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.1 Aplicações Sesquilineares
Definição .1 Sejam X, Y, Z espaços vetoriais. Uma aplicação B : X × Y → Z é sesquilinear
se, para quaisquer α ∈ K, x1 , x2 ∈ X e y1 , y2 ∈ Y, verificar
1. B(αx1 + x2 , y1 ) = αB( x1 , y1 ) + B( x2 , y1 );
2. B( x1 , αy1 + y2 ) = αB( x1 , y1 ) + B( x1 , y2 ).
No caso em que os espaços vetoriais forem reais, dizemos que B é uma aplicação
bilinear (ou forma bilinear, se Z = K).
Decorre imediatamente da definição que B : X × Y → Z é sesquilinear se, para
todo y ∈ Y fixo, B(·, y) : X → Z for uma aplicação linear e, para todo x ∈ X fixo,
B( x, ·) : Y → Z for uma aplicação anti-linear.
2
.2. FORMAS HERMITIANAS E QUADRÁTICAS 3
(ii ) B é contínua;
Demonstração: É claro que (i ) implica (ii ), que por sua vez implica (iii ). Se B for
contínua na origem, dado e > 0, existe δ > 0 tal que max{k x k, kyk} < δ implica
k B( x, y)k < e. Se k x k ≤ 1 e kyk ≤ 1, então max{kδx k, kδyk} < δ, de modo que
k B(δx, δy)k ≤ e. Logo, δ2 k B( x, y)k ≤ e e (iv) está provado com M = e/δ2 . Finalmente,
para x 6= 0 e y 6= 0,
° µ ¶°
° x y °
°B , ° ≤ M ⇒ k B( x, y)k ≤ Mk x k kyk.
° k x k kyk ° 2
k Bk = sup k B( x, y)k,
k x k≤1, kyk≤1
k B( x, y)k ≤ k Bk k x k kyk
Quando X for um espaço real, é usual dizer que B é uma forma bilinear.1
Ao utilizarmos a denominação forma estaremos nos referindo tanto a uma forma
sesquilinear definida em um espaço complexo quanto a uma forma bilinear definida
em um espaço real.
A cada forma B está associada uma função q B : X → K, definida por
q B ( x ) = B( x, x ),
Observação .6 Note que não definimos abstratamente o que é uma forma quadrática,
mas apenas a forma quadrática q B associada a uma forma B. ¢
B( x, y) = x1 y1 + x2 y2 + x3 y3 − x4 y4 .
1£ ¤
B( x, y) + B(y, x ) = q B ( x + y) − q B ( x − y) , (1)
2
o que pode ser facilmente verificado ao desenvolvermos o lado direito desta igualdade.
A igualdade (1) nos mostra que, se a forma bilinear B : X × X → R for simétrica,
então o lado esquerdo da equação nos fornece uma expressão para B em termos de q.
Salientamos esse resultado (veja o Exercício 8):
rarmos uma forma bilinear, vamos admitir sempre que X seja um espaço real.
.2. FORMAS HERMITIANAS E QUADRÁTICAS 5
em que x = ( x1 x2 )t e y = (y1 y2 )t .
É fácil verificar que B é uma forma bilinear que não é simétrica. A forma quadrática
associada a B é
Se definirmos
1£ ¤
Bs ( x, y) = q B ( x + y) − q B ( x − y)
4
1£ ¤
= 3( x1 + y1 )2 + 3( x1 + y1 )( x2 + y2 ) + 7( x2 + y2 )2
4
1£ ¤
− 3( x1 − y1 )2 + 3( x1 − y1 )( x2 − y2 ) + 7( x1 − y1 )2
4
1£ ¤
= 12x1 y1 + 6x1 y2 + 6x2 y1 + 28x2 y2 ,
4
obtemos uma forma bilinear Bs , que não coincide com B, mas à qual também está
associada a forma quadrática q B . ¢
B( x, y) = x1 y2 − x2 y1
1 i
B( x, y) = [q B ( x + y) − q B ( x − y)] + [q B ( x + iy) − q B ( x − iy)].
4 4
Observação .13 Comparando nossos resultados com o Exemplo .11, note que, se B
for uma forma bilinear simétrica ou uma forma sesquilinear definida em um espaço
complexo, a identidade de polarização (adequada a cada caso) garante que q B ≡ 0 se, e
somente se, B ≡ 0. ¢
6 FORMAS E PRODUTO INTERNO
.3 Formas Hermitianas
Uma caracterização de formas hermitianas em espaços complexos é dada pela
Proposição .14 Seja X um espaço vetorial complexo. Uma forma B : X × X → C é
hermitiana se, e somente se, q B for uma função real.
Demonstração: Se B for hermitiana, então
q B ( x ) = B( x, x ) = B( x, x ) = q B ( x ),
mostrando que q B ( x ) ∈ R. Reciprocamente, suponhamos que q B ( x ) ∈ R para todo
x ∈ X. Uma vez que q B ( x ) = q B (− x ) = q B (ix ) = q B (−ix ), decorre da identidade de
polarização .12 que
1 i
B(y, x ) = [q B (y + x ) − q B (y − x )] + [q B (y + ix ) − q B (y − ix )]
4 4
1 i
= [q B ( x + y) − q B ( x − y)] + [q B ( x − iy) − q B ( x + iy)]
4 4
1 i
= [q B ( x + y) − q B ( x − y)] − [q B ( x + iy) − q B ( x − iy)]
4 4
= B( x, y),
a última igualdade sendo verdadeira porque q B ( x ) ∈ R. 2
É claro que não existe uma caracterização semelhante para o caso de espaços reais.
Seja B uma forma hermitiana em um espaço vetorial X. (Lembramos que, se X for
um espaço real, isso quer dizer que B é bilinear.) Dizemos que x, y ∈ X são vetores
ortogonais ou perpendiculares com respeito a B,2 se B( x, y) = 0.
Proposição .15 (Teorema de Pitágoras)
Seja B uma forma hermitiana no espaço vetorial X. Então, se x e y forem perpendiculares
com respeito a B, vale
q B ( x + y ) = q B ( x ) + q B ( y ).
A demonstração do Teorema de Pitágoras é obtida ao se desenvolver o lado esquer-
do da igualdade.
Definição .16 Seja B : X × X → K uma forma hermitiana no espaço vetorial X. A forma B
é positiva semidefinida, se B( x, x ) = q B ( x ) ≥ 0 para todo x ∈ X e positiva definida, se
B( x, x ) = q B ( x ) > 0 para todo 0 6= x ∈ X.
Uma forma positiva definida em X é chamada produto interno em X. Nesse caso,
usualmente denota-se B(·, ·) por h·, ·i e X é chamado espaço com produto interno.3
Exemplo .17 Consideremos a forma bilinear simétrica B : R3 × R3 → R definida por
B( x, y) = x1 y1 + x2 y2 ,
em que x = ( x1 x2 x3 )t e y = (y1 y2 y3 )t .
Temos que B( x, x ) = q B ( x ) = x12 + x22 ≥ 0. Note que q B ( x ) = 0 se, e somente se
x = (0 0 x3 )t . Assim, B é uma forma bilinear positiva semidefinida. ¢
2 Noteque, se B não fosse hermitiana, de B( x, y) = 0 não poderíamos concluir que B(y, x ) = 0.
3 Nessecontexto, é usual chamar um espaço com produto interno de espaço pré-hilbertiano.
Contudo, Lang [21] usa uma terminologia diferente daquela que empregamos, um espaço pré-hilbertiano
significando para ele um espaço no qual está fixada uma forma positiva semidefinida.
.3. FORMAS HERMITIANAS 7
Exemplo .19 Seja A ∈ Mn×n (K) uma matriz hermitiana (no caso real, simétrica).
Sabemos que4 a matriz A possui uma base ortonormal de autovetores, isto é, A =
U ∗ DU, em que U é unitária5 (quer dizer, U ∗ = U −1 , em que U ∗ denota a matriz
transposta conjugada de U) e D é uma matriz diagonal, cujas entradas diagonais são
os autovalores de A. Sabemos que todos os autovalores de A são reais. Suponhamos
que eles sejam não negativos. Se h·, ·i denotar o produto interno canônico no Kn , é fácil
verificar que
h Ax, yi
Exemplo .22 Pode-se provar que todo espaço vetorial X possui uma base, no sentido
apresentado na Definição ??. Se B = { xγ : γ ∈ Γ} for uma base de X, definimos, para
α, γ ∈ Γ, ½
1, se γ = α,
h xγ , xα i =
0, se γ 6= α.
S⊥ = {y ∈ X : B( x, y) = 0 ∀ x ∈ S}
Lema .23 Seja B : X × X → K uma forma positiva semidefinida. Então, q B (y) = 0 se, e
somente se, B( x, y) = 0 para todo x ∈ X (ou seja, y ∈ X0 ).
0 ≤ B( x + ty, x + ty)
= q B ( x ) + 2t Re B( x, y) + t2 B(y, y) = q B ( x ) + 2t Re B( x, y).
Proposição .27 Seja ( X, k · k) um espaço normado. Então k · k é uma norma gerada por um
produto interno se, e somente se, ela satisfizer a identidade do paralelogramo.
.4 Formas Contínuas
As duas Seções anteriores estabeleceram propriedades algébricas de formas e formas
quadráticas. Passamos agora a estudar suas propriedades topológicas.
Seja X um espaço normado. O Teorema .4 garante que uma forma B : X × X → K é
contínua se, e somente se, for limitada. Nesse caso, temos
k Bk = sup | B( x, y)|.
k x k≤1, kyk≤1
kq B k = sup | B( x, x )|.
k x k=1
B( x, y) = x1 y1 − x2 y2 ,
k B k = k q B k.
Se X for um espaço com produto interno, o resultado vale para qualquer forma hermitiana
contínua B.
.4. FORMAS CONTÍNUAS 11
1£ ¤
|Re B( x, y)| ≤ |q B ( x + y)| + |q B ( x − y)|
4
1 £ ¤
≤ k q B k k x + y k2 + k x − y k2
4
1 £ ¤
= k q B k k x k2 + k y k2
2
= k q B k. (7)
B( x, y) = h x, Tyi
ou
B( x, y) = h Tx, yi,
define uma forma no espaço E tal que
k B k = k T k.
B( x, y) = h x, Tyi ?
.5 Exercícios
1. Sejam X, Y e Z espaços vetoriais e S( X × Y, Z ) o conjunto de todas as aplicações
B : X × Y → Z sesquilineares. Mostre que S( X × Y, Z ) é um espaço vetorial
com as definições usuais de soma de aplicações e multiplicação de aplicação por
escalar.
envolvidos.
Séries de Fourier
.6 A Corda Vibrante
Em geral, obter soluções de uma equação diferencial parcial é um desafio. Um dos
poucos métodos que possui larga aplicabilidade é o de separação de variáveis. Vamos
ilustrar a aplicação desse método através do problema da corda vibrante, sem força
externa.
14
.7. SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS 15
.7 Separação de Variáveis
A equação
utt − c2 u xx = 0 (9)
é uma das poucas equações diferenciais parciais cuja solução geral pode ser obtida
diretamente. Ao invés de escolhermos essa abordagem, utilizaremos o método de
separação de variáveis, que consiste em supor a existência de uma solução u( x, t) tendo
a forma
u( x, t) = F ( x ) G (t)
em que F ( x ) e G (t) são funções reais.10
F 00 ( x ) G 00 (t)
= 2 .
F(x) c G (t)
Assim, essa igualdade define uma função σ( x, t). Fixando a variável x e variando
t, vemos que σ ( x, t) não depende de t. Por outro lado, fixando t e variando x, notamos
que σ também não depende de x. Assim, σ é uma constante:
F 00 ( x ) G 00 (t)
= 2 = σ ∈ R,
F(x) c G (t)
F 00 ( x ) − σF ( x ) = 0,
G 00 ( x ) − σc2 G (t) = 0.
F 00 ( x ) − σF ( x ) = 0, F (0) = 0, F ( L) = 0. (10)
Suponhamos √
que σ >√0. Nesse caso, a solução geral de F 00 − σF = 0 é dada por (veja
[?]) F ( x ) = Ae σx + Be− σx . Substituindo aí os dados de fronteira F (0) = 0 = F ( L),
concluímos que A = B = 0, o que nos leva novamente à solução identicamente nula.
10 O método também pode ser aplicado com F e G complexas.
16 SÉRIES DE FOURIER
F ( x ) = A cos λx + Bsen λx
Bsen λL = 0.
G 00 − σc2 G = 0
Além disso, somas (finitas) de múltiplos das funções un (para valores distintos de
n) continuam resolvendo o mesmo problema. (Esse é o Princípio da Superposição.)
Mas a substituição t = 0 em qualquer de tais somas finitas de funções un determina
valores para f ( x ) e g( x ) (verifique!).
Se for possível a derivação termo a termo em (12) (ah, mais uma hipótese...), então
a função g deve satisfazer
∞ ³ nπc ´ nπx
g( x ) = ∑ L
Bn sen
L
. (14)
n =1
(Se você está curioso para saber porquê o coeficiente a0 aparece dividido por 2, veja a
seqüência.)
Vamos continuar agindo formalmente, quer dizer, vamos pensar que nossas
operações matemáticas possam ser justificadas. Integrando de − L a L, obtemos
Z L Z L Z L ∞ ³
a0 nπx nπx ´
−L
H ( x )dx =
2 −L
dx + ∑
− L n =1
an cos
L
+ bn sen
L
.
e, portanto,
Z L
1
a0 = H ( x )dx. (16)
L −L
Ah, agora justificamos a divisão de a0 por 2. Fazemos assim por mera questão
estética, para que as expressões dos coeficientes sejam todas semelhantes...Aqui cabe
uma observação: a forma dos coeficientes an e bn implica a unicidade da série de
Fourier de uma função f , desde que a série possa ser integrada termo a termo. Isso
é válido, por exemplo, se a função f for contínua por partes. Veja, a esse respeito, o
Exercício 7 e a Seção .9.
.8. CHEGA DE FORMALISMO! 19
Tudo isto está muito bom, mas uma dúvida simples ainda não foi resolvida: as
séries aqui apresentadas dependem de senos e cossenos; por outro lado, as séries em
(13) e (14) dependem apenas de senos. Qual o significado disso?
Uma simples verificação das igualdade (13) e (14) mostra que o lado direito de
cada uma dessas expressões define (supondo sempre que a série convirja!) uma função
ímpar. Assim, as funções f e g daquelas igualdades devem ser funções ímpares! Como
f e g só são dadas no intervalo [0, L], isso quer dizer que elas foram estendidas ao
intervalo [− L, L] de modo a tornarem-se funções ímpares.
O que podemos dizer sobre séries de Fourier de funções pares e ímpares? É o que
vamos responder agora.
Não é difícil verificar que o produto de duas funções pares é uma função par;
que o produto de uma função par por uma função ímpar é uma função ímpar; e
que o produto de duas funções ímpares é uma função par. (Isso não parece com a
multiplicação no conjunto {−1, 1}?)
Além disso, a integração de uma função ímpar sobre [− L, L] (ou, mais geralmente,
sobre qualquer intervalo de comprimento 2L) é sempre nula, enquanto a integração
de uma função par sobre [− L, L] (ou, mais geralmente, sobre qualquer intervalo de
comprimento 2L) é igual a duas vezes o valor de sua integração sobre [0, L].
.8 Chega de Formalismo!
Não é de bom tom que nós, matemáticos, sejamos apenas formais. Matemáticos
gostam de provas, de resultados bem fundamentados. Mesmo que, desde Gödel,
saibamos que não há como fundamentar os postulados que utilizamos: um pouco de
idiossincrasia (ou cinismo?) é sempre permitido.
Com os coeficientes dados em (16), (18) e (19), a série no lado direito da igualdade
(15) é chamada série de Fourier da função H. Nem sempre a igualdade (15) é válida,
mesmo se a função H for contínua.
Note que o lado esquerdo da igualdade (15) define uma função com período 2L.
Assim, H deve ser uma função periódica, com período 2L. Portanto, ao investigarmos
a igualdade (15), basta considerarmos funções periódicas com período 2L.
20 SÉRIES DE FOURIER
.9 Convergência Quadrática
Ao estudarmos a convergência de séries de Fourier, começaremos pela noção de
convergência quadrática, por causa de seu forte apelo geométrico. A nossa exposição
pressupõe que o leitor conheça alguns resultados básicos da Álgebra Linear. Esses
podem ser encontrados em qualquer livro sobre o assunto.
Se denotarmos Z L
h H, G i = H ( x ) G ( x )dx, (20)
−L
não é difícil verificar que h·, ·i é um produto interno no espaço vetorial (de dimensão
infinita) C ([− L, L]).
é uma norma no espaço C ([− L, L]). Chamaremos essa norma de norma quadrática.
6
H H − SN
-
SN
k H − S N k2 = k H k2 − k S N k2 ,
No texto, não abordamos diretamente funções em CP([− L, L]) porque, nesse caso,
a equação (20) não define um produto interno nesse espaço, já que h H, H i pode
ser nulo mesmo quando H 6= 0; em consequência, (22) não define uma norma.
Existem duas maneiras desse impasse ser contornado. A primeira consiste em
notar que a desigualdade de Cauchy-Schwarz e demais propriedades utilizadas no
desenvolvimento do texto só dependem de propriedades satisfeitas por (20). Esse
método está proposto nos exercícios deste Capítulo. A segunda abordagem é utilizada
em textos mais avançados e consiste em identificar funções em CP([− L, L]) que sejam
iguais em quase todos os pontos (isto é, a menos de um conjunto de medida nula). Esse
é o procedimento usado ao se definir o espaço L2 ([ a, b]), presente nos cursos de medida
e integração.
.10. CONVERGÊNCIA UNIFORME 23
Iniciamos com uma observação que une os resultados desta Subseção com aqueles
da Subseção anterior: se S N → S uniformemente, então S N → S em L2 . De fato, dado
e > 0, seja N0 ∈ N tal que
e
|S N ( x ) − S( x )| < √ , x∈R
2L
ou seja,
lim kS N − Sk = 0,
N →∞
Agora fazemos outra observação de caráter introdutório: se H for uma função tal
que H 0 ∈ CP([− L, L]), então a série de Fourier de H 0 é obtida mediante derivação
termo a termo da série de Fourier de H. Este é um resultado notável, pois não estamos
assumindo convergência uniforme!
coeficientes: se n ∈ N, vale
Z L
1 nπx
an = H ( x ) cos
dx
L−L L
" ¯ Z L
#
1 LH ( x ) nπx ¯¯ L LH 0 ( x ) nπx L 0
= sen − sen dx = − bn .
L nπ L ¯− L −L nπ L nπ
Do mesmo modo,
L 0
bn = a .
nπ n
Quer dizer,
∞
a0 nπx nπx
H= + ∑ an cos + bn sen
2 n =1
L L
implica
∞
nπbn nπx nπan nπx
H0 = ∑ cos − sen .
n =1
L L L L
(Note que a hipótese H 0 ∈ CP([− L, L]) foi usada para garantir a validade da integração
por partes.)
(i ) He ( a) = α e He (b) = β;
(iii ) k H − He k < e.
Seja He a função cujo gráfico é a linha poligonal que passa pelos pontos
( a, α), ( x j , H ( x j )) (para j = 1, 2, . . . , n − 1) e pelo ponto (b, β).
26 SÉRIES DE FOURIER
É claro que He é contínua, He ( a) = α, He (b) = β e He0 ∈ CP[ a, b]. Além disso, para
todo j ∈ {2, . . . , n − 1}, He restrita a cada intervalo [ x j−1 , x j ] assume todos os valores
entre H ( x j−1 ) e H ( x j ). Logo, para x ∈ [ x j−1 , x j ], temos
H ( x ) − H ( x j ) ≤ H ( x ) − He ( x ) ≤ H ( x ) − H ( x j−1 )
ou
H ( x ) − H ( x j−1 ) ≤ H ( x ) − He ( x ) ≤ H ( x ) − H ( x j ),
conforme seja H ( x j ) ≤ H ( x j−1 ) ou H ( x j ) ≥ H ( x j−1 ). (Observe que, se H ( x j ) <
H ( x j−1 ), então H ( x j ) e H ( x j−1 ) são, respectivamente, o mínimo e o máximo de He
no intervalo [ x j−1 , x j ].)
Logo,
j = n −1 Z x j Z x1
k H − He k2 = ∑ [ H ( x ) − He ( x )]2 dx + [ H ( x ) − He ( x )]2 dx
j =2 x j −1 a
Z b
+ [ H ( x ) − He ( x )]2 dx
x n −1
" #
j = n −1
e2
≤ ∑ 2(b − a) (x j − x j−1 ) + 4K2 [(x1 − a) + (b − xn−1 )]
j =2
e2 e2
= ( xn−1 − x1 ) + (4K )2 δ ≤ + 8K2 δ < e2 ,
2( b − a ) 2
ou seja,
k H − He k < e,
como queríamos mostrar.
kS N − H k ≤ kS̃ N − H k.
Portanto, se N ≥ N0 , então
e e
kS N − H k ≤ kS̃ N − H k ≤ kS̃ N − He k + k He − H k < + = e.
2 2
Concluímos que S N converge em média quadrática para H, o que é equivalente a
Identidade de Parseval para H.
Ressaltamos, entretanto,
que uma suposição importante foi feita no desenvolvimento acima: de acordo com
a demonstração da convergência uniforme da seqüência S N , sabemos que existe uma
função contínua S tal que S N → S uniformemente. Daí podemos concluir que S N → S
em L2 . Mas, não sabemos ainda caracterizar a função S! Isso será feito na próxima
Subseção, quando mostraremos que S = H.
ou seja,
Z L
1
SN (x) = H (y) D N (y − x )dy (24)
L −L
em que
N
1 nπξ
D N (ξ ) = + ∑ cos (25)
2 n =1 L
é o Núcleo de Dirichlet.
e, portanto,
N N
2sen (θ/2) ∑ cos(nθ ) = ∑ [sen (nθ + θ/2) − sen ((n − 1)θ + θ/2)]
n =1 n =1
= sen ( Nθ + θ/2) − sen (θ/2).
Assim,
N
sen (θ/2) + 2sen (θ/2) ∑ cos(nθ ) = sen ( Nθ + θ/2).
n =1
.12. CONVERGÊNCIA PONTUAL 29
Vamos agora tratar o caso em que θ0 = 2kπ para algum k ∈ Z. Nesse caso, temos
cos(nθ0 ) = 1 e o lado esquerdo de (26) fica igual a 12 + N. O lado direito de (26), por
sua vez, pode ser calculado ao se considerar o limite quando θ → 2kπ. Aplicando a
regra de L’Hospital, vem
¡ ¢ µ ¶ ¡ ¢
sen 2N2+1 θ 2N + 1 cos 2N2+1 θ
lim = lim
θ →2kπ 2sen ( θ/2) 2 θ →2kπ cos( θ/2)
µ ¶
2N + 1 cos ((2N + 1)kπ )
=
2 cos(kπ )
2N + 1 1
= = + N.
2 2
De fato, temos
Z 0 Z 0
1 1
H ( x + ξ ) D N (ξ )dξ = [ H ( x + ξ ) − H ( x − )] D N (ξ )dξ
L −L L −L
Z 0
1
+ H ( x − ) D N (ξ )dξ
L −L
30 SÉRIES DE FOURIER
e, como µ ¶
Z 0 Z 0
1 − − 1 H (x− )
H ( x ) D N (ξ )dξ = H ( x ) D N (ξ )dξ = ,
L −L L −L 2
basta mostrar que
Z 0
1
lim [ H ( x + ξ ) − H ( x − )] D N (ξ )dξ = 0. (28)
N →∞ L −L
³ ´
Z π (2N +1)
1 0 sen 2L ξ
= [ H ( x + ξ ) − H ( x − )] π dξ
L −L 2sen ( 2L ξ)
Z 0
2
= v(η )sen ((2N + 1)η ) dη
π −π/2
em que
2L
H(x + π η) − H ( x− )
v(η ) = .
2sen η
Basta, então, verificar que v ∈ CP[− π2 , 0]. De fato, uma vez feita essa verificação, o
Exercício 6 garante que
Z 0
lim v(η )sen [(2N + 1)η ] dη = 0,
N →∞ − π2
Claramente temos que v ∈ CP[− π2 , 0). Portanto, para que tenhamos v ∈ CP[− π2 , 0],
devemos mostrar que o limite lateral v(0− ) é finito. A verificação desse fato é imediata
e decorre da existência de H 0 ( x − ):
2L 2L
H(x + π η) − H (x− ) πη
lim v(η ) = lim 2L
η → 0− η → 0−
πη
2sen η
L η L
= H 0 (x− ) lim = H 0 (x− ) .
π η →0 sen η
− π
Isso deve-se à própria maneira utilizada para se deduzir a equação da onda. Antes
de obter-se a equação diferencial utt = c2 u xx , chega-se a uma equação integral que
deve ser satisfeita pela função u (veja [?] e [36]). A passagem da equação integral para a
equação diferencial é feita à custa de supor que a solução u seja suficientemente regular.
Ora, se em problemas cotidianos essa regularidade não é satisfeita, essa passagem é
indefensável.
A única solução para esse impasse é obtida em um contexto mais avançado, que
trata de derivadas generalizadas. Isso foge ao escopo de nosso texto, chegando às
raízes da necessidade de espaços de Sobolev.
Assim, com certa ingenuidade, passaremos a admitir que qualquer solução obtida
como série de Fourier corresponde a uma solução do problema da corda vibrante (8).
Essa abordagem pode ser justificada nesse contexto mais amplo de espaços de Sobolev.
.14 E XERCÍCIOS
1. Mostre a desigualdade de Cauchy-Schwarz 21. Mostre, então, que ela é válida
também para funções f ∈ CP([− L, L]).
(a) f e ( a) = α e f e (b) = β;
(b) f e0 ∈ CP[ a, b];
(c) k f − f e k2 < e.
(i ) x ¹ x para todo x ∈ X;
(ii ) se, para x, y, z ∈ X, tivermos x ¹ y e y ¹ z, então x ¹ z;
(iii ) se, para x, y ∈ X, tivermos x ¹ y e y ¹ x, então x = y.
Um conjunto X parcialmente ordenado é um par ( X, ¹), em que ¹ é uma ordem parcial
em X. O conjunto X é totalmente ordenado pela relação de ordem parcial ¹ se, para quaisquer
x, y ∈ X for válido
(iv) x ¹ y ou y ¹ x.
y ¹ a, ∀ y ∈ A.
11 Estamos supondo P ( X ) 6= ∅.
33
34 O LEMA DE ZORN
Note que a definição de cota superior exige que possamos relacionar a ∈ X com
qualquer elemento y ∈ A.
© ª
Exemplo .37 Em P ( X ) = ∅, {1}, {2} (veja o Exemplo .33), tanto {1} como {2} são
cotas superiores de P ( X ). Em A = {1} ⊂ P ( X ), então {1} é a única cota superior. ¢
O elemento maximal não precisa ser “o maior elemento do conjunto Z". Basta que
não exista um elemento maior do que ele!
Exemplo .40 De volta© ao Exemplo ª .33, vemos que {1} e {2} são dois elementos
maximais de P ( X ) = ∅, {1}, {2} com a relação de ordem parcial ⊂. ¢
A próxima definição faz uso do Exemplo .35:
Definição .41 Seja ( X, ¹) um conjunto parcialmente ordenado. Um subconjunto A ⊂ X é
uma cadeia, se ( A, ¹) for totalmente ordenado.
Podemos agora enunciar o Lema de Zorn, que será utilizado como se fosse um
axioma. Para a demonstração desse resultado, bem como equivalências e outras
implicações, veja [13, 17].
Lema .42 (Zorn)
Seja ( X, ¹) um conjunto não vazio parcialmente ordenado tal que toda cadeia tenha cota
superior. Então X possui um elemento maximal.
O Lema de Zorn (que, na verdade, é equivalente ao Axioma da Escolha) encontra
muitas aplicações na Matemática. Ele possibilita conclusões surpreendentes e até
mesmo difíceis de serem aceitas. Por outro lado, resultados fundamentais da
matemática só foram mostrados por meio de sua utilização: a existência de ideais
maximais em um anel com unidade, o Teorema de Hahn-Banach.
Mostraremos como o Lema de Zorn é utilizado para se mostrar que todo espaço de
Hilbert possui uma base ortonormal.
Teorema .43 (Existência de base ortonormal)
Seja H 6= {0} um espaço de Hilbert. Se B0 for uma família ortonormal, então existe uma
base ortonormal S para H, com B0 ⊂ S .
Demonstração: Uma vez que H 6= {0}, existe x ∈ H tal que { x/k x k} é um conjunto
ortonormal. Assim, um espaço de Hilbert não trivial sempre possui uma família
ortonormal. Definimos
M = {B : B0 ⊂ B ⊂ H, B família ortonormal}.
O conjunto M não é vazio, pois B0 ∈ M. No conjunto M definimos:
B1 ¹ B2 ⇔ B1 ⊂ B2 .
.16. DIMENSÃO DE UM ESPAÇO DE HILBERT 35
Temos então:
( a ) S0 ∈ M.
De fato, B0 ⊂ B para todo B ⊂ T . Assim, B0 ⊂ S0 . É claro que S0 ⊂ H;
ϕ : S1 → S2 .
S eα = { f β ∈ S2 : h f β , e α i 6 = 0}
não é vazio: se esse fosse o caso, o teorema ?? (vi ) implicaria eα = 0, o que não é
possível, pois keα k = 1 para todo eα ∈ S1 .
Decorre imediatamente do escólio ?? que Seα é enumerável. Claramente vale
[
S eα ⊂ S2 .
α∈ A
Por outro lado, se f β ∈ S2 , então f β ∈ Seα para algum α ∈ A, de novo pelo teorema ??
(vi ). Logo, [
S eα = S2 . (29)
α∈ A
ℵ B ≤ ℵ0 ℵ A .
[1] N.I. Akhiezer e I.M. Glazman: Theory of Linear Operators in Hilbert Spaces,
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[5] H.P. Bueno: Álgebra Linear, um segundo curso, SBM, Rio de Janeiro, 2006.
[10] D.G. de Figueiredo: Positive solutions of semilinear elliptic problems, Lecture Notes in
Mathematics 957 (1982), Springer-Verlag, Berlin, 34-87.
[11] L.C. Evans: Partial Differential Equations, Graduate Studies in Mathematics v. 19,
American Mathematical Society, Providence, Rhode Island, 1991.
[16] C.S. Hönig: Análise Funcional e Aplicações, IME-USP, São Paulo, 1970.
37
38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[20] T.W. Körner: Fourier Analysis, Cambridge University Press, Cambridge, 1990.
[21] S. Lang: Real and Functional Analysis, 3rd. Edition, Springer-Verlag, New York,
1993.
[22] P.D. Lax: Linear Algebra, Wiley-Interscience Publication, New York, 1997.
[23] P.D. Lax: Functional Analysis, Wiley-Interscience Publication, New York, 2002.
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[28] H. L. Royden: Real Analysis, 2nd. Edition, Macmillan Publishing Co., Inc., New
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[29] W. Rudin: Real and Complex Analysis, 3rd. Edition, McGraw-Hill International
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[30] W. Rudin: Functional Analysis, 2nd. Edition, McGraw-Hill, New York, 1991.
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variables and transform methods, Blaisdell, New York, 1965.
[38] R.L. Wheeden e A. Zygmund: Measure and Integral, Marcel Dekker, New York,
1977.
ÍNDICE REMISSIVO
aplicação do paralelogramo, 4, 10
sesquilinear, 2
lema de Zorn, 34
cardinalidade, 35
coeficientes de Fourier, 18 método
de uma função ímpar, 19 de separação de variáveis, 15
de uma função par, 19 núcleo de Dirichlet, 28, 29
conjunto norma
cardinalidade de um, 35 de uma forma quadrática, 10
totalmente ordenado, 33 gerada pelo produto interno, 9
desigualdade norma quadrática, 20
de Bessel, 21 ordem parcial
de Cauchy-Schwarz, 8, 20 cota superior, 33
de Poincaré, 32 elemento maximal, 34
dimensão
de um espaço de Hilbert, 36 polinômio trigonométrico, 21
princípio da superposição, 16
espaço problema
com produto interno, 6 da corda vibrante, 14
de Hilbert, 9 produto interno, 6
dimensão de um, 36 canônico, 7
forma, 4 produto interno em C ([− L, L]), 20
auto-adjunta, 3 relações de ortogonalidade, 18
bilinear, 4
simétrica, 3 série de Fourier, 19
negativa semidefinida, 13 convergência em L2 , 26
positiva definida, 6 convergência pontual, 29
positiva semidefinida, 6 convergência uniforme, 24
quadrática, 4 soma parcial, 21
sesquilinear separação de variáveis, 15
hermitiana, 3
função teorema
contínua por partes, 20 da dimensão de um espaço de Hilbert,
36
identidade de existência de base de Hamel, 35
de Parseval, 22 de existência de base ortonormal, 34
interpretação geométrica, 23 de Pitágoras, 6
validade da, 27 teorema de Fourier, 31
de polarização, 4, 5 teorema de Pitágoras, 21
39
40 ÍNDICE REMISSIVO
vetores
ortogonais, 6
perpendiculares, 6