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Sumário
FACULESTE ............................................................................................ 2
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3
OS ESPECIAIS ...................................................................................... 23
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 47
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FACULESTE
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INTRODUÇÃO
Ninguém pode duvidar que, desde a emergência da cultura digital, nos
anos 1980-90 e cada vez mais crescentemente, estamos imersos em ambientes
interativos, de natureza dialógica.
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preponderem sobre as outras. O dialogismo é comunicação interativa
em que cada um se vê e se reconhece através do outro.
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elaborações da comunicação cultural organizada em sistemas específicos como
a ciência, a arte e a política” (2005, p.155).
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A partir disso, Machado propõe que os gêneros discursivos podem ser
vistos sob o ponto de vista ontogenético e filogenético. Os primeiros realizam-se
nas interações produzidas na esfera da comunicação verbal.
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A alfabetização informacional, designação resultante da tradução e
interpretação da expressão americana information literacy, requer uma
alfabetização no sentido tradicional (saber ler e escrever verbalmente), mas
também uma alfabetização visual (saber ler e escrever mensagens visuais), uma
alfabetização audiovisual (saber ler e escrever mensagens audiovisuais) e ainda
competências informáticas.
Eshet (2004 apud COLL et al., 2010) foi ainda mais longe na
constatação da complexidade envolvida pelos meios digitais.
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O HIBRIDISMO DA HIPERMÍDIA
A hipermídia mescla o hipertexto com a multimídia. O prefixo hiper, na
palavra hipertexto, refere-se à capacidade do texto para armazenar informações
que se fragmentam em uma multiplicidade de partes dispostas em uma estrutura
reticular.
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A explicação parece complicada, mas é justamente o que o usuário faz ao
ler um documento nas redes, quando clica em palavras sublinhadas ou coloridas
para obter informações que estão localizadas em outros documentos. Desse
modo, a estrutura do hipertexto é multilinear, passa-se de um ponto a outro da
informação, com um simples e instantâneo clique ou toque, no caso dos i-Pads
e tablets.
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As telas se enchem de sinais de orientação, de imagens, fotos, desenhos,
animações, sons de distintas espécies e certamente de palavras, legendas e
textos. Essas aparições dependem da interatividade do agente-usuário que vai
conectando informações por meio de links.
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Portanto, a hipermídia é composta por conglomerados de informação
multimídia (verbo, som e imagem) de acesso não sequencial, navegáveis
através de palavras-chave semialeatórias. Assim, os ingredientes da hipermídia
são imagens, sons, textos, animações e vídeos que podem ser conectados em
combinações diversas, rompendo com a ideia linear de um texto com começo,
meio e fim pré-determinados e fixos.
(c) Buscar, ou seja, esforçar-se para encontrar o alvo que tem em mente.
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É imersivo porque, no espaço informacional, perambula e se detém em
telas e programas de leituras, num universo de signos evanescentes e
continuamente disponíveis. Cognitivamente em estado de prontidão, esse leitor
conecta-se entre nós e nexos, seguindo roteiros multilineares, multissequenciais
e labirínticos que ele próprio ajuda a construir ao interagir com os nós que
transitam entre textos, imagens, documentação, músicas, vídeo etc. Através de
saltos que vão de um fragmento a outro, esse leitor é livre para estabelecer
sozinho a ordem informacional que lhe apetece.
É bem verdade que, cada vez mais as redes estão sendo povoadas de
aplicativos que já entregam ao leitor aquilo que procura, sem que tenha de
navegar em processos de busca. Além disso, nos últimos anos, as
transformações por que tem passado a cultura digital e a aceleração dessas
transformações são vertiginosas, especialmente devido à emergência dos
dispositivos móveis.
Tanto é que, nesse curto espaço de tempo, surgiu um quarto tipo de leitor
que batizei de leitor ubíquo (SANTAELLA, 2013, p.277-284), uma denominação
que já está também aparecendo a outros pesquisadores da cultura digital, o que
só vem comprovar sua inquestionável presença.
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Ela é, na realidade, uma nova configuração das linguagens humanas,
assim como o livro, o jornal, o cinema e o vídeo foram e continuam sendo
configurações de linguagens com características próprias. Trata-se de uma
dinâmica de linguagem que modifica substancialmente a condição do receptor.
Este se transforma em cocriador de mensagens que se constroem por meio de
sua interação. Além disso, as plataformas atuais, como os blogs, as redes sociais
-- e mesmo as wikis -- permitem que o antigo receptor se converta em produtor
e divulgador de suas próprias mensagens, traço fundamental desse novo tipo de
gênero discursivo que, além de híbrido, coloca nas mãos do usuário o destino
de suas viagens e perambulações pelas redes, suas trocas e compartilhamentos
no diálogo com o outro.
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science, que se refere ao estudo prévio dos dados, e a data
visualization, que estuda as suas formas de apresentação e
visualização.
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estudo realizado por Colussi e Firmino (2016) em que caracterizam os
elementos da narrativa long-form. Neste estudo são analisadas duas
recentes manifestações do jornalismo de dados no Brasil: as
reportagens especiais Floresta sem fim.
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[01] De agora em adiante, para simplificar a redação e a leitura, serão
utilizados os nomes populares dos jornais mencionados: Folha e Estadão.
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O último passo seria a visualização criada por meio do uso de ferramentas
de design gráfico.
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As possíveis definições de jornalismo de dados (Bradshaw e Rohumaa,
2013; Gray e Bounegru, 2012; Rogers, 2011) se relacionam de forma clara com
o conceito e a realidade da convergência. Infere-se, desse modo, que a narrativa
jornalística cujas bases estão no big data pode ser desenvolvida de acordo com
os preceitos da hipermídia (Landow, 1995) e da transmídia (Jenkins, 2003;
2006).
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reportagens especiais– e às técnicas de web design imersivo, como o parallax
scrolling.
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Os links, neste caso, se transformam na parte visível da multidão de
dados na qual se baseia o conteúdo informativo hipernarrado. Gosciola
(2003) considera que a narrativa hipermídia ocorre através de uma
leitura não linear construída por meio do acesso simultâneo e interativo
a conteúdos textuais e audiovisuais. Sua definição destaca a
importância da experiência do usuário, já que cada leitor interage com
a narrativa e a utiliza de um modo particular, estabelecendo uma
trajetória própria de acordo com as suas preferências e interesses.
Assim, é possível inferir que a narrativa hipermídia faz sentido somente
a partir do movimento. Pode-se dizer que a dinâmica desse tipo de
relato depende da decisão do usuário de navegar pelos diferentes
recursos disponíveis para ter acesso à informação e ativar, desta
forma, a estrutura narrativa construída por meio da sobreposição de
dados.
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Assim, é possível satisfazer o público afim à leitura e também o público
que prefere ter acesso à informação por meio de conteúdos audiovisuais.
Finalmente, pode-se dizer que o data journalism se produz a partir de inúmeros
dados brutos recolhidos de diferentes fontes, tanto públicas quanto privadas, os
quais recebem um tratamento jornalístico que inclui, além de um importante
trabalho de análise e interpretação, uma série de recursos capazes de torná-los
acessíveis e atraentes à audiência. Em uma narrativa hipermídia, deve-se
contemplar a capacidade de acessar arquivos em formatos variados, bem como
infográficos, mapas interativos, galerias de fotos, vídeos ou slideshows.
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b) Tipos de link: é importante conhecer o destino de cada link inserido na
reportagem. Para isso, definiu-se uma série de categorias a fim de identificar se
os links enviam o usuário a outras partes dentro do site do próprio cibermeio, a
outros meios de comunicação, a bancos de dados, a fontes de informação
(instituições, pessoas, etc.), dentre outros.
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OS ESPECIAIS
A reportagem Floresta sem fim. Como salvar a natureza no Brasil e o clima
na Terra, da Folha, forma parte da série de especiais ‘Tudo sobre’, publicada
pelo jornal desde dezembro de 2013. Além da introdução, o especial conta com
quatro capítulos que abordam a questão do desmatamento, principalmente nas
regiões Centro e Norte do Brasil –incluindo a Amazônia–, enfatizando como a
economia da madeira e a criação de gado está prejudicando o meio ambiente.
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referem às legislaturas de Néstor Kirchner e de Cristina Fernández de Kirchner,
em que apresentam uma timeline com os principais fatos que marcaram o
período transcorrido entre 2003 e 2015.
CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA
Os elementos utilizados na estruturação da narrativa jornalística nestes
especiais são determinantes para a criação de uma reportagem hipermídia, que
inclui conteúdos multimídia e links.
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Considerando que o objetivo principal deste estudo é verificar a
composição da narrativa hipermídia em ambas as publicações, na tabela 1,
relacionam-se os recursos usados pelos jornais Folha e Estadão, assim como a
frequência com que aparecem em cada especial.
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A maioria das fotografias (59) forma parte de 13 slideshows com dois tipos
de configurações distintas. No tipo mais utilizado pela Folha (8), o usuário deve
clicar várias vezes para que a imagem 1 se transforme na imagem 2. Trata-se
de um fluxo vertical de imagens, como se observa na figura 2.
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Ao elaborar a informação gráfica, o programa automaticamente insere o
link no perfil do jornal. Os demais links são de Open Street Maps, o software
utilizado para desenhar os mapas que aparecem na reportagem. Isso significa
que os links incluídos ao longo dos capítulos não buscam ampliar a informação
do conteúdo nem oferecem transparência ao público. Por outro lado, a
reportagem do Estadão apresenta uma estrutura narrativa mais linear, composta
por 43 fotografias, 10 vídeos e 8 infográficos (ver tabela 1).
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que mescla conteúdo audiovisual com fotografias. Como se vê na figura 6, a
timeline incluída no segundo capítulo exibe 6 vídeos e 12 fotos com uma
descrição dos fatos que ocorreram entre 2003 e 2015 nos governos dos Kirchner.
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Por último, convém destacar que o Estadão traz a reprodução de imagens
em duas situações: a primeira se refere a uma notícia sobre a marcha reprimida
na Argentina, publicada pelo jornal em 1982, e a segunda imagem é da
propaganda eleitoral do então candidato Macri.
OPÇÕES DE INTERATIVIDADE
A análise da interatividade nas reportagens estudadas baseia-se nas
referências de Cebrian (2005) e Rost (2006), que aplicam o conceito
aos cibermeios em geral, e de Cairo (2008) sobre infográficos
interativos. Considerando as opções de interatividade da reportagem
da Folha, destaca-se a predominância das de tipo seletiva, que estão
presentes nos infográficos interativos, nas fotografias 360º, onde o
usuário pode mover a imagem e utilizar o zoom, nos slideshows e nos
links.
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informativos, verifica-se o uso da instrução, presente num único infográfico
interativo que forma parte da linha do tempo.
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Em três das oito informações gráficas, mencionam-se as seguintes fontes:
Management & Fit, Mercosul, Direção Nacional Eleitoral e Instituto Nacional de
Estatística e Censos (INDEC). Embora o especial do Estadão revele as fontes
informativas em uma porcentagem maior de gráficos que a Folha, ambos os
jornais falham ao não indicar ao público a procedência da maioria dos dados
utilizados nas reportagens.
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Apesar do Estadão manter uma equipe que se encarrega da elaboração
dos infográficos e projetos de jornalismo de dados, como é o caso do Basômetro
(Dantas, Toledo e Teixeira, 2014), parece que a inovação ainda não chegou aos
seus especiais multimídia (Longhi, 2010).
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HIPERMÍDIA – A REMEDIAÇÃO DAS MÍDIAS
Começamos aqui a discutir então a natureza deste conteúdo jornalístico,
remediado e situado neste espaço contemporâneo de escrita, o qual reúne
componentes textuais e estruturais.
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por isso Landow (2009) identifica semelhança com o conceito de
hipertexto e parece haver uma confusão que se estabelece entre os
dois termos: a expressão hipermídia simplesmente estende a noção de
texto hipertextual ao incluir informação visual e sonora, assim como a
animação e outras formas de informação. Tendo em vista que o
hipertexto, ao poder conectar uma passagem de discurso verbal a
imagens, mapas, diagramas e som tão facilmente como a outro
fragmento verbal, expande a noção de texto mais além do meramente
verbal, não farei a distinção entre hipertexto e hipermídia.
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formas dramáticas (como teatro ou cinema); e mesmo entre o público e o autor.
(MURRAY, 2003, p. 71-72). Esse processo previsto por Murray já se configura
na hipermídia. Isso é possível, porque a hipermídia redefine a relação da palavra
e da imagem. Por essas questões levantadas pela literatura, entendemos que
hipertexto e hipermídia não podem ser empregados de maneira indistinta. Por
isso, para melhor explicar nossa ideia, retomemos a discussão sobre a
remediação que se estabelece entre texto e hipertexto e reforçamos esta linha
de raciocínio, desenvolvida na seção anterior.
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renovar as outras linguagens de mídia. No jornalismo, a hipermídia promove a
união de vários formatos midiáticos e expressivos para comunicar a informação.
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explicar essa remediação, assumimos que hipertexto e hipermídia não podem
ser empregados de maneira indistinta. Igualar hipermídia ao hipertexto é olhar
uma face da moeda.
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A NARRATIVA HIPERMÍDIA
A Teoria do Hipertexto continua a nos acompanhar para pensarmos a
questão da narrativa que se configura neste espaço de escrita. No
entendimento de Longhi (1998, p. 50), a narrativa hipertextual é “toda
a obra criada e disponibilizada em hipertexto”. Com essa definição,
queremos dizer que a narrativa precisa ter sido pensada para este
espaço, que chamamos de espaço de escrita digital, e que apresente
características do hipertexto e da hipermídia, não excluindo as obras
que são adaptadas/transformadas do impresso para o espaço de
escrita digital.
De maio de 1993, quando o jornal dos EUA San Jose Mercury News
(GARRISON, 2009) - primeiro veículo de comunicação a lançar versão na web,
aos atentados de 11 de setembro de 2001 no país, foram menos de 10 anos
para o jornalismo se estabelecer no ambiente digital (KATZ, 2001; ZELIZER,
ALLAN, 2002; FERRARI, 2003; MALINI, 2009; MIGOWSKI, 2013).
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De acordo com Migowski (2013, p. 8), o que chamou a atenção à época
foi: “a participação dos interagentes na atualização dos fatos
relacionados ao acontecimento e os conteúdos memoriais que
circularam na rede”.
O autor admite que outros jornais possam ter surgido antes na internet,
mas o San Jose Mercury News foi o primeiro a colocar todo o conteúdo da edição
online.
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A tessitura da narrativa nas primeiras gerações do jornalismo na web
sempre foi pensada dentro dos limites impostos pelos computadores, notebooks
e pela banda de conexão à rede.
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um consumo noticioso personalizado com um simples clique. Este “poder”,
conferido ao leitor, desencadeia determinadas ações que permitem interação.
E esse presente não pode ser enxergado com um olhar simplista, mas
com uma abordagem fundamentada de maneira teórica, interpretativa e
antecipatória.
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A desagregação e a desarticulação de informações, a pouca profundidade
com que os temas são trabalhados pelo jornalismo e a busca pela simplificação
são práticas, de acordo com Fontcuberta (2006), do jornalismo atual.
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complexidade da sociedade, precisamos pensar e analisar a dinâmica que forma
essas histórias.
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de escrita por dois motivos destacados por Mielniczuk e Palacios
(2002): pela potencialização de características importantes ao
hipertexto como a intertextualidade - tanto na produção textual quanto
no percurso da história - e a multimidialidade - por meio da
disponibilização de códigos de várias mídias, interconectados entre si
de maneira que possibilitem a interação entre leitor e narrativa.
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De Mayer (2012), essa possibilidade acrescenta a credibilidade,
transparência e diversidade à informação jornalística. “O hipertexto
torna a notícia mais credível, conduzindo diretamente o leitor para mais
informação de fundo, a mais contexto, fatos e fontes”.
Como elemento chave da redação para a internet, o link pode ter dois
objetivos principais: documental e narrativo (SALAVERRÍA, 2003).
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links de ampliação informativa, links de atualização e links de definição.
Os links também desempenham outras funções vitais para o
jornalismo.
Longhi (1998, p. 53) destaca que “os links até podem estar previstos
no corpo da obra pelo escritor do hipertexto, mas só terão efeito se
utilizados pelo leitor/usuário de forma a concretizar a informação”.
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REFERÊNCIAS
BAJTÍN, M. M. El problema de los géneros discursivos. In: Estética de la creación
verbal. Trad. Tatiana Bubnova. Ciudad del México: SigloVeintiuno, 1982, p.248-
293.
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