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e Educação
v.2 n.3 janeiro/junho 2014 - Rio Grande/RS
ISSN 2358-8853
O QUE TE
DIFERENCIa ?
EXPEDIENTE
Núcleo Responsável:
Grupo de Pesquisa Sexualidade e Escola
APRESENTAÇÃO
Endereço: Av. Itália km 8, Carreiros. (053) 3293-5073
Endereço eletrônico:
http://www.sexualidadeescola.furg.br
E-mail: sexualidadeescola@furg.br
Periodicidade Semestral.
CDD 370
ENTREVISTA
Rogério Junqueira
Conceitos de
DIVERSIDADE
Parte I
Yéssica Lopes
“D iversidade” tornou-se uma palavra de ordem em torno da qual existem entendimentos distintos.
Desde que ganhou a arena política, ele costuma circular em acepções muito vagas. Do que e
de quem estamos falando? Quem ficou de fora? Alguém ficou mais no centro ou mais à margem? De que
modo são representadas diferentes categorias sociais nos discursos acerca da diversidade? Como os
sujeitos envolvidos respondem às representações que se constroem acerca deles? E assim por diante.
S egundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos - aprovada no ano de 1948 em assembleia geral realizada pela
Organização das Nações Unidas (ONU), os direitos humanos são os direitos essenciais a todos os seres humanos, sem que haja
discriminação por raça, cor, gênero, idioma, nacionalidade ou por qualquer outro motivo[...] (BRASIL, 2013a). Esse documento
representa a luta universal contra a opressão e a discriminação e assegura, a todos e todas, igualdade de direitos e cidadania.
Se esse documento é universal, por que há a necessidade da criação de políticas públicas de inclusão na educação no Brasil?
Ao pensar na Declaração Universal dos Direitos Nessa direção, um campo de estudos chamado
Humanos, questiono que, se todos e todas gozamos “Estudos Culturais” tem-se mostrado potente para se
dos mesmos direitos, por que, a todo tempo, é estudar as questões culturais, porque está conectado
necessário destacar a garantia de direitos àqueles e com as novas formações culturais e supranacionais, bem
àquelas nomeados/as como diferentes? Talvez porque como com as novas configurações de classes sociais,
a visibilidade da complexa diversidade cultural que entre outras constituições contemporâneas e que têm
marca o mundo contemporâneo esteja produzindo contribuído para nos apontar a arbitrariedade com que
significados pulsantes e/ou contraditórios, ocasionando inúmeras demarcações históricas foram instituídas. A
novas dinâmicas sociais e nos fazendo pensar sobre partir dos Estudos Culturais, na sua multiplicidade de
questões que nos desacomodam, possibilidades analíticas, é possível
tais como o racismo, as religiões, se vivêssemos num pensarmos na análise de questões
a diversidade sexual, entre mundo homogê- em torno das subjetividades e das
outras. neo, não precisaría- identidades, bem como numa política
Essas e muitas outras indagações mos afirmar as nossas de identidades que, segundo Silva
nos levam a pensar na emergência das identidades o tempo (2000b), pode ser entendida como
discussões - e não apenas no campo todo, nem tampouco um conjunto de atividades políticas
da Educação - sobre a diversidade negá-las, nomeando a centradas em torno da reivindicação
cultural, não só como resultado das diferença do reconhecimento da identidade de
intensas mudanças demográficas e grupos considerados subordinados
culturais da contemporaneidade, mas relativamente às identidades
também, como um conceito a ser estudado e ampliado hegemônicas. Silva (2000a) coloca a identidade e a
em estratégias políticas comprometidas com a diferença como o resultado de um processo de produção
igualdade entre os sujeitos, nos mais variados espaços simbólica e discursiva, advertindo que elas não são
sociais. Pensar em diversidade implica em discutir, naturais, mas são ativamente produzidas cultural e
também, sobre as diversidades – cultural, sexual, de socialmente. A partir do momento em que se tenta
gênero, de raça e etnia, de religião, de classe social, de estabelecer uma fixação de identidades ou exercer uma
idade, de necessidades especiais, entre outras – para se pedagogia de respeito às diferenças, estabelece-se uma
pensar numa educação mais plural e que contemple os norma arbitrária de eleição da identidade ideal e da
diversos grupos sociais e culturais. exclusão da diferença.
Finalizando....
Pensarmos na diversidade cultural implica na reflexão de que por vivermos numa sociedade que foi se
construindo, historicamente, heterossexual, machista, racista e homofóbica, marcada por variadas formas de
exclusão social, não podemos mais admitir que as práticas sociais, pelo menos no espaço da escola, ainda (re)
afirmem a desigualdade entre os sujeitos, baseada nas questões de classe, raça, gênero e/ou orientação sexual.
Referências:
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www.uel.br/projetos/leafro/pages/arquivos/DCN-s%20-%20Educacao%20das%20Relacoes%20Etnico-Raciais.pdf>. Acesso em: 01 maio 2013(b).
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formação docente. Rio Grande: Ed. FURG, 2009. p. 85-103.
N a escola filas que separam meninos e meninas. Presos na porta dos banheiros, uma bonequinha de vestido e lacinho na cabeça e um
bonequinho de bermuda e boné demarcam onde meninos e meninas devem transitar. No pátio e na educação física, bola de futebol para
os meninos e bola de vôlei para as meninas. A partir desses e de outros exemplos que podem ser encontrados em algumas escolas, é possível
perceber o quanto essa instituição apresenta-se como um espaço sexualizado e generificado. E a escola tem buscado promover práticas
pedagógicas que problematizam essas questões? As questões de gênero e sexualidade são entendidas como componentes do currículo?
A
sexualidade, ao longo dos tempos, vem sociais que passaram a problematizar a sexualidade,
sendo um assunto falado por diferentes a escola apresenta-se com um espaço potente para
sujeitos – convocados como autorizados ao promover essas discussões, já que seu funcionamento,
discurso – e por distintas instâncias sociais – família, enquanto uma maquinaria social, por meio de práticas
escola, instituição religiosa, entre outras – também pedagógicas, tem regulado e disciplinado os corpos
instituídas como espaços que poderiam falar e discutir dos sujeitos, visando torná-los dóceis e úteis para o
a sexualidade. Sendo assim, diferentemente do que bom funcionamento da sociedade e, assim, também
muitos pensam, a sexualidade não se constituiu como para a regulação e vigilância da forma como os sujeitos
um assunto que deveria ser silenciado, encerrado no vivem a sua sexualidade.
âmbito da família, tendo o casal como a representação Neste sentido, a escola, nas últimas décadas do
legítima e reguladora da sexualidade século XX, organizou e disseminou
“a sexualidade não se
humana. constituiu como um as- o discurso sobre a sexualidade de
Segundo Foucault, estudioso dessa sunto que deveria ser diferentes maneiras. Na década de
área, com a escrita de obras compiladas silenciado, encerrado 1920, com as feministas elegendo o
em três volumes que tratam da no âmbito da família, discurso de preservação da pureza
história da sexualidade em diferentes tendo o casal como a e inocência das crianças, que só
representação legítima
contextos históricos, a sexualidade e reguladora da sexuali- poderiam ouvir sobre a sexualidade
sempre esteve na ordem do discurso, dade humana.” a partir de 11 anos de idade. A
mas é preciso problematizar o que se instituição religiosa, na década de
falou a respeito de diferentes formas, 1960, que concentrou discursos
ou seja, a partir de discursos de vários campos de saber e publicações acerca da temática sobre o viés de
– Medicina, Psicologia, Educação, entre outros – e ensinamentos e preceitos religiosos. Os discursos da
elegendo locutores e interlocutores como autorizados saúde e prevenção a doenças, na década de 1980, com
a esse discurso. Para o autor, a partir do final do século o aumento da contaminação pelo vírus da Aids e das
XVI, a sexualidade, “em vez de sofrer um processo de demais Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)
restrição, foi, ao contrário, submetida a um mecanismo – e a importância para o cuidado do corpo a partir de
de crescente incitação; [...] de disseminação e políticas públicas que tem como objetivo o controle da
implantação das sexualidades [...]” (2007, p. 19).A população (RIBEIRO, 2008; RIBEIRO, 2002).
vontade de saber fez com que o sexo fosse colocado em Já na contemporaneidade, é possível perceber que a
discurso, a partir de diferentes pontos de vista, lugares sexualidade e os demais assuntos que a atravessam tem
e sujeitos convocados a falar. Dentre as instâncias adquirido visibilidade nas diversas instâncias sociais,
Escolha do sexo:
observar o corpo do/a boneco/a e verificar se este apresenta marcas significativas que dão a indicação do
sexo. Também pode ser feita uma discussão sobre as vantagens e desvantagens de ser menino e menina.
Em seguida, promova uma votação para a escolha do sexo do/a boneco/a.
Escolha do nome:
solicite sugestões de nomes e promova uma votação para a escolha do nome do/a boneco/a. É
possível também trabalhar a história do nome das crianças da turma, por meio de entrevistas
com os familiares e/ou cuidadores.
Identidade do/a boneco/a:
construa uma identidade para o/a boneco/a, tendo como referência a idade, preferências,
características (raça, religião, descendência etc.), comida, cor e esporte preferido, entre outros
marcadores identitários que a turma e/ou o/a professor/a considere relevante.
Batizado do/a boneco/a:
as crianças poderão pesquisar com suas famílias sobre seus batizados. O/A professor/a poderá
discutir sobre os diferentes batizados de acordo com as religiões. Organize um batizado para
o/a boneco/a.
Doação de roupas:
solicite doações de roupas às crianças para a produção do enxoval de roupas do/a boneco/a. É
possível discutir se existem roupas que só meninos usam e outras que só meninas podem usar.
Construção da família do/a boneco/a:
produza, em papel pardo, dois personagens que representarão a família do/a boneco/a (pai/
mãe, tio/tia, avó/avô, somente pai, somente mãe, parceiros/as homossexuais, entre outras
configurações familiares que possam emergir).
Visita do/a boneco/a:
proponha às crianças que, cada dia da semana, uma leve o/a boneco/a para casa e registre, em um
diário, como foi a sua estadia e as interações com a família.
Confecção de um álbum:
reúna todas as produções realizadas, relacionas ao/à boneco/a e produza um álbum para que as
crianças tenham os registros de suas histórias e das histórias do/a boneco/a.
Festa de aniversário do/a boneco/a:
organize uma festa de aniversário e discuta as diferenças de festas de meninos e meninas (motivos
da festa, cores, roupas, presentes, tipo de comida etc.).
Com base nessa atividade, podem ser problematizados inúmeros outros aspectos que passíveis
emergir ao longo do trabalho com as crianças e o/a boneco/a.
Já sei namorar...
Nesta atividade, a proposta é discutir as diferentes formas de relacionamento, namorar, ficar, entre outras, que
estão presentes na sociedade. Para desencadear as discussões sobre os relacionamentos, a sugestão é ouvir com
os/as alunos/as a música “Já sei namorar”, do grupo Tribalistas, e promover uma discussão sobre o que a canção
apresenta. Em seguida, solicite que eles/as escrevam, individualmente, suas opiniões sobre o que é namorar e
ficar. O/A professor/a, então, traça uma discussão sobre as produções dos/as alunos/as. As demais turmas da
escola também podem participar da discussão. Para isso, o/a professor que está desenvolvendo o trabalho sobre
os diferentes tipos de relacionamentos confecciona com a turma dois cartazes, um para que as meninas exponham
suas ideias sobre o que seja namorar e ficar; e o outro para que os meninos registrem suas opiniões. Esses
cartazes podem ser expostos no pátio. Assim, todos os/as alunos/as da escola, que tiverem interesse, poderão
de alguma forma participar da atividade. Simultaneamente a essa atividade dos cartazes, pode ser proposta uma
entrevista com os responsáveis pelos/as alunos/as, abordando a forma como eles/as se relacionavam em sua
época (se existia ficar, namorar e como era, o que é ficar para eles/as hoje em dia, entre outros aspectos). Ao
final das atividades, o/a professor/a deverá propor uma discussão acerca das problematizações que emergiram.
Referências
FOUCAULT, Michael. História da Sexualidade I: a vontade de saber. 18. ed. São Paulo: Graal, 2007. 176 p.
RIBEIRO, Paula Regina Costa. Inscrevendo a Sexualidade: discursos e práticas de professoras das séries iniciais do Ensino Fundamental. 2002. 125 f. Tese
(Doutorado em Ciências Biológicas: Bioquímica), Instituto de Ciências Básicas da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.
______. Revisitando a história da educação sexual no Brasil. In: RIBEIRO, Paula Regina Costa (Org.). Corpos, gêneros e sexualidades: questões possíveis
para o currículo escolar. 2. ed, Rio Grande: FURG, 2008. p. 11-16. (Caderno Pedagógico Anos Iniciais).
História de
Maria
Olá pessoal! Tudo bem com vocês? E o início das aulas como foi? Muito/as
colegas novos/as na escola?
Com a volta as aulas na minha escola, passei a ter muitas novidades para
compartilhar com vocês, já estava com saudades de escrever contando minhas
histórias. Aconteceram muitas coisas desde que as aulas recomeçaram. Logo
no primeiro dia de aula, eu, minhas colega Laura, Júlia e Isabella e o resto da
turma estávamos no pátio esperando para entrar para a sala e quem vem nos
encontrar na fila? Um professor!! Sim, agora tenho um professor, ele é novo
na escola e começou trabalhando com a minha turma de 5º ano, o nome dele
nso
é Daniel. No início eu e meus/minhas colegas achamos estranho, porque na
Alisson Affo
nossa escola, trabalhando com crianças, só tínhamos professoras, mas logo na
primeira semana, conforme fomos nos conhecendo, o prof. e a turma, percebemos
Ilustração
que nosso ano de estudo seria bem interessante e que iriamos aprender muitas
coisas novas!
Referência:
LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da Sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (Org.) O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2001. p. 07-34.
RABELO, Amanda Oliveira; MARTINS, António Maria. A mulher no magistério brasileiro: um histórico sobre a feminização do magistério. Disponível em:
<http://www2.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos/556AmandaO.Rabelo.pdf>. Acesso em: 18 maio 2014.
P rezado/a leitor/a, neste texto apresento o relato de uma experiência docente, em que realizei a atividade
“Biblioteca na sala de aula”, na qual as crianças exploraram os livros da coleção Sexo e Sexualidade,
problematizando discursos que ao longo da história, vêm determinando e posicionando as crianças como
ingênuas, inocentes, passivas, imaturas e desprovidas de dúvidas e saberes sobre corpos e sexualidades.
Como habitualmente acontecia nas manhãs de “ver” e tratar essa temática na sala de aula.
quarta-feira, a bibliotecária da escola selecionava livros Atrelado ao discurso biológico para se falar de
para os/as alunos/as, a fim de que fosse realizada a sexualidade nos Anos Iniciais também se articulam
atividade “biblioteca na sala de aula”. Tal atividade outros como o da criança ingênua, inocente e assexuada
é parte de um projeto que visa estimular o hábito e da sexualidade restrita ao ato sexual, desvalorizando
da leitura de diferentes textos e valorizar a sala de entendimentos e significados construídos pelas crianças
aula como um espaço de pesquisa e de construção de e jovens em diferentes espaços de aprendizagem por
aprendizagens. onde transitam em seu cotidiano, como os ambientes
Na tentativa de articular o tema de interesse da de lazer, os familiares, os escolares, os religiosos, os
turma na época - as borboletas - ao tema sexualidade midiáticos e que contribuem para a constituição dos
- optei, naquela manhã, em começar a dinâmica modos de agir, de estabelecer relações, de brincar, de
contando a história “De lagarta à borboleta”, da demonstrar sentimentos e modos de pensar e para a
coleção Sexo e Sexualidade, que trata das mudanças do inscrição de suas sexualidades.
corpo e das transformações ocorridas principalmente Desse modo, colocando em suspenso a abordagem
no período da puberdade. Ao recordar daquele que desconsidera os efeitos das construções sociais e
momento, entendo que a escolha do livro demonstrava culturais e pensando outras possibilidades de tratar a
que minha concepção acerca da temática sexualidade, temática na escola, tenho procurado, em meu trabalho
naquela ocasião, ainda era direcionada sob o ponto de com as crianças, problematizar os corpos, os gêneros
vista biológico, em que a sexualidade é tomada como e as sexualidades, sob uma outra perspectiva, a qual
essência, substância e/ou uma materialidade biológica. entende os sujeitos como construídos em diferentes
Hoje, ao escrever este texto, percebo o quanto o espaços e tempos, através de práticas sociais, culturais,
estudo dessa temática, em diferentes contextos, tem políticas e históricas.
contribuído para que eu construísse outros modos de Vale ressaltar que, ao tomar as sexualidades
BRITZMAN, Deborah. Sexualidade e cidadania democrática. In: SILVA, Luis Heron da (Org.). A escola cidadã no contexto da globalização. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 154-171.
GOELLNER, Silvana; FIGUEIRA, Márcia; JAEGER, Angelita. A educação dos corpos, das sexualidades e dos gêneros no espaço da Educação Física escolar. In: SILVA, Fabiane;
MAGALHÃES, Joanalira; RIBEIRO, Paula; QUADRADO, Raquel (Org.). Sexualidade e Escola: Compartilhando Saberes e Experiências. Rio Grande: Editora da FURG, 2007. p. 23-30.
MÜLLER, Fernanda; HASSEN, Maria de Nazareth. A infância pesquisada. Revista PSICOLOGIA USP, São Paulo, v. 20, n. 3, 465-480.jul./set., 2010
SOUZA, Nádia. Pensando práticas constitutivas do corpo: os filmes infantis, a alimentação,... In: RIBEIRO, Paula; SILVA, Fabiane da; MAGALHÃES, Joanalira; QUADRADO, Raquel.
(Org.). Educação e sexualidade: identidades, famílias, diversidade sexual, prazeres, desejos, homofobia, Aids... organizado por Paula Ribeiro [et al], Rio Grande: Editora da Furg,
2008a. p. 71-87.
A tualmente, defendemos a importância de possibilitarmos discussões acerca das temáticas de sexualidades no espaço da sala de aula. A forma
como abordar tais questões, nos provoca a pensar estratégias afinadas aos contextos de nossos/as estudantes. Trabalhar a partir de um artefato
pedagógico potencializa aproximar o tema em pauta à realidade dos/as alunos/as, oportunizando que os/as mesmos/as identifiquem-se e esta-
beleçam relações com o material disponibilizado pelo/a professor/a, efetivando as discussões e os significados produzidos ao longo da atividade.
seção sexo
A seção Sexo está presente na revista Capricho desde junho de
2006, caracterizando-se como um espaço em que são discutidas
questões relacionadas à intimidade e a momentos antes,
durante e depois da relação sexual. Essa seção é produzida
com a participação das leitoras, as quais têm seus comentários
e opiniões em enquetes divulgadas na revista impressa.
Assim como a revista Capricho, a seção Sexo, também é publicada quinzenalmente. A cada edição a coluna
apresenta um assunto diferente relacionado à temática sexualidade, o qual é abordado e apresentado na edição
impressa a partir de bate-papos entre as leitoras e as editoras, enquetes realizadas no site da revista e dicas e
comentários de alguns/algumas profissionais (sexólogos/as, psicólogos/as, terapeutas sexuais e ginecologistas).
Veja os títulos - tema central - de algumas edições da seção Sexo e algumas possibilidades de abordagem pensadas
a partir de cada edição:
...que as adolescentes
...que todas as leitoras se ...que ao lermos revistas e percebem o discurso
jornais, ao assistirmos filmes, da heterossexualidade
identificam como como norma, implícito
novelas e propagandas, ao
heterossexuais? ouvirmos música, percebmos na seção Sexo?
o tanto de significados que
esses artefatos (re)pro-
duzem?
Referências:
HALL, Stuart. The Work of Representation. In:______. (Org.). Representation: Cultural Representations and Signifying Practices. London/Thousand Oaks/
New Delhi: Sage/Open University, 1997. p. 1-73.
RIBEIRO, Paula Regina Costa, SOUZA, Diogo Onofre. Falando com professoras das séries iniciais do ensino fundamental sobre sexualidade: a presença do
discurso biológico. Enseñanza de las Ciencias, Barcelona, v. 21, p. 67-75, 2003.
SEXO, Seção. In: CAPRICHO, Revista. São Paulo: Abril, ago. 2008/ago. 2009.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
FILMES
A caça
Duração: 1h e 51min
Nacionalidade: Dinamarquesa
Resenhas
O menino que ganhou uma boneca
BAPTISTONI, Majô. O menino que ganhou uma boneca. Maringá: Editora Mossani, 2002.
Fernanda Santos dos Santos - Acadêmica em História Licenciatura pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG
A história tem como personagem principal o garoto Luís Fernando, que inicia a
narrativa apresentado situações que decorreram num mal entendido, nas quais ele
fora o assunto central. O garoto apresenta diálogos entre os parentes, em forma de
e-mail, carta, telefonema e de uma conversa no MSN Messenger. A primeira situação
trata do e-mail que o pai, chamado Luciano, manda para sua mãe (Marcia). O pai
manda um e-mail para mãe (a avó do menino), pois está preocupado como filho. Ele
havia visto o garoto brincando com uma boneca e achara aquele comportamento
muito duvidoso. Ao se deparar com a situação “inusitada”, o pai, constrangido, pergunta ao filho: “Por que você tá
brincando com essa boneca, filhão? Não é melhor você brincar com outro brinquedo? Por que não um carrinho?”.
Luís Fernando conta sobre a carta que sua avó, Marcia, havia mandado para sua mãe, Carlinha, comentando o
que o pai havia dito. A avó não acha que se deva proibir a brincadeira, mas, sim, pedir a ele para que não o faça na
frente de outras crianças, pois havia o receio de que ele sofresse algum tipo de preconceito por parte dos outros.
A avó, em seguida, sugere: “Bem que vocês poderiam perguntar ao Fernandinho por que ele inventou essa nova
brincadeira. Por que uma boneca? E por que não um carrinho?”. A mãe, ao receber a carta, pede conselhos para
Marcelo Nunes – Acadêmico do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande – FURG
O livro “Homem não chora” conta a história de um menino que, num dia, viu
seu pai chegar à sua casa extremamente nervoso e chateado por ter perdido o seu
emprego. O clima na família ficou muito tenso, deixando-o muito triste. Durante
a noite, teve insônia, chorou baixinho e acabou ouvindo um barulho que vinha da
cozinha. Então, ele resolveu descer para saber o que estava acontecendo. Ouviu um
choro e pensou que algo teria acontecido com sua mãe, mas, ao descer as escadas,
ficou surpreso quando viu seu pai chorando compulsivamente. Ficou com vontade
de acalmá-lo, mas a única coisa que conseguiu fazer foi sentar no seu colo e dizer o que estava acostumado a
ouvir: “ei, homem não chora”. Quando acordou no dia seguinte, o pai já estava recomposto e não estava mais
chorando, mas continuava nervoso, triste e com aparência de homem bravo. Foi, então, que surgiu a dúvida
se seu pai teria realmente chorado na noite anterior ou se tudo não havia passado de um sonho. Durante o
dia, o menino foi para a escola, fez outras atividades, mas não conseguia parar de pensar na cena do seu pai
chorando, dos soluços e de sua mão segurando com força a sua. Ficou com vontade de chorar, mas precisava
controlar-se porque “homem não chora”. Ao anoitecer, seu pai retornou para casa e estava sorrindo muito, mas
novamente lágrimas escorriam pelo seu rosto, agora de felicidade: havia conseguido um novo trabalho. A noite
foi muito diferente da anterior; todos estavam felizes. Mas uma dúvida estava lhe incomodando. Ele, então,
resolveu indagar seus pais, sobre se os homens podem ou não chorar, pois as cenas que havia presenciado não
confirmavam o que ouvia sempre: que “homem não chora”. Seus pais responderam que sim, pois chorar é normal,
acalma e põe a tristeza para fora, permitindo que a alegria retorne. Exemplificaram, dizendo que, assim como
os lobos uivam quando estão tristes, os pássaros voam sem parar e os peixes nadam no escuro, o homem chora.
Lucimara Aves Constantino – Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande – FURG