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O que é ser padre

<< Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para
que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça. >> (Jo 15, 16)
O que é ser padre? Acredito que essa pergunta nunca terá uma única
resposta, se é que pode ter uma resposta. Digo isso, pois, ser padre não é algo
que se pode expressar plenamente por meio de palavras, não é algo pronto
como uma receita em que há o modo de fazer. Porém, há uma coisa que é
essencial: ser padre não é ser perfeito, mas é SER humano em que se busca
assemelhar-se ao Bom Pastor, que “dá a vida por suas ovelhas” (Jo 10, 11).
Ser é padre é um longo e exigente caminho onde há seus espinhos e suas
alegrias, mas, quando se insiste em aproximar-se de Jesus Bom Pastor
buscando imitá-lo, Ele certamente sustenta e concede a sabedoria e a coragem
necessária para que se possa persistir na longa vinha do Senhor.
Penso que todo chamado é um convite – e nunca uma obrigação – do
próprio Deus para uma relação de amizade com ele. Ser padre, de modo
simples, é ser amigo do Bom Pastor. Assim, se descobrirá as maneiras e
caminhos para se aprofundar sempre mais naquilo que Ele deseja de cada um
de nós, se aprofundar no pastoreio de suas ovelhas. Para se assemelhar
àquele que chama será necessária esta amizade através da oração, do silêncio
e da escuta. A oração porque toda amizade exige a conversa, os desabafos e a
confiança; o silêncio para que saibamos mediar o que é nossa vontade e o que
é a vontade Dele; e a escuta não só no sentido próprio da palavra, mas escutá-
Lo também nas ações do dia a dia.
Creio que o padre deverá – e é até mais exigente – permanecer no amor
de Deus. Permanecer para deixar-se ser preenchido pela “água viva” que só o
Senhor pode oferecer, e para que assim o coração do padre seja uma
extensão da fonte que é propriamente Deus, sempre com o cuidado de
conduzir as pessoas a Deus e nunca a si próprio. Isso exigirá um
despojamento de si e ao mesmo tempo um cuidado consigo mesmo, pois uma
fonte seca e estéril não poderá servir como luzeiro do Senhor. E o permanecer
é necessário, pois deve haver um constante retorno ao primeiro chamado, ao
primeiro “Vem e segue-me”! Para que nunca se esqueça a fonte, o motivo de
sua missão e para lembrar-se sempre que nunca é um caminho pronto, mas
um trilhar construindo.
Tudo isso deverá impulsionar a levar o amor àqueles que mais precisam,
aos que tem sede e fome não só do que é material, mas de cuidado e de uma
compaixão viva. O padre precisa ser um sinal de esperança aos aflitos e
desanimados, deve ser sinal do coração manso, humilde e misericordioso de
Jesus, e ao mesmo tempo, o padre deve ser aquele que sabe corrigir e dizer
“não” quando necessário. O Bom Pastor é manso, mas também corrige porque
ama de verdade. O padre deve ser aquele que anseia pelo crescimento das
sementes que Deus concedeu a ele cuidar, e para que cresçam são
necessários os diálogos e as correções na caridade, se atentando em nunca
colocar fardos pesados sobre o ombro do outro. Se não há nem diálogo nem
correção corre-se o risco de atrair muitas pessoas através de uma falsa
bondade a si mesmo e se há, mas sem amor e com dureza, a semente seca.
Vejo que na vida presbiteral há um exigente processo de mediação entre
a administração de uma paróquia e a vida pastoral/espiritual e corre-se o risco
de pender para um dos lados, principalmente para a administração. Um padre
que é somente administrador não vive o sentido pleno de seu ministério, mas
faz dele um “título”, como se fosse um empresário. Acredito que é necessária
uma coerência entre essas duas necessidades da vida presbiteral, para que o
seu ministério não entre num “modo automático”.
A meu ver, o ser padre deve ser marcado pelo serviço sincero e humilde,
nunca pelo “ser servido” ou “ser visto”. Ser padre é saber servir o outro na
escuta, no amor e na doação, é necessário, então, responsabilidade e
comprometimento com o povo, demonstrando proximidade com todos, sem
exclusividade para com um ou outro. O padre é tirado do povo para o povo,
para contribuir com a missão de continuar o Reino de Deus aqui na terra,
seguindo os mesmos passos de Jesus. Ser padre é caminhar numa direção
incerta, deixando que o Senhor vá conduzindo. É renunciar a tudo o que pode
vir em primeiro plano e impedir que a vida sacerdotal prossiga segundo os
anseios de Deus. Finalizo dizendo que ser padre é um contínuo aprendizado, é
ser discípulo, é ser pequeno, é ser um ramo da videira que dá bons frutos. Ser
padre é graça de Deus!

Luís Fernando de Siqueira

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