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Doravante, todo o sistema jurídico tem sido regulado por essa Doutrina, que, com
diversas alterações estruturais, foi se moldando as realidades sociais e, em que pesem as
diversas críticas que vem sofrendo no decorrer do tempo, consolidou-se e permanece
vigente até os dias atuais.
A intenção original do Estudo nos levava a procurar realizarmos uma análise factual de
como está o movimento nos dias atuais, quais os pontos positivos desse movimento, as
criticas que sofre e, em especial, como podemos nos dias atuais encontrar a Justiça
quando da aplicação do Direito, tendo por método de aplicação as concepções do
movimento do Positivismo Jurídico.
Contudo, ao iniciarmos nosso estudo nos deparamos com um problema substancial, qual
seja, a ignorância sobre o tema de uma forma mais ampla. Isto, pois, a investigação nos
leva a perceber que este movimento não foi uniforme, ou seja, as idéias que motivaram
inicialmente o movimento, com o transcorrer de sua vigência foram alterando-se, de
forma que as concepções atuais em muito se diferenciaram das de origem.
Inicialmente, buscamos uma visão da superação das idéias de direito natural próprias do
jusnaturalismo, que nos leva a conceber a origem da codificação e, motivado por esta,
entendemos o pensamento dos primeiros idealizadores do movimento, que, se
posicionando contrariamente ao direito judiciário idealizaram o movimento do direito
legislativo.
Por ultimo, parte-se para um estudo dos principais movimentos históricos dessa
corrente, isto é, quais foram as escolas de pensadores que buscaram dar continuidade ao
pensamento positivista, tendo cada uma, características básicas, que buscamos
sinteticamente esclarecer.
Pela forma como a sociedade havia se organizado, dá-se um impulso histórico pela
legislação, onde a lei vem a tornar-se fonte exclusiva ou absolutamente prevalente, do
Direito, o que culmina na Codificação e após isso, por sua vez, no nascimento da
Doutrina do positivismo jurídico[2]. A codificação surgiu embasada pela filosofia
jusnaturalista, advindos de pensadores como Hugo GROTIUS, Thomas HOBBES,
Immanuel KANT, ESPINOZA, THOMASIUS, PUFENDORF, entre outros tantos[3],
mas, após sua efetivação, a Doutrina que veio a fundamentar a continuidade da
legislação e a sua forma de interpretação foi o positivismo. Os códigos transformam-se
nos livros de direito que obedecem à nova idealização do direito posto pela ordem legal.
BECCARIA, em sua obra Dos Delitos e das Penas, sintetiza bem o pensamento que
gerou a impulsão pela legislação, quando estabelece que é a lei que liberta o cidadão do
despotismo, determina a submissão do juiz, sendo ela superior à opinião, construindo-se
assim um direito racional e universal, onde as normas jurídicas são proposições
interligadas umas com as outras de forma coerente, lógica e unitária, próprias de um
sistema[4].
Com essas idéias vieram à base para transformar o Direito em uma ciência, com
características lógico-formais, capazes de sistematizá-lo com a edificação de uma ordem
social racional. Com a vigência do Estado Moderno, este como detentor do poder de
legislar, por meio da idéia da divisão dos poderes, há uma profunda alteração do papel
desempenhado pelo jurista na ordem vigente. Ocorre a dicotomia entre a elaboração e a
aplicação do Direito, sendo a primeira a manifestação do que mais nobre possui o
direito e a segunda uma atividade subordinada, que deve ser realizada nos estritos
moldes estabelecidos pela própria lei. Em nome da certeza jurídica nega-se a
pluralidade de fontes do direito[5]. É de se ressaltar que no período de surgimento das
idéias racionalistas, saía-se da vigência de um mundo medieval, marcado pelo direito
religioso e pelo despotismo, onde a insegurança era prevalente e o direito
consuetudinário não atendia as necessidades dos Estados Nacionais, principalmente
porque a lei nacional foi vista como uma forma de unificação nacional. Nesse período,
as idéias jusracionalistas surgiram para acabarem com uma tradição de injustiça,
desmascarando a superstição das bruxas, abolindo a tortura, as formas cruéis de
execução, eliminando as penas corporais e infamantes e, com a reforma do direito penal
e do processo penal, erguido bem alto o estandarte da humanidade. Contudo, no campo
do direito privado, as idéias jusracionalistas tiveram méritos bem menores, onde ainda
prevalecia uma espécie de monopólio Estadual do Direito Natural[6].
Por essa razão ultima, ou seja, o monopólio do Direito Natural nas idéias
jusracionalistas, em que pese essas terem sido as criadoras dos Códigos (Prussiano e
Napoleônico), orientados por uma moral prática, não conseguiram manter-se frente ao
espírito reformador vigente na época da Codificação e logo após a mesma. WIEACKER
estabelece como alguma das razões dessas idéias não perdurarem na época o fato, por
exemplo, de que os códigos detinham a “simpatia dos legisladores absolutistas por
soluções que restringissem o desenvolvimento científico do direito e que vinculassem a
interpretação a comissões ministeriais (Prússia) ou a comissões legislativas (França)”.
Nos locais onde houve o domínio do jusracionalismo na legislação se assistiu uma
quebra da ciência jurídica do direito comum, tanto na esfera interna quanto na esfera
externa. Essa foi a base que acabou por gerar, na Alemanha inicialmente, a consciência
desta decadência e falta de objetivos, que ocasionaram “o colapso do jusnaturalismo
iluminista, justamente no momento em que o sentido cívico e a renovação cultural se
juntaram na ofensiva contra a legislação mecanicista do Estado autoritário”[7].
Decorrente dessas idéias, com a sistematização das Leis, que foram se tornando a fonte
prevalente do Direito, o surgimento do Movimento Positivista se fez latente. Mas, para
que realmente o mesmo se consolidasse várias alterações foram impostas, em especial
no que se refere às críticas em relação às concepções jusracionalistas.
Com isso, o papel do Direito Natural acaba por ficar em muito mitigado, tendo em vista
que, sendo o Estado uma formação fictícia, pressupõe de um Direito Positivado, qual
seja, imposto pelo homem e não natural, que construa a ordem social.
Ademais, sob a visão contratualista de HOBBES[9], temos que o Estado deve impor um
direito positivo certo e determinado, sendo indiscutível, pois a vontade do Estado é o
único critério de Justiça. HOBBES concebia o Estado com poder absoluto, o Leviatã,
pois, era céptico em relação à capacidade dos homens em cumprir seus compromissos
se não houver uma força exterior, com o temor da imposição de uma sanção que os
obrigue a tal. Assim, o Estado manteria a todos em respeito[10].
De qualquer forma, evidenciado está que ambas as teorias concebem um Estado fictício,
razão pela qual se exige um direito positivado, não sendo suficiente o Direito natural
para referida construção jurídica.
Pelo enfoque pretendido neste trabalho, nos limitaremos a seguir as linhas ensinadas por
SANTOS JUSTO, que estabelece qual a influência Kantiana para a superação das
concepções do direito Natural.
Contudo, como já asseverado, a Escola Histórica não pode ser retratada como uma
escola positivista, pois, quando da análise da recepção desta em relação a Codificação, a
oposição, em especial no direito germânico foi acirrada, o que em muito ficou
asseverado quando da polêmica travada entre THIBAUT e SAVIGNY, onde o primeiro
defendia a necessidade de um direito civil geral para a toda a sociedade alemã, dotado
de perfeição formal e perfeição substancial, enunciando normas jurídicas claras e
precisas, que venham a regular todas as relações sociais. Este autor entendia que não
existia isso na Alemanha, onde a legislação própria era insuficiente, obscura e primitiva,
o direito canônico era inculto e de difícil interpretação e mesmo o Direito Comum
Romano era complicado e incerto, razões pelas quais se deveriam promover a realização
de um Código Germânico, o qual traria vantagens para os juízes, estudiosos, cidadãos e
à política, pois promoveria a unificação[16].
Interessante a visão que este autor detinha sobre as fontes do Direito, que concebe
serem três apenas: Direito Popular, Direito Científico e o Direito Legislativo. O
primeiro é próprio das sociedades em formação, o segundo das sociedades mais
maduras e o terceiro das sociedades em decadência[17]. Ressalte-se que foi o
pensamento de Savigny que prevaleceu nesse ínterim.
Após a síntese acima, que demonstram as razões e bases que fundamentaram o início do
positivismo jurídico, passamos a uma breve exposição do pensamento daqueles que são
considerados como os pais do positivismo, pois são os responsáveis pela teorização de
todo o movimento. Característica primordial de ambos está no fato de que são ingleses,
ou seja, viveram em um país onde nunca foi estabelecido o direito com base no
legislador, nos moldes por eles idealizados. Em que pese tal fato, foram eles os
mentores da mais ampla teorização da codificação, em contra partida com o direito
judicial vigente no país, onde predomina o direito costumeiro, não codificado e
confinado ao trabalho dos juízes.
Jeremy BENTHAM, jurista inglês, foi quem propôs uma reforma radical do direito
mediante uma codificação completa que deveria sistematizar toda a matéria jurídica em
três partes: Direito Civil, Direito Penal e Direito Constitucional. Esta sistematização
deveria ser universal, no sentido que serviria não apenas à Inglaterra, mas a todo o
mundo civilizado, que comungasse dos ideais liberais. Segundo Bentham, a lei não
deveria apresentar lacunas, devendo ser escrita para que todos pudessem conhecê-la. As
leis deveriam ser elaboradas pelo legislativo e não pelo judiciário, uma vez que o direito
judiciário não trazia segurança ao direito, por não permitir aos cidadãos prever as
conseqüências das próprias ações. Não havendo, portanto, segurança para os direitos
individuais, ou uma segurança muito inferior a do direito escrito. Criticava o sistema
judiciário inglês, realizado pelos juízes e não pelo legislador, pois, segundo ele, os
juízes não teriam interesse em clarificar o direito, simplificando-o e racionalizando-
o[18].
Define o direito como o direito posto pelos superiores políticos aos inferiores políticos,
ou seja, é um comando, uma ação de conduta determinada imposta por quem tem o
poder de impor um dano ou uma pena para quem não cumprir o seu desejo. É um
comando geral e abstrato, entendendo-se o comando como a expressão de um desejo,
cuja força de coação desse comando está na sanção que pode ser imposta[22]. Observe-
se que a isto que aqui definimos como Direito, AUSTIN se refere como Lei, no sentido
geral de Norma. Dessa noção advém também a distinção de lei em duas categorias no
concernente ao sujeito de onde provém a norma, isto é, leis divinas e leis humanas,
sendo que essas ultimas se subdividem em leis positivas (law) e moralidade
positiva[23].
Além dessas distinções outro ponto fundamental da obra de AUSTIN refere-se a sua
visão sobre o direito judiciário em contraposição ao direito legislativo, em uma
profunda crítica ao modelo judiciário inglês. Observa que ambos os direitos são
colocados pelo Estado, contudo, um de forma direta e outro de forma indireta (posto
pelos juízes pelo poder derivado do Estado). A diferença está não nas fontes de
imposição e sim no fato de que o Direito Legislativo é constituído por normas gerais e
abstratas, que se impõe a toda a coletividade ou, pelo menos, parte dela; já o direito
judiciário é constituído por normas particulares, emitidos com o fim de regular uma
controvérsia única. Para demonstrar a superioridade do Direito Legislativo, estabelece
uma série de críticas ao modelo Judiciário, refutando algumas que seu mestre havia
realizado, em especial no concernente ao fato de que no modelo judiciário o controle
popular, pela comunidade política, é difícil[24].
Assim, concebe que a codificação é o caminho mais correto para um direito superior,
que superem todas as mazelas do direito judiciário, com a elevação máxima do direito
legislativo.
AUSTIN expõe seis fases em que a lei histórica se desenvolve na sociedade humana,
através da qual busca demonstrar toda a superioridade do direito codificado.
Inicialmente, temos a fase da moralidade positiva, em que é pré-jurídica, onde só há o
direito consuetudinário; após, surge o início do direito judiciário, onde o juiz faz valer o
direito consuetudinário; em seguida, surge o direito judiciário com fundamento
científico, onde os juízes elaboram normas com base na analogia; por fim, surge a
criação judiciária do direito, onde os juízes criam as regras com base nos seus próprios
critérios de avaliação; neste momento surge o direito legislativo, o qual, em um
primeiro momento é emanado ocasionalmente para integrar o direito judiciário em
matérias particulares; isso culmina, por derradeiro, no momento em que a lei se torna
única fonte de produção do direito, com normas gerais e abstratas que regulam todas as
relações sociais, qual seja, o direito legislativo[25].
Assim, este teórico trouxe todas as linhas fundamentais da nova doutrina a ser
implantada, qual seja o Positivismo Jurídico.
3 – Entendendo o Positivismo Jurídico
O Positivismo[26] Jurídico pode ser intitulado como a doutrina segundo a qual não
existe outro Direito que não o positivado, aquele imposto pelo Estado, pelo
Legislador[27]. No século XIX o positivismo jurídico se impõe como forma de
pensamento que recusa à metafísica e o Direito Natural, assim como, impede ao juiz o
poder de emitir opinião crítica sobre a justiça ou injustiça do direito que deve
aplicar[28].
Essa dicotomia do Direito, nas diversas épocas, foi tida de forma distinta, com maior ou
menor importância para cada uma delas, sendo que em algumas vezes um quase não
existiu em razão do outro. Na época clássica (greco/romana), por exemplo, o direito
natural e o positivo tinham posições semelhantes, mas, quando houvesse conflito entre
ambos, o positivo, por ser considerado particular, se sobrepunha ao natural, de caráter
geral. Já no período medieval o direito natural é considerado superior ao positivo, pois
fundado na própria vontade de Deus. No período do jusnaturalismo racional, essa
concepção foi alterando-se gradativamente, onde se passa a acreditar que as regras do
Direito Natural eram advindas da própria natureza humana, da ratio humana, como
regras auferidas pela intelectualidade do homem[30].
É essa a base do pensamento filosófico motivador da idéia de que o Direito apenas seria
o Direito Positivo, excluindo a juridicidade em fundamentos tidos como materialmente
impostos, «natural», metafísico-ontológico, antropológico ou mesmo axiológico, sendo
que este Direito Positivo se identifica com o direito posto pelos órgãos político-
socialmente legitimados para tal[33].
Tem o seu sentido formulado pelo ponto de vista de que deve proporcionar uma precisa
caracterização do Direito tal qual este é na realidade ao invés de analisá-lo como ele
deve ser[35].
Nessa seara, Norberto BOBBIO[36] estabelece sete pontos fulcrais para caracterizar
esse pensamento jurídico, sendo que os mesmos retratam o método, a teoria e a
ideologia desta corrente, definidos como:
3.2.1 – Método[37]
Sob a ótica da abordagem do Direito, defende o seu estudo como fato e não como valor.
Essa é a forma encontrada pelos positivistas para tornar o Direito uma ciência, pois tem
por objetivo fulcral o estudo do direito como ele é e não como deve ser. Estuda o direito
real, independente do direito ideal, sendo este entendido como um conjunto de fatos,
fenômenos ou dados sociais advindos do mundo natural, razão pela qual deve ser
estudado de forma objetiva pelo jurista, sem ter em linha de conta noções valorativas
dos mesmos, isto é, sem que se façam juízo de valores sobre esses fatos. O Direito não é
bom nem ruim, apenas é Direito, é fato social, e como tal deve ser analisado. O direito
objeto da ciência jurídica é aquele que se manifesta na realidade histórico-social.
Estuda-se o direito real, sem se preocupar com o ideal, sem examinar se o real
corresponde ao ideal. Em síntese, estuda o direito tal como ele é.
Disso advém a teoria da validade[39] do Direito, onde o que importa para que este seja
considerado válido é o seu caráter formal, ou seja, a observação dos critérios
formalmente estabelecidos. Da distinção entre valor e validade temos um dos traços de
grande diferença entre o jusnaturalismo e o juspositivismo. O primeiro entende que para
uma norma ser válida deve ser valorosa, justa. Quanto ao juspositivismo, essa corrente
diverge um pouco, havendo a posição extremista que entende que uma norma é justa
pelo simples fato de ser válida (ou seja, posta por autoridade legitimada para tal).
Poucos defendem realmente essa idéia. A maioria da doutrina juspositivista compreende
a validade da norma sob o prisma de dois conceitos, qual seja, juízo de validade e juízo
de valor.
Essa distinção delimita a esfera de compreensão do direito pelo filósofo e pelo cientista
do direito. O filósofo vem conceituar o direito com base na concepção do ideal de
direito, que varia conforme o filósofo, mas, que muitos tendem a identificar com a
concepção de justiça, ou seja, define o direito como ordenamento que serve para a
realização da justiça.
Ou seja, Direito para eles seria um conjunto de comandos emanados pelo soberano, o
que traz apenas o seu caráter de validade no sentido formal, qual seja, a forma como a
norma jurídica é realizada é que a torna direito e válida, sendo esta que deve ser
estudada, sendo desnecessário a sua caracterização de valor, assim como, a de
eficácia[40].
Nota-se nessa conceituação do direito que este valoriza apenas o caráter formal, isto é,
define o direito apenas segundo sua estrutura formal, independente do seu conteúdo, isto
é, considera como o direito se produz e não o que ele estabelece. Isso se dá pelo fato de
que o conteúdo do direito é muito variável, podendo ter regulamentações próprias
conforme o ordenamento, a sociedade que o institucionaliza (por exemplo, Estado
Liberal ou Estado Socialista, Estadual ou internacional). Em seu conteúdo, o direito
pode regular todas as condutas humanas possíveis, ou seja, que não são nem necessários
nem impossíveis, pois, caso contrário, realizariam normas supérfluas ou vãs.
É esse caráter de considerar o direito como fato e não como valor, ou seja, conceituá-lo
sob a ótica da validade formal, independente do conteúdo que regula ou do seu ideal de
justo ou injusto, que faz com que o Direito possa ser visto como uma ciência. Para se
fazer ciência deve-se adotar esse método de abordar o direito, sob pena de, caso
contrário, ser realizada filosofia ou ideologia do direito[41].
3.2.2 – Teoria[42]
Como teoria positivista, por sua vez, o positivismo vem retratar diversas acepções do
direito que caracterizam fundamentalmente essa corrente. É considerada usualmente
como uma teoria analítica, descritiva e explicativa[43].
Os positivistas estabelecem a lei como fonte primeira, pois concebem que está é mais
capaz de impor a segurança e a transparência jurídica, pelas razões expostas por
BENTHAM e AUSTIN, quando questionaram fontes como costume, direito judiciário e
equidade. A lei é imposta pelo Estado, de forma genérica e abstrata, podendo transmitir
a igualdade e a certeza jurídica, sendo fruto do poder soberano dado ao Estado e
realizado pelo Legislador, razão pela qual deve ser obedecida. É própria da imposição
do princípio da onipotência do legislador[45], onde se nega todo o tipo de direito
positivo diverso da lei.
O positivismo trouxe uma grande inovação para a ciência do direito, pois, pela primeira
vez, foi concebido o direito como um Ordenamento Jurídico, e não apenas a norma
concebida isoladamente. Concebe-se não apenas a norma isoladamente, mas esta em
uma visão de conjunto gerando a Teoria do Ordenamento Jurídico, onde sustenta que o
ordenamento jurídico é unitário, coerente e completo. Esta é uma das características
mais típicas do positivismo e, ao mesmo tempo, a mais contestada pela crítica em geral.
Concebe o sistema como uma Unidade, idéia esta que provém de KELSEN, onde o
direito é tido como único porque suas normas são postas pela mesma autoridade,
podendo assim todas ser reconduzidas à mesma fonte originária que é constituída pelo
poder legitimador da criação do direito[49]. Esse poder maior, no fim das contas
remonta a idéia de norma fundamental, que está na base do ordenamento jurídico, sendo
esta a principal razão da crítica realizada contra essa teoria, pois, não explica em que se
funda a norma fundamental.
Ainda, o ordenamento se vale da coerência que decorre do fato de que não podem
coexistir simultaneamente duas normas antinômicas, pois o sistema implicitamente
estabelece que uma das duas ou ambas não sejam válidas. Para resolver o problema das
normas antinômicas a doutrina positivista estabelece três critérios que tentam resolver a
existência de duas normas incompatíveis, qual seja, o critério cronológico, hierárquico e
de especialidade, cujas especificidades não nos parecem relevantes no presente trabalho.
Nessa mesma linha, temos a questão de que o ordenamento seria completo, pois, este
fornece todos os meios para o juiz aplicar o direito. Isso advém do fato de que o
sistema, sendo completo, não possui lacunas, de modo que o juiz não pode e não precisa
realizar nenhuma elaboração jurídica maior do que aquela de aplicar a norma mais
adequada ao caso, entre aquelas que foram dadas pelo legislador.
Em que pese ser o carro chefe da doutrina positivista, essa teoria também é o seu
calcanhar de Aquiles, pois grande parte dos doutrinadores se posiciona contrariamente a
este pensamento, alegando que por certo pode não haver lacunas no direito, mas, na lei
sempre haverá.
3.2.3 - Ideologia
E, por ultimo, BOBBIO nos apresenta a questão de que o positivismo concebe a teoria
da obediência absoluta a lei enquanto tal, ou seja, lei é lei. Interessante ressaltar que essa
característica é o que torna o positivismo jurídico uma ideologia e não apenas uma
teoria[51], pois a lei deve ser obedecida seja qual for. Esse é o idealismo do positivismo
extremista. Isto significa que, tendo esse positivismo uma concepção ideológica, não se
está mais perante uma doutrina científica e sim de uma doutrina ética do direito. Por
essa razão, BOBBIO denomina essa ideologia do juspositivismo extremista como
Positivismo Ético[52].
A idéia de obediência total a lei advém do fato de que como o Estado Moderno criou a
visão de um único ordenamento jurídico o qual se funda na lei, razão pela qual a mesma
não pode ser contestada, pois, só se poderia contestá-la se houvesse outro ordenamento
de comparação. Assim, a obrigação da obediência não é apenas jurídica mas sim moral,
pois proveniente da convicção que se deve ter dessa obediência.
Para que essa obediência ocorra, não se precisa questionar sobre a sua Justiça, apenas
deve analisar a questão de sua validade. Isso gera uma concepção diferenciada da visão
de justiça dada pelos autores positivistas, baseada na concepção do Estado Ético[53].
Assim, sendo a lei uma manifestação do Estado Ético possui valor ético, o que gera sua
obediência incondicional, segundo a posição extremista do positivismo.
Contudo, há uma posição moderada, a mais difundida pela doutrina positivista, que
afirma que o direito tem um valor enquanto tal, independente de seu conteúdo. Esse
valor advém do fato não de ser sempre justo, mas, por ser válido. Ou seja, por ser meio
necessário para realizar certo valor, isto é, estabelecer a ordem, resultado da atuação de
um sistema.
Disso advém que o fim o maior do Direito Positivo é a busca da Justiça, pois busca uma
ordem justa. Ou seja, considera-se Justiça a legalidade, a correspondência à Lei, a
Ordem.
O positivismo ético moderado considera que o direito é o meio necessário para realizar
a ordem e a lei é o meio mais perfeito do direito, pois é genérica e abstrata, capaz de
garantir a certeza jurídica e garantir a liberdade.
4 – Escolas Positivistas
Neste momento nos debruçaremos sobre algumas das mais clássicas dessas Escolas
surgidas, com uma breve análise dos fundamentos principais de cada uma, assim como,
dos seus maiores expoentes teóricos. Ressaltamos que as minúcias de todas as escolas
que existiram não é possível, pois divergentes as posições doutrinárias que as
relacionam e pela extensão do presente trabalho, difícil abarcar todas as concepções que
existiram. Na base deste estudo nos debruçamos com os juristas SANTOS JUSTO,
Mário REIS MARQUES, Norberto BOBBIO e Arthur KAUFFMANN e W.
HASSEMER.
Essa escola foi uma das concepções iniciais do movimento positivista, contemporâneo a
escola da Exegese, mas que se desenvolveu na Alemanha, por influência da Escola
Histórica, em contrapartida ao movimento de Codificação recusado naquele momento
pelo país. Surgiu pelo desvio ou paradoxo em que a Escola Histórica incorreu, quando
esta, por privilegiar a intenção científica, acabou por recuperar o racionalismo
normativo, que expulsou a dimensão histórica do direito, recuperando o estudo do
direito romano, o qual, por uma enorme depuração científica, acabou por transformar
toda a ciência em conceitual, caminhando assim para a Jurisprudência dos
Conceitos[61].
Essa escola concebia que assim como as demais ciências, a ciência do direito também
deve pressupor de uma conceptologia ou mundo dos conceitos, que estabeleçam a real
denominação de termos como norma, preceito, direito subjetivo, direito objetivo, fato
jurídico, ato ilícito, propriedade, etc. Após o jurista conceituar, ele produz a
sistematização onde ocorre a subordinação das normas mais gerais as normas menos
gerais até chegar às instituições. É a expressão mais acabada do estilo formalista
logicista que pensa e constrói o direito como um sistema de conceitos[63].
Esse movimento foi impulsionado por Puchta (1798-1846), discípulo de Savigny, que
concebia apenas como direito científico aquele que provem do trabalho sistemático,
aquele que surge como produto de uma dedução científica. Concebe que o «direito
consuetudinário e o direito legislativo derivam respectivamente da «autoridade exterior»
do povo e do poder legislativo, o direito científico é o produto de uma autoridade
interior, da verdade dos princípios derivados do direito existente da justeza das
conseqüências da aplicação destes princípios»[64]. Concebia que os juristas são os
portadores da verdade científica, que não deriva de uma valoração exterior e sim da
estrutura sistemática dos conceitos. Essa sistemática é considerada como a legitimadora
da regra jurídica[65].
Essa escola também foi conhecida como Pandectista, em seus primórdios, tendo
evoluído para a jurisprudência dos conceitos, sendo uma das maiores personificação
desse pensamento inicial, Bernardo WINDSCHED, que, por meio de sua obra veio
preparar a codificação Alemã[66].
Essa escola surgiu após um período de crise pelo qual passou o pensamento positivista,
no início do século XX, sendo fruto da construção filosófica de um dos maiores
expoentes do Positivismo Jurídico do séc. XX, Hans KELSEN, o criador de uma das
mais grandiosas e coerentes doutrinas jurídicas de todos os tempos, a Teoria Pura do
Direito, a qual concebe o direito como norma, constituído de normas, sendo o estudo
desta o objeto exclusivo da ciência jurídica[68].
A máxima dessa construção teórica está na sua concepção de validade da norma, a qual
é fornecida pela validade da norma superior. Concebe a visão de pirâmide do sistema,
onde as normas têm um caráter hierárquico, que tem por vértice a Constituição Política.
Essa, por sua vez, está fundamentada numa norma pressuposta, qual seja, uma Norma
Fundamental[72], «Grundnorm», única norma que não é produzida por uma ato de
vontade, a que prescreve o dever de respeitar a primeira Constituição como obrigatória.
Nesses degraus temos que da Constituição, validada pela norma fundamental, passamos
a lei, estas com suas próprias hierarquias, chegando às decisões jurídicas, sendo que a
norma superior estabelece as características necessárias para a validade da inferior[73].
Ressaltamos que a concepção dessa Teoria prevê o Estado como fonte primeira do
Direito, sendo que apenas há o Estado de Direito, isto é, proveniente de uma ordem de
direito, o que faz deste um Ordenamento Normativo, onde o poder daquele é dado por
este, sendo este poder condição do próprio direito[75].
Aqui se percebe que, tal como o positivismo empírico perdeu de vista a norma, o
positivismo lógico-normativo perdeu de vista a vida real.
Por essa razão essa escola se subdivide em diversas correntes filosóficas, que buscam
dar suas contribuições para o aperfeiçoamento das correntes positivistas, estando todas
embasadas no positivismo motivado pelos fatos, qual seja, empírico. Limitaremos-nos
agora a expor algumas dessas correntes filosóficas com o ideal básico de cada uma das
expostas, advertindo, contudo, que essa sistematização foi realizada de uma compilação
de diversos autores, que não são uníssonos entre si para o seu estabelecimento[77].
Essa corrente se subdivide, segundo SANTOS JUSTO, em diversas outras, das quais
destacam-se as seguintes:
a)Realismo Jurídico Escandinavo: tem por seu caput scholae HÄGERSTRÖM, possui a
mais coerente das posições antiformalistas do século XX. Recusou um conhecimento
insuscetível de observação empírica, o que gera a recusa por uma atitude valorativa,
pois só consideram como científico aquilo que está fundado na experiência, por isso é
contrário a visão de que o direito de funda na natureza racional do homem. Propõe-se a
fazer da jurisprudência uma verdadeira ciência fundada na experiência e sujeita a
observação e verificação. Do direito concebe uma articulação de comportamentos,
idéias e sentimentos, sendo que a ciência jurídica tem por função a determinação das
causas psicológicas e sociais da sua gênese e eficácia[83].
Caracteriza-se por entender que o juiz deve obediência a lei, que é expressão do
legislador, representante da sociedade jurídica; a lei possui a solução para um conflito
de interesses; considera o direito como lacunoso, no tocante ao legal, pois, impossível
ao legislador prever e valorar todos os conflitos. Nessa situação, o papel do juiz é
determinar a vontade do legislador, por meio da investigação, sendo sua função a
valoração dos interesses no caso concreto comparado com os interesses postos pelo
legislador de forma geral. Em caso de lacunas da lei, o juiz poderá realizar a integração,
por meio da analogia ou dos valores dominantes na sociedade. Tem por grande mérito o
fato de ter sido responsável pela superação dos conceitos, dando ao juiz a fecundidade
capaz de interpretar a lei, em que pese o submeter a esta[91].
O demérito vem do fato de que não considera todos os interesses relevantes; não
distinguiu o objeto e o fundamento da valoração, isto é, ao invés de investigar as razões
para a realização da lei, limitou-se a conceber os fundamentos que a justificam, como
uma teoria da interpretação da lei apenas; e, como ciência do direito, não conseguiu
estabelecer uma visão clara do direito, da razão de ser da mesma[92].
4.5 – Neopositivismo
Contudo, em que pese toda a crise existente, necessitava-se buscar um novo movimento
ou mesmo, um velho pensamento, para embasar a filosofia jurídica pós-guerra. Assim,
buscou-se retomar ao jusnaturalismo inicialmente e também ao Positivismo, mas, a
ambos com características diversas daquelas expostas na via clássica.
SANTOS JUSTO ensina que o movimento do Neopositivismo surgiu por volta de 1929,
com a fundação do Circulo de Viena, que tinha por objetivo a revalorização dos pontos
fundamentais do positivismo, repudiando-se a metafísica, mas, admitindo a experiência
como única fonte do conhecimento. Compreendiam que a influencia nazista não
diminuía a força do positivismo, pois aquelas leis não eram leis no sentido real da
expressão, mas apenas decisões de alguns funcionários sem a forma jurídica necessária.
Essa contrariedade foi em muito embasada pelos positivistas italianos que se
posicionaram contra a ideologia fascista e, tencionaram a voltar a salvar o culto a lei,
dizendo que aquelas leis injustas em sua base, não eram leis[95].
Ante essa análise do valor da lei, do que faz uma lei norma, temos que a visão do
positivismo difundida por essa corrente, a partir de meados do século XX, não é mais os
ideais puros do positivismo, como acima estabelecido. Não se trata mais do positivismo
originário, com a concepção de que o direito é a lei, de que o sistema é completo, sem
lacunas. Esse novo positivismo concorda com a existência de valores superiores ao
direito positivo, valores estes provenientes da conquista histórica, sendo que o Direito se
relaciona com o justo, pelo fato de ser ele permanentemente justo. Por essa razão,
entende que o jurista pode vir a dizer não ao direito que considere injusto. Talvez, na
atualidade, possamos dizer, conforme nos ensina SANTOS JUSTO, que o positivismo
ainda vige por ter ele se transformado, afastando-se dos seus postulados fundamentais,
mas, caracterizado pelo valor da lei, com ênfase dada a mesma e, ainda, a determinação
de neutralidade axiológica do juiz, na maioria das vezes[96].
5 – Palavras Derradeiras
Seguindo a linha retratada no início da presente, por ora que concluímos, ressaltamos
algumas observações que nos pareceram de maior significação, cujas impressões
registramos simplesmente neste ato, servindo as mesmas, não tanto como o finalizar de
um estudo, mas, mais como um embasador para o continuar de uma análise a qual
pretendemos seguir em nossa dissertação.
O movimento do Positivismo surgiu como uma luz a qual pretendia por fim a uma
grande insegurança jurídica existente, tendo em vista que a falta de uma legislação clara
e específica na Europa continental facilitava a corrupção e a manipulação do direito em
prol dos detentores do poder político.
Foi este o pensamento motivador desta doutrina, que, via de conseqüência, concebeu
toda a sua fundamentação na Lei, sendo a mesma a garantia de uma ordem social
vigente e elaborada, cujo responsável pela sua criação era o legislador, concebido este
como uma tarefa própria do Estado, cujo pensamento demonstrava a sua onipotência.
Essa foi a base motivadora desta concepção, mas, em cujo evoluir histórico, veio a
demonstrar algumas ineficácias nas suas concepções características, o que acabou por
gerar a sua evolução e o seu pensar diferenciado, com diversas escolas a surgirem e
procurarem sempre impor inovações, com erros e acertos, que foram sempre a
motivação maior para a manutenção deste pensamento até os dias atuais.
Referências Bibliográficas
CAMPBELL, Tom, El sentido de positivismo jurídico, in: Doxa 25, Cuadernos del
Filosofia del Derecho, Alicante, 2002.
FASSÒ, Guido, Storia della Filosofia del Diritto, Vol. I: Antichità e Medioevo, Società
Editrice Il Mulino, Bologna, 1966.
FASSÒ, Guido, Storia della Filosofia del Diritto, Vol. III: Ottocento e Novecento,
Società Editrice Il Mulino, Bologna, 1966.
OST, François, O Tempo do Direito, tradução Maria Fernanda Oliveira, Instituto Piaget,
1999.
[3] Ver: KAUFMANN, A. e HASSEMER, W., Introdução à Filosofia (…), ob. cit., p.
86/94.
[8] Por direito natural podemos retratar aquele que todo o ser animal conhece,
independentemente da forma posta, nos termos que este conceito foi retratado pelo
Digesto (1,1,1,3), citado por Guido Fassó: «il diritto naturale è quello che la natura há
insegnato a tutti gli esseri animati (animalia); ed infatti questo diritto non è próprio del
genere umano, bensí è comune a tutti gli esseri animati che nascono in terra ed in maré,
ed anche agli uccelli. Di qui descende l’unione del maschio e della femmina, che noi
chiamiamo matrimonio, di qui la procrezione e l’allevamento dei figli; e infatti vediamo
che anche agli altri animali, perfino a quelli selvaggi, si attribuisce la pratica di questo
diritto». Ainda, retrata que Ulpiano conceitua o Direito natural como o instinto, que é
ponto comum de todos os animais. Gaio, por sua vez, retrata com melhor precisão a
definição de Direito Natural como um direito comum a todos os povos, porque posto
pela razão. – FASSÒ, Guido, Storia della Filosofia del Diritto, Vol. I: Antichità e
Medioevo, Società Editrice Il Mulino, Bologna, 1966, p.151/152.
Já Javier Hervada, assim retrata o Direito Natural, “entendemos por derecho natural
todo derecho cuyo título no es la voluntad del hombre, sino la naturaleza humana, y
cuya medida es la naturaleza del hombre o la naturaleza de las cosas”. – HERVADA,
Javier, Qué es el Derecho? La moderna respuesta del realismo jurídico. Una
Introducción al Derecho. EUNSA, Ediciones Universidad de Navarra, S. A., Pamplona,
2002, p. 84.
[9] Hobbes sempre concebeu o homem sob a ótica de que este era ruim por natureza
(homem lobo do homem), sendo esta a forma que vivia quando no Estado de Natureza,
ou seja, em guerra contínua. Para acabar com isso, convencionou-se um pactum de
sujeição, a ser estabelecido frente ao Estado, formado para comandar a vida social, com
o intuito de obter a paz e a segurança social, razão pela qual o homem cedeu seus
direitos para ele. – JUSTO, A. Santos, Introdução ao Estudo do Direito, Coimbra
Editora, Coimbra, 2001, p. 105.
[10] OST, François, O Tempo do Direito, tradução Maria Fernanda Oliveira, Instituto
Piaget, 1999, p. 209.
[18] FASSÒ, Guido, Storia della Filosofia del Diritto, Vol. III, ob. Cit., p. 35/36.
[19] Interessante a alusão que François Host faz acerca da concepção de tempo vista por
Bentham, pois, este como teórico do utilitarismo, que concebe o direito com o objetivo
da busca da felicidade para o maior número de pessoas, vê o Tempo do Direito como
aquele revolucionário, qual seja, o tempo futuro, que não hesita em sacrificar o presente
para salvaguardar o futuro, pois, caso contrário, entende que poderia existir um «sem
amanhã». – HOST, François, ob. cit., p. 228.
[20] FASSÒ, Guido, Storia della Filosofia del Diritto, Vol. III, ob. Cit., p. 40/41.
[22] FASSÒ, Guido, Storia della filosfia del diritto, Vol. III, ob. cit., 43.
[23] BOBBIO, Norberto, O positivismo Jurídico (…), ob. cit., p. 106/107. Esse autor
estabelece o ponto fulcral da concepção de lei de Austin, onde coloca as seguintes
diferenças: Leis divinas: subdivide-se em leis reveladas e não reveladas, não tendo
muita importância nesse estudo esta distinção; Leis Humanas: subdivide-se em leis
positivas e moralidade positiva. A primeira é imposta por comandos advindos do
soberano, dentro de uma sociedade política independente (Estado); já a moralidade
positiva é imposta por um sujeito humano, mas, sem a qualidade de Soberano, onde
surgem as leis propriamente ditas, detentoras de um comando, que regulam a vida dos
indivíduos em um estado de natureza, as relações entre estados e as leis de sociedade
menores (família, corporações, etc.); e também as leis impropriamente ditas, que são os
costumes sociais, onde não há o caráter de comando.
[29] A dicotomia entre o Direito Natural e o Direito positivo nos trouxe paulatinamente
várias distinções entre ambos, que com a evolução foi se sacramentando, podendo hoje
ser resumido da seguinte forma:
- Em relação às fontes que geram ambos os direitos, temos que o Natural advém da
natureza, da ordem natural, tem uma natura-potestas, enquanto o positivo é posto pelos
homens, populus-potestas;
- Um é conhecido pela própria razão humana, outro é posto por uma declaração de
vontade alheia, que a promulga como ordem para todos;
- No que se refere ao objeto de cada um, no direito natural os comportamentos são bons
ou maus por si só, já no direito positivo os comportamentos por si só são indiferentes,
mas, assumem determinada qualificação quando disciplinados pela lei;
- E, por ultimo, no que se refere à valoração das ações um estabelece o que é bom e o
outro o que é útil. - BOBBIO, Norberto, O positivismo Jurídico (…), ob. cit, p. 19-
22/23.
[34] Santos Justos nos apresenta uma sistematização muito elucidativa sobre a
caracterização do positivismo, em contrapartida ao jusnaturalismo clássico: diferencia-
se na formulação do conceito do direito, das fontes, do método e da epistemologia cujo
pensamento retrata. Concebe o direito como um comando imposto pela vontade do
legislador cuja validade se afere por meio de um critério formal de vigência e social de
eficácia. Tem por sua única e maior fonte a lei, expressão das intenções axiológico-
normativas de exclusiva responsabilidade do legislador. Baseia-se no método lógico-
dedutivo e subsuntivo, onde o jurista tem uma função de mero reprodutor da norma
elaborada pelo legislador, de forma plena, de modo a se considerar o direito como não
lacunoso. Separou a Filosofia do Direito da Ciência do Direito, a qual foi vinculada a
modelos e técnicas formalistas ou naturalistas. – JUSTO, A. Santos, Introdução (…),
ob. cit., p. 109.
[35] CAMPBELL, TOM, El sentido de positivismo jurídico, in: Doxa 25, Cuadernos
del Filosofia del Derecho, Alicante, 2002, p. 303.
[37] Para melhor esclarecimento do tema, conferir o jurista Norberto Bobbio, na obra
supracitada, às páginas 135 a 146.
[39] Observar a distinção entre Valor e Validade de uma norma. A validade indica a
qualidade de existir da norma jurídica dentro da esfera do direito, isto é, a norma
jurídica é valida quando existe, é real no ordenamento jurídico. Por sua vez, o valor
(justiça) indica a qualidade da norma em relação ao direito ideal, ou seja, verificar se a
norma corresponde ou não ao direito ideal, se a norma é ou não válida, justa. -
BOBBIO, Norberto, O positivismo Jurídico (…) ob. cit, p. 136/137.
[40] Interessante ressaltar que a questão da eficácia da lei, isto é, se a lei é ou não
efetivamente aplicada na sociedade, gera a distinção entre uma das correntes
juspositivistas advindas, qual seja, a corrente do Realismo Jurídico ou Positivismo
Empírico. Os juspositivistas clássicos consideram o direito sob a ótica do dever ser,
considerando-o como uma realidade normativa. Já os empíricos vêem o direito sob a
ótica do ser, ou seja, consideram o direito como uma realidade factual. Sobre o assunto
melhor definição será dada a posteriori. – BOBBIO, Norberto, O positivismo Jurídico
(…) ob. cit, p. 143.
[42] Para melhor esclarecimento do tema, conferir o jurista Norberto Bobbio, na obra
supracitada, às páginas 147 à 222.
[43] CAMPBELL, Tom, El sentido (…), ob, cit, p. 303.
[44] Concebe-se como fonte aquela capaz de produzir uma norma validamente, ou seja,
uma norma existe juridicamente se for produzida por uma fonte autorizada, quer dizer,
por um ato ou fato capaz de produzir uma norma. - Idem, Ibidem, p. 161.
[45] A idéia da onipotência do legislador surgiu com o advento dos ideais liberais, em
contraposição aos ideais absolutistas, embasados no pensamento das divisões do poder
estatal e da visão da representatividade legislativa, onde se buscou a limitação dos
poderes do príncipe e a instauração das concepções democráticas. Essa onipotência é
baseada na visão da obrigatoriedade da lei, suprema por natureza, contudo, sendo esta,
fruto de uma vontade pessoal, ao contrário da concepção espontânea dos costumes, a lei
assenta sua supremacia na proeminência do legislador. Essa onipotência sofre a
limitação natural dos limites físicos e lógicos, tendo tido sua expressão no momento da
codificação. Os maiores contributos para o surgimento desse pensamento foram dados
por Montesquieu (1689-1755) e de Beccaria (1737-1794). O primeiro concebia que as
funções judiciais deveriam ser apenas de instrumentos para a pronúncia das palavras da
lei, onde o poder legislativo goza de uma posição de superioridade. Beccaria por sua
vez, concebe o soberano (legislativo) como o depositário da vontade de todos, razão
pela qual, apenas ele pode estabelecer leis que obriguem a todos os cidadãos. Isso vem
ocasionar maior segurança, pois o juiz deve abster-se de interpretar as leis, apenas
aplicá-la, em um silogismo perfeito. – MARQUES, Mário Reis, Introdução (...), ob. Cit,
p. 54/55.
[46] A norma consuetudinária não pode ser considerada como um comando, pois este
pressupõe uma vontade determinada, enquanto o costume retrata uma vontade
indeterminada e impessoal. – BOBBIO, Norberto, O positivismo Jurídico (…), ob. cit.,
p. 181.
[49] O poder pode tanto ser emanado do juiz, do costume ou do legislador, conforme o
sistema é judiciário, consuetudinário ou legislativo. Ressaltamos que a idéia de unidade
do sistema já é anterior ao positivismo, contudo, os jusnaturalistas previam a unidade do
ordenamento sob a ótica do conteúdo do direito e o positivismo é pela ótica da forma. –
Idem, ibidem, p. 199.
[51] Bobbio nos ensina que Teoria expressa a noção de simples atitude cognoscitiva da
realidade, ou seja, é um conhecer e relatar a realidade, enquanto que Ideologia
corresponde a um comportamento avaliativo da realidade, que busca influir a realidade.
Teoria pode ser verdadeira ou falsa. Ideologia é conservadora ou progressista. -
BOBBIO, Norberto, O positivismo Jurídico (…) ob. cit, p. 223.
[53] Bobbio nos apresenta algumas concepções de justiça, quais sejam, Realista, a
justiça é a expressão da vontade do mais forte; a Convencionalista, justiça é aquela que
os homens concordam em considerar justiça; a da Sagrada Autoridade, que advém do
fundamento carismático do poder, dada por alguém carismático que manda; Concepção
do Estado Ético, o Estado por ser manifestação de Deus tem a missão de realizar a
Eticidade. Idem, ibidem, p. 228.
[56] Bobbio estabelece algumas causas para o advento desta escola: o próprio fato da
codificação que representava a via mais simples e curta para resolver uma questão por
parte dos operadores do direito; a subjugação a vontade do legislador, fator próprio de
quem se encontra dominado pelo princípio da autoridade; o respeito a doutrina da
separação dos poderes; a busca de se ter um direito motivado pela certeza; e, por ultimo,
o fato de que o regime napoleônico determinou a reorganização dos estabelecimentos de
ensino superior de direito, o que devia se dar nos moldes do próprio código. – Idem,
Ibidem, p. 78/83.
[57] FASSÒ, Guido, Storia della Filosofia del Diritto, Vol. III: Ottocento e Novecento,
Società Editrice Il Mulino, Bologna, 1966, p. 27/28.
[65] Santos Justos assim caracteriza essa Escola: concebe o direito como racional, como
um sistema de conceitos que tem um valor ontológico, onde o conceito é seu elemento
constitutivo e o sistema dos conceitos é a sua estrutura fundamental, sendo que este
ultimo é visto como uma pirâmide, a qual possui na sua base os conceitos menos gerais,
e progressivamente, escalasse aos conceitos mais gerais, chegando ao cume com o
conceito supremo, o mais geral, sendo que os menos gerais subsumem-se aos mais
gerais; Entende ainda, que a lei é a base para a ciência do direito que busca seu
conteúdo por meio da interpretação (jurisprudência inferior – concebida tal como a
Escola da exegese), após essa fase chega-se a elaboração científica do conteúdo legal
mediante a construção de conceitos e do sistema. Essa é uma construção fornecida por
Rudolf Von Iheiring; por ultimo, entende que o sistema lógico conceitual é uma
totalidade unitária e fechada, ou seja, de uma plenitude lógica do sistema que exclui a
existência de verdadeiras lacunas, pois estas só podem ser aparentes, por referirem-se a
casos não jurídicos ou por se tratar de falta de conhecimento do sistema jurídico. -
JUSTO, A. Santos, Introdução (…), ob. cit., p. 115.
[66] Guido Fassó assim retrata essa escola: “Questo lavoro di rielaborazione concettuale
e sistematica del diritto romano, che fu detta «pandectistica», e che si precisò
definitivamente col Puchta, perfezionata da giuristi posteriori, come a suo luogo
vendremo, avrà un’influenza determinante sull’indirizzo della scienza giuridica del
secolo XIX (e, in Germania, sulla estessa legislazione), dando vita a quella che fu detta
«giurisprudenza dei concetti». Il metodo di essa – metodo essenzialmente formalistico –
si eserciterà non piú soltanto sul diritto romano, ma anche sul diritto dei nuovi codici,
generando una dottrina giuridida diversa sí da quella della scuola storica nemica delle
codificazioni, preparerà, attraverso l’opera del suo piú insigne rappresentante, Bernardo
Windscheid, la codificazione in Germania. Anche per la via dello storicismo dunque si
afferma, nel secolo XIX, il positivismo giurídico”. – FASSÓ, Guido, Storia (...), Vol III,
ob. Cit., p. 73.
[67] Jhering afirma em sua primeira fase que a ciência jurídica é universal, com os
juristas todos falando a mesma língua, e isto se dá porque se serve de um método
próprio, com técnicas de pesquisa elaboradas e refinadas através dos séculos, válidos em
qualquer ordenamento. Concebe que a tarefa mais importante do jurista é a
simplificação dos materiais jurídicos, o que pode se dar quantitativamente ou
qualitativamente, a primeira dando-se por meio da análise jurídica, concentração lógica,
ordenamento sistemático; já a qualitativa se dá por meio de uma construção, onde se
distingue a jurisprudência inferior (interpretação da lei) e a jurisprudência superior, cujo
método se dá pela construção, ou seja, na individualização e no isolamento dos
institutos jurídicos. - BOBBIO, Norberto, O positivismo Jurídico (…), ob. cit., p. 125.
[69] Essa ciência concebida sob a ótica do dever-ser puro, isto é, dissociado da realidade
fática, não possui qualquer conteúdo, razão pela qual admite qualquer tipo de conteúdo,
inclusive um conteúdo absurdo, realidade admitida por Kelsen, pois bastaria que a
norma fosse formalmente confeccionada, nos termos da lei, seria válida,
independentemente de possuir um conteúdo absurdo, seria uma norma de Direito. Esse é
um dos fatores primordiais de crítica a Teoria Kelsiana, em que autores como Hermann
Klenner chegaram a chamar essa Teoria de Vazio do Direito. – KAUFMANN, A. e
HASSEMER, W., Introdução à Filosofia (…), ob. cit., p.180/181.
[72] Arthur Kaufmann nos expõe que essa norma fundamental acaba por gerar uma
idéia do dever-ser como categoria ética, tendo em vista que esta vem a ser retratada
como norma de direito natural, a qual põe limite na relação de controle estatal, pois, não
existindo haveria uma cadeia infinita de controles das normas coativas. - KAUFMANN,
A. e HASSEMER, W., Introdução à Filosofia (…), ob. cit., p. 181.
[76] KAUFMANN, A. e HASSEMER, W., Introdução à Filosofia (…), ob. cit., p. 170.
[90] KAUFMANN, A. e HASSEMER, W., Introdução à Filosofia (…), ob. cit., p. 172.
[94] KAUFMANN, A. e HASSEMER, W., Introdução à Filosofia (…), ob. cit., p. 122.