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agosto
Copyright © 2021 by Vila Rica Editora / Adriano Silva
Título Original: Vinte e sete de agosto
SILVA, Adriano
Vinte e sete de agosto | Adriano Silva 1ª Ed
Adriano Silva, 2020. 210 p.
1. Literatura. 2. Romance. I. Título
ISBN: 978-65-86379-01-3
Literatura Brasileira
CDD: B800
CDU: S-61
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Vila Rica Editora
CNPJ: 36.035.213/0001-04
Rua Joaquim Eugênio de Mesquita, s/n Bairro Dom Bosco
São João del-Rei – MG / CEP: 36301-104
Dedicado a Marcos, o garoto dos cabelos de fogo.
A Fred, que me permitiu contar sua história.
PREFÁCIO
O autor
O ano em que foi escrito este romance está muito
distante deste tempo que você leitor o abre.
A temperatura está acima dos 38°C. O céu está
azul as noites continuam estreladas e o vento
ausente.
O dia é 27, uma sexta-feira de um mês de agosto.
De desgosto. Sem gosto.
O amor está muito distante deste livro.
— Já vai Tati?
— O que aconteceu com ela? Esses jovens!
— Não foi nada, Sheila — digo com a voz
falhando do topo da escada — ela teve que ir
correndo para casa, esquecemos um livro para
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as anotações do trabalho que estamos fazendo — e
volto novamente para o quarto — droga, que foi
isso?!
Organizo o restante do material para levar
para a escola, mas fico o tempo todo lembrando
do beijo.
Agora, depois disso, como que iria ficar
nossa amizade. Sempre fomos amigos, a vejo
assim, apenas como uma amiga de muitos anos.
Eu sempre percebi a forma de Tati me olhar, de
sempre querer estar ao meu lado quando volta-
mos da escola, mas nunca tinha me passado pela
cabeça que ela estava gostando de mim.
CAPÍTULO 04
***
Quando a chuva parou de cair, passava
pouco mais das dezesseis horas da tarde. Olhei
pela janela que dava do meu quarto para a rua e
vi Marcos chegando ao meu portão.
Enfim, eu poderia desabafar com ele sobre
o que havia acontecido. Desci as escadas para
ADRIANO SILVA
CAPÍTULO 05
Abri os olhos e passava das dez horas da
manhã. O sol, incrivelmente, havia aparecido e
fiquei olhando as partículas de poeira em suspen-
são contra a luz que entram pela pequena fresta
do basculante.
Um sábado que será de grandes emoções.
Como eu já podia supor, fiquei deitado ainda por
mais algum tempo, remoendo e revivendo tudo
que tinha acontecido na noite anterior. Eu nem
sei quando havia pegado no sono.
A única coisa que tive certeza é que minha
vida não seria mais a mesma coisa a partir daquele
momento, ou melhor, daquele beijo para frente.
Se antes eu tinha dúvida do turbilhão de
coisas que se passavam em minha cabeça, agora
parece que tudo faz completamente sentido.
Eu gosto de meninos. E isso explica o por-
quê de meus olhos não me obedecerem no ves-
tiário. Insistirem em ficar concentrados quase
estáticos ali, bem no meio do short dos meninos
da minha turma.
Eu me sinto estranho. Não quero perder a
amizade de Tati, mas também não quero mentir
para ela. E não quero complicar nada.
Me levantei. Apenas naquele momento per-
cebi que estava apenas de cueca e sem camisa.
Meu amigo, aqui em baixo, entumecido. Coloco a
mão por dentro da cueca. Seguro mais forte e uma
sensação de prazer misturado com as lembranças
ADRIANO SILVA
***
ADRIANO SILVA
***
Meu pai vai andando à minha frete. Não
andamos lado a lado, assim evitamos manter
qualquer tipo de diálogo. Falar o quê um com o
outro? Tem sido assim faz tanto tempo, que nem
me lembro mais quanto. Às vezes desconfio que
sempre foi assim desde sempre. Imagine duas
pessoas que sequer se parecem fisicamente ter
algo em comum para conversar nas duas qua-
dras de trajeto.
De tempo em tempo ele, Augusto, olha
para trás para ver se estou o acompanhando.
Ajeito ainda mais os fones de ouvido, que apesar
de desligados me ajudam a não ter que come-
çar uma discussão ou responder alguma ordem
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para quando retornar da escola. Na verdade, ele
quando se dirige a mim é sempre para cobrar
— o silêncio é quebrado.
— Por que deveria estar, Marcos?
— respondo.
Fico imaginando o que possa ter passado
na cabeça de Marcos durante toda à noite depois
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que saiu apressado do meu quarto.
Será que ficou deitado, rodando pela cama
sem conseguir pregar os olhos? Eu poderia lhe
perguntar, mas e a coragem para fazê-lo.
— Não sei. Eu nunca tinha beijado um
menino antes, — diz ele baixinho, apesar de estar-
mos sozinhos num raio de mais de cem metros
— eu fiquei com medo que me odiasse, sabe? Sua
amizade é muito valiosa pra mim.
Eu escutava e encarava seus olhos casta-
nhos tão intensos.
— Acho que foi a coisa mais linda que já
aconteceu comigo até hoje, Marcos.
— Sério?
— Muito sério.
Nossos ombros se encostaram por alguns
breves segundos e uma onda eletrizante percor-
reu todo meu corpo, Marcos deu um sorriso tão
grande que se o mundo acabasse agora, estaria
tudo bem. Parece a coisa mais clichê do mundo.
Mas não disseram uma vez em algum lugar que
o amor é clichê?
— A gente pode conversar depois da aula.
O que acha?
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— Acho que depois da aula não vai dar.
Você pode ir lá para casa, deixe-me ver... quem
***
No intervalo Tati vem andando apressada-
mente atrás de mim pelo corredor. Tenho a certeza
que quer conversar comigo em particular. Mal
sabia ela que nem precisava correr atrás de mim.
Marcos também já havia percebido que precisá-
vamos conversar e ficou conversando com outra
colega de turma para que ficássemos à vontade.
ADRIANO SILVA
80
CAPÍTULO 07
né?
— Eu sei — digo enquanto se afasta
olhando todo tempo para mim.
Me sinto como se estivesse com uma chuva
de estrelas caindo sobre meu corpo.
84
***
Vou caminhando pensando em como me
sinto feliz. Dá para acreditar que tudo pode se
desenrolar de uma forma bem tranquila? É, real-
mente não tão tranquila assim né...
A sociedade é muito preconceituosa, nem
tenho que pensar sobre isso agora, mas preciso
tomar cuidado com meu pai. Imagina só se ele
sonhar que eu gosto de meninos? No mínimo uma
surra e no máximo me colocará para fora de casa.
Claro que sei que isso nos dias de hoje é
muito retrocesso, mas o que posso esperar de
um pai que sequer aceita que o mundo se trans-
formou, imagina entender que não importa com
quem eu me relacione, desde que me sinta feliz.
Sempre me senti diferente dos demais
meninos, mas nesses últimos dias eu consigo
olhar para dentro de mim e entender melhor. No
fundo eu não sou essa confusão toda.
As ruas estão com crianças correndo de um
lado para o outro. Várias escolas próximas nesse
bairro e nesse horário quase todas as crianças
estão ou saindo para ir à escola ou chegando em
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casa para almoçar.
Jovens à toa sentados na esquina. Senhoras
***
Após o almoço meu corpo dá sinais cla-
ros que algo não estava muito certo. Esse algo se
chama ansiedade. Não queria despertar nenhuma
ADRIANO SILVA
***
Cozinha lavada. Vasilhas ariadas. Roupas
ao varal. Subo para meu quarto. Minha avó já está
novamente deitada no sofá de três lugares, mais
cochilando que acordada, assistindo pela terceira
ou quarta vez uma novela no “Vale a pena ver de
novo”. Sheila também está deitada novamente e
pretendo não a incomodar tão cedo, assim tam-
bém consigo ficar tranquilo conversando com
Marcos, que olhando o relógio na parede do cor-
redor, está demorando a chegar.
Pego um livro na prateleira da escrivani-
nha e começo a folhear procurando algum conto
que me agrade. No Natal do ano passado Tati me
presenteou com o volume único de contos com-
pletos do Caio Fernando Abreu. Sou apaixonado
pela escrita dele, quase sempre abro de forma
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aleatória e leio o conto que estiver ali. Mas hoje
não. Hoje eu quero ler “Aqueles Dois”. Raul e Saul
***
Estava quase terminando o conto, olhei para
a porta do meu quarto e Marcos estava parado a
me observar. De chinelos, bermuda e camiseta,
cabelo como sempre; revolto como se estivesse
passado por um vendaval enquanto pedalava. Os
cabelos vermelhos pareciam brilhar como fogo.
— Pensou que eu não viria, não é? — disse
ele em um sorriso que parecia iluminar tudo à sua
volta.
Eu estou sorrindo como se o mundo
hovesse parado e só restássemos nós dois.
Levanto e o puxo pela cintura.
― Você parece mel.
Ele responde:
― E você, um girassol.
— Hah, Marcos, você estragou tudo
brinco surpreso.
— E achou o quê? Que eu não iria conhecer
esse trecho tão famoso?
— E não conhece, não é? — digo sorrindo
desconfiado, agora mais que surpreso.
— Eu sou imprevisível, oxe! Então nunca
escutou a música na rádio?
— Já escutei, mas não sabia que...
ADRIANO SILVA
consigo.
Pouco tempo depois minha avó aparece à
porta do meu quarto com um sorriso que expres-
sava uma tentativa vã de passar tranquilidade.
— As coisas esquentaram um pouquinho
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— ela diz.
— Parece que meu pai não consegue enten-
der algumas coisas nesse momento difícil da
Sheila, Vovó — respondi sem querer entrar nos
detalhes que escutei.
— Assim que ele voltar irei conversar um
pouco com ele — disse ela — mas o motivo de eu
estar aqui é outro.
Meu coração disparou por alguns segun-
dos, será que vovó escutou alguma coisa pelos
corredores entre mim e Marcos? Ou pior, quem
sabe tenha visto alguma coisa — cocei a cabeça
e parei de folhear o livro que estava realizando
uma pesquisa — não, tomamos todos os cuidados
e precauções. A porta estava fechada e não tem
como olhar pela fechadura, na hipótese de vovó
ser curiosa, coisa que posso garantir que não é.
— Por que Marcos não ficou para jantar
conosco?
— Ah, era isso? — digo aliviado.
— O que mais seria?
— Hum, não sei — me apressei em dizer —
talvez algum outro assunto, não sei mesmo. Mas o
Marcos e eu temos aquele trabalho sobre violência
103
que falei para a senhora mais cedo, se lembra?
Vovó ficou em silêncio me avaliando. Eu
***
Não existe nada mais desconcertante do
que precisar esconder o que se é. Foi algo que
fiquei remoendo por longas horas depois que
minha avó me deixou sozinho.
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— Ser quem se é — eu disse em voz alta e o
som das palavras ficou ecoando ainda mais pelo
quarto. Guardei o livro junto com os demais mate-
riais que separei na mochila e tranquei a porta
para que não fosse surpreendido. Tirei a camisa
e fiquei somente de cueca samba−canção, o meu
preferido de desenhos de bob esponja.
Se eu fosse um garoto heterossexual, com
toda certeza, seria algo mais normal. Manifesta-
ria meus desejos heterossexuais e atenderia às
expectativas do meu pai, avó e madrasta, mas por
outro lado eu não irei corresponder essas expec-
tativas, de modo que não será muito fácil para
minha família aceitar muito bem ter um filho que
gosta de outros homens – no meu caso um homem
somente; o Marcos – dizem que a adolescência é
difícil passar sem crises ou medos. Terei de con-
cordar com isso.
Eu consigo lidar comigo mesmo. Consigo
me entender e aceitar quem eu sou, por outro
lado tenho colegas gays na escola e vejo a forma
como são hostilizados. Confesso que nunca fiz
nada para evitar essas agressões com eles, mas a
partir do momento que eu tome partido, mesmo
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que seja o certo a se fazer, eu também passarei a
ser alvo destes ataques. Mas ficar em silêncio
intuitivamente.
Marcos colocou a mão no elástico de meu
short e o desceu o suficiente para segurar meu
pau. A sensação da mão macia tocando o órgão
rijo me fez beijá−lo mais intensamente. O levei
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para minha cama e o deitei com a cabeça apoiada
sobre o travesseiro.
— Marcos, você é um cara lindo – digo
enquanto puxo sua cueca delicadamente e seu
corpo fica todo à mostra. Seu membro está tão
rijo quanto o meu e o seguro firme enquanto ele
geme baixinho. Marcos me puxa para cima de
seu corpo e nossos paus se tocam apertando for-
temente um contra o outro. A sensação é deliciosa
e posso sentir que eles estão úmidos. Marcos leva
a mão na cabeça do meu pau e retira um pouco
da baba, que sai pela excitação, com um dedo e
o leva até minha boca a beijando em seguida. O
gosto é adocicado.
— Marcos, eu também quero sentir seu
gosto – ele leva a minha mão até seu pau e eu
me apresso – não assim...
— Então como? — desço seu corpo com
a boca dando leves mordiscadas até chegar aqui
embaixo. Seu pau roseado está tão duro quanto
o meu. Seguro com uma mão enquanto dou leves
beijos em sua cabeça também úmida e babada
pelo líquido que sai da excitação. Marcos aperta
nossas mãos entrelaçadas.
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Estou entre suas pernas e vou engolindo
seu pau lentamente enquanto sinto seu corpo
como sempre!
— A mulher de nossas vidas, exagerada
como sempre! – brincou marcos devolvendo.
Estou apenas sorrindo e sentindo uma alegria
imensa, mesmo sabendo que essa alegria vai
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durar pouco quando me lembro que ficaremos
depois da aulas para discutir a apresentação do
trabalho sobre violência. Andamos os três quase
em passos sincronizados e em poucas quadras já
estamos próximos à escola.
— Como está a preparação para o trabalho
meninos? – Tati pergunta quase que lendo o que
se passava pela minha mente. Ela poderia imagi-
nar como tudo aquilo seria horrível?
— Estamos preparados para esta apresen-
tação – se apressou Marcos em responder.
— É bom que estejam mesmo! Dar conta
de desenvolver um trabalho com Marcelo e Fábio
vai ser um desafio e tanto – disse ela deixando
transparecer que era um alívio não estar presente
no pátio no dia em que a Ana Maria nos pegou
discutindo.
— Não se preocupe, Tati, planejamos
como faremos e vamos apresentar aos meninos
hoje após a aula. Nada mirabolante, até porque o
tempo é de trinta a quarenta minutos, no máximo
– fiquei olhando Marcos falando e as palavras
pareciam sair de uma forma tão linda de seus
lábios, seu olhar e seu sorriso que pareciam abar-
117
car um universo inteiro – Fred? Ei Fred, você não
concorda? – nesse momento que me dei conta de
***
123
CAPÍTULO 10
Saio rapidamente do vestiário. Estou sem
conseguir falar.
— Aí, por que não responde? – diz Marqui-
nhos me encarando – tem um tempão já que esta-
mos te esperando na quadra – ele diz com impa-
ciência. Seguro seu braço e saio o conduzindo.
Professor Sampaio sai logo atrás e diz
alguma coisa que não consigo decifrar.
— Sim professor – Marcos responde a ele.
Estou muito assustado para dizer qualquer coisa,
apenas continuo andando para me afastar mais
rápido dali. – Está doendo! – reclama Marcos e só
neste momento percebo que minhas unhas estão
encravadas em seu antebraço enquanto quase o
arrasto comigo.
— Desculpa, Marquinhos...eu...eu...
— O que foi Fred? Agora você está me
assustando. Está se sentindo mal? – pergunta ele
preocupado. Sampaio já está mais distante de nós
bem à frente. É possível o ver já na quadra dis-
tribuindo as bolas entre os diferentes grupos de
alunos.
— Não é nada, Marquinhos. Estou bem,
não se preocupe.
— Como se eu não o conhecesse, não é?
Venha, vamos sentar ali – diz ele me levando
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para próximo da última quadra, onde existe uma
árvore que projeta uma sombra onde costumamos
***
Fernanda, a secretária, aponta a sala de Lei-
tura e laboratório de informática reservada para
nós à esquerda, próximo as prateleiras dos roman-
ces. Marcelo está calado, mas não para de olhar
Tati que pegou um dos livros na estante antes de
entrar à sala. Fábio está introspectivo, o que é algo
bem raro, geralmente está agredindo alguém.
— Sabemos que não é algo agradável para
nenhum de nós – Tati diz sem tirar os olhos do
livro enquanto se ajeita em uma das mesas. Tam-
bém sei que isso se deva ao fato de sua visão peri-
férica captar os olhares de Marcelo.
— Diga isso por si só – ele devolve ciente
que o comentário foi para ele.
Marquinhos está retirando algumas anota-
ções da mochila. Puxo algumas cadeiras para que
possa me sentar próximo a ele. Organizando as
demais de tal forma que Marcelo e Fábio também
estejam em formato circular para que os quatro
conversem sobre o tema proposto como castigo
por Ana Maria e Marquinhos possa digitando as
ideias, que for surgindo, no computador antigo
da escola à nossa frente.
ADRIANO SILVA
está certo.
— Exatamente. A gente quer tentar ajudar
você de alguma forma, mas para isso precisamos
de saber realmente o que tem acontecido – Marcos
fala e Fábio parece ainda mais chateado.
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— Isso não é da conta de vocês! – disse ele
se excedendo.
— A partir do momento que a gente está
aqui fazendo um trabalho sobre violência, Fábio,
sim, é um problema nosso também. Essas mar-
cas roxas pelas pernas, nas costas... nós vimos
no vestiário. Todo mudo tem visto. Todo mundo
tem comentado e a gente quer te ajudar. Agora
você tem que falar ou nós vamos contar a Ana
Maria para que ela resolva! – Fábio parecia agora
apavorado.
— Vocês não fariam isso comigo, fariam?
Ele me mataria. – Marcos me olha e troco com ele
um olhar de cumplicidade.
— Não faremos, mas nos conte o que tem
acontecido – respondo. Fábio está tão fragilizado
que não consegue nem manter o olhar nos nossos
enquanto falamos. Olho ao fundo da sala e vejo
Marcelo e Tati conversando animadamente e isso
também me surpreende, por fim acabo achando
que isso ajudará para que Fábio nos conte o que
está acontecendo. – Então? – digo o incentivando
a falar.
— Meu pai – inicia ele com a voz engas-
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gada – ele bebe muito e acaba chegando em casa
todas às vezes embriagado e bate em mim. Bate na
158
CAPÍTULO 13
***
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O alarme soou e entramos todos para a sala.
Marcelo se sentou próximo a Fábio e Tati foi para
perto de onde estava Marquinhos, duas carteiras
de distância de onde eu estava em pé no quadro
colocando data e título da nossa apresentação.
matando!
— Ai, vovó, deixe aí que depois estendo para
a senhora.
— Ah, mas diz isso agora que só tem mais duas
peças — ela brinca — agora vai logo e não faça
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barulho que Sheila foi se deitar novamente.
Sheila não havia comido muito. Na verdade,
quando comia muito era alguma sobremesa doce
que ela amava, mas comida mesmo era muito difí-
cil. Maior parte do tempo estava exausta e desa-
nimada para fazer qualquer coisa.
Alguns medicamentos deixavam Sheila con-
fusa. Não eram raros os dias que não se lembrava
do que havia feito no dia anterior, ou até mesmo,
em situações em que estava iniciando algum novo
medicamento, que pensava que o pai já falecido
a viria visitar.
Uma vez, Sheila se sentou na entrada da nossa
casa e ficou arrancando os matinhos que nasciam
entre o concreto rachado e esperando a chegada
do Papai Noel. Foi neste dia que Augusto ficou
realmente preocupado. Sheila não lembrava nem
o nome dele.
A tarde as coisas foram bem tranquilas. Não
tive muitas coisas a fazer. Arrumei a cozinha, ariei
algumas panelas. Arrumar a cozinha é umas das
poucas coisas que sempre gostei de fazer. Os pen-
samentos vão sendo desprendidos aos poucos e
a gente vai ficando imerso em nós mesmo, num
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fundo vazio que a gente nem sabe explicar.
Quando acabei a ter-a-pia fui para o andar de
***
Quando chego ao quarto o relógio já está mar-
cando zero hora. Exatamente meia noite.
Vou em direção ao computador para o desli-
gar. Não me lembrava, mas eu o desliguei antes
de descer. Apesar de não ter essa lembrança clara-
mente. Organizo os cadernos, as poucas anotações
ADRIANO SILVA
***
Chego à rua onde me encontro com Marqui-
nhos uns minutinhos atrasados. Ele ainda não che-
gou. Fico aguardando mais um tempo. Isso talvez
atrase também Tati que está nos esperando na pró-
xima rua com Marcelo. Como não quero ficar sem
ir com meu ruivinho prefiro que Marcelo e Tati
sigam sem nós.
Olho no relógio, passa um pouco mais de seis
ADRIANO SILVA
***
Na diretoria dois policiais nos aguardavam.
Um deles, um sujeito alto e magro de sorriso
amistoso, trazia na farda o nome de M.J Rafael e
o outro, um careca baixinho de fisionomia car-
rancuda, logo se apresentou me estendendo uma
das mãos.
201
— Você deve ser o Frederico — disse ainda
segurando firme minha mão — pode me chamar
206
CAPÍTULO 18
Com amor,
do seu Fred.
AGRADECIMENTOS
O autor
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