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História, histórias e paradoxografia: opera omnia

Autor(es): Trales, Flégon de; Pereira, Reina Marisol Troca (trad.)


Publicado por: Imprensa da Universidade de Coimbra
URL URI:http://hdl.handle.net/10316.2/46028
persistente:
DOI: DOI:https://doi.org/10.14195/978-989-26-1742-8

Accessed : 1-Feb-2022 01:34:11

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Série Autores Gregos e Latinos

Flégon de Trales

História, Histórias
e Paradoxografia:
Opera Omnia

Tradução do grego, introdução e comentário


Reina Marisol Troca Pereira

IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA


COIMBRA UNIVERSITY PRESS
Série “Autores Gregos e Latinos –
Tradução, introdução e comentário”
ISSN: 2183-220X
Apresentação: Esta série procura apresentar em língua
portuguesa obras de autores gregos, latinos e neolatinos,
em tradução feita diretamente a partir da língua original.
Além da tradução, todos os volumes são também carate-
rizados por conterem estudos introdutórios, bibliografia
crítica e notas. Reforça-se, assim, a originalidade cientí-
fica e o alcance da série, cumprindo o duplo objetivo de
tornar acessíveis textos clássicos, medievais e renascen-
tistas a leitores que não dominam as línguas antigas em
que foram escritos. Também do ponto de vista da reflexão
académica, a coleção se reveste no panorama lusófono
de particular importância, pois proporciona contributos
originais numa área de investigação científica fundamen-
tal no universo geral do conhecimento e divulgação do
património literário da Humanidade.

Breve nota curricular sobre a autora da tradução


Agregação em Estudos Clássicos, Universidade de
Coimbra, 2014; Pós- Doutoramento (Literatura e
Cultura Latina e Humanista), 2013, Universidade
de Coimbra; Doutoramento em Letras (Linguística),
Universidade da Beira Interior, 2003; 2º Doutoramento
(Literatura Grega), Universidade de Coimbra, 2013;
Mestrado em Literaturas Clássicas, Universidade de
Coimbra, 2000; Licenciatura em Línguas e Literaturas
Clássicas e Portuguesa, Universidade de Coimbra,
1997; Professora Auxiliar, com vínculo, na Universidade
da Beira Interior (lecionação de disciplinas de
Licenciatura, Mestrado e Doutoramento); Diretora dos
Cursos de Mestrado em Estudos Ibéricos e em Ciências
Documentais; Membro do Centro de Investigação de
Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade
de Coimbra; traduções publicadas (grego-português,
latim-português) e artigos.
Série Autores Gregos e Latinos
Estruturas Editoriais
Série Autores Gregos e Latinos

ISSN: 2183-220X

Diretoras Principais
Main Editors

Carmen Leal Soares


Universidade de Coimbra
Maria de Fátima Silva
Universidade de Coimbra

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Universitat de les Illes Balears Universidade de Coimbra

Todos os volumes desta série são submetidos


a arbitragem científica independente.
Série Autores Gregos e Latinos

Flégon de Trales

História, histórias
e paradoxografia:
Opera Omnia

Tradução, introdução e comentário


Reina Marisol Troca Pereira
Universidade da Beira Interior

IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA


COIMBRA UNIVERSITY PRESS
Série Autores Gregos e Latinos
Título Title
História, Histórias e Paradoxografia: Opera Omnia
History, Stories and Paradoxography: Opera Omnia
Autor Author
Flégon de Trales Phlegon of Tralles

Tradução do grego, Introdução e comentário


Translation from the Greek, Introduction and Commentary
Reina Marisol Troca Pereira
Orcid
0000-0001-9681-8410

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Infografia Infographics POCI/2010
Nelson Ferreira
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Impressão e Acabamento Printed by - UID/ELT/00196/2013.
KDP

ISSN
2183-220X
ISBN
978-989-26-1741-1
© Março 2019
ISBN Digital
978-989-26-1742-8 Imprensa da Universidade de Coimbra
Classica Digitalia Vniversitatis
DOI Conimbrigensis
https://doi.org/10.14195/978-989-26- http://classicadigitalia.uc.pt
1742-8 Centro de Estudos Clássicos e
Humanísticos da Universidade de
Coimbra

Trabalho publicado ao abrigo da Licença This work is licensed under


Creative Commons CC-BY (http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/pt/legalcode)
Flégon de Trales Phlegon of Tralles

História, Histórias e Paradoxografia: Opera


Omnia
History, Stories and Paradoxography: Opera
Omnia
Tradução, Introdução e Comentário por
Translation, Introduction and Commentary by
Reina Marisol Troca Pereira

Filiação Affiliation
Universidade da Beira Interior University of Beira Interior

Resumo
Autor clássico tardio de expressão grega, Flégon Trales ganhou notoriedade re-
conhecida por séculos, através de obra mormente perdida para a modernidade, à
exceção de alguns fragmentos e secções de Sobre Maravilhas, Acerca de Vidas Lon-
gas e Sobre as Olimpíadas. Poderia constituir apenas mais um legado a acrescentar
a tantos outros. Porém, a escrita de Flégon mostra-se enriquecedora, permitindo
assistir a notas orientais; à assimilação cultural empreendida pelos dominadores
militares romanos; à vivência e ao valor de elementos tradicionais pagãos num
paradigma judaico-cristão que em certos casos demonstra a apropriação indevida
e abusiva de afirmações do historiador traliano. Os temas poderão simplesmente
entender-se como matéria leviana de gosto popular, marcada pela exploração de
temáticas grotescas e assombrosas. Porém, uma exegese distinta proporcionará
uma elevação dos opuscula do Traliano, se entendidos como invólucros enigmáti-
cos de realidades sociais com atualidade então e agora.

Palavras-chave
Paradoxografia, história/histórias, mito, a-normalidade(s).

Abstract
Late classical author of Greek expression, Phlegon of Tralles was recognized for
centuries, through his work. Most of the books of the emperor Hadrian’s freed-
man are currently lost, with the exception of some fragments and sections of On
Marvels, On Long-Lived Persons and the Olympiads. It could be just another legacy
to add to so many others. However, the writing of Flégon is enriching, preserving
oriental notes; the cultural assimilation undertaken by the Roman military domina-
tors; the experience and the value of pagan traditional elements in a Judeo-Christian
paradigm which in some cases demonstrates the misappropriation and misuse of some
statements made by the Historian from Tralles. The themes can simply be understood
as light issues of popular taste, marked by the exploration of grotesque and astonishing
themes. However, a distinct exegesis will provide the elevation of Phlegon’s opuscula,
as enigmatic containers of social realities maintaining an up-to-date character.

Keywords
Paradoxography, history/stories, myth, (ab)normalities.
Autora

Agregação em Estudos Clássicos, Universidade de Coimbra, 2014; Pós-


Doutoramento (Literatura e Cultura Latina e Humanista), 2013, Univer-
sidade de Coimbra; Doutoramento em Letras (Linguística), Universidade
da Beira Interior, 2003; 2º Doutoramento (Literatura Grega), Universidade
de Coimbra, 2013; Mestrado em Literaturas Clássicas, Universidade de
Coimbra, 2000; Licenciatura em Línguas e Literaturas Clássicas e Portu-
guesa, Universidade de Coimbra, 1997; Professora Auxiliar, com vínculo,
na Universidade da Beira Interior (lecionação de disciplinas de Licenciatura,
Mestrado e Doutoramento); Diretora dos Cursos de Mestrado em Estudos
Ibéricos e em Ciências Documentais; Membro do Centro de Investigação de
Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra; traduções
publicadas (grego-português, latim-português) e artigos.

Author

Aggregation in Classical Studies, University of Coimbra, 2014; Post-


doctorate (Latin and humanist literature and culture), University of
Coimbra, 2013; PhD in letters (linguistics), at the University of Beira
Interior, 2003; 2nd PhD (Greek literature) at the University of Coimbra;
Master’s degree (MA) in Classical Literatures, University of Coimbra,
2000; B.A. at the University of Coimbra, 1997. Assistant Professor, at
the University of Beira Interior (2000 - ); Director of the master course
in Information Sciences (2011 - 2017); Director of the master course in
Iberian Studies (until 2011); Member of the Center of Classical Studies
and Humanities of the University of Coimbra (CECH); National and
International Peer Reviewed Publications.
Reina Marisol Troca Pereira

Aos de sempre, para sempre!

χρημάτων ἄελπτον οὐδέν ἐστιν οὐδ΄ ἀπώμοτον


οὐδὲ θαυμάσιον [...].

“Nada pode deixar de esperar-se, nada pode afirmar-se ser


impossível, nem ter-se como assombroso [...].”
(Archil. fr. 122.1-2 W)

8
Sumário

Prefácio 11

1. Prolegómenos: Paradoxografia - apreciações gerais 13

2.Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo 21


2.1. Flégon: um pagão sob olhares cristãos 23
2.1.1. Flégon e a Paixão de Cristo: corruptelas intencionais 24
a. Orígenes 25
b. Eusébio / S. Jerónimo 32
c. Filópono 36
d. Malalas 37
2.2. Produção Literária 43
2.2.1. Questões de autoria 43
2.2.2. Manuscritos e edições 45
2.2.3. História e histórias 49
2.2.4. Opera 57
a. Sobre Maravilhas, Περὶ θαυμασίων 57
Cultura fantasmagórica em Flégon Traliano:
episódios de poltergheist (1-3)  58
Marcas sexuais
Gestantes/parturientes fora do usual 81
Nascimentos múltiplos 83
Nascimentos a-normais (grotescos) 84
Hibridismo86
Hipocentauros88
A-normalidades biológicas humanas 89
Androginia e hermafroditismo 90
Gigantismo99
Desenvolvimento rápido 102
b. Acerca de Vidas Longas, Περὶ μακροβίων102
c. Sobre as Olimpíadas, Περὶ τῶν ᾿Ολυμπίων107
d. Intertexto - Flégon e Fragmentos Sibilinos 110
Religiosidade(s)110

9
Traduções
Sobre Maravilhas115
Acerca de Vidas Longas147
Sobre as Olimpíadas157

Bibliografia 162

Index Nominvm197

10
1. Prolegómenos: Paradoxografia - Apreciações gerais

Prefácio

A publicação que ora se apresenta prossegue uma linha de


estudos precedente do âmbito da paradoxografia helénica, de-
signadamente Ps. Aristóteles, Sobre Prodígios Escutados; também
Paléfato. Heraclito. Anonymus. PERI APISTON (Sobre Fenómenos
Inacreditáveis). Introdução, Notas, Tradução do Grego, Índices
e Bibliografia por Troca Pereira, R. Journal of Ancient Philosophy
10.2: 140-302. Dos casos referidos, De mirabilibus auscultatio-
nibus (Περὶ θαυμασίων ἀκουσμάτων), atribuído a Aristóteles,
colige 178 apontamentos diversos entre o incrível e o verosímil,
distribuídos em agrupamentos temáticos, percorrendo diversas
áreas, como etnografia, botânica, geografia, zoologia, mitologia,
curiosidades radicadas em alegados saberes tradicionais. A obra
seguinte expõe algumas considerações contextualizantes a respei-
to dessa (chamemos-lhe) modalidade literária, que certamente ex-
pressava um gosto popular num misto de curiosidade, mitologia e
novelística, que justifica a sua divulgação e cultivo perenes, tanto
em grego como em latim. O evidente didatismo sob uma máscara
de pseudo-cientificidade aproxima três títulos dessa publicação de
autores distintos, em épocas temporais diferentes, sob um mesmo
título - Sobre Fenómenos Inacreditáveis (Περὶ ἀπίστων).
Na sequência desses testemunhos literários, surge agora
espaço para um autor clássico tardio, de naturalidade não
europeia, ainda assim no retrato expansionista romano. De
expressão grega, o historiador Flégon Trales, da Lídia, ganhou
notoriedade reconhecida por séculos, através de obra mormente
perdida para a hodiernidade, à exceção de alguns fragmentos, e
Mirabilia (Περὶ Θαυμασίων). O livro integral poderia constituir
apenas mais um espécime a acrescentar a tantos outros. Porém,

11
Reina Marisol Troca Pereira

a escrita de Flégon mostra-se enriquecedora, permitindo assistir


a notas orientais; à assimilação cultural empreendida pelos do-
minadores militares romanos; à vivência e ao valor de elementos
tradicionais pagãos num paradigma judaico-cristão. Os temas
poderão simplesmente entender-se como matéria leviana de
gosto popular, marcada pela exploração de temáticas grotescas
e assombrosas. Porém, uma exegese distinta proporcionará uma
elevação dos opuscula do Traliano, se entendidos como invólu-
cros enigmáticos de realidades sociais com atualidade então e
agora.
Em termos estruturais, divulgam-se algumas noções intro-
dutórias, a título contextualizador da paradoxografia. Seguem-
-se comentários e considerações de diversa ordem, centradas em
Flégon. A tradução aplica-se à obra integral Περὶ Θαυμασίων
e estende-se a fragmentos de Περὶ μακροβίων e Περὶ τῶν
᾿Ολυμπίων incorporados no original grego seguido. Transver-
salmente, incluem-se notas esclarecedoras. Acrescentam-se,
outrossim, indicações bibliográficas que possam ser de utilidade
para o leitor, bem como índices facilitadores da consulta.

* * *
Cabe agora prestar devido reconhecimento aos mestres
que, desde o início, manifestaram disponibilidade e altruísmo
incondicionais na partilha dos seus saberes, nas suas avaliações,
comentários, aconselhamentos e, em particular, ao Professor
Doutor Delfim Leão, Docente da Faculdade de Letras da Uni-
versidade de Coimbra e Diretor do Centro de Estudos Clássicos
e Humanísticos (CECH), entidade magistral para divulgar
plúrimas análises na área a que se consagra.

27 de novembro de 2017
Reina Marisol Troca Pereira

12
1. Prolegómenos: Paradoxografia - Apreciações gerais

1. Prolegómenos:
Paradoxografia - Apreciações gerais

A obra Περὶ Θαυμασίων posiciona-se num ‘limbo’ literário


entre mito e razão (cf. παραδοξολογέω, ‘contar maravilhas’)1,
enquanto produto do sistema semiótico secundário, apresen-
tado como um registo (pseudo-)histórico de eventos fantásti-
cos2, supostamente testemunhados, donde o recurso a formas
declarativas como φησί,  φασίλέγει,  λέγεται. Exemplar de
paradoxografia 3, género4 criado no séc. III a.C., reflete um efeito
surpresa através de histórias recolhidas5.

1
Vd.   Ziegler 1949; Dodds 1973; D’Ippolito 1980; Hansen 1996;
Silva Sánchez 1996; Wenskus — Daston 2000; Thomas 2004.
2
Vd. Stramaglia 1999, 2006.
3
O vocábulo ‘paradoxógrafo’ pertence ao bizantino Tzetzes (H.
2.151), a propósito de Antémio de Trales. Cf. Giannini 1966.
4
Em termos semânticos, o género (cf. literatura do maravilho-
so - παράδοξος, ‘incrível’, ‘inesperado’, ‘contra a δόξα maioritária’;
παραδοξολογία - vd. Aeschin. 72.14; Plb. 3.47; παραδοξολογέω - vd. Strat.
13.4.5; D.S. 1.69; opostamente a ἔνδοξος, ‘esperado’. Cf. Pl. R. 472a), recor-
re a lexemas como θαῦμα (‘assombro’), θαυμάσιος, θαυμαστός, θαυμαστός,
παράδοξος, ἄπιστος (‘incrível’. Cf. lat. Mirabilia/Admiranda), ἴδιος (‘pe-
culiar’), τερατώδης, (τέρας/monstrum); περιττός; ἄξιος (vd. θέης ἄξιος,
λόγου ἄξιος, μνήμης ἄξιος). Ainda que a paradoxografia não configure
propriamente um género literário, a tradição retrata descrições assombrosas
/ recontos fantásticos sobre fenómenos naturais, que funcionam como expli-
cações assombrosas (cf. Antig. Mir. 60: καὶ πεπείραται ἐξηγητικώτερον
ἢ ἱστορικώτερον ἐν ἑκάστοις ἀναστρέφεσθαι, “e tenta tratar-se cada caso
de um modo mais explicativo do que descritivo”), à falta de interpretações
racionalistas (cf., a título ilustrativo sumário, Archil. fr. 122 West, a respeito
do eclipse solar de 648 a.C. Sobre a paradoxografia enquanto género literário,
vd. Cavallo 1975; Pugliara 2002; Ferrini 2003; Pajón Leyra 2011, 2012.
5
Vd. Jacob 1983; Schepens — Delcroix 1996; Troca Pereira 2016c.
Os paradoxógrafos, segundo Apolónio (6.7.3-4), não deveriam limitar-se
a reproduzir relatos assombrosos. A este propósito, importará considerar

13
Reina Marisol Troca Pereira

Na Antiguidade, a paradoxografia conta com diversos au-


tores, cujas obras, na sua maioria, se perderam, tendo chegado
à atualidade apenas a sua notícia. Considerando vários textos
desaparecidos6 , outros votados ao anonimato ou velados na
pseudoepigrafia7, outros remanescentes integralmente ou atra-
vés de fragmentos de transmissão direta ou indireta contidos
em manuscritos medievais, registam-se diversos momentos
na paradoxografia da Antiguidade. Desde logo, testemunhos
prévios, designadamente nas epopeias ditas homéricas e em
Hesíodo. Outros contributos prendem-se também com a colo-
nização grega desenvolvida no Mediterrâneo, c. séc. VIII a.C.,
e a historiografia jónia 8 . Assim, delimitam-se vários períodos no

termos como συναγωγή, ‘recompilação’ (e.g. Ἀριστοτέλους συναγωγῆς,


‘Recompilação de Aristóteles’ – vd. Arist. HA 9) e ἐκλογή, ‘seleção’, uma dis-
tinção nem sempre estritamente ativa (cf. Antig. Mir. 60. O paradoxógrafo
apresenta a sua obra como ἐκλογή, porém o título, no manuscrito Pal. Gr.
398, refere-a como συναγωγή: ᾿Ιστοριῶν παραδόξων συναγωγή, Com-
pilação de Histórias Admiráveis), para definir o trabalho do paradoxógrafo,
afinal uma fonte segunda, compiladora de aspetos alheios alegadamente
vivenciados e reportados por outros, trabalho que se inscreve no domínio
dos catálogos, ditos e anecdota alexandrinistas, recolhidos no Período
Helenístico. Vd. Susemihl 1891; Tarn — Griffith 1927; Merkelbach 1954;
Boissonade 1962. Porém, a exemplo de Antig. Mir. 26, a propósito do seu
trabalho sobre Ἀριστοτέλους συναγωγῆς, Recompilação de Aristóteles – vd.
Arist. HA 9 -, embora haja quem se classifique como autor de ἐκλογή, a
distinção entre ambos os termos parece ter-se dissipado, porquanto o título
constante no manuscrito Pal. Gr. 398 se assume como συναγωγή.
6
E.g. obras atualmente perdidas de Varrão, Logistorici: Gallus Fundanius
de Admirandis vel De Imaginibus de Forma Philosophiae (Plin. HN 31.12. Cf.
maravilhas de foro aquático referenciadas por diversos autores, que Plínio
recorda (HN 31.17-19); Cícero, sob o título Admiranda, A Propósito de Mara-
vilhas; Muciano (Muc.), Mirabilia. Vd. Schanz — Hosius 1979: 561; Pecere
— Stramaglia 1996: 429; Petersson 1963: 351 (paradoxografia romana);
Gabba 1981; Beagon 1992; Campbell 1991; Romm 1992; Ash 2007.
7
E.g. [Ps. Arist.], Περὶ θαυμασίων ἀκουσμάτων, De mirabilibus
auscultationibus; Paradoxographus Florentinus 218 (43 mirabilia). Vd.
Meursius 1622; Vanotti 2007.
8
Cf. cidades da Ásia Menor; os ataques de Dario; conhecimento
de zonas geográficas distantes, como a Índia; historiadores, a exemplo

14
1. Prolegómenos: Paradoxografia - Apreciações gerais

âmbito da paradoxografia: um primeiro momento, ainda no séc.


IV a.C.9, antes do período subsequente, no século III a. C.10;
depois, o período dos séculos III/II a. C.11; também os séculos

de Escílax de Carianda, Hecateu de Mileto, Xanto da Lídia, Heródoto,


Tucídides, Ctésias de Cnido (sobre Pérsia e Índia. Vd. Karttunen 1981),
Onesícrito, Nearco, Clitarco, Timeu, Antígono de Caristo, Filarco,
Dúris de Samos. Vd. Magnani 1992‐1993.
9
Vd. Éforo de Cime - séc. IV a.C. (e.g. Ἔφιππος, Ephippos); Teopompo
de Quios - séc. IV a.C. (e.g. Θαυμάσια, Thaumasia); Teofrasto - séc. IV/III
a.C. (e.g. Περὶ τῶν ἀθρόως φαινομένων ζῴων, Sobre animais que aparecem
em grupos); o físico Estratão de Lâmpsaco - séc. IV/III a.C. (e.g. Περὶ τῶν
ἀπορουμένων ζῴων, Acerca de animais cuja existência se questiona; Περὶ τῶν
μυθολογουμένων ζῴων, Sobre animais em mitos); além de diversos outros.
10
Vd. Calímaco de Cirene (e.g. Παραδόξων ἐκλογή/Θαυμάσια,
Seleção de Estranhos Eventos/Maravilhas); Antígono de Caristo (e.g.
Θαυμάσια, Maravilhas; ᾿Ιστοριῶν παραδόξων συναγωγή, Compilação
de Histórias Admiráveis. Cf. influência de Ps. Arist. Περὶ θαυμασίων
ἀκουσμάτων, Sobre os Prodígios Escutados; Call. Θαυμάσια, Maravilhas);
Bolo de Mendes (e.g. Χειρόμηκτα, Remédios Artificiais); Fílon de Heracleia
(e.g. Περὶ θαυμασίων, Sobre Maravilhas); Filostéfano Cireneu (e.g. Περὶ
παραδόξων ποταμῶν, A respeito de Rios Maravilhosos); Arquelau de Quer-
soneso (e.g. Ἰδιοφυή, Seres de natureza peculiar; Πeρὶ tῶν θaυµasίων,
Epigrammata de mirabilibus); Mirsilo (e.g. Λεσβιακά, Lesbiaka); Mónimo
(e.g. Θαυμασίων συναγωγή, Coleção de Contos Fantásticos); e a parado-
xografia Alexandrina, em Período Helenístico.
11
Vd. Apolónio de Rodes (cf. Ἀργοναυτικά, Argonautas; Γέγραφε
Καρικά, História de Cária; Περὶ ᾽Ορφέως καὶ τῶν τελετῶν αὐτοῦ, Sobre
Orfeu e os seus Ritos); Aristandro (e.g. Παράδοξα γεωργίας, Campos
Incríveis; Ἱστορίαι θαυμάσιαι, Recontos Maravilhosos); Lisímaco (e.g.
Θηβαικὰ παράδοξα, Maravilhas Tebanas); Ninfodoro; Pólemon (e.g.
Περὶ ποταμῶν, Sobre os Rios; Περὶ τῶν ἐν Σικελίᾳ θαυμαζομένων
ποταμῶν, Acerca de Rios Fantásticos na Sicília).

15
Reina Marisol Troca Pereira

II/I a.C.12; e ainda o Período Imperial (27 a.C. – 565 d.C.)13.

12
Vd. Agatárquides (e.g. Τῶν κατὰ τῆν Ἀσίαν, Acontecimentos da Ásia;
Τῶν κατὰ τῆν Εὐρώπην, Acontecimentos da Europa; Περὶ τῆς Ἐρυθρᾶς
θαλλάσσης, Sobre o Mar Vermelho; Ἐπιτομὴ τῶν συγγεγραφότων
θαυμασίων, Compêndio de Escritores de Maravilhas; Περὶ ἀνέμων
[ἀνθρώπων], Sobre ventos); Heraclides Lembo (e.g. Ἱστοριῶν παραδόξων
συναγωγή, Histórias Admiráveis); Isígono (e.g. Ἄπιστα, Coisas Inacredi-
táveis); Nicolau Damasceno, Παραδόξων ἐθῶν συναγωγή, Recolha de
usos e costumes admiráveis; Ἱστορία καθολική, História Universal; Ἐθῶν
συναγωγή, Compilação de Costumes); Diófanes.
13
Vd. Agatóstenes; Africano (e.g. Κεστοί, Kestoi); Alexandre (e.g.
Θαυμασίων συναγωγή, Coleção de Maravilhas); Arístocles; Flégon
de Trales (e.g. Ἔκφρασις Σικελίας, Descrição da Sicília; Περὶ τῶν ἐν
Ῥώμῃ τόπων, Topografia Romana; Περὶ τῶν παρὰ Ῥωμαίοις ἑορτῶν,
Sobre Festividades dos Romanos; Περὶ θαυμασίων, Fenómenos Assombro-
sos; Ἐπιτομὴ ὀλυμπιονικῶν, Catálogo de Vencedores Olímpicos; Περὶ
μακροβίων, Acerca de Vidas Longas); Damáscio; Hierão; [Plutarco],
séc. I/II (e.g. Περὶ ποταμῶν καὶ ὀρῶν ἐπωνυμίας καὶ τῶν ὲν αὐτοῖς
εὑρισκομένων, De fluviis); Eliano (e.g. Περὶ ζῴων ἰδιότητος, Acerca
de Características dos Animais); Luciano (e.g. Ἀληθῆ διηγήματα,
Histórias Verdadeiras); Protágoras (e.g. Γεωγραφία τῆς οἰκουμένης,
Geografia - esp. l.6); Sotion; Trófilo. Cf., outrossim, Cláudio Eliano,
séc. I /II (Περὶ ζῴων ἰδιότητος, De Natura Animalium); Antémio de
Trales, séc. V/VI (Περί παραδόξων μηχανημάτων, Sobre máquinas
fantásticas); no séc. XI, Pselo (Περὶ παραδόξων ἀκουσμάτων, Sobre
maravilhas escutadas). Cf., a propósito de produção literária do maravi-
lhoso disponível, Phot. Bibl. 130: Ἀνεγνώσθη Δαμασκίου λόγοι δ’, ὧν
ὁ μὲν πρῶτος ἐπιγραφὴν ἔχει περὶ παραδόξων ποιημάτων κεφάλαια
τνβ’, ὁ δὲ δεύτερος παραδόξων περὶ δαιμονίων διηγημάτων
κεφάλαια νβ’, ὁ δὲ τρίτος περὶ τῶν μετὰ θάνατον ἐπιφαινομένων
ψυχῶν παραδόξων διηγημάτων κεφάλαια ξγ’, ὁ δὲ τέταρτος καὶ
παραδόξων φύσεων κεφάλαια ρε’. Ἐν οἷς ἅπασιν ἀδύνατά τε
καὶ ἀπίθανα καὶ κακόπλαστα τερατολογήματα καὶ μωρὰ καὶ ὡς
ἀληθῶς ἄξια τῆς ἀθεότητος καὶ δυσσεβείας Δαμασκίου, ὃς καὶ τοῦ
φωτὸς τῆς εὐσεβείας τὸν κόσμον πληρώσαντος, αὐτὸς ὑπὸ βαθεῖ
σκότῳ τῆς εἰδωλολατρείας ἐκάθευδε. “Li uma obra de Damáscio,
em quatro livros, o primeiro dos quais, com 352 capítulos, intitulado
Acerca de Acontecimentos Incríveis; o segundo, com 52 capítulos, Acerca
de Incríveis Recontos de Demónios; o terceiro, com 63 capítulos, Sobre
Inacreditáveis histórias de Almas aparecidas após a Morte; o quarto, com
105 capítulos, Sobre Inacreditáveis Aspetos Naturais. Continham todos
recontos impossíveis, inacreditáveis, monstruosidades, feitos de insen-
satez, como se fossem verdades, dignos do homem ateu e ímpio que
foi Damáscio, o qual, quando a luz da piedade alumiava o mundo, se

16
1. Prolegómenos: Paradoxografia - Apreciações gerais

Pese embora algumas novidades e experiências científicas14


proporcionadas pelas conquistas de Alexandre Magno (e.g. es-
paços, rios, plantas, animais, pedras, meteorologia, etnografia),
o aproveitamento literário do maravilhoso e do fantástico15 conta
com alguma falta de explicações facultadas pela ciência16 , donde
a recuperação de certos testemunhos antigos e linhas de pen-
samento (e.g. estoicismo: Zenão, Antístenes). Faltando outras
justificações de índole mais racional, assiste-se à acumulação de

escondeu sob a profunda treva da idolatria.” Já na Era Cristã, o género


tem continuidade, com o retrato de mirabilia, não raro associados a
metamorfoses, proliferando também em contexto latino (e.g. Lucrécio;
Vitrúvio - cf. 8.3.4, 12, 14, 17; Ovídio - cf. Met. esp. 15; Séneca; Plínio
- cf. HN 2.230; Júlio Obsequente, Liber Prodigiorum).
14
Vd. Edelstein 1967.
15
A paradoxografia reflete conexões de grande proximidade com
outros géneros literários, designadamente com a novelística, já que, na
época bizantina (séc. III), influencia a novela helenística. Cf. também
apontamentos de mitografia e a literatura periégica, decorrente de péri-
plos diversos (vd. exploradores, e.g. Píteas de Messala; Ninfodoro de Si-
racusa, Περὶ τῶν ἐν Σικελίᾳ θαυμαζομένων, Sobre as Maravilhas na
Sicília; Περίπλοι, Périplos; Megástenes, Deímaco. Cf. África e Ásia).
Considerem-se Ath. 6.88, 7.118, 13.55, 89; schol. Od. 12.301. Importa
atentar no Manuscrito Palatinus Graecus 398 (séc. IX, Bibl. Universidade
de Heidelberg) como reunião coerente de algumas obras de cariz perié-
gico (fls. 11r-16v: Anónimo, Periplus Ponti Euxini; fls. 30v-40r: Flávio
Arriano, Periplus Ponti Euxini; fls. 40v-54v. Ps. Flávio Arriano, Periplus
maris Erythraei; fls. 55r-56r: Hanão de Cartago, Periplus. Cf. fls. 56v-59v:
Filo de Bizâncio, De septem orbis spectaculis) e paradoxográfico (fls. 216r-
-236r: Flégon Traliano, Mirabilia; fls. 236v-243r: Apolónio, Historiae
mirabiles; fls. 243v-261v: Antígono Carístio, Historiarum mirabilium col-
lectanea), além de temáticas e formas dispersas (sc. narrativas amatórias,
mitológicas, epístolas, natureza, geografia e história). Vd. Reitzenstein
1906; Sambursky 1963; Hägg 1983; Pajón Leyra 2009; Shannon 2013.
Cf. Gómez Espelosín — Pérez Largacha — Vallejo Girvés 1994.
16
Considere-se a investigação de Aristóteles e dos seus discípulos (cf.
Escola do Liceu. Vd. Teofrasto, Estratão de Lâmpsaco, Agatárquides de
Cnido, Nicolau de Damasco), em diversas áreas científicas, constituindo
fontes para a paradoxografia, juntamente com Calímaco (Pinakes), no
âmbito da Biblioteca de Alexandria.

17
Reina Marisol Troca Pereira

opiniões emergentes a partir da curiosidade, do exotismo17, das


preocupações e atrocidades. Procura-se, em termos gerais, vero-
similhança/plausibilidade (cf. ‘comum’, τὸ εἰκός; ‘plausível’, τὸ
πιθανόν, face à ‘verdade’, ἀλήθεια), esbatendo-se as fronteiras
entre verdade e ficção. Ainda assim, concomitantemente às
informações de plausibilidade tradicional (cf. εἰκός) contem-
pladas na literatura paradoxográfica e às lições proporcionadas
pela mitologia18, em toda a sua proficiência e com todo o seu
cariz simbólico, assiste-se a atitudes de racionalização19 de
mirabilia (logografia), através de interpretações/explicações/
formas de conhecimento histórico-científicas (cf. alegorismo)20;

17
Cf. a paradoxografia enquanto produto exótico, gerador de curiosi-
dade face a diferenças culturais, numa linha de confronto entre resistên-
cia e popularidade/populismo, também presente na literatura convivial/
de simpósio, conforme se depreende a partir do testemunho de Gell.
9.4 (e.g. Pl. Smp.; Gell. Noctes Atticae; Plutarco, Quaestiones conviviales;
Ateneu, Δειπνοσοφισταί, Deipnosophistai; Macróbio, Saturnalia 7. Cf.
a lista de Tzetzes, H. 7.621-760, contendo igualmente autores de teste-
munhos literários reduzidos a fragmentos). Cf. Wittkower 1942; Martin
1968; Vickers 1978; Vetta 1995; Hammer 2004; Matthäus 1999‐2000.
18
Importa considerar diversas fases no tocante ao tratamento da
mitologia. Por um lado, como um ramo da genealogia, historiografia
ou filosofia. Assim Xenófanes, séc. VI a.C.; Hecateu, final séc. VI a.C.,
Genealogias; Teágenes de Régio, séc. VI a.C., tratando os deuses como
personificações de qualidades (cf. faltas também) ou elementos morais;
Acusilau, Ferécides; Helânico. Numa segunda fase, o tratamento do mito
de forma racionalista ou pragmática (Evémero. Cf. Paléfato, Heraclito)
e alegórica, pretendendo vislumbrar mais num mito do que a história
parece aparentar à primeira vista; alterações motivadas por questões
literárias e continuado por filósofos do final do século VI a.C. (Estesí-
coro, Xenófanes) [Estesícoro filósofo?]. Vd. Protágoras; Pródico de Ceos;
filósofos estoicos, cínicos (método alegórico); Heródoto; Herodoro (mé-
todo pragmático). Já no Período Helenístico, constata-se que os autores
se limitam mormente a compilar, não a interpretar. Vd. Eratóstenes,
Parténio, Cónon, Antonino Liberal; no cenário latino, Higino e Ovídio.
19
Vd. Wipprecht 1902. Sobre ‘racionalização’, ‘desmistificação’, vd.
Miller 2014.
20
Cf., numa aceção racionalista, ‘mito’ enquanto erro/mal-entendido
da história, corrigido por força de disciplinas científicas/domínios do

18
1. Prolegómenos: Paradoxografia - Apreciações gerais

ἀνέκδοτα (factos pouco conhecidos, não publicados, não


atribuídos); teorias de evemerismo21; alegoria e etimologia 22 .
Aliás, o entendimento do mito, como veículo ligado ao mara-
vilhoso (cf. Arist. Metaph. 1.982b: ὁ γὰρ μῦθος σύγκειται ἐκ
θαυμασίων, “na realidade, o mito é composto de maravilhas”),
permitindo a consciêncialização da ignorância, proporciona
um incremento filosófico23. Importa, além disso, contemplar a
apreciação de acontecimentos e fenómenos eventuais aparente-
mente inexplicáveis do ponto de vista científico/racional - uns
alegadamente fruto de determinações do destino/divinas, outros

saber - maioritariamente do foro da Natureza, nos quais se imiscui (viz.


história, filosofia, geografia, zoologia, botânica, meteorologia; zoologia;
orologia; hidrografia, entre outros). Mais ainda, em termos generalistas,
poderá encontrar-se algum relacionamento entre historiografia, na sua
dimensão etnográfica; os estudos do Liceu (cf. Aristóteles; Teofrasto) e
paradoxografia/mirabilia (cf. Hdt. 1.1). Vd. Wehrli 1892; Pépin 1958;
Mueller 1972; Lloyd 1973; Sordi 1987; Callebat 1988; Barnes 1994;
García Moreno 1994; Gómez Espelosín 1996.
21
Cf. teoria racionalista de Evémero, no século IV a.C. Consideram-se
as divindades enquanto divinização de heróis, após a sua morte. Assim,
cidadãos comuns, como Menécrates; suseranos com hábito de elevar-se
com títulos divinos - Clem. Al. Protr. 4.54.3: Καὶ οὔτι γε βασιλεῖς μόνον,
ἀλλὰ καὶ ἰδιῶται θείαις προσηγορίαις σφᾶς αὐτοὺς ἐσέμνυνον, “Tan-
to reis como pessoas privadas exaltavam-se, intitulando-se a si mesmos
deuses”. Também a nobilitação de pessoas e localidades através de uma
linha genealógica de cariz mitológico, como as casas dos tantálidas (de
Tântalo), estafilina (de Estáfilo), toante (de Toas), maronesa (de Máron),
a dinastia de Ptolomeu, alegadamente descendente de Diónisos; ou ainda
o historiador Hecateu, que postulava pertencer à décima geração de um
ramo parental de proveniência mitológica, segundo relata Hdt. 2.143.
Cf. Vaillant 1701: 564-598; Langer 1926; Spyridakis 1968, a propósito
do evemerismo; Mattiussi 1988; Burkert 1992: 96-99; Dowden 2006:
99-106; Honigman 2009; Némethy 2010 [1889]; Troca Pereira 2013b;
Winiarczyk 2013: 140; Hawes 2014: 137.
22
Cf. racionalização de figuras divinas; encontrar a ὑπόνοια do mito
(Pl. R. 378d), ou seja, o subentendido do mito (ἀλληγορία); desfazer
equívocos/confusões vocabulares. Vd. Hes. Th. 144-145, 197-199. No
oposto, cf. Cic. N.D. 1.36-37, 3.39-40. Vd. Palaeph. 7, 15, 20, 24. Cf. 1,
9, 19. Veja-se Wipprecht 1892; Schraeder 1894.
23
Vd. Bandinelli 1977.

19
Reina Marisol Troca Pereira

como milagres24 . Assim, explanações de cariz religioso sobre os


assombros.
No global, reconhece-se, na multiplicação de escritos de
cariz paradoxográfico, o mesmo equivale a afirmar, no âmbito
do tétrico fantástico, assombroso, demoníaco25 e macabro, um
deleite popular generalizado26 , que tardiamente Fócio (Bibl.
130) descreve, partindo de Damáscio de Alexandria (séc. V/VI),
numa época em que a idolatria pagã parecia cobrir a piedade
cristã, num fôlego de vitalidade resistente.

24
Cf. milagre, transversalmente a credos clássicos (e.g. curas medici-
nais; Asclépio) e ao paradigma judaico-cristão, ligando-se à hagiografia;
recontos de poltergeist (poltergeist – ‘espírito ruidoso’; aparições - εἴδωλον
-(Ϝ)εἶδος, ‘forma’, εἴδω, ‘ver’, perf. οἶδα – subst. ὄψις; εἴδομαι, ‘parecer’;
ψυχή, σκιά, ἴνδαλμα, φάσμα / φάντασμα. Cf. φάω, φαίνω, ‘ver’ / mons-
trum, manes, umbra, effigies, simulacrum, imago); magia, tautologia e até
a crendices populares sacrílegas/apóstatas; superstições (vd. Petron. 62);
cobardice (perante o sobrenatural). Partindo da imortalidade da alma,
vd. orfismo, estoicismo, Od. 11.219-222; Pl. Men. 81b, experiências de
quase-morte; sonhos, omina, fraudes; remorso; justiça; religiosidade
(cerimónias místicas/propiciatórias a entidades ctónicas vd. Thphr. Char.
16.1-2); monstruosidades e magia (cf. Pselo 72‐74). Vd. Alderink 1981;
Lateiner 1989; Gager 1992; Kingsley 1995; Mudry 2004; Patera 2014;
Petsalis-Diomidis 2010: 153.
25
Vd. Bremmer 2012.
26
Cf. Pecere — Stramaglia 1994; Schepens — Delcroix 1996.

20
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

2. Flégon: considerações biográficas de um


paradoxógrafo

Protagonista de uma vivência tão rica quanto complexa,


Flégon27, julgando a partir do retrato bizantino condensado na
enciclopédia Suda (φ527)28, natural de Trales, no atual território

27
Moisés de Corene, historiador arménio do século V (História da
Arménia 2.13, onde transcreve - sem reproduzir o alegado espécime gre-
go, nem mencionar a fonte - um excerto de Flégon sobre o rei dos Partos,
Ardaques, o que, segundo Pajón Leyra 2012: 150, poderia relacionar-se
com Mir. 3), menciona o historiador Flélton, provavelmente um erro dos
copistas, segundo Victor Langlois 1869: 87, que traduz o texto, grafando
“Phléton (Phlégon)”. Vd. Stearns 1908.
28
A enciclopédia é parca nas informações transmitidas, embora
nela conste a referência a obras atualmente perdidas, como Ἔκφρασιν
Σικελίας (Descrição da Sicília), Περὶ τῶν παρὰ Ῥωμαίοις ἑορτῶν (Dos
Festivais dos Romanos), Περὶ τῶν ἐν Ῥώμῃ τόπων καὶ ὧν ἐπικέκληται
ὀνομάτων (Topografia e Onomástica de Roma), Ἐπιτομὴν ὀλυμπιονικῶν
(Epítome dos Vencedores Olímpicos) e se sinta algum desconforto na gestão
entre o pagão e o cristão. Importará, outrossim, constatar a divergência
de opiniões quanto à pertença de Flégon - se a Augusto ou a Adriano,
pese embora a inexistência de comentário face ao facto de Augusto ter
falecido no ano 14, o que adulteraria em muito a cronologia associada
ao Traliano. Eis pois φ527: Φλέγων, Τραλλιανός, ἀπελεύθερος τοῦ
Σεβαστοῦ καίσαρος, οἱ δὲ Ἀδριανοῦ φασιν: ἱστορικός. ἔγραψεν
Ὀλυμπιάδας ἐν βιβλίοις ιϝ’: ἔστι δὲ μέχρι τῆς σκθ# ὀλυμπιάδος τὰ
πραχθέντα πανταχοῦ: τὰ δὲ αὐτὰ ἐν βιβλίοις η’: Ἔκφρασιν Σικελίας,
Περὶ μακροβίων καὶ θαυμα- σίων, Περὶ τῶν παρὰ Ῥωμαίοις ἑορτῶν
βιβλία γ’, Περὶ τῶν ἐν Ῥώμῃ τόπων καὶ ὧν ἐπικέκληνται ὀνομάτων,
Ἐπιτομὴν ὀλυμπιονικῶν ἐν βιβλίοις β’, καὶ ἄλλα. τούτου τοῦ
Φλέγοντος, ὥς φησι Φιλοστόργιος, ὅσον τὰ κατὰ τοὺς Ἰουδαίους
συμπεσόντα διὰ πλείονος ἐπεξελθεῖν τοῦ πλάτους, Φλέγοντος καὶ
Δίωνος βραχέως ἐπιμνησθέντων καὶ παρενθήκην αὐτὰ τοῦ οἰκείου
λόγου ποιησαμένων. ἐπεὶ τῶν γε εἰς εὐσέβειαν καὶ τὴν ἄλλην ἀρετὴν
ἑλκόντων οὐδ’ ὁτιοῦν οὐδ’ οὗτος δείκνυται πεφροντικώς, ὅνπερ οὐδ’
ἐκεῖνοι τρόπον. τοὐναντίον μὲν οὖν ὁ Ἰώσηπος καὶ δεδοικότι ἔοικε
καὶ εὐλαβουμένῳ ὡς μὴ προσκρούσειεν Ἕλλησι. “Flégon, de Trales.
Liberto de Augusto César, embora alguns refiram Adriano [viz. Vopisco
Saturnino 7; Phot. Bibl. 97]: historiador. Redigiu Olimpíadas, em 16
livros. Até à 229ª Olimpíada contém o que se fez em toda a parte. E
estas [obras] em 8 livros: Descrição da Sicília, Sobre Vidas Longas, Sobre as

21
Reina Marisol Troca Pereira

turco de Aydın, destacou-se como autor de uma vasta obra 29, em


grego, cuja singela e exígua porção remanescente se traduz neste
livro, designadamente Περὶ Θαυμασίων (Sobre Maravilhas),
fragmentos de Περὶ Μακροβίων (Acerca de Vidas Longas) e Περὶ
τῶν ᾿Ολυμπίων (Sobre as Olimpíadas).
São escassas as informações referentes à biografia de Flégon30,
além de ter sido trazido como escravo da localidade da Cária
(Lídia), na Ásia Menor, por Públio Élio Adriano, tornando-se
um libertus letrado31 desse Imperador, sob o nome de Públio
Élio Flégon, no século II.

Festas dos Romanos - 3 livros, Sobre os lugares em Roma e os nomes por que
são chamados, Epítome dos vencedores olímpicos, em dois livros, e outras
coisas. Sobre este Flégon, conforme refere Filostórgio para reportar com-
pletamente ao pormenor o que aconteceu com os Judeus, ao passo que
Flégon e Dío mencionaram brevemente e fizeram deles um apêndice das
suas narrativas. Uma vez que este indivíduo não exibe prudentemente os
que conduzem à piedade e outras virtudes, tal como os outros também
o não fazem. José, pelo contrário, é como alguém que teme e cuida para
não ofender os Gregos [pagãos].” Cf. Filostórgio, História Eclesiástica 1.1.
Vd. Hansen 1998.
29
Vd. Schöll 1824; Santoni 2000; Brodersen 2002b; Samson 1989.
30
Cf., a título ilustrativo, Tillemont 1691: 266-268.
31
Importa considerar, na Roma de um período de helenização, após
a conquista militar da Grécia, algumas notas de anti-helenismo, num
sentido seguido por Catão, o Antigo (ou Censor, séc. III/II a.C.), ou seja,
condenando uma aculturação extrema. Cf., mais próximo de Flégon no
tempo, Juvenal (séc. I/II), ao dar voz a críticas de tom discriminatório
e xenófobo próprio das civilizações da Antiguidade Clássica, mediante
as quais todo o cidadão externo se integra na ‘barbárie’. Aproveita, em
particular, o uso de cativos recolhidos sobretudo em zonas mais orientais
do Império Romano, como sendo gregos. Vd., neste sentido, excertos
da terceira sátira (60-61, 69-71). Cf., de igual modo, ainda que com
justificadas reservas, algum intuito da obra de Flégon, condicente com
a Segunda Sofística Romana (autores gregos, desde Nero até c. 250). Vd.
Anderson 1993; Whitmarsh 2013; König 2013.

22
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

2.1. Flégon: um pagão sob olhares cristãos


Na generalidade, Flégon deverá contemplar-se como uma
figura que viveu numa fímbria transitória, espelhando32 de certa
forma a hegemonia imperial romana 33 sobre territórios orientais.
Por um lado, segundo a mencionada Suda, passou de escravo
a liberto. Portador de notável cultura, pela habilidade literária
manifestada, refletiu perspetivas, dúvidas e incongruências de
quem passou por um período de transição entre o paradigma
clássico e o judaico-cristão, deveras difundido no governo de
Adriano, conforme denota Eusébio, Pamphili Praeparationis
Evangelicae 4.17: μέχρι τών Αδριανού χρόνων [...] Οὗτος
δὴ μάλιστα ἦν ὁ χρόνος, καθ’ ὃν ἡ σωτήριος εἰς πάντας
ἀνθρώπους ἤκμασε διδασκαλία. “No tempo de Adriano [...], a
religião cristã floresceu diante de todos os homens”. Em termos
latos, Flégon prima por reportar-se ou pelo menos aproximar-se,
tanto quanto possível, da sua atualidade. Nesse sentido, parece
continuar a seguir traços do contingente tradicional pagão,
que marcava também outros paradoxógrafos contemporâneos.
De facto, pela obra, a sua atividade posiciona-o como histo-
riador. Todavia, reproduz o assombro da mudança certamente
comum à época, o que o liga literariamente à paradoxografia.
Acumulavam-se descobertas a vários níveis e multiplicavam-se
explicações - umas racionais/científicas, que procuram desfazer
medos e clarificam; outras, religiosas. Neste foro, porém, as
crenças diversificam-se, desde recontos tradicionais, imbuídos
de mitologia e ramificações filosóficas, à nova crença, que des-
constrói tradições pagãs e reconstrói as artérias filosóficas em
que vem a encontrar assento34 . Deste panorama, importaria

32
Cf. Vernant 1980; Rudhardt 1992.
33
Vd. Chaudon 1737-1817.
34
Cf. Nash 2003.

23
Reina Marisol Troca Pereira

verificar o que corresponderá à crença pessoal de Flégon e (ou)


à gestão prudente do seu material literário, face ao contexto que
o circundava e determinaria a exposição de certas perspetivas.

2.1.1. Flégon e a Paixão de Cristo: corruptelas intencionais


São vários os autores que recordam afirmações de Flégon em
relação a Cristo. Convém inferir, por um lado, a importância e o
reconhecimento social tidos pelo Historiador, entre os seus con-
temporâneos; por outro lado, considerar a forma como Flégon,
nas suas observações, gere a informação, conjugando aspetos
como crença, religião, milagre e assombro. Em comum, as alu-
sões referem um episódio de escuridão súbita registado por di-
versos autores35. Flégon, neste assunto, não introduziu nenhum
facto novo, limitando-se a engrossar o número dos relatores a
posteriori. Todavia, a consideração dessa obscuridade36 como um
eclipse, a julgar pelos fragmentos de que dispomos, não é feita
por Flégon37. De igual modo, constata-se, da parte dessas fontes

35
Cf. Lardner 1764: 374, mediante o qual Tertuliano (Apol. 21) é a
mais vetusta fonte literária a relatar o evento, não nomeando Flégon (cf.
Huet, Dem. Ev. Prop. 3.8; Grotius, De Verit. Rel. Christ. 1.3.14), mas
quiçá baseando-se no registo remetido por Pôncio Pilatos ao Imperador:
Eodem momento dies medium orbem signante sole subducta est. Deliquium
utique putauerunt qui id quoque super Christo praedicatum non scierunt.
Et tamen eum mundi casum relatum in arcanis [al. archivis] vestris habetis.
“Nessa ocasião, ao meio-dia, houve uma grande escuridão. Pensaram
tratar-se de um eclipse, eles que não sabiam que isto foi previsto no
tocante a Cristo. E alguns negaram-no, desconhecendo a causa de tal
escuridão. E não obstante, tendes este notável acontecimento registado
no teu arquivo”.
36
Vd. Steele 2012. Cf. Tertuliano, Apologeticum 21.18-20, sobre o
eclipse e quem, desconhecendo as profecias, julgou sobre a impossibilida-
de da sua ocorrência, mediante as leis da Natureza. Ainda assim, o relato
foi conservado. Sobre a ‘escuridão’, vd. Anonymus 1733.
37
Considerem-se, ainda assim, notas e contestações sobre a ‘escu-
ridão’ recordadas em bibliografia oitocentista: Sykes 1732, 1733, 1734;
Wilmot 1733; Dawson 1734; Chapman 1735. Cf. Whiston 1734.

24
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

posteriores ao Traliano, a preocupação em associar o suposto


‘eclipse’ à crucificação de Cristo, qual alegoria, remetendo para
uma ‘rebelião’ dos elementos da Natureza 38. Incluem-se, entre os
testemunhos desse teor, o equevo Orígenes (séc. II/III), Eusébio
de Cesareia (séc. III/IV), o gramático de Alexandria Filópono
(séc. V/VI) e Malalas (séc. VI/VII).

a. Orígenes
Sem citar diretamente o apontamento de Flégon, o grego
Orígenes Adamâncio dá conta da notícia do Traliano, com um
pendor crítico notoriamente faccioso, da parte de um teólogo face
a um pagão. Logo de início, ressalta de Orígenes um conhecimen-
to, quiçá generalizado, sobre a obra de Flégon, que menciona de
memória, porquanto incapaz de creditar com exatidão a informa-
ção na obra de Flégon, ainda que tenha reiterado a alusão - “livro
treze ou catorze das Crónicas”39. Eis, seguidamente, a passagem

38
Cf. alguma preocupação propagandística no relato de assombros
miraculosos. Vd., nesse sentido, o relato de Dio Cássio 71.9, relativo ao
recurso de Marco Aurélio (ano 172) ao grupo de Cristãos (legio XII: legio
fulminata) que integravam a sua tropa, face a uma derrota quase inevitá-
vel, sendo conhecido que o Deus cristão acedia ao pedido dos seus fiéis,
donde os raios e a chuva que se abateriam sobre os inimigos. Eis, ἀλλ᾿ οἱ
῾´Ελληνες, ὅτι μὲν τὸ τάγμα κεραυνοβόλον λέγεται, ἴσασι καὶ αὐτοὶ
μαρτυροῦσι, τὴν δὲ αἰτίαν τῆς προσηγορίας ἥκιστα λέγουσι. “Mas os
Gregos, embora soubessem que a divisão se chamava ‘fulminada’ e eles
mesmos tivessem assistido ao evento, não dizem nada acerca da razão do
seu nome.” Subentende-se, assim, a existência de um confronto entre a
divindade que garantia a soberania romana (Júpiter) e a divindade cristã
(Deus), com a primazia desta última. Já com autores assumidamente
cristãos, a questão assume contornos miraculosos, obtidos graças a preces
dos cristãos, conforme terá reconhecido o próprio Imperador Marco
Aurélio (Tert. Apol. 5. Cf. Eus., Historia Ecclesiastica 5.5). Vd. Charles
— Demy 2010.
39
Cf. Cels. 2.14 e, adiante, 2.33: Περὶ δὲ τῆς ἐπὶ Τιβερίου Καίσαρος
ἐκλείψεως, οὗ βασιλεύοντος καὶ ὁ Ἰησοῦς ἔοικεν ἐσταυρῶσθαι, καὶ
περὶ τῶν μεγάλων τότε γενομένων σεισμῶν τῆς γῆς ἀνέγραψε καὶ
Φλέγων ἐν τῷ τρισκαιδεκάτῳ ἢ τῷ τεσσαρεσκαιδεκάτῳ οἶμαι τῶν

25
Reina Marisol Troca Pereira

em Contra Celsum 2.14 (cf. FGrHist 16e):

Φλέγων μέντοι ἐν τρισκαιδεκάτῳ ἢ τεσσαρεσκαιδεκάτῳ


οἶμαι τῶν Χρονικῶν καὶ τὴν περί τινων μελλόντων
πρόγνωσιν ἔδωκε τῷ Χριστῷ, συγχυθεὶς ἐν τοῖς περὶ
Πέτρου ὡς περὶ τοῦ Ἰησοῦ, καὶ ἐμαρτύρησεν ὅτι κατὰ τὰ
εἰρημένα ὑπ’ αὐτοῦ τὰ λεγόμενα ἀπήντησε. Πλὴν κἀκεῖνος
καὶ διὰ τῶν κατὰ τὴν πρόγνωσιν ἄκων ὡσπερεὶ οὐ κενὸν
θειοτέρας δυνάμεως ἀπεφήνατο εἶναι τὸν ἐν τοῖς πατράσι
τῶν δογμάτων λόγον.

“Flégon, no décimo terceiro ou décimo quarto livro, ao que


julgo, das Crónicas, não apenas atribuiu a Cristo um conhe-
cimento de eventos futuros, embora confundindo algumas
coisas referentes a Pedro40, como se se referissem a Jesus, mas
também declarou que o resultado correspondeu às previsões
Dele. Assim, ele também, através das previsões relativamente
ao futuro, como que forçado, deu a sua opinião de que as dou-
trinas ensinadas pelos padres do nosso sistema não estavam
arredadas de poder divino.”

Orígenes atribui ao historiador grego tónicas de cristianismo


alegadamente reportadas a contragosto (ἄκων), o que, liminar-
mente, afasta qualquer possibilidade de imaginar uma conver-
são de Flégon ao novo credo. Na realidade, Orígenes apenas faz
convergir claramente o eclipse e os abalos sísmicos no tempo de
Tibério com a crucificação de Jesus, adscrevendo tal associação

Χρονικῶν. “E relativamente ao eclipse no tempo de Tibério César, em


cujo reinado Jesus parece ter sido crucificado, e aos grandes sismos que
então tiveram lugar, também Flégon, ao que julgo, escreveu, no décimo
terceiro ou décimo quarto livro das Crónicas.”
40
Teria sido confusão de Orígenes referir Pedro em detrimento de
Jesus. Cf. Lardner 1764: 128.

26
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

a Flégon41, o mesmo já não se repetindo em 2.33.


Não obstante as diferenças, Orígenes (2.59) reconhece a
credibilidade de Flégon42, apoiando-se, quando necessário, nas
declarações do Traliano a respeito dos fenómenos naturais ocor-
ridos aquando da crucificação de Cristo, já que alguns julgavam
tratar-se de uma invenção dos Cristãos:

οἴεται δὲ τετρατείαν εἶναι καὶ τὸν σεισμὸν καὶ τὸν σκοτον·


περὶ ὧν, κατὰ τὸ δυνατὸν, ἐν τοῖς ἀνωτέρω ἀπελογησάμεθα,
παραθέμενοι τὸν Φλέγοντα, ἱστορήσαντα κατὰ τὸν χρόνον
τοῦ πάθους τοῦ σωτῆρος τοιαῦτα ἀπηντηκέναι.

“Ele [Judeu] também julga que tanto o sismo como a escuridão


eram uma invenção. Acerca disso, fizemos, nas páginas anteriores,
a nossa defesa, de acordo com a nossa possibilidade, acrescentan-
do o testemunho de Flégon, que relata que estes acontecimentos
sucederam na altura do sofrimento do Salvador.”

Na realidade, há que destacar posições distintas

41
Sobre a afirmação de Flégon acerca dos poderes de Cristo usados
no auxílio de outros, vd. Orígenes, Cels. 2.14. Cf. Jarvis 1845: 419-427.
42
Ainda mais tardiamente, as afirmações de Flégon parecem persistir
com similar credibilidade. Cf., pois, as palavras em árabe de Agápio, História
do Mundo 10, séc. X/XI, na tradução de Shlomo Pines 1971: 7-8: “[Al-
-Maribijï] afirmou: encontrámos em muitos livros dos filósofos que referem
o dia da crucificação de Cristo e que se espantaram com isso. O primeiro é o
filósofo Iflaßn, que afirma, no décimo terceiro capítulo da obra que escreveu
acerca dos reis: «no reinado de [Tibério] César, o sol escureceu e tornou-se
noite por nove horas; e as estrelas apareceram. E houve um grande e violento
tremor de terra em Niceia e em todas as cidades próximas. E aconteceram
coisas estranhas.” O excerto ganha pertinência neste ponto ao considerar-se
a n.r. 7 de Pines 1971, mediante a qual Iflätün corresponde a ‘Platão’, uma
referência anacrónica, quiçá uma confusão do escriba, com ‘Phlegon’. Em
termos semânticos, embora Flégon não fosse necessariamente reconhecido
como filósofo, as restantes informações quanto aos fenómenos naturais
irregulares foram de facto transmitidas pelo Traliano.

27
Reina Marisol Troca Pereira

concomitantes, face a uma linha exegética cristã maioritária


e perene ao longo de séculos, relativamente a afirmações de
Flégon. Assim, a exposição de Júlio Africano43 (séc. II/III),
em Chronographiae 18.1(2), transcrita por Sincelo (séc. IX)44:
Ἀφρικανοῦ περὶ τῶν κατὰ τὸ σωτήριον πάθος καὶ τὴν
ζωοποιὸν ἀνάστασιν:

Καθ’ ὅλου τοῦ κόσμου σκότος ἐπήγετο φοβερώτατον,


σεισμῷ τε αἱ πέτραι διερρήγνυντο καὶ τὰ πολλὰ Ἰουδαίας
καὶ τῆς λοιπῆς γῆς κατερρίφθη. Τοῦτο τὸ σκότος ἔκλειψιν
τοῦ ἡλίου Θάλλος ἀποκαλεῖ ἐν τρίτῃ τῶν ἱστοριῶν, ὡς ἐμοὶ
δοκεῖ, ἀλόγως. Ἑβραῖοι γὰρ ἄγουσι τὸ πάσχα κατὰ σελήνην
ιδ΄, πρὸ δὲ μιᾶς τοῦ πάσχα τὰ περὶ τὸν σωτῆρα συμβαίνει.
Ἔκλειψις δὲ ἡλίου σελήνης ὑπερλθούσης τὸν ἥλιον
γίνεται· ἀδύνατονδὲ ἐν ἄλλῳ χρὀνῳ, πλὴν ἐν τῷ μεταξύ
μιᾶς καὶ τῆς πρὸ αὐτῆς κατὰ τὴν σύνοδον αὐτὴν ἀποβῆναι.
Πῶς οὖν ἔκλειψις νομισθείη κατὰ διάμετρον σχεδὸν
ὑπαρχούσης τῆς σελήνης ἡλίῳ; ἔστω δή, συναρπαζέτω
τοὺς πολλοὺς τὸ γεγενημένον καὶ τὸ κοσμικὸν τέρας ἡλίου
ἔκλειψις ὑπονοείσθω ἐν τῇ κατὰ τὴν ὄψιν πλάνῃ. Φλέγων
ἱστορεῖ ἐπὶ Τιβερίου Καίσαρος ἐν πανσελήνῳ ἔκλειψιν
ἡλίου γεγονέναι τελείαν ἀπὸ ὥρας σʹ μέχρις θʹ, δῆλον ὡς
ταύτην. τίς δ’ ἡ κοι νωνία σεισμῷ καὶ ἐκλείψεσι, πέτραις
τε ῥηγνυμέναις καὶ ἀναστάσει νεκρῶν, τοσαύτη τε κίνησις
κοσμική;

43
Cf. Jacoby 1954: §256 (Thallus); Allison 2005: 91.
44
Também Sincelo, Ecloga Chronographica 391 reputa ao liberto de
Adriano de nome Flégon, autor de um Sylloge Olympionicarum et Chro-
nicorum, a ocorrência de um eclipse solar portentoso, c. da sexta hora
do dia (c. 10/11h), no segundo ano da ducentésima segunda Olimpíada,
aquando do governo de Tibério César e coincidente com a crucificação
de Cristo. Vd. FGrHist 16b.

28
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

“Uma escuridão terrível abateu-se sobre todo o mundo, as


rochas ficaram despedaçadas por um tremor de terra e muitos
lugares, quer na Judeia quer no resto do mundo foram destru-
ídos [cf., unicamente, sem corroboração, Mt. 27:51-53]45. No
terceiro livro de Histórias, Talo46 chama esta escuridão de eclipse
solar [FGrHist 256 F 1], sem razão, ao que julgo. Com efeito, os
Hebreus celebram a Páscoa [Judaica] na Lua 14, e o que sucedeu
ao Salvador aconteceu um dia antes da Páscoa [Ex. 12:6; Jo
19:31]. Porém um eclipse do sol ocorre quando a lua passa sob
o sol. A única ocasião em que isto pode suceder é no intervalo
entre o primeiro dia de lua nova e o último dia da lua antiga,
quando eles estão em conjunção. Então, como poderia alguém
acreditar que um eclipse aconteceu quando estava quase oposta
ao sol? Seja. Deixe-se que o ocorrido entretenha as massas e
que este magnífico sinal ao mundo seja considerado um eclipse
solar através da ótica. Flégon [FGrHist 257 F 16] afirma que,
durante o governo de Tibério César houve um eclipse solar total
na lua cheia, da sexta à nona hora: é evidente que seja este47.

45
Historicamente, não há notícia, nos primeiros anos da Era de
Cristo, de sismos tão devastadores (cf., anteriormente, o grande sismo de
Jericó, 31 a.C.). Cf. Williams — Schwab — Brauer 2012. Porém, alguns
autores apresentam provas de ocorrência sísmica na zona do Mar Morto,
designadamente sedimento laminado (aragonite e sílica), em exposição
em Wadi Ze’elim, datando as fissuras de c. 65 anos (± 5 anos) após o
terramoto de 31 a.C., o que validaria o sismo de sexta-feira, 3 de abril de
33 (cf. Mt. 27:51-54; no dia 5 de abril, junto ao túmulo, Mt. 28:2). Vd.
Austin 2010.
46
Sobre a identidade deste autor, cujo antropónimo necessita de
desambiguação, seria ele um liberto samaritano de Tibério? Poderá Talo
ter escrito depois de Flégon? Eis uma questão sem esclarecimento cabal.
Em termos gerais, recorda-se como autor do séc. I (cf. Mc. 15:33), cuja
obra (e.g. história, desde a queda de Troia, até à Olimpíada 167 - 112-109
a.C.) não subsistiu. Cf. Rigg 1941; Carrier 2011-2012. Sobre Flégon e o
eclipse reportado por Talo, vd. Routh 1814: 335-338; Hall 1913: 193-197;
Miévis 1934; Renehan 1969: 36 §32; West 1973: 28; Marcovich 1994.
47
A tratar-se do mesmo, seria no 15º ano de Tibério / 1º da 202ª
Olimpíada, o sismo de 24 de novembro de 29.

29
Reina Marisol Troca Pereira

Mas o que têm os eclipses a ver com um tremor de terra, rochas


a separarem-se, a ressurreição dos mortos e uma perturbação
universal deste tipo?”

O comentário dessacraliza e racionaliza o evento também


retratado por Flégon, entre outros, aproveitado e aumentado no
âmbito do Cristianismo48 . Face aos fenómenos ocorridos aquan-
do do governo de Tibério, censura o suposto eclipse relatado por
Talo. A insurreição de Africano aparece justificada com vivaci-
dade. Interpreta eclipse e sismo como elementos maravilhosos/
cientificamente impossíveis49 de um retrato populista sob um
prisma judaico-cristão, que permite uma ligação e o seu enten-
dimento abusivo como sinais de alegoria filosófico-religiosa,
suscitando topoi regulares da Cristandade50, como ressurrei-
ção51 e simpatia universal, qual reação da Natureza revoltosa

48
Vd. Prigent 1978.
49
O Africano racionaliza a ocorrência anormal de escuridão, ape-
lidada de ‘eclipse solar’ erradamente, em virtude da impossibilidade da
ocorrência de um eclipse no perigeu da lua / lua cheia, situação que se
verificava na Páscoa. Vd. Carrier 1998.
50
Cf., a propósito de Flégon e do filósofo Ür.s.y.w.s., o sírio do século
XII Miguel, I, pp. 143-144. Vd. adiante, Pines 1971, com referência a
Miguel, na tradução de p. 52, n. 184, focando a alusão de Flégon, em
Olimpíadas, ao escurecimento prolongado e a sismos. Embora refira Flé-
gon como secular, coloca o Traliano a referir eventos de um contexto cris-
tão, designadamente, na sexta-feira de Páscoa, com o reviver de mortos:
“Flégon, um filósofo profano, escreveu assim: O sol obscureceu e a terra
tremeu; os mortos ressuscitaram, entraram em Jerusalém e amaldiçoaram
os Judeus. Na obra que escreveu sobre os tempos das Olimpíadas, referiu,
no livro 13, «no quarto ano da terceira Olimpíada [certamente corrup-
tela] houve um escurecimento na sexta hora do dia, uma sexta-feira, e as
estrelas apareceram. Niceia e toda a região da Bitínia foram estremecidas
e muitos outros lugares foram derrubados.” Vd. Chabot 1899.
51
Sendo matéria de discussão a alusão à ressurreição de mortos e,
consequentemente, a integração de Cristo nesse lote, Flégon aludiu à
ressurreição de uma jovem logo no primeiro capítulo da sua obra pa-
radoxográfica Mirabilia. Cf. autores tardios, do séc. II, votados a essa
temática, viz. Atenágoras, De Resurrectione Mortuorum; Tertuliano, De

30
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

e simpática face ao sofrimento (cf. neoestoicismo). Em suma,


as palavras de Júlio Africano legadas por Sincelo transmitem
uma crítica que se pretende afastada de facciosismos religiosos
na interpretação de sinais naturais, como presságios e milagres.
Embora o discurso não ataque diretamente o Traliano, refere-
-o como uma fonte que também divulga as ocorrências censu-
radas em Talo. Convém, neste sentido, cogitar a possibilidade
de a referência a Flégon atribuída a Júlio Africano se tratar de
uma interpolação tardia52 . Não parece ser um ataque religioso,
embora a informação também disponibilizada por Flégon corro-
bore textos bíblicos53. Na realidade, efetuando-se, com as devidas
reservas, uma datação correspondente, mesmo tomando por base
o início das Olimpíadas54, em 776 a.C., a ducentésima segunda
Olimpíada reportar-se-á a c. 30 (entre 1 de julho 32 e 30 de junho
de 33. Páscoa: sexta-feira, 3 de abril de 33/23 de abril de 34?) e,
no ano de 33, a ciência destaca dois eclipses solares55. Todavia,

ressurrectione carnis / De resurrectione mortuorum. Cf. Addison 1807;


Endsjø 2009; Bryan 2011.
52
Cf. Routh 1814: 335-338. Para o carácter habitual de interpolações
em textos antigos, vd. Hall 1913: 193-97; Maas 1958: 14, 34-35; Re-
nehan 1969: 36; West 1973: 28; Marcovich 1994.
53
Cf. Evangelho de Mateus (Mt. 27:45): Ἀπὸ δὲ ἕκτης ὥρας σκότος
ἐγένετο ἐπὶ πᾶσαν τὴν γῆν ἕως ὥρας ἐνάτης. “Do meio dia às três da
tarde a escuridão espalhou-se por toda a terra.” De modo similar, na se-
quência da crucificação, Mc. 15:33: Καὶ γενομένης ὥρας ἕκτης σκότος
ἐγένετο ἐφ’ ὅλην τὴν γῆν ἕως ὥρας ἐνάτης. “Na sexta hora, adveio
escuridão sobre toda a terra, até à nona hora.” E também Lc. 23:44-45:
Καὶ ἦν ἤδη ὡσεὶ ὥρα ἕκτη καὶ σκότος ἐγένετο ἐφ’ ὅλην τὴν γῆν ἕως
ὥρας ἐνάτης | τοῦ ἡλίου ἐκλιπόντος, “Era agora aproximadamente a
sexta hora e a escuridão apareceu sobre toda a terra até à nona hora, pois
o sol deixou de brilhar”.
54
Vd. Clinton 1830.
55
Dos eclipses solares, apenas um total, a 19 de março, com a duração
de pouco mais de 4 min. Visível no norte África, na zona de Cairo e
Jerusalém / latitudes de Judeia e Bitínia, o de 29 de novembro de 24, c. 2
min. Cf. Newton 1733; Maier 1968; Humphreys — Waddington 1983,
1989, 1990; Murdock 2009.

31
Reina Marisol Troca Pereira

poderia Flégon ter-se referido ao eclipse visível em Jerusalém,


a 24 de novembro do ano 29, uma ocorrência que ultrapassava
os limites do natural56, seguido de abalo sísmico, afastando-se,
assim, o fenómeno da Paixão de Cristo?

b. Eusébio / S. Jerónimo
O escrito onde Flégon descreve a ocorrência desapareceu
(cf. FGrHist p. 1165), restando apenas uma citação direta por
Eusébio verbatim (c. 311) e a consequente tradução latina de
Jerónimo (Chronicon 2.5-6)57, do séc. IV/V, sobre a obra de
Eusébio, a propósito da ducentésima segunda Olimpíada58 . Eis,
pois, Flégon, Olympicorum et Chronicorum 13 apud Eusébio,
Chronicon 1.1:

῾Ο Ἰησοῦς ὁ χριστὸς, ὁ υἱὸς τοῦ θεοῦ [cf. Μt. 16:16], ὁ κύριος


ἡμῶν κατὰ τὰς περὶ αὐτοῦ προφητείας ἐπι τὸ πάθος προήει
ἔτους ιθ’ τῆς Τιβερίου βασιλείας, κατ’ ἐν καίρον καὶ ἐν
ἄλλας μὲν ῾Ελληνικοῖς ὑπομνήμασιν ἕυρυμεν ὑς ὀρέμενα
κατὰ λέξιν ταῦτα: ὁ ὕλιος ἐξέλιπεν, Βιθύνεια ἐσείθη,
Νικαῖας τὰ πολὰ ἔπεσεν ὡ καὶ συνάθει τοῖς περὶ τὸ πάθος
τοῦ σωτῆρος ὑμων συμβεβοίκοσι. Γράφει δὲ καὶ λέγει ὁ τὰς
᾿Ολυμπιάδας ... περὶ τῶν αὐτῶν ἐν τῷ ιγ’, ῥήμασιν αὐτῶς
τάδε: τῷ δ’ ἔτει τῆς σβ ᾿Ολυμπιάδος ἐγένετο ἐκλειίψις ἡλίου

56
Cf. testemunho do hieromártir grego mencionado (cf. astrónomo -
Atos 17:34), Dionísio Areopagita (séc. I) 1081a, 268, acompanhado então
pelo sofista pagão Apolófanes. Dionísio subscreve-se com Apolófanes,
mencionando ter testemunhado um eclipse, na cidade egípcia de Heli-
ópolis, aquando da Paixão de Cristo. O texto, porém, é julgado espúrio
e tardio (c. séc. V/VI), segundo Lardner 1788: 371. Vd. Matyszak 2017.
Cf. Epist. 7. A indicação do facto é reiterada por Hilduin de S. Denis (séc.
VIII/IX), Areopagita sive Sancti Dionysii vita 14 (PL 106: 33). Vd. Rorem
1993: 13; Mosshammer 2008; Nothaft 2011.
57
Cf. Habermas 1996: 217; Jeanjean — Lançon 2004.
58
Cf. Samuel 1972. Vd. Ogg 2014.

32
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

μεγίστη τῶν γνωρισμένων πρότερον. καὶ νύξ ὥρα σ’ τῆς


ἡμέρας ἐγένετο, ὥστε καὶ ἀστέρας ἐν οὐρανίῳ φανῆναι,
σεισμός τε μέγας κατὰ Βιθυνίαν γενόμενος τὰ πολλὰ
Νικαίας κατεστρέψατο, καὶ ταῦτα ὁ δηλωθεὶς ἀνήρ.

Ou, na versão latina de S. Jerónimo (séc. IV), relativa à 202ª


Olimpíada59:

Jesus Christus secundum Prophetias, quae de eo fuerunt prolatae,


ad passionem venit anno Tiberii 18 quo tempore etiam in aliis
Ethnicorum Commentariis haec ad verbum scripta reperimus:
Solis facta defectio: Bithynia terrae motu concussa, et in urbe
Nicaea aedes plurimae corruerunt, Quae omnia his congruunt,
quae passione Domini acciderant. Scribit vero super his et Phle-
gon, qui Olympiadum egregius supputator est, in tertio decimo
Libro ita dicens: Quarto autem anno CCII Olympiadis60 magna
et excellens inter omnes quae ante eam acciderant defectio solis
facta; dies hora sexta61 ita in tenebrosam noctem versus ut stellae
in caelo visae sint terraeque motus in Bithynia Nicae[n]ae urbis
multas aedes subverteret. Haec supra dictus vir.

“Jesus Cristo, segundo as profecias proferidas antecipadamente


a seu respeito, teve a sua Paixão no 18º ano de Tibério, altura
em que também encontramos estas coisas escritas, noutros
comentários dos pagãos, que aconteceu um eclipse do sol; que
a Bitínia sofreu um tremor de terra e que, na cidade de Niceia,
muitos edifícios colapsaram, concordando todos com o que
sucedeu na Paixão do Salvador. De facto, Flégon, excelente

59
Cf., com diferenças, a lição divulgada em Migne 1845: 1121.6.
60
Ano 32/33.
61
A sexta hora de luz do dia corresponderia a c. meio-dia, o que coin-
cide com a versão dos evangelistas e a escuridão referida nos evangelhos
(Mt. 27:51, 52; Lc. 23:44-45).

33
Reina Marisol Troca Pereira

calculador das Olimpíadas, também escreve sobre estas coisas


assim, no seu livro 13: com efeito, no quarto ano da ducentési-
ma segunda Olimpíada, aconteceu um eclipse do sol, maior e
mais grandioso do que todo o ocorrido antes62; na sexta hora,
o dia tornou-se noite escura, de modo que se viam estrelas no
céu, e um terremoto na Bitínia fez ruir muitos edifícios na
cidade de Niceia. Isto [refere] o homem acima mencionado.”

Importa, à partida, começar por considerar, a respeito destas


fontes anteriores, que, originalmente, Eusébio julga a Paixão de
Cristo no 19º ano63 do governo de Tibério (agosto de 14 + 19
= morte de Cristo, c. 32/33). Por seu turno, a tradução de S.
Jerónimo reporta o 18º ano do governo de Tibério, quarto ano
da 202ª Olimpíada (ano 32), fazendo recuar a data da morte
de Cristo para c. 31/32, e adicionando esse período de tempo à
tomada de posse do Imperador (agosto de 14).
Poderia, pois, ter-se tratado de um erro de tradução, con-
forme denotam alguns comentadores64, e além disso, Eusébio,

62
Sykes 1732: 79-96 apresenta várias considerações a propósito deste
eclipse, a partir de autores orientais (viz. China), que também reportam
o evento como um fenómeno não natural, por ocasião similar aos autores
cristãos.
63
Cf. Sincelo, Ecloga Chronographica 394. Vd. Eusébio Chronicon
apud Sykes 1732:42.
64
Sykes 1732: 70 comenta uma observação que julga ter sido efetuada
pela primeira vez por Kepler. De facto, Kepler 1615: 87, escrevendo a
Calvísio, efetua uma crítica a respeito de Jerónimo (quid igitur, si et ipse
est hallucinatus?), que terá traduzido quarto anno, lendo τῷ δὲ δ ἔτει por
δὲ τῷ δὲ ἔτει e, por tal, tomando a letra δ por numeral para datar o
eclipse ocorrido c. meio-dia, ou duas horas antes, no dia 25 de novembro
da 202ª Olimpíada (74º ano Juliano) celebrada a 9 de julho. Além disso,
adiante, Kepler 1615: 126 retoma o caso, afirmando a confusão circun-
dante a Jerónimo, que traduz, a partir de Eusébio, a ocorrência do eclipse
no 4º ano da 202ª Olimpíada. Contudo, efetua a mesma indicação no
2º ano da Olimpíada, afastando-se então de Eusébio, que não gravara
tal acontecimento nessa ocasião. As dúvidas ficam assim expostas face a
Jerónimo, mas também à ambiguidade e incerteza do texto de Eusébio,

34
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

História Eclesiástica 1.10.1-2 não data a Paixão face aos anos de


governo de Tibério. Apenas situa o início da pregação de Cristo,
com c. 30 anos65, no 15º ano de Tibério, por um período inferior
a 4 anos. Na realidade, constata-se a divergência de datas rela-
tivas à Paixão de Cristo66 . Ora, a ter Jesus falecido no 15º ano
de Tibério, data do eclipse reportado por Flégon, tratar-se-ia
não do quarto ano da 202ª Olimpíada (cf., entre 1 de julho
de 29 e 33, apenas o eclipse de 24 de novembro de 29), mas
sim da 201ª Olimpíada, quando ocorreu um eclipse total - mais
exatamente ainda, porque a festividade se celebra a partir de
julho, no primeiro ano da 202ª Olimpíada, facto que suscita
críticas67 face ao “absurdo” de Eusébio e Jerónimo considerarem
a morte de Cristo no 3º ou 4º ano da 202ª Olimpíada, valendo-
se da autoridade de Flégon. Quiçá Flégon referiu apenas a 202ª
Olimpíada e, posteriormente, autores cristãos, considerando a

que permite a transformação da data no 4º / 3º/ 2º ano da Olimpíada em


causa. A propósito, Sykes 1732: 74 conclui que teria sido possível Flégon,
no original, ter referido o 1º ano da 202ª Olimpíada, havendo depois
a transformação do numeral Α em Δ. Cf., todavia, transcrições com o
numeral por extenso τετάρτῳ, denotando o suposto ano da crucificação
de Cristo. Cf. Whiston 1732.
65
Considerando, à semelhança de Orígenes, que Cristo teria pregado
apenas durante 1 ano (Philocal. 1), contaria então com c. 30 anos.
66
Tertuliano (séc. II/III) ad Judaeos 8; Africano (séc. II/III) apud
Hieronymum in Daniel 9 (Paixão: sexta, 23 de março de 31) referem o
15º ano de Tibério para o passus Christi. Diferentemente, Clemente de
Alexandria (séc. II/III) Strom. 1.145-146, advoga o 25º dia de famenot
(Φαμενώθ) - 3 de abril - do 16º ano de Tibério, aludindo também a outras
versões, relativas ao 19º; outros, ao 25º dia de farmuti (Φαρμουθί) - 27
de abril e 3 de maio, respetivamente. Lactâncio (séc. III/IV) 4.10 precisa
a informação cronológica, afirmando que eram cônsules, no sétimo dia
das calendas de abril, os dois Géminos. No séc. IV, Epifânio (Panarion
51.23) situa a Paixão no dia 13 das calendas de abril (20 de março), no
consulado de Vinício e Longino Cássio, seguindo a tradição, ao postular
a morte de Cristo aos 33 anos. Também diferindo de Jerónimo (séc.
IV/V), Beda (séc. VIII), DTR 47 refere o batismo de Cristo aos 30 anos e
um período de pregação por 3 anos e meio, antes da sua morte.
67
Cf. Sykes 1732: 18.

35
Reina Marisol Troca Pereira

Paixão em 33, alteraram o 1º ano e fixaram o 4º ano da 202ª


Olimpíada. Na realidade, a informação traduzida por S. Jeróni-
mo credibiliza-se com referências bíblicas de João, relativas à
pregação levada a cabo por Jesus durante três anos após o 15º do
governo de Tibério (Lc. 3:1); e do historiador judeu do século I,
Flávio Josefo (cf. Guerras Judaicas, evangelhos, atos e prodígios)
sobre tremores de terra 68 e sons, na altura em questão (cf. Mt.
27:51). Porém, Flégon não apresenta uma conexão entre os even-
tos irregulares da Natureza e a crucificação de Cristo. Tão só
dá conta de uma ausência súbita de luz solar, linguisticamente
denominada de ‘eclipse’, e de abalos sísmicos na Bitínia e em
Niceia. Pertence a exegeses imbuídas de cristianismo aproximar
a informação de Flégon dos evangelhos69, da crucificação de
Cristo e da Judeia.

c. Filópono
Similarmente, Filópono, De opificio mundi 2.21 (cf. FGrHist
16c) faz coincidir os eventos naturais retratados por Flégon com
a Paixão de Cristo. Denota-se, todavia, alguma inconsistência
na computação dos anos das Olimpíadas:

68
De facto, parece ter ocorrido, na região, um sismo, a 3 de abril do
ano 33. Vd. Williams — Schwab — Brauer 2012.
69
Cf., designadamente, o evangelho segundo Mc. 15:33, embora João
19, ao aludir à morte de Cristo, não faça menção dele; Mt. 27:45; Lc.
23:44-45. Cf., posteriormente, os evangelhos apócrifos, e.g. de Nicode-
mo. Seria o eclipse (e o sismo - Mc. 27:51-53) uma forma alegórica não
histórica de retratar a morte de Cristo, uma semelhança simbólica parale-
la à tradição pagã (e.g. Hdt. 7.37; Plu. Pel. 31.3, Aem. 17.71; D.C. 55.93),
entendida como superstição (Arist. Mete. 367.b.2, Plin. HN 2.195, Verg.
G. 2.47.478-480), ou fruto da invenção (quiçá de Marco) para cumprir a
profecia (cf. Amos 8:9). No excerto não é possível constatar, sem margem
de dúvida, o que Talo efetivamente escreveu. Terá o autor referido um
eclipse solar no terceiro livro de Histórias, quiçá associado com Jesus,
ou será mais uma inferência abusiva de Júlio Africano, à semelhança do
efetuado com Flégon? Vd. Carrier 2011–2012.

36
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

Τούτου δὲ τοῦ σκότους [...] καὶ Φλέγων ἐν ταῖς ὀλυμπιάσιν


ἐμνήσθη. λέγει γὰρ ὅτι τῷ δ ̅ ’ ἔτει τῆς διακοσιοστῆς
δευτέρας ολυμπιάδος ἐγένετο ἡλίου ἔκλειψις μεγίστη τῶν
οὐκ ἐγνωσμένων πρότερον, καὶ νύξ ὥρα ἕκτῃ τῆς ἡμέρας
ἐγένετο, ὥστε καὶ ἀστέρας ἐν οὐρανῷ φανῆνα. ὅτι δὲ τῆς
ἐν τῷ σταύρῳ τοῦ δεσπότου Χριστοῦ γενομένης τοῦ ἡλίου
ἐκλείψεως καὶ οὐχ ἑτέρας ἐμνήσθη καὶ Φλέγων, πρῶτον
μὲν ἐκ τοῦ λέγειν μὴ ἐγνῶσθαι τὴν τοιαύτην ἔκλειψιν
τοῖς πρότερον χρόνοις, ἐστι δῆλον, [...] καὶ ἀπ’ ἀυτῆς δὲ τῆς
περὶ Τιβερίου Καίσαρος ἱστορίας δείκνυται. βασιλεύειν μὲν
γὰρ ἀυτόν φησιν ὁ Φλέγων τῷ δευτέρῳ ἔτει τῆς ἑκατοστὴς
ἐνενηκοσίης {ὀγδόης} ὀλυμπιάδος, τὴν δὲ ἔκλειψιν
γεγονέναι ἐν τῷ τετάρτω* ἔτει τῆς διακοσιοστῆς δευτέρας
ολυμπιάδος.

“Desta escuridão [...] Flégon também fez referência, em


Olimpíadas. Com efeito, diz que, no quarto ano da ducenté-
sima segunda Olimpíada, ocorreu um eclipse do sol de uma
magnitude nunca antes conhecida, e, na sexta hora do dia era
noite, pelo que surgiram estrelas no céu. E ficou claro que foi o
eclipse do sol que aconteceu quando Cristo estava na cruz, que
Flégon mencionou, e não outro, primeiramente em virtude de
ele afirmar que um tal eclipse não se conhecera anteriormente
[...] e também por ser retratado na história relativa a Tibério
César. Na realidade, Flégon afirma que ele se tornou rei no
segundo ano da centésima nonagésima oitava Olimpíada,
embora o eclipse acontecesse no quarto ano da ducentésima
segunda Olimpíada.”

d. Malalas
Um pouco mais tarde, Malalas, Chronographia 10.101d (O310)
apresenta a ocorrência do eclipse universal, complementando com

37
Reina Marisol Troca Pereira

uma citação de Flégon, também registada por autores anteriores,


que restringe o evento, ainda que grandioso, no tempo. Na gene-
ralidade, queda espaço para se colocarem considerações sobre a
autoridade do Traliano, epitetado de σοφώτατος, ‘sapientíssimo’;
o carácter corrente de um trecho da sua obra relativo ao eclipse;
bem como a permanência do seu escrito sobre as Olimpíadas, por
altura de Malalas:

καὶ ἐσκοτίσθη ὁ ἥλιος, καὶ ἦν εἰς τὸν κόσμον σκότος· περὶ


οὗ σκότους συνεγράψατο ὁ σοφώτατος Φλέγων ὁ ᾿Αθηναῖος
εἰς τὴν ἰδίαν αὐτοῦ συγγραφὴν ταῦτα. Τῷ ὀκτωκαιδεκάτῳ
ἔτει τῆς βασιλείας Τιβερίου Καίσαρος ἐγένετο ἔκλειψις
ἡλίου μεγίστη πλέον τῶν ἐγνεσμένων πρότερον· καὶ νύξ
ὑπῆρχεν ὥρᾳ ἕκτῃ τῆς ἡμέρας, ὥστε καὶ τοὺς ἀστέρας
φαίνεσθαι.

“E o Sol escureceu, e houve escuridão sobre o mundo. A


propósito de tal escuridão, o mui sábio ateniense Flégon escreve
assim: «No décimo oitavo ano do governo de Tibério César,
houve um grande eclipse do sol, maior do que os ocorridos
anteriormente: e fez-se noite na sexta hora do dia, de forma a
terem surgido as estrelas.»”

Posteriormente, nos séculos XVII-XVIII, diversos autores


de autoridade reconhecida pela Igreja divulgariam essas mesmas
fontes do início da Cristandade, incluindo, igualmente, Flégon,
ainda do paganismo, que grafou o evento para memória futura –
posição típica de um historiador70, com o desenrolar dos séculos

70
Vd. Lahode 1749: 62.28. Com efeito, é possível cogitar a pos-
sibilidade de Flégon ter ouvido acerca do evento, dada a proximidade
geográfica de Trales à Palestina. Cf. Addison 1807: 27.

38
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

apenas conservada em Eusébio71, segundo palavras do oitocen-


tista Weiss72 . Seguir-se-iam sucessivas publicações em resposta
acerca das afirmações de Flégon, ora por parte de Sykes, ora de
Whiston, envolvendo testemunhos recuados (viz. evangelistas;
Orígenes; Eusébio; Celso; Júlio Africano; Chronicon Paschale,
Chronicum Alexandrinum, Chronicum Constantinopolitanum,
Fasti Siculi. Cf. Sincelo, Malalas, Escáliger). Em termos gerais,
constata-se a referência ao episódio do escurecimento súbito
do dia, denominado como ‘eclipse’. Ainda assim, destaca-se a
relevância de proceder à distinção entre, por um lado, quem
interpretava o fenómeno como uma expressão da natureza face
à Paixão de Cristo, qual ‘dupla noite’ (duplex nox): uma natu-
ral (una ordinaria), outra sobrenatural (altera extraordinaria),
conforme retrata, no séc. XVI, Lefèvre, De Triduo Christi73 ,
transcrevendo um excerto de Eusébio, com a nota de Flégon
sobre o escurecimento. Tal anormalidade74 surge contemplada
como um milagre - afirmação abusivamente atribuída por
Iohannes Jacobus Lauth (séc. XVIII)75 a Flégon (miraculi fecit
mentionem), já que o Traliano não mais terá reportado, além da
descrição de um assombro/ maravilha, algo distinto de ‘mila-
gre’76 , num sentido judaico-cristão. Consequentemente, cabe à
atualidade efetuar uma avaliação crítica da questão. Dos autores
que citam diretamente Flégon, tê-lo-ão feito a partir do próprio,
ou transcrito de fontes segundas? Tê-lo-ão feito corretamente?
Até quando terão subsistido as obras atualmente perdidas de
Flégon? Existiriam na época da bizantina Suda? Poderão existir

71
Cf. Mosshammer 1979.
72
Cf. Schmidt — Weiss 1744: 2.3.
73
Vd. Porrer 2009: 292.
74
Vd. Pompanazzi 1929.
75
Vd. Lauth 1743: 17.
76
Cf. Fisher 1900: 9. Vd. milagres relativos à alteração da ordem da
Natureza (e.g. Mt. 8:23-27; Jo. 6:16-21).

39
Reina Marisol Troca Pereira

erros? Terão respeitado o contexto original em que se encontra-


vam inscritos os excertos em causa? Terá Flégon cometido tama-
nha imprecisão astronómica77 relativamente ao eclipse, ou terá
simplesmente observado a escuridão em pleno dia, seguindo-se
depois uma comparação com a ‘escuridão’ motivada pela morte
de Cristo, juntamente com os fenómenos sobrenaturais retrata-
dos pelos evangelistas? Na realidade, alguns autores do século
IV e seguintes (e.g. August. C.D. 3.15) referem o fenómeno
não natural de defectio solis, seguida de tempestade, embora não
associem tal impossibilidade a Flégon. Teria de facto Flégon
confundido Pedro com Jesus, como refere Orígenes? Teria o
eclipse anunciado a escuridão resultante do sofrimento de Cris-
to, ocorrido só no quarto ano da Olimpíada78? E para além de
um acontecimento irregular e impossível em lua cheia, como
terá durado c. três horas (da sexta à nona hora. Cf. Mc. 15:33;
Lc. 23: 44-45), estendendo-se por todo o mundo? Ou tratar-se-á
apenas da Judeia a referência a ‘mundo’, conforme expressam os
evangelistas e escritores sacros?79
Questões similares parecem ter sido equacionadas ainda na
medievalidade. A exemplo, veja-se Máximo (séc. VI/VII), numa
anotação sobre a obra de Ps. Dionísio Areopagita (séc. V/VI),
schol. apud Dionys. Areop. 4.425, sobre o carácter nada usual do
eclipse, não especificando, contudo, a natureza alegadamente

77
Cf. Kennedy 1762: 685. Vd. Máximo apud Sykes 1734: 27,
mencionando que Flégon não registou um eclipse do sol em lua cheia,
mas que houve um eclipse não natural. Reitera-se, assim, a informação
transmitida por Orígenes (Op. Ed. Ben. t. 3: 923): Et Phlegon quidem
in Chronicis suis scripsit, in principatu Tiberii Caesaris factum, sed non
significavit in luna plena hoc factum, “E o próprio Flégon, que escreveu,
nas Crónicas, que tal evento ocorreu no reinado de Tibério César, não nos
afirmou que sucedeu em lua cheia”. Vd. Sykes 1732: 69; Jarvis 1845: 424.
78
Cf. Sykes 1734: 6.
79
Cf. Lc. 4:25; Mt. 24:30. Vd., a propósito, Vóssio, Harm. Ev. 1. z,
cap. X.

40
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

sentida por Flégon a respeito dessa particularidade:

Μέμνηται μὲν καὶ Φλέγων ὁ Ἑλληνικὸς χρονογράφος ἐν


τρισκαιδεκάτῳ «Χρονογραφιῶν» ἐν τῇ ργ’ Ὀλυμπιάδι, τῆς
ἐκλείψεως ταύτης, παρὰ τὸ εἰωθὸς αὐτὴν λέγων γενέσθαι·
οὐ μὴν τὸν τρόπον ἀνέγραψε. Καὶ Ἀφρικανὸς δέ ὁ ἡμέτερος
ἐν πέμπτῳ «Χρονογραφιῶν», καὶ Εὐσέβιος ὁ Παμφίλου ἐν
ταῖς αὐταῖς μέμνηται τῆς αὐτῆς ἐκλείψεως.

“O gentílico cronógrafo Flégon, no décimo terceiro livro de


Cronografias, na ducentésima segunda Olimpíada, refere este
eclipse, afirmando que aconteceu de maneira invulgar: mas
não refere de que maneira. E Africano, no quinto livro de Cro-
nografia, e Eusébio Pânfilo, similarmente, nas suas [Crónicas],
mencionam este eclipse.”

Em termos gerais, se o retrato resulta de interpretações


moldadas pelo fervor da crença católica, onde posicionar a
alusão dos eventos pelo historiador não crente Flégon? Quiçá
as suas afirmações se inscrevam na divulgação de circunstâncias
invulgares, instigadoras de assombro, que merecem empolga-
mento e ênfase capazes de transformar, através de associações,
o maravilhoso de fenómenos sobrenaturais e assombrosos em
portentos. Em suma, atestada a apetência do Traliano para o
registo literário de maravilhas ao longo de toda a sua obra 80,
estaria o eclipse de certa forma integrado entre os múltiplos
fenómenos invulgares relatados? Com efeito, Celso já partilhava

80
Vd., neste sentido, sem citar diretamente Flégon, Estêvão de Bizân-
cio (séc. VI), Ethnica. Refere, na entrada a propósito da cidade italiana
de Tarracina, o prodígio de uma criança que, com vinte e quatro dias
de vida, chamava e respondia, na 181ª Olimpíada, retratado por Flégon
de Trales. Consta-se, pois, a consideração, sobrevivente no decurso do
período medieval, do Traliano como relator de prodígios.

41
Reina Marisol Troca Pereira

de tal opinião diversa de Orígenes, apoiado em Flégon, por cer-


to enquanto historiador, mas importa não obliterar a sua faceta
simultânea de paradoxógrafo (Orígenes, Cels. 2.59). Lê-se assim
em relação a Celso: Οἴεται δὲ τερατείαν εἶναι καὶ τὸν σεισμὸν
καὶ τὸν σκότον. “[Celso] também julga que tanto o sismo como
a escuridão eram contos maravilhosos”.
De qualquer forma, não se encontrando o espólio literário
de Flégon completo e apenas restando citações por terceiros,
com todos os riscos advenientes em termos de contextualização
e transcrição, resultam contradições e inconsistências, mesmo
nos autores que citam o Traliano, desde a Olimpíada em causa
à datação, extensão, durabilidade81 e local do fenómeno. Os au-
tores de crónicas contam-se no âmbito do Cristianismo, justifi-
cando alguma apropriação semântica imprópria e até a alteração
de factos, como a substituição dos locais atingidos pelo sismo,
na versão de Flégon: Niceia, após um eclipse do sol82, visto na
Bitínia, nunca tendo afirmado Judeia, nem associado tais fe-
nómenos como ocorrências simultâneas aquando da Paixão de
Cristo. Na generalidade, Flégon e os eventos por ele relatados
não constam em muitos escritores cristãos de referência, que po-
dem cingir-se aos eventos, mas não adscrevem a sua veracidade a
Flégon (e.g. Taciano, Atenágoras, Arnóbio). Tampouco surgem
nas homilias de Crisóstomo, que considera, a propósito de Mt.
27:45, a escuridão não como um eclipse, mas como um sinal /
manifestação do sofrimento de Cristo (88: ὀργιζομένου γὰρ ἦν

81
Cf. a durabilidade invulgar do fenómeno, segundo o testemunho
presencial do cristão convertido Dionísio Areopagita, ΠΟΛΥΚΑΡΠΩΙ
ΙΕΡΑΡΧΗΙ Heil-Ritter, da nona hora até ao anoitecer.
82
Cf. Escáliger, Animadv. in Euseb. p. 186a, relativamente à ocorrên-
cia de um eclipse parcial (in Euseb. Chron.), a 19 de abril do 4º ano da 74ª
Olimpíada. Importa, outrossim, atender a outras versões que admitem o
eclipse como tendo sido total, ao ponto de se verem estrelas (e.g. Xifilino
apud Sykes 1732: 77g).

42
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

ἐπὶ τοῖς τολμωμένοις τὸ σκότος ἐκεῖνο).


Poderá toda esta discussão em torno de Flégon e do retrato
do obscurecimento tratar-se de uma falsa questão gerada a par-
tir de uma confabulação exegética construída por um conjunto
reduzido mas significativo de autores da medievalidade? Tal
parece constituir o retrato da situação, com a confluência de
dois tipos de posicionamento ainda vigentes no século XVII:
por um lado, a crença no significado do eclipse aquando da
Paixão de Cristo, com base nas palavras unânimes dos antigos
autores do Cristianismo83; por outro, a questionação de todo o
caso, ao percecionar a fragilidade das fontes em que radicava
tal crença, na realidade apenas um reduzido número de autores
cristãos, posteriores à leitura de Eusébio84.

2.2. Produção Literária


2.2.1. Questões de Autoria
Flégon gozou de algumas oportunidades para comunicar
eventos peculiares que regista na sua coletânea fantástica (cf.
Mir. 35), ele que foi um escravo autor85 e conviveu de perto com
membros do núcleo imperial (viz. Alcibíades86 , a quem dedica
Olimpíadas). Desta aproximação provém uma suspeita relativa à
autoria de alguns dos escritos atribuídos, expressa em Scriptores
Hisoriae Augustae, por Esparciano, mais concretramente na Vita
Hadriani 16.1: Famae celebris Hadrianus tam cupidus fuit ut
libros vitae suae scriptos a se libertis suis litteratis dederit, iubens ut
eos suis nominibus publicarent. nam et Phlegontis libri Hadriani
esse dicuntur. “O célebre Adriano, tão desejoso de fama, que

83
Cf. Dioníso Petávio, De Doctrina Temp. 12.21.
84
Tillemont 1691: 449, n. 35.
85
Vd., no séc. V, a alusão ao facto por Élio Esparciano, Vita Severi 20.
86
Vd. Phot. Bibl. 97.2.e.

43
Reina Marisol Troca Pereira

deu a escravos seus libertos ilustrados livros acerca da sua vida


escritos por si, com ordem de publicá-los com os seus próprios
nomes.” Com efeito, a julgar por esta fonte, os escritos de Flégon
seriam na realidade de Adriano87. Pese embora a controvérsia
que rodeia tal afirmação, atribuir a autoria a um historiador
menor, Flégon, também não acrescentaria necessariamente o
seu valor. De facto, a Vita Hadriani, baseada em informações
das perdidas Memoriae, apresenta-se à maneira de um retrato
biográfico, com cariz de um folhetim popular divulgador de
uma personagem propagandística. O recurso à pseudonímia
autoral expressa uma falsa modéstia de Adriano, ao pretender
vencer o anonimato a que parecia votá-lo a inexistência de escri-
tos biográficos similares a outros Césares, por parte de escritores
do séc. I/II, como Plutarco (em grego) ou Tácito e Suetónio
(em latim). Assim, sobre Adriano, além da primeira biografia de
Historia Augusta, conserva-se apenas o relato de Dio Cássio, na
Historia Romana. Porém, a questão ganha diferentes tonalidades
com o autor alemão do séc. XVI/XVII, Tobias Magirus88, que
suscitaria um comentário, a título crítico e corretor, de Bayle 89.
A seu ver, colmatando um registo escrito deplorável, Magirus
parece ter entendido erradamente ou mesmo pervertido o excer-
to de Scriptores Historiae Augustae 1.16.1. Pertence ao germânico
a seguinte afirmação: Eos [libros de mirabilibus, Olympiadibus
& longaevis] tanti aestimavit Hadrianus, famae percelbris cupi-
dus, ut pro suis venditarit, ut colligere licet ex Aelis Spartianom in
Vita Hadriani. “Adriano, que tinha uma grande sede de fama,

87
Vd. exemplo da versão corrente, Fabrício 4.15.7 (1796: 258), a
propósito dos Libri de Vita Hadriani Imp.: ab ipso Imperatore scripta et
sub Phlegontis nomine edita. Vem este facto ao encontro da informação
reportada por Esparciano.
88
Vd. Magirus 1597: 659.
89
Vd. Bayle 1739: 384 n.r. C.

44
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

estimava de tal forma os livros respeitantes a coisas maravilho-


sas, às Olimpíadas, e a pessoas com grande longevidade, que
as apresentava como sendo suas, conforme pode deduzir-se a
partir de Vida de Adriano, em Élio Esparciano.” Na realidade,
mediante esse entendimento, haveria que inverter a situação e
considerar que o Imperador estaria a colocar o seu próprio nome
(Adriano) em obras da autoria de Flégon.

2.2.2. Manuscritos e Edições


Autor tardio em língua helénica, o Traliano compôs a sua
obra no século II, estimando-se o limite post quem para a finali-
zação total das obras em 116, conforme julga Stramaglia90.
A produção literária conhecida de Flégon é transmitida
por um manuscrito bizantino único (codex unicus) do século
IX (c. 850-880), a saber, o codex uetustissimus91 Heidelbergen-
sis Palatinus Graecus 398 (P)92, fls. 216r-236r, por escribas de
Constantinopla. Após o f. 215v em branco, não contendo nada,
o f. 216r começa com texto, de De Mirabilibus Libellus, Livro
das Maravilhas, autoria de Flégon de Trales, desprovido de
cabeçalho e de introdução. Findo o texto, em 234v, apresenta-se
a descrição do conteúdo anterior, com a subscriptio: φλέγοντος
τραλλιανοῦ ἀπελευθέρου καίσαρος περὶ θαυμασίων καὶ

90
Stramaglia 2011: VII. Importa, a propósito, efetuar uma leitura
crítica de fontes como Owen — Johnston 1784: 339, que estendem a vida
literária de Flégon até, pelo menos, ao 18º ano do Imperador Antonino
Pio (156), cujos cônsules são supostamente mencionados, facto que não
se confirma.
91
Assim se designam os codices elaborados até ao século X.
92
Composto por 321 folhas de pergaminho (25x17cm) conta-se entre
os manuscritos reunidos por J. de Ragusa (séc. XV). Qual coletânea
antológica, reúne vários autores de épocas distintas, por áreas, designa-
damente: geógrafos, mitógrafos e paradoxógrafos e epístolas. Cf. Mioni
1973: 63; Longo — Perria — Luzzi 1997: 205. Vd. Sellheim 1930; Leroy
1961; Musso 1976; Glénisson — Bompaire — Irigoin 1977; Temporini
1982; Kavrus-Hoffmann — Bravo García 2010.

45
Reina Marisol Troca Pereira

μακροβίων, “Flégon Traliano, liberto do Imperador, sobre


maravilhas e vidas longas”.
Ainda em 234v, linhas 30-31, surge uma nova entrada, respei-
tante ao texto disposto até 236r, para φλέγοντος ἀπελευθέρου
ἀδριανοῦ καίσαρος περὶ τῶν ὀλυμπίων, “De Flégon, liberto
do Imperador Adriano, sobre as Olimpíadas”. Segundo Strama-
glia 2011: V, trata-se apenas do início mutilado de uma obra
de maiores dimensões, ᾿Ολυμπιάδες (uel ᾿Ολυμπιονικῶν καὶ
χρονικῶν συναγωγή, uel Χρονικά).
Da autoria de Flégon, consta o remanescente coligido de
Περὶ Θαυμασίων (216r-230r); Περὶ Μακροβίων (230r-234v);
Περὶ τῶν ᾿Ολυμπίων (234v-236r). Neste último caso, apenas
um residual fragmentário. O corpus de Flégon mostra-se, assim,
reduzido e deveras incompleto. Olimpíadas93, da primeira à
229ª, ou até à época de Adriano (cf. Fócio); ou até ao 4º ano
de Antonino Pio (Escáliger. Animadv. in Euseb. Chron: 185).
Porventura ficou incompleta, no ano 138 (morte de Adriano).
A editio princeps da obra restante de Flégon, composta por
dois opúsculos de maior extensão: Sobre Maravilhas (Περὶ
θαυμασίων) e Acerca de Vidas Longas (Περὶ μακροβίων), foi
tardia. (1568). Pertenceu a iniciativa de uma versão bilingue
(grego-latim) a Xilandro94 . A lição grega correspondente a Flé-

93
Vd. Lardner 1764: 127.
94
Cf. Antonini Liberalis Transformationum Congeries. Phlegontis
Tralliani de Mirabilibus et Longaeuis Libellus. Eiusdem de Olympiis
Fragmentum. Apollonii Historiae Mirabiles. Antigoni mirabilium narra-
tionum congeries. M. Antonini Philsophi Imp. Romani, de uita sua Libri
XII. ab innumeris quibus antea scatebant mendis repurgati, et nunc demum
uere editi. Graece Latineque omnia, Guil. Xylandro Augustano inter-
prete: cum Anotationibus et Indice. Basileae, per Thomam Guarinum,
MDLXVIII chartis octonis min. [Antonini Liberalis Μεταμορφώσεων
Συναγωγὴν. Phlegontis Tralliani Ἑπὶ Θαυμασίων καὶ Μακροβίων, Eius-
dem Ἑπὶ τῶν ᾿Ολυμπίων Fragmentum: Apollonii ῾Ιστορίας Θαυμασίας
et Antigoni ῾Ιστοριῶν Πραδόξων Συναγωγὴν continentem, eosque

46
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

gon contém anotações do lado esquerdo95. As mesmas anotações


não se repetem em grego, cabendo nas margens desta versão
escassas alterações/correções (cf. Adnotatiunculae, Stramaglia
2011: XXIV), antecedidas de pequenos sinais de chamada 96.
Seguir-se-ia a reedição da obra, como Phlegontis Tralliani
Quae extant opuscula. G. Xylandro interprete, por I. Meursius re-
censuit et notas addidit, Lugduni Batauorum, apud I. Elzevirium,
primeiro em 1620, depois em 1622. No final de século (1697)97,
“De rebus mirabilibus liber, graece cum interpretatione latina
Guilielmi Xylandri, ac recensione notiisque Joannis Meursii”

Graece, et Latinitate a se donatos, addito, quem decennio ante ediderat,


Marco Antonino, de Vita sua, in unum corpusculum redactos typis descripsit,
Basileae, A. MDLXVIII. Sed Adnotationes, uti ad reliquos scriptores rarae,
sic Antoninum, septanarium numerum non superant, quia adnotando
omnia persequi noluerat, neque erat otium, sed uere, quia, ut Thuani uerbis
utar, non famae scriberat, sed fami]. O livro, estruturalmente, começa por
apresentar a versão latina (no caso, Phlegontis qui Adriani imperatoris fuit
libertus, de Olympiis fragmentum: 65-68, finalizando com indicação da
falta de parte - cetera desunt) e Phlegontis Tralliani, caesaris liberti, de
Mirabilibus et longaeuis Libellus (pp. 69, com indicação da falta do início:
deest principio; as histórias são apresentadas sucessivamente, por vezes
sem parágrafo de espaçamento; transita de imediato para abordar casos
de longevidade, p. 97, agrupados por títulos - DE HIS QVICENTVM
annos vixerunt; QVI AB ANNIS C ET IV usque ad CX protraxisse vitam
annotati sunt; QVI AB ANNIS CX VSque ad CXX progressi, in Commen-
tariis memorantur; QVI AB CXX ANNS usque ad CXXX vixisse annotati
sunt - p. 105, com finis). O texto grego segue-se à tradução da coleção
de textos latinos (p. 353), dando início a nova paginação (p. 55 [409]
- ΦΛΕΓΟΝΤΟΣ ΤΡΑΛλιανοῦ ἀπελευθέρου καίσαρος περὶ θαυμασίων
καὶ μακροβίων. Apenas o sinal ¶, sem ser antecedido ou prosseguido
de parágrafo separatório, dá início à listagem Acerca de vidas longas, com
iniciais capituladas, com acentuação, aspiração subsequente às vogais e
separação do texto restante por.
95
E.g. p. 91, Mir. 11, Ida Herois caput; identificação do passo de
Homero com Il. 1.554.
96
E.g. p. 78, Mir. 10A.468: lego αὐτὰ, à margem de * αὖται; p.
80, Mir. 10B.494: † lego ἔνθα νομιστὸν, ao lado de † ἔνθ᾿ α᾿νόμιστον;
Mir. 10B.504: a lego αἷκε b lego ὧς᾿, na margem do verso αἵ κε γένει a
προφερέστεραι b ὦς’ ἐνὶ λαοῖς.
97
Cf. Hoffmann 1845: 84.

47
Reina Marisol Troca Pereira

in Graevii et Gronovii Thesaurus Antiquitatum Graecarum, 8,


Lugdunum Batavia: 2690 sq.; “De longaevis libellus, graece
cum interpretatione latina Guilielmi Xylandri, ac recensione
notiisque Joannis Meursii” in Graevii et Gronovii Thesaurus
Antiquitatum Graecarum, 8, Lugdunum Batavia: 2727 sq.;
“Olympiis fragmentum, cum latina interpretatione Joannis
Meursii” in Graevii et Gronovii Thesaurus Antiquitatum Grae-
carum, 9, Lugdunum Batavia: 1289 sq. Em 1775, nova edição
da coletânea de Xilandro, com recensão de Meursio e índices e
anotações de Franz: Phlegontis Tralliani Opuscula, graece et lati-
ne, e recensione Iohannis Meursii, accesscrunt eiusdem et Guilielmi
Xylandri animadversiones atque Iohannis Meursianii de longaevis
epistola iterum edidit, animadversiones indicesque adiecit I. G. F.
Franzius, apud I. Ch. Hendel. A partir de Meurse, praticamente
sem alterações face à lição de Xilandro, Johann Franz, com a
publicação de Phlegontis Tralliani. Opuscula Graece et Latine e
Recensione Ioannis Meursii cum eiusdem et Guilielmi Xylandri
animadversionibus edidit, annotationei et indices adiecit J. G. F.
Franz. Editio secunda emendatior et F. Iac. Bastii observationibns
aueta. Hai., Hen., 14: 290 sq., já no século XIX (1822). Nessa
publicação, também o apêndice-comentário de Friedrich Bast
(142-154), no ano 1805. 16 Gr.: 142-154: Bastii notae, quae
sunt variae lectiones codicis msti Paris, emendationes aliaeque
animadversiones: Lettre critique, Paris: 44 sq. De 1839, a edição
de Westermann, com aparato crítico. Dez anos depois, a edição
de Müller, acrescentada em 1851; de 1877, a de Keller. Jacony,
em 1929, edita o texto e complementa, no ano seguinte, com
comentário. Em 1966, a versão de Giannini; em 1995-6, a de
Sissaz. No século XXI, Brodersen (2002) e Stramaglia (2011).
A tradução que seguidamente se apresenta segue o original
grego disponibilizado por Stramaglia (2011), relativamente
a Sobre Maravilhas e Acerca de Vidas Longas, as únicas obras

48
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

contempladas. No tocante a Sobre as Olímpíadas, a tradução


segue o original grego de Fragmenta Historicorum Graecorum
3: 603-604.

2.2.3. História e Histórias


Em termos gerais, Flégon inscreve-se num estilo peculiar
de narração longe do retrato imparcial, antes exploratório do
assombro, que condiciona, à partida, a reação dos leitores98 .
Primacial para definir o estilo de Flégon revelou-se Fócio.
Do capítulo consagrado a Flégon torna-se possível constatar a
avaliação crítica de um autor cujo testemunho importa conside-
rar. Desde logo porque, ainda que tardio, terá mais propriedade
do que os atuais, porquanto, no tocante às Olimpíadas, o texto
ainda existia, o que confirma algumas informações destacadas
por Fócio99, desde sismos, guerras, nascimentos ilustres, piratas.
Quanto ao estilo, esta fonte abalizada pela leitura integral do
escrito é deveras crítica. Além de não reconhecer um estilo ático
no Traliano, mas somente corrente, considera desagradável
a leitura do seu escrito, pejado de uma acumulação de factos
históricos misturada com a inapropriada inserção de oráculos.
Poder-se-á, ainda assim, alegar que o julgamento de Fócio (Bibl.
97) se centra apenas numa obra, deixando por referir as demais
(atualmente fragmentárias ou perdidas por completo. Cf. Suda

98
Cf., neste sentido, Plu., De Herodoti malignitate 855b, acerca da
“narração maliciosa” (κακοήθους διηγήσεως), oposta à “cândida”
(καθαρᾶς), exemplificando com a superstição de Nícias e com o discurso
de Cléon. Aplicando, a posteriori, a afirmação de Lívio a vários autores
do âmbito da paradoxografia (e porque não a Flégon), suscitam-se, no
mínimo, dúvidas face aos factos que os autores em causa demonstram
contínuas preocupações em credibilizar enquanto reais.
99
Sykes 1734: 8 refere que J. Chapman coloca dúvidas sobre o conhe-
cimento de Fócio (séc. IX) acerca da obra de Flégon - se terá lido a obra
completa, ainda existente nessa altura, ou apenas parte. Vd. Chapman
1734.

49
Reina Marisol Troca Pereira

φ527), cujas temáticas poderão ter condicionado um estilo


diverso.

Ἔστι δὲ τὴν φράσιν οὔτε λίαν χαμαιπετὴς οὔτε τὸν Ἀττικὸν


ἐς τὸ ἀκριβὲς διασῴζων χαρακτῆρα. Ἄλλως τε δὲ καὶ ἡ
περὶ τὰς Ὀλυμπιάδας καὶ τὰ ἐν αὐταῖς τῶν ἀγωνισμάτων
ὀνόματα καὶ πράξεις καὶ ἡ περὶ τοὺς χρησμοὺς ἄκαιρος
φιλοπονία τε καὶ φιλοτιμία, εἰς κόρον ἀπάγουσα τὸν
ἀκροατὴν καὶ μηδὲν ἄλλο τῶν ἐν τῷ λόγῳ σχεδόν τι
προκύπτειν συγχωροῦσα, ἀηδῆ τε τὸν λόγον δεικνύει καὶ
χάριτος οὐδὲν ἔχειν παρατίθησι. Χρησμοῖς δὲ παντοίοις ἐς
ὑπερβολήν ἐστι κεχρημένος.

“O estilo do autor, ainda que não muito mau nem vulgar, nem
sempre preserva o carácter ático. Porém, a sua inoportuna, se
bem que laboriosa diligência em dar conta das Olimpíadas,
as suas listas de nomes de vitoriosos e dos seus feitos, e as
suas considerações dos oráculos, não apenas desagradam o
leitor, uma vez que não admitem que nada mais apareça, mas
também tornam a linguagem desagradável e destituem-na de
toda a elegância. Também atribui uma importância indevida a
oráculos de todos os tipos.”

Flégon apresenta casos incríveis e assume-se enquanto


historiador100. Mas mais do que meramente informar, o parado-
xógrafo deve fornecer plausibilidade, transmitindo histórias por
conhecimento corrente/popular/de credibilidade incontestável
(cf. #1; #16: παρειλήφαμεν; #19, bárbaros locais; #32, Crátero,

100
Vd. Marincola 1997; Munson 2001; Darbo-Peschanski 2007.
Sobre a continuidade ou o afastamento do conceito de ‘história’, no séc.
V a.C., face a οἶδα, ‘ver, conhecer’ (vd. ἵστωρ, ‘sábio, juiz’, Il. 18.501,
23.486), cf. Hartog 2001.

50
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

irmão do Rei Antígono); por vezes também de origem incógnita


(#12, 15); em alguns casos assumindo como fontes101 diversos
autores de distintos panoramas literários, embora se contem
alguns historiadores, facto que torna crível a informação e (ou)
faz ponderar sobre a noção de ‘historiador’. Designadamente,
Homero102, Il. 9.558-560 (#11); Hesíodo - c. séc. VIII/VII a.C.
(#4); filósofo peripatético Antístenes - séc. V/IV a.C. (#3);
historiador Megástenes - séc. IV/III a.C. (#33); historiador
Hipóstrato - c. séc. III a.C., Sobre Minos (#30); Antígono - séc.
III/II a.C. (#28); historiador Êumaco, Περιήγησις, Descrição
Geográfica - séc. III/II a.C. (#18); Doroteu, Hypomema - c. séc.
I a.C. (#26); Hierão de Alexandria/Éfeso - séc. I (#2). Impor-
ta, outrossim, considerar Apolónio103 (ὁ γραμματικός (?) - cf.
#11, 13, 14, 16, 17. Vd. #17: ὁ δὲ αὐτός φησιν); Teopompo de
Sinope, Περὶ Σεισμῶν, Sobre Sismos (#19). Peri Macrobion
comporta, de igual modo, algumas fontes literárias, partindo
também do princípio de que os nomes arrolados possuíram
existência histórica. Na sequência herodótica, como coletor de
episódios, refere a evidência (μαρτυρία) empírica (cf. Arist. APr.
1.30.46a, 1.27.43b), sem tomar partido. Neste sentido, conjuga,
indistintamente, casos mitológicos com eventos alegadamente

101
Vd. Sanz Morales 1998.
102
A complexa ‘questão homérica’, enquanto conjunto de dúvidas
relativas à existência, proveniência e datação de Homero (cf. Hdt. 2.53,
estimando Homero e Hesíodo c. 400 anos antes de si), à autoria, forma
de composição das epopeias que lhe são comummente atribuídas (viz.
Ilíada e Odisseia), existência factual de alguns conteúdos, não parecia
colocar-se na Antiguidade. As dúvidas suscitadas por estudiosos adeptos
da posição dos analíticos, sucedânea de F. Wolf (séc. XVIII), contra-
riados pelos unitários são dados muito posteriores. Vd. Buffiére 1956;
Wace — Stubbings 1963; Jensen 1980; Nagy 1996; Tuner 1997; Burgess
2003; Troca Pereira 2009, 2016a.
103
Autor de identidade incerta. Stragmalia 2011: 46 recusa tratar-se
de Apolónio paradoxógrafo, de Apolónio sofista ou de Apolónio Díscolo.

51
Reina Marisol Troca Pereira

factuais104, desfazendo a dicotomia mythos / logos105, como que


conferindo existencialidade evemérica, com cunho de exem-
plaridade paradigmática, a figuras tradicionais. Como tal, à
maneira de uma linha de paradoxógrafos, a exemplo de Paléfato
(séc. IV a.C.), Περὶ ἀπίστων (ἰστορίων), não desconstrói, racio-
nalizando106 a tradição mitológica com uma versão alternativa,

104
Vd. Brillante 1990; Barash 2011.
105
Vd. contraste de ‘mito’, enquanto ficcionalidade/confabulação
literária, e factualidade, Plu. De  gloria Atheniensium 348a-b: ἀλλ᾽  ὅτι
μὲν ἡ ποιητικὴ περὶ μυθοποιίαν ἐστὶ καὶ Πλάτων εἴρηκεν. ὁ δὲ μῦθος
εἶναι βούλεται λόγος ψευδὴς ἐοικὼς ἀληθινῷ· διὸ καὶ πολὺ τῶν
ἔργων ἀφέστηκεν, εἰ λόγος μὲν ἔργου, καὶ λόγου δὲ μῦθος εἰκὼν καὶ
εἴδωλόν ἐστι. “Que a poesia tem a ver com a composição de assuntos mi-
tológicos, também Platão já tinha afirmado. Ora, um mito pretende ser
uma história falsa, parecendo ser verdadeira. Assim, encontra-se bastante
afastado dos factos reais, se uma história não é mais do que um cenário e
uma imagem do sucedido, e um mito um cenário e uma imagem de uma
história.” Vd. Baeten 1996.
106
Vd. uma lógica mais baseada em analogias e valias, enquanto
lições supostamente históricas, numa dicotomia elitista mythos-falsidade-
-tradição-canonização popular / logos-veracidade/plausibilidade-história/
etnografia (literatura oral). Linguisticamente, os termos utilizados para
estabelecer o apartamento desses vetores passam, a título exemplificativo
visível em Paléfato, Περὶ ἀπίστων (ἰστορίων), De Incredibilibus, séc. IV
a.C, por εγὼ δὲ γιγνώσκω ὅτι, praef.; δοκεῖ δέ μοι ταῦτα εἶναι, 33; ἐμοὶ
δὲ δοκεῖ ἀμήχανον, 34. Outrossim, por expressões adversativas simila-
res, introduzidas por δὲ e ἀλλά, ‘mas’, com o sentido de ‘mas a verdade
é esta’ (e.g. τὸ δὲ [δ’] ἀληθὲς ἔχει ὧδε, 1-2, 6-9, 23, 28, 30, 41-42; τὸ δὲ
ἀληθὲς οὖν ἐστι τοῦτο, 3; [ἔχει οὖν] ἡ ἀλήθεια ὧδε, 4, 18; ἐγένετο δέ τι
τοιοῦτον, 5; ἡ δὲ ἀλήθεια [ἔχει ὧδε] αὕτη, 10, 16, 20, 22; ἡ δὲ ἀλήθεια
ἥδε, 45; τὸ [ἦν] δὲ ἀληθὲς τοιοῦτον, 13, 21; τὸ δὲ ἀληθὲς [ἔχει ὧδε]
οὕτως, 15, 19; ἦν δὲ τοιοῦτον, 24; [ἀλλ’ ] ἐγένετο [δέ] [τι] τοιόνδε τι,
26, 39, 40; ἔχει δὲ ὧδε τὸ ἀληθὲς οὕτως, 27; ἐγένετο οὖν τοιοῦτόν τι,
31; ἐγένετο δέ τι οὖν τοιοῦτόν, 43. Cf. anotações, como μάταιον, “ridí-
culo”, 4, 27, 38; ἐστι δὲ εὔηθες, “isto é uma tolice”, 5; τοῦτο δὲ ψευδές,
“isso é falso”, 9, a título ilustrativo). As causas apontadas para repor a
verdade (cf. plausibilidade) dos acontecimentos varia na introdução de
cada fenómeno retratado (e.g. 37: ἀλλ’ ἦν τοῦτο, “Eis como aconteceu”;
38: ἦν οὖν τοιοῦτον, “Eis o que sucedeu”). Sobre a apresentação, por
parte dos paradoxógrafos, de duas versões do mesmo mito: uma tradi-
cional, outra racionalizada, vd. Nestle 1942; Douglas 1953; Lévi-Strauss
1955; Kirk 1973; Poser 1979; Schneiderman 1981; Shelburne 1988; Gill

52
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

explicando a causa da deturpação sucessiva dos recontos, dando


azo à ‘linguagem mitológica’. De uma forma geral, é breve,
linear e objetivo, quiçá denotando o conhecimento corrente das
situações reportadas.
Embora não se datem (e.g. #21) nem localizem (e.g. #20, 21)
todas as ocorrências, é ainda assim evidente o cuidado do autor
em facultar, na estrutura dos episódios supostamente verídicos,
dados de plausibilidade107, o que retira o cunho fantasioso/
fantástico e apela até à credulidade de alguns possíveis céticos.
Para tanto, serve-se de diversos expedientes de creditação, como
a intervenção de altos dignatários (cf. #35), o envio, a alimenta-
ção, o processo de morte-embalsamento, o acondicionamento, a
coleção108 e a exposição109 (cf. #15).

— Wiseman 1993; Lincoln 1999; Walker 2001; Jamme 2004; Ricoeur


2004; Rank — Richter — Lieberman 2004; Brodersen 2005; Sulimani
2005; Segal 2011; Kim 2010: 73; Scodel 2014: 126.
107
Pese embora #21, em completo anonimato; #25, onde nenhuma
das parturiantes é identificada, e #33, em sítio não descrito, Flégon,
servindo-se de autoridade epistémica, por vezes testemunha (e.g. #1, 9)
e na generalidade prefere disponibilizar valimento, indicando outros
depoimentos (povo, figuras reconhecidas do cenário político e social,
escritores), o contacto com figuras sociais de referência (e.g. Imperadores
- Tibério Nero: séc. I a.C./I d.C. , #13, 14; Nero - séc. I, #20. Cf. alusão a
Filipe II da Macedónia - séc. IV a.C.; Trajano - séc. I/II, e Adriano - séc.
II: #29) e dados contextuais (e.g. data, localização, realidade política,
eventos naturais, identificação/nominalização de algumas figuras con-
templadas). Assim, a consideração do valor profético para o desenrolar de
contendas militares (#2) e a alusão a Hierão de Alexandria ou de Éfeso, a
propósito da Etólia (#1); ao filósofo peripatético Antístenes (#2); a Polícri-
to (#2); a Buplago, comandante de cavalaria sírio, morto por romanos nas
Termópilas, em 191; ao general Públio (#3); a Antíoco (#3); a Agripina
Augusta, casa de (#7); ao pretor Récio Tauro, c. 69 (#22); ao geómetro
Pulcro (#14); a Cornélio Galicano (esposa, #23).
108
E.g. Augusto teria uma coleção particular (Suet. Aug. 72).
109
Na realidade, constatam-se algumas divergências sobre a autenti-
cidade de certas maravilhas, como pigmeus (vd. Il. 3.5; Eust. ad Hom. p.
372. Arist. HA 8.14 identificava-os com uma tribo no Egito. Cf. Gerana,
Ant. Lib. 16; sátiros (vd. Plu. Sull. 27, sobre dois sátiros um exemplar

53
Reina Marisol Troca Pereira

De notícias diatópicas e etnológicas contempladas e (ou)


indicadas para localizar eventos, ressalta diversidade, comple-
mentada com algum exotismo bárbaro e orientalidade, em
consonância com o teor da matéria abordada: #1 Anfípole (cf.
Macates - Pélia); #2, Etólia. Cf. #3, sacrifícios na Etólia; #3,
Termópilas, Elateia, Éfeso, Roma #6; #5 - “terra dos Lapitas”,
i.e., Tessália; #6, Antioquia, junto ao rio Meandro; #7, Mevânia
- Itália, Esmirna; #8, Epidauro; #9, Laodiceia - Síria; #10, 22,
23, 25 - apenas um dos episódios contemplados, Roma; #11,
Messene; #12, ‘Caverna de Ártemis’, Dalmácia; # 13, cidades
da Ásia Menor, Templo de Afrodite, Fórum Romano - Roma;
#14, cidades de Sicília, Régio; #15, Nítria, Egito; #19, Mar
Meótis, sismo, no Bósporo Cimeriano; #16, Rodes; #17: forti-
ficações, numa ilha perto de Atenas; #18: trincheira defensiva
pelos Cartagineses; #24, Trento, Itália; #25, rio Tibre; #26,
28, 29, Alexandria, Egito; #27 - embora de contexto romano
(escravo de um soldado), ocorre em solo germânico, sob Ale-
xandria (#28-29); #33, Pândia; #34, Sauna - Arábia. Embora
se contem poucos casos sem localização (e.g. Ctesébio/104a,
Gaio Pompúsio/107a, Jerónimo/104a, Macr. 2), a indicação da
cidade, associada com a longevidade, afigura-se um elemento
estruturante, que permte ao leitor confirmar a veracidade das

vivo, capturado em 83 a.C. e mostrado a Sila; outro, preservado em sal


- cf. Jerónimo, Vita S. Pauli Primi Eremitae 8 = Migne PL 23:24,
mostrado ao Imperador Constantino, em Antioquia. De igual modo, al-
guns povos que habitavam África, segundo Plin. HN 5.8 (viz. Egipanos,
sátiros); Nereidas; Tritões (Plin. HN 9.4; cidadãos de Gades também
teriam avistado um Tritão - marinum hominem. Vd. Ael. NA 13.21). De
outro modo, humanos selvagens (Paus. 2.21.6-7, acerca de um exemplar
capturado na Líbia e enviado para Roma. Considere-se, ficcionalmente,
Ps. - Callisth. 2.33). Sobre a captura do dionisíaco Sileno, Hdt. 8.138;
X. An. 1.2.13; Theopomp. Hist. Philippika 8 (FGrHist 115F 75); Plu.
Num. 15.3-4; Paus. 1.4.5; Philostr. VA 6.27; na tradição romana, Ov.
Fast. 3.291-326.

54
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

informações e desambiguar nomes comuns de indivíduos.


Os sítios indicados110 não se inscrevem apenas na Itália, mas,
tal como o Império, estendem-se por províncias exteriores:
Abdera - 1H/104a; Apilocário, cidade - 1H/100a; Arimino
(hoje Remini) - 1H/100a; Basileia - 2: 1H/100a +1M/100a;
Beleia - 3: 2H/100a+1M102a; Belia - 2/100a: 1H+1M; Bo-
nonia (hoje Bolonha) - 13: 5H/100a+1H/101a+2H/105a+1H
/106+1H/135+1M/100a+1M/101+1M/110; Brixelo (hoje Bres-
cello) - 2H/100a; Conimbrigesia (Conímbriga?) - 2H/100a;
Cornélia (hoje Ímola?) - 7: 2H/100a+1H/111+1H/114+2M/
101a+1M/103a; Corsiolo - 1M; Etósia - 1M/100a; Favência
(hoje Faenza) - 2: 1H/105a+1M/100a; Fidência - 1H/100a;
Iburobisingésia - 1H/100a; Interamnésia, cidade, Lusitânia:
3H/100a; Ortísia - 1M/100a; Macedónia - 6: Anfípole -
1H/100a+1M/100a, Filipos - 1H/100a+1M/100a, Paricópole -
4H/100a; Nicomédia, na Bitínia - 1H/!00a; Parma - 9: 4H/100
a+1H/102+1H/105a+1M/100a+2M/101a; Placência - 14/100a:
13H + 1M; Polésia - 1H/100a; Ponto e Bitínia (tianos) - 4:
3H/100+1M/100a; Ravena - 2: 1H/100a+1H113a; Régio (hoje
Reggio) - 6: 4H/100a+1H/102+1M/110a; Sabina - 1H/136a;
Sinope - 1H/100a; Tanetana, cidade - 1H/105a; Tartésios,
região dos - 1H/150a; Veleia - 1H/100a. Por último, a sibila de
Eritreia : ἐβίωσεν ἔτη ὀλίγον ἀποδέοντα τῶν χιλίων, “viveu
um pouco menos de mil anos (Macr. 6.1)111. Além desta forma
direta de apresentar a idade, expressa-se também com recurso
a ‘vidas’ (10x110 anos), donde ἐν δεκάτῃ γενεᾷ, “décima ida-
de” (Macr. 6.1); ἐτῶν ἑκατὸν δέκα , “cento e dez anos” (Macr.
6.3); eἰς ἐtέων ἑκatὸν dέκa κύκλον ὁdeύsaς, “tendo gozado
ciclo de cento e dez anos” (Macr. 6.3).

110
Legenda: H - homem; M - mulher; a - anos.
111
Cf. Lact. Diu. Inst. 6.8-12, sobre várias sibilas.

55
Reina Marisol Troca Pereira

A disposição dos governantes, militares, arcontes e cônsules


em funções, por altura de algumas ocorrências, com poucas
exceções (e.g. #8 não tem indicações), participa de uma estraté-
gia dúplice selecionada pelo Traliano, conferindo credibilidade
e proporcionando datação, a partir das fontes e testemunhos,
aos episódios em que são aduzidos, em termos gerais, do séc. I/
II. Eis, no ano 45, #6: arconte ateniense - Antípatro, cônsules
romanos - Marco Vinício, Tito Estatílio Tauro (Corvino),
Imperador - Cláudio; no ano 49, #22: arconte - Demófilo;
cônsules - Quinto Verânio, Gaio Pompeio Galo; no ano 53,
#7: arconte ateniense - Dionosoro, cônsules romanos - Décimo
Júnio Silano Torquato, Quinto Hatério Antonino; no ano 56,
#27: comando militar de Tito Curtílio Mância, arcontado de
Cónon; consulado de Quinto Volúsio Saturnino, Públio Cor-
nélio Cipião; no ano 61, #20: Imperador - Nero, arconte ate-
niense - Traslo, cônsules romanos - Públio Petrónio Turpiliano,
Cesénio Peto; no ano 65, #23: arconte ateniense - Demóstrato,
cônsules romanos - Aulo Licínio Nerva Silaniano, Marco Ves-
tino Ático; no ano 83, #24: arcontado ateniense vacante, nono
consulado de Domiciano César e segundo de Petílio Rufo), no
ano 112, #25: arcontado de Adriano, antes de ser imperador,
cônsules romanos - imperador Trajano (6ª vez) e Tito Sextio
Africano; no ano 116, #9: arconte ateniense - Macrino, cônsules
romanos - Lúcio Lâmia Eliano, Sexto Carmínio Vetero; no ano
125, #10112: arconte ateniense - Jasão, cônsules romanos - Marco
Plautio Hipseu, Marco Fúlbio Flaco; no ano 191, #3: cônsul
Acílio Glábrio, legados - Pórcio Catão, Lúcio Valério Flaco.

112
No respeitante a este episódio, aparece regularmente datado do ano
125. Contudo, Diels 1890: 90-91, referindo a possibilidade de tratar-se de
um mesmo prodígio, mas de estarem misturados dois oráculos diferentes,
talvez as datações dos oráculos se situem em 200 e 207. Cf., igualmente, a
recolha de Livros Sibilinos após incêndio no Capitólio, em 83.

56
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

A apresentação de testemunhos credíveis continua a ser


prática em De Longaevis, ainda que de forma menos corrente.
Sob alçada dos dados recolhidos pelo censo113 dos anos 73-74,
destaca ainda reconhecidos autores gregos bastante antigos que
fornecem a mesma informação - séc. V a.C.: Heródoto 1.163.2
e Anacreonte, fr. 4 Gentili - PMG 361, para os 150 anos de Ar-
gantónio; do séc. II a.C.: Apolodoro, Crónica - cf. FGrHist 244
F49, sobre Ctesébio, com 104 anos114; Agatárquides [de Cnido],
Acontecimentos da Ásia 9 - cf. FGrHist 86 F4, a propósito dos
104 anos de Jerónimo [de Cardia, FGrHist 154 T2]115).

2.2.4. Opera
a. Sobre Maravilhas (Περὶ θαυμασίων)
Retrata thaumata que pervertem a ordem natural dos ele-
mentos: morte-vida; género (em vários aspetos, desde sexo, parto,
morfologia, dimensões); humano-não humano. Diversas fontes,
umas citadas diretamente, embora algumas obras análogas latinas
dispostas em distintas formas literárias, mormente durante o Perí-
odo Trajânico e Adriânico116 nunca sejam objeto de menção direta,
designadamente Plínio, HN, por certo do seu conhecimento.
No âmbito do topos do fantástico sobrenatural, o escravo
liberto letrado de Adriano apresenta uma obra paradoxográfica
Περὶ Θαυμασίων, Sobre Maravilhas, conferindo continuidade

113
Cf. Mommsen 1877; Kubitschek 1899.
114
Apollod. fr. 103 Müller contém excertos de autores que abordaram
o topos da longevidade, designadamente Luc. Macr. 22 e Phleg. Macr. 2,
no respeitante a este caso.
115
Cf. o próprio Flégon/Imperador Adriano, para Fausto, Macr. 4.
116
Outros autores também não citam diretamente Plínio, ainda que
reportem maravilhas similares. Como exemplo, Lívio (28-33) recorda
crianças hermafroditas consideradas portentos, mortas em conformidade
com rituais. Vd. Kowalzig 2007. Assim também Plínio, quanto a tempos
passados (HN 7.3.34, rapaz tornado mulher - exilado. Cf., para mais,
Obsequente, séc. IV, Liber de prodigiis). Vd. Bayet 1971.

57
Reina Marisol Troca Pereira

a múltiplos escritos de teor similar, conforme indica Flégon,


ao nomear Hierão de Alexandria (ou de Éfeso), a propósito da
Etólia, na história inicial de Mirabilia. Estruturalmente, a obra
compreende várias categorias de thaumata. O f. 216r começa
com uma lacuna inicial. Depois, o texto, distinguindo-se, no
opusculum117, diferentes secções: prodígios118 de almas de mortos
entre os vivos (1-3); maravilhas várias (1-35), das quais andrógi-
nos (4-10), ossadas humanas de dimensões extraordinárias (11-
19), questões relativas ao nascimento, e.g. partos, fecundidade
(20-31), envelhecimentos prodigiosos (32-33), hipocentauros
(34-35)119. A junção de topoi denota algum cuidado estrutural.
O gosto popular pela matéria parece incontornável, não se
iniciando com, nem tampouco restringindo Flégon. Importará,
desde logo, constatar fraudes reconhecidas à época120.

Cultura Fantasmagórica em Flégon Traliano: Episódios de


poltergheist (1-3)
De início, a obra Περὶ Θαυμασίων dispõe um conjunto de
três histórias de cariz novelesco121, fazendo reavaliar a ideia de
morte, através de pessoas jovens que retornam à vida (1-3),

117
Cf. alusões de Keller 1877: VIII. Vd. Stramaglia 2011: VI - capp.
1-3: mortui quidam inter vivos paulisper reversi aliaque prodigia cum his
apparitionibus conexa; capp. 4-35: mirabilia varia ad humanam naturam
spectantia: a. 4-10: ἀνδρόγυνοι; feminae in mares versae; b. 11-19: maiora
quam quae hominibus conveniant ossa fortuito reperta; c. 20-31: partus
varie prodigiosi; matres mire prolificae; d. 32-33: pueri statim senescentes et
sim.; e. 34-35: ἱπποκένταυροι.
118
Vd. Bloch 1963; MacBain 1982.
119
Cf. Stramaglia 2011: VI.
120
Cf. caso reconhecido como fraude (Plin. HN 10.2.5: quod actis
testatum est, sed quem falsum esse nemo dubitaret, “isto foi atestado pelos
anais, todavia ninguém duvida que era uma fénix inventada”. Tac. Ann.
6.28: haec incerta et fabulosis aucta, “tudo isto é duvidoso e um exagero
fabuloso”. Cf. D.C. 58.27.1). Vd. Madsen — Lange 2016.
121
Cf. Bergua 1964; Anderson 1984; Pinheiro — Perkins — Pervo 2012.

58
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

tomadas como modelo para composições literárias futuras122 .


A primeira, um episódio doméstico; a segunda, relativa a
Polícrito, face à atitude discriminatória dos seus compatrio-
tas - povo e profetas conselheiros, perante o seu descendente
hermafrodita nascido após a sua morte, profecia de um futuro
calamitoso, caso não obedecessem à assombração, refletindo
uma clivagem entre justiça popular tradicional, selvagem,
xenófoba, mundana, e justiça do além, por um destino divino
calamitoso. De tudo, a situação desenhada funciona como um
expediente que funciona como motivo de crítica moralista,
perante a realidade de relacionamentos interculturais. Por
último, acontecimentos, tendo por base a figura do filósofo
peripatético Antístenes, militarmente derrotado por Pórcio
Catão e Lúcio Valério Flaco: profecias e morte de Buplago;
realização de sacrifícios a Zeus Apotropaios; consulta do
oráculo de Delfos; abandono da guerra; loucura profética de
desgraças futuras, por parte do general Públio, num estado
de enthousiasmos motivado por Apolo Linceu; teatralização
ritualística/folclore, com o surgimento de um lobo (cf. Λύκος,
Linceu, Lício) que ataca e devora o general; pacto com Antío-
co; construção de um templo a Apolo Lício (Λύκιος) e de um
altar onde jazia a cabeça remanescente do general.

122
Vd., na Antiguidade, obras similares: Antígono de Ca-
risto, Θαυμάσια; Aristandro, Ἱστορίαι θαυμάσιαι; Mónimo,
Θαυμασίων συναγωγή; Fílon de Heracleia, Περὶ θαυμασίων; Ps.
Aristóteles Περὶ  θαυμασίων  ἀκουσμάτων; Arquelau de Quersoneso,
Πeρὶ  tῶν  θaυµasίων; Apolónio,  Mirabilia / Historiae Mirabiles. Vd.,
proximamente, Plin. 7.27, com histórias de aparições espíritas, passando
por topoi de ‘profecias de morte’, da ‘aparição’, da ‘casa assombrada’, na ex-
ploração do horror e macabro credibilizada com o envolvimento de figuras
conhecidas no panorama social, como Cúrtio Rufo, de início governador
de África; o filósofo recém-chegado - Atenodoro; um escravo pessoal de
Plínio, que lhe terá movido um processo. Cf. Westermann 1839; Vanotti
1981; Lanza — Longo 1989; Brodersen 2002; Stramaglia 1995, 2011.

59
Reina Marisol Troca Pereira

O testemunho da trilogia, embora irrecuperavelmente trun-


cado, não obsta à perceção do conteúdo semântico essencial dos
perturbados cenários, configurando panoramas perturbados,
nos quais se prefigura um misto com elementos repetidos nos
três episódios introdutórios. Assim, notas de assombro, estra-
nheza, terror, curiosidade, romance, tragédia, sentimentalismo,
secretismo, anagnorisis, rituais, oráculos, profecias, crueldade,
sacrifícios, empregues por forma a constituir uma gradação
progressiva em termos terríficos e pormenores tétricos, no
derradeiro caso, onde se prefigura um misto com elementos
repetidos nos três episódios introdutórios. Transgridem tam-
bém a normalidade casos de hermafroditas e mudanças de sexo
(4-10); outrossim, a listagem de ossadas de grandes dimensões
(11-19); de nascimentos inusuais (20-21, 25), descendência
humana animalesca (22-24); notícias de gestações masculinas
(26-7); nascimentos múltiplos (28-31); envelhecimento (32-33);
centauros (34-35).
A credibilização é conferida, por um lado, por aspetos
religiosos, já que as supostas aparições fantasmagóricas ocor-
reriam com permissão dos novos senhores ctónicos, aos quais
passaram a obedecer as almas dos defuntos, como está patente
em Mir 1: οὐ γὰρ ἄνευ θείας βουλήσεως ἦλθον εἰς ταῦτα. “É
que não foi sem existir vontade divina que eu vim até aqui.”
Por outro lado, num plano secular, pelo autor, através da re-
ferência a autoridades literárias, como Antígono, Antístenes,
Apolónio (ὁ γραμματικός), Dicearco, Doroteu, Êumaco,
Hesíodo, Hipóstrato, Calímaco, Clearco, Crátero, Megástenes,
Teopompo; e pelo apelo a confirmações pessoais. Na realidade,
ganha importância atestar credibilidade às informações trans-
mitidas. Afinal, no caso particular de Flégon, similarmente a
outros, tratava-se de um historiador, cujas histórias reportadas
deveriam engrandecer-se acima da mera fantasia literária. Com

60
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

efeito, convinha entender-se algum didatismo imiscuído nessas


mensagens enigmáticas, alegóricas, cujo assombro preserva na
memória, envolvendo o homem (diversas categorias e estatutos
sociais); o divino; a comunicação com o divino e o além, através
de oráculos, profecias, profetas123.
O livro Sobre Maravilhas inicia-se com um cenário assom-
broso, qual chamariz num mecanismo literário popularista
pré-kitsch no horror. A exploração do terror no seu expoente
máximo conjuga um pressuposto e uma associação. De facto, ao
perfilharem-se certas matrizes filosóficas, como o epicurismo,
e, consequentemente, crenças religiosas, a morte é absoluta124,
retirando assim, nesse entendimento supostamente elevado
e algo elitista, espaço de desenvolvimento de crenças, receios
e crendices populares. Porém, no referente a Flégon e num
contexto social marcado pela implementação de um paradigma
judaico-cristão, parte-se, desde logo, de algumas bases neopla-
tónicas, designadamente, da aceitação do dualismo ontológico

123
Importa atentar sobre considerações antigas que, não sendo ne-
cessariamente blasfemas, por não desautorizarem as revelações divinas,
colocam dúvidas acerca da credibilidade e do sentido ético de alguns pro-
fetas, uma questão presente na literatura (cf. E. IA 520-521: Ἀγαμέμνων
- τὸ μαντικὸν πᾶν σπέρμα φιλότιμον κακόν. | Μενέλαος - † κοὐδέν
γ᾽ ἄχρηστον, οὐδὲ χρήσιμον παρόν. †, “Agamémnon - Toda a classe de
profetas constitui uma praga pela sua ambição. Menelau - Sim, imprestável
e sem serventia, quando entre nós.” Em sentido similar, vd. IA 956-958:
τίς δὲ μάντις ἔστ᾽ ἀνήρ, | ὃς ὀλίγ᾽ ἀληθῆ, πολλὰ δὲ ψευδῆ λέγει | τυχών,
“O que é um profeta, além de um homem que, ocasionalmente, profere
por vezes a verdade, mas muitas vezes mentiras”. Cf., de igual modo, Apul.
Met. 2.28, sobre Zatchlas, profeta que propunha trazer de novo à vida
figuras mortas, pelos honorários a combinar. Vd. Souter 1936; Altizer et al.
1962; Westmoreland 2007; Troca Pereira 2013c, 2015a.
124
Cf. Epicur. apud D.L. 10.124-126. Vd. Jaeger 1959.

61
Reina Marisol Troca Pereira

do ser de raça humana125 e da sobrevivência da alma126 após o


natural e imperioso (cf. Pi. O. 1.82) óbice de compensar a culpa
ancestral titânica (Pl. Men. 81b: ποινὴ παλαιή. Cf. E. Andr.
1271-1272: πᾶσιν γὰρ ἀνθρώποισιν ἥδε πρὸς θεῶν | ψῆφος
κέκρανται κατθανεῖν τ᾽ ὀφείλεται, “Na realidade, este é o
julgamento decidido pelos deuses que pende sobre todos os
mortais e a morte a sua dívida a pagar.” Vd. D. 258; Opp. H.
5.4-7)127 vigente na componente física, através do fim da vida,
igualando, dessa forma, diferenças individuais de género, idade,
condição social, riqueza, cultura (cf. ὁμῶς ἅπαντες: Pi. I. 7.42),
após uma existência mais ou menos demorada no tempo.
Por outro lado, os episódios de ressurgimentos associam o
topos da morte ao do desconhecimento, que cria temor desar-
razoado128 . E além do mais, caso se pondere a questão sob ma-
trizes órficas, poderá entender-se a realidade tradicionalmente

125
As raças divina e humana distinguem-se, desde logo, pelo facto de
a primeira ser imortal (cf. ἀθάνατοι) e a segunda corresponder aos mor-
tais (θάνατοι/βρότοι) - h.Cer.11: ἀθανάτοις θεοῖς | θνητοῖς ἀνθρώποις,
“deuses imortais | homens mortais”. Existem, todavia, formas de garantir
a imortalidade possível para um ser humano. Vd. Sourvinou-Inwood
1981; Redfield 1991.
126
Cf. Pl. Men. 81b: φασὶ γὰρ τὴν ψυχὴν τοῦ ἀνθρώπου εἶναι
ἀθάνατον, “diz-se que a alma humana é imortal”.
127
Cf. dívida ancestral contraída pelos antepassados titânicos, em
virtude do desmembramento (σπαραγμός) de Zagreu/Diónisos (cf. OF
320; A. fr. 228 Radt) e herdada pelos descendentes humanos (cf. Opp. H.
5.4-7). Vd. Comparetti 1873; Bianchi 1966; Alderink 1981; Zeitlin 1991;
Brisson 1995; Bernabé 2002; Rudhardt 2002; Henrichs 2010.
128
Cf. Pl. Ap. 29a-b: τὸ γάρ τοι θάνατον δεδιέναι, ὦ ἄνδρες, οὐδὲν
ἄλλο ἐστὶν ἢ δοκεῖν σοφὸν εἶναι μὴ ὄντα: δοκεῖν γὰρ εἰδέναι ἐστὶν
ἃ οὐκ οἶδεν. οἶδε μὲν γὰρ οὐδεὶς τὸν θάνατον οὐδ᾽ εἰ τυγχάνει τῷ
ἀνθρώπῳ πάντων μέγιστον ὂν τῶν ἀγαθῶν, δεδίασι δ᾽ ὡς εὖ εἰδότες
ὅτι μέγιστον τῶν κακῶν ἐστι. “É que temer a morte, senhores, nada
mais consiste do que julgar-se sábio, quando assim não é, pois trata-se de
pensar que alguém conhece o que desconhece. Com efeito, ninguém sabe
se a morte não é até a melhor bênção para os homens, mas eles temem-na
como se soubessem que é o maior dos males.” Cf. Rose 1936.

62
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

apelidada de ‘morte’, não como uma perda derradeira, mas antes


como uma etapa existencial, qual metamorfose, à semelhança
de outras anteriores (viz. nascimento, crescimento, envelheci-
mento), marcada por mudanças (e.g. de estado, condição, lugar)
refletidas em libertação, verdade (ἀλήθεια. Cf. Pl. Phaed. 65b),
felicidade (εὐδαιμονία). Transata a ‘vida’, marcada por simula-
cro, dolo, contingência (cf. Heraclit. fr. B 62) e aprendizagem a
partir de múltiplos sofrimentos advenientes da τύχη (cf. πάθει
μάθος, A. Ag. 177, 928-929; S. OT 1528-1530), o novo perío-
do iniciado com a ‘morte’ traduzir-se-ia pelo prosseguimento
evolutivo do ciclo existencial (cf. OF 463: βίος, θάνατος, βίος
| ἀλήθεια | Διό(νυσος, “Vida, morte, vida | verdade | Diónisos
[renascido. Cf. πάλιν γίγνεσθαι]). E tomada esta linha de
pensamento um pouco mais adiante, introduz-se o paradoxo
decorrente de um ceticismo gnoseológico. Ora, por um lado,
o terror diário que pende sobre todos: a morte, como perda /
fim, quiçá, mediante a tradição pagã, início de sofrimentos no
tenebroso Hades, ou de cumprimento de suplícios eternos. Con-
comitantemente, explica-se a ‘morte’ infligida a deuses (entida-
des à partida imortais), como Úrano e Cronos, relegados para
o Tártaro; Zagreu/Diónisos. Por outro, a convicção da morte
como uma utopia da vida. Por último, o desconhecimento en-
quanto algo positivo, ideia corrente no séc. V a.C., expressa em
autores, a exemplo de E. fr. 833 Kannicht: τίς δ᾽ οἶδεν εἰ ζῆν
τοῦθ᾽ ὃ κέκληται θανεῖν, | τὸ ζῆν δὲ θνήισκειν ἐστί; “Quem
sabe se a vida não é morte e a morte não é vida?”129.
Ora, considerando a sobrevivência da alma130, mesmo an-
tes do advento do paradigma judaico-cristão, torna-se viável

129
Cf., no mesmo sentido, Pl. Grg. 493a; E. fr. 638 Kannicht, fr. 833
Kannicht.
130
Cf. D.L. prlg. 9. Vd. De Jong 1997.

63
Reina Marisol Troca Pereira

prosseguir para questões como o diálogo entre o plano dos


vivos e dos mortos; aparições e até a ressurreição, milagre e
mirabilia hagiográficos relacionados131, aliando, por um lado,
conceções tradicionais de imortalização da alma; por outro,
ideologias órficas, pitagóricas e a suposição de um ciclo de três
episódios evolutivos de reincarnação132/transmigração da alma
(cf. metempsicose), conforme expõe Píndaro (fr. 133 Page); por
outro ainda, em certa medida, o evemerismo. Com as devidas
reservas, cabe considerar, neste ponto, o δαιμόνιος τόπος133
(Procl. 2.133.8-15 Kroll), local etéreo, espaço divino, misterio-
so, assim como um espaço de ascensão das almas, relativamente
ao ilusório mundo sensível (cf. caverna, Pl. R. 514a-517a), sobre
o qual pairam134, em experiências simbolicamente oníricas135 de

131
Cf., na ficção novelesca, renascimentos devidos a taumaturgos,
uns ficcionados, outros considerados reais, cujo impulsionamento se atri-
bui ora a divindades (cf. Asclépio: Apul. Fl. 19; Orígenes, Cels. 3.24), ora
a médicos/curandeiros/ervas (vd. a propriedade de certas ervas, Plin. HN
25.5.14. E.g. Palaeph. 26. Cf. Ísis: D.S. 1.25). Considere-se, a propósito
da ressurreição, no cenário clássico, Hdt. 4.13-16, 94-96; Pl. Chrm. 156d;
Apollon. Mir. 2.2, relativamente à ressurreição de Zalmoxis, episódio
que justifica o paralelismo com Jesus. Cf. Orígenes, Cels. 2.55, face à
compreensão de milagres (cf. Apolónio de Tiana) e o processamento de
alguns mirabilia hagiográficos. A reaparição ou resgate (cf. Ar. Ran.) in-
clui figuras lendárias (e.g. Er: Pl. R.10.614-621) / mitológicas ficcionadas
(e.g. Eurídice: Apollod. 1.3.2) e outras reais (e.g. Nero: Tac. Hist. 1.2,
2.8; Suet. Nero 57. Para outros casos, vd. Plin.; Plu.).
132
Sobre reincarnação, vd. Pl. Phaed. 78b-84b. Vd. Brisson 1992.
133
Cf. Strózynski 2008; Mariev — Stock 2017: 193.
134
Cf. Hdt. 7.16b2. Vd. Lucr. 5.724, substituindo phantasmata pelo
vocábulo latino simulacra, para designar entidades voláteis, ainda assim
imagens materiais, atómicas (vd. 4.49-53. Cf. Epicuro, eidola). Partículas
emitidas pelos corpos humanos prevalecem no ar, configurando imagens
até de mortos. O visionamento de tais imagens, quais memórias visuais,
de dia, em estado de vigília, mas sobretudo de noite, aterroriza (4.30-41).
Vd. Sedley 1999; Maggi 2008: 115; Holmes — Shearin 2012.
135
Cf. o simbologismo da relação de irmandade gémea (vd. Hes.
Th. 759. Cf. Paus. 18.1) entre Hypnos (‘Sono’) e Thanatos (‘Morte’), duas
esferas associadas com o negrume; a primeira, porém, transitória. Ainda

64
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

quase-morte (cf. xamanismo) de πορεία (cf. Pl. R. 514b-e)136.


Não é casual associar grande parte das aparições, por
natureza137 já figuras escuras138, sombras negras, com vestes
pretas (Paus. 6.6.11), por vezes com marcas físicas resultantes
de mortes violentas (Il. 23.64. Vd. aparição onírica de Heitor a
Eneias, Verg. A. 2.270-279; de Siqueu a Dido, A. 1.353-356), à
falta de luminosidade / noite e silêncio - factores que aumentam
o cariz temeroso, tornando também difícil limitar a alegada
ocorrência do sono e sonho139, aspeto especialmente destacado
no parecer epicurista, mediante a qual a perceção enganadora
(ἀπατηλός) e mutável através dos sentidos, juntamente com o
pensamento (διάνοια), permite a sua transformação/moldagem
em qualquer forma, ainda que sem existência real (vd. Plu. Brut.
37.1: μεταβάλλειν ἀπ᾽ οὐδενὸς ὑπάρχοντος ἐπὶ πᾶσαν ἰδέαν),
qual invólucro de cera contendo a alma humana, durante a

assim, o sono não deixa de constituir, de certo modo, um momento de


morte, enquanto distanciamento da vida quotidiana.
136
Cf. Plu. De sera numinis vindicta 563b-568, a respeito da experi-
ência de quase-morte de Tespésio de Soloi. Vd. comentários de Proclo (R.
2.113.22 sq.), referindo Aristeas do Proconneso, Hermodoro de Clazó-
menas, Epiménides de Creta. Importa, outrossim, constatar um exemplo
de ‘reincarnação’, designadamente Platão, com Er (Pl. R. 10.614-621),
segundo retrato de Sócrates a Gláucon, sobre o referido herói, morto em
batalha, porém, não tendo ingerido água do esquecimento, a partir de
Lete, acordou, regressando ao corpo (10.621b: εἰς τὸ σῶμα ἀφίκοιτο)
jazente numa pira, decorridos doze dias da sua morte e contou a expe-
riência. Ora, no caso, assiste-se a uma alma que efetua um périplo de
consciencialização (νόησις) para o seu interior. Cf. Strózynski 2008.
137
Por vezes resumem-se apenas a sons (Paus. 1.32.4. Cf. Luc. Phar-
salia 1.568, 569: gemuerunt ossibus urnae; fragor armorum), adensando a
imaginação e, com ela, o pavor. Cf. poltergeist – ‘espírito ruidoso’.
138
Cf. Paus. 6.6.11. Exemplifique-se, para falta de luz e ruídos em
ambiente normalmente silencioso, vd. Plu. Cim. 1.6; Paus. 9.38.5; Luc.
Philops. 15.
139
O topos de ἀνίστημι e ἐγείρω (Il. 2.42 e o simples erguer/levantar
do sono). Ἠγέρθη, ‘levantou-se’ [do sono]; ἀνέστη, ‘levantou-se’ [do
local onde estava]. Cf. gramático Amónio, séc. I/II, De adfinium vocabu-
lorum differentia §216 (BT 56.15–16 Nickau).

65
Reina Marisol Troca Pereira

imaginação onírica (cf. Plu. Brut. 37.2), conforme exemplifica


Plutarco140.
O desconhecimento, a invulgaridade e a falta de explanações
racionais motivam sensações de assombro, terror extremos141
e até conotações de cobardice (cf. Thphr. Char. 16.1-2), bem
como alguma instabilidade/perturbações políticas, sociais, re-
ligiosas (viz. cerimónias necromânticas/místicas/propiciatórias
a figuras/entidades ctónicas. Cf. invocação de Dario, A. Pers.
681-693); oráculos (cf. Hdt. 5.92g.2), donde também a ocorrên-
cia de fraudes e oportunismos.
O antropomorfismo que tradicionalmente caracteriza as
ψυχαί (‘almas’) humanas142 acentua a estranheza das aparições,
face à reversão do fatalismo da morte. De igual forma, a rein-
carnação constitui, outrossim, um desvio que perturba a ordem
natural, importando, neste sentido, distinguir aparições pontuais
e ressuscitação/renascimento permanente, e apreçar as consequên-
cias, porquanto o preço de uma vida implica outra (e.g. Alceste,
por Admeto, E. Alc.; os Dióscoros, Plin. HN 2.5.17).
De tudo, ficará por saber até que ponto relatos desta nature-
za corresponderiam a um gosto generalizado de uma audiência
literária/teatral, a título fictício (cf. topos da ‘casa abandonada
e.g. Plu. Cim. 1.6; Suet. Aug. 6; Luc. Philops. 30-31; Pl. Most.

140
Cf., a título ilustrativo, Cássio, o epicurista vs. Bruto, que alega ter
visto, ouvido e falado com uma aparição fantasmagórica (τὸ φάσμα), na
sua tenda, na noite anterior, a avançar com o exército para a Ásia (Plu.
Brut. 36.3-37.2).
141
E.g. Petron. 62: Qui mori timore nisi ego? […] Vt larua intraui,
paene animam ebulliui, sudor mihi per bifurcum uolabat, oculi mortui,
uix unquam refectus sum. “Alguém poderia estar mais morto de medo
do que eu? […] Entrei [em casa] como um cadáver e quase perdi a alma;
o suor escorria pelas minhas pernas, os meus olhos estavam mortiços;
dificilmente poderia ser reavivado.”
142
Cf., outrossim, relatos de animais que ressuscitam (e.g. Plu. De
sollertia animalium 973e-974a). Cf. Dodds 1951.

66
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

497-504) ou a título (pseudo-)histórico143, ou a um topos de apro-


veitamento literário de folclore tradicional 144, ou implicariam
também crença. Logo, por certo enquanto habilidade retórica,
pugna-se em extremo por criar credibilização, sugerindo-se
autópsias e testemunhos145. De facto, convém, na paradoxogra-
fia, ultrapassar o antagonismo generalista e tradicional mythos/
logos, entendendo e descodificando a linguagem enigmática146
capaz de preservar a memória de certos eventos, fazendo uso da
imaginação, do fantástico e do empolamento.
Afinal, não seria impossível, para quem crê na ressurreição
(cf. ἀνίστημι, ἐγείρω) de Cristo, decorrido o terceiro dia da sua
morte, julgar plausíveis outros reaparecimentos147. Vislumbra-

143
Cf. a manifestação da alma de Agripina diante do seu filho Nero
(Suet. Nero 34; Apul. Met. 9.31).
144
Cf. Pl. R. 2.381e, a respeito da falsidade (ψευδέσθων) de aparições
fantasmagóricas noturnas de figuras divinas sob forma humana, efetua-
das por poetas.
145
E.g. Phleg. Mir. 35: εἴ τις ἀπιστεῖ, δύναται ἱστορῆσαις, “quem
for cético, pode examinar pessoalmente”.
146
Vd. Plu. 8.8.3: τούτοις Ἑλλήνων ἐγὼ τοῖς λόγοις ἀρχόμενος μὲν
τῆς συγγραφῆς εὐηθίας ἔνεμον πλέον, ἐς δὲ τὰ Ἀρκάδων προεληλυθὼς
πρόνοιαν περὶ αὐτῶν τοιάνδε ἐλάμβανον: Ἑλλήνων τοὺς νομιζομένους
σοφοὺς δι᾽ αἰνιγμάτων πάλαι καὶ οὐκ ἐκ τοῦ εὐθέος λέγειν τοὺς λόγους.
“Quando comecei a escrever a minha história, estava inclinado a considerar
estas lendas como absurdas, mas, ao chegar à Arcádia, ganhei um maior
apreço por elas, que é este: nos antigos tempos os que eram considerados
sábios entre os gregos expunham os seus dizeres não de forma directa, mas
por enigmas.” Vd. Segal 1996, 1998.
147
Cf. uma respresentação bíblica simbólica da morte e ressurreição
de Cristo (vd. Johnson 2006) na morte de Jonas, engolido por um peixe
durante três dias (Mt. 12:49, Jn. 2:1). Numa dimensão mitológica dis-
ponibilizada anteriormente por Platão, com matizes simbólicas, morais
e didáticas, vd. mito de Er, reincarnado, acordando após um sono/
experiência onírica de morte, Pl. R. 10.614-621. Vd. sonho de Cupido
Crucificado, écloga tardia já por Ausónio. A bem ver, em última instân-
cia, o acordar poderá equiparar-se a uma ressurreição, correspondente
ao reassumir de um estado de consciência temporariamente substituído
pelo cenário onírico. Cf. Strózynski 196-1957; Frutiger 1976; Thayer
1988; Brisson 1998; Janka — Schäfer 2002; Dillon 2004; Partenie 2009;

67
Reina Marisol Troca Pereira

-se, com este universo da paradoxografia, uma ponte entre a


tradição clássica pagã e o paradigma judaico-cristão, construída
com bases de orfismo; pitagorismo; filosofia estoica, platonis-
mo148, proporcionando outra coloração à morte149.

Collobert — Destrée — Gonzalez 2012; Troca Pereira 2015b.


148
Cf. E. IA 1211-1214, Bacch. 561-564; A.R. 1.26-31; Prop. 3.2.3-4;
Ov. Met. 11.41-46; D.S. 4.25.2; Cónon 45.3; Apollod. 1.3.2; Eratosth.
Cat. 24.
149
Pese embora a obrigatoriedade/necessidade da morte (Pi. O.
1.82. θανεϊν δ’Ισιν άvάyκa), nunca devendo considerar-se a sua che-
gada inesperada (cf. E. fr. 964 Nauck), nem sequer injusta, importa
ponderar sobre a imortalização de humanos concedida por deuses, ou,
parcialmente, pela memória de obras ou feitos. Conquanto fizesse parte
dos desígnios da moira, acima mesmo de vontades divinas, vislumbrava-
-se a possibilidade de protelar o seu momento (cf. Zeus, relativamente
a Sarpédon, Il. 16.439-449). Com Orfeu e Eurídice adiciona-se ainda
um traço novelesco, tornando-se um modelo comportamental para
outras figuras literárias. Vd. Linforth 1941; Segal 1989; Schlesier 1992.
Revela-se uma ligação muito próxima do mito a um culto, com Orfeu
enquanto figura conectada com o misticismo e ligado a rituais, cultos e
cerimónias em larga medida desconhecidas e ‘enigmáticas’. Mais ainda,
numa aliança pouco provável aliando-se mito, ciência e trangressão (cf.
Ps. - Eratosth. séc. III a.C., Cat. 1.6D), avançam-se nomes relacionados
com a medicina: Asclépio (Phld., séc. II a.C., De pietate 131), Poliido,
Héracles. Ora, a tradição mitológica contempla casos como o de Sísifo,
que engana momentaneamente Tânato (cf. Eustath. ad Hom. pp. 631,
1702); Alceste (cf. E. Alc. 357-362), que entrega a sua vida pela do esposo,
Admeto - vida por vida, preço para não perturbar a ordem natural (cf.
Dióscoros: Plin. HN 2.5.17). Também divindades, entidades suposta-
mente imortais, poderiam ‘renascer’. Vd, pois, Diónisos, Osíris. Paléfato
afirma corrigir a tradição de um “mito ridículo”, μῦθος παγγέλοιος (Vd.
A. Eu. 723-728. Cf. A. *Cressae, fr. 116-120 TrGF; Apollod. 3.3.1, toda-
via, cf. 3.10.3; Hyg. Fab. 136; Tz. ad Lyc. 811), na sua obra (ΠΕΡΙ ΑΠΙΣΤΩΝ
26), a propósito do ressurgimento de Glauco, mediante a aplicação de
ervas. Ainda assim, episódios tradicionais preservados pela mitologia,
continuam a ser recordados mediante autores tardios, como Agatárqui-
des, De mari Erythraeo 7, no séc. II, a propósito de três figuras: Alceste,
Glauco, Protesilau, a primeira baixa heroica grega em Troia (cf. Philostr.
Her. 2.7–11, acerca de duas ressurreições de Protesilau; Ps-Apollod. 3.30,
sobre a breve volta de Protesilau do Hades, com permissão de Hermes,
por misericórdia e para contentamento da viúva Laodamia, símbolo
grego de devoção feminina, a par da romana Árria (cf. ILS 6261/CIL

68
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

Por vezes, os espíritos instáveis - atormentados e atormen-


tadores150 - incorrem na transgressão do normal afastamento
de planos (vivos e mortos), com anuência divina, prefigurando
uma continuidade entre ambas as esferas, espraiando-se além de
espaços macabros, como túmulos dos mortos (Pl. Phaed. 81d).
Incapazes de total abnegação do mundo sensível, em termos
de (res)sentimentos, posses e de acontecimentos151, pretendem
completar questões não resolvidas em vida, como experiências;
arrependimento; inveja/ressentimento (Luc. DMort. 29); repa-
ração/direitos (viz. honras pessoais, celebrações152), com um cer-
to saudosismo e (ou) sentido justiceiro, por vezes aconselhando
retificação, face a faltas/crimes); justiça cósmica (por vezes com
contornos de vingança - e.g. Liv. 3.58.11: Virgínia), revelando-se
até maléficos153. O motivo das aparições reflete, por um lado, o

10.5920). Vd., neste sentido, carmina epigraphica femininos - ILS 8451/


CIL VI 19128; CIL II2/7, 540. Vd. Luc. DMort. 28.1–2; Córduba séc. I/
II. Cf. Phot., Bibl. 250.7, 443b; Eneias de Gaza, Theophrastus, no século
VI, o que denota a força da tradição e do gosto popular acima da razão.
Vd. Popescu 2009; Johnson 2017.
150
Cf. Luc. Pseudol. 21.
151
E. g. Dido, Verg. A. 4.450-476; Ájax, Luc. D.Mort. 23 Fowler.
152
Vd. Prosérpina, em Paus. 9.23. Considere-se a exigência de honras
fúnebres por parte de Pátroclo a Aquiles (Il. 23.65-92); o sacrifício de
Políxena, requerido pela sombra de Aquiles (E. Hec. 35-41).
153
Vd. aparição que surgiu a Bruto, que se apresenta como um δαίμων
κακός, “génio do mal” (Plu. Brut. 36.4). cf. ἀλάστωρ, ‘espírito mau’, A.
Pers. 354. Tradicionalmente, cf. o fantasma (εἴδωλον) de Clitemnestra,
figura sedenta de justiça retributiva, acordando as Erínias para a perse-
guição do seu filho Orestes, pelo matricídio, A. Eu. 94-139. Cf. Stesich.
fr. 219 PMG, A. Ch. 549-550, E. Or. 618. Cf. Cic. Div. 1.27; Cass. 68.
25; Apul. Met. 8.8. Cf. relatos de atos maléficos perpetrados por algumas
almas (e.g. Paus. 6.6.8, a propósito do espetro de um companheiro de
Ulisses, em Temesa). De notar, casos de ‘magia negra’ (vd. Apul. Met.
9.29-30) e evidências miásmáticas / pessoas possuídas (vd. o filho de
uma mulher, possuído pelo espírito de um homem falecido havia já três
anos, porém, ressentido com o novo matrimónio da esposa, Philostr. VA
3.38), conduzindo a cerimónias (e.g. Festival Romano de Pales) e rituais
de purificação (februa, Ov. Fast. 2.19-28). Cf. Fowler 1911; Burriss 1931;

69
Reina Marisol Troca Pereira

desejo humano de imortalidade, mesmo que interrompido pelo


óbito físico. Por outro, retira o cunho fatalista à vida, votada ao
perecimento154. O encontro plasmado com espíritos não carece
do ritualismo que assistia à tradição literária dita homérica.
O primeiro episódio deste tipo contemplado por Flégon
surge corrompido na sua parte inicial, faltando informação
que pode ler-se pelas palavras de Proclo155, o que denota o

Burkert 1985; Faraone 1991; Ogden 2002; Mudry 2004; Luck 2006.
154
Na realidade, na sua catábase, Ulisses segue as instruções de
Circe (Od. 10.516-540, 571-572) para possibilitar a comunicação entre
mundos: as almas apenas iriam reconhecê-lo e revelar-lhe a verdade, caso
o herói de Ítaca os deixasse sorver sangue negro (αἷμα κελαινεφές. Cf.
11.49-50, 98-99, 141-155, 228-234, 390), como veículo facilitador da
comunicação. De facto, os mortos encontravam-se fracos, especialmente
se resultantes de morte violenta, na qual perdessem sangue (cf. μέλαν
αἷμα, na morte de Trasimedes), descrito com o mesmo epíteto da morte
(cf. “keres negras”, Od. 2.283: ἴσασιν θάνατον καὶ κῆρα μέλαιναν). Vd.
Calvo Martinez 2000.
155
Com Proclo, já mais avançado no Período Medieval, continuam
a constatar-se características gerais da paradoxografia, a exemplo da
preocupação de credibilizar as histórias, com referências temporais (e.g.
Polícrito, ἐπὶ τῶν ἡμετέρων πάππων, “no tempo dos nossos avós”; Eu-
rino, οὐ πρὸ πολλοῦ, “não muito antes”; Rufo, χθές γεγονότα “nascido
apenas ontem”), geográficas, dados biográficos (cf. carácter: e.g. Polícrito
- ἐπιφανέστατον Αἰτωλῶν, “o mais distinto dos etólios”), fontes (viz.
Naumáquio, o epirota ) e testemunhos abalizados, também com o propó-
sito de dessacralizar e desficcionalizar o assombro, apresentando um his-
toriador. Assim, no tocante a Polícrito, o testemunho do “efésio Hierão
e outros historiadores”. É igualmente evidenciada a morfologia do plano
terreno e do mundo ctónico, onde existem as almas após a morte física,
representando a ressurreição um movimento de elevação com autorização
de divindades ctónicas (cf. Rufo, ὑπὸ τῶν χθονίων ἀναπεμφθείη θεῶν,
“enviado de volta pelos deuses ctónicos”). O tempo que mediava entre o
óbito e o regresso à vida não era muito apartado: nove meses, no caso de
Polícrito; 15 dias, para Eurino; três dias, para Rufo. Outrossim, a justi-
ficação do retorno, enquanto processo transitório não equivalente a uma
divinização, mas apenas como instrumento de revelação, aconselhamento
e esclarecimento (cf. Polícrito e Rufo), porém não necessariamente, já que
Eurino se encontrava proibido de qualquer revelação. Em termos gerais,
quedam notas de esperanças face ao final da vida, com a apresentação de
um espaço ctónico de continuidade, conhecimento e maravilhoso, não

70
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

conhecimento de uma história de ἀναβιῶναι não inventada


nem tampouco conhecida apenas pelo Traliano, mas por certo
inscrita no folclore tradicional de relatos assombrosos, longa-
mente memorizados. O Neoplatónico (R. 2.115), que aliás refere
outros conhecedores do caso, começa por ilustrar a temática
de ἀναβιῶναι com três casos de indivíduos que regressaram à
vida, após terem falecido, a saber, o etólio Polícrito156; Euríno
em Nicópolis; Rufo de Filipos, na Macedónia (Tessalónica),
reservando para último o caso que hierarquiza como de topo.
Eis, pois, os momentos introdutórios expostos no comentário
à obra República de Platão (2.116 Kroll), contendo valiosos
detalhes contextualizadores, como a situação civil, o nome do
esposo, a época; a data das aparições, a identificação do novo
relacionamento amoroso da jovem e a sua origem. Depois um
sumário dos acontecimentos descritos de forma mais alargada
por Flégon. Por fim, notícia de testemunhos e de várias fontes
escritas a consultar:

Καὶ τὸν κολοφῶνα τούτων ὑπάρχειν Φιλίν-(f.57v.)νιον


κατά τοὺς Φιλίππου βασιλεύσαντος χρόνους. εἶναι δὲ αὐτὴν
θυγατέρα Δημοστράτου καὶ Χαριτοῦς τῶν Ἀμφιπολιτῶν
νεόγαμον τελευτήσασαν· ἐγεγάμητο δὲ Κρατερῷ. ταύτην
δ᾿ οὖν ἕκτῳ μηνὶ μετὰ τὸν θάνατον ἀναβιῶναι καὶ τινι

inexoravelmente fora de comunicação, sob gestão divina. Importa, em


suma, distinguir entre esperança de existência além da morte e desejo de
uma existência melhor, sobre bases órficas, que poderia conduzir à prática
de suicídios, de modo a atingir mais rapidamente esse momento. Assim,
o seguimento de tónicas epicuristas ou a dúvida seria o mais prudente,
já que, se a morte configurasse uma situação melhor do que a vida, que
motivo levaria uma mãe divina a procurar obter uma vida longa e até
a eternidade para os seus filhos (Il. 1.357 sq., 18.35 sq. Cf. Apollod.
3.13.6; Lyc. fr.178), bem como o afastamento de nefandos combates? Vd.
Festugière 1970.
156
Herão Ateniense, fr. 1 M ap. Phleg. Mir. 2, de spectro Polycriti.

71
Reina Marisol Troca Pereira

νεανίσκῳ Μαχάτῃ, παρὰ τὸν Δαμόστρατον ἀφικομένῳ ἐκ


Πέλλης τῆς πατρίδος, λάθρᾳ συνείναι διὰ τὸν πρὸς αὐτὸν
ἔρωτα πολλὰς ἐφεξῆς νύκτας καὶ φωραθεῖσαν αὖθις
ἀποθανεῖν, προειποῦσαν κατά βούλησιν τῶν ὑποχθονίων
δαιμόνων αὐτῇ ταῦτα πεπρᾶχθαι, καὶ ὁρᾶσθαι πᾶσι νεκρὰν
ἐν τῇ πατρῷᾳ προκειμένην οἰκίᾳ· καὶ τὸν πρότερον αὐτῆς
δεξάμενον τό σῶμα τόπον ἀνορυχθέντα κενὸν ὀφθῆναι τοῖς
οἰκείοις, ἐπ᾿ αὐτὸν ἐλθοῦσιν δι᾿ ἀπιστίαν τῶν γεγονότων·
καὶ ταῦτα, δηλοῦν ἐπιστολὰς τὰς μὲν παρὰ Ἱππάρχου,
τὰς δὲ παρὰ Ἀρριδαίου γραφείσας τοῦ τὰ πράγματα τῆς
Ἀμφιπόλεως ἐγκεχειρισμένου πρὸς Φίλιππον. καὶ ταῦτα
μὲν τὰ ἐκ τῶν ἱστοριῶν.

“O caso por excelência é Filínion, durante o reinado de Filipe.


Filha dos anfipolitanos Demóstrato e Caristo, morreu recém ca-
sada. O seu marido fora Crátero. No sexto mês após a sua morte,
voltou à vida e por muitas noites consecutivas relacionou-se com
um jovem - Macates, em virtude do amor que sentia por ele. Ele
havia vindo até Demóstrato, desde a sua cidade natal, Pélia. Ela
foi detetada e morreu novamente, após declarar que o que fez
fora de acordo com a vontade das divindades ctónicas. O seu
corpo foi visto por todos, ao repousar no estado, na casa do seu
pai. Desacreditando do que acontecera, os membros da família
dela foram até ao local que anteriormente recebera o seu corpo;
escavaram o local e encontraram-no vazio. Os acontecimentos
encontram-se descritos em numerosas cartas, algumas escritas
por Hiparco e outras por Arrideu (que estava encarregado de
Anfípole) para Filipe.”

Porventura conferindo prosseguimento a informações


introdutórias de conhecimento tradicional, ainda retratadas
posteriormente por Proclo, o reconto de Flégon retira o carácter

72
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

de um certo vampirismo157 à história. Teria ocorrido em Anfí-


pole, no reinado de Filipe II da Macedónia, pai de Alexandre
Grande. Se o caso da esquiva Filínion158 denota a comunicação
transespacial motivada por desejos fiscos, não detém o objetivo
sanguinário das lâmias159. Ainda assim, a jovem conserva desejos
e necessidades lascivas não conseguidos em vida, embora recém-
-casada, que procura concretizar nessa ‘segunda oportunidade’.
Aparentemente, uma situação novelesca, de uma paixão corres-
pondida, desenvolvida num erotismo desmedido, incontrolado
e desviante, de tom improvável e cariz ‘anormal’. E se o seu
surgimento é transitório, seguindo-se nova morte, como se o

157
Vd. Gripari 1977.
158
Vd. Philostr. VA 4.45 e a ressurreição de uma rapariga. Cf. Ogden
2002.
159
Cf. traços de vampirismo, com alguma similitude na atualidade,
em figuras femininas, como Lâmia (de Corinto), Empusa, Murmólice.
Cf. Philostr. VA 4.25, sobre uma história bastante conhecida, envolvendo
uma lâmia, uma bela mulher e a exploração de desejos eróticos, face ao
garboso e atlético jovem lício, Menipo, para uma finalidade vampírica:
ἐρᾶσθαι δὲ τὸν Μένιππον οἱ πολλοὶ ᾤοντο ὑπὸ γυναίου ξένου, τὸ δὲ
γύναιον καλή τε ἐφαίνετο καὶ ἱκανῶς ἁβρὰ καὶ πλουτεῖν ἔφασκεν,
οὐδὲν δὲ τούτων ἄρα ἀτεχνῶς ἦν, ἀλλὰ ἐδόκει πάντα. “Ora, muitos
supunham que Menipo era amado por uma mulher estrangeira bela e
bastante delicada, e afirmaram que ela era rica. Embora fosse verdade,
não só uma dessas coisas, apenas o era aparentemente.” Cf. distinção
entre ‘parecer’ e ‘ser’, δοκεῖν/ εἶναι. Vd. A. Ag. 788; Pl. R. 1.334c. Tendo
trocado declarações de amor, numa estrada a caminho de Cêncreas, ela
prometeu-lhe cantigas, vinho e uma vida em conjunto (βιώσομαι δὲ
καλὴ ξὺν καλῷ). A lição advém da racionalidade, pois só um filósofo
conseguiria desfazer a macabra ilusão e desvendar a verdade. Apesar de
ser filósofo, o jovem ainda não conseguira afastar-se suficientemente de
desejos, prazeres e ilusões, cabendo esse feito a Apolónio. Primeiramente,
procurou elucidar o jovem e, de seguida, desmascarou a lâmia. “E que te
apercebas da realidade do que afirmo, que esta bela noiva é um vampiro,
ou seja, um dos seres dados aos prazeres de Afrodite, mas em particular à
carne dos seres humanos, e seduzem com tais prazeres os que pretendem
devorar nos seus banquetes”. Por fim, fê-la admitir que era um vampiro,
habituado a alimentar-se de sangue puro de belos corpos. Vd., com con-
tornos similares, Síbaris, Ant. Lib. 8.

73
Reina Marisol Troca Pereira

ato fosse repetível (cf. τοσαῦτα εἰποῦσα παραχρῆμα ἐγένετο


νεκρά ἐξετέτατό τε ἐπὶ τῆς κλίνης ἐμφανὲς τὸ σῶμα. “Logo
após dizer estas palavras, morreu e o seu corpo ficou estendido
sobre a cama.”), depois de longa vida (Eurino), ou no fim do seu
objetivo (Rufo); com Filínion os aparecimentos seguiam uma
cadência sucessiva, até à descoberta. De seguida, o caos ditado
pela consciência e entendimento racional sobre os factos, ma-
culado negativamente por sentimentos intoleráveis: assombro,
terror, curiosidade, estranheza/anormalidade sentidos no ner-
vosismo da ama e na inadequação de atitudes manifestada pelos
progenitores, desde falta de parcimónia, respeito por regras e
repetição de faltas (vd. Carito, mãe da jovem - soltou um grito,
rasgou as roupas, retirou a touca da sua cabeça e caiu no chão
sem palavras e em pânico com a aparição). Por fim, a repetição
de sofrimento e dos rituais associados. Embora também surja
mediante autorização divina, contrariamente a outros recontos,
Filínion não visa revelar factos sobre o mundo desconhecido.
Para credibilizar, Flégon apresenta-se como testemunho presen-
cial de grande parte da ocorrência. Trata-se de um pré-esboço
de um relatório que o seu interlocutor poderia decidir expor por
escrito para o Rei, caso que Flégon se voluntaria a credibilizar,
enviando-lhe analistas que teriam examinado o caso. Proclo,
por seu turno, dá conta de que Hiparco e Arrideu teriam co-
municado o sucedido a Filipe, por carta. O retrato assombroso
segue, em termos gerais, topoi recorrentes, designadamente o
espanto e incredibilidade dos testemunhos; a procura desespera-
da por entendimentos racionais/necessidade de confirmação; a
pouca iluminação; o secretismo160; espetro com feições e roupas

160
Cf. Parténio, Ἐρωτικὰ Παθήματα (2: Polimela, 5: Leucipo, 17:
Periandro; 31: Dimetes, 35: Eulímene). Considere-se, na literatura roma-
na tardia, o mito de Cupido e Psique (Apul. Met. 4. 28 - 6. 24).

74
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

análogas à da jovem falecida; fome e sede; desengano e cena de


anagnorisis161 conducente ao término trágico do relacionamento
erótico (suicídio do amado) e reposição da ordem perturbada:
a morte da jovem (re)ocorre; os elementos de anagnorisis outro-
ra facultados pelo hóspede à sua amada são vistos no túmulo
vazio162, no lugar do corpo (anel de ferro , copo dourado de vi-
nho); realização de rituais fúnebres a conselho do profeta Hilo
(cremação; purificação dos presentes; sacrifícios apotropeicos a
Hermes Ctónio; às Euménides; a Hermes, Zeus Xenios e Ares).
De entre a alusão à sua bibliografia, a história Mir. 1 parece
ter sido a mais marcante, pese embora a existência de aparições,
no mesmo escrito, conduzindo à interpretação do episódio da
ressurreição como demoníaco163. A história perpetrou vários
séculos, ainda que reconstruída, influenciando obras, como a
demonológica Die Braut von Korinth, A Noiva de Corinto, de
Goethe (1797).
Os dois episódios seguintes são distintos. Ainda que com al-
guns elementos repetidos, manifestam um incremento de terror
e de pormenores tétricos. Ainda assim, as mensagens parecem
extrapolar o sensacionalismo imediato, integrando, entre as-
sombro e religião, evidentes conotações de foro político-social.
O segundo caso alude a Polícrito, eleito etolarca por três
anos. De novo o topos matrimonial, num enlace de pouca
duração: apenas três noites - uma história fantasmagórica e

161
Cf. inversão no topos tradicional do relacionamento amoroso: é
a jovem que deixa ao hóspede (Macates) elementos facilitadores do seu
reconhecimento (viz. anel de ouro, cinta de peito).
162
Vd. ressurreição como algo físico, que implica corpo. Cf., mutatis
mutandis, 1Co. 15:3–5 e a controvérsia sobre o túmulo vazio de Cristo.
Importaria também averiguar se a jovem estava de facto morta. Plínio re-
fere vários episódios de pessoas que regressaram à vida HN 7.53 (52). Cf.
Asclepíades ao assistir a uma procissão fúnebre constatou que o defunto
não estava para enterrar-se (Cels. De Medicina 2.6.15).
163
Cf. Tillemont 1691: 288 sobre a ilusão da ressurreição.

75
Reina Marisol Troca Pereira

profética, face à atitude discriminatória dos seus compatriotas.


Também falecido pouco depois do matrimónio (quatro dias)
diante da koine ekklesia dos Etólios teve, ainda assim, ocasião
de consumá-lo, já que a esposa lócria ficaria grávida. A expo-
sição apresentada por Proclo164 é deveras sumária, omitindo
pormenores terríficos. Quiçá o episódio assente sobre bases
históricas relativas a dissídios entre Etólia e Acárnia, em meados
do século III a.C. (IG 9.1.3a), o que possibilitaria a identificação
de Polícrito de Cálio165. Quiçá uma mensagem propagandística
reabilitadora de uma Etólia objeto de estereótipos étnicos nega-
tivos e assustadores ou até uma advertência de Hierão de Éfeso
a estrangeiros da Etólia. Segundo Proclo, Hierão de Alexandria
ou Éfeso, entre outros, reportou o caso em missivas ao rei An-
tígono166. Mais ainda, o descendente de Polícrito, além de provir

164
Procl. 2.115: Ταῦτα μὲν ὁ Κλεάρχου λόγος· ἱστορεῖ δὲ καὶ
Ναυμάχιος ὁ Ἠολύκριτον Αἰτωλὸν ἐπιφανέστατον Αἰτωλῶν
καὶ γεγονώς, Πολύκριτον Αἰτωλὸν ἐπιφανέστατον Αἰτωλῶν καὶ
Αἰτωλαρχίας τυχόντα καὶ ἀποθανεῖν καὶ ἀναβιῶναι μηνὶ μετὰ τὸν
θάνατον ἐνάτῳ, καὶ ἀφικέσθαι εἰς ἐκκλησίαν κοινὴν τῶν Αἰτωλῶν
καὶ συμβουλεῦσαι τὰ ἄριστα περὶ ὧν ἐβουλεύοντο· καὶ τούτων εἶναι
μάρτυρας Ἱέρωνα τὸν Ἐφέσιον καὶ ἄλλους ἱστορικοὺς Ἀντιγόνῳ τε
τῷ βασιλεῖ καὶ ἄλλοις ἑαυτῶν φίλοις ἀποῦσι τὰ συμβάντα γράψαντας
“O epirota Naumáquio, um homem que viveu no tempo dos nossos avós,
relata que o etólio Polícrito, o mais distinto dos etólios e um etolarca,
faleceu e regressou à vida no nono mês após a sua morte. Apareceu na
assembleia geral dos etólios, onde lhes deu um excelente conselho relacio-
nado com os assuntos sobre os quais estavam a deliberar. O efésio Hierão
e outros historiadores testemunharam estes acontecimentos e escreveram
sobre eles ao rei Antígono e a outros amigos seus, que estavam noutro
sítio.” Cf. Hierónimo de Cárdia, por Hierão - Almagor — Skinner 2013:
124.
165
Antropónimo vulgar no mundo grego, mas não necessariamente
na Etólia. Cf. Polícrito de Cálio, notável por ter pilhado o Santuário de
Posídon em Mantineia, c. 240 a.C. Vd. Crawford 2000; Scholten 2000;
Brisson 2002; Rzepka 2009: 9. Cf. Almagor — Skinner 2013, acerca do
ethos etólio.
166
Vd. Antígono I da Macedónia, séc. IV a.C., segundo Brisson
1978: 89-101. Cf. Antígono II, no século III a.C.

76
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

também de uma estrangeira mostrava-se distinto dos progeni-


tores, logo, um topos de teratologia - uma monstruosidade, no
dizer aristotélico (GA 767b: καὶ γὰρ ὁ μὴ ἐοικὼς τοῖς γονεῦσιν
ἤδη τρόπον τινὰ τέρας ἐστίν· “quem não se parecer ao proge-
nitores é, de certa forma, uma monstruosidade”). Além disso,
a voz de Polícrito sobrepunha-se a um antigo poder familiar
de integrar um recém-nascido na família ou, pelo contrário, de
matá-lo, designadamentwe ex silentio, pela exposição, em casos
de doença, debilidade, deformidade167.
O curso do episódio assenta num desvio da natureza /
ocorrência monstruosa168, desta feita equivalente a um prodí-
gio169 que assume contornos públicos (prodigium publicum, Liv.
1.56.5)170, tornando-se uma responsabilidade de estado, carente
de escolha de purificação (Liv. 43.13.6), por vezes exposição,
rituais funestos, mediante vontade divina. Desencadeia-se então

167
É caso ilustrativo Esparta, a cujo respeito Plu. Lyc. 16.1 retrata
o encaminhamento de recém-nascidos doentes e deformados, rumo ao
Monte Taigeto (Apothetai), por determinação dos anciãos das tribos. Pl.
Tht. 160e-161a expressa o facto de o recém-nado ser digno de ser criado
ou não (cf. topos περὶ τῶν ἄκριτων). Cf. Plu. De Curiositate 10, Mor.
520c; Júlio Obsequente, Liber Prodigiorum.
168
Cf. θήρ. Na versão latina, vd. Monstrum. Considere-se, a propó-
sito, o título da comédia plautina Mostellaria (Comédia do Fantasma):
mostellum (‘espetro’), um diminutivo de cum - mo(n)strellum, com o sufixo
-aria. O topos do assombro terrífico motivado por aparições fantasmagó-
ricas é deveras explorado na Antiguidade, em diversos géneros literários,
através de descrições, mas também na arte dramática, tanto em tragédias
(e.g. Sen. Thy. iniciando com Thyestes umbra) como em comédias, pelo
seu reconhecido efeito (e.g. Pl. Most., enquanto motivo do fantasma in-
ventado pelo escravo Tranião, como forma de encobrir ao senex os gastos
desmesurados do seu filho). Vd. Dingwall 1930; Hickman 1938; Platt
1999; Felton 2010; Troca Pereira 2014, 2016b.
169
Cf. prodígio como desvio da natureza, sinónimo de monstro
(teras), segundo Arist. GA 4.767b. Vd. Louis 1975; Bianchi 1981; Do-
roszewska 2012.
170
Distingam-se prodígio público e prodígio privado. Vd. Brisson
1978; Roux 2016: 289-290.

77
Reina Marisol Troca Pereira

a justiça. Por um lado, a justiça popular, absoluta, selvática,


erradicadora da diferença, no intuito de repor a ordem alterada.
Por outro, um sentido justiceiro mais concessivo, harmonioso,
conciliador. De tudo, sobressaem notas críticas, relativamente
à fação popular, marcada por maiorias e tradições, tanto na
justiça como na religião, nem sempre as mais adequadas. Assim,
a sombra de Polícrito, envergando vestes pretas, manifesta uma
atitude que varia, desde aparição conciliante da sombra (“eu
desculpo-vos”); à crítica do povo e de profetas conselheiros (cf.
οὐ γὰρ ἐνδέχεταί µοι περιιδεῖν κατακαυθὲν τὸ παιδίον ὑφ’
ὑµῶν διὰ τὴν τῶν ὑμῖν μάντεων ἀποπληξίαν, “É que não
me é permitido deixar que a criança seja fulminada por vós,
simplesmente devido à loucura dos profetas que vos anunciaram
isso”); à profecia de um futuro calamitoso, caso não obedeçam;
até uma resolução radical (“não me é permitido demorar muito,
devido aos que mandam debaixo da terra”). Assiste-se, pois, ao
confronto entre medidas selváticas de justiça popular (cf. ful-
minação; lapidação) e a justiça ‘do além’, inicialmente na figura
do espetro, que põe cobro, desmembra e degusta171 a ‘diferença’/
criança hermafrodita; e, de seguida, com a parte remanescente
do desmembramento - a cabeça do jovem, que emite profecias
de desaire (noite; chuva de sangue, morte). Em suma, o jovem
hermafrodita parece representar um expediente que simboliza
o fruto resultante de relacionamentos interculturais, que dá azo
ao desenvolvimento de atitudes por parte de um povo fechado,
tirânico e elitista. A atitude à época considerada mais apropriada
apresenta-se enquanto justiça irrevogável de um destino divino
calamitoso predeterminado, divulgado pelas figuras falecidas.
Na generalidade, verifica-se a exposição de atitudes extre-
mamente discriminatórias face à diferença, conforme apanágio

171
Cf., mutatis mutandis, Titãs e Zagreu. Vd. Henrichs 2011.

78
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

de civilizações da Antiguidade Clássica e a autoridade crítica


apresentada sob contornos religiosos. Por fim, imbuído de ins-
piração divina, Polícrito, ora em prosa, ora em verso, revela a
profecia que dava conta, após a vitória romana na Ásia Menor,
sobre Antíoco III, da invasão da Itália por um rei oriental. E
depois da previsão de que um lobo iria devorá-lo, a sua cabeça
revela a vitória asiática sobre Roma. Porque no seu caso pessoal a
profecia teve concretização quase imediata, restaria apenas pre-
caver o futuro funesto que certamente se avizinharia. Polícrito
poderia então representar o iuuenis fatalis dux huiusce belli (Liv.
22.53.6), Cipião Africano (séc. III/II a.C.).
Por fim, a última das três histórias de aparições, com a
autoridade do filósofo Antístenes. Ramificada por eventos
distintos, possui como estrutura condutora a figura de Antíoco.
Ainda que militarmente derrotado por Pórcio Catão e Lúcio
Valério Flaco, o seu futuro fica conectado com as atitudes que
viriam a desenvolver-se de episódios fantásticos. Primeiramente,
as profecias e morte de um dileto seu - Buplago (Βούπλαγος).
Na sequência da realização dos rituais, a loucura do general
Públio revela-se profética de desgraças futuras, em versos,
depois clarificadas172 num discurso em prosa, num estado de
enthousiasmos (ἐνθουσιασμός)173 motivado por Apolo Linceu,
conforme se entende pelos derradeiros momentos. De facto, há
um lobo (λύκος) que ataca e devora o general, assistindo-se,
no final, à celebração de um pacto com Antíoco; à construção
de um templo a Apolo Lício (Λύκιος) e de um altar onde
jazia a cabeça remanescente do general. A mensagem divina

172
Cf. ambiguidade. Vd. McGing — Parke 1988.
173
Um estado de enthousiasmos, mediante o qual um deus, ou uma
entidade com qualidades sobre-humanas (e.g. psyche de Pátroclo, Il.
23.62) entra num corpo humano (cf. a loucura profética de Cassandra,
A. Ag. 1072-1330). Vd. Heirmann 1975.

79
Reina Marisol Troca Pereira

premonitória apresentada conduz os Romanos, de início, a


procurar a sua confirmação, através da realização de sacrifícios
a Zeus Apotropaios e a inquirir o oráculo de Delfos, donde o
abandono da guerra e a celebração de sacrifícios na Etólia.
Dos três episódios de Flégon aqui em apreço, de forma
particular, como recontos alegóricos de sentidos e mensagens
cujo assombro ajuda a cativar na memória, compreende-se a
vitalidade transversal do topos, de certa forma ainda com algu-
ma vigência na atualidade. A bem ver, o enfoque das histórias
fantasmagóricas detém-se sobre o homem. Acreditando-se ou
não nas aparições reportadas, fica patente, nessas mensagens
enigmáticas de propensões didáticas, a insolência generalizada
dos vivos (figuras das mais diversas categorias e estatutos sociais,
e.g. povo, militares, governantes, profetas, pais). Do outro lado,
o cariz justiceiro das almas dos mortos, já livres das afeções do
corpo e mais próximas do divino, donde a exposição de profe-
cias. O seu uso não é blasfemo nem desrespeitoso, porquanto
ficam salvaguardados e afastados destes recontos fantásticos
divindades e oráculos de referência (cf. oráculo de Delfos).
Para garantir a aceitabilidade/plausibilidade, importa, todavia,
aceitar, quer a componente de escolha, culpa e responsabilidade
humanas; quer o conceito base de destino (moira), ao qual os
humanos não poderão escapar, revelando-se reparador, face aos
comportamentos desadequados que apresentam. Além disso,
desenhavam-se tónicas que faziam suspeitar de alguns avisos
encapotados de uma próxima superiorização militar do oriente
face ao poder romano instituído.

Marcas Sexuais
Em termos gerais, perpassam as maravilhas apresentadas com
um cariz erógeno que se estende com alguma transversalidade,
desde desejos sexuais a aspetos relativos ao género, permitindo

80
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

vislumbrar quiçá algum cuidado na disposição das histórias.


Assim, pois, os enlaces matrimoniais nos dois episódios iniciais
e o relacionamento extra-matrimonial da história de abertura,
bem como na descendência, donde os topoi relativos ao nasci-
mento (e.g. partos, fecundidade: #20-31), a andróginos (#4-10)
e outros humanos diferenciados, a crer em ossadas de dimensões
extraordinárias (#11-19).
Serão as diferenças de género sexual resultantes de con-
venções/acordos culturais e sociais174, condições anatómicas e
emocionais, configurando oposições binárias de opostos não
graduáveis? Ou existirá apenas um modelo de um sexo, como
pretendem alguns autores175, com diferenças gradativas, resul-
tando a masculinidade/feminilidade da prevalência de sinais de
ar, movimento, voz (cf., no séc. III, Polemo 2.1.192), possuindo
todos os seres os mesmos genitalia posicionados diferentemente
(vd. Galeno)?

Gestantes/Parturiantes fora do usual


O ‘nascimento’ assume-se como um topos de grande desenvol-
vimento tradicional, de início (Hes. Th. 123: ἐκ Χάεος) longe da
normalidade de tratar-se de um foro exclusivamente feminino.
Partindo a Criação com um modelo reprodutivo assexuado, até
à individualização incestuosa do par masculino urânico (Hes.
Th. 132-133), que se arroga, no relacionamento, de uma prima-
zia com reflexos em sociedades de cariz patriarcal, relegando a

174
Cf. martírio de Policarpo, bispo de Esmirna, aludindo a uma
voz vinda do Céu (Historiae Eclesiae 1.4.15 / Mart. Pol. 9.1: ῾´Ισχυε,
Πολύκαρπε, ἀνδρίζου, “sê forte, Policarpo, e um homem” - exortação
estranha, pois Policarpo seria já homem). Diferentemente, a verdadeira
natureza do corpo humano, no sonho de Perpétua que a faz ver-se, em
sonhos, a lutar em corpo de homem (Pass. Perp. 10.7). Vd. Cobb 2012:
24.
175
Cf., neste sentido, Laqueur 1990.

81
Reina Marisol Troca Pereira

componente feminina para uma falaciosa marginalidade. É pela


normalização de comportamentos marcados pelo dolo/engano,
convencimento, capacidade de garantir a continuidade do poder
através de uma linha genealógica legítima e afazeres domésticos
(casa e educação doméstica da prole) que a vertente feminina
expõe o seu verdadeiro poder. Pervertendo a definição natural,
constatam-se alguns casos mitológicos de partos masculinos176 .
Não repetindo casos tradicionais, Flégon não se retém apenas
nas particularidades de recém-nascidos, mas retoma tradições
vetustas, ao mencionar dois casos de partos masculinos.
A preocupação de conferir-lhes credibilidade, afastando-os
do folclore, centra-se nas fontes e nos testemunhos inventa-
riados. O exotismo do primeiro caso ocorrido em Alexandria
(#26) terá merecido a comprovação médica de Doroteu, numa
obra hoje perdida. Da informação extremamente linear nada se
adianta a respeito da conceção (para além do facto de tratar-se do
elemento passivo do relacionamento homoerótico - κίναιδος177),
da gestação e do parto. De novo a atenção é remetida sobre o
neonado, cujo sexo e longevidade não são discutidos, mas cujo

176
As ocorrências não se restringem à antiguidade grega (vd., na
tradição egípcia, o primeiro deus Atun, criador, com o seu sémen, dos
dois deuses seguintes). Vd., na mitologia helénica, a génese de Afrodite
Pânfila, emanada da espuma do mar, na sequência da imersão do esperma
pertencente ao membro viril de Úrano, seccionado por Cronos (vd. Hes.
Th. 180-181, 188-200); na teoria órfica, Zeus, que teria ejaculado o éter
(fr. 8 Bernabé - Papiro de Derveni); Atena, Diónisos, a partir de Zeus. Cf.
expedientes vários, como vómito - e.g. Cronos; moldagem - e.g. Pandora.
Vd. Paley 1861: 179-180; Austin 1990: 49-108.
177
Na realidade, existia um tipo de atitude particular recorrente dos
kinaedoi (cf. D.C.80.16.1-5; Phaed. 4.15-16, 5.1; Cael. 4.9). Por um lado,
o excesso de cuidados estéticos femininos (trajes, depilação, tatuagens.
Cf. D.L. 6.46). De outra parte, costumes particulares (e.g. coçar a cabeça
com um dedo, para não estragarem os penteados, Sen. Con. 7.4.7; Juv.
9.130-134a). Também, neste sentido, na esfera humana, se desenhava,
por conseguinte, um quadro deveras crítico e um campo pronto à sátira.
Vd. Dover 1978; Veyne 1987; Richlin 1993; Hubbard 2004.

82
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

corpo embalsamado ainda se conservava na altura de Flégon.


Do segundo caso (#27), ainda mais tácito do que o anterior,
só ressalta uma nota similar que nem sequer encabeça o texto:
τὸ αὐτὸ τοῦτο ἐγένετο, “a mesma coisa aconteceu”. Não ha-
vendo nenhuma descrição de transsexualidade, nem de prática
cirúrgica (e.g. cesariana), uma gestação sem útero e um parto
masculinos são de um exotismo assombroso, especialmente
porque se trata de uma génese biológica e não propriamente de
uma gravidez (intelectual) masculina em metáfora (cf. Diótima
platónica e menção de ‘gravidez de virtudes e sabedoria’)178 . O
topos desenvolvido na mitologia tradicional, detendo até carácter
divino, ganha assombro com alegadas evidências factuais. Seria
pseudo-hermafroditismo?

Nascimentos Múltiplos
A rubrica que comporta quatro episódios de nascimentos
múltiplos (#28-31)179, distinguindo, como habitual, face a
outros topoi, eventos reais, seguidos de outros mitológicos.
Apresenta, primeiramente, duas ocorrências factuais ocorridas
em Alexandria, a partir de parturientes não identificadas.
Ainda que não apresentem disfunções, o que faz integrar este
tópico que combina esses quatro episódios na obra é tão só o
número de nascidos de uma mulher: vinte em quatro partos
(#28); outra, com cinco (3 rapazes e 2 raparigas) e depois mais
três gémeos (#29). De salientar, neste ponto, o apoio social
do Imperador Trajano (#29). No geral, nota-se o assombro
gerado por nascimentos gemelares, perspetivam-se dificuldades
financeiras para onerar os gastos e vislumbra-se a questão da
mortalidade infantil, por afirmações como τὰ πλεῖστα τούτων

178
Cf. Zwierlein 2011; Leitao 2012.
179
Cf., anteriormente, (Ps.) Arist. Mir. 80; Plin. HN 7.3.33-34.

83
Reina Marisol Troca Pereira

ἐκτραφῆναι, “a maior parte deles foi criada” (#28). Esta secção


prossegue com episódios mitológicos de nascimentos múltiplos,
a partir de uma única mulher, designadamente, Egito (#30)
e Dânao (#31), com 50 filhos cada. Deveras sucintos, apenas
no primeiro caso é indiada a fonte (Hipóstrato, Sobre Minos).
As informações aduzidas respeitam a ascendência das esposas,
afinal ambas filhas de Nilo; e o sexo das crianças #30 - rapazes;
#31 - raparigas). Os restantes contornos do mito não importam
para o caso, no parecer de Flégon.

Nascimentos a-normais (grotescos)


Um outro topos engloba diferentes casos relacionados com
o afastamento divino (e.g. Hefesto, monstros, gigantes, híbri-
dos) e humano, face aos cânones de beleza. Designadamente,
seres humanos detentores de características que se desviam
da normalidade generalizada, o equivalente a ‘monstros’, no
entendimento clássico180, que não distinguia liminarmente
entre deficiência/incapacidade e deformidade181, referenciando
andróginos/hermafroditas, gigantes e híbridos. Assistia-se à di-
vulgação do grotesco, a partir de bases à partida meramente fac-
tuais, de descrições etnográficas e geográficas182 . O popularismo

180
Cf., a propósito do conceito de τέρας enquanto criatura distinta
dos seus progenitores, incluindo andróginos - seres com a conjugação de
partes humanas e de animais (Emp. fr. 57-61D-K; Aeschin. Contra Cte-
sifonte 111; Arist. GA 4.3.767b; Lucr. 5.837-854). Cf. Hld. Aethiopika
4.8, acerca de uma filha branca, nascida de um casal negro, exposta, por
julgar-se de um caso de adultério.
181
Vd. Garland 1995; Laes — Goodey — Rose 2013.
182
Veja-se, a respeito, Plin. HN 6.181, 184; Sen. NQ 6.8.3, acerca da
expedição na época de Nero à Etiópia; Plin. HN 7.16-18, na sequência de
expedições exploratórias de África (cf. por ordem de Augusto, Etiópia e
outros lugares - Strat. 16.4.22–24). Considerem-se, a título exemplifica-
tivo, pigmeus, pela sua pequenez, nos limites da Índia (vd. Suet. Aug. 83);
e canibailismo entre tribos de Citas (Strat. 7.3.6; Plin. HN 7.9). Cf. Evans
1999; Woolf 2010; Trentin 2011; Laes 2017.

84
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

conetado com a diferença física espelhava concomitantemente


o carácter discriminatório característico das civilizações da
Antiguidade Clássica, refletido literariamente e em espetácu-
los populares circenses de mostras de aberrações (paradoxa),
aproximando-se, mutatis mutandis, de exibicionismos também
efetuados na atualidade183. Constata-se a exploração aumentada
do bizarro e grotesco na época Imperial, numa promoção em
que a decadência física espelha a decadência moral184, em parti-
cular no Período em causa (cf. Longino Subl. 44.5)185. No grupo
dos outros/monstros, do sub-humano/não humano conjugam-
-se, no mundo romano, deformidade e deficiência: deformis,
deformitatus, distortus, retortis, informis. Denota-se, assim, o não

183
Vd. a promoção de combates de anões (pumiliones). Vd. Finley
1978; Romm 1992; Dasen 1993.
184
Vd. Dutsch — Suter 2015.
185
Seguindo o princípio de καλοκἀγαθία (καλὸς καὶ ἀγαθός, “belo
e bom”), ao procurar associar valores meritórios à beleza física, os Impe-
radores perversos possuiriam uma deficiência, sinais de carácter imoral
(cf., a respeito, Suet. Tib. 68, retratando Augusto, que tenta justificar
alguns jeitos de Tibério, perante o povo e o senado, alegando que defeitos
naturais não procediam de nenhuma depravação da mente: professus
naturae uitia esse, non animi. Cf. Suet. Ner. 51, Galb. 21.1; Vit. 17, Dom.
18.2. Vd. casos de crueldade monstruosa, Suet. Calig. 32.2; 27; Tib. 60),
dando credibilidade a tratados de fisiognomonia (vd. Polem. Phgn. 1.210.
Cf. Ps. Arist. Phgn.). Vejam-se, pois, a este respeito, alguns traços físicos
disformes de Imperadores, viz. o corpo do maculosus Augusto - séc. I
a.C./I d.C. (Suet. Aug. 80.1); Calígula - séc.I, como ‘monstro’ (Suet.
Calig. 22.1); Cláudio - séc. I, enquanto monstro físico (Sen. Apoc. 5.1-3);
o corpo fétido de Nero (Suet. Nero 51); a calvície de Calígula, que conde-
nava com falta capital quem o olhasse de cima (Suet. Calig. 50.1), e Júlio
César, que tomava a calvície um sinal de dignidade - Suet. Jul. 45.2 (cf.
Mart. Ep. 5.49, 6.57, 10.83 e a sátira a calvos); a barriga redonda do Vi-
télio - séc. I, como sinal de glutonia (Suet. Vit. 17); as duas corcundas de
Cómodo - séc. II (Scriptores Historiae Augustae, Commodorus 11.1) e a sua
conotação como monstrum (cf. Cássio, séc. II). Cf. a “forma misturada e
o prodígio disforme”, σύμμικτον εἶδος κἀποφώλιον τέρας (E. fr. 996
Nauck, a propósito do Minotauro. Vd. σύμμικτον εἶδος κἀποφώλιον
βρέφος. Plu. Tes. 15.2). Vd. Evans 1941; Cohen 1991a,b.

85
Reina Marisol Troca Pereira

usual e feio (cf. Hefesto, Il. 1.599-600) de eunucos, efeminados,


mulheres obesas, homens corcundas, anões. Gerava assombra-
mento, perplexidade, em exibições, mas também causava riso
(ridiculorum genera, Cic. De Or. 2.239, Quint. Inst. 6.3.7) e
chega inclusivamente a entender-se como sinónimo de precio-
sismo/exotismo, que entretinha a elite e a corte imperial186 , por
vezes até com aproveitamento comercial187.

Hibridismo
Autores anteriores a Flégon chegaram a reportar casos
‘quase-lendários’, resultantes de relacionamentos entre humanos
e outros animais188, inscrevendo-se numa vasta tradição mito-

186
Considerem-se banquetes com humanos tidos como monstruosos,
enquanto sinal de poder e reflexo de decadência e exotismo. Também o
gosto por anões, entre mulheres romanas da sociedade. Note-se o anão
Canopas, pertença de Júlia, sobrinha de Augusto (Plin. HN 7.75; Plu. Mor.
726a). Cf. ligação a atos de barbárie e feitiçaria. Outrossim, o exemplo
de Gegânia (Plin. HN 34.6), mulher que recebe, com a compra de um
dispendioso candeeiro (50 mil sestércios), um escravo corcunda, impu-
dentia libidinis, de nome Clésipo. Fazia questão de apresentá-lo nu, em
festas, e contemplou-o no seu testamento, donde a inscrição CIL 1(2) 1004:
Clesipis Geganius, Mag[ister] Capi[tolinus], mag[ister] Luperc[orum], uiat[or]
tr[ibinicius]. De igual modo, o costume de promover banquetes hilariantes
para os quais eram convidadas pessoas com diferenças físicas (viz. anões,
aleijados, negros, carecas, obesos, surdos) - vd., com as reservas que um
documento considerado por muitos fictício acarreta, Scriptores Historiae
Augustae (séc. IV), Heliogab. 29.3, Alexander Severus 34.2-4. Vd. Veyne
1968; Syme 1972. Cf. Trentin 2011; Laes — Goodey — Rose 2013.
187
Cf. ‘mercado de monstros’, referente ao mercado de escravos com
deficiência (περὶ τὴν τῶν τεράτων ἀγορὰν, Plu. Mor. 520c); e até a pro-
dução de deficiências em escravos, para satisfazer o gosto dos donos (cf. o
uso de glottokomae para criar situações de nanismo). Será porventura até
incorreto destacar exclusivamente reações da cultura romana face à defor-
midade, pois tribos africanas, da Eurásia, da América, integram nas suas
culturas uma tradição de práticas rituais de criação de deformidades físicas,
como o alongamento de pescoços (e.g. tribo Kayan/Padaung - território:
Mianmar/Burma) e lóbulos (Cf. Tutankamon). Vd. Trentin 2011.
188
E.g. Plin. HN 7.3.34, sobre Alcipe, grávida de um paquiderme;
Tat. Or. 33.15-17, acerca de Glaucipe, grávida de um elefante (cf., sobre

86
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

lógica189 e lembrando também comportamentos sexuais desre-


grados, ‘desviantes’ e contra naturam / perversos decorrentes de
desejos eróticos incontrolados, expressando a frivolidade do eros
vulgar concretizados em relacionamentos de zoofilia, no caso,
quiçá como reflexos da degeneração comportamental / excessos
associados ao Período Imperial Romano. E, embora a literatura
se manifeste a propósito da impossibilidade de tais conceções,
a sua indicação multiplicava-se. Em termos gerais, desenha-se
a peleja entre dois polos: de um lado, selvajaria e barbárie; do
outro, civilização.
Em Flégon, reportam-se casos de nascimentos a partir de
humanos, com formas total ou parcialmente animalescas. Terão
sucedido na Itália Romana, facto que, pela proximidade e não
incorporando elementos extraordinários, confabulados, pró-
prios de um exotismo estrangeiro (viz. #22: Roma; #23: perto
de Roma; #24: Tridentino), remontavam ao século precedente.
Em jeito titular, desprovido de desenvolvimento quanto ao
desenrolar da situação, #22, sobre o nascimento de um macaco
gerado por uma criada de uma distinta família romana (pretor
Récio Tauro), apresentado como um omen (σημεῖον); #24 génese
de natureza ofídia, a partir de uma mulher não identificada pelo
Traliano. Do episódio #23 não se verifica uma zoomorfia total no
recém-nado, mas algumas notas até de deificação, porquanto a
sua cabeça seria de Anúbis - divindade egípcia com cabeça canina.
As parturientes circulavam no seio de um estatuto social
elevado, facto que aumentava o assombro, a credibilização e a

o nascimento de uma criança com cabeça de elefante, caso integrado no


âmbito do hermafroditismo, Liv. 27.11.5); Apul. Met. 1.9, a respeito de
uma mulher com gravidez similar; Aesop., a propósito de Ío. Cf. Kalk-
mann 1887.
189
Vd, ilustrativamente, Penélope>Pã; Pasífae>Minotauro. Vd.
Borgeaud 1979.

87
Reina Marisol Troca Pereira

memória (#22: criada da esposa da família pretoriana de Récio


Tauro; #23: esposa de Cornélio Galicano). Apenas um dos
episódios queda em completo anonimato.

Hipocentauros
Esta secção de duas histórias parece apresentar-se como uma
sequência mitológica (Hipocentauros) de hibridismos, ainda
que distanciada daquela na estrutura da obra.
Contrariamente à posição racionalizadora de alguns pa-
radoxógrafos190, a criatura é retirada do fantástico (#34), pelo

190
Vd. Centauro preservado em mel, ofertado a Cláudio (Plin. HN
7.35). Cf. Fulg. 2.14, sobre a etimologia de Centauro, a partir de centum:
‘cem’. Considere-se Luc. DDeor., acerca do engano de Ixíon por Zeus,
que substituira Hera, então desejada pelo insolente mortal, por uma
nuvem, dando origem a Centauro(s). Vd. Pi. P. 2.21-48; D.S. 4.69.4-5;
Apollod. Epit. 1.20, reportando os Centauros como filhos do arrogante
Ixíon com a nuvem. Cf. Serv. A. 6.286. Para a racionalização do mito dos
Centauros (Hipocentauros), enquanto cavaleiros, vd. a versão de Palae-
ph., Περὶ ἀπίστων 1, séc. IV a.C., rejeitada por outras fontes, a exemplo
do autor tardio Tz. H. 7.10-48. D.S. 4.70.1 contempla a versão que dá
conta dos Centauros criados por Ninfas, no Monte Pélion, e dos proge-
nitores dos Hipocentauros, criaturas metade humanas, metade equinas,
na sequência do relacionamento com éguas. Assim, a impossibilidade
biológica do Hipocentauro e, extensivamente, do hibridismo: εἴ τις
οὖν πείθεται τοιοῦτον γενέσθαι θηρίον, ἀδύνατον· οὔτε γὰρ ἄλλως
αἱ φύσεις σύμφωνοι ἵππου καὶ ἀνδρός, οὔτε ἡ τροφὴ ὁμοία, οὔτε διὰ
στόματος καὶ φάρυγγος ἀνθρωπείου δυνατὸν ἵππου τροφὴν διελθεῖν.
εἰ δὲ τοιαύτη ἰδέα τότε ἦν, καὶ νῦν ἂν ὑπῆρχε. “Ora, para o caso de al-
guém acreditar que tal criatura existiu, trata-se de uma impossibilidade.
As naturezas do cavalo e do homem não se combinam, a sua alimentação
não é a mesma e não é possível que o alimento do cavalo passe pela boca e
garganta humanas. Ademais, se tivesse existido tal forma então, também
existiria agora.” Também, em sentido similar, sobre monstruosidades
híbridas, que julga impossíveis em essência, existindo apenas similitudes
aproveitadas por comediógrafos e fisiognomónicos (Arist. GA 4.769b.13-
25). Outra tradição concerne aos (Hipo)Centauros, filhos de Ixíon e
Néfele. Vd. Heraclit. 5; X. Cyr. 4.3.19-20, denotando a dificuldade de
os Centauros poderem usufruir de muitas benesses criadas para os ho-
mens; Plin. HN 7.202 (7.81). Cf., aliás, Lucr. 5.878-891, a propósito da
impossibilidade de alguma vez terem existido criaturas híbridas, como os

88
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

episódio que dá conta da captura de um exemplar vivo (#35).


Em suma, Flégon inicia as suas colações admiráveis com um
caso sobrenatural que afirma ter veracidade e finda com outro
ápice de mirabilia, com a factualização da mitologia.

A-normalidades biológicas humanas


A juntarem-se aos outros desvios da natureza humana repor-
tados por Flégon, surgem três casos (#20, 21, 25) de infantes
com deformidades, não agrupados pelo Traliano. Os eventos
são apresentados de forma jornalística, desprovidos de conota-
ção pejorativa/discriminatória, donde uma criança com quatro
cabeças191 e igual número de membros (#20)192; outra com uma
cabeça a emergir do ombro esquerdo (#21); outra com duas ca-
beças (#25). Apenas o último caso comporta desenvolvimento.
Poderá entender-se que, percebido o seu carácter ominoso, por
aconselhamento dos sacerdotes, foi atirado ao rio Tibre, confor-
me a prática executada na Antiga Roma193.

Centauros. Vd. Banier 1740; Fritsch 1789; Ernesti 1816; Festa 1890; Von
Blumenthal 1942; Osmun 1956; Sanz Morales 1999; Brodersen 2002a;
Fowler 2006; Ramon Garcia 2009; Torres Guerra 2010; Renz 2011;
Priestley 2014; Troca Pereira 2016c; Stern 1996, 2003.
191
Considere-se uma inversão de um motivo etiológico exótico
descrito/explorado historicamente, a propósito de lugares como a Líbia,
onde existiriam criaturas fantásticas e homens sem cabeça (Hdt. 4.191.4).
A crer na veracidade literal do caso, porque não o seu inverso (pessoa com
várias cabeças)?
192
Cf. caso similar ocorrido em 163 a.C., em Capoue (Cápua), repor-
tado posteriormente por Obsequente, LP 14.
193
No seguimento da informação dos textos Sibilinos (#4), apreende-
-se, a partir do episódio #25, o destino reservado a desvios biológicos
face à normalidade, monstruosidade horrífica, reflexo da confusão de
espécies. Expiação ou afogamento e execução de sacrifícios e rituais
eram as soluções habituais. Flégon segue, na generalidade, indicações já
reportadas anteriormente, prosseguindo comportamentos remotos (cf.
Obsequente, Liber Prodigiorum 25, ainda que autor posterior, reporta
um caso bastante recuado - o nascimento de um jovem, no consulado
de L. Fúrio e S. Atílio Serrano (136 a.C.) com membros e órgãos em

89
Reina Marisol Troca Pereira

Androginia e Hermafroditismo
Não pode conferir-se um estatuto binário ao género, mas
antes ponderar um visionamento triádico, constituindo o
hermafrodita o terceiro género194 . Já Lívio postulava, no séc.
I, a maior propriedade da língua grega para denotar casos de
anormalidade genética (cf. 27.11.5). Além disso, o termo ‘an-
drógino’ (ἀνδρόγυνος)195 apresenta maior antiguidade do que

número duplicado, interpretado como ominoso, donde à falta de outras


causas para desastres como o incêndio em Régio e a derrota humana
pelos aqueus foi queimado por ordem dos arúspices, que o consideravam
um sinal funesto (cf. Liv. 27.37.5) e as suas cinzas lançadas ao mar (vd.
Liv. 31.12.7. Cf. 27.11.6). Cf. Cantarella 2000a; Troca Pereira 2016b.
194
Qual o estatuto legal de um hermafrodita e dos seus herdeiros, em
sociedades misóginas, poderia ser uma questão a que o direito romano
responde, não com a conotação de monstruosidade, mas entendendo o
‘terceiro sexo’ a partir da secção dominante (masculina ou feminina). Vd.
Pomeroy 1975; Schiavone 2003.
195
Quanto à duplicidade sexual, a versão não é, todavia, una. A
cosmologia órfica apresenta o ovo protogínico de Fanes (Orph. A. 15;
Lact. Inst. 1.5), detentor de dois sexos, no início da Criação. Outro ser
primacial com dois sexos conhece-se como Agdístis/Cibele, resultante da
união de Zeus com a Terra, após o Crónida ter depositado o seu sémen
sobre uma rocha, ou quiçá após a secreção ter caído no solo (Ov. Fast.
4.227, 240; Paus. 7.10, 17.11-12). Nenhum destes casos individuais,
todavia, proporciona uma explicação válida para a raça humana como
Aristófanes platónico (Pl. Smp. 189d-e). O topos da androginia relaciona-
-se, de certa forma, com o da castração. Ora, no seguimento mitológico,
verifica-se a castração preventiva de Agdístis, pelos deuses (ou quiçá
apenas Diónisos). Fora do cenário mitológico, reconhece-se a prática da
castração, por vezes com fins religiosos (steriles uiri. Cf. autoemasculação
de Átis - exemplo para os varões que participavam do culto a Cibele - Ov.
Fast. 4.240), aos seguidores de Valésio (séc. III); outras, conotadas com
uma certa elevação de eunucos e castrados, enquanto guardiães da pureza
feminina (cf. Strat. AP 12.236) de plena fiabilidade. Afastados, porém,
desse paradigma de emasculação face aos desejos carnais, poderiam,
quer eunucos, quer castrados, contrair laços matrimoniais. Além disso,
destaca-se a atração de mulheres por eunucos, (vd. Archil. fr. 294W;
Juv. 6.366-378). No contexto literário judaico-cristão, postulam-se três
tipos de eunucos (por nascimento; por ação de outrem; por escolha de
vida) - Mt. 19:12. Vd. Guthrie 1957; Delcourt 1961; Daston — Park
1996; Brisson 1997; Cantarella 2000b; Valk 2000; Cantarella 2002,

90
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

‘hermafrodita’ (ἑρμαφρόδιτος)196 , segundo reconhece Plínio


(HN 7.3.34), cuja definição apresenta ambos os termos como
sinónimos: Gignuntur et utriusque sexus quos hermaphroditos
uocamus, olim androgynos uocatos et in prodigiis habitos, nunc
uero in deliciis, “Nascem por vezes indivíduos que pertencem a
ambos os sexos; designam-se hermafroditas; antes chamavam-
-se andróginos e eram vistos como monstros”. O vocábulo

2005; Betegh 2004; André 2006; Swancutt 2007; Edmonds 2009; Troca
Pereira 2013a; Turner 2001: 24.
196
Considere-se a vetusta temática de raízes tradicionais de composi-
ção mitológica, no tocante à androginia. Eis o mito etiológico respeitante
a Hermafrodito, figura epónima do hermafroditismo. Devendo-se ao
relacionamento atípico entre Hermes e Afrodite (D.S. 4.6.5. Vd. Her-
mafrodito e a fertilidade - Paus. 1.19.2), é no retrato de Ovídio (Met.
4.285-388) que se encontra a perseguição que lhe move a ninfa Sálmacis,
seguidora, não de Diana, mas de Vénus, até ao mergulho nas águas da
fonte com o mesmo nome (cf., atualmente, Halicarnasso, na Cária), que
atendem ao rogo da ninfa por uma união indelével. Assim, um ser de
género híbrido, Hermafrodito (cf. Luc. DDeor. 3 Macleod). Vd. represen-
tação artística, sobretudo na arte helenística do séc. IV a.C. Já na segunda
metade do segundo milénio a.C., figuras de deusas Sírias de uma figura
feminina, em trajes, seios, e genitais masculinos, geralmente com um falo
ereto, representando Hermafrodito anasyromenos. A revelação através da
elevação das vestes (cf. ἀνασύρομαι) torna-se essencial para comprovar
o género, ainda que salvaguardado o código de representação artística de
nu nas partes femininas. Cf. costume egípcio descrito por Heródoto, a
propósito de mulheres que, no âmbito do festival a Ártemis em Bubaste,
navegavam no Nilo, entre danças, cânticos, ruídos, levantavam as suas
vestes (2.60) e gritavam obscenidades à assistência feminina nas margens.
Vd. Ajootian 1997. Outrossim, a consideração de ‘Afrodite, sob a forma
de herma’, aproveita ao entendimento do nome ‘Hermafrodito’. Além do
mais, a figura vai ao encontro da duplicidade/indeterminação sexual, no
sentido de uma potencial bissexualidade, conforme depreendido a partir
da referência aristofânica a um ‘Afrodito’ gravado nas palavras de Macró-
bio (3.8.2-3. Cf. Catul. 68.51: duplex Amathusia). Eis, pois, o culto a uma
Vénus andrógina, barbada, em Chipre, portadora de vestes femininas
e genitais masculinos (vd. Paus. 1.19.2; Macr. 3.8.2, com referência de
Calvo Ateriano; Aristófanes - Ἀφρόδιτον; Levino; Filócoro, acerca de
sacrifícios realizados na Ática, por homens, com vestes femininas). Vd.
Brisson 1973; Pontalis 1973; Boardman 1978; Burkert 1979; Winkler
1990; Myers 1994.

91
Reina Marisol Troca Pereira

ἀνδρόθηλυς viria a ser exposto por Filóstrato (VS 489), séc.


II/III, aplicado ao filósofo do séc. II, Favorino, eunuco e her-
mafrodita197. Flégon opta pelo primeiro termo, para reportar
ocorrências de portentos do género (designadamente casos de
pseudo-hermafroditismo masculino e feminino)198 - ‘desvios’,
que alguns autores procuram explicar199. O Traliano segue
outros autores precedentes (e.g. D.S. 32.10.2-9; Liv. 24.10.6-13,
27.11.4-5; Ps. Callisth. 22.11.1-4; Plin. HN 7.4.36; Gell. 9.4.15;
August. C.D. 3.31), o que denota um gosto literário extenso
pelo topos. Também, a crer nas fontes arroladas, a multiplicação,
conhecimento e divulgação de casos. Outrossim, uma interpre-
tação das ocorrências como curiosidades (vd. Plin. HN 11.262)
e até portentos divinos de carácter ominoso, na iminência de
ataques sobre os Romanos, desde 209 a.C. a 92 a.C., envolvendo
expiações, oferendas e rituais, normalmente a Deméter, Ceres,
Core e (ou) Perséfone200.
Flégon denota casos de de duplicidade sexual física (indi-
víduos com genitalia masculinos e femininos), sem distinção
entre androginia (sexo indeterminado, parcialmente masculino
e feminino) e hermafroditismo (detentor, em simultâneo, de
genitalia masculinos e femininos). Porém, apenas o filho de
Polícrito nasce com os dois tipos de genitalia. Os restantes
casos nascem de um género (feminino, à exceção de Tirésias) e,
qual metamorfose (dádiva divina, #5; doença, #6), verifica-se a

197
Vd. Suda φ 4. Cf. Luc. Demon. 13, Eun. 7, acerca de Favorino
imberbe (πώγωνα), eunuco (εὐνοῦχος) e até desprovido de testículos.
198
Cf. Trombetta — Liguori — Bertolotto 2015: 16-17.
199
Parménides (fr. B18.231-240) menciona um incidente inibidor de
uma ‘correta’ união dos elementos de proveniência masculina e feminina
no momento concetivo, donde as atitudes efeminadas em homens, supra
viris em mulheres (cf. Sen. Ep. 20.122.7) e o surgimento de tríbades. Vd.
Krenkel 1989
200
Cf. Brisson 2002: 28.

92
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

manifestação de genitalia masculinos. Na generalidade, não se


constata o acompanhamento das mudanças físicas com ambi-
valência sexual psicológica/mental201 e, em #9, enquanto ainda
mulher, o indivíduo era casado.
Na generalidade do corpus de episódios em apreço, constam
casos mitológicos e outros alegadamente factuais/reais202, nem
todos denominados (e.g. #7, 10), verificados em várias regiões
territoriais maioritariamente orientais, o que denota algum
exotismo e barbarismo da situação. Desde logo, Tirésias (#4)
deverá entender-se como um caso mitológico paradigmático,
ocorrido na Montanha Cilene, inverso ao sentido maioritário
das ocorrências (mulher>homem)203. Relativamente aos even-
tos mitológicos (#4 Tirésias; #5 Cénis), a explicação para os
‘desvios’ desse tipo mencionados por Flégon prende-se com a
vontade divina, embora o Traliano se mostre algo parco nos
pormenores fornecidos também por outros autores enquanto
metamorfoses204. No respeitante aos alegadamente históricos/

201
Vd. Polemo (Phys. 2.1.192), contemporâneo de Flégon, no séc. II,
mediante o qual masculinidade e feminilidade se definiam em função
do corpo e do comportamento, facto aliás patente nos tratados de fisiog-
nomonia que grassaram na Antiguidade.
202
Cf. Creuzer 1836: 297.
203
Vd. Plin. HN 7.36, acerca da veracidade de mudança de sexo
mulher>homem: Ex feminis mutari in mares non est fabulosum. “Os casos
de mulheres que se tornaram homens não são fábulas”. Cf. Money —
Hampson — Hampson 1955; Laqueur 1990; Herdt 1990; Kent 2011:
13; Thatcher 2016.
204
Cf., a título ilustrativo, resguardadas as devidas reservas quanto à
datação, Ant. Lib. Met. 17. Neste episódio, o autor pretende, no seguimento
de Nicandro, Met. 2, retratar a transformação de Leucipo em Galateia
(cf., com contornos similares, Ífis, Ov. Met. 9.665-796), por atendimento
divino perante solicitação, no templo de Leto. Contemplam‑se igualmente,
a propósito, outros casos, a saber, Cénis, filha de Átrax/Elatos, por
influência de Posídon (cf. Ov. Met. 12.190), tornada Ceneu de Lápita,
tendo regressado ao género sexual original, após a sua morte (cf. Serv.
A. 6.448); o adivinho Tirésias, durante algum tempo; a prostituição de
Hipermnestra e o travestismo, por philia paterna. Vd. Cameron 2004.

93
Reina Marisol Troca Pereira

factuais, são apresentados como evidências estranhas, mão não


é avançada explicação sobrenatural. De facto, as mudanças
registadas compreendem transformação física inexplicável (#6
Hermafrodita de Antioquia, #7: Filótis), seguida de alteração
de nome, em conformidade (#8: Sinferusa>Sinferonte; #9:
Etete>Eteto). Mais ainda, tratava-se de um fenómeno transver-
sal a várias classes sociais (#7). Por vezes, Flégon refere fontes,
noutros casos não, embora, por coesão de conteúdo, possam
aventar-se as mesmas.
O topos do hermafroditismo dá igualmente azo aos oráculos
sibilinos, em #10. De início, reporta-se o nascimento de um her-
mafrodita em Roma, merecedor de um tratamento diferencia-
do, o mesmo equivale a dizer, urbano e legalista, associando-se a
religião. Juntava-se, assim, o poder civil, que legava ao religioso
os afazeres necessários, determinando, desde logo, o seguimento
de oráculos Sibilinos205. Trata-se, pois, de orientação divina,
mostrando variação e reforço dúplice da descrição de diretrizes
relativas a rituais expiatórios / propiciatórios a realizar, para
Deméter, Perséfone e também para Zeus e Hera, Hades, Apo-
lo, com participação de grupos de mulheres, como forma de
proceder com hermafroditas. Quais receituários em hexâmetros
obscuros, predispõem os seguintes rituais: no primeiro, recolha
de fundos para ofertar a Deméter (445-452), sacrifício de ani-
mais (453: três grupos de nove bois; 461-465): vacas brancas,
por raparigas), acompanhados de súplicas (464 - ἀθανάτην
βασίλισσαν, „rainha imortal“ - Hera?); sacrifícios, ofertas, liba-
ções, torchas a Deméter (466-470); as mesmas ofertas por todas
as mulheres a Perséfone (471-475); apresentação de fundos, por
rapazes e raparigas (476); no segundo, ofertas a Perséfone: rou-
pas (482-483), o que de mais belo (484-486); sacrifício de bois

205
Vd. Diels 1890; Santangelo 2013.

94
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

a Hades, seguido de procissão em trajes engalanados (489-492);


afastamento de descrentes (483-495); sacrifício animal (cabra) a
Apolo (497-499); súplica a Apolo para libertar do mal (500-501);
vaca branca sacrificada a Hera (502-503); entoação de hino por
raparigas (504); Cumas e o culto de Hera (507-510); sacrifícios e
libações a Hera (512-513); sacrifícios a entidades ctónicas (515);
atendimento das súplicas (516-522). O segundo oráculo finaliza
com uma consideração que faz supor um estado de transe da
Sibila, que assume ter-se desviado do assunto. Cabe pois, pon-
derar se apenas após os dois versos anteriores (523-524), onde se
junta como efeito dos rituais mencionados o advento libertador
do ‘Troiano’; ou se os rituais expostos se destinavam à obtenção
de outras súplicas e só nos versos que se seguem (malograda-
mente perdidos) se responderia ao assunto do hermafrodita. De
toda a forma, resulta a afirmação de um destino determinista,
mediante o qual o mal não pode ser evitado, mas apenas adiado
(511: ἵξει δ’) e destacam-se alguns procedimentos constantes,
como a exposição de súplicas, apresentação de ofertas às divin-
dades e sacrifícios animais.
Fica patente, pela preocupação de apresentar, primeira-
mente, casos mitológicos e depois alegadamente históricos
datados do Período Imperial Romano, por um lado, apontar
paralelos mitológicos para retirar estranheza total e instigar a
formulação de juízos a partir dos modelos tradicionais. Embora
não se trate de uma obra de fôlego e intenção erudita, parece
existir algum sentido didático subliminar, que garantia o gosto
popular, ao abordar questões de conhecimento geral, que quiçá
preencheriam conversas correntes, num período de alguns ex-
cessos comportamentais e exotismo, face a valores tradicionais
romanos (cf., neste sentido, casos de homens efeminados e

95
Reina Marisol Troca Pereira

emasculados206 - ἀνδρόγυνοι e ἡμίανδροι; mulheres masculi-


nizadas207; bestialidade208). Mais ainda, um traço de confluência

206
O Período em que Flégon se inscreve posiciona-se no ínterim
de comportamentos efeminados até no seio Imperial - um traço de
atualidade para o leitor hodierno, como que juntando-se a outros
excessos, degenerações e exotismos no âmbito dos relacionamentos.
Vd., anteriormente, a bissexualidade manifestada por Nero, em 67
- noivo’ de Esporo, um ator castrado (cf. Suet. Nero 28-29; Juv. 2.117-
142); no séc. III, o Imperador Elagábalo/Heliogábalo/Sardanápalo/Ps.
Antonino - Marco Aurélio Antonino Pio (D.C. 80.13.2), com desejo de
mudança cirúrgica de sexo, para uma vagina (D.C. 80.16.7) - traço de
feminidade e orientalismo. Flégon não retrata casos de transexualidade
com intervenção cirúrgica, pese embora a sua ocorrência. Vd. Groneberg
2003; Icks 2011.
207
Vd. Plin. HN 11.109.262, quanto a mulheres masculinizadas
como monstruosidades. Considere-se a remota consideração de que o
νόος feminino se distinguia do masculino, em Semon. fr. 7 Bergk 1-2:
Χωρὶς γυναικὸς θεὸς ἐποίησεν | νόον τὰ πρῶτα, “O deus [Zeus] criou o
carácter da mulher diferentemente, no início”). Porém, a inversão do polo
dominante da dicotomia masculino/feminino, no virilizado contexto
social da Antiguidade, conduz à mudança hierárquica de onde emerge tal
figura feminina, que institui uma ginecocracia (cf. tríbadas, Amazonas,
mulheres de matriz viril; exemplo mitológico de Clitemnestra, A. Ag. 11:
γυναικὸς ἀνδρόβουλος, “mulher de máscula vontade”. Vd. D. 46.16,
acerca do homem dominado por uma mulher - ἄκυρος). Trocava-se,
então, a descrição biológica/médica imbuída de contornos civilizacionais
misóginos que apresentava a mulher como um ser fisicamente inferior
(cf. Hp. Virg.: ἀθυµοτέρη γὰρ καὶ ὀλιγωτέρη ἡ φύσις ἡ γυναικείη,
“por natureza, a mulher tem um cariz mais fraco, menos coragem [do
que o homem]”, reproduzindo o entendimento de Arist. GA 775a:
ἀσθενέστερα γὰρ ἐστι καὶ ψυχρότερα τὰ θήλεα τὴν φύσιν, καὶ δεῖ
ὑπολαµβάνειν ὥσπερ ἀναπηρίαν εἶναι τὴν θηλύτητα φυσικήν,
“Porque as mulheres são mais fracas e mais frias na sua natureza,
deveríamos olhar para o estado feminino como uma deformidade, ainda
que ocorra no curso normal da Natureza”. Vd., no contexto romano, V.
Max. 9.1.3), o que socialmente se refletia numa condição aparentemente
redutora, passiva e marginalizada/secundária. Cf. Blundell 1995.
208
Espelhando o eros ‘vulgar’, também a zoossexualidade ou zoofilia
constituía um ato de bestialidade praticado desde tempos vetustos, em
diversas culturas (e.g. Egito: uniões com cabras; burras; mulas e até de
mulheres e de homens com crocodilos. Cf. Hdt. 2.46). Ora reprovados,
ora aceites, na Antiga Roma denotavam a falência dos mores tradicionais
(e.g. Semíramis, com o seu cavalo - Plin. HN 8.64[42]; Aristodeme, mãe

96
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

entre tradição e modernidade, caso se ponderem as constata-


ções biológicas do século II, que não efetuavam uma divisão
tão apartada entre géneros. Com efeito, Galeno de Pérgamo,
prosseguindo estudos anteriores (viz. Alexandrino Herófilo, séc.
III a.C., condição intersexual / tese de dois géneros a partir de
um único sexo), nega o radicalismo na diferenciação anatómica
dos genitalia (órgãos sexuais) masculinos e femininos. A seu ver,
recuperando Aristóteles, seriam antes homólogos e os genitalia
masculinos constituiriam apenas a inversão dos femininos209

de Arato, com uma serpente (Paus. 4.14), assim como a mãe de Cipião
e a progenitora de Alexandre), com o intuito único de atender a uma
líbido sexual incontida e mais do que selvática, porquanto ultrapassa o
comportamento de qualquer animal (vd. Macr. 2.5.10. Cf. Hdt. 2.46;
Plin. HN 8.64[42]). Isso mesmo denunciavam espetáculos teatrais
promovidos sob o beneplácito de Nero, proporcionando aos olhos do
povo a contemplação de cenas de acasalamento de mulheres e homens,
envergando peles de animais, o que denotava o gosto popular de então
(Suet. Nero 29). No mesmo âmbito, partem da mitologia envolvimentos
de natureza zoofílica. Não obliterando o teromorfismo reconhecido nas
representações mais vetustas das divindades, as metamorfoses animalescas
facultam um meio relevante no que respeita às ligações entre deuses e
mortais (e.g. Apolo-lobo ~ Cirene, Zeus-águia ~ Astéria-codorniz,
Deméter-égua ~ Posídon-cavalo, Teófane-carneiro ~ Posídon-carneiro,
Bóreas-cavalo ~ Erínia-cavalo, Posídon-delfim ~ Melanto, Zeus-cisne ~
Némesis-gansa, Zeus-fogo ~ Egina, Zeus-serpente ~ Perséfone, Apolo-
tartaruga ~ Dríope, Éaco ~ Psâmate-foca, Europa ~ Zeus-touro, Cronos
ou Quíron-égua ~ Fílira, Tífon ~ serpente Equidna, Pasífae ~ touro,
Aristodeme ~ Asclépio-dragão, Posídon-pássaro ~ Medusa, Zeus-águia ~
Ganimedes, Astéria e quiçá Egina, Zeus-cisne ~ Leda, Zeus ~ Ío-vitela,
Zeus-sátiro ~ Antíope, Neptuno-touro ~ Cânace, Neptuno-carneiro ~
Teófane, Neptuno-cavalo ~ Ceres). A descendência refletia a união, em
aspetos vários, desde a forma de nascimento (e.g. ovo: Clitemnestra/
Helena/Pólux/Castor), até à morfologia do neonado, com traços de
bestialidade, por vezes sinal de embaraço, vergonha e até perigo. Na
realidade, a prole resultava de aproximações forçadas (cf. Pã < Penélope
~ Hermes-bode, Luc. DDeor. 2 Macleod) ou funcionava inclusivamente
como forma de castigo (e.g.: Minotauro < Pasífae ~ touro). Vd. Foucault
1984; Keuls 1985; Halperin — Winkler — Zeitlin 1990; Calame 1996.
209
Cf. Gal. UP 14.6: παντ᾿ οὖν, ὅσα τοῖς ἀνδράσιν ὑπάρχει μόρια,
ταῦτα κἀν ταῖς γυναιξὶν ἰδεῖν ἐστιν, ἐν ἑνὶ μόνῳ τῆς διαφορᾶς οὔσης

97
Reina Marisol Troca Pereira

motivada pela superioridade térmica dos corpos masculinos.


Assim, a vagina corresponderia a um pénis interior, os labia ao
prepúcio, o útero ao escroto, os ovários aos testículos, metafo-
rizados como δίδυμοι, ‘gémeos’210, falando, assim, de sémen
feminino211. Seria pois possível, de certa forma, interpretar o
entendimento médico contemporâneo de Flégon proporcionado
por Galeno de Pérgamo, no seguimento do texto platónico que
dá a humanidade como originariamente andrógina 212.

αὐτοῖς [...] ὡς ἔνδον μὲν τὰ τῶν γυναικῶν ἐστι μόρια, τὰ δὲ τῶν


ἀνδρῶν ἔξω, “todas as partes que os homens têm, as mulheres também
têm, sendo a diferença delas uma [...] que as partes das mulheres estão
no interior [do corpo], enquanto as dos homens estão no exterior”. Vd.
Palmieri 2003; King 2016.
210
Cf. Herophil. apud Gal. De Semine 2.1: Επιπεφύκασι δὲ τῇ µήτρᾳ
καὶ δίδυµοι ἐκ τῶν πλαγίων, ἐξ ἑκatέρου µέρους, ἐπ’ “Nasceram
testículos no útero, nos lados, em cada uma das duas partes, diferindo
um pouco dos do macho”. Vd. Thomas 1990.
211
Cf. críticas a teorias precedentes, Preus 1977.
212
Aristófanes-Personagem refere (Pl. Smp. 189d-e) terem existido
inicialmente três géneros: homens, mulheres e um terceiro já desaparecido
- andrógino, descrito como uma mistura de ambos: ἀνδρόγυνον γὰρ ἓν
τότε μὲν ἦν καὶ εἶδος καὶ ὄνομα ἐξ ἀμφοτέρων κοινὸν τοῦ τε ἄρρενος
καὶ θήλεος, νῦν δὲ οὐκ ἔστιν ἀλλ᾽ ἢ ἐν ὀνείδει ὄνομα κείμενον, “Com
efeito, ‘homem-mulher’ era então uma forma unitária, como o nome,
composto de ambos os sexos e partilhando igualmente homem e mulher;
embora agora se tenha tornado um nome de reprovação.” De forma
redonda (στρογγύλον), formado cada indivíduo por um compósito de
quatro braços, pernas, ouvidos duas faces sobre um pescoço cilíndrico
e assim sucessivamente - καὶ αἰδοῖα δύο, “duas partes privadas”. Assim,
de início, todos os humanos eram andróginos; hoje, apenas fatias/secções
do sexo composto (191d). Porém, a lição platónica prossegue (190b),
adscrevendo a origem do sexo masculino nessa forma ao sol; do feminino
à terra e dos andróginos à lua (sobre o duplo sexo da lua, vd. Orph. 9.4;
Macr. 3.8). Até que Zeus (190c-e) fende a unidade humana em duas partes,
castigando a rebelião intentada de Efialtes e Oto (cf. Od. 5.306-321).
Curada a ferida por Apolo, e reposicionadas as partes íntimas, as metades
procurariam o seu par para se multiplicarem, caso a parte masculina
encontrasse uma feminina (cf. 191a-c), ou a parte respetiva dos originais
andróginos, refletindo relacionamentos homoeróticos (Cf. 192a acerca da
superioridade da conjugação de partes masculinas). Todavia, o amor não
deve entender-se primacialmente como desejo erótico (vd. Pl. Lg. 1.636c:

98
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

Gigantismo
A exploração do grotesco retratada por Flégon segue
assim com descobertas de marcas de figuras gigantes, o que
atemoriza o comum dos mortais de tamanho inferior, par-
ticularizando com pseudo-historicidade eventos retratados
tradicionalmente, no panorama mitológico (cf. Il. 21.407, a
propósito de Ares. Gigante Títio, Od. 11.577). A temática
não é, pois, inovadora, encontrando-se em diversos autores213
e por vezes associada com a kalokagathia, no respeitante à
grandiosidade de corpo e de alma reconhecida em heróis e

ἀκράτεια ἡδονῆς, “debilidade do prazer”, como nos relacionamentos


homoeróticos masculinos e femininos, percecionados como vergonhas
- τόλμημα antinaturais) a título de consequência de um comportamento
faltoso na forma tentada, um anseio de reunião primitiva/reversão ao
estado natural, mas sobretudo, seguindo o entendimento de Diótima,
face a Eros, de maneira de certo modo assexuada, enquanto daimon
(204b1–c5), salientando-se o carácter positivo do amor, em detrimento
de resumir-se meramente à tradição folclórica ditada por alguns autores,
de simples procura da outra metade (205d-e), o que permite a felicidade e
o Bem, física ou mentalmente (206a-e), o mesmo e dizer, a ascensão rumo
ao Bom e Bem / Conhecimento e Virtude - virtuosa prole resultante da
gravidez mental que assiste a pares homoeróticos (209b8). Este tipo de
conceção assexuada, filosófica de eros, expressa pela Mulher de Mantineia
(Pl. Smp. 189d-e), afasta-se, quer de visões protogénicas de Eros,
referindo-o no início da criação (Parmen. fr. 13 Diels. Cf. Arist. Metaph.
1.984b); quer de entendimentos básicos de eros vulgar. Vd. Brisson 1973,
1986; Halperin 1990; Ajootian 1997; Morgan 2000; Groneberg 2005;
Boehringer 2007, 2010.
213
Plínio, o Antigo discorre acerca da altura dos seres humanos, a seu
ver, com diminuição de altura ao longo das gerações. Ainda assim, casos
excecionais, como o de um corpo com 46 cúbitos de altura, encontrado
em Creta, com altura equivalente aos mitológicos Oríon ou quiçá a Oto
(HN 7.16.73).

99
Reina Marisol Troca Pereira

vencedores214, de lógica degenerativa 215.


Os casos de gigantismo reportados por Flégon (#11-19) va-
riam na natureza do seu conteúdo (viz. ossadas descobertas ou
em exposição, estátuas) e nas zonas de achamento. Dispõem-se
de forma aleatória e unem-se apenas pelo dimensionamento. A
reposição das ossadas nos seus locais originais ou recolhidos,
embora respeitosa, inibirá, todavia, eventuais buscas quiçá mes-
mo ainda na atualidade.
Diferentemente da generalidade dos casos, os episódios rela-
tivos a humanos são deveras remotos e somente se imagináveis
a partir de ossadas encontradas. A materialidade das relíquias
e a sua datação a partir de incidentes reconhecidos conferem
credibilidade à existência de gigantismo em humanos. A primei-
ra ocorrência (#11) permite convergir mito e factualidade, uma
questão tradicional. Concerne a Idas, literariamente retratado,
pela força que demonstrou certamente no embate com uma
divindade (κάρτιστος), o que posiciona Idas entre “os grandes”
(de força e quiçá de tamanho, ao abrigo de uma lógica marcada
pela kalokagathia. A transcrição apresenta o motivo tradicional
do seu esforço: o desejo nutrido pela filha de Eveno, Marpessa,
motivara o rapto desta por Apolo e uma subsequente tomada

214
Cf., a título ilustrativo, Arist. Pol. 7.13.3 = 1.332b; Paus. 6.5.1,
sobre o vencedor Olímpico (e.g. Pulidamante de Escotusa, vencedor
de pancrácio, que pretendia rivalizar com Héracles em robustez, é
descrito artisticamente como o maior homem, à exceção de heróis - 4ª
idade hesiódica(?) : ὁ δὲ ἐπὶ τῷ βάθρῳ τῷ ὑψηλᾷ Λυσίππου μέν ἐστιν
ἔργον, μέγιστος δὲ ἁπάντων ἐγένετο ἀνθρώπων πλὴν τῶν ἡρώων
καλουμένων καὶ εἰ δή τι ἄλλο ἦν πρὸ τῶν ἡρώων θνητὸν γένος, “A
estátua no pedestal é obra de Lisipo e representa o maior de todos os
homens, excetuando os chamados heróis e outra raça mortal que tenha
existido antes dos heróis”.
215
Sobre o declínio progressivo da raça humana, em termos de altura
e longevidade, vd. Hes. Op. 109–201, em particular 129, respeitante à
degeneração da idade da prata, relativamente à precedente. Outrossim,
cf. August., C.D. 15.9.

100
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

por Idas, com auxílio de Posídon. A contenda seria, a mando


de Zeus, decidida por Marpessa, que escolhe Idas, por temer,
na velhice, o abandono da divindade (cf. Apollod. 1.7.8). A
identificação das ossadas não gera discussão, em virtude da ins-
crição que acompanhava o invólucro funerário (ἐπιγράφω - vd.
#11: monossilábica - “Idas”; 17: dois versos de epitáfio, dando
Macrosiris enterrado numa pequena ínsula e juntando dois
portentos, para um indivíduo gigante e de longa vida - 5000
anos). Flégon situa o encontro das ossadas contidas numa jarra
colocada a descoberto aquando de uma tempestade (vd. obra de
Díctis Cretense, por ocasião de um sismo, durante o governo de
Nero), em Messene. Incluía dentes e uma cabeça de dimensão
tríplice (κεφαλὴν τριπλασίαν), identificada, após pesquisa, por
uma inscrição que dizia “Idas”. As ossadas receberiam destino
idêntico reposto a expensas públicas. Também fazendo uso do
topos de um abalo sísmico revelador de ossadas, o episódio #14
(Vd. #13. Cf. Suda α2634). Outrossim, um sismo, no Bósporo
Cimeriano (#19), que facultou a descoberta da estrutura de um
esqueleto com 24 cúbitos. Tibério reinante, um sismo devasta-
dor arrasou várias cidades da Ásia Menor, Sicília, Régio e Ponto.
Enviado um dente ao Imperador, como prova do achado de
tamanho descumunal, constata-se, por um lado, de novo, a pre-
ocupação de salientar o respeito pelos mortos, evitando o sacri-
légio (devolução do dente); por outro, credibilização científica,
pelo geómetra Pulcro, através da reconstrução de um molde do
corpo, a partir das dimensões do dente. Um expediente distinto,
relativo à descoberta de caixões de grande tamanho (#17 - 100
cúbitos; #18 - 23 e 24 cúbitos), com corpos ressequidos é a
escavação.
Outro caso relacionado com grandes dimensões não se
aplica a um ser humano, mas a um tributo (colosso e estátuas)
apresentado junto ao Templo de Afrodite, no Fórum Romano,

101
Reina Marisol Troca Pereira

pela população em homenagem a Tibério Nero, que ordenou a


reconstrução, a expensas suas, de cidades da Ásia Menor destru-
ídas por um sismo, segundo denota o gramático Apolónio (#13).
Como se fosse um rumor, o episódio #16 é uma afirmação
de Flégon, em 1ª pessoa, dando conta de uma consequência
genética da evolução humana - seres muito mais pequenos na
atualidade (cf. Plin. HN 7.16.73). Aliás, o mesmo princípio é já
afincado em #15, com apelo reiterado à aceitação do gigantismo
como traço antigo da raça, outrora mais próxima das divinda-
des, qual percurso degenerativo desenhado no ‘mito das idades’
(cf. Hes. Op. 109-201; Ov. Met. 1.89-150). Fica apenas, com
base nos artefactos descobertos, uma constatação e um apelo
à credibilidade, embora Flégon não avance com explicações do
fenómeno.

Desenvolvimento rápido
Os episódios #32 e #33, ainda que de natureza distinta,
denotam casos de desenvolvimento/crescimento acelerado. O
primeiro é singular, masculino e anónimo e completa todas as
fases de crescimento biológico (do nascimento à paternidade)
em sete anos. O segundo regista um fenómeno coletivo - as
mulheres de Pândia geram crianças aos seis anos de idade.

b. Acerca de Vidas Longas (Περὶ μακροβίων)


A obra Περὶ Μακροβίων poderá também entender-se como
um fenómeno invulgar, facto que justifica a edição da obra de
Flégon, comportando dois itens distintos. Um deles integrava
o livro respeitante a maravilhas e a vidas longas, como se este
último se tratasse de uma extensão do primeiro. O propósito
da obra, não sendo absolutamente inovador, possui exemplos

102
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

anteriores216 e a base anecdótica fornecida pelo censo/inventário


de cidadãos romanos, preenchido pelo chefe de família, referin-
do membros, propriedades e posses, para fins militares, estatísti-
cos e de imposto. Assim, o das 14 províncias de Roma (Plin. HN
3.66) - 73/74, dos Imperadores Vespasiano e Tito (cf. Plin. HN
7.49.162-164), que dão conta de pessoas de longa vida, idades
quase bíblicas, um caso também extraordinário, que não quebra
a sua obra acerca de portentos. Aliás, no episódio #17, lê-se a
inscrição (epitáfio) que acompanhava o caixão de Macrosiris,
reportando uma vida de 5000 anos. Os dados contemplados
por Flégon nem sempre coincidem com os de outros autores
(e.g. Demócrito: 104 anos - Phleg. Macr. 2, Luc. Macr. 18; 109
anos - D.L. 9.43. Lúcio Terêncio: 135 anos - Phleg. Macr. 4,
Luc. Macr. 4; 132 anos - Plin. HN 7.50). Em termos estruturais,
trata-se de uma listagem não numerada Sem apresentar uma se-
quência alfabética, ainda assim, reúne grupos de antropónimos
(e.g. Lúcios, Marcos, Titos, Públios) de pessoas de diferentes
classes sociais (e.g. libertos, escritores, sibilas), sexos, localida-
des, com identificação gentílica, patronímica e toponímica cre-
dibilizadores, organizados por categorias de longevidade, com
especificação individual da idade dos elementos inseridos num
mesmo grupo, cujo número de indivíduos vai diminuindo, com
o avançar da idade em causa. Começa pelos 100 anos e prosse-
gue em intervalos de 10 anos. Desde logo, poderia ficar desfeita,
para a hodiernidade, a falácia de que a esperança média de vida,
até à modernidade, era parca (vd. Hdt 1.30-32). Na realidade,
pese embora a existência de grandes conflitos para os quais se
exortava a juventude varonil (cf. ideais da época arcaica, séc.

216
Cf., ainda que não se trate de uma obra independente, Plin.
HN 7.153-164, com indicação (HN 7.49) de fontes precedentes sobre o
mesmo assunto, desde Hesíodo (cf. fr. 304 M-W. Vd., posteriormente,
continuação do topos Luc., Macrobii.

103
Reina Marisol Troca Pereira

VII/VI a.C. - Callin. fr. 1.5-8 Diehl; Tyrt. fr. 6.7.1-2 Diehl , fr.
9. 32-34 Diehl. Vd. Simon. fr. 121 Diehl) para defesa pública e
privada (pátria, família), de modo a vencer o término imperioso
da existência mortal, através da arete celebrada após a morte
física (cf. Ibyc. fr. 282. 47-48 PMG).
Seguem-se aos nomes (regra geral dois elementos ou os tria
nomina típicos dos romanos) apostos de gens, sendo por vezes
necessário supor o tipo de relação (e.g. Macr. 1: “ Creste, [filha]
de Antípatro”), localidade e idade de óbito. Os(As) escravos(as)
libertos(as) são em número considerável (1 escravo, 11 libertos,
9 libertas). Essencial para justificar o praenomen e nomen de
vários é o nome do seu antigo proprietário (exceções, e.g. Públio
Frix, liberto de Lúcio), uma vez que parte da familia. E a este
propósito constituirá motivo quiçá para refletir sobre o modo
de vida que teria salvaguardado tamanha longevidade, porém
o resultado não satisfaria mais do que atestar vidas sem traba-
lhos forçados, alimentação adequada, clima (cf. Plin. HN 7.49,
acerca da durabilidade da vida humana, referindo Hesíodo,
Anacreonte, Teopompo, Helénico, Damastes, Éforo, Alexandre
Cornélio, Xenofonte). No caso das mulheres, denominação a
partir do nomen paterno. São comuns os nomes Públio, Gaio,
Marco, Lúcio, Tito, Quinto, a título ilustrativo, o que poderá
confundir o leitor, quando não associado a outros elementos.
Por certo não seria a mesma pessoa nem ‘quem eram’ (porven-
tura do conhecimento público), para que não se acrescentassem
outros dados. Contam-se, todavia, algumas exceções em Macr.
1, designadamente duas entradas, com indicação da causa de
morte (e.g. Demócrito de Abdera, anorexia (?); Ctesébio, en-
quanto andava; Jerónimo - feridas de guerra), profissão (e.g.
Ctesébio, historiador; Jerónimo, coletor) após a nota etária. Na
globalidade, as pessoas em causa são desconhecidas (exceções:
e.g. Ctesébio, Demócrito. Cf. Lúcio Fidiclânio, da tradicional

104
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

família do senador Fidiculânio, séc. I a.C. - Cic. Caec. 28, Clu.


103). A verdadeira questão subjacente a toda a obra consiste em
atestar a forma como se media o tempo (com notórias diver-
gências etnográficas, na contabilização dos anos), para que se
dessem algumas idades de extensão bíblica (e.g. Adão, 930 anos,
Gn. 5:4-5). São maioritários os casos masculinos. A listagem
é póstuma. Ainda assim, lê-se (Macr. 3) que Júlia Modestina
ainda existia nos dias de Flégon (καθ’ ἡμᾶς ἔτι οὖσα), donde
a inevitabilidade de questões como - ‘ainda viva na altura de
Flégon’? E Fausto, visto pelo Traliano, também? Se for o caso,
qual a fonte usada para coligir os casos, já que algumas entradas
são referidas por autores anteriores à época Cristã?
Reconhecem-se seis capítulos distintos, designadamente
1 - pessoas centenárias (de Lúcio Cornélio a Docúrio, um total
de 68 casos, 55 dos quais, homens); 2 - vidas entre cento e um
e cento e dez anos (de Gaio Leldio a Munância Prócula, sendo
101 anos: de Gaio Leldio a Búria Licnenis - 6 casos; 102: de
Laio Sâmio a Tito António - 3 casos; 103: Cocnânia Musa -
103 anos - 1 caso; 104: de Demócrito de Abdera a Jeróimo - 3
casos; 105: de Gaio Titoneu a Sexto Névio - 5 casos; 106: Lúcio
Doroteu - 1 caso; 107: Gaio Montiano - 1 caso; 110: de Pola
Donata a Munância Prócula - 2 casos. No total, 21 indivíduos,
18 de terras itálicas, 3 gregos; 14 homens. O terceiro núcleo
(5 casos) apresenta-se fragmentado, referindo pessoas de 110-
120 anos: com 110 anos, 113 e 114 apenas 1 homem em cada
idade; 1 mulher de idade não especificada, por lacuna textual e
1 mulher anónima, ainda viva, aos 120 anos. De facto, a obra
não corresponde exatamente a um obituário. Entre 130 e 140
anos, o quarto grupo comporta somente dois indivíduos, um de
135 anos de vida e outro de 136. Em 5º lugar, 1 figura de 150
anos. A obra contém evidentes lacunas, que podem completar-
-se na leitura de outros autores, designadamente D.L. 1.10.111,

105
Reina Marisol Troca Pereira

a propósito de Epiménides:

Καὶ ἐπανελθὼν ἐπ᾽ οἴκου μετ᾽ οὐ πολὺ μετήλλαξεν, ὥς


φησι Φλέγων ἐν τῷ Περὶ μακροβίων, βιοὺς ἔτη ἑπτὰ καὶ
πεντήκοντα καὶ ἑκατόν: ὡς δὲ Κρῆτες λέγουσιν, ἑνὸς
δέοντα τριακόσια: ὡς δὲ Ξενοφάνης ὁ Κολοφώνιος
ἀκηκοέναι φησί, τέτταρα πρὸς τοῖς πεντήκοντα καὶ ἑκατόν.

“Então ele regressou a casa e não muito depois morreu. Se-


guindo Flégon, em Acerca de Vidas Longas [FGrHist 257 F38],
ele viveu cento e cinquenta e sete anos; segundo os Cretenses,
duzentos e noventa e nove anos. Xenófanes de Cólofon [DK 21
B 20] refere a sua idade como cento e cinquenta e quatro anos,
segundo se ouvia dizer.”

Por fim, a Sibila de Eritreia, cuja longevidade é expressa no


seu oráculo. Sem nominalização, mostra-se a atribuição de uma
característica histórica (idade) a uma figura de tradição mito-
lógica 217. Embora não constitua motivo primacial, constata-se,
no oráculo da sibila 218, o cuidado de aludir a vários topoi, como
meios de adivinhação219, enquanto omina, que esclarece em
em prosa, em Macr. 6.2; entranhas de animais; voo de aves;
duração/ciclo da vida humana, estimado em 110 anos (Macr.
6.3), o que, desde logo, levanta dúvidas quanto à credibilidade
dos factos supostamente verídicos de ‘vidas longas’ retratados;
destino; ritos (participantes e práticas) de celebração a deuses
ctónicos; uma ontologia bipartida do corpo humano: corpo/
alma; os riscos da falta de enterro e a degustação do corpo por

217
Cf. historicidade de Herófila e Fito (?). Vd. Burkert 1985.
218
Vd. Bouché-Leclercq 2003.
219
Sobre a adivinhação e a necessidade de alguns princípios estoicos,
vd. Hankinson 1988.

106
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

animais necrófagos; Ludi Saeculares, também celebrados com


intervalos de um ciclo de vida humana (vd. Hor. Saec. 20-21)220.

d. Sobre as Olimpíadas (Περὶ τῶν ᾿Ολυμπίων / ᾿Ολυμπιάδες


/ Χρονικά)
É absolutamente controverso e deveras dúbio avançar com
quaisquer considerações analíticas respeitantes a fragmentos. E
de facto, de Sobre as Olimpíadas, de Flégon restam não mais do
que algumas linhas fragmentárias, que não merecem considera-
ção crítica na recente edição do texto grego de Stramaglia 2011.
Restam, todavia, relatos de autores com acesso à obra, nas suas
épocas, expostos em fragmentos FGrHist 3: 602-608. Assim,
no registo Περὶ Πολέων, de St. Byz., séc. V/VI (?), a propósito
da cidade Gergis, de onde era natural a Sibila Gergícia - Olymp.
1 (FGrHist F2), e da cidade de Diosierita, referida em Olymp.
1 (FGrHist F3). De igual modo, Antímacode Dispôcio, em
Pisa, vencedor do στάδιον, 4ª Olimpíada (FGrHist F4), Depo,
vencedor no pugilato, πύξ, *Eleu, na quadriga. De St. Byz.
também referência de Flégon à cidade de Hiperásia, em Olymp.
24. Outras alusões ao texto de Flégon efetuam-se a partir do
livro 8. Designadamente, Afric. apud Eus. P.E. 10.10, referindo
Flégon, quanto às cidades de Augusta (FGrHist F8) e de Creme
(FGrHist F9), na 8ª Olimpíada. Respeitantes a Olymp. 13, Eus.,
Chron. ad Ol. 203.1, a respeito do portento do sol (FGrHist
F15), Sincelo p. 324, D, ex Eusebio, sobre o eclipse solar, no
quarto ano da ducentésima segunda Olimpíada (FGrHist F15).
De observar também as indicações de Orígenes, Cels. 2.14
(FGrHist F14), a propósito de Cristo, em Olymp. 13 ou 14
(?). De Olymp. 15, a respeito de Neocesária, lembra St. Byz.
(FGrHist F16), a cidade siciliana de Terbécia (FGrHist F18), a

220
Cf. Sósimo, Vita Noua 2.1; FGrHist 257 F40.

107
Reina Marisol Troca Pereira

cidade Líbia de Furnita (FGrHist F19), o Olimpieu, em Delos


(FGrHist F21); também dos Escoridiscos e Escirtos da Peónia
(FGrHist F17). Outrossim, Constant. Porphyrog. Them. 2. 12
sobre a alusão de Flégon ao Bósporo (Bósforo), sob domínio
do rei Cóio do Bósporo (FGrHist F20). A partir de livro incerto
de Sobre as Olimpíadas, St. Byz. menciona a alusão de Flégon às
cidades de Dispôncio, a partir de Disponto, filho de Pélops, 4ª
vencedor de στάδιον (FGrHist F4), cidade de Sinope (FGrHist
F6), região de Leno, na 48ª Olimpíada (FGrHist F7), cidade
de Terracina, na 181ª Olimpíada (FGrHist F13). Outrossim, de
Afric. apud Eus. P. E. 10.10, tomando o 45º ano da Olimpíada
para aludir ao persa Ciro, segundo Políbio, Bibliotheca Diodori
in Historiis Thallis et Castoris, e Flégon (FGrHist F7a), de Nisíbis
(FGrHist F10), na 140ª Olimpíada, de Velitra (FGrHist F11), na
174ª Olimpíada. A Fócio pertence uma indicação mais desen-
volvida (FGrHist F12. Cf. POxy 2082). Menciona o labor do
liberto de Adriano, Flégon, a partir da primeira Olimpíada (776
a.C.) - um assunto que atraiu diversos autores, outras tantas
versões e muitas contradições, à 177ª - 72-69 a.C. (listagem de
vencedores, nas diversas provas), nos cinco livros que leu até
essa Olimpíada - o que deixa dúvida quanto à totalidade de
livros da composição, quando outros autores referem livros em
maior número. Decorreram o cerco de Amiso, por Luculo; um
tremor de terra, em Roma; o censo da população; a substituição
de Sinatruces, rei dos Partos, por Frates, do epicurista Fedro,
por Patro; o nascimento de Virgílio (15 de outubro); a vitória da
armada de Tigrano e Mitrídates sobre Luculo, no quarto ano da
Olimpíada; a consagração do Capitólio em Roma, por Catulo;
o ataque de Metelo à ilha de Creta; o pirata Atenodoro221, que

221
Cf. Ormerod 1924.

108
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

escraviza os Délios e destrói estátuas com nomes de deuses222,


também que Triário repara danos e protege Delos. Por seu tur-
no, St. Byz. recorda a alusão de Flégon às cidades de Elbonde
(FGrHist F22), Picência (FGrHist F25), Térina (FGrHist F26),
Óstia (FGrHist F27), Meandrópole (FGrHist F23), no 15º livro
de Sobre as Olimpíadas. Evário, Hist. Eccl. 1.20-21, acerca da
referência a respeito de colonos enviados a partir de Antioquia
grega para Oronte, por parte de Estrabão, Flégon e Diodoro
Sículo, entre outros (FGrHist F28).
Um fragmento maior, da autoria do Traliano, sumariamen-
te, prende-se com a origem dos Jogos Olímpicos, até à indi-
cação do primeiro vencedor coroado. Ora, diversos autores, na
Antiguidade, retrataram os Jogos Olímpicos, festival realizado
no complexo de templos (vd. Ὁλυμπιεῖον, Ἡραιον), altares e
estátuas - Olímpia (Élis), em honra de Zeus, de origem contro-
versa e obscura. Uma tradição remota, a partir dos sacerdotes de
Eleia, considera a instituição dos Jogos Olímpicos ainda sob o
comando de Cronos (vd. Paus. 5.7.6), após Héracles ter vencido
os seus irmãos (Peneu, Epimedes, Jásio e Idas) e ter-se dirigido a
Olímpia, onde os homens da idade do ouro haviam erguido um
templo em honra de Cronos. Héracles instituiu um concurso a
realizar-se cada cinco anos - πεντετηρίς (Paus. 5.7.4. Cf. schol.
Pi. O. 3.35 Boeckh). Após Clímene (descendente de Héracles),
Endimion, Pélops, o festival receberia modificações, designada-
mente a sua consagração a Zeus (vd. celebração por Amitáon,
Pélias e Neleu, Héracles, filho de Zeus/Anfitrião, Óxilo - inter-
rupção. Vd. invasão Dória - Ífito, séc. IX a.C.. Cf. Paus. 5.8.1).
Versão distinta é a de autores como Pi. O. 10; Strat. 8.3.30, 33;
Apollod. 2.7.2; Diod. 4.14, mediante os quais o fundador fora

222
I.e. deuses pagãos.

109
Reina Marisol Troca Pereira

Héracles223, descendente de Zeus/Anfitrião.


Com Flégon224, o fragmento FGrHist F1 surge com uma
apresentação sumária do autor, enquanto liberto de Adriano.
Em 1ª pessoa, começa a desenvolver-se o topos do Concurso-
-Festival, em Olímpia, a partir da sua fundação tripartida por
Peiso, Héracles, Pélops. Negligenciadas 27 Olimpíadas pelos
Peloponésios, a prática de competições desnudas225 foi resta-
belecida por Licurgo e Ífito, descritos por demoradas sucessões
patronímicas. Segue-se a referência ao armistício, após aprova-
ção délfica (Cf. ἐκεχειρία, ἱερομηνία. Vd. Strat. 8. Cf. infração
espartana, Th. 5.49).
Quanto ao prémio instituído por Héracles (Paus. 5.7.4), co-
roa de oliveira (κότινος, cf. Pi. O. 2.14, 3, 10, 11), na informação
de Flégon começara a atribuir-se na oitava Olimpíada (a Decles,
corrida), após aprovação do Oráculo de Delfos. O desacordo dos
Peloponésios suscitou uma praga divina e consequente perda de
colheitas, conforme a Pítia esclareceria ao consulente Licurgo,
que não obteve crédito, mas foi corroborada em nova consulta.

d. Intertexto - Flégon e Fragmentos Sibilinos


Religiosidade(s)
Não sendo os opera de Flégon instrumentos de religiosida-
de e a presença de divindades se cinja a poucos episódios de
226

natureza mitológica (e.g. #4, 5), ainda assim, o topos emerge


da coletânea de assombros, espelhando a importância que as

223
Cf. Eus. Chron. 1.190-194. (e.g. Pi. O. 10). Vd. Niceu. Paus.
5.7.7 - 5.8, iniciando com teomaquias. Strat. 8 atribui a instituição aos
Heraclidas, de regresso ao Peloponeso.
224
Vd. König 2005: 175-176.
225
Cf. a não presença de mulheres, salvo casos específicos (vd. Paus.
5.6.5, com distinção entre a permissividade conferida a virgens e a
proibição de mulheres casadas - Paus. 6.20.6). Cf. Walters 1978.
226
Vd. Guthrie 1955; Gordon 1981; Fowler 2009.

110
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

mensagens divinas assumiam no Estado Romano. De facto,


em termos gerais, os portentos parecem consistir em sinais
de origem superior prevendo situações de desastre social. Eis,
por conseguinte, sacrifícios a Hermes Ctónio, Euménides,
Zeus Xenios e Ares, e ritos (#1); a construção de um templo a
Apolo Lício e de um altar (#3); o altar mandado construir no
Capitolino, a Ζεῦς ᾿Α λεξίκακος, ‘Zeus, que evita o mal’, por
Cláudio, em Roma, ano 45 (#6); a ereção de estátuas tributárias
a Tibério Nero, junto de um templo (#13); a preocupação do
Imperador Tibério de evitar o sacrilégio da profanação de um
corpo (#14); sugestões de profetas (#1, 2 - queimar, #25 - afo-
gamento); proclamações proféticas (#2: de Polícrito, da cabeça
do hermafrodita; #3: Buplago, de Públio, da cabeça de Públio).
De maior expressividade, os Oráculos Sibilinos227. Embora
o episódio #1 conte a intervenção do profeta (μάντις) e áugure
(οἰωνοσκόπος) Hilas; e o episódio #2 ressalte uma crítica aos
profetas, próximos do assombro e do medo populares e sem o
distanciamento/elevação da alma, como Polícrito evidencia; e,
apesar de o episódio #3 retratar revelações da Pítia a enviados,
a consulta de oráculos não se tratava apenas de um costume228
popular de consulta mântica inspirada, mas, no contexto Ro-
mano, de um decreto. Inicialmente nomeados dez membros,
decemuiri229 (cf. 12, post 367a.C. - Liv. 6.37.12; 15, quindecimui-
ri - Tac. Ann. 6.12.1, 3), para guardar e consultar os oráculos,
por decisão senatorial e (ou) prodígios. Assim, em #10, referente
ao ano de 125 a.C., determina-se a leitura dos Oráculos Sibi-
linos por dignatários religiosos - ἱερομνήμονες, ‘hierarcas/
sacerdotes’. Em De Longaevis, os oráculos da Sibila de Eritreia.

227
Cf. Geffcken 1902; Haight 1918; Parke 1988; McGing — Parke
1988; Raybould 2016.
228
Vd. Lang 2007.
229
Vd. Cancik 1979.

111
Reina Marisol Troca Pereira

Em termos gerais, importa não confundir230 os Libri Sibyllini


ou Libri Fatales, referidos por Aulo Gélio (1.19.1) e Dionísio de
Halicarnasso (Antiquitates Romanae 4.62.4), num conto quase
lendário que reporta a sua chegada e depósito num santuário
dos Livros a Roma, no séc. VI a.C., a partir de uma profetisa
que oferecia, inicialmente, 9 livros, Tarquínio reinante, com os
Oracula Sibyllina. Neste caso, um corpus de textos poéticos,
de teor de certa forma propagandístico do judaísmo helénica e,
posteriormente, do cristianismo (cf. Orígenes, Cels. 5.61, 7.53),
em hexâmetros heroicos (gregos), distribuídos por 12 livros (1-
8; 8-14, não existindo 9-10), datados entre séc. II a.C. e séc.
VII. Mais tardios, os oráculos apocalípticos, desde o séc. IV231.
Dos Libri restam tão só os oráculos sibilinos conservados por
Flégon (#10). Destruídos no incêndio do Capitólio de 83 a.C.,
após múltiplas dúvidas relativas a falsidades, acrósticos das re-
construções dos Libri Sibyllini, desde a reconstrução do templo,
em 76 a.C., adviria a destruição final, pelo fogo, por ordem do
general Flávio Estílico, séc. V.
A tradição mitológica descreve várias mulheres com habili-
dades proféticas, designadas sibilas, a primeira das quais filha
de Dárdano e Neso (cf. Lyc. 1468). A primeira referência a uma
Sibila pertence a Heraclito de Éfeso (fr. 92 D.-K. Cf. apud Plu.
Sobre os Oráculos da Pítia 6 ), no séc. VI/V a.C., descrevendo (cf.
Plu. 404e, acerca do oráculo Pítio) para esse mister de comuni-
cação com o plano divino, a necessidade de interpretação/exege-
se (vd. Pl. Ti. 71e-72b), considerando o estado de enthousiasmos
da sibila e a ambivalência divina. Desde então até à época de
Alexandre, os Gregos apenas consideravam uma Sibila (vd. Pl.

230
Cf. Roessli 2004.
231
Cf. Teosofia de Tübingen, texto do séc. V, transmitindo a etimologia
de ‘Sibila’; o catálogo varroniano de 10 sibilas, os Libri Sibyllini. Vd.
Brocca 2011.

112
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

Thg. 124d; Ar. Pax 1095. Cf., no século seguinte, Arist. Pr. 954
a 34-38), figura não referenciada nas epopeias ditas homéricas,
nem em Hesíodo. Heraclides Pôntico (apud Clem. Al., Strom.
1.21.108), séc. IV a.C., distingue a sibila Ártemis, da Frígia -
Marpesso, e Herófila, de Eritreia, na Jónia, prefigurando, desde
logo, um antagonismo entre zonas detentoras da verdadeira sibi-
la. O diferendo patriótico e identitário multiplica-se em número
por altura das migrações gregas para a Ásia Menor. O Catálogo
varroniano, apud Lact. Diu. Inst. 1.6.7-14, editado desde 1465,
conferindo expansão ao topos (inclusão de Agripa e Europa, em
conformidade com a Crónica Pascal, texto bizantino), menciona
dez sibilas: de Pérsia, Líbia, Delfos, Ciméria, Eritreia, Samos,
Cumas, Helesponto, Frígia, Tíbur. Vd. schol. Phaedr. 244b).
No séc. II, Paus. 10.12.1 menciona dez: de Babilónia, Líbia,
Ciméria, Samos, Frígia, Helesponto, Eritreia (uma mais antiga,
outra mais nova), Delfos (uma mais antiga, outra mais recente),
Cumas (quiçá correspondente à de Eritreia, Arist. Mir. 97) e a
Triburtina. De notar ainda, entre os Hebreus, Sabe. Ael. VH
12.35, séc. II/III, contava quatro: a de Eritreia, a do Egito, a de
Samos e a da Sardenha.

113
(Página deixada propositadamente em branco)
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo

Sobre Maravilhas

Flégon de Trales

115
(Página deixada propositadamente em branco)
Sobre Maravilhas

[1]
<***>232 [A ama] foi até às portas do quarto de hóspedes
e, à luz da chama de uma lamparina, avistou-a [Filínion] ao
lado de Macates. Dado o cariz extraordinário do portento, não
conseguindo aguentar ali mais tempo, correu ao encontro da
mãe, a gritar em altos brados: “Carito!” e “Demóstrato!” Julgava
que eles deviam levantar-se e ir com ela até à filha deles. É que
ela estava viva e, graças a alguma vontade divina, encontrava-se
com o hóspede, no quarto de hóspedes.
Quando Carito escutou este reconto surpreendente, em
primeiro lugar ficou perplexa e desmaiou, devido à grandiosi-
dade da mensagem e à excitação da ama. Porém, rapidamente,
lembrou-se da filha e começou a chorar. Por fim, acusou a velha
criada de loucura e exigiu-lhe que se retirasse de imediato. Con-
tudo, a ama retorquiu233, de forma perentória e reprobatória,
que possuía uma mente prudente e sã, contrariamente à sua
senhora, que não desejaria ver a filha.
Com hesitação, Carito, em parte convencida pela ama, e em
parte pretendendo saber o que realmente sucedera, dirigiu-se à
porta do quarto de hóspedes. Uma vez que havia então decorrido
um considerável período de tempo – cerca de duas horas -, desde
a notícia inicial, já era tarde quando Carito chegou. Com efeito,
aqueles234 já estavam a dormir. A mãe espreitou para o interior
e julgou reconhecer as roupas e as feições [da sua filha], mas,
enquanto não pudesse atestar a veracidade do facto, decidiu não

232
Texto inexistente.
233
Cf., no original, μετὰ παρρησίας. Cf. παρρησία (‘parrésia’)
enquanto direito para usar impunemente de franqueza discursiva,
superiorizando até restrições impostas pelo estatuto social (e.g. Eletra, na
condição de serva, face a Clitemnestra, E. El. 1056). Vd. Schlier 1954;
Sluiter – Rosen 2004; Praet 2009; Worthington 2010.
234
Entenda-se [os ocupantes].

117
Flégon de Trales

fazer mais nada nessa noite. Pretendia levantar-se cedo ao ama-


nhecer e confrontar a jovem, ou, se chegasse demasiado tarde para
tanto, pretendia questionar Macates a propósito de tudo. Ora, ele
não iria mentir, caso fosse interrogado acerca de um assunto de
tamanha importância. Então, sem mais dizer, retirou-se.
Todavia, de manhã, sucedeu que por vontade divina, ou por
acaso, [a jovem] saiu, sem ser notada. Quando [Carito] foi até
ao quarto, ficou aborrecida com o jovem, em virtude da partida
da rapariga. {Suplicou aos joelhos do hóspede} que lhe contasse
tudo do início, dizendo a verdade e sem omitir nada. De início,
o jovem estava ansioso, mas, hesitando, revelou que o nome [da
rapariga] era Filínion; como as visitas dela haviam começado,
o quão grande era o desejo que ela nutria, e que tinha dito que
viera ter com ele às escondidas dos progenitores. Pretendendo
tornar a questão credível, ele abriu o seu baú e retirou um anel
de ouro que tinha obtido dela e a cinta de peito que ela havia
deixado na noite anterior. Quando Carito se deparou com estes
sinais, soltou um grito, rasgou as roupas, retirou a touca da sua
cabeça e prostrou-se no chão sobre os objetos, dando início ao
seu sofrimento. Ao observar o que estava a passar-se, como esta-
vam todos a lamentar-se e a gritar, como se estivessem prestes a
enterrar um homem, o hóspede ficou atormentado e disse-lhes
que parassem, referindo-lhes que ela iria voltar. [Carito] aceitou
isto e pediu-lhe que cumprisse a promessa que lhe havia feito.
A noite caiu e era então chegada a hora de Filínion habitu-
almente vir ter com ele. Eles mantiveram-se alerta, pretendendo
saber da sua chegada. Ela entrou à hora habitual e sentou-se
sobre o leito. Macates fingiu que não havia nada de errado, pois
pretendia investigar o assunto, não acreditando totalmente que
estaria a relacionar-se com uma morta 235. Como bebia e comia

235
Sobre o topos da necrofilia, a tradição mitológica confere alguns
exemplos (e.g. Dimetes ~ Evope, Parth. 31.

118
Sobre Maravilhas

com ele, não conseguia acreditar no que os outros lhe haviam


contado e supôs que alguns ladrões de campas haviam escavado
o túmulo e vendido as roupas e o ouro ao pai dela. Mas, com
desejo de saber exatamente o que se passava, enviou secretamen-
te os escravos para chamá-los236. Demóstrato e Carito vieram
rapidamente e, ao verem-na, ficaram de início sem palavras e em
pânico com a aparição, mas depois soltaram altos brados e abra-
çaram a sua filha. Então Filínion disse-lhes: “Mãe e pai, quão
injustamente reclamaram eu ter estado com o hóspede durante
três dias na casa paterna, sem ter causado mal a ninguém. Por
conseguinte, ireis lamentar do início, porque vos imiscuístes, e
eu irei de novo para o lugar que me foi destinado. É que não foi
alheia à vontade divina que eu vim até aqui.” Logo após dizer
estas palavras, morreu e o seu corpo ficou estendido sobre a
cama. A mãe e o pai atiraram-se sobre ela e houve muita confu-
são e lamentos na casa, devido à calamidade. O infortúnio era
insuportável e a visão incrível.
O sucedido espalhou-se rapidamente pela cidade e foi-me
contado. Como tal, durante a noite, mantive controlo sobre as
multidões que se reuniram na casa, precavendo que não iria ha-
ver nenhum problema por causa da notícia. Cedo pela manhã,
a assembleia estava cheia. Depois de explicados todos os aspetos
particulares, ficou decidido que deveríamos ir primeiramente
ao túmulo, abri-lo e ver se o corpo repousava no ataúde ou se
iríamos encontrar o local vazio.
Ainda não havia passado meio ano desde a morte da rapari-
ga. Quando abrimos o local em cujo interior todos os membros
falecidos da família eram colocados, vimos corpos deitados
em urnas, ou ossos, no caso daqueles que haviam falecido há
muito, mas no sarcófago onde tinha sido colocada Filínion

236
Entenda-se [para chamar os pais dela].

119
Flégon de Trales

apenas encontrámos o anel de ferro que pertencera ao hóspede e


o copo dourado de vinho, objetos que ela obtivera de Macates,
no primeiro dia.
Assombrados e temerosos, fomos de imediato para a casa
de Demóstrato, para comprovar se o corpo se via no quarto do
hóspede. Depois de contemplarmos que ela jazia aí no chão,
reunimo-nos no lugar da assembleia, já que os eventos eram
sérios e incríveis. Gerou-se uma vigorosa confusão na assembleia
e quase ninguém se mostrou capaz de formar uma opinião sobre
os acontecimentos. O primeiro a levantar-se foi Hilo, conside-
rado não apenas o melhor profeta entre nós, mas também um
excelente áugure; na generalidade, mostrava considerável perce-
ção no seu mister. Afirmou que o corpo deveria ser cremado fora
dos limites da cidade. Ora, não se ganharia nada ao sepultá-la
dentro de fronteiras, mas em efetuar-se um sacrifício apotropei-
co a Hermes Ctónio e às Euménides. De seguida, recomendou
que todos se purificassem imediatamente, que se limpassem os
templos e se realizassem todos os ritos habituais às divindades
ctónicas. Também me falou em particular acerca do rei e dos
eventos, para sacrificar a Hermes, a Zeus Xenios237 e a Ares, e
para levar isto a cabo com cuidado. Depois de nos comunicar
estas coisas, tratámos de fazer o que nos havia prescrito. Con-
tudo, Macates, o hóspede que o fantasma havia visitado, ficou
deprimido e suicidou-se.
Se decidires escrever sobre isto ao rei, avisa-me também,
de modo a que possa enviar até ti um dos que examinou os
cadáveres em detalhe.
Adeus.

237
Protetor de hóspedes e suplicantes.

120
Sobre Maravilhas

2.
Hierão238 de Alexandria ou de Éfeso refere que um fantasma
também apareceu na Etólia.
Ora, Polícrito, um dos cidadãos, foi designado Etolarca239 da
região, por três anos, pelos cidadãos, que o consideraram digno,
em virtude da nobreza240 dos seus ancestrais. Enquanto estava no
cargo, tomou uma mulher lócria como esposa; viveu com ela du-
rante três noites e morreu na quarta noite. A mulher permaneceu
na casa como viúva. Quando decorreu o tempo de gestação, ela
deu à luz uma criança com dois tipos de genitais, masculino e
feminino, os quais diferiam imensamente. A parte superior dos
genitais era dura e viril, ao passo que a secção em redor das coxas
era feminina e mais suave. Atordoados, os familiares levaram a
criança à ágora, onde convocaram uma assembleia, chamando
sacrificadores e também adivinhos. De entre eles, alguns decla-
raram que haveria de apresentar-se um dissídio entre Etólios e
Lócrios. Com efeito, a criança havia sido separada da mãe, que era
lócria, e do pai, etólio. Outros eram da opinião de que deveriam
levar a criança e a mãe para o campo, para além dos limites da
cidade, e queimá-los. Enquanto deliberavam, Polícrito, que havia
antes falecido, apareceu na assembleia, perto da criança e vestido
de negro. Os cidadãos ficaram tomados de espanto pela aparição
e muitos começaram a fugir quando ele chamou os cidadãos a
demonstrar coragem e a não ficarem confusos na presença do
fantasma. Depois de ter posto fim à maior parte da comoção e
da confusão, falou, com voz suave, da seguinte forma: “Cidadãos,
o meu corpo está morto, mas no que respeita à boa vontade241

238
PGR 32 F1.
239
Autarca da Etólia, no séc. V a.C. Cf., de modo análogo, Boiotarca,
enquanto autarca da Beócia. Vd. Brisson 1978: 92-94.
240
καλοκἀγαθία.
241
εὔνοια.

121
Flégon de Trales

e bem-aventurança242 que sinto para convosco estou vivo. Estou


aqui convosco agora, para vosso proveito, <tendo apelado> aos
que mandam sob o solo. E agora digo-vos, porquanto sois meus
concidadãos, para não sentirem medo nem repulsa pela presença
incrível de um fantasma. Peço-vos a todos, esperando a salvação
de cada um de vós, para me entregarem a criança que tive, de
modo a que não haja nenhuma violência, como resultado de
alguma outra resolução a que cheguem, e que a vossa hostilidade
para comigo não dê azo a problemas difíceis e penosos. É que
não me é permitido deixar que a criança seja fulminada por vós,
devido à loucura dos profetas que vos anunciaram isso. Ora, eu
desculpo-vos, pois, assim como contemplam de forma tão estra-
nha uma aparição, estareis perdidos quanto à justa ação a tomar.
Além disso, se me obedecerem sem receio, libertar-se-ão do vosso
medo presente e impedirão a catástrofe. Mas se chegarem a outra
decisão, temo que, devido à vossa falta de confiança em mim, irão
incorrer numa calamidade irreparável. Então, graças à boa von-
tade que tinha quando estava vivo, também agora, no presente,
nesta inesperada aparição, previ o que era proveitoso para vós.
Por conseguinte, peço-vos que não me desconsiderem por mais
tempo, e deliberem de forma correta, obedecendo ao que eu disse,
entregando-me a criança de forma auspiciosa. Na realidade, não
me é permitido demorar muito, devido aos que mandam debaixo
da terra.”
Depois disto, manteve-se um pouco em silêncio, aguardando
a resolução que eles iriam tomar relativamente ao pedido. Ora,
alguns julgavam que deveriam entregar a criança e apresentar
uma reparação, tanto para com o prodígio, como para com o
ser sobrenatural que estava presente; mas a maioria discordava,
afirmando que não deveriam deliberar apressadamente, uma

242
χάρις.

122
Sobre Maravilhas

vez que a questão era de grande importância e o problema não


era comum.
Vendo que não estavam a prestar-lhe atenção, mas antes a
obstar ao seu desejo, falou de novo: “Concidadãos, em todos
os acontecimentos, se vos sobrevier um problema, relativamente
à vossa irresolução, não me culpem a mim, mas ao destino243
que assim vos impele pelo caminho errado, um destino que,
apondo-se também a mim, me força a agir injustamente contra
o meu filho244.”
As pessoas juntaram-se e estavam a discutir a propósito
do portento, quando [o fantasma] pegou na criança, afastou
grande parte dos homens e apressadamente desmembrou a
criança, membro por membro, e a devorou. Começaram a gritar
e a atirar-lhe pedras, numa tentativa de afastá-lo. Não afetado
pelas pedras, consumiu o corpo inteiro da criança, à exceção da
cabeça, e depois desapareceu subitamente.
Atormentados por estes acontecimentos e num estado de
extraordinária perplexidade, pretendiam enviar uma delegação
a Delfos, mas a cabeça do infante, que se encontrava no chão,
começou a falar, profetizando o futuro num oráculo:
“Ó povo incontável, que habita uma terra famosa em cantigas.
Não vão ao santuário de Febo, ao templo com o seu incenso.
Na realidade, as mãos que elevam no ar não estão limpas de
[sangue245.
A viagem diante dos vossos pés está poluída.
Renunciem à viagem à trípode e considerem, ao invés, o que
 [estou a dizer.
De facto, irei recontar todas as ordens do oráculo.

243
τύχη.
244
τέκνον.
245
Cf. Orfismo: vegetarianismo e a obrigatoriedade de ‘mãos
impolutas de sangue’. Vd. Brown — Tuzin 1983; Brisson 1995.

123
Flégon de Trales

Deste dia a um ano, está determinada a morte de todos,


mas, pela vontade de Atena, as almas de Lócrios e Etólios,
 [†viverão† misturadas.
Também não haverá pausa no mal,
nem sequer brevemente, pois uma chuva de sangue cairá sobre
 [as vossas cabeças.
A noite mantém tudo escondido, e um céu negro alastra-se.
Imediatamente, a noite provoca que a escuridão se espalhe por
 [toda a terra.
Em casa, todos os enlutados movem os seus membros no solo.
A mulher não cessará de lamentar-se, nem as crianças
deixarão de chorar nas paredes, ao agarrarem-se aos queridos
[pais.
Tal foi a onda que os derrubou, a partir de cima.
Oh, oh, não paro de lamentar os terríveis sofrimentos da minha
[terra
e a minha terrível mãe, que o lamento depois libertou.
Todos os deuses darão por inglório o nascimento do que resta
 [da semente
dos Lócrios e dos Etólios, porque a morte não tocou a minha
[cabeça,
nem acabou com todos os membros indistintos do meu corpo,
 [mas deixou-me [sobre] a terra.
Mas venham e exponham a minha cabeça ao amanhecer
e não a escondam debaixo da escura terra.
Quanto a vocês mesmos, deixem a região e vão para outra
 [zona, para um povo de Atena,
se escolherem uma fuga à morte, em conformidade com o
[destino.”
Quando os Etólios ouviram o oráculo, levaram as suas
mulheres, crianças pequenas e os mais idosos para os locais de
segurança que cada homem conseguia arranjar. Eles mesmos

124
Sobre Maravilhas

ficaram para trás, a aguardar o que iria acontecer e, no ano


seguinte, os Etólios e os Acarnenses entraram em guerra, com
grande destruição de cada um dos lados.

3.
O filósofo peripatético Antístenes246 conta que o cônsul Acílio
Glábrio, juntamente com os legados Pórcio Catão e Lúcio Valério
Flaco, prepararam uma guerra contra Antíoco, nas Termópilas, e
lutaram com nobreza, forçando os homens de Antíoco a largar as
suas armas e o próprio Antíoco a fugir com quinhentos guardas,
inicialmente para Elateia247, depois do que Acílio o compeliu a
retirar-se para Éfeso. Acílio enviou Catão a Roma para informar
da vitória, enquanto ele próprio se ocupava da guerra contra os
Etólios, em Heracleia, que venceu com facilidade. Neste con-
fronto com Antíoco nas Termópilas, ocorreram presságios muito
notáveis para os Romanos. Nos dias seguintes à derrota e fuga
de Antíoco, os Romanos ocuparam-se em remover os corpos
tombados dos seus para enterrar e na recolha de armas e de outros
espólios, assim como de prisioneiros de guerra.
Um certo Buplago, comandante de cavalaria da Síria, que era
tido em grande consideração pelo Rei Antíoco, tombou, após ter
lutado nobremente. Ao meio-dia, quando os Romanos recolhiam
todas as armas dos inimigos, Buplago ergueu-se de entre os mor-
tos, possuindo doze feridas, e foi até ao acampamento Romano,
onde proferiu, com voz suave, os seguintes versos:

246
Considera-se Antístenes de Rodes um filósofo peripatético do
séc. II a.C. De origem aristotélica, os defensores da escola peripatética
(e.g. Teofrasto, Estratão, Aristóxeno, Andronico) andavam enquanto
expunham as suas ideia, conforme indica o étimo grego περιπατέω. Cf.
FGrHist 508 F*2. Vd. Wehrli 1974.
247
Cidade da Fócia, região central da antiga Grécia.

125
Flégon de Trales

“Parem de despojar um exército que já seguiu para a região do


[Hades,
pois Zeus Crónida encontra-se irado com os vossos feitos
[danosos,
zangado com o assassinato de um exército e com as vossas
 [movimentações, e
enviará uma tribo de coração corajoso contra a vossa terra,
que porá cobro ao vosso governo, e vocês pagarão pelo que
[forjaram.”

Abalados com estas palavras, os generais rapidamente con-


vocaram a multidão e deliberaram a propósito do fantasma.
Decidiram cremar e enterrar Buplago, que morreu logo a seguir
à sua mensagem; purificar o acampamento; efetuar um sacrifí-
cio a Zeus Apotropaios248 e enviar uma embaixada a Delfos para
inquirir a divindade acerca do que deviam fazer. Quando os
enviados chegaram a Pito e perguntaram o que fazer, a Pítia 249
proferiu o seguinte oráculo:
“Contém-te agora, Romano250, e deixa a justiça habitar contigo,
para que Palas não incite um Ares ainda maior contra ti,
e torne a ágora mais despojada. E tu, louco, por todo o teu
[esforço,
percas muita riqueza antes de alcançar a tua terra.”
Ao ouvirem este oráculo, renunciaram inteiramente à
ideia de travar guerra com algum povo da Europa. Levanta-
do o acampamento do local acima mencionado, foram para

248
Epíteto de Zeus como divindade apotropeica que acautela os
males.
249
Sacerdotisa do oráculo de Apolo.
250
Mensagem de contornos estoico-epicuristas, apelando à contenção
material dos Romanos. Assim, a máxima gravada em Delfos, μηδὲν ἄγαν
e aurea mediocritas, no epicurismo horaciano (Carm. 2.10.5).

126
Sobre Maravilhas

Náucratis, na Etólia, onde existia um templo comum251 dos


Gregos e prepararam sacrifícios a expensas públicas e primícias,
segundo o costume.
Uma vez cumpridos os rituais, o comandante Públio come-
çou a delirar e a comportar-se de forma demente, proferindo
muitas afirmações em estado de posse divina, algumas em
verso, outras em prosa. Quando a notícia destes acontecimentos
chegou aos soldados, dirigiram-se todos à tenda de Públio, em
parte com ansiedade e surpresa de que o melhor homem de entre
eles, um líder experiente, tivesse caído em tal estado; e em parte
também com desejo de ouvir o que dizia. Em resultado disso,
alguns homens apertaram-se de tal forma, que se sufocaram. A
seguinte mensagem em verso foi feita por ele, enquanto ainda se
encontrava no interior da tenda:
“Ó pátria, que funesto Ares Atena vos trará,
quando assolares a Ásia com a sua grande riqueza e regressares
a solo itálico e às festivas cidades da
Trináquia, adorável ilha, que Zeus fundou.
É que um grande exército, de espírito poderoso virá
da Ásia distante, de onde o nascer do Sol
e o rei, ao atravessar o estreito vau do Helesponto,
consertará tréguas com um governante epirota.
Ele virá para Roma, após reunir um exército incontável,
de todas as partes da Ásia e da agradável Europa,
e dominar-vos-á, tornando desoladas as vossas casas e cidades
[amuralhadas
escravizando-vos, retirando o vosso dia de liberdade,
devido à ira de Atena de grande coração.”
Depois que proclamou estes versos, saiu da tenda com a sua
túnica e vociferou o seguinte, em prosa: “Soldados e cidadãos,

251
Entenda-se [compartilhado com].

127
Flégon de Trales

revelo que, passando da Europa para a Ásia, irão vencer o Rei


Antíoco em batalhas por mar e terra, e tornar-se-ão senhores de
todo o território, nesta secção do Tauro, e de todas as cidades aí
estabelecidas, tendo conduzido Antíoco para a Síria; esta região
e estas cidades serão entregues aos filhos de Átalo. Os Celtas que
habitam na Ásia que vos enfrentarem em batalha levarão a pior
e vocês tomarão posse das mulheres, crianças e de todos os bens
domésticos deles e trá-los-ão para a Europa. Mas os habitantes
nas costas europeias, os Trácios de Proponte e do Helesponto,
atacar-vos-ão na zona dos Énios, quando regressarem da vossa
campanha, matando alguns dos vossos homens e capturando
parte do vosso espólio. Quando os outros tiverem atravessado
em segurança e tiverem chegado a Roma, haverá um tratado
com o rei Antíoco, de acordo com o qual ele pagará dinheiro e
se retirará de uma certa região.” Quando acabou de proclamar
isto, gritou o seguinte em alta voz: “Vejo forças com peitos de
bronze a atravessarem, vindas da Ásia, reis a reunirem-se num
lugar, homens e todas as nações contra a Europa e o barulho de
cavalos, o embate de espadas, chacina sanguinolenta, pilhagem
terrível, a queda de torres, o arrasamento das muralhas da ci-
dade e a indescritível desolação da cidade.” Depois disto, falou
novamente em verso:
“Quando os resplandecentes cavalos de Neseia com as suas
 [testeiras de ouro
entrarem pela ilustre terra, abandonando o seu pedestal,
a eles a que outrora, na sumptuosa cidade dos Siracusanos,
Dédalo Eécion forjou com a sua arte, fortalecendo uma amizade,
no brônzeo estábulo, aplicou rédeas sobre a rédea
de ouro, e juntou com todas as coisas o filho de Hipérion,
resplandecente no tocante aos raios e olhos.
Nessa altura, Roma, os duros sofrimentos estão todos cumpridos,
pois chegará um grande exército que irá destruir toda a tua terra,

128
Sobre Maravilhas

tornando desoladas as praças, arrasando as tuas cidades com fogo,


encherá os rios com sangue, e também preencherá o Hades,
e trará sobre vós escravidão, lamento, ódio, obscuridade.
Uma esposa não receberá bem o seu esposo de volta,
retornando da guerra, mas Hades, vestido de negro sob a terra,
segurá-lo-á entre os mortos, juntamente com crianças roubadas
 [das suas mães,
e um Ares estrangeiro irá impor o dia da escravidão.”
Depois de dizer isto, ficou em silêncio e, avançando para
fora do acampamento, subia a um carvalho. Tendo-o seguido a
multidão, ele chamou-os e disse-lhes: “Romanos e demais sol-
dados, cabe-me morrer e ser devorado por um lobo ruivo, neste
preciso dia, mas, quanto a vós, saibam que tudo aquilo que disse
irá acontecer-vos: tomem a iminente aparição da fera e a minha
própria destruição como prova de que falei por intimação divina.”
Afirmando isto, disse-lhes para se afastarem e não tentarem im-
pedir a aproximação da fera, acrescentando que não seria benéfico
para eles afastá-la. Tendo a multidão seguido o pedido, não muito
depois chega o lobo. Quando Públio o avistou, desceu do carvalho
e caiu de costas, pelo que o lobo o rasgou e devorou, enquanto
todos olhavam. Tendo consumido o seu corpo, à exceção da cabe-
ça, retirou-se para a montanha. Quando a multidão se aproximou,
desejando resgatar as suas relíquias e dar um funeral apropriado, a
cabeça, que jazia no chão, proferiu os seguintes versos:
“Não toquem na minha cabeça! De facto, não é apropriado
para aqueles em cujos corações Atena colocou fúria selvagem
tocarem uma cabeça sagrada. Mas parem
e ouçam a profecia, através da qual eu irei declarar-vos a verdade.
Para esta terra há de vir um grande e poderoso Ares,
que lançará o povo armado para o Hades, sob a escuridão
[ctónica,
despedaçará as torres de pedra e as longas muralhas,

129
Flégon de Trales

a nossa riqueza, as pequenas crianças e as esposas,


tendo apossado, trará para a Ásia, atravessando as ondas.
Estas coisas o Febo Apolo revelou-te,
Pítio, ele que, tendo-me enviado como seu poderoso servo252,
me encaminhou para a morada dos bem-aventurados e de Perséfone.”
Ao ouvirem estas coisas, ficaram muito preocupados e,
erguendo um templo a Apolo Lício e um altar no qual jazia a
cabeça, embarcaram para os seus navios e cada qual navegou
para a sua pátria. Tudo o que Públio disse aconteceu.

4.
Diz-se que Hesíodo253, Dicearco254, Clearco, Calímaco255 e
outros autores256 contam as seguintes coisas a propósito de Ti-
résias. Que Tirésias, filho de Evero, na Arcádia, avistando, em
Cilene, umas cobras a copular, feriu uma delas257 e de seguida
mudou de forma. Passou de homem a mulher e teve relações
com um homem. Apolo informou-o num oráculo que se ele
observasse as criaturas a copular e de modo similar ferisse a
outra cobra, ele voltaria a ser como era antes. Procurando uma
oportunidade, Tirésias fez o que a divindade referiu e assim
recuperou a sua natureza antiga.

252
Apolo, epítetado de lobo.
253
Fr. 275 M-W.
254
Fr. 37 Wherli.
255
Fr. 576 Pf.
256
Cf. Apollod.; Ov. Met. 3.316-339; Hyg. Fab. 75. Cf. O
paradoxógrafo de pendor racionalista, séc. I/II (vd. Eust. Od. 4.450),
Heraclit. Incred. 6: Acerca de Tirésias, sem alongamentos. Veja-se
igualmente Ant. Lib. 17.4-5. Também Paradoxógrafo Vaticano 31, autor
anónimo de Περὶ ᾿Απίστων, Sobre Contos Inacreditáveis, em Vaticanus
Graecus 305. Cf. Brisson 1976; Troca Pereira 2016c.
257
Curiosamente, no original, τρῶσαι τὸν ἕτερον, “feriu o outro”
- quiçá o outro género distinto dele - o feminino. Cf. Brisson 1976. Vd.
Eust. Od. 10.494.

130
Sobre Maravilhas

Como Zeus e Hera tivessem mantido uma discussão,


afirmando ele que, na relação sexual, a mulher tinha maior
quantidade de prazer do que o homem, e Hera afirmando o
oposto, decidiram chamar Tirésias e perguntar-lhe, porquanto
ele tinha experimentado ambos. Quando eles o questionaram,
ele declarou que, de dez partes, o homem goza de uma e a mu-
lher de nove. Hera, com fúria, arrancou-lhe olhos, tornando-o
cego; porém, Zeus concedeu-lhe o dom da profecia 258 e viver
durante sete gerações.

5.
Os mesmos autores259 referem que, na região dos Lapitas,
nasceu uma filha ao rei Elato, de nome Cénide. Depois que
Posídon se relacionou sexualmente com ela e anunciou atender
a qualquer desejo seu, ela pediu-lhe que a transformasse num
homem e a tornasse invulnerável. Posídon atendeu o seu pedido
e o seu nome mudou para Ceneu260.

6.
Existia também um andrógino em Antioquia, junto ao rio
Meandro, na altura em que Antípatro era arconte em Atenas

258
Cf. Call. Hymnus 5.75-136; Apollod. 3.6.7.
259
Cf. Hes. fr. 87 M-W; Call. fr. 577 Pf, Dicearco fr. 38 Wehrli. Cf.
metamorfose sexual de Zeus.
260
Cf. Palaeph. 10. A propósito da figura de Ceneu, importa
considerar o topos da ambivalência sexual e da mudança de sexo, por
vontade de Posídon, correspondendo aos desejos da sua jovem amada
Cénis (Ceneu). Cf., no panorama da literatura clássica, Hes. fr. 87 M-W;
Apollod. Epit. 1.22 Considerem-se, outrossim, Tirésias (metamorfose
transitória); Hipermnestra, Sipretes (c. Ant. Lib. 17: Leucipo). Vd.
Heraclit. 3. No âmbito latino, e.g. Ov. Met. 12.189-209, 459-532; Hyg.
Fab. 14.4.

131
Flégon de Trales

e Marco Vinício261 e Tito Estatílio Touro262, o Corvino, eram


cônsules em Roma.
Ora, uma jovem de família ilustre, com treze anos de idade,
era bela e tinha muitos pretendentes. Foi entregue ao homem
que os seus pais desejaram. Chegado o dia do matrimónio, es-
tava prestes a sair de casa, quando subitamente sentiu uma dor
excruciante e gritou. Os familiares cuidaram dela, tratando-a
como se tivesse dores de abdómen e cólicas; mas o sofrimento
manteve-se durante três dias, sem intervalo, espantando todos
quanto à natureza da sua doença, pois as dores não davam
tréguas, nem de noite, nem de dia, e apesar de os médicos da
cidade tentarem todos os tipos de tratamento, não conseguiam
descobrir a causa da enfermidade. Na manhã do quarto dia, as
suas dores acentuaram-se, ela gritou com um grande gemido,
brotaram genitais masculinos e a jovem tornou-se um homem.
Algum tempo depois, foi levada ao Imperador Cláudio263,
em Roma. Devido a esse sinal, ele consagrou um altar, no Capi-
tólio, a Zeus Alexikakos264.

7.
Havia outrossim um andrógino em Mevânia, uma cidade
na Itália, na casa de Agripina Augusta, quando Dionisodoro era
arconte em Atenas e Décimo Júnio Silano Torquato e Quinto
Ha{s}tério Antonino265 eram cônsules em Roma.
Uma jovem chamada Filótis, de origem esmírnea, estava em
idade de casar e tinha sido prometida a um homem pelos seus

261
Ano 46.
262
Ano 45 .
263
Anos 41–54 .
264
ἀλεξίκακος: ‘protetor do mal’.
265
Ano 53.

132
Sobre Maravilhas

pais, quando lhe apareceram porções masculinas266 e se tornou


homem267.

8.
Nasceu um outro andrógino, na mesma altura, em Epidau-
ro, filho de família pobre, primeiramente chamado Sinferusa 268,
mas que, quando se tornou um homem, se chamou Sinferon-
te269. Passou a vida como jardineiro.

9.
Também em Laodiceia da Síria, uma mulher de nome
Etete, quando ainda vivia com um homem, mudou de forma
e de nome, tornando-se o homem Eteto, quando Macrino
[era arconte] em Atenas e Lúcio Lâmia Eliano270 e <Sexto
Carmínio>271 Vetero eram cônsules em Roma. Isto eu próprio
vi 272.

10.
Nasceu também um hermafrodita em Roma, quando
Jasão273 era arconte em Atenas e Marco Pláutio {e Sexto Car-
mínio} Hipseu 274 e Marco Fúlbio Flaco275 eram cônsules em
Roma.

266
Entenda-se ‘genitais masculinos’.
267
Ano 53. Vd. Doroszewska 2013.
268
Cf. Phld. Sign. 4 De Lacy.
269
Masculinização do nome.
270
Ano 116.
271
Ano 83. Vd. [Sexto Carmínio Valério] Jacoby.
272
Cf. caso similar, Plin. HN 7.4.36.
273
Cf. Tibério Cláudio Jasão Magno. Vd. Clinton 1830.
274
Ano 125 a.C.
275
Ano 264 a.C. Cf. 125 a.C. Vd. Chaudon 1737-1817.

133
Flégon de Trales

Por esse motivo, o Senado276 decretou que os sacerdotes de-


veriam ler os Oráculos Sibilinos277; e eles expuseram os oráculos.
Os oráculos são estes:
A
<O destino do que se segue, todo o lugar para onde alguém
 [deve ir,>278
quão grandes prodígios e quão grandes sofrimentos da divin-
 [dade Destino
o meu tear irá revelar, se considerares isto na tua mente,
confiando na sua força 279. Ora, afirmo que um dia uma mulher
irá conceber um hermafrodita, possuindo todas as partes
[masculinas
e todas as partes que as mulheres apresentam em criança.
Não ocultarei mais, mas revelar-te-ei sacrifícios
consagrados a Deméter e à divina Perséfone280.
Através do meu tear, a deusa soberana trabalha, se obedeceres
à augusta Deméter e à divina Perséfone.
Primeiramente, junta um tesouro em moedas,
tudo o que desejas das cidades de várias raças e de vós mesmos,
e apresenta um sacrifício a oferecer à mãe de Core, Deméter.
Ordeno-te três281 vezes nove bois, a expensas públicas
<...>282
brilhantes, de bons chifres, brancos, para sacrificar, os que
vos parecerem de excelsa beleza.

276
Σύγκλητος.
277
Ano 207 a.C.
278
Verso acróstico. Cf. Diels 31.
279
Cf. Tema recorrente noutros oráculos, e.g. Hdt. 1.66, relativo à
Arcádia, após a morte de Licurgo. Vd. Ῥώμη, ‘Roma’; ῥώμη, ‘força física’.
280
Deusas ctónicas relativas a fertilidade e morte, respetivamente.
281
Número formular.
282
Faltam 7 versos - 13a-g.

134
Sobre Maravilhas

Ordena às jovens, tantas quantas disse antes283, que realizem


 [isso à maneira grega,
fazendo votos à rainha imortal com sacrifícios,
284

de maneira solene e pura. De seguida, que recebam


das vossas esposas sacrifícios contínuos durante a vossa existência,
e, confiados no meu tear, deixem transportar a luz brilhante285
para a mui divina Deméter. Em segundo lugar, deixem levar
 [de novo
três vezes mais ofertas, todas as libações sem vinho, colocando-as
 [no impetuoso fogo
quantas vezes as anciãs oferecerem um sacrifício de forma
[apropriada.
E que as outras, por vontade própria, depois de ter realizado
 [outras tantas coisas a Prosérpina 286,
tantas quantas na idade em que possuem mentes novas,
jovens, à divina Prosérpina que tudo sabe
supliquem para permanecer na pátria, quando a guerra prevalecer,
e, para o esquecimento da sua cidade helénica caída na guerra,
que os jovens e as raparigas287 levem para dentro o tesouro.
<...>288”

B289
<***>
No tear divino e com tecelagens multicoloridas,
que Plutão seja adornado para que haja um controlo contra os
[males.

283
Número formular em coros - 3x9.
284
Provavelmente Hera, porque as vítimas eram brancas.
285
Tochas.
286
Cf. Perséfone, esposa de Plutão.
287
Vd. Stieber 2004.
288
Falta 29a-c.
289
Segundo Oráculo: 200 a.C.

135
Flégon de Trales

Que de forma voluntária o que seja mais belo e desejado na terra


para os mortais verem também seja levado
para a jovem da realeza, como um presente †misturado† com
 [o tear.
E quando [se rezar] a Deméter e à divina Perséfone,
para libertar o jugo da vossa terra †para sempre†,
[ofereçam] a Plutão do Hades290, o sangue do boi negro
vestido com esplêndidas vestes, com o auxílio do pastor, que,
desejando confiar, matará ele próprio o boi,
juntamente com todos os outros da pátria que confiam;
que não esteja presente nenhum homem incrédulo nos sacrifícios,
mas fique afastado de onde é costume ficarem os que oferecem
 [os sacrifícios,
e que se efetue um sacrifício sem degustação, e nele,
quem aparecer, sabendo dos nossos oráculos,
que lhe seja permitido procurar pelo divino Febo, nos sacrifícios,
tendo queimado zelosamente pingues coxas nos seus altares,
[sacrificando] a mais jovem cabra branca. Além disso - todos
 [sabeis -,
que, adornada a cabeça, o suplicante peça a Febo Péan
a libertação do mal que está iminente
e, regressado dessa tarefa, [que suplique] à real Hera,
sacrificando uma vaca branca, de acordo com o costume ancestral
 [na pátria.
Cantem, se pertencerem às famílias mais proeminentes de
 [entre o povo,
<...>291

e os habitantes das ilhas, quando, atacando a terra,


não por engano mas pela força, por vontade própria, na Cumeia292

290
Αἰδωνεῖ Πλούτωνι.
291
Falta 52a-b.
292
Ilha grega. Culto de Hera.

136
Sobre Maravilhas

residirem, apresentem, segundo os costumes pátrios,


uma estátua de madeira da venerável rainha Hera e um templo.
Virá [o mal], se fizerem tudo isto e confiarem nas minhas
[palavras,
indo até à mais diva rainha com sacrifícios,
realizando sacrifícios sem vinho e bem, durante tantos dias
 [quantos tem o ano,
por muito tempo e no futuro, mas não no nosso [tempo].
Quem realize estas coisas será sempre poderoso;
preparando sacrifícios sem vinho e talhando ovelhas, sacrifica-os
 [aos deuses ctónicos.
Se já tiveres grandes templos de Hera em toda a parte,
e quando existirem as imagens talhadas e as outras coisas que
 [referi, fica a saber distintamente
nas minhas folhas - com o tear, um véu em torno
293

dos encantadores olhos lancei, ao apanhar as esplêndidas


folhas da frutífera oliveira verdejante -, a libertação do mal!
 [Quando chegar
até vós o tempo em que também existam outros neonados,
então um troiano294 vos libertará dos vossos males e também
 [da terra grega.
Mas, tendo mudado o assunto, em que direção me incitas?
<***>

293
Folhas de palmeira, sobre as quais a Sibila de Cumas escreve as
profecias. Cf. Serv. ad Verg. A. 3.444: in foliis palmarum Sibyl/am
scribere so/ere testatur Varro.
294
Sila?

137
Flégon de Trales

11.
Em Messene, não há muitos anos, conforme refere Apoló-
nio , sucedeu que uma jarra armazenada feita de pedra se partiu
295

numa forte tempestade296, quando foi fustigada por muita água,


tendo saído daí a tripla cabeça de um corpo humano. Tinha
dois conjuntos de dentes. Procuraram saber a quem pertencia
a cabeça, e a inscrição dizia: “Idas297” estava inscrito. Então os
Messenos arranjaram outra jarra de arrecadação, a expensas
públicas, colocaram o herói no seu interior e guardaram-no
mais cuidadosamente, já que se aperceberam de que se tratava
daquele a respeito do qual Homero diz298:
“E de Idas, que dos homens na terra, naquela época
era o mais forte. Lançou o seu arco contra o senhor
Febo Apolo, para bem da ninfa de belas ancas.”

12.
E na Dalmácia, na chamada Gruta de Ártemis, podem ver-
-se muitos corpos, sendo os ossos de costela de mais de onze
cúbitos299.

295
Autor não identificado. Cf. #13, reportando como fonte o
gramático Apolónio.
296
Cf., similarmente, Paus. 1.35.7, alegadamente sobre a descoberta
das ossadas de Hilas (1.35.8), com proporções supra-humanas (μέγεθος),
na sequência de uma tempestade.
297
Arqueiro notável por força e bravura, daí quiçá esta imagética
peculiar (cf. monstros filhos de Gaia - Coto, Briareu, Giges, Hes. Th.
147-153). Vd. Il. 9.558-559, A.R. 1.151. Já Paus. 3.13.1-2 localiza o seu
túmulo.
298
Il. 9.558-560. Cf. Apollod. 1.7.8-9.
299
Cúbito ou côvado, c. 0,5m (0,66m?).

138
Sobre Maravilhas

13.
O gramático Apolónio dá conta de que, no tempo de Ti-
bério Nero300, houve um tremor de terra301, e muitas e conhe-
cidas cidades da Ásia302 desapareceram por completo, as quais
Tibério subsequentemente ergueu de novo, a expensas próprias.
Devido a isto, tendo-lhe [o povo] erigido uma estátua gigante,
consagraram-na junto ao templo de Afrodite, que fica na ágora
romana303, e também colocaram ao lado estátuas de cada uma
das cidades.

14.
De entre os locais atingidos pelo terremoto, encontravam-se
não poucas cidades da Sicília, assim como as zonas próximas
de Régio e numerosos povos no Ponto também foram afetados.
Nas fendas da terra, apareceram corpos enormes, que os habi-
tantes locais hesitavam mover, porém, como exemplo, enviaram
para Roma um dente de um: não media apenas um metro, mas
mais do que esse comprimento. Os delegados mostraram-no a
Tibério e perguntaram se desejava que o herói [inteiro] fosse
trazido até si. Ele elaborou um plano sagaz, de modo a não ficar
privado de um conhecimento desta envergadura e evitou o sacri-
légio de despojar mortos. Convocou então um certo geómetra
não desconhecido, de nome Pulcro, um homem de renome, res-
peitado pela sua habilidade, e ordenou que fizesse uma cara na
proporção do tamanho do dente. O geómetra, tendo feito uma
estimativa do tamanho que o corpo e a cara teriam, através do

300
Imperador entre 14-37.
301
Cf. #19. Sobre tremores de terra reveladores, vd. Díctis, Efeméride
da Guerra de Troia, e Dares, Sobre a História da Queda de Troia. Cf. Phld.
Sign. 4; Solino 1.91.
302
Entenda-se ‘Ásia Menor’.
303
Entenda-se ‘fórum’.

139
Flégon de Trales

volume do dente, elaborou rapidamente o trabalho e trouxe-o


ao soberano. Aquele, afirmando que a imagem bastava, enviou
o dente de novo para o sítio de onde tinha vindo.

15.
Não se devia desacreditar esta narrativa, uma vez que tam-
bém em Nítr<i>a, no Egito, são exibidos corpos que não são mais
pequenos do que estes, não estando escondidos na terra, mas
encontrando-se descobertos e visíveis na totalidade. Não estão
juntos, nem misturados desordenadamente, mas encontram-se
distribuídos de tal maneira, que uma pessoa ao vê-los reconhece
alguns como ossos das coxas, outros como ossos das canelas, e
dos outros membros.
Também não deveria desacreditar-se, ao refletir, pois, no
início, quando a natureza estava nos seus primórdios, criava
tudo semelhante aos deuses, mas à medida que o tempo passa, o
tamanho das criaturas também vai diminuindo.

16.
Também recebemos notícias de ossos em Rodes, tão grandes
que, quando comparados, os homens da atualidade, são de
tamanho muito inferior.

17.
O mesmo autor refere que existe uma ilha perto de Atenas,
que os Atenienses pretendiam fortificar. Ao fazerem as esca-
vações para as fundações dos muros, encontraram um caixão,
que tinha cem cúbitos de comprimento, no qual repousava
um esqueleto de igual tamanho, sobre o qual se encontrava a
seguinte inscrição:

140
Sobre Maravilhas

“[Eu,] Macrosiris, estou enterrado numa grande ilha,


Após ter vivido cinco mil anos.”

18.
Êumaco304 conta, em Periégese de Cartago, que, quando [os
Cartagineses] estavam a cercar o seu território com uma trin-
cheira, encontraram, durante a escavação, dois esqueletos que
jaziam em urnas. Um deles media, no conjunto, vinte e quatro
cúbitos e o outro vinte e três.

19.
Teopompo de Sinope305 refere, em Acerca dos Sismos no
Bósforo de Ciméria, que se verificou, subitamente, um abalo
terrestre, na sequência do qual um dos vários cumes dessa região
se abriu, revelando grandes ossos. A estrutura do esqueleto tinha
vinte e quatro cúbitos306. Ele afirma que os bárbaros habitantes
locais atiraram os ossos para o lago Maiotis.

20.
Foi trazida uma criança até Nero, que tinha quatro cabeças
e proporcional [número] de outros membros, na altura em que o
arconte em Atenas era Trasilo e os cônsules em Roma307 Públio
Petrónio Turpiliano e <Lúcio> Cesénio Peto.

304
Historiador de Nápoles, séc. III/II a.C., fr. 2 Müller.
305
Na costa do mar Euxino.
306
Cf. estaturas de #18.
307
Ano 61.

141
Flégon de Trales

21.
E nasceu outra com a cabeça a crescer para fora do seu om-
bro esquerdo.

22.
Um prodígio extraordinário ocorreu em Roma308, quando
o arconte em Atenas foi Dinófilo e os cônsules em Roma eram
Quinto Verânio e Gaio Pompeio Galo. De facto, uma criada
das que estimava a mulher de Récio Tauro, pretor, deu à luz um
macaco.

23.
A mulher de Cornélio Galicano deu à luz uma criança com
uma cabeça de Anúbis309, em Roma310, na altura em que o ar-
conte em Atenas era Demóstrato e os cônsules em Roma eram
Aulo Licínio Nerva Silaniano e Marco Vestino Ático.

24.
Uma mulher da cidade de Trento, na Itália, deu à luz
cobras311 enroladas em forma de bola, quando312 os cônsules
em Roma eram Domiciano César, pela nona vez, e <Quinto>
Petílio Rufo, pela segunda vez, e em Atenas não havia líder.

308
Ano 49.
309
Divindade egípcia com corpo de homem e cabeça de cão.
310
Ano 65. Cf. Liv. 31.12.6-8c, que associa a este topos a génese de
nascimentos animalescos híbridos.
311
Cf. Plin. HN 7.3.34, com um relato de índole similar, tomado
como portento, no conflito bélico de 91-88 a.C. Vd. App. BC 1.83. No
séc. IV, Júlio Obsequente, Liber Prodigiorum, referiria vários prodígios e
monstruosidades, alguns do tipo aludido por Flégon (viz. andróginos),
embora passados muito antes (viz. 57, na época de Sila, séc. II/I a.C.).
312
Ano 83.

142
Sobre Maravilhas

25.
Em Roma, uma mulher deu à luz um feto com duas cabeças,
que, por recomendação dos arúspices, foi atirado ao rio Tibre.
Isto sucedeu na ocasião em que o governador em Atenas era
Adriano, que foi imperador, e os cônsules313 em Roma eram o
Imperador Trajano, pela sexta vez, e Tito Sextio Africano.

26.
O médico Doroteu314 conta, em Reminiscências315, que, em
Alexandria, no Egito, um homem kinaidos316 deu à luz e que
o recém-nascido foi embalsamado e ainda se preserva, tal foi o
portento.

27.
Na Germânia, no exército dos Romanos, o qual se encon-
trava sob o comando de Tito Curtílio Mância, sucedeu isto
mesmo. Ora, um escravo de um soldado deu à luz, quando317
Cónon era arconte em Atenas e Quinto Volúsio Saturnino e
Públio Cornélio Cipião cônsules em Roma.

28.
Antígono318 reporta que, em Alexandria, uma mulher, em
quatro partos deu à luz vinte filhos, e que a maior parte deles
foi criada.

313
Ano 112.
314
Doroteu de Hielopólis, médico egípcio, anterior ao séc. I a.C .
315
῾Υπομνήματα.
316
Elemento passivo do relacionamento homoerótico. Vd. Ulrichs
1975; Williams 1999.
317
Ano 56.
318
Mirabilia 110.1, obra de um paradoxógrafo, séc. III a.C.

143
Flégon de Trales

29.
Outra mulher da mesma cidade deu à luz cinco crianças
num parto - três do sexo masculino e duas do feminino -, que
o Imperador Trajano ordenou319 que fossem criados a expensas
suas. De novo, no ano seguinte, a mesma mulher deu à luz
outros três.

30.
Hipóstrato320 refere, em Sobre Minos, que Egito gerou de
uma única esposa, Eurirroe, filha de Nilo, cinquenta filhos321.

31.
De igual modo, Dânao322 teve cinquenta filhas323 de uma
mulher, Europa, filha de Nilo.

32.
Crátero324, irmão do rei Antígono, diz conhecer um homem
que, em sete anos, foi criança, jovem, homem, ancião e, depois
de ter casado e ter tido filhos, morreu.

319
Anos 98-117. Cf. Lei Romana, Digest of Justinian sobre nascimentos
múltiplos. E.g. Digesta 5.4.3, 34.5.7, 46.3.36. Cf. Arist. HA 7.4.30.
320
Historiador, séc. III a.C. Vd. FGrHist 568 F 1 = Hipóstrato fr.
1 M = Phleg. Mir. fr. 59 (tom. III, p. 623). Autores como Hipóstrato
e Dânao reportam o nascimento de cinquenta filhos, a partir de uma
mulher, no Egito. Contrariamente, veja-se a tradição de cem filhos de
Egito e Dânao, mas a partir de várias mulheres.
321
Flégon não reporta o número de gravidezes.
322
Irmão de Egito.
323
Contraponto feminino de #30. Flégon não reporta o número de
gravidezes. Para outros casos, cf. Hes. Th. 240-264, 337-370.
324
Historiador da Macedónia, séc. IV/III a.C. Vd. FGrHist 342 T4.
Sobre degeneração rápida, cf. FGrHist 715 F13c. Vd. Plin. HN 6.23.76.
Cf., a propósito, Crater. fr. 18 Muller: Phleg. Mir. c. 32.

144
Sobre Maravilhas

33.
Megástenes325 refere que as mulheres que habitam em Pan-
daia procriam quando têm seis anos.

34.
Encontrou-se em Sauna, uma cidade na Arábia, um hipo-
centauro326, numa montanha muito alta, pródiga numa droga
mortal. A droga tem o mesmo nome da cidade e considera-se a
mais rápida e eficaz das substâncias fatais.
O rei, tendo capturado o hipocentauro vivo, envia-o para
o Egito, juntamente com outros presentes para o César. O seu
alimento era carne. Contudo, não aguentando a mudança de
ares, morreu, pelo que o prefeito do Egito o embalsamou e
enviou para Roma.
Inicialmente, foi exibido no palácio. A sua face era mais
selvagem do que a humana, as suas mãos e dedos eram mais
peludos e as costelas estavam ligadas às pernas dianteiras e à
barriga. Tinha cascos duros de cavalo e crinas fulvas, embora,
em resultado do embalsamento, as crinas estivessem negras,
juntamente com a pele. O tamanho não era como as descrições,
apesar de também não ser pequeno.

35.
Ora, também diziam que havia outros hipocentauros, na
cidade de Sauna anteriormente referida. Mas, quanto ao que foi
enviado para Roma, se alguém duvida, pode verificar327: com

325
Vd. FGrHist 715 F 13. Veja-se Hdt. 3.99. Cf. Megasth. fr. 24
Muller: Phleg. Mir. c. 33. Vd. Plin. HN 6.22.6. Cf. Polyaen. Strateg.
1.3.4, a propósito de Pandaia.
326
Cf. Arist. Mir. 78. Vd. Plin. HN 7.3.35, 10.2.5; Tac. Ann. 6.28.
327
ἱστορῆσαι.

145
Flégon de Trales

efeito, permanece embalsamado nas propriedades do impera-


dor, como referi acima.

146
Acerca de Grande Longevidade

Acerca de vidas longas

Flégon de Trales

147
(Página deixada propositadamente em branco)
Acerca de Grande Longevidade

[1] Os Italianos que viveram cem anos, conforme apurei,


não de maneira superficial, mas a partir dos censos: Lúcio
Cornélio, filho de Lúcio, da cidade de Placência. Lúcio Gláucio
Vero, filho de Lúcio, da cidade de Placência. Lúcio Vetústio
Segundo, filho de Lúcio, da cidade de Placência. Lúcio Licínio
Palo, liberto de Lúcio, da cidade de Placência. Lúcio Acílio
Marcelo, filho de Lúcio, da cidade de Placência. Lúcio Vetio,
filho de Marco, <da cidade de> Brixelo. Lúcio Cusonio, filho de
Lúcio, da cidade de Cornélia. Lúcio Gamínio, filho de Lúcio,
da cidade de Beleia. Gaio Hortênsio Fronto, filho de Sexto, da
cidade de Bolonha328. Gaio Nónio Máximo, filho de Públio, da
cidade de Brixelo. Gaio Amúrio Tiro, filho de Gaio, da cidade
de Cornélia. Gaio Cássio Pude, filho de Tíc{i}o, da cidade de
Parma. Gaio Tí<c>io Cómune, liberto de Gaio, da cidade de
Parma. Gaio Váio Tércio, filho de Espúrio, da cidade de Placên-
cia. Gaio Júlio Poto, <*** liberto>, da cidade de Ravena. Gaio
Valério Primo, filho de Quinto, da cidade de Beleia. Cesélio
Ciro, <*** liberto>, da cidade de Placência. Cátia, filha de Gaio,
da cidade de Favência. Públio Fúlbio Frix, liberto de Lúcio, da
cidade de Polésia. Públio Névio, filho de Lúcio, da cidade de
Basileia. Públio Decénio Demóstenes, liberto de Públio, da
cidade de Arimino. Petrónia, [filha] de Quinto, liberta de Lúcio,
da cidade de Placência. Pólia Pola, filha de Espúrio, da cidade
de †Etósia†. Marco Vilónio Severo, <***>, da cidade de Veleia.
Marco Terêncio Álbio, liberto de Marco, da cidade de Placência.
Marco António, filho de Lúcio, da cidade de Placência. Marco
Talpio Vitalis, filho de Marco, da cidade de Placência. Marco
Acílio, filho de Marco, da cidade de Bononia. Marco Nirélio,
filho de Gaio, da cidade de Parma. Tito Vibio Talbio, filho de
Espúrio, da cidade de Parma. Tito Emílio, filho de Quinto, da

328
Cf. Bolonha.

149
Flégon de Trales

cidade de Régio. Tito Veterânio, filho de Públio, da cidade de


Bolonha. Tito Numério, filho de Tito, da cidade de Placência.
Tito Sérvio Segundo, filho de Tito329, da cidade de Bolonha.
Tito Petrónio, filho de <E>spúrio, da cidade de Placência. Tito
António, filho de Marco, da cidade de Régio. Tito Erúsio Pólio,
filho de Gaio, da cidade de Bolonha. Tito Camúrio Tércio, filho
de Tito, da cidade de Fidência. Turélia Forense, liberta de Gaio,
da cidade de Bolonha. Quinto Cássio Rufo, filho de Quinto,
da cidade de Régio. Quinto Lucrécio Primo, filho de Quinto,
da cidade de Régio. Quinto Vélio, filho de Públio, da cidade
de Belia. Antónia Secunda, filha de Públio, da cidade de Belia.
Albácia Sabina, <***>, da cidade de Parma. Sálvia Varena, filha
de Públio, da cidade de Basileia. Bébia Marcela, filha de Sexto,
da cidade de †Ortísia†. Básci<a>, [filha] de Astícoso, Macedó-
nia a partir de Filipos. Bonzes, [filho] de Tono, de Paricópole,
Macedónio. Fronton, [filho] de Albúcio, Macedónio, de Filipos.
Sarque, [filha] de Cila, Macedónia, Anfipolitana. Edésio, [filho]
de Diza, de Paricópole, na Macedónia. Bitis, [filho] de Dizasto,
de Paricopóle, na Macedónia. Zecedente, [filho] de Mucaso,
paricopolitano, macedónio. Mântis, [filho] de Ceprizo, ma-
cedónio, de Anfípole. Alexandre, [filho] de Demétrio, tiano
de Ponto e Bitínia. Gaza, [filha] de Timon, tiano de Ponto e
Bitínia. Creste, [filha] de Antipatro, tiano. Crísion, [filha] de
Teófilo, tiana. Hierão, [filho] de Hierão, tiano. Muzaco, [filho]
de Mucântio, de Nicomédia, na Bitínia. Lúcio Fidiclânio Ne-
pos, sinópio. Alúcio Apilutas, da cidade de Interamnésia, Lusi-
tânia. Âmbato, filho de Docúrio, da mesma cidade. Câmalo,
filho de Cantolgúnio, da mesma cidade. Céltio, filho de Pélio,
da cidade de Apilocário. Arrúncio, filho de Ápio, da cidade de

329
Poderá ficar dúvida, pelos dados dispostos, se seria irmão do
anterior.

150
Acerca de Grande Longevidade

Conimbrigesia330. Tânfio, filho de Céltio, da mesma cidade.


Docúrio, filho de Alúcio, da cidade de Iburobisingésia.
[2] Os registados, desde cem até cento e dez anos: Gaio
Lelédio Primo, <*** filho>, da cidade de Bolonha: cento e um
anos. Clodia Ptesta, liberta de Gaio, da cidade de Bolonha,
cento e um anos. Cusinia Mosque, liberta de Gaio, da cidade de
Cornélia, cento e um anos. Cereónia Verecunda, liberta de Pú-
blio, da cidade de Cornélia cento e um anos. Lívia Ática, liberta
de Públio, da cidade de Parma, cento e um anos. Búria Licnenis,
<*** liberta>, da cidade de Parma, cento e um anos. Gaio Sâmio,
filho de Gaio, da cidade de Beleia, cento e dois anos. Quinto
Cornélio, filho de Quinto, da cidade de Régio, cento e dois anos.
Tito António, filho de Tito, da cidade de Parma, cento e dois
anos. †Cocnânia† Musa, <*** liberta>, da cidade de Cornélia,
cento e três anos. Demócrito de Abdera cento e quatro anos;
morreu, após ter-se afastado da comida. Ctesébio, historiógrafo,
cento e quatro anos; morreu enquanto caminhava, conforme
explica Apolodoro, nas Crónicas331. Jerónimo, coletor332, tendo
despendido muito tempo em campanhas militares, tombou e
morreu das muitas feridas que havia recebido nas guerras. Viveu
cento e quatro anos, conforme refere Agatárquides, no livro
nove de Acontecimentos da Ásia333. Gaio Lália Tiónio, filho de
Lúcio, da cidade de Bolonha, cento e cinco anos. Públio †Qui-
sêncio† Efírion, liberto de Públio, da cidade de Bolonha, cento
e cinco anos. Tito Cotina Crisanto, liberto de Tito, da cidade
de Favência, cento e cinco anos. Marco Pompónio Severo, filho
de Marco, da cidade de Tanetana, cento e cinco anos. Sexto
Névio, filho de Sexto, da cidade de Parma, cento e cinco anos.

330
Conímbriga?
331
Cf. FGrHist 244 F 49.
332
Ou historiador. Cf. FGrHist 154 T 2.
333
Cf. FGrHist 86 F 4.

151
Flégon de Trales

Lúcio Élio Doroteu, liberto de Lúcio, da cidade de Bolonha,


cento e seis anos. Gaio Pompúsio, filho de Públio, cento e sete
anos. Pola Donata, filha de Sexto, da cidade de Bolonha, cento e
dez anos. Munância Prócula, filha de Lúcio, da cidade de Régio,
cento e dez anos.
[3] Aqueles registados desde cento e dez até cento e vinte
anos: Tito Purénio Tutus, filho de Lúcio, da cidade de Cor-
nélia, cento e onze anos. Lúcio Antísti{c}o Sotérico, liberto de
Lúcio, da cidade de Ravena, cento e treze anos. Lúcio, [filho]
de †Petro†, da cidade de Cornélia, cento e catorze anos. Júlia
Modestina, <***>, da cidade de Corsiolo, <cento e *** anos.
***>, liberta do centurião, ainda viva nos nossos dias, na cidade
de Brixelo, cento e vinte anos. <***>
[4] Os registados entre cento e trinta e cento e quarenta anos:
Lúcio Terêncio, filho de Marco, da cidade de Bolonha, cento e
trinta e cinco anos. Fausto, escravo do Imperador, de Sabina, no
pretório334 Palatino, cento e trinta e seis anos. Eu vi-o quando
ele foi mostrado ao Imperador Adriano.
[5] <***> Argantónio, rei dos Tartésios, como refere Heró-
doto335 e o poeta Anacreonte336, cento e cinquenta anos. <***>
[6.1] (5.2) A Sibila de Eritreia viveu pouco menos de mil
anos, conforme ela própria afirma no oráculo, da seguinte ma-
neira:
“Mas por que razão, lastimosa pelos sofrimentos de outros,
profetizo oráculos, correspondendo ao meu louco destino
e experimentando o meu penoso desejo
na décima idade, possuo uma velhice penosa,
delirando337, entre os mortais, a proferir o inacreditável,

334
Residência do governador.
335
Hdt. 1.163.2.
336
Fr. 361 PMG (4 Gentili).
337
Cf. estado de enthousiasmos. Vd. Plu. De Pyth.Or. 6.

152
Acerca de Grande Longevidade

prevendo, em visões, todas as preocupações da humanidade?


E então, o glorioso filho de Leto338, receando
o meu poder de adivinhação, com o seu coração destrutivo
 [pleno de paixão
libertará a alma prisioneira no lúgubre
339

corpo, acertando com setas a carne.


Então a minha alma, esvoaçando no ar
e misturada com o vento, irá enviar aos ouvidos dos mortais
presságios340 tecidos com sagazes enigmas;
porém, o corpo irá jazer vergonhosamente insepulto, sobre
a mãe terra. É que nenhum mortal irá enterrar-me,
ou esconder-me com um túmulo; com efeito, irá afundar na
 [vasta terra
o negro sangue, com a passagem do tempo.
De seguida, irá produzir muitos rebentos de erva,
que entrarão nos fígados de ovelhas de pastagem e
revelarão a vontade dos imortais através de adivinhação.
E quando as aves vestidas de penas se alimentarem das carnes,
ocupar-se-ão com a profecia verdadeira para os mortais.”
[2] (3) Neste oráculo, mostra que viveu entre os humanos
durante dez períodos de vida341 e que depois de partir, a alma
levada pelo ar, juntará os ditos das pessoas e preparará os que
surgem no discurso; e a carne do corpo insepulto será comida
pelas aves, que irão assinalar profecias, através do seu comporta-
mento, enquanto que o resto dela irá amontoar-se na terra, e os
rebanhos de carneiros, ao pastar a erva que brota da terra, trarão
a arte da adivinhação, através do fígado, à vida.

338
Apolo.
339
Vd., a propósito, o conceito órfico de ‘morte’ e o topos do corpo
enquanto túmulo mortal de uma alma sobrevivente, já em Pl. Cra. 400c.
Vd. Morford — Bos 2003.
340
Cf. cleidonomancia.
341
Entenda-se “dez décadas”.

153
Flégon de Trales

[3] (4) A Sibila conta um ciclo de vida de cento e dez anos,


no oráculo para os Romanos que trata os Jogos Seculares, que
os Romanos designam Saecularia. Quando os aliados e compa-
nheiros não obedecem aos tratados, mas mudam frequentemen-
te de posição e entram em guerra com eles, a Sibila profetizou
que, uma vez findos os presentes Jogos, os Latinos que se haviam
revoltado seriam subdivididos. Os oráculos são como se segue:
“Porém, quando a mais longa duração de vida para os humanos
[passar,
tendo gozado o seu ciclo de cento e dez anos,
lembra-te, Romano, e não escape da tua perceção,
mas lembra todas estas coisas: de sacrificar aos deuses imortais,
no campo342 ao longo das águas sem limite do Tibre,
na sua extremidade mais estreita, quando a noite cair sobre a
[terra
e a luz do Sol se tiver ocultado; realiza então
sacrifícios às Moiras que tudo geram, com ovelhas e cabras
negras, e agrada também a Ilítia,
que promove nascimentos, com sacrifícios, conforme o costu-
me; nesse local, para Gaia,
sacrifica uma porca negra prenha de leitões.
Conduz todos os bois brancos ao altar de Zeus,
de dia, não à noite. De facto, para as divindades urânicas
os sacrifícios oferecem-se à luz do dia; para que o próprio
sacrifique. Que o brilhante [templo] de Hera
receba de ti um bovino jovem, e Febo Apolo, filho de Leto,
também chamado Hélio, igual oferenda
de sacrifícios. E que os cânticos latinos
cantados por rapazes e raparigas ocupem o templo
dos imortais. Que as jovens tenham um local de dança à parte

342
Terento, Campo de Marte.

154
Acerca de Grande Longevidade

e os rapazes, progénie masculina, também à parte, mas


todos tendo progenitores vivos, a geração a florescer de ambos
 [os lados.
Que as mulheres subjugadas pelo jugo do matrimónio se sentem
 [de joelhos
ao longo do altar de Hera celebrado nesse dia
e supliquem à deusa. Que se deem todas as vontades
aos homens e às mulheres, em especial às mulheres.
Que todos levem de casa o que é apropriado
para os mortais transmitirem, ao estar a oferecer as primícias
favoráveis para os graciosos e abençoados deuses
urânicos. Que todas estas coisas fiquem armazenadas
de modo a que, pelos sacrificadores, <***
*** mulheres> e homens,
de seguida lembrando de oferecer. Durante os dias
e noites subsequentes, em assentos proféticos,
haja uma grande multidão, desejosa de uma mistura com riso.
Lembra-te de conservar sempre isto no coração,
e toda a região Itálica e toda a região dos Latinos
terá sempre o jugo no seu pescoço, sob o teu governo.”

155
(Página deixada propositadamente em branco)
Sobre as Olimpíadas

Sobre as Olimpíadas

Flégon de Trales

157
(Página deixada propositadamente em branco)
Sobre as Olimpíadas

Julgo que devo explicar a forma como os Jogos Olímpicos


foram fundados. Sucedeu da seguinte maneira: depois de Peiso,
Pélops e Héracles343, os primeiros que estabeleceram o festival e
a competição em Olímpia, os Peloponésios abandonaram o cul-
to religioso por algum tempo, durante vinte e oito Olimpíadas,
julga-se que de Ífito ao eliano Córibo; e, depois que negligencia-
ram a competição, houve uma revolta no Peloponeso.
O lacedemónio Licurgo, filho de Prítane, filho de Eurípon,
filho de Soos, filho de Procles, filho de Aristodemo, filho de
Aristomaco, filho de Cleodeu, filho de Hilo, filho de Héracles
e Dejanira; e Ífito, filho de Hémon (ou, como referem alguns,
de Praxónides, um dos descendentes de Héracles), um eliano; e
Cleóstenes, filho de Cleónico de Pisa, pretendendo restabelecer
a concórdia e a paz na população, decidiram restaurar o Festival
Olímpico nos seus costumes antigos e fazer uma competição de
ginástica.
Foi enviada uma delegação a Delfos, a fim de questionar a
divindade344 se aprovava que levassem a cabo os seus projetos. A
divindade referiu que seria melhor fazê-lo. Ordenou que anun-
ciassem um armistício para as cidades que quisessem participar
na competição. Quando a mensagem se divulgou, o disco345 foi
inscrito para os Helanódicos, segundo o qual deveriam seguir
os Jogos Olímpicos. Quando os Peloponésios, desgostosos com
a competição, não deram o seu aval, abateu-se uma praga sobre
eles e sofreram a perda das suas colheitas. Então, enviaram Li-
curgo e os seus de novo pedir a cessação da praga e a sua cura. A
Pítia emitiu o seguinte oráculo:
“Habitantes da acrópole do Peloponeso

343
Vd. Cuartero 1998.
344
Apolo.
345
Vd. Paus. 5.20.1, acerca da proclamação de tréguas inscrita, não
horizontalmente, mas em círculo.

159
Flégon de Trales

conhecida em toda a terra, embaixadores e mais excelsos de


 [todos os mortais,
considerem o oráculo que a divindade profere.
Zeus está irado convosco devido aos rituais que revelou através
 [do oráculo,
porquanto estais a desonrar os Jogos Olímpicos
de Zeus, governante universal - Peiso foi o primeiro que fundou
e instituiu a sua veneração e depois dele, Pélops, quando chegou
a terras Gregas, estabelecendo um festival e concursos em
 [honra do falecido
Enómao; e, depois daqueles, em terceiro lugar, o filho de Anfitrião,
Héracles, introduziu um festival e um concurso para o seu
 [falecido [tio] materno,
o tantálida Pélops - a competição e rito que vós estais
a abandonar. Irritado com isto, causou
uma fome terrível entre vós e uma praga, que podem
findar ao restabelecer de novo o festival.”
Quando ouviram isto, contaram aos Peloponésios. Contudo,
eles não acreditaram no oráculo e, através de um decreto geral,
enviaram-nos novamente para obter da divindade uma resposta
mais específica. A Pítia falou da seguinte forma:
“Habitantes do Peloponeso, em torno de um altar,
efetuem sacrifícios e obedeçam ao que os profetas disserem,
instituindo o costume dos pais elianos346.”
Depois de receberem este oráculo, os Peloponésios permiti-
ram que os Elianos instituíssem o concurso do Festival Olímpi-
co e anunciassem uma trégua com as cidades.
Seguidamente, os Elianos, pretendendo auxiliar os Lacedemó-
nios quando estavam a sitiar Helos, enviaram uma delegação a Del-
fos para consultar o oráculo. A Pítia forneceu o seguinte oráculo:

346
Cf. santuário de Pélops em Olímpia (Pi. O. 1.90-93). Vd.
celebrações e ritos dos Elianos.

160
Sobre as Olimpíadas

“Guias das leis dos vossos ascendentes, guardem a vossa terra,


 [abstenham-se da guerra,
e orientem os Gregos numa comunhão com o direito comum,
sempre que o quinto ano chegar.”
Assim que receberam o oráculo, abstiveram-se da guerra e
cuidaram dos Jogos Olímpicos. Ninguém foi coroado nas cinco
primeiras Olimpíadas; mas, na sexta, decidiram consultar um
oráculo para saber se deveriam conceder coroas aos vencedores.
Enviaram o rei Ífito até à divindade. O deus disse o seguinte:
“Ífito, atribui não o produto das ovelhas à vitória,
mas entrega a oliveira selvagem e frutífera
que agora está envolta em teias de aranha.”
Ele foi então a Olímpia, onde há muitas oliveiras selvagens
no santuário e, encontrando uma que estava envolta em teias
de aranha, construiu um muro à sua volta e deu-se a coroa, a
partir daí, aos vencedores. O primeiro a ser coroado foi Decles
de Messene, que ganhou a corrida de estádio, na sétima Olim-
píada.

161
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196
Index nominvm

Index nominvm

Autores e textos citados; figuras mitológicas [mit.]; nomes geográficos:


locais, rios, montanhas, construções [top.]; patronímicos [patr.];
nomes de povos / culturas [etn.]; epíteto [epit.]

A Agatárquides de Cnido
(Agatharch.) - 17 n.16
Abdera [top.] - 55
Acerca do Mar Eritreu, De mari
Acárnia [top.] - 76 Erythraeo
Acílio Glábrio - 56, 125 7 - 68 n.149
Acrópole do Peloponeso [top.] - 159 Acontecimentos da Ásia, Τῶν
Acusilau - 18 n.18 κατὰ τῆν Ἀσίαν - 9 - 16 n.12,
Adão - 105 57, 151
Addison - 31 n.51, 39 n.70 Acontecimentos da Europa, Τῶν
Admeto [mit.] - 66, 68 n.149 κατὰ τῆν Εὐρώπην - 16 n.12

Adriano - 21 n.28, 22, 23, 28 Compêndio de Escritores de


n.44, 43-46, 53 n.107, 56, 57, Maravilhas, Ἐπιτομὴ τῶν
57 n.115, 108, 110, 143, 152 συγγεγραφότων θαυμασίων
- 16 n.12
África [top.] - 17 n.15, 31 n.55, 54
n.109, 59 n.122, 84 n.182 Sobre o Mar Vermelho, Περὶ τῆς
Ἐρυθρᾶς θαλλάσσης - 16
Afrodite [mit.] - 73 n.159, 91 n.12
n.196,
Sobre ventos, Περὶ ἀνέμων
Afrodite Pânfila [mit.] - 82 n.176 [ἀνθρώπων] - 16 n.12
Afrodite, Templo de [top.] - 54, Agatóstenes - 16 n.13
101, 139
Agdístis [mit.] - 90 n. 195
Afrodito [mit.] - 91 n.196
Agostinho, Sto. (August.)
54, 101, 139
De Ciuitate Dei (C.D.)
Agamémnon [mit.] - 61 n.123
3.15 - 40
Agápio
3.31 - 92
História do Mundo
15.9 - 100 n.215
10 - 27 n.42

197
Index nominvm

Agripa, Sibila - 113 Âmbato - 150


Agripina - 67 n.143 América [top.] - 86 n.187
Agripina Augusta - 132 Amitáon [mit.] - 109
Agripina Augusta, casa de - 53 Amónio
n.107, 132 De nium vocabulorum differentia
Ájax [mit.] - 69 n.151 §216 (BT 56.15–16 Nickau
Ajootian - 91 n.196, 99 n.212 - 65 n.139
Albácia Sabina - 150 Anacreonte (Anacr.) - 104, 152
Albúcio, filho de - 150 fr. 4 Gentili (=fr. 361 PMG) - 57,
152 n.336
Alceste [mit.] - 66, 68 n.149
Anderson - 22 n.31, 58 n.121
Alcibíades - 43
André - 91 n.195
Alcipe [mit.] - 86 n.188
Andronico - 125 n.246
Alderink - 20 n.24, 62 n.127
Anfípole [top.] - 54, 55, 72, 73,
Alexandre [Cornélio ?] - 104
150
Θαυμασίων συναγωγή, Coleção
Anfipolitano(s) [etn.] - 72, 150
de Maravilhas - 16 n.13
Anfitrião - 109, 110,
Alexandre, [filho] de Demétrio -
150 Anfitrião, filho de - 160
Alexandre Magno / Grande - 17 Anónimo
Alexandre, época de - 112 Periplus Ponti Euxini - 17 n.15
Alexandre, pai de - 73 Sobre Fenómenos Inacreditáveis
(Περὶ ἀπίστων) - 130 n.256
Alexandre, progenitora de - 97
n.208 Anonymus 1733 - 24 n.36
Alexandria [top.] - 25, 54, 82, 83, Antémio de Trales (Anthem.) - 13
143 n.3
Alexandria, Biblioteca de [top.] - Sobre máquinas fantásticas (Περί
17 n.16 παραδόξων μηχανημάτων) -
16 n.13
Alexandrino Herófilo - 97
Antígono de Caristo (Antig.) - 15
Allison - 28 n.43
n.8, 60, 143
Almagor - 76 nn.164, 165
Compilação de Histórias
Altizer - 61 n.123 Admiráveis (Historiarum
Alúcio, filho de - 151 mirabilium collectanea,
Alúcio Apilutas - 150 ᾿Ιστοριῶν παραδόξων
συναγωγή) - 15 n.10
Amazonas [mit.] - 96 n.207

198
Index nominvm

Mirabilia, Θαυμάσια (Mir.) - 15 Anúbis [mit.] - 87, 142


n.10, 17 n.15, 59 n.122 Apiano (App.)
26 - 14 n.5 Bella Civilia Gall. (BC)
60 - 13 n.4, 14 n.5 1.83 - 142 n.311
110.1 - 143 n.318 Apilocário [top.] - 150
Antígono I da Macedónia - 76 Ápio, filho de - 150
n.166
Apolo [mit.] - 95, 98 n.212, 100,
Antígono II - 76 n.166 126 n.249, 130, 153 n.338,
Antígono, rei - 51, 76 n.164 159 n.344
Antígono, irmão do rei - 144 Apolo Lício [mit.] - 59, 79, 130
Antímacode Dispôcio - 107 Apolo Lício, Templo e Altar
Antíoco (III?)- 53 n.107, 59, 79 [top.] - 111
125, 128 Apolo Linceu [mit.] - 59, 79
Antíope [mit.] - 97 n.208 Apolo-lobo [mit.] - 97 n.208,
Antioquia [top.] - 54, 54 n.109, 130 n.252
94, 109, 131 Apolo-tartaruga [mit.] - 97
Antípatro - 56, 131 n.208
Antípatro, [filha] de - 104, 150 Febo Apolo [mit.] - cf. Febo
Antístenes (de Rodes) - 17, 51, 53 Apolodoro (Apollod.) - 130 n.256
n.107, 59, 60, 79, 125, 125 Bibliotheca (Bibl.)
n.246 1.3.2 - 64 n.131, 68 n.148
Antónia Secunda - 150 1.7. 8 - 101
(Ps.) Antonino - cf. Elagábalo - 96 1.7.8-9 - 138 n.298
n206
2.7.2 - 109
Antonino Liberal (Ant. Lib.) - 18
3.3.1 - 68 n.149
n.18
3.6.7 - 131 n.251
Metamorfoses (Met.)
3.10.3 - 68 n.149
8 - 73 n.159
3.13.6 - 71 n.155
16 - 53 n.109
Epitome (Epit.)
17 - 93 n.204, 131 n.260
1.20 - 88 n.190
17.4-5 - 130 n.256
1.22 - 131 n.260
Antonino Pio - 132
3.30 - 68 n.149
4º ano - 46
Fragmenta
18º ano - 45 n.90
fr. 103 Müller - 57 n.114

199
Index nominvm

Apolodoro de Atenas 9.29-30 - 69 n.153


Crónicas - 57, 151 9.31 - 67 n.143
Apolófanes - 32 n.56 Aquiles - 69 n.152
Apolónio (paradoxógrafo) (Apol- Aquiles, sombra de - 69 n.152
lon.) - 51 n.103, 59 n.122, 73 Arábia [top.] - 54, 145
n.159
Arato, mãe de - 97 n.208
Historiae Mirabiles (Mir.) - 17
Arcádia [top.] - 67 n.146, 130, 134
n.15
n.279
2.2. - 64 n.131
Ardaques - 21 n.27
Apolónio (sofista) - 51 n.103
Ares [mit.] - 75, 99, 111, 120, 126,
Apolónio de Rodes / Ródio (A.R.) 127, 129
Argonautas, Argonautica, Argantónio - 152
᾿Αργοναυτικά - 15 n.11
Arimino (Remini) [top.] - 55
1.26-31 - 68 n.148
Aristandro
1.151 - 138 n.297
Ἱστορίαι θαυμάσιαι, Recontos
6.7.3-4 - 13 n.5 Maravilhosos - 15 n.11, 59
História de Cária, Γέγραφε n.122
Καρικά - 15 n.11 Παράδοξα γεωργίας, Campos In-
Sobre Orfeu e os seus Ritos, Περὶ críveis - 15 n.11
᾿Ορφέως καὶ τῶν τελετῶν Aristeas do Proconneso - 65 n.136
αὐτοῦ - 15 n.11
Arístocles - 16 n.13
Apolónio de Tiana (Ap. Ty.) - 51
Aristodeme - 96-97 n.208,
n.103, 64 n.131
Aristodemo - 159
Apolónio Díscolo (gramático?)
(A.D.) - 51, 51 n.103, 60, 138 Aristófanes (Ar.) - 91 n.196
n.295, 139 Pax
13 - 102 1095 - 113
Apuleio (Apul.) Ranae (Ran.) - 64 n. 131
Florida (Fl.) Aristófanes-Personagem - 90
19 - 64 n.131 n.195, 98 n.212
Metamorphoses (Met.) Aristomaco- 159
1.9 - 87 n.188 (Ps.) Aristóteles (Arist.) - 11,17
n.16, 19 n.20, 97
2.28 - 61 n.123
Analytica Priora (APr.)
4.28 - 6. 24 - 74 n.160
1.27.43b - 51
8.8 - 69 n.153

200
Index nominvm

1.30.46a - 51 Epigrammata de mirabilibus,


De Generatione Animalium Πeρὶ  tῶν  θaυµasίων - 15
(GA) n.10, 59 n.122
769b.13-25 - 88 n.190 Seres de natureza peculiar,
Ἰδιοφυή - 15 n.10
775a - 96 n.207
Arquíloco (Archil.)
767b - 77, 77 n.169, 84 n.180
fr. 122 W - 13 n.4
97 - 113
fr. 122.1-2 W - 8
Historia Animalium (HA)
fr. 294W - 90 n.195
7.4.30 - 144 n.319
Árria - 68 n.149
8.14 - 53 n.109
Arrideu - 72, 74
9 - 14 n.5
Arrúncio - 150
Metaphysica (Metaph.)
Ártemis [mit.] - 91 n.196
1.982b -19
Ártemis, caverna / gruta [top.] -
1.984b - 99 n.212
54, 138
Meteorologica (Mete.)
Ártemis, Sibila - 113
367.b.2 - 26 n.69
Asclepíades - 75 n.162
Mirabilia / De mirabilibus
Asclépio - 20 n. 24, 64 n.131, 68
auscultationibus, Sobre os
n.149, 97 n.208
Prodígios Escutados (Περὶ
θαυμασίων ἀκουσμάτων) Asclépio-dragão - 97 n.208
(Mir.) - 59 n.122 Ash - 14 n.6
78 - 145 n.326 Ásia [top.] - 17 n.15, 66 n.140,
80 - 83 n.179 127, 128, 130, 139
Physiognomonica (Phgn.) - 85 Ásia Menor [top.] - 22, 79, 113,
n.185 139 n.302
Politica Pol. Ásia Menor, cidades da [top.] - 14
n.8, 54, 101, 102
7.13.3 = 1.332b - 100 n.214
Astéria [mit.] - 97 n.208
Problemata (Pr.)
Astéria-codorniz [mit.] - 97 n.208
954a 34-38 - 113
Astícoso, filha de - 150
Aristóxeno - 125 n.246
Átalo, filhos de - 128
Armada de Tigrano e Mitrídates
- 108 Atena [mit.] - 82 n.176, 124, 127,
129
Arnóbio - 42
Atena, povo de - 124
Arquelau de Quersoneso
Atenágoras - 42

201
Index nominvm

De Resurrectione Mortuorum - B
30 n.51
Babilónia [top.] - 113
Atenas [top.] - 54, 131-133, 140-
143, Babilónia, Sibila de - 113

Ateneu (Ath.) Baeten - 52 n.105

D e i p n o s o p h i s t a i , Bandinelli - 19 n.23
Δειπνοσοφισταί - 18 n.17 Banier - 89 n.191
6.88 - 17 n.15 Barash - 52 n.104
7.118 - 17 n.15 Barnes - 19 n.20
13.55 - 17 n.15 Básci<a> - 150
13.89 - 17 n.15 Basileia [top.] - 55, 149, 150
Ateniense(s) [etn] - 38, 56, 140 Bast - 48
Atenodoro (filósofo) - 59 n.122, Bayle - 44, 44 n.89
Atenodoro (pirata) - 108 Beagon - 14 n.6
Ática [top.] - 91 n.196 Bébia Marcela - 150
Atílio Serrano - 89 n.193 Beda
Átis [mit.] - 90 n.195 DTR 47 - 35 n.66
Átrax [mit.] - 93 n.204 Beleia - 55, 149, 151
Atun [mit.] - 82 n.176 Belia - 55, 150
Augusto (César) - 21 n.28, 53 Beócia [top.] - 121 n.239
n.108, 84 n.182, 85 n.185 Bergua - 58 n.121
Augusto, sobrinha de - 86 n. 186 Bernabé - 62 n.127, 82 n.176,
Augusta [top.] - 107 Bertolotto - 92 n.198
Aulo Gélio (Gell.) Betegh - 91 n.195
Noctes Atticae - 18 n.17 Bianchi, E. - 77 n.169
1.19.1- 112 Bianchi, U. - 62 n.127
9.4 - 18 n.17 Bíblia
9.4.15 - 92 1Co.
Aulo Licínio Nerva Silaniano - 15:3–5 - 75 n.162
56, 142 Amos
Ausónio (Aus.) 8.9 - 36 n.69
Cupido Crucificado - 67 n.147 Atos
Austin, N. - 82 n.177 17:34 - 32 n.56
Austin, S. - 29 n.46 Evangelhos apócrifos - 36 n.69

202
Index nominvm

Ex. Bloch - 58 n.118


12:6 - 29 Blundell - 96 n.207
Gn. Boardman - 91 n. 196
5:4-5 - 105 Boehringer - 29 n.212
Jn. Boissonade - 14 n.5
2:1 - 67 n.147 Bolo de Mendes
Jo. Χειρόμηκτα, Remédios Artificiais
6:16-21 - 39 n.76 - 15 n.10
19:31 - 29 Bolonha [top.] - 55, 149, 149
n.328, 150-152, 196
Lc.
Bompaire - 45 n.92
3:1 - 36
Bonzes - 150
4:25 - 40 n.79
Bóreas-cavalo [mit.] - 97 n.208
23:44-45 - 31 n.53, 33 n.61,
36 n.69, 40 Borgeaud - 87 n.189
Mc. Bos - 153 n.339
15:33 - 29 n.46, 31 n.53, 36 Bósporo [Cimeriano] - 54, 101,
n.69, 40 108
27:51-53 - 36 n.69 Bouché-Leclercq - 106 n.218
Mt. Brauer - 29 n.45, 36 n.68
8:23-27 - 39 n.76 Bravo García - 45 n.92
12:49 - 67 n.147 Bremmer - 20 n.25
16:16 - 32 Briareu [mit.] - 138 n.297
19:12 - 90 n.195 Brillante - 52 n.104
24:30 - 40 n.79 Brisson - 62 n.127, 64 n.132, 67
n.147, 76 nn.165, 166, 77
27:45 - 31 n.53, 36 n.69, 42
n.170, 90 n.195, 91 n.196, 92
27:51 - 33 n.61, 36 n.200, 99 n.212, 121 n.239,
27:51-53 - 29, 36 n.69 130 nn.256, 257
27:51-54 - 29 n.45 Brixelo (Brescello) [top.] - 55, 149,
27:52 - 33 n.61 152
28:2 - 29 n.45 Brocca - 112 n.231
Bitínia [top.] - 30 n.50, 31 n.55, Brodersen - 22 n.29, 48, 53 n.106,
33, 34, 36, 42, 55, 150 59 n.122, 89 n.190
Bitis - 150 Brown - 123 n.245
Bruto - 66 n.140, 69 n.153

203
Index nominvm

Bryan - 31 n.51 Callebat - 19 n.20


Bubaste [top.] - 91 n.196 Calvísio - 34 n.64
Buffiére - 51 n.102 Calvo Ateriano - 91 n.196
Buplago - 53 n.107, 59, 79, 111, Calvo Martinez - 70 n.154
125, 126 Câmalo - 150
Burgess - 51 n.102 Cameron - 93 n.204
Búria Licnenis - 105, 151 Campbell - 14 n.6
Burkert - 19 n.21, 70 n.153, 91 Campo de Marte - 154 n.342
n.196, 106 n.217
Cânace [mit.] - 97 n.208
Burma [top] - 86 n.187
Cancik - 111 n.229
Burriss - 69 n.153
Canopas - 86 n.186
Cantarella - 90 nn.193, 195
C Cantolgúnio, filho de - 150
Cairo [top.] - 31 n.55 Capitolino - 111
Calame - 97 n. 208 Capitólio - 56 n.112, 108, 112
Calígula - 85 n.185 Capoue (Cápua) [top.] - 89 n.192
Calímaco de Cirene (Call.) - 60, Cardia - 57, 76 n.164
130 Cária [top.] - 22, 91 n.196
Hymni Caristo - 72
5.75-136 - 131 n.258 Carito - 74, 117-119
Pinakes - 17 n.16 Carrier -29 n.46, 30 n.49, 36 n.69
Seleção de Estranhos Eventos/ Cartagines(es) [etn.] - 54, 141
Maravilhas (Παραδόξων
Casa estafilina - 19 n.21
ἐκλογή/Θαυμάσια) - 15
n.10 Casa maronesa - 19 n.21
Fragmenta Casa toante - 19 n.21
fr. 576 Pf. - 130 n.255 Casa dos tantálidas - 19 n.21
fr. 577 Pf - 131 n.259 Cassandra [mit.] - 79 n.173
Calino (Callin.) Cássio (Cass.) - 85 n.185
Fragmenta 68.25 - 69 n.153
fr. 1.5-8 Diehl - 104 Cássio, epicurista- 66 n.140
(Ps.-) Calístenes (Callisth.) Castor [mit.] - 97 n.208
2.33 - 54 n.109 Catálogo varroniano - 112 n.231
22.11.1-4 - 92 apud Lact. Inst. Diu., 1.6.7-14

204
Index nominvm

- 113 Charles - 25 n.38


Catão, o Antigo (ou Censor) - 22 Chaudon - 133 n.275
n.31 China [top.] - 34 n.62
Cátia - 149 Chipre [top.] - 91 n.196
Cautulo (Catul.) - 108 Chronicon Paschale, Crónica Pascal
68.51 - 91 n.196 - 39
Cavallo - 13 n.4 Chronicum Alexandrinum - 39
Cavalos de Neseia - 128 Chronicum Constantinopolitanum
Célio (Cael.) - 39
4.9 - 82 n.177 Cibele [mit.] - 90 n.195
Celso (Cels.) - 39, 41, 42 Cícero (Cic.) - 14 n.6
De Medicina Admiranda, A Propósito de
Maravilhas - 14 n.6
2.6.15 - 75 n.162
De Oratore (De Or.)
Celta(s) [etn.] - 128
2.239 - 86
Céltio - 150
Divinatio (Div.)
Céltio, filho de - 151
1.27 - 69 n.153
Cêncreas - 73 n.159
Natura Deorum (N.D.)
Ceneu (de Lápita) [mit.] - 93
n.204, 131, 131 n.260 1.36-37 - 19 n.22
Cénide - 131 3.39-40 - 19 n.22
Cénis [mit.] - 93, 93 n.204, 131 Pro Caecina (Caec.)
n.260 28 - 105
Centauro(s) - cf. Hipocentauro(s) Pro Cluentio (Clu.)
- 9, 58, 60, 88, 88 n.190, 89, 103 - 105
145
CIL 1(2) 1004 - 86 n.186
Ceprizo, filho de - 150
Cila, filha de - 150
Cerco de Amiso - 108
Cilene, Montanha [top.] - 93, 130
Cereónia Verecunda - 151
Ciméria [top.] - 54, 101, 113, 141
Ceres [mit.] - 92, 97 n.208
Ciméria, Sibila de - 113
Cesélio Ciro - 149
Cipião, mãe de - 97 n.208
Cesénio Peto - 56, 141
Cipião Africano - 79
Céu - 34, 37, 81 n.174, 124
Circe [mit.] - 70 n.154
Chabot - 30 n.50
Cirene [mit.] - 97 n.208
Chapman - 24 n.37, 49 n.99

205
Index nominvm

Cirene [top.] - 15 n.10 fls. 30v-40r: Flávio Arriano,


Ciro - 108, 149 Periplus Ponti Euxini - 17
n.15
Citas [etn.] - 84 n.182
fls. 40v-54v: Ps. Flávio Arriano,
Cláudio - 56, 85 n.185, 88 n.190,
Periplus maris Erythraei - 17
111, 132
n.15
Cláudio Eliano (Ael.)
fls. 55r-56r: Hanão de Cartago,
De Natura Animalium (Περὶ Periplus - 17 n.15
ζῴων ἰδιότητος) - 16 n.13
fls. 56v-59v: Filo de Bizâncio,
Clearco - 60, 130 De septem orbis spectaculis)
Clemente de Alexandria (Clem. - 17 n.15
Al.) fls. 216r-230r (Περὶ
Protrepticus (Protr.) Θαυμασίων) - 46
4.54.3 - 19 n.21 fls. 216r-236r - 17 n.15, 45
Stromateis (Strom.) fls. 230r-234v (Περὶ
1.145-146 - 35 n.66 Μακροβίων) - 46
Cleodeu, filho de - 159 fls. 234v-236r (Περὶ τῶν
᾿Ολυμπίων) - 46
Cléon - 49 n.98
Codex Vaticanus Graecus 305
Cleónico de Pisa, filho de - 159
Cohen - 130 n.256
Cleóstenes - 159
Cóio do Bósporo - 108
Clésipo - 86 n.186
Collobert - 68 n.147
Clímene [mit.] - 109
Cómodo - 85 n.185
Clinton - 31 n.54, 133 n.273
Comparetti - 62 n.127
Clitarco - 15 n.8
Conímbriga - 55, 151 n.330
Clitemnestra [mit.] - 69 n.153, 96
Conimbrigesia - 55, 150-151
n.207, 97 n.208, 117 n.233
Cónon - 18 n.18
Clodia Ptesta - 151
45.3 - 68 n.148
Cobb - 81 n.174
Cónon (arconte) - 56, 143
Cocnânia Musa - 105, 151
Constantino (imperador) - 54
Codex uetustissimus Heidelbergensis
n.109
Palatinus Graecus 398 (P) - 17
n.15 Constantino Porfirogénito
(Constant. Porphyrog.)
fl. 216r - 45, 58
De Thematibus (Them.)
fls. 11r-16v: Anónimo, Periplus
Ponti Euxini - 17 n.15 2. 12 - 108

206
Index nominvm

Córduba - 69 n.149 Crónida [epit.] - 90 n.195, 126


Core [mit.] - 92 Cronos [mit.] - 63, 82 n.176, 97
Core, mãe de [mit.] - 134 n.208, 109
Córibo - 159 Ctesébio - 54, 57, 104, 151
Corinto [top.] - 73 n.159 Ctésias de Cnido - 15 n.8
Cornélia (Ímola ?) [top.] - 55, 149, Cuartero - 159 n.343
151, 152 Cumas [top.] - 95, 113
Cornélio Galiciano - 88 Cumas, Sibila de - 113, 137 n.293
Cornélio Galicano, esposa de - 53 Cumeia [top.] - 136
n.107, 142 Cupido [mit.] - 67 n.147, 74 n.160
Corsiolo [top.] - 55, 152 Cupido, Sonho de - 67 n.147
Coto [mit.] - 138 n.297 Cúrtio Rufo - 59 n.122
Crátero (Crater.) - 60 Cusinia Mosque - 151
fr. 18 Muller - 144 n.324
Crátero, irmão - 50, 144
D
Crátero, marido - 72
Dalmácia [top.]- 54, 138
Crawford - 76 n.165
Damáscio de Alexandria - 16 n.13,
Creme [top.] - 107
20
Creste - 104, 150
Acerca de Acontecimentos
Creta, Ilha de [top.] - 65 n.136, 99 Incríveis - 16 n.13
n.213, 108
Acerca de Incríveis Recontos de
Cretenses [etn.] - 101, 106 Demónios - 16 n.13
Creuzer - 93 n.202 Sobre Inacreditáveis Aspetos
Crísion - 150 Naturais - 16 n.13
Crisóstomo - 42 Sobre Inacreditáveis histórias
Cristandade - 30, 38 de Almas aparecidas após a
Morte - 16 n.13
[Judaico-]Cristão(s) [etn.] - 5, 9,
12, 20 n.24, 21 n.28, 23, 25 Damastes - 104
n.38, 27, 30, 34 n.62, 35, 39, Dânao [mit.] - 84, 144, 144 n.320
42, 42 n.81, 43, 61, 63, 68, 90 Darbo-Peschanski - 50 n.100
Cristo - 9, 24, 24 n.35, 25-27, 27 Dárdano, filha de - 112
nn.41, 42, 28 n.44, 29 n.45, 30
Dario - 14 n.8, 66
n.51, 32, 32 n.56, 33- 35, 35
nn.64-66, 36, 36 n.69, 37, 39- Dasen - 85 n.183
43, 67, 67 n.147, 75 n.162, 107 Daston - 13 n.1, 90 n.195

207
Index nominvm

Dawson - 24 n.37 134, 152


De Jong - 63 n.130 Destrée - 68 n.147
Décimo Júnio Silano Torquato - Deus - 25 n.38
56, 132 Deusas Sírias - 91 n.196
Decles de Messene - 110, 161 Diana [mit.] - 91 n.196
Dédalo Eécion [mit.] - 128 Dicearco - 60, 130
Deímaco - 17 n.15 fr. 37 Wherli - 130 n.254
Dejanira, filho de [mit.] - 159 fr. 38 Wehrli - 131 n.259
Delcourt - 90 n.195 Díctis Cretense - 101, 139 n.301
Delcroix - 13 n.5, 20 n.26 Dido [mit.] - 65, 69 n.151
Délfico(s) [etn.] - 110 Diels - 56 n.112, 94 n.205
Delfos [top.] - 113, 123, 126, 126 Digesta
n.250, 159, 160
5.4.3 - 144 n.319
Delfos, Oráculo - 59, 80, 110
34.5.7 - 144 n.319
Delfos, Sibila(s) de - 113
46.3.36 - 144 n.319
Délios [etn.] - 109
Dillon - 67 n.147
Delos [top.] - 108, 109
Dimetes [mit.] - 74 n.160, 118
Deméter [mit.] - 92, 94, 134-136 n.235
Deméter-égua [mit.] - 97 n.208 Dinastia de Ptolomeu - 19 n.21
Demétrio, filho de - 150 Dingwall - 77 n.168
Demócrito de Abdera - 103-105, Dinófilo - 142
151
Dio Cássio (D.C.) - 22
Demófilo - 56
Historia Romana - 44
Demóstenes (D.)
55.93 - 36 n.69
46.16 - 96 n.207
58.27.1 - 58 n.120
258 - 62
71.9 - 25 n.38
Demóstrato - 117, 119
80.13.2 - 96 n.206
Demóstrato, casa de - 120
80.16.1-5 - 82 n.177
Demóstrato, filha de - 72
80.16.7 - 96 n.206
Demóstrato (arconte) - 56, 142
Diodoro (Diod.)
Demy - 25 n.38
4.14 - 109
Depo - 107
Diodoro Sículo (D.S.) - 109
Destino [mit,] - 19, 59, 78, 80, 89
1.25 - 64 n.131
n.193, 95, 101, 106, 123, 124,

208
Index nominvm

1.69 - 13 n.4 Diosierita [top.] - 107


4.25.2 - 68 n.148 Diótima [mit.] - 83, 99 n.212
4.6.5 - 91 n.196 D’Ippolito - 13 n.1
4.69.4-5 - 88 n.190 Dispôncio, cidades de [top.] - 108
4.70.1 - 88 n.190 Disponto [mit.] - 108
32.10.2-9 - 92 Diza, filho de - 150
Diófanes - 16 n.12 Dizasto, filho de - 150
Diógenes Laércio (D.L.) Docúrio - 105, 150, 151
prlg. 9 - 63 n.130 Dodds - 13 n.1, 66 n.142
1.10.111 - 105 Domiciano César - 56, 142
6.46 - 82 n.177 Dória, Invasão - 109
9.43 - 103 Doroszewska - 133 n.267
(Ps.-) Dionísio Areopagita Doroteu de Hielopólis - 60, 82,
Epist. 143 n.314
7 - 32 n.56 Hypomema - 51
ΠΟΛΥΚΑΡΠΩΙ ΙΕΡΑΡΧΗΙ Heil- Reminiscências - 143
-Ritter - 42 Douglas - 52 n.106
268 - 32 n.56 Dover - 82 n.177
1081a - 32 n.56 Dowden - 19 n.21
Scholia Dríope [mit.] - 97 n.208
schol. apud Dionys. Areop. Dúris de Samos - 15 n.8
4.425 - 40 Dutsch - 85 n.184
Dionísio de Halicarnasso (D.H.)
Antiquitates Romanae
E
4.62.4 - 112
Éaco [mit.] - 97 n.208
Dioníso Petávio
Edelstein - 17 n.14
De Doctrina Temp.
Edésio - 150
12.21 - 43 n.83
Edmonds - 91 n.195
Dionisodoro - 132
Efésio(s) [etn.] - 70 n.155
Diónisos [mit.] - 19 n.21, 43 n.83,
62 n.127, 63, 68 n.149, 82 Éfeso [top.] - 51, 53 n.107, 54, 58,
n.176, 90 n.195, 132 76, 112, 121, 125
Dionosoro - 56 Efialtes [mit.] - 98 n.212
Dióscoros [mit.] - 66, 68 n.149 Éforo [de Cime] - 104

209
Index nominvm

Ephippos, Ἔφιππος - 15 n.9 Heliogab.


Egina [mit.] - 97 n.208 29.3 - 86 n.186
Egipano(s) [etn.] - 54 n.109 Scriptores Historiae Augustae
Egito [mit.] - 84, 144, 144 n.320 (SHA) - 43, 86 n.86
Egito, irmão de [mit.] - 144 n.322 1 - 44
Egito [top.] - 53 n.109, 54, 96 1.16.1 - 44
n.208, 113, 140, 143, 144 Vita Hadriani, Vida de Adriano
n.320, 145 - 45
Egito, prefeito do - 145 16.1 - 43
Egito, Sibila do - 113 Vita Severi
Elagábalo - 96 n.206 20 - 43 n.85
Elateia [top.] - 54, 125 Élis [top.] - 109
Elato - 131 Empédocles (Emp.)
Elatos [mit.] - 93 n.204 fr. 57-61D-K - 84 n.180
Elbonde, cidades de [top.] - 109 Empusa [mit.] - 73 n.159
Eleia [top.] - 109 Endimion [mit.] - 109
Eletra [mit.] - 117 n.233 Endsjø - 31 n.51
*Eleu - 107 Eneias [mit.] - 65
Eliano (Ael.) Eneias de Gaza
Acerca de Características dos Ani- Theophrastus - 69 n.149
mais, Περὶ ζῴων ἰδιότητος - Énios, zonz dos [top.] - 128
16 n.13
Enómao [mit.] - 160
De Natura Animalium (NA) -
Epicuro (Epicur.) - 64 n.134
16 n.13
apud D.L. 10.124-126 - 61
13.21 - 54 n.109
n.124
Varia Historia (VH)
Epidauro [top.] - 54
12.35 - 113
Epifânio
Eliano(s) [etn.] - 159, 160, 160 n.346
Panarion
Pais Elianos - 160
51.23 35 n.66
Élio Esparciano (?) - 43, 44 n.87
Epimedes [mit.] - 109
Alexander Severus
Epiménides de Creta - 65 n.136,
34.2-4 - 86 n.86 106
Commodorus Epirota(s) [etn.] - 70 n.155, 76
11.1 - 85 n.185 n.164, 127

210
Index nominvm

Er [mit.] - 64 n.131, 65 n.136, 67 Espúrio, filha de - 149


n.147 Espúrio, filho de - 149
Era Cristã - 17 n.13 Ésquilo (A.)
(Ps.-) Eratóstenes (Eratosth.) - 18 Agamemnon (Ag.)
n.18
11 - 96 n.207
Καταστερισμοί, Catasterismi
177 - 63
(Cat.)
788 - 73 n.159
1.6D - 68 n.149
928929 - 63
24 - 68 n.148
1072-1330 - 79 n.173
Erínias [mit.] - 69 n.153
Choephori (Ch.)
Erínia-cavalo - 97 n.208
549-550 - 69 n.153
Eritreia [top.] - 55, 106, 111, 113,
152 *Cressae - 68 n.149
Eritreia, Sibila(s) de - 55, 106, 111, Eumenides (Eu.)
113, 152 94-139 - 69 n.153
Ernesti - 89 n.190 723-728 - 68 n.149
Eros [mit.] - 87, 96 n.208, 99 Persae (Pers.)
n.212 354 - 69 n.153
Escáliger - 39 681-693 - 66
Animadv. in Euseb. Chron: 185 Fragmenta
- 46
fr. 116-120 TrGF - 68 n.149
Animadv. in Euseb. p. 186a -
fr. 228 Radt - 62 n.127
42 n.82
Ésquines (Aeschin.)
Escílax de Carianda - 15 n.8
Contra Ctesifonte
Escirtos [etn.] - 108
72.14 - 13 n.4
Escoridiscos [etn.] - 108
111 - 84 n.180
Esmirna [top.] - 54
Estado Romano - 111
Esmirna, bispo de - 81 n.174
Estáfilo - 19 n.21
Esmírneo(s) [etn.] - 132
Estéfano de Bizâncio (St. Byz.) -
Esopo (Aesop.) - 87 n.188
107-109
Esparta [top.] - 77 n.167
Περὶ Πολέων - 107
Espartano(s) [etn.] - 110
Estesícoro (Stesich.)
Esporo - 96 n.206
fr. 219 PMG - 69 n.153
Espúrio
Estesícoro (filósofo?) - 18 n.19

211
Index nominvm

Estêvão de Bizâncio Euménides [mit.] - 75, 111, 120


Ethnica - 41 n.80 Eurásia [top.] - 86 n.187
Estrabão (Str.) - 109 Eurídice [mit.] - 64 n.131, 68
Estratão de Lâmpsaco (Strat.) - n.149
125 n.246 Eurino - 70 n.155, 71, 74
Acerca de animais cuja existên- Eurípides (E.)
cia se questiona, Περὶ τῶν Alcestis (Alc.) - 66
ἀπορουμένων ζῴων - 15
357-362 - 68 n.149
n.9
Andromache (Andr.)
Sobre animais em mitos, Περὶ
τῶν μυθολογουμένων 1271-1272 - 62
ζῴων - 15 n.9 Bacchae (Bacch.)
7.3.6 - 84 n.182 561-564 - 68 n.148
8 - 110, 110 n.223 Electra (El.)
8.3.30 - 109 1056 - 117 n.233
8.3.33 - 109 Hecuba (Hec.)
13.4.5 - 13 n.4 35-41 - 69 n.152
16.4.22–24 - 84 n.182 Iphigenia Aulidensis (IA)
AP 12.236 90 n.195 520-521 - 61 n.123
Etete [mit.] - 94, 133 956-958 - 61 n.123
Eteto [mit.] - 94, 133 1211-1214 - 68 n.148
Etiópia [top.] - 84 n.182 Orestes (Or.)
Etólia [top.] - 53 n.107, 54, 58, 76, 618 - 69 n.153
76 n.165, 80, 121, 121 n.239, Fragmenta
127
fr. 638 Kannicht - 63 n.129
Etólio(s) [etn.] - 70 n.155, 71, 76,
fr. 833 Kannicht - 63, 63
76 nn.164, 165, 121, 124, 125
n.129
Etósia [top.] - 55, 149
fr. 964 Nauck - 68 n.149
Eulímene [mit.] - 74 n.160
fr. 996 Nauck - 85 n.185
Êumaco - 60
Eurípon, filho de - 159
Descrição Geográfica/Periégese
Eurirroe [mit.] - 144
de Cartago (Περιήγησις) -
51, 141 Europa [mit.] - 97 n.208, 113, 144
Fragmenta Europa [top.] - 16 n.12, 126-128
fr. 2 Müller - 141 n.304 Europa, Sibila - 113

212
Index nominvm

Eusébio [Pânfilo] de F
Cesareia(Eus.) - 9, 25, 32, 34,
34 n.64, 39, 41, 43, 107 Fabrício

apud Sykes - 34 n.63 4.15.7 - 44 n.87

Chronicon (Chron.) Faenza [top.] 55

1.190-194 - 110 n.223 Fanes [mit.] - 90 n.195

203.1 - 107 Faraone - 70 n.153

Historiae Eclesiae, Historia Ec- Fasti Siculi - 39


clesiastica Fausto - 57 n.115, 105, 152
1.10.1-2 - 35-36 Favência [top.] - 55, 149, 151
1.4.15 - 81 n.174 Favorino - 92, 92 n.197
5.5 - 25 n.38 Febo [mit.] - 136
Pamphili Praeparationis Evan- Febo Apolo - 130, 138, 154
gelicae Febo Péan - 136
4.17 - 23 Santuário de Febo - 123
Eustácio (Eust.) Fedro (Phaedr.) - 108
Commentarii ad Homeri Ilia- 4.15-16 - 82 n.177
dem et Odysseam (ad Hom.) 5.1 - 82 n.177
p. 372 - 53 n.109 Felton - 77 n.168
p. 631 Ferécides - 18 n.18
p.1702 Ferrini - 13 n.4
Od. Festa - 89 n.190
4.450 - 130 n.256 Festival Olímpico - 159, 160
10.494 - 130 n.257 Festugière - 71 n.155
Euxino, Mar [top.] - 141 n.305 Fidência [top.] - 150
Evans, E. - 85 n.185 Fidiculânio - 105
Evans, R. - 84 n.182 Filarco - 15 n.8
Evário Filínion - 72-74, 117-119
Hist. Eccl. 1.20-21 - 109 Filipe [II da Macedónia] - 53
Evémero [mit.] - 18 n.18, 19 n.21 n.107, 72-74
Eveno, filha de [mit.] - 100 Filipos [top.] - 55, 71, 150
Evero, filho de - 130 Fílira [mit.] - 97 n.208
Evope [mit.] - 118 n.235 Filo de Bizâncio
De septem orbis spectaculis - 17

213
Index nominvm

n.15 (Ps.-) Flávio Arriano


Filócoro - 91 n.196 Periplus maris Erythraei 17
Filodemo (Phld.) n.15
De pietate Periplus Ponti Euxini - 17 n.15
131 - 68 n.149 Flávio Estílico - 112
Sign. (περὶ σημείων καὶ Flávio Josefo - 36
σημειώσεων) Flégon de Trales (cf. Traliano) -
4 De Lacy - 133 n.268, 139 3, 5, 6, 9, 11, 12, 16 n.12, 17
n.201 n.15, 21, 21 n.27, 21-22 n.28,
22, 22 n.31, 23, 24, 24 n.35,
Fílon de Heracleia
25, 26, 26 n.39, 27, 27 nn.41,
Περὶ θαυμασίων, Sobre Maravi- 42, 28, 28 n.44, 29, 29 n.46,
lhas - 15 n.10, 59 n.122 30, 30 nn.50, 51, 31-33, 35,
Filópono - 9, 25, 36 35 n.64, 36, 36 n.69, 37, 38,
De opificio mundi 2.21 - 36 38 n.70, 39, 40, 40 n.77, 41,
41 n.80, 42-45, 45 n.90, 46,
Filostéfano Cireneu
49, 49 nn.98, 99, 50, 53 n.107,
Περὶ παραδόξων ποταμῶν, A 57 n.115, 58, 60, 61, 70, 71,
respeito de Rios Maravilhosos 73, 74, 80, 82, 83, 84, 86,
- 15 n.10 87, 89, 89 n.193, 92, 93, 93
Filostórgio - 22 n.28 n.201, 94, 96 n.206, 98-103,
História Eclesiástica 1.1 - 22 105-110, 112, 142 n.311, 144
n.28 nn.321, 323
Filóstrato (Philostr.) Acerca de Vidas Longas (Περὶ
μακροβίων, Peri Macro-
Her.
bion) (Macr.) - 9, 10, 16
2.7–11 - 68 n.149 n.13, 21 n.28, 22, 46, 48,
Vita Apollonii 147
3.38 - 69 n.153 1 - 104, 149
4.25 - 73 nn.158, 159 2 - 54, 57 n.114, 103, 151
6.27 - 54 n.109 3 - 105, 152
Vitae Sophistarum (VS) 4 - 57 n.115, 103, 152
489 - 92 5 - 152
Filótis - 94, 132 6.1 (5.2) - 55, 152
Finley - 85 n.183 6.2 - 106, 153
Fisher - 39 n.76 6.3 - 55, 154
Fito - 106 n.217 Crónicas - 40 n.77

214
Index nominvm

Livro 13 - 25, 26, 26 n.39 461-465 - 94


Livro 14 25, 26, 26 n.39 464 - 94
Cronografias 466-470 - 94
Livro 13 - 41 10A.468 - 47 n.96
Descrição da Sicília (Ἔκφρασις 471-475 - 94
Σικελίας) - 16 n.31, 21 n.28 476 - 94
Epítome dos Vencedores 482-483 - 94
Olímpicos (Ἐπιτομὴν
484-486 - 94
ὀλυμπιονικῶν) - 16 n.13,
21-22 n.28 489-492 - 95
Fenómenos Assombrosos (Περὶ 483-495 - 95
θαυμασίων, Mirabilia) 10B.494 - 47 n.96
(Mir.) - 5, 9, 10, 16 n.13, 497-499 - 95
22, 46, 48, 57, 61, 115
500-501 - 95
#1 - 50, 53 n.107, 54, 111, 117
502- 503 - 95
#1-3 - 9, 58, 58 n.117
504 - 95
#1-35 - 58
10B.504 - 47 n.96
#2 - 51, 53 n.107, 54, 111, 121
507-510 - 95
#3 - 51, 53 n.107, 54, 56, 111,
511 - 95
125
512-513 - 95
#4 - 51, 89 n.193, 93, 110,
130-131 515 - 95
#4-10 - 58, 58 n.117, 81 516-522 - 95
#5 - 54, 92, 93, 110, 131 523-524 - 95
#6 - 54, 56, 92, 94, 111, 131- #11 - 51, 54, 100, 101, 138
132 #11-19 - 58, 58 n.117, 81, 100
#7 - 53 n.107, 54, 56, 93, 94, #12 - 51, 54, 138
132-133 #13 - 51, 53 n.107, 101, 102,
#8 - 54, 56, 94, 133 111, 138 n.295, 139
#9 - 53 n.107, 54, 56, 93, 94, #14 - 51, 53 n.107, 54, 101,
133 111, 139-140
#10 - 54, 56, 93, 94, 111, 112, #15 - 51, 53, 54, 102, 140
133-137 #16 - 50, 51, 54, 102, 140
445-452 - 94 #17 - 51, 54, 101, 103, 140-
453 - 94 141

215
Index nominvm

#18 - 51, 54, 101, 141, 141 1 - 107


n.306 8 - 107
#19 - 50, 51, 54, 101, 139 13 - 30 n.50, 34, 107
n.301, 141
14 - 107
#20 - 53, 53 n.107, 56, 89, 141
15 - 107
#20-31 - 58, 58 n.117, 81
24 - 107
#21 - 53, 53 n.107, 89, 142
Sobre Festividades dos Romanos,
#22 - 53 n.107, 54, 56, 87, 88, Περὶ τῶν παρὰ ῾Ρωμαίοις
142 ἑρτῶν - 16 n.13, 21-22 n.28
#23 - 53 n.107, 54, 56, 87, 88, Sylloge Olympionicarum et Chro-
12 nicorum
#24 - 54, 56, 87, 142 Topografia e Onomástica de
#25 - 53 n.107, 54, 89, 89 Roma (Περὶ τῶν ἐν Ῥώμῃ
n.193, 111, 143 τόπων καὶ ὧν ἐπικέκληται
#26 - 51, 54, 82, 143 ὀνομάτων) - 16 n.13, 21-22
n.28
#27 - 54, 56, 83, 143
Fragmenta
#28 - 51, 54, 83, 84, 143
Mir. 10.440 Diels 31 - 134
#28-29 - 54
n.278
#28-31 - 83
Mir. fr. 59 - 144 n.320
#29 - 53 n.107, 54, 83, 144
Flélton - 21 n.27
#30 - 51, 84, 144, 144 n.323
Fócia [top.] - 125 n.247
#31 - 84, 144
Fócio (Phot.) - 46, 49, 49 n.99,
#32 - 50, 102, 144 108
#32-33 - 58, 58 n.117 Bibliotheca (Bibl.)
#33 - 51, 53 n.107, 54, 102, 97 - 49
145
97.2.e - 43 n.86
#34 - 54, 88, 145
130 - 20
#34-35 - 58, 58 n.117
250.7 - 69 n.149
#35 - 53, 89, 145-146
443b - 69 n.149
Olympicorum et Chronicorum
Fórum Romano - 54, 101
13 apud Eusébio, Chronicon
1.1 - 32 Foucault - 97 n.208
Sobre as Olimpíadas, Περὶ τῶν Fowler - 69 nn.151, 153, 88 n.190,
᾿Ολυμπίων (Olymp.) - 9, 10, 110 n.226
22, 46, 157 Fragmente der griechischen

216
Index nominvm

Historiker (FGrHist) 16b - 28 n.44


Fragmenta Historicorum Grae- 16c - 36
corum 16e - 26
3: 602-608 - 107 86 F4 - 57, 151 n.333
3: 603-604 - 49 115 F75 - 54 n.109
F1 - 110 154 T2 - 57, 151 n.332
F2 - 107 244 F49 - 57, 151 n.331
F3 - 107 256 F1 - 29
F4 - 107, 108 257 F16 - 29
F6 - 108 257 F38 - 106
F7 - 108 257 F40 - 107 n.220
F7a - 108 342 T4 - 144 n.324
F8 - 107 508 F*2 - 125 n.246
F9 - 107 568 F1 = (tom. III, p. 623) -
F10 - 108 144 n.320
F11 - 108 715 F13 - 145 n.325
F12 - 108 715 F13c - 144 n.324
F13 - 108 Franz - 48
F14 - 107 Frates - 108
F15 - 107 Frígia [top.] - 113
F16 - 107 Frígia, Sibila de - 113
F17 - 108 Fritsch - 89 n.190
F18 - 107 Fronton - 150
F19 - 108 Frutiger - 67 n.147
F20 - 108 Fulgêncio (Fulg.)
F21 - 108 2.14 - 88 n.190
F22 - 109 Fúrio - 89 n.193
F23 - 109 Furnita [top.] - 108
F25 - 109
F26 - 109 G
F27 - 109
Gabba - 14 n.6
F28 - 109
Gades, cidadãos de [etn.] - 54
p. 1165 - 32 n.109

217
Index nominvm

Gager - 20 n.24 Geffcken - 111 n.227


Gaia - 138 n.297, 154 Gegânia - 86 n.186
Gaio - 104 Géminos - 35 n.66
Gaio, filha de - 149 Gerana [mit.] - 53 n.109
Gaio, filho de - 149-151 Gergícia, Sibila - 107
Gaio, liberta de - 150, 151 Gergis [top.] - 107
Gaio, liberto de - 149 Germânia [top.] - 143
Gaio Amúrio Tiro - 149 Giannini - 13 n.3, 48
Gaio Cássio Pude - 149 Giges [mit.] - 138 n.297
Gaio Hortênsio Fronto - 149 Gill - 53 n.106
Gaio Júlio Poto - 149 Glaucipe [mit.] - 86 n.188
Gaio Lália Tiónio - 151 Glauco [mit.] - 68 n.149
Gaio Leldio - 105 Gláucon - 65 n.136
Gaio Lelédio Primo - 151 Glénisson - 45 n.92
Gaio Montiano - 105 Goethe
Gaio Nónio Máximo - 149 Die Braut von Korinth, A Noiva
Gaio Pompeio Galo - 56, 142 de Corinto - 75
Gaio Pompúsio - 152, 154 Gómez Espelosín - 17 n.15, 19
n.20
Gaio Sâmio - 151
Gonzalez - 68 n.147
Gaio Tí<c>io Cómune - 149
Goodey - 84 n.181, 86 n.186
Gaio Titoneu - 105
Gordon - 110 n.226
Gaio Váio Tércio - 149
Grécia [top.] - 22 n.31, 125 n.247
Gaio Valério Primo - 149
Grego(s) [etn.] - 5, 7, 11, 12, 14,
Galateia [mit.] - 93 n.204
21 n.27, 22, 22 nn.28, 31,
Galeno de Pérgamo (Gal.) - 81, 25, 25 n.38, 26, 32 n.56, 44,
97, 98 46, 47, 47 n.94, 48, 49, 57,
de Usu Partium (UP) 67 n.146, 68 n.149, 76 n.165,
14.6 - 98 n.209 82 n.176, 90, 105, 107, 109,
112, 113, 125 n.246, 127,
Ganimedes [mit.] - 97 n.208
135, 136 n.292, 137, 160,
García Moreno - 19 n.20 161
Garland - 84 n.181 Griffith - 14 n.5
Gaza - 150 Gripari - 73 n.157
Gaza [top.] - 69 n.149 Groneberg - 96 n.206, 99 n.212

218
Index nominvm

Grotius 4.13-16 - 64 n.131


De Verit. Rel. Christ. 4.94-96 - 64 n.131
1.3.14 - 24 n.35 4.191.4 - 89 n.191
Guthrie - 90 n.195, 110 n.226 5.92g.2 - 66
7.16b2 - 64 n.134
H 7.37 - 36 n.69
8.138 - 54 n.1 - 09
Habermas - 32 n.57
Hebreu(s) [etn.] - 29, 113
Hades [mit.] - 63, 68 n.149, 94,
95, 126, 129, 136 Hecateu de Mileto - 15 n.8¸19
n.21
Hägg 17 n.15
Genealogias - 18 n.18
Haight - 111 n.227
Hefesto [mit.] - 84, 86
Halicarnasso [top.] - 91 n.196, 112
Heirmann - 79 n.173
Hall - 29 n.46, 31 n.52
Heitor [mit.] - 65
Halperin - 97 n.208, 99 n.212
Helânico - 18 n.18
Hammer - 18 n.17
Helanódicos [etn.] - 159
Hampson - 93 n.203
Helena [mit.] - 97 n.208
Hanão de Cartago
Helénico - 104
Periplus - 17 n.15
Helesponto [top.] - 113, 127, 128
Hankinson - 106 n.219
Helesponto, Sibila de - 113
Hansen - 13 n.1, 22 n.28
Hélio [mit.] - 154
Hartog - 50 n.100
Heliodoro (Hld.)
Hawes - 19 n.21
Aethiopika
Heródoto (Hdt.) - 15 n.8, 18 n.18,
51 4.8 - 84 n.180
1.1 - 19 n.20 Heliogábalo cf. Elagábalo - 96
n.206
1.66 - 134 n.279
Heliópolis [top.] - 32 n.56
1.163.2 - 57, 91 n.196, 152,
152 n.335 Helos [top.] - 160
2.46 - 96-97 n.208 Hémon, filho de - 159
2.53 - 51 n.102 Henrichs - 62 n.129, 78 n.171
2.60 - 91 n.196 Hera [mit.] - 88 n.190, 94, 95,
131, 135 n.284, 136, 136
2.143 - 19 n.21
n.292, 137
3.99 - 145 n.325
Hera, altar - 155

219
Index nominvm

Hera, templo(s) de - 137, 154 Hermafrodita de Antioquia - 94


Heracleia [top.] - 15 n.10, 59 Hermafrodito [mit.] - 91 n.196
n.122, 125 Hermafrodito anasyromenos [mit.]
Héracles [mit.] - 68 n.149, 100 - 91 n.196
n.214, 109, 110, 159, 160 Hermes [mit.] - 68 n.149, 75, 91
Héracles, descendente(s) de [mit.] n.196, 111, 120
- 109, 159 Hermes-bode [mit.] - 97 n.208
Heraclidas [mit.] - 110 n.223 Hermes Ctónio [mit.] - 75, 120
Heraclides Lembo Hermodoro de Clazómenas - 65
Ἱστοριῶν παραδόξων n.136
συναγωγή, Histórias Herodoro - 18 n.18
Admiráveis - 16 n.12
Herófila, Sibila - 106 n.217, 113
Heraclides Pôntico
Herófilo (Herophil.) - 97
apud Clem. Al., Strom. 1.21.108
apud Gal. De Semine 2.1 - 98
- 113
n.210
Heraclito [Paradoxographus] (H)
Heroi de Ítaca - cf. Ulisses [mit.]
- 18 n.18
- 70 n.154
De incredibilibus (Incred.)
Hesíodo (Hes.) - 14, 51, 51 n.102,
Sobre Fenómenos Inacreditáveis, 60, 103 n.216, 104, 113, 130
Περὶ ἀπίστων (ἰστορίων) -
Opera et Dies (Op.)
11
109–201 - 100 n.215, 102
3 - 131 n.230
129 - 100 n.215
5 - 88 n.190
Theogonia (Th.)
6 - 130 n.256
123 - 81
Heraclito de Éfeso (Heraclit.)
132-133 - 81
apud Plu. Sobre os Oráculos da
Pítia 6 - 112 144-145 - 19 n.22
Fragmenta 147-153 - 138 n.297
fr. B 62 - 63 180-181 - 82 n.176
fr. 92 D.-K. - 112 188-200 - 82 n.176
Herão Ateniense 197-199 - 19 n.22
de spectro Polycriti- 71 n.156 240-264 - 144 n.323
fr. 1 M ap. Phleg. Mir. 2 - 71 337-370 - 144 n.323
n.156 759 - 64 n.135
Herdt - 93 n.203 Fragmenta

220
Index nominvm

fr. 87 M-W - 131 n.259, 131 Sobre Minos - 84


n.260 Fragmenta
fr. 275 M-W - 130 n.253 fr. 1 M - 144 n.320
fr. 304 M-W - 103 n.216 Hoffmann - 47 n.97
Hickman - 77 n.168 Holmes - 64 n.134
Hierão, filho de Homero - 47 n.95. 51, 51 n.102,
Hierão de Alexandria (ou de 138
Éfeso) - 16 n.13, 51, 53 n.107, Honigman - 19 n.21
58, 70, 76, 76 n.164, 121, 150
Horácio (Hor.)
Hierónimo de Cárdia - 76 n.164
Carmen Saeculare (Saec.)
Higino (Hyg.) - 18 n.18
20-21 - 107
Fabulae (Fab.)
Carmina (Carm.)
14.4 - 131 n.260
2.10.5 - 126 n.250
75 - 130 n.256
Hosius - 14 n.6
136 - 68 n.149
Hubbard - 82 n.177
Hilas - 111
Huet
1.35.8 - 138 n.296
Dem. Ev. Prop.
Hilduin de S. Denis
3.8 - 24 n.35
Areopagita sive Sancti Dionysii
Humphreys - 31 n.55
vita 14 - 32 n.56
Hymni Homerici (h.Hom.)
Hilo - 75, 120
hymnus ad Cererem (h.Cer.)
Hilo, filho de - 159
11 - 62 n.125
Hiparco - 72, 74
Hypnos (‘Sono’) .- 64 n.135
Hiperásia [top.] - 107
Hipérion, filho de [mit.] - 128
Hipermnestra [mit.] - 93 n.204, I
131 n.260 Íbico (Ibyc.)
(Hipo)Centauro(s) [mit.] - 9, 58, fr. 282. 47-48 PMG - 104
60, 88, 88-89 n.190, 145
Iburobisingésia [top.] - 55, 151
Hipócrates (Hp.)
Icks - 96 n.206
περὶ παρθενίων (Virg.) - 96
n.207 Idas [mit.] - 100-102, 109, 138

Hipóstrato - 51, 60, 144, 144 Ífis [mit.] - 93 n.204


n.320 Ífito - 109, 110, 159, 161
Iflaßn

221
Index nominvm

cap. 3 - 27 n.42 142


Iflätün - 27 n.42 Italianos [etn.] - 149
Ilíada (Il.) - 51 n.102 Itálico/Italiano [top.] - 41 n.80,
1.357 sq. - 71 n.155 105, 155
1.554 - 47 n.95 Ixíon [mit.] - 88 n.190
1.599-600 - 86
2.42 - 65 n.139 J
3.5 - 53 n.109 Jacob - 13 n.5
9.558-559 - 138 n.297 Jacoby - 28 n. 43, 133 n.271
9.558-560 - 51138 n.298 Jacony - 48
16.439-449 - 68 n.149 Jaeger - 61 n.124
18.35 sq. - 71 n.155 Jamme - 53 n.106
18.501 - 50 n.100 Janka - 67 n.147
21.407 - 99 Jarvis - 27 n.41, 40 n.77
23.62 - 79 n.173 Jasão - 56, 133
23.64 - 65 Jásio [mit.] - 109
23.65-92 - 69 n.152 Jeanjean - 32 n.57
23.486 - 50 n.100 Jensen - 51 n.102
Ilítia [mit.] - 154 Jericó [top.] - 29 n.45
ILS 6261/CIL 10.5920 - 68 n.149 Jerónimo, St. - 9, 32-34, 34 n.64,
ILS 8451/CIL VI 19128 CIL II2/7, 35, 35 n.66
540 - 69 n.149 Chronicon 2.5-6 - 32
Ímola [top.] - 55 Vita S. Pauli Primi Eremitae
Índia [top.] - 14-15 n.8, 84 n.182 8 = Migne PL 23:24 - 54
Interamnésia [top.] - 55, 150 n.109
Ío [mit.] - 87 n.188 Jerónimo de Cardia - 54, 57, 104,
151
Ío-vitela - 97 n.208
Jerusalém [top.] - 30 n.50, 31 n.55,
Irigoin - 45 n.92
32
Isígono
Jesus - 26, 26 nn. 39, 40, 33, 35,
Ἄπιστα, Coisas Inacreditáveis - 16 36, 36 n.69, 40, 64 n.131
n.12
Jesus, crucificação de - 26
Ísis [mit.] - 64 n.131
Jogos Olímpicos - 109, 159-161
Itália [top.] - 54, 55, 79, 87, 132,
Jogos Seculares - 154

222
Index nominvm

Johnson - 67 n.147, 69 n.149


Johnston - 45 n.90 K
Jónia [top.] - 14, 113
José - 22 n.28
Kalkmann - 87 n.188
Judeia [top.] - 29, 31 n.55, 36, 40,
Karttunen - 15 n.8
42
Kavrus-Hoffmann - 45 n.92
Judeu - 27
Kayan/Padaung, Tribo [etn.] - 86
Judeu(s) [etn.] - 22 n.28, 30 n.50,
n.187
36
Keller - 48, 58 n.117
Júlia - 86 n. 186
Kennedy - 40 n.77
Júlia Modestina - 105, 152
Kent - 93 n.203
Juliano, ano
Kepler - 34 n.64
74º - 34 n.64
Keuls - 97 n.208
Júlio Africano (Afric.) - 30, 30
n.49, 31, 36 n.69, 39, 56 Kim - 53 n.106
apud Eus. P. E. 10.10 - 107- King - 98 n.209
108 Kingsley - 20 n.24
apud Hieronymum in Daniel Kirk - 52 n.106
9 - 35 n. 66 König - 22 n.31, 110 n.224
Chronographiae, Cronografias Kowalzig - 57 n.116
- 41
Krenkel - 92 n.199
18.1(2) - 28
Kubitschek - 57 n.113
Κεστοί, Kestoi - 16 n.13
Júlio Obsequente - 57 n.116, 77
n.167 L
Liber Prodigiorum (LP) - 17 Lacedemónio(s) [etn.] - 159, 160
n.13, 142 n.311
Lactâncio (Lact.)
14 - 89 n.192
Diu. Inst.
25 - 89 n.193
1.5 - 90 n.195
Júpiter [mit.] - 25 n.38
1.6.7-14 - 113
Juvenal (Juv.) - 22 n.31
4.10 - 35 n.66
2.117-142 - 96 n.206
6.8-12 - 55 n.111 -
6.366-78 - 90 n.195
Laes - 84 nn.181, 182, 86 n.186
9.130-134a - 82 n.177
Lago Maiotis [etn.] - 141

223
Index nominvm

Lahode - 38 n.70 Leto, templo de [top.] - 93 n.204


Laio Sâmio - 105 Leucipo [mit.] - 74 n.160, 3 n.204,
Lâmia (de Corinto) [mit.] - 73 131 n.260
n.159 Levino - 91 n.196
Lançon - 32 n.57 Lévi-Strauss - 52 n.106
Lang- 111 n.228 Líbia [top.] - 54 n.109, 89 n.191,
Lange - 58 n.60 108, 113
Langer - 19 n.21 Líbia, Sibila de - 113
Langlois, Victor - 21 n.27 Libri de Vita Hadriani Imp.: ab
ipso Imperatore scripta et sub
Lanza - 29 n.122
Phlegontis nomine edita - 44
Laodamia [mit.] - 68 n.149 n.87
Laodiceia da Síria - 54, 133 Libri Fatales - 112
Lápita [top.] - 93 n.204 Libri Sibyllini, Livros Sibilinos -
Lapitas, terra dos [top.] - 54, 131 56 n.112, 89 n.193, 112, 112
Laqueur - 81 n.175, 93 n.203 n.231
Lardner - 24 n.35, 26 n.40, 32 Liceu, Escola - 17 n.16, 19 n.20
n.56, 46 n.93 Lício(s) [etn.] - 73 n.159
Lateiner - 20 n.24 Licurgo [mit.] - 110, 134 n.279,
Latinos [etn.] - 154, 155 159
Lauth - 39, 39 n.75 Lídia [top.] - 11, 15n8, 22
Lauth, Iohannes Jacobus - 39 Lieberman - 53 n.106
Leão, Delfim - 12 Lincoln - 53 n.106
Leda [mit.] - 97 n.208 Linforth - 68 n.149
Lefèvre Lisímaco
De Triduo Christi - 39 Θηβαικὰ παράδοξα, Maravilhas
Tebanas - 15 n.11
Liguori - 92 n.198
Lisipo - 100 n.214
Lei Romana, Digest of Justinian
sobre nascimentos múltiplos - Lívia Ática - 151
144 n.319 Lloyd - 19 n.20
Leitao - 83 n.178 Lívio (Liv.) - 49 n.98, 90
Leno [top.] - 108 Ab Vrbe Condita
Leroy - 45 n.92 1.56.5 - 77
Lete [top.] - 65 n.136 3.58.11 - 69
Leto, filho de - 153, 153 6.37.12 - 111

224
Index nominvm

6.37.15 - 111 Macrobii (Macr.) - 103 n.216


22.53.6 - 79 4 - 103
24.10.6-13 - 92 18 - 103
27.11.4-5 - 92 22 - 57 n.114
27.11.5 - 87 n.188 Pharsalia
27.11. 6 - 90 n.193 1.568 - 65 n.137
27.37.5 - 90.193 1.569 - 65 n.137
28-33 - 57 n.116 Philopseudes (Philops.)
31.12.6-8c - 142 n.310 15 - 65 n.138
31.12.7 - 90 n.193 30-31 - 66
43.13.677 Pseudologista (Pseudol.)
Lócrio(s) [etn.] - 121, 124 21- 69 n.150
Longino Cássio Verae Historiae (VH), Ἀληθῆ
Subl. διηγήματα, Histórias
Verdadeiras - 16 n.13
44.5 - 85
Lúcio - 152
Longo - 45 n.92, 59 n.122
Lúcio, filha de - 152
Louis - 77 n.169
Lúcio, filho de - 149, 151, 152
Lua - 29, 30 n.49, 40, 40 n.77,
98 n.212 Lúcio, liberta de - 149, 152
Lua 14 - 29 Lúcio, liberto de - 104, 149, 152
Luciano (Luc.) Lúcio Acílio Marcelo - 149
Demonax (Demon.) Lúcio Antísti{c}o Sotérico - 152
13 - 92 n.197 <Lúcio> Cesénio Peto - 141
Dialogi Deorum (DDeor.) - 88 Lúcio Cornélio - 105, 149
n.190 Lúcio Cusonio - 149
3 Macleod - 91 n.196 Lúcio Doroteu - 105
2 Macleod - 97 n.208 Lúcio Élio Doroteu - 152
Dialogi Mortuorum (DMort.) Lúcio Fidiclânio [Nepos] - 104,
23 Fowler - 69 n.151 150
28.1–2 - 69 n.149 Lúcio Gamínio - 149
29 - 69 Lúcio Gláucio Vero - 149
Eunuchus (Eun.) Lúcio Lâmia Eliano - 56, 133
7 - 92 n.197 Lúcio Licínio Palo - 149

225
Index nominvm

Lúcio Terêncio - 103, 152 2.5.10 - 967 n.208


Lúcio Valério Flaco - 56, 59, 79, 3.8 - 98 n.212
125 3.8.2 - 91 n.196
Lúcio Vetio - 149 3.8.2-3 - 91 n.196
Lúcio Vetústio Segundo - 149 7 - 18 n.17
Lúcios - 103, 104 Macrosiris - 101, 103, 141
Luck - 0 n.153 Madsen - 58 n.120
Lucrécio (Lucr.) - 17 n.13 Maggi - 64 n.134
4.30-41 - 64 n.134 Magirus - 44, 44 n.88
4.49-53 - 64 n.134 Magnani - 15 n.8
5.724 - 64 n.134 Maier - 31 n.55
5.837-854 - 84 n.180 Malalas - 9, 25, 37-39
5.878-891 - 88 n.190 Chronographia
Luculo - 108 10.101d (O310) - 37
Ludi Saeculares - 107 Mantineia [top.] - 76 n.165, 99
Lusitânia [top.] 55, 150 n.212
Luzzi - 45 n.92 Mântis - 150
Licofronte (Lyc.) Marcial (Mart.)
1468 - 112 Epigrammata (Ep.)
Fragmenta 5.49 - 85 n.185
fr.178 - 71 n.155 6.57 - 85 n.185
10.83 - 85 n.185
M Marco - 36 n.69, 104
Marco, filho de - 149-152
Macates - 54, 72, 75 n.161, 117,
118, 120 Marco, liberto de - 149
MacBain - 58 n.118 Marco Acílio - 149
Macedónia [top.] - 53 n.107, 55, Marco Antonino - 47 n.94
71, 73, 76 n.166, 144 n.324, Marco António - 149
150 Marco Aurélio - 25 n.38
Macedónio [etn.] - 150 Marco Aurélio Antonino Pio - 96
Macrino - 56, 133 n.206
Macróbio (Macr.) Marco Fúlbio Flaco - 56, 133
Saturnalia Marco Nirélio - 149

226
Index nominvm

Marco Plautio Hipseu - 56, 133 Menécrates - 19 n.21


Marco Pompónio Severo - 151 Menelau [mit.] - 61 n.123
Marco Talpio Vitalis - 149 Menipo - 73 n.159
Marco Terêncio Álbio - 149 Meótis, Mar [top.] - 54
Marco Vestino Ático - 56, 142 Merkelbach - 14 n.5
Marco Vilónio Severo - 149 Messene [top.] - 54, 104, 138, 161
Marco Vinício - 56, 132 Messeno(s) [etn.] - 138
Marcos - 103 Metelo, ataque de - 108
Marcovich - 29 n.46 Meurse - 48
Mariev - 64 n.133 Meursio (Meursius) - 14 n.7, 47,
Marincola - 50 n.100 48
Máron [mit.] - 19 n.21 Mevânia [top.] - 54, 132
Marpessa [mit.] - 100, 101 Mianmar [top.] - 86 n.187
Marpesso, Sibila - 113 Miévis - 29 n.46
Martin - 18 n.17 Migne - 33 n.59, 54 n.109
Martírio de Policarpo (Mart. Pol.) Miguel - 30 n.50
- 81 n.174 Miller - 18 n.19
9.1 - 81 n.174 Minotauro [mit.] - 97 n.208
Matthäus - 18 n.17 Mioni - 45 n.92
Mattiussi - 19 n.21 Mirsilo
Matyszak - 32 n.56 Λεσβιακά, Lesbiaka- 15 n.10
Máximo - 40 Moiras [mit.] - 154
apud Sykes - 40 n.77 Moisés de Corene
McGing - 79 n.172, 111 n.227 História da Arménia
Meandro, Rio [top.] - 54, 131 2.13 - 21 n.27
Meandrópole [top.] - 109 Mommsen - 57 n.113
Mediterrâneo [top.] - 14 Money - 93 n.203
Medusa [mit.] - 97 n.208 Mónimo
Megástenes (Megasth.) - 17 n.15, Θαυμασίων συναγωγή, Coleção
51, 60, 145 de Contos Fantásticos - 15
fr. 24 Muller - 145 n.325 n.10, 59 n.122
Melanto [mit.] - 97 n.208 Morford - 153 n.339
Memoriae - 44 Morgan - 99 n.212

227
Index nominvm

Morte - cf. Thanatos Neptuno [mit.]


Morto, Mar [top.] - 29 n.45 Neptuno-carneiro [mit.] - 97
Mosshammer - 32 n.56, 39 n.71 n.208
Mucântio, filho de - 150 Neptuno-cavalo [mit.] - 97 n.208
Mucaso, filho de - 150 Neptuno-touro [mit.] - 97 n.208
Muciano (Muc.) Nereidas [mit.] - 54 n.109
Mirabilia - 14 n.6 Nero - 22 n.31, 53 n.107, 56, 64
n.131, 67 n.143, 85 n.185, 96
Mudry - 20 n.24, 70 n.153
n.206, 97 n.208, 101, 141
Mueller - 19 n.20
Nero, época de - 84 n.182
Mulher de Mantineia - 99 n.212
Neso, filha de [mit.] - 112
Müller - 48
Nestle - 52 n.106
Munância Prócula - 105, 152
Newton - 31 n.55
Munson - 50 n.100
Nicandro (Nic.)
Murdock - 31 n.55
Met.
Murmólice [mit.] - 73 n.159
2 - 93 n.204
Musso - 45 n.92
Niceia [top.] - 27 n.42, 30 n.50,
Muzaco - 150 33, 34, 36, 42
Myers - 91 n.196 Niceu [mit.] - 110 n.223
Nícias - 49 n.98
N Nicodemo - 36 n.69
Nagy - 51 n.102 Nicolau Damasceno (/de
Damasco) - 17 n.16
Nápoles [top.] - 141 n.304
Compilação de Costumes, Ἐθῶν
Nash - 23 n.34 συναγωγή - 16 n.12
Náucratis [top.] - 127 História Universal, Ἱστορία
Naumáquio - 70 n.155, 76 n.164 καθολική - 16 n.12
Nearco - 15 n.8 Recolha de usos e costumes
Néfele [mit.] - 88 n.190 admiráveis, Παραδόξων
Neleu [mit.] - 109 ἐθῶν συναγωγή, - 16 n.12
Némesis-gansa [mit.] - 97 n.208 Nicomédia [top.] - 55, 150
Némethy - 19 n.21 Nicópolis [top.] - 71
Neocesária [top.] - 107 Nilo [top.] 91 n.196
Neoplatónico (cf. Proclo) - 71 Nilo, filha de [mit.] - 144
Nilo, filhas de [mit.] - 84

228
Index nominvm

Ninfa(s) [mit.] - 88 n.190, 91 12.301 - 17 n.15


n.196, 138 Ogden - 70 n.153, 73 n.158
Ninfodoro de Siracusa Ogg - 32 n.58
Périplos, Περίπλοι - 15 n.11, 17 Olímpia [top.] - 109, 110¸159, 160
n.15 n.346, 161
Sobre as Maravilhas na Sicí- Olimpíadas - 30 n.50, 31, 36, 38,
lia, Περὶ τῶν ἐν Σικελίᾳ 45, 46, 50, 110, 159, 161
θαυμαζομένων - 15 n.11,
1ª - 108
17 n.15

Nisíbis [top.] - 108
(ano 4) - 30 n.50
Nítr<i>a [top.] 54, 140
4ª - 107
Nothaft - 32 n.56
7ª - 161
8ª - 107
O
45ª - 108
Obsequente
48ª - 108
Liber Prodigiorum /
Liber de prodigiis (LP) - 17 74ª
n.3, 57 n.116, 77 n.167, 12 (ano 4) - 42 n.82
n.311 140ª - 108
14 - 89 n.192 167ª - 29 n.46
25 - 89 n.193 174ª - 108
Odisseia (Od.) - 51 n.102 181ª - 41 n.80, 108
2.283 - 70 n.154 198ª
5.306-321- 98 n.212 (ano 2) - 37
10.516-540 - 70 n.154 201ª - 35
10.571-572 - 70 n.154 202ª - 33, 34 n.64, 35, 41
11.49-50 - 70 n.154 (ano 1) - 29 n.47, 35, 35 n.64
11.98-99 - 70 n.154 (ano 2) - 28 n.44
11.141-155 - 70 n.154 (ano 3) - 35
11.228-234 - 70 n.154 (ano 4) - 34, 34 n.64, 35-37,
11.219-222 - 20 n.24 107
11.390 - 70 n.154 229ª - 21 n.28, 46
11.577 - 99 Olimpieu - 108
Scholia (schol.) Onesícrito - 15 n.8

229
Index nominvm

Opiano (Opp.) 463 - 63


Halieutica (H.) Ortísia [top.] - 55, 150
5.4-7 - 62, 62 n.127 Osíris [mit.] - 68 n.149
Oracula sibyllina, Oráculos Osmun - 89 n.190
Sibilinos - 112 Óstia [top.] - 109
Oráculo de Delfos - 59, 80, 110 Oto [mit.] - 98 n.212, 99 n.213
Oráculo Pítio - 112 Ovídio (Ov.) - 18 n.8
Orestes [mit.] - 69 n.153 Fasti (Fast.)
Orfeu [mit.] - 15 n.11, 68 n.149 2.19-28 - 69 n.153
Orfismo - 20 n.24, 68, 97 n.208, 3.291-326 - 54 n.109
123 n.245
4.227 - 90 n.195
Orígenes Adamâncio - 9, 25, 26,
4.240 - 90 n.195
26 n.40, 35 n.65, 39, 40, 42
Metamorphoses (Met.)
Op. Ed. Ben. t. 3: 923 - 40 n.77
1.89-150 - 102
Philocal.
3.316-339 - 130 n.256
1 - 35 n.65
4.285-388 - 91 n.196
Contra Celsum (Cels.)
9.665-796 - 93 n.204
2.14 - 25 n.39, 26, 27 n.41,
107 11.41-46 - 68 n.148
2.33 - 27 12.189-209 - 131 n.260
2.55 - 64 n.131 12.190 - 93 n.204
2.59 - 27, 42 12.459-532 - 131 n.260
3.24 - 64 n.131 15 - 13 n.13
5.61 - 112 Owen - 45 n.90
7.53 - 112 Óxilo [mit.] - 109
Oríon [mit.] - 99 n.213
Ormerod - 108 n.221 P
Oronte [top.] - 109 Pã [mit.] - 87 n.189, 97 n.208
Orphica (Orph.) Paixão de Cristo (Salvador), Passus
9.4 - 98 n.212 Christi - 9, 24, 32, 32 n.56,
Argonautica (A.) 33-35, 35 n.66, 36, 39, 42, 43
15 - 90 n.195 Pajón Leyra - 13 n.4, 17 n.15, 21
n.27
Orphica Fragmenta (OF)
Palas [mit.] - 126
320 - 62 n.127

230
Index nominvm

Palatinus Graecus (Pal. Gr.) 398 - 37 - 52 n.106


17 n.15, 45 38 - 52 n.106
Paléfato (Palaeph.) - 11, 18 n.18, 39 - 52 n.106
52, 68n.149
40 - 52 n.106
Περὶ ἀπίστων (ἰστορίων), Sobre
41-42 - 52 n.106
Fenómenos Inacreditáveis -
52 n.106 43 - 52 n.106
praef. - 52 n.106 45 - 52 n.106
1 - 19 n.22 Pales, Festival Romano de - 69
n.153
1-2 - 52 n.106
Palestina [top.] - 38 n.70
3 - 52 n.106
Paley - 82 n.176
4 - 52 n.106
Palmieri - 98 n.209
5 - 52 n.106
Pandaia [mit.] - 145 n.325
6-9 - 52 n.106
Pândia [top.] - 54, 102
7 - 19 n.22
Pandora [mit.] - 82 n.176
9 - 19 n.22, 52 n.106
Papiro de Derveni (fr. 8 Bernabé)
10 - 52 n.106, 131 n.260
- 82 n.176
13 - 52 n.106
Paradoxógrafo Vaticano 31
15 - 19 n.22, 52 n.106
Περὶ ᾿Απίστων, Sobre Contos
16 - 52 n.106 Inacreditáveis - 130 n.256
18 - 52 n.106 Paradoxographus Florentinus 218
19 - 19 n.22, 52 n.106 - 17 n.7
20 - 19 n.22, 52 n.106 Paricopóle [top.] - 55, 150
21 - 52 n.106 Paricopolitano [etn.] - 150
22 - 52 n.106 Park - 90 n.195
23 - 52 n.106 Parke - 79 n.172, 111 n.227
24 - 19 n.22, 52 n.106 Parma [top.] - 55, 149-151
26 - 52 n.106, 64 n.131 Parménides (Parmen.)
27 - 52 n.106 fr. 13 Diels - 99 n.212
28 - 52 n.106 fr. B18.231-240 - 92 n.199
30 - 52 n.106 Partenie - 67 n.147
31 - 52 n.106 Parténio 18 n.18
33 - 52 n.106 Ἐρωτικὰ Παθήματα - 74 n.160
34 - 52 n.106 2 - 74 n.160

231
Index nominvm

5 - 74 n.160 5.20.1 - 159 n.345


17 - 74 n.160 6.5.1 - 100 n.214
31 - 74 n.160 6.6.8 - 69 n.153
35 - 74 n.160 6.6.11 - 65, 65 n.138
Parto(s) [etn.] 6.20.6 - 220 n.225
Partos, rei dos - 21 n.27, 108 7.10 - 90 n.195
Páscoa [Judaica] - 29, 30 nn.49, 9.23 - 69 n.152
50, 31 9.38.5 - 65 n.138
Pasífae [mit.] - 87 n.189, 97 n.208 10.12.1 - 113
Passio Perpetuae et Felicitatis (Pass. 17.11-12 - 90 n.195
Perp.)
18.1 - 64 n.135
10.7 - 81 n.174
Pecere - 14 n.6, 20 n.26
Patera - 20 n.24
Pedro - 26, 26 n.40, 40
Patro - 108
Peiso [mit.] - 110, 159, 160
Pátroclo [mit.] - 69 n.152, 79
Pélia [top.] - 54, 72
n.173
Pélias [mit.] - 109
Patrologia Graeca (PGR)
Pélio, filho de - 150
32 F1 - 121 n.238
Pélion, Monte [top.] - 88 n.190
Patrologia Latina (PL)
Peloponésio(s) [etn.] - 110, 159,
106: 33 - 32 n.56
160
Pausânias (Paus)
Peloponeso [top.] - 110 n.223,159
1.4.5 - 54 n.109
Peloponeso, Habitantes do [etn.]
1.19.2 - 91 n.196 - 160
1.32.4 - 65 n.137 Pélops [mit.] - 109, 110, 159, 160,
1.35.7 - 138 n.296 160 n.346
2.21.6-7 54 n.109 Pélops, filho de [mit.] - 108
3.13.1-2 - 138 n.297 Penélope [mit.] - 87 n.189, 97
4.14 - 97 n.208 n.208
5.6.5 - 110 n.225 Peneu [mit.] - 109
5.7.4 - 109 Peónia [top.] - 108
5.7.6 - 109 Pépin - 19 n.20
5.7.7 - 110 n.223 Pérez Largacha - 17 n.15
5.8.1 - 109 Periandro [mit.] - 74 n.160
Período Helenístico - 14 n.5, 15

232
Index nominvm

n.10, 18 n.18 2.14 - 110


Período Imperial Romano - 16, 3 - 110
87, 95 10 -109, 110, 110 n.223
Período Medieval - 41 n.80, 70 11 -110
n.155
P.
Período Trajânico e Adriânico - 57
2.21-48 - 88 n.190
Perkins - 58 n.121
Fragmenta
Perpétua, Sonho de [mit.] - 81
fr. 133 Page - 64
n.174
Scholia (schol.)
Perria - 45 n.92
schol. Pi. O. 3.35 Boeckh -
Persa [etn.] - 108
109
Perséfone [mit.] - 92, 94, 97 n.208,
Pines - 27 n.42
130, 134, 135 n.286, 136
Pinheiro - 58 n.121
Pérsia [top.] - 15 n.8, 113
Pisa [top.] - 107, 159
Pérsia, Sibila de - 113
Píteas de Messala 17 n.15
Pervo - 58 n.121
Pítia - 110-112, 126, 159, 160
Petersson - 14 n.6
Pito [top.] - 126
Petílio Rufo - cf. <Quinto> Petílio
Rufo - 56 Placência [top.] - 55, 149, 150
†Petro†, filho de - 152 Platão (Pl.) - 27 n.42, 52 n.105, 65
n.136, 67 n.147, 71
Petrónia - 149
Apologia (Ap.)
Petrónio (Petron.)
29a-b - 62 n.128
62 - 20 n.24, 66 n.141
Charmides (Chrm.)
Petsalis-Diomidis - 20 n.24
156d - 64 n.131
Phléton (Phlégon) - 21 n.27
Cratylus (Cra.)
Picência [top.] -109
400c - 153 n.339
Pigmeus [etn.] - 53 n.109, 84
n.182 Gorgias (Grg.)
Píndaro (Pi.) 493a - 63 n.129
I. Leges (Lg.)
7.42 - 62 1.636c - 99 n.212
O. Meno (Men.)
1.82 - 62, 68 n.149 81b - 20 n.24, 62, 62 n.126
1.90-93 - 160 n.346 Phaedo (Phaed.)

233
Index nominvm

65b - 63 Platt 77 n.168


78b-84b - 64 n.132 Plauto (Pl.)
81d - 69 Mostellaria (Most.), Comédia do
Respublica (R.) Fantasma - n.77 n.168
[1.]334c - 73 n.159 497-504 - 66, 67
378d - 19 n.22 Plínio, o Antigo (Plin.) - 14 n.6,
57 n.116, 59 n.122, 64 n.131,
[2.]381e - 67 n.144
75 n.162, 91, 99 n.213
472a - 13 n.4
Historia Naturalis (HN) - 57
514a-517a - 64
2.5.17 - 66, 68 n.149
514b-e - 65
2.195 - 36 n.69
[10.]614–10.621- 64 n.131,
2.230 - 17 n.13
65 n.136, 67 n.147
3.66 - 103
[10.]621b - 65 n.136
5.8 - 54 n.109
Symposium (Smp.) - 18 n.17
6.22.6 - 145 n.325
189d-e - 90 n.195, 98-99
n.212 6.23.76 - 144 n.324
190b - 98 n.212 6.181 - 84 n.182
190c-e - 98 n.122 6.184 - 84 n.182
191a-c - 99 n.212 7.3.33-34 - 83 n.179
191d - 98 n.212 7.3.34 - 86 n.188, 142 n.311
192a - 99 n.212 7.3.35 - 145 n.326
204b1–c5 - 99 n.212 7.4.36 - 133 n.272
205d-e - 99 n.212 7.9 - 84 n.182
206a-e - 99 n.212 7.16.73 - 102
209b8 - 99 n.212 7.16-18 - 84 n.182
Theaetetus (Tht.) 7.27 - 59 n.122
160e-161a - 77 n.167 7.35 - 88 n.190
Theages (Thg.) 7.36 - 92
124d - 112, 113 7.49 - 104
Timaeus (Ti.) 7.49.162-164 - 103
71e-72b - 112 7.50 - 103
Scholia (schol.) 7.53 (52)
schol. Phaedr. 244b - 113 7.75 - 86 n.186

234
Index nominvm

7.81 - 88 n.190 348a-b - 42 n.105


7.153-164 - 103 n.216 De Herodoti malignitate
7.202 - 88 n.190 855b - 49 n.98
8.64[42] - 96-97 n.208 De Pythiae oraculis (De Pyth.
9.4 - 54 n.109 Or.)
10.2.5 - 58 n.120 6 [397a] - 112
11.109.262 - 96 n.207 404e - 112, 152 n.337
11.262 - 92 De sera numinis vindicta
25.5.14 - 64 n.131 563b-568 - 65 n.136
31.12 - 14 n.6 De sollertia animalium
31.17-19 - 14 n.6 973e-974a - 66 n.142
34.6 - 86 n.186 Lycurgus (Lyc.)
Plutão [mit.] - 135, 136 16.1 - 77 n.167
Plutão, esposa de 135 n.286 Numa (Num.)
Plutarco (Plu.) - 44, 66 15.3-4 - 54 n.109
Moralia (Mor.) Pelopidas (Pel.)
Aemilius Paulus (Aem.) 31.3 - 36 n.69
17.71 - 36 n.69 Quaestiones conviviales - 18
n.17
Brutus (Brut.)
726a - 86 n.186
36.3-37.2 - 66 n.140
8.8.3 [729c] - 67 n.146
36.4 - 69 n.153
Sulla (Sull.)
37.1 - 65
27 - 53 n.109
37.2 - 66
Tes.
Cimon (Cim.)
15.2 - 85 n.185
1.6 - 65 n.138, 66
Poetae Melici Graeci (PMG)
De Curiositate
361 - 57
10 [520c] - 77 n.167
Pola Donata - 105, 152
520c - 77 n.167, 86 n.187
Polemo
De fluviis, Περὶ ποταμῶν καὶ
ὀρῶν ἐπωνυμίας καὶ τῶν Phys.
ὲν αὐτοῖς εὑρισκομένων - 2.1.192 - 81, 93 n.201
16 n.13 Polemo Fisiognomónico (Polem.
De gloria Atheniensium Phgn.)

235
Index nominvm

1.210 - 85 n.185 Poser - 52 n.106


Pólemon Posídon [mit.] - 93 n.204, 101,
Sobre os Rios, Περὶ ποταμῶν - 15 131, 131 n.260
n.11 Posídon-carneiro - 97 n.208
Acerca de Rios Fantásticos na Posídon-cavalo - 97 n.208
Sicília, Περὶ τῶν ἐν Σικελίᾳ Posídon-delfim - 97 n.208
θαυμαζομένων ποταμῶν -
Posídon-pássaro - 97 n.208
15 n.11
Posídon, Santuário de - 76
Polésia [top.] - 55, 149
n.165
Pólia Pola - 149
POxy 2082 - 108
Políbio (Plb.)
Praxónides, filho de [mit.] - 159
3.47 - 13 n.4
Pretório Palatino [top.] - 152
Bibliotheca Diodori in Histori-
Preus - 98 n.211
is Thallis et Castoris - 108
Priestley - 89 n.190
Policarpo - 81 n.174
Prigent - 30 n.48
Polícrito - 59, 70 n.155, 71, 75, 76
n.164, 77-79, 92, 111, 121 Prítane, filho de - 159
Polícrito, filho de - 76, 92 Procles, filho de - 159
Polícrito de Cálio - 76, 76 n.165 Proclo (Procl.) - 70, 70 n.155, 72,
74, 76
Poliénio (Polyaen.)
in Platonis Rempublicam com-
Strateg.
mentarii, (in R.)
1.3.4 - 145 n.325
2.113.22 sq. - 65 n.136
Poliido [mit.] - 68 n.149
2.115 - 76 n.164
Polimela [mit.] - 74 n.160
2. 116 Kroll - 71
Políxena [mit.] - 69 n.152
2.133.8-15 Kroll - 64
Pólux [mit.] -97 n.208
Pródico de Ceos - 18 n.18
Pomeroy - 90 n.194
Propércio (Prop.)
Pompanazzi - 39 n.74
3.2.3-4 - 68 n.148
Pôncio Pilatos - 24 n.35
Proponte [top.] - 128
Pontalis - 91 n.196
Prosérpina [mit.] - 69 n.152, 135
Ponto [top.] - 55, 101, 139, 150
Protágoras - 18 n.18
Popescu - 69 n.149
Γεωγραφία τῆς οἰκουμένης,
Pórcio Catão - 56, 59, 79, 125 Geografia
Porrer - 39 n.73 l.6 - 16 n.13

236
Index nominvm

Protesilau [mit.] - 68 n.149 6.3.7 - 86


Psâmate-foca [mit.] - 97 n.218 Quinto, filho de - 149-151
Pselo Quinto Cássio Rufo - 150
Sobre maravilhas escutadas, Περὶ Quinto Cornélio - 151
παραδόξων ἀκουσμάτων - Quinto Ha{s}tério Antonino - 56,
16 n.13 132
72‐74 - 20 n.24 Quinto Lucrécio Primo - 150
Psique [mit.] - 74 n.160 <Quinto> Petílio Rufo - 56, 142
Públio - 104 Quinto Vélio - 150
Públio, filha de - 150 Quinto Verânio - 56, 142
Públio, filho de - 149, 150, 152 Quinto Volúsio Saturnino - 56,
Públio, general - 79, 111, 127, 129, 143
130 Quíron-égua [mit.] - 97 n.208
Públio, liberta de - 151
Públio, liberto de - 151
R
Públio Cornélio Cipião - 56, 143
Ragusa, J[oão Stojkovič] de - 45
Públio Decénio Demóstenes - 149
n.92
Públio †Quisêncio† Efírion - 151
Ramon Garcia - 89 n.190
Públio Élio Adriano - 22
Rank - 53 n.106
Públio Élio Flégon - 22
Ravena [top.] - 55, 149, 152
Públio [Fúlbio] Frix - 104, 149
Raybould - 111 n.227
Públio Névio - 149
Récio Tauro - 53 n.10787, 88
Públio Petrónio Turpiliano - 56,
Récio Tauro, criada da esposa de
141
- 142
Públios - 103
Redfield - 62 n.125
Pugliara - 13 n.4
Reggio [top.] - 55
Pulcro - 53 n.107, 101, 139
Régio [top.] - 18 n.18, 54, 55, 90
Pulidamante de Escotusa - 100 n.193, 101, 139, 150-152
n.214
Reitzenstein - 17 n.15
Remini [top.] - 55
Q Renehan - 29 n.46
Quinto (Quint.) Renz - 89 n.190
Institutio Oratoria (Inst.) Richlin - 82 n.177

237
Index nominvm

Richter - 53 n.106 S
Ricoeur - 53 n.106 Sabe, Sibila - 113
Rigg - 29 n.46 Sabina [top.] - 55, 152
Rodes [top.] 15 n.11, 54, 125 Saecularia - 154
n.246, 140
Sálmacis, Ninfa [mit.] - 91 n.196
Roessli - 112 n.230
Salvador - cf. Cristo, Jesus - 27, 29,
Roma [top.] - 21-22 n.28, 22 n.31, 33
54, 79, 87, 89, 93, 96 n.208,
103, 108, 111, 112, 125, 127, Sálvia Varena - 150
128, 132, 133, 134 n.279, Sambursky -17 n.15
139, 141, 142, 143, 145 Samos [top.] - 15 n.8, 113
Romano(s) [etn.] - 5, 11, 12, 14 Samos, Sibila de - 113
n.6, 16 n.13, 21-22 n.28, 25 Samson - 22 n.29
n.38, 44, 46 n.94, 53 n.107,
54, 54 n.109, 56, 60, 68 n.149, Samuel - 32 n.58
69 n.153, 74 n.160, 79, 80, 85 Santangelo - 94 n.205
n.186, 86 n.187, 87, 90 n.194, Santoni - 22 n.29
92, 95, 96 n.207, 103, 104,
Sanz Morales - 51 n.101 89 n.190
112, 125, 126, 126 n.250,
129, 139, 143, 144 n.319, 154 Sardanápalo - cf. Elagábalo -
96206
Romano, Estado - 111
Sardenha [top.] - 113
Romano, Fórum - 54, 101
Sardenha, Sibila de - 113
Romano, Império - 22 n.28, 23
Sarpédon [mit.] - 68 n.149
Romano, Período Imperial - 87,
95 Sarque - 150
Romm - 14 n.6, 85 n.183 Sátiros [etn.] - 53-54 n.109
Rorem - 32 n.56 Sauna [top.] - 54, 145
Rose - 62 n.128, 84 n.181, 86 Schanz - 14 n.6
n.186 Schepens - 13 n.5, 20 n.26
Rosen - 117 n.233 Schiavone - 90 n.194
Routh - 29 n.46, 31 n.52 Schlesier - 68 n.149
Roux - 77 n.170 Schlier - 117 n.233
Rudhardt - 23 n.32, 62 n.127 Schmidt - 39 n.72
Rufo de Filipos - 71 Schneiderman - 52 n.106
Rzepka - 76 n.165 Schöll - 22 n.29
Scholten - 76 n.165

238
Index nominvm

Schraeder - 19 n.22 Sexto Carmínio Hipseu - 133


Schwab - 29 n.45, 36 n.68 Sexto Carmínio Valério - 133
Scodel - 53 n.106 n.271
Sedley - 64 n.134 Sexto Carmínio Vetero - 56, 133
Segal, C. - 68 n.149 Sexto Névio - 105, 151
Segal, R. - 53 n.106, 67 n.146 Shannon - 17 n.15
Segunda Sofística Romana - 22 Shearin - 64 n.134
n.31 Shelburne - 52 n.106
Sellheim - 45 n.92 Síbaris [mit.] 73 n.159
Semíramis [mit.] - 96 n.208 Sibila - 55 n.111, 95, 103, 112, 112
Semónides (Semon.) n.231, 154
fr. 7 Bergk 1-2 - 96 n.207 Sicília [top.] - 15 n.11, 16 n.13, 17
n.15, 21 n.28, 101
Senado - 85 n.185, 105, 134
Sicília, cidades de [top.] - 54, 107,
Séneca Maior (Sen.)
139
Controuersiae (Con.)
Sila - 54 n.109, 137 n.294
7.4.7 - 82 n.177
Sila, época de - 142 n.311
Séneca Minor (Sen.) - 17 n.13
Sileno [mit.] - 54 n.109
Apocolocyntosis (Apoc.)
Silva Sánchez - 13 n.1
5.1-3 - 85 n.185
Simónides (Simon.)
Epistulae (Ep.)
fr. 121 Diehl - 104
20.122.7 - 92 n.199
Sinatruces - 108
Quaestiones Naturales (NQ)
Sincelo - 28, 31, 39
6.8.3 - 84 n.182
Ecloga Chronographica
Thyestes (Thy.) - 77 n.168
324, D, ex Eusebio - 107
Serpente Equidna [mit.] - 97
391 - 28 n.44
n.208
394 - 34 n.63
Sérvio (Serv.)
Sinferonte - 94, 133
A.
Sinferusa - 94, 133
3.444 - 137 n.293
Sinope [top.] - 51, 55, 108, 141
6.286 88 n.190
Sinópio(s) [etn.] - 150
6.448 93 n.204
Sipretes [mit.] - 131 n.260
Sexto, filha de - 150, 152
Siqueu [mit.] - 65
Sexto, filho de - 149, 151
Siracusanos [etn.] - 128

239
Index nominvm

Síria [top.] - 54, 91 n.196, 125, Strózynski - 64 n.133, 65 n.136,


128, 133 67 n.147
Sírio(s) [etn.] - 30 n.50, 53 n.107 Stubbings - 51 n.102
Sísifo [mit.] - 68 n.149 Suda - 23, 39
Sissaz - 48 α2634 - 101
Skinner - 76 nn.164, 165 φ 4 - 92 n.197
Sluiter - 117 n.233 φ527 - 21, 49, 50
Sócrates - 65 n.136 Suetónio (Suet.) - 44
Sófocles (S.) Augustus (Aug.)
Oedipus Tyrannus (OT) 6 - 66
15281530 - 63 72 - 53 n.108
Sol - 27 n.42, 29, 30 n.50, 31 n.53, 80.1 - 85 n.185
33, 34, 37, 38, 40 n.77, 42, 98 83 - 84 n.182
n.212, 107, 127, 154,
Caligula (Calig.)
Solino
22.1 - 85 n.185
1.91 - 139 n.301
32.2 - 85 n.185
Sonho - 65
50.1 - 85 n.185
Soos, filho de - 159
Domitianus (Dom.)
Sordi - 19 n.20
18.2 - 85 n.185
Sósimo
Galvba (Galb.)
Vita Noua
21.1 - 85 n.185
2.1 - 107 n.220
Iulius ( Jul.)
Sotion - 16 n.13
45.2 - 85 n.185
Sourvinou-Inwood - 62 n.125
Nero (Ner.)
Souter - 61 n.123
28-29 - 96 n.206
Spyridakis - 19 n.21
29 - 97 n.208
Stearns - 21 n.27
34 - 67 n.143
Steele - 24 n.36
51 - 85 n.185
Stern - 89 n.190
57 - 64 n.131
Stieber - 135 n.287
Tiberius (Tib.)
Stock - 64 n.133
60 - 85 n.185
Stragmalia - 13 n.2, 14 n.6, 20
68 - 85 n.85
n.26, 45, 45 n.90, 47, 48, 58
nn.117, 119, 59 n.122, 107 Vitellius (Vit.)

240
Index nominvm

17 - 85 n.185 Tártaro [mit.] - 63


Sulimani - 53 n.106 Tartésios [etn.] - 55, 152
Suter - 85 n.184 Tauro [top.] - 128
Swancutt - 91 n.195 Teágenes de Régio - 18 n.18
Sykes - 24 n.37, 34 nn.62-64, 35 Temesa [top.] - 69 n.153
nn.64, 67, 39, 40 nn.77, 78, Temporini - 45 n.92
42 n.82, 49 n.99
Teófane-carneiro [mit.] - 97 n.208
Syme - 86 n.186
Teofrasto (Thphr.) - 17 n.16, 19
n.20, 125 n.246
T Sobre animais que aparecem em
grupos, Περὶ τῶν ἀθρόως
Taciano (Tat.) - 42
φαινομένων ζῴων - 15 n.9
Oratio ad Graecos (Or.)
Characteres (Char.)
33.15-17 - 86 n.188
16.1-2 - 20 n.24, 66
Tácito (Tac.) - 44
Teopompo de Quios (Theopomp.
Annales (Ann.) Hist.) - 60, 104
6.12.1 - 111 Philippika
6.12.3 - 111 8 - 54 n.109
6.28 - 58 n.120, 145 n.326 Teopompo de Sinope
Historiae (Hist.) Acerca dos Sismos [no Bósforo de
1.2 - 64 n.131 Ciméria] - 141
2.8 - 64 n.131 Thaumasia, Θαυμάσια - 15 n.9
Taigeto (Apothetai), Monte [top.] Teosofia de Tübingen - 112 n.231
- 77 n.167 Terbécia [top.] - 107
Talo - 29 n.46, 30, 31 Terento [top.] - 154 n.342
Histórias Térina [top.] - 109
3 - 36 n.69 Termópilas [top.] - 53 n.107, 54,
Tânato [mit. ] - 68 n.149 125
Tanetana [top.] - 55, 151 Terra [mit.] - 90 n.195
Tânfio - 151 Terracina [top.] - 108
Tântalo [mit.] - 19 n.21 Tertuliano (Tert.)
Tarn - 14 n.5 ad Judaeos
Tarquínio - 112 8 - 35 n.66
Tarracina [top.] - 41 n.80 Apologeticum (Apol.)

241
Index nominvm

5 - 25 n.38 Timeu - 15 n.8


21 - 24 n.35 Timon, filha] de - 150
21.18-20 24 n.36 Tirésias [mit.] - 92, 93, 93 n.204,
De ressurrectionis carnis / De 130, 130 n.256, 131, 131
resurrectione mortuorum - n.261
31 n.51 Tirteu (Tyrt.)
Tespésio de Soloi - 65 n.136 fr. 6.7.1-2 Diehl - 104
Tessália [top.] - 54 fr. 9.32-34 Diehl - 104
Tessalónica [top.] - 71 Titãs [mit.] - 78 n.171
Thanatos (‘Morte’) [ mit.] - 64 Títio (Gigante) [mit.] - 99
n.135 Tito - 104, 150, 151
Thatcher - 93 n.203 Tito (Imperador) - 103
Thayer - 67 n.147 Tito, filho de - 150, 151
Thomas - 13 n.1, 98 n.210 Tito, liberto de - 151
Thyestes umbra [mit.] - 77 n.168 Tito António - 105, 150, 151
Tiano(a,s) [etn.] - 55, 150 Tito Camúrio Tércio - 150
Tibério César - 26, 16 n.39, 28 Tito Cotina Crisanto - 151
n.44, 29, 34, 37, 38, 40 n.77,
Tito Curtílio Mância - 56, 143
53 n.107, 101, 102, 111, 139
Tito Emílio - 149
15º ano - 29 n.47, 35, 35 n.66,
36 Tito Erúsio Pólio - 150
16º ano - 35 n.66 Tito Estatílio Tauro (Corvino) -
56, 132
18º ano - 33, 34
Tito Numério - 150
19º ano - 33 n.66, 34
Tito Petrónio - 150
Tibério Cláudio Jasão Magno -
133 n.273 Tito Purénio Tutus - 152
Tibério Nero - 53 n.107, 102, 111 Tito Sérvio Segundo - 150
Tibre, Rio [top.] - 54, 89, 143, 154 Tito Sextio Africano - 56, 143
Tíbur [top.] - 113 Tito Veterânio - 150
Tíbur, Sibila de - 113 Tito Vibio Talbio - 149
Tíc{i}o, filho de - 149 Titos - 103
Tífon [mit.] - 97 n.208 Toante, casa [mit.] - 19 n.21
Tillemont - 22 n.30, 43 n.84, 75 Toas [mit.] - 19 n.21
n.163 Tobias Magirus - 44, 44 n.88

242
Index nominvm

Tono, filho de - 150 Trombetta - 92 n.198


Torres Guerra - 89 n.190 Tucídides (Th.) - 15 n.8
Trácio(s) [etn.] - 128 5.49 - 110
Trajano - 53 n.107, 56, 57, 83, Tuner - 51 n.102
143, 144 Turélia Forense - 150
Trales [top.] - 3,-5, 11, 13 n.3, 16 Turner - 91 n.195
n.13, 21, 21 n.28, 38 n.70, 41
Tutankamon - 86 n.187
n.80, 45, 115, 147, 157
Tuzin - 123 n.245
Traliano [etn.] - 5, 9, 12, 17 n.15,
21 n.28, 25, 27, 27 n.42, 30 Tzetzes
n.50, 31, 38, 39, 41, 41 n.80, ad Lyc.
42, 45, 46, 49, 56, 58, 71, 87, 811 - 68 n.149
89, 92, 93, 105, 109
Historiarum variarum chiliades
Tranião - 77 n.168 (H.)
Trasilo - 141 2.151 - 13 n.3
Trasimedes - 70 n.154 7.10-48 - 88 n.190
Traslo - 56 7.621-760 - 18 n.17
Trentin - 84 n.182, 86 nn.186,
187
Trento [top.] - 54, 142 U
Triário - 109 Ulisses [mit.] - 69 n.153, 70 n.154
Tríbadas [etn.] - 96 n.207 Ulrichs - 13 n.16
Tribos Africanas [etn.] - 86 n.187 Universidade de Heidelberg - 17
Triburtina [top.] - 113 n.15

Tridentino [etn.] - 87 Ür.s.y.w.s. [filósofo] - 30 n.50

Trináquia [top.] - 127 Úrano [mit.] - 63, 82 n.176

Tritão (-ões) - 54 n.109


Troca Pereira - 3-5, 11, 13, 19 V
n.21, 51 n.102, 61 n.123, 68
Vaillant - 19 n.21
n.147, 77 n.168, 89 n.190, 90
n.193, 91 n.195, 130 n.256 Valério Máximo (V. Max.)
Trófilo - 16 n.13 9.1.3 - 96 n.207
Troia [top.] - 68 n.149 Valésio, Seguidores de - 90 n.195
Troia, queda de - 29 n.46, Valk - 90 n.195
Troiano(s) [etn.] - 95, 137 Vallejo Girvés -17 n.15

243
Index nominvm

Vanotti - 14 n.7, 59 n.122 7 - 21 n.28


Varrão Vóssio
Logistorici: Gallus Fundanius Harm. Ev. 1. z, cap. X - 40
de Admirandis vel De Imag- n.79
inibus de Forma Philoso-
phiae - 14 n.6
Veleia - 55
W
Veleia [top.] - 149 Wace - 51 n.102
Velitra [top.] - 108 Wadi Ze’elim - 29 n.45
Vénus [mit.] - 91 n.196 Waddington - 31 n.55
Vernant - 23 n.32 Walker - 53 n.106
Vespasiano - 103 Walters - 110 n.225
Vetta - 18 n.17 Wehrli - 19 n.20, 125 n.246, 131
n.259
Veyne - 82 n.177, 86 n.186
Weiss - 39, 39 n.72
Vickers - 18 n.17
Wenskus - 13 n.1
Vinício - 35 n.66
West - 29 n.46, 31 n.52
Virgílio (Verg.) - 108
Westermann - 48, 59 n.122
Aeneis (A.)
Westmoreland - 61 n.123
1.353-356 - 65
Whiston - 24 n.37, 35 n.64, 39
2.270-279 - 65
Whitmarsh - 22 n.31
4.450-476 - 69 n.151
Williams - 29 n.45, 36 n.68, 143
Georgica (G.)
n.316
2.47.478-480 - 36 n.69
Wilmot - 24 n.37
Virgínia - 69
Winiarczyk - 19 n.21
Vitélio - 85 n.185
Winkler - 91 n.195, 97 n.208
Vitrúvio
Wipprecht - 18 n.19, 19 n.22
8.3.4 - 17 n.13
Wiseman - 53 n.106
8.3.12 - 17 n.13
Wittkower - 18 n.17
8.3.14 - 17 n.13
Wolf - 51 n.102
8.3.17 - 17 n.13
Woolf - 84 n.182
Von Blumenthal - 89 n.190
Worthington - 117 n.233
Vopisco
Saturnino

244
Index nominvm

X Zeus Crónida - 126


Xamanismo - 65 Zeus-fogo - 97 n.208
Xanto da Lídia - 15 n.8 Zeus-sátiro - 97 n.208
Xenófanes de Cólofon - 18 n.18, Zeus-serpente - 97 n.208
106 Zeus-touro - 97 n.208
DK 21 B 20 - 106 Zeus Xenios - 75, 111, 120
Xenofonte (X.) - 104 Zeus, filho de - 109
Anabasis (An.) Ziegler - 13 n.1
1.2.13 - 54 n.109 Zwierlein - 83 n.178
Institutio Cyri Cyropaedia
(Cyr.)
4.3.19-20 - 88 n.190
Xifilino
apud Sykes 1732: 77g - 42 n.82
Xilandro - 46, 48

Z
Zagreu [mit.] - 62 n.127, 63, 78
n.171
Zalmoxis - 64 n.131
Zatchlas - 61 n.123
Zecedente - 150
Zeitlin - 62 n.127, 97 n.208
Zenão - 17
Zeus [mit.] - 68 n.49, 82 n.176, 88
n.190, 90 n.195, 94, 96 n.207,
97 n.208, 98 n.212, 101, 109,
126 n.248, 127, 131, 131
n.259, 154, 160
Zeus-águia - 97 n.208
Zeus Alexikakos - 111, 132
Zeus/Anfitrião - 109, 110
Zeus Apotropaios - 59, 80, 126
Zeus-cisne - 97 n.208

245
(Página deixada propositadamente em branco)
Volumes publicados na Coleção Autores
Gregos e Latinos – Série Textos Gregos

1. Delfim F. Leão e Maria do Céu Fialho: Plutarco. Vidas Paralelas – Teseu


e Rómulo. Tradução do grego, introdução e notas (Coimbra,
CECH, 2008).
2. Delfim F. Leão: Plutarco. Obras Morais – O banquete dos Sete Sábios.
Tradução do grego, introdução e notas (Coimbra, CECH, 2008).
3. Ana Elias Pinheiro: Xenofonte. Banquete, Apologia de Sócrates. Tradução
do grego, introdução e notas (Coimbra, CECH, 2008).
4. Carlos de Jesus, José Luís Brandão, Martinho Soares, Rodolfo Lopes:
Plutarco. Obras Morais – No Banquete I – Livros I-IV. Tradução do
grego, introdução e notas. Coordenação de José Ribeiro Ferreira
(Coimbra, CECH, 2008).
5. Ália Rodrigues, Ana Elias Pinheiro, Ândrea Seiça, Carlos de Jesus, José
Ribeiro Ferreira: Plutarco. Obras Morais – No Banquete II – Livros
V-IX. Tradução do grego, introdução e notas. Coordenação de
José Ribeiro Ferreira (Coimbra, CECH, 2008).
6. Joaquim Pinheiro: Plutarco. Obras Morais – Da Educação das Crianças.
Tradução do grego, introdução e notas (Coimbra, CECH, 2008).
7. Ana Elias Pinheiro: Xenofonte. Memoráveis. Tradução do grego,
introdução e notas (Coimbra, CECH, 2009).
8. Carlos de Jesus: Plutarco. Obras Morais – Diálogo sobre o Amor, Relatos
de Amor. Tradução do grego, introdução e notas (Coimbra,
CECH, 2009).
9. Ana Maria Guedes Ferreira e Ália Rosa Conceição Rodrigues: Plutarco.
Vidas Paralelas – Péricles e Fábio Máximo. Tradução do grego,
introdução e notas (Coimbra, CECH, 2010).
10. Paula Barata Dias: Plutarco. Obras Morais - Como Distinguir um
Adulador de um Amigo, Como Retirar Benefício dos Inimigos, Acerca
do Número Excessivo de Amigos. Tradução do grego, introdução e
notas (Coimbra, CECH, 2010).
11. Bernardo Mota: Plutarco. Obras Morais - Sobre a Face Visível no
Orbe da Lua. Tradução do grego, introdução e notas (Coimbra,
CECH, 2010).
12. J. A. Segurado e Campos: Licurgo. Oração Contra Leócrates. Tradução
do grego, introdução e notas (Coimbra, CECH /CEC, 2010).
13. Carmen Soares e Roosevelt Rocha: Plutarco. Obras Morais - Sobre o
Afecto aos Filhos, Sobre a Música. Tradução do grego, introdução e
notas (Coimbra, CECH, 2010).
14. José Luís Lopes Brandão: Plutarco. Vidas de Galba e Otão. Tradução
do grego, introdução e notas (Coimbra, CECH, 2010).
15. Marta Várzeas: Plutarco. Vidas de Demóstenes e Cícero. Tradução do
grego, introdução e notas (Coimbra, CECH, 2010).
16. Maria do Céu Fialho e Nuno Simões Rodrigues: Plutarco.
Vidas de Alcibíades e Coriolano. Tradução do grego, introdução
e notas (Coimbra, CECH, 2010).

17. Glória Onelley e Ana Lúcia Curado: Apolodoro. Contra Neera.


[Demóstenes] 59. Tradução do grego, introdução e notas
(Coimbra, CECH, 2011).

18. Rodolfo Lopes: Platão. Timeu-Critías. Tradução do grego,


introdução e notas (Coimbra, CECH, 2011).

19. Pedro Ribeiro Martins: Pseudo-Xenofonte. A Constituição dos


Atenienses. Tradução do grego, introdução, notas e índices
(Coimbra, CECH, 2011).

20. Delfim F. Leão e José Luís L. Brandão: Plutarco.Vidas de Sólon


e Publícola. Tradução do grego, introdução, notas e índices
(Coimbra, CECH, 2012).
248
21. Custódio Magueijo: Luciano de Samósata I. Tradução do grego,
introdução e notas (Coimbra, CECH/IUC, 2012).

22. Custódio Magueijo: Luciano de Samósata II. Tradução do gre-


go, introdução e notas (Coimbra, CECH/IUC, 2012).

23. Custódio Magueijo: Luciano de Samósata III. Tradução do


grego, introdução e notas (Coimbra, CECH/IUC, 2012).

24. Custódio Magueijo: Luciano de Samósata IV. Tradução do


grego, introdução e notas (Coimbra, CECH/IUC, 2013).

25. Custódio Magueijo: Luciano de Samósata V. Tradução do grego,


introdução e notas (Coimbra, CECH/IUC, 2013).

26. Custódio Magueijo: Luciano de Samósata VI. Tradução do


grego, introdução e notas (Coimbra, CECH/IUC, 2013).

27. Custódio Magueijo: Luciano de Samósata VII. Tradução do


grego, introdução e notas (Coimbra, CECH/IUC, 2013).

28. Custódio Magueijo: Luciano de Samósata VIII. Tradução do


grego, introdução e notas (Coimbra, CECH/IUC, 2013).

29. Custódio Magueijo: Luciano de Samósata IX. Tradução do


grego, introdução e notas (Coimbra, CECH/IUC, 2013).

30. Reina Marisol Troca Pereira: Hiérocles e Filágrio. Philogelos (O


Gracejador). Tradução do grego, introdução e notas (Coimbra,
CECH/IUC, 2013).

31. J. A. Segurado e Campos: Iseu. Discursos. VI. A herança de


Filoctémon. Tradução do grego, introdução e notas (Coimbra,
CECH/IUC, 2013).

32. Nelson Henrique da Silva Ferreira: Aesopica: a fábula esópica


e a tradição fabular grega. Estudo, tradução do grego e notas.
(Coimbra, CECH/IUC, 2013).
249
33. Carlos A. Martins de Jesus: Baquílides. Odes e Fragmentos
Tradução do grego, introdução e notas (Coimbra e São Paulo,
IUC e Annablume, 2014).

34. Alessandra Jonas Neves de Oliveira: Eurípides. Helena.


Tradução do grego, introdução e notas (Coimbra e São Paulo,
IUC e Annablume, 2014).

35. Maria de Fátima Silva: Aristófanes. Rãs. Tradução do grego,


introdução e notas (Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume,
2014).

36. Nuno Simões Rodrigues: Eurípides. Ifigénia entre os tauros.


Tradução do grego, introdução e notas (Coimbra e São Paulo,
IUC e Annablume, 2014).

37. Aldo Dinucci & Alfredo Julien: Epicteto. Encheiridion.


Tradução do grego, introdução e notas (Coimbra e São Paulo,
IUC e Annablume, 2014).

38. Maria de Fátima Silva: Teofrasto. Caracteres. Tradução do


grego, introdução e comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e
Annablume, 2014).

39. Maria de Fátima Silva: Aristófanes. O Dinheiro. Tradução do


grego, introdução e comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e
Annablume, 2015).

40. Carlos A. Martins de Jesus: Antologia Grega, Epigramas


Ecfrásticos (Livros II e III). Tradução do grego, introdução e
comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2015).

41. Reina Marisol Troca Pereira: Parténio. Sofrimentos de Amor.


Tradução do grego, introdução e comentário (Coimbra e São
Paulo, IUC e Annablume, 2015).

250
42. Marta Várzeas: Dionísio Longino. Do Sublime. Tradução do
grego, introdução e comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e
Annablume, 2015).

43. Carlos A. Martins de Jesus: Antologia Grega. A Musa dos Rapazes


(livro XII). Tradução do grego, introdução e comentário
(Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2017).

44. Carlos A. Martins de Jesus: Antologia Grega. Apêndice de


Planudes (livro XVI). Tradução do grego, introdução e
comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2017).

45. Ana Maria César Pompeu, Maria Aparecida de Oliveira Silva


& Maria de Fátima Silva: Plutarco. Epítome da Comparação
de Aristófanes e Menandro. Tradução do grego, introdução e
comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2017).

46. Reina Marisol Troca Pereira: Antonino Liberal. Metamorfoses


(Μεταμορφώσεων Συναγωγή). Tradução do grego,
introduçãoe comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e
Annablume, 2017).

47. Renan Marques Liparotti: Plutarco. A Fortuna ou a Virtude de


Alexandre Magno. Tradução do grego, introdução e comentário
(Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2017).

48. Carlos A. Martins de Jesus: Antologia grega. Epigramas Vários


(livros IV, XIII, XIV, XV). Tradução do grego, introdução e
comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2017).

49. Maria de Fátima Silva: Cáriton. Quéreas e Calírroe. Tradução


do grego, introdução e comentário (Coimbra e São Paulo, IUC
e Annablume, 2017).

251
50. Ana Alexandra Alves de Sousa (coord.): Juramento. Dos fetos de
oito meses. Das mulheres inférteis. Das doenças das jovens. Da
superfetação. Da fetotomia. Tradução do grego, introdução e
comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2018).

51. Carlos A. Martins de Jesus: Antologia grega. Epigramas de


autores cristãos (livros I e VIII). Tradução do grego, introdução
e comentário (Coimbra, IUC, 2018).

52. Carlos A. Martins de Jesus: Antologia grega. Epigramas eróticos


(Livro V). Tradução do grego, introdução e comentário
(Coimbra, IUC, 2018).

53. Carlos A. Martins de Jesus: Antologia grega. Epigramas votivos


e morais (livros VI e X). Tradução do grego, introdução e
comentário (Coimbra, IUC, 2018).

54. Maria de Fátima Silva: Pseudo-Eurípides. Reso. Tradução do


grego, introdução e comentário (Coimbra, IUC, 2018).

55. Reina Marisol Troca Pereira: Flégon de Trales Phlegon of


Tralles.História, Histórias e Paradoxografia: Opera Omnia,
introdução e comentário (Coimbra, IUC, 2018).

252
Autor clássico tardio de expressão grega, Flégon Trales
ganhou notoriedade reconhecida por séculos, através
de obra mormente perdida para a hodiernidade, à
exceção de alguns fragmentos e secções de Sobre Ma-
ravilhas, Acerca de Vidas Longas e Sobre as Olimpíadas.
Poderia constituir apenas mais um legado a acrescentar
a tantos outros. Porém, a escrita de Flégon mostra-se
enriquecedora, permitindo assistir a notas orientais; à
assimilação cultural empreendida pelos dominadores
militares romanos; à vivência e ao valor de elementos
tradicionais pagãos num paradigma judaico-cristão
que em certos casos demonstra a apropriação indevida
e abusiva de afirmações do historiador traliano. Os te-
mas poderão simplesmente entender-se como matéria
leviana de gosto popular, marcada pela exploração de
temáticas grotescas e assombrosas. Porém, uma exege-
se distinta proporcionará uma elevação dos opuscula
do Traliano, se entendidos como invólucros enigmáti-
cos de realidades sociais com atualidade então e agora.
OBRA PUBLICADA
COM A COORDENAÇÃO
CIENTÍFICA

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