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2
ara Daniela, minha irmã amada, aquela que me tomou pela mão e me levou
às portas da leitura, e como Musa inspiradora fez nascer o melhor dos versos em mim,
ponte intermediadora para mundos aquém das nossas possibilidades, mas com uma
virada de páginas os tornou tão palpáveis quanto a nossa realidade.
Obrigada!
3
Sumário
Prólogo....................................................................................................................................................... 5
Poema em Linha Reta .................................................................................................................................. 6
O amor bate na Aorta .................................................................................................................................... 8
Ausência ................................................................................................................................................... 10
Amar ...................................................................................................................................................... 11
O navio negreiro .......................................................................................................................................... 13
A arte de perder...........................................................................................................................25
O necrológico dos desiludidos do amor.........................................................................27
Autopsiografia...............................................................................................................29
Amo-te..........................................................................................................................30
O que restará de ti.........................................................................................................31
Canção do exílio.............................................................................................................33
A rosa de Hiroshima.......................................................................................................35
O bicho...........................................................................................................................36
Vou-me embora pra Parsagada.......................................................................................37
A dúvida..........................................................................................................................39
O bem e o Mal do país da luz...........................................................................................40
Livro e as flores................................................................................................................41
E assim é tudo nela..........................................................................................................42
Amor...............................................................................................................................43
Pequei Senhor.................................................................................................................44
Venha para mim em Sonhos............................................................................................45
Augúrios da inocência......................................................................................................46
Só....................................................................................................................................47
Meu desejo......................................................................................................................48
Alma atribulada...............................................................................................................50
O tempo..........................................................................................................................51
Campos de honra.............................................................................................................52
Livre.................................................................................................................................53
Retrato.............................................................................................................................54
Salmo 42..........................................................................................................................55
Perdão.............................................................................................................................57
Cântico I...........................................................................................................................58
Saber viver.......................................................................................................................59
O tempo...........................................................................................................................60
Relógio do coração...........................................................................................................61
Considerações finais............................................................................................................63
Bibliografia.......................................................................................................................65
4
Prólogo
Quando se fala em poemas e poesias, para a maioria das pessoas, logo se pensa
em algo monótono e pouco atraente. Mas para aqueles, cuja mente está sempre
sedenta pelo inexplicável, que vagueiam pelo mundo imaginário, que passam pela
porta que só a leitura abre; para estes raros espécimes, poemas e poesias são mais
que palavras digitadas e impressas, ou manualmente escritas. Esse gênero
literário, é a manifestação da arte na linguagem humana, que é capaz de
comunicar o indizível, é o nascimento das palavras da alma, a arte que ensina e
manifesta a vida, que eficazmente consegue poetizar e exprimir, os monstros, os
dessabores, as perdas, as alegrias, os amores, as inquietações, as frustrações, e as
conquistas que há dentro de nós.
Por isso em um dia corriqueiro, com uma breve leitura do poema Necrológico
dos desiludidos do amor, surgiu a ideia de concentrar nesse pequeno livro, o
melhor da minha memória de leitora, as poesias e os poemas que fizeram parte
da minha história, assim como fizeram parte da vida de tantas outras pessoas,
reunir os mestres das palavras em um só, o melhor dos melhores, almas elevadas,
que com simples palavras são capazes de nos fascinar, trazendo à nossa memória
momentos que nos marcaram, e agora sempre que voltarmos à esses momentos,
de alguma forma esses versos e estrofes estarão lá, escritos e logados à essas
lembranças, nos fascinando sempre e sempre.
Boa Leitura!
5
Poema em Linha reta.
Nunca conheci quem tivesse levado porrada
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita
Indesculpavelmente sujo
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, absurdo
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante
Que tenho sofrido enxovalhos e calado
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar
Eu, que quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Pra fora da possibilidade do soco
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia
6
Não, são todos o ideal, se os oiço e me falam
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil
Ó príncipes, meus irmãos
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado
Poderão ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza
Argh! Estou farto de semideuses
Argh! Onde é que há gente? Onde é que há gente no mundo?
7
O amor bate na aorta
Cantiga de amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.
11
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
12
I
'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
13
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
14
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
II
15
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!
O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
16
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...
III
17
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
18
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
20
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...
Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
21
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
22
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...
VI
24
A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
25
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
26
Os desiludidos do amor
Estão desfechando tiros no peito
Do meu quarto ouço a fuzilaria
As amadas torcem-se de gozo
Oh quanta matéria para os jornais
27
Agora vamos para o cemitério
Levar os corpos dos desiludidos
Encaixotados competentemente
(Paixões de primeira e de segunda classe)
28
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
29
Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minh'alma alcança quando, transportada,
sente, alongando os olhos deste mundo,
os fins do ser, a graça entresonhada.
30
O que restará de ti
É tudo aquilo que deste
E não o que guardaste
Nos cofres enferrujados
O que restará de ti
E de teu jardim secreto
É uma flor esquecida
Jamais fenecida
E tudo que deste
Nos outros, florescerá
Pois aquele que perde a vida
Um dia encontrará
O que restará de ti
É tudo que ofereceste
De braços abertos
Numa manhã ensolarada
E tudo que perdeste
Ao longo da jornada
E tudo que sofreste
31
Nos outros reviverá
Pois aquele que perde a vida
Um dia a encontrará!
O que restará de ti
Uma lágrima caída
Um sorriso brotado
Nos olhos do coração
É verdade, o que restará de ti
É o que semeaste, dividiste
Com os que buscam a felicidade
E tudo que semeaste
Nos outros germinará
Pois, aquele que perde a vida
Um dia a encontrará!
32
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá,
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
33
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Gonçalves Dias- 1846.
34
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
Vinícius de Moraes-Rio de Janeiro1954.
35
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem!
36
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
37
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Manoel Bandeira-1930.
38
Quem escreverá a história do que poderia ter sido o irreparável do meu
passado;
Este é o cadáver.
Se a certa altura eu tivesse me voltado para a esquerda, ao invés que
para direita;
Se em certo momento eu tivesse dito não, ao invés que sim;
Se em certas conversas eu tivesse dito as frases que só hoje elaboro; Seria
outro hoje, e talvez o universo inteiro seria insensivelmente levado a ser
outro também."
39
“ O diamante, se tivesse vida e pudesse,
fugiria ao sacrifício da lapidação.
Nisso estaria o seu bem, pelo seu sossego.
Eça de Queiroz
40
Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?
-Machado de Assis-
41
“E assim é tudo nela; de contraste em contraste, mudando a cada
instante, sua
existência tem a constância da volubilidade. Na vaga flutuação dessa
alma, como no
seio da onda, se desenha o mundo que a cerca; a sombra apaga a luz;
uma forma
desvanece a outra; ela é a imagem de tudo, menos de si própria.”
-José de Alencar-
42
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
43
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
-Gregório de Mattos-(Soneto)
44
Oh venha para mim em sonhos, meu amor;
Não pedirei uma felicidade mais almejada;
venha com raios estrelados, meu amor,
e com seu beijo acaricie minhas pálpebras.
E assim foi, como dizem as velhas fábulas,
que o amor visitou uma donzela grega,
até que ela perturbou o feitiço sagrado,
e acordou para encontrar suas esperanças traídas.
Mas o sono tranquilo vai encobrir minha visão,
e a lâmpada psique vai escurecer,
quando nas visões da noite
renove seus votos por mim.
Então venha até mim em sonhos, meu amor,
Não pedirei uma felicidade mais almejada;
Venha com raios estrelados, meu amor.
e com seu beijo acaricie minhas pálpebras fechadas.
-Mary Shelley-
45
[...]Se tal crença do céu for enviada,
Se tal for o plano sagrado da natureza,
Não tenho eu razão de lamentar
O que o homem fez do homem? [...]
46
Eu nunca fui desde a infância jamais semelhante aos outros. Nunca vi
as coisas como os outros as viam. Nunca logrei apaziguar minhas
paixões na fonte comum.
Nunca tampouco extrair dela os meus sofrimentos.
Nunca pude em conjunto com os outros despertar o meu peito para doces
alegrias,
E quando eu amei o fiz sempre sozinho.
Por isso, na aurora da minha vida borrascosa evoquei como fonte de
todo o bem o todo o mal.
O mistério que envolve, ainda e sempre,
Por todos os lados, o meu cruel destino...
47
Meu desejo? era ser a luva branca
Que essa tua gentil mãozinha aperta:
A camélia que murcha no teu seio,
O anjo que por te ver do céu deserta....
48
Meu desejo? era ser a voz da terra
Que da estrela do céu ouvisse amor!
Ser o amante que sonhas, que desejas
Nas cismas encantadas de languor!
-Álvares de Azevedo-1848.
49
O' alma atribulada, corta o laço
da torva angústia que te cinge à vida!
Vai, foge para Deus, ou para o espaço...
Ou nada ou Deus, que importa? eis-te remida.
50
A grande causa de esquecimento, a responsável pela pouca contrição da
gente e a pouca constância no arrependimento, é o tempo, é o tempo não
ser, como o espaço, uma coisa onde se possa ir e vir, sair e voltar... O
que se passa no tempo, some-se, anda para longe e não volta nunca, pior
do que se estivesse do outro lado de terra e mar.
Afinal, quem pode manter, num espelho, uma imagem que fugiu?"
-Rachel de Queiroz-
51
Os soldados nunca morrem bem:
as cruzes marcam os lugares;
onde caíram há cruzes de madeira;
uma vara sobre seus rostos.
-Ernest Hemingway-
52
Livre! Ser livre da matéria escrava,
arrancar os grilhões que nos flagelam
e livre penetrar nos Dons que selam
a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.
Livre da humana, da terrestre bava
dos corações daninhos que regelam,
quando os nossos sentidos se rebelam
contra a Infâmia bifronte que deprava.
Livre! bem livre para andar mais puro,
mais junto à Natureza e mais seguro
do seu Amor, de todas as justiças.
Livre! para sentir a Natureza,
para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.
-Cruz e Souza-
53
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
-Cecília Meireles-
54
Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a
minha alma por ti, ó Deus!
A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e
me apresentarei ante a face de Deus?
As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite,
enquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?
Quando me lembro disto, dentro de mim derramo a minha alma; pois
eu havia ido com a multidão. Fui com eles à casa de Deus, com voz de
alegria e louvor, com a multidão que festejava.
Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim?
Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação da sua face.
Ó meu Deus, dentro de mim a minha alma está abatida; por isso
lembro-me de ti desde a terra do Jordão, e desde os hermonitas, desde
o pequeno monte.
Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas as
tuas ondas e as tuas vagas têm passado sobre mim.
Contudo o Senhor mandará a sua misericórdia de dia, e de noite a
sua canção estará comigo, uma oração ao Deus da minha vida.
Direi a Deus, minha rocha: Por que te esqueceste de mim? Por que
ando lamentando por causa da opressão do inimigo?
Com ferida mortal em meus ossos me afrontam os meus adversários,
quando todo dia me dizem: Onde está o teu Deus?
Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de
55
mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da
minha face, e o meu Deus.
-Filhos de Corá-
56
Não sei qual é a minha culpa, mas peço perdão.
A luz do farol revelou-os tão rapidamente que não se puderam ver.
Peço perdão por não ser uma "estrela" ou o "mar",
ou por não ser alegre, mas coisa que se dá.
Peço perdão por não saber me dar nem a mim mesma.
Para me dar desse modo eu perderia a minha vida se fosse preciso
mas peço de novo perdão...
não sei perder minha vida.
-Clarice Lispector-
57
Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o teu amor do
que o vinho.
* Suave é o aroma dos teus unguêntos; como o ungüênto derramado é o
teu nome; por isso as virgens te amam.
* Leva-me tu; correremos após ti. O rei me introduziu nas suas
câmaras; em ti nos regozijaremos e nos alegraremos; do teu amor nos
lembraremos, mais do que do vinho; os retos te amam.
* Eu sou morena, porém formosa, ó filhas de Jerusalém, como as
tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão.
* Não olheis para o eu ser morena; porque o sol resplandeceu sobre
mim; os filhos de minha mäe indignaram-se contra mim, puseram-me
por guarda das vinhas; a minha vinha, porém, näo guardei.
* Dize-me, ó tu, a quem ama a minha alma: Onde apascentas o teu
rebanho, onde o fazes descansar ao meio-dia; pois por que razäo seria eu
como a que anda errante junto aos rebanhos de teus companheiros?
58
Não sei… Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura… Enquanto durar.
-Cora Coralina-
59
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada
e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de
tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais
voltará.
-Mario Quintana-
60
Há tempos em nossa vida que contam de forma diferente.
Há semanas que duraram anos, como há anos que não contaram um dia.
Há paixões que foram eternas, como há amigos que passaram céleres, apesar do
calendário nos mostrar que ficaram por anos em nossas agendas.
Há amores não realizados que deixaram olhares de meses, e beijos não dados
que até hoje esperam o desfecho.
Há trabalhos que nos tomaram décadas de nosso tempo na Terra, mas que
nossa memória insiste em contá-los como semanas.
Há tristezas que nos paralisaram por meses, mas que hoje, passados os dias
difíceis, mal guardamos lembrança de horas.
61
Já viajei para a mesma cidade uma centena de vezes, e na maioria das vezes o
tempo transcorrido foi o mesmo.
Mas conforme meu espírito, houve viagem que não teve fim até hoje, como há
percurso que nem me lembro de ter feito, tão feliz estava eu na ocasião.
O relógio do coração hoje descubro, bate noutra frequência daquele que carrego
no pulso.
Por este relógio, velhice é coisa de quem não conseguiu esticar o tempo que temos
no mundo.
É pensar antes naquilo que não foi feito, ao invés de se alegrar e sorrir com as
lembranças do que viveu.
Mário Quintana
62
É uma grande satisfação ver esse trabalho concluído, algo que surgiu de
uma forma genuína, e ao longo dos dias tomando forma, e mostrando-
se cada vez mais prazeroso. Foi um desafio, e um grande exercício de
leitura, e pesquisa, no entanto a cada poema lido, viu-se o quanto a arte
de escrever é maravilhosa, um tesouro que deve ser escavado por todas as
gerações.
É necessário dizer como foi difícil fazer a escolha dos textos, sendo que o
critério de escolha não se deu pela estética, ou pela técnica usada nos
escritos, menos ainda a datação deles, e as escolas literárias. As escolhas
se deram pela paixão, sim, isso pode soar “piegas”, mas o fato é que foi
pela arrebatadora paixão pela leitura, pelos clássicos, e pelos grandes
nomes da literatura, cada texto escolhido encheu-me de alegria, assim
como os outros que não entraram na seleção, não por não serem
igualmente magníficos, e sim porque a estrutura do livro não me
permitiria adicionar mais.
Então aí se deu esse monstro dilema, alguém apaixonada por esses
textos, ter que escolher apenas alguns. Toda via, páginas e páginas
foram carregadas com a mais requintada inspiração de textos
esplêndidos, que com toda a certeza marcaram épocas e vidas, que se
deixaram abrasar-se pelo enlevo dessas palavras. A alegria, e o desejo
de agradar esteve presente em cada folha, até ao último ponto digitado,
sendo essa minha genuína motivação.
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E a poesia? E os poemas? Tudo é digno de se poetizar, tudo é vivo,
tudo é arte, e a nossa escrita é a nossa forma de expressar nossas emoções,
e com uma intensa dose de criatividade, pude navegar como Colombo
por essas águas até então para mim, misteriosas. Linhas que foram
sendo escritas e desenvolvidas, surpreendendo, tal qual o Atlântico tendo
seus metros desvendados, e encantando seus navegantes.
Chego à conclusão desse trabalho, com a percepção mais aguçada, para
um mundo de possibilidades, percebendo que o meu primeiro passo não foi
em falso, mas sim um ótimo começo de caminhada com o encantamento
que só os textos poéticos nos trazem.
-Geórgia Rodrigues-
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1. PARA VIVER COM POESIA.QUINTANA MAURO.ED 1ª 2008. O
Globo.118pág.
2. OLIMPIADA DE LÍNGUA PORTUGUESA. COLETANEA POEMAS.
DOMÍNIO PÚBLICO.ED 2ª 2019. GOVERNO FEDERAL.17PÁG.
3. SITE MEU LADO POÉTICO. https://www.meuladopoetico.com/br
4. SITE O PENSADOR. https://www.pensador.com/autor/site_de_poesias/
5. SITE POEMAS DE GRNADES POETAS. A MAGIA DA POESIA.
https://poesiaspoemaseversos.com.br
6. O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA. ANDRADE DRUMMOND E
OUTROS.ED 1ª JULH 2013. JOSE OLYMPIO EDITORA.160pág.
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