Você está na página 1de 6

-.

doi: I 0.4322/tmm.20 11.041

MECANISMOS DE DESGASTE DE CORPOS MOEDORES EM


.,..- MOINHOS DE BOLAS
Eduardo Roveri I
Arthur Pinto Chaves 2

Resumo

A moagem dos minérios é o componente de custo de producáo rnars Importante na producáo dos metais
correspondentes, constituindo parcela significativa do consumo do material metálico de corpos moedores e revestimentos.
Faz-se rápida revisáo dos modelos mais aceitos para a previsáo do desgaste metálico. Ressalta-se o fato de que o processo
nao é apenas mecán ico , como a maioria das aproxirnac óes faz crer, mas também eletroquímico, uma vez que, na polpa
de moagem, existem espécies iónlcas capazes de acarretar a corrosáo do metal. A acáo conjunta de abras áo e corrosáo
tem efeito sinérgico de modo que a velocidade do processo conjunto é muito maior que a soma das duas velocidades
individualizadas. Foram ensaiados dais concentrados de minério de ferro de diferentes teores de sílica, usando bolas
marcadas, variando a composícáo do material das bolas e o pH da polpa de moagem. Mediu-se a reducáo do diámetro
das bolas em funcáo do tempo, obtendo-se como resultado uma taxa de desgaste média, por hora, para os dois t ipos
de bolas estudados. Os resultados permitem ident ificar e quantificar claramente os componentes de abrasáo e corrosáo
sobre o resultado final.
Palavras-chave: Corpos moedores; Desgaste ; Abras áo; Corrosáo.

MECHAN ISMS OF CHARGE WEAR IN BALL MILLS

Abstract

The grinding of ores is an important cost item in the production of metals. Metal wear is a major part of it. This
paper review s the most accepted models for wear during gr inding. This process, in fact , is not just a mechanical one as
most of the models induce, but also electrochemical as in the slurry inside the m ili there are io nic species able to carry
out metal corrosion . The joint action of abrasion and corrosion has a synergetic effeet and the rate of the joint process is
greater than the sum of the rates of the two individual processes. A series of bench tests with two iron ore concentrates
of different silica grades, using marked balls, varying metal composition and slurry pH, was performed. Wear rates were
calculated from diameter reduction as a function of time. Results make able to identify and measure the abrasion and
corrosion components on the final result.
Key words: Grinding balls; Wear; Abrasion; Corrosion.

INTRODUc;ÁO de desgaste corrosivo, que tem acáo sinerg rca com o


componente abrasivo. Isto é, a velocidade de desgaste do
Em operac óes de beneflciamento de concen­ processo conjunto - corrosáo + abrasáo - é muito maior
trados, a operacáo unitária de moagem pode chegar a que a soma das velocidades singelas por corrosáo e por
representar 40% dos custos totais da operacáo, como abras áo. Cabe ressaltar que as águas brasileiras costumam
com concentrados de cobre, por exemplo. Oeste total, ser de caráter ácido, o que acaba valendo como regra para
parte fundamental é constitu ída pelos custos envolvidos as regióes da Bacia Amazónica e do Quadrilátero Fer rí­
no desgaste da carga moedora e revestimentos. fero, em Minas Gerais.
a
Apesar da enfase dada contributc áo do compo­ Siriani(l) explica que a presenca de minerais duros,
nente abrasivo do desgaste, deve-se lembrar que toda como o quartzo, aumenta sobremaneira a dureza do
polpa mineral possui íons em soluc áo, que, dependendo material e lembra que esse mineral, ao se romper com
de sua natureza, podem adicionar um componente fratura concoidal , apresenta arestas vivas que causariam

IEstudante de Engenharia de Minas. Departamenta de Engenharia de Minas e de Petróleo. Escola Politécnica da Universidade de Sao Paulo - EPUSP,

Av. ProfMello Moraes. 2373. Cidade Universitária. Cep05508-900. Sao Pauto, SP, Brasil. E-mail: eduardo.roveri@usp.br

ZEngenheiro Metalurgista EPUSP, Professor titular (aposentado). Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo. Escola Politécnica da

Universidade de Sao Paulo - EPUSP, Av. Prof. Mello Moroes. 2373, Cidade Universitária. Cep 05508-900. Sao Paulo, SP. Brasil.

E-mail: apc haves@ usp .br

Tecno/. Metal. Mater. Miner., Sáo Paulo, v. 8, n, 4, p. 261-266. cet.-cez. 2011 261
Roveri: Chaves

concentracáo de tensóes local izadas em áreas mu ito A corrosáo metálica é a transforrnacáo de um


pequenas. Assirn, justifica sua maior penetrabilidade nos mate rial metálico ou liga metálica pela sua inte racáo
co rpos moedores, riscando-os e abreviando sua vida útil. química ou eletroquímica num meio agressivo . Trata-se
Albertín'" descreve o mecan ismo de desgaste de um processo eletroquímico em que o fer ro metálico
como uma partícula suficientemente dura atacando uma (FeO) cede elétrons e recebe ío ns do oxíg énío da polpa,
superfície em um ángulo favorável e co nseguindo atuar tornando-o oxidado (Fe3+). É um processo t rakoelro
como uma fer rament a de corte, retirando "cavacos '' porque lento, quase im percept ível, mu ltas vezes acaba
(microcorte). Esta acáo seria geralmente acompanhada negligenciado ou esquecido.
por grande deforrnacáo plástica, observando-se acúmulo Gentii<4) lembra que, para mu itas ligas de ferro,
de material deslocado a frente do sulco e lateralmente, pode oco rrer a passívacáo do metal quando em meio alca­
bem como deforrnacáo subsuperficial. Assim , passagens lino . Esta seria uma alternativa para se tentar dim inuir a
sucessivas de graos abrasivos repetem ciclicamente esses acáo corrosiva. pela introducáo de algum álcali, como a
a
deslocamentos, levando rernoc áo do material por fadiga soda. [ á a corrosáo é aumentada pela presenca de íons
de baixo ciclo, configu rando um modelo da interacáo ent re c1oreto e de oxig énio dissolvidos na água. Ele recomenda
os graos de quartzo e o material constituinte das bo las. a desaeracáo da água a ser utilizada em operac óes indus­
Chaves e Peres(3) enumeram diferentes meca­
triais.
nismos de desgaste abrasivo:
O processo corrosivo é acelerado pela abrasáo: o
• desgaste por sulcamento (gouging abrasion),
produto da corrosáo é um material oxidado, facilmente
que ocorre com partículas mais grosseiras que,
removível pela acáo mecánica da ro lagem entre as bolas,
quando impactam a superfície metálica de baixa
intensificada pela presenca de m inerais abrasivos. A sua
dureza com velocidades médias a altas, arrancam
rernoc áo expóe uma superfície fresca de metal , qulmi­
pedacos macroscópicos de metal (altas tensóes e
alto im pact o): camente ativa e pronta para ser corroída rapidamente.
• riscamento e erosáo, que ocorrem com partí­ Deste modo, a acáo conjunta torna-se extremamente
culas menores , cujo im pacto sobre a superfície é ráp ida e danosa.
menor (baixas tensóes e baixo impacto). O rnov l­ Há vários tipos de rnarcacáo de corpos moedores
men to das partículas sobre e contra a superfície para acompanhar o seu desgaste. Maia(5) confirma que
vai riscando-a, po lindo-a e erodindo-a; o ensaio com bolas marcadas permite medir com boa
• r iscam ent o e moagem (lixament o), característico precisáo o seu consumo. No presente estudo foram util i­
de altas tensóes e de im pacto médio e baixo, é zadas bolas com marcac áo feita por eletroerosáo, marcas
um comportamento inter m ediário entre os dols circulares que permitem , de acordo com seu número,
anteriores. diferenciar o tipo de bola, no caso, bolas de aco ou de
Ainda Chaves e Peres(3) descrevem as seguintes FFBAC (Ferro Fundido Branco de A lto Cromo - 30% Cr) .
manei ras pelas quais bolas de um moinho se desgastam: Entretanto, como mostra a Figura 1, apenas a aparencia
• r iscamento: partículas duras riscam as super­ permite essa distincáo: as de aco mais escurecidas e com
fície das bolas, levantando metal paralelamente a traeos de pitting corrosion, e as de FFBAC , mais claras. e
d irecáo do seu movimento, cr iando uma sali éncla aparentemente preservadas de ataques corrosivos.
lateral, que será erodida preferencialmente:
• indentacáo ou mordida: graos duros, pren­
sados entre duas bolas, indentam a superfície de
uma delas, empurrando o metal para os lados,
gerando uma cratera, inicialment e sem rernocáo
do material, mas criando uma sall éncla lateral
como no riscamento já descri to, que também
será erodida preferencialmente;
• sulcamento: partículas duras e pesadas rasgam a
superfície, arrancando metal;
• desgaste metal co ntra metal devido ao contato
ent re as superficies de duas bo las, sem m inério
Figura l. Bolas marcadas de aco e de FFBAC.
entre elas;
• pitt ing corrosion: caracteriza-se po r furos
profundos devidos a corros áo do metal , pela
forrnacáo de pares galvánicos dentro da bola ou 1.1 Teoria Volumétrica do Desgaste de Bolas
entre a bola e a polpa;
• lascamento (spalling): decorre do trincamento da Essa teoria afirma que a raz áo de desgaste de uma
bola a partir de defeitos de fundícáo (rechupes) a
bola é proporcional sua massa, portanto ao seu volume,
o u de moldagem . A bola vai sendo lascada suces­ ou seja, ao cubo de seu di ámetro. Sua origem está na idéia
srvarnente, em camadas , como uma cebola. de q ue a maioria dos eventos de eornlnuicáo decorra dos

262 Tecnol. Metol. Mater. Miner.• Séío Paute, v. 8. n. 4. p. 26/-266. out.-dez. 2011
Mecanismos de desgaste de corpos moedores em moinhos de bolas

mecanismos de impacto. Seria, de modo geral, mais apli­ Tabela 1. Análise química dos concentrados (0/0)
cável a alirnentacóes de distribuicóes granulométricas mais Elemento AS SS
amplas, nas quais haja predominancia de material mais Fe 67,30 69,00
grosso, no qual a corninuic áo ocorra predominantemente Si0 2 6,03 1,78
por mecanismo de írnpacto .v' AI,03 0.71 0,12
P <0,01 0,01
1.2 Teoria Superficial de Desgaste Mn 0,28 0,10
Ti02 < 0, 10 <0,10
Ainda, segundo Maia,(S) a maioria dos eventos de
CaO <0,\0 <0,10
corninuicáo deve-se a abrasáo bola-partícula-bola. Entáo ,
MgO 0,31 <0,10
a razáo de desgaste é proporcional aárea da superfície da
Na,O <0.10 <0,10
bola, ou seja, ao quadrado do diámetro,
K,0 < 0, 10 <0,10
Segundo Azzaroni.é' a reducáo do diámetro de
RE DAS 0,92
uma bola é constante e uniforme em relacáo ao tempo de
a
operacáo ou producáo do moinho:

df =-k Tabela 2. Distribuicáo granulo métrica da alírnentacáo do moinho


(1) (% retida acumulada)
dt
Malha Tyler mm AS SS
Com o tempo, tem-se: 4 4,8 0,82
6 3A 0,13 1,14
df = -ka" (2) 9 2,0 0,34 1,73
dt
14 1,2 1.60 2A5
onde n é funcáo das características da moagem, distri­ 28 0,600 9,71 3,85
buicáo da dureza ao langa do raio do corpo moedor e 65 0,210 32,84 8,15
outras variáveis, podendo variar de um mo inho para outro. 100 0,150 45,31 11 ,94
Assim, para a avaliacáo das taxas de desgaste da 150 0,105 57,57 21,00
carga moedora, seria necessário determinar tao somente, 200 0,075 68,57 33,72
mas com precisáo, a variac áo da massa do corpo moedor, 325 0,044 85,68 63,11
desde sua entrada até sua saída do moinho. Conhecida -325 100,00 100,00
esta variacáo, por meio da massa específica do material
calcula-se a variacáo de volume, e, em sequ éncia, de
di ámetro, qual seria a taxa de desgaste para um dado
Para a realizacáo do ensaio, foram utilizadas bolas
corpo moedor.
marcadas. Para completar a carga do moinho, foram
utilizadas bolas nao-marcadas, denominadas bolas de
2 MATERIAIS E MÉTODOS enchimento. Foram utilizadas 15 bolas marcadas de ac;o
e 15 de ferro fundido. Após a pesagem de cada lote
Este trabalho mediu o desgaste ocorrido em um de bolas, foi completada a massa de carga moedora.
moinho de bancada, usando bolas de aco e bolas de Registra-se que foi necessário determinar as massas com
FFBAC e dois tipos de concentrado de ferro, tipo pellet duas casas decimais para conferir precisáo as medidas de
feed, originários de Minas Gerais , sendo o primeiro deno­ desgaste. No início de cada ensaio, as bolas foram subrne­
minado de Baixa Sílica (BS) e o outro, de Alta Sílica (AS), tidas a uma rodada de moagem, a seco, com areia, para
respectivamente, contendo em torno de 1,8% e 6% Si02 •
retirar eventuais protuberancias ou áreas oxidadas e ainda
Primeiramente, as amostras dos dais concentrados
limpar o material.
foram homogeneizadas em pilha alongada e retiradas
O ensaio de desgaste, de oito horas, consistiu
alíquotas para análise química. Uma vez confirmados
nas seguintes etapas: pesagem dos corpos moedores
os teores de Fe e Si0 2 em cada tipo de concentrado,
marcados e anotacáo da massa individual de cada corpo
iníciaram-se os ensaios de moagem por batelada. A
Tabela 1 mostra a análise química dos concentrados e a moedor; pesagem da carga de enchimento; pesagem da
Tabela 2, a sua distrlbuicáo granulométrica. alíquota de concentrado de ferro; medida do volume de
O ensaio de moagem foi conduzido colocando água necessário; colocacáo do concentrado, dos corpos
bolas, minério e água até preencher 40% do volume moedores e da água dentro do moinho; acionamento do
interno do moinho e ajustar a porcentagem de sólidos moinho pelo período de uma hora, ao término do qual
na palpa em 87% em peso . O moinho utilizado é cilín­ o moinho é aberto, as bolas sao retiradas e lavadas com
drico, com dimensóes internas de 200 x 250 mm e gira lavador de alta pressáo: a polpa restante nas paredes e no
a 73 RPM. fundo do moinho é retirada; carrega-se o moinho nova-

Tecno/. Metal. Mater. Miner.. Sáo Pauto, v. 8. n. 4. p. 26/-266, out.-dez. 201/ 263
Roveri; Chaves

mente com a mesma massa de concentrado de ferro, água as bolas marcadas, componentes do lote, levando-se em
e corpos moedores; aciona-se novamente o moinho e, consideracáo a duracáo do ensaio, em horas:
decorrida uma hora, re pete-se a sequ éncia para mais uma
rodada de moagem em batelada. 3.m )
Transcorridas as oito horas do ensaio, as bolas eram <1>equivalente = .3 8. ( 4.1t.p (3)
retiradas do moinho e lavadas com água sob alta pressáo.
Em seguida, as bolas eram submetidas a duas etapas de Onde:
imersáo em lavadora de ultrassom, cada uma com duracáo • m: massa da bola;
de 15 minutos. Na primeira irnersáo, utilizava-se água • p: massa específica da liga da bola;
como soluc áo de Iimpeza, já na segunda, acetona. Dessa
forma, assegurava-se a retirada das gotículas de água <1> inicial- <1> final
taxa média de desgaste = eq eq (4)
eventualmente aderidas asuperfície das bolas, evitando-se .!it
assim a corrosáo precoce sobre a superficie das bolas.
Onde:
Por último, as bolas eram colocadas sob lampadas incan­
• <1>eq inicial: diámetro equivalente no início do
descentes de 1.000 W. pelo período de 10 minutos, para
ensaio;
secagem final. Finalizadas integralmente tais etapas, as
• <J>eq final: diámetro equivalente ao término do
bolas eram, entáo, conduzidas apesagem em balanca.
ensaio;
• ~t: intervalo de tempo de ensaio.
A prograrnacáo experimental executada é mostrada
3 TRABAlHO EXPERIMENTAL E RESULTADOS
na Tabela 3. A água foi obtida da rede de abastecimento
o método consiste em medir a variac áo de diámetro local.
de cada bola, comparável com os valores de referencia A Tabela 4 exemplifica o cálculo da taxa de desgaste.
da literatura. Para isso, foram admitidas como esferas as A Tabela 5 mostra, como resultados, as taxas
bolas de moinho utilizadas . Em posse dos valores de massa médias de desgaste obtidas.
específica e de massa medida, obteve-se o diámetro equi­
Tabela 3. Condicóes experimentais - efeito da abrasáo
valente. Os valores utilizados de massa específica foram
de 7,5 g/cm) para as bolas de FFBAC, e de 7,85 g/cm 3 , Ensaio Material Concentrado pH
para as bolas de aco , Desta forma, a taxa de desgaste para 1 ac;o BS 8,5
cada bola pode ser calculada, sendo representada pela a 2 FFBAC BS 8,5
variacáo de diámetro de cada bola. Para o cálculo da taxa 3 a<:;o AS 8,5
média horária, é obtida a média aritmética entre todas 4 FFBAC AS 8,5

Tabela 4. Cálculo do desgaste das bolas de aco com concentrado AS em pH 8,5


Bola nO Alimentac;ao o equiv. (mm) Bola n° Pesagem 8 h o equiv. (mm) Desgaste (mm)
massa (g) massa (g)
I 17,84 30,61 1 17,58 30,58 0,023
2 18,03 30,62 2 17,75 30,60 0,024
3 18,05 30,62 3 17,86 30,61 0,016
4 18,22 30,64 4 17,94 30,61 0,024
5 18,26 30,64 5 17,97 30,62 0,025
6 18,54 30,67 6 18,26 30,64 0,024
7 18,96 30,70 7 18,68 30,68 0,024
8 19,07 30,71 8 18,77 30,69 0,026
9 19,08 30,71 9 18,81 30,69 0,023
10 19,27 30,73 10 18,85 30,69 0,036
11 19,27 30,73 11 18,97 30,70 0,026
12 19,28 30,73 12 18,98 30,70 0,026
13 19,45 30,74 13 19,14 30,72 0,027
14 119,76 30,77 14 19,40 30,74 0,031
15 122,22 30,98 15 21,99 30,96 0,019
média 119,02 30,71 média 18,73 30,68 0,025
desvio 1,07 0,09 desvio 1,06 0,09 0,004
o equiv. médio (mm) 30,71 o equiv. médio (mm) 30,68
TD média (JJm/h) 3,12

264 Tecno/. Meta/. Mater. Miner., Sáo Pauto, v. 8, n. 4, p. 26/-266, out.-dez. 20//
Mecanismos de desgaste de corpos moedores em moinhos de bolas

Tabela 5. Resultados: taxas médiasde desgaste obtidas (¡.tm/h) Tabela 8. Taxade desgaste (urn/h) das ligas versus variacáo de pH­
Taxa média de Bola de aco Bola de ferro
concentrado de baixo teor de sílica (BS) - efeitodo material da bola
desgaste fundido pH

Concentrado BS 2,85 1,06


Material Dureza Taxa de desgaste
8,50 10,5
Concentrado AS 3, 12 I, 10
(Re) /0.(%)
A~o 49,01 2,85 2,52 -11 ,70
FF 61,50 1,06 0,99 -6,70
Taxa de desgaste /o. (%) 62.82 59,09
Estes resultados mostram que, como esperado, o
desgaste das bolas de ferro fundido é inferior ao apresen­
tado pelas bolas de aco, além de que o desgaste obtido
com o concentrado de alto teor de sílica é superior ao do
concentrado de baixo teor de sílica. Tabela 9. Taxa de desgaste (¡.tm/h) das ligas versus variacáo de pH
- concentrado de alto teor de sílica (AS) - efeitodo material da bola
Passou-se entáo a avaliar o efeito da corrosáo sobre
pH
o desgaste. Para isto, foram realizados quatro ensaios, nos
Material Dureza Taxa de desgaste
quais se variou o pH da água utilizada. Nessa etapa, foi 8,50 10,5
(Re) /o. (%)

utilizado hidróxido de sódio, em escamas. com 70% de


Ac;o 49,01 3,12 2,99 -4,16

alcalinidade, aumentando o pH de 8,5 para 10,5. A progra­


FF 61.50 1,10 1,04 -5,76

mac áo é mostrada na Tabela 6.


Taxa de desgaste /o. (%) -64,74 -65,21

A Tabela 7 mostra, como resultados , as taxas


médias de desgaste obtidas.

Tabela 6. Condícóes experimentais - efeito da corros áo


Concentrado Fica evidenciado que, para a mesma bola e mesmo
Ensaio Material pH
5 BS 10,5
tipo de concentrado, quando se eleva o pH para 10,5
a~o
obtém-se a maior var íacáo para a bola de a<;:o, com decrés­
6 FFBAC BS 10,5
cimo de 11 ,70% na taxa de desgaste. Também se ver ifica
7 a~o AS 10,5
uma dirninuicáo na taxa de desgaste para a bola FFBAC,
8 FFBAC AS 10,5
de 6,70% na taxa de desgaste.
Fica ainda evidenciado o fato de que, para o concen­
trado de alto teor de sílica, a variacáo no pH náo resulta
Tabela 7. Taxas médias de desgaste obtidas (urn/h) - efeito da numa dlrninuicáo tao significativa na taxa de desgaste nas
abras áo bolas de a<;:o (4 , 16%) quanto nas bolas de FFBAC (5,76%),
Taxa média de Bola de aco Bola de ferro ressaltando o efeito abrasivo do alto teor de sílica sobre
desgaste fundido a taxa de desgaste das bolas . Outro efeito percebido é
Concentrado BS 2.52 0,99 que a diferenca de desempenho entre as ligas se mantém
Concentrado AS 2,99 1,04 praticamente no mesmo patamar, deixando a lrnpressáo
de que, para esse minério, altamente abrasivo, a dlferenca
na taxa de co rrosao parece influenciar de forma menos
substancial a taxa de desgaste das bolas.
Novamente, o desgaste das bolas de ferro fundido Já para o concentrado de baixo teor de sílica, o
é menor que o das bolas de a<;:o e o desgaste com o aumento do pH favorece a utilizac áo das bolas de aco,
concentrado de alta sílica é maior que com o de baixa enquanto que, quando se trata de concentrado de alta
sílica. Adicionalmente, nota-se que a totalidade dos ensaios sílica, ainda se recomenda a utilizacáo de bolas de FFBAC,
realizados em meio mais alcalino resulta em menores na condlcáo de pH mais baixo . Desta forma, apesar da
taxas de desgaste. grande diferenca de desempenho quanto as taxas de
desgaste, pode-se pensar em recomendar a bola de aco ,
para concentrado de ferro com baixo teor de sílica, desde
4 DISCUSSÁO E CONCLUSÁO que seja int roduzida no sistema a soda cáustica.

Os resultados corroboram a idé ia de que a corrosáo Agradecimentos


poss ui influencia significativa sobre a taxa de desgaste das
bolas. Ainda, var iando o pH, obtém-se a dimlnuicáo da Os autores agradecem ao IPT - Laboratório de
taxa de desgaste, em especial para as bolas de aco. Isto Resíduos e Áreas Contaminadas, onde foram realizados os
flca evidenciado na Tabela 8 (concentrado de baixa sílica) trabalhos experimentais, especialmente as pesquisadoras
e Tabela 9 (de alta sfllca) . M.Sc., Sondea Lúcia de Moraas El Camila Massola Zeitune.

Tecno/. Metal. Mater. Miner., Sáo Paulo. v. 8. n. 4. p. 26/-266. out.-dez. 20// 265
Roveri; Chaves

REFERENCIAS

SIRIANI, F. A. Características gerais de desgaste de mandíbulas em britadores. 1973.281 f. Tese (Doutorado em


Engenharia de Minas) - Escola Politécnica da Universidade de Sáo Paulo, Sáo Paulo, 1973.
2 ALBERTIN, E. Efeito da porcentagem de carbonetos e da microestrutura da matriz metálica sobre a resistencia ao
desgaste de ferros fundidos brancos de alto cromo: ensaios em moinhos de bolas. 1993.297 f. Tese (Doutorado em
Engenharia Metalúrgica) - Escola Politécnica da Un iversidade de Sáo Paulo, Sáo Paulo, 1993.
3 CHAVES, A. p.; PERES , A. E. C. Teoria e prática do tratamento de minérios. 4. ed. Sáo Paulo: Signus, 2009 . V. 3:
Britagem, penei ramento e moagem .
4 GENTIL, V. Corrosáo em me io aquosos. In. Corrosáo. Rio de [aneiro: Guanabara Dois , 1982. Cap. 18, p. 189-95.
5 MAlA, G. S. Avaliac;áo da qualidade dos carpos moedores para minério fosfático de Tapira - MG. 124 f. Dissertacáo
(M estrado em Engenharia de Minas) - Escola Politécnica da Universidade de Sáo Paulo, Sáo Paulo, 1994.
6 AZZARONI , E. Consideraciones acerca del desempeño de bolas para molienda y sus posibles efectos en la
dete rminacion de la ley de desgaste. In: Simposium sobre Molienda, S., 1987, Viña del Mar, Chile. Anales... Viña del
Mar: Armco, 1987. p. 151-2.

Recebido em : 08/04/20 I I
Aceito em: 02/09/20 I I

266 Tecno/. Meta/. Mater. Miner., Sáo Pau/o, v. 8, n. 4, p. 26/-266, out.-dez. 20/ /

Você também pode gostar