Você está na página 1de 15

PSICOLOGIA E

A PESSOA COM
DEFICIÊNCIA

Caroline Corrêa
Fortes Chequim
O direito à inclusão
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir deficiência.
 Reconhecer como deve ser incluída a pessoa com deficiência.
 Identificar os direitos da pessoa com deficiência.

Introdução
O direito à inclusão social da pessoa com deficiência é resultado de um
caminho de lutas, especialmente dos movimentos sociais ligados a essa
causa, de pesquisadores, deficientes e seus familiares. No percurso dessa
mobilização, a publicação do Estatuto da Pessoa com Deficiência, em
2015, trouxe ainda mais avanços na busca por uma sociedade inclusiva.
Neste capítulo, você vai estudar o contexto da implementação dos
direitos das pessoas com deficiência (PCDs) no Brasil, tanto no âmbito
educacional como no ambiente corporativo. Também vai conhecer as
nomenclaturas utilizadas ao longo da história dessa população no Brasil.
Além disso, você vai ver como as pessoas com deficiência devem ser
reconhecidas na sociedade, ou seja, enquanto sujeitos de uma cons-
trução histórico-social — portanto, você vai estudar o preconceito, a
discriminação e a legislação, verificando a necessidade de uma sociedade
de fato inclusiva. Por fim, você vai conhecer os direitos das pessoas com
deficiência no Brasil. Vai ver quando esses direitos surgiram e por que
ainda é necessário debatê-los no século XXI.

Deficiência
Você já deve ter lido ou escutado as pessoas com deficiência serem chamadas
de “deficientes”, “pessoas com necessidades educacionais especiais”, “pessoais
especiais”, “retardados” e tantas outras nomenclaturas impostas pela sociedade,
seja no ambiente educacional, seja no ambiente empresarial. Aranha (2006, p. 21)
2 O direito à inclusão

destaca que a deficiência, no modelo médico, pode ser compreendida como


“[...] qualquer tipo de perda ou anormalidade que limite as funções físicas,
sensoriais ou intelectuais de uma pessoa”.
Você deve ficar atento para não confundir os termos “deficiência” e “doença”.
Eles podem parecer semelhantes em determinadas situações, mas na verdade
são diferentes. As doenças são um conjunto de sinais, de sintomas que afetam
o estado normal de saúde física ou mental de um indivíduo. Gaudenzi e Ortega
(2016), ao contextualizarem o termo deficiência, apontam que ele representa
um estado patológico que reflete a ausência, a insuficiência, a improbabilidade
de funcionamento de determinado órgão, membro ou mesmo da psique do
indivíduo. Veja:

Um exemplo da expressividade dos estudos críticos foi a relevância que


ganharam seus questionamentos à linguagem sobre a deficiência utilizada
na Classificação Internacional de Lesão, Deficiência e Handicap (ICIDH),
proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1980. Os críticos
reivindicavam a descrição da deficiência como uma questão de direitos hu-
manos e não apenas biomédica. Neste momento a interpelação de natureza
política tinha como um dos principais alvos a relação de causalidade entre
impairments, disabilities e handicaps assumida pela ICIDH. De acordo com a
mesma, impairments significava perda ou anormalidade de uma estrutura ou
função corporal — psicológica, fisiológica ou anatômica; disability significava
a restrição ou perda da capacidade de performance de atividades de forma
considerada normal para os seres humanos; e handicap era a desvantagem de
uma pessoa individual oriunda do impairment ou da disability que a limita
de desempenhar um papel que é normal em determinado grupo. Para os
críticos, a afirmação da relação de causalidade entre essas condições refle-
tia a soberania da linguagem biomédica e a ênfase em propostas curativas.
Como resultado da revisão da ICIDH, em 2001, foi aprovada a Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) (GAUDENZI;
ORTEGA, 2016, p. 3062).

Com base na classificação de deficiência da OMS, no Brasil foram adota-


das as definições: deficiência visual, deficiência auditiva, deficiência física,
deficiência intelectual, transtorno do espectro autista e síndromes (ORGANI-
ZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE , 2010). O Decreto nº. 5.296 (BRASIL, 2004)
definiu as pessoas com deficiência como aquelas que possuem limitações,
incapacidades para aprendizagem e para desempenhar qualquer atividade.
A deficiência auditiva (DA) é entendida como a perda total ou parcial da
audição, podendo ser detectada em um ou ambos ouvidos, caso em que será
bilateral. As crianças podem fazer uso ou não do aparelho de amplificação
sonora individual (AASI), bem como passar por uma cirurgia de implante
O direito à inclusão 3

coclear (IC). A DA pode ser classificada em vários níveis: leve, moderada,


severa ou profunda. Nos casos em que há perda severa ou profunda, normal-
mente o indivíduo identifica-se com a comunidade surda, sendo usuário da
Língua Brasileira de Sinais (Libras), uma língua gestovisual que os surdos
utilizam para se comunicar com os ouvintes e para melhorar sua aprendizagem
(QUADROS; KARNOPP, 2004).
A deficiência visual (DV) é caracterizada pela perda parcial ou total da
visão em um ou ambos os olhos. Tal perda não pode ser corrigida com o uso de
óculos ou com tratamento cirúrgico. Ela pode ser classificada de duas formas:
visão subnormal (perda leve, moderada, severa ou profunda que diminui as
respostas e reflexos, mesmo com tratamento óptico) e cegueira (ausência de
visão em um ou nos dois olhos).
A deficiência física (DF) é uma alteração motora que pode ser completa
ou parcial e afetar uma ou mais partes do corpo humano, levando à perda das
funções motoras. Os tipos de DF são: paralisia cerebral, hemiplegia, tetraplegia,
paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, triplegia, amputações e
patologias do sistema nervoso central.
A deficiência intelectual (DI), chamada anteriormente de deficiência
mental, envolve alterações no funcionamento intelectual do indivíduo. Ou
seja, ele pode apresentar limitações que afetam a sua sociabilidade. A DI é
classificada em leve, moderada, grave ou profunda.
O transtorno do espectro autista (TEA) era classificado como uma das
formas de deficiência intelectual, no entanto, devido às suas características e
peculiaridades, foi classificado como um transtorno a partir de 2009. O TEA
é um grupo de transtornos que afeta a interação social, o comportamento do
indivíduo, a repetição dos comportamentos e os interesses por determinada
coisa ou objeto.
O conceito de mobilidade reduzida, por sua vez, faz referência às pes-
soas que não se enquadram nas deficiências anteriores e não conseguem se
movimentar temporária ou permanentemente, tendo redução na flexibilidade
e na coordenação motora (BRASIL, 2004).
Para definir as deficiências, é necessário realizar um retrospecto histórico
das suas nomenclaturas. No período colonial, a educação da pessoa com
deficiência envolvia práticas excludentes. Predominava o encarceramento em
prisões, asilos e hospitais, bem como o isolamento da sociedade. As famílias
eram obrigadas a deixar seus descendentes e parentes em casa, pois, se saíssem
de casa e houvesse alguma desordem pública, essas pessoas poderiam ser
internadas nas Santas Casas de Misericórdia.
4 O direito à inclusão

As Santas Casas de Misericórdia, criadas pela Igreja Católica, surgiram no Brasil em 1731,
em Salvador. Elas tinham como objetivo principal atender, acolher e assistir crianças
que eram abandonadas por seus familiares. Para que isso acontecesse e os familiares
não fossem identificados, as crianças eram colocadas nas rodas dos expostos. Do lado
de fora do edifício, a roda recebia crianças deixadas pelas famílias, que se mantinham
incógnitas. Quando era girada, a roda trazia as crianças para dentro do edifício. Assim,
as freiras as recolhiam e as assistiam nas suas necessidades, evitando que fossem
mortas (ARANHA, 1997).

Lanna Junior (2010) evidencia a história do movimento político da pessoa


com deficiência no Brasil ao relatar o tratamento dispensado às pessoas com
hanseníase:

[...] as pessoas com hanseníase eram isoladas em espaços de reclusão como


o Hospital dos Lázaros, fundado em 1741. A pessoa atingida por hanseníase
era denominada de “leprosa”, “insuportável” ou “morfética”. A doença pro-
vocava horror pela aparência física do doente não tratado — eles possuíam
lesões ulcerantes na pele e deformidades nas extremidades do corpo —, que
era lançado no isolamento dos leprosários e na exclusão do convívio social
(LANNA JUNIOR, 2010, p. 20).

No período imperial, ocorreram importantes ações do governo brasileiro


com vistas à criação de institutos nacionais para pessoas com deficiência, tal
como o Hospital Dom Pedro II, criado no Rio de Janeiro, em 1841, por meio
do Decreto nº. 82/1841 (BRASIL, 1841). Esse hospital era destinado às pessoas
alienadas (SAVIANI, 2008).
Já para as pessoas cegas e surdas foram implementados o Instituto Impe-
rial dos Meninos Cegos e o Instituto Imperial dos Surdos, ambos no Rio de
Janeiro, em 1854 e 1856, respectivamente. Os institutos tinham como objetivo
alfabetizar, ensinar a religião, os ofícios manuais, as ciências e a astronomia a
essas pessoas. A ideia era que tivessem conhecimento para adquirir e receber
a herança (SAVIANI, 2008).
No período republicano, as crianças com deficiência eram chamadas de
“retardadas” e “doentes mentais”. Assim, um dos maiores desafios desse perí-
odo foi encontrar professores especializados e habilitados para trabalhar com
essa população. As Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAEs)
O direito à inclusão 5

tiveram um papel fundamental na formação de professores, na alfabetização


e na socialização das crianças com deficiência (SAVIANI, 2008).
Mais tarde, na década de 1950, surgiu o movimento exclusivista, que
separava as crianças com deficiência das crianças sem deficiência (na época
classificadas como normais). No geral, a aprendizagem das crianças nessas
escolas especiais era menor e o seu rendimento ficava aquém do ideal para a
idade que possuíam (SAVIANI, 2008).
Na década de 1980, um movimento de pesquisadores e familiares de crian-
ças com deficiência se fortaleceu e lutou para crianças serem incluídas nas
escolas regulares. Surgiu então o movimento integracionista, que ganhou
forças principalmente com a expansão da Secretaria de Educação Especial
(CENESP) no Ministério da Educação (QUADROS; KARNOPP, 2004).
A partir desse movimento, as pessoas com deficiência foram integradas
na mesma escola regular que as crianças sem deficiência. A priori, essa in-
tegração propiciou maior e melhor aprendizagem das crianças, no entanto
os profissionais não estavam preparados para trabalhar com essa população.
Afinal, a formação inicial dos professores que atuavam nessa época não
incluía disciplinas e/ou discussões referentes a essa temática. Portanto, como
poderiam trabalhar adequadamente com essas crianças?
Aos poucos, os cursos de formação continuada foram se alterando, com
a supervisão e a regulação do Ministério da Educação e da SERES, que
evidenciou a necessidade de mudança na estrutura curricular dos cursos
para propiciar uma formação mais adequada. Em 1994, com a Declaração
de Salamanca, o Brasil, seu signatário, assumiu o compromisso de iniciar
o processo de inclusão. Em 1996, foi publicada a nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº. 9.394/1996 (BRASIL, 1996), que
evidenciou a educação especial como uma modalidade de ensino.
Desde então, o movimento inclusivista foi implementado no Brasil, nas
escolas públicas e privadas. Houve a publicação de leis e decretos posteriores à
LDB que indicaram a necessidade de melhorar a acessibilidade arquitetônica,
curricular, atitudinal e procedimental para as crianças. Assim, os cursos
de formação de professores precisaram ser revistos. Além disso, cursos de
formação continuada, como especializações, cursos de atualizações e cursos
de aperfeiçoamentos, foram criados para discutir as melhores práticas de
ensino para as crianças.
Atualmente, a nomenclatura mais adequada e utilizada é “pessoa com
deficiência”, em substituição à expressão “pessoa portadora de deficiência”.
Nesse sentido, entende-se que quem possui a deficiência não tem a possibilidade
de não possui-la, ou seja, o termo “portadora” não é adequado.
6 O direito à inclusão

O maior hospital psiquiátrico brasileiro é o Hospital Colônia, localizado em Barbacena,


Minas Gerais. Nesse hospital, ocorreu a morte de mais de 60 mil brasileiros internados
compulsoriamente, muitas vezes sem necessidade. Para saber mais sobre esse assunto,
uma boa leitura é Holocausto brasileiro: vida, genocídio e 60 mil mortes no maior hospício
brasileiro, da jornalista Daniela Arbex.

Como incluir a pessoa com deficiência?


A publicação do Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei Federal nº. 13.146/2015
(BRASIL, 2015), trouxe avanços importantes. Além disso, vários pesquisa-
dores, familiares e segmentos da população têm lutado para que a sociedade
seja inclusiva não apenas na lei, mas na prática.
É necessário que as necessidades das pessoas com deficiência sejam perce-
bidas para que a inclusão ocorra de fato na educação, na saúde, na locomoção,
no esporte, na cultura, no lazer, na religião e em tantos outros contextos.
Contudo, o que se observa é que as pessoas, em vez de incluir os diferentes,
acabam excluindo-os ao não propiciar a acessibilidade arquitetônica, curricular,
instrumental e comunicacional. Dessa forma, como é possível reconhecer
os direitos das pessoas com deficiência na sociedade e como elas devem ser
incluídas?
Esse e outros tantos questionamentos são importantes para que a inclusão
aconteça plenamente. Isso só vai ocorrer se houver o comprometimento de
escolas, instituições de ensino, empresas, ONGs, etc. que compreendam as
limitações de cada deficiência e viabilizem as adequações necessárias para
a inclusão.
A inclusão ocorre não apenas nas placas indicativas em filas preferenciais,
mas por meio de ações que contribuem de fato para o reconhecimento das
pessoas com deficiência. Entre essas ações, você pode considerar:

1. o ensino de Libras para todos, independentemente do curso ou da


vivência, para que essa língua seja disseminada no Brasil, tendo em
vista que é a segunda língua oficial do País (BRASIL, 2002);
2. o uso de piso tátil e de placas indicativas, de semáforo sonoro, materiais
e móveis em Braille para os cegos;
O direito à inclusão 7

3. o uso da comunicação alternativa para todas as pessoas com deficiência


intelectual e TEA;
4. a adaptação da arquitetura dos imóveis, dos carros, dos transportes
públicos e das calçadas para os deficientes físicos.

Assim, com respeito a todos e prezando pela igualdade, a sociedade, de fato,


caminhará para a inclusão. Na Figura 1, a seguir, você pode ver a evolução do
emprego formal das pessoas com deficiência no Brasil, conforme relatório do
Ministério do Trabalho (BRASIL, 2017).

Figura 1. Evolução do emprego formal de pessoas com deficiência no Brasil (2011 a 2015).
Fonte: Ministério do Trabalho (2017).

Para aprender mais sobre a inclusão de pessoas com


deficiência, leia o Estatuto da Pessoa com Deficiência, dispo-
nível no link ou código a seguir. Esse documento apresenta
as alterações realizadas na legislação brasileira para o apoio
à inclusão e a inserção das pessoas com deficiência no País.

https://goo.gl/QJyQBh
8 O direito à inclusão

Os direitos da pessoa com deficiência


A Constituição Federativa do Brasil, promulgada em 1988 (BRASIL, 1988),
garante o direito de todos à educação, à saúde, à segurança e à vida. Contudo,
para que exista a equalização de direitos e deveres, bem como o cumprimento
das leis de acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência, são necessárias
mudanças nos hábitos e costumes da população.
Em relação ao transporte, é necessário que exista gratuidade ou desconto
em passagens no transporte público, intermunicipal e interestadual. Com isso,
a adequação e a acessibilidade devem ser garantidas pelas empresas para que
a mobilidade seja atendida. Há também a necessidade de reserva de vagas para
as pessoas com deficiência, que têm prioridade para ocupar os assentos. Além
disso, devem ser reservadas vagas em estacionamentos públicos e privados
(desde que o automóvel esteja cadastrado para o transporte de pessoas com
deficiência, seguindo a legislação de trânsito).
Já no campo trabalhista, os concursos devem garantir a reserva de no
mínimo 5% das vagas para as pessoas com deficiência. Muitas pessoas não
sabem, mas a Lei de Cotas garante horário de serviço reduzido a essa po-
pulação, dependendo de suas limitações, sem prejuízo salarial, desde que a
deficiência seja comprovada com laudo médico. A recusa de empregar pessoas
com deficiência sem uma justificativa plausível ou aceitável pelo Ministério do
Trabalho é motivo para que a empresa seja denunciada e processada com multa.
No que se refere à educação, as pessoas com deficiência têm o direto
de ocupar 5% do total de vagas nas universidades públicas; em instituições
privadas, devem existir programas para atender a esses estudantes. Na edu-
cação básica, é fundamental que a lei seja cumprida, ou seja, todos devem
ter a escolarização garantida. Todavia, para que os direitos das pessoas com
deficiência sejam garantidos, é necessário que o preconceito e a discriminação
sejam continuadamente descontruídos e combatidos.
As pessoas com deficiência também estão isentas de tributos previstos na
Constituição Federativa do Brasil (BRASIL, 1988), tais como: IPVA e IPI em
automóveis utilitários. Para que isso ocorra, o Código Nacional de Trânsito
Brasileiro regulamentou que não há necessidade de o carro ser adaptado, mas
o comprador deve apresentar os documentos necessários para a aquisição do
veículo. No caso de pessoas com deficiência física e mobilidade reduzida, os
carros devem ser adaptados. Vale destacar que os automóveis das pessoas com
deficiência devem manter o selo de identificação no vidro dianteiro.
O direito à inclusão 9

Até o século XIX, de acordo com Mazzotta (2001), as crianças com deficiência não tinham
direito de herdar a herança dos pais ou responsáveis falecidos, pois acreditava-se que
essas pessoas não possuíam capacidade mental para gerir o patrimônio que receberiam
de suas famílias. Todavia, com os avanços da medicina e da área clínica, observou-se
que as crianças poderiam receber a herança desde que a deficiência intelectual não
fosse severa ou profunda, podendo ser tuteladas por meio de curadores.
Nesse sentido, a Reforma Trabalhista ocorrida em 2017 no Brasil definiu que as crianças
e as pessoas com deficiência, caso não existam familiares vivos que possam assisti-las,
podem ser tuteladas por curadores nomeados pelo Ministério Público.

Além disso, a Lei nº. 9.394/1996 (BRASIL, 1996) se refere à importância


do uso do cão-guia, o que se relaciona ao direito dos deficientes visuais de
transitar e se locomover em todo o território brasileiro, inclusive em viagens
nacionais e internacionais.
De acordo com o art. 8º da Lei nº. 7.853/1989 (BRASIL, 1989), será punido
com pena de reclusão de 1 a 4 anos e multa:

a) quem recusar, suspender, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a


matrícula de aluno com deficiência;
b) impedir o acesso de pessoa com deficiência a qualquer cargo público;
c) negar trabalho ou emprego ao deficiente;
d) recusar, retardar, diminuir ou dificultar a internação hospitalar ou
deixar de prestar assistência médico-hospitalar ou ambulatorial, quando
possível à pessoa com deficiência.

Como você viu, ao longo dos séculos, os deficientes foram adquirindo


seus direitos e também deveres para a convivência em uma sociedade justa
e igualitária. Em resumo, a Constituição Federal regulamenta o direito à
igualdade de todos, bem como o direito ao acesso e à permanência das pes-
soas com e sem deficiência em espaços públicos e privados, além do direito à
vida e à segurança. Para tanto, é importante a colaboração, a participação e o
envolvimento do Estado e dos cidadãos. Assim, de fato, é possível construir
uma sociedade justa, igualitária e sem discriminação.
10 O direito à inclusão

1. O direito à inclusão é uma Assim, para que a inclusão exista


garantia estabelecida pela de fato, é necessário que atinja:
Constituição Federal de 1988. a) a todos, independentemente da
A Constituição garante: limitação e da potencialidade.
a) somente a acessibilidade b) apenas os institutos especiais.
educacional. c) somente as instituições especiais.
b) somente a acessibilidade a d) a todos que frequentam o
transporte e segurança. atendimento regular.
c) a acessibilidade em todos e) a todos que frequentam
os setores da sociedade. as empresas inclusivas.
d) a acessibilidade em todos os 4. Em relação à empregabilidade
setores, exceto aos idosos. das pessoas com deficiência,
e) a acessibilidade a todos os assinale a alternativa correta.
setores da comunidade, exceto a) A empresa só pode
aos menores de idade. contratar PCDs leves.
2. No que se refere à educação b) A empresa só pode contratar
das pessoas com deficiência, deficientes físicos.
atualmente se destaca a educação c) A empresa deve contratar
inclusiva. Sobre esse assunto, qualquer PCD que se
assinale a alternativa correta. candidatar à vaga.
a) A escola inclusiva garante a d) A empresa não precisa
acessibilidade a todos os alunos, contratar PCDs.
atendendo às limitações e às e) A empresa contrata
necessidades de cada um. só 5% de PCDs.
b) A escola inclusiva garante 5. Assinale a alternativa que
apenas a acessibilidade às apresenta as principais barreiras
pessoas com deficiência física. para as pessoas com deficiência
c) A escola inclusiva trata de forma no mercado de trabalho.
indiferente as pessoas com a) Acessibilidade e gestores
deficiência, sem considerar suas despreparados.
limitações e potencialidades. b) Acessibilidade e setor de
d) A escola inclusiva garante recursos humanos.
somente a acessibilidade c) Acessibilidade, setor
comunicacional aos alunos de recursos humanos,
que se destacam. benefícios da Previdência e
e) A escola inclusiva integra gestores despreparados.
todos os estudantes com d) Foco exclusivo para cotas.
qualidade, evidenciando suas e) Foco exclusivo para cotas,
necessidades e limitações. acessibilidade e baixa
3. O conceito de inclusão surge com a qualificação dos PCDs.
Declaração de Salamanca, em 1994.
O direito à inclusão 11

ARANHA, M. L. A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo:


Moderna, 2006.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal, 1988.
BRASIL. Decreto 5.296, de 02 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8
de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e
10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos
para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mo-
bilidade reduzida, e dá outras providências. 2004. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm>. Acesso em: 20 ago. 2018.
BRASIL. Decreto nº. 82, de 18 de julho de 1841. Fundando um Hospital destinado priva-
tivamente para tratamento de Alienados, com a denominação de Hospício de Pedro
Segundo. 1841. Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/legislacao/DetalhaSigen.
action?id=385725>. Acesso em: 20 ago. 2018.
BRASIL. Lei nº. 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras
de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração
da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses
coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define
crimes, e dá outras providências. 1989. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
Ccivil_03/Leis/L7853.htm>. Acesso em: 20 ago. 2018.
BRASIL. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
L9394.htm>. Acesso em: 20 ago. 2018.
BRASIL. Lei nº. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais e
dá outras providências. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/2002/l10436.htm>. Acesso em: 20 ago. 2018.
BRASIL. Lei nº. 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). 2015. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 20 ago. 2018.
BRASIL. Ministério do Trabalho. Relação anual de informações sociais. 2017. Disponível
em: <http://trabalho.gov.br/rais>. Acesso em: 20 ago. 2018.
CAOLI, C. 81% contratam pessoas com deficiência só 'para cumprir lei'. G1, maio 2015.
Disponível em: <http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2014/11/81-con-
tratam-pessoas-com-deficiencia-so-para-cumprir-lei.html>. Acesso em: 20 ago. 2018.
GAUDENZI, P.; ORTEGA, F. Problematizando o conceito de deficiência a partir das noções
de autonomia e normalidade. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 10, 2016. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v21n10/1413-8123-csc-21-10-3061.pdf>. Acesso
em: 20 ago. 2018.
12 O direito à inclusão

LANNA JÚNIOR, M. C. M. História do movimento político das pessoas com deficiência no


Brasil. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Promoção dos
Direitos da Pessoa com Deficiência, 2010.
MAZZOTTA, M. J. S. Educação especial no Brasil: histórias e políticas públicas. São Paulo:
Cortez, 2001.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Relatório Mundial da Saúde. Financiamento dos
sistemas de saúde: o caminho para cobertura universal. 2010. Disponível em: <http://
www.who.int/whr/2010/whr10_pt.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2018.
QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
SAVIANI, D. A pedagogia no Brasil: história e teoria. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 2008.

Leituras recomendadas
ARBEX, D. Holocausto brasileiro. São Paulo: Geração Editorial, 2013.
BRASIL. Decreto nº. 7.612, de 17 de novembro de 2011. Institui o plano nacional dos direi-
tos da pessoa com deficiência - plano viver sem limite. 2011. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7612.htm>. Acesso em:
20 ago. 2018.
BRASIL. Lei nº. 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o plano nacional de educação e
dá outras providências. 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm>. Acesso em: 20 ago. 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CBE nº. 2, de 11 de setembro de 2001. Institui
as diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. 2001. Disponível
em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0201.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2018.
BRASIL. Senado Federal. Estatuto da pessoa com deficiência. Brasília: Senado Fede-
ral, 2015. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/
id/513623/001042393.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2018.
Conteúdo:

Você também pode gostar