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Guilherme Trachtenberg
Michel Rasche Brandão
Vinícius Rech Arcari
No primeiro ato do filme é possível observar uma Bacurau em seu estado ordinário de
funcionamento. Sendo uma comunidade marginalizada e esquecida pelo poder público,
Bacurau adota um modo próprio de funcionamento, organizando um funcionamento social
própria, com cada membro da comunidade exercendo um determinado papel no
funcionamento da organização, a qual regida por um sistema de cooperação entre seus
membros, os quais demonstram grande senso de comunidade e solidariedade com os demais.
Em Bacurau, há uma autogestão pelos moradores que fazem o seu papel de ator
institucional. Cada qual tem sua importância e papel relevante dentro da comunidade,
funcionando como uma das engrenagens de uma máquina maior. No decorrer da trama, os
atores desenvolvem um senso maior de ação com o objetivo de transformar a realidade
momentânea (o ataque).
E por fim, na quarta classe, o “Público” são aqueles que “podem participar
esporadicamente ou potencialmente, podem integrar a clientela mas não significa que irão
sempre. Em Bacurau não há um “público” bem definido porque praticamente não há pessoas
estrangeiras, com exceção da parte em que os dois motoqueiros chegam na comunidade e
todos ficam surpresos porque há “estrangeiros”, fato que quase nunca acontece.
Bacurau é um filme que conta uma história de vingança não somente dos nordestinos
e sertanejos. A obra retrata também a vingança contra o capitalismo e o Estado (poder
público). A transformação da cidade em zona de caça para turistas, representada pela elite
local (o prefeito), nacional (os paulistas) e estrangeira (empresa). O produto disso é um
cenário violento, em que pessoas invisíveis são deixadas às margens da sociedade, sendo
vítimas de um safári humano, reproduzido como se fosse um reality show para a televisão.
Em outras palavras, a tentativa de uma nova colonização estava prestes a acontecer. Uma
invasão estrangeira pronta para dizimar uma minoria étnica/racial.
Cabe destacar que o grande personagem desse filme é justamente a comunidade local
(público), que oprimida, resiste em sobreviver a qualquer custo. Percebem que algo estranho
está acontecendo e se unem para combater um novo inimigo (mandante). Interessante que não
há polícia ou exército para garantir a segurança local, sendo um ator institucional
desconsiderado no contexto da história. Assim, a sociedade tenta se autorregular através das
armas, tornando-se em uma só identidade, em um só ator institucional. Nesse contexto, todos
são privilegiados em participar das decisões e das ações com o objetivo único de
sobrevivência e manutenção de sua população diversa, que sempre conviveu
harmoniosamente.
Por fim, o filme se torna uma grande experiência por apresentar várias críticas
político-sociais. Bacurau propõe reflexões de um Brasil profundo, esquecido, invisível,
subjugado por um sistema capitalista avassalador, que oprime e mata deliberadamente. Para
tanto, a população organiza suas práticas institucionais para um objetivo maior de
sobrevivência através da construção de uma identidade própria. Práticas essas encarnadas
pelo grande ator concreto de Bacurau: a sua valente e resistente comunidade.
Referências: