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GUIA PRÁTICO DA

ADVOCACIA ELEITORAL
POR CAIO VITOR BARBOSA

Tudo para advogar nas eleições municipais de 2020


SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 3

AINDA PRELIMINARMENTE: COMO COMEÇAR NA


ADVOCACIA ELEITORAL 6
REPRESENTAÇÃO POR CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO
PRINCIPAIS LEIS DA PRÁTICA DA ADVOCACIA (COMPRA DE VOTO) 44

ELEITORAL 10 REPRESENTAÇÃO POR CONDUTA VEDADA AO AGENTE


PÚBLICO 49
CONSTITUIÇÃO FEDERAL 10
REPRESENTAÇÃO POR CAPTAÇÃO E GASTO ILÍCITO DE
LEI DA INELEGIBILIDADE 12 CAMPANHA (CAIXA 2) 72

LEI DOS PARTIDOS POLÍTICOS 14 AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL 83

LEI DAS ELEIÇÕES 15 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO 91



INTRODUÇÃO AO PROCESSO JUDICIAL ELEITORAL RECURSO CONTRA A EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA 98
22
AÇÃO CAUTELAR 104
ILÍCITOS POLÍTICO-ELEITORAIS E MEDIDAS JUDICIAIS
CABÍVEIS 26 DEFESAS 108

AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE REGISTRO DE RECURSOS 109


CANDIDATURA 27
AGRADECIMENTOS 111
REPRESENTAÇÕES DE PROPAGANDA 31

PROPAGANDA IRREGULAR 35

DIREITO DE RESPOSTA 41

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INTRODUÇÃO

Este é um guia para quem pretende iniciar ou centrar no essencial para os causídicos tornarem-
aperfeiçoar sua atuação como advogado na área se eleitoralistas, principalmente em matéria de
eleitoral e aproveitar as oportunidades que surgirão contencioso político, não penal. Falaremos sobre
com as eleições municipais de 2020. as principais medidas judiciais da área eleitoral,
inclusive com a disponibilização de 11 modelos de
Seu enfoque é a prática da advocacia eleitoral, petições iniciais, e trataremos, de forma transversal,
portanto, se você é agente político, (pré)candidato das questões mais relevantes do direito material
ou profissional de outra área (contador, publicitário, eleitoral (direitos políticos, registro de candidatura,
etc.), possivelmente esse material não estará alinhado propaganda, financiamento de campanha, condutas
com o que busca. Se deseja um conteúdo voltado para vedadas, abuso de poder e uso indevido dos meios de
atuação dos (pré)candidatos e dos agentes políticos, comunicação social, compra de votos, etc.).
recomendo outras fontes de pesquisa, dentre os
quais, humildemente, os materiais que produzimos E por que resolvemos produzir esse e-book?
em nosso escritório, Queiroz, Barbosa e Bezerra
Advocacia (www.qbb.adv.br). O direito eleitoral é um ramo pouco estudado nas
faculdades brasileiras. Em regra, não figura entre as
Iremos abordar neste e-book muitas questões cadeiras obrigatórias dos cursos de direito do país
técnicas, próprias da atuação advocatícia. Por isso, e nem todas as graduações a oferecem sequer como
se você é advogado, provavelmente esse e-book uma matéria optativa, de modo que os estudantes
será útil para sua capacitação. Nossa intenção é de direito costumam se formar com pouco ou quase

3
nenhum estudo no ramo eleitoralista. ramo que as decisões judiciais têm uma importância
destacada enquanto fonte do direito.
Se o direito material é pouco estudado durante a
graduação, menos ainda o é a prática jurisdicional Todo esse cenário nos motivou a escrever este
eleitoral. E essa dificuldade para quem sai da faculdade e-book e a desenvolver o Advogue nas Eleições: uma
para o mercado de trabalho tem ainda alguns outros metodologia que visa possibilitar aos advogados
agravantes. Primeiro, o sistema processual eleitoral tem atuarem na área eleitoral, aproveitando as oportunidades
muitas peculiaridades em comparação com o processo que esse nicho pode trazer para alavancar a carreira
civil. Os prazos, as medidas cabíveis, os legitimados, as profissional dos causídicos.
decadências e preclusões dos processos eleitorais são
bem diferentes do que se verifica na área cível. Outro Na eleição de 2016, cerca de meio milhão de
problema: ainda se tem no Brasil poucos livros de direito candidatos registraram candidatura; em 2020, esse
eleitoral. Há obras de relevo – e aqui eu deixo a indicação número deve ser igual ou superior. O Brasil tem
do livro Direito Eleitoral de José Jairo Gomes1 – mas 32 partidos políticos, 5570 municípios. Números
penso que há uma lacuna, principalmente em relação grandiosos. Já imaginou a quantidade de processos
à prática da advocacia eleitoral, que este e-book visa de registros de candidaturas, prestações de contas e
colaborar a preencher. Por fim, como a Justiça Eleitoral de representações que existirão na próxima eleição
é composta por juízes nomeados para o exercício municipal? Sem dúvida, serão milhares, tornando essa
de mandatos, a jurisprudência das cortes eleitorais uma das maiores oportunidades de captação de clientes
costuma sofrer bastante alterações, ao passo de ser um para a advocacia dos últimos anos!
1 Sem embargo das demais, obviamente, mas é, sem dúvidas, o livro de
maior relevância e mais citado por quem atua na área.

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QUEM É CAIO VITOR BARBOSA?

Eu sou Caio Vitor Barbosa, advogado eleitoralista,


presto, há mais de dez anos, assessoria jurídica
a partidos e agentes políticos em eleições para
prefeito, vereador, deputado, senador e governador,
sou sócio fundador do Queiroz, Barbosa e Bezerra
Advocacia, ex-presidente da Comissão de Direito
Eleitoral da OAB-RN, e queria compartilhar da
experiência acumulada ao longo de todo esse tempo,
te convidando a ficar comigo até o final deste e-book.
Pode ser? Desde já, obrigado, espero que goste, um
abraço.

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AINDA PRELIMINARMENTE: COMO
COMEÇAR NA ADVOCACIA ELEITORAL

O exercício, de forma qualificada, da advocacia em cima dessa base, o advogado deverá conquistar,
eleitoral é baseado no tripé de conhecimento: (i) da diuturnamente, novos conhecimentos, realizar
legislação especial, (ii) das medidas judiciais próprias e pesquisas, atualizar-se com as notícias, participar
(iii) da jurisprudência da justiça eleitoral. Neste e-book de discussões, e assim por diante. O direito eleitoral
vamos tratar dos três aspectos. é muito dinâmico. Além das mudanças legislativas
que vem acontecendo regularmente, a cada dois anos,
No canal do YouTube do Advogue nas Eleições há como disse acima, a jurisprudência dos tribunais
vídeos tratando sobre esse tripé, principalmente sobre a em matéria eleitoral é bastante mutável e o cenário
legislação e como pesquisar a jurisprudência das cortes político, atualmente, muito instável. No entanto, não
do país2. Vamos aprofundar os dois temas neste e-book tenho dúvidas, com esse tripé (legislação, processos
e apresentar as principais medidas judiciais do ramo e jurisprudência) bem estabelecido já é possível
eleitoral, trazendo modelos das respectivas petições prospectar clientes e se colocar em atuação com
iniciais. Essa base já permitirá que o advogado se situe segurança no nicho da classe política.
adequadamente na área e, a partir daí, já possa se colocar
no mercado eleitoralista. E, falando sobre esse nicho, permitam-me um
breve parêntese. Há no país, hoje, um sentimento
Obviamente, como em qualquer outro ramo, muito forte de negação à política. As pessoas estão
desiludidas, cansadas, e magoadas com os políticos em
2 Vídeo Principais Leis da Prática da Advocacia Eleitoral (clique aqui) e
Como Conhecer a Jurisprudência da Justiça Eleitoral (clique aqui).
geral. Não é um fenômeno só brasileiro. Mas, no Brasil,

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é possível identificá-lo com bastante ênfase. E as constituir sua base nesse tripé (legislação, processos
pessoas, convenhamos, têm toda razão de se sentirem e jurisprudência), é hora de partir para a prospecção.
dessa forma. Diante de tantos casos de corrupção que Nesse ponto, preciso ser franco com vocês, essa não é
tomam conta há anos do noticiário no país, é mais do minha área de conhecimento específico.
que legítimo que surja essa tendência à antipolítica.
Mas, penso, que a rejeição da política não é o melhor
caminho. Não há como fugir da política, ela está
presente em todos os espaços e relações humanas.
Mais benéfico que negá-la é buscar melhorá-la e você
que resolveu atuar no ramo eleitoral tem um papel
muito importante nisso. A você, depois da leitura
deste e-book e de acompanhar o Advogue nas Eleições, Há especialistas mais bem capacitados para
caberá a defesa da democracia, das boas práticas na auxiliá-lo na estruturação de sua estratégia de marketing.
política, o combate aos abusos político e econômico, Deixo aqui a recomendação de dois: Juliano Torriani
aos maus políticos, aos compradores da liberdade e (@julianotorriani), que fala de modo mais abrangente,
da consciência dos eleitores, a luta contra o uso do sobre estratégias aplicáveis a todos os tipos de negócios,
Estado com fins eleitoreiros, a favor da preservação e Lindson Rafael (@lindsonrafael), do Advogado que
da igualdade, da lisura das eleições e da soberania Vende, mais específico para o marketing jurídico. Vale
popular. a pena conhecer o trabalho dos dois. São faixas pretas.
No entanto, da minha experiência, creio que posso
Fechando o parêntese, depois de o advogado deixar três contribuições.

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MARKETING JURÍDICO

Primeiro, é preciso desmistificar um pouco a diferenciais do produto/serviço que ofertamos, porque


questão do marketing para a advocacia. Ao contrário do ele é melhor que o da concorrência, como ele resolve
que alguns pensam, o advogado pode sim ter estratégias de modo mais eficaz as dores dos prospectos. Enfim,
de prospecção de clientes. O que o Código de Ética da pense bem nesse aspecto e não esqueça que, em regra,
Advocacia impede é a mercantilização da profissão, é mais fácil manter um cliente que conquistar um novo
algo diverso de não se ter uma estratégia de vendas dos e a reputação é a base de qualquer empreendimento.
serviços do advogado. Veja o Código de Ética e confirme
o que estou falando. Terceiro, analise a estratégia que utilizará para
prospectar seus clientes. Neste vídeo (clique aqui),
Segundo, pense bem no valor e na oferta que falei um pouco das ferramentas que utilizei para
oferecerá aos seus clientes. Lembrando sempre que construir minha carreira na área eleitoral. Porém,
valor é diferente de preço. Na advocacia, ao contrário no geral, as estratégias de marketing atualmente
de outros empreendimentos, pensamos pouco em qual estão divididas basicamente em dois grandes ramos:
produto/serviço o advogado vai ofertar ao mercado. o digital e o offline. Em resumo, o primeiro usa as
Somos levados a pensar que ter a carteira da OAB e ser novas ferramentas tecnológicas (principalmente das
advogado é o suficiente para que os clientes batam em redes sociais) para posicionar bem o advogado (e
nossas bancas atrás de nos contratar. Porém, sabemos sua marca) no mercado, notadamente por meio da
que não é bem assim há muito tempo. Não basta só produção de conteúdo, para que esse possa se tornar
pensar o ramo de atuação, a área do Direito que pretende uma autoridade e utilizar de processos como o funil de
se especializar, mas também quais problemas do meu vendas para converter visitantes em leads e leads em
público eu vou resolver. É necessário refletir sobre quais clientes. O segundo usa ferramentas mais tradicionais,

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como portifólios, cartas de apresentação, cartões de
visita e o uso do networking, o contato corpo a corpo
para o convencimento e fechamento de contratos
com clientes em potencial (venda direta). Porém,
um não é empecilho ao outro, na verdade, ambos se
complementam. Podem ser usados pelo advogado
concomitantemente, basta pesquisar um pouco, traçar
as metas, ações e executar.

Como disse, sobre marketing, eram só algumas


dicas. Há e-books e treinamentos específicos sobre o
assunto. Nosso foco aqui é agregar ao seu portifólio a
advocacia eleitoral, ou seja, tornar os advogados aptos
a prestarem consultoria a agentes políticos para que
esses possam ter mais segurança jurídica em suas
tomadas de decisões; e a atuarem no contencioso
na propositura ou na defesa em medidas judiciais
eleitorais. Então vamos ao que interessa.

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PRINCIPAIS LEIS DA PRÁTICA DA
ADVOCACIA ELEITORAL
O primeiro passo para atuar na área eleitoral é e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
conhecer a legislação específica do ramo. Em virtude Democrático de Direito e tem como fundamentos:
do tamanho de um e-book e do propósito de ser esse I - a soberania;
II - a cidadania;
um guia, é impossível adentrar-se em todos os detalhes
III - a dignidade da pessoa humana;
envolvidos nesse assunto. A seguir apresentamos os IV - os valores sociais do trabalho e da livre
principais pontos de legislação eleitoral para iniciar o iniciativa;
advogado no ramo eleitoralista. V - o pluralismo político.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL Parágrafo único. Todo o poder emana do povo,


que o exerce por meio de representantes eleitos
A Constituição, enquanto Carta Política que ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
(Grifos acrescidos).
estrutura um Estado, forma a base do Direito, em especial
do direito eleitoral. No caso da brasileira, seu primeiro José Afonso da Silva define assim, cidadania e
artigo já estabelece quatro parâmetros essenciais para direitos políticos, respectivamente:
embasamento da ordem jurídica-político-eleitoral:
cidadania, pluralismo político, soberania popular e “(...) atributo das pessoas integradas na sociedade
democracia representativa, nestes termos: estatal, atributo político decorrente do direito
de participar no governo e direito de ser ouvido
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela representação política. Cidadão, no direito
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios

10
brasileiro, é o indivíduo que seja titular dos com valor igual para todos, ao passo que o art. 60, §4º,
direitos políticos de votar e de ser votado e suas II, coloca o “voto direto, secreto, universal e periódico” como
consequências.”3 cláusula pétrea.
***
“(...) direito democrático de participação do povo
Já o direito político passivo é a prerrogativa de
no governo, por seus representantes.”4
concorrer e ocupar os cargos (art. 37, I, da CF) eletivos,
Tais direitos e os partidos políticos estão
também chamado de elegibilidade ou ius honorum. No
posicionados no texto constitucional, respectivamente,
Recurso Extraordinário n.º 603.3703/MG, o Supremo
nos capítulos IV e V do título II da Carta Magna, que
expressou o caráter fundamental desse direito:
trata “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”. Esse
é um aspecto relevante, pois tanto formal quanto
“Toda limitação legal ao direito de sufrágio passivo,
materialmente os direitos políticos são direitos isto é, qualquer restrição legal à elegibilidade do
fundamentais, e os partidos políticos constituem cidadão constitui uma limitação da igualdade de
uma garantia fundamental dos indivíduos e da oportunidades na competição eleitoral. Não há
coletividade. como conceber causa de inelegibilidade que não
restrinja a liberdade de acesso aos cargos públicos,
O direito político ativo corresponde ao direito por parte dos candidatos, assim como a liberdade
para escolher e apresentar candidaturas por parte
de votar (sufrágio). O art. 14, caput, da CF expressa a
dos partidos políticos.”5
forma do exercício da soberania popular, que se dá pelo
Nos arts. 14 a 17, a CF disciplina tais direitos e os
sufrágio, de forma direta (sem intermediário) e secreto,
partidos na ordem jurídico-político brasileira.
3 Curso de Direito Constitucional Positivo, 23ª ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2004. Pág. 344-345. 5 RE n.º 603.3703/MG, Relator: Ministro Gilmar Mendes, Tribunal
4 Op. cit.. Pág. 343. Pleno, Publicação: DJe, em 17-11-11.

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LEI DE INELEGIBILIDADES

A Lei de Inelegibilidades (LCF n.º 64/90) é político passivo. Por isso, o cidadão que se encontra
uma positivação do preceito constitucional do art. inelegível pode e deve votar.
14, §9º, da CF. A Lei da Ficha Limpa (LCF n.º 135/10)
foi uma alteração desse diploma legal e implicou Para poder se eleger, o cidadão precisa
regulamentação da EC n.º 04/946, a qual incluiu na preencher as causas de elegibilidade constitucionais –
Constituição a necessidade de vedação à candidaturas nacionalidade brasileira, pleno exercício dos direitos
de quem violou a “probidade administrativa, a moralidade políticos, alistamento eleitoral, domicílio eleitoral na
para exercício de mandato” e “a normalidade e legitimidade circunscrição, filiação partidária, idade mínima para
das eleições”, levando em consideração “vida pregressa do disputar o cargo, alfabetização (art. 14 da CF) – e
candidato”. infraconstitucional: quitação eleitoral (art. 11, V, §7º, da
Lei das Eleições) e não incorrer em uma das causas de
O art. 15 da CF proíbe a cassação (definitiva) inelegibilidade:
dos direitos políticos, e limita a perda e suspensão
(temporárias) às hipóteses de seus incisos. Perda e “(...) a elegibilidade é a adequação do indivíduo ao
suspensão são de ambos direitos políticos (ativo e regime jurídico – constitucional e legal complementar
passivo, de votar e ser votado), já a inelegibilidade – do processo eleitoral, consubstanciada no
não preenchimento de requisitos ‘negativos’ (as
corresponde a uma restrição apenas do direito
inelegibilidades).”7
6 Em 2006, a Justiça Eleitoral discutiu se essa regra constitucional seria
autoaplicável ou demandaria uma norma infraconstitucional, no registro de
candidatura do ex-presidente do Vasco, Eurico Miranda, RO n.º1069. O mi-
As situações de inelegibilidade são previstas pela
nistro Ayres Britto defendeu a autoaplicação, mas foi voto vencido. O registro CF (art. 14, §§5º-8º) e pela LCF n.º 64/90 (art. 1º).
foi deferido por 4x3, e daí surgiu o movimento que resultou na aprovação da 7 STF, ADC n. 29 e 30, Relator: Ministro Luiz Fux, Pleno, Publicação:
Lei da Ficha Limpa em 2010. DJE 29-06-2012.

12
O art. 1º, II, da LCF n.º 64/90 trata dos casos
que exigem desincompatibilização (afastamento de
determinado cargo ou função para poder disputar a
eleição, em certo prazo, e para os cargos especificados)
dos agentes políticos, servidores públicos, dirigentes
empresariais e de entidades em situações especiais,
bem como sindicais. São as inelegibilidades relativas
(se o cidadão não observar esses prazos de afastamento,
estará impedido de disputar a eleição). Para saber mais
sobre os prazos e hipóteses, veja o serviço do TSE sobre
o assunto (aqui).

Já o art. 1º, I, da LCF n.º 64/90 prescreve as


situações de inelegibilidade absolutas, que podem ter
suas alíneas classificadas desta forma:

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LEI DOS PARTIDOS POLÍTICOS

A LF n.º 9.096/95 dispõe sobre os partidos políticos, agremiações. Além dessas, a cada eleição, os partidos
regulamentando os arts. 17 e 14, § 3º, V, da Constituição também devem prestar contas, independente de seu
Federal. Seu art. 1º conceitua os partidos como pessoa nível (nacional, regional ou municipal), de acordo com
jurídica de direito privado e estabelece suas finalidades: as regras da lei e resolução eleitorais.
“assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade
do sistema representativo” e “defender os direitos fundamentais”. As regras para mudança de partido por parte dos
filiados, inclusive a janela partidária, são fixadas pelos
A lei positiva e regulamenta os princípios da arts. 21 e 22 da LF n.º 9.096/95. A questão da fidelidade
autonomia e do caráter nacional partidários, normatiza partidária, por seu turno, é regulada pela Resolução do
a relação entre os filiados e as agremiações, estabelece o TSE n.º 23.456/2007 (ver aqui).
dever de registro dos partidos perante o TSE, preceitua
parâmetros para os estatutos e programas das legendas,
fixa as regras para arrecadação (inclusive pelo Fundo
Partidário) e gastos de recursos, assim como para
prestações de contas anuais, e ainda os efeitos dos
julgamentos pela aprovação, desaprovação e pela não
apresentação dessas prestações.

As regras de prestações de contas anuais são


complementadas pela Resolução do TSE n.º 23.546/2017
(ver aqui). Essas são as contas do dia a dia das

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LEI DAS ELEIÇÕES

A LF n.º 9.504/97 é o principal diploma legal do antes do pleito, ou seja, novos partidos que obtiverem
processo eleitoral no país, mais até do que o Código registro até 4 de abril de 2020 poderão lançar candidatos
Eleitoral. Tal lei foi responsável por conferir uma maior na eleição desse ano;
estabilidade ao direito eleitoral brasileiro, pois, antes
de sua edição, a cada eleição uma nova legislação era b) a forma dos partidos constituírem coligações e os
editada para disciplinar especificamente o pleito futuro. efeitos dessa decisão (art. 6º): na eleição de 2020, os
partidos ainda poderão formar coligações para a eleição
Mesmo assim, o Congresso Nacional tem mantido de prefeito, o que é importante para distribuição do
o hábito de aprovar reformas legislativas nos anos tempo de propaganda no rádio e tv, por exemplo;
ímpares (um ano antes do dia da eleição subsequente,
em virtude do princípio da anualidade previsto pelo c) as convenções para escolhas de candidatos (arts. 7º
art. 16 da CF). a 9º): devem ocorrer de 20 de julho a 5 de agosto do ano
eleitoral; a lei delega aos estatutos a fixação das regras
Essa lei, portanto, será um dos principais de escolha de candidatos; e os órgãos partidários podem
instrumentos de trabalho do advogado eleitoralista, estabelecer diretrizes nacionais, até cento e oitenta dias
que recorre à sua consulta e utilização constantemente. antes do pleito, quanto a parâmetros para formação das
Não obstante, em resumo, os principais pontos que a coligações pelos órgãos partidários inferiores, assim
lei disciplina8 são: como anular as convenções de quem as descumprir;
a) o prazo para os partidos se registrarem perante
o TSE e participarem da eleição (art. 4º): seis meses d) os registros de candidaturas (arts. 10 a 16-B): nas
8 Nos comentários vamos falar considerando apenas as eleições munici- eleições de vereador de 2020, os partidos poderão
pais de 2020.

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formar lista de candidatos (nominata) com até 150% divididos entre os partidos desta forma: igualitariamente
do número de cadeiras da respectiva Câmara de (2%), igualitariamente entre os partidos com deputados
Vereadores; indicar no mínimo 30% e no máximo de federais eleitos (35%), proporcionalmente ao número
70% para candidaturas de cada sexo; os candidatos a de deputados federais (48%) e proporcionalmente
vereador deverão ter 18 anos no momento do registro ao número de senadores (15%). Os órgãos de direção
de candidatura, e a prefeito, 21, no momento da posse; nacional fixam as regras de distribuição intrapartidária
a documentação para o registro de candidatura está e o TSE gerencia o repasses para esses;
prevista no art. 11, §1º; a forma de comprovar quitação
eleitoral, no art. 11, §§7º-8º; o momento de aferição das f) as regras de arrecadação e gastos de campanha
condições de (in)elegibilidade, no art. 11, §10; o modo (arts. 17-27): limites de gastos das campanhas (art.
de escolher o nome do candidato, no art. 12; como e até 16-C, levando-se em consideração os limites de 2016
quando substituir e cancelar registros de candidaturas, (ver aqui); responsabilidade pela gestão financeira da
nos arts. 13-14; como decidir os números de urna dos campanha (arts. 17, 20-21 e 25); necessidade de abertura
candidatos, no art. 15; e o direito dos candidatos sub de contas bancárias e de pagamento das despesas por
judice de realizarem propaganda enquanto recorrem meio delas (art. 22); de inscrição no CNPJ (art. 22-A);
das impugnações ou têm seus registros julgados, nos formas permitidas (arts. 23 e 24-C) e vedadas (art. 24)
arts. 16-A e 16-B; de doações; os tipos e limites de gastos de campanha
(art. 26); e a possibilidade do eleitor realizar gastos
e) o Fundo Especial de Financiamento de Campanha próprios em campanhas eleitorais (art. 27);
(arts. 16-C-16-D): este fundo foi criado em 2017, é
custeado com recursos do orçamento da União e visa g) as prestações de contas (arts. 28-32): a forma
financiar as campanhas eleitorais. Os recursos são de prestar contas e comprovar despesas (art. 28); o

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procedimento perante a Justiça Eleitoral (art. 29); os propaganda paga no rádio e na tv (art. 36, §2º); quem
tipos de decisões sobre as prestações de contas e as realiza propaganda eleitoral antecipada está sujeito
modalidades de recursos (art. 30); a previsão da ação a multa de 5 a 25 mil reais (art. 36, §3º); mas diversas
por arrecadação e gastos ilícitos de campanha (art. 30- condutas de comunicação do pré-candidato, desde que
A), que será melhor tratada adiante; e a destinação das não envolvam pedido de voto, não são consideradas
sobras de campanha (art. 31); propaganda eleitoral antecipada (art. 36-A). Na
propaganda dos candidatos a prefeito, deve aparecer o
h) as pesquisas e testes pré-eleitorais (arts.33- nome do vice em tamanho não menor que 30%; nos bens
35): obrigação e procedimentos para as entidades de públicos e de uso comum (inclusive estabelecimentos
pesquisa de opinião pública registrarem pesquisas que a população em geral tenham acesso), é vedada a
eleitorais perante a Justiça Eleitoral (art. 33); a sanção veiculação de propaganda (art. 37), exceto de mesas de
de multa no valor de cinquenta mil a cem mil UFIR distribuição de material impresso e bandeiras ao longo
por divulgação de pesquisa sem registro (art. 33, §3º) e das vias públicas, desde que móveis; nas residências,
de detenção de seis meses a um ano por divulgação de de forma espontânea e gratuita, é possível fixar
pesquisa fraudulenta (art. 33, §4º); o impedimento de adesivos, desde que não passem de 0,5m² (art. 37, §2º,
se fazer enquete eleitoral no período de campanha (art. II); é permitida a impressão e distribuição de adesivos,
33; §5º); e a forma de fiscalização das pesquisas (art. 34); folhetos e outros impressos com dimensão máxima
de 50cmx40cm (art. 38, §3º); nos veículos pode-se
i) a propaganda eleitoral em geral (arts. 36-41): as adesivar os vidros traseiros por completo com adesivos
propagandas eleitorais iniciam em 15 de agosto do ano microperfurados e, nas demais áreas do automóvel,
eleitoral (art. 36, caput), mas pode se fazer propaganda adesivos com dimensão máxima de 50cmx40cm (art. 38,
intrapartidária antes disso (art. 36, §1º); é vedada §4º); todo material impresso deve ter CNPJ ou CPF de

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quem confeccionou, de quem contratou, a tiragem (art. ou sociedade de economia mista (art. 40, caput);
38, §1º), a coligação e partidos integrantes na propaganda
a prefeito e o partido na propaganda a vereador (art. j) a captação ilícita de sufrágio (art. 41-A): esse artigo
6º, §2º); para se garantir prioridade no uso de recinto define o conceito e as sanções da compra de voto, que
aberto, deve-se fazer comunicação à autoridade policial serão mais bem detalhados a frente, quando falarmos
com, no mínimo, 24h de antecedência (art. 39, §1º); sobre a representação por captação ilícita de sufrágio;
alto-falantes podem funcionar das 8h às 22h, com uma
distância mínima de 200m de escolas, órgãos públicos k) a propaganda eleitoral na imprensa (art. 43):
e hospitais (art. 39, §3º); os comícios podem ocorre das embora pouco usada atualmente, a lei ainda prevê a
8h às 22h, com exceção do comício de encerramento possibilidade de propaganda em jornal impresso com
da campanha que pode ir até às 2h; é crime fazer reprodução na internet do jornal impresso;
propaganda eleitoral no dia da eleição (art. 39, §5º),
permitida a manifestação individual e silenciosa (art. l) a propaganda eleitoral no rádio e tv (arts. 44-57):
39-A); é vedada a distribuição de camisetas, chaveiros, somente é permitida propaganda gratuita no rádio e
bonés, canetas, brindes, cestas básicas e outros (art. na tv (art. 44), na qual se deve utilizar a ¬Linguagem
39, §6º), assim como a realização de showmícios (art. Brasileira de Sinais (LIBRAS) ou o recurso de legenda;
39, §7º), a veiculação de outdoors e painéis eletrônicos os meios de comunicação não podem dar tratamento
(art. 39, §8º), a circulação de carros de som, exceto para privilegiado a partido, candidato ou coligação, e, a partir
carretas, caminhadas, passeatas ou durante reuniões e de 30 de junho do ano eleitoral, transmitir programa
comícios (art. 39, §11); e é crime o uso na propaganda de apresentado ou comentado por pré-candidato (art.
símbolos, frases ou imagens, associadas ou semelhantes 45); os debates são regulados pelo art. 46; a propaganda
às empregadas por órgão de governo, empresa pública eleitoral gratuita ocorre durante 35 dias, em blocos

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(para prefeito, de seg. a sáb.: das 7h00min às 7h10min de agosto do ano da eleição (art. 57-A); os candidatos,
e das 12:00 às 12:10min no rádio, e das 13h00min às partidos e coligações que optem por fazer um site
13h10min e das 20h00min às 20h10min na tv), ou por devem hospedá-lo em provedor estabelecido no país e
inserções de 30 e 60 segundos, totalizando 70min de comunicar o endereço à Justiça Eleitoral no momento
inserções, todos os dias, ao longo da programação, do registro de candidatura (art. 57-B, I e II); não é
sendo 60% para campanha de prefeito e 40%, para de permitida a compra de banco de contatos, as mensagens
vereador (art. 47, §1º); o art. 53-a trata da vedação à eletrônicas devem ser repassadas pera pessoas que se
invasão da propaganda, com a finalidade de impedir que cadastraram gratuitamente, e essas devem ter a opção
o espaço de uma propaganda para eleição proporcional, de se descadastrarem (art. 57-B, III, c/c art. 57-E, §1º,
por exemplo, seja utilizado por pessoas que disputam e art. 57-G); o art. 57-B, §2º proíbe a utilização de
a eleição majoritária; por meio da Emenda n.º 69 ao perfis fakes para divulgação de conteúdos eleitorais;
Projeto de Lei da Câmara dos Deputados n.º 5.735 de é lícito o impulsionamento de conteúdo, desde que
2013, de autoria do Deputado Federal Arthur Oliveira feito pelos próprios candidatos, partidos ou coligações,
Maia, houve uma mudança no art. 54 para “fortalecer o tenha o objetivo de promover ou beneficiar candidatos
debate de ideias e diminuir o caráter pirotécnico das campanhas”, e suas agremiações, e sejam usados exclusivamente
o que trouxe várias limitações para a propaganda no as ferramentas do próprio provedor de aplicação da
rádio e na televisão, principalmente nessa última. internet (Facebook e Google, basicamente) (arts. 57-B,
IV e §3º, c/c 57-C, §3º); o descumprimento das regras
m) a propaganda eleitoral na internet (arts. do art. 57-B podem resultar em multa de R$5.000,00 a
57-A-57-J): a propaganda eleitoral na internet em si R$30.000,00 ou o dobro da quantia despendida, se maior
(com pedido de votos9) pode começar a partir do dia 15 (art. 57-B, §5º); fora o impulsionamento, não é permitida
9 Ver comentários acima sobre o art. 36-A. a propaganda paga na internet, também é vedado em

19
páginas de pessoas jurídicas e do poder público (art. 57- representante da coligação deverá registrar na Justiça
C, §1º), sob pena da mesma multa do artigo anterior (art. Eleitoral as pessoas autorizadas a credenciar os fiscais
57-C, §2º); é proibido o anonimato (art. 57-D, caput) e (art. 65, §3º), as quais emitirão credenciais para esses
fazer propaganda eleitoral atribuindo indevidamente fiscais (art. 65, §2º), os quais poderão fiscalizar mais
a autoria a terceiro (art. 57-H, caput), penalizado pela de uma seção eleitoral (art. 65, §1º), vedada a indicação
mesma multa anteriormente citada (art. 57-D, §2º, e de menores (art. 65, caput), e somente é permitido
art. 57-H, caput), e a Justiça Eleitoral pode determinar nomear até 2 fiscais por seção eleitoral (art. 65, §4º); é
a retirada de publicações que contenham agressões obrigatória a entrega do boletim de urna por parte dos
ou ataques a candidatos na internet, inclusive redes Presidentes da Junta Eleitoral para os fiscais (art. 68);
sociais (art. 57-D, §3º); é crime contratar pessoas para e os fiscais podem apresentar protestos, impugnações
emitir mensagens ofensivas a candidatos, partidos ou e recursos a irregularidades nas votações e na apuração
coligações (art. 57-H); os provedores de conteúdo devem (arts. 70 e 71), constituindo crime do Presidente da
colabora com as determinações da Justiça Eleitoral, sob Junta Eleitoral criar obstáculos a essa fiscalização (art.
pena de sanções (arts. 57-F e 57-I); 70);

n) o direito de resposta (arts. 58-58-A): esse assunto p) as condutas vedadas aos agentes públicos (arts.
será tratado na parte dedicada à medida judicial do 73-78): os agentes públicos, servidores ou não (art.
direito de resposta, a frente; 73, §1º), não podem praticar as condutas de: ceder ou
usar bens e servidores públicos em favor de campanhas
o) o direito à fiscalização das eleições (arts. 65-72): os (art. 73, I-III); contratar, demitir e rever remuneração
partidos e coligações podem fiscalizar todo o processo de servidores fora das exceções do art. 73, V e VIII, nos
de votação (art. 66): para isso o presidente do partido ou três meses que antecedem a votação até a posse dos

20
eleitos; nos três meses que antecedem o pleito, fazer 96 trata da competência e do procedimento para
transferência voluntárias de recursos entre os entes julgamento das reclamações e representações; os arts.
federativos e autorizar publicidade institucional fora 97 e 97-A preveem a hipótese de reclamações contra o
das permissões do art. 73, VI; no primeiro semestre Juiz Eleitoral que descumprir as regras eleitorais e os
do ano eleitoral, realizar gastos com publicidade prazos para julgamento; e os arts. 100 e 100-A tratam
institucional que excedam a média de gasto do da contratação de pessoal para a prestação de serviços
primeiro semestre dos últimos três anos (art. 73, VII); para a campanha.
no ano eleitoral, realizar doações gratuitas de bens
ou de benefícios fora das hipóteses do art. 73, §10; nos
três meses que antecedem a votação, o (pré)candidato
participar de inaugurações de obras públicas (art. 77)
e os agentes públicos contratarem shows artísticos
para essas inaugurações (art. 75); e, por fim, deturpar a
publicidade institucional para além do autorizado pelo
art. 37, §1º, da CF (art. 74);

q) outras disposições: é vedada a inscrição e a


transferências eleitorais nos cento e cinquenta
dias que antecedem a eleição (art. 91); o art. 92
prevê as situações de correição de ofício nas Zonas
Eleitorais em virtude do número de eleitores; o art.
94 estabelece a prioridade dos feitos eleitorais; o art.

21
INTRODUÇÃO AO PROCESSO JUDICIAL ELEITORAL

O segundo passo para se tornar advogado eleitoralista afronta à legislação eleitoral, resulta em extinções de
é conhecer as principais medidas judiciais desse ramo ações (o que, infelizmente, costuma ser bem comum
do direito. na jurisdição eleitoral, por falta de conhecimento
específico de quem resolve se arriscar na área) e perda
Há todo um regramento próprio do direito penal da oportunidade de obter a tutela jurisdicional.
eleitoral, destinado a tutelar a liberdade do voto e os
valores da democracia, previsto especialmente no Trataremos a seguir das principais ações eleitorais
Código Eleitoral e em dispositivos esparsos da Lei das e apresentaremos modelos das petições iniciais. Porém,
Eleições. Porém, em termos de processo penal eleitoral, antes disso, é preciso registrar alguns alertas para quem
não há grandes distinções do processo penal ordinário. vai iniciar na área.

As maiores especificidades do processo judicial PAGAMENTO DE CUSTAS
eleitoral encontram-se na esfera não penal. A legislação
prevê medidas judiciais específicas para cada tipo de A Justiça Eleitoral não cobra o pagamento de custas
afronta a direito, que têm seus momentos próprios iniciais e finais para ajuizamento de uma ação ou para
para ajuizamento, assim como legitimados e ritos oposição de recursos. Por isso também, é dispensável
diferenciados. O manejo de uma medida inapropriada fixar o valor da causa na petição inicial, até porque
ou em momento inoportuno, por partes ilegítimas, em não há proveito econômico das partes nas ações dessa

22
natureza. RECESSO NATALINO

PRAZOS CONTADOS EM DIAS CORRIDOS O recesso do art. 220 do CPC de 2015 também
não é autoaplicável aos processos eleitorais, somente
O TSE decidiu, por meio da Resolução nº 23.478/2016, ocorrerá se assim dispuser as resoluções locais dos
decidiu que, em “razão da especialidade da matéria Tribunais suspendendo os prazos nesse período. O
[eleitoral], as ações, os procedimentos e os recursos recesso natalino da Justiça Eleitoral é o disciplinado
eleitorais permanecem regidos pelas normas específicas pelo art. 62, I, da LF n.º 5.010/66, de 20 de dezembro a 6
previstas na legislação eleitoral e nas instruções do de janeiro. Esse é um aspecto importante, pois algumas
Tribunal Superior Eleitoral” de modo que a “aplicação medidas judiciais devem ser opostas após a diplomação
das regras do Novo Código de Processo Civil tem dos eleitos, cujo prazo para propositura acaba incidindo
caráter supletivo e subsidiário em relação aos feitos nesse período de final de ano.
que tramitam na Justiça Eleitoral”. Por isso, os prazos
eleitorais continuam sendo contados em dias corridos. REGIME RÍGIDO DE PRECLUSÕES E
DECADÊNCIA
E, entre a data do encerramento do prazo para
registro de candidatos e a data final para diplomação Os processos judiciais eleitorais têm como marca
dos eleitos, os prazos podem iniciar e se encerrar em aos muito forte a celeridade. O período de campanha é
sábados, domingos e feriados (art. 16 da LCF n.º 64/90). curto e as questões relacionadas às eleições não podem
A Justiça Eleitoral funciona em regime de plantão nesse ficar pendentes de resolução, pois o Judiciário precisa
período. conferir os diplomas aos mandatários eleitos dos poderes
Legislativo e Executivo dentro dos marcos temporais

23
estabelecidos pela Constituição e pela legislação. Além ação de investigação judicial eleitoral por captação
disso, a democracia demanda que exista uma certa ilícita de sufrágio somente pode ser ajuizada até a data
estabilidade político e que os da diplomação, um direito de resposta por propaganda
em horário eleitoral gratuito somente pode ser proposto
Por isso, as ações judiciais eleitorais são marcadas 24h depois da veiculação da propaganda.
por um regime de preclusões e de decadência muito
rígidos. Esse cenário exige do advogado eleitoralista manter-
se em constante atenção e agir rapidamente, pois os
Assim, por exemplo, nas ações eleitorais, o autor processos eleitorais não permitem inação.
precisa indicar todas as provas que pretende produzir
na lide, inclusive arrolar testemunhas, na inicial; e o INTIMAÇÕES
réu, na contestação. Se assim não o fizerem, perdem a
oportunidade de produzir provas. Se o autor não indica Como os processos eleitorais precisam ser céleres, o
na inicial todos os réus a serem citados, inclusive os modo de formalizar as intimações das partes também
litisconsortes passivos necessários, a ação tende a ser é diferente na área eleitoral. De acordo com o art. 21
julgada extinta, pois certamente não haverá momentos da Resolução do TSE n.º 23.417/2014, porém, durante
para emendar a exordial10. o período eleitoral (do registro de candidatura à
diplomação) as intimações, em regra, são feitas pelos
O mesmo ocorre com a questão da decadência. Há murais eletrônicos (ou no Cartório quando não
prazos certos para propor as demandas eleitorais. Uma disponível a tecnologia) nas Zonas Eleitorais e durante
as sessões dos Tribunais.
10 Nesse sentido: TSE, RESPE nº 389055 - IBATEGUARA – AL, Acórdão
de 17/05/2012, Relator(a) Min. Arnaldo Versiani.

24
Publicação em mural ocorre quando as intimações na verdade, não foi observada a forma adequada de
são fixadas no mural da Zona Eleitoral ou no site dos acompanhamento da intimação. E isso pode gerar
Tribunais em área específica chamada Mural Eletrônico grandes problemas para as partes.
(art. 94, §5º, da LF n.º 9.504/97). Veja o exemplo do
Mural Eletrônico do TSE da eleição de 2018 (aqui). LEGITIMIDADE ATIVA

Publicação em sessão ocorre quando o presidente Nem todo mundo pode propor uma medida judicial
do tribunal eleitoral, ao concluir o(s) julgamento(s) eleitoral. A legitimidade ativa para os feitos judiciais
do(s) processo(s), declara que a(s) decisão(ões) eleitorais é restrita, em princípio, aos partidos,
está(ão) publicada(s) em sessão, ou seja, não vai ser coligações, candidatos e ao Ministério Público. Por
disponibilizado em nenhum outro local, ao advogado regra, o cidadão somente pode provocar diretamente
caberá acompanhar o julgamento no tribunal e/ou o Judiciário e provocar a instauração de uma ação por
buscar a decisão e o respectivo acórdão. No TSE, em meio da apresentação de uma notícia de inelegibilidade,
muitos casos, os acórdãos são constituídos por meio de nos termos do art. 3º da LCF n.º 64/90.
áudios gravados dos julgamentos, sequer são transcritos
em texto escrito. Mas, mesmo para os partidos, coligações e
candidatos, há certas limitações. Por exemplo, uma
Também para isso, exige proatividade e ação de arrecadação e gasto ilícito de recursos (art.
constante acompanhamento dos feitos e das sessões de 30-A da LF n.º 9.504/97) somente pode ser proposta
julgamento. É bastante comum ver advogados que não por partidos e coligações, não pode ser ajuizada por
são habituados a atuarem no eleitoral, reclamarem que candidato.
não foram intimados de tal ou qual decisão, quando,

25
ILÍCITOS POLÍTICO-ELEITORAIS E MEDIDAS JUDICIAIS
CABÍVEIS
Outro exemplo, durante o período eleitoral (do registro à diplomação) se o partido estiver coligado, ele não
pode propor uma ação isoladamente11 (art. 6º da LF n.º 9.504/97).
11 Nesse sentido: TSE, RESPE nº 19962 - CAMPO GRANDE – MS, Acórdão nº 19962 de 27/08/2002, Relator(a) Min. Fernando Neves, Publicação: PSESS -
Publicado em Sessão, Data 27/08/2002.

26
AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE REGISTRO
DE CANDIDATURA
Como visto, os processos judiciais eleitorais têm dias, contados da publicação do pedido de registro
muitas especificidades. Dentro desse cenário, para cada do candidato. São legitimados ativos as coligações, os
tipo de ilícito eleitoral, há um tipo de medida judicial partidos não coligados, os candidatos e o MP, assim
cabível. Neste quadro resumimos os ilícitos eleitorais como os cidadãos, nesse caso, para apresentar notícia
não-penais, os bens jurídicos tutelados e as respectivas de inelegibilidade.
ações judiciais cabíveis, além das respectivas sanções
possíveis, para ajudar a sistematizar o conhecimento Como disciplinado nos artigos da LCF n.º 64/90,
do advogado eleitoralista sobre o segundo passo para o processo da AIRC tramita independentemente de
atuar na área. intimações das partes e dos advogados.
A Ação de Impugnação de Registro de Candidatura Sem dúvidas, esse é o processo mais célere da
(AIRC) tem a pretensão de o Judiciário indeferir o Justiça brasileira. Os registros de candidaturas devem
pedido de registro de candidatura de determinado ser protocolados até 15 de agosto do ano eleitoral e
candidato sob o fundamento de que esse não preenche julgados, inclusive as AIRC, em todas as instâncias,
certa condição de elegibilidade (art. 14, §§3º e 8º, da até 20 dias antes do dia eleição, ou seja, até meados
CF e art. 11 da LF n.º 9.504/97) ou incorre numa das de setembro (art. 16, §1º, da LF n.º 9.504/97). Muitas
condições de inelegibilidade (art. 14, §§ 5º-7º, da CF e vezes, a Justiça Eleitoral não cumpre esse prazo,
art. 1º da LCF n.º 64/90). principalmente em eleições municipais, quando há três
instâncias para os feitos tramitarem. Mas, sem dúvida,
A AIRC deve ser proposta no prazo de 5 (cinco) há um esforço do Judiciário para observá-lo, de modo

27
que os processos de registros de candidatura tramitam Lei Complementar Federal n.º 64, de 18 de maio
de forma bastante célere. de 199013, propor AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO
DE REGISTRO DE CANDIDATURA em
desfavor de (CANDIDATO), já qualificado nos
autos do REGISTRO DE CANDIDATURA n.º
MODELO DE xxxx, diante da publicação do Edital em xxx de
PETIÇÃO xxx de xxx, em virtude dos fatos e fundamentos
jurídicos adiante arrazoados.
I – FATOS.
Excelentíssimo Senhor Juiz Eleitoral da xx Zona O Impugnado apresentou o requerimento de
Eleitoral do Estado do xxx. registro coletivo de candidatura em epígrafe,
por meio da Coligação xxx, integradas pelos
(COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO NÃO partidos xxxx.
COLIGADO OU CANDIDATO), (em caso de Ocorre que, o Réu incorre na causa de
Coligação indicar os partidos integrantes), inelegibilidade prevista pelo art. 1º, I, g, da Lei
por meio de seu Representante (em caso de Complementar Federal nº 64/90.
Coligação ou partido), XXXX, (qualificação), (descrição dos fatos).
vem, por meio de seu Advogado, perante Vossa
Excelência, com fundamento no art. 3º, caput12, da II – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA.
12 “Art. 3° Caberá a qualquer candidato, a partido político, coligação ou
ao Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da publicação do
pedido de registro do candidato, impugná-lo em petição fundamentada.
(...).” 13 Estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da Constituição Federal, ca-
sos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras providências.

28
A declaração de inelegibilidade por rejeição de sem exclusão de mandatários que
contas administrativas é prevista pelo art. 1º, houverem agido nessa condição;
I, g, da Lei Complementar Federal nº 64/1990, (...)” (grifos acrescidos)
alterado pela Lei Complementar Federal n.º
135/2010, que possui a seguinte redação: As condenações do Tribunal de Contas em face
do Impugnado preenchem todos os requisitos
“Art. 1º São inelegíveis: do citado dispositivo legal: (i) rejeição das
I - para qualquer cargo: contas por irregularidade insanável; (ii)
(...) irrecorribilidade das decisões; e (iii) prática de
g) os que tiverem suas contas relativas atos que configuram ato doloso de improbidade
ao exercício de cargos ou funções administrativa.
públicas rejeitadas por irregularidade (relacionar os fatos com esses requisitos da
insanável que configure ato doloso inelegibilidade).
de improbidade administrativa, e
por decisão irrecorrível do órgão III – PEDIDOS.
competente, salvo se esta houver
sido suspensa ou anulada pelo Poder Em face do exposto, o Impugnante postula a
Judiciário, para as eleições que se Vossa Excelência:
realizarem nos 8 (oito) anos seguintes,
contados a partir da data da decisão, a) a citação do Impugnado para, querendo,
aplicando-se o disposto no inciso II contestar a presente AIRC;
do art. 71 da Constituição Federal,
a todos os ordenadores de despesa, b) a produção de todas as provas em Direito

29
admitido, inclusive com a realização de audiência
de instrução para ouvir as testemunhas arroladas
adiante (se cabível, assim como de outras provas,
sob pena de preclusão);

c) no mérito, a procedência da pretensão desta


Ação, com a declaração da inelegibilidade e
indeferimento do registro de candidatura do
Impugnado.
Termos em que
Pede Deferimento.
Cidade – XX, XX de xxx de 201x.
XXXXXX
OAB/XX XXX

ROL DE TESTEMUNHAS (se cabível).


a) ;

30
REPRESENTAÇÕES DE PROPAGANDA

Como vimos quando falamos sobre a LF n.º irregular, como consequência, limita-se a liberdade de
9.504/97, a seção da propaganda eleitoral ocupa boa expressão e de comunicação de alguém. Por isso, tal
parte desse diploma legal, indo, na parte específica, do intervenção somente será legítima se estiver embasada
art. 36 ao art. 57-J da legislação. Além disso, o Código nos limites estabelecidos legalmente e na proporção
Eleitoral também disciplina a matéria, do art. 240 ao necessária para tutelar outros valores também
art. 256, prevendo normas dotadas de plena eficácia protegidos constitucionalmente.
para o processo eleitoral.
O nível de controle da liberdade de expressão no
Tais dispositivos preveem uma série de vedações debate político por parte do Judiciário oscila muito
aos candidatos, partidos, coligações, aos próprios na jurisprudência das cortes eleitorais, a depender
cidadãos, e aos veículos assim como empresas de da composição dos colegiados e das posições dos
comunicação, visando defender valores como a honra, magistrados. A ponderação dos valores envolvidos
a igualdade e a verdade, e combater o anonimato, as nessa análise é de grande complexidade e exige muita
ofensas pessoais, as mentiras e o uso indevido dos meios sensibilidade para se achar um ajuste adequado entre
de comunicação. não se tolher em demasia a discussão política, nem deixar
desprotegidos valores relevantes como a autenticidade
A intervenção do Judiciário nessa seara é um do embate de ideias. Veja estes dois precedentes do
tema muito delicado, pois, em regra, quando se decide TSE, das eleições de 2014 e 2018, como exemplo paras
agir para impedir alguma ação de propaganda tida por evidenciar tal oscilação:

31
“PROPAGANDA ELEITORAL. PEDIDO com as propostas, os programas de governo
DE LIMINAR. OFENSA PESSOAL. e as questões de políticas públicas.
ARTIGO 53, § 1º, DA LEI DAS ELEIÇÕES.
APLICAÇÃO. NOVA JURISPRUDÊNCIA 4.Deferimento da liminar14.”
DESTA CORTE.
“ELEIÇÕES 2018. RECURSO
1. Na sessão de 16.10.2014, o TSE, por maioria, INOMINADO. REPRESENTAÇÃO.
decidiu que, em homenagem ao debate DIREITO DE RESPOSTA. INSERÇÕES.
eleitoral fértil e autêntico, a propaganda VEICULAÇÃO. EMISSORA DE
eleitoral deve ater-se às propostas de TELEVISÃO. DESPROVIMENTO.
planos de governo, divulgação e discussão
de ideias, lastreadas no interesse público e 1. Na linha de entendimento desta Corte,
balizadas pela ética, decoro e urbanidade. o exercício do direito de resposta é viável
apenas quando for possível extrair, das
2. O horário eleitoral não é ambiente afirmações apontadas, fato sabidamente
próprio para ataques e ofensas, com críticas inverídico apto a ofender, em caráter
destrutivas ao adversário, com nítido pessoal, o candidato, partido ou coligação.
desvirtuamento do espaço reservado à Precedente.
propaganda eleitoral.
14 Rp - Representação nº 172445 - BRASÍLIA – DF, Acórdão de
3. Eventuais críticas e debates, ainda que 21/10/2014, Relator(a) Min. Admar Gonzaga, Publicação: PSESS - Publicado
duros e ásperos, devem estar relacionados em Sessão, Data 21/10/2014.

32
2. É entendimento deste Tribunal Superior religiosos e da tolerância de opiniões e do
Eleitoral que “se a propaganda tem foco espírito aberto ao diálogo” (ADI no 4439/
em matéria jornalística, apenas noticiando DF, rel. Min. Luís Roberto Barroso, rel. p/
conhecido episódio, não incide o disposto ac. Min. Alexandre de Moraes, Tribunal
no art. 58 da Lei n° 9.504/97, ausente, no Pleno, DJe de 21.6.2018).
caso, qualquer dos requisitos que justifique
o deferimento de direito de resposta” (Rp 4. A propaganda questionada localiza–se
nº 2541–51/DF, rel. Min. Joelson Dias, na seara da liberdade de expressão, pois
PSESS de 1º.9.2010). enseja crítica política afeta ao período
eleitoral. Cuida–se de acontecimentos
3. Conforme decidiu o Supremo Tribunal amplamente divulgados pela mídia, os
Federal (STF), a “liberdade de expressão quais são inaptos, neste momento, a
constitui um dos fundamentos essenciais de desequilibrar a disputa eleitoral. Em
uma sociedade democrática e compreende exame acurado, trata–se de declarações,
não somente as informações consideradas cuja contestação deve emergir do debate
como inofensivas, indiferentes ou político, não sendo capaz de atrair o
favoráveis, mas também as que possam disposto no art. 58 da Lei nº 9.504/1997.
causar transtornos, resistência, inquietar Precedente.
pessoas, pois a Democracia somente existe
baseada na consagração do pluralismo de 5. Recurso desprovido15.”
ideias e pensamentos políticos, filosóficos, 15 Rp - Recurso em Representação nº 060131056 - BRASÍLIA – DF,
Acórdão de 03/10/2018, Relator(a) Min. Sergio Silveira Banhos, Publica-

33
De todo modo, o veículo para levar essa discussão
para o Judiciário, assim como sustar propaganda
irregulares, obter direito de resposta e a eventual
aplicação de multas pelos responsáveis é a representação
(art. 96 da LF n.º 9.504/97).

ção:PSESS - Publicado em Sessão, Data 03/10/2018.

34
PROPAGANDA IRREGULAR

A violação das regras dos arts. 36 ao 57-J da LF n.º os beneficiários.


9.504/97 e das regras de propaganda do Código Eleitoral
pode justificar a proposição de uma Representação Várias são as hipóteses de representação por
Eleitoral. propaganda irregular, mas a estrutura da peça deve
conter basicamente estes elementos de (direcionamento,
As representações por propaganda irregular qualificação, narração fática, fundamentação jurídica e
devem ser ajuizadas até o dia da eleição16, com exceção pedidos).
das que tratem de propaganda eleitoral gratuita, que
têm prazo decadencial próprio.
MODELO DE
São legitimados passivos os responsáveis pela PETIÇÃO
veiculação da propaganda irregular e, desde que
presentes os requisitos do art. 40-B17 da LF n.º 9.504/97,
16 Nesse sentido: TSE, AI - Agravo Regimental em Agravo de Instrumen- Excelentíssimo Senhor Juiz Eleitoral da xx
to nº 10568 - MACAPÁ – AP, Acórdão de 20/05/2010, Relator(a) Min. Arnal- Zona Eleitoral do Estado do xxx.
do Versiani, Publicação:RJTSE - Revista de jurisprudência do TSE, Volume
21, Tomo 2, Data 20/05/2010, Página 291, DJE - Diário de justiça eletrônico,
Data 23/06/2010, Página 26. (COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO NÃO
17 “Art. 40-B. A representação relativa à propaganda irregular deve ser
instruída com prova da autoria ou do prévio conhecimento do beneficiário, de quarenta e oito horas, sua retirada ou regularização e, ainda, se as circuns-
caso este não seja por ela responsável. tâncias e as peculiaridades do caso específico revelarem a impossibilidade de
Parágrafo único. A responsabilidade do candidato estará demonstrada se este, o beneficiário não ter tido conhecimento da propaganda.”
intimado da existência da propaganda irregular, não providenciar, no prazo

35
COLIGADO OU CANDIDATO), (em caso de partidos xxx, que lançou como candidatos
Coligação indicar os partidos integrantes), aos cargos de prefeito e vice-prefeito de xxx
por meio de seu Representante (em caso de nesta eleição municipal, xxx e xxxx.
Coligação ou partido), XXXX, (qualificação), Já os Representados são xxxx.
vem, por meio de seu Advogado, perante Ocorre que, em xxx, os Representados
Vossa Excelência, com fundamento no art. 96, distribuíram por meio de mensagens
I18, da Lei Federal n.º 9.504, de 30 de setembro eletrônicas no aplicativo WhatsApp vídeos
de 199719 , propor REPRESENTAÇÃO apócrifos com os seguintes conteúdos:
ELEITORAL COM PEDIDO LIMINAR (transcrição do conteúdo)
em desfavor de (RESPONSÁVEL Como se vê, nesses vídeos, busca-se relacionar
PELA PROPAGANDA IRREGULAR E o candidato da Representante, injusta
BENEFÍCIÁRIO), (qualificação), em virtude e indevidamente, a casos de corrupção,
dos fatos e fundamentos jurídicos adiante difamando-o e caluniando-o, com propósitos
arrazoados. nitidamente eleitoreiros.
(detalhamento de circunstâncias relevantes
A Representante é coligação integrada pelos dos fatos)
Está evidente, portanto, que o caso é de
18 “Art. 96. Salvo disposições específicas em contrário desta Lei, as recla-
mações ou representações relativas ao seu descumprimento podem ser feitas incidência do art. 57-D, §§2º e 3º, da Lei
por qualquer partido político, coligação ou candidato, e devem dirigir-se: Federal n.º 9.504/97, o qual dispõe:
I - aos Juízes Eleitorais, nas eleições municipais;
(...).”
“Art. 57-D. É livre a manifestação do
19 “Estabelece normas para as eleições.”

36
pensamento, vedado o anonimato Justiça Eleitoral poderá determinar,
durante a campanha eleitoral, por solicitação do ofendido, a retirada
por meio da rede mundial de de publicações que contenham
computadores - internet, assegurado agressões ou ataques a candidatos
o direito de resposta, nos termos das em sítios da internet, inclusive redes
alíneas a, b e c do inciso IV do § 3o sociais.” (Grifos acrescidos).
do art. 58 e do 58-A, e por outros
meios de comunicação interpessoal Também aplicável ao caso as seguintes
mediante mensagem eletrônica. disposições da Lei Federal n.º 9.504/97:
(Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009)
(...) “Art. 57-H. Sem prejuízo das demais
§ 2o A violação do disposto neste sanções legais cabíveis, será punido,
artigo sujeitará o responsável com multa de R$ 5.000,00 (cinco
pela divulgação da propaganda e, mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil
quando comprovado seu prévio reais), quem realizar propaganda
conhecimento, o beneficiário à eleitoral na internet, atribuindo
multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco indevidamente sua autoria a terceiro,
mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil inclusive a candidato, partido ou
reais). coligação.
§ 3º Sem prejuízo das sanções civis e § 1o Constitui crime a contratação
criminais aplicáveis ao responsável, a direta ou indireta de grupo de

37
pessoas com a finalidade específica Os citados vídeos violam frontalmente
de emitir mensagens ou comentários a honra e a dignidade do candidato
na internet para ofender a honra ou Representante, além e serem conteúdos
denegrir a imagem de candidato, audiovisuais apócrifos.
partido ou coligação, punível com O art. 57-D da Lei Federal n.º 9.504/97 veda
detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) expressamente o compartilhamento de
anos e multa de R$ 15.000,00 (quinze conteúdo apócrifo e atentatório à honra,
mil reais) a R$ 50.000,00 (cinquenta inclusive por meio de mensagens eletrônicas
mil reais). e redes sociais, em cujo conceito se enquadra
(....).” o WhatsApp, na medida em que permite
“Art. 57-J. O Tribunal Superior ao usuário a participação em grupos com
Eleitoral regulamentará o disposto diversas pessoas.
nos arts. 57-A a 57-I desta Lei de (completar argumentação de subsunção dos
acordo com o cenário e as ferramentas fatos às normas)
tecnológicas existentes em cada Ademais, nos termos do art. 21, §1º20, da
momento eleitoral e promoverá, Resolução do TSE n.º 23.457/2015 (atualizar
para os veículos, partidos e demais de acordo com a resolução de 2020, quando
entidades interessadas, a formulação 20 “Art. 21. É permitida a propaganda eleitoral na Internet a partir do dia
e a ampla divulgação de regras de 16 de agosto de 2016 (Lei nº 9.504/1997, art. 57-A). § 1º A livre manifesta-
ção do pensamento do eleitor identificado na Internet somente é passível de
boas práticas relativas a campanhas limitação quando ocorrer ofensa à honra de terceiros ou divulgação de fatos
eleitorais na internet.” sabidamente inverídicos.
(...).” (Grifos acrescidos).

38
publicada), também faz jus a Representante Resolução do TSE n.º 23.462/201523 (atualizar
ao deferimento de tutela específica no sentido de acordo com a resolução de 2020, quando
de obrigar os Representados a apagarem publicada), assim como os arts. 300, caput24,
dos grupos de WhatsApp e para pessoas 30125, 49726 do Novo Código de Processo Civil,
que transmitiram as referidas mensagens, providências:
e também para cessarem o envio desse (...)
conteúdo ou de outros semelhantes. b) determinará que se suspenda o ato que deu origem à representação, quan-
do relevante o fundamento e do ato impugnado puder resultar na ineficácia
da medida, caso seja julgada procedente (Lei Complementar nº 64/1990, art.
A evidência do direito em questão e a urgência 22, inciso I, alínea b);
(...)”. (Grifos acrescidos).
da tutela também justificam a incidênciado
disposto pelos arts. 8º, §4º21 e24, b22, da 23 “Dispõe sobre representações, reclamações e pedidos de resposta pre-
21 “Art. 8º Recebida a petição inicial, o Cartório Eleitoral providenciará vistos na Lei nº 9.504/1997 para as eleições de 2016.”
a imediata citação do(s) representado(s), com a contrafé da petição inicial e, 24 “Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elemen-
quando houver, a degravação da mídia de áudio e/ou vídeo, para, querendo, tos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco
apresentar(em) defesa no prazo de quarenta e oito horas (Lei nº 9.504/1997, ao resultado útil do processo.
art. 96, § 5º), exceto quando se tratar de pedido de direito de resposta, cujo (...).”
prazo será de vinte e quatro horas (Lei nº 9.504/1997, art. 58, § 2º). 25 “Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada
(...) mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra
§ 4º Se houver pedido de medida liminar, os autos serão conclusos ao Juiz alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direi-
Eleitoral, que os analisará imediatamente, to.”
procedendo-se em seguida à imediata citação do representado, com o envio 26 “Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não
da contrafé da petição inicial e da decisão fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determi-
proferida na forma prevista neste artigo. nará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático
(...) equivalente.
(...).”
22 “Art. 24. Ao despachar a inicial, o Juiz Eleitoral adotará as seguintes

39
no sentido de ser garantido à Representante a produção de todas as provas em Direito
a concessão da tutela antecipatória, a admitidas, inclusive pela oitiva do rol de
fim de fazer cessar de imediato os ilícitos testemunhas em anexo;
perpetrados pelos Representados.
(justificar a urgência) c) no mérito, o julgamento procedente da
Ante o exposto, é a presente para requerer a pretensão da Representante no sentido de
Vossa Excelência: confirmar a obrigação dos Representados de
cumprirem as obrigações de fazer e não-fazer
a) liminarmente, inaudita altera pars, o postuladas no pedido liminar, assim como
deferimento de tutela antecipatória para condená-los à multa do art. 57-D, §2º, da Lei
determinar que os Representados apaguem Federal n.º 9.504/97.
as mensagens enviadas para grupos de
WhatsApp e para pessoas que remeteram Termos em que
individualmente com os vídeos indicados Pede Deferimento.
nesta Inicial, assim como cessem o seu Cidade – XX, XX de xxx de 201x.
envio, sob pena de pagamento de multa de XXXXXX
R$5.000,00 (cinco mil reavis) por mensagem, OAB/XX XXX
ou de outras medidas cominatórias aptas a ROL DE TESTEMUNHAS (se cabível).
garantir a tutela específica postulada no caso
em tela; a) ;
b) a notificação dos Representados para,
querendo, apresentar Contestação;

40
DIREITO DE RESPOSTA

O direito de resposta é um tipo de representação


específica cujo objetivo é veicular uma mensagem
para responder uma ofensa por exposição de um fato MODELO DE
sabidamente inverídico que prejudique candidato PETIÇÃO
ou partido político. Trata-se de um procedimento
extremamente célere, que deve ser proposto nos prazos
decadenciais do art. 58, §1º, da LF n.º 9.504/97. Excelentíssimo Senhor Juiz Eleitoral da xx Zona
Eleitoral do Estado do xxx.
A legitimidade passiva é ampla, qualquer ofensor
que veicular mensagem atentatória pode ser obrigado (COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO NÃO COLIGADO
a transmitir a resposta. Recentemente, o TSE decidiu OU CANDIDATO), (em caso de Coligação
que, inclusive, é cabível direito de resposta por ofensa indicar os partidos integrantes), por meio de
transmitida por carro de som27. seu Representante (em caso de Coligação ou
partido), XXXX, (qualificação), vem, por meio
de seu Advogado, perante Vossa Excelência, com
A seguir o modelo da petição inicial para o caso de fundamento no art. 58, caput28, da Lei Federal n.º
ofensa em propaganda eleitoral gratuita na televisão.
28 “Art. 58. A partir da escolha de candidatos em convenção, é assegura-
do o direito de resposta a candidato, partido ou coligação atingidos, ainda que
de forma indireta, por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamató-
27 RESPE nº 22274 - CACULÉ – BA, Acórdão de 24/09/2019, Relator(a) ria, injuriosa ou sabidamente inverídica, difundidos por qualquer veículo de
Min. Sergio Silveira Banhos, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, comunicação social.
Data 12/11/2019. (...).”

41
9.504, de 30 de setembro de 199729, apresentar resposta a candidato, partido ou coligação
pedido de DIREITO DE RESPOSTA em desfavor atingidos, ainda que de forma indireta,
de (OFENSOR), (qualificação), em virtude dos por conceito, imagem ou afirmação
fatos e fundamentos jurídicos adiante arrazoados. caluniosa, difamatória, injuriosa ou
A Representante é coligação integrada pelos sabidamente inverídica, difundidos por
partidos xxx, que lançou como candidatos aos qualquer veículo de comunicação social.
cargos de prefeito e vice-prefeito de xxx nesta (...)” (Grifos acrescidos).
eleição municipal, xxx e xxxx.
Já o Representado é xxxx. O TSE, sobre o assunto, possui entendimento firme
Ocorre que, em xxx, o Representado veiculou no seguinte sentido:
propaganda no horário eleitoral gratuito em bloco
às xxhxxmin na emissora xx, no com o seguinte “ELEIÇÕES 2014. ELEIÇÃO
conteúdo: PRESIDENCIAL. PROPAGANDA
(xxx) ELEITORAL. DIREITO DE RESPOSTA.
Tal propaganda expressou mensagem caluniosa e INSERÇÃO. OFENSA DIRETA A
sabidamente inverídica. CANDIDATA. PROCEDÊNCIA.
(detalhamento do porquê a mensagem se enquadra
nesse conceito) 1. É assente nesta Corte que as críticas,
Está evidente, portanto, que o caso é de incidência mesmo que veementes, fazem parte do
do art. 58, caput, da Lei Federal n.º 9.504/97, o qual jogo eleitoral, não ensejando, por si sós,
dispõe: o direito de resposta, desde que não
ultrapassem os limites do questionamento
“Art. 58. A partir da escolha de candidatos político e nem descambem para o insulto
em convenção, é assegurado o direito de pessoal, para a imputação de delitos ou
29 “Estabelece normas para as eleições.”
de fatos sabidamente inverídicos.

42
2. Os representados não se limitaram das 20h30), que deverão ser veiculados
a tecer críticas de natureza política a durante o horário eleitoral gratuito do
adversários, ínsitas ao debate eleitoral Partido representado, nos termos do art.
franco e aberto. 58, § 3º, III, da Lei nº 9.504/9730.”
3. Ao se valerem dos termos “corrupção”
e “roubalheira”, fizeram alusão direta No caso dos autos (subsumir o caso ao dispositivo
a prática de crimes capitulados na legal e ao precedente).
legislação penal brasileira. Ante o exposto, é a presente para requerer a Vossa
4. O art. 58 da Lei nº 9.504/97 dispõe Excelência:
que “a partir da escolha de candidatos a) a notificação do Representado para, querendo,
em convenção, é assegurado o direito apresentar Contestação;
de resposta a candidato, partido ou
coligação atingidos, ainda que de b) no mérito, a concessão do direito de resposta
forma indireta, por conceito, imagem para determinar a veiculação de resposta pelo
ou afirmação caluniosa, difamatória, período de xxx, nos termos do art. 58, §2º, III, da
injuriosa ou sabidamente inverídica, Lei Federal n.º 9.504/97.
difundidos por qualquer veículo de
comunicação social”. Termos em que
5. Configurada ofensa à honra da Pede Deferimento.
candidata. Cidade – XX, XX de xxx de 201x.
6. Representação julgada procedente XXXXXX
para conceder o direito de resposta OAB/XX XXX
de 1 (um) minuto no rádio (bloco das
12h) e 2 (dois) minutos na televisão (1 30 Rp - Representação nº 127927 - BRASÍLIA – DF, Acórdão de
23/09/2014, Relator(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho Neto, Publica-
minuto no bloco das 13h e 1 minuto no ção:PSESS - Publicado em Sessão, Data 23/09/2014.

43
REPRESENTAÇÃO POR CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO
(COMPRA DE VOTO)

O instituto da captação ilícita do sufrágio foi A conduta só é tipificada nesse ilícito se ocorrer entre
introduzido no sistema jurídico eleitoral por meio da o registro de candidatura e o dia da eleição. É preciso
Lei Federal n.º 9.480/9931, com objetivo de especificar ficar evidenciado especial fim de agir de obter o voto do
de modo mais evidente as sanções para as pessoas que eleitor.
buscassem comprar votos e corromper a liberdade dos
eleitores por meio da oferta de vantagens. Na esfera penal, a conduta também é tipificada
como crime pelo art. 299 do Código Eleitoral.
Desde a edição da referida lei, a compra de um
único voto pode resultar na cassação de registro de A representação por captação ilícita de sufrágio pode
candidatura ou diploma, além de multas. ser proposta contra os agentes políticos beneficiados e
contra os autores dos fatos. A falta de citação do autor
As condutas consideradas ilícitas são “doar, do fato, porém, não configura causa de extinção da
oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de ação32.
obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer As sanções são de multa e cassação do registro, do
natureza, inclusive emprego ou função pública, desde mandato ou do diploma do candidato, e, caso ocorra
o registro da candidatura até o dia da eleição”. Assim, a do registro ou diploma, leva à inelegibilidade reflexa do
mera promessa já pode configurar a captação ilícita de
32 Nesse sentido: TSE, AI - Agravo Regimental em Agravo de Instru-
sufrágio, não é necessária a efetiva entrega da vantagem. mento nº 74816 - TRÊS RIOS – RJ, Acórdão de 25/09/2018, Relator(a) Min.
31 “Altera dispositivos da Lei no 9.504, de 30 de setembro de 1997, e da Tarcisio Vieira De Carvalho Neto, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrô-
Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 – Código Eleitoral.” nico, Data 18/10/2018.

44
art. 1.º, I, j, da LCF n.º 64/90. ou partido), XXXX, (qualificação), vem,
O rito procedimental da medida judicial é o por meio de seu Advogado, perante Vossa
previsto pelo art. 22 da LCF n.º 64/90, por isso, muitos Excelência, com fundamento no art. 41-A33 da
chamam essa representação de ação de investigação Lei Federal n.º 9.504, de 30 de setembro de
judicial eleitoral. 199734, propor a presente REPRESENTAÇÃO
POR CAPTAÇÃO ILÍCITA DE VOTO em
desfavor de (CANDIDATOS BENEFICIADO
E AUTORES DO FATO), já qualificado nos
MODELO DE 33 “Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui
PETIÇÃO captação de sufrágio, vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prome-
ter, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem
pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o
registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de
mil a cinqüenta mil Ufir, e cassação do registro ou do diploma, observado o
Excelentíssimo Senhor Juiz Eleitoral da xx procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio
de 1990.
Zona Eleitoral do Estado do xxx. § 1o Para a caracterização da conduta ilícita, é desnecessário o pedido explíci-
to de votos, bastando a evidência do dolo, consistente no especial fim de agir.
§ 2o As sanções previstas no caput aplicam-se contra quem praticar atos de
(COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO NÃO violência ou grave ameaça a pessoa, com o fim de obter-lhe o voto.
COLIGADO, PARTIDO COLIGADO DE § 3o A representação contra as condutas vedadas no caput poderá ser ajuiza-
FORMA ISOLADA SE DEPOIS DA ELEIÇÃO da até a data da diplomação.
§ 4o O prazo de recurso contra decisões proferidas com base neste artigo
OU CANDIDATO), (em caso de Coligação será de 3 (três) dias, a contar da data da publicação do julgamento no Diário
indicar os partidos integrantes), por meio Oficial.” (Grifos acrescidos).
de seu Representante (em caso de Coligação 34 “Estabelece normas para as eleições.”

45
autos dos respectivos registros de candidatura pressionou o Congresso Nacional a aprovar a
que tramitaram perante este Juízo (no caso Lei Federal n.º 9.480, de 28 de setembro de
dos candidatos; no caso dos autores do fato 199935, com objetivo de especificar de modo
precisa qualificar), em virtude dos fatos e mais evidente as sanções para candidatos e
fundamentos jurídicos adiante arrazoados. agentes políticos que buscassem comprar
votos e corromper a liberdade dos eleitores
I – FATOS. por meio da oferta de vantagens indevidas.

Xxx e XXx, Primeiro e Segundo Réus, Passado tanto tempo, infelizmente, a prática
(disputam ou disputaram) a eleição de xxx, ainda é corriqueira nos pleitos eleitorais,
de Cidadde, sob a indicação da Coligação demandando dos integrantes da Justiça
“xxx”, integrada pelo Partido xxxx Eleitoral e de seus auxiliares, incluindo
Ocorre que, em xx, os Réus tiveram sua a Advocacia e o Ministério Público, a
campanha beneficiadas pela compra do manutenção da vigilância e do combate a
voto de eleitores do município por meio da essa prática nefasta, que continua a distorcer
promessa/entrega de vantagem consistente o regime democrático do país.
de xxxx.
(descrição dos fatos). O Tribunal Superior Eleitoral tem dado sua
contribuição no sentido de dar efetividade à
II – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA. citada expressão legislativa. De acordo com
35 “Altera dispositivos da Lei no 9.504, de 30 de setembro de 1997, e da
Há quase duas décadas, a sociedade brasileira Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 – Código Eleitoral.”

46
a jurisprudência dessa Egrégia Corte, resta condutas previstas no art. 41-A da Lei
configurada a captação ilícita de sufrágio 9.504/97; b) fim específico de obter
(art. 41-A, caput, da Lei Federal n.º 9.504/97) o voto do eleitor; c) participação ou
quando o candidato anui com a tentativa de anuência do candidato beneficiário
compra de voto realizada por correligionário na prática do ato.
possuidor de vínculo político e familiar
com os beneficiários das condutas ilícitas, Na espécie, o TRE/MG reconheceu
conforme se extrai do seguinte precedente: a captação ilícita com esteio na
inequívoca distribuição de material
“AGRAVO REGIMENTAL. de construção em troca de votos -
RECURSO ESPECIAL promovida por cabos eleitorais que
ELEITORAL. ELEIÇÕES 2008. trabalharam na campanha - em favor
PREFEITO. REPRESENTAÇÃO. das candidaturas do agravante e de
CAPTAÇÃO ILÍCITA DE seu respectivo vice.
SUFRÁGIO. ART. 41-A DA LEI
9.504/97. CONFIGURAÇÃO. O forte vínculo político e familiar
CONHECIMENTO PRÉVIO. evidencia de forma plena o liame
DEMONSTRAÇÃO. (...) entre os autores da conduta e
2. A caracterização da captação os candidatos beneficiários. Na
ilícita de sufrágio pressupõe a hipótese dos autos, os responsáveis
ocorrência simultânea dos seguintes diretos pela compra de votos são
requisitos: a) prática de uma das primos do agravante e atuaram

47
como cabos eleitorais - em conjunto c) a notificação do Ministério Público para
com os demais representados - na acompanhar o Feito;
campanha eleitoral. d) no mérito, a procedência da pretensão
(...)36” (Grifos acrescidos). desta Ação, com a aplicação das sanções
do art. 41-A da Lei Federal n.° 9504/97 em
No caso dos autos (subsumir os fatos ao desfavor dos Réus.
dispositivo legal e precedente).

III – PEDIDOS Termos em que


Pede Deferimento.
Em face do exposto, os Autores postulam a Cidade – XX, XX de xxx de 201x.
Vossa Excelência: XXXXXX
a) a citação dos Réus para, querendo, OAB/XX XXX
contestarem a presente Ação de Investigação
Judicial Eleitoral; ROL DE TESTEMUNHAS.
b) a produção de todas as provas em a) ;
Direito admitido, inclusive com a realização
de audiência de instrução para ouvir as
testemunhas arroladas adiante (indicar
outras provas, sob pena de preclusão);
36 Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral n.º 815659, Relato-
ra: Ministra Fátima Nancy Andrighi, Publicação: DJE, em 6-2-12.

48
REPRESENTAÇÃO POR CONDUTA VEDADA AO AGENTE
PÚBLICO

As condutas vedadas são espécies do gênero abuso remuneração de servidores – se estendem até a posse
de autoridade ou do poder político. Os arts. 73 a 78 da dos eleitos, uma é durante todo o ano eleitoral (art.
LF n.º 9.504/97 visa impedir determinadas ações dos 73, §10) e outra refere-se ao primeiro semestre do ano
agentes públicos que podem desequilibrar as condições eleitoral (art. 73, VII).
da disputa eleitoral.
As representações por conduta vedada podem ser
O conceito de agente público engloba os agentes propostas até a data da diplomação dos eleitos (art. 73,
políticos, servidores públicos (independente da forma §12).
de provimento do cargo), ou quem simplesmente exerce
uma função pública (art. 73, §1º). As sanções são de multa, cassação do registro ou
do diploma, e caso essa ocorra geram a inelegibilidade
Quando falamos da Lei das Eleições, apresentamos reflexa do art. 1.º, I, j, da LCF n.º 64/90.
um breve resumo de quais seriam as condutas vedadas
expressamente positivadas. A maior discussão em torno dessa medida
judicial relaciona-se à obrigatoriedade da formação do
O marco temporal da proibição à essas condutas litisconsórcio passivo. Por prudência, recomenda-se
vedadas, na maioria dos casos, corresponde ao período que sempre sejam indicados como réus todos os autores
dos três meses que antecedem a eleição, outras – como dos fatos (agentes públicos) que estejam relacionados
as relacionadas à nomeação, demissão e revisão de à conduta vedada. Este precedente do TSE evidencia o

49
debate existente em torno da matéria: do abuso do poder político, determinando,
ainda, a realização de novas eleições.
“DIREITO ELEITORAL. RECURSOS
ESPECIAIS ELEITORAIS. ELEIÇÕES 2. Julgamento conjunto de representação
2016. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO por conduta vedada (Rp nº 412-26) ajuizada
JUDICIAL ELEITORAL POR ABUSO DO em desfavor do candidato a prefeito eleito
PODER POLÍTICO. REPRESENTAÇÃO (Farias Menezes de Oliveira) e do candidato a
POR CONDUTA VEDADA. NÃO vice-prefeito reeleito (Emídio Braga Bicalho)
CONHECIMENTO DO RECURSO DE e de AIJE por abuso do poder econômico e
EMÍDIO BICALHO E PROVIMENTO político (AIJE nº 422-70) ajuizada contra
PARCIAL DO RECURSO DE FARIAS esses candidatos, o prefeito à época dos fatos
MENEZES DE OLIVEIRA. (Frederico Henriques Figueiredo Coura
Ferreira) e o pai deste último (José Henriques
1. Recursos especiais eleitorais contra Ferreira).
acórdão do TRE/MG, que, reformando
parcialmente sentença, manteve a cassação 3. Hipótese em que o então prefeito teria feito
dos diplomas do prefeito e vice-prefeito do uso promocional da entrega efetiva de lotes a
Município de Dionísio/MG, eleitos no pleito 195 famílias em programa social da Prefeitura
de 2016, bem como a condenação de ambos Municipal, com a alteração do cronograma
à inelegibilidade por 8 anos, em razão da para que a imissão na posse se desse em
prática de conduta vedada e da configuração período próximo às eleições municipais -

50
embora as obras de infraestrutura no local relativa ao uso promocional de distribuição
ainda não estivessem concluídas -, com o gratuita de bens e serviços de caráter social,
objetivo de beneficiar o candidato a prefeito pelo prefeito à época dos fatos. No entanto, a
apoiado e o então vice-prefeito, candidato à representação foi ajuizada apenas contra os
reeleição para o mesmo cargo. candidatos beneficiados.

I - RECURSO DE EMÍDIO BRAGA 6. De acordo com o entendimento deste


BICALHO Tribunal, aplicável às Eleições 2016, nas
ações que versem sobre condutas vedadas,
4. É intempestivo o recurso especial eleitoral há litisconsórcio passivo necessário entre o
interposto após o fim do tríduo legal. O agente público tido como responsável pela
recorrente não se desincumbiu do ônus de prática das condutas e os beneficiários dos
comprovar a alegada indisponibilidade do atos praticados.
sistema da Justiça Eleitoral, de modo que seu
recurso não deve ser conhecido. 7. A ausência de inclusão do agente público
II - RECURSO DE FARIAS MENEZES DE responsável no polo passivo impõe a extinção,
OLIVEIRA com resolução do mérito, da representação,
Representação por conduta vedada. nos termos do art. 487, II, do CPC. Como
consequência, ficam afastadas as multas
5. Em relação à Rp nº 412-26, o acórdão aplicadas pela prática de conduta vedada.
regional entendeu configurada a conduta AIJE por abuso do poder político
vedada do art. 73, IV, da Lei nº 9.504/1997,

51
8. Em relação à AIJE nº 422-70, o acórdão 11. O TRE/MG entendeu configurado o abuso
regional concluiu pela configuração do do poder político, com gravidade suficiente
abuso do poder político, com a condenação para afetar a normalidade e a legitimidade do
do prefeito à época dos fatos e de seu pai à pleito, por considerar que houve manipulação
inelegibilidade, bem como dos candidatos do cronograma de entrega com finalidade
eleitos à cassação dos diplomas e à eleitoreira, uma vez que não havia justificativa
inelegibilidade. para a imissão na posse dos beneficiários
dos lotes a cerca de duas semanas do pleito
9. É dispensável a formação do litisconsórcio quando as obras de infraestrutura não
passivo necessário quando o agente pratica a estavam concluídas. A modificação dessas
conduta vedada ou o ato abusivo na condição conclusões exigiria o reexame do conjunto
de mero mandatário do beneficiário que fático-probatório, o que é vedado nesta
integra a demanda. Precedentes. Portanto, instância especial (Súmula nº 24/TSE).
desnecessária a inclusão do funcionário da
prefeitura responsável pela entrega dos lotes 12. A inelegibilidade constitui sanção de
no polo passivo da presente ação. natureza personalíssima, de modo que não se
aplica ao mero beneficiário dos atos abusivos,
10. O acórdão regional enfrentou devidamente mas apenas a quem tenha contribuído, direta
os argumentos apresentados pelo recorrente. ou indiretamente, para a prática de referidos
Não há qualquer omissão ou contradição, o atos. No caso, os candidatos recorrentes
que afasta a alegada violação ao art. 275 do foram condenados apenas na qualidade de
Código Eleitoral e ao art. 1.022 do CPC. beneficiários da conduta configuradora de

52
abuso de poder. Não ficou comprovada sua independentemente do trânsito em julgado
contribuição, direta ou indireta, para a prática da decisão. Precedentes.”37
dos atos abusivos, de modo que não há como
aplicar-lhes a sanção de inelegibilidade.
MODELO DE
III - CONCLUSÃO
PETIÇÃO
13. Recurso de Emídio Braga Bicalho não
conhecido e recurso de Farias Menezes Excelentíssimo Senhor Juiz Eleitoral da xx
de Oliveira parcialmente provido para (i) Zona Eleitoral do Estado do xxx.
extinguir a Representação nº 412-26 e (ii)
afastar a sanção de inelegibilidade imposta (COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO NÃO
aos recorrentes no âmbito da AIJE nº 422-70. COLIGADO, PARTIDO COLIGADO DE
Prejudicado o agravo interno nos autos da FORMA ISOLADA SE DEPOIS DA ELEIÇÃO
Ação Cautelar nº 0604265-94.2017.6.00.0000. OU CANDIDATO), (em caso de Coligação
indicar os partidos integrantes), por meio
14. Mantida a decisão de cassação dos de seu Representante (em caso de Coligação
diplomas dos recorrentes, de modo que ou partido), XXXX, (qualificação), vem,
deve haver a convocação imediata de novas por meio de seu Advogado, perante Vossa
eleições diretas para os cargos de prefeito
37 RESPE - Recurso Especial Eleitoral nº 42270 - DIONÍSIO – MG,
e vice-prefeito no Município de Dionísio/ Acórdão de 30/05/2019, Relator(a) Min. Luís Roberto Barroso, Publicação:
MG, a partir da publicação deste acórdão, DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 27/06/2019.

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Excelência, com fundamento no art. 96, I38, eleição, XXX.
da Lei Federal n.º 9.504, de 30 de setembro de
199739, propor a presente REPRESENTAÇÃO O Primeiro Representado é xxx e candidato
ELEITORAL POR CONDUTA VEDADA em ao cargo de prefeito pela Coligação xxx,
desfavor de (CANDIDATOS BENEFICIADO integrada pelos partidos xxxx, tendo
E AUTORES DO FATO), já qualificado nos como candidato a vice-prefeito o Segundo
autos dos respectivos registros de candidatura Representado.
que tramitaram perante este Juízo (no caso
dos candidatos; no caso dos autores do fato Ocorre que, ambos vêm praticando e sendo
precisa qualificar), em virtude dos fatos e beneficiados por condutas vedadas pela
fundamentos jurídicos adiante arrazoados. legislação eleitoral, com a intenção de
desequilibrar o pleito.
I – FATOS.
No caso, em conjunto com os demais
A Representante é coligação integrada pelos Representando, encontram-se violando o
partidos XXX, e XXX, que lançou como
candidato ao cargo de prefeito de XXX nesta
38 “Art. 96. Salvo disposições específicas em contrário desta Lei, as recla-
mações ou representações relativas ao seu descumprimento podem ser feitas
por qualquer partido político, coligação ou candidato, e devem dirigir-se:
I - aos Juízes Eleitorais, nas eleições municipais;
(...).”
39 “Estabelece normas para as eleições.”.

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disposto nos arts. 73, e VI, b40, e 7441 da Lei página xxx após o período proscrito, como é
Federal n.º 9.504/97. possível verificar das seguintes publicações:

Isso porque os Representados continuam (copiar publicações).


veiculando publicidade institucional na Além disso, a publicação realizada no xxx,
no dia xxx, está em desconformidade com o
40 “Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as
seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre can- art. 37, §1º42, da Constituição Federal porque
didatos nos pleitos eleitorais: xxxx, conforme será melhor evidenciado a
(...)
III - ceder servidor público ou empregado da administração direta ou indireta
seguir.
federal, estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de seus serviços, (complementação da descrição dos
para comitês de campanha eleitoral de candidato, partido político ou coliga- fatos relativos às condutas vedadas e
ção, durante o horário de expediente normal, salvo se o servidor ou emprega-
do estiver licenciado; beneficiamento dos candidatos).
(...)
VI - nos três meses que antecedem o pleito:
(...)
Com efeito, a conduta dos Réus configura
b) com exceção da propaganda de produtos e serviços que tenham concor- violação à legislação eleitoral e grave ato
rência no mercado, autorizar publicidade institucional dos atos, programas, 42 “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou muni- Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obede-
cipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, salvo em caso cerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
de grave e urgente necessidade pública, assim reconhecida pela Justiça Eleito- eficiência e, também, ao seguinte:
ral; (...)
(...).” § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos
41 “Art. 74. Configura abuso de autoridade, para os fins do disposto no órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação so-
art. 22 da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, a infringência do cial, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem
disposto no § 1º do art. 37 da Constituição Federal, ficando o responsável, se promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.
candidato, sujeito ao cancelamento do registro ou do diploma.” (...).” (Grifos acrescidos).

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tendente ao desequilíbrio da disputa eleitoral, 9.504/97).
de sorte que, pelos fundamentos jurídicos
adiante expressos, merecem ser reprimidos Em relação à vedação à publicidade
com a cassação do registro de candidatura dos institucional no período da campanha
primeiros e aplicação de multa para todos. eleitoral, o posicionamento do TSE é firme no
seguinte sentido:
II – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA.
“ELEIÇÕES 2014. RECURSOS
II.1 – VIOLAÇÃO AO 73, VI, B, DA LEI ORDINÁRIOS. AÇÃO DE
FEDERAL N.º 9.504/97. VEICULAÇÃO INVESTIGAÇÃO JUDICIAL
E PERMANÊNCIA DE PUBLICIDADE ELEITORAL. PUBLICIDADE
INSTITUCIONAL EM PERÍODO I N S T I T U C I O N A L .
PROSCRITO. CARACTERIZAÇÃO DA GOVERNADOR, VICE-
CONDUTA VEDADA. INCIDÊNCIA DO GOVERNADOR E SECRETÁRIO
ART. 73, §4º, DA LEI FEDERAL N.º 9.504/97 DE ESTADO DE PUBLICIDADE
PARA DETERMINAR A SUSPENSÃO DA INSTITUCIONAL. CONDUTA
CONDUTA. VEDADA DO ART. 73, VI, B,
DA LEI 9.504/97, ABUSO DE
A proibição das condutas vedadas aos agentes AUTORIDADE (ART. 74 DA LEI
públicos visa proteger “a igualdade de 9.504/97) E ABUSO DE PODER
oportunidades entre candidatos nos pleitos POLÍTICO (ART. 22 DA LEI
eleitorais” (art. 73, caput, da Lei Federal n.º COMPLEMENTAR 64/90).

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CONDUTA VEDADA. ART. 73, VI, e o custeio estatal para sua produção
B, DA LEI 9.504/97. e divulgação.
1. O fato narrado na ação de
investigação judicial eleitoral 3. O art. 73, VI, b, da Lei 9.504/97
consiste na veiculação de notícias veda, no período de 3 meses que
referentes ao governo do Distrito antecede o pleito, toda e qualquer
Federal no site da Agência Brasília, publicidade institucional,
canal institucional do GDF e em excetuando-se apenas a propaganda
página do Facebook, nos três meses de produtos e serviços que tenham
que antecederam o pleito. concorrência no mercado e os casos
de grave e urgente necessidade
2. Ainda que se alegue que pública, reconhecida previamente
as publicações questionadas pela Justiça Eleitoral.
veicularam meras notícias,
resultado de atividades jornalísticas 4. As notícias veiculadas não se
da administração pública, a enquadram nas duas exceções legais,
publicidade institucional não se estando caracterizada a conduta
restringe apenas a impressos ou vedada que proíbe a veiculação de
peças veiculadas na mídia escrita, publicidade institucional no período
radiofônica e televisiva, porquanto proibitivo.
não é o meio de divulgação que a
caracteriza, mas, sim, o seu conteúdo 5. É evidente que o governo do

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Distrito Federal, no período crítico rel. Min. Maria Thereza, DJe de
vedado pela legislação eleitoral, 2.9.2016).
prosseguiu com a divulgação 7. Ademais, igualmente pacificada
na internet (rede social e sítio a orientação de que a multa por
eletrônico) de inúmeras notícias conduta vedada também alcança
que consistiram em publicidade os candidatos que apenas se
institucional, sem passar pelo crivo beneficiaram delas, nos termos dos
da Justiça Eleitoral, que poderia, §§ 5º e 8º do art. 73 da Lei 9.504/97,
em caráter preventivo, examinar se ainda que não sejam diretamente
elas se enquadravam na hipótese de responsáveis por ela, tal como na
grave e urgente necessidade pública hipótese de vice-governador.
exigida para a pretendida veiculação ABUSO DE AUTORIDADE. ART.
em plena campanha eleitoral. 74 DA LEI 9.504/97.

6. A jurisprudência deste Tribunal 8. A caracterização do abuso de


firmou-se no sentido de que o chefe autoridade, na espécie específica e
do Poder Executivo é responsável tipificada no art. 74 da Lei 9.504/97,
pela divulgação da publicidade requer seja demonstrada, de forma
institucional, independentemente objetiva, afronta ao disposto no
da delegação administrativa, por art. 37, § 1º, da CF, ou seja, exige
ser sua atribuição zelar pelo seu que haja ruptura do princípio da
conteúdo (AgR-RO 2510-24, impessoalidade com a menção

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na publicidade institucional a 11. As circunstâncias do caso
nomes, símbolos ou imagens que concreto se revelaram graves, nos
caracterizem promoção pessoal ou termos do que preconiza o inciso XVI
de servidores públicos. Precedentes. do art. 22 da LC 64/90, porquanto:
9. Não ficou comprovada a utilização
de imagens ou símbolos que a) embora tenha se consignado no
caracterizem a promoção pessoal, Portal de Governo a vedação legal
necessária para configurar o abuso quanto à publicidade institucional,
do poder de autoridade tipificado constou-se no sítio eletrônico um
no art. 74 da Lei 9.504/97. link de acesso à página da agência
ABUSO DO PODER POLÍTICO. de notícias em que se prosseguia
ART. 22 DA LC 64/90. difundindo notícias de cunho
institucional;
10. O abuso do poder político, de
que trata o art. 22, caput, da LC b) não se tratou apenas de um fato
64/90, configura-se quando o agente isolado, mas de centenas de notícias
público, valendo-se de sua condição configuradoras de publicidade
funcional e em manifesto desvio de institucional;
finalidade, compromete a igualdade
da disputa e a legitimidade do pleito c) foram elas veiculadas em julho
em benefício de sua candidatura ou e nos meses relativos à campanha
de terceiros. Precedentes. eleitoral (agosto e setembro);

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d) as matérias diziam respeito,
diversas delas, a áreas sociais e de 13. Mesmo que tais notícias não
interesse do eleitorado; tenham o nome das autoridades,
fotos ou símbolos nem tenham
e) algumas matérias chegaram mencionado a eleição, a lei eleitoral é
a enaltecer a administração dos expressa ao vedar a continuidade de
investigados. publicidade de caráter institucional,
justamente para não privilegiar
12. Não mais se exige, para o mandatários no exercício de seus
reconhecimento da prática abusiva, cargos eletivos, que permanecem na
que fique comprovado que a conduta condução da administração mesmo
tenha efetivamente desequilibrado na disputa à reeleição.
o pleito ou que seria exigível a prova
da potencialidade, tanto assim o 14. Não demonstrada a participação
é que a LC 64/90, com a alteração do candidato ao cargo de vice-
advinda pela LC 135/2010, passou governador no ilícito apurado,
a dispor: “Para a configuração do não é possível lhe impor a pena de
ato abusivo, não será considerada inelegibilidade em decorrência do
a potencialidade de o fato alterar o abuso do poder político. Precedentes.
resultado da eleição, mas apenas a Recurso ordinário do governador e
gravidade das circunstâncias que o do secretário estadual de publicidade
caracterizam”. institucional parcialmente provido,

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com o afastamento do abuso de 9.504/97.”43 (Grifos acrescidos).
autoridade de que trata o art. 74
da Lei 9.504/97, mantendo-se o ****
reconhecimento da conduta vedada
do art. 73, VI, b, da Lei 9.504/97 “AGRAVO REGIMENTAL.
e a consequente imposição de RECURSO ESPECIAL
multa, bem como a declaração de ELEITORAL. ELEIÇÕES
inelegibilidade, em face do abuso do 2014. GOVERNADOR.
poder político de que trata o art. 22 REPRESENTAÇÃO. CONDUTA
da LC 64/90. VEDADA AOS AGENTES
PÚBLICOS. PUBLICIDADE
Recurso ordinário do vice- INSTITUCIONAL. ART. 73, VI, B, DA
governador parcialmente provido, LEI 9.504/97. CONFIGURAÇÃO.
para afastar o abuso de autoridade MULTA. DESPROVIMENTO.
de que trata o art. 74 da Lei
9.504/97, bem como a declaração de 1. O recurso cabível no caso é o
inelegibilidade, por abuso do poder especial, pois na inicial pugnou-se
político (art. 22 da LC 64/90), diante apenas pela imposição de multa aos
da ausência de responsabilidade no agravantes.
fato apurado, mantendo a aplicação
da multa decorrente da conduta 43 RO - Recurso Ordinário nº 172365 - BRASÍLIA – DF, Acórdão de
07/12/2017, Relator(a) Min. ADMAR GONZAGA, Publicação: DJE - Diário
vedada do art. 73, VI, b, da LC de justiça eletrônico, Tomo 40, Data 27/02/2018, Página 126/127.

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4. O fato de a publicidade ter sido
2. A conduta vedada do art. 73, VI, veiculada na página oficial do
b, da Lei 9.504/97 - proibição de Governo do Paraná no facebook,
publicidade institucional nos três rede social de cadastro e acesso
meses que antecedem a eleição - gratuito, não afasta a ilicitude da
possui natureza objetiva e configura- conduta.
se independentemente do momento
em que autorizada a publicidade, 5. Manutenção da multa imposta
bastando a sua manutenção no no mínimo legal a cada um dos
período vedado. Precedentes. agravantes.

3. No caso dos autos, a partir da 6. Agravo regimental desprovido.”44


moldura fática contida no acórdão (Grifos acrescidos).
regional, é incontroverso que no
período vedado houve a divulgação ****
de postagens na página oficial “ELEIÇÕES 2016. AGRAVO
do Governo do Estado do Paraná REGIMENTAL EM
no facebook noticiando os feitos AGRAVO. CONDUTA
da administração chefiada pelo VEDADA. PROPAGANDA
agravante Carlos Alberto Richa e 44 RESPE - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 149019,
contendo fotos de reunião realizada CURITIBA – PR, Acórdão de 24/09/2015, Relator(a) Min. João Otávio De
Noronha, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 209, Data
entre ele e alguns vereadores. 05/11/2015, Página 62.

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INSTITUCIONAL. PÁGINA do TRE do Rio Grande do Sul, e
OFICIAL DA PREFEITURA. não são, por esse motivo, aptas
FACEBOOK. DIVULGAÇÃO para ensejar a reforma da decisão
DE OBRAS REALIZADAS PELA recorrida.
ADMINISTRAÇÃO. PERÍODO
VEDADO. APLICAÇÃO DE MULTA 2. A jurisprudência desta Corte
INDIVIDUAL DE R$ 5.320,50 NA assinala a ilicitude da conduta
ORIGEM. REITERAÇÃO DOS consistente na publicação de
ARGUMENTOS EXPENDIDOS notícias inerentes aos feitos da
NAS RAZÕES DO AGRAVO. Administração Pública, em período
DECISÃO REGIONAL EM vedado, na página do Facebook.
CONFORMIDADE COM A Além disso, o fato de a publicidade
JURISPRUDÊNCIA DESTA ter sido veiculada em rede social de
CORTE. AGRAVO AO QUAL SE cadastro e acesso gratuito não afasta
NEGA PROVIMENTO. a ilicitude da conduta Precedente:
REspe 1490-19/PR, Rel. Min. JOÃO
1. A argumentação expendida no OTÁVIO DE NORONHA, DJe de
Agravo Regimental constitui mera 5.11.2015.
reiteração dos argumentos insertos
nas razões do Agravo interposto da 3. O art. 73, § 8º, da Lei 9.504/97 prevê a
decisão que inadmitiu o Recurso incidência de multa aos responsáveis
Especial manejado contra o acórdão pela conduta ilícita e aos partidos,

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coligações e candidatos que dela se a jurisprudência deste Tribunal
beneficiarem. Precedente: REspe Superior, incidindo na espécie a
1478-54/DF, Rel. Min. HENRIQUE Súmula 30 do STJ.
NEVES DA SILVA, DJe 18.2.2016. 6. Agravo Interno ao qual se nega
provimento.”45 (Grifos acrescidos).
4. O entendimento esposado
pelo Tribunal Regional, no que ****
tange à responsabilização dos
ora agravantes pela publicidade “AGRAVO REGIMENTAL.
institucional maculada, está em RECURSO ESPECIAL. CONDUTA
harmonia com recentes julgados VEDADA. PUBLICIDADE
desta Corte Superior, conforme INSTITUCIONAL. MULTA.
os precedentes citados na decisão
objurgada (REspe 1194-73/CE, Rel. 1. Não violação ao art. 275 do
Min. MARIA THEREZA DE ASSIS Código Eleitoral ou ao art. 93, IX,
MOURA, DJe de 5.9.2016; REspe da Constituição Federal quando
1478-54/DF, Rel. Min. HENRIQUE o órgão jurisdicional se manifesta
NEVES DA SILVA, DJe de 18.2.2016). a respeito de todas as questões
suscitadas pelas partes, adotando,
5. Não merece reparos a conclusão da
45 AI - Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 16033 - CAN-
Corte a quo, pois a decisão regional GUÇÚ – RS, Acórdão de 19/09/2017, Relator(a) Min. Napoleão Nunes Maia
encontra-se em consonância com Filho, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 11/10/2017

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em alguns trechos da decisão, a se aplique a multa do art. 73, § 4º, da
manifestação do Ministério Público Lei nº 9.504/97, sendo irrelevante
Eleitoral. Precedente: AgR-REspe que a peça publicitária tenha sido
nº 227-04, de minha relatoria, DJE autorizada e afixada em momento
de 10.4.2014. anterior.

2. Se o Tribunal de origem concluiu 4. É incabível a redução da multa


que houve veiculação de propaganda aplicada por meio de decisão
institucional no período vedado, devidamente fundamentada,
mediante peça publicitária de caráter especialmente quando as
autopromocional utilizada em vários informações registradas no
serviços e bens da municipalidade, acórdão regional denotam o uso
a revisão de tal entendimento da propaganda vedada em vários
demandaria o reexame de fatos e bens e serviços da administração
provas, providência vedada em sede municipal. Precedentes: AgR-AI nº
extraordinária (Súmulas 7, do STJ e 4109-05, rel. Min. Marcelo Ribeiro,
279, do STF). DJE de 10.8.2011; e AgR-REspe nº
3. Na linha da jurisprudência desta 441-73, rel. Min. Arnaldo Versiani,
Corte Superior, salvo as hipóteses DJE de 28.6.2011.
autorizadas em lei, a permanência de
propaganda institucional durante o Agravo regimental a que se nega
período vedado é suficiente para que

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provimento.”46 (Grifos acrescidos). institucional no período vedado é
suficiente para que se aplique a pena
**** de multa prevista no art. 73, § 4º,
da Lei 9.504/97, sendo irrelevante
“AGRAVO REGIMENTAL. ter sido autorizada anteriormente.
RECURSO ESPECIAL Precedente.
ELEITORAL. ELEIÇÕES
2012. CONDUTA VEDADA. 3. Agravo regimental não provido.”47
PROPAGANDA INSTITUCIONAL. (Grifos acrescidos).
PERÍODO VEDADO.
DESPROVIMENTO. De acordo com a legislação de regência e firme
entendimento da Justiça Eleitoral sobre o
1. Nos três meses que antecedem assunto, os agentes públicos Representados
o pleito, impõe-se a total vedação deveriam ter retirado do ar toda a publicidade
à publicidade institucional, institucional da Prefeitura três meses antes
ressalvadas as exceções previstas em do pleito, sendo que assim não o fizeram.
lei (art. 73, VI, b, da Lei 9.504/97).
Precedente. Como mostram as provas em anexo, e pode ser
2. A permanência de propaganda constatado xxxx, os Representados deixaram
46 RESPE - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 61872 47 RESPE - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 43616
- GOVERNADOR VALADARES – MG, Acórdão de 16/10/2014, Relator(a) - ARCOS – MG, Acórdão de 04/09/2014, Relator(a) Min. João Otávio De
Min. Henrique Neves Da Silva, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Noronha, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 178, Data
Tomo 202, Data 27/10/2014, Página 54/55 23/09/2014, Página 54

66
no ar toda a publicidade institucional do (...)
governo da Prefeitura de xxx até a presente § 4º O descumprimento do disposto
data. neste artigo acarretará a suspensão
imediata da conduta vedada, quando
Portanto, está evidente a violação ao art. 73, for o caso, e sujeitará os responsáveis
VI, b, da Lei Federal n.º 9.504/97. a multa no valor de cinco a cem mil
UFIR.
Outrossim, dispõe o art. 73, §4º48 , da Lei (...).” (Grifos acrescidos).
Federal n.º 9.504/97:
“Art. 73. São proibidas aos agentes Nesse sentido, faz jus a Representante à
públicos, servidores ou não, as concessão de tutela de urgência para que
seguintes condutas tendentes a seja determinada a suspensão da veiculação
afetar a igualdade de oportunidades da publicidade institucional da Prefeitura de
entre candidatos nos pleitos xxx no xxx.
eleitorais:
II.2 – VIOLAÇÃO AO ART. 74 DA
48 “Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as LEI FEDERAL N.º 9.504/07. ABUSO
seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre can- DE AUTORIDADE. PUBLICIDADE
didatos nos pleitos eleitorais:
(...) INSTITUCIONAIS ABUSIVA,
§ 4º O descumprimento do disposto neste artigo acarretará a suspensão PERSONALISTA E DE CARÁTER
imediata da conduta vedada, quando for o caso, e sujeitará os responsáveis a
multa no valor de cinco a cem mil UFIR.
ELEITOREIRO.
(...).” Prescreve o art. 37, §1º, da Constituição

67
Federal: ESPECIAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO
JUDICIAL ELEITORAL. PREFEITO
“Art. 37. A administração pública direta E VICE REELEITOS. ALEGAÇÃO.
e indireta de qualquer dos Poderes ABUSO DO PODER DE AUTORIDADE.
da União, dos Estados, do Distrito PROMOÇÃO PESSOAL EM
Federal e dos Municípios obedecerá aos PUBLICIDADE INSTITUCIONAL.
princípios de legalidade, impessoalidade, RECONHECIMENTO DA PRÁTICA
moralidade, publicidade e eficiência e, DE CONDUTA VEDADA E DO ABUSO
também, ao seguinte: DE PODER. INCIDÊNCIA DAS
(...) SANÇÕES DE MULTA, CASSAÇÃO
§ 1º A publicidade dos atos, programas, DE DIPLOMAS E DECLARAÇÃO
obras, serviços e campanhas dos órgãos DE INELEGIBILIDADE. DECISÃO
públicos deverá ter caráter educativo, AGRAVADA MANTIDA POR SEUS
informativo ou de orientação social, dela PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.
não podendo constar nomes, símbolos AGRAVO REGIMENTAL
ou imagens que caracterizem promoção DESPROVIDO.
pessoal de autoridades ou servidores 1. Hipótese em que o Tribunal de origem,
públicos. respaldando-se nas provas angariadas
(...).” (Grifos acrescidos). durante a instrução processual, concluiu
que, para além da conduta vedada de que
trata o art. 73, inciso VI, alínea b, da Lei
Sobre o assunto, o TSE já decidiu: nº 9.504/97, também ficou comprovado
o abuso do poder de autoridade, por
“ELEIÇÕES 2012. AGRAVO afronta ao art. 37, § 1º, da Constituição
REGIMENTAL EM RECURSO Federal, levado a efeito pelos agravantes

68
por meio da veiculação não apenas na assim, o conhecimento do recurso
conta de Facebook, como também no especial quanto ao ponto.
sítio oficial da Prefeitura de publicidade
institucional contendo clara promoção 3. As premissas fáticas consideradas no
pessoal em prol de suas candidaturas, com julgamento do recurso especial são apenas
gravidade suficiente para desequilibrar aquelas estabelecidas pela maioria da
a disputa eleitoral e, por conseguinte, Corte de origem, de modo que não atende
ensejar a condenação com base no art. ao requisito do prequestionamento
74 da Lei das Eleições c.c. o art. 22, caput a matéria ventilada somente no voto
e inciso XIV, da Lei Complementar nº vencido (Súmula 320 do Superior
64/90. Incidência das Súmulas 279 do Tribunal de Justiça). Precedentes.
STF e 7 do STJ.
4. Agravo regimental desprovido.”49
2. A alegada necessidade de aplicação (explicar porque a publicidade eleitoral
dos princípios da razoabilidade e da violou o art. 37, §1º, da CF).
proporcionalidade, para aferição da
gravidade da conduta e consequente
incidência das sanções de cassação dos
Diante desse contexto, claro está a violação
diplomas e decretação de inelegibilidade ao art. 74 da Lei Federal n.º 9.504/97, de
não foi objeto de prequestionamento, forma grave, pois os Representados usaram
não havendo falar, portanto, em afronta a da estrutura do Poder Público com a
lei e à Constituição Federal, menos ainda
49 RESPE - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 24258 -
em dissenso jurisprudencial, porquanto PARANAÍBA – MS, Acórdão de 17/12/2014, Relator(a) Min. Maria Thereza
inexistiu julgamento da questão jurídica de Assis Moura, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 24, Data
pelo acórdão recorrido, inviabilizando, 04/02/2015, Página 116/117.

69
finalidade de obter proveito político/eleitoral
para a campanha do Primeiro e Segundo Em face do exposto, a Representante postula
Representados. a Vossa Excelência:

Quem usa do poder do Estado com finalidades a) liminarmente, inaudita altera pars, o
eleitorais abusa da função pública para burlar deferimento de tutela antecipada para
a legitimidade e normalidade das eleições, determinar que os Representados suspendam
sendo mais do que legítima, necessária, a a veiculação da publicidade institucional da
intervenção do Judiciário para impedir quem Prefeitura de Ceará-Mirim – RN nos
assim o faz, de exercer mandatos eletivos,
na forma do art. 14, §9º50, da Constituição b) a notificação dos Representados para,
Federal. querendo, apresentar Contestação no prazo
III – PEDIDOS. do art. 4º da Lei Complementar Federal n.º
50 “Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e
64/90;
pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei,
mediante: c) a produção de todas as provas em Direito
(...)
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos admitido, inclusive com a realização
de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade de audiência de instrução para ouvir as
para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a nor-
malidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico testemunhas arroladas adiante (indicar
ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta outras provas, sob pena de preclusão);
ou indireta.
(...).
d) no mérito, o julgamento procedente da

70
pretensão da Representante, confirmando o
pleito liminar, e condenando os Representados
às sanções dos arts. 73, §§ 4º e 5º, e 74 da Lei
Federal n.º 9.504/07.

Termos em que
Pede Deferimento.
Cidade – XX, XX de xxx de 201x.
XXXXXX
OAB/XX XXX

ROL DE TESTEMUNHAS.
a) ;

71
REPRESENTAÇÃO POR CAPTAÇÃO E GASTO ILÍCITO DE
CAMPANHA (CAIXA 2)

A Justiça e a legislação eleitoral brasileira vêm declarados nas prestações de contas remetidas à Justiça
aperfeiçoando o sistema de controle sobre a arrecadação Eleitoral (caixa 2). Houve, com isso, uma pressão para
e despesas das campanhas eleitorais ao longo dos últimos que o Congresso aprovasse alteração na legislação
anos. O Judiciário, principalmente, tem sido cada vez eleitoral para alterar esse contexto. O resultado
mais criterioso na análise das prestações de contas foi a inclusão do art. 30-A na LF n.º 9.504/97, o qual
dos candidatos e partidos políticos. O TSE hoje tem disciplina a representação por captação e gasto ilícito
vários convênios firmados com outros órgãos públicos, de campanha.
visando o compartilhamento de dados e informações
para combater ilícitos na captação e pagamento de A finalidade dessa medida judicial é negar ou
despesas eleitorais. cassar o diploma de candidatos que arrecadaram
recursos ou realizaram despesas de forma ilícita. A
Porém, até 2006, não existia a previsão de consequência indireta de quem é condenado e sofre tais
uma medida judicial específica que fosse capaz de sanções também é a inelegibilidade do art. 1.º, I, j, da LC
responsabilizar candidatos por práticas como o n.º 64/90.
caixa 2. Esse cenário mudou após publicitários e
outros dirigentes de campanhas eleitorais nacionais Embora se relacione com o processo de prestação
confessarem publicamente – em CPI realizada no de contas dos candidatos, tal representação é autônoma
Congresso Nacional, inclusive – que receberam recursos a ele. Inclusive, é autuada e tramita em autos processuais
relativos ao pagamento de despesas de campanhas não separados das prestações de contas e pode ser proposta

72
mesmo que a Justiça tenha aprovado as prestações de Excelentíssimo Senhor Juiz Eleitoral da xx
contas do candidato. Zona Eleitoral do Estado do xxx.

Não é toda irregularidade nas prestações de contas Ref. ao Processo n.º (número do processo da
que legitimam o ajuizamento desta representação, prestação de contas)
devem ser apontados ilícitos graves.
(COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO NÃO
A ação deve ser proposta até 15 dias após a COLIGADO OU PARTIDO COLIGADO
diplomação dos eleitos, sob pena de decadência, ISOLADAMENTE, SE DEPOIS DA
somente partidos e coligações podem ajuizar a medida ELEIÇÃO), (em caso de Coligação indicar
(outros candidatos não têm legitimidade ativa). os partidos integrantes), por meio de seu
Representante, XXXX, (qualificação),
Nas ações contra prefeitos ou vice-prefeitos, vem, por meio de seu Advogado, perante
ambos devem compor o polo passivo da ação (são Vossa Excelência, com fundamento
litisconsortes passivos necessários), pois a negativa ou no 30-A51, da Lei Federal n.º 9.504/97,
cassação dos diplomas, em caso de procedência da ação, 51 “Art. 30-A. Qualquer partido político ou coligação poderá representar
à Justiça Eleitoral, no prazo de 15 (quinze) dias da diplomação, relatando fatos
prejudica os dois. e indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial para apurar
condutas em desacordo com as normas desta Lei, relativas à arrecadação e
gastos de recursos.
MODELO DE § 1o Na apuração de que trata este artigo, aplicar-se-á o procedimento pre-
visto no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990, no que
PETIÇÃO couber.
§ 2o Comprovados captação ou gastos ilícitos de recursos, para fins eleitorais,
será negado diploma ao candidato, ou cassado, se já houver sido outorgado.

73
propor a presente REPRESENTAÇÃO No caso em apreço, a diplomação dos eleitos
POR ARRECADAÇÃO E GASTO no Município de xxx ocorreu em xxx. O
ILÍCITO DE CAMPANHA em desfavor prazo final para ajuizamento, portanto, cairia
de (CANDIDATOS BENEFICIADOS), em xxx.
já qualificado nos autos dos respectivos
registros de candidatura que tramitaram No entanto, nos termos do art. 62, I, da
perante este Juízo (no caso dos candidatos; LF n.º 5.010/66, de 20 de dezembro a 6 de
no caso dos autores do fato precisa qualificar), janeiro, houve o recesso de toda a Justiça
em virtude dos fatos e fundamentos jurídicos Federal, inclusive a Eleitoral, de sorte que o
adiante arrazoados. prazo para ajuizamento desta foi prorrogado
para xxx, primeiro dia útil subsequente,
I – TEMPESTIVIDADE DA sendo tempestiva, portanto, a presente
REPRESENTAÇÃO. Representação.

Como dispõe o art. 30-A da Lei Federal n.º II – FATOS.


9.504/97, o prazo decadencial de ajuizamento
da Ação por Captação ou Gasto Ilícito de Os Representados disputaram o pleito
Campanha Eleitoral é de quinze dias após a municipal majoritário de xxx – xxx, em 20xx,
diplomação dos eleitos. por meio da Coligação XXX, integrada pelos
§ 3o O prazo de recurso contra decisões proferidas em representações pro- partidos xxx.
postas com base neste artigo será de 3 (três) dias, a contar da data da publica- Ocorre que, os Representados praticaram
ção do julgamento no Diário Oficial.” (Grifos acrescidos).
condutas em desacordo com a legislação

74
eleitoral, na medida em que administraram 9.504/97 não se configura apenas quando há
de forma fraudulenta os recursos eleitorais captação de recursos de fontes vedadas, mas
de sua campanha, praticando “caixa 2”, por também quando os recursos são obtidos ou
meio da captação de recursos e realização de gastos sem observância da forma instituída
despesas não contabilizadas. pela legislação:
No caso em apreço, os Representados
violaram as disposições dos arts. xxx da “O termo captaçãoilícita remete tanto à fonte
Resolução do TSE n.º (número das resolução quanto à forma de obtenção de recursos.
da prestação de contas do ano eleitoral), que Assim, abrange não só o recebimento
de recursos de fontes ilícitas e vedadas
assim dispõem: (vite art. 24 da LE), como também sua
(detalhamento dos fatos). obtenção de modo ilícito, embora aqui
a fonte seja legal. Exemplo desse último
III – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA. caso são os recursos obtidos à margem do
sistema legal de controle, que compõem
Como assevera José Jairo Gomes52, a afronta o que se tem denominado ‘caixa dois’ de
ao art. 30-A, caput e §2º53, da Lei Federal n.º campanha.”54 (Grifos Acrescidos).

52 José Jairo Gomes, Direito Eleitoral, 8ª ed. São Paulo: Editora Atlas
S.A., 2012, p. 509.
O processo de prestação de contas,
53 “Art. 30-A. Qualquer partido político ou coligação poderá representar § 2o Comprovados captação ou gastos ilícitos de recursos, para fins eleitorais,
à Justiça Eleitoral, no prazo de 15 (quinze) dias da diplomação, relatando fatos será negado diploma ao candidato, ou cassado, se já houver sido outorgado.
e indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial para apurar (...).”
condutas em desacordo com as normas desta Lei, relativas à arrecadação e
gastos de recursos. 54 José Jairo Gomes, Direito Eleitoral, 8ª ed. São Paulo: Editora Atlas
(...) S.A., 2012, p. 509.

75
nas eleições, não se afigura como mero “O bem jurídico protegido é a lisura
procedimento formal e sem relevância para a da campanha eleitoral. Arbor ex fructu
disputa política e para a Democracia55. Pelo cognoscitur, pelo fruto se conhece a
árvore. Se a campanha é alimentada com
contrário, tem importância fundamental para
recursos de fontes proibidas ou obtidos
assegurar a transparência, a publicidade e a de modo ilícito ou, ainda, realiza gastos
igualdade no pleito, como também assevera não tolerados, ela mesma acaba por
José Jairo Gomes: contaminar-se, tornando-se ilícita. De
campanha ilícita jamais poderá nascer
55 “É direito impostergável dos integrantes da comunhão política saber mandato legítimo, pois árvore malsã não
quem financiou a campanha de seus mandatários e de que maneira esse
financiamento se deu. Nessa seara, impõe-se a transparência absoluta. Sem produz senão frutos doentios.
isso, não é possível o exercício pleno da cidadania, já que se subtrairiam do
cidadão informações essenciais para a formação de sua consciência político- Também é tutelada a igualdade que deve
moral, relevantes sobretudo para que ele aprecie a estrutura ético-moral imperar no certame. A afronta a esse
de seus representantes e até mesmo para exercer o sacrossanto direito de
sufrágio. principio fica evidente, por exemplo,
quando se compara uma campanha em
Deveras, sem a prestação de contas, impossível seria averiguar a correção na que houve emprego de dinheiro oriundo
arrecadação e nos gastos de valores pecuniários durante a corrida eleitoral. de ‘caixa dois’ ou de fonte proibida e
Não se poderia saber, e.g., se o partido ou candidato recebeu recursos de
fontes vedadas (LE, art. 24), se patrocinou ações condenadas ou se cometeu outra que se putou pela observância da
abuso de poder econômico. É claro que ninguém em sã consciência declarará legislação. Em virtude do ilícito aporte
o uso de recursos emanados de fontes vedadas ou exporá o uso abusivo de pecuniário, a primeira contou com mais
recursos, mas sendo a prestação de contas o instrumento contábil oficial em recursos, oportunidade e instrumentos
que receitas e despesas devem ser lançadas, permite que se faça o contraste
entre o declarado e a realidade da campanha.” (José Jairo Gomes, Direito não cogitados na outra.”56
Eleitoral, 8ª ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2012, p. 307-308.) Grifos 56 José Jairo Gomes, Direito Eleitoral, 8ª ed. São Paulo: Editora Atlas
Acrescidos. S.A., 2012, p. 510.

76
Por isso, exigência de o candidato prestar como se pode verificar por meio dos seguintes
contas de forma fidedigna e transparente precedentes:
justifica-se na medida em que, enquanto
mandatário do povo, o diplomado irá “(...)
gerir o erário público57, e deverá proteger, 6. Na hipótese de irregularidades relativas
à arrecadação e gastos de recursos de
enfaticamente, referidos valores. campanha, aplica-se a sanção de negativa
de outorga do diploma ou a cassação,
O Tribunal Superior Eleitoral confere quando já houver sido outorgado, nos
aplicabilidade ao referido dispositivo legal, termos do § 2º do art. 30-A. No caso, o
recorrente não contestou, tornando
57 “Saliente-se que a omissão – total ou parcial – de dados na prestação fato incontroverso, a imputação de
de contas denota desinteresse do candidato em submeter-se ao controle
que ocultou o recebimento de doações
jurídico-contábil, em revelar a origem e o destino exatos dado aos valores
arrecadados e empregados na campanha. A falta de transparência faz brotar estimáveis em dinheiro e não emitiu
a presunção de que a campanha se desenvolveu por caminhos escusos, recibo eleitoral, nos termos do parecer
inconfessáveis, incompatíveis com os princípios que informa o Estado conclusivo da Coordenadoria de Controle
Democrático de Direito; induz a crença de que os autos de prestação de
Interno do Tribunal Regional Eleitoral
contas não passam de peça ficcional, longe, pois, de espelhar a realidade.
do Pará (fl. 109), contrariando o art. 23, §
Nesse diapasão, não se pode olvidar que o art. 350 do Código Eleitoral prevê o 2º, da Lei nº 9.504/97.
crime de falsidade ideológica, como tal considerando a conduta de ‘omitir em
documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele
7. Não havendo, necessariamente, nexo de
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que deveria ser escrita,
para fins eleitorais’. Frise-se que o ilícito perfaz-se tanto com a ‘omissão’ de causalidade entre a prestação de contas de
dados quanto com a ‘inserção de declaração falsa ou diversa da que devia ser campanha (ou os erros dela decorrentes)
escrita’.” (José Jairo Gomes, Direito Eleitoral, 8ª ed. São Paulo: Editora Atlas e a legitimidade do pleito, exigir prova
S.A., 2012, p.314-315.) Grifos Acrescidos.

77
de potencialidade seria tornar inócua a de bens móveis que justificassem a
previsão contida no art. 30-A, limitado-o utilização desse material. Ou seja, recebeu
a mais uma hipótese de abuso de poder. O consideráveis doações estimáveis em
bem jurídico tutelado pela norma revela dinheiro e não emitiu recibo eleitoral).
que o que está em jogo é o princípio Não é, pois, desmesurada a incidência da
constitucional da moralidade (CF, art. sanção.
14, § 9º). Para incidência do art. 30-A da (...).”58 (Grifou-se).
Lei nº 9.504/97, é necessário prova da
proporcionalidade (relevância jurídica) *****
do ilícito praticado pelo candidato em vez
da potencialidade do dano em relação ao “(...)
pleito eleitoral (Precedente: RO nº 1.540/ 3.1 DEMONSTRAÇÃO DA ORIGEM
PA, de minha relatoria, DJE de 1º.6.2009). DOS RECURSOS DA CAMPANHA
Nestes termos, a sanção de negativa de ELEITORAL. EXIGÊNCIA LEGAL. A
outorga do diploma ou de sua cassação (§ Lei das Eleições estabelece regras muito
2º do art. 30-A) deve ser proporcional à rígidas a serem observadas quanto à
gravidade da conduta e à lesão perpetrada arrecadação e aos gastos de campanha
ao bem jurídico protegido. No caso, a (art. 17 e seguintes), veda o recebimento
irregularidade teve grande repercussão de recursos de determinadas fontes (art.
no contexto da campanha em si (embora 24) e estabelece que todos os recursos
o candidato tenha gasto quase 85% dos sejam movimentados em conta bancária
recursos arrecadados com combustíveis específica (art. 22).
e lubrificantes, não relacionou na
prestação de contas despesas de locação 58 RO n.º 1453/PA, Relator: Ministro Felix Fischer, Plenário, Publicação:
DJE, em 5-04-10.

78
3.2. DEVER DE PRESTAR CONTAS. COMPROVAÇÃO. Condutas tendentes
PREVISÃO CONSTITUCIONAL E a permitir aos doadores de campanha
LEGAL. O princípio da prestação de optar entre a doação para conta
contas decorre da Constituição Federal, regularmente aberta e controlada pela
e a Lei no 9.504/97, a partir do seu art. Justiça Eleitoral e para outras contas
28, fixa regras para a prestação de contas não oficiais atraem a incidência das
dos recursos utilizados nas campanhas disposições do art. 30-A, da Lei no
eleitorais. 9.504/97, por configurar a existência
do chamado “caixa 2”.
3.3. ADMINISTRAÇÃO ILEGAL
DOS RECURSOS DA CAMPANHA 3.5. RESPONSABILIDADE DO
ELEITORAL. CARACTERIZAÇÃO. CANDIDATO. PREVISÃO LEGAL. O
Condutas que violam o art. 14, § 9o, legislador atribuiu responsabilidade
da Constituição Federal, art. 237 do solidária pela prestação de contas ao
Código Eleitoral e as disposições da Lei candidato e ao administrador financeiro
das Eleições referentes à arrecadação, à de sua campanha (art. 21 da Lei nº
utilização, ao controle e à prestação de 9.504/97).
contas configuram administração ilegal
dos recursos financeiros de campanha 3.6. PROVA DA CONTRIBUIÇÃO
eleitoral. DA CONDUTA REPROVADA PARA
O RESULTADO DAS ELEIÇÕES.
3.4. CONDUTAS EM DESACORDO DESNECESSIDADE. “O nexo de
COM A LEI DAS ELEIÇÕES. causalidade quanto à influência das
CARACTERIZAÇÃO. “CAIXA 2”. condutas no pleito eleitoral é tão-

79
somente indiciário; não é necessário e do recebimento dos recibos
demonstrar que os atos praticados eleitorais, bem como estar comprovada
foram determinantes do resultado da a proporcionalidade (relevância jurídica)
competição; basta ressair dos autos dos ilícitos praticados pelo candidato
a probabilidade de que os fatos se para fins de cassação do mandato com
revestiram de desproporcionalidade de fundamento no art. 30-A da Lei das
meios” (Acórdão nº 28.387, de 19.12.2007, Eleições.
rel. min. Carlos Ayres Britto). (...)” 60 (Grifou-se).
(...).” 59 (Grifos Acrescidos).
Importante destacar, ainda, que a via judicial
***** adequada para discutir a existência de “caixa
dois” em campanha eleitoral não é o processo
“Investigação judicial eleitoral.
Arrecadação e gasto ilícito de recursos
de prestação de contas, mas sim a ação judicial
financeiros de campanha eleitoral. Abuso prevista pelo art. 30-A da Lei Federal n.º
de poder. 9.504/97, conforme entendimento expresso,
recentemente, pelo TRE-RN:
1. A Corte de origem entendeu que
houve captação e destinação ilícita “RECURSO ELEITORAL - PRESTAÇÃO
de recursos de campanha, apontando DE CONTAS - DE CANDIDATO -
várias irregularidades, entre elas, CARGO - PREFEITO - VICE-PREFEITO
a arrecadação de recursos antes da - APROVAÇÃO - AUSÊNCIA DE
abertura de conta bancária específica CONTABILIZAÇÃO DE GASTOS COM
59 RO n.º 1596/MG, Relator: Ministro Joaquim Benedito Barbosa Go- 60 AgR-AI n.º 11991/MG, Relator: Ministro Arnaldo Versiani Leite Soa-
mes, Plenário, Publicação: DJE, em 16-03-09. res, Plenário, Publicação: DJE, em 22-3-11.

80
DESLOCAMENTO DE HELICÓPTERO argumentar sobre a incidência dessas normas
-- NÃO COMPROVAÇÃO - OMISSÃO ao caso concreto).
DE DESPESAS - SERVIÇOS Portanto, diante da ilicitude grave e evidente
ADVOCATÍCIOS - DOCUMENTOS
praticada pelos Investigados, cumpre declarar
JUNTADOS COM CONTRARRAZÕES
- IRREGULARIDADE SUSCITADA a violação do art. 30-A da Lei Federal n.º
APENAS EM SEDE RECURSAL - 9.504/97 e normas de regência da prestação de
PRECLUSÃO AFASTADA - VÍCIO contas eleitoral acima invocadas, aplicando-
SANADO - ALEGAÇÃO DE CAIXA se as respectivas sanções.
2 - INADEQUAÇÃO DA VIA -
APROVAÇÃO DAS CONTAS - IV – PEDIDOS.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA -
DESPROVIMENTO DO RECURSO.
(...)
Em face do exposto, a Representante postula
O processo de prestação de contas a Vossa Excelência:
não é meio adequado para se apurar a) a citação dos Representantes para,
a caracterização de ‘caixa 2’, sendo a querendo, contestarem a presente Ação de
representação fundada no art. 30-A Investigação Judicial Eleitoral;
da Lei das Eleições o instrumento
processual destinado a tal fim. (...)61” b) a produção de todas as provas em
(Grifos acrescidos).
Direito admitido, inclusive com a realização
de audiência de instrução para ouvir as
No caso dos autos (relacionar com os fatos e
61 Recurso Eleitoral n.º 38.386, Relator: Carlo Virgílio Fernandes de Pai-
testemunhas arroladas adiante (indicar
va, Pleno, Publicação: DJE, em 18-10-13. outras provas, sob pena de preclusão);

81
c) no mérito, a condenação dos Representados
para impor as sanções do art. 30-A da Lei
Federal n.º 9.504/97
.
Termos em que
Pede Deferimento.
Cidade – XX, XX de xxx de 201x.
XXXXXX
OAB/XX XXX

ROL DE TESTEMUNHAS.
a) ;

82
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL

A AIJE é a principal medida judicial eleitoral Tal ação deve ser proposta até a data da diplomação
relativa à cassação de registros e diplomas de candidatos. dos eleitos.
É prevista pelo art. 22 da LCF n.º 64/90 e visa combater
o “uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder Sobre a legitimidade passiva, veja acima o
de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de precedente do TSE que transcrevemos quando falamos
comunicação social”. sobre a representação por conduta vedada.

Diferentemente da captação ilícita de sufrágio,


tais abusos podem ocorrer antes mesmo do início
da campanha eleitoral, ou seja, atos praticados por MODELO DE
candidatos ou em seu benefício que ocorram antes do PETIÇÃO
registro de candidatura podem gerar responsabilização
por meio de AIJE.

O efeito da condenação é a perda do registro ou Excelentíssimo Senhor Juiz Eleitoral da xx


do diploma dos candidatos beneficiados pelos abusos, Zona Eleitoral do Estado do xxx.
assim como declaração de inelegibilidade desses e dos
autores dos fatos. (COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO NÃO
COLIGADO, PARTIDO COLIGADO

83
DE FORMA ISOLADA SE DEPOIS DA 64, de 18 de maio de 199063, propor AÇÃO DE
ELEIÇÃO OU CANDIDATO), (em caso de INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL
Coligação indicar os partidos integrantes), em desfavor de (CANDIDATOS
por meio de seu Representante (em caso de BENEFICIADO E AUTORES DO FATO),
Coligação ou partido), XXXX, (qualificação), já qualificado nos autos dos respectivos
vem, por meio de seu Advogado, perante registros de candidatura que tramitaram
Vossa Excelência, com fundamento no art. perante este Juízo (no caso dos candidatos;
22, XIV62, da Lei Complementar Federal n.º no caso dos autores do fato precisa qualificar),
62 “Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério
em virtude dos fatos e fundamentos jurídicos
Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao adiante arrazoados.
Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios
e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso
indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou I – FATOS.
utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício
de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito:
(...) Xxx e XXx, Primeiro e Segundo Réus,
XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação (disputam ou disputaram) a eleição de xxx,
dos eleitos, o Tribunal declarará a inelegibilidade do representado e de
quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-lhes sanção de
de Cidadde, sob a indicação da Coligação
inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes “xxx”, integrada pelo Partido xxxx
à eleição em que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do
candidato diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico ou
pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicação, Tais Réus chegaram a obter mais votos que
determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para seus concorrentes no referido pleito, todavia,
instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal, ordenando
quaisquer outras providências que a espécie comportar; 63 “Estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da Constituição Federal,
(...)”. casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras providências.

84
essa eleição foi pautada no abuso do DA LEI COMPLEMENTAR FEDERAL
poder econômico e político, em condutas N.º 64/90.
extremamente graves que tinham o intuito
de desequilibrar a disputa, em violação ao Os fatos acima indicados configuram abuso
art. 22, XVI64, da Lei Complementar Federal de poder econômico, tipificado pelo art.
n.º 64/90, sobretudo em decorrência das 22, caput, da Lei Complementar Federal nº
seguintes circunstâncias. 64/90, pois comprometeram a integridade
(descrição dos fatos). do processo eleitoral em questão, cuja tutela
pode ser pleiteada via ação de investigação
II – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA. judicial eleitoral, como a presente. José Jairo
ABUSO DE PODER ECONÔMICO Gomes65, ao tratar do assunto, assevera que:
PRATICADO PELOS RÉUS. CAUSA DE
INCIDÊNCIA DO ART. 22, XIV E XVI, “(...) a natureza, a forma, a finalidade e
a extensão do ‘abuso’ cometido podem
64 “Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Minis- render ensejo a diferentes respostas
tério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao sancionatórias do ordenamento positivo.
Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios
e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso in- No presente contexto [das ações de
devido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou investigação judicial eleitoral], acarreta a
utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício inelegibilidade do agente ou beneficiário,
de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito: bem como a cassação do seu registro
(…)
XVI – para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencia- ou diploma. É que a ofensa malfere o
lidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravidade das processo eleitoral, no todo ou em parte,
circunstâncias que o caracterizam.
(…).” 65 Direito eleitoral, 8 ed., São Paulo: Atlas, 2012, p. 469.

85
dela resultando o comprometimento obtidos ilicitamente, nesses casos, dispensam,
de sua normalidade ou legitimidade. inclusive, suas atuações diretas ou anuência
Aqui, o bem jurídico protegido é a quanto à prática dos atos abusivos, bastando
higidez das eleições. Nesse sentido reza
a demonstração do favorecimento indevido,
o parágrafo único do artigo 19 da LC
64/90 que a apuração e a punição conforme se extrai do referido dispositivo
legal e da jurisprudência do TSE, in verbis:
‘terão o objetivo de proteger a
normalidade e legitimidade das eleições “Agravo regimental. Agravo de
contra a influência do poder econômico instrumento. Ação de investigação
ou do abuso do exercício da função, judicial eleitoral.
cargo ou emprego na administração
direta, indireta e fundacional da União, 1. Nos termos do art. 22, XIV, da LC n°
dos Estados, do Distrito Federal e dos 64/90, a condenação do candidato pela
Municípios’”. prática de abuso de poder prescinde da
demonstração de sua responsabilidade
O abuso do poder econômico e político ou ou anuência em relação à conduta
o uso indevido dos meios de comunicação abusiva, sendo suficiente a comprovação
de que ele tenha auferido benefícios em
social torna viciada a eleição e reclama as
razão da prática do ilícito. Precedentes.
sanções do art. 22, XIV, da Lei Complementa
(...)66”
Federal n.º 64/90. 66 Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n.º 31.540, Relator:
Ministro Henrique Neves da Silva, Publicação: DJE, em 24/9/2014. No mesmo
A sanção dos candidatos com as penas da sentido: “é possível a cassação do diploma do candidato que é meramente be-
neficiado por atos de abuso de poder. Precedentes” (REspe n° 1-14, Relatora:
inelegibilidade e a cassação dos mandatos Ministra Nancy Andrighi, Publicação: DJE, em 6/6/2012); e “eventuais abusos

86
(correlacionar o fundamento com os fatos). Federal n.º 64/90.
(argumentação complementar) Cidade -
XX é um município com xxx eleitores. Se Portanto, diante de tudo o já provado e
esse universo for reduzido para a diferença pelo que ainda será coletado na instrução
de votos das Partes no pleito, é inequívoca do Feito, impõe-se a condenação dos Réus
a constatação de que tal fato comprometeu nas penas previstas pelo art. 22, XIV, da Lei
a normalidade e legitimidade do processo Complementar Federal n.º 64/90.
eleitoral em virtude da influência do poder
econômico na desequilibrando a eleição, II – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA.
em desacordo com o previsto pelo art. 19, ABUSO DE PODER POLÍTICO
Parágrafo Único67, da Lei Complementar PRATICADO PELOS RÉUS. CAUSA DE
por veículos de comunicação podem ensejar a configuração dos ilícitos pre- INCIDÊNCIA DO ART. 22, XIV E XVI,
vistos no art. 22 da Lei Complementar n° 64190, a atingir, eventualmente, o DA LEI COMPLEMENTAR FEDERAL
próprio candidato, dada sua condição de beneficiário da conduta” (AgR-REs-
pe n.° 120-61, Relator: Ministro Henrique Neves da Silva, Publicação: DJE, em
N.º 64/90.
17/10/2013).
67 “Art. 19. As transgressões pertinentes à origem de valores pecuniários, José Jairo Gomes68 doutrina sobre o abuso de
abuso do poder econômico ou político, em detrimento da liberdade de voto,
serão apuradas mediante investigações jurisdicionais realizadas pelo Correge- poder político, nos seguintes termos:
dor-Geral e Corregedores Regionais Eleitorais.
Parágrafo único. A apuração e a punição das transgressões mencionadas no
“É intuitivo que a máquina administrativa
caput deste artigo terão o objetivo de proteger a normalidade e legitimidade
das eleições contra a influência do poder econômico ou do abuso do exercício não possa ser colocada a serviço de
de função, cargo ou emprego na administração direta, indireta e fundacional candidaturas no processo eleitoral, já que
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.” (Grifos acresci-
dos). 68 Direito eleitoral, 8 ed., São Paulo: Atlas, 2012, p. 224-225.

87
isso desvirtuaria completamente a ação a serviço de um fim pessoal, ora são
estatal, além de desequilibrar o pleito oportunísticas transferências de recursos
– ferindo de morte a isonomia que deve de um a outros entes federados.
imperar entre os candidatos – e fustigar (...)
o princípio republicano, que repudia Segundo assentou o TSE: (i) o abuso
tratamento privilegiado a pessoas ou de poder político, é ‘condenável por
classes sociais. afetar a legitimidade e normalidade dos
pleitos e, também, por violar o princípio
No Brasil, é público e notório que agentes da isonomia entre os concorrentes,
públicos se valem de suas posições para amplamento assegurado na Constituição
beneficiar candidaturas. Desde sua da República” (TSE - ARO nº 718/DF – DJ
fundação, sempre houve intenso uso 17-6-2005); (ii) Caracteriza-se o abuso de
da máquina administrativa estatal: ora poder quando demonstrato que o ato da
são as incessantes (e por vezes inúteis) Administração, aparentemente regular e
propagandas institucionais (cujo real benéfico à população, teve como objetivo
sentido é, quase sempre, promover imediato o favorecimento de algum
o agente político), ora são as obras candidato’ (TSE – Respe nº 25.074/RS –
públicas sempre intensificadas em anos DJ 28.10.2005)”. (Grifos acrescidos).
eleitorais e suas monótonas cerimônias
de inauguração, ora são os acordos e A jurisprudência do TSE define a
as trocas de favores impublicáveis, fenomenologia desse instituto desta forma:
mas sempre envolvendo o apoio
da Administração Pública, ora é o “(...) 3. O abuso do poder político ocorre
aparelhamento do Estado desviado quando agentes públicos se valem da
de sua finalidade precípua e posto

88
condição funcional para beneficiar esse apoio viola o art. 19, Parágrafo Único, da
candidaturas (desvio de finalidade), Lei Complementar Federal n.º 64/90, e impõe
violando a normalidade e a legitimidade a aplicação das sanções do art. 22, XIV, desse
das eleições (Rel. Min. Luiz Carlos
Diploma Legal.
Madeira, ARO 718/DF, DJ 17.6.2005;
Rel. Min. Humberto Gomes de Barros,
REspe 25.074/RS, DJ 28.10.2005). Deve III – PEDIDOS.
ser rechaçada, na espécie, a tese de que,
para a configuração do abuso de poder Em face do exposto, os Autores postulam a
político, seria necessária a menção à Vossa Excelência:
campanha ou mesmo pedido de apoio
a candidato, mesmo porque o fato de a) a citação dos Réus para, querendo,
a conduta ter sido enquadrada pelo e.
Tribunal a quo como conduta vedada
contestarem a presente Ação de Investigação
evidencia, por si só, seu caráter eleitoral Judicial Eleitoral;
subjacente.
(...)69”. b) a produção de todas as provas em
Direito admitido, inclusive com a realização
No caso dos autos, (correlação da de audiência de instrução para ouvir as
fundamentação com os fatos). testemunhas arroladas adiante (indicar
(...) outras provas, sob pena de preclusão);
Portanto, o abuso cometido para conseguir
69 Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n.º 12.028, Relator: Mi-
d) no mérito, a procedência da pretensão
nistro Aldir Guimarães Passarinho Júnior, Publicação: DJE, em 17/05/2010. desta Ação, com a cassação do mandato dos

89
Primeiro e Segundo Réus e declaração de
inelegibilidade de todos os Réus, nos termos
do art. 22, XIV, da Lei Complementar n.º
64/90.

Termos em que
Pede Deferimento.
Cidade – XX, XX de xxx de 201x.
XXXXXX
OAB/XX XXX

ROL DE TESTEMUNHAS.
a) ;

90
AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO

A AIME, junto com a representação por captação e AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO


gasto ilícito de campanha e o recurso contra expedição DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO
de diploma, é uma das ações que pode ser proposta após ELETIVO. INADEQUAÇÃO DA VIA
a diplomação. Até 15 dias depois da diplomação. ELEITA. PESQUISA ELEITORAL. NÃO
REGISTRADA. CONDUTA VEDADA.
Antes da edição da Lei da Ficha Limpa (LCF n.º ABUSO DO PODER POLÍTICO. AUSÊNCIA
135/2010), se a AIJE não fosse julgada até a eleição, havia DO VIÉS ECONÔMICO. REEXAME DO
a necessidade de ajuizar-se AIME para poder cassar os CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
diplomas dos eleitos70. Tal lei, contudo, acabou com SEDE DE RECURSO ESPECIAL.
essa burocracia processual. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 24 DO
TSE. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO.
A AIME visa combater o abuso do poder PROVAS INÁBEIS PARA COMPROVAR
econômico, a corrupção ou a fraude no processo A PRÁTICA DO ILÍCITO. NECESSIDADE
eleitoral. Não obstante, como evidenciam os seguintes DE ROBUSTEZ PROBATÓRIA. AGRAVO
precedentes do TSE, é possível que constitua causa de DESPROVIDO.
pedir o abuso de poder político, desde que associado ao
abuso de poder econômico: 1. A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo
é ação de natureza constitucional, prevista
“ELEIÇÕES 2016. AGRAVO INTERNO NO no art. 14, §§ 10 e 11, da Constituição Federal,
70 A LCF n.º 135/2010 revogou o art. 22, XV, da LCF n.º 64/90.

91
cujas causas de pedir cingem-se às hipóteses os fatos consubstanciaram tão somente
de abuso do poder econômico, corrupção ou abuso do poder político, de modo que a
fraude, e tem por finalidade a cassação do modificação desse entendimento demandaria
diploma ilegitimamente obtido por algum o reexame do conjunto fático-probatório dos
desses vícios. autos, inviável em sede especial, por força do
enunciado de Súmula nº 24 do TSE.
2. A discussão acerca da divulgação de (...)”71
pesquisa eleitoral não registrada, porque
dissociada das hipóteses constitucionais de Também é possível alegar a captação ilícita de
cabimento, não pode ser versada em Ação de sufrágio, desde que “demonstrada a capacidade da
Impugnação ao Mandato Eletivo. conduta de afetar a legitimidade e normalidade das
eleições”72.
3. A jurisprudência desta Corte Superior
admite que se analise alegado abuso de A sanção é de cassação do diploma, e,
poder político em sede de AIME, desde que 71 TSE, AI - Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 1396
entrelaçado com abuso de poder econômico, - NAZÁRIA – PI, Acórdão de 24/09/2019, Relator(a) Min. Edson Fachin,
Publicação:DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 213, Data 05/11/2019,
ou outro fundamento jurídico-constitucional Página 17.
previsto no art. 14, § 10, da Constituição 72 Sobre o assunto: “A jurisprudência desta Corte admite o exame, em
AIME, da prática de captação ilícita de sufrágio, sob a ótica de corrupção, des-
Federal, o que não se verificou na hipótese de que demonstrada a capacidade da conduta de afetar a legitimidade e nor-
vertente. malidade das eleições. Precedentes.” (TSE, RESPE - Recurso Especial Eleitoral
nº 167 - NOVA PORTEIRINHA – MG, Acórdão de 26/06/2019, Relator(a)
Min. Luís Roberto Barroso, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico,
4. No caso, o acórdão regional assentou que Tomo 175, Data 10/09/2019, Página 14-15.)

92
indiretamente, a inelegibilidade do art. 1.º, I, j, da LC n.º Excelência, com fundamento no art. 14, §1073
64/90. , da Constituição Federal, propor AÇÃO
DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO
Não há necessidade de formação de litisconsórcio ELETIVO em desfavor de (CANDIDATOS
passivo com os autores dos atos configuradores do BENEFICIADO E AUTORES DO FATO),
abuso do poder econômico, da corrupção ou da fraude. já qualificado nos autos dos respectivos
registros de candidatura que tramitaram
perante este Juízo (no caso dos candidatos;
no caso dos autores do fato precisa qualificar),
MODELO DE em virtude dos fatos e fundamentos jurídicos
PETIÇÃO adiante arrazoados.

I – TEMPESTIVIDADE DA AIME.
Excelentíssimo Senhor Juiz Eleitoral da xx
Zona Eleitoral do Estado do xxx. O prazo decadencial de ajuizamento de Ação
de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) é
(COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO OU de quinze dias após a diplomação dos eleitos.
CANDIDATO), (em caso de Coligação No caso em apreço, a diplomação dos eleitos
indicar os partidos integrantes), por meio 73 “Art. 14 (...)
de seu Representante (em caso de Coligação § 10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no
ou partido), XXXX, (qualificação), vem, prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de
abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
por meio de seu Advogado, perante Vossa (...).”

93
no Município de xxx ocorreu em xxx. O em condutas extremamente graves que
prazo final para ajuizamento, portanto, cairia tinham o intuito de desequilibrar a disputa,
em xxx. em violação ao art. 14, §10, da CF, sobretudo
em decorrência das seguintes circunstâncias.
No entanto, nos termos do art. 62, I, da LF n.º (descrição dos fatos).
5.010/66, de 20 de dezembro a 6 de janeiro,
houve o recesso de toda a Justiça Federal, III – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA.
inclusive a Eleitoral, de sorte que o prazo
para ajuizamento desta foi prorrogado para O Tribunal Superior Eleitoral, ao analisar
xxx, primeiro dia útil subsequente, sendo caso semelhante ao presente, já consignou:
tempestiva, portanto, a presente Ação.
“AGRAVO REGIMENTAL.
II – FATOS. RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÕES
2016. REPRESENTAÇÃO. ABUSO DE
PODER POLÍTICO E ECONÔMICO.
Xxx e XXx, Primeiro e Segundo Réus, CONDUTA VEDADA. CAPTAÇÃO
(disputam ou disputaram) a eleição de xxx, ÍLICITA DE SUFRÁGIO. CORRUPÇÃO
de Cidade, sob a indicação da Coligação ELEITORAL. TRANSPORTE E
“xxx”, integrada pelo Partido xxxx DISTRIBUIÇÃO DE MACADAME.
Tais Réus chegaram a obter mais votos que PROGRAMA SOCIAL AUTORIZADO
seus concorrentes no referido pleito, todavia, EM LEI. EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA
essa eleição foi pautada no abuso do poder NO ANO ANTERIOR AO PLEITO.
AUSÊNCIA. GRAVIDADE
econômico, pela corrupção e pela fraude,

94
DEMONSTRADA. CONDUTA prática de conduta abusiva pelos
ABUSIVA CONFIGURADA. INTUITO agravantes; (ii) não comprovação do
DE OBTER O VOTO. CORRUPÇÃO dissídio jurisprudencial; (iii) ausência de
ELEITORAL. REVOLVIMENTO DE prequestionamento de temas arguidos;
FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. e (iv) impossibilidade de modificar as
conclusões do acórdão recorrido quanto
Histórico da demanda à corrupção eleitoral sem incorrer no
vedado reexame do acervo probatório
1. Contra acórdão do TRE/SC pelo dos autos.
qual, por maioria, afastada a multa e a Do agravo regimental
declaração de inelegibilidade, mantida
a cassação dos seus mandatos por 1. A teor da jurisprudência desta Corte
corrupção e abuso do poder político e Superior: “possível apurar, em Ação de
econômico, ante a distribuição gratuita Impugnação de Mandato Eletivo (AIME),
de macadame a diversos agricultores, abuso de poder político entrelaçado com
mediante programa social, interpôs abuso de poder econômico. Trata-se de
recurso especial Mario Fernando Reinke, hipótese em que agente público, mediante
e agravo de instrumento Armindo Sésar desvio de sua condição funcional,
Tassi, reeleitos, respectivamente, aos emprega recursos patrimoniais, privados
cargos de Prefeito e Vice-Prefeito do ou do Erário, de forma a comprometer a
Município de Massaranduba/SC, nas legitimidade das eleições e a paridade de
Eleições 2012. armas entre candidatos”. Precedente.

2. Negado seguimento aos recursos ao 2. À luz da moldura fática delineada na


fundamento de que: (i) demonstrada origem, houve a distribuição gratuita

95
de bens no ano eleitoral, por meio de autorização legislativa sobreveio apenas
programa social autorizado em lei, porém em dezembro de 2011, a obstar a sua
sem execução orçamentária no ano execução ao longo deste mesmo exercício
anterior, a contrariar o disposto no art. financeiro.
73, § 10, da Lei nº 9.504/1994, ressaltada,
ademais, a gravidade dos fatos para 5. Examinados os fatos também sob a
configuração da conduta abusiva. ótica da corrupção eleitoral, entendeu
o TRE/SC provadas a participação e a
3. Consignado pela Corte Regional que anuência dos então candidatos com a
“no ano anterior ao da eleição de 2012, ilicitude, bem como o intuito de cooptar
a Prefeitura de Massaranduba somente votos indevidamente. A modificação de
tinha autorização legal para custear o tais premissas só seria possível mediante
transporte de macadame, não podendo nova incursão na seara probatória dos
utilizar receita do orçamento para autos, providência vedada na estreita via
adquirir esse material com o intuito de do recurso especial (Súmula nº 24/TSE).
distribuí-lo gratuitamente a produtores Agravo regimental a que se nega
rurais para fins de incentivo”. Consignada, provimento.”74
também, a inobservância dos requisitos
instituídos em lei para concessão do (correlacionar o fundamento com os fatos).
benefício.
(argumentação complementar) Cidade -
4. Não se trata, portanto, de mera XX é um município com xxx eleitores. Se
ampliação de programa social já em 74 RESPE - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 3611
- MASSARANDUBA – SC, Acórdão de 24/05/2018, Relator(a) Min. Rosa
execução no anterior ao pleito de 2012, Weber, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 153, Data
mas da entrega de novo benefício, cuja 02/08/2018, Página 275/276.

96
esse universo for reduzido para a diferença Direito admitido, inclusive com a realização
de votos das Partes no pleito, é inequívoca de audiência de instrução para ouvir as
a constatação de que tal fato comprometeu testemunhas arroladas adiante (indicar
a normalidade e legitimidade do processo outras provas, sob pena de preclusão);
eleitoral em virtude da influência do poder
econômico no desequilíbrio da eleição. d) no mérito, a procedência da pretensão
Portanto, diante de tudo o já provado e pelo desta Ação, com a cassação dos mandatos
que ainda será coletado na instrução do Feito, dos Réus.
impõe-se a condenação dos Réus nas penas
previstas pelo art. 14, §10, da Constituição Termos em que
Federal. Pede Deferimento.
Cidade – XX, XX de xxx de 201x.
IV – PEDIDOS. XXXXXX
OAB/XX XXX
Em face do exposto, o Autor postula a Vossa
Excelência: ROL DE TESTEMUNHAS.

a) a citação dos Réus para, querendo, a) ;


contestarem a presente Ação de Impugnação
de Mandato Eletivo Eleitoral;

b) a produção de todas as provas em

97
RECURSO CONTRA A EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA

Embora seja chamado de recurso, o RCED tem eleitoral que foram ocorrendo – principalmente com a
natureza jurídica de ação, porém, ao contrário das LCF n.º 135/2010, que deu maior amplitude às AIJEs,
demais ações que tratamos anteriormente, ela deve ser como visto acima75 –, ela ficou restrita às situações
proposta diretamente perante o Tribunal. de inelegibilidade superveniente ou de natureza
constitucional, assim como pela falta de condição de
Inclusive, no julgamento da ADPF n.º 167, o STF elegibilidade.
ratificou que os RCEDs contra governadores, senadores
e deputados estaduais e federais devem ser propostos Inelegibilidade superveniente é aquela que surge
perante o TSE. após o registro de candidatura e antes da data da eleição.
Eis o entendimento do TSE:
O RCED é previsto pelo art. 262 do Código
Eleitoral, que prescreve: “DIREITO ELEITORAL. AGRAVO
INTERNO EM RECURSO ESPECIAL
“Art. 262. O recurso contra expedição ELEITORAL. ELEIÇÕES 2016. RCED.
de diploma caberá somente nos casos INELEGIBILIDADE SUPERVENIENTE.
de inelegibilidade superveniente ou de INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 47/TSE.
natureza constitucional e de falta de DESPROVIMENTO.
condição de elegibilidade.”
1. Agravo interno interposto contra
Essa medida judicial tinha várias hipóteses de decisão que deu provimento a
cabimento, porém, com as alterações da legislação 75 Conferir o que falamos no tópico sobre a AIME.

98
recurso especial eleitoral, julgando após a data do pleito de 2016. Portanto,
improcedente recurso contra expedição conforme entendimento desta Corte
de diploma fundado em inelegibilidade aplicável ao pleito de 2016, deve
infraconstitucional superveniente. ser julgado improcedente o pedido
formulado no RCED, uma vez que a
2. Nos termos da Súmula nº 47/TSE, decisão foi proferida após o termo final
“a inelegibilidade superveniente que para o surgimento da inelegibilidade
autoriza a interposição de recurso contra superveniente.
expedição de diploma, fundado no art. 5. Agravo interno a que se nega
262 do Código Eleitoral, é aquela de índole provimento.”76
constitucional ou, se infraconstitucional,
superveniente ao registro de candidatura, Se tal inelegibilidade existia antes do momento
e que surge até a data do pleito”. propicio para ajuizamento da AIRC, e não houve
impugnação oportuna, não é cabível o RCED, a menos
3. O TSE reafirmou o entendimento
da Súmula nº 47/TSE para as eleições
que seja uma inelegibilidade de natureza constitucional.
de 2016. Portanto, eventual revisão da Sobre o regime diferenciado da preclusão para
jurisprudência não deve operar efeitos inelegibilidade constitucional, decidiu o TSE:
no presente caso, em consideração aos
princípios da segurança jurídica, da “ELEIÇÕES 2016. RECURSO
proteção da confiança legítima e da ESPECIAL ELEITORAL EM
isonomia.
76 TSE, RESPE - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº
50850 - DUQUE DE CAXIAS – RJ, Acórdão de 23/05/2019, Relator(a) Min.
4. Na hipótese dos autos, a decisão Luís Roberto Barroso, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data
condenatória foi proferida em 13.12.2016, 28/06/2019.

99
RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE 443, I, e 374, III, ambos do Código de
DIPLOMA (RCED). CERCEAMENTO Processo Civil.
DE DEFESA. INEXISTÊNCIA.
INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS 2. Prejudicial de decadência da alegação
SOBRE FATOS PROVADOS E de inelegibilidade constitucional
INCONTROVERSOS. DECADÊNCIA preexistente apenas em sede de
DA ALEGAÇÃO DE INELEGIBILIDADE RCED. Inocorrência. Inelegibilidade
CONSTITUCIONAL PREEXISTENTE. constitucional não é afetada por
INOCORRÊNCIA. DENSIDADE preclusão, seja pela densidade normativa
NORMATIVA CONSTITUCIONAL. agregada, seja pela impossibilidade de
IMPOSSIBILIDADE DE convalidação de vício de tal natureza.
CONVALIDAÇÃO DE VÍCIO Segurança jurídica jurisprudencial
CONSTITUCIONAL. APLICAÇÃO referente ao pleito de 2016. Arts. 259 e
DA INELEGIBILIDADE 262 do Código Eleitoral.
CONSTITUCIONAL REFLEXA
AINDA QUE O MANDATÁRIO SEJA 3. Mérito. Aplicação da inelegibilidade
REELEGÍVEL. INOCORRÊNCIA DE constitucional reflexa ainda que o
AFASTAMENTO DO CARGO SEIS mandatário seja reelegível. O cunhado de
MESES ANTES DO PLEITO. prefeito é inelegível ao cargo de vereador,
na mesma circunscrição, salvo se o titular
1. Preliminar de nulidade por cerceamento se afastar do cargo 6 (seis) meses antes
de defesa. Inexistência. Possibilidade de o do pleito. Precedentes.
juiz indeferir a inquirição de testemunhas
sobre fatos que já foram provados por 4. Recurso especial eleitoral negado, com
documentos e são incontroversos. Arts. determinação de cumprimento deste

100
pronunciamento já com a publicação indicar os partidos integrantes), por meio
do acórdão, independentemente do de seu Representante (em caso de Coligação
julgamento de eventuais embargos de ou partido), XXXX, (qualificação), vem,
declaração.”77 (Grifos acrescidos).
por meio de seu Advogado, perante Vossa
Excelência, com fundamento no art. 26278,
do Código Eleitoral, interpor o presente
RECURSO CONTRA A EXPEDIÇÃO DE
MODELO DE DIPLOMA em desfavor de (CANDIDATO79
PETIÇÃO ), já qualificado nos autos do REGISTRO
DE CANDIDATURA n.º xxxx, diante da
publicação do Edital em xxx de xxx de xxx,
em virtude dos fatos e fundamentos jurídicos
Excelentíssimo Senhor Desembargador do
adiante arrazoados.
Egrégio Tribunal Regional Eleitoral do Estado
do xxx, a quem esta couber por distribuição
I – TEMPESTIVIDADE DO RCED.
legal.
O prazo decadencial de ajuizamento de
(COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO OU
Recurso Contra Expedição de Diploma
CANDIDATO), (em caso de Coligação
(RCED) é de três dias após a diplomação dos
77 RESPE - Recurso Especial Eleitoral nº 14242 - PRESIDENTE JUSCE- 78 “Art. 262. O recurso contra expedição de diploma caberá somente nos
LINO – MG, Acórdão de 07/05/2019, Relator(a) Min. Admar Gonzaga, Rela- casos de inelegibilidade superveniente ou de natureza constitucional e de falta
tor(a) designado(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho Neto, Publicação:DJE de condição de elegibilidade.”
- Diário de justiça eletrônico, Tomo 154, Data 12/08/2019, Página 14. 79 Se for do prefeito, incluir vice-prefeito no polo passivo.

101
eleitos. e a data da eleição, o Recorrido foi (dizer
causa da inelegibilidade), ficando inelegível
No caso em apreço, a diplomação dos eleitos de acordo com o disposto no art. 1º, xxx, da
no Município de xxx ocorreu em xxx. O Lei Complementar Federal nº 64/90.
prazo final para ajuizamento, portanto, cairia (descrição dos fatos).
em xxx.
III – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA.
No entanto, nos termos do art. 62, I, da LF n.º
5.010/66, de 20 de dezembro a 6 de janeiro, O art. 262 do Código Eleitoral prevê o
houve o recesso de toda a Justiça Federal, cabimento de RCED para fins de declaração
inclusive a Eleitoral, de sorte que o prazo de inelegibilidade superveniente.
para ajuizamento desta foi prorrogado para Com efeito, o Recorrido foi (explicar causa
xxx, primeiro dia útil subsequente, sendo de inelegibilidade e fundamentação legal).
tempestiva, portanto, a presente Ação. (relacionar os fatos com esses requisitos da
inelegibilidade).
II – FATOS.
IV – PEDIDOS.
O Recorrido disputou a eleição de xxx, por
meio da Coligação xxx, integradas pelos Em face do exposto, o Recorrente postula a
partidos xxxx, e foi diplomado para o Vossa Excelência:
respectivo cargo em xxx. a) a citação do Recorrido para, querendo,
Ocorre que, entre o registro de candidatura contrarrazoar o presente RCED;

102
b) a produção de todas as provas em
Direito admitido, inclusive com a realização
de audiência de instrução para ouvir as
testemunhas arroladas adiante (se cabível,
assim como de outras provas, sob pena de
preclusão);
c) no mérito, a procedência da pretensão
desta Ação, com a cassação do mandato do
Recorrido.
Termos em que
Pede Deferimento.

Cidade – XX, XX de xxx de 201x.


XXXXXX
OAB/XX XXX

ROL DE TESTEMUNHAS (se cabível).


a) ;

As tutelas de urgência também são admitidas

103
AÇÃO CAUTELAR

na esfera eleitoral, para as quais são observadas as


disposições da legislação específicas e, subsidiariamente,
as previstas pelo CPC. Em muitas situações, MODELO DE
especialmente para produção de provas antecipadas
(busca e apreensão ou exibição de documentos, por
PETIÇÃO
exemplo), ou para suspender determinados atos, é
Excelentíssimo Senhor Juiz Eleitoral da xx
necessário se socorrer a elas.
Zona Eleitoral do Estado do xxx.
Tais tutelas podem ser deferidas antecipadamente,
(COLIGAÇÃO XXX, PARTIDO NÃO
por meio de ações cautelares, ou incidentalmente, no
COLIGADO OU CANDIDATO), (em caso
seio das próprias ações principais, mediante pedidos
de Coligação indicar os partidos integrantes),
liminares.
por meio de seu Representante (em caso de
Coligação ou partido), XXXX, (qualificação),
A seguir trazemos um modelo para embasar os
vem, por meio de seu Advogado, perante
pedidos antecedentes.
Vossa Excelência, com fundamento art.
29480 do Código de Processo Civil (CPC),
80 “Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou
evidência.
Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, pode
ser concedida em caráter antecedente ou incidental.”

104
apresentar o presente pedido de TUTELA
CAUTELAR ANTECEDENTE em desfavor Como demonstram as fotos e vídeos em anexo
de (CANDIDATOS BENEFICIADO E (sugestão de provas indiciárias).
AUTORES DO FATO), já qualificado nos
autos dos respectivos registros de candidatura Assim sendo, é fundamental o cumprimento
que tramitaram perante este Juízo (no caso de medidas judiciais para obter provas desse
dos candidatos; no caso dos autores do fato grave ilícito eleitoral contra a democracia
precisa qualificar), em virtude dos fatos e cometido em benefício da candidatura dos
fundamentos jurídicos adiante arrazoados. Réus, comprometendo a lisura do pleito, a
liberdade do eleitor, o equilíbrio da eleição e
I – FATOS. aviltando a soberania popular, especialmente
pelos seguintes fundamentos.
Xxx e XXx, Primeiro e Segundo Réus,
disputam a eleição de xxx, de Cidadde, sob a II – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA.
indicação da Coligação “xxx”, integrada pelo
Partido xxxx Os arts. 294, 29781 e 39682, do CPC autorizam
o Juiz de Direito a determinar a concessão
Ocorre que, (descrever os fatos que justificam
81 “Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar ade-
a tutela antecedente, inclusive o local onde quadas para efetivação da tutela provisória.
deve ser realizada a busca ou o documento Parágrafo único. A efetivação da tutela provisória observará as normas refe-
rentes ao cumprimento provisório da sentença, no que couber.”
a ser exibido, detalhando o máximo de 82 “Art. 396. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa
informações sobre os acontecimentos). que se encontre em seu poder.”

105
de tutela antecedente, em caráter cautelar
ou antecipatório, inclusive de exibição de O direito que se busca assegurar (art. 305 do
documentos, desde que demonstradas razões CPC) é o de igualdade de disputa em face da
que justifiquem tal medida judicial (arts. 300, (indicar conduta ilícita).
caput83, e 30584, do CPC).
Há urgência na obtenção dos documentos
A ilicitude do (fato que justifica a busca para evidenciar a efetiva existência dessa
e apreensão) feita pelos Réus é tipificada, (captação ilícita de sufrágio, conduta vedada,
expressamente, pelos arts. xxx. abuso de poder) e risco à ineficácia da tutela,
xxx na medida em que se trata de (indicar porque
é urgente) e não se pode postergar a prática
A Lide decorrente desta medida antecedente de ilícitos, sob pena de prejuízo à lisura do
(art. 305 do CPC), comprovados os fatos que pleito.
fortemente se suspeita, será (dizer a Lide
futura que se pretende instaurar). III – PEDIDOS.
83 “Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elemen-
tos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco
ao resultado útil do processo. Ante o exposto, é a presente para requerer a
(...).” Vossa Excelência:
84 “Art. 305. A petição inicial da ação que visa à prestação de tutela
cautelar em caráter antecedente indicará a lide e seu fundamento, a exposição
sumária do direito que se objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao a) liminarmente, inaudita altera par, a
resultado útil do processo. concessão de tutela de urgência para
Parágrafo único. Caso entenda que o pedido a que se refere o caput tem natu-
reza antecipada, o juiz observará o disposto no art. 303 .” determinar que (especificar o que se quer e

106
onde achar);

b) a citação dos Réus, para caso queiram,


apresentem defesa à presente Ação; e

c) no mérito, a procedência deste pedido de


Tutela de Urgência para manter a medida
liminar pleiteada.

Termos em que
Pede Deferimento.
Cidade – XX, XX de xxx de 201x.
XXXXXX
OAB/XX XXX

107
DEFESAS

As defesas em processos eleitorais, quanto ao os fatos da acusação não são graves o suficiente para
conteúdo, são basicamente de quatro matérias, quais interferir na lisura e legitimidade das eleições e,
sejam: portanto, não devem resultar nas sanções postuladas.

a) processual: quando se alega que a medida judicial Uma das linhas defensivas não exclui a outra.
não é cabível ou a petição não preencheu algum dos Dependendo do caso, todas podem ser utilizadas.
requisitos necessários para a constituição válida
do processo, a exemplo da falta de citação de um Quanto aos prazos, as defesas nas medidas
litisconsorte passivo necessário, ou a proposição da que visam a cassação de mandato ou declaração de
ação fora do prazo decadencial. inelegibilidade – nas representações por captação
ilícita de sufrágio, por conduta vedada, captação e
b) negativa fática: argui-se que os fatos trazidos na gasto ilícito de campanha, AIJE, AIME e AIRC, devem
inicial não são verdadeiros e apresenta-se a contraprova; ser apresentadas no prazo de cinco dias corridos,
com exceção do RCED, que é de três dias. Para as
c) insuficiência probatória: argumenta-se que as representações em geral, inclusive as de propaganda,
provas trazidas pela parte autora não se formam um o prazo é de quarenta e oito horas, e, para direito de
arcabouço de provas robusto o suficiente para sustentar resposta, vinte e quatro horas.
as alegações da inicial;

d) ausência de gravidade dos fatos: aduz-se que

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RECURSOS

Por fim, quanto aos recursos, três aspectos uma finalidade distinta da existente no processo
merecem ser destacados. civil. Tal recurso serve apenas para destravar recurso
inadmitido pelo juízo a quo; ele não é destinado à
Primeiro, com exceção dos recursos de embargos revisão de decisões interlocutórias. Para essa finalidade,
de declaração e do agravo regimental (também chamado a depender da situação, é cabível o manejo de mandados
de agravo interno), todos os recursos são direcionados de segurança, quando se constatar que a respectiva
ao julgador prolator da decisão recorrida para que esse decisão interlocutória é teratológica.
receba e encaminhe as razões (apresentadas no mesmo
ato e prazo) para a instância superior. Os embargos e o Quarto, nem todo acórdão de ação originária
agravo regimental são direcionados ao próprio julgador. dos tribunais regionais é passível de impugnação por
recurso ordinário. Por exemplo, o acórdão que julga
Segundo, é comum nas Cortes Eleitorais a um RCED de candidato eleito de eleição municipal, é
prolação de decisões monocráticas pelos membros dos impugnável por recurso especial.
Tribunais, não só para negar recursos, mas também para
provê-los. Contra esse tipo de decisão, para se levar a Os prazos e hipóteses para oposição de recursos
causa a julgamento do plenário, o recurso cabível é o eleitorais são os seguintes:
agravo regimental. Ainda que a decisão seja obscura,
omissa e contraditória, não cabe embargos; mas agravo
regimental.
Terceiro, o agravo de instrumento eleitoral possui

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AGRADECIMENTO

Colegas advogados, espero que esse material


tenha seja útil na sua jornada. Sou grato pelo
tempo investido no compartilhamento dessas
ideias.

Quero continuar te encontrando no Advogue


nas Eleições.

Forte abraço!

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