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Disciplina: História do Pensamento Econômico I


6ª SESSÃO: A crítica à economia política de Karl MARX
Período letivo: 2º Período de 2022
Professor: Dr. Rafael Gonçalves Gumiero

Obrigatório: MARX, K. Salário, preço e lucro. In: MARX, K. O Capital. São Paulo:
Abril Cultural, 1984 (Os economistas)
MARX, K. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1984 (Os
economistas). Capítulos 1 (seções 1, 2 e 4), Capítulo 5, Capítulo 7 (seções 1 e 2).
Complementar: HUNT, E. K.; LAUTZENHEISER, M (org.). História do Pensamento
Econômico. Editora Campus, Rio de Janeiro, 2012. Capítulo 9.

Questão da Aula:

SUMÁRIO:
A. Marx e a sua cronologia histórica;
B. A mercadoria e as formas de valor;
C. A reprodução do valor pela circulação de capital;

A. MARX E A CRONOLOGIA DA SUA BIOGRAFIA.


1818 – nasceu em 5 de maio, em Tréveris Alemanha, filho de advogado;
1830 – Revolução de julho na França. Luís Filipe substituiu Carlos X;
1835 – Marx iniciou os seus estudos superiores em Bonn e os continuou em Berlim,
onde teve contato com Hegel;
1841 – Marx se tornou doutor em filosofia;
1842 – Marx iniciou a sua atividade jornalística, como redator chefe do Rheiniche
Zeitung. Marx empregou à esse jornal um tom radical de esquerda. Em 2 de novembro
tevê o seu primeiro contato com Engels (parceiro de trabalho durante a sua vida);
1843 – o jornal é interditado e Marx rompeu com os hegelianos;
1844 – revolta dos tecelões da Silésia. Em agosto, segundo encontro de Marx com
Engels e consolidação da parceria de trabalhos;
1844-1845 – redação da A Sagrada Família, publicada em 1845;
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1845 – redação das Teses sobre Feuerbach e da Ideologia Alemã. No final de maio,
Engels publicou A situação da classe trabalhadora na Alemanha;
1847 – Marx publicou Miséria da Filosofia;
1848 – Período revolucionário na Europa, na França a república é proclamada;
1852 – publicação O 18 Brumário de Luís Napoleão Bonaparte;
1859 – Contribuição à crítica da economia política;
1867 – Livro I do O Capital;
1871 – publicação A guerra civil na Europa
1875 – Crítica do programa de Gotha;
1883 – Em 14 de março Karl Marx faleceu em Londres.
A produção bibliográfica de Karl Marx pode ser dividida em 2 momentos:
Denominado período da juventude, compreende trabalhos escritos entre 1841 e 1847-
48: Introdução à crítica da filosofia do direito de Hegel, Ensaio sobre a questão judaíca,
Manuscritos econômico-filosófico, A ideologia alemã, a Sagrada Família, a Miséria da
filosofia; Manifesto Comunista;
Transição da filosofia para a sociologia e economia. Produziu as obras clássicas
Contribuição à crítica da economia política, de 1859 e O Capital.

B. A MERCADORIA E AS FORMAS DE VALOR

Em O Capital o primeiro aspecto que Karl Marx apresenta é a relação


estabelecida pela utilidade da mercadoria e o seu intercambio com outra mercadoria,
que seja traduzida nos termos valor de uso e valor de troca. O valor de uso é
explicado pela utilidade da mercadoria e somente se concretiza quando há o consumo e
a utilização. O valor de uso constitui o conteúdo material da riqueza e ao mesmo é o
veículo material do valor de troca.
O valor de uso é considerado a relação quantitativa entre os valores de uso de
espécies diferentes, na proporção em que se trocam, estabelecendo diferentes relações
no tempo e no espaço.
O valor de uso é constituído pelo TRABALHO, ou seja, pela quantidade de
trabalho, medida pelo tempo de sua duração e o tempo de trabalho, por dias, horas.
VM =Qtde T → Valor Uso
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O que DETERMINA O VALOR É A QUANTIDADE DE TRABALHO


SOCIALMENTE necessária ou o tempo de trabalho socialmente necessário para
produção de um valor de uso.
O valor de uso do casaco ou linho resultam de atividades produtivas. Os
trabalhos realizados pelo alfaiate e o do tecelão são os elementos que criam valor de
uso, por força de suas qualidades diferentes, são considerados diferentes por
qualidades diferentes, mas estão reunidas sob a mesma qualidade que é o trabalho.
FORMAS DE VALOR:
1. A forma A de conceitualizar o valor é simples, ela se estabelece entre uma
mercadoria e qualquer outra mercadoria de espécie diferente. A relação de valor
entre duas mercadorias é a expressão de valor mais simples. P. 70.
20 metros de linho = 1 casaco
2. A forma extensiva de valor (forma B) se diferencia da Forma A, pois o casaco
representa um valor de troca somente em relação ao linho e se limita a essa
mercadoria. Para a FORMA B a forma simples de valor se converte numa forma
mais completa, designada pela ampliação por expressões simples de valor. Sua
expressão singular se converte em uma série de expressões simples de valor.
20 metros de linho = 1 casaco; ou 10 quilos de chá ou 40 quilos de café ou 1 quarta
de trigo ou 2 onças de ouro.
É a primeira proposição apresentada pelos teóricos – o valor de uma
mercadoria, o linho, está relacionada em inúmeros outros elementos do mundo das
mercadorias. P. 84.
Cada mercadoria como casaco, chá, trigo, é considerada equivalente na
expressão do valor do linho, e portanto, uma encarnação de valor.
O defeito na forma extensiva de valor relativo é a forma equivalente que lhe
corresponde, pois a forma natural de cada tipo de mercadoria é uma forma de
equivalente particular, ao lado de inúmeras outras, e somente existe formas de
equivalente limitadas excluindo as demais. O trabalho aplicado na produção da
mercadoria é particular, incompleta. É preciso uma forma unitária de manifestação do
trabalho humano.
O valor da mercadoria agora POSSUI DUAS FORMAS DE VALOR: 1) de
maneira simples isto é uma única mercadoria; 2) de igual modo, mas em comum em
relação as outras mercadorias.
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A forma A proporciona equações como: 1 casaco = 20 metros de linho, 10 quilos de chá


= ½ tonelada de ferro etc. O valor do casaco, na expressão, é igual ao do linho; o do
chá, igual ao do ferro. Mas, igual ao do linho e igual ao do ferro, expressões de valor do
casado e do chá, são tão diferentes quanto linho e ferro. É claro que essa forma só
funciona praticamente em estágios primitivos, quanto os produtos do trabalho se
transformam em mercadorias através de troca fortuita, ocasional (MARX, 2000, p. 87).

A forma B distingue o valor de uma mercadoria do próprio valor de uso, de maneira


mais completa que a primeira. Com efeito, o valor do casaco revela-se em todas as
formas possíveis, iguala-se ao linho, ao ferro, ao chá, enfim, a toda mercadoria menos o
casaco. Além disso, fica diretamente excluída toda forma comum de valor das
mercadorias, pois, na expressão de valor de cada mercadoria, todas as demais
mercadorias aparecem apenas sob a forma de equivalente. A forma extensiva do
valor só ocorre realmente quanto um produto de trabalho, gado, por exemplo, é trocado
por outras mercadorias diferentes, não excepcionalmente, mas já em caráter habitual
(MARX, 2000, p. 88).

A FORMA C expressa todos os valores das mercadorias em uma única


mercadoria, por exemplo o linho, que representa os valores de todas as mercadorias
através de suas igualdades com o linho.
A transição da forma Geral para a forma dinheiro. A mercadoria com que se
identifica com a forma equivalente torna-se mercadoria dinheiro, FUNCIONA COMO
DINHEIRo. O ouro conquista posição privilegiada entre as mercadorias que
figuram na forma B, como equivalentes singulares, e, na forma C, expressam em
comum no linho seu valor relativo, substitui a forma C, o linho pela mercadoria
ouro.
20 mts de linho =
1 casaco =
10 quilos de chá =
40 quilos de café = 2 onças de ouro
1 quarta de trigo =
½ tl de ferro =
X de mercadoria A =

Para Marx a transformação ocorre quando a expressão simples e relativa de


valor de uma mercadoria, por exemplo, o linho através de uma mercadoria que já
esteja exercendo a função de mercadoria dinheiro, por exemplo, o ouro, é a forma
preço.
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A função de produzir produtos assume pela ótica de Marx, uma relação social,
por meio do dispêndio da força humana de trabalho, na quantificação do valor dos
produtos do trabalho, as relações entre os produtores nas quais afirma o caráter social
dos seus trabalhos, assumem a relação social entre os produtores trabalho.
O fetiche da mercadoria é uma relação social definida entre os homens e a
forma fantasmagógica de uma relação entre coisas. O fetichismo está presente aos
produtos do trabalho, quando são gerados como mercadorias. É inseparável da
produção de mercadorias. O fetichismo decorre do mundo das mercadorias, como
produto do trabalho que produz as mercadorias.

C. A REPRODUÇÃO DO VALOR PELA CIRCULAÇÃO DE CAPITAL

A forma geral do capital é representada PELA CIRCULAÇÃO DAS


MERCADORIAS que tem o seu ponto de partida. E o seu ponto de chegada é o
DINHEIRO como produto final. Esse produto final da circulação das mercadorias é a
primeira forma em que aparece o capital.
O dinheiro sofre transformações durante o processo de circulação de
capital, ao ser transformado em capital. Vejamos A FORMA DE SIMPLES DE
CIRCULAÇÃO DE CAPITAL para compreendermos essa sentença:
M −D−M
(conversão de mercadoria em dinheiro e reconversão do dinheiro em
mercadoria).

Há outra forma que a circulação de capital se converte


D−M −D'
(conversão do dinheiro em mercadoria e reconversão da mercadoria em
dinheiro)
O dinheiro quando retorna para as mãos do vendedor se transforma em
CAPITAL.
A troca de dinheiro por dinheiro é o resultado final dessa sentença, no qual a
compra de 2.000 quilos de algodão por 100 libras, é convertido em 110 libras, trocando
no final do processo 100 libras por 110 libras.
A distinção entre os dois circuitos (M – D – M) e (D – M – D’) é a de que a
circulação simples começa com a venda e termina com a compra; a circulação do
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dinheiro como capital começa com a venda e termina com a compra. No primeiro
caso é a mercadoria e no segundo caso o dinheiro, o ponto de partida e a meta final do
movimento. Na primeira forma de movimento, serve o dinheiro de intermediário e na
segunda, a mercadoria.
No circuito M – D – M o consumo e satisfação realizados pelo valor do uso da
mercadoria é o objetivo principal.
No circuito D – M – D o valor de troca da mercadoria por dinheiro
impulsiona a circulação. Esse último circuito possui uma diferença qualitativa em
relação ao circuito anterior, OS EXTREMOS SÃO DINHEIROS, porém o dinheiro
que comprou o algodão é ampliado a partir do momento da venda do mesmo por um
valor superior ao da compra.
A forma completa desse processo é:
D – M – D’
D’= D + Delta D = a soma do dinheiro adiantado mais um acréscimo. A esse
acréscimo ou excedente é dado o nome de mais – valia.
A formação da mais valia e, portanto, a transformação do dinheiro em capital
não pode, por conseguinte, ser explicada por vender o vendedor as mercadorias acima
do valor nem por compra-las o comprador abaixo do valor (MARX, p. 191).
A capacidade de força de trabalho é uma mercadoria que cria valor. Por
força de trabalho ou capacidade de trabalho são as faculdades físicas e mentais
existentes no corpo de um ser humano. A força de trabalho é oferecida no mercado pelo
seu possuidor para o comprador.
O valor da força de trabalho é limitado pelo nível de subsistência do
trabalhador:

F.T. = hrs de T. + $ pago = transformação de $ em K.

C.1. PROCESSO DE TRABALHO E A PRODUÇÃO DA MAIS-VALIA

O processo de transformação do trabalho, da atividade que o homem opera


ferramentas para fabricação da matéria prima em uma mercadoria, passa a ser
determinada como valor de uso, um material da natureza adaptado às necessidades
humanas sob a forja do trabalho.
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O processo de trabalho quando ocorre como processo de consumo da força de


trabalho pelo capitalista apresenta dois fenômenos: 1. O trabalhador trabalha sob o
controle do capitalista, a quem pertence o seu trabalho. O capitalista paga pelo dia
de trabalho da força de trabalho do empregado, tal como se fosse utilização de um
cavalo que alugou por um dia para realizar o trabalho. Ao ser inserido na oficina do
capitalista o trabalhador, a sua força de valor de uso de trabalho pertence ao empresário.

O produto, da propriedade do capitalista, é um valor de uso: fios, calçados etc. [...] Na produção
de mercadorias, nosso capitalista não é movido por puro amor aos valores de uso. Produz valor
de uso apenas por serem e enquanto forem substrato material, detentores de valor de troca. Tem
dois objetivos. Primeiro, quer produzir um valor de uso que tenha um valor de troca, um artigo
destinado à venda, uma mercadoria. E segundo, quer produzir uma mercadoria de valor mais
elevado que o valor do conjunto das mercadorias necessárias para produzi-la, isto é, a soma dos
valores dos meios de produção e força de trabalho, pelos quais antecipou seu bom dinheiro no
mercado. Além de um valor de uso quer produzir mercadoria, além de valor uso, valor, e não só
valor, mas também valor excedente (mais valia) (MARX, p. 220).

A mais valia é originada de um excedente quantitativo de trabalho, da duração


prolongada do mesmo trabalho. O processo de produzir valor, o trabalho superior tem
de ser reduzido a trabalho social médio, por exemplo um dia de trabalho superior a x
dias de trabalho simples.
Os meios de produção e a força de trabalho são diferentes formas de existência
assumida pelo valor do capital, ao transformar-se da forma dinheiro em fatores do
processo de trabalho. A parte do capital que se converte em meios de produção, isto
é, em matéria-prima, materiais acessórios e meios de trabalho não muda o valor no
processo de produção. É chamado DE CAPITAL CONSTANTE.
A parte do capital convertida em força de trabalho, muda de valor no
processo de produção. Reproduz o próprio equivalente e proporciona a mais valia,
O EXCEDENTE QUE PODE VARIAR, ser maior ou menor. Essa parte do capital
transforma-se continuamente e é chamada DE CAPITAL VARIÁVEL.
O Grau de exploração da Força de Trabalho
Para Marx O CAPITAL pode ser decomposto em duas partes:
a) a Primeira uma soma de dinheiro é gasta com os meios de produção;
b) a Segunda gasta com a força de trabalho.
Logo, C representa a parte do valor que se transforma em capital constante e V que se
transforma em capital variável.
C = K.C + K.V.
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500 = 410 + 90
Valor = (c + v) + m
V = 410 + 90 + 90
Portanto o Capital se converte em 590 libras.
Sendo m = 90. (a mais valia é igual a 90 libras)
A taxa de mais valia é a expressa do grau de exploração da força de trabalho pelo
capital, ou do trabalhador pelo capitalista. A taxa de mais valia representa 18% do
valor investido pelo capitalista.
m 90
A expressão = = representa o trabalho excedente e o trabalho
v 90
necessário, e a proporção que existe entre ambas as partes que compõe o dia de trabalho
é de 100%. Portanto, o trabalhador trabalha metade do dia para si e a outra metade para
o capitalista.

Em poucas palavras, O MÉTODO DE CALCULAR A TAXA DE MAIS-VALIA é o


seguinte: tomamos o valor global do produto e dele deduzimos o valor capital constante,
valor que nele apenas reaparece. O valor remanescente é o único valor realmente gerado
no processo de produção da mercadoria. Dada a mais-valia, extraímo-la desse valor,
para achar o capital variável. Procedemos ao contrário se é dado este último e
procuramos saber a mais-valia. Sendo ambos dados, temos apenas de realizar a
operação final, calcular a relação entre a mais valia e o capital variável m/v (MARX, p.
255).
Abram na página 378 / meu livro 257.
Exercício em sala de aula.
Agora discutam como é formada a mais-valia de acordo com os valores apresentados
pelo autor.
O trabalho diário é de 12 horas e produz ao final do dia 20 quilos de fio de tecido, que
totalizam o valor de 30 xelins.
O valor constante é representado por 8/10 do total de Capital, que seja 24 xelins,
consumidos por 20 xelins para 20 quilos de fio, e 4 xelins é gasto em fusos.
O valor restante é 2/10 que são representados por 6 xelins, surgidos durante o processo
de fiação, que metade desse valor é direcionado para pagar o valor diário da força de
trabalho, ou seja, é o capital variável,
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E, a outra metade constitui a mais – valia de 3 xelins. O valor total de 20 quilos de fio
(30 xelins) se decompõe da seguinte forma:

30 xelins = 24 xelins + (3 xelins + 3 xelins)


Capital = constante + variável + m mais valia

Portanto, o produto é resultado do processo de produção, que é decomposto em:


a) Quantidade que representa o trabalho contido nos meios de produção, o capital
constante;
b) Noutra, onde está o trabalho necessário despendido no processo de produção,
que seja o capital variável;
c) Numa terceira que representa o trabalho excedente, empregado no processo ou a
mais – valia.

A famoso última hora de trabalho.


Assim, pode-se imaginar, por exemplo, que nosso fiandeiro, nas primeiras 8 horas de
sua jornada de trabalho, produz ou repõe o valor do algodão, no período seguinte, de
1 hora e 36 minutos, repõe o valor dos meios de trabalho consumidos, no período
subsequente, de 1 hora e 12 minutos, repõe o valor do salário, até chegar, enfim, à
famigerada “última hora”, que ele dedica ao patrão, à produção do mais-valor.
(MARX, p. 260 – 382 boitempo).
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8 SESSÃO - Capítulo 23 – A Lei geral da Acumulação Capitalista


3. A Lei geral de acumulação do capital e a expropriação do trabalho do
trabalhador

O processo da acumulação capitalista impacta de que forma em suas vidas? Na vida do


trabalhador? Vocês sabem me responder essa questão?
Pois bem, nessa aula quero discorrer sobre o cerne do objeto de analise em Karl Marx,
no livro o Capital, capitulo 23. Buscar compreender como a composição do capital e as
alterações que ela sofre durante o processo de acumulação tem um forte impacto em
nossas vidas.
O capital deve ser entendido de duas formas. A primeira forma é o capital
constante, aquilo que é referente ao valor dos meios de produção. A segunda forma é o
capital variável, ou aquilo que é dispendido com a força de trabalho, que significa a
soma de todos os salários dos trabalhadores. Para Marx, a primeira forma é a
significação do VALOR, para a segunda forma é designado a ideia de composição
técnica do CAPITAL. As duas formas estão em estreita correlação.
Então, por que há uma relação entre ambas formas de capital?
Os diversos capitais individuais que são aplicados em um ramo da produção têm
composições mais ou menos distintas entre si. Vamos entender na sentença a seguir:

M.C. = K.T. *ramo produção


M.C.P. = C. K. S.
Legenda:
M.C. – Média de composições
K.T. – capital total ramo de produção
M.C.P. – Média composição da produção
C.K.S. – Composiçao do capital social do país

Se, o que interessa a Marx nessa análise se restringe ao capital social, devemos
priorizar nossas atenções para a relação estabelecida entre o crescimento de capital e
suas implicações para o crescimento de seu componente variável, que seja, o
componente de que se converte em força de trabalho. Para Marx há uma tendência de
que a demanda de trabalho e o nível de subsistência dos trabalhadores crescerão
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proporcionalmente ao capital. O significado dessa relação pode ser melhor explicada na


setença seguinte:

Quanto maior for o impulso ao enriquecimento particular do empresário, com a abertura


de novos mercados, novas formas de aplicação de capital, a escala de acumulação irá
aumentar. Nessa linha de raciocínio, as necessidades da acumulação do capital podem
serem maiores que o crescimento da força de trabalho (ao número de trabalhadores), o
que impulsiona o aumento da demanda de trabalhadores à oferta, acarretando o aumento
dos salários. Portanto, ao final dessa linha de raciocínio nos teríamos a conversão do
aumento das demandas da produtividade da indústria transformadas no aumento de
empregos e dos salários dos trabalhadores, permitindo o espraiamento dessa
acumulação de capital para a sociedade.

Citação de Mandeville.
“E Bernard de Mandeville, no começo do século XVIII: “Onde quer que a propriedade
esteja suficientemente protegida, seria mais fácil viver sem dinheiro do que sem pobres,
pois [do contrário] quem faria o trabalho? [...] Assim como se deve cuidar para que os
trabalhadores não morram de fome, também não se lhes deve dar nada que valha a pena
ser poupado. Se aqui e ali alguém da classe mais baixa, mediante um esforço incomum
e apertando o cinto, consegue elevar-se acima das condições em que se criou, ninguém
deve impedi- lo: sim, não se pode negar que o plano mais sábio para cada pessoa
privada, para cada família na sociedade, é ser frugal; mas é do interesse de todas as
nações ricas que a maior parte dos pobres jamais esteja inativa e, no entanto, gaste
continua- mente o que ganha. [...] Os que ganham a vida com seu trabalho diário [...]
não têm nada que os estimule a serem serviçais senão suas necessidades, que é prudente
mitigar, mas insensato curar. A única coisa que pode tornar diligente o homem
trabalhador é um salário moderado. Um pequeno demais o torna, a depender de seu
temperamento, desanimado ou desesperançado; um grande demais o torna insolente e
preguiçoso. [...] Do que expusemos até aqui segue que, numa nação livre, em que
escravos não sejam permitidos, a riqueza mais segura está numa multidão de pobres
laboriosos. Além de constituírem uma inesgotável fonte de homens para a marinha e o
exército, sem eles não haveria qualquer satisfação e nenhum produto de nenhum país
seria valorizável. Para fazer feliz a sociedade” (que, naturalmente, é formada de não
trabalhadores) “e satisfazer ao povo mesmo nas circunstâncias mais adversas, é
necessário que a grande maioria permaneça tão ignorante quanto pobre. O
conhecimento expande e multiplica nossos desejos, e quanto menos um homem deseja,
tanto mais facilmente se podem satisfazer suas necessidades.” (MARX, op. Cit.
MANDEVILLE, p. 838 – 839).

Pois bem, quero saber qual é o objetivo de Marx ao enunciar e invocar


Mandeville? Por que é apontada essa condição do trabalhador? Respondam.
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Vou ir além, Marx aponta que há uma lacuna expressiva na afirmação de


Mandeville. Qual é?
A resposta está na relação que é estabelecida entre o processo de acumulação
de capital que aumenta, juntamente com o capital, e a massa de assalariados que se
convertem em sua força de trabalho para valorização do capital crescente.
Há um ponto estratégico na análise de Marx ao analisar o processo de
acumulação de capital, qual seja, o momento da compra da força de trabalho, para
satisfazer a valorização do capital do comprador. Em outras palavras, o objetivo
perseguido é a produção de mercadorias que contenham mais trabalho do que ele paga,
ou seja, que tenha uma parcela de valor que nada custa ao comprador. O ponto central
na análise é observar que a produção de mais valor, ou criação do excedente é a LEI
ABSOLUTA desse modo de produção.
Para Marx na sociedade capitalista opera uma lei de produção capitalista, que
significa que a relação entre o Capital, a Acumulação e a Taxa Salarial, ocorre quando
um quantidade de trabalho fornecida pelos trabalhadores não é paga, e esta parcela é
acumulada pela classe capitalista, de modo a transforma-la em capital de acordo com a
redução do mais trabalho, que alimenta o capital, reduzindo o movimento de aumento
do preço do salário.
Para Marx foi considerada somente uma fase particular do processo de
acumulação de capital, aquela em houve o crescimento do capital sem variação da
composição técnica desta.
A análise de Marx é sobre a massa dos meios de produção com que opera o
aumento da produtividade do trabalho. O aumento dos meios de produção em
comparação com a força de trabalho nele incorporado expressa a produtividade
crescente do trabalho. De maneira correlata, há a diminuição da massa de trabalho em
relação a massa de meios de produção. Essa alteração na composição técnica do capital
aumenta o componente constante do valor do capital à custa de seu componente
variável. Em outras palavras, é reduzido o valor dispendido pelo empresário no capital
variável representado pelos salários dos trabalhadores, para ampliar o capital gasto em
equipamentos para produtividade.
Antes era decomposto o valor de um capital, em 50% de capital constante e 50%
de variável, e posteriormente, em 80% de capital constante e 20% de variável.
Para Marx o processo de acumulação de capital é intensificado por meio do
sistema de crédito e que se convertem em uma nova arma na luta concorrencial e num
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mecanismo social para centralização dos capitais. Na medida em que se desenvolvem a


produção e a acumulação capitalista, se desenvolve a concorrência e o crédito, duas
poderosas alavancas da centralização.
A transformação de processos de produção isolados em processos de produção
socialmente combinados é por meio da centralização da acumulação, colocando os
capitalistas industriais em condições de ampliar a escala de suas operações.

Os capitais adicionais formados no decorrer da acumulação normal (ver capítulo 22,


item 1) servem preferencial- mente como veículos para a exploração de novos inventos
e descobertas, ou aperfeiçoamentos industriais em geral. Com o tempo, porém, também
o velho capital chega ao momento em que se renova da cabeça aos pés, troca de pele e
renasce na configuração técnica aperfeiçoada, em que uma massa menor de trabalho
basta para pôr em movimento uma massa maior de maquinaria e matérias-primas.
Evidentemente, o decréscimo absoluto da demanda de trabalho, que decorre
necessariamente daí, torna-se tanto maior quanto mais já estejam acumulados, graças ao
movimento centralizador, os capitais submetidos a esse processo de renovação (MARX,
854-855).

A progressiva ampliação da superpopulação relativa ou exercito industrial de


reserva é uma das derivações que ocorreram a partir do processo de acumulação de
capital, como resultado da contínua alteração qualitativa de sua composição, num
acréscimo constante de seu componente constante à custa do seu componente variável.
K constante vs. K variável
1:1 2:1 3:1 4:1 5:1 7:1 etc...
Se convertem em meios de produção numa escala muito superior à conversão
em força de trabalho.
Portanto, a acumulação capitalista produz constantemente uma população
trabalhadora adicional relativamente excedente, isto é, excessiva para as necessidades
médias de valorização do capital.

Até aqui foi pressuposto que o acréscimo ou de- créscimo do capital variável
corresponde exatamente ao acréscimo ou decréscimo do número de trabalhadores
ocupados. Exercendo o comando de um número igual ou até de- crescente de
trabalhadores, o capital variável cresce, no en- tanto, se o trabalhador individual fornece
mais trabalho e, com isso, aumenta seu salário, ainda que o preço do tra- balho se
mantenha igual ou caia, só que num ritmo mais lento do que o do aumento da massa de
trabalho. crescimento do capital variável torna-se, então, o índice de mais trabalho, mas
não de mais trabalhadores ocupados. Todo capitalista tem interesse absoluto em extrair
uma de- terminada quantidade de trabalho de um número menor de trabalhadores, em
vez de extraí-lo por um preço igual ou até mesmo mais barato de um número maior de
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trabal- hadores. No último caso, o dispêndio de capital constante aumenta na proporção


da massa de trabalho posta em mo- vimento; no primeiro caso, ele aumenta muito mais
lenta- mente. Quanto maior a escala da produção, tanto mais de- cisivo é esse motivo.
Seu peso aumenta com a acumulação do capital (MARX, p. 862-863).

Vimos que o desenvolvimento do modo de produção capitalista e da força produtiva do


trabalho – simultanea- mente causa e efeito da acumulação – capacita o capitalista a
movimentar, com o mesmo dispêndio de capital variável, mais trabalho mediante uma
maior exploração extensiva ou intensiva das forças de trabalho individuais. Vimos, além
disso, que ele, com capital do mesmo valor, compra mais forças de trabalho ao
substituir progressivamente tra- balhadores mais qualificados por menos qualificados,
ma- duros por imaturos, masculinos por femininos ou adultos por adolescentes ou
infantis.
Por um lado, portanto, com o avanço da acumulação, um capital variável maior põe
mais trabalho em movi- mento, sem recrutar mais trabalhadores; por outro, um capital
variável do mesmo tamanho põe mais trabalho em movimento com a mesma massa de
força de trabalho e, por fim, mais forças de trabalho inferiores mediante a sub- stituição
de forças de trabalho superiores.
A produção de uma superpopulação relativa ou a liber- ação de trabalhadores avança
com rapidez ainda maior do que a – já acelerada com o progresso da acumulação –
revolução técnica do processo de produção e a correspond- ente redução proporcional
da parte variável do capital em relação à parte constante. Se os meios de produção, cres-
cendo em volume e eficiência, tornam-se meios de ocu- pação dos trabalhadores em
menor grau, essa mesma re- lação é novamente modificada pelo fato de que, à medida
que cresce a força produtiva do trabalho, o capital eleva mais rapidamente sua oferta de
trabalho do que sua de- manda de trabalhadores. O sobretrabalho da parte ocu- pada da
classe trabalhadora engrossa as fileiras de sua re- serva, ao mesmo tempo que,
inversamente, esta última ex- erce, mediante sua concorrência, uma pressão aumentada
sobre a primeira, forçando-a ao sobretrabalho e à submis- são aos ditames do capital. A
condenação de uma parte da classe trabalhadora à ociosidade forçada em razão do
sobretrabalho da outra parte, e vice-versa, torna-se um meio de enriquecimento do
capitalista individual83, ao mesmo tempo que acelera a produção do exército industri-
al de reserva num grau correspondente ao progresso da acumulação social. A
importância desse fator na formação da superpopulação relativa o demonstra, por
exemplo, o caso da Inglaterra. Seus meios técnicos para “economizar” trabalho são
colossais, no entanto, se amanhã o trabalho fosse reduzido, de modo geral, a uma
medida racional, e fosse graduado de acordo com as diferentes camadas da classe
trabalhadora, conforme a idade e o sexo, a popu- lação trabalhadora existente seria
absolutamente insufi- ciente para conduzir adiante a produção nacional em sua escala
atual. A grande maioria dos trabalhadores atual- mente “improdutivos” teria de ser
transformada em “produtivos” (MARX, p. 863-864).

O exército industrial de reserva exerce forte inércia para a baixa dos valores dos
salários, e a sua regulação é realizada de acordo com a expansão ou contração do
exército industrial de reserva, que são organizados pela alternância do ciclo industrial.
A variável que regula a absorção de mão de obra é pela contração ou expansão
do capital. O aumento do salário estimula o aumento mais rápido da população
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trabalhadora, aumento que prossegue até o mercado de trabalho esteja saturado, ou seja,
até que o capital se torne insuficiente em relação à oferta de trabalho. O salário diminui
e então temos o reverso da medalha.
As fases da constituição, aplicação do exercíto de reserva:
1 fase: a acumulação é intensa onde determinada esfera da produção, possui em
determinada conjuntura, maiores lucros médios e atração de capital adicional. Entáo
ocorre a atração de trabalhadores por salários maiores. Até que a força de trabalho esteja
saturada e o salário caia novamente para o nível médio anterior, a imigração de
trabalhadores para o ramo de atividades em questão é interrompida;
2 fase: no período de estagnação o exército industrial de reserva pressiona o exército
ativo de trabalhadores. A superpopulação relativa é o pano de fundo sobre o qual se
move a lei da oferta e da demanda de trabalho. A demanda de trabalho não é idêntica ao
crescimento do capital, e a oferta de trabalho não é idêntica ao crescimento da classe
trabalhadora.
A superpopulação existe em as matizes possíveis, em que o trabalhador esteja
parcial ou inteiramente desocupados. As diferentes formas de existência da
superpopulação relativa podem ser distintas em três: flutuante, latente e estagnada.
A forma FLUTUANTE é característica dos centros da indústria moderna,
fábricas, manufaturas, fundições e minas, onde os trabalhadores são repelidos, ora
atraídos novamente, mas estão sempre em proporção decrescente em relação à escala da
produção. Nessas fábricas a maquinaria constitui um fator junto com a moderna divisão
do trabalho. Grande parte da massa de trabalhadores é constituída por jovens
masculinos, no qual o seu número pode oscilar de acordo com o tamanho da indústria.
A segunda forma é a LATENTE, e está representada pela agricultura, em que a
demanda pelos trabalhadores rural decresce em termos absolutos na mesma proporção
em que aumenta a acumulação do capital, sem que ocorra atração desses trabalhadores
como ocorre em ramos da indústria. Uma parte da população rural se transfere para o
proletariado urbano ou manufatureiro. A transferência dessa população dos campos para
as cidades pressupõe uma contínua superpopulação latente, cujo volume só se torna
visível a partir do momento em que os canais de escoamento se abrem. O trabalhador
rural é reduzido ao salário mínimo e está sempre com um pé no pauperismo.
A terceira categoria da superpopulação relativa, A ESTAGNADA, é a base da
população trabalhadora e está concentrada no trabalho de ocupação irregular. Ele é
representado por uma massa da população, considerada depósito inesgotável de força
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de trabalho disponível. Seu nível de vida é abaixo da do trabalhador industrial e


agrícola, que a torna uma base ampla para certos ramos de exploração do capital. Suas
características são o máximo de tempo de trabalho e o mínimo de salário.
A parte inferior da população que compõe o exercíto industrial de reserva é
povoada pelo nível do pauperismo. Abstraindo dos vagabundos, delinquentes,
prostitutas, em suma, do lumpemproletariado propriamente dito, essa camada social é
formada por três categorias: aptos ao trabalho; os órfãos e os filhos de indigentes;
degradados, maltrapilhos ou incapacitados para o trabalho.

Por fim, quanto maior forem as camadas lazarentas da classe trabalhadora e o exército
industrial de reserva, tanto maior será o pauperismo oficial. Essa é a lei geral, absoluta,
da acumulação capitalista (p.875).

ao analisarmos a produção do mais-valor relativo, vimos que, no interior do sistema


capitalista, to- dos os métodos para aumentar a força produtiva social do trabalho
aplicam-se à custa do trabalhador individual; to- dos os meios para o desenvolvimento
da produção se con- vertem em meios de dominação e exploração do produtor, mutilam
o trabalhador, fazendo dele um ser parcial, degradam-no à condição de um apêndice da
máquina, aniquilam o conteúdo de seu trabalho ao transformá-lo num suplício, alienam
ao trabalhador as potências espir- ituais do processo de trabalho na mesma medida em
que a tal processo se incorpora a ciência como potência autônoma, desfiguram as
condições nas quais ele trabalha, submetem-no, durante o processo de trabalho, ao
despot- ismo mais mesquinho e odioso, transformam seu tempo de vida em tempo de
trabalho, arrastam sua mulher e seu filho sob a roda do carro de Jagrenái do capital. Mas
todos os métodos de produção do mais-valor são, ao mesmo tempo, métodos de
acumulação, e toda expansão da acu- mulação se torna, em contrapartida, um meio para
o desenvolvimento desses métodos. Segue-se, portanto, que à medida que o capital é
acumulado, a situação do trabal- hador, seja sua remuneração alta ou baixa, tem de
piorar. Por último, a lei que mantém a superpopulação relativa ou o exército industrial
de reserva em constante equilíbrio com o volume e o vigor da acumulação prende o
trabal- hador ao capital mais firmemente do que as correntes de Hefesto prendiam
Prometeu ao rochedo. Ela ocasiona uma acumulação de miséria correspondente à
acumulação de capital. Portanto, a acumulação de riqueza num polo é, ao mesmo
tempo, a acumulação de miséria, o suplício do tra- balho, a escravidão, a ignorância, a
brutalização e a de- gradação moral no polo oposto, isto é, do lado da classe que produz
seu próprio produto como capital (MARX, p. 876-877).

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