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M775f
CDU 94(816.5)
VICE-PREFEITO MUNICIPAL
Maurício Rogério de Medeiros Tonolher
DIRETOR DE CULTURA
Matheus da Rosa Lima
FONTES ICONOGRÁFICAS
Apresentação .................................................................. 8
1 Os Donos da Terra ................................................. 12
As Reduções do Tape e os Sete Povos ............................ 12
A Capitania de Rio Grande de São ................................. 17
Pedro do Sul ..................................................................... 17
2 João Baptista Soares da Silveira e Souza e o início
da ocupação da região .................................................. 18
A Ponte ............................................................................. 20
Os sobrinhos .................................................................... 23
A escravidão ..................................................................... 25
O Testamento ................................................................... 25
A Casa dos Baptista ......................................................... 38
3 A Ponte da Cachoeira na virada do século XIX
para o XX....................................................................... 50
A Ponte de Ferro .............................................................. 53
Alberto Bins ..................................................................... 54
Frederico Ritter ................................................................ 64
6
A Família Brambilla e a Casa do Leite ........................... 68
4 A divisão das terras do Cel. Baptista e o início da
expansão urbana de Cachoeirinha ............................... 72
Capelas e Igrejas.............................................................. 75
Cachoeirinha: de vila à cidade ........................................ 79
Considerações Finais .................................................... 90
Referências Bibliográficas ........................................... 94
7
Apresentação
8
do Leite e sua revitalização como museu e espaço de
exposições. Exposta no próprio prédio, a exposição foi
inaugurada em 08 de novembro de 2007, obtendo
grande sucesso, e passando a fazer parte do circuito de
visitações das redes municipal, estadual e particular de
ensino. Calcula-se que a exposição tenha sido visitada
por mais de 10.000 pessoas, desde então.
***
9
um detetive, médico ou crítico de arte, o historiador
deve estar atento ao detalhe, tópico aliás de um célebre
artigo de Carlo Ginzburg: "Sinais: raízes de um paradigma
indiciário".
10
11
1 Os Donos da Terra
12
do Tratado de Tordesilhas, portanto, pertenciam à
Coroa Espanhola, a qual não possuía um projeto claro
de interiorização para suas colônias. Por isso, a
importância do trabalho dos padres jesuítas na
formação das Missões dos Trinta Povos, entre 1610 a
1641 na região do Rio da Prata, sendo construídas
dezesseis reduções em território sul-riograndense.
Nesta época, o Brasil estava sob domínio espanhol
(1580-1640), sendo este período também conhecido
como União Ibérica.
13
holandesa. Após a destruição dos Trinta Povos, as terras
gaúchas foram praticamente abandonadas,
possibilitando a formação de sua maior riqueza natural:
o gado xucro. Além disso, tensões políticas entre os
governos português e espanhol, relativas à fundação
portuguesa da Colônia de Sacramento em 1680,
levaram a que ambos procurassem afirmar a posse
efetiva de suas terras. Sendo assim, motivou-se o
retorno dos jesuítas, os quais reorganizaram sete
missões no estado, entre 1682 e 1706, formando assim
os Sete Povos das Missões. Na mesma época, os
portugueses retomavam suas incursões em terras
gaúchas, visando a preação do gado xucro, iniciando
assim o tropeirismo.
14
firmaram o Tratado de Madri, o qual previa a entrega
das Missões aos portugueses pelos espanhóis, em troca
da Colônia de Sacramento (Uruguai). Porém, a
resistência dos índios guaranis e dos padres jesuítas
desencadeou a Guerra Guaranítica (1750 - 1753) contra
as Coroas Ibéricas (PESAVENTO, 1985, p.21). Ao final
do conflito, os padres jesuítas foram expulsos de
Portugal e de suas colônias, e a grande maioria dos
índios que sobreviveu à guerra foi conduzida pelos
espanhóis para a outra margem do Rio Uruguai, no
lado espanhol. Entretanto, um grupo de famílias
guaranis permaneceu em Rio Pardo sob a tutela
portuguesa. Em 1762, estes índios foram trazidos para a
aldeia de Nossa Senhora dos Anjos, pois os portugueses
temiam uma invasão castelhana e que estes índios se
tornassem um contingente militar contra Portugal
(FLORES, 1990, p.38).
15
suficiência.
16
Uruguai, onde se instalavam inúmeras estâncias e
charqueadas que careciam de mão-de-obra (FLORES,
1990, p.41).
17
2 João Baptista Soares da Silveira e
Souza e o início da ocupação da
região
18
p.108). O pároco era tio de João Baptista, e é de se supor
que as informações acerca da requisição de terras de
João tenham derivado da própria atuação do padre, que
havia recebido 1/4 de légua em quadro na Serra Geral
de Sapucaia pouco antes (RAMOS, 2011, p.43).
19
particulares importantes como o edifício Malakoff, que
foi o primeiro prédio de quatro andares de Porto Alegre
(DUARTE, 2002).
A Ponte
20
O agente da ponte retinha 40% do que
conseguisse arrecadar, mas isso não amenizava as
dificuldades de arrecadação provenientes da situação
natural da área (RELATÓRIO, 1856, p.35).
21
adjacente à ponte (RELATÓRIO, 1856, p.35).
22
capaz de evitar no verão os atoleiros, que impedem
a passagem das carretas e cauzão sensiveis
prejuizos (RELATÓRIO, 1856, p.45).
Os sobrinhos
23
o sobrinho são frequentemente confundidos, e é difícil
distingui-los nas notícias e documentos, sendo apenas
possível inferir a esfera de atuação de cada um pelo
cálculo das suas respectivas idades. Pode-se perceber o
efeito do nome igual no primeiro livro sobre a história
de Cachoeirinha, "Memória de Cachoeirinha" (1991),
onde são atribuídas ao Coronel João Baptista (o
sobrinho) obras realizadas pelo empreiteiro João
Baptista (o tio). Este equívoco pode ser resolvido
através da distinção de título: João Baptista Sobrinho
era tenente-coronel da Guarda Nacional.
24
A escravidão
O Testamento
25
Em nome da Santíssima Trindade
Eu João Baptista Soares da Silveira e
Souza morador ora na cidade de Porto Alegre,
ora morador no primeiro districto da Freguesia
de Nossa Sra dos Anjos, ordeno o meu
testamento pela maneira seguinte. Sou natural
da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário
termo da Villa das Vellas da Ilha de São Jorge,
filho legitimo de Manoel Silveira Soares e de
Catharina de Jesus. Fui cazado em primeiras
núpcias com D. Maria Baptista Felícia da
Silveira e Souza, e em segundas com D. Anna
Joaquina de Jesus, não tenho filho legitimo, nem
illegitimo e todos os meus ascendentes são hoje
falecidos, e por isso posso livremente dispor de
meus bens. Por morte de minhas consortes de
quem fui herdeiro e testamenteiro; i.e da
[ilegível] somente da terça, cumprindo (?) os
testamentos de q dei contas em juízo, assim
como das tutorias q tive a meu cargo o q tudo
cumpri a mínima omissão, e toda a reclamação q
a este respeito aparecer é falsa. O meu enterro
será feito sem ostentação. No dia do meu
falecimento se for possível e em todos os outros
se celebrarão Missas por minha alma as que de
poder em dizer até o septimo dia. Celebrar-se-
hão mais quatrocentas missas a saber cem pelas
26
Almas de meus Pais e de meus dois Tios o Pe.
Matheus da Silva e Souza e Frei João Baptista,
cem pelas Almas de minhas mulheres, cem pelas
Almas de meus escravos, e cem por minha
Alma, todas de esmola de costume. Entreguei a
nossos afilhados João, e Maria os dois escravos q
lhes damos, substituídos por outros q é mto
sabido .
Deixo libertos os meus escravos Severino
creoulo com direito aos meus bens q possue com
minha licença, e uzofructo do citio e campo
entre a estrada Geral antiga q seguia do Bernabé
para a Brigadeira e pela entrada da cidade do
Boqueirão até a encruzilhada q segue em duas
estradas, hua para o Bernabé, outra p
Itacolomim e Sapocaia, e pela estrada que segue
para Sapocaia devidindo-me do campo q foi do
Contracto, em quanto lhe viver. Deixo libertos
os escravos João (ilegível) e sua mulher Izabel e
dez mil réis mensaes por toda a sua vida. Deixo
os creoulos Constantino, e Delfina para
servirem a meus herdeiros quinze annos
servindo bem, e servindo mal, o dobro do tempo.
Deixo minha escrava parda de nome Roza o
uzofructo das minhas casas citas na rua do
Senhor dos Passos e beco do Rozário com
obrigação de suprir em tudo repartidamente a
27
sua Mãi, a minha escrava Joaquina, e o meu
escravo Severino, e por morte dos três nomeados
ficarão as ditas cazas pertencendo aos filhos, que
ella tiver e se falecer sem filhos depois da morte
da dita parda Rosa que agora deixo liberta, de
sua dita mãe a escrava Joaquina que deixo
liberta e do escravo Severino acima liberto
passarão as ditas casas para meus herdeiros.
Deixo liberta a parda Leopoldina. Deixo
para servirem meus herdeiros até completarem
vinte e cinco annos, mais dés annos, servindo
mal, as duas pardas Rafaela e Cicilia, Justiniana
creoula, Virgilina, Innocencio, Clara e João
pardos, e José creoulos. As crias dessas escravas
servirão somente vinte e cinco annos para
receberem educação e pagarem a creação. O
pardo Felisbino, e o creoulo Manoel Maria
servirão meus herdeiros vinte annos, e servindo
mal servirão trinta annos. O pardo Bernardo
filho da escrava Joaquina servirá tão bem aos
meus herdeiros como os acima vinte e cinco, ou
trinta e cinco annos. A creoula Anna fica
liberta. Deixo a cada hum de meus Afilhados de
baptismo cem mil réis. Deixo a minha afilhada
Innocencia filha de meu compadre Jozé Silveira
Soares de Bitancurt o usofructo do citio em q
mora seu Pae e por sua morte a seus filhos, e
28
não os tendo a sua irmã Maria, e na falta d´esta
a seus Irmaons. Deixo a minha sobrinha Maria
filha de meu compadre Jozé Silveira Soares de
Sou digo de Bitancourt a quantia de hum conto
de reis. O citio de que assima falei e deixo a
minha Affª Innocencia e o que esta dentro dos
antigos vallos da estrada que seguia pa Fregª.
Nsª dos Anjos, para o lado do Sul, e por outro
pelos vallos antigos que servião de devisa entre
mim e Jozé Francisco Pacheco. Deixo a meu
primo Innocencio Jozé de Souza o rendimento
de três contos de reis em Appolices da divida
publica e por sua morte a seu filho Claro Jozé de
Souza as mesmas Appolices no sobredito valor.
Deixo aos três filhos de meu falecido primo
Thimoteo da Silveira e Souza de nomes Manoel
Thimoteo, D. Mª Francisca, e D. Dorothea a
cada hum huma Appolice da Divida Publica de
hum conto de réis. Deixo a meu sobrinho
Manoel quatro escravos dos que possuo, por elle
escolhidos. Instituo por meus testamenteiros em
primeiro lugar a meu sobrinho José Baptista
Soares da Silva e Souza, em segundo a meu
sobrinho João Baptista Soares da Silveira e
Souza Sobrinho, e em terceiro ao Snr Jozé
Innocencio Pereira e lhes peço q. por servisso de
Deos e amizade para comigo aceitem e cumprão
29
este meu testamento e aquele q. aceitar alem de
sua vintena deixo hum conto de reis. Deixo a
quatro orfans pobres da Freguesia de N. Snrª
dos Anjos quinhentos mil réis para ajuda de
dote p/ o [ilegível] do casamento e a quatro
orfans pobres da cidade de Porto Alegre
quinhentos mil réis na ocasião do casamento,
quatrocentos mil réis aos pobres da cidade de
Porto Alegre e quatrocentos mil réis aos pobres
da Freguesia de N. Sª dos Anjos: todas essas
esmollas serão dadas á elleição de meu
testamenteiro, e acreditado o juramento delle
no acto da conta do testamento, sem maior
exigência ou documento. Deixo à pessoa,
enfermeiro, que mais bem me servir na ultima
enfermidade, seja livre ou escravo, hum conto de
reis. Dos bens de que acima não dispus se fará
hum calculo de devisão em cinco partes tres das
quaes somente o uzofructo deixo a meu primeiro
testamenteiro e sobrinho José Baptista Soares da
Silveira e Souza, e as outras duas partes o
uzofructo a meu sobrinho segundo
testamenteiro João Baptista Soares da Silva e
Souza Sobrinho, pois a ambos instituo na dita
proporção meus universais herdeiros com
condição de somente gozarem do uzo fructo, e
por morte delles ficarão a seus filhos, porem se
30
falecerem sem filhos os ditos bens passarão aos
outros netos de meu Irmão Manoel Silveira
Soares, e na falta da descendência de meu Irmão
passarão aos descendentes de minha meia Irmã
em conformidade de q dispoem as Leis. Dou aos
meus testamenteiros o tempo de sete annos para
cumprirem este meu testamento, e nenhum dos
meus legatários, os poderão obrigar a entrega de
couza alguma antes desse prazo: ficando a
consciência delles o faze-lo antes se lhes for
possível. Se entre aos q se julgarem com direito
a minha herança houver algum q. por má
índole, ou perversidade obre couzas que não
devesse obrar seja p. isso privado da herança ou
legado a q aliás teria direito. Hé minha vontade
que meus bens se augmentem e continuem a
existir na família de meu Irmão Manoel Silveira
Soares por isso recomendo a todos os meus
herdeiros que vivão honrada e virtuozamente
fieis a Religião de nossos Pais para que os bons
costumes se perpetuem em nossa Família. Este é
o meu testamento que quero tenha todo o vigor e
completa execussão tendo da melhor forma que
em Direito valer possa, e se poder o escreverei
em duplicado, ou triplicado para evitar o
transtorno que de sua perda poderá seguir-se, o
que em nada influirá para sua validade, e basta
31
ser por mim escripto para que por falta de
formulas que podem mudar-se sem minha culpa
elle deixe de ser valido, e rogo as Justiças a cujo
Autoridade fique affecto o fação valer como se
não tivesse falta nascida da minha ignorância,
do esquecimento ou do pouco tempo de que
nesta ocasião posso dispor. 1O Distrito da
Freguesia de Nossa Senhora dos Anjos, 18 de
Janeiro de 1870. João Baptista Soares da Silveira
e Souza.
32
sistema jurídico português e brasileiro mesmo após a
Independência, apenas sendo substituídas no País com
o Código Civil de 1916. Portanto, o testamento redigido
pelo Comendador João Baptista em 1870 ainda segue
suas diretrizes.
33
testemunhos dos gestos ou das atitudes, pobres
possivelmente, em geral anônimos, mas
essenciais. São dessa natureza, se me permitem
recordar minhas pesquisas, os testamentos
provençais do século XVIII, que examinei às
dezenas de milhares. Eles nos oferecem, em um
momento em que não se escamoteia a morte, o
balanço das atitudes coletivas enquanto o
testamento espiritual ainda se mantém como
elemento maior do ritual da morte (VOVELLE,
2004, p.140).
34
Sul, e por outro, pelos vallos antigos que servirão de devisa
entre mim e José Francisco Pacheco(...)". Esta área situa-se
atualmente no final da rua Aparício Soares da Cunha,
filho de Inocência com Manoel Basílio da Cunha e que
foi proprietário da região por muitos anos. Nela
situava-se a segunda casa mais antiga do Município,
construída em 1875.
35
principalmente oriundas dos rendimentos de seus
negócios e dos arrendamentos e aluguéis de terras e
imóveis, num meio predominantemente urbano.
36
Figura 1. Cel. João Baptista S. da Silveira e Souza.
Acervo Casa do Leite
37
A Casa dos Baptista
38
áreas, feitas pelo sistema de concessão de
sesmarias aos que tivessem reunido ponderável
quantidade de gado alçado, criou verdadeiros
feudos que tiveram efetiva importância na
conservação do território para a coroa portuguesa,
o que, afinal, era o verdadeiro sentido de tais
concessões (MACEDO, 1987, p.76).
39
próximo dos centros de consumo começa a
predominar sobre a casa do charque, encontramos
um outro compartimento - tulha- grande depósito
de produtos agrícolas destinados ao comércio que,
evidentemente, não se justificaria nas estâncias
mais antigas, principalmente nas mais afastadas
das cidades. A ligação direta da senzala com a
atafona comprova a estreita participação dos
escravos nos trabalhos da farinha e divide o pátio
de serviço em duas partes, das quais uma é
relacionada com o pátio íntimo através de um
portão. Este pátio, onde estaria o pomar, garante
maior recolhimento à família e, por isso mesmo,
era todo amurado e recebia as portas de serviço da
casa. A residência corresponde perfeitamente às
observações que já fizemos a respeito a moradia
antiga do Rio Grande; além das portas de serviço
e da porta principal, possuía outra, na grande
sala, que ligava à atafona, por que em parte desta
era guardada a carruagem. A casa do charque era
de dimensões reduzidas e o seu destino, para
atender principalmente ao consumo doméstico,
denuncia-se pela ligação direta ao pátio interno.
Um dos aspectos mais curiosos desta estância é o
jardim lateral, que se desdobra avançando sobre a
fachada." (MACEDO, 1964, p.103-104).
40
No tocante à história da Casa do Baptista com
relação ao Município de Cachoeirinha, a principal fonte
é o livro "Memória de Cachoeirinha", publicado em
1990 pela Prefeitura Municipal, sob organização da
prof. Isabel Mombach. Trata-se de um trabalho
realizado por um grupo, voltado para os Estudos
Sociais, da então Secretaria de Educação e Cultura. A
obra tem o mérito de consistir na primeira abordagem
da ocupação das terras pelos Silveira e Souza, com o
uso de fotos e uma descrição do interior da residência:
41
passado, foi uma senzala. Ao lado da casa, um
galpão muito alto com as tesouras do telhado de
espessa madeira, foi uma atafona. Entre os objetos
aí guardados, uma charrete, rodas de carreta,
automóveis, etc." (MOMBACH, 1991, p.20-21).
42
Figura 2. Casa dos Baptista.
Acervo Casa do Leite
43
Figura 3. Planta da Casa dos Baptista.
IN: MACEDO, 1969, p.12
44
Em se tratando de edifícios e monumentos
existentes há muito tempo, pode-se dizer que estes são,
de certa forma, pontos de referência históricos, sociais,
afetivos, da sociedade que o cerca. Estes servem como
apoios onde os discursos sobre o passado se
estabelecem. Numa sociedade mutável, e
principalmente numa cidade nova como Cachoeirinha,
a existência da Casa dos Baptista cumpre muitos
propósitos: uma função de vinculação cultural aos
primeiros períodos da ocupação da região; uma
testemunha do período de formação do município,
onde a casa era o principal ponto de referência; e, num
âmbito geral, situa a região dentro da história do Rio
Grande do Sul colonial e imperial.
45
pessoas e datas que se encontram presentes, e
ainda predominantes, na vida moral e material
das sociedades que integramos. Essas
reminiscências se fundamentam numa série de
marcos sociais que se concretizam num dado
espaço, tempo e linguagem, por isso ele assegura
que “não há memória coletiva que não se
desenvolva num quadro espacial” (PELEGRINI,
2007, p.90).
46
preservá-los com vistas a eventual tombamento. Alguns
imóveis, lamentavelmente, foram retirados
posteriormente desta listagem por já haverem sido
irreparavelmente danificados (TEIXEIRA (coord.), vol.
2, p.84).
a) Casa do Júlio
47
estruturas arquitetônicas remanescentes notáveis,
há de se pensar no seu valor para a arqueologia
histórica e o quanto de informações relevantes
neste sentido podem ser coletadas. (TEIXEIRA
(coord.), vol. 2, p.84).
48
49
3 A Ponte da Cachoeira na virada do
século XIX para o XX.
50
a existência de jazidas de carvão em Gravataí. A
abertura do rio para a navegação facilitaria o transporte
para os navios na ponte de ferro de Canoas. No entanto,
o carvão não teve os resultados esperados nesta jazida,
apenas apresentando rendimentos em 1921 e 1922.
51
duas ocasiões.
52
região na virada do século. Em meados da década de
1920, temos alguns indicativos da existência de um
pequeno núcleo habitacional nas imediações da Ponte
da Cachoeira. Uma pequena nota da "Federação"
(19/08/1927, p. 4) dá conta da vacinação efetuada pela
Diretoria de Higiene do Estado contra a varíola, na
Ponte e na Granja Progresso, totalizando 148 pessoas.
A Ponte de Ferro
53
metade do século XIX por João Baptista Soares da
Silveira e Souza.
Alberto Bins
54
1897, funda a União de Ferros, associando a empresa de
sua família com a companhia Bromberg e Daudt. Bins
deixou a União em 1904, quando assume sozinho a
direção da Fábrica Berta (FAUSEL, s.d, p.8). A fábrica
veio a se tornar uma referência na área: "A fábrica que
além de caixas-fortes, seu principal produto, produzia ainda
camas, fogões, e prensas, tornou-se com o decorrer do tempo a
maior do gênero em todo o Brasil e a mais bem instalada da
América do Sul."(FAUSEL, s.d, p.9).
55
de aspersão no Estado e introduziu gado das raças
européias Devon e Holstein na região, melhorando a
produção leiteira da área (FAUSEL, s.d, p.20-21).
56
Figura 4. Revista “O Criador Brasileiro” - 1922 - Granja
Progresso.
57
Figura 5. Propaganda da Granja Progresso na Revista “O Criador
Brasileiro” de 1922.
58
Na Granja Progresso havia ainda a venda de
mudas de eucaliptos (A Federação, 30/03/18), assim como
de gado da raça Devon (A Federação, 26/06/19) e de aves
(A Federação, 29/10/19).
59
Federação, 06/05/1929).
60
atuou de forma decisiva para fundação do Sindicato
Arrozeiro do Rio Grande Sul, que reunia os arrozeiros
para melhor defender suas reivindicações junto ao
Governo Estadual (FAUSEL, s.d, p.21). Como
representante do Sindicato, atuou de forma vigorosa na
tentativa de solução de uma crise na produção de arroz
no Estado, no final da década de 20.
61
do PRR fez com que Bins e outros políticos apoiassem
Getúlio Vargas em 1930.
62
1969, v.3, p.25).
63
Frederico Ritter
64
Após um longo percurso, Frederico Ritter
desembarcou na Europa em 1901. Ao chegar na
Alemanha trabalhou em diversas cervejarias como
estagiário. Em 1902, Ritter conclui o curso de mestre
cervejeiro na Brauerakademie München (Escola de
Cervejaria de Munique), permanecendo na Europa e se
aperfeiçoando até fins de 1903. Chegando ao Brasil,
Ritter iniciou um processo de modernização da fábrica
da família, reestruturando-a, juntamente com seu pai,
sob o nome de Cervejaria Henrique Ritter & Filhos, em
1906 (BEISER, 2009, p.17).
A Granja Esperança
65
de gado leiteiro e produção de laticínios.
66
durante o período da Segunda Guerra Mundial. Além
disso, o período de tensão contra a população de
origem germãnica durante o periodo da 2a Guerra
motivou Frederico Ritter a tomar medidas de
reestruturação administrativa, como a transformação da
Fábrica Ritter, em 1951, numa sociedade por quotas.
Depois de sucessivas trocas de razão social, em 2005 a
empresa passou a denominar-se Ritter Alimentos S.A
(BEISER, 2009, p.27).
67
popularmente "Estrada do Ritter".
68
A principal atividade econômica da propriedade
era a produção leiteira. Segundo depoimento de Luís e
João Brambilla, filhos de José Brambilla, a propriedade
chegou a produzir 1.450 litros de leite por dia com um
rebanho de quase 300 vacas leiteiras. O leite era
distribuído nos mais diversos estabelecimentos de Porto
Alegre, como hotéis, padarias e hospitais, inclusive na
Santa Casa de Misericórdia. Em pouco tempo, a Casa
da família Brambilla passou a ser denominada “Casa do
Leite”. Após a morte de José Brambilla, o arrendamento
da propriedade passou para seu filho João Brambilla.
69
Figura 5. Casa do Leite em 1940.
Acervo Casa do Leite
70
Figura 7. Criação de Vacas Leiteiras. Família Brambilla –
década de 1950.
Acervo Casa do Leite
71
4 A divisão das terras do Cel. Baptista
e o início da expansão urbana de
Cachoeirinha
72
Brochado Smith, Francisco Martins, e Melânia Vieira
Soares, seus genros e nora).
73
loteamentos urbanos foi grandemente facilitada.
74
ruas, também inicia-se a reivindicação por serviços
essenciais. Em 1944, por exemplo, abre-se o Grupo
Escolar Rodrigues Alves, anexado à pequena classe já
existente na Ponte da Cachoeira.
Capelas e Igrejas
75
ao século XVI no arquipélago dos Açores, sendo uma
devoção tradicional na ilha. Como o comendador e seus
sobrinhos eram açorianos, explica-se a existência desta
religiosidade na região.
76
A Capela da Nossa Senhora da Boa Viagem não
comportava o crescente número de fiéis na região e as
celebrações dependiam da disponibilidade do pároco
da Igreja Nossa Senhora dos Anjos, por isso, os
moradores se reuniram com a presença do cônego
Pedro Wagner, no Salão Danúbio Azul para formar uma
comissão, visando angariar fundos para construção da
igreja local. O cônego Pedro Wagner doou o terreno de
sua propriedade, onde a primeira missa campal foi
realizada no dia 25 de novembro de 1951 e a Igreja São
Vicente de Paulo foi construída. A segunda missa foi
celebrada no Salão Danúbio Azul no dia 30 de março de
1952.
77
Com o dinheiro arrecadado da primeira festa e as
contribuições dos moradores iniciaram as obras. Em 30
de dezembro de 1955, o Arcebispo Metropolitano Dom
Vicente Scherer, institui a Igreja São Vicente de Paulo
como primeira paróquia da região, assumindo o Padre
Pedro Hugo Hort.
78
Padre Jeremias teve papel fundamental no
processo de emancipação de Cachoeirinha, atuando
ativamente como líder da campanha e membro da
comissão. Entretanto, Padre Jeremias não pode
permanecer à frente da Igreja São Vicente de Paulo
quando Cachoeirinha foi instalada como município,
pois foi transferido em 06 de fevereiro de 1966. Padre
Jeremias faleceu no dia 23 de março de 1989, sendo
sepultado no interior da Igreja Matriz de Cachoeirinha
São Vicente de Paulo.
79
Viagem, a Igreja São Vicente de Paulo - Matriz, bem
como as primeiras escolas estaduais Rodrigues Alves,
Roberto Silveira, Daniel de Oliveira Paiva e
Mascarenhas de Moraes, e, ainda, os primeiros
loteamentos. Os descendentes dos colonizadores,
pioneiros e imigrantes, lideraram e participaram do
movimento de emancipação de Cachoeirinha.
80
Gravataí, Pedro Wagner, celebrou a primeira missa no
lugar onde viria a ser construida a Matriz. No decorrer
do ano seguinte, viria a ser formada uma comissão para
angariar fundos para a construção da Igreja, que
reunia-se no Salão Danúbio Azul, antigo salão de bailes
e posteriormente primeiro cinema de Cachoeirinha.
Após o primeiro esforço de arrecadação, foram
reunidos Cr$ 15.464,10 para iniciar a construção da
igreja, em um terreno doado pela Prefeitura.
81
"Deve-se assinalar ainda que possui florescentes
agremiações esportivas e sociais, um Grupo E.
Estadual, um G.E Municipal e diversas escolas
isoladas (O Gravataiense, 25/12/1958, p.1).
82
Figura 8. O Gravataiense, 25/12/1958.
Acervo Museu Municipal Agostinho Martha - Gravataí
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Figura 9. O Gravataiense, 24/05/1961.
Acervo Museu Municipal Agostinho Martha – Gravataí
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Figura 10. Construção da Igreja Matriz.
Acervo Casa do Leite
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Diante do acelerado crescimento econômico e
populacional de Cachoeirinha, a Câmara Municipal de
Gravataí através da Lei N° 3, de 7 de junho de 1957,
criou o Distrito de Cachoeirinha, estabelecendo a
Subprefeitura de Cachoeirinha que já contava com uma
subdelegacia, um posto de controle e uma agência dos
Correios. Em 1959, as primeiras reuniões de estudos
pela emancipação de Cachoeirinha são realizadas na
Casa de José Teixeira. A Comissão era presidida por
Oscar Martinez, sendo formada por Libório Kramer,
Manoel Eugênio Monteiro Guimarães, José Teixeira,
Beno Niderauer, Nicanor Cardoso Alves, Albino
Marques de Souza e Rui Teixeira. O movimento não
teve adesão da população e esvaziou-se.
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emancipação de Cachoeirinha. Na época, Cachoeirinha
tinha uma representação política expressiva na Câmara
de Vereadores de Gravataí, composta por três
vereadores: José Prior, do Partido Social Democrático -
PSD, Osvaldo Correia, do Partido Trabalhista Brasileiro
- PTB, Martinho Espíndola, da União Democrática -
UDN e o vice-prefeito, Rui Teixeira.
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pelo abaixo assinado para a realização do plebiscito.
Realizado o pleito e elaborado o processo, este foi
encaminhado e aprovado pela Assembléia Legislativa
Estadual, criando assim, o município de Cachoeirinha
através da Lei N°5.090, de 9 de novembro de 1965.
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Considerações Finais
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Soares e aos primeiros moradores da região.
Naturalmente, com o grande impulso de ocupação e
loteamento das terras dos Baptista, torna-se
progressivamente mais difícil traçar estas redes,
procedendo-se assim a uma transição entre o que é
história de uma pequena comunidade para a história de
uma cidade em formação.
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Cachoeirinha no período pré-emancipatório tem como
fontes de grande relevãncia as histórias familiares e
memórias pessoais. Temos como exemplo disso a obra
do primeiro prefeito eleito de Cachoeirinha (antecedido
por dois interventores), Ruy Teixeira, Cachoeirinha e sua
história – reminiscências (1998), no qual a lembrança
pessoal traz consigo o relato do crescimento do
Município.
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uma Cachoeirinha que existiu, de cem ou duzentos
anos atrás. Mapas, documentos; fotos que se perdem,
trechos de terra que se mudam, a fazenda que se torna
cidade: são todos fragmentos, preciosos e importantes
para a nossa história, parte de nossa trajetória.
93
Referências Bibliográficas
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(REL.1859)
RELATÓRIO com que o exm. sr. Conselheiro Angelo
Moniz da SIlva Ferraz entregou a presidência da
Província de S. Pedro do Rio Grande do Sul, ao 2o vice-
presidente o exm. sr. commendador Patrício Corrêa da
Câmara no dia 22 de abril e este ao exm sr. conselheiro
Joaquim Antão Fernandes Leão, em 4 de maio de 1859.
Porto Alegre: Typ. do Correio do Sul, 1859. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/pdf/252263/per252263_1859_00002
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(REL.1852)
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Pedro do Rio Grande do Sul Luis Alves Leite de
Oliveira Bello, na Assembléa Legislativa Provincial em
o 1o de outubro de 1852. Porto Alegre: Typographia do
101
Mercantil, Rua da Praia n.367, 1852. Disponível em:
http://memoria.bn.br/pdf/252263/per252263_1852_00001
.pdf
(REL.1856)
RELATÓRIO com que o Conselheiro Barão de Muritiba
entregou a presidência da Província de S. Pedro do Rio
Grande do Sul ao exm. sr. presidente e commandante
das armas, conselheiro, e general Jeronymo Francisco
Coelho no dia 28 de abril de 1856. Porto Alegre:
Typographia do Mercantil à Rua da Praia n.393, 1856.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/pdf/252263/per252263_1856_00001
.pdf
(REL.1853)
RELATÓRIO do presidente da Província de S. Pedro
do Rio Grande do Sul, João Lins Vieira Cansansão de
Sinimbú, na Abertura da Assembléa Legislativa
Provincial em 6 de outubro de 1853. Porto Alegre:
Typographia do Mercantil, Rua da Praia n. 367, 1853.
Disponível em:
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