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PORTUGUÊS

Ficha informativa - Auto da Barca do Inferno


2.º Período Ano letivo 2012/2013
Aluno (a) ________________________________________ N.º________
Data / / Ano .º Turma
As Docentes Anabela Cachapa /Carla Almeida

Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente

Escrita em 1517, durante a transição entre a Idade Média e o Renascimento, o Auto da


Barca do Inferno, é uma das obras mais representativas do teatro vicentino. Como em tantas
outras peças, nesta o autor aproveita a temática religiosa como pretexto para a crítica de
costumes.

É uma das peças mais famosas do dramaturgo. Segundo a edição original, foi composto
para contemplação da sereníssima e muito católica rainha Lianor, nossa senhora, e representado
por seu mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei Manuel, primeiro de Portugal deste nome.

Gil Vicente, ao apresentar seu Auto da Barca do Inferno, utiliza a expressão "auto de
moralidade", com a qual os historiadores da literatura designam algumas produções do final da
Idade Média em que os personagens (alegóricos) personificam exclusiva ou predominantemente
ideias abstratas dispostas entre o Bem e o Mal. Pouco tempo antes, a palavra francesa moralité
era empregada para designar obras poéticas de caráter didático-moral, tal como, a nosso ver, o
termo deve ser entendido na obra.

Em seguida, o escritor julga necessário declarar o argumento utilizado para compor a


trama. As almas, após se libertarem de seus corpos terrestres, dirigem-se a um braço de mar
onde dois barcos as esperam: um deles, conduzido por um Anjo, levará as almas ao Paraíso e
outro, tripulado pelo Diabo e seu Companheiro, dirige-se ao Inferno. É de se supor que o porto em
que estão as barcas seja o Purgatório.

A primeira das três "barcas" escritas por Gil Vicente tem como personagens almas de
representantes das variadas classes sociais e de algumas atividades diversas, além de quatro
cavaleiros cruzados. Cada personagem é julgada e condenada ao seu destino, embarcando em
companhia do Diabo ou do Anjo.

Foi escrita em versos rimados, fundindo poesia e teatro, fazendo com que o texto, cheio de
ironia, trocadilhos, metáforas e ritmo, fluísse naturalmente. Faz parte da trilogia dos Autos da
Barca (do Inferno, do Purgatório, do Céu)

Temática

Sátira social - Esta obra tem dado margem a leituras muito resumidas, que grosseiramente
nela só veem uma farsa. Mas se Gil Vicente fez a análise impiedosa das "doenças" que corroíam
a sociedade em que viveu, não foi para ficar por aí, como nas farsas, mas para propor um
caminho decidido de transformação.
Esta obra é normalmente classificada como "auto de moralidade", mas muitas vezes
aproxima-se da farsa. Retrata um pouco do que era a sociedade portuguesa do século XVI e,
apesar de este auto se designar como o Auto da Barca do Inferno, este é mais o auto do
julgamento das almas. Talvez tenha este nome por quase todas as personagens têm como
destino a Barca do Inferno.

Na peça, é clara a intenção do autor em expor de forma satírica e despojada os grandes


vícios humanos. A forma encontrada para isso reside nos personagens, ou melhor, nas almas que
se apresentam no porto em busca do transporte para o outro lado, dentro da visão católica e
platónica de Céu e Inferno.

Ela proporciona uma amostra do que era a sociedade lisboeta das décadas iniciais do
século XVI, embora alguns dos assuntos discorridos sejam pertinentes à atualidade.

O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente é um auto onde o barqueiro do Inferno e o do


Céu esperam na margem os condenados e os agraciados. Os que morrem chegam e são
acusados pelo Diabo e pelo Anjo, mas apenas o Anjo pode absolver.

Estilo

É uma obra escrita em versos heptassílabos, em tom coloquial e com intenção


marcadamente doutrinária, fundindo em algumas passagens o português, o latim e o espanhol.
Cada personagem apresenta, através da fala, traços que denunciam sua condição social.

Estrutura

Como já foi citado, a peça caracteriza-se como um auto, designação genérica para peças
cuja finalidade é tanto divertir quanto instruir. Os seus temas, podendo ser religiosos ou profanos,
sérios ou cómicos, devem, no entanto, guardar um profundo sentimento moralizador. O auto não
tem uma estrutura definida, não estando dividido em atos ou cenas, é uma peça teatral composta
por um único ato, subdividido em cenas marcadas pelos diálogos que o Anjo ou o Diabo travam
com os personagens.

Cenário

A peça passa-se num ancoradouro, no qual estão atracadas duas barcas. Todos os
mortos, necessariamente, têm de passar por esta paragem, sendo julgados e condenados ou à
barca da Glória ou à barca do Inferno.

A peça tem início quando as almas chegam subitamente a um rio (ou braço de mar) que,
forçosamente, todos os mortos terão de atravessar, não sem antes sofrerem um julgamento.

Ao que tudo indica, o cenário da peça era rudimentar, possivelmente um salão (quarto) e
alguns poucos móveis e panos. A mímica tem lugar de destaque, servindo de marcação e de
direcionamento da ação.

Personagens

Diabo: condutor das almas ao Inferno, conhece muito bem cada um dos personagens que
lhe cai nas mãos; é zombeteiro, irónico e bom argumentador. Gil Vicente não pinta o Diabo como
responsável pelos fracassos e males humanos; o Diabo é um juiz, que exibe às claras o lado mais
recôndito dos personagens, penetrando nas consciências humanas e revelando o que cada um
deles procura esconder.
Fidalgo: representa a nobreza, e chega com um pajem. Tem uma roupagem exagerada e uma
cadeira de espaldar, elementos característicos de seu status social. O Diabo alega que o Fidalgo o
acompanhará por ter tido uma vida de luxúria e de pecados, sendo portanto, condenado pela vida
pecaminosa, em que a luxúria, a tirania e a falta de modéstia pesam como graves defeitos. Ao
Fidalgo, nada lhe valem as compras de indulgências ou orações encomendadas. A figura do
Fidalgo, arrogante e orgulhoso, permite a crítica vicentina à nobreza e é centrada nos dois
principais defeitos humanos: o orgulho e a prática da tirania.

Onzeneiro: o segundo personagem a ser inquirido é o Onzeneiro, usurário que, ao chegar à


barca do Diabo, descobre que seu rico dinheiro ficara em terra. Utilizando o pretexto de ir buscar o
dinheiro, tenta convencer o Diabo a deixá-lo retornar, demonstrando seu apreço às coisas
mundanas. O Diabo não aceita que o Onzeneiro volte à terra para reaver suas riquezas,
condenando-o ao fogo do Inferno.

Parvo: um dos poucos a não ser condenado ao Inferno. O Parvo chega desprovido de tudo, é
simples, sem malícia e consegue surpreender o Diabo, e até injuriá-lo. É uma alma pura, cujos
valores são legítimos e sinceros. Ao passar pela barca do Anjo, diz ser ninguém. Então, pela sua
humildade e pelos seus verdadeiros valores, é aceite no Paraíso. Em várias passagens da peça, o
Parvo ironiza a pretensão de outros personagens, que se querem passar por "inocentes" diante do
Diabo.

Sapateiro: representante dos mestres de ofício, chega à embarcação do Diabo carregando seu
instrumento de trabalho, o avental e as formas. É um desonesto explorador do povo. Habituado a
ludibriar os homens, procura enganar o Diabo, que não se deixa levar pelos seus artifícios e o
condena.

Frade: como todos os representantes do clero, focalizados por Gil Vicente, o Frade é alegre,
cantante, bom dançarino e mau-caráter. Chega acompanhado pela sua amante, e acredita que,
por ter rezado e estar a serviço da fé, deveria ser perdoado de seus pecados mundanos. Dá uma
lição de esgrima ao Diabo (que finge não saber manejar uma arma), o que prova a culpa do
espadachim, já que frades não lidam com armas. Contra suas expectativas, é condenado ao fogo
do inferno. Gil Vicente desfere uma ardorosa crítica ao clero, acreditando-o incapaz de pregar as
três coisas mais simples: a paz, a verdade e a fé.

Brísida Vaz: misto de alcoviteira e feiticeira. Pela sua devassidão e falta de escrúpulos, é
condenada. É conhecida de outros personagens que utilizaram em vida seus serviços.
Inescrupulosa, traiçoeira, cheia de ardis e manhas, não consegue fugir à condenação. É uma
personagem que faz o público leitor conhecer a qualidade moral de outros personagens que com
ela se relacionaram.

Judeu: entra acompanhado pelo seu bode. Detestado por todos, até mesmo pelo Diabo, que
quase se recusa a levá-lo, é igualmente condenado, inclusive por não seguir os preceitos
religiosos da fé cristã. É bom lembrar que, durante o reinado de D. Manuel, houve uma
perseguição aos judeus visando a sua expulsão do território português. Alguns foram embora,
carregando grandes fortunas; outros converteram-se ao cristianismo (ou fingiram converter-se),
sendo chamados cristãos novos.

Corregedor e o Procurador: ambos representantes da justiça: juiz e advogado. Deveriam ser


exemplos de bom comportamento mas acabaram por ser condenados justamente por serem
imorais, manipulando a justiça de acordo com as propinas recebidas. Faziam da lei uma fonte de
recursos ilícitos e de manipulação de sentenças. A índole moralizadora do teatro vicentino fica
bastante patente com mais esta condenação, envolvendo a Justiça humana, na figura dos
representantes do Direito.
Enforcado: chega ao batel acreditando ter o perdão garantido pelo seu julgamento terreno e
posterior condenação à morte mas é condenado também a ir para o Inferno.

Cavaleiros Cruzados: finalmente chegam à barca quatro cavaleiros cruzados, que lutaram pelo
triunfo da fé cristã e morreram em poder dos mouros. Obviamente, com um percurso impecável,
serão todos julgados, perdoados e conduzidos à Barca da Glória.

Cada uma das personagens focalizados adentram a morte com seus instrumentos
terrenos. São inconscientes e por causa de seus pecados não atingem a Glória, a salvação
eterna. Deve ser destacada a figura do Diabo, personagem vigorosa que, como vimos, conhece a
arte de persuadir, é ágil no ataque, zomba, retruca, argumenta e penetra nas consciências
humanas. Ao Diabo cabe denunciar os vícios e as fraquezas, sendo o personagem mais
importante na crítica que Gil Vicente tece de sua época.

Surgem ao longo do auto três tipos de cómico, o de caráter, o de situação e o de


linguagem. O cómico de caráter é, por exemplo, demonstrado pela personalidade da personagem
Parvo que, devido à sua pobreza de espírito, não mede suas palavras, não podendo ser
responsabilizado pelos seus erros. O cómico de situação é o criado à volta de determinada
situação, como quando o Fidalgo é ridicularizado pelo Diabo por pensar que a sua amante sofria
com a sua morte na Terra . Por fim, o cómico de linguagem é aquele que é proferido pelas falas
das personagens, como o Diabo ou o Parvo.

Enredo

A peça inicia-se num porto imaginário, onde se encontram as duas barcas, a Barca do
Inferno, cuja tripulação é o Diabo e o seu Companheiro, e a Barca da Glória, tendo como
tripulação um Anjo.

A obra apresenta um conjunto de personagens, as almas dos mortos, que, após a morte,
se deparam com um braço de mar onde barcas as aguardam. O companheiro do Diabo e este
encontram-se em preparativos para levar as almas dos que viessem.

O primeiro a embarcar é um Fidalgo, que chega acompanhado de um Pajem. Este leva a


cauda da roupa do Fidalgo e também uma cadeira. O Diabo, mal viu o Fidalgo, diz-lhe para entrar
na sua barca. O Fidalgo dirigiu a palavra ao Diabo, perguntando para onde aquela barca iria. Este
respondeu que iria para o Inferno. O Fidalgo, de forma sarcástica,compara o Diabo com uma
mulher e refere-se à barca com desdém. O Diabo não gostou da provocação e disse que aquela
barca era ideal para ele. O Fidalgo espantado, diz ao Diabo que tem quem reze por ele, mas
acaba por receber a notícia de que o seu pai também tinha rumado ao Inferno. O Fidalgo resolve
dirigir-se à barca do Céu e perguntar ao Anjo se poderia embarcar mas é impedido de o fazer,
devido a sua tirania. O Anjo refere que aquela barca era muito pequena para ele, lá não teria
espaço para o seu mau caráter nem para a sua vaidade. O Fidalgo, desconsolado, resolve
embarcar na barca para o Inferno mas antes pede para tornar a ver sua amada, que tinha dito que
se mataria por ele. O Diabo afirma que quer a amante quer a mulher o enganaram e insiste que o
Fidalgo embarque logo pois ainda viria mais gente. O Diabo manda o Pajem, que estava com o
Fidalgo, ir embora, pois ainda não era sua hora.

Logo a seguir, veio o Onzeneiro que questionou ao Diabo para onde ele iria conduzir
aquela barca. Este perguntou por que ele tinha demorado tanto, e o Onzeneiro afirmou que tinha
sido devido ao dinheiro que ele queria ganhar e que não sobrara nada para pagar ao barqueiro.
Não quis entrar na barca do Diabo e resolveu dirigir-se à barca do Céu. Chegado lá, perguntou ao
Anjo se poderia embarcar, mas este afirmou que, por ter roubado muito e por ser ganancioso, não
entraria lá. Então, o Onzeneiro acaba por entrar na barca do Inferno.

Mais uma alma se aproximou, desta vez era um Parvo, que perguntou se aquela barca era
a barca dos tolos. O Diabo afirmou que era e que ele deveria entrar, mas o Parvo reclamou que
morreu na hora errada. O Diabo perguntou do que ele tinha morrido e o Parvo sendo pouco subtil,
respondeu que havia sido de diarreia. O Parvo ao saber aonde aquela barca iria, começou a
insultar o Diabo e dirigiu-se embarcar à barca divina. O Anjo disse que, se ele quisesse, poderia
entrar, pois não tinha feito nada de mal na sua vida. Pediu-lhe, no entanto, que esperasse para
ver se tinha mais alguém que merecesse entrar na barca divina.

Chegou um sapateiro com seu avental e carregado de formas. O Diabo fica espantado
com a carga do sapateiro (cheio de pecados e de suas formas). O sapateiro tenta enganar o
Diabo, dizendo que não entraria ali pois sempre se confessara, mas o Diabo responde que de
nada lhe servia a confissão se ele roubava o povo a seguir e diz-lhe para entrar na sua barca. O
sapateiro vai até à barca da Glória e tenta convencer o Anjo a levá-lo para o Céu, mas o este diz-
lhe que a "carga" que ele trazia não entraria na sua barca e que o batel do Inferno era perfeito
para ele. Vendo que não conseguia o que queria, o sapateiro regressa à barca do Inferno e
ordena que ela saia logo.

Surge um Frade, com uma moça pela mão, trazendo numa mão um pequeno escudo, uma
espada na outra mão e um capacete debaixo do capuz. Cantarolava uma música e dançava.
Disse ao Diabo que era da corte, daí saber dançar o tordião. O Diabo perguntou se a moça que
ele trazia era dele e se no convento não censuravam tal coisa. O Frade disse que todos no
convento eram tão pecadores quanto ele e aproveitou para perguntar para onde aquela barca iria.
Ao saber, ficou inconformado, sem entender porque teria de ir para Inferno e não ao céu, já que
era um frade. O Diabo respondeu-lhe que aquele seria o seu destino pelo seu comportamento
durante a vida, por ter tido várias mulheres e por ter sido muito aventureiro. O Frade desafia o
Diabo para uma lição de esgrima, e este não faz nada, apenas observa o Frade. O Frade resolve
levar a moça até ao batel do Céu, mas lá só o Parvo fala com ele, perguntando-lhe se ele tinha
roubado a moça. O Frade, completamente arrasado, percebe finalmente que seu destino é o
Inferno. Dirigiu-se a barca do Inferno e resolve embarcar junto com a moça que o acompanhava.

Assim que o Frade embarcou, veio a alcoviteira Brísida Vaz, chamando o Diabo para saber
em qual barca ela iria entrar. O companheiro do Diabo disse-lhe que ela não entraria na barca
sem Joana de Valdês. A Alcoviteira descreve o que trouxe para a barca e afirmava que iria para o
Paraíso, mas o Diabo dizia que sua barca era o seu lugar, que ela teria que ficar ali. Brísida vai
implorar de joelhos ao Anjo que a deixe entrar na sua barca, pois ela não queria arder no fogo do
inferno, dizendo que tinha o mesmo mérito de um apóstolo para lá entrar. O Anjo, já sem
paciência, mandou-a embora, dizendo-lhe que não a importunasse mais. Triste por não poder ir
para o Paraíso, Brísida regressa ao batel do Inferno e resolve entrar, já que era o único lugar para
onde poderia ir.

Logo após o embarque de Brísida Vaz, veio um Judeu, com um bode, que fazia parte dos
rituais de sacrifício da religião hebraica. Chegando ao batel dos danados, chama o marinheiro,
perguntando a quem pertencia aquela barca. O Diabo questiona se o bode também iria junto com
o Judeu, que lhe afirma que sim, mas o Diabo recusa pois ele não levava caprinos para o Inferno.
O Judeu resolve pagar alguns tostões ao Diabo, para que este permita a entrada do bode mas,
vendo que não consegue, injuria o Diabo e roga-lhe várias pragas. O Parvo, para troçar do Judeu,
perguntou-lhe se ele tinha roubado aquela cabra, e aproveitou para ofendê-lo. Afirmou também
que ele havia urinado na igreja de São Gião e que teria comido a carne da panela no dia do
Nosso Senhor. Vendo que o Judeu era uma péssima pessoa, o Diabo ordenou-lhe que fosse a
reboque, com o bode.
Depois, veio um Corregedor, carregado de feitos. O barqueiro, ao vê-lo, fica feliz, pois seria
mais uma alma para o fogo ardente do Inferno. O Corregedor era ideal para entrar na barca do
Inferno, pois durante sua vida, foi um juiz corrupto, que aceitava perdizes como suborno. O Diabo
começa a falar em latim com o Corregedor e ordena ao seu companheiro que este apronte logo a
barca . O Corregedor utiliza o Latim para se mostrar superior em relação ao Diabo. Pensa que, só
porque era um juiz prestigiado, não teria que entrar naquela barca. O Diabo vai perguntando sobre
todas as suas falhas, mas o Corregedor desculpa-se com a mulher, que aceitava subornos dos
judeus. Enquanto o Corregedor estava nesta conversa com o Arrais do Inferno, chegou um
Procurador, carregando vários livros, que fica espantado por encontrar ali o seu superior.
Questiona-o sobre o seu destino, mas o Diabo responde pelo Corregedor e diz que também ele
iria para o Inferno. O Corregedor e o Procurador não quiseram entrar na barca, pois eles tinham fé
em Deus e também porque havia outra barca em melhores condições, que os conduziria para um
lugar mais ameno. Quando chegam ao batel divino, o Anjo e o Parvo troçaram das suas ações,
dizendo que eles não tinham o direito de entrar ali, pois tudo que eles haviam feito de errado,
estava a ser julgado agora, com a ida de suas almas para o Inferno. Desistindo de ir para o
paraíso, os dois ao entrarem no batel dos condenados, onde encontram Brísida Vaz. Ela reage, ao
vê-los, pois enquanto estava viva foi muito castigada pela Justiça.

Veio um homem que morreu enforcado e, ao chegar ao batel dos mal-aventurados,


começou a conversar com o Diabo. Tentou explicar porque considerava não ser o Inferno o seu
destino. Pensava ter sido perdoado por Deus ao ser condenado à forca e morrer, mas isso não
passou de uma mentira de Garcia Moniz. Desistindo de tentar fugir do seu futuro, ele acaba por
obedecer às ordens do Diabo para ajudar a empurrar a barca e remar, pois o horário da partida
estava próximo.

Depois disso, vieram quatro Cavaleiros a cantar. Cada um trazia a Cruz de Cristo, pois
tinham lutado numa Cruzada contra os Muçulmanos, no norte da África. Estavam absolvidos de
toda a culpa, um privilégio dos que morriam na guerra contra os infiéis. Ao passarem na frente do
batel do Inferno, o Diabo não resiste e pergunta-lhes porque não pararam para questionar para
onde sua barca iria. Convidando-os para entrar, o Diabo recebe uma resposta não muito
agradável de um dos Cavaleiros, que lhe disse que quem morria por Jesus Cristo, não entraria
em tal barca. Tornaram a prosseguir, cantarolando, em direção à barca da Glória. Quando
chegaram, são recebidos em júbilo pelo Anjo, que os aguardava há muito tempo. Sendo assim, os
quatro Cavaleiros embarcaram e rumaram ao Paraíso, já que morreram por Deus, o que os
deixava livres de qualquer pecado.

In http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/a/auto_da_barca_do_inferno (texto adaptado)

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