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LOGOS

Da memória ao cinema
Cristiane Freitas*

RESUMO
O cinema apresenta-se como um instrumento
de resgate da memória por sua capacidade
de trabalhar com as representações dos

L ’ existence est commu­ni­cation
- que toute repré­sentation
de la vie, de l’être, et géné-
ralement de ‘quelque chose’, est à voir à
partir de là.”
emoções, assim como o gosto e a cultura
do autor do filme.
Quando falamos, então, de um filme,
referimo-nos não apenas à sua história,
mas também ao tema, isto é, à modalida-
importantes momentos da história. O ima- Georges Bataille de de uma história em que as imagens são
ginário cinematográfico revela-se como um
estruturadas do mesmo modo significa-
documento de uma realidade complexa
e estratificada, podendo ser revisitada em
O resgate da memória é uma das ques- tivo, ativando uma comunicação entre o
qualquer época. tões em voga nos últimos tempos para o “autor” (indivíduo ou grupo) e o público,
Palavras-chave: cinema; memória; represen- entendimento dos rumos da história. Na- a partir de um dado universal (o tema).
tações culturais. ções européias admitindo a participação Essas indicações levam-nos a pensar
em massacres históricos, a rediscussão dos em como o filme, que trata dos diferen-
SUMMARY valores de maio de 68, paralelamente à ce- tes níveis da realidade, integra-se a uma
The Motion-Picture presents itself as a res- lebração dos seus trinta anos, são apenas representação do imaginário, que fica
cuing memory tool for its capability to work alguns exemplos deste momento. reificada numa obra em que as realidades
with the representation of impor­tant historic O cinema tem expressado os sinto- física e mental resistem à passagem do
moments. The cinemato­­graphic imaginary mas desses fenômenos na tela. Alguns tempo e às modificações provocadas pela
reveals as a document of a complex and
cineastas revelam preocupações com a obra na nossa forma de ser e de pensar.
stratified reality, being able to be revisited
at any time.
atual situação política e social de seus Essa característica da imagem ci-
Keywords: motion-picture: memory; cultural países, outros se preo­cupam em criar ar- nematográfica foi instaurada desde o
representations. quivos de imagens sobre períodos pouco tempo dos irmãos Lumière. O imaginário
compre­endidos pela história, enquanto cinematográfico manifesta-se através de
RESUMEN alguns ainda tentam voltar ao passado uma obra que se coloca, então, como
El cine se presenta como un instrumento de como tentativa de entender o presente. documento, como testemunha de uma
rescate de la memoria por su capa­cidad de realidade complexa e estratificada, reve-
actuar sobre las represen­taciones de los im- Por tudo isso que está sendo desven- lada ao menos teoricamente e podendo
portantes momentos de la historia. El “imagi- dado diante dos nossos olhos é que uma ser revista a qualquer momento, ao longo
nario” del cine se mostra como un documento reflexão sobre a função da memória no dos anos e em qualquer país.
de una realidad compleja y estratificada, que
cinema faz-se pertinente. A instituição No entanto, esse imaginário, mostra-
se puede revisitar en cualquier época.
Palabras-llave: cine; memoria; repre­
cinema é complexa e multiforme, por do de acordo com as idéias, o gosto e a
sentaciones culturales. meio da qual são produzidas obras com mentalidade do “autor” em sua época,
imagens em movimento e sons com entra em interação com a mentalidade,
linguagem própria, articulados por um com a maneira de viver e de pensar dos
tempo e um espaço específicos. consumidores de cinema. O público ao
O objeto em questão é o filme, enten- qual o filme é dirigido, formado por indi-
dido essencialmente como representação víduos históricos, culturais e socialmente
(imagem) de uma realidade física ou men- determinados, apresenta diferenças entre
tal. A realidade representada pelo filme si (de tempo e de espaço) e suas reações
não é somente física ou material (uma tornam o imaginário ainda mais complexo
paisagem ou um figurino): os elementos e rico em ressonâncias.
visuais e auditivos contribuem também Os efeitos do filme podem ser
para o desenvolvimento da história. de ordem pessoal (dizem respeito a
A maneira como a imagem é estrutu- cada espectador do filme) e de ordem
rada manifesta o vínculo de idéias e de coletiva (cada espectador sente de
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maneira diferente os efeitos do filme, Para Jean-Louis Schefer, em L’homme Assim, a percepção se situa entre o pre-
possibilitando uma nova discussão). ordinaire du cinéma, o termo memória sente e o passado, desdobrando-se em
Assim, o filme propõe a cada indivíduo tem um duplo significado: é o instrumen- movimento de “percepção” e de “percep-
a vivência de uma experiência particu- to memorial do espectador (aquilo que ção-lembrança”, e temos consciência so-
lar, na qual cada um reage segundo a ele é capaz de assimilar) e é a “memória do mente da segunda, pois já está absorvida
sua situação histórico-cultural. filme” (as relações temporais e estruturais pelo passado.
A relação entre o espectador e o entre os acontecimentos do filme). Duran- Ao aplicar as análises de Bergson para
filme é analisada por Roger Odin, pela te a projeção, o que existe é um processo entender o encontro do público com o
idéia de “pragmática do filme”. Trata-se de ordenar e relacionar as ações entre si, filme, notamos que a atividade psíquica
de como o filme, durante a projeção, permitindo ao espectador elaborar a sua do espectador é determinada pela intera-
dirige a compreensão do espectador. O perspectiva. ção entre as variantes de reconhecimento
sentido do filme seria fruto das associa- Tal idéia é exaustivamente analisada berg­soni­a­nas, pro­vocadas pela confron-
ções do espectador ocorridas durante por Henri Bergson em sua teoria sobre o tação entre a instantaneidade da imagem
a projeção, o que faz com que o filme, reconhecimento (re­connaissance), que atual absorvida pelo espírito e a atenção
enquanto discurso coerente, não exista às diferenças de tempo e pelo encontro
isolado da recepção. da imagem atual com a lembrança e com
O encontro entre filme e espectador a imagem apresentada na tela.
durante a projeção foi definido por Edgar Todos esses fenômenos O tema da memória, sempre que tra-
Morin como um “complexo de projeção- propostos pela imagem le- tado pelos sociólogos, principalmente no
identificação”. Ou seja, o filme propor- vam-nos a avaliar o sentido. que tange a uma mídia, assume a noção
ciona ao espectador a transferência de de “memória coletiva”. Esse conceito foi
todos os fenômenos subjetivos, aqueles A imagem cinematográfica vastamente desenvolvido pelo sociólogo
que deformam a realidade objetiva fabricada relaciona-se com o Maurice Halbwachs: “nós diríamos que
das coisas ou que se situam fora dela, sentido porque repete as for- cada memória individual é um ponto de
como por exemplo, a imaginação. Esse mas inicialmente produzidas vista sobre a memória coletiva e que esse
encontro também permite o surgi­mento ponto de vista muda conforme o lugar
de fenômenos, tais como a analogia e a que ele ocupa, e que esse lugar muda
dissociação. conforme as relações que eu mantenho
A imagem cinematográfica é por apresenta um sentido particular quando com outros meios”. (1997, p.94) A lem-
excelência uma analogia do real. Para se trata de cinema. O autor distingue brança não é constituída apenas pelo
Paul Ricoeur, “a analogia permite transpor várias maneiras de “reconhecimento”. A indivíduo, mas também pela lembrança
todas as características da consciência primeira é o reconhecimento imediato de outros, mesmo por uma simples
individual do eu ao nós. Falaremos, então, que vem a ser o da situação: “primeiro conversa. O resultado é uma troca de
de identidade coletiva, de continuidade tem o reconhecimento instantâneo, um memórias. Além disso, as transformações
da memória coletiva (...). Mas a força de reconhecimento em que o corpo sozinho na lembrança são produzidas pela trans-
ligação continua sendo a analogia.” (1998, é capaz, sem nenhuma lembrança explíci- formação dos meios coletivos.
p.19) Já o fenômeno que se passa entre ta, de intervir”. (1939, p.100) Esse tipo de Por outro lado, Paul Ricoeur coloca
o espectador e o filme é uma forma de reconhecimento está ligado à percepção. em questão a existência de uma consci-
dissociação: o espírito não se deixa con- O reconhecimento é, então, uma ação ência coletiva, portanto, de uma memó-
fundir com a situação que ele reconhece passiva, isto é, faz um esforço para se ria coletiva. Para ele, esses conceitos só
ser como aquela do seu corpo. integrar a uma dada situação, além de poderiam ser tratados como analogias.
Todos esses fenômenos pela imagem saber utilizá-la. Recorrendo à fenomenologia, principal-
levam-nos a avaliar o sentido. A imagem O outro tipo de reconhecimento é mente à noção de intersubjetividade do
cinematográfica fabricada relaciona-se constituído por um trabalho sobre o tem- indivíduo de Husserl, Ricoeur levanta a
com o sentido porque repete as formas po, e Bergson o denomina de “atenção”. hipótese de que a memória de uma co-
inicialmente produzidas no pensamento. Consiste em uma avaliação do objeto atu- munidade é formada pela constituição
Como diz Jacques Aumont, “imitando as al em função de percepções passadas: “a mútua entre as subjetividades privada
metáforas originais do espírito, a imagem atenção implica no retorno ao passado do e coletiva.
se torna veículo de sentido”. (1996, p.153) espírito que renuncia a perseguir o efeito Isso significa que a interioridade e a
Sendo assim, o objetivo da imagem é útil da percepção presente”. (Idem, p.110) socialidade são constituídas simultânea
representar as manifestações sensíveis A atenção é uma análise da percepção e mutuamente, tendo como ponto de co-
do espírito. presente a partir de antigas percepções, esão a narrativa pública. Desse processo,
A partir daí, percebemos que os fenô- o que vem a ser todo um trabalho de Ricoeur conclui que “a interioridade da
menos que condicionam a relação entre o analogias. Esse processo faz com que a memória é o termo de um processo de
filme e o público são diretamente ligados percepção atual seja compreendida e interiorização estritamente correlativo
à percepção, que, por sua vez, engloba a estimulada. ao processo de socialização”. (1998, p.20)
memória. A compreensão de um filme Segundo Bergson, “toda percepção A partir dessa correlação é que se pode
exige do espectador a memorização das já é memória. Na prática, nós só perce- falar de memória, identidade coletiva e
ações empreendidas durante a projeção, bemos o passado; o presente puro é um identidade pessoal.
além de uma específica facilidade para incompreendido progresso do passado O cinema é, por excelência, um meio
elaborar as ações memorizadas. atormentando o futuro”. (Idem, p.167) de socialização que tem como função pro-
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duzir uma memória social compartilhada em todas as capacidades do nosso corpo. serve de ilustração a bibliografias de
por um grande número de indivíduos. É É por isso que mantém a sua força. obras históricas sem trazer, com efeito,
também um fenômeno de memorização A imagem ci­ne­­­ma­to­grá­fica tam­bém nenhuma contribuição inovadora. Ela
de fatos, de personagens, de idéias e, por tem co­mo fun­ção re­cu­­­pe­rar a memória. chega a afirmar que “o filme paralisa o
essa importância, impõe-se a necessidade O cinema é a me­mória viva, uma vez que, trabalho intelectual e afetivo que exige
de conservação de todos os filmes. cons­­tan­te­men­te reprodu­zido, remete o o corte entre o passado e o presente e
Porém, antes de abordar a relação passado ao presente, sem cessar. Ficção gela a atividade crítica”. (1991, p.69)
da memória com o filme, analisaremos ou não, a imagem do filme, ainda que per- A idéia defendida por Michèle Lagny
a função da imagem cinematográfica cebida individualmente, é coletivamente não leva em conta a importância históri-
propriamente dita. ativa, já que o julgamento pessoal é subs- ca do cinema como a arte do século XX
A fonte de inspiração do cinema é um tituído pelo afeto coletivo, aumentando nem as suas características fundamentais,
olhar sobre o mundo, a articulação entre mais uma vez a sua força. O cinema não analisadas anteriormente. Ela faz parte de
a realidade e a ficção. A imagem em mo- produz uma simples imagem, mas uma uma velha perspectiva intelectual preten-
vimento é um produto do pen­sa­men­­to e que, através da memória, transforma-se siosa que considera relevante somente o
a arte realiza a identidade de um mundo em um lugar de exercício dessa imagem e, trabalho acadêmico para explicar os fatos
sensível do pensamento. simultaneamente, em uma interrogação da vida social.
A imagem pode ser também uma sobre ela. O cinema é objeto da história. E
forma de significação da experiência da Podemos constatar que a imagem é para que o cineasta a “represente” é
realidade, tornando esta mais expressiva. um suporte privilegiado da memória e necessário que esteja em jogo a sua
Nesses termos, a imagem pode assumir pode servir à construção da história em identidade com a história. Nesse sen­­
o sentido benjaminiano de “aura”. No todas as suas formas, já que a história é tido, o cinema pode contar vários tipos
entanto, para Michel Maffesoli, essa “aura” tratada como objeto do cinema devido à de história: a história como prática de
não diz respeito somente à obra de arte sua capacidade de expressar um aconte- memória (a que se ocupa em ilustrar
stricto sensu, pois a massi­ficação da cul- cimento, um estilo de época ou de vida. fatos passados), a história do tempo
tura proporcionou o nascimento de uma É importante ter em mente que toda presente ou, ainda, a história como
“arte do cotidiano”, que “consiste em sim- história é uma história cons­truída, assim intriga ou conjunto de ações. Em suma,
bolizar tudo que é indecidido, tudo que é como seus personagens e acontecimen- o cinema é um lugar onde diferentes
imprevisto, que contém o que é habitual”. tos. O resultado é a possibilidade de con- identidades coletivas contam para si e
(1990, p.108) Nesse sentido, a imagem do figurá-la de outra maneira que o vivencia- para os outros a própria história.
cinema é baseada na vida cotidiana. do ou contado por outras pessoas. Ao se O encontro entre o cinema e a his-
Voltamos a insistir na força de sig- reescrever uma história ou, no caso do tória permite estabelecer um laço com
nificação e de expressão que a imagem cinema, ao se reproduzir a mesma história a memória passada, que pode se tornar
possui, bem como a força de fazer pensar de um filme, tem-se o discernimento do uma ação no presente e uma maneira de
que pode ser definida, primeiro, a partir projeto histórico, como diz Paul Ricoeur: tentar confortar antigas dívidas. Enfim,
de um processo material necessário para “o fato de escrever história faz parte da o cinema, mais que exercitar um gosto,
produzir a imagem; segundo, de se tornar ação de fazer história”. (1998, p.26) A partir permite a provocação de um encontro
um produto que é a imagem de alguma da diferença entre as várias formas de se e, idêntico a outros campos artísticos,
coisa que se remete ao mundo e, por fim, contar uma mesma história é que se tem organiza nosso modo de ser no mundo,
torna-se um valor (a imagem vale para uma reflexão epis­temológica. ou seja, de escrever a história.
alguma coisa). Esse valor permite e fun- Porém, alguns historiadores, como No cinema, o gênero histórico, por
da uma circulação e Michèle Lagny, motivos evidentes, é o que melhor ilustra
uma economia das defendem a idéia a relação da memória com o filme. Desde
imagens. O cinema é, por excelência, de que o cinema o seu nascimento, o cinema tem por ob-
Por outro lado, a apresenta um ca- jetivo reviver o passado. Podemos voltar
imagem do filme foi um meio de socialização que tem ráter contraditó- a séculos atrás, encontrar heróis, mitos e
muitas vezes com- como função criar uma memória rio em relação à epopéias. Através da magia do seu mo-
parada e assimilada social compartilhada por um história: o filme vimento, temos a sensação de ver “hoje”
ao sonho (Morin, grande número de indivíduos. É tem uma função o que aconteceu “ontem”, como se fosse
Metz, Deleuze, Go- positiva, pois ele exatamente igual. Por exemplo, quando
dard, só para citar também um fenômeno de me- forma uma me- vemos os trabalhadores saindo da usina
alguns). Contudo, o morização de fatos, personagens, mória social enor- Lumière, os seus gestos, as suas roupas, é
mais surpreendente memente difundi- como se estivéssemos vendo a realidade
é observar a capaci- da. Contudo, essa como ela era.
dade que a imagem dimensão coletiva O encontro com fatos e personagens
possui de atrair o espectador como um favorece a constituição de diferentes do passado nos coloca, muitas vezes, em
sonho e, ao mesmo tempo, apresentar tipos de memória oficial, cujas mistifi- discussão com ideologias ou políticas do
uma “impressão de realidade”. O espec- cações a história pretende denunciar. presente. Ou nos remete diretamente ao
tador “percebe” o seu corpo de modo De acordo com Lagny, o filme aporta poder político do momento. É o caso do
semelhante a quando está em atividade ao historiador apenas informações re- atual debate na França sobre como esse
onírica. A imagem, então, representa, dundantes em relação a outros arquivos país apresenta o seu poder político na
traduz, encarna uma experiência sentida (escritos, orais ou arqueológicos), ou tela. Enquanto os americanos continuam
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lançando uma série de filmes (JFK, Nixon mantém, como diz Maffesoli, “antes de
ou Primary Colors, entre os mais recentes), tudo um vetor de comunhão, ela importa
tematizando o poder político no mais alto menos pela mensagem que ela é legada a
escalão e fazendo disso um espetáculo, transportar que pela emoção que ela faz
a França, ao contrário, faz uma crítica dividir”. (1993, p.128)
generalizada dos problemas políticos, A função do cinema de resgate de
tratando de assuntos co­mo desemprego memória também persiste. De acordo
e violência. com Godard, “a memória possui os
Com esse exem­­­plo, seus direitos” (apud
constatamos que Truong, 1998, p.5),
qualquer Estado tem O encontro entre o cinema e ao contrário do que
um laço político que a história permite estabelecer as pessoas dizem,
une os seus cidadãos. que ela tem um
Segundo Jean-Mi- um laço com a memória pas- dever.
chel Fro­don, “existe sada, que pode se tornar uma Finalmente, o
uma solidariedade ação no presente e se consti- cinema é um meio
entre a história das tuir em uma maneira de tentar d e s o c i a l i z a ç ã o
nações e aquela que, por meio da
do cinema”. (1998, confortar antigas dívidas. imagem, produz
p.12) As histó­­­­rias uma memória
con­tadas nos filmes social em que a
têm a substância intimamente atrelada identidade de um Estado pode ser
à história do Estado. Daí a origem de reconhecida. Apesar das controvérsias
cinematografias nacionais e a íntima re- apontadas ao longo do texto sobre a
lação com seus meios de financiamento sua função de recuperar a memória, o
e produção. cinema continua fazendo arte e contri-
No Brasil, a história do cinema e a história buindo com a história.
contada pelo cinema estão completamente
vinculadas à história política do país. O cine-
ma brasileiro construiu uma representação
do Estado nacional reconhecida dentro e
Bibliografia
fora do país. Teve a necessidade e, por vezes, AUMONT, Jacques. A quoi pensent les films. Paris:
a possibilidade de produzir uma imagem Séguier, 1996.
BAECQUE, Antoine & DELAGE, Christian. De
que permitiu uma reflexão sobre o país e,
l’histoire au cinéma. Paris: Complexe, 1998.
assim, encontrar a sua identidade entre as BERGSON, Henri. Matiére et mémoire. Paris:
cinematografias mundiais. PUF, 1939.
Quanto à nossa história, ela foi apre- FRODON, Jean-Michel. La projection nationale:
sentada na tela de quase todas as formas: cinéma et nation. Paris: Odile Jacob, 1998.
dirigidas pelo próprio Estado, em que o HALBWACHS, Maurice. La mémoire collec­tive.
caráter ideológico da história era ocultado; Paris: Albin Michel, 1997.
como alegorias; como revalorização de LAGNY, M. L’histoire contre l’image, l’image con-
personagens místicos e religiosos; com tre la mémoire. Revue Hors Cadre, n.9. Paris:
preocupações ideológicas de caráter india- PUF, 1991.
MAFFESOLI, Michel, Aux creux des appa­rences.
nista conven­cional; como conhecimento
Paris: Plon, 1990.
e compreensão do passado, marcado por _____. La contemplation du monde. Paris: Gras-
anos de repressão; como confrontação set, 1993.
entre passado e presente; entre outras. ODIN, Roger. Cinéma et production de sens. Paris:
É certo que o poder político represen- Armand Colin, 1997.
tado pelo cinema brasileiro é muito mais RICOEUR, Paul. Histoire et mémoire. De l’histoire
próximo do cinema europeu do que do au cinéma. Paris: Complexe, 1998.
cinema americano, porque trata dos seus TRUONG, N. Histórias da Resistência. Trad. José
conflitos sociais e políticos, conservando Marcos Macedo. São Paulo: Caderno Mais,
toda uma espe­cificidade cara à identidade Folha de São Paulo, 29/03/1998.
nacional, formando uma memória tipica-
mente brasileira.
O cinema atravessou uma crise mun-
dial nos últimos anos: o público diminuiu
e a imagem foi renegada por muitos * Cristiane Freitas é Socióloga e
como mera simulação da rea­lidade. Em Doutoranda da Université Paris V
contrapartida, o cinema continua sen- - Sorbonne.
do um provocador onírico e a imagem

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