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ANO 23 • EDIÇÃO 269

ESPECIAL OUTUBRO 2020

EM MEMÓRIA

Uma homenagem aos Profissionais

da enfermagem que perderam suas
vidas para fazer história na linha
de frente contra o Coronavírus

MATÉRIAS
A expectativa de uma sociedade
em vacinas contra a COVID-19

Amazonas é o estado brasileiro

com situação mais crítica pela
COVID -19

A coragem é o êxito das melhores

vitórias. Enfermeiros assumem
importante papel na batalha
contra o coronavírus

Vigilância Epidemiológica
assegura proteção em protocolo
de ações contra COVID-19 em
casos de óbitos

A saúde mental dos profissionais

da saúde ao enfrentamento
efetivo da COVID -19
 12º
3
3

SÃO PAULO

16 e 17
de Setembro de 2021
PRORROGADO PARA 2021 DEVIDO
À PANDEMIA DE CORONAVÍRUS

NOVOTEL SÃO PAULO CENTER NORTE

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Revista Nursing, 2020; 23 (269)
sumário/contents Outubro de 2020 - ano 23 - Número 269

Editorial
Infectologia
Matéria
Em memória
Linha de Frente
Notícias
Vigilância
Enfermagem Sólidaria
Artigo de Opinião

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Revista Nursing - Edição Brasileira - vol. 269, n.23 (2020) - 26,6cm - Mensal - ISSN 1415-8264
Publicada por Editora MPM Comunicação
1. Enfermagem – Brasil – Periódico.

Revista Nursing, 2020; 23 (269)


Enfermagem e a Covid-19
FOTO: Divulgação
E
sta edição da revista “Nursing” é
dedicada aos profissionais de En-
fermagem vítimas da Covid-19. A
Enfermagem está na linha de frente desta
luta. Somos a maior categoria profissio-
nal de Saúde – e também a mais exposta,
por estar 24 horas ao lado dos pacientes,
executando procedimentos que envolvem
contato físico. Dados do Boletim Epide-
miológico divulgado pela Prefeitura de
Belo Horizonte mostram que os técnicos
de Enfermagem são os profissionais de
saúde que mais testaram positivo para a
doença na capital mineira, com probabi-
lidade três vezes maior de contaminação
que os médicos. A situação se repete nas
demais regiões do Brasil.
Contabilizamos 351 profissionais ví-
timas da Covid-19 (dados de 11/08), por
meio do Observatório da Enfermagem,
que sistematiza dados obtidos pelo Sis-
tema Cofen/Conselhos Regionais. Cada
número esconde o rosto de uma mãe,
um pai, filhos, amigos queridos, colegas
que encaravam juntos os plantões e te-
mem por sua vida e de sua família. Não
permitiremos que seus nomes caiam no
esquecimento e invisibilidade. Negar a
gravidade da crise que enfrentamos – e
a necessidade de políticas sanitárias, so-
ciais e econômicas – apenas amplia o fla-
gelo e o número de mortos.
Os profissionais de Enfermagem não
são máquinas. Somos humanos, demasia-
do humanos, sujeitos aos mesmos fatores
de riscos da população em geral. É funda-
Manoel Carlos Neri Da Silva
Presidente do Conselho Federal de Enfermagem
mental o fornecimento de Equipamentos
de Proteção Individuais (EPIs), em quanti-
dade e qualidade adequados, a oferta de
condições seguras de trabalho, respeitan-
do o direito ao afastamento dos profissio-
nais integrantes de grupos de risco de fun-
ções que impliquem contato direto com
casos de Covid-19, e o correto dimensio-
namento das equipes assistenciais.
O conhecimento é a nossa principal
arma no combate global contra uma do-
ença sobre a qual ainda se sabe tão pou-
co. A produção de conhecimento é fun-
damental para políticas públicas baseadas
em evidências, que podem salvar vidas.
Onde o distanciamento social foi adotado
com rigor, já no início da pandemia, foi
possível controlar a incidência. Aguardar a
“imunidade de rebanho”, permitindo que
a população se contamine, é desprezar
a vida de milhares de pessoas, a dor de
milhões de familiares enlutados. Expresso,
em nome do Conselho Federal de Enfer-
magem (Cofen), nosso reconhecimento às
heroínas e aos heróis que perderam suas
vidas assegurando a assistência à popula-
ção. Quantos mais precisarão tombar?
Os Conselhos de Enfermagem já ins-
pecionaram mais de 20 mil instituições
em todo o Brasil, entre levantamentos si-
tuacionais e fiscalizações in loco, desde
o início da pandemia. Um terço delas é
classificada como unidade de referência
para a Covid-19. Relatório de fiscaliza-
ção indica que a maior parte das irregu-
laridades está relacionada à falta de equi-
editorial
pamentos de proteção individuais (EPIs),
seguida pelo déficit de profissionais de
Enfermagem/sobrecarga de trabalho. A
geração e sistematização de dados têm
fortalecido a atuação institucional em de-
fesa dos profissionais, seja na esfera polí-
tica, seja na esfera judicial.
Parabenizo a “Revista Nursing” pela
geração e difusão de conhecimentos sobre
a Covid-19 e a Enfermagem, fortalecendo
a profissão também no âmbito científico
e assistencial. Vencer a pandemia exige
investimento na ciência e na assistência.
Exige uma repactuação do compromisso
social que permitiu que a criação de um
Sistema Único de Saúde, público e univer-
sal, que se propõe a oferecer uma assistên-
cia equitativa em um país de dimensões
continentais. Temos uma rede de assistên-
cia capilarizada, o maior programa públi-
co de vacinação do planeta, uma rede de
pesquisa estruturada.
A estrutura sanitária que construímos
é, a despeito de suas evidentes lacunas
e precariedade, a grande obra social da
jovem Democracia brasileira. Nosso Sis-
tema Único de Saúde, mesmo sobrecar-
regado e subfinanciado, tem sido nosso
principal pilar de resistência contra o
colapso sanitário. A pandemia global,
de proporções jamais enfrentadas pela
nossa geração e pela anterior, reforça a
importância do SUS e o compromisso da
Enfermagem com a assistência em Saúde
pautada em evidências. Não daremos as
costas à ciência.
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
 infectologia
A expectativa de uma sociedade em
vacinas contra a Covid-19
FOTO: Acervo pessoal
O
mundo está na expectativa
com os possíveis avanços
na produção de vacinas
para o contingenciamento da Covid-19.
Empresas e cientistas empenham seus
maiores esforços e conhecimentos para
desenvolverem a melhor opção em imu-
nização da população em geral. Etapas
de testes em humanos já foram iniciadas
e os resultados finais são aguardados
para ainda este ano.
No entanto, os desafios dessas vacinas
estão ligados aos benefícios que elas pode-
rão trazer à humanidade, para a erradicação
dos efeitos devastadores do Coronavírus. Os
efeitos da Covid-19 são tão agressivos, que
a pandemia é considerada a segunda maior,
de toda a história da humanidade.
Só no Brasil, até o mês de agosto, fo-
ram mais de 100 mil mortes, atingindo
pessoas de todos os cantos do país. De
acordo com Renato Kfouri, diretor da So-
ciedade Brasileira de Imunizações e pre-
sidente do Departamento de Imunizações
da Sociedade Brasileira de Pediatria este
vírus tem a capacidade de infectar não só
humanos, mas também várias espécies de
animais como morcego, camelos, tatus,
os aquáticos, e por isso são chamados de
vírus zoonóticos.
A potencialidade da transmissão da
Covid-19 está associada na mutação que
as variadas formas de Coronavírus apre-
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
Dr. Renato Kfouri
Diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações e presidente do Departamento de Imuniza-
ções da Sociedade Brasileira de Pediatria.
sentam. Eles se modificam, como todo
vírus, e sofrem mutações, adquirindo
maior força e eficiência de transmissão e
nas ocorrências em humanos.
De acordo com Renato, quando eles
adquirem a capacidade de transmissão
inter-humano, de um humano para hu-
mano, eles rapidamente se alastram, por-
que se trata de um vírus novo. Na ver-
dade, ele é recém-formado, recém-criado
pela natureza e por isso não há anticor-
pos para detê-los.
“Não encontramos, portanto, na po-
pulação, pessoas imunes, que já se ex-
puseram anteriormente a essa forma do
vírus, por isso ele rapidamente se disse-
mina. E eles podem ser mais ou menos
graves, de acordo com a virulência. Por
exemplo, o H1N1 de 2009, pandemia da
gripe, que é o exemplo mais recente que
a gente tem e 10 anos depois, 2019, vem
um outro vírus pandêmico, ainda mais
forte”, explicou Renato.
DISSEMINAÇÃO
O Coronavírus acomete pessoas que
apresentam maior probabilidade de ACE/
ECA – Enzima Conversora da Angioten-
sina – que é um receptor existente em
maior escala em algumas pessoas e me-
nor escala em outras. Essas enzimas se
expressam menos em crianças, em al-
Por Lilian Castilho
guns idosos menos e maior frequência
em adultos e é por ele que o vírus entra
no organismo humano.
Os sintomas de contágio do Corona-
vírus variam muito da forma de entrada
do vírus, uma vez que a porta de entrada
é viabilizada pelo local de presença da
enzima receptora. “Esse receptor existe
em vários lugares no corpo humano. No
intestino, por isso às vezes há a ocorrên-
cia de diarreia, no sistema nervoso; no
bulbo olfativo, ocasionando a perda do
olfato; tem as manifestações neurológi-
cas; no pulmão, por isso tem as doenças
pulmonares, entre várias outras”, expli-
cou o infectologista.
Para Kfouri, não há uma compreen-
são ainda e, talvez essa seja uma das
maiores lacunas do conhecimento, sobre
à imunidade em seres humanos. Algumas
indagações seguem sem respostas, como,
por exemplo, por que algumas pesso-
as não desenvolvem a doença, mesmo
sendo expostas frequentemente, moram,
às vezes em famílias que todos pegaram
Coronavírus, um ou outro não, e a mani-
festação de infecção é zero?
TRATAMENTO DOS EFEITOS COVID-19
De acordo com o infectologista, em
relação ao tratamento, não há nenhuma
droga antiviral específica para o Coronaví-
FOTO: Imagem Ilustrativa/ CanStockPhoto
rus. Os profissionais da saúde têm utiliza-
do corticoides em indivíduos internados,
que estão muito graves, muito inflamados;
anti-inflamatórios; anticoagulantes, na-
queles casos em que o paciente se encon-
tra num quadro muito grave e aumenta o
risco de coagulação; e têm utilizado al-
guns anticorpos artificiais para ajudar.
“Mas vale ressaltar que tudo isso não
é um tratamento para o vírus, é um trata-
mento para as consequências da infecção
viral. Então hoje a gente não conta com
nenhuma droga que iniba o crescimento
viral a reprodução, ou seja, nenhum anti-
viral”, destacou Kfouri.
O profissional explicou ainda que al-
gumas opções farmacológicas, para a con-
tenção do vírus, foram testadas em labo-
ratório como a Cloroquina, Ivermectina,
Doxazosina, que são medicações que se
mostraram, invitro – dentro do tubo de en-
saio – inibidoras do crescimento do vírus.
No entanto, o infectologista ressalta
que o que se vê na prática o que acontece
em laboratório não se reproduz na vida
real, em seres humanos. E é o que os estu-
dos vêm demonstrando. Não há nenhuma
evidência hoje, que alguma dessas drogas
citadas tiveram alguma reação contra o
Coronavírus dentro do laboratório, que na
prática se traduziu em melhora.
“Hoje há muitas evidências de que a
cloroquina e hidroxicloroquina não tra-
zem benefício nenhum no tratamento, na
prevenção, seja na fase inicial ou final, e
tampouco esses vermífugos, que também
demonstraram alguma atividade contra o
vírus em laboratório. Então, infelizmente,
não temos nenhuma droga que seja ca-
paz de tratar ou matar o vírus. Ou seja,
não temos um antiviral”, destacou Kfouri.
IMUNIZAÇÃO
O que resta é o surgimento de vacinas.
A esperança é que surjam imunizantes
que sejam capazes de proteger a popula-
ção ainda não expostas à doença. Partindo
desse público, o Coronavírus encontrará
resistências e obstáculos em sua dissemi-
nação, encontrando pessoas que já tive-
ram a doença, por um lado e outras que
foram protegidas pelas vacinas por outro.
O profissional pontuou ainda que as
vacinas atuais são provenientes de estudos
precursores das outras formas de Corona-
vírus, como Sars e o Mers. “Nós nos vale-
mos de plataformas iniciais de vacinas que
foram desenvolvidas para os outros Coro-
navírus e que foram interrompidas, porque
a doença praticamente parou de circular.
Mas a partir do ponto em que os cientis-
tas já desenvolveram, foi possível retomar
alguns estudos, inclusive com novas plata-
formas de imunizantes”, disse Renato.
Hoje são mais de 140 vacinas em de-
senvolvimento, duas dezenas delas em es-
tudo já em humanos e 5 delas – até 5 de
agosto –, em fase três, ou seja, que já de-
monstrou segurança, já demonstrou a fase
imune e agora estão na fase de eficácia,
analisando a funcionalidade quanto à efi-
cácia protetora para os diferentes grupos.
Segundo Kfouri, “serão verificadas
quanto à proteção em idosos, naqueles
que têm doenças crônicas, qual é a efi-
cácia contra um desfecho, por exemplo,
de hospitalização, prevenção de mortes,
prevenção de formas leves. Então tudo
isso será avaliado nestes estudos da fase
três, para que se possa realmente contar
com uma ferramenta importante no con-
trole da doença, que é a imunização”.
Como todo medicamento gera pos-
síveis efeitos colaterais, o infectologista
explica que a contra indicação, efeito
colateral, vai depender muito da vaci-
na. “Nós temos vacinas em desenvolvi-
mento que são feitas com o próprio vírus
morto, tem vacina com tecnologia de
engenharia genética, temos vacinas que
utilizamos materiais genéticos sintéticos,
mas seguros. Dependendo da plataforma
de desenvolvimento dessas vacinas, nós
vamos ter provavelmente grupos que vão
responder melhor, grupos que terão va-
cinas com componentes vivos e que po-
derão ser contra indicados em gestantes,
pessoas que têm comprometimento com
o sistema imune. Então para cada grupo
vai ter uma vacina que poderá ser melhor
utilizada, tendo uma resposta melhor e
seja mais segura ou menos segura para
algum grupo. Nós temos que aguardar
então, para conhecer, dependendo do
fabricante, do produto, na verdade, dis-
ponível, quais serão as eventuais contra
indicações”, pontuou
Mesmo com as expectativas recor-
rentes, o profissional ainda alerta para
algumas indagações que estão pendentes
de respostas. Quantas doses serão neces-
sárias? Quantas vacinas serão disponibili-
zadas para a população? Qual tempo na
imunização?, entre outras. Consideran-
do tudo isso, Kfouri disse ser importante
aguardar os estudos, o caminhar da ciên-
cia, o acúmulo desse conhecimento, para
a humanidade ter mais informações. Mas
o caminho das vacinas parece ser o mais
promissor no controle dessa pandemia.
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
 matéria
Amazonas é o estado brasileiro com
situação mais crítica pela COVID-19
Presidente do Coren-AM explana situação e aponta cenário desfavorável para a região
FOTO: Acervo pessoal Sandro André Pinto
Diretor do COREN-AM
A
ntes da pandemia, como em
todo o Brasil, o cenário da
Enfermagem já não era favo-
rável No Amazonas, na visão do Conse-
lho Regional da Enfermagem. O estado
sempre teve problemas com o número
insuficiente de profissionais, equipamen-
tos de proteção individual e uma estrutu-
ra precária de serviços.
Segundo o presidente do Coren-AM
e enfermeiro Sandro André Pinto, com
o alerta do Ministério da Saúde, sobre
a chegada da pandemia, a iniciativa da
categoria foi de apresentar, junto às au-
toridades, as alternativas e soluções que
poderiam ser implementadas junto às se-
cretarias de saúde, buscando a segurança
dos profissionais e assistência de qualida-
de para a sociedade.
“Expedimos diversas recomendações
de maneira antecipada, como a neces-
sidade de contratação emergencial de
profissionais, o oferecimento de EPIs
em quantidade e qualidade suficientes,
além de capacitação para o manejo dos
pacientes infectados. Outro ponto que
merece destaque foram as reuniões que
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
Por Lilian Castilho
Sandro André Pinto
promovemos juntos aos gestores das ins-
tituições de saúde, solicitando imediato
afastamento dos profissionais pertencen-
tes à grupo de risco”, enfatizou.
Expedimos diversas No entanto, a gravidade que os
alertas das recomendações representa-
recomendações vam não foi compreendida pelas auto-
de maneira ridades competentes e, o que se pode
ser visto foi a grande evidência do
antecipada, como rápido colapso que o sistema de saú-
de do Amazonas sofreu. “Daí, foi luta
a necessidade contra o tempo, principalmente para
de contratação nós do Coren-AM, que tomamos, junto
aos profissionais, a linha de frente das
emergencial de ações e das iniciativas de combate à
pandemia no Estado.
profissionais, o Sandro explica ainda que eles acio-
naram os Ministérios Públicos Federal e
oferecimento de Estadual, Ministério da Saúde, Conselho
EPIs em quantidade Federal e a própria Justiça Federal, para
fazer cumprir as recomendações estipula-
e qualidade das. Nesse momento crucial, a imprensa
local e nacional foram grandes aliadas,
suficientes... principalmente mostrando a realidade e
a situação dos profissionais e das insti-
tuições de saúde, corroborando todas as
nossas ações.
FOTO: Imagem Ilustrativa/ ShutterStock
Além dessas medidas, foram promo-
vidas diversas outras, como a arrecada-
ção e doação de EPIs, que foram distribu-
ídos tanto na capital como nos interiores
mais longínquos do Estado. “Pactuamos
também um termo de cooperação téc-
nica e adoção de EPIs com o Conselho
Federal de Enfermagem, que encami-
nhou para os profissionais do Estado do
Amazonas mais de 20 mil máscaras do
modelo N95, principal equipamento de
combate e de maior reivindicação pelos
profissionais”, ressaltou o presidente do
Coren-AM.
O profissional lembrou ainda que
essas iniciativas deram um certo tempo
para o Governo do Estado e as prefeitu-
ras se organizarem, evitando assim uma
catástrofe maior.
Depois disso, passaram a monitorar
todas as ações e hoje o Conselho conta
com uma certa estabilidade, longe do
ideal, inclusive, de uma estrutura adequa-
da de assistência aos pacientes e de segu-
rança aos profissionais da Enfermagem,
mas, diariamente eles buscam cumprir a
missão de órgão fiscalizador, visando a
proteção da sociedade e da valorização
dos auxiliares, técnicos e enfermeiros.
Todo esse esforço, dedicação e traba-
lho corroboram para as maiores lutas da
classe, por condições dignas de trabalho
como dimensionamento de pessoal, ou
seja, número adequado de profissionais,
para oferecimento de uma assistência
segura e de qualidade para a sociedade,
evitando assim a sobrecarga de traba-
lho, além de um piso salarial adequado
e justificável, pela importância e essen-
cialidade que o serviço de enfermagem
representa dentro da estrutura de saúde
do País, assiduidade de pagamento de
salários, carga horária de trabalho jus-
ta, locais de repouso com o mínimo de
dignidade, e talvez a principal delas: se-
gurança nos locais de trabalho, porque,
além de todas as dificuldades existentes,
os profissionais diariamente são vítimas
de todo o tipo de agressão.
CONTINGENCIAMENTO DE MORTES
No início da pandemia, uma das si-
tuações mais drásticas vivenciada pelos
profissionais amazonenses era justamen-
te a falta de EPIs, o quantitativo insufi-
ciente de profissionais para o atendimen-
to da grande demanda de contaminados
e a ausência de treinamento necessário
para manejo de pacientes.
Isso ocasionou um elevado número
de profissionais que se contaminaram
no ambiente de trabalho e contamina-
ram seus familiares. “O pior de tudo isso
foi ver colegas, profissionais e seus fami-
liares ficarem sem qualquer assistência
diante do colapso da rede pública de
saúde. A evidência disso foi o grande
número de óbitos de profissionais da en-
fermagem no Estado e em todo o Brasil”,
lamentou Sandro.
Tudo isso trouxe uma realidade severa
aos profissionais da saúde, contribuindo
para que o Amazonas fosse considerado
o estado com o maior número de profis-
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
matéria
sionais vítimas da COVID-19. Um dos fa-
tores apontados pelo presidente do Coren
foi exatamente a fragilidade que o sistema
de saúde do Estado já apresentava.
O outro fator foi da própria população
que ofereceu resistência aos avisos sanitá-
rios, como o respeito ao distanciamento
social e ao isolamento domiciliar. Somado
a esses fatores, a falta de EPIS, número in-
suficiente de profissionais e do treinamento
necessário ao combate da Covid-19, poten-
cializaram os casos e, consequentemente,
o grande índice de mortes e de hospitaliza-
dos, entre esses os profissionais de saúde.
Sandro apontou ainda outro fator
determinante para o estado Amazonas
apresentar o maior número de mortes de
profissionais da enfermagem. Além da
fragilidade do sistema de saúde e a baixa
adesão da população ao distanciamento
social e ao isolamento, a existência da
Zona Franca de Manaus, que é um canal
de importação e exportação, foi um faci-
litador de trânsito de pessoas e mercado-
rias de outros países. “A logística também
considero um fator essencial, pois, temos
dificuldade de chegada de insumos e
equipamentos por outras vias senão aé-
rea, em razão da ausência de estradas e
rodovias na região amazônica”.
Para potencializar ações de contin-
genciamento das mortes dos profissio-
nais, todas as ações do Coren-AM foram
alinhadas de acordo com as diretrizes
expedidas pela OMS, Ministério da Saú-
de e Conselho Federal. Sandro acres-
centa “buscamos pautar todas as ações
nessas premissas técnicas e ajustando-as
à nossa realidade, dialogando com as
secretarias estaduais e municipais, sem
esquecer dos profissionais indígenas e
ribeirinhos. Continuamos com esse pa-
pel de articulação, agora, principalmen-
te com a classe política e autoridades
locais, buscando recursos e recomen-
dando ações pontuais em instituições de
saúde, na capital e interiores”.
PERSPECTIVAS
O Coren-AM sempre buscou estar
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
junto aos profissionais na linha de frente.
Quando todos os estabelecimentos co-
merciais e públicos fecharam as portas, o
Conselho ficou de portas abertas e inten-
sificou as fiscalizações.
Mostrou aos profissionais estar sem-
pre à disposição e em todas as circuns-
tâncias sempre presentes. Além disso,
através das nossas ações do Conselho,
foi destacado o compromisso que a en-
fermagem tem com a sociedade. Isso sem
dúvida transmitiu confiança não somente
A missão do aos profissionais, mas, aos pacientes e
Coren-AM é uma para a população.
Para manter a confiança e a qualida-
luta constante por de dos serviços e atendimentos, apesar
das adversidades estruturais e finan-
melhores condições ceiras, “entendemos que é necessário
de trabalho, manter todas as diretrizes sanitárias dos
protocolos estabelecidos pelo Ministé-
segurança, rio da Saúde, além da continuidade da
oferta de EPIs em quantidade e qualida-
dignidade de suficiente aos profissionais, além da
e respeito à testagem regular por exames PCR e teste
rápido dos profissionais e da população,
categoria. Para a e os estabelecimentos de saúde devem
manter um programa de educação per-
Enfermagem o pôr- manente das equipes de saúde e a ma-
nutenção das equipes de enfermagem
do-sol não significa como contingenciamento para eventual
o fim de um dia, e aumento de número de contágio”, refor-
çou Sandro.
sim a realização O presidente do Coren-AM lembrou
ainda que, apesar de toda essa situação
da metade de vivenciada, o Conselho sempre estará ao
uma missão que lado dos profissionais e sempre defende-
rá os seus interesses, buscando a valo-
sempre estará em rização profissional, o reconhecimento
perante a sociedade e diante das auto-
andamento. ridades públicas, mostrando e enfatizan-
do o protagonismo que auxiliar, técnico
e o enfermeiro representam para o sis-
tema de saúde do Estado do Amazonas
e do Brasil. “A missão do Coren-AM é
uma luta constante por melhores condi-
ções de trabalho, segurança, dignidade
e respeito à categoria. Para a Enferma-
gem o pôr-do-sol não significa o fim de
um dia, e sim a realização da metade de
uma missão que sempre estará em anda-
mento”, encerrou.

Recordar é viver: Profissionais da enfermagem
que perderam suas vidas para fazer história na
linha de frente contra o Coronavírus
O
Brasil ultrapassou a mar-
ca das 100 mil mortes
por COVID-19 no mês
de agosto. O vírus é um dos mais le-
tais entre as pandemias desde o iní-
cio da humanidade. A SARS-CoV-2,
a doença chamada de COVID-19 e
popularmente conhecida como Co-
ronavírus, é potencialmente fatal e
representa o mais importante proble-
ma mundial de saúde pública dos úl-
timos 100 anos, comparado apenas
com a gripe espanhola que matou
cerca de 25 milhões de pessoas en-
tre 1918 e 1920.
No Brasil, assim como no mundo,
os números representam milhares de
vidas ceifadas, famílias que perderam
pais, mães, cônjuges, filhos, avós,
amigos e colegas. Simbolizam o lado
obscuro de uma doença avassaladora,
que mostra o quanto a vida é frágil e,
o mais importante, o quanto devemos
preservá-la, protegê-la e assegurar a
sua integridade!
Para isso, a população conta com o
trabalho intensivo dos profissionais da
saúde, médicos, enfermeiros, técnicos
e auxiliares de enfermagem que atuam
com toda dedicação, esforço e traba-
lho árduo na tentativa de minimizar os
efeitos desse vírus na sociedade.
Contudo, a COVID-19 tem sido
implacável contra esses verdadeiros
“heróis”, os profissionais da saúde,
que atuam na linha de frente, colo-
cando em risco a própria vida, para
trabalhando no amplo limite de seus
em memória
Por Lilian Castilho
objetivos e salvarem vidas ou ao má-
ximo resguardá-las.
Esses profissionais da saúde são, aci-
ma de tudo, pessoas que acreditaram e
acreditam no trabalho como caminho
para assegurarem outras vidas. Nes-
te momento difícil, o povo brasileiro
...o de ser sempre percebe ainda mais o quanto eles são
importantes nas ações de contingencia-
um ser humano mento e na preservação à vida!
melhor e quando Neste ponto, destacam-se os profis-
sionais da enfermagem, que entram para
se fala de cuidado a história, protagonizando as ações na
busca incessante do tratamento, do alívio
profissional, da dor, objetivando o atendimento altru-
principalmente da ísta em busca da cura à vida humana.
Muitos deles, inclusive, acabaram
saúde, de que se perdendo suas vidas, num gesto de
amor ao próximo, numa certeza ím-
deve cuidar do par de que a única coisa a se fazer,
outro como você como profissional, é lutar até o fim
para que a vida humana seja coloca-
gostaria de ser da sempre em primeiro lugar.
Lutar contra o tempo, contra as
cuidado, com amor dificuldades físicas, psíquicas, mate-
riais, estruturais, entre tantas outras
e que se saibam situações que colocam e colocaram
olhar nos olhos do à prova qualquer força e fé na luta
contra essa doença.
enfermo e entender Com esta realidade, famílias vão
perdendo seus entes queridos, que
a sua dor. se veem, muitas vezes, na contramão
do que a sociedade vem propagan-
do, em relação aos cuidados contra
a COVID-19. É pensando nestes pro-
fissionais que a matéria tem como
dever prestar homenagem a esses ad-
miráveis profissionais.
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
 em memória
Homenagem aos heróis de frente de batalha
FOTO: Acervo pessoal Maria Aparecida Duarte
E
m tributo a todos os profissionais
da enfermagem que perderam
suas vidas nesta batalha, a filha
de Maria Aparecida Duarte, auxiliar de
enfermagem, que atuou por 20 anos na
Prefeitura de Carapicuíba, na grande São
Paulo, relatou brevemente a história da
sua mãe, destacando que ela acreditou
até o fim e ensinou sobre o valor da vida,
o valor da palavra família e mostrou a im-
portância da sua atuação neste período
na tentativa de salvar vidas.
Andreza Silva Costa Reina lembra
que a mãe contraiu o vírus em abril, em
apenas um plantão, depois de voltar de
um afastamento de 14 dias por conta da
diabete e pressão alta.
“Minha mãe sempre foi uma pessoa
alegre, uma pessoa que tinha prazer em
trabalhar, pois mesmo já aposentada, fa-
FOTO: Acervo pessoal Daniele Machado da Costa
D
aniele Machado da Costa,
Técnica de Enfermagem, foi
outra vítima da COVID-19. A
profissional trabalhava na UPA Austin, em
Nova Iguaçú, no Rio de Janeiro e perdeu
a vida acreditando que ajudar as pessoas
valia mais do que tudo. Atuou por 21 anos
e foi salvando vidas que teve a sua perdida
pelo destino.
Segundo a irmã, Tatiane Costa, Daniele
contraiu a doença em abril, quando traba-
lhava no plantão no Samu, no Rio de Janei-
ro. Tatiane conta que a irmã sempre atuou
com muita intensidade e dedicação e, pos-
terior à pandemia, passou a ter medo, preo-
cupação, mas que mesmo assim não parou
de trabalhar e que seu trabalho era impor-
tante no enfrentamento do Coronavírus.
“E foi o que ela fez. Enquanto viva,
minha irmã sempre mostrou que trabalhar
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
zia questão de prestar seus serviços com
honra, orgulho e muita dedicação”, disse
Andreza.
Todo personagem deixa um legado
e Maria Aparecida deixa o exemplo de
mulher batalhadora que correu atrás dos
ideais, mesmo com dificuldades. Nunca
desistiu do trabalho, nunca desistiu da fa-
mília e que a base de tudo é Deus.
“Seguir em frente agora tem sido uma
luta diária, pois, sem ela, ainda me vejo
perdida, desacreditada de tudo. Eu não
consigo acreditar em tudo o que aconte-
ceu, não acredito que estou sem minha
mãezinha, pois ela era a espinha dorsal
da família, mesmo com seus filhos adultos
e todos casados. Ela já era bisavó e agora
uma neta que está a caminho, e como ho-
menagem linda à minha mãe, se chamará
Maria Alice”, enalteceu Andreza.
era essencial e nos ensinou que temos que
valorizar mais a nossa vida e aproveitar ao
máximo as pessoas que amamos. Com a
sua partida, muitas pessoas viram o quan-
to essa doença é traiçoeira, e que o trata-
mento logo na descoberta da doença faz
toda a diferença”, enfatizou Tatiane.
Antes de partir, Daniele dedicou a vida
à profissão que escolheu, ela amava o que
fazia, tinha prazer em ajudar quem fosse pre-
ciso. Em um vídeo dela postado no facebook,
segundo a irmã, ela falou que não iria parar,
que iria até o fim, para ajudar as pessoas.
Deixou os pais, sobrinho (que era a
vida dela), irmãos, primos, tios e avó que
não se conformam por tê-la perdido. Ela re-
fletia uma alegria e um sorriso encantador
e energia contagiante. “A saudade dela dói
demais. Só Deus sabe a dor de não a ter
mais com a gente”, finalizou Tatiane.
 O
utra heroína que perdeu a batalha contra o Corona-
vírus foi a Técnica de enfermagem Elizabete Maria
Cantilino Faria. Quem conta a história dela é o co-
lega de trabalho, Vanderlan Eugênio Dantas, Técnico em enfer-
magem em uma empresa da região metropolitana de São Paulo.
Elizabete apresentou os primeiros sintomas da doença no
fim do mês de maio, trabalhando. Começou a sentir vários sin-
tomas como calafrios, dor no corpo, cansaço físico, temperatura
corporal alta, cefaleia temporal, fadiga e dor no corpo. Imedia-
tamente foi procurar a medicina do trabalho, onde foi realizado
teste rápido e swab nasal e encaminhada para casa.
De acordo com Vanderlan, Elizabete relatava que o isola-
mento social foi uma situação bastante difícil, pois, preocupada
com todos ao seu redor, ela teve que tomar todos os cuidados
devidos para não contaminar a família e os vizinhos, mas tam-
bém se sentiu muito bem acolhida por todos da família e vizinho
da sua residência.
Segundo Vanderlan, a Elizabeth sempre foi uma pessoa bas-
tante religiosa e cumpria seu trabalho, acreditando na proteção
divina à sua vida e a de seus familiares. Ela dizia que ao cumprir
a sua missão no mundo, iria feliz por ter alcançado o propósito
de Deus na sua vida.
“Ela nos ensinou que sempre devemos estar preparados para
enfrentar qualquer que seja a situação, sendo sempre um profis-
sional que trabalha de forma ética e cumpridora de suas tarefas,
conforme a regulação e legislação do conselho de classe e respei-
tando, acima de tudo, a vida do ser humano, pois ele tem uma his-
tória a ser contada, preservada e respeitada com zelo e carinho”,
disse Vanderlan.
Outras memórias
N
o enfrentamento contra o Coronavírus, Elizabete lu-
tou bravamente para preservar e salvar vidas. Van-
derlan lembra de outros importantes profissionais
que tiveram as vidas ceifadas e que também são recordados pela
bravura, dedicação e credibilidade em suas ações.
Citou, a exemplo, o Técnico em enfermagem, Sandro Feito-
sa de Albuquerque, 50 anos, natural de Iguapólis, Pernambuco,
que trabalhava em São Paulo, e procurava atender os pacientes
com empatia e com uma alegria contagiante. Sempre será lem-
brado pelo seu profissionalismo e coleguismo.
A Técnica de enfermagem, Fausta Mayane Lima Bandeira,
32 anos, faleceu no dia 5 de agosto 2020 e lutou quase um
mês contra a COVID-19. Uma profissional ímpar em seus aten-
dimentos e também com os colegas de trabalho, era de uma
alegria constante.
Leandro de Oliveira Lima, Técnico de enfermagem, integra-
Elizabete deixou um legado aos seus colegas de profissão,
o de ser sempre um ser humano melhor e quando se fala
de cuidado profissional, principalmente da saúde, de que se
deve cuidar do outro como você gostaria de ser cuidado, com
amor e que se saibam olhar nos olhos do enfermo e entender
a sua dor.
“Ela não nos ajudou apenas com as questões éticas e
com as preocupações de cuidado com a forma adequada de
trabalho com o doente, mas, principalmente, pelo carinho,
zelo e compreensão quanto a dor de cada familiar. A cada
momento que perdia-se um paciente ou um colega de tra-
balho, havia uma tristeza interior, pois também lembra-se de
todos os que deixamos em casa. Tínhamos certeza que não
importava a dificuldade e que ali estávamos, porque fomos
escolhidos para fazer o melhor e participarmos de um plano
maior elaborado por Deus. Tivemos tristezas, choramos com
as perdas, mas também nos alegramos porque alcançamos
muitas vitórias, quando nossos pacientes saiam de alta e aí
também havia uma comoção de choro, mas um choro de
uma realização profissional, ou seja, uma vitória alcançada”,
lembrou Vanderlan.
Toda e qualquer perda é impossível de ser superada, ainda
mais em se tratando de uma pessoa como Elizabete. De acordo
com o colega de trabalho, seu falecimento, com certeza, é um
dano irreparável. No momento há um turbilhão de sentimentos
incompreensível, que precisa de um tempo para ser digerido.
Resta a saudade de uma pessoa profissional que fazia tudo com
amor e dedicação e esse ato de heroísmo sempre irá prevalecer
nos corações de seus familiares.
va o Serviço Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) de Ita-
pecerica da Serra e faleceu em 6 de agosto de 2020. Mais co-
nhecido como Papai Noel, era considerado assim pelos colegas
de trabalho do Samu. Em trajetória, esse profissional contribuiu
para a reabilitação de muitos pacientes, sempre com alegria, de-
dicação, zelo, respeito e muito carinho. A COVID-19 não levou
só ele, levou também no mesmo dia a sua mãe, ou seja, foram
duas perdas no mesmo dia para a mesma família.
“Citei esses nomes que são de pessoas conhecidas, mas gos-
taria de deixar a minha homenagem a todos os profissionais de
saúde, que faleceram nessa guerra da COVID-19 e que seus no-
mes, com certeza, não serão passados em vão. Porque o nosso
Deus será misericordioso com todos vocês, que devem ter sido
recebidos de braços abertos por esse ato de heroísmo. O herói
ou heroína que não fugiu da batalha e lutou bravamente até o
fim. Gratidão eterna”, finalizou o profissional.
Revista Nursing, 2020; 23 ((269)
em memória
Sobrevivendo na linha de frente
A
Enfermeira Angélica Silva Ramos Chaves, de 49 anos,
conta sua história de sobrevivência, apontando as di-
ficuldades, preocupações e dúvidas deste momento
incerto da saúde brasileira. Formada há 12 anos, já foi intensivista
no Hospital Barra D’Or e do Hospital Estadual Carlos Chagas.
Hoje atua no Hospital Pasteur, todos na cidade do Rio de Janeiro.
A Enfermeira conta que contraiu a doença em abril deste
ano, não sendo a forma mais grave. No entanto, ficou bastante
debilitada. “Fiquei quatro dias isolada em meu quarto, sendo
cuidada pelo meu marido. Hoje já estou recuperada, mas fiquei
uns dois meses com muito cansaço, mesmo com o mínimo de
esforço possível.
Segundo Angélica, a enfermagem tem um papel muito
importante em frente à COVID-19, pois são incansáveis pro-
fissionais que, mesmo diante do caos, dão suporte à equipe
multidisciplinar, traçando condutas, coordenando equipes de
enfermagem e, acima de tudo, lutando para salvar cada pacien-
te infectado.
Ela ressalta que o Sistema Único de Saúde já vem apresen-
tando problemas estruturais, hospitais lotados, falta de insumos,
falta de leitos em UTIs, falta de respiradores e condições para
o profissional trabalhar. A população sofre sem atendimento,
"A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la como
arte, requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão
rigoroso, quanto a obra de qualquer pintor ou escultor; pois
o que é tratar da tela morta ou do frio mármore comparado
ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É
uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes!"
Florence Nightingale
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
sem testagem para melhor tratamento, muitas vidas poderiam
ter sido salvas.
“Todos nós, profissionais da saúde estamos muito sensibi-
lizados e apavorados com o caos em que vivemos. Manter a
saúde mental é um desafio, pois é necessário manter todos in-
formados com fontes fiéis, não compartilhar fakenews, evitar o
pânico, manter a conexão com a família, entre outros”.
Para os profissionais da Enfermagem, que sempre sofrem
com a desvalorização da classe, assumir o protagonismo da li-
nha de frente, faz com que a população perceba ainda mais o
papel importante de cada um no enfrentamento do Coronavírus.
As homenagens, de certa forma, acabam estimulando, enalte-
cendo e dando mais visibilidade aos enfermeiros.
O reconhecimento desses profissionais é tão necessário
quanto a percepção de que, a maioria da população estará,
cedo ou tarde, nas mãos deles. Para que eles exerçam sempre
o seu melhor em prol do ser humano, que sejam valorizados e
reconhecidos a todo tempo. Aplausos de pé para esses profis-
sionais que celebram a essência humana com tanto empenho,
dedicação e entusiasmo, apesar de todos os riscos e a despeito
de muitos detratores. Gratidão à enfermagem que tanto trabalha
com afinco e com amor pela vida humana.
R E F E R Ê N C I A
Q U E V E M
D E N O M E.

1. FORMAÇ Ã O M A I S RÁP I D A
de te cido de gran u l aç ã o.1

2. MELHORA NO S E S C O RE S
de classificação do leito da ferida.1

3. MELHORE S TA X AS
de cicatr izaç ã o.1

1. Waycaster CR, Gilligan AM, Milne CT. Pressure ulcer treatment in a long-term care setting: wound bed healing with clostridial collagenase ointment versus hydrogel
dressing. Chronic W Care Manag Res. 2014; 1: 49-56.

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Enfermeiros assumem importante papel na
batalha contra o coronavírus
FOTO: Acervo pessoal Francisco Antônio da Cruz Mendonça
P
rofissionais da Enfermagem as-
sumiram o protagonismo na li-
nha de frente no enfrentamento
contra o Coronavírus. Com profissionalis-
mo, bravura e dedicação, escancaram à
sociedade a importância do papel desses
agentes no contingenciamento da Co-
vid-19 e, mais ainda, na proteção e res-
guardo da vida humana. Atuam além dos
limites, acreditando que todo esforço é
válido na tentativa de recuperar a saúde
e salvar vidas.
Nem mesmo os riscos inerentes ao
contato com os pacientes os distan-
ciam da satisfação em continuar fa-
zendo o que mais gostam: cuidar das
pessoas. Com dedicação, coragem,
força, fé e esperança, eles levam aos
pacientes o alívio e apoio emocional
que tanto precisam para encarar a do-
ença e se curar.
A luta dos enfermeiros no combate à
Covid-19 é incessante e os profissionais
trazem uma perspectiva dos trabalhos de-
senvolvidos por eles nesta pandemia. Um
dos trabalhos mais incríveis e admiráveis
para os cuidados com os pacientes se
inicia desde o nascimento de bebês com
suspeitas da doença.
Francisco Antônio da Cruz Mendon-
ça, Enfermeiro especialista em Saúde da
Família e atuante como Enfermeiro Assis-
tencial da Maternidade Escola Assis Cha-
teaubriand e Centro Universitário Estácio
do Ceará falou um pouco sobre essa re-
alidade, exemplificando com o trabalho
realizado em seus ambientes de atuação.
Segundo o Enfermeiro, no começo da
pandemia, a UTI Materna foi reservada
para receber apenas pacientes com suspei-
ta ou com diagnóstico de Covid-19, com
a finalidade de diminuir a transmissão da
doença entre outros pacientes do hospital.
“Como não estava sendo permitido a
visita na UTI por conta do novo coronaví-
rus, para diminuir o distanciamento entre
o recém-nascido e os familiares, a equi-
pe médica, diariamente, realiza ligações
para eles dando informações do quadro
clínico dos pacientes”, relatou Francisco.
O profissional ressalta ainda que os
profissionais de Enfermagem são funda-
mentais dentro do sistema de saúde, pois
estão conduzindo o tratamento com a
equipe multiprofissional desde o mo-
mento da admissão até a alta hospitalar.
Os enfermeiros, técnicos e auxiliares de
enfermagem ganharam tamanha visibili-
dade com destaque na mídia nacional e
internacional no enfrentamento de gran-
des desafios como a pandemia do novo
linha de frente
Por Lilian Castilho
coronavírus. Em tempos de outrora, nun-
ca se ouviu falar tanto da importância da
Enfermagem no sistema de saúde.
No cotidiano, os profissionais de
saúde enfrentam em seu ambiente de
trabalho diversos acontecimentos que
podem afetar seu desempenho profis-
sional, dentre eles, o medo, a morte, o
cansaço físico e sobretudo o cansaço
emocional pelo fato de ser uma doença
nova, com caráter perigoso, a qual pode
o paciente evoluir, gravemente, de forma
bem rápida.
“Esse período, em que estamos pas-
sando, de incertezas que essa pandemia
trouxe, nos mostra como devemos nos
fortalecer no ambiente de trabalho com
a nossa equipe, bem como com nossa fa-
mília”, pontuou Francisco.
Essa visão é acompanhada pela Enfer-
meira gerontologista e mestre em Ensino
em Ciências da Saúde, docente do Centro
Universitário de Saúde do ABC, conselhei-
ra do Coren-SP, Erica Chagas Araújo, que
afirma que a enfermagem é a profissão da
saúde que passa 24 horas por dia, 7 dias
por semana, ao lado dos pacientes.
A pandemia da Covid-19 aumentou a
exposição dos profissionais de enferma-
gem a condições excessivas de trabalho,
ao contato com pacientes infectados, a
utilização de aparatos complexos de EPIs
e principalmente à incerteza quanto o
curso natural da doença e seu prognós-
tico. Preocupado com os efeitos da pan-
demia, o Coren-SP e a Universidade do
Oeste Paulista (Unoeste) lançaram a pes-
quisa “O Impacto da Pandemia Covid-19
na Saúde Mental dos Profissionais de En-
fermagem do Estado de São Paulo”.
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
FOTO: Comunicação Coren-SP
Com esses resultados, o conselho
terá elementos para traçar medidas de
enfrentamento e de fortalecimento da
enfermagem. Além disso, o conteúdo de
aprimoramento profissional viabilizado
pelo Coren Sem Fronteiras, discutindo a
temática e as dúvidas sobre a pandemia,
auxiliou os profissionais em sua atuação.
O papel acolhedor da enfermagem para as
vitórias e reconhecimentos
FOTO: IAcervo pessoal Mariana Camargo Tanaka
A enfermagem paulista, com suas
cerca de 600 mil inscrições ativas,
corresponde a quase um quarto dos
mais de 2.300.000 profissionais bra-
sileiros, que são a maior força de tra-
balho da saúde do país. Pela natureza
de suas funções, centrado no cuidado
direto aos pacientes, e pelo grande
contingente de trabalhadores, a en-
fermagem representa a maior força de
trabalho na linha de frente do enfren-
tamento à pandemia.
A enfermagem tem um papel de
orientação em seus cuidados e dessa for-
ma os profissionais continuarão seguindo
com suas funções, baseadas em aspectos
éticos e técnico-científicos. Entretanto,
cabe a toda sociedade conscientizar-se
cada vez mais sobre a gravidade e os im-
pactos da pandemia, pois a informação
oficial e correta também está ao alcance
de todos.
Toda a sociedade precisa ter cons-
ciência de seu papel individual e co-
letivo para combater a pandemia, de
forma a favorecer a saúde e o bem-es-
P
ara Mariana Camargo Tanaka,
Enfermeira, formada pela Uni-
versidade Federal de Mato
Grosso, atual Responsável Técnica pela
UPA – Verdão, referência em tratamen-
to para COVID-19 na cidade de Cuiabá,
Mato Grosso, a enfermagem traz toda
uma diferenciação no tratamento do
Coronavírus.
O papel dos profissionais é impor-
tante, pois, além de tudo, traz todo um
cuidado, uma aproximação junto ao
paciente, que já é característico dos
profissionais da enfermagem, o que via-
biliza o êxito alcançado.
Mariana lança um olhar diferencia-
do sobre a enfermagem neste momento.
tar da população. É importante o dire-
cionamento assertivo do Estado e que
todos fazendo o seu melhor superare-
mos essa realidade.
“O SUS é um exemplo internacional
de facilitação de acesso aos serviços da
saúde para a população. É essencial que
haja um financiamento e uma organiza-
ção adequadas para que a enfermagem
e todos os profissionais de saúde tenham
condições corretas de trabalho e para
que toda a população conte com serviços
de qualidade. Acredito que a pandemia
trouxe visibilidade a importância do SUS
e da atuação da Enfermagem nesse cená-
rio”, pontuou a profissional.
Ainda que a enfermagem tenha con-
tato direto com a morte dos pacientes em
seu cotidiano, a pandemia da Covid-19 é
uma situação sem precedentes, que afe-
ta também os profissionais, devidamente
preparados e capacitados. Pela exposição
constante ao vírus, os profissionais de en-
fermagem estão sujeitos a uma alta conta-
minação e certamente o medo é um fator
constante.
Para ela, apesar das mortes, há também
importantes superações. A força da en-
fermagem faz essa mobilização, via-
bilizando a recuperação das pessoas,
fazendo com que elas lutem pelas suas
vidas, e consigam sobreviver a tudo
isso.
“Cada vitória que a gente tem é
muito comemorada. A gente faz fes-
tinha, traz balão, traz cartaz, a gente
comemora, principalmente se a pessoa
sofreu muito, se era muito idosa. Cada
vitória é comemorada por si só, pois a
gente viu o quanto ela sofreu, o quan-
to ela lutou pela sua vida e o quanto
ela contou com o apoio da equipe de
enfermagem. Quando há perdas, o sen-
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
 linha de frente
FOTO: Imagem Illustrativa/ CanSotockPhoto
FOTO: Acervo pessoal Wender Sandro Amorim Oliveira
timento de luto transpõe a nossa sen-
sação de incapacidade, de ineficiência
e a absorção desta situação é lenta,
porém superada com o instinto de que
devemos e podemos sempre fazer mais
e melhor para que outras vidas sejam
salvas”, ressalta a enfermeira.
A enfermagem nasceu como prá-
tica social ligada aos elementos que
compõem a existência e a vida huma-
na em todos os parâmetros, na questão
da prevenção, promoção e reabilitação
da saúde. A atuação dos profissionais
é o alicerce que sustenta a camada do
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
medo, mas, essencialmente, da cora- vitória conquistada, ciente de que o pa-
gem em atuar para a recuperação e ma- ciente e sua vontade de viver venceram
nutenção de vidas. o vírus devastador. “A felicidade de uma
O enfermeiro Wender Sandro missão cumprida é inexplicável”.
Amorim Oliveira, diz que o medo faz
parte do dia a dia das pessoas em ge-
ral, mas se sente preparado psicolo-
gicamente para cuidar das pessoas e
apoiar a todos que se sentem fragili-
zados com a situação. Trago o princípio
Ele traz uma visão positiva sobre
toda a preparação dos profissionais da do máximo cuidado
enfermagem, ilustrando a realidade do
seu trabalho. O profissional atua a 9
possível, o desejo de
anos e meio em hospital público da ci- fazer a diferença e
dade de Cuiabá, Mato Grosso. Para ele,
por mais que tenha sido um novo desa- sermos reconhecidos
fio, no início os enfermeiros passaram
por treinamentos à medida em que fo-
pela nossa
ram disponibilizadas informações com- importante ação
portamentais do atual vírus.
“Não é fácil, infelizmente cada ser e o cumprimento
humano tem uma ação/reação. Trago o
princípio do máximo cuidado possível, do meu juramento
o desejo de fazer a diferença e sermos
reconhecidos pela nossa importan-
profissional,
te ação (o que infelizmente hoje não embasado em nosso
acontece), e o cumprimento do meu
juramento profissional, embasado em código de ética
nosso código de ética funcional”, des-
tacou o profissional.
funcional.
Wender também se sustenta na con-
fiança em Deus, agradecendo a cada

Fiocruz analisa condições de trabalho na linha de frente da COVID-19
Imagem: Pixalbay
A Fiocruz quer entender como a dinâmica de trabalho afeta
a vida, o corpo e a saúde física e emocional dos profissionais
de saúde que atuam diretamente na assistência e no combate à
Covid-19. Para isso, lançou a pesquisa nacional “Condições de
Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19 no
Brasil”, cujo objetivo é analisar e compreender a realidade de
vida e trabalho dos profissionais da equipe de saúde que atuam
na linha de frente da pandemia. De acordo com o Boletim Epi-
demiológico Especial nº 33 do Ministério da Saúde, até o dia 26
de setembro, foram registrados 322.178 casos de Covid-19 em
profissionais de saúde de todo o país, com 315 óbitos. O link da
pesquisa está disponível no site da Ensp/Fiocruz.
O estudo liderado pela Fundação Oswaldo Cruz permiritá
conhecer a realidade das condições de trabalho dos profissio-
nais na linha de frente da Covid-19. O objetivo é compreender o
ambiente de trabalho, a jornada, o vínculo institucional, a vida
do profissional na pré-pandemia e as consequências do atual
processo de trabalho, envolvendo aspectos físicos, emocionais
e psiquícos desse contingente de trabalhadores. A pesquisa tem
apoio do Conselho Federal de Enfermagem, do Conselho Fede-
ral de Medicina, do Conass, Conasems e diversas instituições e
entidades nacionais.
“Mesmo diante de um cenário de pandemia, observamos de-
núncias e relatos de profissionais que estão em situação de preca-
rização do vínculo de trabalho, salários atrasados, insegurança e
sobrecarga de trabalho que geram stress, adoecimento e desgastes
físicos e psíquicos. Conhecer a realidade desse profissional con-
tribuirá para o direcionamento de ações, estratégias e políticas
públicas que promovam a melhoria das condições de trabalho
notícias
das categorias atuantes no enfrentamento da pandemia do novo
coronavírus. A participação dos profissionais é muito importante
para delinearmos o cenário atual”, afirma a pesquisadora da Fio-
cruz Maria Helena Machado, coordenadora do estudo.
As categorias profissionais com maiores registros dentre os
casos confirmados de Síndrome Gripal por Covid-19 foram téc-
nicos ou auxiliares de enfermagem (109.955), seguidos dos en-
fermeiros (47.339), médicos (33.032), agentes comunitários de
saúde (16.546) e recepcionistas de unidades de saúde (14.024).
Quanto aos óbitos, a distribuição foi da seguinte forma: técnicos
ou auxiliares de enfermagem (107), médicos (62) e enfermeiros
(36). A lista ainda tem cuidador de idosos (20), odontologistas
(18), agente comunitário de saúde (8), atendente de farmácia (7)
e fisioterapeitas (6) (confira a lista completa).
O questionário deve ser respondido on-line e leva de 10
a 15 minutos para ser totalmente preenchido. A identidade do
participante será preservada.
Contexto da Pesquisa
O Brasil conta hoje com um robusto sistema de saúde. O
SUS, com mais de 200 mil estabelecimentos de saúde (ambu-
latorial ou hospitalar), possui cerca de 430 mil leitos e empre-
ga diretamente mais de 3 milhões e 500 mil profissionais da
saúde, sendo 2 milhões de médicos e profissionais que com-
põem a equipe de enfermagem. Na linha de frente do combate
à Covid-19, o universo da pesquisa abarca mais de 1 milhão
de profissionais entre médicos (intensivista, infectologista, pneu-
mologista, radiologista, clínico, cirurgião geral, anestesista, pa-
tologista, generalistas), a equipe de enfermagem (enfermeiros,
técnicos e auxiliares de enfermagem), fisioterapeutas, farmacêu-
ticos, nutricionistas, psicólogos, odontólogos, técnicos de saúde,
agentes de saúde, auxiliares de saúde e pessoal de apoio, que
estão no atendimento da atenção primária em saúde e na rede
hospitalar de referência em Covid-19 em todo o país.
Na Fiocruz, a pesquisa é conduzida pela Escola Nacional
de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) e pelo Centro de Estudos
Estratégicos (CEE), com parceria do Instituto Aggeu Magalhães
(IAM) e do Instituto de Comunicação e Informação Científica e
Tecnológica em Saúde (Icict).
Fonte: Cofen - Conselho Federal de Enfermagem.
Revista Nursing, 2020; 23 (269):
notícias
Fato ou Fake? Estudo analisa desinformação frente à pandemia
98% das denúncias de notícias falsas recebidas em ferramenta de fiscalização se referem à COVID-19
Métodos caseiros para prevenir o contágio da covid-19
(65%) e curar a doença (20%) são as notícias falas mais disse-
minadas nas redes sociais brasileiras, seguidas de golpes bancá-
rios (5,7%), golpes/arrecadações para instituições de instituições
pesquisa (5%) e negacionismo sobre a existência da pandemia,
apresentada como “estratégia política” (4,3%).
As notícias sobre a covid-19 mais disseminadas nas redes
sociais brasileiras são objeto de levantamento e análise de pes-
quisadores da Fiocruz e do Conselho Federal de Enfermagem. O
estudo inédito, realizado a partir das notificações recebidas pelo
aplicativo brasileiro Eu Fiscalizo, foi publicado nesta edição da
Revista Ciência e Saúde Coletiva.
Lançada um mês antes de ser registrado o primeiro caso de
Covid-19 no Brasil, a plataforma que recebia diversas denúncias
sobre conteúdos impróprios para crianças e adolescentes na te-
levisão aberta, por assinatura e serviço de streaming, cinema,
Médica emociona colegas de profissão após superar COVID-19
Recuperada da doença, Rita de Cássia segue na linha de frente do combate à pandemia
São Paulo, outubro de 2020 – Com 35 anos dedicados à
medicina, Rita de Cássia Guimarães Firmino deixou de lado o
jaleco e passou a ser paciente nesta pandemia. Isto porque aos
60 anos, com diabetes tipo 2 e hipertensão arterial, a médica se
viu contaminada pela Covid-19.
No começo, foram apenas sintomas leves, como febre bai-
xa, tosse e dor muscular. Depois dos exames, iniciou o trata-
mento e foi liberada para se recuperar em casa em isolamento
social. Diante de uma piora gradativa do quadro clínico e queda
de saturação, dificultando a respiração, Rita buscou um dos hos-
pitais públicos em que trabalha e rapidamente foi internada por
seus colegas de profissão.
Entubada por 23 dias inconsciente e após dois meses de
internação entre unidade de terapia intensiva e semi-intensiva,
a médica pode dizer que venceu a doença. "Nós, médicos, so-
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
jogos eletrônicos, espetáculos e publicidades, passou a receber
98% de notificações sobre notícias falsas e a Covid-19.
Fake News e Pós-Verdade- O termo fake news se refere à
produção e propagação massiva de notícias falsas, com objetivo
de atrair audiência, induzir a erros e manipular a opinião públi-
ca, para obter vantagens econômicas e políticas. A crescente in-
fluência das fake news sobre o universo offline e o embotamento
da distinção entre a materialidade factual e o caráter subjetivo
das opiniões caracterizam a chamada pós-verdade.
Para os pesquisadores, “em tempos de Covid-19, acontece a
combinação mais perigosa dos dois termos, pois as informações
e orientações que contrariam o conhecimento científico disse-
minam o medo e até a prática de charlatanices, aumentando as
chances de avanço da infecção e de mortes”.
Fonte: Cofen - Conselho Federal de Enfermagem
mos vulneráveis em contato com doenças desde a faculdade.
Enfrentamos várias epidemias, de H1N1, Malária, Meningite.
Sou muito grata aos meus colegas que me permitiram recupe-
rar sem nenhuma sequela. Saio desta situação fortalecida e com
a convicção de que preciso manter o meu legado de cuidado,
seja com meu trabalho ou com meus filhos, afinal duas já são
médicas e tenho o caçula estudando medicina também", conta.
São histórias como esta que marcam o Dia do Médico, ce-
lebrado em 18 de outubro. Já recuperada, Rita retomou as ati-
vidades na AMA 24h Capão Redondo e UBS Integrada Jardim
Capela, administradas pelo CEJAM (Centro de Estudos e Pesqui-
sas "Dr. João Amorim"), na zona sul de São Paulo. O seu retorno
emocionou colegas e a médica segue empenhada em enfrentar
a pandemia por meio de sua profissão.
Fonte: CEJAM, por meio da assessoria de imprensa
 OMS, Ministério da Saúde de Portugal e Johns Hopkins apresentam
perspectivas da saúde pós-COVID

A pandemia do novo coronavírus afetou cada país de um
modo diferente, mas mudou o mundo e a humanidade. Para
dividir as suas experiências pessoais e profissionais no enfren-
tamento da Covid-19, Socorro Gross, médica e representante da
Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da
Saúde (OPAS/OMS) no Brasil, Marta Temido, ministra da Saúde
de Portugal e Marty Makary, professor da Universidade Johns
Hopkins, estarão presentes no Congresso Nacional de Hospitais
Privados ( Conahp ) .
Em 2020, com o tema "Lições da pandemia: desafios e pers-
pectivas para o sistema de saúde brasileiro", o maior congresso
de saúde da América Latina contará com cerca de 100 pales-
trantes (nacionais e internacionais) e será, excepcionalmente,
gratuito, totalmente online e aberto para a participação de toda
a sociedade.
Fonte: Anahp, por meio da assessoria de imprensa

Na última nota técnica da Secretaria de Estado de Saúde do
Rio de Janeiro sobre a pandemia de coronavírus no estado, 98%
da população está em áreas de baixo risco para Covid-19. So-
mente a Região Centro-Sul, cuja população corresponde a me-
nos de 2% do total do estado, encontra-se em risco moderado
de contrair a doença.
Mas o afrouxamento das medidas de isolamento e distancia-
mento social preocupa especialistas como Biomédico Virologis-
ta Raphael Rangel. Para ele, corremos risco de um novo aumen-
to de casos de morte e a possibilidade de um novo lockdown.
"Na semana passada Madri retomou o lockdown por, pelo
menos, 14 dias. O prefeito de Nova York, disse que está se pre-
parando para fechar negócios não-essenciais e também escolas
em nove bairros identificados como focos do coronavírus. A
prefeitura de Moscou determinou o fechamento das escolas por
duas semanas e estendeu as férias do período. Estamos vendo
locais que já passaram pelo pior precisarem regredir, se continu-
armos nesse ritmo, o que nos faz pensar que aqui será diferen-
te?", explica Raphael que é delegado do Conselho Regional de
Biomedicina 1º Região.
O especialista também pode falar sobre a *Covid persisten-
te* relatada por algumas pessoas que já tiveram a doença, mas
estão sentindo os sintomas como cansaço e dores por meses.
Fonte: Assessoria de imprensa do profissional.

Ministério da Saúde investe em carteira de vacinação digital e na

identificação por CPF
Melhorias no aplicativo Conecte SUS Cidadão vão permitir que a pasta monitore as doses da vacina
contra o coronavírus e garanta maior segurança à população imunizada

Para garantir a segurança da população, a agilidade no aten-
dimento e a eficiência dos serviços prestados durante a cam-
panha de vacinação contra a Covid-19, o Ministério da Saúde
está investindo na modernização do Sistema de Informação do
Programa Nacional de Imunização (SI-PNI). Em coletiva de im-
prensa realizada na última quinta-feira (8), o diretor do Depar-
tamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS),
Jacson Venâncio de Barros, anunciou duas frentes de atuação da
pasta: a identificação por meio do CPF do cidadão e do registro
na carteira de vacinação digital.
Fonte: Ministério da Saúde, por meio da assessoria de imprensa

Revista Nursing, 2020; 23 (269)

 vigilância dos óbitos por COVID-19
Vigilância Epidemiológica assegura
proteção em protocolo de ações contra
COVID-19 em casos de óbitos
FOTO: Acervo pessoal Juliana Rodrigues Tovar Garbin
A de notas técnicas
dor da perda de vidas é imen-
surável. A Covid-19 trouxe
ao mundo novas realidades
difíceis de serem vividas, muitas vezes,
de serem compreendidas. Apresenta um
“novo” estilo de comportamento que in-
terfere, inclusive, nos comportamentos
culturais milenares. Em se tratando de
morte pela doença, muitos cuidados de-
vem ser levados em conta, assegurando a
vida dos familiares, amigos, e profissio-
nais agentes da saúde.
Os organismos nacionais e interna-
cionais estipularam normativas que regem
a estrutura e trabalho, em caso de faleci-
mento por Coronavírus. O óbito confir-
mado ou suspeito é uma prioridade na
situação de Emergência de Saúde Pública
de Importância Nacional (ESPIN). O pro-
fissional que atua na equipe de vigilância
dos óbitos possui atuação dentro contexto
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
Por Lilian Castilho
da vigilância epidemiológica e do CIEVS -
Centro de Informações Estratégicas e Res-
postas em Vigilância em Saúde.
Juliana Rodrigues Tovar Garbin, en-
fermeira, atua na vigilância em saúde,
desde 2017, na Secretaria de Estado da
Saúde do Espírito Santo, e é Referência
Técnica em Leishmanioses, Febre Macu-
losa e outras riquetsioses, Esporotricose
Humana e Brucelose atuando na vigilân-
cia em saúde, desde 2017, ilustra como o O trabalho de
trabalho é realizado e aponta quais são as
principais dificuldades encontradas. conscientização é
“O trabalho consiste em receber os
dados sobre os óbitos (sejam eles sus-
realizado através
peitos, descartados ou confirmados), que
são enviados diariamente através de pla-
da construção e
nilhas elaboradas pela equipe estadual de ampla divulgação
vigilância dos óbitos e preenchidas por
profissionais da vigilância em saúde dos
municípios notificantes, bem como dos
hospitais onde o paciente estava interna-
informativas
do e evoluiu à óbito”, fomentou Juliana. direcionadas
Ela ainda acrescentou que, a partir
disso, a equipe investiga e qualifica esses aos profissionais
dados, transformando-os em informação
em tempo real para a população, profis-
de saúde sobre
sionais e instâncias superiores de gestão. a vigilância da
Assim, tomadas de decisões sobre orga-
nização do fluxo hospitalar, leitos de UTI doença..
e outros planejamentos em saúde podem
ser realizados, com embasamento em in-
formações epidemiológicas.
Outro fator importante na atuação da
Vigilância, é atuar alicerçado em emba-
sado nos fatos obtidos através dos dados,
atuar com transparência e transmitir as
informações de forma eficiente e eficaz
aos trabalhos de contingenciamento. Um
 fato interruptor, talvez, que pode influen-
ciar nesta cadeia estrutural é a resistên-
cia da população em aceitar a existência
dessa realidade – o Coronavírus.
De acordo com Juliana, a resistên-
cia da população foi gerada e impulsio-
nada pelo negacionismo científico dos
profissionais de saúde, por políticos que
negaram e subestimaram a gravidade da
doença, e pela constante procura pelas
soluções mágicas de cura, fazendo a po-
pulação acreditar numa terapêutica sem
eficácia comprovada e com efeitos cola-
terais sérios.
“O trabalho de conscientização é
FOTO: Imagem Illustrativa/ CanSotockPhoto
Atestado de óbito
O
Ministério da Saúde elabo-
rou um documento de orien-
tação aos profissionais mé-
dicos sobre a codificação das causas de
morte informadas na Declaração de Óbito
(DO) no contexto da doença pelo Coro-
navírus 2019 (COVID-19). Desta forma,
os atestados são fornecidos sob responsa-
bilidade ética e jurídica pelo profissional
responsável pelo seu preenchimento e
também pelas informações registradas.
Surgiram diversas Fake News relacio-
nadas ao recebimento de verba federal
por cada óbito registrado nos estados
realizado através da construção e ampla
divulgação de notas técnicas informativas
direcionadas aos profissionais de saúde
sobre a vigilância da doença, definição
de caso, critérios laboratoriais e, prin-
cipalmente, acerca do preenchimento
correto e detalhado do sistema de infor-
mação utilizado para notificar os casos de
covid-19, o eSUS-VS”, explicou.
A enfermeira argumentou ainda que
com a pandemia, a demanda pelo traba-
lho da vigilância aumentou consideravel-
mente e o tempo para o preparo desse
profissional foi curto, o que gera falhas no
preenchimento dos campos da ficha de
ou a uma superestimação de óbitos im-
pulsionada por motivos políticos. Trata-
-se de uma informação inverídica, não
correspondendo aos fatos. Os recursos
da União para estados e municípios são
divididos a partir de critérios como o ta-
manho da população e a complexidade
do serviço prestado.
A partir do momento em que o óbi-
to é informado à Secretaria Estadual de
Saúde, os esforços são direcionados para
a consulta à ficha de notificação da co-
vid-19 para coleta de informações mais
detalhadas sobre a data de início dos sin-
notificação e, consequentemente, falha
no levantamento dos dados.
O trabalho começou a ser organizado
a partir do momento em que criou-se a
Sala de Situação para o monitoramento
do Covid-19 no estado no ES, onde di-
versas frentes de trabalho foram criadas:
acompanhamento e digitação dos resul-
tados laboratoriais, apoio estratégico às
vigilâncias municipais, bem como a vigi-
lância dos óbitos. Utilizamos como norte
as portarias e notas técnicas criadas pelo
governo do Estado em parceria com a vi-
gilância em saúde e pelos protocolos do
Ministério da Saúde.
tomas, comorbidades, período de inter-
nação, bem como exames laboratoriais
que comprovem ou descartem o óbito
por COVID-19.
“Caso haja alguma dúvida, solicita-
mos que a equipe de vigilância do mu-
nicípio de residência do paciente faça
uma investigação mais detalhada. Se for
necessário, é realizado ainda o contato
com o médico assistente, com a CCIH
do Hospital para informações contidas
no prontuário da internação ou até mes-
mo com a própria família”, declarou a
enfermeira.
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
 enfermagem solidária
A saúde mental dos profissionais da saúde
ao enfrentamento efetivo da Covid-19
L
FOTO: Acervo pessoal Dorisdaia Carvalho de Humerez
idar diariamente com a in-
constância de emoções, fra-
queza, força, fé, frustração,
perdas e ganhos exige, com toda cer-
teza, um preparo psicológico consis-
tente para os profissionais da saúde,
principalmente àqueles que atuam
diretamente na linha de frente. A pan-
demia do coronavírus trouxe à lucidez
a importância dos profissionais da En-
fermagem no contingenciamento do
novo vírus e, principalmente, para o
atendimento aos pacientes e familia-
res das vítimas.
Atuar com essa montanha russa de
emoções não é tarefa fácil, até para
os heróis dessa batalha. Para trabalhar
apoio emocional aos profissionais de
Enfermagem, a Comissão Nacional de
Enfermagem em Saúde Mental do Co-
fen - Conselho Federal de Enfermagem
FOTO: Acervo pessoal Rosali Isabel Barduchi Ohl
- tem disponibilizado uma ferramenta
que auxilia os profissionais através de
chat, assim, atuando no enfrentamen-
to dessa crise de saúde pública que
está em curso no país.
Diante da pandemia da COVID-19,
o Conselho Federal de Enfermagem –
COFEN determinou junto a Comissão
Nacional de Enfermagem em Saúde
Mental - CONAESM a criação de um
projeto de atendimento a ser realiza-
do por enfermeiros especialistas, mes-
tres ou doutores em Saúde Mental aos
profissionais de Enfermagem que se
encontram na linha de frente da as-
sistência.
A Enfermeira e membro da Comis-
são MEC/COFEN do Conselho Federal
de Enfermagem e membro da Comis-
são Nacional de Enfermagem em Saú-
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
Por Lilian Castilho
de Mental do Conselho Federal de En-
fermagem - CONAESM/COFEN, Dra
Rosali Isabel Barduchi Ohl falou um
pouco mais sobre o planejamento e
implantação do projeto “Enfermagem
Solidária”.
“Esse projeto tem como objetivo
oferecer apoio emocional através da
rede internet (online) aos profissionais
de Enfermagem, Enfermeiros, Técni-
cos de Enfermagem, Auxiliares de En-
fermagem e Obstetrizes, que referem
estar em sofrimento e que desejam
ser atendidos sob o ponto de vista
emocional, no sentido de que esse
atendimento possa amenizar/reduzir
o sofrimento manifesto por esses pro-
fissionais, inscritos no Sistema Cofen/
Conselhos Regionais de Enfermagem
de todo o país”, explicou Rosali.
A profissional acrescentou que o
profissional que está na linha de fren-
te tem que se sentir fortalecido diante
dessa realidade. E para isso, ele deve
contar com as redes de apoio social,
psicológica, espiritual que lhe são
significativas, como a família, profis-
sionais, guias espirituais, e/ou pessoas
significativas que possam lhe conferir
um clima de aceitação, de autentici-
dade e empatia, onde a pessoa possa
ser o que é para que a vida siga seu
curso natural.
A partir do momento que o profis-
sional de Enfermagem consegue com-
preender o que gera seu sofrimento,
poderá buscar ferramentas que propi-
ciem o enfrentamento e sua transfor-
mação.
“Alguns profissionais, nos relatos
dos atendimentos que realizamos no
FOTO: Imagem Illustrativa/ CanSotockPhoto
projeto Enfermagem Solidária, refe-
rem que tem conseguido manter seus
vínculos familiares mesmo diante da
necessidade de isolamento social.
Porém, a maior parte desses profis-
sionais atendidos refere medo do ris-
co de se infectar e consequentemente
infectar familiares, e que diante do
isolamento, a tristeza, a saudade, a
necessidade de afeto, de contato hu-
mano tem desencadeado uma série
de eventos adversos tais como de-
pressão, sensação de vazio, ideação
suicida, insônia, descontrole alimen-
tar, taquicardia, dentre outras”, des-
tacou Dra Rosali.
Além disso, os profissionais re-
latam algumas consequências como
discriminação social, término de rela-
cionamentos afetivos, crise conjugal,
falta de compreensão de familiares
em relação à atuação do profissional,
situações essas que contribuem ainda
mais para o aumento do sofrimento vi-
venciado por esses trabalhadores.
Para a PhD em Enfermagem Psi-
quiátrica, Dra Dorisdaia Carvalho
de Humerez, Coordenadora da Co-
missão Nacional de Enfermagem em
Saúde Mental, os enfermeiros torna-
ram-se principais atores nessa trági-
ca pandemia. Esse protagonismo se
deve pela atuação efetiva, corajosa,
e ininterrupta em todos os locais de
atendimento, nas UTIs, nas UPAs, nas
UBS, na Saúde da Família, nos Caps,
nos Consultórios na rua, enfim todo
espaço de atendimento revelou a im-
portância da Enfermagem na saúde da
população.
Para ela, o Brasil mantém um vício
de origem, ou seja, baixo investimen-
to público em saúde, considerando-se
os três níveis de governo. Hoje o país
vivencia uma forte instabilidade polí-
tica, uma séria crise econômica e so-
cial, agravadas pela pandemia.
“O Estado, a meu ver, necessita
adotar uma posição ativa e interven-
cionista na saúde, na economia e na
política social. O Estado precisa agir
dando orientações, informações e
esclarecimentos oficiais sobre a CO-
VID-19, que sejam coerentes e segui-
das como diretrizes para os estados e
os municípios, para que a população
não receba informações divergen-
tes e possa inferir qual deva seguir.
O Estado tem o papel de programar
ações enérgicas de combate à crise
na saúde e na economia advindas da
pandemia. O cenário requer um pla-
no explícito que garanta a segurança
de vida da população”, argumentou
a Enfermeira.
Não se pode ignorar o subfinan-
ciamento do SUS e as singularidades
dessa pandemia, mas, apesar de todos
os tropeços, o SUS resiste à Covid-19,
o que revela que os profissionais de
saúde atuam na sua máxima potência,
e faz-se necessário lembrar que, na
saúde, o trabalho é fortemente base-
ado em relações, tendo caráter ima-
terial, intersubjetivo, no qual ter o
trabalhador como um simples recurso
ignora que há um forte componente
ético-político que afeta as relações de
cuidado, no campo de relações de po-
der e da subjetivação.
Ela explica que, “os profissionais
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
enfermagem solidária

da Enfermagem, ao se depararem com ses momentos e o sofrimento emocio-

a pandemia, entraram em contato
com o medo, pois estavam diante do
desconhecido, o medo de contrair a
doença, o medo de contaminar os fa-
miliares e ao ver a morte muito mais
presente, pois é muito aumentado o
número de óbitos e, ainda vivenciam
a morte de colegas de trabalho”.
Ao confrontar com a morte dos ou-
tros, o profissional tem inúmeros sen-
timentos desde ansiedade, angústias,
desejo de fuga da realidade, pois ao
constatar a morte do outro, reconhe-
ce constantemente, a possibilidade de
sua morte. Há necessidade dos pro-
fissionais, ao adentrarem nesse novo
campo de trabalho, ressignificarem o
seu papel profissional, com elemen-
tos de reflexão e reavaliação de como
estão se desenvolvendo essas novas
atividades, de modo a que sejam re-
considerados os saberes necessários à
prática profissional, atendendo à es-
sas novas demandas colocadas.
“Os profissionais de Enfermagem
se preparam precariamente para es-
nal fica evidenciado, gerando muitas
vezes, transtornos que poderiam ser
evitados. Por isso o Conselho Federal
Os profissionais de Enfermagem organizou a “Enfer-
magem Solidária”, um liveChat nas
de Enfermagem 24horas/dia, para atendimento dos
se preparam problemas emocionais dos profissio-
nais, decorrentes desse enfrentamen-
precariamente para to”, recordou Dra Dorisdaia.
O contexto de pandemia requer
esses momentos maior atenção ao trabalhador de saúde
e o sofrimento especialmente, no que se refere aos as-
pectos que concernem à saúde mental
emocional fica por conta sofrimento emocional a que
estão submetidos nesse contexto.
evidenciado, “O medo de ser infectada, a proxi-
gerando muitas midade com o sofrimento dos pacien-
tes ou a morte desses, bem como a
vezes, transtornos angústia dos familiares, informações
incertas sobre vários recursos, soli-
que poderiam ser dão e preocupações com entes que-
ridos são aspectos relatados quando
evitados. abordamos o sofrimento emocional e
o adoecimento mental dos profissio-
nais de Enfermagem”, finaliza a pro-
fissional.

Enfermagem Solidária

Ao entrar no site oficial do COFEN (cofen.gov.br) é oferecida uma janela no canto infe-
rior direito da tela que proporciona ao profissional que necessitar e que desejar conversar
com um Enfermeiro especializado em Saúde Mental, estabeleça um bate papo, através de
um chat, a partir do preenchimento de seus dados profissionais, sendo posteriormente en-
caminhado ao atendimento.
Os atendimentos iniciaram em 26 de março, e tem sido realizado 24 horas por dia du-
rante os sete (07) dias por semana. A plataforma permite que até 5 enfermeiros realizem os
atendimentos simultaneamente. A base legal e ética para iniciar os atendimentos será a Lei
Nº 7498/86(9), a Resolução Cofen Nº 599/2018(9) e a Resolução Cofen Nº 564/2017(10).
Já estamos no 5º mês de desenvolvimento do projeto e temos tido um nível de satisfação
de 88% nos atendimentos.

Revista Nursing, 2020; 23 (269)


Competências Profissionais em tempo de COVID-19
FOTO: Acervo pessoal Isabel Cristina Kowal Olm Cunha
Enfermeira. Professora Associada Livre Docente do Programa de Pós Graduação em Enferma-
gem da Universidade Federal de São Paulo.
V
ocê se imaginou ser obrigado
a sair na rua de máscara sem
estar no carnaval? O diferente
é normal nesta era DC. Será que sabere-
mos contar como era o mundo AC? Antes
e Depois do Corona é nosso momento de
transição para um novo mundo. Melhor?
O tempo dirá.
Haverá um novo normal após tudo
isso?
Para a área da saúde, uma das mais
afetadas, certamente muitas mudanças se
impõem. Como profissionais de saúde,
estaremos tranquilos? Medo de um novo
vírus, uma nova pandemia?
O uso da tecnologia já é maior e
crescerá, e quem não se atualizar esta-
rá obsoleto. Faremos menos viagens de
avião, confinados? Iremos descansar em
locais mais afastados e sem multidões?
Compraremos mais de produtores locais,
evitando grandes centros de compras?
Viveremos com menos? Encontraremos
outros formatos de trabalho à distância
transformando definitivamente nossas ca-
sas em home-offices?
A pandemia nos trouxe lições impor-
tantes: de que há ciência na incerteza e
certeza na falta de ciência; que a comu-
nicação é uma arma poderosa; que a so-
artigo de opinião
Isabel Cristina Kowal Olm Cunha
lidariedade promove a união; que o valor
está nas pessoas; e que o Profissional de
saúde também sofre. O que precisaremos
rever após este aprendizado? Certamente
nossas competências profissionais.
Para a Enfermagem, as competên-
cias sempre foram motivo de atenção
pois desenvolvê-las é um desafio. As Di-
retrizes Curriculares Nacionais para os
Para a
Cursos de Graduação em Enfermagem
estabelecidas pelo Ministério da Edu-
Enfermagem, as cação já em 2001, destacavam que o
enfermeiro na sua formação deveria de-
competências senvolver a atenção à saúde, a tomada
de decisões, a comunicação, liderança,
sempre foram a administração e gerenciamento e a
motivo de atenção, educação permanente. Estas competên-
cias, se bem desenvolvidas, auxiliam o
pois desenvolvê-las enfermeiro no direcionamento das suas
melhores ações para o cuidado com
é um desafio qualidade. Todavia sabe-se hoje que no
contexto de mundo atual globalizado
com múltiplos desafios, novas compe-
tências se impõem para os profissionais
e principalmente para os enfermeiros.
Teremos que aprimorar nossas compe-
tências e desenvolver novas, para este
período pós-pandemia. Para isso, auto-
conhecimento e autodesenvolvimento
são ferramentas essenciais. É impres-
Revista Nursing, 2020; 23 (269)
 artigo de opinião
FOTO: Imagem Illustrativa/ CanSotockPhoto

cindível que você se conheça e saiba
quais são suas forças e quais são suas
fraquezas, aproveitando as oportunida-
des e gerenciando as ameaças.
Destacamos aqui competências pro-
fissionais que serão necessárias neste
“novo” mundo além das já sabidamente
necessárias deste milênio, como o traba-
lho em equipe, o aprendizado constante
e a flexibilidade.
Há que se desenvolver sobretudo:
• a resolução de problemas com-
plexos destacando-se o raciocí-
cio lógico para lidar com ques-
tões ainda não conhecidas, pois
o mundo não será mais o mesmo
e teremos que estar preparados
cada vez mais para o inespera-
do;
• a criatividade e inovação deve-
rão ser ferramentas importantes
para as organizações que terão
que buscar novas formas de se
organizar;
• a resolutividade com resiliência,
é necessária pois não bastará
buscar bons resultados, mas há
que não se abater frente às difi-
culdades e questões inesperadas
que aparecerão;
• as competências sócio-emocio-
nais que buscam trazer equi-
líbrio para uma nova era de
incertezas. Destacam-se nelas
a assertividade, a persistência,
a empatia, a autoconfiança e a
curiosidade.
Desenvolver estas competências será,
certamente, uma nova experiência para
todos, pois o mundo digital, mas voltado
para as pessoas, exigirá que sejamos mais
fortes e que compreendamos o sentido da
vida e da valorização do outro. Consegui-
remos?
E você, está procurando desenvolver
estas competências?

Referências
1.Cunha ICKO, Ximenes Neto FRG. Competências gerenciais de enfer-
meiras: um novo velho desafio? Texto contexto - enferm., Set 2006,
vol.15, no.3, p.479-482.
2.Holanda FL, Marra CC, Cunha ICKO. Perfil de competência profissional
do enfermeiro em emergências. Acta Paul Enferm. 2015; 28(4):308-14.
3.Nogueira VO, Cunha ICKO. Competências de Ensino em Enfermagem:
uma revisão narrativa. International Journal of Health Management,
Edição nº 1,2020
Disponível em: http://ijhmreview.org
4.Brasil. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior.
Resolução CNE/CES nº. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes
Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Brasília,
DF: Ministério da Educação e Cultura; 2001.

Revista Nursing, 2020; 23 (269)

 PÓS
graduação
São Camilo
Enfermagem
Sua carreira
em Primeiro plano

Pós-graduação Lato sensu

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• Enfermagem em Emergência Adulto e Pediátrica
• Gerenciamento e Liderança em Enfermagem
• Enfermagem Obstétrica
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Material e Esterilização e Recuperação Anestésica
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