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Heronides Moura
Morgana Cambrussi
1º
Período
Florianópolis - 2008
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Governo Federal
Presidente da República: Luiz Inácio da Silva
Ministro de Educação: Fernando Haddad
Secretário de Ensino a Distância: Carlos Eduardo Bielschowky
Comissão Editorial
Tânia Regina Oliveira Ramos
Izete Lehmkuhl Coelho
Mary Elizabeth Cerutti Rizzati
EaD/CED/UFSC
Núcleo de Desenvolvimento de Materiais
Produção Gráfica e Hipermídia
Design Gráfco e Editorial: Ana Clara Miranda Gern; Kelly Cristine Suzuki
Adaptação do Projeto Gráfco: Laura Martins Rodrigues, Thiago Rocha Oliveira
Responsável: Thiago Rocha Oliveira
Diagramação: Guilherme Carrion, Laura Martins Rodrigues
Design Instrucional
Responsável: Isabella Benfica Barbosa
Designer Instrucional: Verônica Ribas Cúrcio
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Ficha Catalográfca
M929h
Moura, Heronides
História dos estudos lingüísticos / Heronides Moura, Morgana Cambrussi .— Flo-
rianópolis : LLV/CCE/UFSC, 2008.
74p. : 28cm
ISBN 978-85-61482-01-5
CDD 410
Elaborado por Rodrigo de Sales, supervisionado pelo setor técnico da Biblioteca Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina
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Sumário
Unidade A ............................................................................................ 9
1 Por que estudar autores antigos? ..........................................................11
2 A teoria platônica da linguagem: o Crátilo ........................................13
3 Rousseau: as paixões criaram a linguagem .......................................17
4 Famílias de línguas .....................................................................................21
5 Os espíritos dos povos criam as línguas:
a visão de Ernest Renan ...........................................................................25
6 Sincronia e diacronia: a contribuição de Saussure .........................29
7 A mente criou a linguagem: a moderna teoria
sobre a origem das línguas .....................................................................33
Unidade B ...........................................................................................39
1 Gramática de Port-Royal: a linguagem como
estrutura lógica ............................................................................................41
2 A hipótese de Sapir-Whorf e as relações entre
Referências.........................................................................................73
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Apresentação
este curso, você vai azer uma viagem no tempo. Estará na Grécia
antiga, acompanhando a discussão de Sócrates e Crátilo sobre a
N
origem das palavras. Circulará em Roma e na Idade Média, quando
perceberá que as idéias da cultura greco-romana sobre linguagem perduraram
até os princípios da Idade Moderna. Chegará a Paris a tempo de ver a discussão
dos membros da comunidade religiosa de Port-Royal sobre a relação entre
a razão humana e a linguagem. Já um pouco antes da Revolução Francesa,
ouvirá os argumentos ardentes de Rousseau em prol de sua teoria da origem
da linguagem, que teria, segundo ele, surgido não da razão, mas da emoção. Já
no século XIX, verá o papel que os românticos, como o lósoo rancês Renan,
atribuíam às nações e aos povos na ormação da linguagem e acompanhará a
grande descoberta das amílias de línguas, pelos comparativistas europeus.
No século XX, depois da viagem pela Europa, você vai pousar nos Estados
Unidos, e acompanhar de perto a discussão sobre o papel da cultura na cons-
trução da linguagem, com a hipótese de Sapir-Whor. E verá a reação a essa
hipótese, com o argumento da gramática universal e da linguagem da mente.
Nessas viagens, você vai descobrir que o lósoo Sócrates não respeitava muito
as mulheres, que o inglês era considerada uma língua bárbara, assim como o
alemão, que a gramática indiana infuenciou os estudos gramaticais no Oci-
dente, que o Brasil quase alou tupi e não português, que Rousseau dizia que
o ser humano começou alando por metáoras, e que os cientistas debatem,
hoje em dia, se há um conjunto de genes responsáveis pela capacidade de o ser
humano se exprimir lingüisticamente.
Você não precisa de passaporte para azer essa viagem no tempo. Use o seu
material impresso, participe das atividades on line e, especialmente, use sua
imaginação, e boa viagem!
Heronides Moura
Morgana Cambrussi
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Unidade A
Origem e diversidade das línguas
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CAPÍTULO 0
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2 A teoria platônica da
linguagem: o Crátilo
Ler o Crátilo, um dos mais famosos diálogos de Platão, é uma ex-
periência surpreendente, como se entrássemos num túnel do tempo e
caíssemos em plena praça pública da Atenas antiga; cada frase ali faz
um enorme sentido no contexto daquela discussão, mas se compara-
mos com o nosso tempo, as crenças sobre a linguagem ali expressas são
totalmente exóticas. Façam a seguinte experiência: leiam o diálogo em
voz alta, com colegas e/ou alunos, cada um representando um dos per-
sonagens do debate, ou seja, Crátilo, Hermógenes e Sócrates. Vocês vão
sentir como esse debate é vivaz e natural (embora Sócrates fale demais e
os outros muito pouco!), e podemos até imaginar as posturas corporais
dos debatedores, mas como as idéias de Sócrates parecem estranhas! Na
realidade, só parecem estranhas quando comparadas com nossas idéias;
faziam naquele contexto todo o sentido.
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ao vocabulário. Não por acaso, aliás, esse ensaio sobre a origem das lín-
guas termina com um estudo sobre a origem da música. Na linguagem
nascente, os sons seriam muito variados, haveria poucas consoantes, os
tons e acentos seriam em grande número: cantar-se-ia em lugar de fa-
lar . Embora isso possa nos parecer estranho, essa linguagem musical
primitiva faz todo o sentido na teoria de Rousseau: ele quer enfatizar a
ligação da linguagem com a gama de emoções da alma humana; como
as emoções são ricas, assim também são os sons que devem expressá-las
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Famílias de línguas
4 Famílias de línguas
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CAPÍTULO 0
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Famílias de línguas
única
supõe língua-mãe,
que o homoasapiens
língua-mãe de todasaaslinguagem
desenvolveu línguas? Em
em tese,
algumsim, pois do
ponto se
território da África, mas isso aconteceu dezenas de milhares de anos atrás,
de modo que é muito difícil dizer como seria essa língua original.
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CAPÍTULO 0
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No entanto, ca evidente em seu trabalho que ele acredita que exis-
tem línguas mais elaboradas que outras, e que estas são mais apropriadas
para o pensamento. Ele reconhece dois estados na evolução das línguas.
O primeiro seria o estado sintético, de rica complexidade gramatical e
morfológica, em que as relações gramaticais são expressas por axos
que se juntam às raízes das palavras.
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Mas por que Renan chegou a armar essa superioridade das lín-
guas analíticas? Porque ele acreditava que as línguas são criadas pelo
“gênio de uma raça”, e que as línguas nascem “de um só golpe” a partir
desse espírito de um povo! Essa foi uma crença bastante difundida no
século XIX, época do Romantismo, em que os pensadores e artistas ten-
taram criar e imaginar formas próprias de expressão de seu povo e de
sua nação. Ora, a língua seria também fruto da alma de um povo, assim
como suas lendas e cantos tradicionais.
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CAPÍTULO 0
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6 Sincronia e diacronia: a
contribuição de Saussure
Depois de uma longa tradição de especulação sobre as origens da
linguagem e depois do impacto causado pelas descobertas do compa-
rativismo, no início do século XX, a questão da origem foi relegada a
um segundo plano, em grande parte pela inuência de um lingüista su-
íço, que muitos consideram o pai da lingüística moderna: Ferdinand de
Saussure. O seu trabalho mais famoso, o Curso de Lingüística Geral , não
foi escrito por ele, mas redigido por ex-alunos seus, a partir de anota-
ções de sala de aula. O efeito dessa obra foi enorme.
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modicação
resumo, temos fonética provocou a*foti
a transformação queda da vogal
feet, nal,a levando
ou seja, forma dea fet.
umEm es-
tado sincrônico p levou a um estado sincrônico a (ou seja, p a); essa é
uma explicação diacrônica. O estudo sincrônico desconsidera a linha de
tempo e justapõe formas simultâneas numa dada sincronia. No estado
sincrônico p (passado), a regra de plural era feita com o acréscimo de –i.
No estado sincrônico a (atual), a regra de plural (em algumas palavras)
é feita pela mudança de vogal. Repare que as regras sincrônicas para p e
a são independentes.
troca da ovogal
crônica; (PINKER,
que importa 2004,
é que p. 167).
no inglês Mas issoháé uma
moderno uma regra
explicação dia-
geral para
a construção do passado (-ed) e listas de passados irregulares. Eles são
irregulares justamente porque são resquícios de regras de outro tempo,
que não se aplicam mais ao inglês moderno. Curiosamente, quando ver-
bos derivados são formados a partir de verbos irregulares, os verbos de-
rivados mantêm a irregularidade do passado: “Quando o verbo to blow
ganhou na gíria sentidos como to blow him away (assassinar) e to blow
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CAPÍTULO 0
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Mas resta entender por que só os seres humanos falam. Não seria
lógico que nossos parentes primatas, como os chimpanzés, também dis-
pusessem de uma linguagem, ou pelo menos de uma proto-linguagem?
Engenhosamente, Pinker compara essa busca da fala dos macacos à
tentativa (insólita) de buscar trombas nos parentes dos elefantes. Só os
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Unidade B
Linguagem e Pensamento
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1 Gramática de Port-Royal: a
linguagem como estrutura
lógica
O século XVII é tido como o século das gramáticas gerais, surgidas,
conorme pesquisa histórica de Orlandi (1992, p. 12), em uma socieda-
de marcada pelo racionalismo. “Os pensadores da época concentram-se
em estudar a linguagem enquanto representação do pensamento e pro-
curam mostrar que as línguas obedecem a princípios racionais, lógicos”.
De todas as gramáticas gerais surgidas naquele século, o modelo mais
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CAPÍTULO 0
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2 A hipótese de Sapir-Whorf
e as relações entre língua e
pensamento
Edward Sapir – lingüista e antropólogo, aluno do estruturalista
americano Franz Boas –, ao estudar línguas indígenas americanas no
início do século XX, propôs que cada língua se congura em um con-
junto de subsistemas, os quais, interligados, formam um sistema único,
quer dizer, que não se repete, que é próprio para cada língua. Como
denição que considera satisfatória para linguagem, Sapir (1980, p. 22)
Para apresentar sob outra forma a nossa doutrina, digamos que a lingua-
gem é, primariamente, uma função pré-racional. Limita-se com humil-
dade a entregar ao pensamento, nela latente e eventualmente exteriori-
zável, as suas classificações e as suas formas; não é, como ingenuamente
se costuma supor, o rótulo final de um pensamento concluído.
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CAPÍTULO 0
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3 O mentalês: a linguagem
da mente
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CAPÍTULO 0
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não nessa forma, pois estas são palavras do português). Além disso, o
mentalês deve conter símbolos que representem relações mais abstra-
tas entre predicados, que são chamados de operadores, como CAUSA.
Qual a moral da história? Nem todas as línguas precisam ter um verbo
com o sentido de borrifar , mas todas as línguas teriam nomes próprios,
predicados, substantivos e operadores. Nem todas as línguas precisam
ter as estruturas sintáticas que aparecem nos exemplos em (1), mas to-
das as línguas seriam capazes de gerar uma estrutura como (2), pois essa
é uma estrutura do mentalês, portanto universal (não a idéia em si, mas
a estrutura).
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político não diz que vai investir menos em serviços sociais, mas que vai
“cortar gastos” ou “buscar o equilíbrio das contas públicas”. Crises polí-
ticas ou econômicas viram “momentos de turbulência nos mercados”, e
assim por diante.
Orwell, num apêndice a seu livro 1984, imaginou uma ditadura, si-
tuada em 2050, em que os políticos controlariam os sentidos das pala-
vras. A palavra “livre”, por exemplo, só poderia ser usada em alguns con-
textos concretos, como em “O caminho está livre”, mas não no sentido
mais abstrato (e importante) de “imprensa livre”, ou “politicamente livre”.
Seria a Novilíngua. Para muitas pessoas, o controle das palavras leva ao
controle do pensamento, pois só pensamos com base nas palavras, e se
se proíbe que a palavra “livre” seja usada no campo da política, então as
pessoas podem perder a noção de liberdade! É a tese do relativismo lin-
güístico de Sapir-Whorf: pensamos a partir das categorias e signicados
de nossa linguagem. Se certas categorias e signicados não estão dispo-
níveis na linguagem de uma comunidade, então os conceitos e idéias cor-
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os órgãos da linguagem.
A primeira área (a área de Broca) corresponde à região imediata-
mente superior à fenda (o sulco lateral do cérebro) que separa o lobo
temporal do restante do cérebro. A segunda área (a área de Wernicke)
corresponde à parte inferior à fenda, mais próxima ao lobo occipital
(acompanhar gura em Pinker (2004, p. 393)). Como são áreas distin-
tas, são também consideradas como regiões de órgãos diferentes da lin-
guagem, cujas lesões produzem tipos distintos de afasias.
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CAPÍTULO 0
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neurociências que a cada dia avança e se nos apresenta com toda sua
autoridade e seu poder explicativo, Pinker (2004, p. 402) considera que:
“[...] até onde sabemos o cérebro deve ter regiões dedicadas a processos
tão especícos quanto sintagmas nominais e árvores métricas; nossos
métodos de estudo do cérebro humano ainda são tão precários que ain-
da não conseguimos encontrá-las.”
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CAPÍTULO 0
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5 Tradição gramatical:
construção da língua como
representação do pensamento
O ensino da gramática tradicional nas escolas direciona-se ma-
joritariamente para indivíduos que já dominam a língua cujas regras
estariam estabelecidas nessa gramática com o objetivo de se ensinar
essa língua. Com base nessa armação, que parece ser contraditória se
pensarmos que a gramática nada teria para ensinar a aprendizes que já
dominam a língua a ser aprendida, poder-se-ia fazer a pergunta: o que
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Os estudos feitos pelos estóicos serviram de base para que seus su-
cessores históricos, os estudiosos alexandrinos, privilegiassem as regu-
laridades da língua e adotassem uma postura normativa, preocupando-
se em como a língua deve ser. Já considerados lólogos, esses estudiosos
de Alexandria privilegiaram a língua dos grandes escritores gregos e
rebaixaram os demais usos, pois seu objetivo era educar os povos con-
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cionados” e “o conjunto
(NEVES, 2002, p. 63). de regras que regem a sintaxe dos elementos”
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descritiva, “particular”.
Entretanto, os estudos a respeito do aspecto universal da linguagem
não foram abandonados. No nal do século XII, algumas obras de Aris-
tóteles, inacessíveis até aquele momento, começaram a circular na Euro-
pa em traduções recentes para o latim. A partir da leitura de obras como
a Metafísica, os estudiosos da época experimentaram as novas idéias nas
disciplinas tradicionais do conhecimento, além de aprenderem a ques-
tionar a própria natureza dessas disciplinas. Aristóteles opõe, nessa obra,
estudo da linguagem.
princípios Assim,
universais da uma grammatica
gramática,
speculativa investigava os
ao passo que uma grammatica positi-
va interessava-se pelos detalhes de uma língua particular: “[...] a gramá-
tica especulativa se concentrava no essencial e universal, e a gramática
positiva, no acidental e particular” (WEEDWOOD, 2002, p. 57).
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aos grandes textos. Dessa forma, cava reservado a uma elite “o escrever
bem por pensar bem”, já que somente os mais “nobres” freqüentavam a
Academia na época do Cours de Condillac.
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Mas é preciso não confundir: uma coisa é a forma como vemos uma
língua, em função de seu papel social e de seu poder. Outra são as ca-
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sação a língua inglesa tem uma riqueza incrível de modais (verbos au-
xiliares) e apresenta os famosos phrasal verbs, formados por um verbo
e uma preposição, os quais são muito difíceis de aprender, pois formam
uma lista enorme, que podem levar à confusão. Veja por exemplo al-
guns exemplos com take: take for (confundir alguém com outra pessoa;
aceitar um certo valor por uma coisa; take by (pegar alguém ou algu-
ma coisa em alguma parte); take aside (tirar uma pessoa de um grupo
para poder falar privadamente com ela); take as (considerar uma pessoa
como sendo um certo tipo de pessoa) etc. Não é tão fácil assim, certo?
Além disso, se hoje o inglês domina, nem sempre foi assim. O grego
dominou amplamente no mundo antigo: “Houve uma primeira globali-
zação
nismo.naFoi
Antigüidade,
na época demas foi anterior
Alexandre, ao Império
o Grande, Romano
a partir e ao300
dos anos cristia-
a.C.
A civilização grega dominava a cultura “mundial”, do atual Afeganistão
(onde os budas são esculpidos como bacos) ao atual Marrocos. A língua
grega ocupava o lugar que o inglês ocupa hoje. Os próprios romanos
possuíam uma cultura grega, assim como o Japão atual é ocidentaliza-
do...” (VEYNE, Folha de São Paulo, 13 de maio de 2007).
Depois foi a época do latim, que foi a língua da cultura até mais
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plica que essa língua, e não outra, seria a ideal para representar a estru-
tura do pensamento: “Segue-se que o que Aristóteles nos dá como uma
tabela de condições gerais e permanentes (do pensamento) é apenas a
projeção conceptual de um determinado estado lingüístico” (BENVE-
NISTE, op. cit., p. 76). No século XVII, os gramáticos de Port-Royal
usaram o latim e o francês para exemplicar também a forma pela qual as
línguas reetiam o pensamento, como vimos no capítulo 1 desta unidade.
O lósofo francês Renan, por sua vez, argumentou que a língua france-
sa, como língua analítica, era mais apta a expressar o pensamento, sendo
clara e elegante (cf. capítulo 5, Unidade A). Quem já não ouviu a idéia de
que o francês é uma língua clara e transparente? Bem, isso é fruto de pro-
paganda intensiva em favor dessa língua, feita já há alguns séculos.
em francês.
O lingüista Calvet (1999) mostrou que as línguas se organizam em
torno de um sistema de poder e prestígio. Ele chamou essa estrutura de
sistema gravitacional, pois, segundo ele, haveria uma língua hipercen-
tral no centro do sistema, em torno da qual gravitam todas as outras
línguas. Atualmente, a língua hipercentral é o inglês. Num segundo ní-
vel do sistema, haveria as línguas do tipo supercentral, como o árabe, o
chinês, o espanhol, o francês, o russo, o hindi e o português. As línguas
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Repare que assumir essa valorização social das línguas não equivale
a assumir o relativismo lingüístico. Teorias como a de Calvet enfatizam
valores sociais associados aos usos das línguas, mas nada dizem sobre a
natureza intrínseca de cada língua. Dessa forma, nada se arma sobre
possíveis relações entre língua e pensamento.
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Referências
CAVALLI-SFORZA,
nhia das Letras, 2003.Luigi. Genes, povos e línguas. São Paulo: Compa-
CHOMSKY, Noam. Entrevista a Rodrigo Garcia Lopes. Folha de São
Paulo, 29-04-2007.
CÍCERO, Antônio. A losoa e a língua alemã. Folha de São Paulo, 5-5-
2007.
CLARKE, Desmond. Descartes. A biography. Cambridge: Cambridge
University Press, 2006.
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Barral, 1971.
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