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A EXPANSÃO

ULTRAMARINA
EUROPEIA DOS
SÉCULOS XV E XVI
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A EXPANSÃO ULTRAMARINA EUROPEIA DOS SÉCULOS


XV E XVI
A transição da Idade Média para a Idade Moderna foi marcada por acontecimentos importan-
tes que proporcionaram não apenas a mudança, mas também a configuração de um novo tipo de
sociedade no mundo ocidental. Em meio a essa transição, é possível verificar que o processo que
levou ao expansionismo marítimo europeu está ligado não apenas à mudança de modelo econô-
mico e político, mas também aos fatores culturais, sociais e demográficos que levaram a Europa a
conhecer um novo continente.
Esse processo de expansão começa, de fato, no contato comercial estabelecido ainda durante
as Cruzadas (séc. XI ao XIII), onde os europeus, ainda dentro do feudalismo, mantinham relações
econômicas com os povos do oriente. O imaginário europeu acerca das terras orientais se fortaleceu,
sobretudo por considerar que em tais lugares o comércio de produtos oriundos desses territórios –
as especiarias eram cravo, pimenta, noz-moscada, canela, gengibre – eram não só lucrativos, mas
também acessíveis. Além disso, as facilidades do comércio de produtos oriundos da Ásia trariam
alta lucratividade.
Mas a epopeia marítima europeia estava apenas começando, visto que, apenas algumas poucas
nações e povos, como os reinos e repúblicas italianas, mantinham contato direto com o Oriente, o
que dava a estes territórios quase o monopólio desse contato e o controle comercial de produtos
oriundos da Ásia no continente europeu. Além disso, outro fator diretamente responsável pela
expansão marítima foi o controle estabelecido pelos otomanos sobre rotas comerciais, o que difi-
cultava e tornava a viagem para os países que não eram aliados dos otomanos, dispendiosa, devido
aos altos riscos de perda da carga ou da vida no Mar Mediterrâneo. Deve-se considerar a aliança
entre os otomanos e os reinos e repúblicas Italianas (Gênova, Veneza e Florença), como uma das
condições para a manutenção do monopólio italiano em relação ao comércio de especiarias oriundas
das Índias no continente europeu.
Assim, países como Portugal e Espanha, que também pretendiam participar desse comércio
de produtos do continente asiático, tinham que correr riscos, navegando pelo longínquo e perigoso
Mediterrâneo. Diante dessas condições, Portugal estabeleceu contato com o Oceano Atlântico,
iniciando o processo conhecido como Expansionismo Marítimo.

CONDIÇÕES FAVORÁVEIS AO PIONEIRISMO PORTUGUÊS


Desde o século XI, em Portugal, setores ligados à administração pública e à burguesia ambicio-
navam enriquecer por meio da expansão da atividade marítimo-comercial. Entretanto, os comer-
ciantes da península itálica, principalmente das cidades de Gênova e Veneza, dominavam o lucrativo
comércio de especiarias e de artigos de luxo que vinham do Oriente.
Os comerciantes de Gênova e Veneza compravam os produtos orientais nos portos de Cons-
tantinopla, Trípoli, Alexandria e Túnis e os revendiam na Europa Ocidental por preços altos. Para
dominar esse comércio, genoveses e venezianos controlavam as rotas do mar Mediterrâneo.
A alternativa encontrada pelos comerciantes portugueses para participar desse comércio, rom-
pendo com o monopólio de genoveses e venezianos, foi investir na descoberta de um novo caminho
para o Oriente pelo oceano Atlântico, tendo como base os projetos de alguns navegadores da época.
Desse modo, teve início a época das Grandes Navegações, que expandiram os limites do mundo
até então conhecido pelas sociedades europeias. Essas sociedades desconheciam terras como a
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América, a Oceania e grande parte da África e da Ásia. Conheciam partialmente o oceano Atlântico
e desconheciam os oceanos Pacífico e Índico.
O projeto de expansão marítimo-comercial português também foi possível pelo desenvolvi-
mento técnico-científico iniciado na Idade Média, que levou ao aperfeiçoamento da arte da nave-
gação, permitindo viagens de longa distância. Quais seriam algumas dessas inovações técnicas?
» Caravela: foi a principal embarcação marítima utilizada nas Grandes Navegações.
Desenvolvida pelos portugueses, era um navio de estrutura leve movido pelo vento;
sua principal característica era a vela de formato triangular (latina), que podia ser
ajustada em várias direções para captar a força eólica. Assim, qualquer que fosse o
sentido do vento, a caravela podia navegar na direção desejada pelo piloto;
» Cartografia: com as viagens marítimas, a elaboração de mapas teve significativo
avanço. A partir do século XV, surgiram mapas com os primeiros registros das terras
descobertas na África e na América. Esses mapas eram considerados verdadeiros
segredos de Estado, mas as informações circulavam quando o navegador de um
país passava a servir a outro;
» Bússola: instrumento de orientação espacial introduzido na navegação europeia
desse período, cuja invenção é atribuída aos antigos chineses. Foram os árabes,
porém, que a levaram assim como o astrolábio, para a Europa.
Além disso, a progressiva aceitação da noção de que a Terra é esférica também favoreceu as
Grandes Navegações.
Portugal foi o primeiro país a empreender as Grandes Navegações no século XV. Entre os
motivos apontados pelos historiadores para esse pioneirismo, pode-se considerar:
» Centralização política: realizada durante a dinastia de Avis, permitiu que a monarquia
passasse a governar em sintonia com os projetos da burguesia;
» Ausência de guerras: no século XV, vários reinos europeus estavam envolvidos em
confrontos militares. O reino de Castela (que daria origem à Espanha), por exemplo,
ainda lutava para expulsar os mouros da península Ibérica. A França e a Inglaterra
encontravam-se envolvidas na Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Acreditava-se que
tais disputas tenham contribuído para atrasar a entrada desses países na história
das Grandes Navegações;
» Localização geográfica: praticamente na “cara” do oceano Atlântico, também faci-
litou a expansão portuguesa por “mares nunca dantes navegados”, como se referiu
o poeta Luís Vaz de Camões;
» Diferentes interesses: os interesses de vários grupos sociais convergiam para a
expansão marítima. O rei desejava aumentar seus poderes e as receitas do Estado. A
burguesia ambicionava fazer bons negócios e aumentar seus lucros. A nobreza podia
servir ao rei e conquistar cargos na burocracia do Estado. E as pessoas mais pobres
viam nas grandes navegações uma possibilidade de melhorar suas condições de vida.

FASES DA EXPANSÃO
2.1 CONQUISTA DE CEUTA
A conquista de Ceuta – um rico centro de negócios dominado pelos muçulmanos – no norte
da África, em 1415, marca o início da expansão portuguesa. Ela foi coordenada pelo filho do rei,
que ficou conhecido como D. Henrique, o Navegador. Saqueada pelos portugueses, Ceuta perdeu
parte de sua importância como centro comercial, pois os árabes deixaram de abastecê-la.
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PÉRIPLO AFRICANO
Ao longo do século XV, os portugueses avançaram pelo Atlântico, sempre contornando o
continente africano, o que ficou conhecido como Périplo Africano. Nesse percurso, foram estabe-
lecendo feitorias, que serviam de entropostos para a obtenção de produtos do seu interesse (ouro,
sal, marfim e pimenta, entre outros), e passaram a participar da escravização dos povos africanos.
A partir do século XVI, comercializavam os africanos escravizados para a América.

CHEGADA ÀS ÍNDIAS
A grande aventura marítima portuguesa, que durou quase um século, culminou com a chegada
de Vasco da Gama, à cidade de Calicute, em 1498. Essa viagem provocou muito entusiasmo entre
os potugueses.
Vasco da Gama retornou em 1499, com um carregamento que superava em 60 vezes o custo da
expedição. Essa maneira, o reino de Portugal realizava seus objetivos: descobrir um novo caminho
para o Oriente e participar do lucrativo comércio de especiarias, até então dominado por genoveses
e venezianos.

CHEGADA AO BRASIL
Depois do retorno da expedição de Vasco da Gama, o rei D. Manuel decidiu enviar às Índias
uma poderosa esquadra, a fim de estabelecer relações comerciais com o Oriente.
Essa esquadra partiu de Lisboa no dia 9 de março de 1500, tendo como destino principal a
cidade de Calicute. Era composta de 13 navios e conduzia uma tripulação de aproximadamente
1.500 pessoas, entre elas navegadores, padres, soldados, intérpretes e comerciantes. O comando da
expedição foi entregue a Pedro Álvares Cabral, nobre português sem grande experiência marítima.
No decorrer da viagem, a esquadra de Cabral afastou-se da costa africana dirigindo-se mais para
oeste, até atingir as terras que hoje correspondem ao Brasil, mais especificamente ao sul da Bahia.
A primeira aproximação ocorreu no dia 22 de abril, quando os portugueses avistaram um
monte, batizado de monte Pascoal (por ser a semana da Páscoa). A terra recebeu o nome de Vera
Cruz, posteriormente alterado para Terra de Santa Cruz. O nome atual, Brasil, passou a ser adotado
em aproximadamente 1503, devido à grande quantidade de uma árvore encontrada no litoral, cha-
mada pau-brasil. Os comerciantes de pau-brasil ficaram conhecidos pela designação de brasileiros,
que depois passou a identificas as pessoas nascidas no Brasil.
Após subir 130 quilômetros costeando o continente, em 2 de maio, a esquadra de Cabral
deixou a região que corresponde hoje a Porto Seguro (Bahia) e seguiu viagem em direção às Índias.
Antes, porém, o comandante determinou que o navegador Gaspar de Lemos regressasse a
Portugal levando notícias das novas terras. Também encarregou o escrivão Pero Vaz de Caminha
de escrever uma carta ao rei, relatanto os acontecimentos.
Destarte, como resultado desse processo que marcou a transição da Idade Média para a Idade
Moderna, não apenas ocorreu o início das Grandes Navegações como também, a chegada e início
do processo de ocupação e colonização do território que hoje conhecemos como Brasil.

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