Você está na página 1de 20

BIOQUÍMICA

AULA 1

Profª Joana Rizzolo


CONVERSA INICIAL

Introdução à bioquímica: biomoléculas

Organismos vivos, desde o mais simples ao mais complexo, com todas


as suas diversidades aparentes, apresentam uma enorme similaridade química
e celular e são compostos por elementos químicos e substâncias simples e
compostas que formam assim as biomoléculas. Essas moléculas biológicas,
quando em conjunto e em interação, mantêm todas as diferentes formas de vida
do nosso planeta. A ciência que estuda esses mecanismos de interações chama-
se bioquímica.
A bioquímica é a ciência que descreve as estruturas moleculares, os
mecanismos e os processos químicos compartilhados por todos os organismos.
Além disso, essa ciência versa sobre os princípios de organização dos
organismos vivos, ou seja, é na bioquímica que se estuda a base da vida, em
todas as suas formas.
As células vivas são formadas por biomoléculas como carboidratos,
lipídeos, aminoácidos, proteínas, ácidos nucleicos, nucleotídeos e outros
compostos relacionados, em quantidades variáveis. Embora esses compostos
tenham um número quase infinito de estruturas químicas, sua massa é
constituída quase que totalmente por apenas seis elementos – carbono (C),
hidrogênio (H), oxigênio (O), nitrogênio (N), fósforo (P) e enxofre (S) (CHONPS).
Apesar da presença desses elementos, pode-se dizer que a química dos
organismos vivos está organizada em torno do carbono, que contribui com mais
da metade do peso seco das células, formando ligações simples e duplas com
átomos de oxigênio e nitrogênio, compondo assim as biomoléculas, com
variedade de grupos funcionais. Percebemos aqui o primeiro sinal da
onipresença da química, no entendimento da bioquímica.
Essas biomoléculas, também chamadas de macromoléculas (macro =
grande), podem ser conjugadas em moléculas orgânicas pequenas. As
macromoléculas geralmente são polímeros (poli = muitos; mers = partes),
moléculas grandes formadas por ligação covalente de inúmeras moléculas
menores repetidas, denominadas monômeros (mono = um). Já a porção
inorgânica das células é composta pela água e pelos eletrólitos e, assim como
as vitaminas (compostos orgânicos), desempenha papéis importantes na
manutenção de suas funções.
2
As macromoléculas e suas subunidades monoméricas diferem muito em
tamanho: algumas são muito grandes e, em geral, elas contêm milhares de
átomos, como os polissacarídeos, as proteínas e os ácidos nucleicos, e
apresentam uma grande variedade de grupos funcionais, sendo esses os
responsáveis pela maioria das propriedades das moléculas orgânicas, como
veremos a seguir.
Sendo assim, nesta primeira aula vamos estudar a estrutura, a
classificação e a função dos representantes de cada classe de biomoléculas
(carboidratos, proteínas, lipídeos e enzimas), lembrando que os ácidos
nucleicos, outra importante classe de biomoléculas, serão estudadas
posteriormente. Portanto, o objetivo dessa aula é compreender as principais
características e funções das classes das moléculas que constituem os
organismos vivos.

TEMA 1 – CARBOIDRATOS

Os carboidratos, também chamados de hidratos de carbono, glicídios e


açúcares, são constituídos de átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. Fazem
parte desse grande e diverso grupo de compostos orgânicos como os açúcares
e o amido e consistem na principal e imediata fonte de energia para as atividades
celulares. Essas macromoléculas são as mais abundantes na Terra, formando
desde composições naturais como frutos, folhas, caules, animais até materiais
do nosso dia a dia como papéis, móveis e construções.
Além da função mencionada, essas macromoléculas desempenham uma
série de outras importantes funções nos organismos vivos: ligadas a proteínas,
formam tecidos; constituem o ácido desoxirribonucleico (DNA), a molécula que
carrega informações hereditárias; são utilizadas na síntese de aminoácidos e
gorduras ou substâncias mistas similares; funcionam como reservas
alimentares; constituem a base dos grupos sanguíneos nos seres humanos; são
usadas por uma variedade de patógenos para ter acesso a seus hospedeiros.
Desse modo, carboidratos contribuem com detalhes para a disposição
bioquímica da célula, ajudando a definir a funcionalidade e a particularidade das
células. A fórmula geral de muitos carboidratos é (CH 2O)n, onde n representa o
número de átomos de C. Os carboidratos podem ser classificados como
monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos, como veremos a seguir.

3
1.1 Monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos

Os carboidratos simples são denominados monossacarídeos,


constituídos por uma única unidade poli-hidroxicetona (o grupo funcional
carbonila está posicionado no meio da cadeia do carboidrato cetona) ou poli-
hidroxialdeída (o grupo funcional carbonila está posicionado na extremidade da
cadeia do carboidrato aldeído), em que poli-hidroxi refere-se ao grupo funcional
hidroxila (OH), o qual se repete várias vezes na cadeia do carboidrato. A principal
função desses açúcares simples é servir de fonte de energia das células vivas,
mas também fazer parte da estrutura do DNA e do ácido ribonucleico (RNA).
Cada molécula contém de três a sete átomos de carbono; o número de
átomos de carbono na molécula de um açúcar simples é indicado pelo prefixo
em seu nome:

 n = 3 (C3H6O3): triose;
 n = 4 (C4H8O4): tetrose;
 n = 5 (C5H10O5): pentose;
 n = 6 (C6H12O6): hexose;
 n = 7 (C7H14O7): heptose.

Portanto, açúcares simples com três carbonos são chamados de trioses


(ex.: gliceraldeído-3-fosfato, produto intermediário da quebra da glicose), assim
como também existem os tetroses (ex.: eritrose-4-fosfato, açúcar intermediário
do metabolismo dos carboidratos), os pentoses (ex.: ribose, açúcar constituinte
do RNA), os hexoses (ex.: glicose) e os heptoses (ex.: d-manoeptose, açúcar
presente no abacate), com quatro, cinco, seis e sete carbonos, respectivamente.
A glicose (C5H10O5) e a frutose (C5H10O5) são isômeros, ou seja, são duas
moléculas com a mesma fórmula química, mas com estruturas e propriedades
diferentes (Figura 1).

4
Figura 1 – Monossacarídeos isômeros: duas hexoses, com destaque para a
função aldeído na aldose (glicose) e para a função cetona na cetose (frutose)

Os monossacarídeos ligam-se entre si formando dissacarídeos e


polissacarídeos por síntese por desidratação, o que significa que ligações
glicosídicas são formadas pela união covalente entre um grupo hidroxila de uma
molécula de açúcar e o carbono anomérico (C1) de outra, sendo eliminada uma
molécula de água; do contrário, os dissacarídeos fornecem sempre dois
monossacarídeos, por hidrólise.
Assim como os monossacarídeos, os dissacarídeos comuns têm nomes
terminados com o sufixo ose.
A maltose (glicose + glicose) é produto da hidrólise do amido, a sacarose
(glicose + frutose) é o açúcar da cana-de-açúcar e a lactose (glicose + galactose)
é o açúcar do leite, representando os principais dissacarídeos.
Por meio de ligações glicosídeas, os monossacarídeos são ligados para
formar dissacarídeos até carboidratos complexos. Esse tipo de ligação é
formado pela reação entre um grupo hidroxila de um dos açúcares e o carbono
anomérico (carbono derivado do grupo cetona ou aldeído) do outro açúcar,
conforme mostrado na Figura 2.

5
Figura 2 – Formação da maltose: dois monossacarídeos (D-glicose) em ligação
glicosídica e o inverso quando ocorre a hidrólise

3 7
Fonte: Lehninguer, 2014.

A Figura 2 mostra a maltose sendo formada quando um –OH (álcool) de


uma molécula (à direita) se condensa com o hemiacetal intramolecular da outra
(à esquerda), com eliminação de H2O e a formação de uma ligação glicosídica.
Como o inverso dessa reação é a hidrólise – ataque da ligação glicosídica pela
água – a molécula de maltose conserva um hemiacetal redutor no C-1 (carbono
funcional) não envolvido na ligação glicosídica.
A maioria dos carboidratos encontrados na natureza ocorrem como
polissacarídeos. Os principais são o amido, o glicogênio (formando as estruturas
de reserva energética das células vegetal e animal, respectivamente), a celulose,
a quitina e a dextrana. Os polissacarídeos são polímeros de açúcar e consistem
em dezenas ou centenas de monossacarídeos unidos pela síntese por
desidratação; podem ter cadeias lineares (celulose) ou ramificadas (glicogênio)
e propriedades e funções biológicas diferentes, em consequência de suas
ligações glicosídicas.
O amido, encontrado nas raízes como batatas, em cereais como milho e
o arroz e até mesmo em frutos, é um polímero da glicose produzido pelas

6
plantas, usado como alimento por seres humanos e, assim como o glicogênio,
serve como forma de armazenamento de energia.
O glicogênio também é um importante polissacarídeo de reserva, porém
presente em animais e algumas bactérias.
A celulose é um dos carboidratos mais abundantes da Terra e atua como
elemento estrutural em paredes celulares de plantas (caules, troncos e partes
lenhosas dos tecidos vegetais) e da maioria das algas e é insolúvel em água.
A quitina, bem como a celulose, desempenha a função estrutural,
fornecendo suporte extracelular para animais, formando exoesqueletos em
crustáceos e insetos e constituindo a parede celular da maioria dos fungos.
Outro polissacarídeo bastante relevante é a dextrana, que é produzida
como um líquido açucarado por certas bactérias e utilizada como substituta do
plasma sanguíneo. A placa dentária, formada por bactérias que crescem na
superfície dos dentes, é rica em dextranas, as moléculas adesivas que permitem
às bactérias grudarem-se nos dentes e umas às outras.
Apesar de os carboidratos serem as principais fontes de energia, nem
todos podem ser digeridos pelos diversos grupos de seres vivos. Os ruminantes
(bois, vacas, cabras, ovelhas, entre outros) são os únicos vertebrados capazes
de digerir celulose, pois possuem bactérias, em seus sistemas digestórios,
capazes de degradar esse carboidrato pela produção da enzima celulase.
Para digerir o amido, ou seja, quebrar as ligações entre as moléculas de
glicose, muitos animais, incluindo os animais humanos, produzem enzimas com
essa capacidade de quebrar o amido, chamadas de amilases.
As celulases são utilizadas para uma série de fins industriais, devido a sua
propriedade de quebrar moléculas de celulose. Uma das suas utilizações é para
a produção do etanol de segunda geração (etanol celulósico), obtido da
biomassa de bagaço de cana, palha de arroz e de milho. Também na indústria
têxtil a celulase é utilizada para desfibrilação e amaciamento de tecidos como
algodão e linho.

TEMA 2 – LIPÍDEOS

Lipídeos (lip = gordura) são conhecidos usualmente como gorduras.


Assim como os carboidratos, são formados por átomos de carbono, hidrogênio
e oxigênio, porém em diferentes proporções. Desempenham a importante função
de manter a estrutura das membranas celulares, atuando também na regulação
7
da entrada de substâncias/nutrientes e da saída de dejetos, além de no
armazenamento de energia, entre outras funções.
Uma molécula lipídica fornece o dobro de calorias, em comparação com
uma molécula de glicose. Então, uma célula pode mudar seu metabolismo na
falta de glicose e oxidar os lipídeos, para liberação de energia. Porém, esse
processo de utilização de energia com base em lipídeos é lento e a célula tem
preferência por metabolizar os carboidratos.
A maioria dos lipídeos são insolúveis em água e apolares, não
apresentando uma extremidade polar e outra polar, como no caso da molécula
da água. Logo, eles são solúveis em solventes orgânicos apolares como álcool,
éter e clorofórmio. Exatamente por essa característica de apolaridade, os
lipídeos são essenciais para estabelecer uma interface entre o meio intracelular
e o extracelular, a exemplo do caso das células eucarióticas que contêm, além
das suas membranas citoplasmáticas, compartimentos delimitados por
membranas internas constituídas por lipídeos.

2.1 Classificação, composição e propriedade dos lipídeos

Lipídeos, diferentemente dos carboidratos e das proteínas, não são


polímeros, ou seja, não são formados por várias porções de moléculas iguais
como o amido, que é formado principalmente por repetidas moléculas de glicose.
Por constituírem uma classe de biomoléculas heterogênea, são classificados em
diferentes tipos, descritos a seguir.

a. Triacilgliceróis, também chamados de triglicerídeos, são caracterizados


pela união de um álcool (glicerol) com três ácidos graxos. Esse tipo de
ligação chama-se ligação éster, quando o ácido graxo, por meio do seu
grupo carboxila (-COOH), se liga com a hidroxila (-OH) do glicerol e perde
uma molécula de água.
b. As gorduras em animais (manteiga, sebo – sólidos em temperatura
ambiente) e óleos vegetais (óleo de soja, de milho – líquidos em
temperatura ambiente) constituem o grupo dos triacilgliceróis. Esse tipo
de lipídeo fica depositado nos adipócitos que constituem o tecido adiposo
localizado logo abaixo da hipoderme e realiza importantes funções como
estocagem de energia e isolamento térmico.

8
c. Cerídeos são moléculas de lipídeos muito maiores, que possuem muito
mais carbonos que os triacilgliceróis e os fosfolipídeos (veremos a seguir),
apesar de serem formados por álcool e ácidos graxos. Entre as funções
dos cerídeos, destaca-se o importante desempenho dessas biomoléculas
como impermeabilizantes, impedindo que as folhas percam água para o
ambiente, assim como permitirem que aves aquáticas nadem evitando o
encharcamento de suas penas. Atuam também como reserva de energia
no fitoplâncton e na proteção da pele contra o ressecamento. Além disso,
os cerídeos são utilizados para uma grande diversidade de aplicações na
forma de cera, devido às suas propriedades impermeabilizantes e à sua
consistência firme, na indústria farmacêutica e cosmética.
d. Glicerofosfolipídeos, esfingolipídeos e esteróis compõem a classe dos
lipídeos estruturais de membrana. O primeiro possui suas regiões
hidrofóbicas compostas por dois ácidos graxos ligados ao glicerol; os
esfingolipídeos apresentam seu único ácido graxo ligado a um
aminoálcool, à esfingosina e não contêm glicerol; e os esteróis são
compostos caracterizados por um sistema rígido de quatro anéis
hidrocarbonados fusionados. O mais simples glicerofosfolipídeo é o ácido
fosfatídico, encontrado nas membranas celulares, atuando como
intermediário na síntese de outros lipídeos.
e. Esfingomielinas e glicoesfingolipídeos são exemplos de esfingolipídeos e
desempenham funções de revestimento e isolamento em alguns
neurônios, estando, portanto, presentes na maioria das membranas
plasmáticas das células animais do tecido nervoso. Por conterem fosfato,
os glicerofosfolipídeos e os esfingolipídeos são considerados
fosfolipídeos pois, assim como os glicerídeos, são formados por um
glicerol com dois ácidos graxos e um grupo fosfato ligado a essa molécula,
dando um caráter polar a ela, já que uma parte dos fosfolipídeos interage
com a água. Desse modo, os fosfolipídeos são moléculas anfipáticas, com
uma porção que se liga à água e outra que não se liga, em uma estrutura
denominada de bicamada lipídica, presente nas membranas celulares.
Portanto, os fosfolipídeos estão presentes nas membranas plasmáticas
contribuindo com sua estrutura, fluidez, também envolvidos em reações
de síntese de moléculas e como precursores de reações.

9
f. Esteróis são outra classe de lipídeos constituída por cadeias carbônicas
formando quatro anéis (vários isoprenos). Apresentam função regulatória,
ação hormonal (colesterol) e estão também presentes nas membranas
plasmáticas de plantas (estigmaesterol) e de animais, nos sais biliares,
atuando na emulsificação das gorduras. Na maioria dos fungos, o esterol
presente na membrana plasmática é o ergosterol, o qual desempenha
importantes funções de manutenção da permeabilidade da membrana e
de mecanismo de absorção de nutrientes.

Ainda existem outros compostos de natureza lipídica presentes nos


organismos vivos que devemos tratar aqui, como as tromboxanas, envolvidas no
processo de coagulação sanguínea; o leucotrieno, envolvido na respiração
celular; a prostaglandina, envolvida no processo inflamatório; e os carotenoides.
Esses últimos compreendem os pigmentos naturais presentes nas plantas, tais
como o betacaroteno, que é precursor da vitamina A, e o pigmento da
fotossíntese, a clorofila.

TEMA 3 – AMINOÁCIDOS: COMPOSIÇÃO, IMPORTÂNCIA, CLASSIFICAÇÃO


E PROPRIEDADES QUÍMICAS

Os aminoácidos, também chamados de resíduos, quando incorporados a


um polímero proteico, são unidades estruturais que formam as proteínas, assim
como os monossacarídeos são as unidades estruturais que formam os
carboidratos.
A composição química dos aminoácidos se dá da seguinte maneira: um
grupo carboxila (-COOH), um grupo amino (-NH2), um átomo de hidrogênio e um
grupo lateral (grupo R), todos ligados ao mesmo átomo de carbono (carbono
alfa), conforme demonstra a Figura 3.

10
Figura 3 – Fórmula estrutural geral de um aminoácido; o carbono alfa é mostrado
no centro

O grupo lateral poderá ser uma cadeia linear ou ramificada de átomos ou


uma estrutura em anel que pode ser cíclica (toda em carbono) ou heterocíclica
(quando um átomo diferente do carbono está incluído no anel). A única exceção
é no caso da glicina, um aminoácido cuja cadeia lateral será substituída por um
átomo de hidrogênio (Figura 4).

Figura 4 – Fórmula estrutural do aminoácido glicina com o átomo de hidrogênio


substituindo o grupo R e a fórmula estrutural da tirosina com seu grupo lateral
cíclico, respectivamente

Todos os seres vivos sintetizam aminoácidos e são constituídos pelos


mesmos 20 aminoácidos, porém alguns animais superiores não conseguem
sintetizar todos os aminoácidos necessários para construir suas proteínas. Por
exemplo, existem nove aminoácidos que os seres humanos não conseguem
sintetizar, denominados de aminoácidos essenciais (fenilalanina, histidina,
isoleucina, leucina, lisina, metionina, treonina, triptofano e valina), cuja ingestão
por dieta se torna, portanto, indispensável.

11
Desses 20 aminoácidos mais comuns, todas as milhares de proteínas são
formadas; além da função estrutural na formação dessas biomoléculas, os
aminoácidos realizam funções como precursores de importantes substâncias
como enzimas, hormônios, pigmentos, conforme será abordado posteriormente
na temática metabolismo dos aminoácidos.
Os aminoácidos possuem como característica distintiva o grupo R. É pela
polaridade desse mesmo grupo e pela sua tendência de interagir com a água em
pH biológico que são classificados os aminoácidos, agrupando-se em cinco
grupos, como veremos a seguir.

1. Grupos R apolares: os grupos R dessa classe são alifáticos e


hidrofóbicos; incluem os aminoácidos alanina, valina, leucina e isoleucina.
2. Grupos R aromáticos: representados pela fenilalanina, tirosina e
triptofano, têm suas cadeias laterais aromáticas, relativamente apolares,
e são hidrofóbicos.
3. Grupos R polares, não carregados: grupos R mais hidrofílicos; essa
classe inclui serina, treonina, cisteína, asparagina e glutamina.
4. Grupos R carregados positivamente (bases): grupos R mais hidrofílicos;
incluem lisina, histidina e arginina.
5. Grupos R carregados negativamente: representam esse grupo o
aspartato e o glutamato.

Conforme acabamos de ver, os aminoácidos são classificados de acordo


com as propriedades químicas dos grupos R, se diferenciando em estrutura,
tamanho e carga elétrica. Tais características químicas influenciam na
solubilidade dos aminoácidos em água e na sua capacidade de sofrer
transformações.

TEMA 4 – PROTEÍNAS: CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO, SOLUBILIDADE, NÍVEIS


ESTRUTURAIS

As biomoléculas presentes em maior proporção nas células são as


proteínas. Estas desempenham imprescindíveis funções nos organismos vivos,
tais como: catálise enzimática (todas as enzimas são proteínas, como veremos
no próximo tema), transporte e armazenamento de moléculas e íons, estrutura e
sustentação celular, coordenação e regulação de atividades celulares e proteção
imunitária.

12
As moléculas de proteínas contêm, além do carbono, oxigênio e
hidrogênio, átomos de nitrogênio e de enxofre. Algumas proteínas contêm
elementos adicionais, como fósforo, ferro, zinco e cobre.

4.1 Conceito e classificação

Aminoácidos são as unidades estruturais básicas das proteínas e podem


ser unidos com outros aminoácidos por meio de ligações peptídicas, formando
cadeias de peptídeos e/ou proteínas, assim como os dissacarídeos e os
polissacarídeos são unidos por monossacarídeos, formando ligações
glicosídicas e liberando uma molécula de água. Sendo assim, as proteínas
podem ser cadeias peptídicas muito longas, assim como podem ser formadas
apenas por dois resíduos de aminoácidos.
A seguir, estudaremos a classificação das proteínas quanto ao número de
cadeias polipeptídicas, quanto à composição e quanto à forma.
Como as proteínas são macromoléculas que contêm uma ou mais cadeias
polipeptídicas, elas podem conter dois; três; quatro; cinco; ou mais aminoácidos,
sendo denominadas, respectivamente, de dipeptídeo, tripeptídeo, tetrapetídeo,
pentapeptídeo e polipetídeo. Do mesmo modo, quando até cinco aminoácidos
se ligam à estrutura, a proteína pode ser chamada de oligopeptídeo.
A segunda classificação apresentada aqui equivale à composição, uma
vez que as proteínas podem ser simples, quando constituídas apenas por
aminoácidos, e podem ser conjugadas (glicoproteínas, lipoproteínas),
apresentando uma parte proteica e uma não proteica (carboidrato ou lipídio) –
tal parte associada pode ser chamada de grupo prostético. As glicoproteínas
estão presentes na superfície externa de membranas plasmáticas celulares,
sendo, por exemplo, receptoras do vírus influenza, atuando como sítios de
absorção. Bactérias utilizam glicoproteínas que se conectam à membrana
plasmática da célula hospedeira para se moverem de uma célula a outra. Além
dessa característica relacionada à penetração de agentes infecciosos, células e
à recepção de moléculas, as glicoproteínas estão associadas a outras funções,
pois elas compõem hormônios e enzimas. As lipoproteínas constituem um grupo
no qual estão presentes as importantes moléculas transportadoras de lipídeos
entre células, fígado e sangue: high density lipoproteins (HDL), low density
lipoproteins (LDL) e very low density lipoproteins (VLDL).

13
Proteínas também podem ser classificadas, quanto à forma, como
fibrosas, arranjadas em longos filamentos ou folhas, desempenhando função de
estrutura (colágeno do tecido conjuntivo, queratina dos cabelos, miosina dos
músculos etc.) ou proteínas globulares; estas apresentam uma estrutura
espacial mais complexa, com cadeias polipeptídicas dobradas em forma esférica
ou globular.

4.2 Solubilidade

A solubilidade das proteínas é bastante variável e influenciada por alguns


fatores como o pH e a temperatura. Assim, a solubilidade depende da polaridade
de seus grupos R: quanto mais grupos R ionizáveis existirem, mais solúvel será
o polipeptídeo.
A produção de iogurtes, tanto dos convencionais, feitos de leite de vaca,
como dos mais recentes, de fontes vegetais (coco, soja, castanhas), é realizada
com base nesse conceito. Primeiramente, aminoácidos são liberados no meio, a
seguir ocorre o aumento da acidez, com a produção microbiana de ácido lático.
O pH se aproxima do ponto isoelétrico de algumas proteínas (valor do pH em
que as cargas elétricas dos aminoácidos se igualam e se anulam, ocasionando
a precipitação das proteínas), ocorrendo a formação de coágulo, processo
também chamado de coagulação ácida. Portanto, nesse caso descrito, o pH
influenciou na solubilidade de proteínas, desestabilizando-as, ocasionando a
coagulação, acontecimento esperado para a produção de tal alimento.

4.3 Níveis estruturais

Conforme já estudado, as proteínas são formadas de 20 aminoácidos com


diferentes estruturas e conformação tridimensional, o que permite que haja sua
interação com moléculas específicas, de maneira a realizar diferentes e
específicas funções. Sendo assim, de acordo com sua estrutura e complexidade,
as proteínas são classificadas em quatro níveis de organização (Figura 5):

1. Estrutura primária: sequência linear de aminoácidos que forma uma


cadeia peptídica; cada sequência de aminoácidos é determinada
geneticamente e diferencia as proteínas umas das outras, determinando
suas propriedades estruturais e biológicas.

14
2. Estrutura secundária: esse termo refere-se à estrutura que apresenta
pontes de hidrogênio mantendo a forma estrutural de um composto
proteico, ou seja, em que ligações peptídicas interagem formando pontes
de hidrogênio modificando a estrutura de uma proteína. Esse tipo de
configuração estrutural apresenta duas formas:
a. hélice α: apresenta forma de uma espiral mantida por pontes de
hidrogênio entre resíduos de aminoácidos de uma mesma cadeia
polipeptídica; esse tipo de configuração está presente no cabelo (α-
queratina) e na pele, no osso, no tendão (colágeno);
b. folha β laminar: cadeias polipeptídicas se ligam por pontes de hidrogênio,
em forma de zigue-zague em vez de estrutura helicoidal; um exemplo de
proteína com essa conformidade é a proteína que forma a teia de aranha,
em que mesmo as pontes de hidrogênio sendo ligações fracas, a estrutura
torna-se extremamente forte, pois se faz muitas ligações para isso.
3. Estrutura terciária: nesse tipo de configuração estrutural de proteínas, o
dobramento não é repetitivo e adquire estrutura tridimensional. Ocorre
quando cadeias laterais polipeptídicas secundárias se dobram sobre elas
mesmas, ligando-se por vários grupos de aminoácidos, envolvendo
diversas interações, além das interações por ponte de hidrogênio
(interações hidrofóbicas/de van der Waals, ligações iônicas, pontes de
dissulfeto).
4. Estrutura quaternária: nesses tipos de configurações estruturais ocorre a
união de duas ou mais cadeias polipeptídicas (subunidades); a união
dessa estrutura quaternária é mantida por meio de forças iônicas e pontes
de hidrogênio. São as proteínas fibrosas e globulares, essas últimas
representadas pela hemoglobina, formada por quatro subunidades
polipeptídicas unidas, com átomos de ferro que interagem com o oxigênio
para transportá-lo pelo sangue.

15
Figura 5 – Ilustração das estruturas primária, secundária, terciária e quaternária
das proteínas

Crédito: Mypokcik/Shutterstock.

TEMA 5 – ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA, FATORES QUE


AFETAM A ATIVIDADE DAS ENZIMAS, INTRODUÇÃO À CINÉTICA
ENZIMÁTICA E VITAMINAS

Enzimas são proteínas especializadas em acelerar processos


bioquímicos, agindo como catalisadoras das reações bioquímicas. Portanto,
praticamente todas as reações de manutenção da vida dependem da atividade
dessas moléculas, pois, sem elas, a velocidade das reações seria tão lenta que
impossibilitaria a vida. Tais reações poderiam ser realizadas em condições
laboratoriais, com manejo de temperatura e pH, por exemplo. Importante lembrar
que toda enzima é uma proteína, porém nem toda proteína é uma enzima.

16
Em geral, os nomes das enzimas terminam em ase e são definidas em
seis classes como apresentado no Quadro 1.

Quadro 1 – Classificação das enzimas

CLASSIFICAÇÃO TIPO DE REAÇÃO EXEMPLOS MODO DE


QUE CATALISAM ATUAÇÃO
Oxirredutases Reações de Desidrogenase; Removem átomos
oxidorredução oxidase de hidrogênio;
adicionam átomos de
oxigênio
Transferases Transferências Metiltransferase Transferem grupos
de grupos funcionais metil (-CH3)
Hidrolases Reações de hidrólise Lipases; proteases Quebram lipídios e
proteínas
Liases Quebra de ligações Descarboxilase Removem CO2
duplas
Isomerases Isomerizações Cis/transisomerase Convertem
formas cis e trans
Ligases Formação de Sintetase Combinam dois
ligações grupos
Essa classificação está de acordo com o tipo de reação química que as
enzimas catalisam, usando-se o exemplo das enzimas da classe oxidorredutase
que removem hidrogênio de um substrato (desidrogenases) ou que adicionam
O2 (oxidases). Outras têm nomes ainda mais específicos, dependendo dos
substratos específicos em que elas atuam. Imprescindível explicar que substrato
é o nome dado à substância inicial que é transformada pela ação enzimática.

5.1 Fatores que afetam a atividade das enzimas

Diversos fatores são capazes de influenciar e alterar a atividade de uma


enzima. Entre os mais importantes estão a temperatura, o pH, a concentração
de substrato e inibidores. Sendo assim, cada enzima possui um pH ótimo de
atividade (quando sua atividade é ótima) e, acima ou abaixo desse valor ótimo
de pH, a velocidade da reação da enzima diminui.
O conceito de que, em baixas temperaturas, moléculas se movimentam
menos e, em altas temperaturas, moléculas se agitam mais pode ser aplicado
no caso das enzimas, pois, de maneira geral, as enzimas aumentam sua
atividade de reação com o aumento da temperatura, até que seja atingida a
velocidade máxima. A partir desse momento, as enzimas podem sofrer
desnaturação (mudança na estrutura molecular da proteína/enzima) e perder
suas propriedades catalíticas; em baixas temperaturas, a velocidade da reação

17
começa a decrescer, o que pode ser explicado pelo início da inativação das
enzimas pela temperatura.
Outro fator que afeta a atividade das enzimas, porém sem provocar a
desnaturação, é a concentração de substrato. À medida que a concentração do
substrato aumenta, a atividade enzimática também se eleva até as enzimas
ficarem saturadas, pois ocupadas pelo excesso de substrato disponível.
Certas substâncias podem inibir a atividade enzimática, levando as
células até a pararem de funcionar e morrer. Essas substâncias são chamadas
de inibidores. Muitas novas drogas (antidepressivos e reguladores de apetite)
são formuladas com base nesse fator inibitório enzimático.

5.2 Introdução à cinética enzimática

Assim como as proteínas se ligam em um receptor, em uma célula, para


realizar funções específicas, as enzimas também se ligam em uma substância
específica, chamada de substrato da enzima. É formado o complexo enzima-
substrato pela ligação temporária da enzima com os reagentes; o ponto de
ligação entre a enzima e o substrato é chamado de sítio ativo, uma região que
interage com uma substância química específica. Após a atuação da enzima, ela
é recuperada; sendo assim, a enzima não é consumida ao longo do processo.
Por exemplo, a maltose (dissacarídeo presente em alimentos) é o substrato da
enzima sacarase, que catalisa a hidrólise da maltose para duas moléculas de
glicose.

5.3 Vitaminas

As vitaminas são compostos orgânicos presentes nos organismos vivos,


podendo ser obtidas pela alimentação ou pela síntese metabólica, apresentando
um variável grau de complexidade. São de extrema importância para o
crescimento e desenvolvimento dos seres vivos; no organismo humano, atuam
na prevenção contra doenças, como precursoras de hormônios e como fatores
de crescimento ou coenzimas (cofatores orgânicos requeridos por certas
enzimas, para seu funcionamento). Podem ser classificadas em:

 lipossolúveis: apresentam moléculas apolares, são absorvidas no


intestino; vitaminas A, D, E e K são exemplos;

18
 hidrossolúveis: apresentam moléculas polares e função de coenzima;
vitaminas do complexo B (tiamina-B1, riboflavina-B2, ácido panteônico-
B5, piridoxina-B6, cobalamina-B12), ácido ascórbico (C) e biotina (H) são
exemplos.

Algumas vitaminas, como a vitamina K e algumas do complexo B, são


digeridas e sintetizadas no intestino grosso por bactérias que interagem de forma
harmônica (mutualismo) com os seres humanos. Por esses efeitos benéficos,
entre outros, atualmente muito se fala na alimentação com os probióticos, que
consistem em microrganismos vivos benéficos para o organismo, atraindo a
atenção da indústria alimentícia e farmacêutica, assim como da ciência, em
busca de novas descobertas.

NA PRÁTICA

Um cabelo enrolado é feito de proteínas queratinas, em sua estrutura


secundária. Quando usamos um secador ou um alisador de cabelo, acabamos,
devido ao calor, quebrando as pontes de hidrogênio que mantêm essa estrutura,
fazendo com que as proteínas queratinas fiquem em estrutura primária. Porém,
se pegarmos chuva ou umidade, nosso cabelo voltará a se enrolar, pois a água
doa átomos de hidrogênio, reconstituindo as pontes de hidrogênio, possibilitando
que a proteína retorne a sua estrutura primária. Essa é uma situação um tanto
comum hoje em dia e em que nem imaginamos que há a atuação da bioquímica
por trás dela, não é mesmo?

FINALIZANDO

Do ponto de vista da nutrição humana, nesta aula abordamos todos os


macronutrientes (carboidratos, lipídeos e proteínas) que são os nutrientes
necessários, em maiores quantidades, e alguns micronutrientes que funcionam
como coenzimas (vitaminas), dos quais necessitamos em menores
concentrações, a maioria obtida pela dieta. E também estudamos as tão
importantes enzimas.
Vimos que todos esses nutrientes são compostos orgânicos também
chamados de biomoléculas, que exercem, de maneira geral, funções
energéticas, estruturais, isolantes, de armazenamento e metabólicas.

19
Figura 6 – Infográfico: biomoléculas estudadas

MACROMOLÉCULAS
Lipídeos

Proteínas

ENZIMAS
Carboidratos S
VITAMINAS
S

20

Você também pode gostar