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Em 1996, numa breve passagem pelo Brasil, o sociólogo Fançois Dubet, concedeu uma

entrevista à Revista Brasileira de Educação. Nessa entrevista ele faz uma reflexão sobre sua
experiência que durou exatamente um ano dando aulas de história e geografia, numa escola
na periferia de Bordeaux, França. Ele é bastante conhecido por seu trabalho falando da
juventude marginalizada na França. Ele quis compreender e experimentar o que os professores
vivem, quis conhecer os dilemas da escola francesa.
Perguntam ao Dubet, o que o motivou a lecionar por um ano, e ele responde que as
razões foram um pouco diferentes. No que se refere a primeira, o sociólogo se preocupava
com os relatos que ele ouvia no encontros com professores, a queixa dos colegas pareciam
sempre exageradas e carregadas de sofrimento, eles sempre se lamentavam da queda do
rendimento dos alunos, e das dificuldades encontradas na sala de aula. E ele se perguntava se
isso não era exagero dos professores.
Na segunda razão, Dubet fala de uma intervenção sociológica com um grupo de
professores, e do encontro com duas professoras que apresentaram certa resistência com a
análise proposta por ele. O que acabou resultando no desligamento das professoras do grupo.
E uma das críticas feitas ao sociólogos por uma dessas professoras, é que ele não tinha
experiência como professor, ele passavam a imagem de um intelectual e desconhecia os
problemas educacionais. Isso acabou motivando o sociólogo a aceitar o desafio de dar aulas e
conhecer de perto a realidade dos professores.
Depois de algum tempo dando aula, o entrevistado viu que não adiantava muito se
esforçar tentando ser um sociólogo e fazer uma observação participante, tampouco se ver
dando aula. Ali ele já estava bastante envolvido e o papel que ele assumiu era outro. Foi
bastante acolhido pelos professores que deram muito apoio a ele e força.
Ele fez alguma constatações inicialmente, e teve muitas surpresas no início de sua
carreira como professor. Uma delas é que os alunos não estão “naturalmente’’ dispostos a
realizarem seus respectivos papeis. O choque inicial foi bem grande, ele viu que os alunos não
estão acostumados a resistirem ao professor. Eles não cooperam facilmente, eles não escutam
nem trabalham espontaneamente. Os alunos testaram o professor, fizeram baderna, barulho,
bagunça, até que depois de alguns minutos ele conseguiu controlar a situação.
Outra surpresa que ele teve com a sala de aula, foi que os alunos precisam estar a todo
momento ocupados. Assim eles não falam, mesmo que uma atividade seja passada, os alunos
fazem um alvoroço para se organizarem, segundo o professor, até que o ambiente esteja
favorável para se dar aula, é preciso se investir mais da metade do horário. Dubet, teve muitas
dificuldades nesse período, os alunos não eram nada parecidos como o que ele imaginava.
Uma simples história para ser contada na sala, era um desafio, pois os alunos não escreviam
enquanto anotavam. Os problemas era novos e causavam bastante desconforto no sociólogo.
Dois meses depois, ele disse que fez um ‘’ golpe de estado’’ uma alternativa numa
situação desesperadora, em que basicamente ele impôs respeito e controlou a situação por
meio de um intervenção. Era proibido falar, sorrir, fazer baderna, etc. O entrevistado conta
que esse momento de crise foi importante para a turma, os alunos depois de aterrorizados
com medo das punições, viram a existência de regras. Depois de um tempo as relações foram
se tornando mais afetuosas.

Quando perguntam a ele como acaba se construindo uma relação com os alunos, ele
responde que quando ele se deu conta já havia se criado uma conexão com alunos, eles
demonstraram um sensibilidade por conta do interesse do professor por eles como pessoas. E
nesse meio tempo a relação deles embora conturbada, foi se tornando mais próxima, eles
criaram um laço e o professor começou a entender mais ou menos o que é dar aula.
François Dubet, se deu conta das dificuldades da sala de aula, agora ele estava vendo
com outros olhos e conhecendo melhor a dinâmica escolar. O relato dos professores
entrevistados que para ele pareciam demasiado exagerados, agora faziam sentido. Ser
professor era enfrentar entender que era preciso se reinventar todo dia, as coisas não caiam
na rotina, não se acalmava os alunos do mesmo jeito sempre, não se prendia sua atenção igual
a outros momentos. Ele compreendeu o drama da profissão, e via a reação dos colegas que
enfrentavam os mesmos medos e dificuldades que ele.
Quando foi indagado sobre os programas escolares, o pesquisador falou do seu
espanto com eles, pois segundo ele, o programa é feito para um aluno que não existe. O
programa é uma grande abstração, é feito pensando que os alunos cumpriram o programa
anterior, só que não. Ele é feito para um aluno extremamente inteligente, é um programa
descolado da realidade dos alunos que carregam consigo limitações que os impossibilitam de
absorverem os conteúdos oferecidos. Alguns professores driblam as adversidades e
conseguem dar boas aulas, já outro desistem e fingem dar aulas.
Algumas dificuldades foram observadas pelo Dubet na escola, uma delas é o conselho
de classe. Eles são extremamente rígidos e coniventes com a lógica meritocracia, ignoram os
problemas trazidos pelos alunos em outros momentos e os inserem numa lógica competitiva.
Em que o esforço próprio estimulado a ser o responsável por melhores resultados. Muitos
não possuem uma boa relação com a escola, justamente por isso. Eles se sentem humilhados,
fracassados e responsáveis por seus desempenhos.
Perguntaram ao professor sobre a desregulação da relação pedagógica, se é preciso
concebe-la como uma evolução geral da escola ou antes como um problema de métodos
pedagógicos, e ele respondeu que não é um pedagogo, mas que não acredita assim com
grande parte dos seus colegas em uma pedagogia milagrosa. O entrevistado fala que a
pedagogia não pode ser vista simplesmente como uma formula pronta, os alunos são sensíveis
as mudanças de personalidades dos professores. A pedagogia, segundo ele, é uma técnica da
operacionalização da personalidade. Alguns professores são exitosos adotando métodos
tradicionais, e outros tem métodos ativos que funcionam muito bem. Mas vemos também
professores que se obrigam a aplicar métodos que não são seus e não dá certo.
Agora o Dubet, traz algumas alternativas e apresenta o que pode ser melhorado na
escola e no modelo pedagógico, é importante que se reveja a oferta escolar, os alunos não
podem mais ser atirados nos braços do fracasso, é importante que eles aprendam com
qualidade, ao invés de terem contato com uma carga grande de conteúdo e uma baixa
absorção dos mesmos. Ele fala que de forma alguma a pedagogia consistiria em reconciliar os
alunos, com os professores.
No colégio é importante que se note o lugar da adolescência, pois atualmente ele é
definido por um tipo de guerra fria em que os alunos e os professores são os envolvidos. Ele
sugere que existam regras de vida em grupo partilhadas, o mundo escolar deve ser um lugar
que possui uma cidadania escolar. Dubet fala que essa relação nesse formato é mais saudável
para os professores e para os alunos.
Eles deve se organizar de forma que suas funções sejam realizadas. Ele sugere
melhorias na escola, elas devem transmitir conteúdos que encorajem os alunos, ao invés de os
desmotivarem. As dificuldades do sistema escolar fazem parte de um complexo que envolve os
alunos numa rede de problemas que ultrapassam as barreiras da escola, é preciso ver e
superar esses problemas.
A pergunta direcionada a Dubet, fala da democracia escolar, e da cidadania escolar.
As entrevistadoras querem saber mais sobre essas ideias e qual o lugar de produção destas
regras na medida em que ele fala do enfraquecimento e desaparecimento das instituições.
Ele fala da importância de se criar um quadro normativo, mas ele acredita que a
criação desse quadro deve ser realizada de maneira democrática, a partir da criação de direitos
e deveres. Dubet chama a atenção para a aproximação do alunos com os professores para
criarem um quadro, os alunos estão diante de relações esmigalhadas, é preciso que eles criem
esse quaro. Eles devem ter os meios necessários para a sua criação. O quadro normativo cria,
quando existe, ao mesmo tempo, um sistema disciplinar rígido, e um modo de expressão
possível dos alunos.
Quando é questionado sobre a sociabilidade dos alunos e sobre se inspirar nos
modelos americano e inglês, Dubet responde que é preciso que o colégio entenda que é
preciso que haja uma vida adolescente na escola, mas até certo ponto. Mas ele nos mostra
também que os alunos devem se ocupar com outras coisas que não sejam somente as aulas,
mas que isso tudo seja realizado dentro de um quadro normativo, baseados em regras que os
eduquem. O sociólogo fala também que quando se compara o sistema escolar francês dentro
de sua realidade, ele funciona melhor. E fala que a escola é uma construção histórica, que está
intimamente ligada a cultura de determinada sociedade, impossibilitando sua importação
como tecnologia.
Agora querem saber se a escola deveria ser socializadora. E a resposta dada pelo
professor é que sim, a escola é um ambiente socializador. Mas Dubet acredita que a ela
mesmo não funcionando é socializadora, e que é preciso que ela seja socializadora de um
modo mais aberto e democrático, e não conservador. E defende a mudança dentro do
sistema, mudanças que não tirem a autoridade dos diretores e professores e nem a liberdade
dos alunos de manifestarem suas queixas e serem ouvidos.
A entrevista segue agora falando da mudança propostas pelo Professor. Ele diz que
acha que esta mudança supõem menos diretrizes ministeriais do que mudanças do modo de
organização. Seguindo para o final da entrevista, Dubet fala o que ele pensa sobre as
mudanças na formação dos professores. Responde que os IUFM são mudanças importantes.
Dialoga também sobre questões cruciais no quadro de formação. O entrevistado fala que a
profissão de docente é uma prática que requer habilidade, requer um aprendizado de práticas,
de experiências, de mestres de estágio, de ajuda nos momentos difíceis. Deveria haver cursos
na França sobre a violência, pois segundo o entrevistado, deveríamos aprender a responder a
isto como se aprende a ensinar as matemáticas. Essa formação deveria ser menos ideológica
também, e muito mais ágil.
No final do contato com as entrevistadoras, Dubet sobre os mestres da escola e de
suas formações. Ele fala que por uma razão simples, eles são melhores preparadas, pelo fato
de ensinarem crianças a ler e a escrever. Na França os professores saber falar com as crianças,
sabem se comunicar muito bem com elas, o contato entre eles é muito melhor, pois eles são
bem mais qualificados, entenderam a linguagem que liga os saberes e a formação. A presença
dos pais nessa faixa etária é muito mais massiva, diferente do modelo de colégio burguês, da
pedagogia da acumulação.
Dubet concorda com a questão final, que fala da relação dos professores e dos alunos.
Ela diz que o aprendizado dos alunos de colégio tem a ver com seu apego com o professor.
Dubet concorda por três razões. Na primeira ele fala que psicologicamente os alunos de
colégio não estão em condições de diferir o interesse pela disciplina por aquele que a ensina.
Quando ele fala da segundo, ele nos mostra que a observação feita em relação a primeira, se
confirma quando vemos os alunos cujas notas variam sensivelmente em função dos
professores, e isto na mesma disciplina. A terceira razão e última é mais cientifica, ele fala de
um estudo feito por um colega sobre o efeito professor. No começo e fim do ano ele testa os
alunos, e no final mede suas performances, e é ai que o efeito professor é observado. Há
professores que ensinam bem, outros não muito e alguns que não ensinam nada. Dubet
encerra a entrevista falando que alguns fatores já conhecidos não influenciam em nada no
efeito professor, mas certamente aquele que acreditam que os alunos podem progredir, e
aqueles que tem mais confiança nos alunos, esses professores são mais eficientes, Dubet
chama isso de efeito pigamaleão.

FORMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS


PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO E AS PARCERIAS PÚBLICO-
PRIVADAS: IMPASSE DEMOCRÁTICO OU MISTIFICAÇÃO
POLÍTICA?

LISETE R.G. ARELARO

O autor ira falar de dois impasses que estão presentes na gestão dos sistemas
escolares no Brasil, que são eles: o discurso sobre a gestão democrática na formulação e
implementação das políticas públicas em educação e a pratica ‘’produtivista’’ que se abstém
dela.
O princípio educacional da gestão democrática, é uma das questões polemicas que
encontramos na constituição federal de 1988. Mas ele é o único princípio constante na área
educacional que teve sua abrangência limitada ao âmbito público. Poderiam os entender esta
limitação como ‘’ distração’’ pois a constituição tem um caráter democratizante e um evidente
incentivo a participação popular. Isso é a representação da vitória do embate político do
pensamento pedagógico conservador e privatista. Embora garantidos os direitos de ensinar e
aprender, a partir do reconhecimento da necessária autonomia pratica docente e do
pluralismo de ideias e de concepção pedagógica.
Algumas dessas consquistas quase passaram despercebidas e tiveram o seu caráter
invalidado, mas dois direitos do alunos foram explicitados os mostrando serem procedentes. O
primeir era de conhecer e contestar os critérios de avaliação da aprendizagem que seu
professores adotam. O segundo é a obrigação do poder público estimular pesquisas,
experiências e novas propostas educacionais, objetivando a introdução de adolescentes e
crianças excluídos do ensino fundamental.
a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) tem um proposta mais coletiva no processo de
elaboração de elaboração e decisão do projeto pedagógico de cada escola, prevendo a
participação das comunidades escolares. Dessa forma, o sucesso do projeto pedagógico é
produto de uma reflexão mais participativa, comunitária. Assim podemos deduzir que no que
diz respeito a esta qualidade, notamos que ela só é evidenciada na implementação desta inter-
relação.
Quando observamos as experiências históricas, notamos que a condição de
participação popular, em que os grupos sociais tiveram a oportunidade de conhecer melhor os
dirigentes públicos e debater ideias com estes, expor as necessidades e os problemas locais, no
âmbito nacional e regional, foi o que permitiu uma definição mais adequada de suas políticas,
com mais coerência na sua implementação e na permanência dos investimentos financeiros.
O Brasil possui um histórico positivo em relação as experiências que envolvem ampla
participação popular na definição de políticas, nem sempre devidamente valorizadas. A autora
traz dois exemplos de experiências recentes que foram ousadas nos seus objetivos e na sua
dimensão participativa: a elaboração por educadores do plano decenal de educação e a
realização do fórum social mundial.
Por ter sido envolvido por diferentes grupos sociais, os dois processos, em algum grau,
as universidades também vem trazendo sua contribuição na construção de alternativas, via
pesquisa e extensão universitária, como via de reflexão e de formação política, transpondo
assim seu papel e sua responsabilidade na transformação social e cultural.
A autora segue o texto falando agora das razões para esse impasse na modernidade.
Ele fala que o discurso da modernidade valoriza a qualidade, demonstrando, num primeiro
momento diferentes critérios para sua definição. Já em relação ao segundo, os indicadores
estabelecidos são quantitativos, mas tem muito a ver com as decisões históricas que deram
um norte para as intervenções nas políticas sociais.
Mesmo que algumas alternativas de acompanhamento e controle social da população
usuária, não tenha alcançado seu objetivo, isso não pode ser visto como abandono ou rejeição
de qualquer nova tentativa. Ela recorda a infeliz trajetória dos conselhos de educação. O
objetivo destes conselhos era representar a população de forma organizada.

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