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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO MATO GROSSO

APELANTE: João Aparecido


APELADO: Ministério Público
PROCESSO N°: xxxx.x..xxx.xx.xxx
ORIGEM: Vara Criminal da Cidade de xxx

COLENDA CÂMARA,

JOÃO APARECIDO, já qualificado nos autos do processo em referência,


vem, pela Defensoria Pública, apresentar as suas RAZÕES DE APELAÇÃO
CRIMINAL, com fulcro no art. 600 do Código de Processo Penal.

RELATÓRIO
dispensado

–I–
DA REFORMA DA R. SENTENÇA RECORRIDA EM FACE DO PRINCÍPIO
DO IN DÚBIO PRO RÉU

É cediço que ante a inexistência de provas suficientes de que o crime de fato


ocorreu, será invocado o princípio do in dubio pro réu, cabendo, assim, a absolvição por
falta de materialidade.

Considerando o fato de que não foi encontrado o produto do roubo (celular)


em posse do Requerente, bem como também ante a inexistência de oitiva de testemunhas
oculares.

Considerando a não juntada de filmagens, bem como o depoimento dos


policiais, estes que afirmaram somente a participação da prisão do Requerente, três horas
após os fatos alegados.

Resta inequívoca a ausência de materialidade, não havendo alternativa senão


a aplicação do artigo 386, inciso I, do Código de Processo Penal.

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– II -
DA NULIDADE ABSOLUTA - Reconhecimento na delegacia – Violação do artigo
226 do Código de Processo Penal.

Diante de nulidade quanto ao reconhecimento da parte na delegacia, cumpre


enaltecer que o d. Juízo de piso afastou referida alegação, sob a fundamentação de que há
outras formas de se proceder com o reconhecimento de parte, suprindo eventual lavratura
formal do ato. Entretanto, data vênia, discorda-se de tal entendimento.

A prova é um dos modos de construção do convencimento do julgador,


responsável por formar sua convicção quando da prolação da sentença. Não obstante, tal
fato não obsta a análise de toda a estrutura da prova a fim de verificar eventual ilegalidade
e seu consequente direito de exclusão.

Vale ressaltar que nenhuma testemunha ocular dos fatos foi ouvida. Ademais,
os policiais militares ouvidos em juízo disseram que somente participaram da prisão de
João que ocorreu três horas após os fatos. Não houve a juntada de filmagens. O outro
agente não foi identificado. João Aparecido não foi apreendido com o celular da vítima.
O acusado permaneceu em silêncio durante a audiência.

Pois bem. Quanto ao reconhecimento pessoal, para que possa surtir efeito
legal, em obediência estrita à legalidade, deve seguir a forma prevista no artigo 226 do
CPP, qual dispõe que:

Art. 226. (...)

Nenhuma testemunha ocular dos fatos foi ouvida.

Os policiais militares ouvidos em juízo disseram que somente participaram


da prisão do réu que ocorreu três horas após os fatos. Somado a todo o exposto, não houve
a juntada de filmagens que comprovassem a autoria do fato praticado supostamente pelo
réu.

Sendo assim, requer seja a sentença reformada nesse particular, com a


declaração de nulidade absoluta em relação ao reconhecimento realizado exclusivamente

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pela vítima, desentranhando-a dos autos, com fundamento no artigo 157 e 564, inciso IV,
ambos do Código de Processo Penal.

– III –
DA ABSOLVIÇÃO QUANTO AO CRIME DE CORRUPÇÃODE
MENORES

É cediço que a palavra da vítima, coerente e em consonância com as demais


provas existentes nos autos, é de crucial importância, sendo idônea para fundar a
condenação.

No entanto, no presente caso, a vítima afirmou que “ACREDITAVA” que o


outro agente era menor, tendo em vista suas características físicas”, NÃO HAVENDO
OUTRA PROVA, acerca da menoridade deste, TENDO EM VISTA O FATO DE QUE
SEQUER FOI ENCONTRADO.

Outrossim, imprescindível reiterar o fato de que afirmou a vítima, que os


agentes vestiam roupas de manga cumprida e capuzes, não sendo possível descrevê-los.
Portanto, data vênia, equivocou-se o MM. Juiz de 1° grau, ao fundamentar sua decisão
baseando-se exclusivamente no depoimento da vítima, devendo ser afastada a
condenação pelo artigo 244-B.

O acusado, ainda, fora denunciado da prática do crime previsto no art. 244-B


do Estatuto da Criança e do Adolescente, haja vista que o suposto roubo teria sido
praticado por dois agentes, o ora acusado e outro, supostamente, menor. Alegação que
não restou demonstrada nos autos os quais fora proferida sentença condenatória.

Ainda, como acontece em qualquer delito, é necessária a comprovação do


elemento subjetivo do tipo, que, in casu, é o dolo de corromper ou facilitar a corrupção
do adolescente à época dos fatos, isso porque, eventual condenação pela prática do crime
previsto no artigo 244-B do ECA sem prova da intenção específica de corromper ou
facilitar a corrupção dos menores não representa outra coisa senão a imputação de
responsabilidade penal objetiva, o que é inadmissível no bojo de um Estado Democrático
de Direito, no qual o Direito Penal se pauta no princípio da culpabilidade.

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(TJBA, APL 03009051720138050274 BA 0300905-17.2013.8.05.0274,
Relator Desembargador Pedro Augusto Costa Guerra, Julgamento:
11/02/2014, DJE: 12/02/2014) ” (sem grifo no original).

Com efeito, imputar a prática ao Acusado do delito previsto no artigo 244-B


do ECA sem prova alguma de que realmente tinha intenção de corromper ou facilitar a
corrupção da adolescente é, em suma, atribuir-lhe responsabilidade objetiva pelos seus
atos, situação contrária ao princípio da culpabilidade.

Assim sendo, não é a defesa que deve dispor que não agiu com dolo em
determinado evento, mas sim o Ministério Público, que deve apresentar subsídios para
que o dolo da parte seja verificado a embasar um decreto condenatório, o que não foi
observado nos presentes autos.

Ademais, não há nos autos da sentença condenatória, provas suficientes


capazes de apontar o crime de roubo ao acusado, quanto mais, dispor sobre a suposta
corrupção de menores.

Ante o exposto, pugna-se pela absolvição do acusado da prática do delito


de corrupção de menores, haja visto que o crime de corrupção de menores é
material, e não formal como o defende o órgão acusador, devendo existir prova
efetiva de que o menor foi corrompido, para que este esteja configurado, o que não
restou demonstrado.

Assim, requer pela absolvição do acusado nos termos da fundamentação


supra.

– III –
DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer-se o RECEBIMENTO e PROVIMENTO do


presente recurso, para o fim de absolver a Apelante do delito que lhe é imposto, conforme
delimitado. Ainda requer isenção total das custas processuais, sendo o Apelante
assistido pela Defensória Pública.

Nestes termos,

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Pede deferimento.
Campo Mourão, datado e assinado digitalmente.

Questões:

1- Defesas processuais:
1.1- Rito da prisão, justificativa. Está previsto no art. 528, caput, NCPC).

1.2- Rito da penhora ou expropriação, cabe impugnação ao cumprimento de


sentença. Está prevista no artigo 525, § 1°, do NCPC.

2- Consequências pelo rito da prisão: José poderá ser privado de sua liberdade
prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses, conforme autoriza o § 3º do art. 528 do CPC
(prisão), pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses, conforme autoriza o § 3º do art. 528 do
CPC.

Outrossim, considerando que José, a partir do ano de 2021, deixou de efetuar


o pagamento dos alimentos a seu filho José Jr., sua representante poderá cobrar até as três
últimas parcelas vencidas, bem como, as vincendas. Ou seja, no presente caso, poderá ser
cobrado pelo rito da prisão os meses de março/fevereiro e janeiro de 2022, bem como, as
vencidas no curso do processo (Súmula 309 do STJ).

Quanto a conduta da genitora de José Junior de não autorizar as visitas devido


a inadimplência do genitor, não há legislação que proíba um dos pais de ver o filho em
razão do não pagamento de pensão alimentícia. Além disso, tal proibição, fere um direito
fundamental da criança, estabelecido no artigo 227 da Constituição Federal - o chamado
Direito de Convivência Familiar. O artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente
praticamente replica o comando constitucional, conferindo direito com a mesma
abrangência. Para completar o rol de dispositivos legais relevantes à matéria, é
indispensável mencionar o artigo 1.589 do Código Civil, que vê a questão também pelo
prisma do genitor, e não só da criança envolvida na celeuma. Ainda que sem efetuar os
pagamentos da pensão alimentícia, é direito do genitor de ter contato físico com o filho,
sendo que sua proibição poderá resultar em alienação parental (art. 2º da Lei 12.318/10).

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Além disso, José deverá pagar a porcentagem com base no salário-mínimo
nacional vigente. Ou seja, deverá pagar com base na porcentagem do salário mínimo
atualizado anualmente. Entretanto, considerando que a Defensoria Pública atua em favor
do réu, pode, em primeiro lugar, tentar proposta de acordo com a somatória do valor
devido, fixado no ano de 2018, uma vez que mais benéfico para ele. Entretanto, a parte
exequente terá de concordar e assim, reduzirem a termo o acordo realizado no curso do
processo.

Por fim, com intuito de reduzir os danos sofridos por José, poderá ajuizar ação
revisional de alimentos com pedido de antecipação de tutela, considerando que além de
ter constituído nova união estável da qual resultou do nascimento de sua filha Maria, a
qual necessita de tratamento médico especializado em razão de doença grave, sofreu
grave redução em sua renda devido ao fato de ter ficado desempregado juntamente com
sua atual companheira, por conta da pandemia que assola o país. Ademais, passou a
laborar informalmente, auferindo tão a renda equivalente a um salário mínimo, pois, sua
filha necessita de cuidados especiais da genitora. Tais fatos ensejam a redução dos
alimentos acordados anteriormente.

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