Você está na página 1de 16

Índice

Introdução................................................................................................................................................1

1. Relação Vontade e Liberdade Humana............................................................................................2

1.2. A Teoria Hegeliana da Liberdade Humana...................................................................................2

1.3. O Conceito de Vontade.................................................................................................................4

2.2. Particularidade..............................................................................................................................7

2.3. Singularidade................................................................................................................................8

3. O Desenvolvimento das Determinações da Vontade.......................................................................9

3.1. As Figuras Finitas da Vontade: Vontade Natural e Livre Arbítrio................................................9

3.1.1. Vontade Natural.........................................................................................................................9

3.1.2. Livre Arbítrio...........................................................................................................................10

3.2. A Vontade Livre Em-Si e Para-Si...............................................................................................12

Conclusão..........................................................................................................................................14

Referências Bibliográficas.................................................................................................................15
Introdução

O significado de transformações importantes em qualquer sociedade sempre se justifica referente


à aquisição de maior liberdade oriunda das acções individuais de um povo. Do lado semântico do
conceito de liberdade, a expressão mais ampla é o termo vontade e, Hegel elucida de forma mais
significativa para história do pensamento a questão da vontade humana, onde encontramos a
definição, segundo a qual a liberdade, em geral, é liberdade de vontade.

Uma considerável parcela dos filósofos supõe que o conceito de vontade livre esteja muito ligado
à noção de responsabilidade moral. Mas o significado da vontade não está esgotado por sua
conexão com a responsabilidade moral. A vontade também parece ser uma condição no amplo
campo de realizações de um indivíduo e está, intrinsecamente, relacionada a liberdade. A
liberdade é um dos valores fundamentais da existência humana e é o critério mais importante do
desenvolvimento social.

Nesse trabalho, procura-se analisar a relação Vontade e liberdade do homem na sociedade do


ponto de vista do fundamento da teoria Hegeliana.

O trabalho se concentra em três pontos específicos dispostos em três capítulos. O primeiro


capítulo elucida os assuntos que servem de base para as ideias que sustentam a noção de vontade
e Liberdade no sistema filosófico hegeliano, sendo abordados conceitos e definições sobre a
liberdade, vontade e as características que compõem o conceito de vontade; no segundo capítulo
são apresentados os atributos inerentes aos momentos da vontade em seu processo de
desenvolvimento, assim como, é realizado uma explanação sobre as características das
figurações da liberdade rumo à efectivação desta; no terceiro capítulo, são demonstrados as
principais questões sobre o papel do indivíduo no processo de efectivação da Ideia de liberdade,
assim como, sobre a efectivação da vontade livre em e para si.

1
1. Relação Vontade e Liberdade Humana

1.2. A Teoria Hegeliana da Liberdade Humana

A filosofia é segundo Hegel “actividade pensante” (HEGEL, 1986, p.25), uma ideia que pensa
em si mesma, nela o espírito se coloca frente a frente consigo mesmo. Nesse autoconhecimento
não há nada externo, é o próprio pensamento, que entrou em si e se reconhece como a essência
das coisas; fora de tal Absoluto nada existe e, pelo contrário, tudo existe nele. Uma vez que tal
conhecimento do Absoluto é o objectivo mais elevado da filosofia, então, consequentemente, o
hegelianismo é uma filosofia do Absoluto. A Ideia absoluta, realizada no mundo, não é uma
substância fixa e repousante, mas é o começo para sempre vivo e em desenvolvimento, que se dá
através do processo dialéctico e, todo o real é a imagem desse processo. A filosofia é a imagem
desse movimento de pensamento Absoluto e o mundo, é um sistema de conexão orgânica.

A retrospectiva histórica da análise científica do desenvolvimento do conceito de liberdade


promove uma compreensão profunda da origem das formas lógicas da formação do conceito e da
Ideia. No entanto, é importante notar que Hegel não reduz o tema da liberdade aos aspectos
políticos, económicos, sociopsicológicos e morais-legais, mas deriva formas específicas de
liberdade de uma análise especulativa estritamente filosófica de sua essência, do conhecimento
incondicionado da autoconsciência absoluta. Além disso, Hegel considera as definições de
liberdade em planos abstractos, negativos e positivos. Sobre essa perspectiva, Rosenfield (1983,
p.34) considera:

“A liberdade é esse processo de saída de si, que na cisão própria de seu movimento reflexivo
de exteriorização, perfaz o movimento inverso, a volta a si, para empreender novamente… uma
nova exteriorização, na verdade uma externação. A liberdade decide-se nesse processo de
actualização do movimento lógico tal como ele se efectua na sucessão temporal da história. A
liberdade não pede definições, ela exige o trabalho de aventurar-se na objectividade do mundo,
criando assim suas próprias determinações.”

O pensamento absoluto objectivo é a força motriz de todas as coisas e atua como uma ideia
absoluta que está se desenvolvendo continuamente. A ascensão do abstracto para o concreto é o
princípio geral do desenvolvimento. A lógica hegeliana rompe o estreito horizonte da lógica
formal. Em sua Lógica dialéctica Hegel afirma que “o conceito se desenvolve a partir de si

2
mesmo, progride e produz as suas determinações de maneira imanente” (HEGEL, 2003, 31). As
formas lógicas não são apenas significativas, mas também estão em conexão e desenvolvimento
mútuo.

O espírito subjectivo, a consciência humana, a percepção das coisas, revela nelas a manifestação
do espírito absoluto, daí a conclusão: “O que é racional é real e o que é real é racional” (HEGEL,
2003, XXXVI). Hegel acreditava que o existente é racional, quando expressa alguma
necessidade, uma regularidade.

O segundo estágio de desenvolvimento da ideia absoluta, Hegel considerou a natureza. A


natureza é a derrota da ideia absoluta, o seu outro ser. Impulsionada pelo espírito, a natureza não
tem existência independentemente disso. O terceiro nível do sistema hegeliano é a filosofia do
espírito. Aqui a ideia absoluta parece ser despertada, liberada dos laços naturais e encontra sua
expressão em espírito absoluto. “A contradição existente entre tese e antítese é dissolvida”
(CIRNE LIMA, 1994, p. 465).

O autodesenvolvimento do espírito prossegue em três estágios: “espírito subjectivo”, consciência


humana individual; “espírito objectivo”, sociedade humana e três formas principais: direito,
moralidade e estado e o espírito absoluto, inclui arte, religião, filosofia. O espírito é algo único e
inteiro, mas no processo de desenvolvimento, ocorre a transição do baixo para o superior. Hegel
considera a contradição dialéctica do sujeito e o objecto do pensamento e, objectiva ser a força
motriz do desenvolvimento do espírito. Sendo que “é preciso olhar para o mundo pressuposto e
nele procurar um predicado no qual estejam superados e guardados em proporção igual” (CIRNE
LIMA, 1994, p. 465). Superando essa contradição, o espírito progride na consciência de sua
liberdade.

No domínio do espírito objectivo, a liberdade adquire pela primeira vez a forma da realidade, do
ser disponível na forma de formações jurídico estatal.

“O espírito objectivo é a ideia absoluta apenas em si; no terreno da finitude” (HEGEL, 2005,
p.483) e suas manifestações: direito, moralidade e vida ética são examinadas por Hegel,
sistematicamente, em sua Filosofia do Direito, onde através da análise do conceito da vontade,
Hegel considera o que é necessário para a vontade alcançar sua liberdade, considerando a noção

3
essencial de liberdade como sendo: “algo livre, independente e Auto determinante” (INWOOD,
1997, p. 205).

Nesse processo, o espírito sai da forma de subjectividade, conhece e objectiva a realidade externa
de sua liberdade: a objectividade do espírito entra em seus próprios direitos.

Na filosofia do direito, Hegel ilumina precisamente as formas de descobrir um espírito


objectivamente livre na forma da realização da noção de direito na realidade. Uma vez que a
realização do conceito na realidade, segundo Hegel, é uma ideia, o objecto da filosofia do direito
é a ideia de direito, ou seja, a liberdade. Hegel descreve o sistema de direito, que fornece a
estrutura institucional do estado, como uma “segunda natureza”, uma natureza fundada em
espírito da mesma maneira que a natureza física é fundamentada na Ideia. “O sistema do direito é
o império da liberdade realizada, o mundo do espírito produzido como uma segunda natureza a
partir de si mesmo." (HEGEL, 2003,P. 14).

Mas, indiscutivelmente, uma melhor evidência de como Hegel viu o sistema direito como a
realização da liberdade é provida por sua identificação em outro lugar da liberdade com espírito
onde a filosofia nos ensina que todos os atributos do espírito existem apenas em virtude da
liberdade e, liberdade é a única propriedade autêntica do espírito. Para essa identificação, sugere
que o sistema de direito é a realização da liberdade através da realização do espírito, no
“percurso do seu desenvolvimento” (HEGEL, 1986, p. 23) na “história universal”, cuja
característica essencial seja a liberdade.

Neste sentido, a questão da liberdade é colocada por Hegel como uma oportunidade para a mente
humana compreender essência de si mesma e do mundo. Esse tema é abordado em sua filosofia
através do desdobramento do desenvolvimento do universal em suas formas concretas e
específicas, tornando-se um conceito universal concreto. Ao mesmo tempo, o conceito de
liberdade universal em sua dialéctica de desenvolvimento acaba por ser uma dialéctica universal
que reflecte a essência do mundo, sua unidade e integridade em desenvolvimento.

4
1.3. O Conceito de Vontade

De acordo com sua concepção filosófica, Hegel considera a história do mundo como uma
realização progressiva da liberdade, que recebe expressão imediata e é “concretizada pelo
direito” (WEBER, 1993, p.48), estabelecendo, nesse momento de objectividade do espírito uma
organização da “realidade social”. Segundo Hegel o homem não nasce livre. A efectivação da
liberdade, Hegel compreende gradualmente como o desenvolvimento do espírito na história.
Assim, para Hegel, a ideia de direito, é a ideia de liberdade, e sua verdadeira compreensão só é
possível no processo de cognição de dois aspectos dialecticamente interconectados da ideia: o
conceito de direito e seu ser-aí, ou seja, o desenvolvimento do conceito na existência. No
entanto, como um ser presente, o direito não pode ser qualquer sistema real de normas que
operam em uma sociedade particular, mas apenas uma realidade legal, onde a realização da
liberdade e da lei é assegurada. A interacção entre direito e liberdade só pode ser exercida
através da vontade livre.

Hegel concebe a vontade como um conceito fundamental de sua filosofia do espírito objectivo; é
aí que entra sua concepção característica de liberdade. O ponto de partida na construção
filosófica hegeliana do sistema de leis como o domínio da liberdade realizada é a vontade. A
liberdade constitui a substância e a definição básica da vontade, assim “como gravidade constitui
a substância dos corpos” (HEGEL, 2003, P. 17), e a vontade tem como “finalidade a realização
do seu conceito, a liberdade no aspecto objectivo.” (HEGEL, 2005, P.483).

O real do espírito objectivo está localizado na realização da vontade livre na autoconsciência de


indivíduos particulares elevados à consciência da universalidade. A liberdade “realiza-se pela
actividade particular de um povo” (ROSENFIELD, 1983, p.32), tornando-se explícita e objectiva
apenas nessa esfera. De acordo Hegel “as determinações pelas quais, na representação, o espírito
efectua o seu desenvolvimento são jornadas para alcançar produzir-se como vontade”. A vontade
é o método ou a forma da existência da liberdade no homem e, portanto, é impossível ter vontade
sem liberdade e liberdade sem vontade. Segundo Hegel “a vontade livre inclui de início em si
mesma, as diferenças que consistem que a liberdade é a sua determinação e seu fim”. (HEGEL,
2005, P. 483).

5
O espírito é o pensamento, porém “como pensamento do mundo, só aparece quando a realidade
efectuou e completou o processo da sua formação” (HEGEL, 2003, p. XXXIX). Para Hegel o
pensar é “fazer passar alguma coisa a forma da universalidade” (HEGEL 1986, p.131) e, a “raiz
verdadeira da liberdade funda-se no pensamento, pois a ideia da liberdade é fundamentalmente
pensamento” (WEBER, 1993, p.49), logo pensamento e vontade, são dois aspectos do espírito,
teórico e prático, eles se penetram e se complementam mutuamente. Ambos os lados, cada um à
sua maneira, geram uma unidade do subjectivo e do objectivo.

De acordo com Hegel, a vontade é um modo de pensar ligado à incorporação do conhecimento


teórico do homem em sua actividade prática, enquanto ser-aí, na existência real. Ao mesmo
tempo, vontade e pensamento são impossíveis sem o outro. Uma pessoa que não possui a
inteligência apropriada não é capaz de tomar decisões conscientes e corretas. Inversamente, o
foco da consciência na cognição do mundo torna-se possível para a vontade benevolente, o
desejo do homem de adquirir o conhecimento necessário para sua actividade.

No 15 parágrafo da introdução da Filosofia do direito, Hegel afirma que pensamento e vontade


não são diferenciados por serem faculdades distintas, mas apenas como dois métodos, dois
aspectos, teórico e prático, da mesma capacidade de pensar, na abordagem específica para o
mundo exterior, o pensamento tende a melhor conhecê-lo e a vontade a transformá-lo. Hegel
considerou a liberdade da vontade como um pré-requisito necessário para a actividade prática do
homem. Os componentes de conteúdo da consciência humana, objectivos, aspirações, etc., em si
existem apenas sob a forma de possibilidade, são apenas as intenções do homem, e somente a
vontade os traduz da possibilidade, esta enquanto “determinação da
efectividade”(ROSENFIELD, 1983, p.18), para a realidade. Portanto, a vontade de Hegel é a
actividade do homem.

Para Hegel o domínio do direito e da moralidade “concebem-se através de pensamentos e


adquirem a forma racional por meio de pensamento” (HEGEL, 2003, p. XXXI). O aspecto
teórico do pensamento, é que, pensando em um objecto, o transformamos em pensamento e o
privamos de todo o sensível, toda sua peculiaridade, o “estranhamento” entre o "eu" e o objecto
concebível desaparece, o objecto torna-se universal. O aspecto prático do pensamento, por outro
lado, é a postura de diferenças e autodeterminação em relação ao mundo externo, a esfera de

6
actividade e acções. A natureza da relação entre os aspectos teóricos e práticos do pensamento é
muito importante para entender a vontade, sendo que “é no pensamento que o homem procura
sua liberdade” (HEGEL, 2003, p. XXXVII), e, consequentemente, toda a filosofia do direito.

2. Elementos que determinam seus diferentes modos da vontade: universalidade,


particularidade e singularidade.

2.1. Universalidade

Quando a vontade é representada por um elemento como "pura indeterminidade", estamos


lidando com a universalidade: é um puro reflexo do "eu" dentro de nós, uma abstracção absoluta
de todas as limitações e de todo o conteúdo disponível e certo. Na absoluta possibilidade de se
abstrair de qualquer certeza, fugindo de todo conteúdo como uma limitação, a vontade aparece
como uma liberdade negativa ou do entendimento, pois ela “encontra-se separada da totalidade a
qual pertence” (ROSENFIELD, 1983, p. 37). Essa vontade negativa é consumida pelo "frenesi
da destruição" e apenas destruindo ela se sente existente. O estado positivo, que, ao que parece,
tende a vontade negativa, o estado da vida religiosa em geral é impossível e inaceitável, mesmo
para a vontade mais negativa, porque é hostil a todos os pedidos, isolamento e determinação de
instituições e indivíduos.

Como ponto de vista sobre tal vontade, a universalidade abstracta ou liberdade negativa, Hegel
caracteriza o fanatismo religioso hindu e assim como no “fanatismo ativo da vida política”
(HEGEL, 1986, p.126) destruição revolucionária da velha ordem como o período de terror
revolucionário a Revolução Francesa.6

2.2. Particularidade

Embora pareça uma vontade tão negativa que aspira a algum estado positivo, por exemplo, à
igualdade universal ou à vida religiosa universal, mas, de fato, essa vontade negativa como uma
"fúria da destruição” (HEGEL, 1994, p.125), basicamente, rejeita qualquer realidade positiva e
certeza objectiva de qualquer ordem positiva. Essa universalidade abstracta da vontade passa da
indeterminidade diferenciada para a diferenciação ao determinar como objecto ou conteúdo, que

7
pode ser “dado pela natureza, ou gerado a partir do espírito” (HEGEL, 1994, p.126), então, a
vontade entra em existência. É o momento da particularidade da vontade, este é um momento de
determinação especial da vontade, um momento de finitude e isolamento, quando "não apenas
quero, mas quero algum algo” (HEGEL, 1986, p. 129).

2.3. Singularidade

De acordo com Rosenfield (1983, p. 38), “quando a vontade entra na objectividade ela mostra
como o “eu” individual dirige-se a particularidade de uma coisa, determinando o conceito de
vontade tal como aparece sob a forma do verbo querer”. Neste momento, a coisa especial que o
desejo quer uma restrição, a vontade em geral deve se limitar para ser uma vontade. Hegel
também considera a particularidade da vontade como o momento de transferência do subjectivo
para o objectivo, através de uma determinada actividade, usando os meios necessários. Em
finitude a vontade é livre apenas em conceito, formalmente, mas não em conteúdo. Antes da
transição para sua especificidade, a vontade enfrentou muitas oportunidades. Por escolha e
decisão, entra em um indivíduo, passando da possibilidade para a realidade. Mas o resultado de
uma decisão abstracta da vontade é uma liberdade de vontade abstracta, formal, arbitrária e
aleatória, porque o conteúdo da vontade ainda não é a liberdade em si.

A unidade da vontade é a unidade e síntese de momentos de universalidade e características, é


concreta e verdadeira. O próprio conceito de vontade na filosofia especulativa de Hegel. Assim,
a individualidade da singularidade aparece como um conceito concreto de liberdade, que a
incerteza da universalidade da vontade no seu momento em-si, nem a definição (particularidade)
do para-si, e representa a sua unidade de vontade, onde a vontade é em si mesmo.

Uma vontade verdadeiramente livre e verdadeira se torna quando seu conteúdo é idêntico a ela,
quando ela se deseja. Essa vontade é livre em si mesma e, por si mesma, eliminou todo o
arbitrário e falso, libertou-se de toda subjectividade e aleatoriedade do conteúdo de sua escolha
imediata. Aqui se alcança os primórdios do das figurações da liberdade, e “a liberdade se produz
nas figuras que actualizam a sucessão dos acontecimentos nas determinações do conceito”
(ROSENFIELD, 1983, p.32) através do desenvolvimento das articulações da vontade.

8
3. O Desenvolvimento das Determinações da Vontade

3.1. As Figuras Finitas da Vontade: Vontade Natural e Livre Arbítrio

3.1.1. Vontade Natural

Foi demonstrado anteriormente que a vontade é o aspecto prático do espírito, por outro lado, é o
posicionamento de diferenças e autodeterminação em relação ao mundo externo. A esfera de
actividade, acções e os elementos que determinam os diferentes modos da vontade são: a
universalidade enquanto infinito abstracto e indeterminado; particularidade na sua reflexão sobre
si e o regresso para a universalidade ou a singularidade. Neste sentido, a singularidade aparece
como um conceito concreto onde “a universalidade e a particularidade apareceram como os
momentos do devir” (HEGEL, 2011, p.224). A partir deste momento a vontade é em si mesma.

A vontade livre apenas em si é a vontade que é livre unicamente em conceito, formalmente, mas
não em conteúdo. A vontade é a definição essencial de liberdade, mas ainda é meramente formal;
é apenas um esboço do que é a liberdade, e ainda não é a ideia de liberdade. O conteúdo da
vontade ainda precisa ser especificado. Não é qualquer escolha com a qual o “eu” é capaz de se
identificar. Para ser livre em um sentido real, o “eu” tem que se encontrar, em alguma escolha
particular que deve representar uma realidade adequada a ele mesmo.

Hegel passa, então, a considerar os diferentes tipos de conteúdo da vontade, revelando que “este
conteúdo, isto é, as diferentes determinações da vontade começam por ser imediatas” (HEGEL,
2003, §10), consistindo nas coisas que se apresentam para nós com base em nossos impulsos, é
uma vontade “imediata ou natural”. Nesse momento a vontade é relacionada aos impulsos,
desejos e inclinações, que determinam amplamente nossa conduta na infância. Nela, o sujeito
desejante é capaz de identificar-se como tal, mas não é capaz de conceber o conteúdo da vontade
(os desejos, impulsos e inclinações) como produtos seus. Para Hegel, a vontade natural é uma
vontade somente livre em si e finita dentro de si.7

9
A liberdade nessa determinação é bastante rudimentar, pois se levanta a questão de dizer que, ser
imediatamente determinado por nossos impulsos, desejos e inclinações é antes uma forma de
determinação ou liberdade negativa. Sendo que a ideia é a verdade, se um objecto ou uma
determinação são concebidos, restritos à pura existência em si, o intelecto limita-se ao abstracto
da liberdade sem alcançar a sua ideia e a sua verdade.

A vontade é livre em si mesma, pois tem potencial para ser livre. Os impulsos, desejos e
inclinações podem ter relação com vários objectos e podem ser compreendidos de várias
maneiras. Para essas inclinações naturais, o “eu” tem a potencialidade de dizer não devido a sua
natureza abstracta. Tem a possibilidade de decidir. A vontade natural vai exigir uma decisão do
indivíduo deseja-te. Segundo Hegel, é através do decidir que “a vontade se põe como vontade de
um indivíduo determinado e como vontade de um indivíduo diferenciando-se em frente a outro”
(HEGEL, 2003, §13). Essa decisão pode ser identificada com a forma mais imediata de vontade,
pois é uma actividade não mais determinada pelos desejos sensíveis, mas pela abstracção do eu
com relação a eles.

Em outro momento do “percurso através do qual a vontade actualiza as determinações da


vontade natural e abre-se para um novo processo de actualização de si” (ROSENFIELD, 1983,
p.41), a vontade que da existência exterior regressa a si é aquela determinada como
individualidade subjectiva e age como uma reflexão interna do eu. Através da reflexão o
indivíduo transcende o impulso e suas limitações. Ele se reflecte em si mesmo, entra em si e se
reconhece enquanto imediato, limitado, na medida em que se opõe a outro. Ele então cede à
decisão da reflexão e satisfaz o impulso, ou, o reprime e renuncia dando lugar a contingência.
Isso faz com que uma pessoa no processo de autodeterminação vá além do primeiro estágio do
percurso da vontade natural e passe a arbitrariedade.

3.1.2. Livre Arbítrio

No segundo estágio, o livre arbítrio como liberdade de escolha, a vontade age. Quando isso
acontece, ela escolhe e, ao escolher, a vontade se apresenta como a vontade de um determinado
indivíduo que difere de outro indivíduo. É a liberdade, mas apenas liberdade formal ou liberdade,
na medida em que a vontade de alguém se relaciona com algo finito, limitado. O livre arbítrio é
antes a “vontade enquanto contradição”, porque segundo Weber (1993, p.), este é o “ponto de

10
partida da vontade livre realizada”. É essa contradição que movimenta o processo dialéctico
inerente ao livre arbítrio.

Ela é evidenciada na dialéctica dos instintos e tendências. A dialéctica toma forma na


diferenciação de escolha. “Eu” subordino certos desejos sob os outros e escolho certos impulsos
para serem mais importantes que outros. O intelecto calcula quais desejos precisa satisfazer para
obter a satisfação ideal. Deste modo, o “eu” se reconhece cada vez mais em seus desejos. Essa
satisfação, portanto, não é simplesmente satisfazer os desejos de alguém, mas pressupõe que o
"eu" se reconhece na escolha de certos desejos em detrimento de outros. Assim, a vontade, ainda,
é formalmente livre.

Em uma exemplificação, Hegel analisa a relação entre o senhor e o escravo onde a vontade do
senhor se constitui pelo seu desejo particular. Essa vontade do senhor é definida como livre
arbítrio, pois está imerso nos propósitos finitos.8 Marx (2010, p.41) considera o arbítrio “o poder
soberano da vontade”, afirmando que “a ideia do poder soberano, como Hegel a desenvolve, é
apenas a ideia do arbitrário”. Hegel (2003, §15), declara que “a representação mais vulgar que se
faz da liberdade é a do livre-arbítrio”, pois, embora escolha livremente no início, o “eu” é, ainda,
determinado pelo objecto desejado.

A reflexão do eu em si mesmo, através de um conteúdo, é, portanto, apenas possível e não


efectivo onde o “eu” pode ou não escolher. Este carácter contingente também se estende ao
conteúdo desejado. Pode ser escolhido por mim ou não pode.9 Deste modo, o eu se reconhece
cada vez mais em seus desejos. Essa satisfação, portanto, não é simplesmente satisfazer os
desejos de alguém, mas pressupõe que o "eu" se reconhece na escolha de certos desejos em
detrimento de outros.

O arbítrio é livre, por um lado, porque escolhe e decide sobre os desejos a serem satisfeitos e
seus modos de satisfação, mas, por outro lado, o arbítrio é vontade não livre porque seu conteúdo
é todo pré-determinado por circunstâncias externas. Neste sentido, o arbítrio é livre em si, mas
não em e para si. Não consegue ultrapassar a finitude.10

A totalidade de satisfação, diferindo do contentamento de satisfazer imediatamente os desejos


em liberdade de escolha, é expressa por Hegel na vontade de felicidade. A vontade de felicidade

11
afirma positivamente a necessidade de destruir certos desejos e impulsos para os outros como
purificação. O indivíduo purifica a sua disposição das coisas, o que, com o tempo, não
contribuirá para a sua felicidade final. Isso, ele experimenta como um dever. Ele faz isso por
processos de subordinação, que constroem uma teleologia.

A capacidade de formar uma subordinação de desejos e moldar a vontade de alguém de acordo


com essa teleologia é o resultado da formação. Pois é a formação que permite postular algo como
universal e ver o particular à luz deste todo universal. O "eu" está agora livre da determinação
imediata de impulsos, desejos e inclinações. No âmbito de uma noção de felicidade, a liberdade
aparece aqui de forma razoável, pois a diferenciação intelectual dos desejos é levada a uma
unidade teleológica, visualizando-os à luz de um desejo singular que é colocado como o valor
universal que define todos os outros desejos em ordem.

3.2. A Vontade Livre Em-Si e Para-Si

A Vontade livre não mais é particularidade. Na medida em que a particularidade entra na


vontade, é arbitrariedade, pois a arbitrariedade tem um interesse limitado e toma suas
determinações de impulsos e inclinações naturais. Tal conteúdo é dado e não é colocado
absolutamente através da vontade. O princípio fundamental da vontade livre é, portanto, a
efectivação da ideia de liberdade. Percebendo isso Luft (1995, p.155), afirma que a “Liberdade
em Hegel significa dar a si mesmo as suas determinações… de modo totalmente independente.
Liberdade realizada significa que a vontade se autodeterminar de modo plenamente livre.”.

A ideia, a princípio, é conhecimento finito e vontade finita, onde o conceito se libertou para si
mesmo se dando por realidade uma objectividade, ainda, abstracta. Porém o espírito subjectivo,
finito, estabelece para si, hipoteticamente, um mundo objectivo, mas através da acção ele precisa
ultrapassar essa hipótese e torná-la algo posto. Desse modo o mundo objectivo é a idealidade na
qual ele se identifica.

Hegel considera a contradição dialéctica do sujeito e o objecto do pensamento a força motriz do


desenvolvimento do espírito. “É preciso olhar para o mundo pressuposto e nele procurar um
predicado no qual estejam superados e guardados em proporção igual” (CIRNE LIMA, 1994 p.
465). Superando essa contradição, o espírito progride na consciência de sua liberdade. A ideia de

12
liberdade, para Hegel, é a unidade da forma e do conteúdo. É somente quando a vontade
enquanto autodeterminação e universalidade concreta se juntam que temos uma unidade de
vontade e razão, o que se caracteriza pela objectificação do espírito.

A cognição como fonte de autodesenvolvimento do indivíduo é devotada ao significado


antropológico do conhecimento na filosofia de Hegel. Note-se que um dos princípios básicos da
antropologia hegeliana é a formação contínua do homem como ser espiritual. Esta formação é
realizada através do conhecimento da história do mundo pelo homem e, portanto, pelo
conhecimento de si mesmo e do espírito. O caminho para a liberdade do espírito reside no
autoconhecimento e desenvolvimento.

Uma vontade se torna verdadeiramente livre em-si e para-si quando está completamente liberta
de toda contingência, subjectividade e, é baseada na compreensão correta de sua escolha, a
decisão tomada, consequentemente, “a vontade livre que quer a vontade livre” (Hegel, 1994,
p.151). Hegel acredita que é o resultado do longo desenvolvimento sócio histórico da sociedade
humana e afirma que essa transição não é fácil nem óbvia, mas uma questão de luta e esforço já
que o homem não nasce livre. Sua liberdade ele compreende gradualmente como o
desenvolvimento do espírito, da consciência.

13
Conclusão

Considerando a exposição realizada no decorrer deste trabalho, podemos passar à conclusão de


que, para Hegel, há um ser presente de vontade livre. De um ponto de vista sistemático, pode-se
afirmar que Hegel produziu uma concepção suficientemente rica e complexa do que é uma
pessoa, sujeito ou um indivíduo membro de uma comunidade, de modo que essa base constitui
uma teoria social, ética e política baseada no conceito de vontade e liberdade. A Filosofia do
Direito é onde Hegel descreve a noção de vontade. A concepção de direito na representação
hegeliana não tem como base a vontade do indivíduo, mas uma vontade universal que tem uma
existência independente do tempo e do espaço e expressa a vontade objectivamente racional.
Para Hegel, ser genuinamente livre é querer sua própria liberdade, porém, para o indivíduo
alcançar essa liberdade, consiste em participar do sistema de direito.

Constitui-se como figurações da vontade o direito abstracto, a moralidade subjectiva e a


moralidade objectiva. Após a apresentação da formação da pessoa de posse no direito abstracto,
Hegel prossegue para uma explicação das relações morais como uma esfera baseada na
autodeterminação subjectiva da vontade. Em seu momento objectivo, a liberdade tem um
conteúdo específico no corpo da vida ética, na sociedade civil e no estado. O Estado, de acordo
com Hegel, tem como tarefa mediar a realização de indivíduos livres particulares através de leis
e instituições. O espírito no campo das relações públicas de indivíduos, do ponto de vista de
Hegel, cria seu trabalho com a ajuda da vontade individual e engendra um mundo objectivo de
liberdade. Na posição de Hegel, é através da vontade individual que a vontade universal é
realizada, pode-se ver uma reflexão na forma da ideia da dependência da consciência individual
na consciência pública.

Assim, para Hegel, a liberdade humana consiste em viver em uma comunidade de


reconhecimento mútuo onde os membros desta comunidade “tem objectividade, verdade e
moralidade” (HEGEL, 2003, §258). É o que ele quer dizer afirmando que a liberdade é a
qualidade essencial do espírito. Portanto, o sistema de direito, ao expressar e realizar o espírito
comum de tal comunidade, também expressa e realiza a liberdade de seus membros a partir da
“busca de uma vontade comum através de caminhos legais” (JASPERS, 1971, p.50).

14
Referências Bibliográficas

CHÂTELET, François. Hegel. Tradução: Alda Porto. Revisão técnica: Geraldo Frutuoso. Jorge
Zahar Editor. Rio de Janeiro. 1995

HEGEL. (1968) Ciência de la Logica. Buenos Aires: Ediciones Solar,

Hegel (2011) Ciência da lógica: (excertos); seleção e tradução Marco Aurélio Werle. — São
Paulo: Barcarolla.

Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio (1830). Volume III. A Filosofia do


Espírito. São Paulo: Edições Loyola, 1995.

Introdução à Filosofia da História de Hegel. Lisboa: Edições 70, 1988.

INWOOD. (1997). Dicionário Hegel. Tradução: Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1997.

KANT. (2003), Crítica da razão prática. Tradução de Valerio Rohden. São Paulo: Martins
Fontes,

JASPERS. (1971) Introdução ao pensamento filosófico. Tradução de: Leonidas Hegenberg e


Octanny Silveira da Mota. São Paulo: EDITORA CULTRIX LTDA.;

MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. Tradução Rubens Enderle e Leonardo de
Deus. [2.ed revista]. São Paulo: Boitempo, 2010.

15

Você também pode gostar