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Métodos de Investigação

em Sociologia
Questões sociológicas 641
A sociologia será uma ciência? 642
O processo de investigação 643
O problema de investigação 644
Revisão dos conhecimentos 644
Definição do problema da investigação 644
Elaboração de um plano 644
Realização da investigação 644
Interpretação dos resultados 645
Elaboração do relatório final 645
A realidade intrometesse! 645
Compreender a causa e o efeito 646
Causalidade e correlação 646
O mecanismo causal 646
Variáveis de Controlo 647
Identificação das causas 647
Métodos de Investigação 648
Etnografia 648
Inquéritos 649
Experiências 652
Histórias de vida 652
Análise histórica 652
À conjugação entre a investigação comparativa e a histórica 654
Investigação no mundo real: métodos, problemas, escolhas 654
Investigar a raça e a pobreza nos espaços urbanos 655
Conclusão: A influência da sociologia 659
Sumário 662
Questões para reflexão 662
Leituras adicionais 663
Ligações à Internet 663
Capítulo 20: Métodos de Investigação em Sociologia

N o auditório do Centro de Formação para Hospedei- empregados no sector dos serviços - tais como os
ras da Delta Airlines, em Atlanta, 123 candidiatas a trabalhadores físicos - experimentam muitas vezes
hospedeiras de bordo sentaram-se e ouviram um pilo- um sentimento de distância em relação à imagem
to explicar-lhes que o sorriso era o seu recurso prin- particular de si próprios que utilizam no trabalho.
cipal. Arlie Hochschild, professora de sociologia da O braço de um trabalhador, por exemplo, pode vir a
Universidade da Califórnia, viajou até Atlanta para sentir-se como uma peça de uma máquina, e apenas
assistir a estas aulas* sobre as quais escreveu no seu acidentalmente uma parte da pessoa que o está a
livro The Managed Heart (1983). mexer. D a mesma forma, os trabalhadores do sector
"Agora meninas, quero que sorriam realmente", de serviços disseram muitas vezes a Hochschild que
disse o piloto. " O vosso sorriso é o vosso maior tinham posto os seus sorrisos, mas que não estavam
recurso. Quero que saiam e o usem. Sorriam. Sorriam genuinamente a sorrir. Por outras palavras, estes tra-
realmente. Usem-no de facto " balhadores sentiam-se distantes das suas próprias
emoções. Este facto é interessante se tomarmos em
Baseando-se na sua investigação com as candida-
consideração que as emoções são normalmente pen-
tas a hospedeiras de bordo, Hochschild foi capaz de
sadas como uma parte pessoal e profunda de nós
juntar uma nova dimensão ao modo como os sociólo-
próprios.
gos pensam acerca do mundo do trabalho. Na medi-
da e m que as economias do Ocidente se baseiam Muitos outros investigadores basearam-se nas
crescentemente no sector de serviços precisamos de ideias de Hochschil e desde a publicação de The
entender o estilo emocional do trabalho que desen- Managed Heart. Apesar de Hochschild ter conduzido
volvemos.
O trabalho de hospedeira de bordo é semelhante a
muitos trabalhos que vocês e os vossos amigos
desempenham presentemente. Seja a servir cafés ou a
estacionar carros, muitos dos trabalhos de hoje exi-
gem mais do que trabalho físico. É necessário ofere-
cer aquilo a que Hochschild chama "trabalho emo-
cional** - trabalho que requer que os sentimentos
sejam geridos de modo a criar uma "montra" facial e
corporal visível (e aceite) publicamente. Segundo
Hochschild, as empresas para as quais trabalham não
apelam só aos movimentos físicos, também apelam
às emoções. Vocês são proprietárias do vosso sorriso
enquanto trabalham.

Hochschild passou um largo período de tempo


nas aulas porque uma das melhores maneiras de
compreender os processos sociais é participar neles
e observá-los. Também conduziu entrevistas que lhe
permitiram reunir mais informação do que a que
teria conseguido obter apenas através da observação A investigação de Arlie Hochschild com assistentes de
das aulas. A investigação desta autora abriu uma bordo conduziu a uma nova compreensão acerca do
janela sobre u m aspecto da vida que a maioria das modo como o s trabalhadores do sector de serviços se
pessoas julga entender, mas que era necessário com- podem sentir distantes das ferramentas do seu trabalho
preender de forma mais profunda. Descobriu que os - o s seus sorrisos.
MÉTODOS 0 6 INVESTIGAÇÃO 641

o seu estudo numa das mais desenvolvidas "econo- empíricas. Por exemplo, muitos aspectos dos crimes
mias de serviços" do mundo - os Estados Unidos - as e da justiça necessitam de uma investigação socioló-
suas descobertas aplicam-se a muitas sociedades do gica directa e sistemática. Poderíamos, portanto, per-
presente. guntar: Que formas de crime são mais comuns? Que
Os empregos no sector dos serviços estão a cres- proporção de pessoas que adoptam u m comporta-
cer rapidamente e m vários países do mundo, exigin- mento criminoso são apanhadas pela polícia? Quan-
do que mais e mais pessoas se envolvam no "trabalho tas destas pessoas são consideradas culpadas e pre-
emocional" no local de trabalho. Nalguns países onde sas? É necessário, frequentemente, proceder a muitas
não existe a tradição do sorriso e m público, tal como pesquisas antes de ser possível obter respostas a per-
na Gronelândia (vide pág. 2 3 ) , esta demonstrou ser guntas factuais como estas; as estatísticas oficiais
uma tarefa difícil. Nestes países, pede-se aos empre- sobre o crime, por exemplo, têm u m valor duvidoso
gados do sector de serviços que frequentem "sessões como indicador do nível real da actividade crimino-
especiais de sorriso" - não muito diferentes das fre- sa. Os investigadores que estudaram os níveis de
quentadas pelas hospedeiras da Delta Airlines. crime descobriram que só cerca de metade dos crimes
sérios são comunicados à polícia.

Claro que a informação factual acerca de uma


Questões sociológicas
sociedade, nem sempre nos dirá se estamos a lidar
Compete à investigação sociológica ir além da com- com u m caso pouco usual ou com um conjunto muito
preensão superficial da vida quotidiana tal como fez genérico de influências. Muitas vezes, os sociólogos
Hochschild. U m a boa investigação deveria ajudar- querem colocar questões comparativas, relacionan-
mos a compreender as nossas vidas sociais de uma do u m contexto social com outro, ou contrastando
nova forma. Deveria surpreender-nos nas questões exemplos oriundos de diferentes sociedades. Existem
que coloca e nas suas descobertas. Os assuntos que diferenças significativas, por exemplo, entre os siste-
preocupam os sociólogos, tanto na sua teorização mas sociais e legais da Grã-Bretanha e dos Estados
como na investigação, são muitas vezes semelhantes Unidos. U m a questão comparativa típica poderia ser
aos que preocupam muitas outras pessoas. M a s os a seguinte: C o m o é que variam os padrões do com-
resultados destas investigações afastam-se frequente- portamento criminal e da aplicação da lei entre os
mente das nossas crenças de senso comum. dois países? ( D e facto, encontram-se algumas dife-
renças importantes entre eles).
E m que circunstâncias vivem os grupos minoritá-
rios? Como pode existir fome e m massa num mundo E m sociologia necessitamos de olhar não só para
que é , hoje, muito mais rico do que alguma vez o foi? as sociedades existentes e m relação entre si, mas
Quais os efeitos do uso crescente da tecnologia de também de comparar o seu presente e o seu passado.
informação nas nossas vidas? Estará a f a m í l i a , Neste caso, as questões colocadas pelos sociólogos
enquanto instituição, a desintegrar-se? Os sociólogos são relativas ao desenvolvimento. Para compreender
tentam fornecer respostas a estes e a muitos outros a natureza do mundo moderno, temos de olhar para
problemas. A s suas descobertas não são, de modo as formas prévias de sociedade e temos de analisar a
algum, necessariamente definitivas. N o entanto, o direcção principal seguida pelos processos de
objectivo da teorização e da investigação sociológica mudança. Assim, podemos investigar, por exemplo,
é romper com a forma especulativa como normal- como surgiram as primeiras prisões e como estas são
mente se consideram certas questões. O bom trabalho presentemente.
sociológico tenta colocar as questões de forma tão
As investigações factuais - ou, como os sociólo-
exacta quanto possível e procura avaliar as provas
gos lhes preferem chamar, empíricas - preocupam-
factuais antes de chegar a conclusões. Para atingir
-se e m saber como ocorrem as coisas. Contudo, a
estes objectivos, temos de conhecer os métodos de sociologia não consiste apenas na recolha de factos,
investigação mais úteis para u m dado estudo e a por muito importantes ou interessantes que eles pos-
melhor forma de analisar os seus resultados.
sam ser. Precisamos sempre de interpretar o signifi-
Algumas das questões que os sociólogos colocam cado dos factos e, para o fazer, temos de aprender a
nos seus estudos são e m grande medida factuais ou colocar questões teóricas. Muitos sociólogos traba-
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Quadro 20.1 Um p r o c e s s o d e questionamento sociológico

Q u e s t ã o factual O que aconteceu? D e s d e o s a n o s 80, a s raparigas têm obtido


melhores resultados escolares do q u e o s
rdpazes.

Q u e s t ã o comparativa E s t e f e n ó m e n o d e u - s e em todo o lado? Foi um fenómeno global, ou tratou-se d e


algo q u e ocorreu a p e n a s n a Grâ-Bretanha
o u e m alguma fegião d a Grâ»Brçtanha?
I , s

Q u e s t ã o d e desenvolvimento Isto aconteceu a o longo d o t e m p o ? Quate foram o s p a d r õ e s d o s resultados


escolares d a s raparigas a o longo
dcrfempo?
s

• \ I

Q u e s t ã o teórica O q u e e s t á por d e t r á s d e s t e f e n ó m e n o ? P o r q u e é q u e a s raparigas tem um mefhor


d e s e m p e n h o n a e s c o l a ? Q u e factores
deveríamos ter e m conta p a r a explicar
s

esta mudança?

lham e m primeiro lugar as questões empíricas, mas a liação lógica de argumentos para desenvolver u m
não ser que sejam guiados na recolha empírica por corpo de conhecimentos acerca de u m objecto parti-
algum conhecimento teórico, é pouco provável que o cular. Segundo esta definição, a sociologia é um
seu trabalho seja esclarecedor. Este argumento é váli- empreendimento científico. Envolve métodos siste-
do mesmo para a investigação efectuada com objec- máticos de investigação empírica, a análise de dados
tivos puramente práticos (vide quadro 20.1). e a avaliação das teorias à luz da evidência e argu-
Neste capítulo, começaremos por considerar até mentação lógica.
que ponto a sociologia pode ser vista como uma ciên- Estudar os seres humanos, contudo, é diferente da
cia. Muitos aspectos do mundo social não podem ser observação dos acontecimentos no mundo físico e a
investigados do mesmo modo que o mundo natural e sociologia não deveria ser vista directamente como
iremos ver porque é assim. E m seguida, iremos ana- uma ciência natural. A o contrário dos objectos na
lisar alguns elementos-chave envolvidos na investi* natureza, os humanos são seres autoconscientes que
gação sociológica, antes de passarmos e m revista as conferem sentido e objectivos ao que fazem. N ã o
diferentes formas dos métodos de investigação que os podemos descrever a vida social de forma acurada a
sociólogos utilizam no seu trabalho. Analisaremos não ser que compreendamos primeiro os conceitos
também algumas investigações concretas - dado que, que as pessoas aplicam no seu comportamento. Des-
muitas vezes, existem contrastes entre a definição crever uma morte como u m suicídio, por exemplo,
ideal do modo como a pesquisa deveria ser conduzi- significa saber o que a pessoa e m questão pensava
da e os estudos reais. naquele momento. O suicídio só pode ocorrer quan-
do u m indivíduo tem a autodestruição activa em
mente. N ã o se pode dizer de alguém que se atravesse
acidentalmente e m frente de u m carro e seja morto,
A sociologia será uma ciência? que tenha cometido suicídio.

D u r k h e i m , M a r x e os outros fundadores da sociolo- O estudo da sociedade é diferente do mundo natu-


gia pensaram-na como uma ciência. M a s podemos ral por outra razão. Através das nossas próprias
estudar realmente a vida social humana de u m modo acções, estamos constantemente a criar e a recriar as
científico? A ciência consiste na utilização de méto- sociedades e m que vivemos. A sociedade não é uma
dos científicos sistemáticos de investigação empírica, entidade estática ou imutável; as instituições sociais
na análise de dados, no pensamento teórico e na ava- estão continuamente a ser representadas ao longo do
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Humanos a estudar humanos, um tipo de ciência diferente.

tempo e do espaço através das acções repetidas dos tistas naturais. As pessoas que têm conhecimento de
indivíduos. A sociologia preocupa-se com o estudo que as suas actividades estão a ser avaliadas não se
dos seres humanos, não com objectos inertes. Assim, comportarão, frequentemente, da mesma maneira
a relação entre a sociologia e o seu objecto é neces- como agiriam normalmente. Podem mostrar-se cons-
sariamente diferente da existente entre os cientistas cientemente de u m modo que difere das suas atitudes
naturais e o mundo físico. Os seres humanos têm normais. Podem mesmo tentar "assistir" o investiga-
capacidade para compreender e responder ao conhe- dor dando-lhe as respostas que pensam que ele pre-
cimento social de u m modo que não é possível em tende obter.
relação aos elementos do mundo natural. É desta
forma que a sociologia pode servir como uma pode-
rosa força emancipadora.
O p r o c e s s o d e investigação
O facto de não podermos estudar os seres huma-
nos da mesma forma que os objectos na natureza é, Debrucemo-nos agora sobre os estádios normalmen-
de certa forma, uma vantagem para a sociologia. Os te envolvidos no trabalho de pesquisa. O processo de
investigadores sociais beneficiam do facto de pode* investigação envolve uma série de passos distintos,
rem colocar questões directamente a quem estudam - indo desde o início da pesquisa até à altura e m que
outros seres humanos. Noutros aspectos, a sociologia são publicadas as suas descobertas ou disponibiliza-
cria dificuldades que não são encontradas pelos cien- das sob a forma escrita.
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O problema de investigação Revisão dos conhecimentos

Todas as investigações partem de u m problema a U m a vez identificado o problema, normalmente o


investigar. Por vezes, pode tratar-se de u m caso de próximo passo a seguir no processo de investigação é
ignorância factual. Podemos simplesmente desejar rever as evidências disponíveis no campo; pode dar*
melhorar o nosso conhecimento acerca de certas -se o caso de investigações anteriores terem j á clari-
instituições, processos sociais ou culturas. O inves- ficado satisfatoriamente o problema. E m caso contrá-
tigador pode desejar responder a questões do tipo rio, o investigador deverá examinar cuidadosamente
das seguintes: qual a proporção da população com todo o material existente. Terão outros investigadores
fortes convicções religiosas? A s pessoas estarão detectado o mesmo enigma? C o m o é que o tentaram
realmente descontentes com o "governo"? Qual a resolver? Que aspectos do problema foram deixados
diferença e m termos económicos entre mulheres e de fora da análise? Discorrer sobre as ideias de outros
homens? ajuda o investigador a clarificar os assuntos que
podem ser levantados e os métodos que podem ser
N ã o obstante, a melhor investigação sociológica
usados na investigação.
parte de problemas que também constituem enigmas.
U m enigma não é apenas uma falta de informação, é
igualmente uma lacuna no nosso entendimento. U m a
Definição do problema de investigação
grande parte da capacidade para realizar investiga-
ções sociológicas relevantes consiste e m identificar U m terceiro estádio envolve uma formulação precisa
correctamente enigmas. E m vez de responder sim- do problema de investigação. Se j á existe literatura
u
plesmente à pergunta, O que está a acontecer aqui?", relevante, o investigador pode regressar da biblioteca
a investigação que tenta resolver u m enigma procura com uma boa noção do modo como o problema pode
contribuir para o entendimento das razões do porque ser abordado. Neste estádio, os palpites sobre a natu-
os eventos ocorreram de u m modo determinado. reza do problema podem por vezes tornar-se hipóte-
Deste m o d o , podemos perguntar: porque estarão os ses definidas. U m a hipótese é uma suposição acerca
padrões da crença religiosa a modificar-se? O que da relação entre os fenómenos e m que o investigador
explica a mudança na proporção dos eleitores que está interessado. Para que a investigação seja eficaz,
votam, nos últimos anos? Porque é tão diminuta a deverá ser estabelecida uma hipótese de forma a que
representação das mulheres nos empregos de estatuto o material reunido forneça a oportunidade de a testar.
social elevado?

N e n h u m trabalho de investigação se encontra iso-


Elaboração de um plano
lado. Os problemas de investigação surgem como
parte do trabalho que se está a efectuar; u m projecto O investigador deve, então, decidir exactamente
de investigação pode facilmente conduzir a outro, como vão ser recolhidos os materiais de investigação.
pois sugere assuntos que o investigador não tinha Existem vários métodos de investigação e a escolha
considerado previamente. Os enigmas também de u m e m especial depende dos objectivos globais do
podem surgir com a leitura do trabalho de outros estudo, assim como das características de comporta-
investigadores publicado e m livros e revistas da espe- mento a analisar. E m certas circunstâncias, pode ser
cialidade, ou através da tomada de consciência da adequado fazer u m inquérito (no qual normalmente
existência de tendências específicas na sociedade. se usam questionários). Noutras, podem ser mais
Durante os últimos anos, por exemplo, um número apropriadas as entrevistas ou um estudo assente na
crescente de programas procurou inserir os doentes observação, tal como o desenvolvido por Arlie
mentais na comunidade e m vez de os internar e m Hochschild.
hospitais psiquiátricos. Os sociólogos podem ser
induzidos a questionar o que provocou esta mudança
de atitude e m relação aos doentes mentais, e quais as Realização da investigação
consequências prováveis tanto para os próprios doen-
N a altura de iniciar a investigação, podem surgir difi-
tes como para o resto da comunidade.
culdades práticas imprevistas. Pode revelar-se ser
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impossível contactar algumas das pessoas a quem os


questionários deveriam ser enviados ou que o invés*
Defina o problema tigador deseja entrevistar. U m a empresa ou departa-
Seleccione um tópico para a pesquisa mento governamental podem não ter vontade de dei-
xar o investigador efectuar o seu trabalho. Por exem-
plo, se o investigador está a estudar o modo como as
empresas estão a cumprir o programa de iguais opor-
Reveja a bibliografia existente tunidades para as mulheres, então, as companhias que
Famfflanze-se com a pesquisa existente
sobre o problema não o estão a aplicar poderão querer ser alvo deste
estudo. Como consequência, os resultados poderiam
estar enviesados.

formule uma hipótese


Interpretação dos resultados
O que pretende testar? Qual a relação
entre as variáveis?
A reunião do material da análise não significa o fim
dos problemas do investigador - de facto, estes
podem apenas estar a começar! Raramente é fácil
avaliar as implicações das informações coligidas e
Seleccione um plano de investigação
Escolha um ou mais métodos de relacioná-las com o problema em questão. Embora
investigação: experiência; inquérito; possa ser possível obter uma resposta clara para as
observação; uso das fontes existentes
questões iniciais que a investigação se propunha ana-
lisar, muitas investigações não são totalmente con-
\s *
clusivas.
• ' •

Realize a investigação
Recolha dados; registe informação Elaboração do relatório final

O relatório da investigação, normalmente publicado


sob a forma de artigo ou livro, fornece uma descrição
Interprete os resultados da natureza da investigação e justifica as conclusões
AnaKse as Implicações da informação extraídas. N o caso de Hochschild este relatório foi o
colhida livro The Managed Heart. Este é um estádio final só
em termos do projecto individual de investigação.
A maioria das publicações indica as questões que per-
manecem sem resposta e sugere investigações adicio-
Elabore o relatório final nais que podem ser feitas no futuro de forma provei-
Qual o significado das condusões?
Como se relacionam com as tosa. Todas as investigações individuais fazem parte
descobertas anteriores? de u m processo contínuo de pesquisa que se desen-
volve na comunidade sociológica.

As suas descobertas sâo registadas A realidade intrometesse!


e discutidas na comunidade académica
- dando talvez origem ao início A sequência das etapas que acabámos de apresentar é
oe investigações posteriores uma versão simplificada do que acontece nos projec-
tos de investigação (vide figura 20.1). D e facto, numa
investigação sociológica estes estádios raramente se
sucedem tão nitidamente uns aos outros, havendo
Figura 20.1 Passos do processo de investigação quase sempre uma certa dose de sobreposição. A di-
ferença é um pouco como aquela que existe entre as
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receitas dadas num livro de culinária e o processo cachimbo e o decréscimo no número de pessoas que
real de cozinhar uma refeição. As pessoas com expe- vão regularmente ao cinema. Claramente uma mudan-
riência de cozinha podem nem sequer recorrer aos ça não causa a outra, e acharíamos difícil descobrir
livros de receitas e o seu trabalho é, quase sempre, sequer uma remota relação causal entre elas.
muito mais criativo do que o daquelas que o usam. Existem muitas circunstâncias, contudo, e m que
Seguir esquemas fixos pode ser excessivamente res- não é tão óbvio o facto de uma correlação observada
tritivo e muitas das investigações sociológicas mais não implicar uma relação causal. Estas correlações
famosas não se ajustariam de todo à sequência aca- são armadilhas para os mais incautos e conduzem
bada de mencionar, apesar de alguns dos passos facilmente a conclusões questionáveis ou falsas. N o
poderem estar presentes. seu trabalho clássico de 1 8 9 7 , 0 Suicídio (ver capítu-
lo 1, " O que é a sociologia?", p. 10), Emile Durkheim
encontrou uma correlação entre as taxas de suicídio e
C o m p r e e n d e r a c a u s a e o efeito as estações do ano (Durkheim, 1952). Nas sociedades
que Durkheim estudou, os níveis de suicídio aumen-
tavam progressivamente de Janeiro até Junho ou
U m dos principais problemas a ser tido e m conta nos
Julho. Desde essa altura declinavam até ao final do
métodos de investigação é a análise entre causa e
ano. Pode-se supor que tal demonstra existirem rela-
efeito. U m a relação causal entre dois acontecimen-
ções de causalidade entre a temperatura ou as mudan-
tos ou situações é uma associação na qual um acon-
ças climatéricas e a propensão dos indivíduos para se
tecimento ou situação produz outro. Se se solta o tra-
suicidarem Talvez suceda que, à medida que as tem-
vão de mão num carro que está numa descida, este irá
peraturas sobem, as pessoas se tornem mais impulsi-
descer, ganhando velocidade à medida que o faz. Sol-
vas e passionais? Contudo, neste caso, a relação cau-
tar o travão causou este acontecimento; as razões
sal não tem provavelmente nada a ver directamente
deste sucesso podem ser realmente compreendidas à
com a temperatura ou com o clima. Esta pressuposi-
luz dos princípios físicos envolvidos.
ção é uma correlação espúria - uma associação entre
Tal como as ciências naturais, a sociologia assume
duas variáveis que parece ser verdadeira, mas que na
que todos os acontecimentos têm causas. A vida
verdade é causada por outro factor ou factores.
social não é u m conjunto de acontecimentos aleató-
rios, que têm lugar sem pés nem cabeça. U m a das Indo mais além, aparentemente a maior parte das
principais tarefas da investigação sociológica - con- pessoas envolve-se numa vida social mais intensa na
jugada com o pensamento teórico - é a de identificar Primavera e no Verão do que no Inverno. Os indiví-
as causas e os efeitos. duos isolados ou infelizes tendem a sentir uma inten-
sificação destes sentimentos à medida que o nível de
actividade das outras pessoas aumenta. Assim podem
Causalidade e correlação
sentir mais tendências suicidas na Primavera e no
A causalidade não pode ser inferida directamente da Verão do que no Outono e no Inverno, quando o
correlação. A correlação significa a existência de ritmo da actividade social abranda.
uma relação regular entre dois conjuntos de ocorrên-
cias ou variáveis. U m a variável é uma qualquer
O mecanismo causal
dimensão ao longo da qual variam indivíduos ou gru-
pos. A idade, as diferenças de rendimento, as taxas de Analisar relações causais envolvidas nas correlações
crime e as diferenças de classe social são algumas de é muitas vezes um processo difícil. Existe uma forte
entre as muitas variáveis que os sociólogos estudam. correlação, por exemplo, entre o grau de educação
Pode parecer que quando duas variáveis se correla- atingido e o sucesso ocupacional nas sociedades
cionam, uma deve ser a causa da outra; não é esse o modernas. Quanto melhores forem as notas obtidas
caso frequentemente. Existem muitas correlações sem por u m indivíduo na escola, melhor será a remunera-
qualquer relação causal entre as variáveis. Por exem- ção que poderá vir a ter. O que é que explica esta cor-
plo, desde a Segunda Guerra Mundial, pode desco- relação? A investigação tende a mostrar que a respos-
brir-se uma forte correlação entre o declínio no uso do ta não reside principalmente na experiência escolar;
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os níveis de sucesso conseguidos na escola são muito -íamos tentando controlar, ou "isolar", outras influên-
mais influenciados pelo tipo de lar do qual a pessoa cias possíveis que poderiam explicar a correlação.
provém. As crianças oriundas de lares mais abasta- U m a fonte de privação maternal é o internamento
dos, cujos pais demonstram um grande interesse de uma criança no hospital durante u m longo período
pelas suas capacidades de aprendizagem e onde exis- de tempo, durante o qual está separada dos seus pais.
tem mais livros, têm mais probabilidades de se saí- Será, contudo, a ligação à mãe que realmente impor-
rem melhor do que as crianças cujas famílias não reú- ta? Talvez se a criança receber amor e atenção de
nem estas condições. Os mecanismos causais neste outras pessoas durante a infância, ele ou ela possa ser
caso são as atitudes dos pais para com as suas crian- ulteriormente uma pessoa estável? Para averiguar
ças, conjuntamente com as oportunidades para a estas possíveis relações causais, deveríamos compa-
aprendizagem proporcionadas e m casa. rar casos e m que as crianças tivessem sido privadas
A s relações causais e m sociologia não deveriam de cuidados regulares de quem quer que fosse, com
ser entendidas de uma forma muito mecânica. As ati- casos nos quais as crianças foram separadas das suas
tudes que as pessoas têm, e as suas razões subjectivas mães, mas receberam amor e cuidados de outra pes-
para agirem como agem, são factores causais nas soa. Se o primeiro grupo desenvolvesse fortes distúr-
relações entre as variáveis na vida social. bios de personalidade, mas o segundo não, podería-
mos suspeitar que o cuidado regular de alguém na
infância é o que importa, independentemente de se
Variáveis de Controlo tratar ou não da mãe. ( D e facto, as crianças parecem
prosperar normalmente desde que tenham uma rela-
A o avaliar a causa ou causas que explicam uma cor-
ção estável de amor com alguém que olhe por elas -
relação, é necessário distinguir entre variáveis inde-
não tendo esse alguém de ser a própria mãe).
pendentes e variáveis dependentes. U m a variável
independente é uma variável que produz u m efeito
numa outra. A variável afectada é a variável depen-
Identificação das causas
dente. N o exemplo apenas mencionado, os resultados
académicos são a variável independente e o rendi- H á u m grande número de causas possíveis que pode-
mento da prpfissão a variável dependente. A distin- riam ser invocadas para explicar uma dada correla-
ção refere-se à direcção da relação causal que esta- ção. C o m o poderemos ter a certeza de que as consi-
mos a investigar. O mesmo factor pode ser uma deramos todas? A resposta é que não podemos ter a
variável independente num estudo e uma variável certeza. Nunca poderíamos desenvolver e interpretar
dependente num outro. Tudo depende dos processos os resultados de uma investigação sociológica de
causais que estão a ser analisados. Se estivéssemos a forma satisfatória se fôssemos compelidos a testar a
analisar os efeitos das diferenças de rendimentos nos possível influência de cada factor causal que pudés-
estilos de vida, o rendimento seria a variável inde- semos considerar potencialmente relevante. A identi-
pendente e m vez da variável dependente. ficação de relações causais é normalmente guiada
Para descobrir se a correlação entre as variáveis é pela pesquisa prévia sobre a área e m questão. Se não
uma relação causal, utilizamos as variáveis de contro- tivermos uma ideia razoável de antemão dos meca-
lo, o que significa que tomamos certas variáveis como nismos causais envolvidos numa correlação, acharía-
constantes de modo a observarmos os efeitos das mos provavelmente muito difícil descobrir as rela-
outras. A o fazê-lo, somos capazes de avaliar diferentes ções causais reais. N ã o saberíamos o que testar.
explicações de correlações observadas, separando as U m bom exemplo de como é difícil estar seguro
relações causais, das não causais. Os investigadores quanto às relações causais envolvidas numa correla-
que estudam o desenvolvimento das crianças, por ção é proporcionada pela longa história de estudos
exemplo, defendem que existe uma relação causal sobre o tabaco e o cancro no pulmão. A investigação
entre a falta da mãe na infância e sérios problemas de demonstrou de forma consistente uma forte correla-
personalidade na idade adulta. Como podemos testar ção entre ambos. Os fumadores têm maior probabili-
se existe realmente uma relação causal entre a falta da dade de contrair cancro nos pulmões do que os não
mãe e as desordens de personalidade tardias? Fá-lo- fumadores, e esta probalidade ainda é mais forte
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entre quem fuma muito do que entre quem fuma


menos. A correlação pode também ser expressa de 0 OUTRO LADO 0 A R Y
IARSON
outro modo. U m grande número de pessoas que t ê m
cancro no pulmão são fumadoras ou fumaram duran-
te grandes períodos de tempo no passado. Existiram
muitos estudos que confirmaram estas correlações,
pelo que se aceita geralmente a existência de uma
ligação causal; mas os mecanismos causais exactos
são e m larga medida desconhecidos.
Por muito trabalho correlacionai que se faça sobre
um assunto, fica sempre alguma dúvida quanto a pos-
síveis relações causais. São possíveis outras interpre-
tações da correlação. Defendeu-se, por exemplo, que
as pessoas que têm predisposição para contrair can-
cro no pulmão estão também predispostas para
fumar. Sob esta perspectiva não é o fumo que causa
cancro no pulmão, mas uma disposição biológica
inata para fumar e para o cancro.

Métodos d e Investigação
"Antropólogos! Antropólogos!"
Passemos então a analisar os diversos métodos de
€> 1984 FarWorks, Inc. Utili2açâo autorizada. Todos os
pesquisa utilizados pelos sociólogos no seu trabalho.
direitos reservados.
Este cartoon ilustra alguns dos problemas colocados pelo
Etnografia estudo d e sujeitos com consciência própria.

A e t n o g r a f i a é o estudo das pessoas e grupos e m pri-


meira mão n u m determinado período de tempo, utili-
zando a observação p a r t i c i p a n t e ou entrevistas para tempo, se quiser obter algum resultado. Este proces-
entender o comportamento social. A investigação so e m que se procura ganhar confiança pode ser
etnográfica procura descobrir os significados subja- longo e difícil, mas, depois de u m certo tempo, os
centes às acções sociais. Este objectivo é alcançado etnógrafos conseguem muitas vezes construir rela-
através do envolvimento directo dos investigadores ções de confiança com os membros do grupo. Por
nas interacções que constituem a realidade social do vezes, o investigador "torna-se" praticamente u m
grupo que está a ser estudado. U m sociólogo que membro da comunidade; noutros casos, ele ou ela
desenvolve investigação etnográfica pode trabalhar podem ser aceites como investigadores, mas, ainda
ou viver com u m grupo, organização ou comunidade assim, olhados como estranhos.
durante meses ou mesmo anos. Muitas vezes o inves- Durante muito tempo, era normal que uma inves-
tigador desempenha u m papel activo nas suas activi- tigação baseada na observação participante excluísse
dades diárias, observando os acontecimentos e pedin- quaisquer relatos das peripécias ou problemas que
do explicações sobre decisões, acções e comporta- tiveram de ser ultrapassados, mas, mais recentemen-
mentos. te, as memórias e diários publicados sobre trabalhos
N o trabalho de campo, o investigador não pode de campo são muito abertos a esse respeito. T ê m de
iimitar-se a estar presente numa comunidade, mas se enfrentar frequentemente momentos de solidão -
tem de explicar e justificar a sua presença aos seus não é fácil alguém adaptar-se a u m contexto social ou
membros. Deve ganhar a confiança e a cooperação a uma comunidade estranha. O investigador pode
do grupo ou comunidade e mante-las durante algum sentir-se constantemente frustrado, pelo facto de os
M É T O D O S 06 I N V E S T I G A Ç Ã O 649

anos 8 0 , apresenta pouca informação sobre a autora


ou a natureza da sua relação com as pessoas que ela
estudou. M a i s recentemente, os etnógrafos têm vindo
crescentemente a falar de si próprios e da natureza da
sua relação com as pessoas que estudaram. Algumas
vezes, por exemplo, pode tratar-se apenas de consi-
derar como é que a raça, classe ou género afectam o
trabalho, ou de como é que as relações de poder entre
observador e observados distorcem o diálogo entre
eles.

Vantagens e limites da etnografia


A etnografia, quando é bem sucedida, fornece infor-
mações muito mais ricas sobre a vida social do que a
maioria dos outros métodos de investigação. U m a
vez compreendidas as coisas "por dentro" de um
determinado grupo, iremos provavelmente entender
melhor por que razão determinadas pessoas agem de
certa maneira. Também podemos aprender mais acer-
ca dos processos sociais que interferem na situação a
ser estudada. A etnografia é muitas vezes referida
como fazendo parte da investigação qualitativa, por-
que se preocupa mais com a compreensão subjectiva
do que com dados numéricos. A etnografia também
dá ao investigador mais flexibilidade do que a maio-
ria dos outros métodos. O investigador consegue
adaptar-se a circunstâncias invulgares e inesperadas e
N o trabalho d e c a m p o os socióíogos t ê m d e s e aproximar
d a s c o m u n i d a d e s q u e estão a estudar, m a s n ã o d e s e seguir as pistas que forem surgindo no processo da
tornarem t ã o próximos a ponto d e p e r d e r e m o olhar d e própria investigação.
a l g u é m externo.
O trabalho de campo também tem as suas limita-
ções. Só se podem estudar grupos ou comunidades
muito pequenas. Depende muito da habilidade do
membros do grupo ou da comunidade se recusarem a investigador para ganhar a confiança dos indivíduos
falar francamente sobre si próprios. E m certos con- que pretende estudar. Sem ela, a investigação prova-
textos, as perguntas directas podem ser bem recebi- velmente nem sequer se inicia. O reverso também é
das, mas noutros podem provocar u m silêncio gélido. possível. O investigadora) pode aproximar-se e
Certos tipos de trabalho de campo podem até ser fisi- identificar-se tanto com o grupo, ao ponto de se tor-
camente perigosos - u m investigador que estuda uma nar tão "integrado" que perde a perspectiva de u m
quadrilha de delinquentes, por exemplo, pode ser observador externo.
visto como um informador da polícia ou ver-se
envolvido involuntariamente e m conflitos com gru-
pos rivais. Inquéritos
Nos trabalhos tradicionais de etnografia as avalia- A interpretação dos estudos de campo - e de outras
ções eram apresentadas sem grandes informações formas de investigação qualitativa - envolve normal-
sobre o observador. Isto sucedia, porque se acredita- mente problemas de generalização. E m virtude de
va que os etnógrafos podiam apresentar quadros apenas u m pequeno grupo de pessoas estar envolvi-
objectivos das coisas que estudavam. M e s m o a inves- do, não podemos ter a certeza de que o que é desco-
tigação de Hochschild, escrita durante o início dos berto se poderá aplicar a outras situações, ou mesmo
M É T O D O S 06 I N V E S T I G A Ç Ã O 650

que dois investigadores diferentes possam chegar às ção significa que as respostas podem ser mais difíceis
mesmas conclusões no estudo do mesmo grupo. Nor- de comparar estatisticamente.
malmente, este é u m problema menor nos inquéritos, As questões dos questionários são normalmente
que são mais quantitativos na sua natureza. Os inqué- organizadas de modo a que uma equipa de entrevis-
ritos têm como objectivo a recolha de dados que tadores possa colocar e registar as respostas segundo
podem ser analisados estatisticamente para revelarem uma ordem pré-determinada. Todas as questões
padrões ou regularidades. Se as ferramentas de análi- devem ser de compreensão imediata tanto para os
se forem desenhadas correctamente, as correlações entrevistadores como para os entrevistados. Nos
encontradas através de u m inquérito podem ser gene- grandes inquéritos nacionais realizados regularmente
ralizáveis a u m universo mais vasto. A investigação por institutos estatais e de investigação, as entrevistas
etnográfica é mais adequada para estudos e m profun- são efectuadas mais ou menos simultaneamente por
didade de pequenas fatias da vida social; os inquéri- todo o país. Os entrevistadores e os que analisam os
tos tendem a produzir informação menos detalhada, resultados não conseguiriam efectuar o seu trabalho
mas que se pode aplicar habitualmente a uma área de uma forma eficiente se tivessem de contactar uns
mais vasta. com os outros constantemente para verificar ambi-
guidades nas perguntas e nas respostas.
Questionários A elaboração dos questionários deve ser feita cui-
Os inquéritos apoiam-se muitas vezes e m questioná- dadosamente tendo e m vista as características dos
rios como ferramenta principal para reunir informa- entrevistados. Irão entender o que o investigador tem
ção. Os questionários tanto podem ser aplicados pes- e m mente ao fazer uma dada pergunta? Será que dis-
soalmente pelo investigador, como enviados aos res- põem de suficiente informação para responder de
pondentes por correio ou e-mail (os chamados "ques- forma útil? Irão responder? Os termos empregues no
tionários auto-administrados")- O grupo de pessoas a questionário podem ser pouco familiares aos entrevis-
serem inquiridas ou estudadas é denominado pelos tados. Por exemplo, a pergunta: "Qual o seu estado
sociólogos como população. Nalguns estudos, a civil?" pode criar uma certa confusão. Seria mais apro-
população pode ser de muitos milhares de pessoas. priado perguntar: " É solteiro, casado ou divorciado?".
A maioria dos inquéritos é precedida por estudos pilo*
Nos inquéritos são utilizados dois tipos de ques-
to de forma a detectar problemas não previstos pelo
tionário. Uns consistem n u m conjunto de questões
investigador. U m estudo piloto é u m ensaio em que u m
padronizadas para as quais apenas é possível dar u m
questionário é preenchido apenas por um pequeno
número f i x o de respostas fechadas - por exemplo,
grupo de pessoas. Quaisquer dificuldades encontradas
"Sim/Não/Nao sabe'' ou ' Muito provável!Prová-
podem ser resolvidas antes de ser feito o inquérito.
vel! Improvável! Muito ImprovávelOs inquéritos de
resposta fechada têm a vantagem dos seus resultados
serem fáceis de comparar e contar, visto envolverem
Amostragem
apenas u m pequeno número de categorias. Por outro Os sociólogos interessam-se muito frequentemente
lado, e m virtude deste tipo de resposta não permitir pelas características de u m grande número de indiví-
subtilezas de opinião ou uma expressão verbal, a duos, como, por exemplo, as atitudes políticas do
informação recolhida é de âmbito restrito, ou mesmo eleitorado britânico. Seria impossível estudar todas
enganador. estas pessoas directamente, e assim nestes casos a
Outro tipo de questionários são os de resposta investigação concentra-se numa pequena proporção
aberta, que dão oportunidade aos entrevistados para do grupo total - uma a m o s t r a do total. Normalmen-
exprimirem os seus pontos de vista pelas suas pró- te, os resultados de u m inquérito a uma amostra da
prias palavras, visto não estarem limitados a respos- população podem ser generalizados a toda a popula-
tas rígidas. Os questionários de resposta aberta forne- ção, desde que a amostra seja correctamente definida.
cem uma informação mais detalhada do que os fecha- Os estudos efectuados a cerca de dois ou três m i l elei-
dos. O investigador pode seguir as respostas para tores, por exemplo, podem dar uma indicação bastan-
investigar mais profundamente o pensamento do te exacta das atitudes e intenções de voto do total da
entrevistado. Por outro lado, a falta de estandardiza- população. Contudo, para se conseguir tal exactidão.
M É T O D O S 06 I N V E S T I G A Ç Ã O 651

"The people's choice?"


s

Um dos primeiros estudos célebres baseados em lhidos confirmado esta hipótese. Os investfoadores
inquérito foi o The People'$ choice? (A escolha do desenvolveram técnicas sofisticadas de medição
povo?}, um estudo efectuado há cerca de meio para analisar as atitudes politicas. Contudo, o seu
século (Lazarsfeld et a/., 1948). Este estudo, que trabalho foi também fortemente influenciado por
investigava as intenções de voto dos residentes no ideias teóricas e contribuiu significativamente para
Condado de Eire, no Ohio, durante a campanha O pensamento teórica Entre os conceitos que aju-
para as eleições presidenciais de 1940, foi pionei- daram a introduzir, contam-se os de líderes de opi-
ro de várias das principais técnicas de inquérito nião" e de "fluxo de informação em duas etapas".
usadas actualmente. De forma a ir um pouco mais O estudo demonstrouque certos indivíduos — os
longe do que um simples questionário, os investiga* líderes de opinião - tendem a moldar as opiníões
dores entrevistaram cada membro de uma amostra políticas dos que os rodeiam. Os pontos de Vista da
de, eleitores em sete ocasiões diferentes. O objecti- população sobre ò sistema político não se cons-
vo era delinear e entender as razões das alterações troem apenas de forma directa, mas num processo
das intenções de voto. de "duas etapas" Ná primeira etapa, òs iíderes de
opinião reagem aos acontetímentos políticos e
A investigação foi elaborada tendo em vista um
irrterpretam-nos; numa segunda etapa» estes líde-
número de hipóteses definidas. Uma dessas hipóte-
res influenciam os outros - as relações, os amigos
ses era a de que as relações e os acontecimentos
e os colegas- As opiniões expressas pelos líderes
próximos dos eleitores numa dada comunidade
de opinião influenciam as respostas de outros indi-
influenciam mais as intenções de voto do que os
víduos sobreos temas políticos da actualidade.
assuntos mundiais distantes» tendo os dados reco-

essa amostra deve ser uma a m o s t r a representativa analisadas do que o material produzido pela maioria
da população e m geral. A amostragem é mais com- dos outros métodos de investigação; pode ser estuda-
plicada do que pode parecer e os técnicos de estatís- do u m número elevado de pessoas; e, caso os apoios
tica desenvolveram várias regras para calcular a financeiros sejam suficientes, os investigadores
dimensão e a natureza correctas das amostras. podem contratar uma agência especializada e m son-
Um procedimento importante para garantir a dagens para reunir o material de que necessitam.
representatividade da amostra é a a m o s t r a g e m alea- O método científico é o modelo para este tipo de
t ó r i a , em que se escolhe u m a amostra de forma a que investigação, pois os inquéritos dão uma medida
todos os membros da população tenham a mesma estatística aos investigadores do que estão a estudar.
probabilidade de serem incluídos. A forma mais N ã o obstante, muitos sociólogos mostram-se críti-
sofisticada de se obter uma amostragem aleatória é cos e m relação ao excesso de confiança depositada
atribuir u m número a cada membro da população e no método dos inquéritos. Argumentam que tal quan-
usar u m computador que escolha números ao acaso, tificação dá uma aparência de precisão a dados cuja
dos quais derivará a amostra - escolhendo, por exem- exactidão pode ser duvidosa, dada a natureza relati-
plo, um em cada dez de uma série aleatória. vamente superficial da maioria das respostas aos
inquéritos. Os níveis de "não resposta" são, por
Vantagens e desvantagens dos inquéritos vezes, elevados, especialmente quando os questioná-
rios são enviados e devolvidos pelo correio. N ã o é
Os inquéritos são muito usados na investigação
invulgar os estudos publicados serem baseados e m
sociológica, por muitas razões. As respostas a ques-
resultados derivados de pouco mais de metade dos
tionários podem ser mais facilmente quantificadas e
M É T O D O S 06 I N V E S T I G A Ç Ã O 652

apresentados na amostra - embora normalmente se exibiram uma atitude que era um misto de apatia e de
faça um esforço para voltar a contactar os que não rebelião, que se pode identificar muitas vezes e m
responderam ou para os substituir por outros. Pouco situações reais entre prisioneiros. Estes efeitos foram
se sabe acerca dos que preferem não responder ou se tão marcados e o nível de tensão tão elevado que a
recusam a ser entrevistados. experiência teve de ser cancelada. Apesar disso, os
resultados foram importantes. Zimbardo concluiu que
o comportamento nas prisões é mais influenciado pela
Experiências natureza da própria situação de se estar preso do que
U m a e x p e r i ê n c i a pode ser definida como uma tenta- pelas características individuais dos envolvidos.
tiva de testar uma hipótese e m condições altamente
controladas estabelecidas pelo investigador. As expe-
riências são muito usadas nas ciências naturais, pois
Histórias de vida
oferecem grandes vantagens e m relação a outros pro- A o contrário das experiências, as h i s t ó r i a s de vida
cessos de investigação. N u m a situação experimental pertencem apenas ao campo da Sociologia e das
o investigador controla directamente as circunstân- outras ciências sociais; não têm lugar entre as ciên-
cias a estudar. E m comparação com as ciências natu- cias naturais. As histórias de vida consistem na reco-
rais, o campo para esta técnica de investigação e m lha de material biográfico sobre determinados indiví-
sociologia é muito mais limitado. Só se podem levar duos, o qual é normalmente narrado pelos próprios.
pequenos grupos de pessoas para um laboratório e Nenhum outro método de investigação fornece tantos
nessa situação as pessoas sabem que estão a ser estu- pormenores sobre o desenvolvimento das crenças e
dadas e podem comportar-se de modo diferente do atitudes das pessoas ao longo do tempo. N o entanto,
normal. Estas mudanças comportamentais são conhe- os estudos baseados nas histórias de vida raramente
cidas por efeito de Hawthorne. dependem apenas das recordações das pessoas. Nor-
Nos anos 3 0 , os investigadores que conduziam u m malmente recorre-se a fontes documentais - cartas,
estudo sobre a produtividade no trabalho na Western relatórios contemporâneos ou descrições jornalísticas
Electric CompanjTs Hawthorne Plant, próximo de - para ampliar e verificar a validade da informação
Chicago, ficaram surpreendidos com o facto de a pro- fornecida. As opiniões dos sociólogos acerca do valor
dutividade dos trabalhadores continuar a aumentar das histórias de vida divergem: alguns acham que o
independentemente das condições experimentais a método é demasiado inseguro para fornecer uma
que eram submetidos (intensidade de luz, padrões de informação útil, enquanto outros acreditam que as
intervalos, dimensão da equipa de trabalho, etc.). Os histórias de vida fornecem fontes de conhecimento
trabalhadores estavam conscientes de que estavam a que muito poucos outros métodos de investigação
ser observados e aceleraram o seu ritmo normal de sociológica podem igualar.
trabalho.
As histórias de vida têm sido utilizadas com suces-
Apesar disso, os métodos experimentais podem, de so e m importantes estudos. U m estudo célebre que
vez e m quando, ser aplicados utilmente e m sociolo- utilizou muito este material foi The Polish Peasant in
gia. U m exemplo é uma experiência engenhosa leva- Europe and America, de W . I . Thomas e Florian Zna-
da a cabo por Philip Zimbardo, que montou uma pri- niecki, cujos cinco volumes foram originalmente
são simulada, atribuindo a estudantes voluntários o publicados entre 1918 e 1920 (Thomas e Znaniecki,
papel de guardas prisionais e de prisioneiros (Zimbar- 1966). Thomas e Znaniecki conseguiram uma visão
do, 1972). O seu objectivo era ver até que ponto o mais sensível e subtil da experiência da imigração do
desempenho destes papéis diferentes conduzia a que teria sido possível sem as entrevistas, cartas e
mudanças de atitude e de comportamento. Os resulta- artigos de jornais que recolheram.
dos chocaram os investigadores. Aqueles que faziam
de guardas assumiram uma atitude autoritária,
demonstrando hostilidade e m relação aos "presos". Análise histórica
Começaram a dar-lhes ordens, a agredi-los verbal-
U m a perspectiva histórica é, muitas vezes, útil na aná-
mente e a maltratá-los. Os prisioneiros, pelo contrário.
lise sociológica, pois necessitamos frequentemente de
M É T O D O S 06 I N V E S T I G A Ç Ã O $53

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Materiais originais, como diários e cartas» podem dar uma perspectiva preciosa sobre as realidades de outros tempos e
lugares.

ter uma perspectiva temporal* para que o material que aumentar de importância como fontes sociológicas e
recolhemos acerca de u m problema particular faça históricas. D e outro modo, para a investigação histó-
sentido. Os sociólogos querem investigar muitas rica e m períodos mais antigos, os historiadores depen-
vezes acontecimentos passados de modo directo. dem de documentos e de registos escritos, muitas
Alguns períodos da história podem ser estudados vezes contidos e m colecções especiais de bibliotecas
directamente, quando ainda existem sobreviventes - ou nos arquivos nacionais.
como é o caso do Holocausto, quando tantos judeus e U m exemplo interessante de pesquisa documen*
outros morreram e m campos de concentração às mãos t a l n u m contexto histórico é o estudo efectuado pelo
dos nazis durante a Segunda Guerra Mundial. A inves- sociólogo Anthony Ashworth sobre a guerra das trin-
tigação e m h i s t ó r i a o r a l implica entrevistar pessoas cheiras durante a Primeira Guerra Mundial (Ashworth,
sobre acontecimentos de que foram testemunhas e m 1980). Ashworth estava interessado e m analisar o que
dada altura das suas vidas. Este trabalho de pesquisa, era a vida para homens que tinham de estar sob fogo
obviamente, apenas se pode estender a u m período de constante, forçados a estarem juntos durante semanas
há sessenta ou setenta anos atrás, mas os antigos e semanas. Serviu-se de fontes documentais muito
registos que foram conservados estão também a diversificadas: histórias oficiais da guerra, incluindo
M É T O D O S 06 I N V E S T I G A Ç Ã O 654

histórias escritas acerca de diferentes divisões e bata- dos. Antes da Revolução Russa, por exemplo, vários
lhões militares, publicações oficiais daquele período, grupos políticos tinham tentado derrubar o regime
as notas e os registos mantidos informalmente por existente, mas nenhum deles - incluindo os Bolche-
soldados e narrativas pessoais das experiências de viques, que acabaram por chegar ao poder - previra a
guerra. Por reunir tal variedade de materiais, revolução que viria a ocorrer. U m a série de confron-
Ashworth conseguiu desenvolver uma descrição rica tos deu lugar a u m processo de transformações
e detalhada do que era a vida nas trincheiras. Desco- sociais muito mais radicais do que alguém tinha pre-
briu que a maioria dos soldados formavam as suas visto.
próprias ideias sobre quantas vezes pretendiam entrar
e m combate c o m o inimigo e que muitas vezes igno- Estudar a mudança social: o caso da globalização
ravam as ordens dos seus oficiais. Por exemplo, no Quando estudamos processos e m larga escala de
dia de Natal, os soldados alemães e os aliados sus- mudança social, normalmente toma-se necessário
penderam as hostilidades, e n u m certo local as duas proceder a uma combinação entre uma perspectiva
partes montaram u m jogo informal de futebol. comparativa e uma histórica. Tomemos como exem-
plo o estudo da globalização, um dos temas mais
importantes que f o i enfatizado neste livro. As mudan-
A conjugação entre a investigação ças compreendidas na globalização cobrem um vasto
comparativa e a histórica período de tempo e afectam muitos milhões de pes-
soas. Poderíamos estudar certos aspectos da globali-
zação usando as técnicas de investigação antes men-
A investigação de Ashworth concentrou-se num
cionadas. A observação participante, os inquéritos e
período relativamente curto de tempo. C o m o exem-
as histórias de vida poderiam, cada u m por si, ajudar-
plo de uma investigação que se alargou muito mais
mos a explorar o que a experiência crescente da glo-
no âmbito temporal focado e que também aplicou a
balização significa para pessoas particulares e m con-
análise c o m p a r a t i v a n u m contexto histórico, pode*
textos sociais específicos. Poderíamos estar interes-
mos tomar o trabalho de Theda Skocpol, Estados e
sados, por exemplo, e m compreender como as pes-
Revoluções Sociais ( 1 9 7 9 ) , u m dos estudos mais
soas se adaptam a u m mercado global no qual as
conhecidos sobre a mudança social. Skocpol propôs-
mudanças de emprego são mais comuns do que no
-se uma tarefa ambiciosa: produzir uma teoria das
passado. Necessitaríamos, contudo, de uma aborda*
origens e natureza das revoluções apoiada num estu-
gem muito mais vasta, para desenhar o processo de
do empírico detalhado. Debruçou-se sobre os proces-
globalização como u m todo. C o m o todos os grandes
sos de revolução e m três contextos históricos dife-
processos de mudança, a globalização foi impelida
rentes: a Revolução Francesa de 1789, a Revolução
por uma mistura de consequências intencionais e não
Russa de 1917 (que conduziu os comunistas ao poder
intencionais. Assim, como é explicado no capítulo 15
e estabeleceu a U n i ã o Soviética, dissolvida e m 1989)
("Mass M e d i a e Comunicação"), a Internet começou
e a Revolução Chinesa de 1949 (que criou a China
como u m projecto organizado pelo Departamento de
comunista).
Defesa dos E U A , no qual se tencionava facilitar a
Os sociólogos que combinam a investigação com- comunicação entre os vários segmentos que o acom-
parativa e a histórica adoptam a chamada análise panham. O impacto subsequente da Internet, contu-
secundária. R e v ê e m um leque variado de fontes do, f o i muito maior do que alguém poderia ter pensa-
documentais, como registos oficiais e relatos históri- do ou desejado inicialmente.
cos, de modo a identificarem semelhanças e diferen-
ças entre os casos e m questão. Através da análise de
fontes documentais muito diversas, Sockpol foi
capaz de desenvolver uma explicação poderosa da Investigação no m u n d o real: m é t o d o s ,
mudança revolucionária, que salientava a importân- problemas, e s c o l h a s
cia das condições sociais estruturais subjacentes.
Demonstrou que as revoluções sociais são, e m gran- Q u e m j á tenha desenvolvido investigação socioló-
de medida, consequências de resultados não espera-
gica pode dar-se conta do facto de que a investigação
M É T O D O S DE I N V E S T I G A Ç Ã O 655

Quadro 20.2 Quatro dos principais métodos usados na investigação sociológica

Método de investigação Vantagens Limitações

Etnografia Normalmente gera informação mais rica Só pode ser usado para estudar grupos ou
e aprofundada do Que os outros métodos comunidades relativamente pequenos.
A etnografia pode dar um conhecimento As conclusões poderão aplicar-se apenas
mais vasto dos processos sociais. aos grupos e comunidades estudados; não
é fácil generalizar com base num único tra-
balho de campo.

Inquéritos Possibilitam uma recolha eficaz de infor» O material coligido pode ser superficial;
mação sobre um grande número de indi- quando um inquérito é muito padronizado»
víduos. podem escapar diferenças entre os pontos
de vista dos entrevistados.
Permitem uma comparação precisa entre
as respostas dos indivíduos. As respostas podem ser o que as pessoas
dizem acreditar e não o que realmente pen-
sam.

Experiências A influência de variáveis específicas Muitos aspectos da vida social não podem
pode ser controlada pelo investigador. ser reproduzidos em laboratório.
As experiências são normalmente mais As reacções das pessoas estudadas podem
fáceis de repetir em investigações poste- ser afectadas pela situação experimental.
riores.

Pesquisa documental Pode fornecer fontes materiais aprofun- O investigador depende das fontes existen-
dadas bem como uma informação sobre tes, que podem ser parciais.
grandes conjuntos - de acordo com o
tipo de documentos estudados. Pode ser difícil interpretar as fontes em ter-
É muitas vezes essencial quando um mos de saber até que ponto representam
estudo é inteiramente histórico ou tem tendências reais - como no caso de certos
uma dimensão histórica definida. tipos de estatísticas oficiais.

no "mundo real" parece bastante diferente dos méto- Podemos observar os desafios envolvidos no iní-
dos de investigação tal como são explicados n u m cio e na execução de uma investigação sociológica
livro! A o envolver-se num estudo, o investigador real ao olhar mais uma vez para o estudo de Mitchell
pode pensar que as ferramentas escolhidas original- Duneier sobre a sociologia da vida urbana, a sua
mente venham a ser de valor limitado para o tema e m investigação sobre os vendedores de rua e os mendi-
consideração. E m outros momentos, podem existir gos na cidade de N o v a Iorque ( 1 9 9 9 ) .
dificuldades que não foram previstas, relativas, por
exemplo, ao acesso a certa população ou à construção
de u m inquérito por questionário exequível. A inves-
Investigar a raça e a pobreza
tigação sociológica exige uma certa flexibilidade;
nos espaços urbanos
não é incomum combinar vários métodos numa única Nos anos 5 0 , Greenwich Village foi o tema de u m
peça de investigação, utilizando cada u m deles para estudo clássico e m sociologia da autoria de Jane
complementar e testar os outros n u m processo conhe- Jacobs (1961) sobre a natureza da vida urbana. O bair-
cido como triangulação. ro proporcionou-lhe u m laboratório natural para com-
M É T O D O S DE I N V E S T I G A Ç Ã O 656

preender o papel importante desempenhado pelas denominado "validação do respondente" - e ficou


interacções quotidianas no passeio na manutenção da perturbado por u m dos seus comentários. H a k i m era
vida da comunidade e e m tornar possível a estranhos da opinião que o manuscrito se concentrava demasia-
viverem próximos uns dos outros. do nele e na sua mesa. Sentiu que o enfoque da inves-
Quatro décadas mais tarde, Mitchell Duneier esta- tigação de Duneier era demasiado estreito para cap-
va curioso para saber como tinha mudado a natureza turar outras dinâmicas importantes que ocorriam no
da vida de passeio de Greenwich Vil!age desde o passeio - que o seu caso não era adequado para abor-
estudo de Jacobs. O bairro tinha mantido o seu carác- dar a complexidade da vida social nas ruas.
ter boémio, mas havia chegado u m a nova população. Duneier aceitou a validade dos comentários de
U m grupo de homens pobres, negros, predominante- H a k i m e propôs u m novo modo de desenvolver o
mente sem abrigo tinha começado a viver nas ruas do projecto. Convidou H a k i m para leccionar com ele u m
bairro. Alguns trabalhavam como vendedores de rua, seminário da Universidade da Califórnia de forma a
vendendo livros e revistas nos passeios; outros ven- tratar detalhadamente as questões abordadas no
diam objectos que tinham encontrado no refugo dos manuscrito, enquanto envolvia simultaneamente um
vizinhos. Outros e r a m mendigos, pedindo esmola aos grupo de estudantes na discussão. O enfoque da
transeuntes. investigação de Duneier evoluiu na medida que ele e
H a k i m ensinavam " A vida da rua e a vida da mente
C o m o é que u m sociólogo estuda o teor da vida na
na América negra". Acabou por se aperceber de que
rua? Duneier abordou e m primeiro lugar a investiga-
ao ampliar a sua aproximação à vida da rua poderia
ção através de u m contacto pessoal com u m dos ven-
superar algumas das limitações da investigação origi-
dedores de livros, H a k i m Hasan. Duneier era u m
nal. As perguntas dos estudantes deram importantes
cliente habitual de H a k i m e reparou como as pessoas
orientações a este respeito: Onde é que H a k i m conse-
se juntavam frequentemente à sua mesa para discuti-
guia os seus livros? C o m o é que os residentes bran-
rem livros, política e filosofia. H a k i m era u m exem-
cos deste bairro interagiam com estes homens? Por
plo de uma "figura pública" - uma importante figura
abrir o seu trabalho inicial ao escrutínio, Duneier foi
da vida da rua que está e m contacto regular com u m
capaz de formular uma nova aproximação à sua
vasto espectro de pessoas. Duneier acreditava que o
investigação.
papel de H a k i m na rua e a sua história de vida, de
certa forma pouco habitual (tinha deixado o mundo
empresarial para vender livros na rua), podia oferecer "Entrar" como um observador participante
uma janela importante sobre a vida nas ruas de
Quando Duneier regressou às ruas de Greenwich Vil-
Greenwich Village.
lage, não o fez simplesmente como u m observador,
Apesar de H a k i m hesitar e m se tomar objecto de mas como u m participante activo na sua vida diária.
investigação, acabou por concordar com Duneier e C o m a ajuda de H a k i m , chegou a u m acordo com
permitiu-lhe escrever sobre a sua vida e o seu traba- M a r v i n , u m vendedor de revistas do quarteirão adja-
lho. Duneier efectuou trabalho de campo etnográfico: cente, para trabalhar u m Verão para ele na sua mesa
observou H a k i m à sua mesa de venda, ouviu as inte- de venda. M a r v i n "patrocionou" a presença de
racções com clientes e as destes entre si, e testemu- Duneier no quarteirão, apresentando-o aos outros
nhou como a presença de livros podia inspirar o diá- homens que ganhavam as suas vidas na rua e deu cre-
logo e o debate sobre as ruas. Depois de dois anos de dibilidade à investigação. Contudo, mesmo com o
observação, Duneier descreveu a sua investigação apoio de M a r v i n e H a k i m , Duneier enfrentou u m
n u m manuscrito acerca da vida quotidiana e as acti- certo número de desafios como observador partici-
vidades de u m vendedor de rua e acerca das pessoas pante. O processo de "entrar" na vida das ruas levou
que o visitavam para discutir livros. tempo e paciência. C o m o homem branco, formado,
de classe média alta, Duneier ocupava uma posição
Repensar o enfoque da investigação social muito diferente da dos homens pobres negros,
estigmatizados, que eram o foco do seu estudo.
O manuscrito foi aceite para publicação, mas Duneier
Duneier reconheceu que seria inútil tentar "adequar-
sentiu-se pouco à vontade. Tinha solicitado a opinião
-se - mesmo se tentasse alterar a sua roupa e a sua
de H a k i m sobre o manuscrito - processo por vezes
M É T O D O S DE I N V E S T I G A Ç Ã O 657

forma de falar, continuaria de fora. A o invés, concen- da sua investigação e da sua identidade como soció-
trou-se e m construir lentamente relações de respeito logo, mas também precisava de ter cuidado quanto a
mútuo com os homens da rua. Passou mais tempo a problemas éticos envolvidos na publicação das duas
ouvir do que a falar e apoiou-se e m conversas infor- descobertas. Os que são objecto de u m estudo etno-
mais com os homens e m vez de efectuar entrevistas gráfico podem achar os resultados publicados ofensi-
"formais". Duneier obteve o consentimento dos vos, tanto porque são retratados sob uma forma que
homens do bloco para manter u m gravador a funcio- acham pouco atraente, como porque as atitudes e
nar continuamente sob a mesa da loja onde trabalha- comportamentos que preferiam manter e m privado
va; os homens familiarizaram-se com o gravador e são tornados públicos. Isto era potencialmente pro-
muitas vezes ofereceram-se como voluntários para o blemático na investigação de Duneier; o manuscrito
manejar quando ele estava longe da mesa ou fora da descrevia e m detalhe comportamentos como urinar
cidade. e m público, o assédio às mulheres que passavam na
A presença de Duneier foi gradualmente aceite e rua, a dependência da droga e do álcool e as tensões
nos dois anos seguintes tomou-se uma figura regular com a polícia local. Os indivíduos do estudo de
na rua. Apesar de ter conseguido ser "aceite", Duneier eram vulneráveis e com pouco poder; seria
Duneier compreendeu que tolerar u m observador difícil para eles "responder" ao livro e aos seus con-
participante e confiar nele não eram necessariamente teúdos depois da sua publicação.
a mesma coisa. Sabia que alguns homens do quartei- A o publicar as suas descobertas e m Side Walk
rão tinham suspeitas sobre os motivos subjacentes à ( 1 9 9 9 ) , Duneier quebrou com a prática de alguns
investigação e pensavam que estava a tentar ganhar sociólogos de disfarçar os nomes das pessoas e dos
dinheiro com um livro acerca das suas vidas. Outros lugares mencionados no trabalho. Acreditava que ao
achavam que ele tinha boas intenções, mas era ingé- revelar as verdadeiras identidades dos seus sujeitos,
nuo e por isso u m "alvo" legítimo a explorar. N o iní- elevaria a credibilidade do seu estudo. A l é m disso,
cio do seu trabalho na rua, Duneier era muitas vezes segundo Duneier, os homens da rua não estavam
interpelado pelos mendigos que lhe pediam pequenas preocupados com o facto de as suas identidades
quantias de dinheiro, pois viam nele u m "outsider serem reveladas; alguns deles até gostavam da ideia
rico". Era difícil dizer "não" a estes pedidos, apesar de as suas palavras e fotografias aparecerem num
de ser ele próprio a financiar a sua investigação e não livro. Contudo, ao decidir abandonar o anonimato,
ter dinheiro para desperdiçar. Duneier sentiu-se apa- Duneier f o i cuidadoso, pois assegurou-se de que
nhado num nó - como podia comunicar o seu propó- todas as pessoas que apareciam no livro estavam a
sito de investigador e o seu profundo respeito para par da forma como eram descritas. Levou uma cópia
com as suas lutas diárias sem a distribuição de uns do manuscrito final a u m hotel próximo da rua e con-
poucos trocos e dólares? Foi com grande dificuldade vidou cada uma das pessoas que apareciam no livro a
que aprendeu a dizer "não" aos pedidos regulares de rever todos os pontos e m que eram mencionadas. E m
dinheiro, mas ajudaria de boa vontade de outras for- muitos casos esta tarefa revelou-se difícil. Muitos dos
mas, como nas negociações com os senhorios ou par- homens estavam mais interessados no modo como
tilhando o seu conhecimento do direito. Duneier des- apareciam nas fotografias do que com o argumento
cobriu que um dos grandes desafios com que se depa- que era apresentado no livro. Duneier descobriu que
rava como etnógrafo a trabalhar numa comunidade as suas tentativas para mostrar respeito pelas pessoas
com poucos recursos, era decidir quando seria apro- mostrando-lhes o texto, muitas vezes não funciona-
priado intervir nas vidas das pessoas que eram o cen- v a m e que o deixaram com a sensação de estar a
tro da sua investigação. impor a sua agenda a uma audiência relutante. Ape-
sar de este processo se ter revelado uma luta constan-
Publicar a etnografia: anonimato, consentimento te, Duneier acreditava que ele era necessário para que
e relações de poder o livro mantivesse a sua integridade perante os
homens da rua.
Todas as investigações que se referem a seres huma-
nos podem colocar dilemas éticos. Duneier tinha sido A o longo da investigação, Duneier tinha sido
honesto com os homens nas mas acerca do propósito muito sensível às diferenças de raça, classe e status
T 1

658 M É T O D O S DÊ INVESTIGAÇÃO

Termos estatísticos
A investigação sociológica utiliza frequentemente 11 200.000 13 10.000.000
técnicas estatísticas na análise dos dados. Algumas 12 400.00
destas técnicas são altamente sofisticadas e com-
plexas, mas as usadas mais vulgarmente são fáceis U m a média aritmética corresponde à média, tal
de perceber. As mais usadas são as medidas de como é normalmente entendida, que resulta da
tendência central (modos de calcular médias) e os soma das riquezas pessoais das treze pessoas,
coeficientes de correlação (medidas do grau em dividindo o resultado pelo número total de pessoas,
que uma variável se relaciona de forma consistente isto é, 13. O total é 11.085 000. Dividindo este nú-
com outra). mero por 13, calculamos uma média de 852.692.31.
Existem três métodos para calcular médias, todos A média é quase sempre um cálculo útil porque se
eles com algumas vantagens e deficiências. Torne- baseia na totalidade dos dados fornecidos. Contu-
se, como exemplo de trabalho, o cálculo da riqueza do, pode induzir em erro, quando uma ou mais par-
pessoal (incluindo todos os bens, como casas, car- celas (orem muito diferentes da maioria. No exem-
ros, contas bancárias e investimentos) de treze indi- plo acima, de facto, a média aritmética não é uma
víduos. Suponha que os 13 possuem as seguintes medida muito apropriada da tendência central, por-
importâncias: q u e a presença de um valor muito elevado,
10.000.000, não se enquadra nos restantes. Pode-
-se ficar com a impressão d e que a maioria das
1 (zero) 6 40.000
pessoas possur bastante mais bens d o que na rea-
2 5. • i i 7 40.000
lidade acontece.
3 10 000 8 80.000
4 20.000 9 100.000 Em tais circunstâncias, é possível utilizar outras
5 40.000 10 150.000 medidas. A moda é o valor mais frequente num

entre ele e os homens da rua. Contudo, mesmo no investigadores brancos para se aproveitarem das
manuscrito final, achou difícil ignorar as relações de palavras e imagens dos negros pobres para os seus
poder entre ele próprio - o autor - e os homens que próprios propósitos. Para Duneier era importante que
surgiam como objecto do estudo. Acreditando ser a sua investigação não perpetuasse estas formas de
importante que os homens no livro deveriam ter algu- exploração académica; fez disposições legais para
ma oportunidade para responder à investigação que partilhar os direitos do livro com os homens que eram
tinha conduzido, Duneier convidou H a k i m para citados nele. Duneier reconheceu que as acções do
escrever o posfácio a Sidewalk. Apesar de H a k i m não investigador social não se podem separar do contex-
poder certamente falar por todos os homens do quar- to histórico e cultural mais vasto de que fazem parte.
teirão, tinha estado envolvido no projecto desde o seu Procurava que o seu papel como sociólogo contri-
início e podia oferecer uma perspectiva diferente da buísse para superar - em vez de agravar - o fosso
do investigador. entre os favorecidos e os desfavorecidos na atmosfe-
ra urbana em que trabalhava.
Duneier estava ao corrente da longa tradição dos
M É T O D O S DE I N V E S T I G A Ç Ã O 659

determinado conjunto de dados. No exemplo aqui frequentemente, o investigador calculará o desvio


dado é 40.000. O problema com a moda é que -ela padrão para os dados e m questão. Esta é uma
não leva e m conta a distribuição total dos dados, isto forma d e calcular o grau d e dispersão ou a ampli-
é, a quantidade dos valores considerados. O caso tude d e um conjunto de números que, neste caso,
mais frequente num conjunto determinado de núme- vai d e zero a 10.000.000.
ros não é necessariamente representativo da sua Os coeficientes d e correlação oferecem uma
distribuição como um todo e, por isso, pode não ser maneira útil d e exprimir o grau de relação entre duas
uma medida muito útil. Neste caso, 4 0 . 0 0 0 não d á (ou mais) variáveis. Quando duas variáveis se corre-
uma ideia muito exacta d a tendência central, porque lacionam completamente, podemos falar de uma
é um valor muito próximo dos números mais baixos correlação positiva perfeita - expressa pelo coefi-
d a lista. ciente de 1.0. Quando não h á qualquer relação entre
A terceira medida é a mediana, o número do duas variáveis (elas simplesmente não têm qualquer
meio de qualquer conjunto de números. N o exem- conexão consistente), o coeficiente é zero. U m a cor-
plo a q u i dado, ela seria representada pelo sétimo relação negativa perfeita é expressa como -1.0, e
número, 4 0 . 0 0 0 . No nosso exemplo foi dado um existe quando duas variáveis se encontram numa
conjunto impar d e números. S e esse conjunto fosse relação completamente inversa. Nas Ciências
par - por exemplo, 1 2 e m vez d e 13 - a mediana Sociais nunca se encontram correlações perfeitas.
seria calculada fa2endo a média dos dois casos do As correlações na ordem d e 0.6 ou mais, quer posi-
meto, números 6 e 7. Tal como a moda, a mediana tivas quer negativas, são normalmente vistas como
não d á ideia d a distribuição real d a informação indicativas d e um forte grau d e conexão entre a s
medida. variáveis analisadas. Correlações positivas deste
nível podem ser encontradas, por exemplo, entre a
Por vezes, o investigador terá d e usar mais do
proveniência e m termos de classe social e o com-
que uma medida de tendência central, d e modo a
portamento eleitoral.
não fornecer um quadro de médias enganador. Mais

Conclusão: A influência da sociologia destas mudanças e m virtude da difusão das pesquisas


da Sociologia. O nosso pensamento e comportamen-
A investigação sociológica interessa frequentemente to são afectados pelo conhecimento sociológico de
a uma audiência mais alargada do que à comunidade forma complexa, e por vezes subtil, redefinindo
intelectual dos sociólogos e os seus resultados são assim o próprio campo da investigação sociológica.
muitas vezes disseminados de modo mais amplo. N ã o nos deveríamos surpreender com o facto de as
A Sociologia não é só, devemos salientar, o estudo descobertas sociológicas se correlacionarem estreita-
das sociedades modernas; é u m elemento significati- mente com frequência com o senso comum. A razão
vo na vida contínua dessas sociedades. Tomemos não reside simplesmente no facto da Sociologia apre-
como exemplo as transformações que têm lugar neste sentar descobertas j á conhecidas, mas sim no facto de
momento e que afectam o casamento, a sexualidade e a investigação sociológica influenciar continuamente
a família. São poucas as pessoas que v i v e m nas o nosso entendimento de senso comum do que é a
sociedades modernas e que não têm conhecimento sociedade.
M É T O D O S DE I N V E S T I G A Ç Ã O 660

Ler um quadro
Ao ter literatura sociológica iremos deparar frequen- vezes, a fonte fornece indicações sobre a fiabili-
temente com quadros. Por vezes estes podem pare- dade das informações apresentadas, bem como
cer complexos, mas são fáceis de decifrar se se sobre a sua origem. No quadro que serve de
seguirem algumas etapas básicas abaixo menciona- exemplo, a nota relativa è fonte esclarece que a
das e, com a prática, a sua leitura tornar-se-á auto- informação foi recolhida e m várias fontes.
mática. N ã o caia na tentação d e ignorar os quadros; 3 Leia a s legendas no cimo e n a parte esquerda
eles contém informação concentrada que pode ser d o quadro. (Certos quadros são apresentados
lida mais rapidamente do que s e essa informação com "legendas" n a parte inferior e não no cimo),
fosse expressa por palavras. Ao adquirir prática n a indicam o tipo d e informação que cada linha e
interpretação d e quadros, conseguirá também verifi- cada coluna contêm. Ao ler o quadro, deve ter-
car se a s conclusões escritas tiradas do material e m - s e e m mente cada conjunto d e legendas à
questão realmente se justificam. medida que se analisam os números. No nosso
exemplo, a s legendas à esquerda indicam os
1 Leia o título por completo. O s quadros têm fre- pafses t enquanto as do topo referem os anos e
quentemente títutos longos, que representam os níveis d e propriedade d e automóveis.
uma tentativa, por parte do investigador, para 4 Identifique as unidades usadas; o s números no
enunciar com exactidão a natureza d a informa- corpo do quadro podem representar casos, per-
ção apresentada. O título d o quadro aqui mos- centagens, médias ou outras medidas. Por
trado contém, e m primeiro lugar, o assunto a que vezes, pode ser útil converter esses valores. S e
se refere o estudo, a seguir indica que o quadro não são fornecidas percentagens, por exemplo,
fornece material d e comparação e, por fim, infor- pode valer a pena calculá-las. No exemplo apre-
ma que esse material apenas diz respeito a um sentado não existem percentagens, mas poderia
número limitado d e países. valer a pena calculá-las.
2 Verifique se h á comentários ou notas acerca dos 5 Pondere a s conclusões que podem ser retiradas
dados. Uma nota d e rodapé relacionada com o das informações. Muitos quadros são comenta-
título das colunas salienta que a s informações dos pelo autor que os apresenta e os seus
só dizem respeito a carros registados. Isto é comentários deverão certamente ser tidos e m
importante porque, e m certos países, o número conta. Também se deve interrogar sobre outros
d e veículos devidamente registados pode ser assuntos ou questões sugeridos pela informa-
menor do que noutros. As notas podem dizer ção contida no quadro.
como é que o material foi coligido ou porque se
apresenta d e uma certa maneira. S e a informa- Neste quadro podem ser observadas várias ten-
ção d e u m quadro não foi coligida por u m inves- dências interessantes. Em primeiro lugar, o número
tigador, mas baseada e m dados já disponibiliza- de pessoas que possui u m carro varia consideravel-
dos e m outros lugares, será indicada a fonte. Por mente entre os diferentes países: o número d e auto-
M É T O D O S DE I N V E S T I G A Ç Ã O 661

Proprietários de carros: Comparação internacional entre vários países seleccionados

Número de automóveis por 1.000 adultos na população

1971 1981 1984 1989 1993 e posti


Brasil 12 78 84 98
Chile 19 45 56 67 —

Irlanda 141 202 226 228 —

França 261 348 360 475 420


Grécia 30 94 116 150 —

Itália 210 322 359 424 500


Japão 100 209 207 286 300
Suécia 291 348 445 445 410
Reino Unido 224 317 343 366 360
EUA 448 536 540 607 570
Alemanha Ocidental 247 385 312 479 470b

• Inclui todos os automóveis registados


* A Alemanha unida ém 1993
Fonte* International Road Federatíon, United Nations Amuai Bvtmn of Transporl âfefejfc* citado em Soda/ ttends (Londres:HMSO,
1987), p. 68; Statietfcal Office ol the European Communily, Basic Stafistrcs of the Community (Luxemburgo: European Union, 1991); dados
d e 1993 e posteriores de The Sconomist, Pocket Wortd in Figures, 1996.

móveis por mil pessoas é quase dez vezes maior E m quarto, estes dados deveriam ser olhados
nos Estados Unidos do que no Chile. sob uma perspectiva política mais lata. Por exemplo,
E m segundo lugar, existe u m a relação clara alguns decréscimos n a propriedade automóvel e m
entre o número d e pessoas que possuem automó- 1903 na Alemanha reflectirão o processo d e unrfi-
veis e o nível de riqueza do país, De facto, quase cação d a Alemanha Ocidental e d e Leste,
poderíamos utilizar os rácios de propriedade auto- E m quinto lugar, a s fontes dos dados deverão ser
móvel como um indicador, ainda que impreciso, d a tomadas e m consideração. Por exemplo, a baixa
diferença e m termos d e prosperidade. dos valores no Reino Unido, R a n ç a , Suécia e Esta-
E m terceiro lugar, e m quase todos os países dos Unidos e m 1993, e m comparação com 1989,
representados, o nível d e propriedade automóvel pode ser parcialmente explicada pela diferença nas
aumentou entre 1971 e 1993 mas, e m alguns, esse fontes. O trabalho com dados requer atenção e,
aumento é maior d o que noutros - provavelmente idealmente, deveria ser comprovado através do cru-
indicando diferenças nos níveis d e crescimento ou zamento d e estatísticas.
M É T O D O S DE I N V E S T I G A Ç Ã O 662

Os sociólogos investigam a vida social colocando várias questões e tentando


encontrar respostas para elas através da investigação sistemática. Estas perguntas
podem ser factuais, comparativas, de desenvolvimento ou teóricas.
:.•••••• i
Segundo os seus fundadores, a sociologia é uma ciência no sentido e m que envol-
ve métodos sistemáticos de investigação e avaliação de teorias à luz da evidência
e da argumentação lógica. M a s não pode ser moldada directamente a partir das
ciências naturais, porque estudar o comportamento humano é diferente de estudar
o mundo da natureza.
Todas as investigações partem de u m problema de investigação que preocupa ou
desconcerta o investigador. Estes problemas podem ser sugeridos por falhas na
literatura existente, por debates teóricos ou por questões práticas do mundo social.
N o desenvolvimento da estratégia de investigação pode distinguir-se u m número
definido de etapas - apesar de raramente estas serem seguidas de modo preciso
na investigação.
Existe uma relação causal entre dois acontecimentos ou situações quando u m
acontecimento ou situação leva a outro. Isto é mais problemático do que parece à
primeira vista. A causalidade tem de ser distinguida da correlação, que se refere à
existência de uma relação regular entre duas variáveis. U m a variável é uma medi-
da, como a idade, o rendimento, as taxas de criminalidade, etc., que permite fazer
comparações. Também precisamos de distinguir variáveis independentes das
dependentes que são afectadas por elas. Os sociólogos utilizam muitas vezes
variáveis de controlo para manter outros factores constantes e isolar relações de
causalidade.
A investigação sociológica séria envolve o uso de uma abordagem de confiança
para analisar um fenómeno social e m particular. Os métodos de investigação
sociológica dizem respeito ao modo como a investigação é desenvolvida. N o tra-
balho de campo, ou observação participante, o investigador passa longos períodos
com o grupo ou comunidade que está a ser estudado. U m segundo método, os
inquéritos, envolve o envio ou administração de questionários a uma amostra da
população. Outros métodos incluem experiências, histórias de vida, diários e pes-
quisa documental.
Todos os métodos de investigação têm as suas limitações. Por esta razão, os inves-
tigadores devem combinar dois ou mais métodos no seu trabalho, sendo cada u m
deles usado para verificar e complementar o material obtido dos outros. Os
melhores exemplos de investigação sociológica combinam perspectivas históricas
e comparativas.
A investigação sociológica coloca frequentemente problemas éticos ao investiga-
dor. Estes podem surgir tanto quando os alvos da investigação são enganados pelo
investigador, como quando a publicação dos resultados do estudo pode afectar os
sentimentos ou vidas dos investigados. N ã o existem maneiras completamente
satisfatórias de lidar com estes assuntos, mas todos os investigadores têm de ser
sensíveis aos dilemas que eles colocam.

Se a maioria dos projectos de investigação parte de problemas de investigação,


quem decide quais são os problemas?
R E F ' LBXÃO : - Porque é que é tão importante formar hipóteses específicas que podem ser apoia-
das ou desapoiadas?
M É T O D O S DE I N V E S T I G A Ç Ã O 663

3 Porque é que o curso de um projecto de investigação raramente c o n e de acordo


com o planeado?
4 Como pode o investigador minimizar as possiblidades de erro e/ou enviesamento?
5 Serão alguns métodos de investigação mais científicos do que outros?
6 Porque é que é tão importante distinguir entre conelação e causalidade?

Martin Hammersley e Paul Atkinson, Ethnography: Principies in Practice (Lon-


don: Routledge, 1995)

Lee Harvey, Morag MacDonatd e Anne Devany, Doing Sociology (Londres: M a c -


millan, 1992).

Charles Ragin, Constructing Social Research: The Unity and Diversity of Method
(Thousand Oaks, Califórnia, Pine Forge Press, 1994)

Bath information e Data Service


h ttp://w w w .bids .ac .u k
spppips
B U B L - National Information Service for the higher education community !. mil^
h t t p : / / b u b l . a c . u k / a d m i n/purpose Ji t m

Census information Gateway


http ://census .ac .uk
Institute for Social and Economic Research ( E S R C and University o f Essex)
htt p://w w w i r e .essex .ac .u k

Market and Opinion Research International ( M O R I )


http:// w w w.mor i x o m

Social Science Information Gateway


h t t p : / / w w w ^ o s i g .ac.uk

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