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FGV - Tecnicas Da Administraçao de Conflitos Na Gerencia de Projetos
FGV - Tecnicas Da Administraçao de Conflitos Na Gerencia de Projetos
Rio de Janeiro
Outubro / 2004
elaborado por Fátima Quadros Fernandes, Fátima da Silva Ribeiro e Paulo César
Fernandes.
Rio de Janeiro,
Coordenador Acadêmico
Prof. Orientador.
Por outro lado, embora o significado da palavra “conflito” esteja, com bastante
freqüência, associado a um valor negativo, não é verdadeiro afirmar que em todos os casos em
que ele ocorrer o projeto será prejudicado: a sinergia resultante das diferentes opiniões e
experiências dos membros de uma equipe, pode proporcionar ganhos substanciais tanto para o
projeto como para os envolvidos no conflito.
The increase of competition, the search for better products and services and the need
to adjust the productivity to a new market reality (globalization is a must but in the other
hand it is important to be ready to specific local customizations) have become mandatory that
companies and people are able to practice a new routine: the routine of getting rid of
paradigms and of being prepared to always change everything (more than ever changes have
been affecting working environment , methodologies, products, services, etc).
In order to implement all those changes, companies need a well defined strategic plan
and a well managed project execution. Projects are carried out by people and each person can
have particular expectations and goals that not always meet some company project objectives
or needs. Mixing up everything a little bit more we can have teams working at different
places (or even different Countries), multifunctional teams working together and people with
completely different behaviors working side by side. All this transforming environment
makes conflicts show up and then it looks like an axiom: projects are linked to conflicts.
In the other hand, although we usually associate the word “conflict” to a negative
meaning, it is not true that conflicts are always bad and that they will always disturb the
project: conflict can result in synergy! That is because when you have different opinions and
experiences on a same subject, it is possible to obtain team and project development. Of
course you need to correctly manage the situation.
The main goal of this document is to analyze the key issues which happen on project
phases (concept, planning, execution and closing) related to conflicts. An explaining
methodology will be used in order to achieve this goal.
A study case will be used as a tool to illustrate and describe the main conflict issues on
projects. Then conflict causes will be analyzed and suggestions will be placed not only to
prevent or to fix embarrassing or harassing situations as to improve the opportunities where
conflict brings advantages to the project.
TERMO DE COMPROMISSO..............................................................................................................................iii
RESUMO ............................................................................................................................................................... iv
ABSTRACT ............................................................................................................................................................ v
INDICE .................................................................................................................................................................. vi
INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................... 1
METODOLOGIA ................................................................................................................................................... 3
1. CONCEITUAÇÃO ........................................................................................................................................ 4
1.1 Introdução ................................................................................................................................................. 4
1.2 Administração de Conflitos....................................................................................................................... 5
1.2.1 O conflito é bom ou ruim?............................................................................................................... 5
1.2.2 Tipos de Conflitos ........................................................................................................................... 7
1.2.3 Identificação dos estágios de um conflito...................................................................................... 10
1.2.4 Técnicas de Administração de Conflitos ....................................................................................... 12
1.2.5 Tipos de Comportamento .............................................................................................................. 18
1.2.6 Tipos de Comportamento x Técnicas de Administração de Conflitos........................................... 19
1.2.7 Tipos de Poder............................................................................................................................... 20
1.2.8 Negociação .................................................................................................................................... 21
1.2.8.1 Inteligência x Emoção............................................................................................................... 23
1.2.8.2 Gerenciamento das Emoções X Comunicação: fortalecendo o processo de negociação .......... 24
1.2.9 Equipes: Formação Preventiva ...................................................................................................... 26
1.2.9.1 Senso de propósito .................................................................................................................... 27
1.2.9.2 Comunicação aberta.................................................................................................................. 28
1.2.9.3 Confiança e respeito mútuo: ..................................................................................................... 28
1.2.9.4 Liderança compartilhada........................................................................................................... 28
1.2.9.5 Procedimentos eficazes de trabalho .......................................................................................... 29
1.2.9.6 Criação a partir das diferenças .................................................................................................. 29
1.2.9.7 Flexibilidade e adaptabilidade .................................................................................................. 29
1.2.9.8 Aprendizagem contínua ............................................................................................................ 29
1.2.10 Resumo ..................................................................................................................................... 30
1.3 Áreas de Conhecimento do PMBOK® .................................................................................................... 32
1.3.1 Informações Gerais........................................................................................................................ 32
1.3.2 Principais Fontes de Conflito em Projetos..................................................................................... 33
2. ESTUDO DE CASO - ALFABETIZAÇÃO: UMA QUESTÃO DE RESPEITO....................................... 42
2.1 Visão Geral dos Principais Envolvidos ................................................................................................... 42
2.1.1 O público-alvo: os futuros alfabetizandos ..................................................................................... 42
2.1.2 Comunidade Acadêmica................................................................................................................ 43
2.1.3 As Universidades........................................................................................................................... 44
2.1.4 Prefeituras...................................................................................................................................... 44
2.1.5 Empresários ................................................................................................................................... 44
2.1.6 ONG – (SEIC – Saúde e Educação: Informação e Cidadania) ...................................................... 45
2.1.7 Instrutores ...................................................................................................................................... 45
2.2 Visão Geral do Projeto ............................................................................................................................ 45
2.3 A História do Projeto .............................................................................................................................. 47
3. ANÁLISE DO CASO E APRESENTAÇÃO DE ALTERNATIVAS......................................................... 61
4. CONCLUSÃO ............................................................................................................................................. 78
5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................. 81
A estória descrita neste trabalho não é real, mas lamentavelmente poderia repetir-se
dezenas de vezes em dezenas de locais diferentes deste nosso País. Ela trata de uma dura
realidade que é o analfabetismo, que ainda isola, humilha e discrimina um número
absurdamente alto de adultos e adolescentes desta nossa Nação, imensa tanto em tamanho
como em diferenças sociais.
O assunto foi escolhido, pois nossa percepção é de que ele se encaixa perfeitamente no
tema base que selecionamos para este TCC (Trabalho de Conclusão de Curso): a própria
quantidade de analfabetos, por si só, já é um indicador de que algo deve ser melhor
administrado neste empreendimento que tem características totalmente únicas, lida
diretamente com pessoas e deveria ser mais temporário do que parece indicar a atual realidade
social. Portanto, está completamente relacionado aos conceitos de projetos (únicos,
temporários, realizados por pessoas) e de conflitos (diversidade de interesses sociais,
políticos, pessoais, de recursos, de tempo e de tantos outros).
Além disto, entendemos, nós componentes deste grupo que se reuniu inicialmente
para simplesmente complementar uma tarefa curricular do MBA em Gerência de Projetos da
FGV e que acabamos nos envolvendo com o tema de forma muito mais intensa do que
poderíamos prever, que teríamos a oportunidade não só de colaborar para o aumento do
conhecimento na Área de Administração de Conflitos para os interessados em Gerência de
Projetos, como também, especificamente, contribuir no delineamento de uma mudança mais
efetiva deste cenário de desigualdade que o analfabetismo impõe: utilizamos um caso fictício
(baseado em várias estórias do dia a dia de nosso País) para fornecer nossa visão sobre
melhores formas de administrar os conflitos que certamente ocorrem em projetos
semelhantes, para que, desta maneira, seja possível aproveitar melhor as diferenças que
agregam valor e resolver ou contornar os problemas que há muito tempo adiam o término
deste enorme projeto de erradicação do analfabetismo.
Obrigado.
Este Trabalho de Conclusão de Curso está baseado em um estudo de caso criado para
que fosse possível utilizar uma metodologia explicativa dos principais fatores relacionados à
Administração de Conflitos em Projetos. Desta forma, situações e personagens interagem de
modo a proporcionar o ambiente necessário para a que a análise das principais ocorrências
fosse baseada na ótica de um gerente de projetos.
A opção pelo uso de um caso hipotético permitiu uma liberdade maior para a
discussão de temas relacionados a eventos nos quais existem conflitos, uma vez que estes
usualmente são considerados polêmicos e, conseqüentemente, sujeitos a bloqueios que
normalmente prejudicam que os envolvidos admitam e discutam abertamente não só sua
existência como a real contribuição destes eventos no resultado final de um projeto.
Por outro lado, houve o cuidado de escolher um tema atual e totalmente adequado à
realidade de nosso país. Desta forma, buscou-se criar um ambiente no qual o leitor seja
estimulado a fazer comparações com situações por ele conhecidas trazendo uma atmosfera de
realidade a este estudo de caso.
1.1 Introdução
O objetivo deste capítulo é fornecer conceitos básicos sobre o tema “conflitos”. Não é
esperado que nenhuma das informações aqui apresentadas represente uma novidade em
relação ao que diversos autores já escreveram sobre este assunto. Ao contrário, serve para
agrupar algumas das idéias usualmente discutidas em livros e artigos relacionados a este tema
e serve para consolidar uma linguagem comum entre nós.
Portanto, para aqueles que já leram bastante sobre tipos de conflito e métodos para sua
administração e conhecem relativamente bem os conceitos básicos do PMBOK®, a leitura
deste capítulo é claramente opcional.
Por outro lado, aqueles que tiverem interesse em discutir alguns dos conceitos
fundamentais sobre o tema, terão nesta parte do trabalho um material que julgamos valioso
para suas considerações.
Para ambos os casos a leitura desta parte do trabalho permitirá um maior entrosamento
entre nós, uma vez que fizemos a análise do caso apresentado no capítulo 2 tendo como base a
maioria dos princípios aqui descritos.
Boa leitura.
Encontro hostil.
Hoje em dia, o conflito é visto de forma bem diferente, sendo considerado normal e
natural. É evidente que usualmente fica mais fácil relacionar as situações em que o conflito
traz problemas, mas o conflito também proporciona a descoberta de novas soluções. Soluções
Se considerarmos que o conflito pode ser traduzido como um momento em que ocorre
uma divergência de opiniões, de interesses ou de objetivos, podemos dizer que seus aspectos
positivos ou negativos dependem muito mais da forma como são conduzidos do que
efetivamente representam em termos absolutos. O conflito é benéfico quando3:
leva a descoberta de novos fatos e informações que podem resultar em benefícios para
a empresa;
aperfeiçoa a criatividade;
causa tensão;
O conflito interno é uma perturbação que surge em uma pessoa. Cada ser humano
possui diversas expectativas, planos e objetivos pessoais que podem entrar em choque com as
atividades relacionadas a projetos e rotinas empresariais. Além disto, questões de natureza
psíquica ou existencial interferem nos resultados dos indivíduos. Os conflitos internos quase
sempre são de difícil diagnóstico e quase nunca simples de lidar. Eles prejudicam a vida
cotidiana e podem causar problemas com a concentração e com a vontade de trabalhar
interferindo diretamente nos resultados das atividades exercidas pelos membros das equipes.
Equilíbrio emocional e uma dose extra de paciência, são alguns elementos necessários para
evitar que algo eventualmente ruim se torne ainda pior. O conflito não poderá ser
administrado externamente, a menos que, o indivíduo exerça o controle interno de si mesmo.
Você acha quase impossível sair de um modo de solução de problema, mesmo depois
de sair do escritório?
Você esta fazendo reclamações com uma freqüência cada vez maior?
Você tem explosões repentinas de energia e começa muitos projetos somente para
liberar algum sentimento, mas não os finaliza?
Pela avaliação do autor, se você respondeu “sim” a todas ou quase todas as perguntas
acima, não é para ficar preocupado, pois a maioria das pessoas responde “sim” a várias delas,
por outro lado, suas respostas podem servir como um alerta para identificar para onde a sua
energia está sendo direcionada e de como você deve concentrar a aplicação de técnicas para
gerenciamento de suas emoções pessoais.
São os conflitos que ocorrem entre indivíduos, são os mais comuns e normalmente
surgem por falha na comunicação, pela divergência de opiniões, pela divergência de
expectativas, por problemas pessoais ou de personalidade, por stress ou ainda pela existência
de objetivos conflitantes. Muitas vezes, as pessoas nem sabem qual é a causa do conflito.
O conflito interpessoal irá ocorrer quando uma das quatro necessidades psicológicas
básicas de cada ser humano for violada (Pickering, 1999):
Quando uma dessas necessidades é violada, o ser humano usualmente reage de quatro
maneiras: revidando, dominando, isolando ou cooperando.
Cada vez mais a inteligência emocional é responsável por resultados positivos, tanto
no ambiente de projetos como no ambiente de ações continuadas.
Outro tipo de conflito é o que ocorre entre grupos, podendo envolver equipes,
departamentos, empresas, etc. Como exemplo podemos citar uma situação atualmente comum
Para facilitar a discussão sobre este tema, utilizaremos um exemplo fictício como
ilustração:
Um dia Manoel, que utiliza o ônibus como meio de transporte para seu trabalho,
perdeu a hora e teve que utilizar seu carro. Não se atrasou, porém enfrentou vários
aborrecimentos antes de chegar ao seu local de trabalho: desde engarrafamentos e dificuldade
Uma maneira fácil de diagnosticar este primeiro estágio é observar a capacidade dos
envolvidos em separar as pessoas dos problemas. O responsável por uma equipe envolvida em
um conflito desta natureza pode utilizar o brainstorm ou outros recursos criativos como forma
de solucionar o problema. Outra estratégia eficaz neste estágio é a abstenção: manter silêncio
ao invés de iniciar uma discussão acalorada pode funcionar bem quando o contato dos
envolvidos não for freqüente. Isto é mais eficiente quando você determina que não há tempo
nem motivação para alterar as particularidades ou hábitos dos envolvidos. Também podemos
considerar como abstenção o ato de ser condescendente, isto é, quando um indivíduo cede
para o outro. A condescendência envolve o desejo de ser aceito e de pertencer ao grupo, ela
pode ser benéfica para o grupo, mas não há como prever por quanto tempo um indivíduo terá
condições de continuar cedendo.
É importante ter em mente que cada técnica se aplica a um tipo de situação: uma
técnica pode ser útil em determinada circunstância e inadequada em outra, isto é, nem sempre
é possível aplicar uma mesma técnica para todos os casos.
Uma mesma situação de conflito pode exigir que mais de uma técnica seja aplicada,
isto vai depender do público envolvido e do momento em que a situação ocorre.
Por exemplo, uma pessoa com baixa preocupação com os outros e alta preocupação
consigo mesma normalmente utilizará a técnica conhecida como competição ou força. Por
outro lado, um indivíduo cujo comportamento esteja justamente no quadrante oposto, isto é,
tenha alta preocupação com os outros e baixa consigo mesmo buscará a se retirar ou afastar
do conflito.
Outro detalhe a ser levado em consideração é o fato de que tanto a conduta quanto o
desempenho do ser humano podem ser alterados em função do estado emocional ao qual ele
está submetido, isto é, pressão, estresse ou outros fatores diversos, sejam eles positivos ou
negativos, modificam o comportamento representado pelo diagrama apresentado a seguir.
Condescendente
Colaborador
(Acomodação ou Panos Quentes)
(Confronto Objetivo)
Preocupação com os outros
Concessão Mútua ou
Negociação
Despreocupado
Dominador
(Afastamento ou Retirada)
(Força)
Baixa Alta
Preocupação com si mesmo
Normalmente o objetivo neste caso é vencer o conflito rapidamente fazendo uso de todo
o poder ao alcance para impor que outras pessoas tenham a mesma opinião. Uma vez que esta
técnica normalmente tem efeito somente quando o direito e o poder estão ao lado de quem a
emprega, sugere-se que a mesma seja utilizada com moderação. Raramente a solução mais
Esta técnica pode ser usada em diversas situações, algumas delas exemplificadas abaixo:
Emergências;
Quando se é mais forte, o relacionamento não é importante e fica claro que o que está
ocorrendo é simplesmente um jogo;
Uma das partes abre mão de sua posição. Esta técnica não necessariamente resolve um
conflito, mas tenta convencer ambas as partes que existem pontos a serem negociados e de
que a solução é possível. O uso desta técnica permite que diferenças entre as partes sejam
eliminadas ou reduzidas para que um consenso possa ser alcançado. Pode ser utilizada
também quando não se está seguro da decisão a ser tomada.
Em alguns casos é necessário ganhar tempo, quando, por exemplo, nenhuma das
partes envolvidas consegue lidar bem com determinada situação. Esta técnica é
freqüentemente utilizada como uma solução temporária para o conflito. No contexto de
projetos, podemos citar as seguintes situações:
Quando é necessário mais tempo para buscar uma solução mais eficaz;
Cada um dos envolvidos abre mão de algum interesse para que se possa chegar a um
acordo relacionado a um item de maior importância. Esta técnica também é chamada de
“concessão mútua” uma vez que ambas as partes fazem concessões e, ao mesmo tempo,
ganham algo em troca. Normalmente é utilizada quando outros métodos falharam e as partes
envolvidas estão preparadas para buscar um meio termo.
Esta é usualmente considerada a melhor técnica. Apesar disto não pode ser utilizada
em todos os casos, uma vez que exige alto nível de confiança e grande boa vontade entre as
partes para que a solução do conflito seja verdadeiramente alcançada. Quando é adotada, os
indivíduos envolvidos buscam inicialmente a troca de informações sobre o tema em questão,
posteriormente efetuam um exame detalhado da causa raiz do conflito para, finalmente,
encontrar uma solução aceitável para todas as partes. Os envolvidos são colocados frente a
frente para que se obtenha consenso e comprometimento de forma a alcançar a solução. Parte
do princípio que é necessário avaliar efetivamente as causas do problema, analisar os
interesses envolvidos e escolher as alternativas de solução mais objetivas. Isto implica que as
partes envolvidas devem possuir habilidades técnicas e administrativas compatíveis com a
situação e seus esforços tenham foco na solução do problema que está sendo tratado.
Esta técnica leva à descoberta de soluções para problemas complexos e sua aplicação
obtém êxito quando os envolvidos conseguem fazer uma distinção clara entre “pessoas” e
“problemas”.
Alguns exemplos:
Para solução de problemas, cuja causa raiz deve ser identificada e tratada.
1.2.5.1 Passivo
1.2.5.2 Agressivo
Indivíduos agressivos normalmente buscam o conflito e tentam fazer valer sua posição
independe da situação ser ou não relevante. Procuram intimidar a outra parte através de
expressões verbais e corporais e através do uso do poder e de ameaças.
1.2.5.3 Agressivo/Passivo
De certa forma podemos criar uma matriz que relaciona os tipos de comportamento
(passivo, agressivo, agressivo/passivo e assertivo) com as técnicas de administração de
conflito (ganhar/ganhar; ganhar/perder, perder/ganhar, perder/perder e ganhar/perder +
ganhar/perder). Isto é, podemos criar uma classificação na qual relacionamos os tipos de
comportamento com sua forma usual de administrar conflitos e com a melhor maneira de lidar
para obter o melhor resultado possível quando for necessário administrar conflitos com
alguém com este perfil.
Mais uma vez é importante enfatizar as pessoas podem alterar seu padrão de
comportamento em função de diversos fatores e que a escolha do método ou comportamento
mais adequado deve levar em consideração os objetivos do projeto, as relações de força e
poder e as características pessoais conhecidas demais indivíduos envolvidos no conflito.
Após citarmos os tipos de comportamento que cada pessoa pode ter, citaremos a seguir
os tipos de poder utilizados pelos líderes juntos aos liderados.
1.2.7.1 Coercivo
1.2.7.2 Recompensador
1.2.7.3 Conexão
Tem este poder quem apresenta um forte relacionamento com o detentor do poder de
coação. Este tipo de poder empresta, por tabela, o autoritarismo do superior imediato,
repetindo o modelo, causando o mesmo tipo de reação na equipe: medo, ressentimento e
conformidade.
1.2.7.4 Legítimo
Autoridade oriunda do cargo, da posição formal, como por exemplo, o poder de uma
autoridade militar, judiciária, do gerente, do presidente da organização, etc.
1.2.7.6 Referência
1.2.7.7 Especialização
1.2.8 Negociação
Há vasta literatura sobre este tema e não é escopo deste trabalho entrar no
detalhamento de cada uma das questões relacionadas a este assunto. De qualquer forma é
Como a negociação ocorre entre pessoas, é importante saber sobre a realidade pessoal
dos envolvidos, isto é, procurar conhecer a percepção da outra parte sobre o tema que está
sendo discutido e como ela está sendo influenciada por outros fatores (necessidades,
crenças/valores, expectativas e emoções do interlocutor). Além disto é importante saber que
os seres humanos possuem modelos de comportamento que podem influenciar na negociação:
por exemplo, algumas pessoas são extremamente auto-referentes, outras dão grande valor aos
detalhes, outras fogem constantemente da negociação etc. É importante estar atento a estas
características e ajustar a condução dos trabalhos de acordo com a realidade de cada um.
Outro fator importante é o conhecimento sobre o que está sendo negociado: sem este
conhecimento fica muito difícil buscar alternativas ou distinguir o que é bom do que é ruim.
Apesar de parecer óbvio, muitas pessoas ainda hoje seguem para uma negociação sem o
conhecimento adequado do assunto que será discutido. Mais uma vez é importante lembrar:
negociar exige preparação prévia.
R e a lid a d e C o n h e c im e n to
Pessoal d o A s s u n to
R e la c io n a m e n to P ro c e s s o d e
P essoal N e g o c ia ç ã o
C e n á rio 1
C e n á rio 2
C e n á rio 3
Tudo que discutimos até o momento, nos leva a crer que o sucesso em uma negociação
depende também, ou principalmente, de fatores emocionais relacionados às partes envolvidas.
Além de todas as competências e habilidades já descritas anteriormente que um gerente de
projeto deve ter para realizar bem o seu trabalho, devemos considerar mais um elemento
como aliado nas negociações: a Inteligência Emocional.
Existe uma relação direta entre o gerenciamento das emoções e um alto nível de
inteligência emocional. Os indivíduos que conseguem controlar melhor seus impulsos
emocionais, normalmente são melhores sucedidos em seus relacionamentos profissionais.
Todos são capazes de educar suas emoções. Não há medida ou graduação para
mensurar a capacidade de cada um em disciplinar suas emoções, por outro lado, com
treinamento e orientação, um melhor resultado pode ser alcançado, mesmo que com diferentes
atuações. O importante é que se consiga expressões mais adequadas das emoções. Este
comportamento é um fator co-adjuvante dentro do contexto de competitividade das
organizações e traduz-se usualmente em resultados mais favoráveis em uma negociação.
Portanto, a inteligência emocional ajuda a minimizar e até mesmo evitar conflitos que podem
ser gerados por diferenças de objetivos, de interesses e até mesmo de choques de
personalidades.
A linguagem corporal deve estar em harmonia com o que está sendo dito, porque
pode confirmar ou desfazer essa comunicação.
Para que uma negociação seja perfeita, além do somatório dos fatores já mencionados,
deve haver uma concordância entre a mensagem principal e as mensagens secundárias, que
estão em paralelo, circulando ao redor deste processo, que podem tomar vulto significativo.
Por isso é relevante que se obtenha informações sobre o modo de vida e costumes da
outra parte. Pequenos detalhes que podem fazer diferença na empatia e nos resultados finais
de uma negociação.
A equipe deve estar preparada para saber lidar de maneira pró-ativa com estes
acontecimentos que, possivelmente, surgirão na maioria das fases do projeto, de modo a
aproveita-los para o aprendizado, enriquecendo assim a sua própria vivência pessoal. Mesmo
dos acontecimentos cujo resultado não foi positivo pode-se extrair “o que não fazer” ou ainda
“ como não fazer” e desta forma aumentar a sinergia resultando assim em crescimento e
evolução da equipe.
Escolher cuidadosamente o time quando há tempo hábil é mais fácil, porém, mesmo
quando o tempo urge, e justamente por isso, é necessário atenção na escolha. Pode haver
profissionais dentro da organização que, mesmo sendo muito bem qualificados tecnicamente,
podem ser pessoas muito difíceis de se relacionar. Neste caso, quando sua contribuição for
fundamental ao projeto, é possível deixá-lo como um consultor externo, podendo ser
solicitado quando necessário, sem fazer parte da equipe de fato.
Nesta fase o sentido da missão está claro entre os membros da equipe e há consciência
plena da necessidade de se atingir o objetivo comum e de compartilhar esta visão para definir
as prioridades do projeto e, desta forma, auxiliar na tomada de decisões. Há uma forte
concentração em resultados.
1
RIBEIRO, Pedro Henrique Alves do Couto. Apostila: Liderança, Equipes e Comunicação. Curso MBA em
Gerência de Projetos
Na prática está característica ou fase não ocorre com freqüência, mas quando
acontece, a equipe tem participação no processo de administração o projeto. O líder deve
atuar como facilitador e a princípio qualquer membro da equipe poderia assumir a liderança
dependendo da tarefa a ser desempenhada e das necessidades do projeto.
O tema “liderança” é bastante amplo e foge do escopo deste trabalho discutir seus
detalhes uma vez que diversos autores apresentam classificações distintas e/ou
complementares sobre este assunto. Como exemplo disto, podemos citar:
Nesta fase as equipes são capazes de criar os processos que melhor atendam ao
alcance das metas do projeto. Utilizam meios criativos e são capazes de se expor a riscos
relacionados ao uso de métodos inovadores de realização de tarefas.
Uma equipe rica em recursos é composta por membros com diferentes conhecimentos,
óticas, competências etc. A criatividade depende da diversidade. A troca promove o
amadurecimento e o crescimento por meio da sinergia das diferentes habilidades. Nesta fase,
os membros da equipe aprendem uns com os outros e as diferenças de idade, formação,
vivência e percepções são consideradas como elementos de aprendizado.
Uma equipe deve ser composta de pessoas de naturezas diferentes. Isto contribui para
o compartilhamento de seus conhecimentos. Eles aprendem uns com os outros a partir de suas
Senso de Propósito
Flexibilidade e Confiança e
Adaptabilidade Respeito Mútuos
Procedimentos
de Trabalho
1.2.10 Resumo
Tanto projetos como atividades continuadas estão sujeitos a diversos tipos de conflitos
(interpessoal, intrapessoal, organizacional e entre grupos). Este é um fato inerente a toda e
Por outro lado, uma série de habilidades e conhecimentos gerais podem apoiar o
gerente de projeto em sua missão de evitar que conflitos negativos prejudiquem os resultados
do projeto. Estas mesmas habilidades e conhecimentos servem para que ele aproveite também
as oportunidades criadas pelos “bons conflitos”:
Apesar da definição acima indicar muita objetividade, na prática existe em torno dos
projetos uma certa dose de incerteza, tanto pelo fato de ser único como também por envolver
diferentes pessoas e organizações.
2
Como se tornar um profissional em Gerenciamento de Projetos Ed. Qualimark
Um melhor detalhamento de cada uma das áreas mencionadas acima pode ser
encontrada na tradução oficial do PMBOK® , divulgada pelo PMI®, com o título “Um Guia
do Conjunto de Conhecimentos do Gerenciamento de Projetos”.
Este fato faz com que gerentes de projeto muitas vezes passem a delegar a
responsabilidade das atividades diárias do gerenciamento do projeto para os membros da
equipe em função da necessidade de apagar incêndios e resolver crises, tornando-se
verdadeiros “gerentes de conflitos”.
Algumas etapas são importantes para que se possa minimizar os efeitos negativos dos
conflitos em projetos:
Prazos
Prioridades do projeto
Questões técnicas
Choques de personalidade
Custos
A tabela (Kerzner, 2003) abaixo busca resumir a relação entre causas e principais
envolvidos nos conflitos em projetos.
FONTES
Gerentes Pessoal Entre a Equipe
Superiores Subordinados
Funcionais Funcional do Projeto
Prazo
Prioridades
Causa de Conflito
Mão de Obra
Questões Técnicas
Procedimentos
Personalidades
Custos
O ciclo de vida do projeto pode fazer variar a intensidade e importância dos conflitos
descritos acima, por exemplo, um conflito sobre os custos ocorrendo na fase de conceituação
do projeto tem importância e intensidade diferentes do que quando acontece na fase de
execução do mesmo.
Este tipo de conflito está usualmente relacionado à falta de definição clara do objetivo
do projeto ou ainda pelo desconhecimento deste e de sua importância por toda a organização.
Os objetivos do projeto devem ser conhecidos por todos os membros da equipe do projeto,
pelos gerentes funcionais e por todos os níveis gerenciais da organização. Este conflito é
minimizado pelo Gerenciamento de Escopo quando da emissão do Project Charter e pelo
trabalho realizado pelas áreas de Gerenciamento de Riscos, Recursos Humanos e de
Comunicação.
Avaliação da equipe: descreve o procedimento que será adotado pelo gerente de projeto
junto com os gerentes funcionais para avaliar o desempenho dos membros da equipe do
projeto e com que freqüência;
1.3.2.6 Custos
Motivação
Personalidade
Influência
Senso prático
Comunicação efetiva
15
Como se tornar um profissional em Gerenciamento de Projetos. Ed. Qualimark
D
C E
O C
D O
I D
F I
TRANSMISSOR I MENSAGEM F RECEPTOR
C I
A C
D MEIO A
O D
R O
R
FEEDBACK
1.3.4 Resumo
Por outro lado, mais uma vez não há fórmulas mágicas para o sucesso e nem todos os
conflitos podem ser resolvidos pela simples aplicação de excelentes técnicas. É justamente o
uso de todo conjunto de conhecimentos e habilidades (de administração de conflitos, de
negociação, de melhores práticas de gerenciamento de projetos, de comunicação, etc) que
aumentará as chances de se obter resultados positivos na solução de problemas relacionados a
alguns tipos de conflito e no melhor aproveitamento das oportunidades geradas por outros.
Os filhos do senhor Antônio são fortes e não têm problema de saúde ou, pelo menos,
não ficam doentes com a mesma freqüência com que ficam as outras crianças da comunidade
onde ele vive no interior do Estado do Amazonas. Mesmo que ficassem, nunca é nada muito
grave. Ainda bem, pois o Posto de Saúde só funciona de vez em quando e a distância até
Manaus é medida em dias: dois, três, depende da correnteza do rio... Quando a doença é grave
não tem jeito mesmo. E também não teria de qualquer forma, pensa o senhor Antônio, pois
quando é a vontade de Deus não adianta lutar contra. Portanto a vida é como ela é, assim
mesmo e pronto! Será? Às vezes o senhor Antônio tem dúvida, mas logo se arrepende de
pensar nisto... Afinal os filhos já estão até ajudando no trabalho e cada vez mais parecidos
com ele: honestos, fortes, resignados. Bem que seria bom se eles aprendessem a ler direito.
Pelo menos para ler a Bíblia. Talvez eles entendessem melhor o motivo de tanta dificuldade.
O senhor Antônio já desistiu disto: passou da época. Não tem mesmo sentido um homem já
feito ir aprender a juntar as letras! O nome, ele já desenha. Isto basta. Mesmo porque, se nem
para as crianças tem professor, imagina para velho! Mas é uma pena, seria bom mesmo ler a
Bíblia... Os amigos do senhor Antônio também reclamam, ficam falando que a vida seria
diferente se eles soubessem ler. Será? A comunidade está tão cheia de talentos: rendeiras,
tocadores de viola, cantantes, pintoras de pano... Precisa de mais alguma coisa?
Tem o Pedro do Mato Grosso, a Carla de Alagoas, o José do Pará, tem gente de quase
todos os Estados. Todos com muitas habilidades, umas semelhantes, outras distintas, e com
um desejo (ou será necessidade?) em comum: se libertar do analfabetismo.
Quase vinte anos só estudando? Oito no primeiro grau, quatro no segundo, cinco no
terceiro, dois de pós-graduação... Isto sem contar os cursos paralelos: inglês, espanhol,
informática. Nossa! E ainda se fala que isto é só o básico: um professor de universidade
normalmente estuda bem mais do que isto!
Mas será que teriam disponibilidade para isto? Afinal, estudar consome tempo e ainda
é necessário ganhar o sustento, se possível empregando aquilo que se aprendeu com o estudo
realizado. Além disto, para quem estuda e trabalha tanto, é razoável pensar no descanso como
algo realmente merecido.
Ademais, os impostos são pagos para que o Estado tenha pelo menos os recursos
suficientes para cumprir o básico: saúde, educação, transporte, segurança, etc. A vida
normalmente já é bastante atribulada e tratar de si e das pessoas próximas não é tarefa
simples. Mas se houvesse uma estrutura melhor, quem sabe não seria possível ajudar mais?
Apesar de um projeto contra o analfabetismo poder ser encarado como uma das
missões das universidades (através de atividades de extensão), é possível que elas não
possuam toda a experiência e recursos necessários para conduzir, sozinhas, um projeto como
este.
2.1.4 Prefeituras
Considerando que o Governo Municipal é o que atua (ou deveria atuar) mais próximo
às comunidades locais, não se pode imaginar um projeto de alfabetização sem a participação
das prefeituras, pois normalmente estas possuem informações bem mais detalhadas sobre suas
comunidades (bairros, infra-estrutura existente em cada bairro, perfil dos moradores,
necessidades, etc).
2.1.5 Empresários
A ONG SEIC atua na defesa e preservação dos direitos das comunidades carentes do
país. Em parceria com diversas outras organizações locais, tem como missão buscar a
melhoria da qualidade de vida destas comunidades agindo nas áreas de saúde e educação.
2.1.7 Instrutores
Fornecem
Fornece Recursos Financeiros
Detalhes s/ Comunidade e
Infra-estrutura para aulas
Projeto Alfabetização
Paga Instrutores
Suporte Acadêmico e
Logística de Preparação
de Instrutores
Universidade .
Alunos
Comunidade Instrutores
Acadêmica
(Capacitadores)
A ONG possui um grupo gestor para este projeto formado por algumas pessoas que se
relacionam com os empresários, para obter recursos financeiros para o projeto, e com as
prefeituras, para receber informações sobre a necessidade de alfabetização, a disponibilidade
de instrutores e formar um relacionamento das mesmas com as universidades. Além disto, é
responsável pelo pagamento dos gastos (diretos e indiretos) com os instrutores e por gerenciar
o projeto de forma que o mesmo atinja os objetivos propostos.
Instrutores são moradores das cidades próximas às comunidades que irão ser
alfabetizadas. Receberão capacitação dos professores universitários de forma que ao final do
treinamento estejam aptos a exercer a função de alfabetizadores.
Alunos são moradores das cidades atendidas pelo projeto e que necessitam de
alfabetização.
Para que se possa melhor entender este projeto é necessário compreender alguns
processos fundamentais ligados a ele, bem como os relacionamentos entre organizações e
pessoas.
A coordenação geral do projeto na ONG estava a cargo de Carlos, que atuava também
como gerente de projetos na ONG.
A idéia inicial era de que, uma vez criados os primeiros núcleos e que as primeiras
turmas fossem alfabetizadas, o Projeto poderia passar para uma coordenação descentralizada
na qual a ONG seria a captadora e distribuidora de recursos financeiros e as universidades
fossem assumindo um papel mais forte de planejamento e execução.
Um dos requisitos fundamentais que eram exigidos para que a prefeitura pudesse ser
incluída no projeto era a criação de um núcleo coordenador. Este núcleo seria responsável
pela logística de disponibilização de salas de aula, pelo fornecimento de informações sobre as
comunidades e pela divulgação do projeto no município de forma que fossem cadastrados
para futura seleção, tanto de instrutores como de alunos. Com isto se estabelecia a conexão
entre ONG e prefeitura. Esta conexão seria posteriormente utilizada também pela
coordenação das universidades. Na prática, o que em geral ocorreu foi que os núcleos nas
prefeituras demoravam um pouco para serem organizados.
As universidades que aceitaram o convite deveriam ter também uma estrutura própria
para a coordenação e execução das tarefas: como elas seriam responsáveis por preparar os
instrutores que normalmente vinham de outras cidades (ou estados), era necessária toda uma
À primeira vista, o projeto embora grandioso, teria uma logística muito simples: a
ONG captaria recursos dos empresários e faria contato com as prefeituras e universidades.
Com as prefeituras, obteria os locais onde seriam ministradas as aulas para os adultos que
seriam alfabetizados e uma listagem de candidatos que seriam os futuros instrutores. Com as
universidades coordenaria a preparação destes instrutores. As universidades selecionariam a
equipe que prepararia os instrutores, cederia espaço para este treinamento e arcaria com esta
parte da despesa, que seria encarada como um projeto de extensão sem fins lucrativos,
portanto isto faria parte de sua contribuição à sociedade. Os instrutores viajariam para as
cidades onde estariam as universidades que participariam do projeto. Seriam treinados pelos
professores universitários e retornariam às suas cidades para treinar os moradores. Quando
começassem a trabalhar na alfabetização, receberiam uma ajuda de custo na forma de um
salário mensal a ser depositado pela ONG em suas contas bancárias. Durante o treinamento
teriam suas despesas pagas (estadia e alimentação) por verbas que a ONG encaminharia para
a universidade. As passagens também seriam providenciadas pela ONG. De certa forma, a
demora na designação dos responsáveis nas universidades prejudicou a realização de um
levantamento e posterior planejamento físico e financeiro dos custos envolvidos, pois havia
custos da ONG e custos das universidades.
Devido à confiança que tinha na eficiência dos contatos que cada um dos membros de
sua equipe possuía, Carlos (gerente do projeto na ONG) autorizou, logo após a reunião de
abertura do projeto, que cada um buscasse acelerar ao máximo a execução de suas tarefas, sob
a argumentação de que a demanda por alfabetização no País era muito alta e que estavam
diante de um grande desafio, o qual deveria ser vencido no período de tempo mais curto
possível. Além disto, em função da proximidade do ano eleitoral, era importante que o projeto
se consolidasse rapidamente, pois eles precisavam que a infra-estrutura a ser fornecida pelas
Devido às outras atividades que cada um deles exercia em outros projetos, não houve
possibilidade de atingir as metas anteriormente traçadas. Na segunda reunião da equipe da
ONG, que ocorreu um mês depois da primeira, verificou-se que a expectativa inicial não
havia sido alcançada, principalmente porque cada um dos envolvidos dedicou muito pouco
tempo para este Projeto de Alfabetização que estava sendo liderado/gerenciado por Carlos.
Por isto, ele agendou uma terceira reunião para a semana seguinte na qual houve a presença
do presidente da ONG. Nesta reunião foi falado que o projeto de alfabetização era prioritário
e que eles deveriam reprogramar suas atividades de forma a dedicar mais tempo para este
projeto. Adicionalmente foi acertado que Camila, Orlando e Fernanda, além dos contatos já
realizados, deveriam obter de cada organização (prefeituras, empresas patrocinadoras e
universidades) o nome de um responsável pelo projeto para servir de ponto focal. Novo prazo
foi estabelecido.
Ao final de dois meses existiam pelo menos 120 prefeituras interessadas, diversas
empresas já haviam apontado o interesse em colaborar e 8 universidades (todas no eixo
Rio/São Paulo) estavam dispostas a preparar os instrutores. O projeto já estava um mês
atrasado e a maior parte das universidades, apesar de terem sinalizado positivamente quanto
ao interesse no projeto, não confirmavam efetivamente se iriam participar ou não.
Era importante aproveitar todo este interesse e iniciar o mais rapidamente possível o
projeto. Assim foram escolhidas 10 cidades para formar o projeto piloto que seria montado da
seguinte forma: cada prefeitura encaminharia a relação de 10 instrutores que sairiam de suas
cidades e iriam para o Rio ou para São Paulo para serem treinados pelos professores indicados
pelas universidades. Assim, esperava-se que em no máximo 3 meses já houvesse pelo menos
100 instrutores preparados e trabalhando na alfabetização de pelo menos 10 alunos cada.
Com o numerário arrecadado das empresas participantes seria possível iniciar esta
etapa do projeto e entendia-se que não haveria motivo para a descontinuidade do
fornecimento destes recursos, uma vez que as diversas empresas participantes colaboravam
na realidade com um pequeno percentual de suas receitas.
Para não desapontar os prefeitos cujas cidades não puderam fazer parte logo da
primeira fase, foi mantida a expectativa de que suas cidades logo fariam parte da abrangência
do Projeto. Em função disto, esta probabilidade foi usada pelos prefeitos em exercício de
algumas localidades como uma realização política e assim já passaram a sinalizar para a
população que haveria na comunidade uma significativa mudança de vida, advinda do
aprendizado da leitura.
O processo de escolha dos instrutores foi feito em grande parte das localidades com
base em afinidades políticas ou familiares. Isto é, embora os instrutores tivessem que passar
por um treinamento que seria feito nas universidades, a apresentação de seus nomes era feita
regionalmente por cada prefeitura que, desta forma, acabava ficando responsável por
gerenciar localmente o descontentamento daqueles que foram preteridos.
Para contornar este problema, as universidades em geral optaram por estipular que
quem trabalhasse no projeto receberia o valor da hora-aula em regime de hora extra. Os
professores que necessitavam aumentar seus ganhos receberam a oferta de bom grado.
A população que seria alfabetizada estava cheia de esperança. Afinal, muitos dos
instrutores seriam pessoas conhecidas na comunidade e que eles conheceram quando ainda
eram pequenos. Um verdadeiro orgulho para todos! Com certeza teriam mais paciência com
eles do que pessoas estranhas o teriam. Eles não sabiam quando iam começar a receber aulas,
mas o comentário já era muito forte e já havia brincadeiras entre os prováveis alunos sobre
como seriam as classes.
Por outro lado, nem todos compartilhavam da mesma euforia: alguns não acreditavam
que seria possível aprender a ler com idade já avançada e outros não tinham fé de que,
mesmo que aprendessem, isto poderia modificar alguma coisa na vida deles. Afinal, o que
eles precisavam mesmo era de médico e de um dinheirinho a mais no final do mês. O resto se
Apesar das diferentes opiniões, havia uma unanimidade: nenhum dos grupos sabia
quando as aulas aconteceriam e o que realmente aprenderiam. Os próprios candidatos a
instrutores ainda não tinham certeza de quando iriam conhecer a cidade grande, mas estavam
muito excitados com a idéia. O processo de seleção havia sido, em algumas localidades, um
pouco confuso, mas, enfim, havia terminado e agora seria só aguardar o chamado para a
viagem: quatro semanas recebendo aulas durante o dia e com os finais de semana livres para
conhecer a cidade! Iriam revisar as matérias que depois ministrariam, aprender técnicas de
ensino e muitas outras coisas: para ensinar não basta só conhecer Português e Matemática ... É
preciso muito mais!
O imaginário dos instrutores (na maioria mulheres entre 19 e 30 anos) atuava bastante
no dia-a-dia: moças e rapazes bonitos vistos nas ruas eram confundidos ou comparados aos
artistas de televisão.
Ao fim do primeiro mês, mais de 80% dos instrutores das quatro primeiras turmas
tinham obtido aprovação e estavam aptos a iniciar o processo de alfabetização em suas
cidades.
O término da fase-piloto foi marcado também por uma reavaliação dos resultados e
expectativas do projeto: universidades, professores universitários, ONG e prefeituras
discordavam das avaliações e definições sobre próximos passos feitas por cada um:
O consenso era difícil, mas a própria realidade de verbas disponíveis acabou por
definir alguns passos: os valores em caixa para este projeto não seriam suficientes para pagar
despesas relacionadas às viagens de novas turmas. Além disto, Orlando, que era o responsável
por obter os recursos financeiros junto às empresas, tinha recebido uma proposta de trabalho
no exterior e não poderia continuar a fazer o trabalho voluntário que realizava na ONG. Por
tudo isto, a opção foi a de parar o processo de treinamento de novos instrutores e dar foco à
continuidade do projeto com os instrutores já treinados. De qualquer forma, haveria custos
para todos os envolvidos, tais quais: viagem dos professores universitários às cidades para
acompanhamento dos instrutores, pagamento das aulas ministradas pelos instrutores, alocação
de salas para as aulas de alfabetização, etc.
As decisões tomadas por Carlos (Gerente do Projeto na ONG) causaram certo mal
estar principalmente junto às prefeituras que não tinham sido atendidas e isto gerou
desconforto na própria equipe do projeto na ONG, pois houve sério desgaste da imagem de
Camila que atuava diretamente com as Secretarias Municipais. Muitas cidades já haviam
cadastrado candidatos a instrutores e divulgado a notícia à população.
Apesar de todos os imprevistos, todos concordavam que o projeto era de grande valor
e que os resultados obtidos tinham sido extraordinários. Não se cogitava de forma alguma a
descontinuidade do projeto e os fatos inesperados ocorridos foram considerados como um
aprendizado adicional.
Muitos fatos semelhantes ocorreram nas 10 cidades nas quais houve a continuidade do
projeto, mas alguns foram mais marcantes: a felicidade dos adultos, antes chamados de
analfabetos e agora de “alunos”; os problemas de visão dos alunos que aumentavam a
dificuldade do aprendizado; o programa de aula que vez por outra tinha que ser alterado em
função da adequação à realidade dos alunos; os atrasos no pagamento dos instrutores ocorreu
muitas vezes devido à mudança na logística inicialmente planejada para entrega dos salários
(não era possível efetuar o depósito nas contas dos instrutores conforme planejado
inicialmente porque a maioria – senão a totalidade – deles não tinha conta em banco e, mesmo
que tivessem, alguns deles teriam que viajar bastante para encontrar a agência mais próxima).
A forma encontrada para evitar maiores atrasos na entrega do pagamento foi a de entregar o
numerário a um responsável pertencente ao grupo de instrutores e permitir que este fizesse o
pagamento localmente. . Nem sempre o meio de entrega a este responsável permitia que o
pagamento chegasse a tempo e nem sempre foi possível garantir que realmente chegasse às
mãos de quem deveria. Este foi realmente um fator que estressava os instrutores, pois muitos
deles dependiam do salário enviado pela ONG para sua sobrevivência.
Alguns instrutores lembravam-se do tempo bom que passaram na cidade grande, dos
prédios, das pessoas arrumadas, do movimento à noite... Sentiam-se preparados para enfrentar
aquele mundo novo e perguntavam-se porque deveriam continuar vivendo naquela
dificuldade no “fim do mundo”.
Os resultados, grandiosos à vista dos alunos e pequenos demais à vista dos prefeitos,
começaram a ser questionados por todos: universidades que ainda enviavam professores
universitários para fazer o acompanhamento dos trabalhos e que, portanto, ainda tinham
despesa sem receita associada; prefeitos que esperavam muito mais em termos de dividendos
políticos (algumas piadas já eram feitas sobre o assunto em algumas das cidades); os próprios
professores universitários que, embora apaixonados pelo projeto e pela experiência adquirida
pela convivência com um universo tão distinto do seu dia-a-dia, questionavam a validade do
processo como um todo, pois, afinal o que aconteceria depois da alfabetização? O que os
moradores daquelas cidades iriam ler? Os jornais somente circulavam nas cidades principais,
não havia teatros, cinemas ou mesmo alguma biblioteca que pudesse ser freqüentada depois
do curso terminado. Havia também uma preocupação generalizada em torno futuro do projeto
após o término das eleições municipais: se o candidato da situação ganhasse, a importância
política do projeto seria reduzida sensivelmente logo após o término da contagem dos votos;
se a oposição ganhasse, possivelmente não gostaria que o um projeto ligado ao governo
anterior fosse lembrado.
Na reunião que envolveu Carlos (o Gerente do Projeto na ONG) e sua equipe com
representantes de universidades e empresas colaboradoras, a posição atualizada do projeto,
medida em números, não era favorável:
Após 12 meses do início do projeto, somente 68 dos 100 instrutores previstos para a
fase-piloto foram preparados. Destes, somente 45 continuavam no projeto. Os
outros saíram por motivos diversos: atrasos no pagamento, migração para as
grandes cidades, dificuldades na condução das aulas, problemas de relacionamento
com outros instrutores.
Dos 1000 alunos previstos para esta fase, somente 300 continuavam estudando. Os
motivos do abandono eram semelhantes: dificuldade de acompanhar o programa
por problemas visuais, excesso de faltas devido à dificuldade em chegar às salas de
aula, constrangimento por não conseguir acompanhar o restante dos alunos.
Não havia projetos que fizesse que o conhecimento obtido pudesse ser realmente
utilizado para gerar melhoria da qualidade de vida dos alunos.
O programa havia sido bastante alterado para evitar uma evasão ainda maior e não
havia uma clara visibilidade do grau de eficácia do conhecimento transmitido às
turmas ainda em processo de alfabetização.
Mas o senhor Antônio, do Amazonas, já conseguia ler a Bíblia, sem entendê-la direito,
mas em condições de esclarecer suas dúvidas quando o padre ia a sua cidade. Seus filhos
começaram a concordar que o certo mesmo era continuar a seguir o exemplo do pai e se
esforçarem para melhorar a leitura. Dona Maria, do Piauí, tomou coragem e foi para a
cidadezinha mais próxima. Trabalha no caixa do mercadinho local. As crianças continuam
meio atrasadas, mas agora estavam bem mais perto da escola. Tem o Pedro do Mato Grosso,
a Carla de Alagoas, o José do Pará, tem gente de quase todos os Estados. Todos com muitas
habilidades, umas semelhantes, outras distintas, e com um desejo (ou será necessidade?) em
comum: de provar que saber ler e escrever faz a diferença.
Neste capítulo faremos uma análise de vários conflitos identificados na estória descrita
anteriormente e buscaremos alternativas para tratá-los. Mais uma vez ressaltamos que não há
fórmulas mágicas para solução de conflitos e que uma mesma situação pode ter mais de uma
solução possível, dependendo das competências e/ou circunstâncias existentes e/ou de
variáveis relacionadas a fatores internos e/ou externos ao evento.
Convém lembrar que em geral os conflitos são originados bem antes de sua
manifestação. Por isto, esta análise levará em consideração também os eventos que
potencialmente geraram conflitos ou contribuíram significativamente para o seu
aparecimento.
Situação 1:
“... Devido às outras atividades que cada um deles exercia em outros projetos, não
houve possibilidade de atingir as metas anteriormente traçadas”.
“... Nesta reunião foi falado que o projeto de alfabetização era prioritário, e que eles
deveriam reprogramar suas atividades de forma a dedicar mais tempo para este projeto”.
Solução proposta:
Situação 2
Análise:
Solução proposta:
Situação 3
“Na prática, o que em geral ocorreu foi que os núcleos nas prefeituras demoravam
um pouco para ser organizados”.
Análise:
Solução proposta:
Situação 4:
“... Todos estes passos deveriam ser balizados pelas restrições de orçamento
naturalmente existentes, uma vez que as Universidades utilizariam recursos próprios”.
Análise:
A falta de uma estimativa de custo mais precisa para o projeto, que deveria basear-se
em coleta de informações diretamente junto às entidades envolvidas, foi identificada como um
fato gerador de conflito. Verificou-se também, a falta de um cronograma de desembolso. Uma
avaliação inicial dos riscos na execução do projeto também deveria ter sido executada.
Solução proposta:
Devido à confiança que tinha na eficiência dos contatos que cada um dos membros de
sua equipe possuía, Carlos (gerente do projeto na ONG) autorizou logo após a reunião de
abertura do projeto, que cada um buscasse acelerar ao máximo a execução de suas
tarefas...”
Análise:
Solução proposta:
Deveria ter sido feita uma consulta prévia às entidades elegíveis a participar do
projeto, para se pudesse ter idéia de quantos poderiam realmente aderir e qual seriam as
principais barreiras ou facilitadores para sua participação. Confiou-se muito no “network”
(rede de conhecimento, influência) de cada membro da equipe, que apesar de ser muito
importante não deveria ter sido o único fator a ser considerado, uma vez que a participação
das entidades dependeria também do tempo hábil que tivessem para se preparar internamente.
Além disto, em função da proximidade do ano eleitoral, era importante que o projeto
se consolidasse rapidamente, pois eles precisavam que a infra-estrutura que seria fornecida
pelas Prefeituras se mantivesse durante todo o projeto.
Análise:
O projeto foi agendado para execução em ano eleitoral, o que, de certa forma,
favoreceu o aparecimento de fatores que o amarravam a fatores e favores políticos. Algumas
pessoas-chave das entidades envolvidas queriam se beneficiar com o prestígio que o projeto
lhes traria, pois eram candidatos a cargos públicos, e ficavam pressionando seus contatos na
ONG porque queriam resultados imediatos para noticiar em suas campanhas. O gerente do
projeto, que precisava muito da contribuição destes envolvidos se viu obrigado a alterar o
cronograma. Verifica-se um conflito interpessoal ocasionado por interesses particulares das
partes envolvidas. Destacamos ainda, um conflito organizacional gerado pela necessidade de
se dispor de recursos humanos (indicação de instrutores) e em infra-estrutura (salas de aula),
fornecidos pela prefeitura.
Solução proposta:
Análise:
Como dissemos anteriormente, não foi feita uma consulta prévia às entidades elegíveis
a participar para se saber sobre a sua disponibilidade e garantia de sua participação.
Solução proposta:
Situação 8
“ ... Assim foram escolhidas 10 cidades para formar o projeto piloto que seria
montado da seguinte forma: cada Prefeitura encaminharia a relação de 10 instrutores que
sairiam de suas cidades e iriam para o Rio ou para São Paulo para serem treinados pelos
professores indicados pelas Universidades. Esperava-se que, em no máximo 3 meses, já
houvesse pelo menos 100 instrutores preparados e trabalhando na alfabetização de pelo
menos 10 alunos cada. Desta forma o piloto já serviria para efetivamente iniciar o processo
de erradicação do analfabetismo.
Mesmo com vários projetos acontecendo ao mesmo tempo, verifica-se que a ONG
estava despreparada. Para um projeto piloto e sem referências anteriores, estimou-se uma
amostragem muito grande, acarretando em dificuldades para a realização das metas. Verifica-
se a falta de uma visão mais acurada da viabilidade do projeto em sua abrangência, justamente
por ser piloto, e o levantamento dos riscos decorrentes de sua implantação.
Solução proposta:
Situação 9
O processo de escolha dos instrutores foi feito em grande parte das localidades com
base em afinidades políticas ou familiares. Isto é, embora os instrutores tivessem que passar
por um treinamento que seria feito nas universidades, a apresentação de seus nomes era feita
regionalmente por cada prefeitura que, desta forma, acabava ficando responsável por
gerenciar localmente o descontentamento daqueles que foram preteridos.
Análise:
Solução proposta:
Situação 10
“ ... Já a escolha dos professores foi dificultada por causa da falta de disponibilidade
dos docentes. Vários dos que tinham o perfil para a atividade já estavam com sua carga
horária comprometida” .
Análise:
Solução proposta:
Antes de iniciar o projeto, cada universidade deveria efetuar uma análise dos riscos
envolvidos, qualificá-los e quantificá-los. Desta forma poderia fazer um estudo para análise
da viabilidade de sua participação no projeto, mesmo antes de aceitar o desafio. No caso
apresentado, aparentemente esta análise não foi corretamente efetuada e a solução aplicada (a
do incentivo através do pagamento de horas-extra para os professores) acabou por aumentar
ainda mais os custos das universidades.
Situação 11
Análise:
Situação 12
“ ... Por outro lado, nem todos compartilhavam da mesma euforia: alguns não
acreditavam que seria possível aprender a ler com idade já avançada e outros não tinham fé
de que, mesmo que aprendessem, isto poderia modificar alguma coisa na vida deles. Afinal, o
que eles precisavam mesmo era de médico e de um dinheirinho a mais no final do mês”
Análise:
Solução proposta:
Por outro lado, uma comunicação eficiente poderia facilitar o convencimento deste
segmento da população e auxiliar na redução do número de pessoas que não estavam certas de
que o projeto de alfabetização lhes traria algum tipo de benefício significativo.
Apesar das diferentes opiniões, havia uma unanimidade: nenhum dos grupos sabia
quando as aulas aconteceriam e o que realmente aprenderiam. Os próprios candidatos a
instrutores ainda não tinham certeza de quando iriam conhecer a cidade grande.
“... Na realidade, um número menor do que o previsto de instrutores fez parte das
primeiras 04 turmas da fase-piloto (que teria um total de 10 turmas de 10 instrutores cada).
Os motivos estavam associados a diversos fatores: nem todos os instrutores selecionados
pelas prefeituras estavam disponíveis para viajar ...”
Análise:
Uma análise um pouco mais abrangente do caso em estudo, mostra que, entre outras
falhas, não houve o planejamento adequado de todas as etapas do projeto: tanto escopo como
prazo ou riscos não foram efetivamente avaliados. A falta de um cronograma claro e de
conhecimento de todos dificultou que cada envolvido pudesse realmente gerenciar sua
agenda. Este clima de incerteza também propicia o aparecimento de conflitos intrapessoais
causam prejuízo ao projeto
Solução proposta:
Situação 14
“ ... a percepção foi que o choque de cultura era forte e os coordenadores das
universidades tiveram que intervir, incorporando profissionais da área de psicologia à
equipe do projeto para evitar que este tipo de evento (abandono do projeto e mudança para a
cidade grande) contagiasse o grupo e se repetisse em novas turmas.”
“ ... o imaginário dos instrutores (na maioria mulheres entre 19 e 30 anos) atuava
bastante no dia a dia: moças e rapazes bonitos vistos nas ruas eram confundidos ou
comparados aos artistas de televisão...”
“ ... Alguns instrutores lembravam-se do tempo bom que passaram na cidade grande,
dos prédios, das pessoas arrumadas, do movimento à noite... Sentiam-se preparados para
enfrentar aquele mundo novo e perguntavam-se porque deveriam continuar vivendo naquela
dificuldade no “fim do mundo”
Análise:
Choques culturais podem causar conflitos intrapessoais uma vez que a escala de
valores de cada indivíduo é posta em evidência. Os resultados nem sempre podem ser
previsíveis.
Situação 15
“ Diversas lições foram aprendidas e registradas pelas equipes de cada uma das
universidades envolvidas. Não foi possível, porém, discutir muito os assuntos levantados,
uma vez que o restante das turmas da fase piloto seria treinada no mês subseqüente
Análise:
Este trecho foi destacado pois relata um evento que é um potencial formador de
conflitos: os processos de encerramento de uma fase são freqüentemente ignorados sob a
argumentação de que causam perda de tempo. Não basta registrar os fatos ocorridos, é
necessário discuti-los e buscar alternativas para que os problemas não se repitam. A repetição
de problemas pode causar perda de motivação das equipes e prejuízos aos projetos. O
gerenciamento da comunicação em projetos é o responsável pelo tratamento deste tipo de
evento.
Situação 16
“ .. O término da fase piloto foi marcado também por uma reavaliação dos resultados
e expectativas do projeto: universidades, professores universitários, ONG e Prefeituras
discordavam das avaliações e definições sobre próximos passos feitas por cada um: “
Análise:
No caso específico deste projeto ficou claro que o resultado final não poderia ter sido
diferente: conflito generalizado das expectativas de todos os envolvidos.
Desde o início houve falhas na condução do projeto: escopo mal definido, problemas
de comunicação entre os envolvidos, riscos não avaliados – e, conseqüentemente, existência
de componentes de custo não conhecidos.
Em relação ao escopo, ficou claro que a própria fase piloto envolveu um cenário muito
maior do que seria adequado para uma fase experimental do projeto. O risco de tal ambiente
foi, certamente, subestimado.
Solução proposta:
Mais uma vez, a sugestão é planejar primeiro e executar depois. Embora o texto tenha
várias referências a questões relacionadas a prazo (ano de eleição, término de mandado em
prefeituras, etc), a fase de planejamento não pode de forma alguma ser eliminada ou
subestimada. Evitar conflitos negativos requer que as fontes potencialmente causadoras dos
mesmos sejam identificadas e que as medidas de contorno ou solução sejam adotadas o mais
cedo possível. Fazer isto sem planejar é praticamente impossível.
A fase piloto deveria ter sido melhor planejada e dimensionada de acordo com os
recursos existentes. Deveria ter havido um cronograma e uma comunicação eficiente. O
gerente de projetos deveria estar mais presente em todas as ações relacionadas a esta fase.
Situação 17
“... Além disto, Orlando, que era o responsável por obter os recursos financeiros
junto às empresas, tinha recebido uma proposta de trabalho no exterior e não poderia
continuar a fazer o trabalho voluntário que realizava na ONG”
Análise:
Havia uma fragilidade muito grande na forma de obtenção de recursos financeiros que
era muito dependente da influência pessoal de um dos integrantes da equipe coordenadora do
projeto. Faltou a correta mensuração deste risco.
Solução proposta:
Situação 18
Solução proposta:
O gerente do projeto deve estar sempre atento a sua equipe de forma a detectar a
existência de conflitos internos aos componentes de sua equipe. A atuação neste caso é
pontual junto ao indivíduo na tentativa de obter uma solução boa para o indivíduo e boa para
o projeto.
Situação 19
Análise:
Deparamos com um conflito entre grupos originado pela falta de um levantamento dos
possíveis riscos na implementação do projeto.
Solução proposta:
Situação 20
Análise:
Houve a formação de dois grupos com interesses distintos – um grupo queria maior
velocidade na apresentação das matérias e outro não tinha condições acompanhar um ritmo
mais acelerado. O conflito não foi gerenciado da forma adequada
Solução Proposta
Discutimos ainda que os conflitos podem trazer também benefícios devido à soma
de experiências: muitas vezes é justamente nas diferenças de opinião, no debate e nas
discussões positivas que se encontram soluções para problemas complexos. Mas uma série de
outros fatores deve também contribuir para que este resultado possa ser alcançado.
Projetos são realizados por pessoas e cada uma possui suas próprias expectativas.
Em um ambiente assim, é praticamente inevitável que os conflitos apareçam. Para administrá-
los é necessário muito mais do que boa vontade (que também é um fator muito importante): é
preciso que os envolvidos estejam preparados e tenham uma série de habilidades e
conhecimentos.O gerente de projetos deve estar disposto a encontrar as soluções necessárias.
Para isto deve se preparar tanto técnica como emocionalmente. Aliás, este é outro componente
fundamental: o equilíbrio emocional.
O estudo de caso aqui apresentado mostrou que nem a escolha dos melhores
especialistas garante o sucesso no projeto. Mostrou ainda que falta de planejamento e sucesso
em projeto são assuntos totalmente incompatíveis.
O gerente do projeto (ou ainda do programa, uma vez que o projeto discutido neste
trabalho envolveu uma série de atividades sob coordenação ou gerência de pessoas diferentes)
utilizado como referência neste trabalho claramente não tinha nem o perfil nem os
conhecimentos necessários para a condução do empreendimento: as prioridades não ficaram
claras, o escopo não foi detalhado, o custo não foi corretamente levantado e a receita
necessária ao projeto dependia de fatores fragilmente controlados. Além disto, uma série de
riscos foram ignorados ou sequer foram levantados. Na realidade o próprio estudo de
viabilidade não foi feito – provavelmente se existisse, tanto o escopo como a abrangência
física do projeto, seriam reduzidos.
Muitos dos conflitos tinham sua causa na falta da correta avaliação de riscos e por
problemas de comunicação. Ambos assuntos deveriam ter sido discutidos na fase de
planejamento que claramente não ocorreu.
Além disto, percebe-se a falta de um líder (cujo papel poderia ter sido assumido pelo
gerente do projeto, caso ele tivesse este perfil) com energia suficiente para agregar as equipes
e criar um senso comum entre elas. Na realidade, o que ocorreu foi justamente o contrário: o
gerente de projetos estava praticamente omisso, somente aparecendo para cobrar de sua
equipe uma maior velocidade na realização das tarefas.
Até mesmo os eventos que propiciam conflitos positivos devem ser gerenciados para
que se possa extrair resultados construtivos, de outra forma estes eventos podem se tornar
divergências pessoais ou entre grupos.
Portanto, os efeitos dos conflitos (positivos ou negativos) não podem ser ignorados.
Técnicas de gerenciamento de projeto, de negociação, de formação de equipes e muitas outras
devem apoiar as de administração de conflitos para evitar prejuízos nos resultados dos
projetos e garantir que os mesmos possam ser beneficiados pela sinergia entre pessoas e
equipes.
PICKERING, Peg. Como administrar conflitos profissionais. São Paulo: Editora Market
Books, 1999.
PMI. A Guide to the Project Management Body of Knowlegde PMBOK® Guide 2000 –
Project Management Institute, Inc.2000
WANDERLEY, José Augusto. Negociação Total. São Paulo Editora Gente, 1998.
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