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Série Autores Gregos e Latinos
Flégon de Trales
História, Histórias
e Paradoxografia:
Opera Omnia
ISSN: 2183-220X
Diretoras Principais
Main Editors
Assistentes Editoriais
Editoral Assistants
Comissão Científica
Editorial Board
Flégon de Trales
História, histórias
e paradoxografia:
Opera Omnia
ISSN
2183-220X
ISBN
978-989-26-1741-1
© Março 2019
ISBN Digital
978-989-26-1742-8 Imprensa da Universidade de Coimbra
Classica Digitalia Vniversitatis
DOI Conimbrigensis
https://doi.org/10.14195/978-989-26- http://classicadigitalia.uc.pt
1742-8 Centro de Estudos Clássicos e
Humanísticos da Universidade de
Coimbra
Filiação Affiliation
Universidade da Beira Interior University of Beira Interior
Resumo
Autor clássico tardio de expressão grega, Flégon Trales ganhou notoriedade re-
conhecida por séculos, através de obra mormente perdida para a modernidade, à
exceção de alguns fragmentos e secções de Sobre Maravilhas, Acerca de Vidas Lon-
gas e Sobre as Olimpíadas. Poderia constituir apenas mais um legado a acrescentar
a tantos outros. Porém, a escrita de Flégon mostra-se enriquecedora, permitindo
assistir a notas orientais; à assimilação cultural empreendida pelos dominadores
militares romanos; à vivência e ao valor de elementos tradicionais pagãos num
paradigma judaico-cristão que em certos casos demonstra a apropriação indevida
e abusiva de afirmações do historiador traliano. Os temas poderão simplesmente
entender-se como matéria leviana de gosto popular, marcada pela exploração de
temáticas grotescas e assombrosas. Porém, uma exegese distinta proporcionará
uma elevação dos opuscula do Traliano, se entendidos como invólucros enigmáti-
cos de realidades sociais com atualidade então e agora.
Palavras-chave
Paradoxografia, história/histórias, mito, a-normalidade(s).
Abstract
Late classical author of Greek expression, Phlegon of Tralles was recognized for
centuries, through his work. Most of the books of the emperor Hadrian’s freed-
man are currently lost, with the exception of some fragments and sections of On
Marvels, On Long-Lived Persons and the Olympiads. It could be just another legacy
to add to so many others. However, the writing of Flégon is enriching, preserving
oriental notes; the cultural assimilation undertaken by the Roman military domina-
tors; the experience and the value of pagan traditional elements in a Judeo-Christian
paradigm which in some cases demonstrates the misappropriation and misuse of some
statements made by the Historian from Tralles. The themes can simply be understood
as light issues of popular taste, marked by the exploration of grotesque and astonishing
themes. However, a distinct exegesis will provide the elevation of Phlegon’s opuscula,
as enigmatic containers of social realities maintaining an up-to-date character.
Keywords
Paradoxography, history/stories, myth, (ab)normalities.
Autora
Author
8
Sumário
Prefácio 11
9
Traduções
Sobre Maravilhas115
Acerca de Vidas Longas147
Sobre as Olimpíadas157
Bibliografia 162
Index Nominvm197
10
1. Prolegómenos: Paradoxografia - Apreciações gerais
Prefácio
11
Reina Marisol Troca Pereira
* * *
Cabe agora prestar devido reconhecimento aos mestres
que, desde o início, manifestaram disponibilidade e altruísmo
incondicionais na partilha dos seus saberes, nas suas avaliações,
comentários, aconselhamentos e, em particular, ao Professor
Doutor Delfim Leão, Docente da Faculdade de Letras da Uni-
versidade de Coimbra e Diretor do Centro de Estudos Clássicos
e Humanísticos (CECH), entidade magistral para divulgar
plúrimas análises na área a que se consagra.
27 de novembro de 2017
Reina Marisol Troca Pereira
12
1. Prolegómenos: Paradoxografia - Apreciações gerais
1. Prolegómenos:
Paradoxografia - Apreciações gerais
1
Vd. Ziegler 1949; Dodds 1973; D’Ippolito 1980; Hansen 1996;
Silva Sánchez 1996; Wenskus — Daston 2000; Thomas 2004.
2
Vd. Stramaglia 1999, 2006.
3
O vocábulo ‘paradoxógrafo’ pertence ao bizantino Tzetzes (H.
2.151), a propósito de Antémio de Trales. Cf. Giannini 1966.
4
Em termos semânticos, o género (cf. literatura do maravilho-
so - παράδοξος, ‘incrível’, ‘inesperado’, ‘contra a δόξα maioritária’;
παραδοξολογία - vd. Aeschin. 72.14; Plb. 3.47; παραδοξολογέω - vd. Strat.
13.4.5; D.S. 1.69; opostamente a ἔνδοξος, ‘esperado’. Cf. Pl. R. 472a), recor-
re a lexemas como θαῦμα (‘assombro’), θαυμάσιος, θαυμαστός, θαυμαστός,
παράδοξος, ἄπιστος (‘incrível’. Cf. lat. Mirabilia/Admiranda), ἴδιος (‘pe-
culiar’), τερατώδης, (τέρας/monstrum); περιττός; ἄξιος (vd. θέης ἄξιος,
λόγου ἄξιος, μνήμης ἄξιος). Ainda que a paradoxografia não configure
propriamente um género literário, a tradição retrata descrições assombrosas
/ recontos fantásticos sobre fenómenos naturais, que funcionam como expli-
cações assombrosas (cf. Antig. Mir. 60: καὶ πεπείραται ἐξηγητικώτερον
ἢ ἱστορικώτερον ἐν ἑκάστοις ἀναστρέφεσθαι, “e tenta tratar-se cada caso
de um modo mais explicativo do que descritivo”), à falta de interpretações
racionalistas (cf., a título ilustrativo sumário, Archil. fr. 122 West, a respeito
do eclipse solar de 648 a.C. Sobre a paradoxografia enquanto género literário,
vd. Cavallo 1975; Pugliara 2002; Ferrini 2003; Pajón Leyra 2011, 2012.
5
Vd. Jacob 1983; Schepens — Delcroix 1996; Troca Pereira 2016c.
Os paradoxógrafos, segundo Apolónio (6.7.3-4), não deveriam limitar-se
a reproduzir relatos assombrosos. A este propósito, importará considerar
13
Reina Marisol Troca Pereira
14
1. Prolegómenos: Paradoxografia - Apreciações gerais
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Reina Marisol Troca Pereira
12
Vd. Agatárquides (e.g. Τῶν κατὰ τῆν Ἀσίαν, Acontecimentos da Ásia;
Τῶν κατὰ τῆν Εὐρώπην, Acontecimentos da Europa; Περὶ τῆς Ἐρυθρᾶς
θαλλάσσης, Sobre o Mar Vermelho; Ἐπιτομὴ τῶν συγγεγραφότων
θαυμασίων, Compêndio de Escritores de Maravilhas; Περὶ ἀνέμων
[ἀνθρώπων], Sobre ventos); Heraclides Lembo (e.g. Ἱστοριῶν παραδόξων
συναγωγή, Histórias Admiráveis); Isígono (e.g. Ἄπιστα, Coisas Inacredi-
táveis); Nicolau Damasceno, Παραδόξων ἐθῶν συναγωγή, Recolha de
usos e costumes admiráveis; Ἱστορία καθολική, História Universal; Ἐθῶν
συναγωγή, Compilação de Costumes); Diófanes.
13
Vd. Agatóstenes; Africano (e.g. Κεστοί, Kestoi); Alexandre (e.g.
Θαυμασίων συναγωγή, Coleção de Maravilhas); Arístocles; Flégon
de Trales (e.g. Ἔκφρασις Σικελίας, Descrição da Sicília; Περὶ τῶν ἐν
Ῥώμῃ τόπων, Topografia Romana; Περὶ τῶν παρὰ Ῥωμαίοις ἑορτῶν,
Sobre Festividades dos Romanos; Περὶ θαυμασίων, Fenómenos Assombro-
sos; Ἐπιτομὴ ὀλυμπιονικῶν, Catálogo de Vencedores Olímpicos; Περὶ
μακροβίων, Acerca de Vidas Longas); Damáscio; Hierão; [Plutarco],
séc. I/II (e.g. Περὶ ποταμῶν καὶ ὀρῶν ἐπωνυμίας καὶ τῶν ὲν αὐτοῖς
εὑρισκομένων, De fluviis); Eliano (e.g. Περὶ ζῴων ἰδιότητος, Acerca
de Características dos Animais); Luciano (e.g. Ἀληθῆ διηγήματα,
Histórias Verdadeiras); Protágoras (e.g. Γεωγραφία τῆς οἰκουμένης,
Geografia - esp. l.6); Sotion; Trófilo. Cf., outrossim, Cláudio Eliano,
séc. I /II (Περὶ ζῴων ἰδιότητος, De Natura Animalium); Antémio de
Trales, séc. V/VI (Περί παραδόξων μηχανημάτων, Sobre máquinas
fantásticas); no séc. XI, Pselo (Περὶ παραδόξων ἀκουσμάτων, Sobre
maravilhas escutadas). Cf., a propósito de produção literária do maravi-
lhoso disponível, Phot. Bibl. 130: Ἀνεγνώσθη Δαμασκίου λόγοι δ’, ὧν
ὁ μὲν πρῶτος ἐπιγραφὴν ἔχει περὶ παραδόξων ποιημάτων κεφάλαια
τνβ’, ὁ δὲ δεύτερος παραδόξων περὶ δαιμονίων διηγημάτων
κεφάλαια νβ’, ὁ δὲ τρίτος περὶ τῶν μετὰ θάνατον ἐπιφαινομένων
ψυχῶν παραδόξων διηγημάτων κεφάλαια ξγ’, ὁ δὲ τέταρτος καὶ
παραδόξων φύσεων κεφάλαια ρε’. Ἐν οἷς ἅπασιν ἀδύνατά τε
καὶ ἀπίθανα καὶ κακόπλαστα τερατολογήματα καὶ μωρὰ καὶ ὡς
ἀληθῶς ἄξια τῆς ἀθεότητος καὶ δυσσεβείας Δαμασκίου, ὃς καὶ τοῦ
φωτὸς τῆς εὐσεβείας τὸν κόσμον πληρώσαντος, αὐτὸς ὑπὸ βαθεῖ
σκότῳ τῆς εἰδωλολατρείας ἐκάθευδε. “Li uma obra de Damáscio,
em quatro livros, o primeiro dos quais, com 352 capítulos, intitulado
Acerca de Acontecimentos Incríveis; o segundo, com 52 capítulos, Acerca
de Incríveis Recontos de Demónios; o terceiro, com 63 capítulos, Sobre
Inacreditáveis histórias de Almas aparecidas após a Morte; o quarto, com
105 capítulos, Sobre Inacreditáveis Aspetos Naturais. Continham todos
recontos impossíveis, inacreditáveis, monstruosidades, feitos de insen-
satez, como se fossem verdades, dignos do homem ateu e ímpio que
foi Damáscio, o qual, quando a luz da piedade alumiava o mundo, se
16
1. Prolegómenos: Paradoxografia - Apreciações gerais
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Cf. a paradoxografia enquanto produto exótico, gerador de curiosi-
dade face a diferenças culturais, numa linha de confronto entre resistên-
cia e popularidade/populismo, também presente na literatura convivial/
de simpósio, conforme se depreende a partir do testemunho de Gell.
9.4 (e.g. Pl. Smp.; Gell. Noctes Atticae; Plutarco, Quaestiones conviviales;
Ateneu, Δειπνοσοφισταί, Deipnosophistai; Macróbio, Saturnalia 7. Cf.
a lista de Tzetzes, H. 7.621-760, contendo igualmente autores de teste-
munhos literários reduzidos a fragmentos). Cf. Wittkower 1942; Martin
1968; Vickers 1978; Vetta 1995; Hammer 2004; Matthäus 1999‐2000.
18
Importa considerar diversas fases no tocante ao tratamento da
mitologia. Por um lado, como um ramo da genealogia, historiografia
ou filosofia. Assim Xenófanes, séc. VI a.C.; Hecateu, final séc. VI a.C.,
Genealogias; Teágenes de Régio, séc. VI a.C., tratando os deuses como
personificações de qualidades (cf. faltas também) ou elementos morais;
Acusilau, Ferécides; Helânico. Numa segunda fase, o tratamento do mito
de forma racionalista ou pragmática (Evémero. Cf. Paléfato, Heraclito)
e alegórica, pretendendo vislumbrar mais num mito do que a história
parece aparentar à primeira vista; alterações motivadas por questões
literárias e continuado por filósofos do final do século VI a.C. (Estesí-
coro, Xenófanes) [Estesícoro filósofo?]. Vd. Protágoras; Pródico de Ceos;
filósofos estoicos, cínicos (método alegórico); Heródoto; Herodoro (mé-
todo pragmático). Já no Período Helenístico, constata-se que os autores
se limitam mormente a compilar, não a interpretar. Vd. Eratóstenes,
Parténio, Cónon, Antonino Liberal; no cenário latino, Higino e Ovídio.
19
Vd. Wipprecht 1902. Sobre ‘racionalização’, ‘desmistificação’, vd.
Miller 2014.
20
Cf., numa aceção racionalista, ‘mito’ enquanto erro/mal-entendido
da história, corrigido por força de disciplinas científicas/domínios do
18
1. Prolegómenos: Paradoxografia - Apreciações gerais
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24
Cf. milagre, transversalmente a credos clássicos (e.g. curas medici-
nais; Asclépio) e ao paradigma judaico-cristão, ligando-se à hagiografia;
recontos de poltergeist (poltergeist – ‘espírito ruidoso’; aparições - εἴδωλον
-(Ϝ)εἶδος, ‘forma’, εἴδω, ‘ver’, perf. οἶδα – subst. ὄψις; εἴδομαι, ‘parecer’;
ψυχή, σκιά, ἴνδαλμα, φάσμα / φάντασμα. Cf. φάω, φαίνω, ‘ver’ / mons-
trum, manes, umbra, effigies, simulacrum, imago); magia, tautologia e até
a crendices populares sacrílegas/apóstatas; superstições (vd. Petron. 62);
cobardice (perante o sobrenatural). Partindo da imortalidade da alma,
vd. orfismo, estoicismo, Od. 11.219-222; Pl. Men. 81b, experiências de
quase-morte; sonhos, omina, fraudes; remorso; justiça; religiosidade
(cerimónias místicas/propiciatórias a entidades ctónicas vd. Thphr. Char.
16.1-2); monstruosidades e magia (cf. Pselo 72‐74). Vd. Alderink 1981;
Lateiner 1989; Gager 1992; Kingsley 1995; Mudry 2004; Patera 2014;
Petsalis-Diomidis 2010: 153.
25
Vd. Bremmer 2012.
26
Cf. Pecere — Stramaglia 1994; Schepens — Delcroix 1996.
20
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
27
Moisés de Corene, historiador arménio do século V (História da
Arménia 2.13, onde transcreve - sem reproduzir o alegado espécime gre-
go, nem mencionar a fonte - um excerto de Flégon sobre o rei dos Partos,
Ardaques, o que, segundo Pajón Leyra 2012: 150, poderia relacionar-se
com Mir. 3), menciona o historiador Flélton, provavelmente um erro dos
copistas, segundo Victor Langlois 1869: 87, que traduz o texto, grafando
“Phléton (Phlégon)”. Vd. Stearns 1908.
28
A enciclopédia é parca nas informações transmitidas, embora
nela conste a referência a obras atualmente perdidas, como Ἔκφρασιν
Σικελίας (Descrição da Sicília), Περὶ τῶν παρὰ Ῥωμαίοις ἑορτῶν (Dos
Festivais dos Romanos), Περὶ τῶν ἐν Ῥώμῃ τόπων καὶ ὧν ἐπικέκληται
ὀνομάτων (Topografia e Onomástica de Roma), Ἐπιτομὴν ὀλυμπιονικῶν
(Epítome dos Vencedores Olímpicos) e se sinta algum desconforto na gestão
entre o pagão e o cristão. Importará, outrossim, constatar a divergência
de opiniões quanto à pertença de Flégon - se a Augusto ou a Adriano,
pese embora a inexistência de comentário face ao facto de Augusto ter
falecido no ano 14, o que adulteraria em muito a cronologia associada
ao Traliano. Eis pois φ527: Φλέγων, Τραλλιανός, ἀπελεύθερος τοῦ
Σεβαστοῦ καίσαρος, οἱ δὲ Ἀδριανοῦ φασιν: ἱστορικός. ἔγραψεν
Ὀλυμπιάδας ἐν βιβλίοις ιϝ’: ἔστι δὲ μέχρι τῆς σκθ# ὀλυμπιάδος τὰ
πραχθέντα πανταχοῦ: τὰ δὲ αὐτὰ ἐν βιβλίοις η’: Ἔκφρασιν Σικελίας,
Περὶ μακροβίων καὶ θαυμα- σίων, Περὶ τῶν παρὰ Ῥωμαίοις ἑορτῶν
βιβλία γ’, Περὶ τῶν ἐν Ῥώμῃ τόπων καὶ ὧν ἐπικέκληνται ὀνομάτων,
Ἐπιτομὴν ὀλυμπιονικῶν ἐν βιβλίοις β’, καὶ ἄλλα. τούτου τοῦ
Φλέγοντος, ὥς φησι Φιλοστόργιος, ὅσον τὰ κατὰ τοὺς Ἰουδαίους
συμπεσόντα διὰ πλείονος ἐπεξελθεῖν τοῦ πλάτους, Φλέγοντος καὶ
Δίωνος βραχέως ἐπιμνησθέντων καὶ παρενθήκην αὐτὰ τοῦ οἰκείου
λόγου ποιησαμένων. ἐπεὶ τῶν γε εἰς εὐσέβειαν καὶ τὴν ἄλλην ἀρετὴν
ἑλκόντων οὐδ’ ὁτιοῦν οὐδ’ οὗτος δείκνυται πεφροντικώς, ὅνπερ οὐδ’
ἐκεῖνοι τρόπον. τοὐναντίον μὲν οὖν ὁ Ἰώσηπος καὶ δεδοικότι ἔοικε
καὶ εὐλαβουμένῳ ὡς μὴ προσκρούσειεν Ἕλλησι. “Flégon, de Trales.
Liberto de Augusto César, embora alguns refiram Adriano [viz. Vopisco
Saturnino 7; Phot. Bibl. 97]: historiador. Redigiu Olimpíadas, em 16
livros. Até à 229ª Olimpíada contém o que se fez em toda a parte. E
estas [obras] em 8 livros: Descrição da Sicília, Sobre Vidas Longas, Sobre as
21
Reina Marisol Troca Pereira
Festas dos Romanos - 3 livros, Sobre os lugares em Roma e os nomes por que
são chamados, Epítome dos vencedores olímpicos, em dois livros, e outras
coisas. Sobre este Flégon, conforme refere Filostórgio para reportar com-
pletamente ao pormenor o que aconteceu com os Judeus, ao passo que
Flégon e Dío mencionaram brevemente e fizeram deles um apêndice das
suas narrativas. Uma vez que este indivíduo não exibe prudentemente os
que conduzem à piedade e outras virtudes, tal como os outros também
o não fazem. José, pelo contrário, é como alguém que teme e cuida para
não ofender os Gregos [pagãos].” Cf. Filostórgio, História Eclesiástica 1.1.
Vd. Hansen 1998.
29
Vd. Schöll 1824; Santoni 2000; Brodersen 2002b; Samson 1989.
30
Cf., a título ilustrativo, Tillemont 1691: 266-268.
31
Importa considerar, na Roma de um período de helenização, após
a conquista militar da Grécia, algumas notas de anti-helenismo, num
sentido seguido por Catão, o Antigo (ou Censor, séc. III/II a.C.), ou seja,
condenando uma aculturação extrema. Cf., mais próximo de Flégon no
tempo, Juvenal (séc. I/II), ao dar voz a críticas de tom discriminatório
e xenófobo próprio das civilizações da Antiguidade Clássica, mediante
as quais todo o cidadão externo se integra na ‘barbárie’. Aproveita, em
particular, o uso de cativos recolhidos sobretudo em zonas mais orientais
do Império Romano, como sendo gregos. Vd., neste sentido, excertos
da terceira sátira (60-61, 69-71). Cf., de igual modo, ainda que com
justificadas reservas, algum intuito da obra de Flégon, condicente com
a Segunda Sofística Romana (autores gregos, desde Nero até c. 250). Vd.
Anderson 1993; Whitmarsh 2013; König 2013.
22
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
32
Cf. Vernant 1980; Rudhardt 1992.
33
Vd. Chaudon 1737-1817.
34
Cf. Nash 2003.
23
Reina Marisol Troca Pereira
35
Cf. Lardner 1764: 374, mediante o qual Tertuliano (Apol. 21) é a
mais vetusta fonte literária a relatar o evento, não nomeando Flégon (cf.
Huet, Dem. Ev. Prop. 3.8; Grotius, De Verit. Rel. Christ. 1.3.14), mas
quiçá baseando-se no registo remetido por Pôncio Pilatos ao Imperador:
Eodem momento dies medium orbem signante sole subducta est. Deliquium
utique putauerunt qui id quoque super Christo praedicatum non scierunt.
Et tamen eum mundi casum relatum in arcanis [al. archivis] vestris habetis.
“Nessa ocasião, ao meio-dia, houve uma grande escuridão. Pensaram
tratar-se de um eclipse, eles que não sabiam que isto foi previsto no
tocante a Cristo. E alguns negaram-no, desconhecendo a causa de tal
escuridão. E não obstante, tendes este notável acontecimento registado
no teu arquivo”.
36
Vd. Steele 2012. Cf. Tertuliano, Apologeticum 21.18-20, sobre o
eclipse e quem, desconhecendo as profecias, julgou sobre a impossibilida-
de da sua ocorrência, mediante as leis da Natureza. Ainda assim, o relato
foi conservado. Sobre a ‘escuridão’, vd. Anonymus 1733.
37
Considerem-se, ainda assim, notas e contestações sobre a ‘escu-
ridão’ recordadas em bibliografia oitocentista: Sykes 1732, 1733, 1734;
Wilmot 1733; Dawson 1734; Chapman 1735. Cf. Whiston 1734.
24
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
a. Orígenes
Sem citar diretamente o apontamento de Flégon, o grego
Orígenes Adamâncio dá conta da notícia do Traliano, com um
pendor crítico notoriamente faccioso, da parte de um teólogo face
a um pagão. Logo de início, ressalta de Orígenes um conhecimen-
to, quiçá generalizado, sobre a obra de Flégon, que menciona de
memória, porquanto incapaz de creditar com exatidão a informa-
ção na obra de Flégon, ainda que tenha reiterado a alusão - “livro
treze ou catorze das Crónicas”39. Eis, seguidamente, a passagem
38
Cf. alguma preocupação propagandística no relato de assombros
miraculosos. Vd., nesse sentido, o relato de Dio Cássio 71.9, relativo ao
recurso de Marco Aurélio (ano 172) ao grupo de Cristãos (legio XII: legio
fulminata) que integravam a sua tropa, face a uma derrota quase inevitá-
vel, sendo conhecido que o Deus cristão acedia ao pedido dos seus fiéis,
donde os raios e a chuva que se abateriam sobre os inimigos. Eis, ἀλλ᾿ οἱ
῾´Ελληνες, ὅτι μὲν τὸ τάγμα κεραυνοβόλον λέγεται, ἴσασι καὶ αὐτοὶ
μαρτυροῦσι, τὴν δὲ αἰτίαν τῆς προσηγορίας ἥκιστα λέγουσι. “Mas os
Gregos, embora soubessem que a divisão se chamava ‘fulminada’ e eles
mesmos tivessem assistido ao evento, não dizem nada acerca da razão do
seu nome.” Subentende-se, assim, a existência de um confronto entre a
divindade que garantia a soberania romana (Júpiter) e a divindade cristã
(Deus), com a primazia desta última. Já com autores assumidamente
cristãos, a questão assume contornos miraculosos, obtidos graças a preces
dos cristãos, conforme terá reconhecido o próprio Imperador Marco
Aurélio (Tert. Apol. 5. Cf. Eus., Historia Ecclesiastica 5.5). Vd. Charles
— Demy 2010.
39
Cf. Cels. 2.14 e, adiante, 2.33: Περὶ δὲ τῆς ἐπὶ Τιβερίου Καίσαρος
ἐκλείψεως, οὗ βασιλεύοντος καὶ ὁ Ἰησοῦς ἔοικεν ἐσταυρῶσθαι, καὶ
περὶ τῶν μεγάλων τότε γενομένων σεισμῶν τῆς γῆς ἀνέγραψε καὶ
Φλέγων ἐν τῷ τρισκαιδεκάτῳ ἢ τῷ τεσσαρεσκαιδεκάτῳ οἶμαι τῶν
25
Reina Marisol Troca Pereira
26
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
41
Sobre a afirmação de Flégon acerca dos poderes de Cristo usados
no auxílio de outros, vd. Orígenes, Cels. 2.14. Cf. Jarvis 1845: 419-427.
42
Ainda mais tardiamente, as afirmações de Flégon parecem persistir
com similar credibilidade. Cf., pois, as palavras em árabe de Agápio, História
do Mundo 10, séc. X/XI, na tradução de Shlomo Pines 1971: 7-8: “[Al-
-Maribijï] afirmou: encontrámos em muitos livros dos filósofos que referem
o dia da crucificação de Cristo e que se espantaram com isso. O primeiro é o
filósofo Iflaßn, que afirma, no décimo terceiro capítulo da obra que escreveu
acerca dos reis: «no reinado de [Tibério] César, o sol escureceu e tornou-se
noite por nove horas; e as estrelas apareceram. E houve um grande e violento
tremor de terra em Niceia e em todas as cidades próximas. E aconteceram
coisas estranhas.” O excerto ganha pertinência neste ponto ao considerar-se
a n.r. 7 de Pines 1971, mediante a qual Iflätün corresponde a ‘Platão’, uma
referência anacrónica, quiçá uma confusão do escriba, com ‘Phlegon’. Em
termos semânticos, embora Flégon não fosse necessariamente reconhecido
como filósofo, as restantes informações quanto aos fenómenos naturais
irregulares foram de facto transmitidas pelo Traliano.
27
Reina Marisol Troca Pereira
43
Cf. Jacoby 1954: §256 (Thallus); Allison 2005: 91.
44
Também Sincelo, Ecloga Chronographica 391 reputa ao liberto de
Adriano de nome Flégon, autor de um Sylloge Olympionicarum et Chro-
nicorum, a ocorrência de um eclipse solar portentoso, c. da sexta hora
do dia (c. 10/11h), no segundo ano da ducentésima segunda Olimpíada,
aquando do governo de Tibério César e coincidente com a crucificação
de Cristo. Vd. FGrHist 16b.
28
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
45
Historicamente, não há notícia, nos primeiros anos da Era de
Cristo, de sismos tão devastadores (cf., anteriormente, o grande sismo de
Jericó, 31 a.C.). Cf. Williams — Schwab — Brauer 2012. Porém, alguns
autores apresentam provas de ocorrência sísmica na zona do Mar Morto,
designadamente sedimento laminado (aragonite e sílica), em exposição
em Wadi Ze’elim, datando as fissuras de c. 65 anos (± 5 anos) após o
terramoto de 31 a.C., o que validaria o sismo de sexta-feira, 3 de abril de
33 (cf. Mt. 27:51-54; no dia 5 de abril, junto ao túmulo, Mt. 28:2). Vd.
Austin 2010.
46
Sobre a identidade deste autor, cujo antropónimo necessita de
desambiguação, seria ele um liberto samaritano de Tibério? Poderá Talo
ter escrito depois de Flégon? Eis uma questão sem esclarecimento cabal.
Em termos gerais, recorda-se como autor do séc. I (cf. Mc. 15:33), cuja
obra (e.g. história, desde a queda de Troia, até à Olimpíada 167 - 112-109
a.C.) não subsistiu. Cf. Rigg 1941; Carrier 2011-2012. Sobre Flégon e o
eclipse reportado por Talo, vd. Routh 1814: 335-338; Hall 1913: 193-197;
Miévis 1934; Renehan 1969: 36 §32; West 1973: 28; Marcovich 1994.
47
A tratar-se do mesmo, seria no 15º ano de Tibério / 1º da 202ª
Olimpíada, o sismo de 24 de novembro de 29.
29
Reina Marisol Troca Pereira
48
Vd. Prigent 1978.
49
O Africano racionaliza a ocorrência anormal de escuridão, ape-
lidada de ‘eclipse solar’ erradamente, em virtude da impossibilidade da
ocorrência de um eclipse no perigeu da lua / lua cheia, situação que se
verificava na Páscoa. Vd. Carrier 1998.
50
Cf., a propósito de Flégon e do filósofo Ür.s.y.w.s., o sírio do século
XII Miguel, I, pp. 143-144. Vd. adiante, Pines 1971, com referência a
Miguel, na tradução de p. 52, n. 184, focando a alusão de Flégon, em
Olimpíadas, ao escurecimento prolongado e a sismos. Embora refira Flé-
gon como secular, coloca o Traliano a referir eventos de um contexto cris-
tão, designadamente, na sexta-feira de Páscoa, com o reviver de mortos:
“Flégon, um filósofo profano, escreveu assim: O sol obscureceu e a terra
tremeu; os mortos ressuscitaram, entraram em Jerusalém e amaldiçoaram
os Judeus. Na obra que escreveu sobre os tempos das Olimpíadas, referiu,
no livro 13, «no quarto ano da terceira Olimpíada [certamente corrup-
tela] houve um escurecimento na sexta hora do dia, uma sexta-feira, e as
estrelas apareceram. Niceia e toda a região da Bitínia foram estremecidas
e muitos outros lugares foram derrubados.” Vd. Chabot 1899.
51
Sendo matéria de discussão a alusão à ressurreição de mortos e,
consequentemente, a integração de Cristo nesse lote, Flégon aludiu à
ressurreição de uma jovem logo no primeiro capítulo da sua obra pa-
radoxográfica Mirabilia. Cf. autores tardios, do séc. II, votados a essa
temática, viz. Atenágoras, De Resurrectione Mortuorum; Tertuliano, De
30
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
31
Reina Marisol Troca Pereira
b. Eusébio / S. Jerónimo
O escrito onde Flégon descreve a ocorrência desapareceu
(cf. FGrHist p. 1165), restando apenas uma citação direta por
Eusébio verbatim (c. 311) e a consequente tradução latina de
Jerónimo (Chronicon 2.5-6)57, do séc. IV/V, sobre a obra de
Eusébio, a propósito da ducentésima segunda Olimpíada58 . Eis,
pois, Flégon, Olympicorum et Chronicorum 13 apud Eusébio,
Chronicon 1.1:
56
Cf. testemunho do hieromártir grego mencionado (cf. astrónomo -
Atos 17:34), Dionísio Areopagita (séc. I) 1081a, 268, acompanhado então
pelo sofista pagão Apolófanes. Dionísio subscreve-se com Apolófanes,
mencionando ter testemunhado um eclipse, na cidade egípcia de Heli-
ópolis, aquando da Paixão de Cristo. O texto, porém, é julgado espúrio
e tardio (c. séc. V/VI), segundo Lardner 1788: 371. Vd. Matyszak 2017.
Cf. Epist. 7. A indicação do facto é reiterada por Hilduin de S. Denis (séc.
VIII/IX), Areopagita sive Sancti Dionysii vita 14 (PL 106: 33). Vd. Rorem
1993: 13; Mosshammer 2008; Nothaft 2011.
57
Cf. Habermas 1996: 217; Jeanjean — Lançon 2004.
58
Cf. Samuel 1972. Vd. Ogg 2014.
32
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
59
Cf., com diferenças, a lição divulgada em Migne 1845: 1121.6.
60
Ano 32/33.
61
A sexta hora de luz do dia corresponderia a c. meio-dia, o que coin-
cide com a versão dos evangelistas e a escuridão referida nos evangelhos
(Mt. 27:51, 52; Lc. 23:44-45).
33
Reina Marisol Troca Pereira
62
Sykes 1732: 79-96 apresenta várias considerações a propósito deste
eclipse, a partir de autores orientais (viz. China), que também reportam
o evento como um fenómeno não natural, por ocasião similar aos autores
cristãos.
63
Cf. Sincelo, Ecloga Chronographica 394. Vd. Eusébio Chronicon
apud Sykes 1732:42.
64
Sykes 1732: 70 comenta uma observação que julga ter sido efetuada
pela primeira vez por Kepler. De facto, Kepler 1615: 87, escrevendo a
Calvísio, efetua uma crítica a respeito de Jerónimo (quid igitur, si et ipse
est hallucinatus?), que terá traduzido quarto anno, lendo τῷ δὲ δ ἔτει por
δὲ τῷ δὲ ἔτει e, por tal, tomando a letra δ por numeral para datar o
eclipse ocorrido c. meio-dia, ou duas horas antes, no dia 25 de novembro
da 202ª Olimpíada (74º ano Juliano) celebrada a 9 de julho. Além disso,
adiante, Kepler 1615: 126 retoma o caso, afirmando a confusão circun-
dante a Jerónimo, que traduz, a partir de Eusébio, a ocorrência do eclipse
no 4º ano da 202ª Olimpíada. Contudo, efetua a mesma indicação no
2º ano da Olimpíada, afastando-se então de Eusébio, que não gravara
tal acontecimento nessa ocasião. As dúvidas ficam assim expostas face a
Jerónimo, mas também à ambiguidade e incerteza do texto de Eusébio,
34
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
35
Reina Marisol Troca Pereira
c. Filópono
Similarmente, Filópono, De opificio mundi 2.21 (cf. FGrHist
16c) faz coincidir os eventos naturais retratados por Flégon com
a Paixão de Cristo. Denota-se, todavia, alguma inconsistência
na computação dos anos das Olimpíadas:
68
De facto, parece ter ocorrido, na região, um sismo, a 3 de abril do
ano 33. Vd. Williams — Schwab — Brauer 2012.
69
Cf., designadamente, o evangelho segundo Mc. 15:33, embora João
19, ao aludir à morte de Cristo, não faça menção dele; Mt. 27:45; Lc.
23:44-45. Cf., posteriormente, os evangelhos apócrifos, e.g. de Nicode-
mo. Seria o eclipse (e o sismo - Mc. 27:51-53) uma forma alegórica não
histórica de retratar a morte de Cristo, uma semelhança simbólica parale-
la à tradição pagã (e.g. Hdt. 7.37; Plu. Pel. 31.3, Aem. 17.71; D.C. 55.93),
entendida como superstição (Arist. Mete. 367.b.2, Plin. HN 2.195, Verg.
G. 2.47.478-480), ou fruto da invenção (quiçá de Marco) para cumprir a
profecia (cf. Amos 8:9). No excerto não é possível constatar, sem margem
de dúvida, o que Talo efetivamente escreveu. Terá o autor referido um
eclipse solar no terceiro livro de Histórias, quiçá associado com Jesus,
ou será mais uma inferência abusiva de Júlio Africano, à semelhança do
efetuado com Flégon? Vd. Carrier 2011–2012.
36
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
d. Malalas
Um pouco mais tarde, Malalas, Chronographia 10.101d (O310)
apresenta a ocorrência do eclipse universal, complementando com
37
Reina Marisol Troca Pereira
70
Vd. Lahode 1749: 62.28. Com efeito, é possível cogitar a pos-
sibilidade de Flégon ter ouvido acerca do evento, dada a proximidade
geográfica de Trales à Palestina. Cf. Addison 1807: 27.
38
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
71
Cf. Mosshammer 1979.
72
Cf. Schmidt — Weiss 1744: 2.3.
73
Vd. Porrer 2009: 292.
74
Vd. Pompanazzi 1929.
75
Vd. Lauth 1743: 17.
76
Cf. Fisher 1900: 9. Vd. milagres relativos à alteração da ordem da
Natureza (e.g. Mt. 8:23-27; Jo. 6:16-21).
39
Reina Marisol Troca Pereira
77
Cf. Kennedy 1762: 685. Vd. Máximo apud Sykes 1734: 27,
mencionando que Flégon não registou um eclipse do sol em lua cheia,
mas que houve um eclipse não natural. Reitera-se, assim, a informação
transmitida por Orígenes (Op. Ed. Ben. t. 3: 923): Et Phlegon quidem
in Chronicis suis scripsit, in principatu Tiberii Caesaris factum, sed non
significavit in luna plena hoc factum, “E o próprio Flégon, que escreveu,
nas Crónicas, que tal evento ocorreu no reinado de Tibério César, não nos
afirmou que sucedeu em lua cheia”. Vd. Sykes 1732: 69; Jarvis 1845: 424.
78
Cf. Sykes 1734: 6.
79
Cf. Lc. 4:25; Mt. 24:30. Vd., a propósito, Vóssio, Harm. Ev. 1. z,
cap. X.
40
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
80
Vd., neste sentido, sem citar diretamente Flégon, Estêvão de Bizân-
cio (séc. VI), Ethnica. Refere, na entrada a propósito da cidade italiana
de Tarracina, o prodígio de uma criança que, com vinte e quatro dias
de vida, chamava e respondia, na 181ª Olimpíada, retratado por Flégon
de Trales. Consta-se, pois, a consideração, sobrevivente no decurso do
período medieval, do Traliano como relator de prodígios.
41
Reina Marisol Troca Pereira
81
Cf. a durabilidade invulgar do fenómeno, segundo o testemunho
presencial do cristão convertido Dionísio Areopagita, ΠΟΛΥΚΑΡΠΩΙ
ΙΕΡΑΡΧΗΙ Heil-Ritter, da nona hora até ao anoitecer.
82
Cf. Escáliger, Animadv. in Euseb. p. 186a, relativamente à ocorrên-
cia de um eclipse parcial (in Euseb. Chron.), a 19 de abril do 4º ano da 74ª
Olimpíada. Importa, outrossim, atender a outras versões que admitem o
eclipse como tendo sido total, ao ponto de se verem estrelas (e.g. Xifilino
apud Sykes 1732: 77g).
42
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
83
Cf. Dioníso Petávio, De Doctrina Temp. 12.21.
84
Tillemont 1691: 449, n. 35.
85
Vd., no séc. V, a alusão ao facto por Élio Esparciano, Vita Severi 20.
86
Vd. Phot. Bibl. 97.2.e.
43
Reina Marisol Troca Pereira
87
Vd. exemplo da versão corrente, Fabrício 4.15.7 (1796: 258), a
propósito dos Libri de Vita Hadriani Imp.: ab ipso Imperatore scripta et
sub Phlegontis nomine edita. Vem este facto ao encontro da informação
reportada por Esparciano.
88
Vd. Magirus 1597: 659.
89
Vd. Bayle 1739: 384 n.r. C.
44
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
90
Stramaglia 2011: VII. Importa, a propósito, efetuar uma leitura
crítica de fontes como Owen — Johnston 1784: 339, que estendem a vida
literária de Flégon até, pelo menos, ao 18º ano do Imperador Antonino
Pio (156), cujos cônsules são supostamente mencionados, facto que não
se confirma.
91
Assim se designam os codices elaborados até ao século X.
92
Composto por 321 folhas de pergaminho (25x17cm) conta-se entre
os manuscritos reunidos por J. de Ragusa (séc. XV). Qual coletânea
antológica, reúne vários autores de épocas distintas, por áreas, designa-
damente: geógrafos, mitógrafos e paradoxógrafos e epístolas. Cf. Mioni
1973: 63; Longo — Perria — Luzzi 1997: 205. Vd. Sellheim 1930; Leroy
1961; Musso 1976; Glénisson — Bompaire — Irigoin 1977; Temporini
1982; Kavrus-Hoffmann — Bravo García 2010.
45
Reina Marisol Troca Pereira
93
Vd. Lardner 1764: 127.
94
Cf. Antonini Liberalis Transformationum Congeries. Phlegontis
Tralliani de Mirabilibus et Longaeuis Libellus. Eiusdem de Olympiis
Fragmentum. Apollonii Historiae Mirabiles. Antigoni mirabilium narra-
tionum congeries. M. Antonini Philsophi Imp. Romani, de uita sua Libri
XII. ab innumeris quibus antea scatebant mendis repurgati, et nunc demum
uere editi. Graece Latineque omnia, Guil. Xylandro Augustano inter-
prete: cum Anotationibus et Indice. Basileae, per Thomam Guarinum,
MDLXVIII chartis octonis min. [Antonini Liberalis Μεταμορφώσεων
Συναγωγὴν. Phlegontis Tralliani Ἑπὶ Θαυμασίων καὶ Μακροβίων, Eius-
dem Ἑπὶ τῶν ᾿Ολυμπίων Fragmentum: Apollonii ῾Ιστορίας Θαυμασίας
et Antigoni ῾Ιστοριῶν Πραδόξων Συναγωγὴν continentem, eosque
46
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
47
Reina Marisol Troca Pereira
48
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
98
Cf., neste sentido, Plu., De Herodoti malignitate 855b, acerca da
“narração maliciosa” (κακοήθους διηγήσεως), oposta à “cândida”
(καθαρᾶς), exemplificando com a superstição de Nícias e com o discurso
de Cléon. Aplicando, a posteriori, a afirmação de Lívio a vários autores
do âmbito da paradoxografia (e porque não a Flégon), suscitam-se, no
mínimo, dúvidas face aos factos que os autores em causa demonstram
contínuas preocupações em credibilizar enquanto reais.
99
Sykes 1734: 8 refere que J. Chapman coloca dúvidas sobre o conhe-
cimento de Fócio (séc. IX) acerca da obra de Flégon - se terá lido a obra
completa, ainda existente nessa altura, ou apenas parte. Vd. Chapman
1734.
49
Reina Marisol Troca Pereira
“O estilo do autor, ainda que não muito mau nem vulgar, nem
sempre preserva o carácter ático. Porém, a sua inoportuna, se
bem que laboriosa diligência em dar conta das Olimpíadas,
as suas listas de nomes de vitoriosos e dos seus feitos, e as
suas considerações dos oráculos, não apenas desagradam o
leitor, uma vez que não admitem que nada mais apareça, mas
também tornam a linguagem desagradável e destituem-na de
toda a elegância. Também atribui uma importância indevida a
oráculos de todos os tipos.”
100
Vd. Marincola 1997; Munson 2001; Darbo-Peschanski 2007.
Sobre a continuidade ou o afastamento do conceito de ‘história’, no séc.
V a.C., face a οἶδα, ‘ver, conhecer’ (vd. ἵστωρ, ‘sábio, juiz’, Il. 18.501,
23.486), cf. Hartog 2001.
50
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
101
Vd. Sanz Morales 1998.
102
A complexa ‘questão homérica’, enquanto conjunto de dúvidas
relativas à existência, proveniência e datação de Homero (cf. Hdt. 2.53,
estimando Homero e Hesíodo c. 400 anos antes de si), à autoria, forma
de composição das epopeias que lhe são comummente atribuídas (viz.
Ilíada e Odisseia), existência factual de alguns conteúdos, não parecia
colocar-se na Antiguidade. As dúvidas suscitadas por estudiosos adeptos
da posição dos analíticos, sucedânea de F. Wolf (séc. XVIII), contra-
riados pelos unitários são dados muito posteriores. Vd. Buffiére 1956;
Wace — Stubbings 1963; Jensen 1980; Nagy 1996; Tuner 1997; Burgess
2003; Troca Pereira 2009, 2016a.
103
Autor de identidade incerta. Stragmalia 2011: 46 recusa tratar-se
de Apolónio paradoxógrafo, de Apolónio sofista ou de Apolónio Díscolo.
51
Reina Marisol Troca Pereira
104
Vd. Brillante 1990; Barash 2011.
105
Vd. contraste de ‘mito’, enquanto ficcionalidade/confabulação
literária, e factualidade, Plu. De gloria Atheniensium 348a-b: ἀλλ᾽ ὅτι
μὲν ἡ ποιητικὴ περὶ μυθοποιίαν ἐστὶ καὶ Πλάτων εἴρηκεν. ὁ δὲ μῦθος
εἶναι βούλεται λόγος ψευδὴς ἐοικὼς ἀληθινῷ· διὸ καὶ πολὺ τῶν
ἔργων ἀφέστηκεν, εἰ λόγος μὲν ἔργου, καὶ λόγου δὲ μῦθος εἰκὼν καὶ
εἴδωλόν ἐστι. “Que a poesia tem a ver com a composição de assuntos mi-
tológicos, também Platão já tinha afirmado. Ora, um mito pretende ser
uma história falsa, parecendo ser verdadeira. Assim, encontra-se bastante
afastado dos factos reais, se uma história não é mais do que um cenário e
uma imagem do sucedido, e um mito um cenário e uma imagem de uma
história.” Vd. Baeten 1996.
106
Vd. uma lógica mais baseada em analogias e valias, enquanto
lições supostamente históricas, numa dicotomia elitista mythos-falsidade-
-tradição-canonização popular / logos-veracidade/plausibilidade-história/
etnografia (literatura oral). Linguisticamente, os termos utilizados para
estabelecer o apartamento desses vetores passam, a título exemplificativo
visível em Paléfato, Περὶ ἀπίστων (ἰστορίων), De Incredibilibus, séc. IV
a.C, por εγὼ δὲ γιγνώσκω ὅτι, praef.; δοκεῖ δέ μοι ταῦτα εἶναι, 33; ἐμοὶ
δὲ δοκεῖ ἀμήχανον, 34. Outrossim, por expressões adversativas simila-
res, introduzidas por δὲ e ἀλλά, ‘mas’, com o sentido de ‘mas a verdade
é esta’ (e.g. τὸ δὲ [δ’] ἀληθὲς ἔχει ὧδε, 1-2, 6-9, 23, 28, 30, 41-42; τὸ δὲ
ἀληθὲς οὖν ἐστι τοῦτο, 3; [ἔχει οὖν] ἡ ἀλήθεια ὧδε, 4, 18; ἐγένετο δέ τι
τοιοῦτον, 5; ἡ δὲ ἀλήθεια [ἔχει ὧδε] αὕτη, 10, 16, 20, 22; ἡ δὲ ἀλήθεια
ἥδε, 45; τὸ [ἦν] δὲ ἀληθὲς τοιοῦτον, 13, 21; τὸ δὲ ἀληθὲς [ἔχει ὧδε]
οὕτως, 15, 19; ἦν δὲ τοιοῦτον, 24; [ἀλλ’ ] ἐγένετο [δέ] [τι] τοιόνδε τι,
26, 39, 40; ἔχει δὲ ὧδε τὸ ἀληθὲς οὕτως, 27; ἐγένετο οὖν τοιοῦτόν τι,
31; ἐγένετο δέ τι οὖν τοιοῦτόν, 43. Cf. anotações, como μάταιον, “ridí-
culo”, 4, 27, 38; ἐστι δὲ εὔηθες, “isto é uma tolice”, 5; τοῦτο δὲ ψευδές,
“isso é falso”, 9, a título ilustrativo). As causas apontadas para repor a
verdade (cf. plausibilidade) dos acontecimentos varia na introdução de
cada fenómeno retratado (e.g. 37: ἀλλ’ ἦν τοῦτο, “Eis como aconteceu”;
38: ἦν οὖν τοιοῦτον, “Eis o que sucedeu”). Sobre a apresentação, por
parte dos paradoxógrafos, de duas versões do mesmo mito: uma tradi-
cional, outra racionalizada, vd. Nestle 1942; Douglas 1953; Lévi-Strauss
1955; Kirk 1973; Poser 1979; Schneiderman 1981; Shelburne 1988; Gill
52
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
53
Reina Marisol Troca Pereira
54
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
110
Legenda: H - homem; M - mulher; a - anos.
111
Cf. Lact. Diu. Inst. 6.8-12, sobre várias sibilas.
55
Reina Marisol Troca Pereira
112
No respeitante a este episódio, aparece regularmente datado do ano
125. Contudo, Diels 1890: 90-91, referindo a possibilidade de tratar-se de
um mesmo prodígio, mas de estarem misturados dois oráculos diferentes,
talvez as datações dos oráculos se situem em 200 e 207. Cf., igualmente, a
recolha de Livros Sibilinos após incêndio no Capitólio, em 83.
56
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
2.2.4. Opera
a. Sobre Maravilhas (Περὶ θαυμασίων)
Retrata thaumata que pervertem a ordem natural dos ele-
mentos: morte-vida; género (em vários aspetos, desde sexo, parto,
morfologia, dimensões); humano-não humano. Diversas fontes,
umas citadas diretamente, embora algumas obras análogas latinas
dispostas em distintas formas literárias, mormente durante o Perí-
odo Trajânico e Adriânico116 nunca sejam objeto de menção direta,
designadamente Plínio, HN, por certo do seu conhecimento.
No âmbito do topos do fantástico sobrenatural, o escravo
liberto letrado de Adriano apresenta uma obra paradoxográfica
Περὶ Θαυμασίων, Sobre Maravilhas, conferindo continuidade
113
Cf. Mommsen 1877; Kubitschek 1899.
114
Apollod. fr. 103 Müller contém excertos de autores que abordaram
o topos da longevidade, designadamente Luc. Macr. 22 e Phleg. Macr. 2,
no respeitante a este caso.
115
Cf. o próprio Flégon/Imperador Adriano, para Fausto, Macr. 4.
116
Outros autores também não citam diretamente Plínio, ainda que
reportem maravilhas similares. Como exemplo, Lívio (28-33) recorda
crianças hermafroditas consideradas portentos, mortas em conformidade
com rituais. Vd. Kowalzig 2007. Assim também Plínio, quanto a tempos
passados (HN 7.3.34, rapaz tornado mulher - exilado. Cf., para mais,
Obsequente, séc. IV, Liber de prodigiis). Vd. Bayet 1971.
57
Reina Marisol Troca Pereira
117
Cf. alusões de Keller 1877: VIII. Vd. Stramaglia 2011: VI - capp.
1-3: mortui quidam inter vivos paulisper reversi aliaque prodigia cum his
apparitionibus conexa; capp. 4-35: mirabilia varia ad humanam naturam
spectantia: a. 4-10: ἀνδρόγυνοι; feminae in mares versae; b. 11-19: maiora
quam quae hominibus conveniant ossa fortuito reperta; c. 20-31: partus
varie prodigiosi; matres mire prolificae; d. 32-33: pueri statim senescentes et
sim.; e. 34-35: ἱπποκένταυροι.
118
Vd. Bloch 1963; MacBain 1982.
119
Cf. Stramaglia 2011: VI.
120
Cf. caso reconhecido como fraude (Plin. HN 10.2.5: quod actis
testatum est, sed quem falsum esse nemo dubitaret, “isto foi atestado pelos
anais, todavia ninguém duvida que era uma fénix inventada”. Tac. Ann.
6.28: haec incerta et fabulosis aucta, “tudo isto é duvidoso e um exagero
fabuloso”. Cf. D.C. 58.27.1). Vd. Madsen — Lange 2016.
121
Cf. Bergua 1964; Anderson 1984; Pinheiro — Perkins — Pervo 2012.
58
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
122
Vd., na Antiguidade, obras similares: Antígono de Ca-
risto, Θαυμάσια; Aristandro, Ἱστορίαι θαυμάσιαι; Mónimo,
Θαυμασίων συναγωγή; Fílon de Heracleia, Περὶ θαυμασίων; Ps.
Aristóteles Περὶ θαυμασίων ἀκουσμάτων; Arquelau de Quersoneso,
Πeρὶ tῶν θaυµasίων; Apolónio, Mirabilia / Historiae Mirabiles. Vd.,
proximamente, Plin. 7.27, com histórias de aparições espíritas, passando
por topoi de ‘profecias de morte’, da ‘aparição’, da ‘casa assombrada’, na ex-
ploração do horror e macabro credibilizada com o envolvimento de figuras
conhecidas no panorama social, como Cúrtio Rufo, de início governador
de África; o filósofo recém-chegado - Atenodoro; um escravo pessoal de
Plínio, que lhe terá movido um processo. Cf. Westermann 1839; Vanotti
1981; Lanza — Longo 1989; Brodersen 2002; Stramaglia 1995, 2011.
59
Reina Marisol Troca Pereira
60
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
123
Importa atentar sobre considerações antigas que, não sendo ne-
cessariamente blasfemas, por não desautorizarem as revelações divinas,
colocam dúvidas acerca da credibilidade e do sentido ético de alguns pro-
fetas, uma questão presente na literatura (cf. E. IA 520-521: Ἀγαμέμνων
- τὸ μαντικὸν πᾶν σπέρμα φιλότιμον κακόν. | Μενέλαος - † κοὐδέν
γ᾽ ἄχρηστον, οὐδὲ χρήσιμον παρόν. †, “Agamémnon - Toda a classe de
profetas constitui uma praga pela sua ambição. Menelau - Sim, imprestável
e sem serventia, quando entre nós.” Em sentido similar, vd. IA 956-958:
τίς δὲ μάντις ἔστ᾽ ἀνήρ, | ὃς ὀλίγ᾽ ἀληθῆ, πολλὰ δὲ ψευδῆ λέγει | τυχών,
“O que é um profeta, além de um homem que, ocasionalmente, profere
por vezes a verdade, mas muitas vezes mentiras”. Cf., de igual modo, Apul.
Met. 2.28, sobre Zatchlas, profeta que propunha trazer de novo à vida
figuras mortas, pelos honorários a combinar. Vd. Souter 1936; Altizer et al.
1962; Westmoreland 2007; Troca Pereira 2013c, 2015a.
124
Cf. Epicur. apud D.L. 10.124-126. Vd. Jaeger 1959.
61
Reina Marisol Troca Pereira
125
As raças divina e humana distinguem-se, desde logo, pelo facto de
a primeira ser imortal (cf. ἀθάνατοι) e a segunda corresponder aos mor-
tais (θάνατοι/βρότοι) - h.Cer.11: ἀθανάτοις θεοῖς | θνητοῖς ἀνθρώποις,
“deuses imortais | homens mortais”. Existem, todavia, formas de garantir
a imortalidade possível para um ser humano. Vd. Sourvinou-Inwood
1981; Redfield 1991.
126
Cf. Pl. Men. 81b: φασὶ γὰρ τὴν ψυχὴν τοῦ ἀνθρώπου εἶναι
ἀθάνατον, “diz-se que a alma humana é imortal”.
127
Cf. dívida ancestral contraída pelos antepassados titânicos, em
virtude do desmembramento (σπαραγμός) de Zagreu/Diónisos (cf. OF
320; A. fr. 228 Radt) e herdada pelos descendentes humanos (cf. Opp. H.
5.4-7). Vd. Comparetti 1873; Bianchi 1966; Alderink 1981; Zeitlin 1991;
Brisson 1995; Bernabé 2002; Rudhardt 2002; Henrichs 2010.
128
Cf. Pl. Ap. 29a-b: τὸ γάρ τοι θάνατον δεδιέναι, ὦ ἄνδρες, οὐδὲν
ἄλλο ἐστὶν ἢ δοκεῖν σοφὸν εἶναι μὴ ὄντα: δοκεῖν γὰρ εἰδέναι ἐστὶν
ἃ οὐκ οἶδεν. οἶδε μὲν γὰρ οὐδεὶς τὸν θάνατον οὐδ᾽ εἰ τυγχάνει τῷ
ἀνθρώπῳ πάντων μέγιστον ὂν τῶν ἀγαθῶν, δεδίασι δ᾽ ὡς εὖ εἰδότες
ὅτι μέγιστον τῶν κακῶν ἐστι. “É que temer a morte, senhores, nada
mais consiste do que julgar-se sábio, quando assim não é, pois trata-se de
pensar que alguém conhece o que desconhece. Com efeito, ninguém sabe
se a morte não é até a melhor bênção para os homens, mas eles temem-na
como se soubessem que é o maior dos males.” Cf. Rose 1936.
62
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
129
Cf., no mesmo sentido, Pl. Grg. 493a; E. fr. 638 Kannicht, fr. 833
Kannicht.
130
Cf. D.L. prlg. 9. Vd. De Jong 1997.
63
Reina Marisol Troca Pereira
131
Cf., na ficção novelesca, renascimentos devidos a taumaturgos,
uns ficcionados, outros considerados reais, cujo impulsionamento se atri-
bui ora a divindades (cf. Asclépio: Apul. Fl. 19; Orígenes, Cels. 3.24), ora
a médicos/curandeiros/ervas (vd. a propriedade de certas ervas, Plin. HN
25.5.14. E.g. Palaeph. 26. Cf. Ísis: D.S. 1.25). Considere-se, a propósito
da ressurreição, no cenário clássico, Hdt. 4.13-16, 94-96; Pl. Chrm. 156d;
Apollon. Mir. 2.2, relativamente à ressurreição de Zalmoxis, episódio
que justifica o paralelismo com Jesus. Cf. Orígenes, Cels. 2.55, face à
compreensão de milagres (cf. Apolónio de Tiana) e o processamento de
alguns mirabilia hagiográficos. A reaparição ou resgate (cf. Ar. Ran.) in-
clui figuras lendárias (e.g. Er: Pl. R.10.614-621) / mitológicas ficcionadas
(e.g. Eurídice: Apollod. 1.3.2) e outras reais (e.g. Nero: Tac. Hist. 1.2,
2.8; Suet. Nero 57. Para outros casos, vd. Plin.; Plu.).
132
Sobre reincarnação, vd. Pl. Phaed. 78b-84b. Vd. Brisson 1992.
133
Cf. Strózynski 2008; Mariev — Stock 2017: 193.
134
Cf. Hdt. 7.16b2. Vd. Lucr. 5.724, substituindo phantasmata pelo
vocábulo latino simulacra, para designar entidades voláteis, ainda assim
imagens materiais, atómicas (vd. 4.49-53. Cf. Epicuro, eidola). Partículas
emitidas pelos corpos humanos prevalecem no ar, configurando imagens
até de mortos. O visionamento de tais imagens, quais memórias visuais,
de dia, em estado de vigília, mas sobretudo de noite, aterroriza (4.30-41).
Vd. Sedley 1999; Maggi 2008: 115; Holmes — Shearin 2012.
135
Cf. o simbologismo da relação de irmandade gémea (vd. Hes.
Th. 759. Cf. Paus. 18.1) entre Hypnos (‘Sono’) e Thanatos (‘Morte’), duas
esferas associadas com o negrume; a primeira, porém, transitória. Ainda
64
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
65
Reina Marisol Troca Pereira
140
Cf., a título ilustrativo, Cássio, o epicurista vs. Bruto, que alega ter
visto, ouvido e falado com uma aparição fantasmagórica (τὸ φάσμα), na
sua tenda, na noite anterior, a avançar com o exército para a Ásia (Plu.
Brut. 36.3-37.2).
141
E.g. Petron. 62: Qui mori timore nisi ego? […] Vt larua intraui,
paene animam ebulliui, sudor mihi per bifurcum uolabat, oculi mortui,
uix unquam refectus sum. “Alguém poderia estar mais morto de medo
do que eu? […] Entrei [em casa] como um cadáver e quase perdi a alma;
o suor escorria pelas minhas pernas, os meus olhos estavam mortiços;
dificilmente poderia ser reavivado.”
142
Cf., outrossim, relatos de animais que ressuscitam (e.g. Plu. De
sollertia animalium 973e-974a). Cf. Dodds 1951.
66
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
143
Cf. a manifestação da alma de Agripina diante do seu filho Nero
(Suet. Nero 34; Apul. Met. 9.31).
144
Cf. Pl. R. 2.381e, a respeito da falsidade (ψευδέσθων) de aparições
fantasmagóricas noturnas de figuras divinas sob forma humana, efetua-
das por poetas.
145
E.g. Phleg. Mir. 35: εἴ τις ἀπιστεῖ, δύναται ἱστορῆσαις, “quem
for cético, pode examinar pessoalmente”.
146
Vd. Plu. 8.8.3: τούτοις Ἑλλήνων ἐγὼ τοῖς λόγοις ἀρχόμενος μὲν
τῆς συγγραφῆς εὐηθίας ἔνεμον πλέον, ἐς δὲ τὰ Ἀρκάδων προεληλυθὼς
πρόνοιαν περὶ αὐτῶν τοιάνδε ἐλάμβανον: Ἑλλήνων τοὺς νομιζομένους
σοφοὺς δι᾽ αἰνιγμάτων πάλαι καὶ οὐκ ἐκ τοῦ εὐθέος λέγειν τοὺς λόγους.
“Quando comecei a escrever a minha história, estava inclinado a considerar
estas lendas como absurdas, mas, ao chegar à Arcádia, ganhei um maior
apreço por elas, que é este: nos antigos tempos os que eram considerados
sábios entre os gregos expunham os seus dizeres não de forma directa, mas
por enigmas.” Vd. Segal 1996, 1998.
147
Cf. uma respresentação bíblica simbólica da morte e ressurreição
de Cristo (vd. Johnson 2006) na morte de Jonas, engolido por um peixe
durante três dias (Mt. 12:49, Jn. 2:1). Numa dimensão mitológica dis-
ponibilizada anteriormente por Platão, com matizes simbólicas, morais
e didáticas, vd. mito de Er, reincarnado, acordando após um sono/
experiência onírica de morte, Pl. R. 10.614-621. Vd. sonho de Cupido
Crucificado, écloga tardia já por Ausónio. A bem ver, em última instân-
cia, o acordar poderá equiparar-se a uma ressurreição, correspondente
ao reassumir de um estado de consciência temporariamente substituído
pelo cenário onírico. Cf. Strózynski 196-1957; Frutiger 1976; Thayer
1988; Brisson 1998; Janka — Schäfer 2002; Dillon 2004; Partenie 2009;
67
Reina Marisol Troca Pereira
68
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
69
Reina Marisol Troca Pereira
Burkert 1985; Faraone 1991; Ogden 2002; Mudry 2004; Luck 2006.
154
Na realidade, na sua catábase, Ulisses segue as instruções de
Circe (Od. 10.516-540, 571-572) para possibilitar a comunicação entre
mundos: as almas apenas iriam reconhecê-lo e revelar-lhe a verdade, caso
o herói de Ítaca os deixasse sorver sangue negro (αἷμα κελαινεφές. Cf.
11.49-50, 98-99, 141-155, 228-234, 390), como veículo facilitador da
comunicação. De facto, os mortos encontravam-se fracos, especialmente
se resultantes de morte violenta, na qual perdessem sangue (cf. μέλαν
αἷμα, na morte de Trasimedes), descrito com o mesmo epíteto da morte
(cf. “keres negras”, Od. 2.283: ἴσασιν θάνατον καὶ κῆρα μέλαιναν). Vd.
Calvo Martinez 2000.
155
Com Proclo, já mais avançado no Período Medieval, continuam
a constatar-se características gerais da paradoxografia, a exemplo da
preocupação de credibilizar as histórias, com referências temporais (e.g.
Polícrito, ἐπὶ τῶν ἡμετέρων πάππων, “no tempo dos nossos avós”; Eu-
rino, οὐ πρὸ πολλοῦ, “não muito antes”; Rufo, χθές γεγονότα “nascido
apenas ontem”), geográficas, dados biográficos (cf. carácter: e.g. Polícrito
- ἐπιφανέστατον Αἰτωλῶν, “o mais distinto dos etólios”), fontes (viz.
Naumáquio, o epirota ) e testemunhos abalizados, também com o propó-
sito de dessacralizar e desficcionalizar o assombro, apresentando um his-
toriador. Assim, no tocante a Polícrito, o testemunho do “efésio Hierão
e outros historiadores”. É igualmente evidenciada a morfologia do plano
terreno e do mundo ctónico, onde existem as almas após a morte física,
representando a ressurreição um movimento de elevação com autorização
de divindades ctónicas (cf. Rufo, ὑπὸ τῶν χθονίων ἀναπεμφθείη θεῶν,
“enviado de volta pelos deuses ctónicos”). O tempo que mediava entre o
óbito e o regresso à vida não era muito apartado: nove meses, no caso de
Polícrito; 15 dias, para Eurino; três dias, para Rufo. Outrossim, a justi-
ficação do retorno, enquanto processo transitório não equivalente a uma
divinização, mas apenas como instrumento de revelação, aconselhamento
e esclarecimento (cf. Polícrito e Rufo), porém não necessariamente, já que
Eurino se encontrava proibido de qualquer revelação. Em termos gerais,
quedam notas de esperanças face ao final da vida, com a apresentação de
um espaço ctónico de continuidade, conhecimento e maravilhoso, não
70
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
71
Reina Marisol Troca Pereira
72
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
157
Vd. Gripari 1977.
158
Vd. Philostr. VA 4.45 e a ressurreição de uma rapariga. Cf. Ogden
2002.
159
Cf. traços de vampirismo, com alguma similitude na atualidade,
em figuras femininas, como Lâmia (de Corinto), Empusa, Murmólice.
Cf. Philostr. VA 4.25, sobre uma história bastante conhecida, envolvendo
uma lâmia, uma bela mulher e a exploração de desejos eróticos, face ao
garboso e atlético jovem lício, Menipo, para uma finalidade vampírica:
ἐρᾶσθαι δὲ τὸν Μένιππον οἱ πολλοὶ ᾤοντο ὑπὸ γυναίου ξένου, τὸ δὲ
γύναιον καλή τε ἐφαίνετο καὶ ἱκανῶς ἁβρὰ καὶ πλουτεῖν ἔφασκεν,
οὐδὲν δὲ τούτων ἄρα ἀτεχνῶς ἦν, ἀλλὰ ἐδόκει πάντα. “Ora, muitos
supunham que Menipo era amado por uma mulher estrangeira bela e
bastante delicada, e afirmaram que ela era rica. Embora fosse verdade,
não só uma dessas coisas, apenas o era aparentemente.” Cf. distinção
entre ‘parecer’ e ‘ser’, δοκεῖν/ εἶναι. Vd. A. Ag. 788; Pl. R. 1.334c. Tendo
trocado declarações de amor, numa estrada a caminho de Cêncreas, ela
prometeu-lhe cantigas, vinho e uma vida em conjunto (βιώσομαι δὲ
καλὴ ξὺν καλῷ). A lição advém da racionalidade, pois só um filósofo
conseguiria desfazer a macabra ilusão e desvendar a verdade. Apesar de
ser filósofo, o jovem ainda não conseguira afastar-se suficientemente de
desejos, prazeres e ilusões, cabendo esse feito a Apolónio. Primeiramente,
procurou elucidar o jovem e, de seguida, desmascarou a lâmia. “E que te
apercebas da realidade do que afirmo, que esta bela noiva é um vampiro,
ou seja, um dos seres dados aos prazeres de Afrodite, mas em particular à
carne dos seres humanos, e seduzem com tais prazeres os que pretendem
devorar nos seus banquetes”. Por fim, fê-la admitir que era um vampiro,
habituado a alimentar-se de sangue puro de belos corpos. Vd., com con-
tornos similares, Síbaris, Ant. Lib. 8.
73
Reina Marisol Troca Pereira
160
Cf. Parténio, Ἐρωτικὰ Παθήματα (2: Polimela, 5: Leucipo, 17:
Periandro; 31: Dimetes, 35: Eulímene). Considere-se, na literatura roma-
na tardia, o mito de Cupido e Psique (Apul. Met. 4. 28 - 6. 24).
74
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
161
Cf. inversão no topos tradicional do relacionamento amoroso: é
a jovem que deixa ao hóspede (Macates) elementos facilitadores do seu
reconhecimento (viz. anel de ouro, cinta de peito).
162
Vd. ressurreição como algo físico, que implica corpo. Cf., mutatis
mutandis, 1Co. 15:3–5 e a controvérsia sobre o túmulo vazio de Cristo.
Importaria também averiguar se a jovem estava de facto morta. Plínio re-
fere vários episódios de pessoas que regressaram à vida HN 7.53 (52). Cf.
Asclepíades ao assistir a uma procissão fúnebre constatou que o defunto
não estava para enterrar-se (Cels. De Medicina 2.6.15).
163
Cf. Tillemont 1691: 288 sobre a ilusão da ressurreição.
75
Reina Marisol Troca Pereira
164
Procl. 2.115: Ταῦτα μὲν ὁ Κλεάρχου λόγος· ἱστορεῖ δὲ καὶ
Ναυμάχιος ὁ Ἠολύκριτον Αἰτωλὸν ἐπιφανέστατον Αἰτωλῶν
καὶ γεγονώς, Πολύκριτον Αἰτωλὸν ἐπιφανέστατον Αἰτωλῶν καὶ
Αἰτωλαρχίας τυχόντα καὶ ἀποθανεῖν καὶ ἀναβιῶναι μηνὶ μετὰ τὸν
θάνατον ἐνάτῳ, καὶ ἀφικέσθαι εἰς ἐκκλησίαν κοινὴν τῶν Αἰτωλῶν
καὶ συμβουλεῦσαι τὰ ἄριστα περὶ ὧν ἐβουλεύοντο· καὶ τούτων εἶναι
μάρτυρας Ἱέρωνα τὸν Ἐφέσιον καὶ ἄλλους ἱστορικοὺς Ἀντιγόνῳ τε
τῷ βασιλεῖ καὶ ἄλλοις ἑαυτῶν φίλοις ἀποῦσι τὰ συμβάντα γράψαντας
“O epirota Naumáquio, um homem que viveu no tempo dos nossos avós,
relata que o etólio Polícrito, o mais distinto dos etólios e um etolarca,
faleceu e regressou à vida no nono mês após a sua morte. Apareceu na
assembleia geral dos etólios, onde lhes deu um excelente conselho relacio-
nado com os assuntos sobre os quais estavam a deliberar. O efésio Hierão
e outros historiadores testemunharam estes acontecimentos e escreveram
sobre eles ao rei Antígono e a outros amigos seus, que estavam noutro
sítio.” Cf. Hierónimo de Cárdia, por Hierão - Almagor — Skinner 2013:
124.
165
Antropónimo vulgar no mundo grego, mas não necessariamente
na Etólia. Cf. Polícrito de Cálio, notável por ter pilhado o Santuário de
Posídon em Mantineia, c. 240 a.C. Vd. Crawford 2000; Scholten 2000;
Brisson 2002; Rzepka 2009: 9. Cf. Almagor — Skinner 2013, acerca do
ethos etólio.
166
Vd. Antígono I da Macedónia, séc. IV a.C., segundo Brisson
1978: 89-101. Cf. Antígono II, no século III a.C.
76
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
167
É caso ilustrativo Esparta, a cujo respeito Plu. Lyc. 16.1 retrata
o encaminhamento de recém-nascidos doentes e deformados, rumo ao
Monte Taigeto (Apothetai), por determinação dos anciãos das tribos. Pl.
Tht. 160e-161a expressa o facto de o recém-nado ser digno de ser criado
ou não (cf. topos περὶ τῶν ἄκριτων). Cf. Plu. De Curiositate 10, Mor.
520c; Júlio Obsequente, Liber Prodigiorum.
168
Cf. θήρ. Na versão latina, vd. Monstrum. Considere-se, a propó-
sito, o título da comédia plautina Mostellaria (Comédia do Fantasma):
mostellum (‘espetro’), um diminutivo de cum - mo(n)strellum, com o sufixo
-aria. O topos do assombro terrífico motivado por aparições fantasmagó-
ricas é deveras explorado na Antiguidade, em diversos géneros literários,
através de descrições, mas também na arte dramática, tanto em tragédias
(e.g. Sen. Thy. iniciando com Thyestes umbra) como em comédias, pelo
seu reconhecido efeito (e.g. Pl. Most., enquanto motivo do fantasma in-
ventado pelo escravo Tranião, como forma de encobrir ao senex os gastos
desmesurados do seu filho). Vd. Dingwall 1930; Hickman 1938; Platt
1999; Felton 2010; Troca Pereira 2014, 2016b.
169
Cf. prodígio como desvio da natureza, sinónimo de monstro
(teras), segundo Arist. GA 4.767b. Vd. Louis 1975; Bianchi 1981; Do-
roszewska 2012.
170
Distingam-se prodígio público e prodígio privado. Vd. Brisson
1978; Roux 2016: 289-290.
77
Reina Marisol Troca Pereira
171
Cf., mutatis mutandis, Titãs e Zagreu. Vd. Henrichs 2011.
78
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
172
Cf. ambiguidade. Vd. McGing — Parke 1988.
173
Um estado de enthousiasmos, mediante o qual um deus, ou uma
entidade com qualidades sobre-humanas (e.g. psyche de Pátroclo, Il.
23.62) entra num corpo humano (cf. a loucura profética de Cassandra,
A. Ag. 1072-1330). Vd. Heirmann 1975.
79
Reina Marisol Troca Pereira
Marcas Sexuais
Em termos gerais, perpassam as maravilhas apresentadas com
um cariz erógeno que se estende com alguma transversalidade,
desde desejos sexuais a aspetos relativos ao género, permitindo
80
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
174
Cf. martírio de Policarpo, bispo de Esmirna, aludindo a uma
voz vinda do Céu (Historiae Eclesiae 1.4.15 / Mart. Pol. 9.1: ῾´Ισχυε,
Πολύκαρπε, ἀνδρίζου, “sê forte, Policarpo, e um homem” - exortação
estranha, pois Policarpo seria já homem). Diferentemente, a verdadeira
natureza do corpo humano, no sonho de Perpétua que a faz ver-se, em
sonhos, a lutar em corpo de homem (Pass. Perp. 10.7). Vd. Cobb 2012:
24.
175
Cf., neste sentido, Laqueur 1990.
81
Reina Marisol Troca Pereira
176
As ocorrências não se restringem à antiguidade grega (vd., na
tradição egípcia, o primeiro deus Atun, criador, com o seu sémen, dos
dois deuses seguintes). Vd., na mitologia helénica, a génese de Afrodite
Pânfila, emanada da espuma do mar, na sequência da imersão do esperma
pertencente ao membro viril de Úrano, seccionado por Cronos (vd. Hes.
Th. 180-181, 188-200); na teoria órfica, Zeus, que teria ejaculado o éter
(fr. 8 Bernabé - Papiro de Derveni); Atena, Diónisos, a partir de Zeus. Cf.
expedientes vários, como vómito - e.g. Cronos; moldagem - e.g. Pandora.
Vd. Paley 1861: 179-180; Austin 1990: 49-108.
177
Na realidade, existia um tipo de atitude particular recorrente dos
kinaedoi (cf. D.C.80.16.1-5; Phaed. 4.15-16, 5.1; Cael. 4.9). Por um lado,
o excesso de cuidados estéticos femininos (trajes, depilação, tatuagens.
Cf. D.L. 6.46). De outra parte, costumes particulares (e.g. coçar a cabeça
com um dedo, para não estragarem os penteados, Sen. Con. 7.4.7; Juv.
9.130-134a). Também, neste sentido, na esfera humana, se desenhava,
por conseguinte, um quadro deveras crítico e um campo pronto à sátira.
Vd. Dover 1978; Veyne 1987; Richlin 1993; Hubbard 2004.
82
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
Nascimentos Múltiplos
A rubrica que comporta quatro episódios de nascimentos
múltiplos (#28-31)179, distinguindo, como habitual, face a
outros topoi, eventos reais, seguidos de outros mitológicos.
Apresenta, primeiramente, duas ocorrências factuais ocorridas
em Alexandria, a partir de parturientes não identificadas.
Ainda que não apresentem disfunções, o que faz integrar este
tópico que combina esses quatro episódios na obra é tão só o
número de nascidos de uma mulher: vinte em quatro partos
(#28); outra, com cinco (3 rapazes e 2 raparigas) e depois mais
três gémeos (#29). De salientar, neste ponto, o apoio social
do Imperador Trajano (#29). No geral, nota-se o assombro
gerado por nascimentos gemelares, perspetivam-se dificuldades
financeiras para onerar os gastos e vislumbra-se a questão da
mortalidade infantil, por afirmações como τὰ πλεῖστα τούτων
178
Cf. Zwierlein 2011; Leitao 2012.
179
Cf., anteriormente, (Ps.) Arist. Mir. 80; Plin. HN 7.3.33-34.
83
Reina Marisol Troca Pereira
180
Cf., a propósito do conceito de τέρας enquanto criatura distinta
dos seus progenitores, incluindo andróginos - seres com a conjugação de
partes humanas e de animais (Emp. fr. 57-61D-K; Aeschin. Contra Cte-
sifonte 111; Arist. GA 4.3.767b; Lucr. 5.837-854). Cf. Hld. Aethiopika
4.8, acerca de uma filha branca, nascida de um casal negro, exposta, por
julgar-se de um caso de adultério.
181
Vd. Garland 1995; Laes — Goodey — Rose 2013.
182
Veja-se, a respeito, Plin. HN 6.181, 184; Sen. NQ 6.8.3, acerca da
expedição na época de Nero à Etiópia; Plin. HN 7.16-18, na sequência de
expedições exploratórias de África (cf. por ordem de Augusto, Etiópia e
outros lugares - Strat. 16.4.22–24). Considerem-se, a título exemplifica-
tivo, pigmeus, pela sua pequenez, nos limites da Índia (vd. Suet. Aug. 83);
e canibailismo entre tribos de Citas (Strat. 7.3.6; Plin. HN 7.9). Cf. Evans
1999; Woolf 2010; Trentin 2011; Laes 2017.
84
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
183
Vd. a promoção de combates de anões (pumiliones). Vd. Finley
1978; Romm 1992; Dasen 1993.
184
Vd. Dutsch — Suter 2015.
185
Seguindo o princípio de καλοκἀγαθία (καλὸς καὶ ἀγαθός, “belo
e bom”), ao procurar associar valores meritórios à beleza física, os Impe-
radores perversos possuiriam uma deficiência, sinais de carácter imoral
(cf., a respeito, Suet. Tib. 68, retratando Augusto, que tenta justificar
alguns jeitos de Tibério, perante o povo e o senado, alegando que defeitos
naturais não procediam de nenhuma depravação da mente: professus
naturae uitia esse, non animi. Cf. Suet. Ner. 51, Galb. 21.1; Vit. 17, Dom.
18.2. Vd. casos de crueldade monstruosa, Suet. Calig. 32.2; 27; Tib. 60),
dando credibilidade a tratados de fisiognomonia (vd. Polem. Phgn. 1.210.
Cf. Ps. Arist. Phgn.). Vejam-se, pois, a este respeito, alguns traços físicos
disformes de Imperadores, viz. o corpo do maculosus Augusto - séc. I
a.C./I d.C. (Suet. Aug. 80.1); Calígula - séc.I, como ‘monstro’ (Suet.
Calig. 22.1); Cláudio - séc. I, enquanto monstro físico (Sen. Apoc. 5.1-3);
o corpo fétido de Nero (Suet. Nero 51); a calvície de Calígula, que conde-
nava com falta capital quem o olhasse de cima (Suet. Calig. 50.1), e Júlio
César, que tomava a calvície um sinal de dignidade - Suet. Jul. 45.2 (cf.
Mart. Ep. 5.49, 6.57, 10.83 e a sátira a calvos); a barriga redonda do Vi-
télio - séc. I, como sinal de glutonia (Suet. Vit. 17); as duas corcundas de
Cómodo - séc. II (Scriptores Historiae Augustae, Commodorus 11.1) e a sua
conotação como monstrum (cf. Cássio, séc. II). Cf. a “forma misturada e
o prodígio disforme”, σύμμικτον εἶδος κἀποφώλιον τέρας (E. fr. 996
Nauck, a propósito do Minotauro. Vd. σύμμικτον εἶδος κἀποφώλιον
βρέφος. Plu. Tes. 15.2). Vd. Evans 1941; Cohen 1991a,b.
85
Reina Marisol Troca Pereira
Hibridismo
Autores anteriores a Flégon chegaram a reportar casos
‘quase-lendários’, resultantes de relacionamentos entre humanos
e outros animais188, inscrevendo-se numa vasta tradição mito-
186
Considerem-se banquetes com humanos tidos como monstruosos,
enquanto sinal de poder e reflexo de decadência e exotismo. Também o
gosto por anões, entre mulheres romanas da sociedade. Note-se o anão
Canopas, pertença de Júlia, sobrinha de Augusto (Plin. HN 7.75; Plu. Mor.
726a). Cf. ligação a atos de barbárie e feitiçaria. Outrossim, o exemplo
de Gegânia (Plin. HN 34.6), mulher que recebe, com a compra de um
dispendioso candeeiro (50 mil sestércios), um escravo corcunda, impu-
dentia libidinis, de nome Clésipo. Fazia questão de apresentá-lo nu, em
festas, e contemplou-o no seu testamento, donde a inscrição CIL 1(2) 1004:
Clesipis Geganius, Mag[ister] Capi[tolinus], mag[ister] Luperc[orum], uiat[or]
tr[ibinicius]. De igual modo, o costume de promover banquetes hilariantes
para os quais eram convidadas pessoas com diferenças físicas (viz. anões,
aleijados, negros, carecas, obesos, surdos) - vd., com as reservas que um
documento considerado por muitos fictício acarreta, Scriptores Historiae
Augustae (séc. IV), Heliogab. 29.3, Alexander Severus 34.2-4. Vd. Veyne
1968; Syme 1972. Cf. Trentin 2011; Laes — Goodey — Rose 2013.
187
Cf. ‘mercado de monstros’, referente ao mercado de escravos com
deficiência (περὶ τὴν τῶν τεράτων ἀγορὰν, Plu. Mor. 520c); e até a pro-
dução de deficiências em escravos, para satisfazer o gosto dos donos (cf. o
uso de glottokomae para criar situações de nanismo). Será porventura até
incorreto destacar exclusivamente reações da cultura romana face à defor-
midade, pois tribos africanas, da Eurásia, da América, integram nas suas
culturas uma tradição de práticas rituais de criação de deformidades físicas,
como o alongamento de pescoços (e.g. tribo Kayan/Padaung - território:
Mianmar/Burma) e lóbulos (Cf. Tutankamon). Vd. Trentin 2011.
188
E.g. Plin. HN 7.3.34, sobre Alcipe, grávida de um paquiderme;
Tat. Or. 33.15-17, acerca de Glaucipe, grávida de um elefante (cf., sobre
86
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
87
Reina Marisol Troca Pereira
Hipocentauros
Esta secção de duas histórias parece apresentar-se como uma
sequência mitológica (Hipocentauros) de hibridismos, ainda
que distanciada daquela na estrutura da obra.
Contrariamente à posição racionalizadora de alguns pa-
radoxógrafos190, a criatura é retirada do fantástico (#34), pelo
190
Vd. Centauro preservado em mel, ofertado a Cláudio (Plin. HN
7.35). Cf. Fulg. 2.14, sobre a etimologia de Centauro, a partir de centum:
‘cem’. Considere-se Luc. DDeor., acerca do engano de Ixíon por Zeus,
que substituira Hera, então desejada pelo insolente mortal, por uma
nuvem, dando origem a Centauro(s). Vd. Pi. P. 2.21-48; D.S. 4.69.4-5;
Apollod. Epit. 1.20, reportando os Centauros como filhos do arrogante
Ixíon com a nuvem. Cf. Serv. A. 6.286. Para a racionalização do mito dos
Centauros (Hipocentauros), enquanto cavaleiros, vd. a versão de Palae-
ph., Περὶ ἀπίστων 1, séc. IV a.C., rejeitada por outras fontes, a exemplo
do autor tardio Tz. H. 7.10-48. D.S. 4.70.1 contempla a versão que dá
conta dos Centauros criados por Ninfas, no Monte Pélion, e dos proge-
nitores dos Hipocentauros, criaturas metade humanas, metade equinas,
na sequência do relacionamento com éguas. Assim, a impossibilidade
biológica do Hipocentauro e, extensivamente, do hibridismo: εἴ τις
οὖν πείθεται τοιοῦτον γενέσθαι θηρίον, ἀδύνατον· οὔτε γὰρ ἄλλως
αἱ φύσεις σύμφωνοι ἵππου καὶ ἀνδρός, οὔτε ἡ τροφὴ ὁμοία, οὔτε διὰ
στόματος καὶ φάρυγγος ἀνθρωπείου δυνατὸν ἵππου τροφὴν διελθεῖν.
εἰ δὲ τοιαύτη ἰδέα τότε ἦν, καὶ νῦν ἂν ὑπῆρχε. “Ora, para o caso de al-
guém acreditar que tal criatura existiu, trata-se de uma impossibilidade.
As naturezas do cavalo e do homem não se combinam, a sua alimentação
não é a mesma e não é possível que o alimento do cavalo passe pela boca e
garganta humanas. Ademais, se tivesse existido tal forma então, também
existiria agora.” Também, em sentido similar, sobre monstruosidades
híbridas, que julga impossíveis em essência, existindo apenas similitudes
aproveitadas por comediógrafos e fisiognomónicos (Arist. GA 4.769b.13-
25). Outra tradição concerne aos (Hipo)Centauros, filhos de Ixíon e
Néfele. Vd. Heraclit. 5; X. Cyr. 4.3.19-20, denotando a dificuldade de
os Centauros poderem usufruir de muitas benesses criadas para os ho-
mens; Plin. HN 7.202 (7.81). Cf., aliás, Lucr. 5.878-891, a propósito da
impossibilidade de alguma vez terem existido criaturas híbridas, como os
88
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
Centauros. Vd. Banier 1740; Fritsch 1789; Ernesti 1816; Festa 1890; Von
Blumenthal 1942; Osmun 1956; Sanz Morales 1999; Brodersen 2002a;
Fowler 2006; Ramon Garcia 2009; Torres Guerra 2010; Renz 2011;
Priestley 2014; Troca Pereira 2016c; Stern 1996, 2003.
191
Considere-se uma inversão de um motivo etiológico exótico
descrito/explorado historicamente, a propósito de lugares como a Líbia,
onde existiriam criaturas fantásticas e homens sem cabeça (Hdt. 4.191.4).
A crer na veracidade literal do caso, porque não o seu inverso (pessoa com
várias cabeças)?
192
Cf. caso similar ocorrido em 163 a.C., em Capoue (Cápua), repor-
tado posteriormente por Obsequente, LP 14.
193
No seguimento da informação dos textos Sibilinos (#4), apreende-
-se, a partir do episódio #25, o destino reservado a desvios biológicos
face à normalidade, monstruosidade horrífica, reflexo da confusão de
espécies. Expiação ou afogamento e execução de sacrifícios e rituais
eram as soluções habituais. Flégon segue, na generalidade, indicações já
reportadas anteriormente, prosseguindo comportamentos remotos (cf.
Obsequente, Liber Prodigiorum 25, ainda que autor posterior, reporta
um caso bastante recuado - o nascimento de um jovem, no consulado
de L. Fúrio e S. Atílio Serrano (136 a.C.) com membros e órgãos em
89
Reina Marisol Troca Pereira
Androginia e Hermafroditismo
Não pode conferir-se um estatuto binário ao género, mas
antes ponderar um visionamento triádico, constituindo o
hermafrodita o terceiro género194 . Já Lívio postulava, no séc.
I, a maior propriedade da língua grega para denotar casos de
anormalidade genética (cf. 27.11.5). Além disso, o termo ‘an-
drógino’ (ἀνδρόγυνος)195 apresenta maior antiguidade do que
90
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
2005; Betegh 2004; André 2006; Swancutt 2007; Edmonds 2009; Troca
Pereira 2013a; Turner 2001: 24.
196
Considere-se a vetusta temática de raízes tradicionais de composi-
ção mitológica, no tocante à androginia. Eis o mito etiológico respeitante
a Hermafrodito, figura epónima do hermafroditismo. Devendo-se ao
relacionamento atípico entre Hermes e Afrodite (D.S. 4.6.5. Vd. Her-
mafrodito e a fertilidade - Paus. 1.19.2), é no retrato de Ovídio (Met.
4.285-388) que se encontra a perseguição que lhe move a ninfa Sálmacis,
seguidora, não de Diana, mas de Vénus, até ao mergulho nas águas da
fonte com o mesmo nome (cf., atualmente, Halicarnasso, na Cária), que
atendem ao rogo da ninfa por uma união indelével. Assim, um ser de
género híbrido, Hermafrodito (cf. Luc. DDeor. 3 Macleod). Vd. represen-
tação artística, sobretudo na arte helenística do séc. IV a.C. Já na segunda
metade do segundo milénio a.C., figuras de deusas Sírias de uma figura
feminina, em trajes, seios, e genitais masculinos, geralmente com um falo
ereto, representando Hermafrodito anasyromenos. A revelação através da
elevação das vestes (cf. ἀνασύρομαι) torna-se essencial para comprovar
o género, ainda que salvaguardado o código de representação artística de
nu nas partes femininas. Cf. costume egípcio descrito por Heródoto, a
propósito de mulheres que, no âmbito do festival a Ártemis em Bubaste,
navegavam no Nilo, entre danças, cânticos, ruídos, levantavam as suas
vestes (2.60) e gritavam obscenidades à assistência feminina nas margens.
Vd. Ajootian 1997. Outrossim, a consideração de ‘Afrodite, sob a forma
de herma’, aproveita ao entendimento do nome ‘Hermafrodito’. Além do
mais, a figura vai ao encontro da duplicidade/indeterminação sexual, no
sentido de uma potencial bissexualidade, conforme depreendido a partir
da referência aristofânica a um ‘Afrodito’ gravado nas palavras de Macró-
bio (3.8.2-3. Cf. Catul. 68.51: duplex Amathusia). Eis, pois, o culto a uma
Vénus andrógina, barbada, em Chipre, portadora de vestes femininas
e genitais masculinos (vd. Paus. 1.19.2; Macr. 3.8.2, com referência de
Calvo Ateriano; Aristófanes - Ἀφρόδιτον; Levino; Filócoro, acerca de
sacrifícios realizados na Ática, por homens, com vestes femininas). Vd.
Brisson 1973; Pontalis 1973; Boardman 1978; Burkert 1979; Winkler
1990; Myers 1994.
91
Reina Marisol Troca Pereira
197
Vd. Suda φ 4. Cf. Luc. Demon. 13, Eun. 7, acerca de Favorino
imberbe (πώγωνα), eunuco (εὐνοῦχος) e até desprovido de testículos.
198
Cf. Trombetta — Liguori — Bertolotto 2015: 16-17.
199
Parménides (fr. B18.231-240) menciona um incidente inibidor de
uma ‘correta’ união dos elementos de proveniência masculina e feminina
no momento concetivo, donde as atitudes efeminadas em homens, supra
viris em mulheres (cf. Sen. Ep. 20.122.7) e o surgimento de tríbades. Vd.
Krenkel 1989
200
Cf. Brisson 2002: 28.
92
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
201
Vd. Polemo (Phys. 2.1.192), contemporâneo de Flégon, no séc. II,
mediante o qual masculinidade e feminilidade se definiam em função
do corpo e do comportamento, facto aliás patente nos tratados de fisiog-
nomonia que grassaram na Antiguidade.
202
Cf. Creuzer 1836: 297.
203
Vd. Plin. HN 7.36, acerca da veracidade de mudança de sexo
mulher>homem: Ex feminis mutari in mares non est fabulosum. “Os casos
de mulheres que se tornaram homens não são fábulas”. Cf. Money —
Hampson — Hampson 1955; Laqueur 1990; Herdt 1990; Kent 2011:
13; Thatcher 2016.
204
Cf., a título ilustrativo, resguardadas as devidas reservas quanto à
datação, Ant. Lib. Met. 17. Neste episódio, o autor pretende, no seguimento
de Nicandro, Met. 2, retratar a transformação de Leucipo em Galateia
(cf., com contornos similares, Ífis, Ov. Met. 9.665-796), por atendimento
divino perante solicitação, no templo de Leto. Contemplam‑se igualmente,
a propósito, outros casos, a saber, Cénis, filha de Átrax/Elatos, por
influência de Posídon (cf. Ov. Met. 12.190), tornada Ceneu de Lápita,
tendo regressado ao género sexual original, após a sua morte (cf. Serv.
A. 6.448); o adivinho Tirésias, durante algum tempo; a prostituição de
Hipermnestra e o travestismo, por philia paterna. Vd. Cameron 2004.
93
Reina Marisol Troca Pereira
205
Vd. Diels 1890; Santangelo 2013.
94
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
95
Reina Marisol Troca Pereira
206
O Período em que Flégon se inscreve posiciona-se no ínterim
de comportamentos efeminados até no seio Imperial - um traço de
atualidade para o leitor hodierno, como que juntando-se a outros
excessos, degenerações e exotismos no âmbito dos relacionamentos.
Vd., anteriormente, a bissexualidade manifestada por Nero, em 67
- noivo’ de Esporo, um ator castrado (cf. Suet. Nero 28-29; Juv. 2.117-
142); no séc. III, o Imperador Elagábalo/Heliogábalo/Sardanápalo/Ps.
Antonino - Marco Aurélio Antonino Pio (D.C. 80.13.2), com desejo de
mudança cirúrgica de sexo, para uma vagina (D.C. 80.16.7) - traço de
feminidade e orientalismo. Flégon não retrata casos de transexualidade
com intervenção cirúrgica, pese embora a sua ocorrência. Vd. Groneberg
2003; Icks 2011.
207
Vd. Plin. HN 11.109.262, quanto a mulheres masculinizadas
como monstruosidades. Considere-se a remota consideração de que o
νόος feminino se distinguia do masculino, em Semon. fr. 7 Bergk 1-2:
Χωρὶς γυναικὸς θεὸς ἐποίησεν | νόον τὰ πρῶτα, “O deus [Zeus] criou o
carácter da mulher diferentemente, no início”). Porém, a inversão do polo
dominante da dicotomia masculino/feminino, no virilizado contexto
social da Antiguidade, conduz à mudança hierárquica de onde emerge tal
figura feminina, que institui uma ginecocracia (cf. tríbadas, Amazonas,
mulheres de matriz viril; exemplo mitológico de Clitemnestra, A. Ag. 11:
γυναικὸς ἀνδρόβουλος, “mulher de máscula vontade”. Vd. D. 46.16,
acerca do homem dominado por uma mulher - ἄκυρος). Trocava-se,
então, a descrição biológica/médica imbuída de contornos civilizacionais
misóginos que apresentava a mulher como um ser fisicamente inferior
(cf. Hp. Virg.: ἀθυµοτέρη γὰρ καὶ ὀλιγωτέρη ἡ φύσις ἡ γυναικείη,
“por natureza, a mulher tem um cariz mais fraco, menos coragem [do
que o homem]”, reproduzindo o entendimento de Arist. GA 775a:
ἀσθενέστερα γὰρ ἐστι καὶ ψυχρότερα τὰ θήλεα τὴν φύσιν, καὶ δεῖ
ὑπολαµβάνειν ὥσπερ ἀναπηρίαν εἶναι τὴν θηλύτητα φυσικήν,
“Porque as mulheres são mais fracas e mais frias na sua natureza,
deveríamos olhar para o estado feminino como uma deformidade, ainda
que ocorra no curso normal da Natureza”. Vd., no contexto romano, V.
Max. 9.1.3), o que socialmente se refletia numa condição aparentemente
redutora, passiva e marginalizada/secundária. Cf. Blundell 1995.
208
Espelhando o eros ‘vulgar’, também a zoossexualidade ou zoofilia
constituía um ato de bestialidade praticado desde tempos vetustos, em
diversas culturas (e.g. Egito: uniões com cabras; burras; mulas e até de
mulheres e de homens com crocodilos. Cf. Hdt. 2.46). Ora reprovados,
ora aceites, na Antiga Roma denotavam a falência dos mores tradicionais
(e.g. Semíramis, com o seu cavalo - Plin. HN 8.64[42]; Aristodeme, mãe
96
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
de Arato, com uma serpente (Paus. 4.14), assim como a mãe de Cipião
e a progenitora de Alexandre), com o intuito único de atender a uma
líbido sexual incontida e mais do que selvática, porquanto ultrapassa o
comportamento de qualquer animal (vd. Macr. 2.5.10. Cf. Hdt. 2.46;
Plin. HN 8.64[42]). Isso mesmo denunciavam espetáculos teatrais
promovidos sob o beneplácito de Nero, proporcionando aos olhos do
povo a contemplação de cenas de acasalamento de mulheres e homens,
envergando peles de animais, o que denotava o gosto popular de então
(Suet. Nero 29). No mesmo âmbito, partem da mitologia envolvimentos
de natureza zoofílica. Não obliterando o teromorfismo reconhecido nas
representações mais vetustas das divindades, as metamorfoses animalescas
facultam um meio relevante no que respeita às ligações entre deuses e
mortais (e.g. Apolo-lobo ~ Cirene, Zeus-águia ~ Astéria-codorniz,
Deméter-égua ~ Posídon-cavalo, Teófane-carneiro ~ Posídon-carneiro,
Bóreas-cavalo ~ Erínia-cavalo, Posídon-delfim ~ Melanto, Zeus-cisne ~
Némesis-gansa, Zeus-fogo ~ Egina, Zeus-serpente ~ Perséfone, Apolo-
tartaruga ~ Dríope, Éaco ~ Psâmate-foca, Europa ~ Zeus-touro, Cronos
ou Quíron-égua ~ Fílira, Tífon ~ serpente Equidna, Pasífae ~ touro,
Aristodeme ~ Asclépio-dragão, Posídon-pássaro ~ Medusa, Zeus-águia ~
Ganimedes, Astéria e quiçá Egina, Zeus-cisne ~ Leda, Zeus ~ Ío-vitela,
Zeus-sátiro ~ Antíope, Neptuno-touro ~ Cânace, Neptuno-carneiro ~
Teófane, Neptuno-cavalo ~ Ceres). A descendência refletia a união, em
aspetos vários, desde a forma de nascimento (e.g. ovo: Clitemnestra/
Helena/Pólux/Castor), até à morfologia do neonado, com traços de
bestialidade, por vezes sinal de embaraço, vergonha e até perigo. Na
realidade, a prole resultava de aproximações forçadas (cf. Pã < Penélope
~ Hermes-bode, Luc. DDeor. 2 Macleod) ou funcionava inclusivamente
como forma de castigo (e.g.: Minotauro < Pasífae ~ touro). Vd. Foucault
1984; Keuls 1985; Halperin — Winkler — Zeitlin 1990; Calame 1996.
209
Cf. Gal. UP 14.6: παντ᾿ οὖν, ὅσα τοῖς ἀνδράσιν ὑπάρχει μόρια,
ταῦτα κἀν ταῖς γυναιξὶν ἰδεῖν ἐστιν, ἐν ἑνὶ μόνῳ τῆς διαφορᾶς οὔσης
97
Reina Marisol Troca Pereira
98
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
Gigantismo
A exploração do grotesco retratada por Flégon segue
assim com descobertas de marcas de figuras gigantes, o que
atemoriza o comum dos mortais de tamanho inferior, par-
ticularizando com pseudo-historicidade eventos retratados
tradicionalmente, no panorama mitológico (cf. Il. 21.407, a
propósito de Ares. Gigante Títio, Od. 11.577). A temática
não é, pois, inovadora, encontrando-se em diversos autores213
e por vezes associada com a kalokagathia, no respeitante à
grandiosidade de corpo e de alma reconhecida em heróis e
99
Reina Marisol Troca Pereira
214
Cf., a título ilustrativo, Arist. Pol. 7.13.3 = 1.332b; Paus. 6.5.1,
sobre o vencedor Olímpico (e.g. Pulidamante de Escotusa, vencedor
de pancrácio, que pretendia rivalizar com Héracles em robustez, é
descrito artisticamente como o maior homem, à exceção de heróis - 4ª
idade hesiódica(?) : ὁ δὲ ἐπὶ τῷ βάθρῳ τῷ ὑψηλᾷ Λυσίππου μέν ἐστιν
ἔργον, μέγιστος δὲ ἁπάντων ἐγένετο ἀνθρώπων πλὴν τῶν ἡρώων
καλουμένων καὶ εἰ δή τι ἄλλο ἦν πρὸ τῶν ἡρώων θνητὸν γένος, “A
estátua no pedestal é obra de Lisipo e representa o maior de todos os
homens, excetuando os chamados heróis e outra raça mortal que tenha
existido antes dos heróis”.
215
Sobre o declínio progressivo da raça humana, em termos de altura
e longevidade, vd. Hes. Op. 109–201, em particular 129, respeitante à
degeneração da idade da prata, relativamente à precedente. Outrossim,
cf. August., C.D. 15.9.
100
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
101
Reina Marisol Troca Pereira
Desenvolvimento rápido
Os episódios #32 e #33, ainda que de natureza distinta,
denotam casos de desenvolvimento/crescimento acelerado. O
primeiro é singular, masculino e anónimo e completa todas as
fases de crescimento biológico (do nascimento à paternidade)
em sete anos. O segundo regista um fenómeno coletivo - as
mulheres de Pândia geram crianças aos seis anos de idade.
102
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
216
Cf., ainda que não se trate de uma obra independente, Plin.
HN 7.153-164, com indicação (HN 7.49) de fontes precedentes sobre o
mesmo assunto, desde Hesíodo (cf. fr. 304 M-W. Vd., posteriormente,
continuação do topos Luc., Macrobii.
103
Reina Marisol Troca Pereira
VII/VI a.C. - Callin. fr. 1.5-8 Diehl; Tyrt. fr. 6.7.1-2 Diehl , fr.
9. 32-34 Diehl. Vd. Simon. fr. 121 Diehl) para defesa pública e
privada (pátria, família), de modo a vencer o término imperioso
da existência mortal, através da arete celebrada após a morte
física (cf. Ibyc. fr. 282. 47-48 PMG).
Seguem-se aos nomes (regra geral dois elementos ou os tria
nomina típicos dos romanos) apostos de gens, sendo por vezes
necessário supor o tipo de relação (e.g. Macr. 1: “ Creste, [filha]
de Antípatro”), localidade e idade de óbito. Os(As) escravos(as)
libertos(as) são em número considerável (1 escravo, 11 libertos,
9 libertas). Essencial para justificar o praenomen e nomen de
vários é o nome do seu antigo proprietário (exceções, e.g. Públio
Frix, liberto de Lúcio), uma vez que parte da familia. E a este
propósito constituirá motivo quiçá para refletir sobre o modo
de vida que teria salvaguardado tamanha longevidade, porém
o resultado não satisfaria mais do que atestar vidas sem traba-
lhos forçados, alimentação adequada, clima (cf. Plin. HN 7.49,
acerca da durabilidade da vida humana, referindo Hesíodo,
Anacreonte, Teopompo, Helénico, Damastes, Éforo, Alexandre
Cornélio, Xenofonte). No caso das mulheres, denominação a
partir do nomen paterno. São comuns os nomes Públio, Gaio,
Marco, Lúcio, Tito, Quinto, a título ilustrativo, o que poderá
confundir o leitor, quando não associado a outros elementos.
Por certo não seria a mesma pessoa nem ‘quem eram’ (porven-
tura do conhecimento público), para que não se acrescentassem
outros dados. Contam-se, todavia, algumas exceções em Macr.
1, designadamente duas entradas, com indicação da causa de
morte (e.g. Demócrito de Abdera, anorexia (?); Ctesébio, en-
quanto andava; Jerónimo - feridas de guerra), profissão (e.g.
Ctesébio, historiador; Jerónimo, coletor) após a nota etária. Na
globalidade, as pessoas em causa são desconhecidas (exceções:
e.g. Ctesébio, Demócrito. Cf. Lúcio Fidiclânio, da tradicional
104
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
105
Reina Marisol Troca Pereira
a propósito de Epiménides:
217
Cf. historicidade de Herófila e Fito (?). Vd. Burkert 1985.
218
Vd. Bouché-Leclercq 2003.
219
Sobre a adivinhação e a necessidade de alguns princípios estoicos,
vd. Hankinson 1988.
106
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
220
Cf. Sósimo, Vita Noua 2.1; FGrHist 257 F40.
107
Reina Marisol Troca Pereira
221
Cf. Ormerod 1924.
108
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
222
I.e. deuses pagãos.
109
Reina Marisol Troca Pereira
223
Cf. Eus. Chron. 1.190-194. (e.g. Pi. O. 10). Vd. Niceu. Paus.
5.7.7 - 5.8, iniciando com teomaquias. Strat. 8 atribui a instituição aos
Heraclidas, de regresso ao Peloponeso.
224
Vd. König 2005: 175-176.
225
Cf. a não presença de mulheres, salvo casos específicos (vd. Paus.
5.6.5, com distinção entre a permissividade conferida a virgens e a
proibição de mulheres casadas - Paus. 6.20.6). Cf. Walters 1978.
226
Vd. Guthrie 1955; Gordon 1981; Fowler 2009.
110
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
227
Cf. Geffcken 1902; Haight 1918; Parke 1988; McGing — Parke
1988; Raybould 2016.
228
Vd. Lang 2007.
229
Vd. Cancik 1979.
111
Reina Marisol Troca Pereira
230
Cf. Roessli 2004.
231
Cf. Teosofia de Tübingen, texto do séc. V, transmitindo a etimologia
de ‘Sibila’; o catálogo varroniano de 10 sibilas, os Libri Sibyllini. Vd.
Brocca 2011.
112
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
Thg. 124d; Ar. Pax 1095. Cf., no século seguinte, Arist. Pr. 954
a 34-38), figura não referenciada nas epopeias ditas homéricas,
nem em Hesíodo. Heraclides Pôntico (apud Clem. Al., Strom.
1.21.108), séc. IV a.C., distingue a sibila Ártemis, da Frígia -
Marpesso, e Herófila, de Eritreia, na Jónia, prefigurando, desde
logo, um antagonismo entre zonas detentoras da verdadeira sibi-
la. O diferendo patriótico e identitário multiplica-se em número
por altura das migrações gregas para a Ásia Menor. O Catálogo
varroniano, apud Lact. Diu. Inst. 1.6.7-14, editado desde 1465,
conferindo expansão ao topos (inclusão de Agripa e Europa, em
conformidade com a Crónica Pascal, texto bizantino), menciona
dez sibilas: de Pérsia, Líbia, Delfos, Ciméria, Eritreia, Samos,
Cumas, Helesponto, Frígia, Tíbur. Vd. schol. Phaedr. 244b).
No séc. II, Paus. 10.12.1 menciona dez: de Babilónia, Líbia,
Ciméria, Samos, Frígia, Helesponto, Eritreia (uma mais antiga,
outra mais nova), Delfos (uma mais antiga, outra mais recente),
Cumas (quiçá correspondente à de Eritreia, Arist. Mir. 97) e a
Triburtina. De notar ainda, entre os Hebreus, Sabe. Ael. VH
12.35, séc. II/III, contava quatro: a de Eritreia, a do Egito, a de
Samos e a da Sardenha.
113
(Página deixada propositadamente em branco)
2. Flégon: considerações biográficas de um paradoxógrafo
Sobre Maravilhas
Flégon de Trales
115
(Página deixada propositadamente em branco)
Sobre Maravilhas
[1]
<***>232 [A ama] foi até às portas do quarto de hóspedes
e, à luz da chama de uma lamparina, avistou-a [Filínion] ao
lado de Macates. Dado o cariz extraordinário do portento, não
conseguindo aguentar ali mais tempo, correu ao encontro da
mãe, a gritar em altos brados: “Carito!” e “Demóstrato!” Julgava
que eles deviam levantar-se e ir com ela até à filha deles. É que
ela estava viva e, graças a alguma vontade divina, encontrava-se
com o hóspede, no quarto de hóspedes.
Quando Carito escutou este reconto surpreendente, em
primeiro lugar ficou perplexa e desmaiou, devido à grandiosi-
dade da mensagem e à excitação da ama. Porém, rapidamente,
lembrou-se da filha e começou a chorar. Por fim, acusou a velha
criada de loucura e exigiu-lhe que se retirasse de imediato. Con-
tudo, a ama retorquiu233, de forma perentória e reprobatória,
que possuía uma mente prudente e sã, contrariamente à sua
senhora, que não desejaria ver a filha.
Com hesitação, Carito, em parte convencida pela ama, e em
parte pretendendo saber o que realmente sucedera, dirigiu-se à
porta do quarto de hóspedes. Uma vez que havia então decorrido
um considerável período de tempo – cerca de duas horas -, desde
a notícia inicial, já era tarde quando Carito chegou. Com efeito,
aqueles234 já estavam a dormir. A mãe espreitou para o interior
e julgou reconhecer as roupas e as feições [da sua filha], mas,
enquanto não pudesse atestar a veracidade do facto, decidiu não
232
Texto inexistente.
233
Cf., no original, μετὰ παρρησίας. Cf. παρρησία (‘parrésia’)
enquanto direito para usar impunemente de franqueza discursiva,
superiorizando até restrições impostas pelo estatuto social (e.g. Eletra, na
condição de serva, face a Clitemnestra, E. El. 1056). Vd. Schlier 1954;
Sluiter – Rosen 2004; Praet 2009; Worthington 2010.
234
Entenda-se [os ocupantes].
117
Flégon de Trales
235
Sobre o topos da necrofilia, a tradição mitológica confere alguns
exemplos (e.g. Dimetes ~ Evope, Parth. 31.
118
Sobre Maravilhas
236
Entenda-se [para chamar os pais dela].
119
Flégon de Trales
237
Protetor de hóspedes e suplicantes.
120
Sobre Maravilhas
2.
Hierão238 de Alexandria ou de Éfeso refere que um fantasma
também apareceu na Etólia.
Ora, Polícrito, um dos cidadãos, foi designado Etolarca239 da
região, por três anos, pelos cidadãos, que o consideraram digno,
em virtude da nobreza240 dos seus ancestrais. Enquanto estava no
cargo, tomou uma mulher lócria como esposa; viveu com ela du-
rante três noites e morreu na quarta noite. A mulher permaneceu
na casa como viúva. Quando decorreu o tempo de gestação, ela
deu à luz uma criança com dois tipos de genitais, masculino e
feminino, os quais diferiam imensamente. A parte superior dos
genitais era dura e viril, ao passo que a secção em redor das coxas
era feminina e mais suave. Atordoados, os familiares levaram a
criança à ágora, onde convocaram uma assembleia, chamando
sacrificadores e também adivinhos. De entre eles, alguns decla-
raram que haveria de apresentar-se um dissídio entre Etólios e
Lócrios. Com efeito, a criança havia sido separada da mãe, que era
lócria, e do pai, etólio. Outros eram da opinião de que deveriam
levar a criança e a mãe para o campo, para além dos limites da
cidade, e queimá-los. Enquanto deliberavam, Polícrito, que havia
antes falecido, apareceu na assembleia, perto da criança e vestido
de negro. Os cidadãos ficaram tomados de espanto pela aparição
e muitos começaram a fugir quando ele chamou os cidadãos a
demonstrar coragem e a não ficarem confusos na presença do
fantasma. Depois de ter posto fim à maior parte da comoção e
da confusão, falou, com voz suave, da seguinte forma: “Cidadãos,
o meu corpo está morto, mas no que respeita à boa vontade241
238
PGR 32 F1.
239
Autarca da Etólia, no séc. V a.C. Cf., de modo análogo, Boiotarca,
enquanto autarca da Beócia. Vd. Brisson 1978: 92-94.
240
καλοκἀγαθία.
241
εὔνοια.
121
Flégon de Trales
242
χάρις.
122
Sobre Maravilhas
243
τύχη.
244
τέκνον.
245
Cf. Orfismo: vegetarianismo e a obrigatoriedade de ‘mãos
impolutas de sangue’. Vd. Brown — Tuzin 1983; Brisson 1995.
123
Flégon de Trales
124
Sobre Maravilhas
3.
O filósofo peripatético Antístenes246 conta que o cônsul Acílio
Glábrio, juntamente com os legados Pórcio Catão e Lúcio Valério
Flaco, prepararam uma guerra contra Antíoco, nas Termópilas, e
lutaram com nobreza, forçando os homens de Antíoco a largar as
suas armas e o próprio Antíoco a fugir com quinhentos guardas,
inicialmente para Elateia247, depois do que Acílio o compeliu a
retirar-se para Éfeso. Acílio enviou Catão a Roma para informar
da vitória, enquanto ele próprio se ocupava da guerra contra os
Etólios, em Heracleia, que venceu com facilidade. Neste con-
fronto com Antíoco nas Termópilas, ocorreram presságios muito
notáveis para os Romanos. Nos dias seguintes à derrota e fuga
de Antíoco, os Romanos ocuparam-se em remover os corpos
tombados dos seus para enterrar e na recolha de armas e de outros
espólios, assim como de prisioneiros de guerra.
Um certo Buplago, comandante de cavalaria da Síria, que era
tido em grande consideração pelo Rei Antíoco, tombou, após ter
lutado nobremente. Ao meio-dia, quando os Romanos recolhiam
todas as armas dos inimigos, Buplago ergueu-se de entre os mor-
tos, possuindo doze feridas, e foi até ao acampamento Romano,
onde proferiu, com voz suave, os seguintes versos:
246
Considera-se Antístenes de Rodes um filósofo peripatético do
séc. II a.C. De origem aristotélica, os defensores da escola peripatética
(e.g. Teofrasto, Estratão, Aristóxeno, Andronico) andavam enquanto
expunham as suas ideia, conforme indica o étimo grego περιπατέω. Cf.
FGrHist 508 F*2. Vd. Wehrli 1974.
247
Cidade da Fócia, região central da antiga Grécia.
125
Flégon de Trales
248
Epíteto de Zeus como divindade apotropeica que acautela os
males.
249
Sacerdotisa do oráculo de Apolo.
250
Mensagem de contornos estoico-epicuristas, apelando à contenção
material dos Romanos. Assim, a máxima gravada em Delfos, μηδὲν ἄγαν
e aurea mediocritas, no epicurismo horaciano (Carm. 2.10.5).
126
Sobre Maravilhas
251
Entenda-se [compartilhado com].
127
Flégon de Trales
128
Sobre Maravilhas
129
Flégon de Trales
4.
Diz-se que Hesíodo253, Dicearco254, Clearco, Calímaco255 e
outros autores256 contam as seguintes coisas a propósito de Ti-
résias. Que Tirésias, filho de Evero, na Arcádia, avistando, em
Cilene, umas cobras a copular, feriu uma delas257 e de seguida
mudou de forma. Passou de homem a mulher e teve relações
com um homem. Apolo informou-o num oráculo que se ele
observasse as criaturas a copular e de modo similar ferisse a
outra cobra, ele voltaria a ser como era antes. Procurando uma
oportunidade, Tirésias fez o que a divindade referiu e assim
recuperou a sua natureza antiga.
252
Apolo, epítetado de lobo.
253
Fr. 275 M-W.
254
Fr. 37 Wherli.
255
Fr. 576 Pf.
256
Cf. Apollod.; Ov. Met. 3.316-339; Hyg. Fab. 75. Cf. O
paradoxógrafo de pendor racionalista, séc. I/II (vd. Eust. Od. 4.450),
Heraclit. Incred. 6: Acerca de Tirésias, sem alongamentos. Veja-se
igualmente Ant. Lib. 17.4-5. Também Paradoxógrafo Vaticano 31, autor
anónimo de Περὶ ᾿Απίστων, Sobre Contos Inacreditáveis, em Vaticanus
Graecus 305. Cf. Brisson 1976; Troca Pereira 2016c.
257
Curiosamente, no original, τρῶσαι τὸν ἕτερον, “feriu o outro”
- quiçá o outro género distinto dele - o feminino. Cf. Brisson 1976. Vd.
Eust. Od. 10.494.
130
Sobre Maravilhas
5.
Os mesmos autores259 referem que, na região dos Lapitas,
nasceu uma filha ao rei Elato, de nome Cénide. Depois que
Posídon se relacionou sexualmente com ela e anunciou atender
a qualquer desejo seu, ela pediu-lhe que a transformasse num
homem e a tornasse invulnerável. Posídon atendeu o seu pedido
e o seu nome mudou para Ceneu260.
6.
Existia também um andrógino em Antioquia, junto ao rio
Meandro, na altura em que Antípatro era arconte em Atenas
258
Cf. Call. Hymnus 5.75-136; Apollod. 3.6.7.
259
Cf. Hes. fr. 87 M-W; Call. fr. 577 Pf, Dicearco fr. 38 Wehrli. Cf.
metamorfose sexual de Zeus.
260
Cf. Palaeph. 10. A propósito da figura de Ceneu, importa
considerar o topos da ambivalência sexual e da mudança de sexo, por
vontade de Posídon, correspondendo aos desejos da sua jovem amada
Cénis (Ceneu). Cf., no panorama da literatura clássica, Hes. fr. 87 M-W;
Apollod. Epit. 1.22 Considerem-se, outrossim, Tirésias (metamorfose
transitória); Hipermnestra, Sipretes (c. Ant. Lib. 17: Leucipo). Vd.
Heraclit. 3. No âmbito latino, e.g. Ov. Met. 12.189-209, 459-532; Hyg.
Fab. 14.4.
131
Flégon de Trales
7.
Havia outrossim um andrógino em Mevânia, uma cidade
na Itália, na casa de Agripina Augusta, quando Dionisodoro era
arconte em Atenas e Décimo Júnio Silano Torquato e Quinto
Ha{s}tério Antonino265 eram cônsules em Roma.
Uma jovem chamada Filótis, de origem esmírnea, estava em
idade de casar e tinha sido prometida a um homem pelos seus
261
Ano 46.
262
Ano 45 .
263
Anos 41–54 .
264
ἀλεξίκακος: ‘protetor do mal’.
265
Ano 53.
132
Sobre Maravilhas
8.
Nasceu um outro andrógino, na mesma altura, em Epidau-
ro, filho de família pobre, primeiramente chamado Sinferusa 268,
mas que, quando se tornou um homem, se chamou Sinferon-
te269. Passou a vida como jardineiro.
9.
Também em Laodiceia da Síria, uma mulher de nome
Etete, quando ainda vivia com um homem, mudou de forma
e de nome, tornando-se o homem Eteto, quando Macrino
[era arconte] em Atenas e Lúcio Lâmia Eliano270 e <Sexto
Carmínio>271 Vetero eram cônsules em Roma. Isto eu próprio
vi 272.
10.
Nasceu também um hermafrodita em Roma, quando
Jasão273 era arconte em Atenas e Marco Pláutio {e Sexto Car-
mínio} Hipseu 274 e Marco Fúlbio Flaco275 eram cônsules em
Roma.
266
Entenda-se ‘genitais masculinos’.
267
Ano 53. Vd. Doroszewska 2013.
268
Cf. Phld. Sign. 4 De Lacy.
269
Masculinização do nome.
270
Ano 116.
271
Ano 83. Vd. [Sexto Carmínio Valério] Jacoby.
272
Cf. caso similar, Plin. HN 7.4.36.
273
Cf. Tibério Cláudio Jasão Magno. Vd. Clinton 1830.
274
Ano 125 a.C.
275
Ano 264 a.C. Cf. 125 a.C. Vd. Chaudon 1737-1817.
133
Flégon de Trales
276
Σύγκλητος.
277
Ano 207 a.C.
278
Verso acróstico. Cf. Diels 31.
279
Cf. Tema recorrente noutros oráculos, e.g. Hdt. 1.66, relativo à
Arcádia, após a morte de Licurgo. Vd. Ῥώμη, ‘Roma’; ῥώμη, ‘força física’.
280
Deusas ctónicas relativas a fertilidade e morte, respetivamente.
281
Número formular.
282
Faltam 7 versos - 13a-g.
134
Sobre Maravilhas
B289
<***>
No tear divino e com tecelagens multicoloridas,
que Plutão seja adornado para que haja um controlo contra os
[males.
283
Número formular em coros - 3x9.
284
Provavelmente Hera, porque as vítimas eram brancas.
285
Tochas.
286
Cf. Perséfone, esposa de Plutão.
287
Vd. Stieber 2004.
288
Falta 29a-c.
289
Segundo Oráculo: 200 a.C.
135
Flégon de Trales
290
Αἰδωνεῖ Πλούτωνι.
291
Falta 52a-b.
292
Ilha grega. Culto de Hera.
136
Sobre Maravilhas
293
Folhas de palmeira, sobre as quais a Sibila de Cumas escreve as
profecias. Cf. Serv. ad Verg. A. 3.444: in foliis palmarum Sibyl/am
scribere so/ere testatur Varro.
294
Sila?
137
Flégon de Trales
11.
Em Messene, não há muitos anos, conforme refere Apoló-
nio , sucedeu que uma jarra armazenada feita de pedra se partiu
295
12.
E na Dalmácia, na chamada Gruta de Ártemis, podem ver-
-se muitos corpos, sendo os ossos de costela de mais de onze
cúbitos299.
295
Autor não identificado. Cf. #13, reportando como fonte o
gramático Apolónio.
296
Cf., similarmente, Paus. 1.35.7, alegadamente sobre a descoberta
das ossadas de Hilas (1.35.8), com proporções supra-humanas (μέγεθος),
na sequência de uma tempestade.
297
Arqueiro notável por força e bravura, daí quiçá esta imagética
peculiar (cf. monstros filhos de Gaia - Coto, Briareu, Giges, Hes. Th.
147-153). Vd. Il. 9.558-559, A.R. 1.151. Já Paus. 3.13.1-2 localiza o seu
túmulo.
298
Il. 9.558-560. Cf. Apollod. 1.7.8-9.
299
Cúbito ou côvado, c. 0,5m (0,66m?).
138
Sobre Maravilhas
13.
O gramático Apolónio dá conta de que, no tempo de Ti-
bério Nero300, houve um tremor de terra301, e muitas e conhe-
cidas cidades da Ásia302 desapareceram por completo, as quais
Tibério subsequentemente ergueu de novo, a expensas próprias.
Devido a isto, tendo-lhe [o povo] erigido uma estátua gigante,
consagraram-na junto ao templo de Afrodite, que fica na ágora
romana303, e também colocaram ao lado estátuas de cada uma
das cidades.
14.
De entre os locais atingidos pelo terremoto, encontravam-se
não poucas cidades da Sicília, assim como as zonas próximas
de Régio e numerosos povos no Ponto também foram afetados.
Nas fendas da terra, apareceram corpos enormes, que os habi-
tantes locais hesitavam mover, porém, como exemplo, enviaram
para Roma um dente de um: não media apenas um metro, mas
mais do que esse comprimento. Os delegados mostraram-no a
Tibério e perguntaram se desejava que o herói [inteiro] fosse
trazido até si. Ele elaborou um plano sagaz, de modo a não ficar
privado de um conhecimento desta envergadura e evitou o sacri-
légio de despojar mortos. Convocou então um certo geómetra
não desconhecido, de nome Pulcro, um homem de renome, res-
peitado pela sua habilidade, e ordenou que fizesse uma cara na
proporção do tamanho do dente. O geómetra, tendo feito uma
estimativa do tamanho que o corpo e a cara teriam, através do
300
Imperador entre 14-37.
301
Cf. #19. Sobre tremores de terra reveladores, vd. Díctis, Efeméride
da Guerra de Troia, e Dares, Sobre a História da Queda de Troia. Cf. Phld.
Sign. 4; Solino 1.91.
302
Entenda-se ‘Ásia Menor’.
303
Entenda-se ‘fórum’.
139
Flégon de Trales
15.
Não se devia desacreditar esta narrativa, uma vez que tam-
bém em Nítr<i>a, no Egito, são exibidos corpos que não são mais
pequenos do que estes, não estando escondidos na terra, mas
encontrando-se descobertos e visíveis na totalidade. Não estão
juntos, nem misturados desordenadamente, mas encontram-se
distribuídos de tal maneira, que uma pessoa ao vê-los reconhece
alguns como ossos das coxas, outros como ossos das canelas, e
dos outros membros.
Também não deveria desacreditar-se, ao refletir, pois, no
início, quando a natureza estava nos seus primórdios, criava
tudo semelhante aos deuses, mas à medida que o tempo passa, o
tamanho das criaturas também vai diminuindo.
16.
Também recebemos notícias de ossos em Rodes, tão grandes
que, quando comparados, os homens da atualidade, são de
tamanho muito inferior.
17.
O mesmo autor refere que existe uma ilha perto de Atenas,
que os Atenienses pretendiam fortificar. Ao fazerem as esca-
vações para as fundações dos muros, encontraram um caixão,
que tinha cem cúbitos de comprimento, no qual repousava
um esqueleto de igual tamanho, sobre o qual se encontrava a
seguinte inscrição:
140
Sobre Maravilhas
18.
Êumaco304 conta, em Periégese de Cartago, que, quando [os
Cartagineses] estavam a cercar o seu território com uma trin-
cheira, encontraram, durante a escavação, dois esqueletos que
jaziam em urnas. Um deles media, no conjunto, vinte e quatro
cúbitos e o outro vinte e três.
19.
Teopompo de Sinope305 refere, em Acerca dos Sismos no
Bósforo de Ciméria, que se verificou, subitamente, um abalo
terrestre, na sequência do qual um dos vários cumes dessa região
se abriu, revelando grandes ossos. A estrutura do esqueleto tinha
vinte e quatro cúbitos306. Ele afirma que os bárbaros habitantes
locais atiraram os ossos para o lago Maiotis.
20.
Foi trazida uma criança até Nero, que tinha quatro cabeças
e proporcional [número] de outros membros, na altura em que o
arconte em Atenas era Trasilo e os cônsules em Roma307 Públio
Petrónio Turpiliano e <Lúcio> Cesénio Peto.
304
Historiador de Nápoles, séc. III/II a.C., fr. 2 Müller.
305
Na costa do mar Euxino.
306
Cf. estaturas de #18.
307
Ano 61.
141
Flégon de Trales
21.
E nasceu outra com a cabeça a crescer para fora do seu om-
bro esquerdo.
22.
Um prodígio extraordinário ocorreu em Roma308, quando
o arconte em Atenas foi Dinófilo e os cônsules em Roma eram
Quinto Verânio e Gaio Pompeio Galo. De facto, uma criada
das que estimava a mulher de Récio Tauro, pretor, deu à luz um
macaco.
23.
A mulher de Cornélio Galicano deu à luz uma criança com
uma cabeça de Anúbis309, em Roma310, na altura em que o ar-
conte em Atenas era Demóstrato e os cônsules em Roma eram
Aulo Licínio Nerva Silaniano e Marco Vestino Ático.
24.
Uma mulher da cidade de Trento, na Itália, deu à luz
cobras311 enroladas em forma de bola, quando312 os cônsules
em Roma eram Domiciano César, pela nona vez, e <Quinto>
Petílio Rufo, pela segunda vez, e em Atenas não havia líder.
308
Ano 49.
309
Divindade egípcia com corpo de homem e cabeça de cão.
310
Ano 65. Cf. Liv. 31.12.6-8c, que associa a este topos a génese de
nascimentos animalescos híbridos.
311
Cf. Plin. HN 7.3.34, com um relato de índole similar, tomado
como portento, no conflito bélico de 91-88 a.C. Vd. App. BC 1.83. No
séc. IV, Júlio Obsequente, Liber Prodigiorum, referiria vários prodígios e
monstruosidades, alguns do tipo aludido por Flégon (viz. andróginos),
embora passados muito antes (viz. 57, na época de Sila, séc. II/I a.C.).
312
Ano 83.
142
Sobre Maravilhas
25.
Em Roma, uma mulher deu à luz um feto com duas cabeças,
que, por recomendação dos arúspices, foi atirado ao rio Tibre.
Isto sucedeu na ocasião em que o governador em Atenas era
Adriano, que foi imperador, e os cônsules313 em Roma eram o
Imperador Trajano, pela sexta vez, e Tito Sextio Africano.
26.
O médico Doroteu314 conta, em Reminiscências315, que, em
Alexandria, no Egito, um homem kinaidos316 deu à luz e que
o recém-nascido foi embalsamado e ainda se preserva, tal foi o
portento.
27.
Na Germânia, no exército dos Romanos, o qual se encon-
trava sob o comando de Tito Curtílio Mância, sucedeu isto
mesmo. Ora, um escravo de um soldado deu à luz, quando317
Cónon era arconte em Atenas e Quinto Volúsio Saturnino e
Públio Cornélio Cipião cônsules em Roma.
28.
Antígono318 reporta que, em Alexandria, uma mulher, em
quatro partos deu à luz vinte filhos, e que a maior parte deles
foi criada.
313
Ano 112.
314
Doroteu de Hielopólis, médico egípcio, anterior ao séc. I a.C .
315
῾Υπομνήματα.
316
Elemento passivo do relacionamento homoerótico. Vd. Ulrichs
1975; Williams 1999.
317
Ano 56.
318
Mirabilia 110.1, obra de um paradoxógrafo, séc. III a.C.
143
Flégon de Trales
29.
Outra mulher da mesma cidade deu à luz cinco crianças
num parto - três do sexo masculino e duas do feminino -, que
o Imperador Trajano ordenou319 que fossem criados a expensas
suas. De novo, no ano seguinte, a mesma mulher deu à luz
outros três.
30.
Hipóstrato320 refere, em Sobre Minos, que Egito gerou de
uma única esposa, Eurirroe, filha de Nilo, cinquenta filhos321.
31.
De igual modo, Dânao322 teve cinquenta filhas323 de uma
mulher, Europa, filha de Nilo.
32.
Crátero324, irmão do rei Antígono, diz conhecer um homem
que, em sete anos, foi criança, jovem, homem, ancião e, depois
de ter casado e ter tido filhos, morreu.
319
Anos 98-117. Cf. Lei Romana, Digest of Justinian sobre nascimentos
múltiplos. E.g. Digesta 5.4.3, 34.5.7, 46.3.36. Cf. Arist. HA 7.4.30.
320
Historiador, séc. III a.C. Vd. FGrHist 568 F 1 = Hipóstrato fr.
1 M = Phleg. Mir. fr. 59 (tom. III, p. 623). Autores como Hipóstrato
e Dânao reportam o nascimento de cinquenta filhos, a partir de uma
mulher, no Egito. Contrariamente, veja-se a tradição de cem filhos de
Egito e Dânao, mas a partir de várias mulheres.
321
Flégon não reporta o número de gravidezes.
322
Irmão de Egito.
323
Contraponto feminino de #30. Flégon não reporta o número de
gravidezes. Para outros casos, cf. Hes. Th. 240-264, 337-370.
324
Historiador da Macedónia, séc. IV/III a.C. Vd. FGrHist 342 T4.
Sobre degeneração rápida, cf. FGrHist 715 F13c. Vd. Plin. HN 6.23.76.
Cf., a propósito, Crater. fr. 18 Muller: Phleg. Mir. c. 32.
144
Sobre Maravilhas
33.
Megástenes325 refere que as mulheres que habitam em Pan-
daia procriam quando têm seis anos.
34.
Encontrou-se em Sauna, uma cidade na Arábia, um hipo-
centauro326, numa montanha muito alta, pródiga numa droga
mortal. A droga tem o mesmo nome da cidade e considera-se a
mais rápida e eficaz das substâncias fatais.
O rei, tendo capturado o hipocentauro vivo, envia-o para
o Egito, juntamente com outros presentes para o César. O seu
alimento era carne. Contudo, não aguentando a mudança de
ares, morreu, pelo que o prefeito do Egito o embalsamou e
enviou para Roma.
Inicialmente, foi exibido no palácio. A sua face era mais
selvagem do que a humana, as suas mãos e dedos eram mais
peludos e as costelas estavam ligadas às pernas dianteiras e à
barriga. Tinha cascos duros de cavalo e crinas fulvas, embora,
em resultado do embalsamento, as crinas estivessem negras,
juntamente com a pele. O tamanho não era como as descrições,
apesar de também não ser pequeno.
35.
Ora, também diziam que havia outros hipocentauros, na
cidade de Sauna anteriormente referida. Mas, quanto ao que foi
enviado para Roma, se alguém duvida, pode verificar327: com
325
Vd. FGrHist 715 F 13. Veja-se Hdt. 3.99. Cf. Megasth. fr. 24
Muller: Phleg. Mir. c. 33. Vd. Plin. HN 6.22.6. Cf. Polyaen. Strateg.
1.3.4, a propósito de Pandaia.
326
Cf. Arist. Mir. 78. Vd. Plin. HN 7.3.35, 10.2.5; Tac. Ann. 6.28.
327
ἱστορῆσαι.
145
Flégon de Trales
146
Acerca de Grande Longevidade
Flégon de Trales
147
(Página deixada propositadamente em branco)
Acerca de Grande Longevidade
328
Cf. Bolonha.
149
Flégon de Trales
329
Poderá ficar dúvida, pelos dados dispostos, se seria irmão do
anterior.
150
Acerca de Grande Longevidade
330
Conímbriga?
331
Cf. FGrHist 244 F 49.
332
Ou historiador. Cf. FGrHist 154 T 2.
333
Cf. FGrHist 86 F 4.
151
Flégon de Trales
334
Residência do governador.
335
Hdt. 1.163.2.
336
Fr. 361 PMG (4 Gentili).
337
Cf. estado de enthousiasmos. Vd. Plu. De Pyth.Or. 6.
152
Acerca de Grande Longevidade
338
Apolo.
339
Vd., a propósito, o conceito órfico de ‘morte’ e o topos do corpo
enquanto túmulo mortal de uma alma sobrevivente, já em Pl. Cra. 400c.
Vd. Morford — Bos 2003.
340
Cf. cleidonomancia.
341
Entenda-se “dez décadas”.
153
Flégon de Trales
342
Terento, Campo de Marte.
154
Acerca de Grande Longevidade
155
(Página deixada propositadamente em branco)
Sobre as Olimpíadas
Sobre as Olimpíadas
Flégon de Trales
157
(Página deixada propositadamente em branco)
Sobre as Olimpíadas
343
Vd. Cuartero 1998.
344
Apolo.
345
Vd. Paus. 5.20.1, acerca da proclamação de tréguas inscrita, não
horizontalmente, mas em círculo.
159
Flégon de Trales
346
Cf. santuário de Pélops em Olímpia (Pi. O. 1.90-93). Vd.
celebrações e ritos dos Elianos.
160
Sobre as Olimpíadas
161
Bibliografia
Bibliografia
162
Bibliografia
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Bibliografia
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Bibliografia
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Bibliografia
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Bibliografia
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Bibliografia
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Bibliografia
195
Bibliografia
196
Index nominvm
Index nominvm
A Agatárquides de Cnido
(Agatharch.) - 17 n.16
Abdera [top.] - 55
Acerca do Mar Eritreu, De mari
Acárnia [top.] - 76 Erythraeo
Acílio Glábrio - 56, 125 7 - 68 n.149
Acrópole do Peloponeso [top.] - 159 Acontecimentos da Ásia, Τῶν
Acusilau - 18 n.18 κατὰ τῆν Ἀσίαν - 9 - 16 n.12,
Adão - 105 57, 151
Addison - 31 n.51, 39 n.70 Acontecimentos da Europa, Τῶν
Admeto [mit.] - 66, 68 n.149 κατὰ τῆν Εὐρώπην - 16 n.12
197
Index nominvm
198
Index nominvm
199
Index nominvm
200
Index nominvm
201
Index nominvm
De Resurrectione Mortuorum - B
30 n.51
Babilónia [top.] - 113
Atenas [top.] - 54, 131-133, 140-
143, Babilónia, Sibila de - 113
D e i p n o s o p h i s t a i , Bandinelli - 19 n.23
Δειπνοσοφισταί - 18 n.17 Banier - 89 n.191
6.88 - 17 n.15 Barash - 52 n.104
7.118 - 17 n.15 Barnes - 19 n.20
13.55 - 17 n.15 Básci<a> - 150
13.89 - 17 n.15 Basileia [top.] - 55, 149, 150
Ateniense(s) [etn] - 38, 56, 140 Bast - 48
Atenodoro (filósofo) - 59 n.122, Bayle - 44, 44 n.89
Atenodoro (pirata) - 108 Beagon - 14 n.6
Ática [top.] - 91 n.196 Bébia Marcela - 150
Atílio Serrano - 89 n.193 Beda
Átis [mit.] - 90 n.195 DTR 47 - 35 n.66
Átrax [mit.] - 93 n.204 Beleia - 55, 149, 151
Atun [mit.] - 82 n.176 Belia - 55, 150
Augusto (César) - 21 n.28, 53 Beócia [top.] - 121 n.239
n.108, 84 n.182, 85 n.185 Bergua - 58 n.121
Augusto, sobrinha de - 86 n. 186 Bernabé - 62 n.127, 82 n.176,
Augusta [top.] - 107 Bertolotto - 92 n.198
Aulo Gélio (Gell.) Betegh - 91 n.195
Noctes Atticae - 18 n.17 Bianchi, E. - 77 n.169
1.19.1- 112 Bianchi, U. - 62 n.127
9.4 - 18 n.17 Bíblia
9.4.15 - 92 1Co.
Aulo Licínio Nerva Silaniano - 15:3–5 - 75 n.162
56, 142 Amos
Ausónio (Aus.) 8.9 - 36 n.69
Cupido Crucificado - 67 n.147 Atos
Austin, N. - 82 n.177 17:34 - 32 n.56
Austin, S. - 29 n.46 Evangelhos apócrifos - 36 n.69
202
Index nominvm
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210
Index nominvm
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Index nominvm
212
Index nominvm
Eusébio [Pânfilo] de F
Cesareia(Eus.) - 9, 25, 32, 34,
34 n.64, 39, 41, 43, 107 Fabrício
213
Index nominvm
214
Index nominvm
215
Index nominvm
216
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Index nominvm
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Index nominvm
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229
Index nominvm
230
Index nominvm
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Index nominvm
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Index nominvm
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Index nominvm
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Index nominvm
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Index nominvm
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Index nominvm
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Index nominvm
Richter - 53 n.106 S
Ricoeur - 53 n.106 Sabe, Sibila - 113
Rigg - 29 n.46 Sabina [top.] - 55, 152
Rodes [top.] 15 n.11, 54, 125 Saecularia - 154
n.246, 140
Sálmacis, Ninfa [mit.] - 91 n.196
Roessli - 112 n.230
Salvador - cf. Cristo, Jesus - 27, 29,
Roma [top.] - 21-22 n.28, 22 n.31, 33
54, 79, 87, 89, 93, 96 n.208,
103, 108, 111, 112, 125, 127, Sálvia Varena - 150
128, 132, 133, 134 n.279, Sambursky -17 n.15
139, 141, 142, 143, 145 Samos [top.] - 15 n.8, 113
Romano(s) [etn.] - 5, 11, 12, 14 Samos, Sibila de - 113
n.6, 16 n.13, 21-22 n.28, 25 Samson - 22 n.29
n.38, 44, 46 n.94, 53 n.107,
54, 54 n.109, 56, 60, 68 n.149, Samuel - 32 n.58
69 n.153, 74 n.160, 79, 80, 85 Santangelo - 94 n.205
n.186, 86 n.187, 87, 90 n.194, Santoni - 22 n.29
92, 95, 96 n.207, 103, 104,
Sanz Morales - 51 n.101 89 n.190
112, 125, 126, 126 n.250,
129, 139, 143, 144 n.319, 154 Sardanápalo - cf. Elagábalo -
96206
Romano, Estado - 111
Sardenha [top.] - 113
Romano, Fórum - 54, 101
Sardenha, Sibila de - 113
Romano, Império - 22 n.28, 23
Sarpédon [mit.] - 68 n.149
Romano, Período Imperial - 87,
95 Sarque - 150
Romm - 14 n.6, 85 n.183 Sátiros [etn.] - 53-54 n.109
Rorem - 32 n.56 Sauna [top.] - 54, 145
Rose - 62 n.128, 84 n.181, 86 Schanz - 14 n.6
n.186 Schepens - 13 n.5, 20 n.26
Rosen - 117 n.233 Schiavone - 90 n.194
Routh - 29 n.46, 31 n.52 Schlesier - 68 n.149
Roux - 77 n.170 Schlier - 117 n.233
Rudhardt - 23 n.32, 62 n.127 Schmidt - 39 n.72
Rufo de Filipos - 71 Schneiderman - 52 n.106
Rzepka - 76 n.165 Schöll - 22 n.29
Scholten - 76 n.165
238
Index nominvm
239
Index nominvm
240
Index nominvm
241
Index nominvm
242
Index nominvm
243
Index nominvm
244
Index nominvm
Z
Zagreu [mit.] - 62 n.127, 63, 78
n.171
Zalmoxis - 64 n.131
Zatchlas - 61 n.123
Zecedente - 150
Zeitlin - 62 n.127, 97 n.208
Zenão - 17
Zeus [mit.] - 68 n.49, 82 n.176, 88
n.190, 90 n.195, 94, 96 n.207,
97 n.208, 98 n.212, 101, 109,
126 n.248, 127, 131, 131
n.259, 154, 160
Zeus-águia - 97 n.208
Zeus Alexikakos - 111, 132
Zeus/Anfitrião - 109, 110
Zeus Apotropaios - 59, 80, 126
Zeus-cisne - 97 n.208
245
(Página deixada propositadamente em branco)
Volumes publicados na Coleção Autores
Gregos e Latinos – Série Textos Gregos
250
42. Marta Várzeas: Dionísio Longino. Do Sublime. Tradução do
grego, introdução e comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e
Annablume, 2015).
251
50. Ana Alexandra Alves de Sousa (coord.): Juramento. Dos fetos de
oito meses. Das mulheres inférteis. Das doenças das jovens. Da
superfetação. Da fetotomia. Tradução do grego, introdução e
comentário (Coimbra e São Paulo, IUC e Annablume, 2018).
252
Autor clássico tardio de expressão grega, Flégon Trales
ganhou notoriedade reconhecida por séculos, através
de obra mormente perdida para a hodiernidade, à
exceção de alguns fragmentos e secções de Sobre Ma-
ravilhas, Acerca de Vidas Longas e Sobre as Olimpíadas.
Poderia constituir apenas mais um legado a acrescentar
a tantos outros. Porém, a escrita de Flégon mostra-se
enriquecedora, permitindo assistir a notas orientais; à
assimilação cultural empreendida pelos dominadores
militares romanos; à vivência e ao valor de elementos
tradicionais pagãos num paradigma judaico-cristão
que em certos casos demonstra a apropriação indevida
e abusiva de afirmações do historiador traliano. Os te-
mas poderão simplesmente entender-se como matéria
leviana de gosto popular, marcada pela exploração de
temáticas grotescas e assombrosas. Porém, uma exege-
se distinta proporcionará uma elevação dos opuscula
do Traliano, se entendidos como invólucros enigmáti-
cos de realidades sociais com atualidade então e agora.
OBRA PUBLICADA
COM A COORDENAÇÃO
CIENTÍFICA