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História, Trabalho e Educação

MULHERES NO CONTEXTO DA ESCOLA E DA SALA DE AULA

Antonio Evaldo Oliveira*

Resumo: a presente pesquisa abordará de modo principal o caminho percorrido pelas


mulheres ao longo da história, seus desafios, o novo modelo de profissional em sala de aula; a
conquista de seus direitos como docente – do magistério à vida ministerial acadêmica – bem
como a condição da mulher como que numa pesquisa filosófica em ciências sociais.
Embasadas no conhecimento de identificação das correntes do pensamento contemporâneo
que tem orientado as pesquisas educacionais do século XXI. O positivismo, a fenomenologia
e é claro o marxismo. Por fim, bem como aponta o doutor Dilvo Ristaff, a trajetória brilhante
da mulher nos últimos séculos, com dados numéricos científicos que a mulher é sem dúvida a
nova ocupante de destaque da educação, sobretudo na formação de conjunto, aspectos estes
que tornarão as crianças adultas mais tranquilas, carinhosas e flexíveis. O referente texto
abordará o ardo caminho percorrido pelas mulheres ao longo da história na conquista de seu
direito como docente, do magistério à vida ministerial acadêmica, seus desafios, o novo
modelo inserido do profissional em sala de aula, bem como, em linhas gerais, a condição da
mulher como que em uma pesquisa filosófica em ciências sociais.

Palavras-Chave: A mulher na Sala de Aula; A Identificação da Mulher; A Nova Mulher


Educativa.

1. INTRODUÇÃO

Quem diria que em meados do século XIX, uma professora autodidata iria perturbar a
sociedade brasileira. Nísia Floresta, mulher metida homem, uma voz feminina,

* Professor titular da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC Goiás; Mestre em


Educação, Doutorado em Educação na PUCGoiás. antonio.evaldo@uol.com.br

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revolucionária, que denunciava a condição de submetimento em que viviam as mulheres do
Brasil e reivindicava sua emancipação elegendo a educação como instrumento através do qual
essa meta seria alcançada. No entanto, os anos passavam e o Brasil caminhava para o Século
XX e a grande maioria da população continuava analfabeta. Mas até que ponto era imperativo
saber ler, escrever ou conhecer as quatro operações? Naquela sociedade escravocrata e
predominantemente rural, latifundiário em que os coronéis teciam arranjos sociais e se faziam
na maior parte acordos tácitos, pelo submetimento ou pela palavra empenhadas. Em meio a
esse cenário, havia, no entanto, algumas escolas – as escolas de primeira letra, as chamadas
pedagogias – mantidas por leigos ou religiosos que exerciam a tarefa de mestres e mestras
exatamente como as mesmas. Ler, escrever, contar, as quatro operações, mais a doutrina
Cristã. Evidentemente que as divisões de classes, etnia e raça, tinham um papel importante na
determinação das formas de educação utilizadas para transformar as crianças em mulheres e
homens. Com a virada do Século, surgem-se grupos de trabalhadores organizados em torno de
ideais políticos, como o socialismo ou o anarquismo, não apenas apresentaram propostas para
a educação de suas crianças, mas efetivamente as tornou realidade através da criação de
escolas.

É importante entendermos também que as concepções e formas de educação das mulheres


nessa sociedade eram múltiplas. Contemporâneas e conterrâneas, elas estabeleciam relações
que eram também atravessadas por suas divisões e diferenças, relações que poderiam revelar e
instituir hierarquias e proximidades, cumplicidades ou ambiguidades. Ainda que o reclamo
por educação feminina viesse a representar, sem dúvida, um ganho para as mulheres, sua
educação continuava a ser justificada por seu destino de mãe. O que no final de século XIX é
vinculada a modernização da sociedade, à higienização da família, à construção da cidadania
e dos jovens. Mesmo que pra muitos, a educação feminina não poderia ser concebida sem
uma sólida formação cristã, que seria a chave principal de qualquer projeto educativo. Para
outros, inspirados nas ideias positivistas e cientificistas, justificava-se um ensino para
mulheres ligado ainda à função materna e que afastasse as superstições e incorporasse as
novidades da ciência, em especial das ciências que tratavam das tradicionais ocupações
femininas. Portanto, quando, na virada do Século, novas disciplinas como a puericultura,
psicologia ou economia doméstica que viessem a integrar o currículo dos cursos femininos,

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representariam, ao mesmo tempo, a introdução de novos conceitos científicos justificados por
velhas concepções relativas à essência do que se entendia como feminino. Valem lembrar que
a atividade docente no Brasil, como em muitas outras sociedades, havia sido iniciada por
homens, especialmente por religiosos, os jesuítas, que se ocuparam do magistério com mais
frequência, e agora, no entanto, as mulheres eram também necessárias e as classes de meninas
deveriam ser regidas por “senhoras honestas”.

2. A INDENTIFICAÇÃO DA MULHER COM O TRABALHO DOCENTE

A identificação da mulher com a atividade docente, que hoje parece para muitos tão natural,
era alvo de discussões, disputas e polêmicas. Para alguns parecia uma completa insensatez
entregar às mulheres usualmente despreparadas, portadoras de cérebros pouco desenvolvidos
pelo seu desuso a educação das crianças.

Ristoff ( 2006 ), por exemplo, afirmava que havia uma aproximação notável entre a
psicologia feminina e a infantil, embora essa semelhança pudesse sugerir uma natural
indicação da mulher para o ensino das crianças, na sua argumentação, mulheres e clero
viviam para o passado e, portanto, não poderiam preparar organismos que se devem mover no
presente ou o futuro. Enquanto outras vozes surgiam para argumentar na direção oposta.
Afirmavam que as mulheres tinham por natureza, uma inclinação para o trato com as crianças,
que elas eram as primeiras e naturais educadoras.

A escola parecia desenvolver um movimento ambíguo: de um lado, promovia uma espécie de


ruptura com o ensino desenvolvido no lar; de outro, promovia, através de vários meios, sua
ligação com a casa, na medida em que cercava a formação docente de referências à
maternidade e ao afeto. A escola adquirida, também, o caráter de casa idealizada, ou seja, era
apresentada como um espaço afastado dos conflitos e desarmonias do mundo exterior, num
local limpo e cuidado. A proposta era que esse espaço se voltasse para dentro de si mesmo,
mantendo-se alheio às discussões de ordem política, religiosa etc. Quando essas instituições
eram dirigidas por mulheres, legais ou religiosas, elas assumiam o papel de mãe superiora,
que zelava pelo funcionamento de tudo e de todos, geralmente constituindo-se numa espécie
de modelo a ser seguido. Também, por outro lado, além das regras e práticas que buscaram
produzir condutas morais que se consideravam apropriadas, também se lançou mão de

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estratégias repressivas, como a censura das leituras ou dos temas tratados em aula. Enfim,
com a feminização do magistério, as assim chamadas características naturais femininas são
articuladas às tradições religiosas da atividade docente, dando-lhes outra conformação. A
professora é consagrada mãe espiritual.

Ana Aurora do Amaral Lisboa – alguns a considera a primeira feminista do Rio Grande do
Sul e que defendeu publicamente ideais liberais, abolicionistas e republicanas – o magistério
se apresentava como alternativa mais viável ao casamento. Provavelmente para ela, como
para muitas pessoas, a professora estava associada à imagem da mulher pouco graciosa, da
solteirona retraída, de uma imagem de representação da sociedade brasileira. A questão não
seria, pois, perguntar qual ou quais as que a distorceram, mas sim compreender que todos os
discursos foram e são igualmente representações; representações que não apenas espelharam
essas mulheres, mas que efetivamente as produziram. Em outras palavras, as representações
de professoras tiveram um papel ativo na construção da professora, elas fabricaram
professoras, elas deram significado e sentido ao que era e a que é ser professora. Essa
representação de professora solteirona é, então, muito adequada para fabricar e justificar a
completa entrega das mulheres à atividade docente o que serve pra reforçar o caráter de
doação e para desprofissionalizar a atividade. A boa professora estaria muito pouco
preocupada com o salário, já que toda a sua energia seria colocada na formação de seus alunos
e alunas. De certo modo, essa mulher deixa de viver sua vida e vive através de seus alunos e
alunas; ela se esquece de si. A antiga professora solteirona podia também ser representada
como uma figura severa, de poucos sorrisos, cuja afetividade estava de algum modo
escondida. Ela precisaria ter o controle da classe, considerado um indicador de eficiência ou
de sucesso na função docente.

Ana Aurora Lisboa pode ainda ilustrar essa argumentação, pois, rompendo com os governos
locais devido a desentendimentos políticos, ela renúncia ao magistério público e vai para o
interior do estado fundar uma escola própria, na qual ela leciona por várias décadas com a
colaboração da irmã. Ali, ela consegue pôr em execução alguns de seus ideais políticos, como
receber filhos de escravos libertos ao lado de alunos pagantes, bem como criar curso noturno
para adultos.

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No entanto, à medida que as novas orientações psicopedagógicas são introduzidas, percebem-
se algumas transformações na expressão do professor. Quando o discurso sobre a escola passa
a valorizar um ambiente prazeroso, onde a cor e o jogo devem estar presentes, também a
figura da professora passa a ser representada de outro modo, da antiga, passa como sorridente
e mais próxima dos alunos. Essas transformações trazidas são agora, bastantes evidentes sobre
as professoras, indicando, de um modo o caráter histórico das representações sociais. A
professora é representada como objeto do desejo amoroso; serena; pura, como uma operária
divina. Afinal, as representações de professoras carregaram, através dos anos, algumas
continuidades, mas também se transformaram historicamente. Bem como a percepção de um
novo e proletarizado processo do profissionalismo. Professores e professores vão buscar
formas de luta semelhantes as dos operários. Criam centros de professores e sindicatos que
expressam suas reivindicações através de greves e manifestações públicas de maior
visibilidade e impacto social. O discurso desse movimento é, então, dirigido às trabalhadoras
e aos trabalhadores da educação. Ao final dos anos 1970, as entidades do magistério já são
capazes, em vários estados brasileiros, de mobilizar parcelas bastante expressivas de docentes
e as primeiras greves são deflagradas. Elas apresentam uma espécie de choque para muitos,
pois parece uma ruptura muito forte com o caráter de doação e entrega que tradicionalmente
cercava a professora.

Na verdade, é que ao percorrer algumas décadas da história das mulheres nas salas de aula,
lidando-se com as representações, doutrinas, constata-se mesmo é que foram as práticas
sociais que instituíram homens e mulheres na sociedade brasileira. Observou-se, que, em
alguns momentos, discursos religiosos, científicos, pedagógicos, jurídicos, acabaram por
produzir efeitos diversos. É importante destacar ainda, que os sujeitos concretos, homens e
mulheres é que constroem de formas próprias e diversas suas identidades e muitas vezes com
discordância às proposições sociais de seus tempos. Foi por meio e em meio a diferentes
discursos e práticas que elas (mulheres) acabaram por se produzir como professoras ideais, e
também como professoras desviantes, como mulheres ajustadas e também como mulheres
inadaptadas. Entretanto, mesmo com tantas mudanças, ainda achava-se que as mulheres
brasileiras haviam atingido a igualdade social com os homens e que só as pobres sofriam
violência. É assim que a maioria da população pensa, ou melhor, acha. Esquecem que este é

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um fenômeno contaminado pelo pensamento cientifico e que os homens começaram
historicamente seu esquema de dominação – exploração sobre as mulheres. Diferentemente
do que a maioria pensa, a ordem patriarcal de gênero é recém-nascida. O fato é que estão
impregnadas de achismos todas as ciências, e não apenas as humanas, por isso há muito que
combater e criar antídotos. Feministas por exemplo procedem submetendo tais esquemas a
escrutínios rigorosos, mas nem sempre por outro lado assumimos postura correta quanto aos
esquemas masculinos. Por exemplo, porque Marx foi escolhido? Razões ideológicas não
faltam, ou na hegemonia deste pensamento do século XX. Freud também não é pensador
dominante? Enfim, a verdade é que a sociedade não comporta uma única contradição, seja
considerada de gênero, de raça/etnia e a de classe. Com efeito, ao longo da história do
patriarcado, este fundido ao racismo, depois ao capitalismo, que por certo este último abriu as
portas do mundo do trabalho para a mulher. Abriu Digamos, mas do emprego, pois as
mulheres já trabalhavam e conquistaram grandes direitos. Mas o certo, como ilustração deste
último de realidade social contraditória é a lei 9.099/95 que liberou os maridos e
companheiros para agressão física, psicologicamente e sexual contra suas mulheres. É um nó
de contradições, e um grande exemplo deste aflorar feminino acadêmico. O mais importante
em um esquema de pensamento consiste no vigor de poder ensinar a pensar. Rigorosamente o
esquema econômico e politico integram o social de maneira indissolúvel, são em um sentido
substancialmente social. Ensinar a pensar constitui tarefa bem realizada por Marx, a
representação é a subjetivação da objetividade, que na condição de mola propulsora da ação,
voltada para o mundo da objetividade, (NOGUEIRA, 2004 ). Uma sociedade igualitária
prescinde de ideologias, mas nunca, as sociedades crivadas por desigualdades sociais.
Nenhuma sociedade poderá dispensar as representações que são veículos de interação social.
Por isso, a melhor maneira de não temer aos esquemas patriarcais de pensamento consiste em
lutar por uma sociedade mais justa, desenvolver uma práxis em que exija o cumprimento das
leis ou trabalhando para muda-las e brigando com os machistas de todas as escalas, seja de
presidente ou não, por homens e mulheres com direitos iguais, em que abram caminhos de
hoje, avenidas e autoestradas no amanhã.

Enfim, Como que em um quadro geral, já traçamos algumas das ideias principais e
caraterizadoras da história das conquistas da mulher, mas ainda se recorre de importância,

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entenderalgumas no fator da caracterização da educação, de forma mais exata, três, das
correntes do pensamento contemporâneo que segundo o ponto de vista tem orientado em
nossa época a educação e a pesquisa em ciências sociais, o fim, é claro, a nova mulher
educativa. O positivismo, a fenomenologia, o marxismo e é Claro, talvez fosse possível
destacar o personalismo, especialmente o que distingue na tendência representada pelos
denominados católicos de esquerda, que simplesmente aplicam suas concepções idealistas e
teístas na personalidade humana, essa colocada no lugar mais elevado.

O Positivismo, sem dúvida, não nasceu espontaneamente no século XIX, só com


Augusto Comte. Suas raízes podem ser encontradas no empiricismo, já na antiguidade.
Mas as bases concretas dele estão seguramente nos Séculos XVI, XVII, XVIII. Com
Bacon, Hobes e Hume, especialmente, com o fundador Augusto Comte claro.
Podemos o distinguir em seu pensamento a três preocupações fundamentais. Uma
filosofia da história; na qual encontramos as bases da filosofia e sua célebre lei dos três
estados que marcariam as fases da evolução do pensar humano. Uma fundamentação e
classificação das ciências e a elaboração de uma disciplina para estudar os fatos sociais,
que num primeiro momento, ele denominou física social. Outro marco do positivismo
ou três grandes traços da evolução do positivismoque o chamou em uma primeira fase
de positivismo clássico, na qual, além do fundador Comte, sobressaem os nomes de
Littré, Spencer e Mill. Em seguida ao final do Século XIX e início do Século XX, o
empiriocriticismo de Avenarius e Mach (1838-1916) e por fim, como em uma terceira
etapa, o neopositivismo e no geral compreende uma serie de matizes, entre os quais se
podem anotar o positivismo lógico, o qual estreitamente vinculado ao Círculo de Viena,
(BOURDIEU, 2003; NOGUEIRA, 2004; KURSANOV,1979; HIRATA, 1986 ).

O verdadeiro espirito positivo consiste em ver para prever. Por isso, o positivismo não
aceita outra realidade que não sejam os fatos, fatos que possam ser observados. A
ciência, por exemplo, estuda os fatos para conhecê-la e tão somente, de modo
desinteressado. Precisamente, o positivismo lógico, que formulou o célebre princípio de
verificação (demonstração da verdade) segundo este que será verdadeiro aquilo que é
empiricamente verificável, isto é, toda afirmação sobre o mundo deve ser confrontada
como o dado. Desta maneira, o conhecimento científico ficava limitado à experiência
sensorial. Depois, uma das afirmações básicas do positivismo está representada por sua
ideia de “unidade metodológica para investigação dos dados naturais e sociais”, bem
como o estabelecimento muito claro entre o valor e fato. Por fim, o positivista
reconhecia apenas dois tipos de conhecimento autênticos; verdadeiros, numa palavra
científica: o empírico, representado pelos achados das ciências naturais e o Lógico,
constituído pela lógica e pela matemática. O positivismo, sem dúvida, representada
especialmente através de suas formas neopositivistas, como o positivismo lógico e a
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denominada filosofia analítica, uma corrente do pensamento que alcançou, de maneira
singular na lógica formal e na metodologia da ciência, avanços muito meritórios para o
desenvolvimento do conhecimento. Uma concretização extraordinária entre a ciência e a
técnica. Ou seja, significou que a técnica não foi mais unicamente geométrica,
mecânica, química, etc., mas também política e moral, (BOURDIEU, 2003;
NOGUEIRA, 2004; KURSANOV,1979; HIRATA, 1986 ).

A fenomenologia representa uma tendência dentro do idealismo filosófico e, dentro deste, ao


denominado idealismo subjetivo. Edmund Husserl (1859-1938) é o principal representante e
de grande influência na filosofia contemporânea e de outras ocorrentes que se alimentaram na
grade de grandes pensadores da fonte fenomenológica. Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty.
Como ocorreu como o positivismo, também dentro da fenomenologia, podemos assinalar
grupos de pensadores que apresentam suas próprias peculiaridades e introduzem mudanças no
pensamento original da fenomenologia, aprofundando aspectos, lutando para manter as ideias
etc. na França, por exemplo, ressaltam os nomes de Sartre, Merleau-Pont e Ricoeur, na
Alemanha, além de Husserl e seus discípulos. Defensores da fenomenologia pura estão
Heidegger e Max Scheler com sua fenomenologia das essências. Enfim, a fenomenologia é o
estudo das essências, e todos os problemas, segunda ela, tornam a definir essências: a essência
da percepção, da consciência, por exemplo, são uma filosofia transcendental que coloca em
suspenso para compreendê-la, as afirmações da atitude natural, mas também uma filosofia
segundo a qual o mundo está sempre ai” antes da reflexão, como presença inalienável, cujo
esforço está em reencontrar esse contato ingênuo como o mundo para dar enfim um status
filosófico. Tudo o que sei do mundo, mesmo devido à ciência, o sei a partir de minha visão
pessoal ou de uma experiência do mundo sem o qual os símbolos da ciência nada
significariam”. Outro aspecto importante é o conceito de intencionalidade para a
fenomenologia, é fundamental, se se pensa que a vivência e a consciência são ideias básicas
nessa filosofia. O termo é considerado como primordial para Husserl, como que intenção, é a
tendência para algo como característica que apresenta a consciência de estar orientada para
um objeto. No fim, a intencionalidade de Husserl é algo puramente descritivo, uma
peculiaridade intima de algumas vivências. Desta maneira, a intencionalidade caracterizada da
vivência determinava que a vivência fosse consciência de algo. Outra dimensão subliminaré a
retificação do conhecimento, precisamente teve extraordinárias consequências na elaboração
do currículo escolar. Este se transformou numa “soma de informações” que antes era

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transmitida e devia ser assimilada pelos alunos. O currículo era algo construído, elaborado,
terminado, alheio fundamentalmente ao sujeito. A fenomenologia, baseada na interpretação
dos fenômenos, na intencionalidade da consciência e na experiência do sujeito, falou do
currículo construído, do vivido pelo estudante. Desta maneira, o conhecer depende do mundo
cultural do sujeito, é a própria socialização como forma de relação reciproca. O que sem
dúvida, representa uma tendência filosófica que entre outros méritos, parece-nos, tem o de
haver questionado os conhecimentos do positivismo, elevando a importância do sujeito no
processo da construção do conhecimento.

Seguindo a corrente do quadro geral, temos o fundador da doutrina Marxista na década de


1940, Karl Max (1818-1883), revolucionário da doutrina filosófica e especialmente pelas
conotações políticas explícitas nas suas ideias, colocadas, em seguida também por Friedrich
Engels, e mais tarde por Vladimir Lênin. Teve uma capacidade de unir sua vida ao mais
elevado pensamento criativo, e uma prática revolucionaria intensa. O marxismo compreende
precisamente três aspectos principais: O materialismo dialético, o materialismo histórico e a
economia politica. O materialismo dialético– é a base da filosofia do marxismo e como tal
realiza a tentativa de buscar explicações coerentes, lógicas e racionais para os fenômenos da
natureza, da sociedade e do pensamento. Talvez uma das ideias mais originais do
materialismo dialético seja a de haver ressaltado, na teoria do conhecimento, a importância da
prática social como critério de verdade. O materialismo histórico – é a ciência filosófica do
marxismo que estuda as leis sociológicas que caracterizam a vida da sociedade, de sua
evolução histórica e da prática social dos homens, no desenvolvimento da humanidade. O
materialismo histórico ressalta ainda a força das ideias, capaz de introduzir mudanças nas
bases econômicas que as originou. Destaca-se a ação dos partidos políticos, dos
agrupamentos humanos e o esclarecimento dos conceitos como ser social, consciência social,
meios de produção. O materialismo dialético não é só uma dimensão ontológica, mas também
gnosiológica, já que estuda o conhecimento e a teoria do conhecimento como expressões
históricas. A categoria essencial do materialismo dialético é a contradição que se apresenta na
realidade objetiva, como a lei fundamental de unidade e luta dos contrários, a lei da
contradição. O materialismo dialético insiste no caráter temporário, relativo, aproximativo, de
todo este marco do conhecimento da natureza pela ciência humana em progresso. E isso é

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como diz Lênin, a objetividade desse mundo de objetos e fenômenos, total independência de
sua existência em relação à consciência do ser humano.

Atualmente, em ciências naturais, seguem-se os pontos de vista de Einstein, exprimidos em


sua teoria da relatividade, que mostra a ligação orgânica do espaço e do tempo, um com outro
e com a matéria em movimento. Por isso, só é possível chegar á compreensão do conceito de
consciência, significado e dimensão se forem capazes de entender que a realidade é objetiva, a
matéria, passou por um longo período evolutivo, da forma que a consciência é uma
propriedade da matéria, a mais altamente organizada que existe na natureza, a do cérebro
humano. A grande propriedade da consciência é a de refletir a realidade objetiva. Assim
surgem as sensações, as percepções, representações, conceitos, juízos. Todos eles são
imagens. Reflexos adequados, verdadeiros, da realidade objetiva. O trabalho e a linguagem
estão intimamente ligados ao desenvolvimento desta propriedade do cérebro humano, a
consciência, de refletir a realidade objetiva como diz Engels – “Deste modo, a mão é apenas o
órgão do trabalho: ela é também produto dele. Só pelo trabalho, pela adaptação e operações
sempre novas, ligamentos, espaços de tempos, e refinamentos hereditários a novas operações
sempre mais complicadas, a mão humana alcançou alto grau de perfeição”.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, depois deste percurso no curso da história da materialização feminina, embasados em
pensadores idealistas, socialistas, dialéticos e racionalistas, podemos entender com clareza
que a mulher ocupa hoje um lugar de destaque, sobretudo na formação acadêmica,
educacional, na formação dos filhos, da comunidade, da sociedade em geral, sem dúvidas,
aspectos que levarão as crianças a serem adultos mais tranquilos, carinhosos e flexíveis.A
mulher educada participa na construção de uma sociedade mais justa, de um mundo melhor e
mais equilibrado, no qual se desenha um novo papel para a mulher moderna. Dilvo Ristoff -
Doutor em literatura pela Universidade do Sul da Califórnia (EUA) é diretor de Estatísticas e
Avaliação da Educação Superior do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira) e professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina.
É autor, entre outras obras, de "Universidade em Foco - Reflexões sobre a Educação
Superior" - Em um Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo em 08 de março de 2006,

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ressalta com clareza essatrajetória da mulher brasileira nos últimos séculos e é, para dizer
pouco, extraordinária: tudo que já dissemos até aqui, de uma educação no lar e para o lar, no
período colonial, para uma participação tímida nas escolas públicas mistas do século 19;
depois, uma presença significativa na docência do ensino primário, seguida de uma presença
hoje majoritária em todos os níveis de escolaridade, bem como de uma expressiva
participação na docência da educação superior. A maior presença de mulheres tanto na
educação básica como na superior parece enviar dupla mensagem.

Embora os homens sejam maioria na população até os 20 anos de idade, as mulheres são
maioria na escola a partir da quinta série do ensino fundamental, passando pelo ensino médio,
graduação e pós-graduação. Há, hoje, cerca de meio milhão de mulheres a mais do que
homens nos campi do Brasil. É verdade que as mulheres ainda são minoria na docência da
educação superior, mas a sua participação cresce a cada ano num ritmo 5% maior que a dos
homens, o que permite inferir que, mantida a atual tendência de crescimento, elas serão
maioria também na docência dentro de, no máximo, cinco anos.

Chama a atenção o fato de mais mulheres do que homens ingressarem na universidade na


faixa etária apropriada (18 a 24 anos). A menor presença de homens na graduação, apesar de
ser maioria na sociedade na fase do vestibular, parece indicar uma opção masculina precoce
pelo mercado de trabalho. Estaria a sociedade reafirmando o clichê de que a tarefa de buscar o
sustento da família cabe mais a eles que a elas?

Merece destaque a trajetória das mulheres na graduação: quando deixam o corpo discente,
elas representam sete pontos percentuais a mais do que quando ingressam no campus,
indicando que a sua taxa de sucesso é maior que a dos homens e que, por isso mesmo, a
maioria observada no momento do ingresso (56,4%) se torna ainda mais sólida na formatura
(63,4%).

Os cursos mais procurados pelos homens são relativos à engenharia, tecnologia, indústria e
computação; pelas mulheres, são relativos a serviços e educação para a saúde e para a
sociedade (secretariado, psicologia, nutrição, enfermagem, serviço social, pedagogia). Essa
tendência se mantém nos mestrados, doutorados e na própria docência da educação superior.
Se, por um lado, os números permitem inferir que, na educação, a barreira entre os sexos vem

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sendo rapidamente rompida, com igualdade de oportunidades para todos, as preferências
naturalizadas por certas áreas precisam ser analisadas com mais profundidade para identificar
as valorações sociais que explicam esse fenômeno e quais são suas implicações para as
relações de gênero. (BOURDIEU, 2003; NOGUEIRA, 2004; KURSANOV,1979; HIRATA,
1986 ).

A maior presença de mulheres tanto na educação básica como na superior parece enviar dupla
mensagem, uma boa e outra preocupante. A boa é que o Brasil começa a liberar as energias
criativas de uma população tradicionalmente educada para a esfera privada. Mais e mais
teremos mulheres, altamente qualificadas, ocupando posições de liderança em todas as áreas
do conhecimento e contribuindo para a consolidação de um país soberano, avançado e
democrático.A notícia preocupante é que a desproporção entre campus e sociedade escancara
o fato de que há muitos homens, jovens deixando os bancos escolares cedo demais, por
necessidade de contribuir com o sustento da família. Dados da Pnad/IBGE informam que a
renda familiar dos alunos do ensino médio é 2,3 vezes menor do que a renda familiar dos
universitários de hoje. Com a conquista da universalização do acesso à educação básica, essas
dificuldades só tendem a aumentar.

As constatações mostram que, salvo melhor juízo, está correta a expansão da educação
superior preconizada no Plano Nacional de Educação e no Plano de Governo. Mostram,
porém, bem mais que isso: além de expandir a educação superior, há que se consolidar a
democratização do acesso e da permanência no campus, com igual oportunidade para todos,
homens e mulheres, ricos e pobres, pretos e brancos.O maior número de mulheres na escola e
no campus, por si só, é insuficiente para dizer sobre mudanças efetivas nas relações de gênero
que são socialmente construídas entre os sexos. Sabidamente, essas relações extrapolam a
identificação de sexo por estarem imbricadas nas complexas relações de poder que marcam a
nossa sociedade e que, por consequência, se expressam também nos conflitos e nas
contradições da escola e do campus.

REFERÊNCIA

12
ASSUNÇÃO, Maria Madalena Silva de. Magistério primário e cotidiano Escolar.
Campinas, SP: Autores Associados, 1996. Coleção polêmicas do nosso tempo; v.53.

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SAVIANE, Dermeval. Educação Socialista, Pedagogia História-Crítica e os desafios da


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Marxismo e educação: debates contemporâneos. Campinas – SP: Autores Associados:
HISTEDBR, 2005. P.223-274.

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