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DEIFILO GURGEL

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12 ma| 1995

ROMANCEIRO DE ALCAÇUS
Gurgel, Deífilo
Romanceiro de AJcaçus/Deífilo Gurgel. - Natal: UFRN/PROEX/
Cooperativa Cultural. Ed. Universitária, 1992.
65 P-

1. Literatura popular Norte-rio-grandense. I. Título.

CDU 869.0(813.2)-91
RN/UF/BCZM 92/03 398.5(813.2)
ROMANCEIRO DE ALCAÇUS

í 'EDITORA UNIVERSITÁRIA

Natal - RN
Abril de 1993
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Geraldo dos Santos Queiroz
Reitor
João Felipe da Trindade
Vice-Reitor
Leão Pereira Pinto
Pró-Reitor de Extensão Universitária
Presidente do Conselho Editorial
Elizabeth Raulino Câmara
Diretora da Editora Universitária

Conselho Editorial Editoração


Leão Pereira Pinto Regina Celia Costa
Elizabeth Raulino Câmara Coordenação de Arte
Ciclamio Leite Barreto Alva de Medeiros Costa
Carlos Newton Souza Lima Júnior Revisão
Lélia Batista de Souza Iracema Ivanilda de Araújo
Lígia de Araújo Alves Composição e Editoração Eletrônica
Lúcio Flávio de S. Moreira Jaziel Martins Sá
Maria das Graças do Lago Borges Brígida Maria Mafra
Paulo de Tarso Correia de Melo Capa
Tânia Maria Damasceno de Farias Marconi Grevi
Arte Final
Andrian Serge Maia
Coordenação Gráfica
Francisco Guilherme de Santana
Fotolitos
Luiz França de Sousa
Maria José de Lima
Normalização Bibliográfica Gravação
Gildete Moura de Figueirêdo Manoel Geraldo de Araújo
Catalogação Bibliográfica Impressão
Terezinha de Jesus Silva José Gilberto Xavier
PREFÁCIO

O Romanceiro Popular Nordestino, universo de poemas e canções que inclui desde


a Poesia improvisada dos cantadores, até a Literatura de Cordel e de tradição oral decorada,
é de uma importância profunda para o universo maior da Cultura brasileira. Hoje, mais do
nunca, quando os estudiosos da Cultura e da Arte, em nosso País, afirmam enfaticamente
a posição transnacional e o passadismo da expressão "colonialismo cultural” , e quando,
infelizmente, o apego a idéias derrotistas do tipo "nada nos é estrangeiro, pois tudo nos é” ,
é cada vez maior, reafirmar a importância do nosso Romanceiro, é dever de todos aqueles
que se preocupam com a Cultura brasileira.
Lembro que toda a Estética armorial - base teórica do Movimento idealizado por meu
caro amigo Ariano Suassuna e lançado oficialmente em Recife, em 1970, justamente para
se opor ao processo de deturpação e vulgarização da nossa Cultura, ainda em curso -
encontra seu fundamento primeiro (porém não exclusivo) no Romanceiro Popular Nordestino,
cantado pelos aedos sertanejos de viola de prata, com suas histórias fantásticas sobre os
cavaleiros errantes que são os Cangaceiros, suas armaduras de couro e seus códigos de
Honra, histórias de Reis, Castelos e Princesas, onde ora encontramos Carlos Magno e os
Doze Pares de França, ora as presepadas de Pedro Malasartes, pelos Sertões da Paraíba,
Rio Grande do Norte e Pernambuco, no Cariri, no Piancó, no Pajeú e no Seridó.
Alcaçus não é Sertão. Mas o Romanceiro Popular Nordestino encontra-se presente
em Alcaçus, como encontra-se presente, também, em outros lugares de nossa Região, na
maioria das vezes despercebido. Com Romanceiro de Alcaçus - parte de uma pesquisa
maior, que abrangerá todo o Estado do Rio Grande do Norte - o Professor Deífilo Gurgel
contribui de forma valiosa para o conhecimento do nosso Romanceiro Popular. Deífilo
Gurgel vem se alinhando, cada vez mais, com todos esses escritores grandes que se
preocuparam com o Romanceiro e com a verdadeira Cultura popular brasileira - um
Leonardo Mota, um Câmara Cascudo, um Ariano Suassuna.
Romanceiro de Alcaçus é livro de tanta importância quanto Danças Folclóricas
do Rio Grande do Norte ou João-Redondo - Teatro de Bonecos do Nordeste, ambos do
mesmo autor e publicados pela nossa Editora Universitária.

Carlos Newton Júnior


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Lista de Ilustrações

Fig. 1 - Mapa da Regiào de Alcaçus

Fig. 2 - Entrada da povoaçáo

Fig. 3 - Rua principal da povoaçao

Fig. 4 - Capela de Nossa Senhora das Mercês

Fig. 5 - Alpendres na rua principal

Fig. 6 - Lagoa do Cavalo

Fig. 7 - Manoel de Joana

Fig. 8 - Rendeiras e turistas

Fig. 9 - D. Maria de Aleixo e o esposo Manoel Aleixo

Fig. 10 - D. Isabel Joaquina

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SUMÁRIO

Introdução, 9

O Romanceiro Ibérico, 11

Alcaçus, Alcançus, 13

Alcaçus, a história, 15

Alcaçus, a terra e a gente, 16

Romanceiro de Alcaçus, 25

Informantes, 27

Apresentação dos Romances, 29

Romances de Alcaçus, 32

Solfas, 55

Referências Bibliográficas, 65

7
INTRODUÇÃO

“Romanceiro de Alcaçus" é fruto de uma pesquisa de sete anos que, a partir de 1985,
realizamos para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Esta pesquisa desdobra-se por todo o território do Estado e, além deste, outros livros
serão publicados: “Romanceiro Potiguar", para as escolas e um grosso volume, com todo o
acervo pesquisado, destinado aos estudiosos e pesquisadores que, pelo Brasil a fora,
dedicam-se ao trabalho de recolher e analisar o que nos resta dos romanceiros ibérico e
nacional.

Até o presente momento (maio de 1992), num trabalho individual ou com a


colaboração de professores do interior do Estado, conseguimos coletar 294 versões de
romances ibéricos e brasileiros. A região mais visitada, como não poderia deixar de ser,
pelas facilidades de acesso, dada sua proximidade da Capital, foi o Litoral Leste do Estado,
ao Norte e Sul de Natal, com algumas incursões por municípios da Região Agreste. Nessas
duas regiões, particularmente nas praias ao Norte de Natal, é que o nosso trabalho obteve
o seu melhor rendimento.

Nas Regiões Oeste e Seridó, as pesquisas realizadas revelaram uma pobreza muito
grande, quanto ao Romanceiro Ibérico, particularmente no que diz respeito aos romances
palacianos, histórias galantes de amores e intrigas da nobreza, permeadas de aventuras de
cavalaria. No entanto, no que se refere aos romances que Teófilo Braga classificou de sacros
e devotos, a nossa coleta apresentou um melhor rendimento. Na cidaoe de Japi, limites com
a Paraíba, recolhemos a única versão de que temos notícia no Brasil dos “Mistérios da
Paixão”, cantada por D. Solteira (Josefa Maria da Soledade) e recolhida em Portugal pelo
referido autor.

Antes de nós, outros pesquisadores locais abordaram o Romanceiro Ibérico, em


nosso Estado, mas o fizeram apenas como estudiosos do problema, exceção de Hélio
Galvão, que, em pesquisas de campo, no seu País de Tibau do Sul, contribuiu de maneira
valiosa para o enriquecimento do Romanceiro Ibérico em terras nordestinas.

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Por sua vez, Luís da Câmara Cascudo, no Prefácio e Notas, aos "Contos e Cantos”
de Sílvio Romero (Romero, 1954), dá, para usarmos uma expressão contemporânea, um
verdadeiro banho de erudição, uma aula magistral, sobre o romanceiro tradicional.

Dentro do espaço geográfico que pesquisamos, a povoaçáo de Alcaçus se credencia


para merecer o destaque desta ediçáo.

Foi lá que recolhemos pela primeira vez, no dia 10.08.85, o romance PAULINA E
D. JOÃO, absolutamente inédito, na época, nas coleções dos pesquisadores brasileiros, fora
do Rio Grande do Norte. Além disto, na pesquisa realizada com D. Maria de Aleixo, em
Alcaçus, fizemos a coleta de uma rara versáo do romance galante-religioso da Santa Iria.
Todas estas circunstâncias, aliadas à magia do lugar, com suas dunas e lagoas, seus
coqueirose rendeiras, sua beleza impressionante, colocam Alcaçus numa posiçáo privilegiada,
dentro de nossa pesquisa.

O nome deste livro é uma sugestáo do Prof. Paulo de Tarso Correia de Melo; as
solfas sào da Prof9. Dolores Portela; a capa é do Prof. Marconi Grevy, e a programação visual
ficou por conta da Prof-. Elizabeth Raulino, todos da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Eles contribuíram com o seu trabalho e a sua sensibilidade para tornar ainda mais
belo e acessível o universo mágico do Romanceiro de Alcaçus.

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O ROMANCEIRO IBÉRICO

Romanceiro é o universo de canções versificadas ou poemas musicados que a


Idade Média nos legou, contando/cantando as gestas dos valentes, intrigas palacianas,
descantes de amor.

Vastísssimos poemas, no início, com o passar dos anos e dos séculos, foram sendo
condensados e chegaram ao limiar da Idade Moderna, por volta de 1500, em sua forma atual,
isto é, com apenas algumas dezenas de estrofes.

Dispersos por Espanha e Portugal, vieram para o Brasil nas velhas naus portuguesas
e, aqui, deitaram raízes no gosto popular.

Isolados no Brasil, mantiveram-se fiéis à sua mais longínqua tradição e tanto era a
estima que lhes tinham os brasileiros que, iniciados os estudos sobre o Romanceiro, no
século passado, romances houve que chegaram a ser recolhidos no Brasil, antes que o
fossem em Portugal Caso, por exemplo, do "Juliana e D. Jorge”, coletado por Celuo de
Magalhães, em Recife, ao redor de 1860 e, só depois, registrado pelos pesquisadores
portugueses.

Desse universo de romances continentais que no Brasil andam por volta de


cinquenta, os mais conhecidos entre nós são o Juliana e D. Jorge, a Delgadinha, o Cego e
Aninha, o D. Varão(Donzela qua vai à guerra), o Conde Alberto, o Antonino.

Em nosso Pais, a par dessa corrente tradicional de romances ibéricos, onde se


contam as aventuras galantes e guerreiras da nobreza continental, surgiram novas formas
romanceadas, inspiradas, particularmente, nas lides da pecuária: romances de bois, de
barbatões indomáveis, cavalos misteriosos, vaqueiros destemidos. Outros, falando das
aventuras de valentões sertanejos, Lucas da Feira, o Cabeleira, Zé do Vale e todos os que
se agitam nas páginas de ‘‘Flor de Romances Trágicos”, de Lu is da Câmara Cascudo: (Cascudo,
1982) ou, finalmente, histórias burlescas de amor, espalhadas nos Pastoris, nos Circos de

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Cavalinhos, nos teatros mambembes do interior, universo em cujo estudo é mestre o escritor
e pesquisador baiano, Nelson de Araújo.

No Rio Grande do Norte, o Romanceiro nacional apresenta características especiais,


que facilitam a vida do pesquisador. Assim, no Romanceiro do cangaço, por exemplo, há um
trabalho de Luís da Câmara Cascudo, “Flor de Romances Trágicos”, no qual o ilustre
folclorista enfoca a vida de quinze bandoleiros nordestinos, desde o Cabeleira e José do
Vale, até Jesuíno Brilhante e Antonio Silvino, com exemplos de Romances e ABCs,
contando/cantando as aventuras e desventuras desses valentões. Roteiro fabuloso, para
quem se aventura pelos caminhos do Romanceiro, no Brasil. (Cascudo, 1982).

Outro filão inestimável para a pesquisa do Romanceiro, agora, na área da pecuária


nordestina, é a produção poética de Fabião das Queimadas, “o poeta dos vaqueiros”.
Igualmente estudado por Cascudo, em várias de suas obras, Fabião deixou diversos
romances, a começar pelo famanado “Boi da Mão de Pau", passando pela “Vaca lisa
vermelha, Sussuarana da Serra”, “A Besta de Joana Gomes” e tantos outros.

Como nas danças folclóricas, cujos autos populares foram pesquisados,


documentados e estudados por Mário de Andrade e Luís da Câmara Cascudo, o Rio Grande
do Norte é também um Estado de sorte, na área do Romanceiro popular. Não é qualquer
província que pode se orgulhar de ser o berço de um Luís da Câmara Cascudo ou de um
Fabião das Queimadas, nem de ter recebido, tampouco, a visita de uma figura do porte de
Mário de Andrade, não apenas por desfastio ou curiosidade de visitante, mas para realizar
um trabalho de pesquisa e documentação, que projeta a cultura popular do nosso Estado
como uma das mais importantes do Brasil. (Gurgel,1990).

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ALCAÇUS - ALCANÇUS

Alcaçus, (historicamente sem o n, que o povo acrescentou depois), é uma tranquila


povoação, esquecida entre dunas e lagoas, ao Sul de Pirangi, trinta quilômetros de Natal.
Na saída de Pirangi do Norte para Pirangi do Sul, atravessada a ponte que une as duas vilas,
a estrada se bifurca em frente ao restaurante do Lucrécio. Tomando-se o caminho da
esquerda, vai-se a Pirangi do Sul. A variante da direita leva a Alcaçus.

São três quilômetros de estrada de barro, transpondo ou contornando dunas, até a


entrada da povoação, à margem da Lagoa do Cavalo. Quando o visitante menos espera,
transposta a última duna, eis Alcaçus, paraíso de beleza e paz.

O povoado pertence ao município de Nísia Floresta e tem hoje (maio de 1992), cento
e oitenta casas, o que lhe dá uma população aproximada de oitocentos habitantes. Há
serviços de água e iluminação elétrica, mas o Posto de Saúde funciona precariamente. Na
Escola Estadual, ANA DUARTE LOPES (1o Grau), estudam oitenta alunos e duas linhas de
ônibus que interligam o povoado à Capital, via Pirangi, fazem três viagens por dia.

Nossa Senhora das Mercês, em sua humilde capelinha, zela pela felicidade dos
moradores, que lhe retribuem as mercês recebidas, festejando o seu dia a 24 de setembro,

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ALCAÇUS
A HISTÓRIA

Historicamente, o nome de Alcaçus remonta à mais antiga tradição da região onde


está localizado o povoado.

As praias de Búzios e Pirangi, a três quilômetros ao Nordeste da povoação, figuram


nas primeiras cartas geográficas do litoral potiguar. Antonio Soares, em suas “Notas de
História”, registra o seguinte: “Pirangi possuía, em 1614, dois portos de pescaria, “um em que
sempre se pescou, que é o da banda do sul, e o da banda do norte haverá dez anos que o
deixou João Sereminho". (Soares, 1985, p. 12). Soromenho, conforme Olavo Medeiros.

A mais antiga referência histórica que encontramos sobre o nome do povoado está
num formal de partilha, em poder de João de Vitôr, dono do Bar do cajueiro, em Pirangi do
Norte, no qual se menciona o nome de Alcaçus, no longínquo ano de 1711.

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ALCAÇUS
A TERRA E A GENTE

Alcaçus está situada numa depressão do terreno, no caminho que vai de Pirangi
a Nísia Floresta, via Cachoeira, entre morros cobertos de vegetação e lagoas de águas
mansas. A topografia ondulada da região oferece ao visitante panoramas de uma beleza
repousante, que surpreendem, pela variedade.

A lagoa mais próxima do povoado é a do Cavalo, que se prolonga na Lagoa de


Baixo e na Lagoa da Estrada. Além destas, diversas outras se espalham pela região, Lagoa
de Dentro, Lagoa Funda, Lagoa dos Ventos, Lagoa do Peixe, Lagoa do Pinica-Pau, Lagoa
do Cágado. Estas lagoas, pela extensão de algumas, além de oferecerem variadas opções
de lazer, constituem verdadeiras fontes de alimentação para a população de Alcaçus. É
nelas que os habitantes do povoado vão buscar uma variedade grande de peixes: cangatis,
jacundás, traíras (de até dois quilos), tapacás, piaus, muçuns.

Dos morros que circundam a povoação, os principais são o Morro do Pinica-Pau,


o Morro do Arrepio e o Morro do Navio. É por ele que os pescadores de Pirangi se orientam,
em alto-mar, no seu regresso à terra. Nesses morros agita-se toda uma fauna de pequenos
animais que, em determinada época do ano, contribuem igualmente para a alimentação do
povoado. São preás, tejuassus, tatus, camaleões, além de predadores, como os timbus,
raposas, guaxinins. No verão, os morros se carregam de cajus, cajaranas, araticuns,
ubaias, araçás, massarandubas e uma variedade de outras frutas silvestres comestíveis.

Mas, os morros, tabuleiros e lagoas de Alcaçus, que contribuem permanente ou


periodicamente para a subsistência da gente do lugar, são também uma fonte de encanto
e de lazer para essa mesma população. É aí que habitam sanhaçus, bem-te-vis, sabiás,
corrupiões, galos-de-campina e outras variedades de pássaros. É aí também que se
realizam as caçadas de tatu, as pescarias domingueiras e os piqueniques, com direito a um
maravilhoso banho de lagoa.

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A maioria dos habitantes de Alcaçus vive modestamente. Até algum tempo atrás,
as principais ocupações do contingente masculino eram o plantio de mandioca, para a
produção de farinha e, em segundo lugar, o corte de madeira, vendida para a construção,
a compradores de Pirangi, Nísia Floresta e São José de Mipibu, ou queimada, para carvão,
consumido na própria povoaçào.

Hoje, com o ritmo acelerado de construções, nas praias adjacentes de Cotovelo,


Pirangi, Búzios e Tabatinga, muitos operários da povoação estão trabalhando fora.

No povoado há pescadores e caçadores, como João de Vicente, Didó, José


Fabrício, Antonio Inácio. E um profissional insólito, Manoel de Joana, recentemente falecido,
fabricante de bilros de almofada que, além de abastecer o mercado interno, atendia a
encomendas de fregueses de Ponta Negra, intermediários de turistas do Rio e de São Paulo.

As mulheres são rendeiras. Penélopes caboclas passam o dia diante da almofada,


nos intervalos roubados aos afazeres domésticos, tecendo rendas, para ajudar na renda
familiar. .

É antiga no povoado a arte de fazer rendas. Em pesquisa anterior a 1973, realizada


no litoral dos Estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba, o Prof. Oswaldo de Souza
refere-se com freqüência à arte das rendeiras de Alcaçus. “Em Alcaçus, lugarejo situado à
margem da lagoa de igual nome, no município de Nísia Floresta (Rio Grande do Norte), as
rendeiras costumam trabalhar em conjunto: é fácil encontrá-las em grupos de dez ou mais,
nos terreiros à sombra de alguma árvore”. (Souza, 1973, p. 7).

Quase vinte anos depois o panorama ainda é o mesmo, em suas linhas gerais. Em
nossas visitas a Alcaçus, já não conseguimos encontrar esses grupos de rendeiras
trabalhando a céu aberto, entretanto, a impressão que colhemos, em nossos passeios pelo
povoado é a de que, em cada casa há uma almofada, em cada almofada uma rendeira, na
sua luta diuturna, embora inconsciente, em defesa de nossas tradições.

Agora, o turismo começa a descobrir Alcaçus e a produção das rendas aumentou.


Até quando o povoado conseguirá preservar a beleza de suas tradições e de sua paisagem,
diante dessa invasão do progresso, com todos os seus “benefícios”?

17
Entrada da povoação

18
Rua principal da povoação

*- -

19
Capela de Nossa Senhora das Mercês

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Alpendres na rua principal

21
Lagoa do Cavalo

22
Manoel de Joana

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Rendeiras e turistas

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ROMANCEIRO DE ALCAÇUS

Em agosto de 1985, num fim-de-semana em Pirangi, lembrei-me de fazer uma visita <
a Alcaçus. A proximidade do lugar, a magia do nome, as evocações de minha sogra, do seu
tempo de professora primária em Alcaçus, o renome das rendeiras, tudo contribuiu para a
realização do passeio.

Já em Alcaçus, conversando com D. Isabel Joaquina, uma das antigas rendeiras do


lugar, lembrei-me da pesquisa do Romanceiro, que já havia começado, e arrisquei algumas
perguntas sobre os romances velhos. D. Isabel sabia quatro romances. Indicaram-me D.
Maria de “seu" Aleixo. Sabia mais sete. Onze versões, ao todo, dos seguintes romances,
Juliana e D. Jorge (2 versões); A Delgadinha, Antonino (2 versões); Paulina e D. João (2
versões); D. Branca, D. Varão, o Conde Alberto e Santa Iria.

Essa descoberta levou-me a reiteradas viagens a Alcaçus, para entrevistar as


informantes e gravar os romances.

A quantidade dos romances coletados seria pretexto suficiente, para uma referência
especial ao povoado e às suas rendeiras, dentro de minha pesquisa. Acontece, porém, que,
entre esses romances um existia que, pela sua importância, transcendia tudo o que eu já
havia descoberto e até hoje, continua sendo a mais importante descoberta, na minha
pesquisa de campo.

Trata-se do romance PAULINA E D. JOÃO, com todas as características de um


romance tradicional ibérico, mas inteiramente inédito, nas coletâneas dos diversos
pesquisadores brasileiros.

O Professor Rossini Tavares de Lima, Diretor do Museu do Folclore de São Paulo


e Presidente da Associação Brasileira do Folclore, ainda vivo à época de nossa descoberta,
consultado sobre o assunto, na condição de uma das maiores autoridades brasileiras nesses

25
estudos, em carta ao autor, considerou o romance “um documento importantíssimo",
confirmando a sua descoberta no Rio Grande do Norte como a primeira coleta feita no Brasil.

Posteriormente, recolhemos versões do referido romance em Rio do Fogo e nas


cidades de Pedro Velho, Ceará-Mirim, Jardim de Angicos, Baía Formosa e Touros, o que
atesta sua existência em diferentes regiões do Estado.

A descoberta do PAULINA E D. JOÃO em Alcaçus, marcou, definitivamente, a


presença da povoação, na geografia da minha pesquisa.

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INFORMANTES

I ■D. ISABEL

Isabel Joaquina do Nascimento


Pais: Francisco Firmino do Espírito Santo - Joaquina Maria da Conceição
Nasceu em Alcaçus-RN.Não sabe a data.
Idade provável: “70 e tantos anos".
Rua da Lagoa, residência, n° 75.
Três irmãos. Onze filhos: seis homens e cinco mulheres.
Profissão: rendeira e dona-de-casa.

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2 - D. MARIA DE ALEIXO

Maria Antônia do Nascimento


Esposo: Manoel Aleixo Freire (falecido)
Mora na rua Café Filho (paralela à rua da Lagoa).
Sete filhos: cinco homens e duas mulheres.
Pais: José do Nascimento - Antônia do Nascimento.
Nasceu em Alcaçus-RN. Aproximadamente “70 e tantos anos”.
Profissão: rendeira e dona-de-casa.

f V i-

28
APRESENTAÇAO DOS ROMANCES

JULIANA E D. JORGE - Apaixonado por outra moça, D. Jorge vai visitar sua prima Juliana,
a fim de comunicar-lhe o rompimento do noivado entre os dois. Disfarçando o seu
ressentimento, Juliana lhe oferece um cálice de vinho, para comemorar o reencontro.
O vinho envenenado provoca a morte de D. Jorge, para alegria da prima vingativa.
Em algumas versões, após o crime, Juliana é presa.

Este é o romance mais divulgado no Rio Grande do Norte. Há versòes dramatizadas em Natal, Touros e outros
lugares.

A DELGADINHA (FAUSTININHA) - Reagindo às propostas incestuosas de amor do Rei,


seu pai, a Delgadinha é encarcerada na torre mais alta do Castelo, sem água e alimento. De
lá, ela avista a mãe, os irmãos, o Secretário do Palácio e lhes roga, pelo amor de Deus, uma
gotinha d’água. Todos se negam a atendê-la, temerosos da reação do Rei. Desesperada de
sede, ela concorda em ser a “namorada” do pai, em troca de um jarro d’água. Quando os
criados entram em sua cela, porém, Delgadinha já está morta e uma legião de anjos vai
levando a sua alma para o céu. No mesmo instante, o pai sedutor é assediado por um bando
de demônios que o arrebatam para o inferno.

Romance pouco divulgado no Estado.

ANTONINO - O romance do Antonino conta a história de um menino que, no intervalo das


aulas, mata acidentalmente o pavão do Professor. O pai de Antonino, informado, procura o
Mestre, tentando remediar o mal causado pelo filho, mediante a indenização do pavao morto.
Disfarçando a sua sede de vingança, o Professor pede ao pai do menino que não se
preocupe com o caso e mande Antonino para a escola. “Papai eu não vou lá, não, / porque

29
sei que vou morrer”, canta Antonino desesperado. Na escola, é recebido de maneira
agressiva pelo Mestre que o mantém preso e, depois das aulas, o mata.

Este é um dos romances mais divulgados por todo o Estado. Ouvi-o, menino ainda, na região do Seridó; minha mãe,
que era de Caraúbas, no Oeste, cantava-o sempre; finalmente, em minha pesquisa, encontrei-o em todo o Litoral
Leste do Estado.

PAULINA E D. JOÃO - O velho rei, D. Afonso, planeja o casamento da filha Paulina com o
primo desta, Fidélis, a quem pretende por herdeiro do trono. Paulina, no entanto, está
apaixonada por um nobre mouro, D. Joâo. D. Afonso arma então uma cilada. Manda que
Paulina convide o noivo para tratarem do casamento e, quando D. João chega ao Palácio,
é preso por ordem de D. Afonso, que sobe aos aposentos de Paulina, para convidá-la a
assistir à execução do seu amado. Inconformada e revoltada com a atitude do pai, Paulina
arma os seus criados e investe contra o velho Rei. No combate que se segue, dentro do
Palácio, perecem o rei Afonso, Paulina e D. João, mas enquanto os dois namorados são
sepultados numa mesma cova, com todo o carinho do reino, o cadáver do Rei é lançado aos
campos, para o banquete dos urubus.

Até prova em contrário, este romance foi coletado pela primeira vez no Brasil, no Estado do Rio Grande do Norte.
Nossas versões foram recolhidas em Alcaçus (Nísia Floresta), duas em Rio do Fogo (Maxaranguape) e nas cidades
de Pedro Velho, Ceará-Mirim e Jardim de Angicos.

D. BRANCA - Servindo o pai à mesa, D. Branca revela, involuntariamente, sua gravidez.


Revoltado com o estado infamante da filha, o Rei manda executá-la, publicamente, numa
fogueira. Desesperada, ela apela para Carlos de Montealbar, pai da criança que, disfarçado
de frade, consegue salvá-la das chamas, levando-a depois para o seu reino como sua
esposa.

É romance bem divulgado no Estado. Colhemos seis versões.

D. VARÃO - D. Barão, Donzela Guerreira, Moça que vai à guerra. Inspirando Guimarães
Rosa, no seu Grande Sertão: Veredas, com Diadorim e Riobaldo, o romance conta a história

30
de uma donzela que, diante das lamentações do velho pai, maldizendo a sorte, que não lhe
dera um filho varão para substituí-lo no campo de batalha, assume o papel desse filho varão
e, disfarçada de soldado, vai à luta. Sete anos combate na frente de batalha, como soldado,
sempre sob a suspeita do seu comandante, que se apaixona por ela. No fim da história, a
donzela guerreira revela sua condição de mulher e casa com o comandante.

Romance bem divulgado no Estado. Recolhemos seis versões.

O CONDE ALBERTO (CONDE DE ARAGÃO) - Apaixonada pelo Conde Alberto, a filha do


Rei pede ao pai que convide o Conde para um jantar e lhe exija a cabeça da esposa, numa
“dourada bacia”. Após o jantar, volta o Conde em desespero ao seu Castelo. Interrogado pela
Condessa, revela-lhe a tragédia que se avizinha. Pressentindo o inevitável, vai a Condessa
despedir-se de cada recanto do castelo. Nessa triste romaria, escuta o dobrar dos sinos. Ai,
meu Deus, quem morrería?/Foi Sinhá D. Bernaldajpeto mal que cometia,/descasar os bem-
casados,/coisa que Deus nào queria (estrofes 12 e 13). D. Bernalda era a perversa filha do
Rei, que caíra de uma das torres do Castelo real, morrendo como castigo.

Este é um dos romances mais espalhados pelo Estado.

SANTA IRIA - Contrariando as ordens do seu próprio pai, a castelã compadecida, oferece
pousada ao cavaleiro errante. Pagando-lhe com o mal o bem recebido, o forasteiro rouba-
a do castelo à meia-noite e com ela cavalga, pelos campos afora. Repelido em seus desejos
amorosos, o cavaleiro sacrifica-a em pleno campo, sepultando o corpo à margem da estrada.
Anos depois, retornando ao local do crime, depara com uma formosa ermida, erguida em
homenagem a Santa Iria, a jovem degolada que se transformara em milagrosa santa.

Romance pouco divulgado no Estado. A única versáo que possuímos é a de D. Maria Aleixo.

31
ROMANCES DE ALCAÇUS
JULIANA E D. JORGE - Coletado no dia 10.08.85.
D Isabel Joaquina do Nascimento - Alcaçus, Município de Nísia Floresta.

1 4

- Juliana, o que puseste


- Juliana, vi dizer
dentro do copo de vinho?
que tu tava pra casar.
eu tou ca réida na mão, ***
- Muito certo, meu D. Jorge,
não conheço o meu Russinho.
eu te vim te convidar.* *

2 5
I
- Minha mãe bem que dizia - Acabou-se, acabou-se
que o seu filho era vivo. a rosa das aligria,
- Minha mãe também sabia agora quem será noivo
que eu não casava contigo. daquela moça Maria?

6
3

- Acabou-se, acabou-se
- Meu D. Jorge, peraí,
que foi de vidro quebrou-se
enquanto eu vou no sobrado
um amor que eu tinha agora,
buscar um copo de vinho
num repente se acabou-se.
que eu te tenho aqui guardado.
FIM

* Houve um equivoco da informante quanto aos nomes dos personagens, nesta primeira estrofe. Onde
se lê Juliana.leia-se D. Jorge, onde se lê D. Jorge, leia-se Juliana.
** Outro equívoco ocorreu quanto à segunda estrofe que, na realidade deve ser a quinta, antes de “acabou-
se, acabou-se,/a rosa das aligria”.
*** “Ca réida na mào” é a forma popular de “Com a rédea na mão".

32
U FR N/PAE
O bra Doada p o r:

D E LG A D IN H A - Coletado no dia 10.08.85.


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D. Isabel Joaquina do Nascimento - Alcaçus, Município iie

11 UA11995

Delgadinha era bonita Eu náo quero o seu ouro


que bonita náo havia. nem também a sua prata.
Pela boniteza dela Quero ser a sua filha,
que o pai dela perseguia. muito bela e estimada.

2 5

Delgadinha, se tu qués - Delgadinha, tu não queres


ser a minha namorada, ser a minha namorada.
de ouro andais vestida Mando butar nas montanha,
de prata andarás calçada. náo te deixo dar-te água.

3 6

Ô, meu pai. deixe-se disso - Me vala, Nossa Senhora,


dessa sua tentaçáo. e o meu bom Jesus dos Passo
Encoste-se à sua Igreja me tire dessas montanha,
e vá ouvir de contrição, me bote em torre mais alta.

33
3A \
11
7

- Delgadinha, não dou água


Avistei a minha irmã
nem te faço esse favor
em seu estado assentada:
- manazinha da minh’alma, que meu pai foi para a missa
me dê um jolvinho d ’água. * e a chave ele levou
e o quarto da prisão
ele chegou e trancou.

- Delgadinha, eu não dou água 12


nem te faço esse favor
- Me vala, Nossa Senhora,
que o meu pai foi para a missa
e o meu bom Jesus dos Passo,
e a chave ele levou
me tire dessas montanha
que o quarto da prisão
me bote em torres mais alta
ele chegou e trancou.
se não o meu bofe seca
e a minh’alma desaparta.
9
13
- Me vala, Nossa Senhora,
e o meu bom Jesus dos Passo,
Avistei a minha mãe
me livre dessas montanha
regendo a sua casa.
me bote em torres mais alta
- Mamãezinha da minh'alma,
se não o meu bofe seca
me dê um jolvinho d ’água,
e a minh’a!ma desaparta.
se não o meu bofe seca
e a minh’alma desaparta.
10
14
Avistei o meu irmão,
jogando a sua espada.
- Desgraçada, miserave,
- Meu maninho da minh’alma,
inda vem me pedir água.
me dê um jolvinho d ’água,
Fizeste de mim madrasta,
se não o meu bofe seca
teus irmãos, os enteado. bis
e a minh’alma desaparta.

* “Jolvinho” corresponderá a golinho.

34
15 18

Avistei o meu pai, Na cama de Delgadinha,


jogando ô Sacrataro. * estourou um olho d'água.
Meu paizinho da minh’alma, Ela bebeu sua água
me dê um jolvinho d’água, e a Deus entregou sua alma.
se não o meu bofe seca
e a minh’alma desaparta. 19

16 O velho entrou pra dentro


custou muito num salão,
Delgadinha, eu dou-te água, quando chegou lá no quarto
dou-te um jardim de flor achou-a suspensa do chão.
se for por aquilo que eu disse,
espere aí que eu já vou. 20
Ô meu pai, me dê a água,
seje por que meio for. Delgadinha, ela morreu
os anjim acumpanhou
17 que o pai de Delgadinha
o diabo rebatou
Me valha, Nossa Senhora, sumiu tudo da famia
Jesus, Maria e José. que no inferno estourou.
Meu pai, me dê um jolve d ’água,
faça de mim o que quiser.
FIM

* "Jogando ô Sacrataro” - Jogando com o Secretário.

35
A N TO N IN O - Coletado no dia 10.08.85.
D. Isabel Joaquina do Nascimento - Alcaçus, Município de Nísia Floresta.

1 4

- Papai, vou lhe dizer, - Antoninho, vá à aula,


papai, vou lhe contar, o Mestre mandou chamar.
matei o pavão do Mestre - Papai, eu não vou, não,
e o senhor quem vai pagar, bis que o Mestre quer me matar. bis

2 5

- Bom dia, senhor Mestre! Cadê a minha mamãe


- Bom dia, senhor patrão! para me abençoar ?
- Quero que o senhor me diga Papai quer que eu vá à aula
quanto custa o seu pavão. bis e eu mais nunca hé de voltar. bis

3 6

- O senhor, vá embora, Cadê a minha madrinha?


não precisa me pagar. mais nunca eu hé de ver!
Me diga-me Antoninho Papai quer que eu vá à aula
que venha lê e estudar. bis e eu bem sei que vou morrer. bis

36
7 10

Na primeira tupetada, * A mãe de Antoninho


o tinteiro caiu no chão. sofria do coração
- Senhor Mestre, não me mate, de ver seu filhinho morto
não me bote na prisão, dentro de um roxo caixão. bis
que hoje o senhor me mata
e amanhã na detenção. 11

8 O pai de Antoninho
tinha inclinação. **
-Já deu uma hora, Matou pai e matou filho
tá perto das duas hora. matou toda a criação. bis
Os meninos vão passando
e Antonino até agora. bis FIM

- Meninos que vêm da aula


dás notícias de Antoninho?
- Antoninho ficou preso
com o coração pequenino. bis

* Omite-se a volta de Antonino à aula. A ação ja se desenrola com a agressão do Professor ao menino.
** O verso deve ser: “tinha má inclinação .

37
PAULINA E D. JOÃO - C oletado no dia 03.11.85.
D. Isabel Joaquina do Nascimento - Alcaçus, Município de Nísia Floresta.

1 4

- A minha filha Paulina, - Vamos cuidar nessa festa,


bom gosto ela vai me dar. sem haver grande embaraço.
Casar com o primo Fidélis, Amenhã eu quero ver
para o meu tesouro herdar. D. João em meu Palácio.

2 5

- Eu não caso com Fidélis, Paulina entrou pra dentro


meu pai do meu coração, trespassada de alegria.
que eu fiz um juramento Depressa fez a cartinha
de casar com D. João. estas palavras dizia. **

3 6

- A minha filha Paulina, - Te abre rica vidraça


onde visse D. João? que por ela quero entrar.
- Em reinado de Água Preta, Sou criado de Paulina,
em reinado de Milhão. * ela mandou te chamar.
Os olhos me cativaram,
prenderam meu coração.

Milhão, Milão (?).


Há omissão do texto da carta, existente em outras versões.

38
7 9

Estava a forca armada - Não vejo este reis monarca


para o D. João degolar. * que tem croa de brilhante
Paulina entrou pra dentro de ter o grande poder
barreu a mão a chorar, ** de acabar com meu amante.
uma filha que seu pai tinha,
o seu pai não estimar. 10

8 Paulina foi ao barbeiro,


mandou cortar o cabelo;
- Muita noite em meu Palácio mandou fazer um uniforme,
suspirava e não dormia, fez vez de largatixeiro.
considerando nessa ingrata
que tão falsa me seria. ***

* Nesses romances é comum o povo confundir enforcamento com degolação.


** “Barrer a mào", deliciosa expressão popular que significa começar a, principiar.
*** D. João julga-se traído por Paulina.

39
11 13

Paulina roubou do pai Não esmoreçam, meus criados,


trinta bomba envenenada. isso são de meu mandado,
Foi saindo e foi dizendo se Afonso arrisistire,
se pôs em pé na calçada. quero vê-lo degolado.

12 14

0 pai dela quando viu, Mas, foi, o pai de Paulina


rudiado de criado teve uma sina e morreu.
foi saindo e foi dizendo: Teve uma sina tão triste,
Haja fogo a meu mandado! no campo urubu comeu.
Paulina arrespondeu: - Vamos agora, Paulina
■Haja bomba envenenada! herdar tudo quanto é seu. *

FIM

* No comum das versões, os namorados morrem. Aqui, sobrevivem e herdam o trono.

40
J U L IA N A E D. JO R G E - C oletado no dia 10.08.85
D. Maria de Aleixo - Alcaçus, Município de Nísia Floresta.

1 5

Deus te salve, Juliana, Juliana, que botasses,


nessa mesa recostada. neste teu copo de vinho?
Deus te salve, rei D. Jorge, Tou com a réidea na mão
neste cavalo amontado. não conheço o meu Russinho.

2 6

• Juliana, eu vi dizer * Estas horas minha mãe cuida


que tu estavas pra casar. que seu filho ainda é vivo.
■É de certo, Juliana, - A minha também cuidava
eu venho te convidar. que tu casavas comigo.

3 7

■Espere aí, meu D. Jorge, Acabou-se, já acabou-se


enquanto eu vou no sobrado, a rosa d’Alixandria.
buscar um copo de vinho Agora, quem será o noivo
que eu tenho pra ti guardado. daquela moça Maria?

4 8

- Juliana, minha prima, Já acabou-se, já acabou-se,


não me use falsidade. o que foi de papel, molhou-se.
Veja que samos parente, Os amores das menina
prima minha, da minIValma. era de vrido e quebrou-se. **

FIM
* Onde se lê Juliana, leia-se “rei D. Jorge-.
*•* Vrido está no verso por vidro.
P A U L IN A E D .JO Á O - coletado no dia 10.08.85.
D. Maria de Aleixo - Alcaçus, Município de Nísia Floresta.

1 5

- A minha filha Paulina - Deus te salve, rei D. João,


bom gosto me queira dar, na sua Corte real,
com o seu primo Fidélis, somos criados de Paulina
por esposo hé de aceitar. bis que ela vos manda chamar
mais essa linda cartinha,
2 ela vos manda entregar.

- Meu pai, como hé de ser isso, 6


meu pai de meu coração?
Eu já dei meu juramento Ele foi abrindo a carta, bis
prá casar com D. João. bis foi vendo o que ela dizia
brincava que nem menino,
3 de cada instante sorria. bis

Eu já dei meu juramento 7


e D. João também jurou.
Tomemo por testemunha - Deus te salve, reis Afonso
Jesus Cristo Salvador. bis alto rei de Sufantilha.
Aqui me tens o Sinhoris
4 pru isposo de Paulina. bis

- Vamos preparar a festa 8


lá dento de meu palácio
Eu quero ver esse Cõinde - Daonde viesses tu,
amanhã em meu palácio. bis afoito, tão atrevido? bis
Como queres ser meu genro,
vais sofrer maior castigo.

42
9 13

- Me chame aquela mulher, 0 Afonso foi gritando:


mas antes da minha morte, bis - Haja fogo em meu mandado!
quero que ela prisencei 0 General foi gritando:
esta minha tirana sorte. bis - Haja bomba envenenada! bis

10 14

0 reis assubiu a Palácio Numa sipultura só


foi falar com a Bela Infante bis enterrou-se os dois amante. bis
Querida filha, vem ver Na cova deles nasceu
a morte de teu amante. bis as bela fulôs brilhante. bis

11 15

Ela desceu do Palácio 0 marvado do Afonso,


que muié num parecia. bis por ser um crué judeu, bis
Trajava de General não lhe dero sepultura,
apurando a rei de Turquia. no campo urubu comeu. bis
de barra de aço seu peito,
de bala não temeria. FIM

12

Seus criados, junto a ela,


não se faça esmorecer.
- Se o Afonso arrisistir,
quero ver ele morrer.

43
D. BRANCA - D. Carlos de Montealbar. - Coletado no dia 10.08.85
D. Maria de Aleixo - Alcaçus, Município de Nísia Floresta.

1 5

Tava D. Branca Mandou chamar o barbeiro, *


servindo seu pai à mesa, ver D. Branca o que tem
sua saia arregaçada, - D. Branca não tem nada,
sua barriguinha tesa. bis D. Branca está pejada.

2 6

- O que tendes, D. Branca, - Me amarre essa cachorra,


que eu te acho desmudada? me amarre bem amarrada
- Foi um copo d’água fria sete carradas de lenha,
que eu bebi de madrugada, bis todas setes atiçadas.

Mandei chamar o doutor - Sete navalhas de França,


ver D. Branca o que tem. todas setes afilhada,
- D. Branca náo tem nada, mulher que mal fez ao pai,
D. Branca está pejada. só merece ser queimada.

4 8

- É mintira, sinhô pai, - Se eu tivesse os meus guerreiro


seu doutô num intende nada, fazeria os meus mandado
foi um copo d’água fria, eu escrevia uma carta
que eu bebi de madrugada, bis reis Carlos de Montevar. bis

Para entender-se o verso, recorde-se que na antiguidade os barbeiros exerciam o ofício de cirurgiões e dentistas.
9 13

- Fazeis a carta, Senhora, Carlos pegou pela mão


que eu mesmo irei levar, e levou-a no altar.
viagem de quinze dias Lá no sete mandamento
eu farei-a num jantar. * bis um beijinho lhe quis dar.
- Boca que D. Carlos beija,
10 não é pra outro beijar. bis

- Abre-te, porta e varanda, 14


janela de Portugal
quero entregar esta carta, - Vais, dizeis a mim, dina,
a reis Carlos de Montevar. bis vais dizer, num me negar,
se vós tens outros amores,
11 fora Carlos de Montevar. bis

O Carlos pegou na carta, 15


pôs-se a ler, pôs-se a chorar
que dava pulos na casa, - Minh’alma não vá pro céu,
como um galinho do mar. bis nem meu corpo pra bom lugar,
se eu já tive outros amores
12 fora Carlos de Montevar.
Boca que D. Carlos beija,
O D. Carlos abriu c’roa não é pra outro beijar.
e caminho a viajar.
Quando Carlos chegou lá, 16
ela ia se queimar. bis
- Se ajunte a soldadaria
da minha corte real,
que essa dina que aqui está
eu com ela vou casar.
Lá no reino de meu pai
um bom palácio lograr.
* A informante explica que o mensageiro era um anjo. FIM.

45
A N T O N IN O - Coletado no dia 25.08.85.
D. Maria de Aleixo - Alcaçus, Município de Nísia Floresta.

1 5

- Papai, vou lhe dizer, Mamãe, decá meu livro,


papai, vou lhe contar, mas eu quero estudar.
matei o pavào do mestre Papai quer que eu vá pra aula,
e o senhor tem de pagar. bis nunca mais hé de voltar. bis

2 6

- Bom dia, senhor Mestre, Bença, minha mamãezinha,


como vai, como passou? bis nunca mais hé de lhe ver.
Vim pagar o pavão Papai quer que eu vá pra aula,
que Antonino matou. bis bem seio que vou morrer. bis

3 7

- Senhor Mestre, vá embora, * - Bom dia, senhor Mestre.


não precisa me pagar, - Bom dia, senhor ladrão.
o senhor diga a Antoninho Desejo fazer contigo
que amanhã venha estudar, bis o que fizeste a meu pavão. bis

4 8

- Antoninho vai pra aula, - Senhor Mestre, não me mate,


que o Mestre mandou chamar. nem faça essa ingratidão.
- Papai, não vou pra aula, Que hoje o senhor me mata
que o Mestre quer me matar, bis e amanhã na detenção. bis

A forma usuai do varso, conforma outras varsõas coletadas saria o seguinte: "Meu amigo, vá embora..." ou
“Meu patrão, vá embora...".

46
9 11

Já deu uma hora, - Bom-dia, senhor Mestre,


está perto das duas hora, - Bom-dia, senhor ladrão. *
os meninos estão passando - Mataste meu Antoninho,
e Antoninho até agora. bis prenda de meu coração.
Mais antes tivesse dito,
10 quanto custava o pavão.

Meninos que vêm da aula, 12


dais notícia de Antoninho.
Antoninho ficou preso O pai de Antoninho
com o coração pequenino. bis tava ca mausa na mão,
matou Mestre e matou filho,
matou toda criação,
matou a mulher do Mestre
e acabou a geração.

FIM

O verso deve ser: "Bom dia, senhor patrão...”.

47
D. VAR ÃO - Coletado no dia 25.08.85
D. Maria de Aleixo - Alcaçus - Nísia Floresta

1 4

- De sete filhas que eu tive - Filha, tendes as mãos grandes,


nenhuma quis ser varão. * filha, vos conhecerão.
Respondeu-me a mais moça, - Boto dento de umas luva
por ter liai coração: que elas nunca sairão.
- Dê-me alma senhor pai, ** Dê-me alma, senhor pai,
que eu irei por Capitão. que eu irei por Capitão.

2 5

- Filha, tende os olhos grande, - Filha, tendes os pés grandes,


filha, vos conhecerão. filha, vos conhecerão.
- Quando eu falar com o reis, - Boto dento de uns calçado
falo com a vista ao chão. que eles nunca sairão.
Dê-me alma, senhor pai, Dê-me alma, senhor pai,
que eu irei por Capitão. que eu irei por Capitão.

3 6

- Filha, tende os cabelos grande, - Arriba, arriba, D. João!


filha, vos conhecerão. - Arriba, arriba, D. Varão!
- Decá lá uma tesoura, - O1, meu pai, senhora mãe,
que eles logo abaixarão. eu morro de mal de amor,
Dê-me alma, senhor pai, que o corpo de D. Varão,
que eu irei por Capitão. os olhos será de homem
e o corpo de mulher são.
Verso correto: “Não tive um filho varão".
Alma - forma popular de arma.
Mãos e pés pequenos é a forma correta.
Em-algun9 versos, há palavras incorretas, para salvar a métrica.

48
7 10

- 0 ', meu filho, enconvide - 0 ', meu filho, enconvide


pra ir com elas às loja * pra ir com elas a loja.
que mulher se elas forem que mulher se elas forem,
das fita hé de se engraçar no cravo hé de ficar,
e homem se eles fore, e homem se eles forem,
do cravo hé de ficar. na espada hé de ficar.

8 11

- Oh, que fitas tão bunita, - Oh, que cravos tão bunito,
pra uma daminha lograr! para uma daminha lograr,
- Oh, que cravos tão bunito, - Oh, que espada tão bunita,
para um daminho ficar! para um daminho jogar.
se eu não tivesse o meu, Se eu não tivesse a minha,
com esse eu ia ficar. com essa eu ia ficar.

9 12

- Arriba, arriba, D. João! - Arriba, arriba, D. João!


- Arriba, arriba, D. Varão! - Arriba, arriba, D. Varão!
0 ', meu pai, senhora mãe, 0', meu pai, senhora mãe,
eu morro de mal de amor, eu morro de mal de amor,
que o corpo de D. Varão, que o corpo de D. Varão
os olhos serão de homem, os olhos será de homem
e o corpo de mulher são. e o corpo de mulher são.

-* Forma correta: “pra ir com ela às lojas .

49
13 16

■Ó, meu filho, enconvida, - Que é que tendes, D. Varão,


pra ir com ela ô jantar. que o banho não qués tomar?
Que homem se ele forem - É os sino da minha terra
no arto é de se sentar que todos oiço tocar.
e mulher se ela fore Foi meu pai que morreu ontem
no baixo hé de ficar. minha mãe foi se enterrar.

14 17

Arriba, arriba, D. João! Sete anos guerriei,


Arriba, arriba, D. Varão! inda saí com minha flor.
0 ', meu pai, senhora mãe, Entrei livre e saí livre,
eu morro de mal de amor, eu me chamo é Lianor.
que o corpo de D. Varão Se quereis casar comigo,
os olhos será de homem vai no reis de Branca Flor.
e o corpo de mulher são.
FIM
15

0 ‘, meu filho, enconvida,


pra ir com elas ô banho.
Que homem se ele fore,
contigo hé de se banhar.
E mulher se ela fore
hé de pegar a chorar.

50
C O N D E A L B E R T O (C O N D E DE A R A G Ã O ) - Coletado no dia 25.08.85.
D. Maria de Aleixo - Alcaçus, Município de Nísia Floresta.

1 5

- De que choras, minha filha? - Como é que eu mato Condessa


- Choro com grave razão que a morte não merecia?
as menina do meu tempo Quando eu era sorteiro,
todas casaro e eu não. bis o meu Reis bem que me via.

2 6

- Minha filha, eu não vejo Para que não me falou,


mais com quem vós casaria pra casar com a sua filha?
tem o Conde de Aragão Mas hoje que eu sou casado,
e este tem mulher e filhos. bis hoje tem mulher e filho.

3 7

- Meu pai, mande chamar o Conde - Forrais a mesa, senhora,


pra jantar com vós, comigo comirei por dispidida.
quando tiver no mei da janta, Que eles foram comer,
faças das minha partia. bis nem um, nem outro comia,
que as lágrimas eram tanta
4 que pela mesa corria.

- Ô meu pai, lá vem o Conde, 8


fazendo as cortesia.
- Quero que mate Condessa - Forrais a cama, senhora,
pra casar com a minha filha. dormirei por despedida.
Quero que mate Condessa, Que eles foram dormir,
quero que traga a cabeça nem um nem outro dormia
nesta marvada bacia. que as lágrimas eram tanta
que pelo lençol corria.
9 12

- Não me mate com navalha, O sino da Sé ‘stá tocando.


nem também com ferro frio, - Ai, meu Deus, quem morreria?
mate com a toalha mais fina Ai, meu Deus, quem morreria,
daquela que eu tenho ali. bis pra me fazer companhia?

10 13

Mas vou escrever pra meu pai, - Lá se foi a Bela Infante,


a morte da sua filha, pelo mal que cometia,
que me botem pra Castela descasar um bem casado,
que lá meu pai me queria. bis coisa que Deus não queria.

11 FIM

Mama, mama, meu filhinho,


este leite de amargura,
tu hoje me veres viva
e amanhã, na sepultura. bis

52
SANTA IR IA - Coletado no dia 08.09.1985.
D. Maria de Aleixo - Alcaçus - Município de Nísia Floresta

1 4

Estava cosendo Foi à meia-noite,


na minha almofada, selaram os cavalos. bis
agulha de ouro, De três que nós era,
o dedal de prata. bis só a mim levaro. bis

2 5

Passou um estrangeiro Mas, todo caminho


pedindo agasalho. bis eles me preguntaro bis
Se meu pai num dera, em casa de meu pai
muito a mim pesara. bis como me chamavum.

3 6

Eu butei a celha * Em casa de meu pai


no melho da casa bis Iria me chamavum.
pratos de vidro, Por terras alheia,
colheres de prata. bis Iria, a coitada.

Leia-se: "Eu botei a ceia/no meio da casa"

53
Por essas palavra - Eu não te perdoo,
ele me desgolou * bis ladrão carniceiro,
me cobriu de ramos da minha garganta
ali me deixou. bis fizeste um cordeiro.

8 11

Andavo umas pastora Eu não te perdoo,


pastorando o gado. bis pelo amor de Deus,
- Que amigo é aquele o mal que eu te quero
que está ali enterrado? assim queira Deus.
- Mas foi Santa Iria
que morreu desgolada. FIM

Iria, Iria,
meu amor primeiro, bis
se me perdoares,
serei teu romeiro. bis

Desgolou. degolou.
SOLFAS

JULIANA E D. JORGE (D. MARIA ALEIXO)

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7 7 * ^ ---------
Deus te sal - ve Ju - li - a - na nes ■sa me - sa re - cos -

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Jor • ge nes - te
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SOLFAS

JULIANA E D. JORGE (D. MARIA ALEIXO)

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55
PAULINA E D. JOAO (D. MARIA ALEIXO)

dar com o seu pri - mo Fi - dé - lis por es - po-so hé de a - cei-

çáo. Eu já dei meu ju - ra - men - to pra ca - sar com Don Jo -

— =r=F= — r---- 1 ==[^Fi := i=


7
v X
y J. ^
áo. Eu já dei meu ju - ra - men - to pa-ra ca - sar com Don Joáo.

56
DONA BRANCA (D. MARIA ALEIXO)

me - sa su - a sai - a a r- re - ga - ça - da su - a

bar - ri - gui - nha te - s a .


SANTA IRIA (D. MARIA ALEIXO)

57
ANTONINO (D. MARIA ALEIXO)

de pa - gar,

58
D. VARÃO (D. MARIA ALEIXO)

lhas va

M
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rao. Res - pon - deu - me a mais mo-çaporter le- al c o - r a -

59
nâo. As me - ni - nas de meu tem - po to - das ca - sa - ro e eu

r

L i — —

não.

60
JULIANA E D. JORGE (D. IZABEL JOAQUINA)

&
dar.
PAULINA E D. JOÃO (D. IZABEL JOAQUINA)

meu te - sou - ro her - dar.

61
ANTONINO (D. IZABEL JOAQUINA)

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Pa - pai vou lhe di - zer; pa - pai vou lhe con - tar, Ma -

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63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASCUDO, Luís da Câmara. Flor de romances trágicos. Rio de Janeiro: Cátedra; Natal:
Fundação José Augusto, 1982. 189 p.

GURGEL, Deífilo. Danças folclóricas do Rio Grande do Norte. 4a ed., Natal: UFRN. Ed.
Universitária, 1990, 44p. ilust. com Prefácio à 4a edição, do autor.

ROMERO, Sílvio. Cantos populares do Brasil: folclore brasileiro. Edição anotada por Luís da
Câmara Cascudo e ilustrada por Santa Rosa. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1954. Tomo
1, ilust. (Documentos Brasileiros, 75). Coleção dirigida por Otávio Tarquino de Souza.

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 12a ed., Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978.
460p.

SOARES, Antônio. Notas de história: obra póstuma. Apêndice com anotações ao texto, de
Antônio Soares Filho. Natal: Fundação José Augusto, 1985. 94p.

SOUZA, Osvaldo de. Rendas e labirintos do Nordeste. Natal: Fundação José Augusto, 1973,
12p. Palestra-relatório proferida no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, em
13.11.73.

64
Este livro deve ser devolvido na última
data carimbada

A Pró-Reitoria de Ex'
colaborou para i

Composto, fotografado e impresso na


Editora Universitária da UFRN
Natal, RN - Março de 1993
DEI FILO GURGEL, nascido descoberta de dois ricos filões da cultura
poeta, cm Areia Branca, RN, no ano de 1926, popular do Rio Grande do Norte:
reg-
enveredou, a partir de 1971, pelos caminhos romanceiro do cangaço, cuja fonte maior é o
da cultura popular. Professor de Folclore livro de Luís da Câmara Cascudo, FLOR Dl
Brasileiro, na UFRN, em 1979. Em 1985, ROMANCES TRÁGICOS c a produção
iniciou um trabalho de pesquisa sobre o valiosa do poeta-cscravo Fabião das
Romanceiro ibérico que resultou, até agora, Queimadas que, começando pelo romance
(outubro de 1992), na coleta de 294 versões do Boi-da-máo-de-pau, ninguém sabe onde
de romances portugueses e brasileiros. Não termina, tantos são os.romances produzidos.
é apenas a quanlidade de material recol h ido, Além de alguns livros de poemas, Deífilo já
porém, que ocredcncia como um dos maiores publicou trabalhos sobre as danças
pesquisadores da cultura popular brasileira, folclóricas, o teatro do João Redondo e o
mas, a colaboração que ele vem dando ao auto do Boi Calemba, tudo no seu Estado
Rom anceiro do Brasil, através da natal, o Rio Grande do Norte.

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