e a baixa cobertura do tratamento
anti-retroviral para doentes co-infectados TB/HIV (Tuberculose e HIV) contribuem muito para
alta mortalidade (idem, 2010).
Este ODM é monitorado através dos seguintes indicadores: Proporção de terras cobertas por
florestas; Rácio de áreas protegidas por área de superfície; Uso de energia (equivalente a kg de
combustível) USD per capita; Consumo de Substâncias que destroem a camada de ozono (ton.
ODs); Proporção da população com acesso a uma fonte de água melhorada; Proporção da
população com acesso a saneamento melhorado (idem, 2010).
No tocante a proporção de terras cobertas por florestas, nota-se um incremento das áreas com
cobertura florestal, tendo a proporção passado de 21% em 2001 para 51% em 2008. Quanto ao
rácio de áreas protegidas, nota-se, apesar de não haver muitos dados, que o rácio está crescendo
pois aumentaram o número de parques nacionais e reservas incluindo ambientes marinhos e
costeiros (idem, 2010).
Relativamente ao Uso de energia, não há dados que permitam fazer uma avaliação sobre este
indicador. Com relação ao consumo de substâncias que destroem a camada de ozono, em
Moçambique, o consumo destas substâncias tem vindo a aumentar, tendo o seu consumo em
toneladas passado de 503148 milhões de toneladas em 2003 para 898835 milhões de toneladas
em 2009 (MPD, 2010).
Quanto a proporção da população que tem acesso a água potável, nota-se que o país tem
registado tendências de crescimento significativas, tendo a cobertura nacional em abastecimento
de água potável passado de 37.3% em 1997 para 42.2% em 2008 e depois para 56.0% em 2009, e
em 2015 prevê-se que seja de 70% (idem, 2010).
Entretanto, apesar destes resultados, persistem ainda alguns constrangimentos que devem ser
ultrapassados com vista ao alcance deste ODM, tais como: falta de capacitação dos importadores
em matérias sobre as substâncias químicas banidas; assegurar a sustentabilidade dos serviços de
abastecimento de água e saneamento; promoção de medidas de adaptação as Mudanças
Climáticas; fortalecimento das acções de educação ambiental (idem, 2010).
Sobre este ODM, a Water Aid (2012) defende que os governos têm investido muitos fundos para
o alcance dos objectivos relacionados com a saúde e com a educação, deixando poucos fundos
para investir no alcance deste objectivo, o que acaba influenciando os progressos feitos no sector
da educação e da saúde. Pois a falta de acesso a água limpa, e as doenças a ela associadas, são a
principal causa da mortalidade infantil em África e a segunda principal causa da mortalidade
infantil no sul da Ásia; e a falta de água limpa faz com que as mulheres e crianças tenham que
percorrer longas distâncias para ter acesso a fontes de água potável.
E, para Moçambique, este relatório defende que com os investimentos que o governo tem feito,
este objectivo só será alcançado em 2117, o que poderá influenciar no alcance dos outros
objectivos, pois para alcançar este objectivo, Moçambique tem que aumentar para 56% a
percentagem de população com acesso a água potável, e em 2012 somente 18% da população
tem acesso ao saneamento seguro e a água potável (Water Aid, 2012).
Este objectivo está subdividido em dois pontos Finanças Públicas e Tecnologias de Informação e
Comunicação. O primeiro é monitorizado através dos seguintes indicadores: ajuda líquida ao
desenvolvimento recebida como percentagem do PIB; alívio da dívida comprometido ao abrigo
da Iniciativa HIPC37 (sigla em inglês de Países Pobres Altamente Endividados) ($ Milhões); e,
serviço da dívida (% das exportações de bens e serviços) (MPD, 2010).
Para o primeiro indicador, apesar de não se ter uma previsão para 2015, quer-se com este
indicador reduzir-se ao máximo possível a ajuda externa recebida, o que implica que há um
desenvolvimento económico que permite que as receitas internas sejam suficientes para suprir as
necessidades do Orçamento Geral do Estado, e em termos concretos a percentagem tem vindo a
decrescer de 25.2% em 2003 para 18.3% em 2008 (MPD, 2010).
Relativamente ao segundo indicador não há nenhum dado disponível, mas há que ressalvar que
Moçambique, como vários países pobres ao abrigo da iniciativa HIPC, tem vindo a beneficiar de
sucessivos perdões da dívida e de aumento de financiamentos. Quanto ao serviço da dívida,
pode-se concluir que a dívida de Moçambique manteve-se sustentável nos últimos anos, visto
que se encontra abaixo do limite do rácio de sustentabilidade, que é de 20%, tendo este se
situado em 2009, em 2,54% (idem, 2010).
E pode-se constatar que de 1997 a 2009 o número de utilizadores da internet aumentou de 0.01
para 2.68 utilizadores por 100 habitantes. O número de utilizadores de computadores pessoais
aumentou de 0.82 para 0,87 utilizadores por 100 habitantes e o número de utilizadores de linhas
37
Heavily Indebted Poor Countries – Países Pobres Altamente Endividados.
de telefones sofreu um ligeiro decréscimo de 0,42 para 0,4 utilizadores por 100 habitantes. O
número de assinantes de celulares aumentou de 0.01 por cem habitantes em 1997 para 29.08 por
100 habitantes em 2009 (idem, 2010).
Porém, apesar destes avanços, ainda existem alguns constrangimentos que necessitam de ser
ultrapassados, como: fornecimento de energia eléctrica deficitário em algumas zonas do país;
baixo poderio económico da maior parte do povo moçambicano no que toca a aquisição de
tecnologias de informação para o uso privado e consequentemente para o uso da internet (MPD,
2010).
A nossa discussão até ao presente momento, buscou apresentar o conceito de democracia, que
enquanto regime político é regido por determinados princípios, e um desses princípios garante a
participação dos cidadãos no sistema político, e como forma de mobilizar os cidadãos a
participarem do sistema político os partidos políticos procuram, através da publicidade política,
mobiliza-los a participarem. Neste quadro se insere uma determinada realidade social, e para
pudermos fazer a sua leitura iremos nos basear na “Teoria do Discurso e Acção” de Hannah
Arendt, bem como no conceito de “Campo Político” de Pierre Bourdieu.
CAPÍTULO III
Diante das reflexõe havidas até o presente ponto do trabalho, achamos oportuno introduzir os
conceitos de acção e discurso de Hanna Arendt e de campo político de Bourdieu. Ambos autores
destacam o facto de o discurso ocorrer dentro de um determinado espaço e ele ser feito com o
intuito de alcançar um determinado fim, aspectos que complementam a análise por nós feita até
ao presente momento.
Hannah Arendt, em seu trabalho “A Condição Humana”, defende que a vita activa designa três
actividades humanas fundamentais: o labor, o trabalho e a acção, e cada uma delas corresponde
a uma condição humana. O labor é a actividade que corresponde ao processo biológico do corpo
humano, as necessidades vitais e a sua condição humana é a vida (ARENDT, 1987).
Das três actividades, a acção, e em consequência o discurso, é a que define a vida humana, pois
os homens podem viver sem trabalhar e podem viver sem criar ou acrescentar nenhum objecto ao
mundo das coisas. Porém, a vida sem discurso e sem acção não é uma vida humana, na medida
em que a acção e o discurso dependem da presença constante uns dos outros (idem, 1987).
Na visão de Arendt (1987), é com actos e palavras que participamos do mundo humano, e “sem
o discurso, a acção deixaria de ser acção, pois não haveria actor; e o actor, o agente do acto, só
é possível se for, ao mesmo tempo o autor das palavras. A acção que ele inicia é humanamente
revelada através de palavras” (idem, 1987, p. 191). Embora possa-se perceber o acto pelos
gestos que o acompanham, a acção “só se torna relevante através da palavra falada na qual o
autor se identifica, anuncia o que fez, faz e pretende fazer” (idem, 1987, p. 191).
Para Arendt (1987), é através do discurso e da acção que os indivíduos se apresentam ao mundo
quotidiano, dando a conhecer-se, e revelando o que pretendem alcançar. Entretanto, se os
indivíduos pretendem alcançar algum fim é porque existe algo que os move para tal, um interesse
que os leva a se revelarem de determinado modo para os outros.
Entretanto, Arendt ressalta que o discurso e a acção, que cativam o interesse para a área política,
são os que ocorrem no espaço público, e como na era moderna a separação entre o espaço
público e o espaço privado é muito ténue, precisa-se enquadrar o discurso e a acção dentro de um
espaço para que se possa analisar.
Nesse sentido, entendemos que o conceito de campo político pode nos guiar na medida em que
ele é um “microcosmo autónomo no interior do macrocosmo social” (BOURDIEU, 2011, p.
195). Um microcosmo porque nele se desenvolvem relações, acções, processos e propriedades
que também se desenvolvem no mundo social, porém no campo político eles se revestem de
particularidades específicas.
Deste campo só participam os profissionais da política, ou seja, só podem participar pessoas que
estão envolvidas na área política (membros de partidos políticos, pessoas que não sendo
membros de partidos são apoiadas por partidos políticos). A participação no campo político
implica que os participantes conhecem as regras que regem o campo, ressalvando que as regras
variam de campo para campo. A todos os que participam do campo político, tecendo
comentários, fazendo valer as suas ideias e valores, sem serem membros de partidos políticos,
Bourdieu (2011) chama de profanos (idem, 2011).
Na visão de Bourdieu (2011), dentro do campo político existem lutas entre os diversos
profissionais, partidos ou, no dizer de Bourdieu, polos opostos do campo político (BOURDIEU,
2011, p. 196), que visam o ganho ou manutenção do poder político, o direito de poder falar e
actuar em nome do povo. E o povo não participa deste campo pois, o poder na política encontra-
se concentrado nas mãos de alguns, e no campo político “só os políticos tem competência para
falar de política” (idem, 2011, p. 196).
A escolha pelas duas perspectivas teóricas prende-se ao facto de na teoria de Arendt (1987)
defender-se que os homens apresentam o que são e pretendem fazer através do seu discurso e da
sua acção. E as acções que eles desenvolverão são as que interessam a sociedade como um todo e
é por isso que a sociedade se identifica nos discursos dos políticos, pois a acção e os discursos
que Arendt (1987) faz refência são os que decorrem no espaço público.
A discussão política trazida ao público através da media tem em consideração esses manifestos,
os objectivos políticos a alcançar, as dinâmicas democráticas em jogo. Por isso, a acção e o
discurso que são objecto da análise de Arendt (1987) são os que ocorrem no espaço público, e
como na modernidade esta distinção é ténue, nos socorremos do conceito de Bourdieu (2011)
para limitar o espaço. O nosso objecto de análise é o campo político, o espaço em que os
políticos aparecem para falar de política, apresentando suas ideias, valores e interesses, e esta
análise será feita através dos meios de comunicação.
2. Método de Análise
métodos e técnicas que serão utilizados. O presente trabalho foi guiado pelo método quantitativo,
que consiste no uso do instrumental estatistico para a análise de um problema.
Deste modo, a técnica usada para a leitura e interpretação da publicidade política moçambicana,
meio para atingirmos o nosso objectivo, foi a técnica de análise de conteúdo, que é um
instrumento de análise das comunicações que estuda numericamente a frequência de ocorrência
de determinados termos, expressões, etc. em um texto. A sua aplicação compreende três fases:
1ª Fase – A pré-análise: esta fase consiste na organização do material a ser analisado. E para
que se possa fazer essa organização é necessário fazer: a escolha dos documentos a serem
analisados; a formulação da hipótese e dos objectivos; e, selecção dos indicadores que
permitam a interpretação do material a ser analisado (BARDIN, S.D).
De salientar que, estes três procedimentos não seguem uma ordem entre si, porém, apesar disso,
eles estão interligados, pois “a escolha dos documentos depende dos objectivos, (…) o objectivo
só é possível em função dos documentos disponíveis; os indicadores serão construídos em
função das hipóteses, (…) as hipóteses serão criadas na presença de certos índices” (BARDIN,
S.D, p. 121).
Quanto à escolha de documentos, após a delimitação dos textos a serem analisados há que se
proceder a “constituição de um corpus38”, e esse elemento implica o cumprimento de algumas
regras:
- Regras da exaustividade, após a delimitação dos textos a serem analisados, todos os textos que
estiverem dentro desse intervalo devem ser levados em conta na análise;
- Regra da homogeneidade, “os documentos retidos devem ser homogéneos, quer dizer, devem
obedecer a critérios precisos de escolha e não apresentar demasiada singularidade fora destes
critérios de escolha” (idem, S.D, p. 124);
- Regra de pertinência, os textos seleccionados devem ser relevantes e adequados, com vista a
responderem aos objectivos da pesquisa.
3ª Fase – Tratamento dos resultados: Os dados obtidos são submetidos a análises estatísticas
de modo a que possamos fazer inferências sobre eles. Mas antes de serem submetidos à análise
estatística, os dados tem que passar pelo recorte (que seria a escolha das unidades de análise que
irão guiar a leitura do material seleccionado); e pela enumeração39 (que é a escolha das regras de
38
“O Corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos”
(BARDIN, S.D, p. 122)
39
Existem vários tipos de enumeração, dentre eles: a presença (ou ausência), a frequência ponderada, a intensidade,
a direcção, a ordem, entre outras (BARDIN, S.D).
contagem). Depois de passarem por estes itens os dados já podem ser submetidos à análise
estatística.
Para a prossecução dos objectivos do presente trabalho, seguiram-se as três fases da técnica
análise de conteúdo, e de seguida iremos expor como foi feita a sua aplicação para a leitura do
nosso objecto de análise.
Num primeiro momento, definiu-se o problema a ser estudado, e com base nesse problema
definiu-se os objectivos, a hipótese e os documentos a serem analisados. De salientar que, os
jornais seleccionados foram: jornal “A Verdade”, jornal “Notícias”, e jornal “O País”. E nestes
jornais, a nossa leitura cingiu-se à secção/capítulo “Política” presente nos jornais “Notícias” e “O
País”.
O mesmo não foi feito para o jornal “A Verdade”, pois como este jornal não possui a
secção/capítulo “Política”, a leitura, numa primeira fase, cingiu-se a todo o jornal. Porém,
seguindo a regra da homogeneidade, onde os documentos seleccionados para a análise devem ser
homogéneos entre si, excluímos o jornal “A Verdade”, na medida em que a estrutura que este
jornal apresenta difere da estrutura dos restantes jornais. Para além deste motivo excluímos este
jornal pois, decorrente da análise realizada, no jornal “A Verdade” não encontramos os
indicadores que usamos, mas somente aborda-se a questão do combate à pobreza e de
mecanismos que seriam necessários para esse combate40.
Após a selecção dos jornais para serem lidos, seguiu-se a delimitação do período de análise, de
notar que o nosso período de análise compreende dois momentos. O primeiro período é o
eleitoral, onde os partidos políticos apresentam as suas ideias, valores e princípios, e o segundo é
o período intermediário, que servirá como “grupo de controlo”.
De recordar que, para o período eleitoral escolhemos o ano de 2009, onde se realizaram as
Eleições Gerais e Presidenciais, pois este é o período eleitoral mais próximo. Cremos também
que a publicidade política apresentada (ideias, valores e princípios) versava sobre Moçambique,
o estado em que o país se encontrava até ao período eleitoral e as propostas de acções a serem
concretizadas com vista à melhoria de condições/desenvolvimento do país. Para o período
40
Com base na leitura dos Jornais “A Verdade” dos dias 02 de Outubro de 2009 e 24 de Junho de 2011.
intermédio escolhemos o ano de 2011, pois neste ano já haviam-se passado quase dois anos da
realização das eleições.
Após termos definidos o período de análise e os jornais que iriamos ler, definimos a nossa
amostra, ou seja, para o presente trabalho não foram lidos todos os jornais publicados nos anos
de 2009 e 2011, e sim jornais publicados em períodos específicos.
Assim sendo, o nosso corpus analítico recaiu sobre todos os jornais que foram publicados em
semanas em que se comemorava algum feriado nacional41. Pois consideramos que, por se tratar
dum momento comemorativo, os diversos actores políticos apresentavam a sua visão sobre o
estado do país, bem como de áreas a serem trabalhadas com vistas ao seu desenvolvimento. Para
além das semanas comemorativas, escolhemos também a semana em que o Presidente da
República apresenta o Estado da Nação e as semanas em que se comemoraram os aniversários
das mortes dos antigos presidentes da FRELIMO como período de análise.
Para além destas semanas, no caso do período eleitoral, escolhemos ainda o período
compreendido entre 20/10/2009 – 27/10/2009, pois cremos que neste período após vários dias de
campanha eleitoral e de discussão com a população sobre o que defendiam como políticas
públicas para Moçambique, as questões que os candidatos à presidência da República defendiam
já estavam mais focalizadas e com as eleições à porta, este consistia no período de relembrar aos
eleitores o que cada candidato defendia.
Depois seguiu-se a exploração e o tratamento dos resultados, de referir que no ponto seguinte
iremos apresentar a análise dos dados. Mas antes de serem submetidos à análise, os dados
passaram por dois processos, o primeiro foi a definição das unidades de análise, que para os
efeitos do presente trabalho nos socorremos dos ODM, os quais agrupamos pelas suas principais
áreas de acção, com vista a servirem de variáveis para analisar, sendo que deste agrupamento
resultaram os seguintes indicadores:
41
Os feriados nacionais são: 1 de Janeiro, 3 de Fevereiro, 7 de Abril, 1 de Maio, 25 de Junho, 7 de Setembro, 25 de
Setembro, 4 de Outubro e 25 de Dezembro.
Variáveis Indicadores
Financeiro Redução do endividamento
Aumento do rendimento
Emprego/trabalho
Boa governação/corrupção
Comercial Exportação
Produção agrícola/industrial
Educação Alfabetização
Equidade
Tecnologia
Saúde Redução da mortalidade materna/infantil
Doenças graves
Acesso a medicamentos
Meio ambiente Desenvolvimento sustentável
Água
Tabela 3: Variáveis e indicadores utilizados no trabalho
O segundo processo foi a selecção do tipo de enumeração, que optamos pela frequência simples,
que defende que “a importância de uma unidade de registro aumenta com a frequência de
aparição” (BARDIN, p. 135).
E como nós pretendemos identificar quais são as principais questões apresentadas na publicidade
política moçambicana, é necessário sabermos quantas vezes um indicador aparece nos discursos,
ou textos. De modo que, com base nas frequências, possamos indicar quais os que são mais
mencionados, classificando-os como sendo os principais, por assim dizer, “a aparição de um
item será tanto mais significativa quanto mais esta frequência se repetir” (idem, p. 135),
atribuindo-lhes assim um grau de importância.
Após termos apresentado a técnica de pesquisa que guiou a nossa recolha de dados, iremos de
seguida apresentar os resultados da nossa leitura.
O conceito de Democracia que guia este trabalho é o apresentado por Schumpeter, e será a luz
dele que faremos uma análise da realidade moçambicana. Schumpeter defende que o conceito de
democracia
“Caracteriza-se muito mais pela concorrência organizada pelo voto do que pela soberania do povo,
ou sufrágio universal, como afirma a teoria clássica. (…) A democracia poderá ser formulada da
seguinte forma ou através dos seguintes preceitos: 1º A Democracia é um método político, ou seja,
um certo tipo de arranjo institucional para se alcançarem decisões políticas – legislativas e
administrativas-, e portanto não pode ser um fim em si mesma, não importando as decisões que
produza sob condições históricas dadas; 2º Acordo institucional para se chegar a decisões políticas
em que os indivíduos adquirem o poder de decisão através de uma luta competitiva pelos votos da
população; 3º Método que uma nação usa para chegar a decisões; 4º Livre competição pelo voto
livre; 5º Governo aprovado pelo povo” (SCHUMPETER apud FERREIRA, S.D, p. 8-9).
A luz dos preceitos defendidos por Schumpeter (apud FERREIRA, S.D), podemos defender que
em Moçambique temos uma democracia, pois há a realização de eleições regulares onde o povo
escolhe os seus governantes. E após a realização dessas eleições, existe a proclamação dos
vencedores e ainda não houve manifestação (reclamação) do povo contra os resultados
divulgados.
Entretanto, se o povo não reclamou dos resultados o mesmo não se pode dizer dos partidos
políticos, pois, como defende o Open Society Initiative for Southern Africa – OSISA (2009), o
facto do partido Renamo não reconhecer os resultados das eleições 42, e concomitantemente o
governo aprovado, já se tornou normal.
Chegando-se ao ponto de, em consequência dos resultados divulgados das eleições autárquicas
de 2008, o líder da Renamo, Afonso Dlakhama, manifestar a “sua vontade de incitar as
populações das diversas autarquias do país à desobediência civil. (…) e a constituição de
governos paralelos em vários municípios do país (…)” (idem, 2009, p. 106).
Podemos ainda, inferir que em Moçambique há democracia porque o governo eleito, governo
aprovado pelo povo e faz uso do poder e da autoridade que obteve através da “aprovação” do
povo, e torna-se no primeiro nível de tomada de decisão no Estado, ao qual cabe “conduzir os
destinos da Nação” através do desenho de programas43. Esta assunção é baseada no primeiro
preceito do conceito de democracia proposto por Schumpeter (apud FERREIRA, S.D, p. 6),
segundo o qual “a democracia é um método político, (…) para se alcançarem decisões políticas
(…), não importando as decisões que produza (…) ”.
A tomada de decisões políticas e o desenho de programas pressupõe que haja um acordo entre os
diversos círculos de tomada de decisão existentes na sociedade (círculos como o religioso,
económico, administrativos, entre outros) e o governo. É nesse sentido que entendemos que a
realidade moçambicana se adequa ao pressuposto defendido pelo segundo preceito do conceito,
onde a democracia consiste num “acordo institucional para se chegar a decisões políticas em
que os indivíduos adquirem o poder de decisão através de uma luta competitiva pelos votos da
população” (apud FERREIRA, S.D, p. 9).
O quarto preceito do conceito defende que nas democracias existe uma livre competição e
analisando o conceito sociológico de competição através da definição de Maia (2004), onde
42
“Até à data, nas três eleições gerais, presidenciais e legislativas (1994, 1999, 2004), organizadas por
Moçambique, em todas elas a RENAMO (1994) ou a RENAMO-UE (1999 – 2004), como principal coligação
eleitoral de oposição, consideraram ter havido fraude e recusaram-se a aceitar os resultados” (OSISA, 2009, p. 8).
43
O nosso posicionamento é baseado no conceito de Decisão Política de Karl Deutsch, segundo o qual ela
corresponde a “tomada de decisões através de meios públicos em qualquer comunidade maior que a família. (… )
Tem a ver com o nível das decisões e dos programas, isto é, com o governo, com a decisão primária, e não com as
actuações secundárias e derivadas, como são as da mera administração” (MALTEZ, S.D).
competição corresponde a luta entre concorrentes, sejam eles individuais ou grupos sociais, com
vista à obtenção de uma posição mais elevada, quer seja social, económica, cultural ou de poder.
No âmbito político a competição exerce-se através da luta partidária (ou no interior dos próprios
partidos políticos) com vista ao acesso ou manutenção do poder político.
Podemos dizer que este preceito é “cumprido” pois em Moçambique desde o período de
implementação da democracia, concretamente desde a realização das Primeiras Eleições Gerais e
Presidenciais de 1994, temos a competição entre partidos (e os seus concorrentes, no caso das
eleições presidenciais e municipais). Esses partidos buscam, através do processo eleitoral,
cumprindo as normas definidas, quer pela Constituição da República e pela Lei Eleitoral, para o
processo, alcançar o poder político através do voto, poder que é legitimado pelo Conselho
Constitucional através da “validação e proclamação dos resultados finais do processo eleitoral”
(http://www.cconstitucional.org.mz/O-Conselho/Breve-Historial).
Entretanto, a competição pelo poder político que existe em Moçambique não é equitável pois,
como defende Hanlon (2009), os partidos partem para as eleições de forma desigual, enquanto
por lei está estipulado que os partidos estão em pé de igualdade44 no que toca a oportunidades
para concorrer às eleições e apresentar as suas ideias.
Na prática, a situação é diferente, pois o partido no poder utiliza os meios do Estado para fazer
campanha política (especialmente as viaturas do Estado), os funcionários públicos demoram na
emissão de documentos para os partidos da oposição, entre outras situações que “mancham” a
igualdade que os partidos têm para concorrer às eleições e apresentar as suas ideias (HANLON,
2009).
44
Todos os partidos tem tempo de antena equivalente ao seu tamanho, quer na rádio ou televisão pública, e recebem
fundos para a campanha (também equivalente ao seu tamanho) (HANLON, 2009).
Para além da livre competição, o quarto preceito do conceito de Schumpeter defende o voto
livre. Em Moçambique o acto de votar é um direito cívico do cidadão, cabendo a ele a decisão de
participar ou não do acto eleitoral, demonstrando assim que o acto de votar não é obrigatório
(OSISA, 2009). O nosso conceito de voto livre está assente no facto de que em alguns países,
como o Brasil, existir a obrigatoriedade legal de os cidadãos votarem, esta obrigação vem
estipulada na Lei Eleitoral, e o não cumprimento desta obrigação resulta em sanções 45 para o
cidadão (GICO, 2007).
No que diz respeito ao terceiro preceito da democracia defendido por Schumpeter, podemos
dizer que a democracia presente em Moçambique não se adequa. O terceiro preceito do conceito
defende que a democracia é um “método que uma nação usa para chegar a decisões” (apud
FERREIRA, S.D, p. 9).
Esta afirmação implica que o povo (ou as organizações da sociedade civil em representação do
povo46) dotado de vontade política participa na tomada de decisões que dizem respeito ao
Estado/País, auxiliando/influenciando o governo na formulação de políticas públicas. O que no
caso de Moçambique não acontece, pois, como defende OSISA (2009), no que tange a
intervenção social e participação política, as organizações da sociedade civil moçambicanas não
tem protagonismo para influenciar/auxiliar o governo na tomada de decisões.
Após esta breve análise, entendemos que em Moçambique há uma democracia pois há uma
competição pelo voto livre com vista ao alcance do poder político; encontramos um governo
aprovado pelo povo; o governo existente toma decisões políticas com base em acordos
estabelecidos; o que corresponde a quatro dos cinco preceitos defendidos por Schumpeter para a
democracia.
45
Sanções como: multas que variam de 3% a 10% sobre o salario mínimo, suspensão do direito de obtenção de
documentos de identificação (Bilhete de Identidade, Passaporte), impossibilitam ao cidadão à obtenção de
empréstimos em qualquer instituição financeira que seja comparticipada pelo governo, entre outras (GICO, 2007).
46
Optamos por trabalhar com o conceito de organizações da sociedade civil, pois, como defende Hegel (apud
Bobbio, 1982), as organizações sociais (associações e comunidades da sociedade civil) servem de mediadores no
relacionamento entre o indivíduo e o Estado, ou seja, as organizações da sociedade civil desempenham um papel de
mediadoras entre o povo e o Estado, actuando como representantes do povo junto ao Estado na formulação de
políticas públicas.
De salientar que, para a realização do presente trabalho recorremos à leitura dos jornais “O País”
e “Notícias” publicados nas semanas em que se comemorava um feriado nacional, o que perfez
um total de 100 jornais lidos para os dois períodos em análise, distribuídos da seguinte forma:
Jornais
Notícias O País Total
2009 21 6 27
2011 27 46 73
Tabela 4: Número de Jornais lidos
A apresentação dos resultados será guiada por dois momentos , no primeiro iremos apresentar os
resultados da leitura relativa a cada um dos jornais, depois iremos apresentar uma leitura feita
para cada um dos períodos eleitorais, de modo a nos permitir fazer uma análise da forma como
os meios de comunicação de tipos de propriedades diferentes apresentam aspectos relativos à
temática política de Moçambique.
O principal constrangimento que encontramos na realização do presente trabalho foi o acesso aos
jornais impressos, com principal destaque para os do ano 2009, isto porque o acervo
bibliográfico do Jornal “O País” e do Jornal “Notícias” não são para consulta pública, o que
explica o reduzido número de jornais analisados, com principal destaque para os jornais de 2009,
onde ao todo foram lidos somente 27 jornais. De referir, que a maior parte dos jornais objecto de
análise no presente trabalho foram consultados na Biblioteca Nacional e na Biblioteca do Centro
de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane.
Nos dados acima apresentados, vemos que o indicador com maior frequência de ocorrência é
“água” com uma frequência de 7, o que corresponde a 22%, seguido pelo indicador “produção
agrícola/industrial” com uma frequência de 6, o que corresponde a 19%, e pelo indicador
“emprego/trabalho” com uma frequência de 5, o que corresponde a 16%.
Com base nestes dados é nos possível concluir, que nos jornais “O País” impressos em 2009, as
principais questões apresentadas pelos partidos políticos são: aumento do acesso a água potável,
aumento da produção agrícola e/ou industrial e aumento do emprego ou trabalho.
Nos jornais “Notícias” publicados no período de 2009, foi-nos possível verificar que as
reportagens relativas à campanha eleitoral apresentadas na secção “Política” do jornal eram
relativas à acção de um determinado partido/candidato num determinado local, apresentando as
suas ideias, valores e princípios expostos pelos mesmos com vista a angariarem o voto da
população, onde eles defendiam o que se comprometiam a fazer caso vencessem as eleições.
Como se pode constatar com base nos dados apresentados acima, o indicador com a maior
frequência de ocorrência é “emprego/trabalho” (com 52, o que corresponde a 31%), seguido
pelos indicadores “produção agrícola/industrial” e “água” (ambos com uma frequência de 28, o
que corresponde a 17%), e o indicador “alfabetização” (com 18, o que corresponde a 11%).
Com base nestes dados podemos concluir que, através da leitura dos jornais “Notícias”, as
principais questões apresentadas pelos partidos políticos no período eleitoral são: aumento do
emprego ou trabalho, aumento da produção agrícola e/ou industrial, aumento do acesso à água
por parte da população e aumento da população alfabetizada.
Da leitura dos jornais “O País” e “Notícias” relativos ao período eleitoral, foi-nos possível
produzir a tabela abaixo, onde apresentamos os indicadores e a frequência de ocorrência para o
período de 2009.
Com base nestes dados foi-nos também possível verificar que os indicadores “redução do
endividamento”, “exportação” e “acesso a medicamentos” tem todos uma frequência de
ocorrência inferior a 2, o que corresponde a 0%, e que os indicadores da variável saúde não
apresentam um peso significativo, sendo que cada um deles corresponde a menos de 10% da
frequência de ocorrência de todos os indicadores apresentados nos jornais em análise.
Dos 8 ODM’s a que o Estado moçambicano se comprometeu a alcançar até 2015, constatamos
que os que mais se destacam na perspectiva dos partidos políticos/candidatos são:
1) Objectivo 1: Erradicar a pobreza extrema e a fome, através do alcance das metas: (i)
redução para metade a percentagem de pessoas cujo rendimento é inferior a 1 dólar por dia;
(ii) redução para metade a percentagem da população que sofre de fome. Que seriam
concretizadas através do aumento do emprego ou trabalho, como forma de aumentar o
rendimento das pessoas, e aumento da produção agrícola e/ou industrial.
3) Objectivo 2: Alcançar o ensino primário universal, que seria alcançado pela garantia de
que todos os rapazes e raparigas terminem o ciclo completo do ensino primário. Que seria
concretizado através da conclusão do ensino primário pelas crianças.
Com relação ao período intermédio entre as eleições realizadas entre 2009 e as que irão ser
realizadas em 2014, foi possível verificar que as reportagens apresentadas na secção “Política”
dos jornais “Notícias” e “O País” seguiram a mesma estrutura, tratavam-se de reportagens que
buscavam debater temas que estavam em destaque na arena política.
Nos jornais “O País” foi possível fazer a seguinte leitura dos indicadores, apresentada na tabela
abaixo:
Aumento do rendimento 0 0%
Emprego/trabalho 10 15%
Boa governação/corrupção 12 18%
Comercial Exportação 0 0%
Produção 16 24%
agrícola/industrial
Educação Alfabetização 6 9%
Equidade 0 0%
Tecnologia 11 16%
Saúde Redução da mortalidade 0 0%
materna/infantil
Doenças graves 0 0%
Acesso a medicamentos 5 7%
Meio Desenvolvimento 2 3%
ambiente sustentável
Água 5 7%
Tabela 8: Resultados obtidos da leitura do jornal O País - 2011
Como se pode ver com base nos dados acima apresentados, da leitura dos jornais “O País”
relativos ao ano de 2011, o indicador com maior frequência de ocorrência é “produção
agrícola/industrial” com uma frequência de 16, correspondendo a 24%, seguido do indicador
“boa governação/corrupção” com 12, correspondendo a 18%, depois pelo indicador “tecnologia”
com 11, correspondendo a 16%, e pelo indicador “emprego/trabalho” com 10, correspondendo a
15% da frequência de ocorrência dos indicadores apresentados no jornal.
Podemos concluir, da leitura dos jornais “O País” impressos ao longo do ano de 2011, que as
principais questões divulgadas pelos partidos políticos no período intermédio prendem-se com o
aumento da produção agrícola e/ou industrial, combate à corrupção, acesso às tecnologias de
informação e comunicação e aumento do acesso ao emprego.
Da leitura dos jornais “Notícias” impressos ao longo do ano de 2011, foi-nos possível produzir a
tabela abaixo, onde apresentamos os indicadores e a sua frequência de ocorrência.
Como se pode verificar na tabela acima, da leitura feita aos jornais “Notícias”, o indicador com
maior frequência de ocorrência é “emprego/trabalho” correspondendo a 36% da frequência de
ocorrência, seguido pelo indicador “doenças graves” que equivale a 19%, seguido por “boa
governação/corrupção” (15%), e pelo indicador “tecnologia” (11%).
Com base nestes dados podemos concluir que as principais ideias, valores e princípios
divulgados pelos partidos políticos prendem-se com o aumento do acesso ao emprego ou
trabalho, combate de doenças graves como HIV/SIDA, tuberculose, entre outras, combate à
corrupção e acesso às tecnologias de informação e comunicação.
Da leitura dos jornais selecionados, referentes ao ano de 2011, foi-nos possível constatar que
durante o período intermédio entre as eleições, os partidos políticos acrescentam às ideias,
valores e princípios divulgados durante o período eleitoral, outros aspectos que visam auxiliar o
país com vistas ao desenvolvimento. Como se pode ver na tabela que se segue, alguns
indicadores tomam posições que não tinham no ano de 2009.
Com base nos dados apresentados na tabela acima, podemos concluir que as principais questões
apresentadas na publicidade política divulgadas pelos partidos políticos ao longo do ano de 2011
prendiam-se com o aumento do emprego, combate à corrupção, aumento do acesso da população
às tecnologias de informação e comunicações, aumento da produção agrícola ou industrial e
combate às doenças graves.
Dos dados obtidos relativos ao ano de 2011, é possível verificar que dos 8 ODM’s, os que se
encontram patentes na publicidade política apresentada nos jornais relativos ao período em
análise, são:
1) Objectivo 1: Erradicar a pobreza extrema e a fome, através do alcance das metas: (i)
redução para metade a percentagem de pessoas cujo rendimento é inferior a 1 dólar por dia;
(ii) redução para metade a percentagem da população que sofre de fome. Que seriam
concretizados através do aumento do emprego ou trabalho como forma de aumentar o
rendimento das pessoas, e aumento da produção agrícola e/ou industrial.
Após termos apresentado os resultados por cada um dos períodos aos quais nos propusemos
analisar, iremos de seguida apresentar os dados de uma forma global, procurando olhar para as
variáveis destacando as que têm maior frequência de ocorrência, salientando o comportamento
que a frequência de ocorrência teve em cada um dos períodos em análise. Para nos auxiliar neste
objectivo, produzimos a tabela que se segue, onde procuramos fazer uma comparação dos
indicadores em cada um dos períodos.
Com base nestes dados foi possível notar que a variável financeira é a que tem a maior
frequência de ocorrência com 146, sendo que em 2009 correspondia a 35% das frequências de
ocorrência, e em 2011 ele correspondia a 44%. Segue-se a variável educação com uma
frequência de ocorrência de 70, onde em 2009 ele correspondia a 15%, e em 2011 correspondia a
23%. Em último lugar está a variável comércio, com uma frequência de ocorrência de 56, onde
em 2009 correspondia a 17% das frequências de ocorrência, e em 2011 correspondia a 13%.
Neste ponto procuramos também fazer uma apreciação do comportamento que cada um dos
indicadores foi assumindo dentro de cada variável, e para tal produzimos a tabela que se segue:
Água 35 17% 6 4%
Tabela 12:Frequência de ocorrência dos indicadores nos períodos em análise
Com relação à variável financeira, verificamos que o indicador com maior destaque é o
“emprego/trabalho” com uma frequência de 104, seguido pelo indicador “boa
governação/combate à corrupção” com uma frequência de 34, e por último o “aumento do
rendimento” com uma frequência de 8. De salientar que dentro desta variável o indicador
“redução do endividamento” não teve uma frequência de ocorrência.
No tocante à variável saúde, notamos que o indicador “doenças graves” tem a maior frequência
de ocorrência, com 29, seguido pelo indicador “mortalidade infantil/materna” com uma
frequência de ocorrência de 15, e por último o “acesso a medicamentos” com uma frequência de
ocorrência de 7.
Relativamente à variável meio ambiente, constatamos que o indicador com maior frequência de
ocorrência é “acesso à água potável” (41), seguido pelo indicador “desenvolvimento sustentável”
com uma frequência de ocorrência de 8. Na variável comercial, verificamos que o indicador
“produção agrícola/industrial” tem a maior frequência de ocorrência de 55, seguido pelo
indicador “exportação” com uma frequência de ocorrência de 1.
Da análise dos jornais impressos nos dois períodos em análise, foi possível verificar que o
Objectivo de Desenvolvimento do Milénio 1, com a componente de aumento do rendimento, que
passaria pelo aumento do acesso ao emprego ou trabalho é a que tem maior frequência de
ocorrência (104) de todos os ODM’s.
E, que na publicidade política apresentada nos jornais 5 dos 8 ODM’s a que o Estado
moçambicano se subscreveu são os mais destacados, sendo eles: (i) Objectivo 1 – Erradicar a
pobreza extrema e a fome; (ii) Objectivo 2 – Alcançar o ensino primário universal; (iii)
Objectivo 6 – Combate ao HIV/SIDA, malária e outras doenças graves; (iv) Objectivo 7 –
Garantir a sustentabilidade ambiental; e, (v) Objectivo 8 – Criação de uma parceria global para o
desenvolvimento.
Diante dos resultados apresentados, verificamos que a participação política, um dos pilares da
democracia, está dependente da mobilização da população a participar nos actos eleitorais. E,
uma das formas de mobilização é feita através dos discursos proferidos pelos candidatos/partidos
políticos, que são consubstanciados através da publicidade política apresentada nos jornais. Onde
as reportagens visavam dar a conhecer aos leitores as ideias, valores e princípios defendidos
pelos partidos políticos perante a população.
O discurso envolve em si uma acção, ou seja, um discurso anuncia o que um determinado actor
pretende ou irá fazer, e é através dessa enunciação que se consegue mobilizar a participação da
população nos actos políticos. O discurso envolve ainda a presença do outro ser social, pois ele
anuncia quem é, e o que esse indivíduo irá fazer em prol de um determinado grupo, e é com base
no que o indivíduo se propõe a fazer que as pessoas irão ou não votar nele.
Para o discurso poder mobilizar a participação das pessoas nos actos eleitorais é necessário que
ele foque questões que são do interesse da sociedade. Questões com as quais a sociedade se
47
Estes indicadores correspondem a 80% das frequências de ocorrência para as áreas de intervenções defendidas
pelos partidos políticos, , com base na análise da publicidade política apresentada nos jornais publicados em 2009 e
em 2011.
identifique e sinta que há uma necessidade de trabalhar sobre elas, isto é, questões sentidas pela
sociedade no seu dia-a-dia.
E estando num país que luta para alcançar o desenvolvimento, que tinha em 2008/09 uma taxa de
incidência da pobreza de 54,7%48, o que faz com que a pobreza seja um tema sentido pela maior
parte da população e a realidade social espelhada no discurso apresentado pelos partidos
políticos/candidatos aborda o combate à pobreza e, consequentemente, a luta pelo
desenvolvimento.
No período eleitoral as principais questões que fazem com que a sociedade se identifique com o
discurso político prendem-se com: aumento do emprego ou trabalho, aumento da produção
agrícola e industrial, acesso à água potável e alfabetização. No período intermédio as principais
questões prendem-se com: aumento do emprego ou trabalho, combate à corrupção e promoção
de práticas de boa governação, acesso às tecnologias de comunicação e informação e aumento da
produção agrícola e industrial.
Da mesma forma que as questões mudam consoante o período, os interesses dos membros do
campo político também mudam. Se no período eleitoral os membros do campo político
apresentam os interesses da sociedade como sendo os seus interesses, onde as acções que
prometem realizar prendem-se com o labor (aumento da produção agrícola e industrial, acesso à
água potável) e o trabalho (aumento do emprego ou trabalho, alfabetização). Aspectos que
Arendt (1987) considera fazerem parte do espaço privado, e que a sua defesa no espaço público
pode levar a uma privatização do mesmo espaço.
No período intermédio, apesar de ainda haver esta “privatização do espaço público”, onde as
principais questões apresentadas prendem-se com o labor e o trabalho (duas da actividades
48
De acordo com MPD (2010).
humanas fundamentais), vemos também que há referência para um controle das actividades
levadas a cabo pelo governo.
Onde os membros procuram, acrescentando aos seus discursos questões sobre o combate à
corrupção e promoção de práticas de boa governação, limitar o exercício do poder por parte dos
representantes eleitos. De salientar que, no campo político moçambicano só participam os
membros dos partidos políticos, que procuram, através da luta que ocorre dentro do campo,
alcançar ou manter o poder.
Ao longo do período eleitoral, o campo político é caracterizado por uma competição pelo voto
com vistas ao alcance do poder político, do poder sobre o Estado. Estas lutas são protagonizadas
pelos membros dos diferentes partidos políticos que apresentando as suas ideias, valores e
princípios buscam mobilizar o voto do cidadão a seu favor. Pelas questões apresentadas pelos
membros do campo nota-se que existe uma privatização do espaço público, tanto no período
eleitoral como no intermédio, onde as acções a que os partidos se propõem a realizar estão
voltadas para aspectos particulares dos indivíduos.
CAPÍTULO IV
CONCLUSÃO
1. Conclusão
Ou seja, os interesses dos membros do campo político variam de acordo com o período em que
se encontram. Se no período eleitoral, o campo político é caracterizado pela luta pelo alcance ou
manutenção do poder político, em que para ter acesso a ele, os candidatos/partidos políticos nos
seus discursos abordam questões que visam o alcance das necessidades humanas básicas
(alimentação, emprego, água), como forma de revesti-los de interesses com os quais a sociedade
se identifique.
No período intermédio, o campo político é caracterizado por lutas que visam regular o exercício
do poder pelos que o detêm, nesse sentido, os discursos políticos para além de serem revestidos
de questões que se prendem com o alcance das necessidades básicas, incorporam o aspecto do
combate à corrupção e promoção de práticas de boa governação.
As lutas que ocorrem dentro do campo político são lutas que visam o alcance do poder, do direito
de poder falar e actuar em nome do povo, pois o povo não participa do campo político. E como
forma de alcançar esse poder, os candidatos/partidos políticos se comprometem a desenvolver
acções que vão de encontro às necessidades da sociedade, de modo a que esta possa se identificar
com os seus discursos, e votar neles. E estando numa sociedade que luta para alcançar o
desenvolvimento, em que metade da população ressente-se da pobreza, a forma de fazer com que
a sociedade se identifique com um discurso, é fazer com que este prenda-se com o combate à
pobreza e o suprimento das necessidades básicas.
Chegados ao fim do presente trabalho há que referir que não existe uma definição consensual
sobre democracia. Sendo que as diferentes definições que existem podem ser agrupadas por
aspectos históricos, características constitutivas da democracia e processos a ela inerentes.
A democracia é regida pela aplicação de princípios que reflectem a vida social, económica e
política de uma sociedade, e a relação destes aspectos faz com que surjam novos tipos de
democracia, o que faz com que seja necessário redefinir o conceito de regimes políticos e a sua
tipologia. É da redefinição da tipologia de regimes, que surge o regime nova democracia, que é o
regime vigente em Moçambique e caracteriza-se por ser bipartidário, onde vemos que a arena
política tende a ser dominada pelos partidos Frelimo e Renamo.
A hipótese por nós formulada foi submetida a um teste de falseamento e foi corroborada. Nesse
sentido, verificamos que as principais questões apresentadas na publicidade política
moçambicana abordam aspectos defendidos nos ODM’s, principalmente no que se refere ao
aumento do emprego/trabalho, aumento da produção agrícola e/ou industrial, acesso à água
potável, combate à corrupção, acesso à educação e pelo combate às doenças graves. Com base
nestes aspectos defendemos que a publicidade política veiculada nos meios de comunição está
mais centrada em 5 dos 8 ODM’s.
O quadro teórico utilizado mostrou-se valido, na medida em que a teoria de Arendt (1987) nos
permitiu compreender que os partidos políticos procuram mobilizar a população a votar através
dos seus discursos, e das acções que eles implicam. E como forma de mobilizar a população,
procuram revestir os discursos de interesses que são os interesses da sociedade, de modo a que
esta possa se identificar com os discursos e assim votar no determinado partido.
Nesse sentido, a principal temática utilizada para revestir os discursos de interesses com os quais,
se crê que, a população se identifique é o aumento do emprego. Visto que esta foi a principal
questão apresentada na publicidade política nos dois períodos, sendo que as outras questões
variavam de acordo com os interesses dos membros do campo político.
Através do conceito de campo político de Bourdieu, foi possível verificar que o campo político
moçambicano caracteriza-se por ser um campo fragilizado, onde os seus membros não
participam nele o tempo todo, mas sim em momentos específicos, o que acabou fazendo com que
a nossa amostra recaisse sobre os momentos comemorativos.
No período eleitoral foi possível constatar que o campo se caracteriza por haver uma luta entre os
membros do campo com vista ao alcance do poder político. Para tal os candidatos apresentam
nos seus discursos questões que se prendem com o alcance das necessidades humanas básicas.
Ou seja, no periodo intermédio os membros do campo político que não detêm o poder dialogam
com os que detêm o poder atraves da referência a questões que visam o combate da corrupção e
promoção de práticas de boa governação.
Referência Bibliográfica
http://www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt1/s
essao3/Ana_Selva_Albinati.pdf. Acesso em 25 de Janeiro de 2013.
GICO, Ivo. Liberdade de Voto. Latin American and Caribbean Law and Economics
Association, S.L., p. 1 – 5, Janeiro 2007. Disponível em:
http://works.bepress.com/cgi/viewcontent.cgi?article=1021&context=ivo_teixeira_gico_j
unior. Acesso em 17 de Setembro de 2012.
GIL, António C. Capítulo 2: Métodos das Ciências Sociais. in Métodos e Técnicas de
Pesquisa Social. 5ª edição. São Paulo: Editora Atlas, 1999. P. 26 – 35.
HANLON, Joseph (editor). Que quer dizer realmente “level playing field”? Boletim
sobre o Processo Político em Moçambique, Maputo, nº43, p. 3 – 5, 19 de Novembro de
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Jornais Consultados
nº27468
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2011 Sexta-feira, 10 de Abril de 2009 nº27524
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Segunda-feira 27 de Junho de 2011 Ano VII
Quinta-feira 7 de Abril de 2011 nº28145
nº1047
Segunda-feira 5 de Setembro de 2011 Ano VII
Sexta-feira 8 de Abril de 2011 nº28146
nº1102
Terça-feira 6 de Setembro de 2011 Ano VII nº1103 Sábado 9 de Abril de 2011 nº28147
http://www.portaldogoverno.gov.mz/Informacao/politica/sistema-politico/part_pol/
http://www.cconstitucional.org.mz/O-Conselho/Breve-Historial
http://www.intercampus.co.mz/noticias3.htm
http://www.objectivo2015.org/inicio/
http://www.wateraid.org/documents/12924_portuguese_briefing_note_off_track_off_target_final
.pdf
Portal do Fundo das Nações Unidas para a Infancia
http://www.unicef.pt/docs/os_objectivos_de_desenvolvimento_do_milenio.pdf
http://www.undp.org.mz/
Portal da Wikipedia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_%C3%8Dndice_de_Desenvol
vimento_Humano
http://www.vacinas.org.br/vacinas05.htm
ANEXOS
ANEXO I
Feriados Nacionais
Período de Análise
Semanas de 2009
Semanas de 2011
ANEXO II
2000 0.366
2001 0.385
2002 0.402
2003 0.414
2004 0.428
2005 0.448
2006 0.458
2007 0.466
2008 0.402
2009 0.317
2010 0.322
2011 0.322
2012 0.327
ANEXO III
49
Tabela produzida com base em dados obtidos nos relatórios: PNUD (2006), PNUD (2007), PNUD (2012) e nos
sites
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_%C3%8Dndice_de_Desenvolvimento_Humano,
e http://www.undp.org.mz/