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O OCASO DA ESQUERDA NA AMÉRICA LATINA E A CRISE VENEZUELANA

Uma descrição dos fundamentos que levaram o caos a um dos países mais ricos do continente
e como isso se refletiu na crise das relações venezuelanas com os demais países
latinoamericanos.

Ricardo Marques Nogueira, M.Sc1

Para entender a crise diplomática e as graves consequencias que afetam a população


venezuelana e dos países fronteiriços, mais especificamente Brasil e Colômbia, é necessário
buscar fatos da recente história política da região, desde as mudanças na orientação
governamental que se promoveu na América Latina a partir de meados dos anos 90, do século
passado.

A região latinoamericana, sob forte influência dos EUA, a partir do posicionamento de


“liberdade e democracia a qualquer custo” possuiu em seu histórico uma relação
governamental de viés político e ideológico com forte tendencia aos regimes de centro direita,
com capítulos permeados de regimes militares autoritários de direita, ocorridos ao longo dos
anos no séc. XX, sendo mais relevantes no Brasil, com sucessivas eleições indiretas vencidas
por generais do exercito; na Argentina da mesma forma, com destaque para os generais Jorge
Videla e Leopoldo Gualtiere; No Chile com Pinichet, Bolívia com Hugo Banzer e Paraguai com
Alfredo Stroessner. De um modo geral, todos os países do continente sul-americano possuiam
ideologias de direita alinhados ao pensamento capitalista. Não nos cabe nesta analise debater
prós e contras a respeito desses regimes e os movimentos e levantes populares contrários a
eles, que muitas vezes travestidos de resistências, tinham na verdade pretensões de
alinhamento de esquerda, com intensiva influência da então URSS e seu braço forte na região,
Cuba, cujo lider, Fidel Castro, mantinha o poder ditatorial desde a revolução de 1959 e
alinhado ao regime comunista soviético. Seria, a grosso modo, trocar ditaduras militares de
direita capitalista, por ditaduras militares de esquerda comunista.

O desgaste natural de longos regimes governamentais, e as crescentes manifestações


democráticas, levaram a uma mudança na perspectiva política dos países latinoamericanos,
que aos poucos passaram a encontrar caminhos que levaram ao poder novos governantes de
orientação centro-esquerda, num claro recado de “basta”, e da necessidade urgente de se
respirar novos ares.

Coube ao Brasil um dos movimentos mais relevantes na região, com as manifestações


populares da “Diretas Já”, que embora fracassado no ambito parlamentar, foi decisivo para o
retorno da “democracia” de desejo popular. Nossa política redemocratizada, demorou ainda 2
mandatos presidenciais, com o vice presidente José Sarney, sucedendo ao presidente eleito
Tancredo Neves, acometido de grave doença às vesperas da posse e falecido após meses de
1
Ricardo Marques Nogueira; Prof. Universitário, Arquiteto e Urbanista, pós graduado em Tecnologia da
Construção e Mestre em Sociologia Política sobre questões urbanas e políticas contemporâneas –
UVV/ES, 2017.
agonia, e Fernando Collor de Mello, eleito finalmente por voto direto depois de 30 anos, e que
deixou o cargo após um traumático processo de impeachment, pouco mais de 2 anos após
assumir o cargo, para que os regimes de centro-esquerda chegassem ao poder.

Com crises economicas sucessivas, elevados indices de inflação e crescente


descontentamento, a mudança de ares encontrou novo folego com uma reforma economica
dessa vez efetiva, promovida por Itamar Franco, vice do impichado Collor, e seu ministro da
economia, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso – o Plano Real. A reboque da estabilidade
da moeda e o controle de uma inflação insustentável, FHC foi eleito e efetivamente a
orientação Centro-esquerda assume o poder, de modo democrático, com eleições diretas que
em segundo turno o colocou frente a frente com o radical sindicalista Luis Inácio “Lula” da
Silva.

De certa forma e com grande influência sobre os demais países sulamericanos, o perfil
governamental foi se modificando de forma gradativa, onde presidentes de centro-esquerda
chegavam ao poder e se basteciam de altas doses de populismo.

E nesse cenário apresentado é que se elege na Venezuela, em 1999, o Tenente-coronel


Hugo Chavez, que se proclamou lider da Revolução Bolivariana, promovendo o chamado
socialismo do Séc.XXI, critico ao neoliberalismo. Tornou-se um dirigente altamente populista
ancorado pelo bom momento economico do país, em função das suas grandes reservas de
Petróleo, base quase completa das exportações do país, único membro da OPEP na América
Latina. Do inicio amplamente apoiado pela população, foi ao longo do tempo sofrendo
oposição, tendo inclusive sofrido uma tentativa de derrubada do governo. Por essa ocasião já
manobrava juntamente com o Cubano Fidel Castro, de quem era muito próximo, e Lula, a
formação de um bloco socialista que visava disseminar por todo o continente sua política
bolivariana, através do grupo conhecido como Foro de São Paulo.

Aos poucos, políticos de esquerda, extremamente populistas foram ascendendo ao


poder em seus países: Pepe Mujica no Uruguai, Cristina Kirchner na Argentina, Fernando Lugo
no Paraguai e Evo Morales na Bolívia, entre outros. Norteados por ideais radicais e condições
cada vez mais restritivas a população, cabia então o único recurso possível: Institucionalização
de políticas populistas, com subsídios aos mais carentes, com o único propósito de estabelecer
uma relação direta de dependência, capaz de arregimentar votos que garantissem o que
comumente chamamos de “currais eleitorais”. No Brasil, o programa de distribuição de renda
chamado Bolsa Família, garantiu a manutenção do PT no comando da nação por 14 anos
seguidos, sendo interrompido pelo segundo impeachment imposto a um presidente, no caso
uma presidente, Dilma Roussef, desde a redemocratização, em 1990.

Porém, a manutenção do poder tráz a reboque, condições altamente imorais, que se


traduziram em níveis absurdos de corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilhas,
redes de alianças com governadores e um desvio de verbas públicas jamais imaginado.
Financiamentos obscuros aos países alinhados com a esquerda, através do BNDES, contratação
de empreiteiras e construtoras com repasse de propinas, reformas e constuções de estádios e
obras de infra-estrutura visando a copa do mundo FIFA de 2014 e as olimpiadas de 2016.
Praticamente tudo que estivesse relacionado a investimentos da União com recursos públicos
ou parcerias público-privadas era alvo de desvio de dinheiro, chegando facilmente à casa dos
BILHÕES de reais.

A cabo de investigação de uma suspeita movimentação financeira, com características


de lavagem de dinheiro, realizada por doleiros e um suposto dono de rede de postos de
combustíveis, tem inicio a operação “Lava-Jato”, sem que jamais pudesse se imaginar os
desdobramentos que se seguiram, com fases de investigação que levaram a prisão de uma
centena de políticos, empresários, doleiros, além de Luis Inácio Lula da Silva, ex-presidente da
república até agora condenado a 25 anos de prisão, considerando as duas condenações por
corrupção ativa, nos casos do apartamento triplex na cidade de Guarujá e do Sítio na cidade de
Atibaia, ambas no estado se São Paulo. Há ainda em curso mais 6 processos contar o ex-
presidente, que pode aumentar seu período de encarceiramento de forma significativa.

Tamanha foi a indignação da população diante de fatos tão sórdidos e absurdos, que
nas eleições de 2018 houve uma limpeza política jamais vista no país, com elevados indices de
renovação política, seja no congresso nacional, nos estados e principalmente na Presidencia da
República, que elegeu o então deputado federal Jair Bolsonaro, ex-capitão do exército e um
congressista considerado do “baixo clero” da câmara dos deputados. Sem verba de campanha,
dispondo apenas de 8 segundos em propaganda eleitoral no rádio e tv, mas com um discurso
nacionalista de resgate do respeito e honra às instituições e o combate à corrupção e as
ideologias socialistas institucionalizadas por Lula e o PT, recebeu mais de 57 milhões de votos
(55,13% do total) no 2º turno do pleito, batendo o petista, e “apadrinhado” de Lula, Fernando
Haddad, outro ‘cumpanhêro’ atolado até o pescoço em invstigaçòes de corrupção.

E assim ocorreu o ocaso da esquerda-caviar no Brasil e a relegação de Lula e seu


partido ao lixo da história política nacional.

Mas, e na Venezuela?

Lá, Hugo Chavez manteve-se no poder até seu falecimento, devido a um câncer, em
2013, por longos 14 anos, através de eleições democráticas, referendos suspeitos e manobras
inconstitucionais... ou seja, de todos os modos possíveis e imagináveis. Durante o período que
antecedeu sua morte, Nicolás Maduro, vice presidente, assume o governo interinamente,
vencendo as eleições convocadas em função do falecimento de Chavez. De duvidosa
capacidade política e carente do carisma de seu antecessor, Maduro tenta a todo custo manter
as diretrizes do socialismo bolivariano, inclusive governando através de decretos por poderes
especiais, mas com um erro fatal. O mau uso do dinheiro proveniente das exportações de
petróleo, praticamente única riqueza explorada na Venezuela, incluindo compra de
aramamentos pesados, num claro intuito de demosntração de intimidação e manutenção do
poder incluive por força militar.

A queda no preço internacional das comodities, inclusive o petróleo, trouxe a total


insustentabilidade do país, elevando a inflação a inimaginável casa dos milhares por cento ao
mês, total carência dos produtos de consumo básico, inclusive alimentos. Tentando manter as
políticas de subsídio à população com meios incapazes de manutenção, tenta se reeleger em
2018, em meio a um quadro de crescente pobreza, fome e criminalidade, diante de uma
população cada vez mais insatisfeita e uma enorme oposição política. Venceu as polêmicas
eleições não reconhecidas pela oposição, OEA, União Européia e países, como o Brasil e os
EUA, além de Colombia, Argentina, Uruguai, Paraguai entre outros, países que até bem pouco
tempo antes compatilhavam de políticas e governantes alinhados com o bolivarianismo, mas
que foram democraticamente “corridos” do poder, restando no continente apenas o cocaleiro
boliviano Evo Morales.

Através do não reconhecimento da vitória eleitoral, o presidente da Assembléia


Nacional (o equivalente a nossa Camara dos Deputados), Juan Guaidó, é autoproclamado
presidente do país, reconhecido pelos orgão descritos acima e mais de 50 países, de todos os
continentes. A Maduro cabe apenas o poder exercido pelas forças armadas, a suprema corte
toda ela nomeada por ele, e o apoio de Cuba, China, Russia e Irã, o que dispensa maiores
comentários, além de México e Nicarágua, com seu presidentes de esquerda, além é claro do
PT (Partido dos Trabalhadores) e seus tentáculos PSOL, PcdoB, MTST... os anjos caídos da
política brasileira...

Desse entrave político, cujos únicos derrotados são o povo venezuelano e a liberdade,
as consequencias vão desde o êxodo de venezuelanos para os países vizinhos de fronteira,
Colômbia e Brasil, a provocações armamentistas na região de fronteira, primeiro passo para
uma improvável, mas possível guerra que incluiria Colômbia e EUA principalmente, e também
o Brasil. A fome que assola o país é, segundo a visão de Maduro, única e exclusivamente por
conta dos embargos economicos impostos ao país, se esquecendo de que ao longo dos anos
tratou apenas de se armar e manter políticas que eternizassem o bolivarianismo no poder, ao
invés de aplicar os recursos provenientes das exportações de petróleo em industrias de base,
agricultura e pecuária, crescimento comercial interno e desenvolvimento social e economico.
Outro fator nos argumentos de Maduro e dos socialistas que compartilham simpatia pelo
bigodudo que adora churrasco (dubai que o diga), é uma possível tomada da PDVSA, estatal de
exploração e distribuição de petróleo, por parte dos EUA. Mas aí cabe um detalhe... Quem
depende de quem?

Até o inicio da crise e o embargo economico, os EUA importavam o equivalente a 6%


de suas necessidades de consumo da Venezuela, e aproximadamente 7,5% das necessidades
de óleo bruto. O restante vem do Canadá, com pouco mais de 40%, México e das próprias
reservas americanas, que são maiores inclusive que o percentual venezuelano. Pelo lado do
país sulamericano, as exportações de petróleo para os americanos representam 47% do
petróleo produzido, ou seja quase a metade de toda a exploração. O que nos leva a refletir:
Que economia sai perdendo com todo esse problema? Os EUA que precisam e compram
míseros 6% das suas necessidade da Venezuela, e que podem perfeitamente obter essa
quantidade de qualquer outro exportador, ou a Venezuela, que precisam vender quase a
metade do que produz para os EUA, para poder se sustentar? Não, não há como atribuir ao
“feroz, miserável e diabólico” capitalismo ianque a responsabilidade da fome e sofrimento
imposta a um povo inteiro pela arrogância, ignorancia, sede de poder ditatorial, truculência e
vaidade de um completo bossal, caricatura do que de pior existiu nos regimes autoritários
socialistas de todos os tempos.

A queda de Maduro é apenas questão de tempo. O ocaso da esquerda “cucaracha” já


aconteceu. As “republiquetas” latinoamericanas respiram ares de liberalismo, democracia e
liberdade. Por aqui, os “cumpanhêros” já cagam no buraco e vêem o sol nascer quadrado,
embora ainda haja espaço e investigações para botar muito mais gente em cana. Pelos lados
da Venezuela, não parece ser muito diferente, embora o bigodudo de lá ainda esteja livre. Não
creio que por muito tempo. Com sorte e benevolência, pode terminar seus dias em Cuba, a
paradisíaca ilha de Fidel, o éden socialista na terra.

Basta saber apenas onde Nicolás Maduro passará suas noites... se num palacete cedido
pelos herdeiros comunistas de Castro, ou numa cela de 3X3 em Guantánamo. Esperemos os
próximos capítulos antes de escrever o derradeiro ‘the end’.

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