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FORMAÇÃO ECONÔMICA
E TERRITORIAL DO BRASIL
GUARULHOS – SP
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SUMÁRIO
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12 A GESTÃO TERRITORIAL DO BRASIL E SUAS REGIÕES POLÍTICO-
ADMINISTRATIVAS .............................................................................................. 52
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Prezado aluno!
Bons estudos!
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1 USO E OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO
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faixas de terra, e a administração dessas terras foi entregue aos
donatários. As capitanias existiram no Brasil durante séculos, mas, a partir
de 1548, uma nova forma de administrar o Brasil foi criada (SILVA, 2020,
documento on-line).
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concessão de sesmarias foi largamente utilizada no período colonial
brasileiro. Iniciada com a constituição das capitanias hereditárias em 1534,
a concessão de sesmarias foi abolida apenas quando houve o processo
de independência, em 1822. A origem das sesmarias esteve relacionada
com as terras comunais existentes no reino português e com a forma de
distribuição delas entre os habitantes das comunidades rurais (PINTO,
2020, documento on-line).
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servil e pouco qualificada), constituída no início principalmente de imigrantes
custeados pelos fazendeiros paulistas (THÉRY; MELLO-THÉRY, 2005).
Outro ciclo econômico e produtivo que contribuiu para modelar o território
brasileiro foi o da borracha, no início do século XX, na região da Amazônia.
Ademais, destaca-se a pecuária, que contribuiu mais do que o ouro para dilatar o
espaço brasileiro. A produção pecuária se estendeu até depois do período do ouro,
criando estradas e pontos de apoio estáveis. (FAGUNDES, 2021)
Destacam-se ainda a atuação dos bandeirantes (bandeirantismo) e dos
missionários jesuítas (aldeamentos) e a expansão da agropecuária no processo de
interiorização do País. No entanto, esses processos acarretaram impactos sociais
e ameaças aos povos originários indígenas, bem como aos povos e comunidades
afrodescendentes. Devido aos modelos econômicos e de trabalho vigentes, esses
povos foram capturados, escravizados e em alguns casos mortos e extintos.
(FAGUNDES, 2021)
Portanto, a distribuição de terras por capitanias hereditárias e sesmarias e
os ciclos econômicos influenciaram a formação territorial do país. Entre as
consequências desses processos, destacam-se a economia e a política
latifundiárias (em que prevalecem as grandes propriedades rurais), a concentração
fundiária e a desigualdade social rural. (FAGUNDES, 2021)
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organizaram o território a partir de características socionaturais denominadas
“faixas geobotânicas”. A seguir, veja quais são essas faixas.
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pecuária se instala em áreas de mata campestre do interior. Já o extrativismo se
instala em áreas de mata equatorial ao norte do País (MOREIRA, 2011). Considere
o seguinte:
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Fonte: Adaptado de Moreira (2011).
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temperatura, regime de chuvas), relevo e bacias hidrográficas. Os novos ocupantes
atuam
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Moreira (2011) destaca que a organização no território e o arranjo espacial
dos indígenas e dos colonos apresentam relação de correspondência com os
domínios morfoclimáticos. O autor ainda afirma que a faixa de mata atlântica de
ocupação tupi e de prática da lavoura agrícola no Brasil Colônia corresponde ao
domínio de mares de morros. Por sua vez, a faixa de mata campestre de ocupação
tapuia e prática pastoril corresponde aos domínios da caatinga, do cerrado, de
araucárias e de pradarias. Por fim, a mata equatorial, ocupada por várias tribos e
marcada pela prática do extrativismo, corresponde ao domínio amazônico. Veja:
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Com o tempo, assim como na área canavieira dos solos de massapê da
zona da mata nordestina, a renda diferencial puxa a monocultura para
localizações distantes e solos menos férteis, a lei do rendimento
decrescente empurrando a cafeicultura para localizações e solos cada vez
mais distantes da costa e custos cada vez mais altos (MOREIRA, 2011, p.
41).
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O Brasil foi descoberto pelos europeus em 1500, devido à expedição
portuguesa de Pedro Álvares Cabral; contudo, parte considerável do continente sul-
americano foi ocupada pelos espanhóis, e algumas áreas se tornaram foco de
disputa também com os holandeses. Buscando delimitar as fronteiras de atuação e
proteger o território de invasões, estabelecendo um marco político-fronteiriço,
Portugal e Espanha firmaram o tratado de Tordesilhas, em 1494, definindo,
portanto, a primeira fronteira territorial do Brasil-Colônia. (DANTAS, 2021)
As relações comerciais durante os séculos XVI e XVII foram marcadas por
uma intensa disputa territorial na América do Sul, envolvendo principalmente
portugueses e espanhóis (TEIXEIRA, 2006).
A estratégia portuguesa para proteger o território foi repartir as terras em
grandes porções, denominadas capitanias hereditárias. O regime de capitanias foi
interessante para povoar o território com portugueses que estavam em buscas de
terras; além disso, a migração de escravos do continente africano para o Brasil
iniciou no século XVI, estabelecendo uma divisão social do trabalho entre brancos
europeus, que passaram a dominar as terras, e escravos africanos, além dos
indígenas, que foram expropriados dos seus territórios com o avanço da ocupação
europeia ou subordinados ao regime de escravidão. (DANTAS, 2021)
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terceiros para produção agrícola. As sesmarias, no entanto, acabaram por constituir
uma forte divisão de classes, nas quais os proprietários de terra, em grande parte,
utilizavam mão de obra escrava para produção. (DANTAS, 2021)
Assim, a economia brasileira colonial foi marcada primeiro pela exportação
do pau-brasil seguida do açúcar e, posteriormente, com as descobertas das jazidas
de ouro e prata, da atividade mineradora (TEIXEIRA, 2006).
As atividades econômicas acabaram promovendo a ocupação de porções
do território e amplos processos migratórios. O surgimento de vilas no entorno de
dada atividade econômica foi característico: em Minas Gerais com a mineração, no
Norte do país com as drogas do sertão, no Nordeste com os engenhos de cana-de-
açúcar e em São Paulo e no Rio de Janeiro com o café. (DANTAS, 2021)
A atuação dos Bandeirantes acabou resultando em novas definições
fronteiriças, e a expansão migratória dos povos europeus para o interior do
continente em busca de metais preciosos e novas descobertas promoveu
imprecisões nas áreas de domínio português e espanhol. (DANTAS, 2021)
Desse modo, conforme cita Moraes (2002), o Estado forja um país que
negligencia o povo e defende o território em busca da legitimação do poder das
elites; a atuação dos bandeirantes nesse sentido contribui para esse cenário, no
qual a expansão nacional fortalece os donos do poder, mas mantém a condição
periférica do país.
Assim, o Brasil é adaptado aos planos internacionais devido à forte
dependência econômica/comercial, subordinando-se às demandas da acumulação
do capital internacional e implementando projetos/ideologias que se vinculam aos
interesses internacionais e aos interesses das elites. (DANTAS, 2021)
Em 1750 é assinado o tratado de Madrid, promovendo uma redefinição nos
marcos político-territoriais da América do Sul. Desse modo, os portugueses
conseguem a expansão do Brasil-Colônia, buscando também expandir suas
atividades de exploração pelo território. (DANTAS, 2021)
Na Figura 1 é possível verificar a fronteira dos tratados de Tordesilhas e de
Madrid.
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No século XVIII, uma série de mudanças ocorrem, a exemplo do processo
de industrialização da Inglaterra, que levou os britânicos a se tornarem a principal
potência econômica mundial, desencadeando grandes alterações no imperialismo.
(DANTAS, 2021)
Além disso, os franceses também passaram a conquistar vários territórios,
e, no século XIX, devido às guerras napoleônicas e a invasão da França a Portugal,
a família real se deslocou para o Brasil, em 1808. Desse modo, Portugal vai
perdendo seu espaço geopolítico e comercial e o Brasil se torna seu refúgio.
(DANTAS, 2021)
Em 1822, o Brasil se torna independente da metrópole portuguesa; no
entanto, a concentração fundiária, a divisão social do trabalho, acompanhada do
escravismo e de uma hierarquia social estabelecida ao longo dos séculos,
permanecem. O processo de independência é um marco institucional, mas não
promove alterações na estrutura social e econômica do país. (DANTAS, 2021)
Após o processo de independência, o Brasil continua como um país agrário-
-exportador, comandado pela elite branca-europeia descendente do período
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colonial. No entanto, aproxima suas relações de comércio com os ingleses, que
passaram, no século XIX, a comprar grande parte do açúcar e do café produzido no
Brasil (TEIXEIRA, 2006).
Com o avanço das teorias liberais na Europa e dos ideais de propriedade
privada, juntamente com o avanço do Estado Moderno, há uma forte pressão para
abolição dos regimes escravagistas; o Brasil, em 1950, decreta a lei de terras, na
qual toda terra deve cumprir uma função social. Em 1888 decreta a abolição da
escravatura (SOUZA, 2017).
Tais mudanças foram importantes para desenhar avanços sociais internos,
no direito pela propriedade e pela terra. No entanto, na esfera político- -econômica,
o país continuou cimentado em uma hierarquia social enrijecida de extremas
desigualdades (SOUZA, 2017).
O fim do Brasil-Império inaugura o regime republicano, que permaneceu
marcado pelo domínio das oligarquias regionais, e do poder militar, tornando as
mazelas sociais e econômicas um continuum. (DANTAS, 2021)
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inaugurou um período na qual o exército passou a liderar o aparelho de Estado.
(DANTAS, 2021)
Ao mesmo tempo, foi marcado pelo comando de oligarquias regionais que
se estabeleceram ao longo do tempo e concentravam a posse da terra, que desde
o período colonial foi mal distribuída e herdada de modo extremamente
concentrado. (DANTAS, 2021)
O período também ficou conhecido pela política do “café com leite”, pois os
Estados de São Paulo e Minas Gerais, produtores de café e leite, respectivamente,
passaram a comandar o poder executivo, impedindo que políticos de Pernambuco
e do Rio Grande do Sul chegassem ao poder. Assim, houve uma frente ampla de
apoio a esse revezamento, sobretudo no setor agrário, que gozava de muitos
benefícios (VARES, 2011).
O início do século XX foi marcado por mudanças; alguns setores da
sociedade começaram a defender um processo de modernização do país, que
desde o período colonial mantinha uma economia primária e exportadora. Ao
mesmo tempo, as elites agrárias conservadoras defendiam a manutenção do
regime político-econômico-social e, obviamente, dos seus privilégios (VARES,
2011).
Havia, em muitos momentos, uma relação amigável e indissociável entre a
elite agrária e a militar. As camadas menos favorecidas também passaram a
reivindicar direitos, que foram abafados devido aos pactos políticos estabelecidos
na política do café com leite. (DANTAS, 2021)
Em âmbito internacional, o mundo também passou por fortes tensões, como
a Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, e a proliferação das teorias eugenistas,
que chegaram ao Brasil e ganharam adeptos, sobretudo vinculados à elite
acadêmica e política. Foi uma forma de manter o conservadorismo político e
justificá-lo ao mesmo tempo em que a teoria respondia ao racismo estrutural da
sociedade brasileira. A elite agrária escravagista também não se opôs aos
movimentos eugenistas, pois mantinham a força do trabalho braçal e semiescravo
(SOUZA, 2017).
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A República Velha vai até 1930, com a Revolução; assim, Getúlio Vargas
chega ao poder e dá início à Era Vargas. A partir de então, uma série de mudanças
ocorreu. Em âmbito internacional, a crise de 1929 provocou forte queda nas
exportações de café e açúcar do Brasil, e as alas pró-modernização nacional
ganharam destaque com a chegada de Vargas ao poder, que interrompeu o ciclo
SP-MG no comando do País. (DANTAS, 2021)
Vargas introduziu, aos poucos, mudanças significativas e buscou incentivar
a industrialização nacional; assim, passou a centralizar o poder do Estado e
promover uma série de ações estratégicas que visavam modernizar o país por meio
da industrialização. Esse processo foi fundamental para o desenvolvimento
industrial do Sudeste e desencadeou uma rápida e intensa urbanização em cidades
como Rio de Janeiro e São Paulo (CANO, 2005).
Entre as mudanças feitas na Era Vargas, a criação da consolidação das leis
de trabalho (CLT) foi uma das principais e mais marcantes, pois as leis trabalhistas
promoveram uma espécie de pacto entre a classe trabalhadora, que passou a ser
regulamentada e adquirir direitos necessários, e as elites industriais e agrárias, que
passaram a exigir requisitos dos trabalhadores; tal pacto “acalmou” os ânimos dos
movimentos populares. A garantia também promoveu a permanência da
concentração da propriedade no Brasil e conservou o poder das elites (CANO,
2005).
Os maiores parceiros comerciais do Brasil na época eram Estados Unidos
e Alemanha; havia também fortes relações com os italianos, que já estavam
migrando para o Brasil desde o fim do século XIX, principalmente devido ao
movimento de embranquecimento da população e da incorporação da mão de obra
branca estrangeira nas fazendas de café e leite em São Paulo e Minas Gerais. Com
o advento da Segunda Guerra Mundial, porém, o Brasil opta por apoiar os Estados
Unidos, e, a partir de então, as relações Brasil- -EUA se estreitam. (DANTAS, 2021)
Na década de 1950, é criada a Comissão Mista Brasil-EUA, que buscou unir
recursos para financiar obras de infraestrutura; foi, assim, criado Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDE), para gerir recursos das obras e outros
investimentos (KLÜGER, 2014).
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Em 1948, também é criada a Comissão Econômica para América Latina
(CEPAL), que visava expandir a economia dos países latino-americanos em um
contexto de forte alinhamento com a Organização das Nações Unidas, que havia
sido criada em 1945, no contexto pós-guerra. (DANTAS, 2021)
O Brasil apoiou os Aliados na Segunda Guerra, bloco formado por Estados
Unidos, Inglaterra, França e União Soviética. No entanto, com o fim da Segunda
Guerra Mundial, a ascensão dos EUA como principal potência mundial, e a
ascensão dos ideais comunistas liderados pelos soviéticos, a Guerra Fria gerou um
ambiente hostil nas relações diplomáticas entre os países. (DANTAS, 2021)
Esse período de bipolaridade nas relações internacionais perdurou até o
final da década de 1980; praticamente todas as ações envolvendo questões
internacionais, sejam acordos econômicos, diplomáticos e/ou militares, tinham
interesses de uma das duas potências, que passaram a polarizar o mundo em um
grande duelo ideológico e uma corrida pela hegemonia e o poder global. (DANTAS,
2021)
Com a criação da Comissão Brasil-EUA e da Cepal, o Brasil passou a
investir massivamente na industrialização, por meio de grandes projetos
coordenados pelo Estado. Ao mesmo tempo, passou a modernizar o campo e
importar automóveis, processo este que levou a uma grande revolução urbana,
sobretudo em cidades como São Paulo, que passou a adotar seu planejamento
urbano para os automóveis, que eram símbolo da modernidade. (DANTAS, 2021)
O amplo processo migratório que ocorreu em decorrência do período entre
guerras fez o Brasil se tornar um local atrativo; assim, atrelado à rápida
modernização, o país passou por uma intensa urbanização e um inchaço
populacional considerável (Figura 2).
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O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) também promoveu
grandes transformações; com o Plano de Metas, o governo objetivou acelerar a
modernização nacional que estava em curso e construiu Brasília, uma capital
moderna, com o objetivo de integrá-la às outras regiões. (DANTAS, 2021)
Havia, no entanto, três grandes movimentos ideológicos que pairavam
sobre o país. Um era o mais conservador, que procurava frear o processo de
modernização para conservar o poder sobre a propriedade e a riqueza; outro
buscava acelerar a modernização com base na diversificação produtiva, garantindo
elevar a economia nacional e promover gradativamente transformações sociais,
modelo defendido pela CEPAL; o último era constituído de movimentos alinhados
com os ideais socialistas, que, liderados por movimentos sociais e camadas
populares, lutavam por reforma agrária, reforma urbana e divisão da riqueza.
(DANTAS, 2021)
O último movimento foi fortemente repreendido a partir de 1964, com o
golpe militar. A retomada dos militares ao poder garantiu a permanência das elites
no poder e conservou a estrutura agrária e patrimonial. Ao mesmo tempo, os
militares criam o Plano Nacional de Desenvolvimento, na tentativa de acelerar a
expansão econômica do Brasil, no auge da Guerra Fria, introduzindo o Brasil nos
mercados capitalistas e aprofundando as relações com os Estados Unidos.
(DANTAS, 2021)
Esse longo processo ficou conhecido como modernização conservadora,
pois, apesar da ampla industrialização nos setores têxteis, alimentício, siderúrgico
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e metalúrgico, o país não mudou sua estrutura socioeconômica desigual, além de
conservar o poder político de oligarquias que permaneceram atuando no aparelho
de estado, direta ou indiretamente (PERLATTO, 2014).
A década de 1980 é marcada pelo fim da Guerra Fria e pela abertura de
novos ideais; o avanço das pautas ambientais, dos direitos humanos, das liberdades
individuais e da paz mundial faz as nações adotarem novos acordos, propostas e
prerrogativas que alteram drasticamente as estratégias geopolíticas do Brasil.
(DANTAS, 2021)
Desse modo, podemos considerar que o Brasil antes de 1930 não obtinha
uma noção de unidade territorial forte, sendo constituído por grupos de poder
importantes no Rio Grande do Sul, em São Paulo e Pernambuco, mas, após o
governo Vargas, o país passa a constituir um Estado Centralizador, nas quais as
decisões do Estado passaram a prevalecer (e se articular) sobre as oligarquias
regionais, que não perderam expressão, mas foram submetidas ao Estado central
(SOUZA, 2017).
Vargas, nesse sentido, conseguiu criar uma unidade federativa na qual
passou a consolidar a figura do Estado Nacional, promoveu um pacto das elites,
satisfazendo as necessidades da elite agrária e industrial, ao mesmo tempo em que
ganhou popularidade entre as classes operárias. (DANTAS, 2021)
A universidade brasileira também desempenhou papel fundamental na
constituição de uma noção de Brasil-Nação, a começar pela Universidade de São
Paulo, que ao formar, principalmente, parte da classe média brasileira, legitimando
a ideologia de um país branco e miscigenado, excluiu a noção de luta de classes e
do escravismo posto em prática por séculos, tal como foi tratado nas obras de
Gilberto Freire e outros (SOUZA, 2017).
Nos governos subsequentes a Vargas, a centralização do poder político
aumenta, sendo que as políticas públicas e o próprio orçamento e financiamento
das políticas eram centralizados no poder federal. Desse modo, a formação do
Estado a partir dos poderes executivo, legislativo e judiciário também é marcada
pela descentralização dos poderes entre os entes federativos, e o governo federal,
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até a Constituição de 1988, exercia papel decisivo na centralidade e no
financiamento das macropolíticas. (DANTAS, 2021)
Assim, a Constituição de 1988 dá início a uma ruptura na posição
geopolítica do Brasil e inaugura uma nova forma de comportamento nos assuntos
envolvendo relações internacionais. Ao mesmo tempo, promove a descentralização
do poder, criando mecanismos jurídicos e institucionais que permitem a gestão das
políticas públicas em âmbito estadual e municipal, rompendo com a característica
do Estado centralizador, que marcou parte considerável do século XX. (DANTAS,
2021)
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Em 1991, Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil criam o Mercado Comum
do Sul (Mercosul), bloco econômico que tem o Brasil como um dos principais
protagonistas, pois lidera as relações de comércio e detém a maior população.
O país conhecido pela passividade auxiliou, por meio das forças de defesa,
vários outros países em ações humanitárias coordenadas pela ONU e se posicionou
firmemente no combate ao terrorismo, a epidemias, pobreza e outros (LIMA;
MILANI; DUARTE, 2017).
Nos anos 2000, elevou o PIB drasticamente e se tornou uma potência
econômica no setor de produção de commodities agrícolas — além de atingir
autossuficiência no setor energético petrolífero. Também impulsionou a política de
diversificação de combustíveis e passou a ser protagonista na produção de energias
renováveis. Introduziu uma política ambiental eficaz que reduziu drasticamente o
desmatamento até o ano de 2015. (DANTAS, 2021)
Em 2006 entrou no bloco dos BRICS — constituído por Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul, países de economia emergente que passaram a criar acordos
comerciais para obtenção de vantagens competitivas.
O país, por ser um dos mais multiétnicos do mundo, adotou uma política
migratória que viabilizou a regularização de imigrantes de países africanos, latino-
americanos e outras regiões do mundo como a Ásia.
Desse modo, apesar da grande dependência econômica e tecnológica e do
retrocesso em acordos ambientais dos últimos anos, o Brasil pode ser caracterizado
como um país que adota relações diplomáticas estratégicas, em assuntos de
relevância global. (DANTAS, 2021)
No entanto, para se chegar a esse patamar, o país passou por um amplo
processo de ampliação das fronteiras territoriais, (re) organização política- -territorial
do Estado Nacional, e constituiu algumas mudanças políticas estratégicas.
Os mapas das Figuras 3a-b mostram a expansão territorial do Brasil.
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(a)
(b)
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regional, principalmente devido à comercialização de commodities agrícolas e
minerais. (DANTAS, 2021)
No que tange à Constituição de 1988, ela promoveu a descentralização do
poder político, conferindo autonomia aos municípios na gestão do território, e
disponibilizando instrumentos jurídicos e fiscais para aquisição de recursos
próprios; assim, estados e municípios passaram a ter um papel legislativo
fundamental no desenvolvimento de políticas e estratégias de desenvolvimento.
Esse processo fez que regiões deprimidas passarem a ser assistidas politicamente,
e obter através de públicas um desenvolvimento mais equitativo, principalmente
com as políticas públicas pós anos 2000. (DANTAS, 2021)
Outra estratégia interna que promoveu fortes alterações nas dinâmicas
políticas e no desenvolvimento foi a transferência da capital. O governo JK e o plano
de metas, ao construir Brasília, acabou concebendo um novo país, que por meio de
uma integração regional povoou várias regiões, ampliou a malha rodoviária,
articulou o Centro-Oeste às demais regiões e promoveu investimentos no interior.
Vale destacar que entre os anos de 1960 e 1990 o Brasil vive o auge do êxodo rural,
da urbanização e da expansão demográfica, além de grandes alterações
econômicas no campo devido à modernização agrícola. (DANTAS, 2021)
Tais fatores abriram novos mercados para investimentos externos e
insumos, além de criar uma demanda de consumo urbana, fazendo o Brasil
efetivamente ingressar na economia mundial. Esses processos alteraram
drasticamente as relações geopolíticas do País, que passou a ampliar as relações
de comércio com outros países. (DANTAS, 2021)
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7 FORMAÇÃO ECONÔMICO-ESPACIAL BRASILEIRA E SUA INSERÇÃO NA
ECONOMIA GLOBAL
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é caracterizado por determinado tipo de uso do território/região, marcado por
manifestações particulares que se integram ao longo do tempo. (SILVEROL, 2021)
A distribuição territorial do trabalho define uma hierarquia entre os lugares,
pois a forma de agir das pessoas e das instituições se altera no decorrer do tempo,
impondo transformações às regiões e modificando seu grau de importância. Além
disso, o conjunto de técnicas e sua evolução definem a base de uma região,
tornando-a hegemônica e representando a expressão geográfica da globalização
(SANTOS, 1999).
30
7.2 A fase dos vetores fundacionais
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plantios agrícolas e núcleos populacionais, criando novas bases de referência da
ocupação e formação do território (MOREIRA, 2005).
Os movimentos dos bandeirantes e dos rebanhos contribuíram para o
deslocamento das fronteiras formais impostas pelo Tratado de Tordesilhas,
avançando para o interior do território brasileiro e criando as primeiras bases, que,
posteriormente, interligariam essas regiões. (SILVEROL, 2021)
1. Pau-brasil;
2. Cana-de-açúcar;
3. Mineração;
4. Gado;
5. Borracha;
6. Café.
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exploração de pau-brasil e seguiu até o Rio de Janeiro, notadamente no Norte do
estado, e no litoral paulista, na região de São Vicente. (SILVEROL, 2021)
No século XVIII, com o encontro de ouro e de diamantes em Minas Gerais
e em parte do Centro-Oeste, a organização espacial sofreu uma importante
mudança, com a transferência de uma parte da ocupação do litoral para o interior.
Com isso, a formação colonial, que apresentava um caráter agrário, foi substituída
pela mineira-urbana, encerrando a fase dos bandeirantes e da expansão do gado.
Ao final do ciclo da mineração, a vida urbana instalada no interior prosseguiu, e o
ciclo do gado foi iniciado nessa região, enquanto o centro de referência retornou
para os núcleos açucareiros do litoral (MOREIRA, 2005).
O ciclo do gado é uma junção de dois deslocamentos de rebanhos, sendo
um proveniente do sertão nordestino e o outro do Sul do País, com um único destino:
o planalto central-mineiro, devido à demanda de alimentos e de animais para
transporte criada durante o ciclo da mineração. Durante esses deslocamentos,
muitas áreas foram sendo povoadas, e novos núcleos de ocupação, estabelecidos.
(SILVEROL, 2021)
Enquanto o ciclo da mineração acontecia no Centro-Sul do País, o ciclo da
borracha era iniciado no Norte do País, no final do século XVIII. A extração da
borracha reorganizou todo o território, e essa nova atividade econômica atraiu
pessoas, principalmente do sertão nordestino, que foram assolados pelas secas do
final do século. Com isso, as relações existentes foram alteradas, surgindo uma
nova forma de exploração da floresta (MOREIRA, 2005).
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Paulo. O café foi cultivado inicialmente nas matas dos maciços interiores da cidade
do Rio de Janeiro, expandindo-se para a Serra do Mar e o Vale do Paraíba, nos
estados do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e de São Paulo. Na sequência,
alcançou o planalto paulista, onde atingiu seu auge. (SILVEROL, 2021)
Esse último ciclo econômico foi de grande importância, pois sua
rentabilidade possibilitou e fomentou a realização de inúmeras transições, como da
colônia para a independência, da escravidão para o capitalismo e da monarquia
para a república. Ainda, seria o responsável por uma grande transformação do
espaço geográfico brasileiro, com o financiamento da industrialização e da
urbanização do País (MOREIRA, 2005).
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Assim, a fase de ciclos econômicos e a organização espacial resultante
desse processo, ou seja, uma economia regional organizada, com a fase da
industrialização, foi transformada em uma economia nacional regionalmente
organizada (MOREIRA, 2005).
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territorial, foram criadas as agências de regulação para setores estratégicos da
economia, como o petróleo, as telecomunicações, a energia elétrica, os transportes
terrestres, etc., como um mecanismo de intervenção às ações do capital privado.
(SILVEROL, 2021)
Dessa forma, a gestão territorial e a organização espacial brasileira
passaram a ser cada vez mais fragmentadas e setorizadas. As agências
reguladoras buscam assegurar a gestão territorial, que, muitas vezes, beneficia o
capital privado, alterando a forma como a sociedade se relaciona com o espaço
geográfico. Com as mudanças, surgem formas espontâneas, por parte da
população, de autorregulação, de modo a permitir o desenvolvimento de formas
coletivas e individuais de organização da produção e de vida, antes associadas aos
interesses do capital privado (MOREIRA, 2005).
Nesse sentido, a formação espacial brasileira, a partir de meados da década
de 1990, tornou-se ainda mais complexa, justamente pela coexistência das
demandas do capital privado e da globalização e as formas não capitalista de
existência da sociedade. Tudo isso impõe a necessidade de novos caminhos e a
quebra de paradigmas em relação ao trabalho e às políticas para o gerenciamento
e a regulação do espaço geográfico (MOREIRA, 2005).
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Sem dúvida, a grande transformação do uso e da produção do território
ocorreu a partir da fase industrial brasileira, que pode ser dividida em duas fases. A
primeira, quando a industrialização conseguiu dissolver e alterar a dinâmica
econômica imposta pelos ciclos econômicos, reorganizando o espaço e
estabelecendo uma nova divisão territorial de trabalho, ou seja, separando de forma
definitiva o campo da cidade; e a segunda, quando essa divisão territorial de
trabalho foi consolidada, e as indústrias, antes pulverizadas, concentraram-se em
São Paulo (MOREIRA, 2005).
Para fomentar as novas atividades econômicas, um novo território foi
produzido, com infraestruturas que permitissem a circulação de mercadorias, de
serviços e de pessoas, bem como a comunicação e a transmissão de energia.
Ainda, deveria ser organizado em uma ampla rede de circulação, objetivando
instaurar o comando da cidade sobre o campo e do estado de São Paulo sobre o
espaço nacional. (SILVEROL, 2021)
A forte concentração da economia industrial no polo paulista e a
subordinação, por décadas, das atividades regionais à performance econômica da
indústria concentrada em São Paulo fomentaram e promoveram o uso e a produção
do território em outros espaços de maneira muito desigual, gerando muitas
disparidades econômicas e sociais. Nesse sentido, tornou- -se necessária a adoção
de ações que tentassem equalizar as disparidades, pois só com uma produção
territorial equilibrada o País se desenvolveria de forma mais sustentável.
(SILVEROL, 2021)
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Assim, a descentralização industrial permitiu o uso e a produção territorial
nos espaços periféricos do centro paulista, como as regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste. A instalação de indústrias de bens intermediários e a expansão
agrícola propiciaram a transformação do espaço geográfico, da formação espacial
e das dinâmicas economias e sociais. (SILVEROL, 2021)
A partir da década de 1980, a formação espacial brasileira, incluindo seu
uso e a produção territorial, foi ampliada graças à disseminação das atividades
agrícolas, pecuárias e industriais por todo o território. Essa disseminação também
fomentou a criação e a difusão de uma rede de circulação, que envolveu
transportes, comunicação e linhas de transmissão de energia, ampliando a
circulação de pessoas entre as cidades e as trocas comerciais, que se tornaram
cada vez mais distribuídas pelo território nacional (MOREIRA, 2005).
39
desenvolviam em função das atividades econômicas, as redes de circulação
tornavam-se mais complexas e difundidas pelo território (MOREIRA, 2005).
40
Além disso, a própria natureza comercial agroexportadora do café inseriu,
no território, as primeiras formas capitalistas de trabalho, de produção e de
consumo, garantindo a fluidez nas redes de circulação. A divisão do trabalho que
ocorreu nessa região promoveu o crescimento dos diversos subespaços envolvidos
nessa rede, originando uma série de diferenciações espaciais quando comparadas
com outras regiões do Brasil. (SILVEROL, 2021)
A dinâmica proporcionada pela produção e comercialização do café e pela
divisão do trabalho foi fundamental para que o processo de industrialização se
desenvolvesse primeiramente nessa região, atribuindo uma grande vantagem ao
polo central, São Paulo. No entanto, foi uma integração limitada do espaço e do
mercado, pois só se concentrou no Sudeste do País. (SILVEROL, 2021)
A partir de 1945, as primeiras vias importantes de transportes, como o
ferroviário e o rodoviário, foram construídas e/ou interligadas, permitindo uma maior
circulação de bens, de serviços e de mercadorias diversas entre as diversas regiões
do País, e, sobretudo, dessas regiões para o núcleo urbano principal, São Paulo.
Toda essa infraestrutura foi construída com o objetivo de intensificar os programas
de substituições de importações e, por consequência, promoveu o aumento das
redes de circulação com a ampliação da comunicação entre as redes urbanas
(MOREIRA, 2005).
No geral, a rede de circulação que foi promovida pela industrialização, e a
urbanização era orientada para atender às demandas de uma área central, que, por
muitas décadas, foi o estado de São Paulo. Isso ocasionou um impacto negativo
nas relações e nos outros núcleos iniciais de assentamento. A configuração espacial
desses espaços e sua rede de circulação foram alteradas diversas vezes para
atender ao núcleo central, até que as políticas públicas iniciassem o processo de
descentralização. (SILVEROL, 2021)
As políticas de descentralização, a partir da década de 1970, permitiram
o estabelecimento de novas redes de circulação, especialmente para a periferia do
território, onde a expansão da agricultura e a instalação e/ ou transferência de
indústrias diversas, sobretudo de bens de produção, permitiram a ampliação das
redes. Ainda, a construção de infraestrutura básica, como estradas e ferrovias, e a
41
instalação de linhas de transmissão de energia e de comunicação permitiram o
avanço na circulação de pessoas, de mercadorias e de serviços. (SILVEROL, 2021)
Dessa maneira, as redes regionais preexistentes passaram a ser integradas
a uma rede nacional de circulação, com o centro de referência ainda no sudeste do
Brasil. A desconcentração industrial no estado de São Paulo permitiu maior
interiorização das redes e a busca pelas redes regionais, de modo a integrar quase
todo o sistema. (SILVEROL, 2021)
42
Ao pesquisar sua etimologia, a palavra “região” aparece como derivada do
latim regere, com o prefixo reg comum a outras palavras, como regra e regente, de
acordo com Gomes (2011). De acordo com o autor, a palavra regione era utilizada
para denominar áreas no Império Romano (Figura 1) que respondiam a Roma, mas
que possuíam uma administração local. Gomes (2011) relaciona o surgimento do
conceito de região no período com a interpretação de alguns filósofos que se
propuseram a discutir a questão territorial dessa época.
43
diversidade cultural, diversidade política, além de centralização de poder e
regulação administrativa. (MEGIATO, 2021)
De acordo com Gomes (2011, p. 52), a partir do levantamento histórico do
conceito de região, é possível perceber três consequências principais:
44
à presença dos elementos da natureza, caracterizadores da unidade e da
individualidade, a presença do homem.
45
ontológica dos processos sociais, produto e meio da produção e reprodução de toda
vida social (SANTOS, 1978 apud GOMES, 1995).
É possível perceber a questão regional brasileira, a sua concepção e a sua
aplicação no território ao longo do tempo. Algumas regionalizações, de acordo com
Haesbart (2020), eram referentes “[...] tanto às transformações histórico-geográficas
concretas quanto — e às vezes de maneira dissociada — ao campo da história das
ideias” (HAESBART, 2020, documento on-line). A primeira regionalização do
Brasil data de 1913, com o propósito de regionalizar o país por meio dos aspectos
físico-naturais como relevo, clima e vegetação, dividindo o país em cinco regiões:
Setentrional, Norte Oriental, Central, Oriental e Meridional. Tal regionalização era
utilizada para fins didáticos no ensino de geografia e foi proposta pelo geógrafo
Delgado de Carvalho.
Segundo Haesbart (2020), foi somente depois da segunda metade do
século XX que as regionalizações brasileiras passaram a agregar de forma mais
efetiva as características econômicas e culturais em seus modelos e propostas.
Antes desse período, as regionalizações existentes, como a de Delgado de
Carvalho, eram influenciadas pela obra de Vidal de La Blache, que inicialmente
considerava os aspectos naturais para delimitação das regiões. De acordo com
Haesbart (2020, documento on-line):
46
A regionalização oficial do IBGE atual foi desenhada em 1970, sendo o país
dividido em cinco macrorregiões político-administrativas: Norte, Nordeste, Sul,
Sudeste e Centro-Oeste. Posteriormente, em 1990, com as mudanças da
Constituição de 1988, essa divisão regional foi atualizada a partir de algumas
mudanças territoriais que se configuraram. (MEGIATO, 2021)
Uma regionalização que se destaca pela preocupação em inserir questões
de ordem econômica e formas de ocupação do espaço no Brasil é a divisão regional
proposta por Pedro Geiger em 1964, chamada regiões geoeconômicas ou
complexos regionais. Nessa regionalização, o autor dividiu o Brasil em três
grandes regiões, com base nas atividades econômicas predominantes e no histórico
de ocupação e organização do espaço: Amazônia, Nordeste e Centro-Sul (Figura
2). (MEGIATO, 2021)
47
científico-informacional e pelas heranças do passado em diferentes regiões do
Brasil. Nesse sentido, o autor propõe, a partir das rugosidades do espaço, a
existência de quatro Brasis:
48
desorganizada dos espaços acabava por criar uma série de distorções de toda
ordem — religiosa, cultural, econômica etc. (MEGIATO, 2021)
O Brasil é fruto da necessidade de expansão do Império português, e, como
sabemos, as distorções perduraram entre metrópole e colônia até a transferência
do reinado para o Brasil, culminando com a Independência em 1822. Contudo, já
no Império do Brasil, considerando-se as mesmas dimensões do Brasil atual,
percebia-se que o grande território apresentava distorções seríssimas, uma vez que
tinha toda a sua estrutura política e econômica centralizada na capital e em
pouquíssimas outras localidades litorâneas. (MEGIATO, 2021)
O interior do país estava intocado. À época, em 1823, José Bonifácio
entregou a Dom Pedro, então imperador do Brasil, um memorial. Preocupado com
a fragilidade da capital do Império frente a ataques externos — a capital estava
localizada na atual cidade do Rio de Janeiro —, Bonifácio propunha a construção
de uma nova capital, no interior do país, muito próxima da atual, Brasília, que só
veio a ser construída em 1960. (MEGIATO, 2021)
A organização política, econômica e regional do país, contudo, só
aconteceria após a Proclamação da República, especialmente no período do
Estado Novo, instaurado pelo presidente Getúlio Vargas (1937-1946). Aqui, o eixo
econômico e político já havia se deslocado para além do Rio de Janeiro, ainda sede
do governo, alcançando Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. A despeito
dos novos eixos, não havia ainda um direcionamento estatal de políticas específicas
para as diferentes regiões do país. (MEGIATO, 2021)
Foi apenas nos anos 1950, sob as políticas desenvolvimentistas do
presidente Juscelino Kubitscheck (JK) — que incentivaram a indústria, o setor dos
transportes e a energia e substituíram as importações —, que o Brasil organizou,
pela primeira vez, uma clara política de organização e desenvolvimento regional.
De acordo com Megiato (2014, documento on-line):
49
comportamento da produtividade, os economistas chamados de
estruturalistas identificam na indústria um papel central nesse processo.
50
avançar, ainda que as consequências — e houve muitas — de um avanço tão rápido
não tivessem sido dimensionadas. (MEGIATO, 2021)
Apesar dos avanços positivos para a época, algumas regiões ainda
continuavam à margem. Diante disso, o governo propôs a criação de
superintendências regionais, a fim de promover o desenvolvimento estruturado
em todo o país. Dessa forma, ainda no governo JK, surgiu a Superintendência para
o Desenvolvimento do Nordeste, um órgão voltado a uma região pouco
desenvolvida, mas promissora, segundo demonstram os documentos de sua
fundação em 1957. (MEGIATO, 2021)
Já no período militar, outras ações econômicas e de integração regionais
foram propostas. Seguindo a mesma linha desenvolvimentista, surgiram a
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia e a Superintendência para o
Desenvolvimento do Centro-Oeste, ambas fundadas em 1967. No mesmo ano, com
o objetivo de industrializar a Região Amazônica, foi criada a Superintendência da
Zona Franca de Manaus, uma área de incentivo fiscal para empresas,
especialmente indústrias com algum grau de tecnologia. (MEGIATO, 2021)
Posteriormente, já na década de 1970, dois novos planos foram criados a
partir da experiência do Plano de Metas: o I Plano Nacional de Desenvolvimento (I
PND) e o II PND. Novamente, objetivava-se uma planificação econômica nacional.
O país vivia o melhor momento econômico já registrado, conhecido como “milagre
econômico”. Nesse período, importantes estatais foram fundadas, dentre elas a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), inaugurada pelo
presidente Médici. Essa empresa possuía em sua gênese o planejamento para uma
atuação de acordo com as potencialidades e particularidades de cada região
brasileira. A Embrapa talvez seja o melhor exemplo sustentável de uma política de
integração e de desenvolvimento regional já criado no Brasil. (MEGIATO, 2021)
A discussão sobre políticas regionais está intimamente ligada à economia.
Uma vez que tal função é delegada ao Estado, com este estando em crise de
qualquer natureza, isso acaba por prejudicar a continuidade das políticas regionais.
É isso o que se viu no Brasil já nos anos 1980. A política desenvolvimentista perdeu
fôlego com o endividamento do Estado, o seu principal financiador. A situação foi
51
tão dramática que a própria Constituição de 1988 pouco tratou das
regiões. (MEGIATO, 2021)
Nos anos 1990, novamente o regionalismo perdeu espaço na pauta
nacional, agora para a necessária estabilização econômica. Assim, alguns estados
passaram a discutir o regionalismo no âmbito de seus territórios, como é o caso do
Rio Grande do Sul, com os Conselhos Regionais de Desenvolvimento, entre outros
estados. Também em âmbito estadual, passaram a ser utilizados outros tipos de
regionalizações, como as regiões das secretarias estaduais de saúde, que mapeiam
as coordenadorias regionais de saúde e as suas respectivas regiões. Esse
mapeamento regional tem sido amplamente utilizado, como no Modelo de
Distanciamento Controlado proposto pelo estado do Rio Grande do Sul na tentativa
de conter o avanço da pandemia do novo coronavírus causador da covid-19, em
2020. (MEGIATO, 2021)
52
De acordo com o IBGE (2021), a divisão regional do Brasil se baseia no
agrupamento de estados e municípios em regiões. Os objetivos são possibilitar o
conhecimento regional do país e definir uma base territorial para levantamentos e
divulgações de dados estatísticos, com o intuito de auxiliar a implantação e a gestão
de políticas públicas e investimentos nos âmbitos federal, estadual e municipal. Para
o IBGE (2021), a ideia de regionalização prevalece desde o início do Instituto, no
intuito de promover um conhecimento aprofundado sobre o território brasileiro e
subsidiar o planejamento e o ordenamento territorial, cada vez mais inserindo
regionalizações mais detalhadas do país.
53
Região Sudeste, Região Sul e Região Centro-Oeste, que permanecem em
vigor até o momento atual. (IBGE, 2021, documento on-line).
54
O Brasil possui um território extenso, com características regionais
marcantes, não somente com relação aos aspectos naturais, ricos em sua
diversidade de relevos, hidrografias, vegetações e climas. O país também possui
uma grande riqueza com relação à sua cultura. Quando observadas as diferentes
culturas que existem no Brasil, marcadas pelos processos históricos e
socioeconômicos que ocorreram em cada região brasileira, nos deparamos com
diversos Brasis, como citam Santos e Silveira (2001) em sua obra O Brasil: Território
e Sociedade no início do século XXI. Cada região do Brasil deve ser analisada e
estudada de acordo com suas peculiaridades e particularidades regionais.
56
cenário se agravou com a queda da Bolsa de Nova York, que provocou uma grande
crise mundial. O café brasileiro passou a não ser mais comprado, e os excedentes
foram aumentando e sendo queimados pelo governo brasileiro. (TROMBETA, 2021)
A partir desse momento histórico, a participação do Brasil no mercado
internacional do café foi decrescendo. No início do século XX, o Brasil chegou a
deter 80% do total do mercado internacional do café. Já na década de 1990,
dominava apenas entre 25% e 30% do mercado, tendo permanecido desde os anos
1960 com a exportação praticamente estagnada em cerca de 17 milhões de sacas
(SAES; FARINA, 1999).
Com esse cenário, os próprios cafeicultores começaram a investir no
processo de industrialização no Brasil, a fim de diversificar a produção e o capital
investido, motivados pela Grande Depressão que se expandia pelo mundo. Furtado
(1984, p. 198) destaca que:
[…] o fator dinâmico principal, nos anos que se seguem à crise, passa a
ser, sem nenhuma dúvida, o mercado interno. A produção industrial, que
se destinava em sua totalidade ao mercado interno, sofre durante a
depressão uma queda de menos de dez por cento, e já em 1933 recupera
o nível de 1929. […] Algumas das indústrias de maior vulto instaladas no
país, na depressão, o foram com equipamentos provenientes de fábricas
que haviam fechado suas portas em países mais fundamente atingidos
pela crise industrial.
57
desorganizada, e externos, com a subida dos preços de petróleo, o aumento da
inflação e a instabilidade cambial, exigindo novos ajustes econômicos.
(TROMBETA, 2021)
No final dos anos de 1970, as dificuldades advindas do cenário internacional
continuaram, e a recessão dos anos de 1980, decorrentes da diminuição dos
investimentos, fizeram com que a década no Brasil fosse designada como década
perdida. Nesse período, a produção estagnou, a inflação começou a fugir do
controle, os juros internacionais aumentaram, o crédito diminuiu e a dívida externa
sofreu baques profundos (BORGES; CHADAREVIAN, 2010).
Na tentativa de controlar a inflação que tomou conta do país, em 1986 foi
lançado o Plano Cruzado, substituindo a moeda cruzeiro pelo cruzado, além de
reajustes de salários, congelamento de preços, estabelecimento de uma taxa
cambial fixa e revisão de contratos de aluguel. Associado ao Plano Cruzado, surgiu
o Cruzadinho, caracterizado pela adoção de outras medidas, como o empréstimo
compulsório na compra de gasolina, automóveis e passagens aéreas
internacionais. Essas medidas fizeram com que o gasto público se elevasse
drasticamente, surgindo o Plano Cruzado II, que também fracassou. (TROMBETA,
2021)
Em 1987, o governo implementou o Plano Bresser, que propunha o
congelamento dos preços e dos salários por três meses, a desvalorização do
câmbio, a utilização da tablita (composição de índices que corrigiam valores dos
produtos decorrentes da inflação) nos contratos prefixados, aumentando ainda mais
o déficit público e chamando a atenção para uma etapa de discussões em torno da
necessidade de reduzir o peso do setor público na economia (BORGES;
CHADAREVIAN, 2010).
Com o intuito de mudar o cenário econômico, em 1988 foi desenvolvido o
Plano Verão, que mudou a moeda de cruzado para cruzado novo. Com esse plano,
ocorreram perdas nos salários, e a inflação aumentou ainda mais, além do
descontrole nas contas públicas e a elevação da taxa de juros. Até que em 1990, já
no governo de Fernando Collor, o cenário se agravou, sobretudo impulsionado pela
hiperinflação. Foi feito, então, um ajuste na economia, com uma reforma monetária,
58
administrativa e fiscal, seguida por um programa intenso de privatizações, chamado
Plano Nacional de Desestatização, principalmente de empresas dos setores de
telecomunicação, ferroviário, portuário, financeiro, elétrico e siderúrgico.
(TROMBETA, 2021)
Rego e Marques (2003, p. 205-206) sintetizam o desempenho do governo
Collor na economia do país:
59
Bolsa Família, Bolsa Escola, programas de moradia, como o Minha Casa Minha
Vida, um amplo projeto de reforma agrária, entre outros. (TROMBETA, 2021)
60
a política frouxa, submissa dos diversos governos, que legitimou essa
pretensão (BRESSER-PEREIRA, 2005, documento on-line).
61
emitir dívida em reais, e a taxa de juros extorsiva levaria o custo para o Tesouro,
que já é de 8% do PIB, para um nível ainda mais alto.
62
1. Estratégia de múltiplos mercados domésticos para as empresas que
investem no exterior a partir das suas plataformas nacionais.
2. Estratégia que visa ao mercado global e organiza diferentes funções
da empresa em lugares diferentes integrados em uma estratégia
global articulada.
3. Estratégia que se baseia em redes internacionais, caracterizada por
um estágio econômico e tecnológico mais avançado.
63
sistema, é possível interagir de forma múltipla em uma rede global, moldando a
cultura, que é influenciada pela comunicação. Castells (1999, p. 414) explica:
64
A economia da região Nordeste é pautada, principalmente, no setor
agropecuário, de serviços, turismo e industrial. O setor da agropecuária é
caracterizado pela concentração de terras e produção de monoculturas, como cana-
de-açúcar, fumo, cacau, algodão, cebola, vinha e arroz. Na área do sertão, destaca-
se a produção de caprinos (cabras). O turismo também é uma atividade econômica
muito importante para a região, especialmente na área litorânea, baseado em praias
e belezas naturais. A proximidade do litoral nordestino com países europeus e os
Estados Unidos faz com que essa região receba muitos turistas estrangeiros. A
dinâmica do turismo no Nordeste gera milhões de empregos, movimentando
restaurantes e hotéis. O setor industrial, embora menor, se fortaleceu na região,
principalmente, a partir da década de 1980, quando houve a desconcentração
industrial no Sudeste aliada a incentivos fiscais, atraindo muitas indústrias para a
região. Em geral, são indústrias modernas e diversificadas do setor petroquímico,
têxtil, automobilístico, entre outros. (TROMBETA, 2021)
As atividades econômicas da região Norte estão relacionadas ao setor
primário, como a extração mineral e vegetal e a pesca. É uma área muito rica em
minérios, como alumínio, cobre, chumbo, ouro, estanho, ferro, manganês, entre
outros. O setor terciário (comércio e serviços) também tem expressividade, com
atividades ligadas ao turismo amazônico e ao comércio, que fica mais focado nas
65
capitais, como Manaus, Belém e Rio Branco. A atividade industrial está concentrada
na Zona Franca de Manaus (Amazonas), com a produção de eletrodomésticos, e
no Distrito Industrial de Belém (Tocantins), com características de indústria
tradicional, como moveleira, alimentícia, têxtil e química. As indústrias em ambas as
regiões foram atraídas por incentivos fiscais na década de 1990. (TROMBETA,
2021)
Na região Sudeste, onde a maior parte do PIB brasileiro está concentrado,
destacam-se os setores industriais, de comércio e serviços e a agropecuária. Dessa
região, não se pode deixar de salientar a importância das redes de transporte no
desenvolvimento das atividades econômicas (rodoviária, ferroviária, aérea,
portuária e hidroviária), que cumprem papel fundamental no escoamento da
produção, formando o dinamismo do desenvolvimento econômico do Sudeste. A
agropecuária tem uma produção moderna, com tecnologias nos seus processos,
principalmente nas culturas de cana-de- -açúcar, café, laranja e batata. O comércio
é outro setor de destaque, facilitado pela infraestrutura da região e pela grande
concentração de pessoas. Além disso, a cidade de São Paulo, por exemplo,
concentra as sedes de centenas de multinacionais e a Bolsa de Valores brasileira,
a mais importante da América Latina, responsável pelas negociações do mercado
financeiro. (TROMBETA, 2021)
Por conta da concentração dos principais portos brasileiros e de uma rede
de transportes com boa infraestrutura na região Sudeste, foi possível impulsionar o
desenvolvimento de várias indústrias e agroindustriais modernas e diversificadas. A
concentração industrial ocorreu no Brasil a partir de 1930 na região do ABC paulista
(nas cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano), com
indústrias metalúrgicas e, posteriormente, automobilísticas, surgindo a principal
área de industrialização brasileira. Na região do interior de São Paulo, também
existe uma certa concentração industrial, em razão dos fluxos de transporte,
sobretudo rodoviário e ferroviário. Também se destacam a região do Vale do Aço,
na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e o Quadrilátero Ferrífero, na região de
Belo Horizonte/MG, com siderúrgicas, metalúrgicas e mineradoras. A região de
Vitória/ES também concentra indústrias, principalmente de processamento de
66
minérios. Além disso, a região Sudeste tem grandes empresas e indústrias de
tecnologia e produção aeronáutica, como a Embraer. (TROMBETA, 2021)
Na região Sul existe uma predominância da agropecuária e uma parte
importante dos setores industrial, de comércio e serviços, sendo a região que
concentra o segundo maior PIB do Brasil. Além disso, abriga as principais
agroindústrias do país, como Sadia e Perdigão. A agropecuária é moderna, com
tecnologias, produção diversificada e destaque para soja, milho, trigo, arroz, suínos
e aves. O turismo também é uma atividade bastante importante na região Sul, uma
vez que apresenta uma boa infraestrutura urbana, sobretudo nas cidades de
Gramado e Canela, além de um litoral bem-desenvolvido e as belezas naturais dos
parques nacionais, como as Cataratas de Foz do Iguaçu. Embora a atividade
agropecuária tenha bastante relevância na região, maior parte da economia tem seu
peso na atividade industrial. O arranjo industrial está organizado, sobretudo, para o
abastecimento do mercado interno, com indústrias dos segmentos alimentício, têxtil,
de calçados, de móveis, vinícolas, etc., importantes para o desenvolvimento do
comércio e dos serviços, principalmente na região metropolitana de Curitiba, no
Vale do Itajaí, na região metropolitana de Porto Alegre, além de Londrina e Maringá,
no Paraná. (TROMBETA, 2021)
A região Centro-Oeste está organizada economicamente nas atividades
agropecuárias, principalmente para exportação. A partir da década de 1960, houve
o avanço das fronteiras agrícolas com a exploração do cerrado, trazendo uma
característica da atividade na região de grandes concentrações de terras, pecuária
bovina e produção de soja oriunda do agronegócio para a exportação. No entanto,
o setor de serviços tem maior representatividade na economia, com potencial no
turismo, principalmente em Brasília e no Pantanal. Os serviços públicos também
têm destaque, em especial no Distrito Federal. Já o comércio interno é bastante
aquecido para o atendimento da demanda local. A indústria na região foi estruturada
com incentivos fiscais, colaborando com a desconcentração industrial do Sudeste,
apresentando uma característica moderna e diversificada para o setor,
principalmente de produtos associados à madeira, indústria automobilística,
mineradoras, etc. (TROMBETA, 2021)
67
15 PRODUÇÃO DE ENERGIA NO BRASIL
68
No Brasil, a oferta interna de energia (total de energia disponibilizada no
país) atingiu 288,4 Mtep em 2018, registrando um decréscimo de 1,7% em relação
a 2017. De acordo com Matos (2018), o incremento das fontes hídrica e eólica na
geração de energia elétrica e o recuo do consumo de energia nos setores de
alimentos e bebidas (−17,4%), não ferrosos e outros da metalurgia −20,2) e
rodoviário (−1,2%) puxaram para baixo as ofertas internas de gás natural (−5,4%) e
de petróleo e derivados no período (−6,5%). (TROMBETA, 2021)
Foi possível verificar um avanço na oferta interna de energia elétrica de 10,7
TWh (1,7%) em relação ao ano anterior. Devido às condições hidrológicas
favoráveis, houve aumento de 4,1% da energia hidráulica disponibilizada se
comparada a 2017 (MATOS, 2018).
O consumo final, energético e não energético, recuou 1,0% em relação ao
ano anterior. No setor industrial, a retração foi de 4,12 milhões de tep em valores
absolutos. Destaca-se a queda de −23,1% na produção de açúcar, impactando o
69
consumo energético do bagaço de cana em −23,4% em relação a 2017. Outro setor
que contribuiu para a redução do consumo na indústria foi o de não ferrosos e outros
da metalurgia, que concentrou queda acentuada nas produções de alumínio
(−17,8%) e alumina (−25,0%), fazendo com que a demanda energética desse
segmento caísse −20,2% em relação ao ano anterior (MATOS, 2018).
O setor de transporte também teve seu consumo reduzido em 0,69 milhões
de tep, por conta da redução do consumo de gasolina A de 13,1% (−3,3 milhões de
tep) e, consequentemente, do anidro, que registrou uma queda de 15,4% (−1,0
milhões de tep), no mercado de veículos leves. Já o álcool hidratado cresceu 38,6%
(2,9 milhões de tep), mas não compensou o recuo do consumo da gasolina C. No
caso do transporte de carga, o biodiesel cresceu 25,7% (0,7 milhões de tep),
compensando a redução do consumo de diesel fóssil de −1,4% (−0,5 milhões de
tep) (MATOS, 2018).
O consumo final de eletricidade no país em 2018 registrou um aumento de
1,4%. Segundo Matos (2018), os setores que mais contribuíram para esse aumento
em valores absolutos foram os seguintes:
70
Diante desse cenário, a produção de energia renovável tem se destacado
nos últimos anos no Brasil, justamente pela diminuição na oferta de outras fontes
de energia não renováveis de origem fóssil, como petróleo, carvão natural e gás
natural. O destaque foi para a geração eólica, que atingiu 48,5 TWh, com um
crescimento de 14,4% entre 2017 e 2018. A potência eólica alcançou 14.390 MW,
resultando numa expansão de 17,2% (MATOS, 2018).
Mais da metade da energia disponível no Brasil é utilizada na produção
industrial (31,7%) e no transporte de cargas e passageiros (32,7%). A soma desses
dois setores resulta em 64,4% do consumo de energia do país. O setor energético
é responsável pelo consumo de 11,2%; as residências, de 9,9%; os serviços, de
4,9%; e a agropecuária, de 4,1% (MATOS, 2018). Para Scarlato (2019, p. 333-334):
71
principalmente a energia eólica, solar e da biomassa, sendo uma importante matriz
energética, que contribui, inclusive, com a segurança energética, já que, a princípio,
não tem esgotabilidade. Como as atividades econômicas, em geral, são muito
dependentes de energia, não é possível pensar no crescimento da economia sem
refletir sobre a agregação na demanda e se será possível supri-la. Por isso, garantir
a segurança energética para atrair novos investimentos no país é tão necessário.
(TROMBETA, 2021)
O Brasil tem seu papel nessa mesma ordem mundial, tanto na estruturação
de seu território quanto nas diferenças regionais verificadas, fenômeno também
chamado de nova colonização empresarial (SCARLATO, 2009), que procura se
apropriar da cultura e de novos mercados, independentemente da propriedade do
território.
Para uma empresa se fixar em determinada localidade, são observados
itens das chamadas economias externas. Isso ocorre porque ela não produzirá tudo
o que necessita, dependendo de outros produtores. Assim, para viabilizar sua
73
produção, a empresa procurará locais para disponibilidade de bens e serviços como
energia, insumos, transporte, serviços bancários e de comunicação, mão de obra,
reparo e manutenção de equipamentos. Com isso, a existência das economias
externas foi um dos fatores que determinaram a escolha de certas localidades.
(TROMBETA, 2021)
É o que explica a região Sudeste ter recebido grandes empreendimentos
estrangeiros que vieram para o Brasil, justamente por apresentar economias
externas mais desenvolvidas, que em grande parte foram feitas por investimentos
públicos do Estado brasileiro. No entanto, o Brasil ainda precisa de investimentos
em diversas áreas para garantir segurança às empresas que desejam se instalar no
país, como em transportes ferroviários, ciência, tecnologia, dentre outros —
fundamentais para o avanço da produção, principalmente aumentando oferta de
energia, para que indústrias possam ter segurança energética suficiente ao seu
processo produtivo ao se instalarem no país. (TROMBETA, 2021)
Cada região brasileira teve e tem sua importância do ponto de vista
industrial. Durante o período entre a colonização até o início da Segunda Guerra
Mundial, a importância de cada região era dada pela sua representatividade nas
exportações dos produtos primários produzidos naquela época, como cana-de-
açúcar (Nordeste), ouro (Minas Gerais), café (São Paulo) e borracha (Amazônia).
Segundo Scarlato (2009), ao mesmo tempo em que esses produtos geraram
grandeza e riqueza, também levaram várias regiões à estagnação econômica,
exceto o café, que criou seu próprio ciclo socioeconômico, que mais tarde favoreceu
o processo de industrialização brasileiro.
Desde a década de 1990, o Brasil voltou a ter seu setor industrial
desfavorecido, havendo um retrocesso na industrialização brasileira, sobretudo pela
redução no número de indústrias e a decadência da qualidade da indústria
manufatureira, tornando-se um país dependente de importações de alto padrão
tecnológico (BORGES; CHADAREVIAN, 2010). Esse processo, que alguns
economistas chamaram de desindustrialização, é marcante em países como o
Brasil (BRESSER-PEREIRA, 2007, p. 129):
74
[...] diferente do que vem ocorrendo nos países ricos. Enquanto nesses
países a desindustrialização implica transferência de trabalho para setores
com maior conteúdo mercadológico e tecnológico, no Brasil a
desindustrialização é regressiva, consequência [...] da política de atrair
poupança externa; é um processo de transferência da mão de obra para
setores agrícolas e mineradores, agroindustriais, e industriais tipo
maquiladora caracterizados por baixo valor adicionado per capita.
75
minerais, como o cobre, o ferro, o ouro, o estanho, o alumínio, o manganês,
entre inúmeros outros, alteram de modo significativo a terra, o ar e a água
do planeta, chegando algumas áreas a degradações ambientais
irreversíveis (ROSS, 2009, p. 213).
76
17.2 Indústrias de transformação
77
produção própria também podem ser consideradas indústrias de transformação
quando transformam um elemento em um produto novo.
De acordo com o destino dos seus produtos, as indústrias de transformação
podem ser classificadas em indústrias de bens de produção de uso único, que
produzem bens intermediários, como as matérias-primas, e bens de uso
permanente ou bens de capital fixo, como máquinas e equipamentos; e indústrias
de bens de consumo imediato ou não duráveis, os quais são rapidamente
destruídos pelo uso, como alimentos, remédios, roupas, dentre outros.
(TROMBETA, 2021)
78
do estado de São Paulo e do país. Em contrapartida, porém, trabalhadores cujos
salários são menores na maioria dos casos não dispõem de qualificação e educação
em níveis mais elevados. (TROMBETA, 2021)
A guerra fiscal também tem promovido a seletividade nos locais de
instalação das indústrias, sobretudo a partir do interesse de estados e municípios
na atração de empresas para alavancar seu desenvolvimento e gerar emprego e
renda para população, oferecendo, via de regra, terrenos gratuitos, incentivos
fiscais, isenção de impostos, dentre outras vantagens, reduzindo significativamente
o custo de instalação. (TROMBETA, 2021)
Algumas características de localização também podem ser destacadas de
acordo com sua categoria de atuação das indústrias. Para as indústrias extrativistas
e de beneficiamento, o tamanho das jazidas de minério e as condições geológicas
são determinantes para sua instalação em determinada localidade, ou seja, a
preferência será de acordo com o potencial quantitativo pela facilidade de extração
dos recursos minerários (SCARLATO, 2009).
Embora existam grandes empresas brasileiras na exploração mineral, a
exemplo da Vale, a maioria delas são multinacionais, como a Icomi, formada pela
associação entre a Bethlehem Steel e o grupo brasileiro Antunes. (TROMBETA,
2021)
79
Minas Gerais e o mercado consumidor de São Paulo e Rio de Janeiro, região que
oferece ótima infraestrutura de transporte (SCARLATO, 2009).
As agroindústrias, em sua grande maioria, estão instaladas próximas às
produtoras de matérias-primas, sendo importante também uma boa condição do
transporte para levar os produtos até o mercado consumidor, ou seja, aos centros
urbanos. Essa é uma das características das usinas de açúcar e álcool, produtoras
de suco e laticínios, empresas de bebidas, empresas frigoríficas, dentre outras
(Figura 3). (TROMBETA, 2021)
80
Cabe ressaltar a importância do setor agroindustrial, como umas das
principais atividades produtivas do Brasil, para o beneficiamento, a transformação
e o processamento de matérias-primas da agropecuária em produtos diversos para
o consumo, gerando impactos positivos na economia do país. Conforme aponta
Santos (2014), o complexo agroindustrial brasileiro está presente na maioria das
unidades da federação, representando cerca de um quarto do valor da economia
nacional e mais de um terço dos postos de trabalho da indústria de transformação.
Além disso, é caracterizado como um setor bastante heterogêneo e com as
agroindústrias concentradas em estados próximos aos maiores centros de
consumo.
As indústrias de bens de consumo duráveis e de produção de uso
permanente de capital estão localizadas predominantemente em áreas urbanas.
Como destaca Scarlato (2009, p. 368):
Isso faz com que essas indústrias sejam altamente dependentes das
economias urbanas, pois exigem mão de obra qualificada e abundante,
infraestrutura de transporte moderna e eficiente, além de oferta de energia elétrica,
muito consumida em seus processos produtivos, tendendo a preferirem ou regiões
metropolitanas ou adjacentes. (TROMBETA, 2021)
A indústria automobilística é um exemplo dessas empresas, principal motor
da industrialização brasileira. As empresas desse ramo se concentraram
inicialmente na região do ABC Paulista, por demandarem grande quantidade de
mão de obra, além de serviços especializados relacionados a autopeças e
acessórios. Atualmente, percebe-se sua desconcentração territorial, principalmente
atraída por incentivos fiscais em outras cidades e estados. (TROMBETA, 2021)
81
18 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS INDÚSTRIAS NO BRASIL
82
A região Sudeste é o grande polo industrial brasileiro, responsável por
aproximadamente 70% da produção nacional. O estado de São Paulo concentra
cerca de 50% de toda a produção industrial nacional, distribuída na região
metropolitana de São Paulo, Baixada Santista, região do Vale do Paraíba —
principalmente a cidade de São José dos Campos (o mais importante tecnopolo
nacional) (Figura 5) — e também no interior do estado, nesse último com destaque
para a agroindústria. (TROMBETA, 2021)
83
principalmente com as ferrovias no interior de São Paulo, e o Porto de Santos.
(TROMBETA, 2021)
O Estado do Rio de Janeiro também tem grande representatividade na
produção industrial da região Sudeste, com duas grandes áreas industriais na
região metropolitana da capital, com distritos indústrias na Baixada Fluminense e
na Zona Oeste e a região do Médio Vale do Paraíba, com um polo metalomecânico.
(TROMBETA, 2021)
Entender os fatores que estão relacionados com a localização das
indústrias passa pela compreensão histórica e geográfica da distribuição e migração
de fábricas por um lugar ou outro. Se uma região tem mais indústrias que outra, ou
ainda se foi percebido o deslocamento de empresas de uma localidade para outra,
motivos relacionados aos fatores locacionais devem ser investigados, pois
certamente foram determinantes na escolha e no movimento, associado ainda a
incentivos fiscais. (TROMBETA, 2021)
Temos ainda o caso da criação do Polo Industrial de Manaus, ou Zona
Franca de Manaus (Figura 6) em 1957 e efetivamente implementada em 1967, pelo
governo militar. O propósito do governo era povoar a região amazônica, para que
não fosse ocupada por outras nações, bem como impulsionar seu desenvolvimento,
alocando indústrias principalmente na área ocidental da Amazônia, oferecendo
empregos e atraindo, com isso, fluxos migratórios. (TROMBETA, 2021)
84
São mais de 600 indústrias na Zona Franca de Manaus, destacando-se as
montadoras de televisores, de produtos de informática, de motocicletas e de
celulares. Porém, também são importantes os setores comercial e agropecuário,
com a produção de peixes e madeira, e o setor de turismo, que recebe milhares de
pessoas por ano. O principal fator que levou as indústrias a se instalarem nessa
região foram os benefícios fiscais, com a isenção de impostos sobre as importações
e exportações e a isenção de Impostos sobre Produto Industrializado (IPI).
(TROMBETA, 2021)
No país, destaca-se também no setor das indústrias de transformação o
polo metalomecânico de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, que é o segundo
maior do país e um dos maiores da América Latina. Estão presentes nessa região
mais de 6.500 indústrias, incluindo algumas das maiores do Brasil, como Randon,
Guerra, Tramontina, Agrale, Marcopolo e Gazola. Esse setor consome 3% de todo
o aço produzido no país. (TROMBETA, 2021)
85
19 A RELAÇÃO HOMEM/NATUREZA SOB O ADVENTO DOS AVANÇOS
TECNOLÓGICOS
86
O período do processo de formação territorial do Brasil (em particular no
início do século XX) foi marcado, primeiramente, pela mecanização no campo
(agricultura) e nas cidades (tecnificação de fábricas), formando regiões técnicas
com polos altamente industrializados (crescimento industrial). Um exemplo disso foi
a formação da Região Concentrada (estados da região Centro-Sul, com destaque
para a região metropolitana de São Paulo, que liderou o processo industrializante
no País). A industrialização nos territórios fortaleceu o surgimento e o crescimento
das cidades, bem como o desenvolvimento da rede urbana brasileira de cidades de
forma hierárquica (hegemonia de São Paulo) (SANTOS; SILVEIRA, 2001).
Por fim, o meio técnico-científico informacional tem início após a
Segunda Guerra Mundial, configurando a difusão do meio técnico, com ênfase no
desenvolvimento da ciência e da informação. Esse meio institui uma nova era
capitalista, com a revolução das telecomunicações, a expansão das empresas
multinacionais, a globalização, uma maior fluidez das trocas e a circulação e os
fluxos nos territórios (SANTOS; SILVEIRA, 2001).
Ross (2005) também ratifica essa evolução da relação do homem com a
natureza quando afirma que o crescente avanço técnico-científico conduziu
transformações na natureza, com a produção sendo utilizada para suprir
necessidades vitais e de sobrevivência, mas sobretudo em prol de interesses
econômicos (comercialização, transformação de mercadorias). Para o autor:
87
A evolução progressiva do homem como ser social, mostra que, quanto
mais ele evolui tecnicamente, menos se submete as imposições da
natureza. Desse modo, se, por um lado, o homem como animal é parte
integrante da natureza e necessita dela para continuar sobrevivendo, por
outro, como ser social, cada dia mais se sofistica os mecanismos de extrair
da natureza recursos que, ao serem aproveitados, podem alterar de modo
profundo a funcionalidade harmônica dos ambientes naturais. [...]
Enquanto o homem cultivava, criava, coletava ou extraía do solo recursos
naturais apenas para sua sobrevivência, a distância entre ele e a natureza
era pequena. Com a expansão do comércio por todo o planeta e as
necessidades que foram sendo criadas pelas sociedades humanas,
intensificou-se a apropriação dos recursos naturais (ROSS, 2005, p. 212).
88
descontrolada, inadequada e obsoleta da queima para limpar os terrenos e solos
para atividades agropecuárias) ou por desmates por corte ou derrubada, que podem
ser naturais ou antrópicos, decorrentes da expansão da fronteira agrícola, da
intensificação da prática agropecuária e dos interesses das empresas do setor
madeireiro. Importantes biomas do País vêm sendo imensamente devastados,
como a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica, como pode ser observado na
Figura 1. (FAGUNDES, 2021)
89
e voçorocas), pois, em virtude da retirada da vegetação (que seria a capa protetora
dos solos, sobretudo de regiões íngremes), quando ocorre a ação da água (chuvas
fortes), há o escoamento, e não a infiltração, da água, causando buracos,
empobrecendo o solo (lixiviando os nutrientes), diminuindo a biodiversidade e
destruindo o habitat da fauna (as árvores são a moradia e os alimentos de animais
na florestas, e sua retirada traz desequilíbrios e extinção de espécies).
(FAGUNDES, 2021)
As queimadas (i.e., ocorrência de fogo na vegetação), quando espalhadas
pela seca, tornam-se incêndios florestais. Elas intensificam o efeito estufa e a
poluição do ar (devido à emissão elevada de gás do efeito estufa, como o carbônico
[CO2 ], decorrente do fogo), ampliam o aquecimento (aquecimento global),
acarretam mudanças climáticas, alteram microclimas (reduzindo índices
pluviométricos e formando ilhas de calor e inversão térmica), reduzem a
biodiversidade (causando fugas e, por vezes, mortes dos animais da fauna) e
provocam a degradação e a desertificação dos solos. Vale destacar que,
recentemente, o Brasil foi acometido pela queima descontrolada, configurando
incêndios no bioma Pantanal, nos estados do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso
(Figura 2). Esse impacto ambiental está imensamente associado à prática da
limpeza de terremos para atividades agrícolas e pecuárias, ou seja, para a
expansão da agricultura e da pecuária nesses estados. (FAGUNDES, 2021)
90
Além dos impactos ambientais, o desmatamento e as queimadas acarretam
inúmeros impactos sociais no campo às populações tradicionais e aos povos
originários, que vivem em áreas de mata e utilizam diretamente os recursos das
florestas. Nas cidades, esses impactos afetam a saúde da população em geral,
causando problemas respiratórios e o superaquecimento da temperatura.
(FAGUNDES, 2021)
A poluição atmosférica (do ar) é decorrente de queimadas, fumaças de
atividades industriais (indústrias altamente poluidoras, como termelétricas,
químicas, petroquímicas e mineradoras) do setor secundário da economia, queima
de combustíveis fósseis de veículos automotivos e gás metano, liberado pelos
animais da pecuária, intensificando o efeito estufa e, consequentemente,
amplificando o aquecimento global. (FAGUNDES, 2021)
A contaminação das águas e do solo (cursos de água superficial,
subsuperficial e subterrânea) decorre de atividades urbanas e industriais
91
(contaminação por esgoto, produtos químicos residenciais e industriais e metais
pesados), vazamento de óleo (eutrofização das águas – mortandade devido ao
baixo nível de oxigênio disponível aos animais aquáticos), uso desenfreado de
pesticidas e agrotóxicos, imensamente utilizados em algumas lavouras agrícolas,
sobretudo da produção de commodities do agronegócio (soja, milho), destinação
inadequada de resíduos sólidos (lixo doméstico, lixo eletrônico) e ausência de
saneamento básico (rede, estação e tratamento de esgoto, disposição de aterros
sanitários). (FAGUNDES, 2021)
92
A seguir, serão apresentadas e analisados as problemáticas ambientais que
acometem o espaço rural, ou seja, o campo brasileiro.
93
cultura agrícola (monocultura), de viés agroexportador, com exceção da mão de
obra, que, no período, era escrava, porém hoje é assalariada. (FAGUNDES, 2021)
Segundo Ross (2005), as atividades agrárias têm-se apresentado
progressivamente como depredadoras dos recursos naturais:
94
Nos ambientes fluviais, destaca-se a contaminação das águas (assim como dos
solos) pelo uso desenfreado dos agrotóxicos. De acordo com Ross (2005, p. 228):
95
Vale destacar que, no bioma Cerrado, encontra-se a grande fronteira
agrícola nacional, a região do Matopiba, compreendida nos estados Maranhão,
Tocantins, Piauí e Bahia, que, atualmente, responde por grande parte da produção
brasileira de grãos e fibras (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA
AGROPECUÁRIA, [20--?]).
Segundo Ross (2005), algumas técnicas vêm sendo empregadas para
minimizar os impactos ambientais rurais, a exemplo da contenção de processos
erosivos, tais como: plantio direto; terraceamento e curvas de nível; e cultivo de
forrageiras entre ruas e nas plantações perenes, como café, cacau e laranja.
Portanto, cabe ao Estado (poder público, governos municipal, estadual,
federal e instituições), às empresas (setores particulares – agropecuário, industrial,
comércio/serviços) e à sociedade civil efetuar e cobrar soluções, políticas e práticas
educativas para que a legislação ambiental seja cumprida por meio de
planejamentos (urbano, rural, ambiental). Além disso, faz-se necessário
conscientizar, fiscalizar e punir de forma eficaz o não cumprimento da legislação
ambiental vigente, visando a amenizar os problemas ambientais e suas
consequências ao próprio meio ambiente e à sociedade. Por fim, é importante
incentivar o desenvolvimento sustentável (sustentabilidade), o reflorestamento, a
despoluição, a diminuição da emissão de gases poluentes, a reciclagem, a
reutilização de produtos e a diminuição do consumo. (FAGUNDES, 2021)
97
O marco inicial da atuação da República brasileira (Figura 1), procurando
levar desenvolvimento às regiões do Brasil, deu-se com a iniciativa do mais antigo
organismo de desenvolvimento, criado em 1909: a Inspetoria de Obras Contra as
Secas (IFOCS) (SENRA, 2011).
98
Assim, configurava-se um projeto nacionalista de país, urbano/industrial,
com a criação e instalação de parques industriais no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Nesse processo, as indústrias se instalavam no espaço urbano, impulsionando, por
consequência, a urbanização, em que a população, em um êxodo rural (saindo do
campo para as cidades), migra visando a ocupar os postos de trabalhos disponíveis
nas fábricas e indústrias recém-criadas no país. (FAGUNDES, 2021)
99
Segundo Higa (2007), no período da Era Vargas, além do início ao incentivo
à industrialização nacional (principalmente com a indústria de base), houve a
criação dos ministérios do Trabalho, Comércio e Indústria e da Educação e Saúde,
com a concessão e a garantia de direitos trabalhistas aos trabalhadores urbanos da
indústria.
Senra (2011) destaca que Vargas tinha o objetivo de promover uma maior
integração entre as regiões do território nacional, tendo adotado, entre outras
medidas, a criação, em 1937, do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
(DNER), visando a desenvolver as rodovias do país. Sobre esse período, o autor
complementa que:
100
economista Celso Furtado, e a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(Sudene), de suma importância para o desenvolvimento regional do Brasil (SENRA,
2011). De acordo com Senra (2011, documento on-line), “JK assumiu claramente
uma postura a favor do desenvolvimentismo e chegou a romper com o Fundo
Monetário Internacional, FMI, em 1959, por discordar das orientações de cunho
monetarista emanadas por aquele organismo”.
O Plano de Metas tinha como objetivo expandir o desenvolvimento industrial
e econômico, mas também social e educacional, para as várias regiões do país.
Para se ter uma ideia da situação: em 1959, ano do início das obras da
rodovia, o Pará vivia isolado do resto do país. Para chegar até o estado
amazônico, somente por via aérea ou marítima. Os que se arriscavam em
ir pela terra, tinham que partir do Maranhão e enfrentar uma difícil jornada
pelo meio da mata.
A ideia de JK para ligar o Pará ao resto do país era simples: uma linha reta
indo de Belém até Brasília, que ainda não estava inaugurada. E a nova
capital, por sua vez, estaria ligada a todas as outras regiões brasileiras por
meio de outras estradas (AMADOR, 2020, documento on-line).
101
No período da ditadura militar, também houve aspectos e ações
propositivas que convergiam com as políticas de desenvolvimento industrial no país,
como a criação do Ministério do Interior (Minter) e do Programa Estratégico de
Desenvolvimento, ambas em 1967.
102
de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social” (BRASIL,
1988, documento on-line); e sobre as regiões de “[…] articular sua ação em um
mesmo complexo geoeconômico e social, visando a seu desenvolvimento e à
redução das desigualdades regionais” (BRASIL, 1988, documento on-line), entre
outros trechos.
O governo do presidente Fernando Collor teve um viés neoliberal de
diminuição do papel do Estado e uma nova proposta de desenvolvimento
(neodesenvolvimetismo), visando a integrar a economia nacional ao mercado global
e favorecer as exportações dos produtos do país. O governo de Fernando Henrique
Cardoso (FHC) deu continuidade ao ideário neoliberal de Collor, e, a partir do
surgimento de sucessivas crises econômicas, atuou para combater a inflação e
criou, em 1996, o Plano Plurianual, com a proposta de eixos (fluxos de bens e
serviços conectados aos mercados nacionais e globais) de desenvolvimento para
reduzir os desequilíbrios espaciais: eixo de integração Norte-Sul; Oeste; Nordeste;
Sudeste; Sul; saída para o mar do Caribe e para o oceano Pacífico (SENRA, 2011).
Outros programas do governo FHC foram o Programa das Mesorregiões
Diferenciadas (desenvolvimento econômico e social), o Programa Comunidade
Ativa (desenvolvimento integrado e sustentável), as Redes DLIS (desenvolvimento
local), o Projeto Comunidade que Faz (incentivar fóruns para o desenvolvimento
local) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae;
importante programa de desenvolvimento local) (SENRA, 2011).
Nos governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com estratégias de
políticas de desenvolvimento a longo prazo, foram criados planos, como o Plurianual
2004-2007 e o denominado Plano Brasil de Todos, que visavam à inclusão social e
redução das desigualdades sociais, ao crescimento com geração de emprego e
renda, ambientalmente sustentável e redutor das desigualdades regionais e
expansão da cidadania e fortalecimento da democracia, além do Plurianual 2008-
2011, com o objetivo de instaurar estratégias de desenvolvimento e políticas
públicas, como o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) (BRASIL, 2003; 2007).
103
Em resumo, o Brasil passou por governos com posturas distintas quanto às
formas de impulsionar e fomentar projetos de desenvolvimento e políticas públicas
de Estado, a depender do viés ideológico e político dominante. (FAGUNDES, 2021)
104
105
106
No que concerne aos resultados dessas políticas de desenvolvimento
regional, segundo Senra (2011), nos governos Dutra e de Getúlio Vargas, foram
pouco expressivos para o desenvolvimento regional, e, nos governos de JK, foram
expressivos e contraditórios para o desenvolvimento regional, visto que os estados
da região Sudeste foram os principais beneficiados dos investimentos em
infraestrutura e industrialização, embora também tenha havido uma maior
integração do mercado nacional, decorrente da implantação de rodovias (SENRA,
2011).
No período da ditadura militar, o planejamento estatal caiu em descrédito, a
partir do abandono de planos de desenvolvimento, da perda da visão estratégica e
dinâmica do desenvolvimento, da redução progressiva de investimentos e da
centralização do Poder Executivo federal, impossibilitando iniciativas regionais.
(FAGUNDES, 2021)
No governo Collor, políticas de desenvolvimento antes instituídas
(programas, projetos) foram esvaziadas, com a desvalorização de recursos e
107
instituições públicas, revisões ou extinções (com destaque para crises na zona
Franca de Manaus), além da revogação das isenções/reduções de benefícios
fiscais, da Sudene e da Sudam, paralisando processos de implantação de novos
projetos industriais nas regiões-alvo dessas superintendências (SENRA, 2011).
Já o mandato do governo Lula, em termos de políticas de desenvolvimento
regional, foi marcado por influências neoliberais, mas também
neodesenvolvimentista e de combate à desigualdade social e regional, com
programas de transferências de renda, impactos (positivos) na economia de regiões
mais pobres (p. ex., nos estados do Nordeste) e, especificamente em 2007, a
retomada da SUDAM e da SUDENE, com o objetivo de cumprir funções
semelhantes às do momento de sua criação (SENRA, 2011).
108
atores, visando ao desenvolvimento local de um setor produtivo, de um recurso ou
um território. (FAGUNDES, 2021)
Já em relação às estratégias de desenvolvimento regional, em locais nos
quais o desenvolvimento é endógeno, sem condições de se desenvolver, sem
dispor de recursos, infraestrutura, componentes institucionais e parâmetros
preexistentes vigentes em conformidade, o desenvolvimento deve advir da maneira
clássica, prioritariamente do poder público do Estado. Então, em regiões de maior
vulnerabilidade social, as ações do Estado devem emergir de frentes que visam a
atender a condições mínimas (saúde, educação, saneamento básico e habitação).
(FAGUNDES, 2021)
Na elaboração de políticas públicas adequadas ao desenvolvimento de
estratégias básicas para implementação em regiões de grande especificidade
territorial, como a região do Bioma Amazônico (na qual se elaborou o novo Plano
Amazônia Sustentável [PAS]), deve-se encontrar modos de compatibilizar e aliar o
crescimento econômico, com a conservação dos recursos naturais e a inclusão
social (BECKER, 2005).
Para tal, deve-se investir em políticas públicas de desenvolvimento que
considerem a gestão ambiental e o ordenamento do território, um novo padrão de
financiamento, a inclusão social, a infraestrutura e a produção sustentável com
inovação tecnológica e competitividade (BECKER, 2005).
Assim, na região da Amazônia, por exemplo, é necessário articular
diferentes projetos, interesses e conflitos que incidem na região, além de promover
políticas de desenvolvimento eficazes, na busca de superar a polaridade conflitiva
entre a política ambiental e o desenvolvimento regional (BECKER, 2005).
Portanto, faz-se essencial, para todo o território nacional, o papel do Estado,
em suas distintas esferas (federal, estadual e municipal), no desenvolvimento da
questão regional, da industrialização, do planejamento e da modernização
econômica do país, sendo este um agente promotor e elaborador de políticas
públicas de desenvolvimento regional, a fim de romper com as disparidades
regionais (em áreas prioritárias) que afligem a população. (FAGUNDES, 2021)
109
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
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fundamentos políticos do sistema oligárquico e os impactos da Revolução de
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Acesso em: 1 fev. 2021.
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