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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 43: 81-106 OUT.

2012

RELIGANDO AS ARENAS INSTITUCIONAIS:


UMA PROPOSTA DE ABORDAGENS MULTIDIMENSIONAIS
NOS ESTUDOS LEGISLATIVOS

Paulo Peres Ernani Carvalho

RESUMO

A área de estudos legislativos foi uma das linhas de pesquisa que mais se desenvolveram no Brasil nos
últimos anos. Ela formou-se em torno da oposição entre as explicações “distributivistas” e as explicações
“partidárias” do processo legislativo. Seus achados empíricos e seu debate teórico certamente trouxeram
grandes contribuições à Ciência Política do país e, até mesmo, ao debate de política comparada. Não
obstante, essa linha de investigação incorreu no problema de adotar abordagens monodimensionais do
fenômeno. A explicação partidária promoveu certo “insulamento” do poder Legislativo em relação às
outras arenas institucionais, analisando-o em função de sua autodeterminação. A abordagem distributivista
investiu quase exclusivamente no sistema eleitoral como variável explicativa, deixando em segundo plano
outras arenas institucionais. Diante disso, nossa proposta é analisar os limites dessas abordagens presen-
tes nos estudos legislativos, de forma a destacar algumas lacunas explicativas que poderiam ser preenchi-
das por meio de uma agenda de pesquisas multidimensionais, que considerem, por exemplo, as organiza-
ções partidárias e o poder Judiciário.
PALAVRAS-CHAVE: estudos legislativos; estudos legislativos no Brasil; partidos políticos e poder
Legislativo; poder Judiciário e poder Legislativo.

I. INTRODUÇÃO1 entre o desenho constitucional adotado e o


desempenho democrático, especialmente no que
A área de estudos legislativos foi uma das linhas
se refere aos níveis de governabilidade obtidos pelo
de pesquisa que mais se desenvolveram no Brasil
poder Executivo nas novas democracias.
nos últimos anos, trazendo grandes contribuições
Inicialmente marcados pela abordagem
à Ciência Política do país e ao debate de política
“distributivista” norte-americana, tais estudos
comparada. Historicamente, seu surgimento deu-
careciam de dados empíricos sistemáticos em suas
se no contexto das teorizações acerca das relações
análises, hiato este que começou a ser superado a
partir da metade dos anos 1990, quando se formou
1 Este texto é produ to de um projeto de pesquisa
uma agenda de pesquisas empíricas voltada à
interinstitucional envolvendo os departamentos de Ciência
explicação “partidária” da dinâmica legislativa
Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) brasileira, rivalizando com os estudos anteriores.
e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e depar- Desde então, o debate vem opondo as explicações
tamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de “distributivistas” e as “partidárias”; ou seja, de um
São Paulo (Unifesp), durante os anos de 2008 e 2009. Uma lado, explicações baseadas em variáveis exógenas
primeira versão foi apresentada no Grupo de Trabalho (GT) à arena legislativa, especialmente o sistema
de Estudos Legislativos, do 32º Encontro Anual da Associ-
ação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências
eleitoral, e, de outro, explicações concentradas em
Sociais (Anpocs), em 2008, aprovada para apresentação variáveis endógenas ao processo legislativo, como
no 21º Congresso da Political Science Association, em 2009, a centralização das decisões nas lideranças
e apresentada no 5º Congresso da Associação Portuguesa partidárias, os poderes legislativos do Presidente
de Ciência Política, em 2010. Agradecemos a todos os cole- da República etc.
gas participantes desses encontros pelas observações críti-
cas, especialmente a Lucio Rennó, Magna Inácio e Fabiano Não obstante, apesar de ter trazido grandes
Santos. Agradecemos ainda aos pareceristas da Revista de contribuições ao debate acadêmico e ao próprio
Sociologia e Política pela criteriosa leitura e valiosas con- desenvolvimento da abordagem neoinstitucional na
tribuições com diversas sugestões. Ciência Política brasileira, essa literatura apresenta

Recebido em 4 de junho de 2011. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 20, n. 43, p. 81-106, out. 2012
Aprovado em 22 de julho de 2011.
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alguns problemas importantes. Em primeiro lugar, distributivista defende que o processo legislativo
uma das duas abordagens predominantes, a do país é determinado por variáveis vinculadas ao
partidária, foi construída a partir do “insulamento” sistema eleitoral personalista, cujo efeito mais
do poder Legislativo em relação às outras arenas marcante seria o enfraquecimento dos partidos e
políticas, que, assim, passou a ser explicado em o fortalecimento dos políticos individualmente, de
função de sua autodeterminação institucional. Na modo que as políticas decididas no poder
prática, isso significou deixar em segundo plano Legislativo contemplariam interesses paroquialis-
outras dimensões institucionais para privilegiar tas, e não interesses partidários. Isso, porém, im-
apenas as regras internas ao próprio processo plica a coexistência de duas afirmações excluden-
legislativo. Em segundo lugar, a outra abordagem tes: ou os partidos não têm relevância ou eles têm
predominante, a distributivista, embora considere relevância na explicação do processo legislativo
uma dimensão institucional exógena ao poder brasileiro. Qual tipo de explicação está correta?
Legislativo – o sistema eleitoral – também investe Como resolver essa controvérsia?
em uma abordagem monodimensional, por
Essa situação leva-nos ao segundo problema:
alegarem que o sistema eleitoral incentiva os parla-
em virtude de sua centralidade como um problema
mentares brasileiros a adotarem um comporta-
de pesquisa, deveríamos encontrar nesses estudos
mento “paroquialista”, descartando outras arenas
uma série de dados empíricos sobre as organi-
institucionais que poderiam interferir no jogo
zações partidárias, tanto para comprovar sua
político parlamentar, como as regras do processo
importância como, conforme o caso, para refutá-
legislativo, as estruturas organizacionais dos
la. Entretanto, os estudos sobre o poder Legislativo
partidos e o poder Judiciário, por exemplo.
brasileiro geralmente não contemplam variáveis
No caso do poder Judiciário, é amplamente organizacionais em seus modelos de análise. Sendo
reconhecido que este mostra-se cada vez mais assim, como podemos ter certeza da importância
indispensável como instituição relevante no jogo ou não dos partidos políticos no processo
político, inclusive o parlamentar; de modo que legislativo se os modelos explicativos concorrentes
pensar uma articulação entre este e a arena não consideram variáveis relativas às organizações
legislativa parece algo indispensável. Na realidade, partidárias?
a ascensão do poder Judiciário ao nível de
Sob tal perspectiva, nossa proposta neste artigo
controlador da constitucionalidade dos atos do
é discutir os limites dos estudos legislativos em
poder Executivo e do poder Legislativo permitiu,
decorrência da desconsideração de outras arenas
no campo teórico, a possibilidade de contar-se com
institucionais2. Obviamente, não pretendemos
uma terceira casa legisladora (SWEET, 2000), ou
ao menos assumir a possibilidade do poder
Judiciário ser um importante ator com poder de 2 Concebemos que as arenas sejam o que define Panebianco
veto no processo legislativo (TSEBELIS, 2002). ao tratar das organizações partidárias: “Os ambientes ‘re-
Além disso, os desdobramentos empíricos desse levantes’, ou seja, os ambientes que exercem influência di-
quadro demonstram claramente uma tendência à reta sobre os partidos [e destes sobre aqueles], por sua vez
participação do poder Judiciário no processo estruturados pelas coerções institucionais, podem ser con-
decisório brasileiro (SADEK, 1995; 1999; cebidos como arenas, nas quais se desenvolvem as relações
ARANTES, 1997; 2002; VIANNA, 1999; 2002; entre o partido e as outras organizações. As arenas repre-
sentam as diversas mesas de jogo a que o partido concorre
TAYLOR, 2004; 2007; CARVALHO, 2005), o que, e das quais extrai – com uma soma proporcional ao êxito
conseqüentemente, impõe a necessidade de dos diferentes jogos – os recursos necessários para o seu
repensarmos os elementos constitutivos da própria funcionamento. Em algumas arenas, o partido permutará
mecânica desse processo. recursos com outras organizações. Essas relações de troca
podem ser de três tipos: troca paritária, troca desigual em
Já no caso dos partidos, encontramos dois benefício do partido e troca desigual em benefício de outra
problemas que devem ser explicitados. O primeiro organização [partidária]. Em outras arenas, o partido com-
é que, no debate, há duas posições opostas quanto petirá pelos próprios recursos com outras organizações.
à centralidade dos partidos como variável [Além disso,] as arenas são interdependentes; podem ser
concebidas como um retículo de ambientes relevantes. Os
explicativa do processo legislativo. De uma parte,
recursos obtidos em uma arena são despendidos em outra,
a explicação partidária, como o termo já designa, e o sucesso em uma mesa de jogo – a troca de recursos em
defende que os partidos são os atores principais uma arena em condições favoráveis – muitas vezes
do jogo parlamentar. De outra parte, a explicação condiciona a possibilidade e a importância do sucesso so-

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contestar os inegáveis avanços obtidos pela personalista, o baixo desenvolvimento econômico


literatura, mas apenas destacar algumas lacunas com significativos desequilíbrios regionais e o
explicativas que poderiam ser preenchidas por modelo constitucional adotado em 1988 – de
meio de uma agenda de pesquisas multidimen- características extremamente fragmentadoras,
sionais. Portanto, nossa intenção é apontar a combinando representação proporcional com
possibilidade e a necessidade de alargamento da presidencialismo e federalismo bastante
abordagem do poder Legislativo brasileiro que descentralizado – teriam erguido sérios obstáculos
inclua outras arenas exógenas ao parlamento, à consolidação do regime democrático no país.
como as organizações partidárias e o poder
No que se refere aos fatores político-
Judiciário. Também não temos a intenção de
institucionais, esses obstáculos consistiriam em
apresentar um balanço crítico exaustivo da
dois elementos problemáticos combinados. De uma
literatura temática, mas apenas a análise de alguns
parte, o suposto caráter inorgânico dos partidos,
dos trabalhos mais representativos dessa linha de
incapazes, assim, de representar coerentemente
investigação que trataram do caso brasileiro.
os diversos interesses sociais e econômicos em
II. CONTEXTUALIZAÇÃO DO DEBATE: O jogo; de outra, o deficit de governabilidade,
DESENHO CONSTITUCIONAL E A ocasionado pela forçosa tensão entre o poder
GOVERNABILIDADE NO BRASIL Executivo e o poder Legislativo, própria do
governo presidencialista, e recrudescida pelo
Até meados da década de 1990, predominava,
extremado individualismo parlamentar, provocado,
na literatura especializada na política brasileira, a
por sua vez, pela regra eleitoral que faculta ao
visão de que nossa recente democracia estaria
eleitor o direito de votar diretamente no candidato
ameaçada pelo retrocesso autoritário ou, pelo
em distritos de magnitude elevada.
menos, condenada a um funcionamento precário,
em função de fatores sociais, econômicos e Naquele momento, formava-se também um
político-institucionais (LAMOUNIER & quase consenso de que o país necessitava de
MENGUELLO, 1986; ABRANCHES, 1988; diversas reformas, inclusive na própria estrutura
LAMOUNIER, 1991; 1992; 1994a; 1994b; administrativa do Estado. Conseqüentemente,
MAINWARING, 1991; 1992; 1993; 1995; julgava-se que mais do que nunca o poder
SHUGART & CAREY, 1992; KINZO, 1993; LIMA Executivo deveria ser dotado de mecanismos que
JR., 1993; MAINWARING & SCULLY, 1994; maximizassem sua capacidade de propor e de
1995; SARTORI, 1994; AMES, 1995; JONES, aprovar projetos no poder Legislativo, que, por
1995)3. Segundo os analistas, a cultura política sua vez, deveria ser composto por partidos
estruturados e programáticos, com parlamentares
coesos e, se necessário, disciplinados, de modo
bre outras mesas de jogo. Os processos de troca e de nego- que prevalecesse certa previsibilidade no processo
ciação que se verificam entre os partidos [...] nas diversas governamental. O tema central era governabilidade,
arenas definem as áreas externas de ‘incerteza’ organizativa. entendida como uma espécie de “produtividade
Trata-se de áreas de ‘incerteza’ porque os ambientes são, política”, mensurada pela quantidade de leis
por definição, potencialmente mutáveis. A qualquer mo-
aprovadas em relação às leis apresentadas pelo
mento, e pelas razões as mais diversas, os termos de troca
em uma arena podem se deteriorar, e – pela interdependência governo e, evidentemente, pela rapidez de sua
entre as diversas arenas – a nova situação pode repercutir- aprovação. De acordo com o espírito do debate
se sobre todas as outras, inclusive sobre as arenas princi- do período, governar seria aprovar projetos,
pais para os fins da manutenção da estabilidade organizativa especialmente projetos de reforma oriundos da
do partido: a eleitoral e a parlamentar” (PANEBIANCO, coalizão governamental.
2005, p. 409-410). Essa concepção de arena, portanto,
pode ser aplicada, de modo intercambiável, às interações Mas ocorre que, na perspectiva desses mesmos
dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo. autores, o desenho constitucional brasileiro
3 Na verdade, mesmo depois da primeira metade da década produziria efeitos justamente contrários aos
de 1990, estendendo-se até a década de 2000, análises com desejáveis, na medida em que teria trazido à arena
o mesmo teor continuaram a ser publicadas, como, por legislativa uma multiplicidade de atores com poder
exemplo, Abrúcio e Samuels (1997), Kinzo (1997; 1999; de veto, assim como o sistema de vetoplayers
2001; 2004; 2005), Mainwaring (1997; 1999), Abrúcio
proposto por Tsebelis (2002), dificultando a
(1998), Stepan (1999), Samuels (2000a; 2000b; 2003) e
Ames (2001). formação de uma coalizão partidária majoritária

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coesa e aliada ao poder Executivo. Ademais, em estratégias que pudessem angariar apoio da maioria
decorrência de fatores históricos associados à individualizada de deputados necessária a sua
legislação partidária, considerada permissiva, e ao aprovação, o que, por sua vez, implicaria um
sistema eleitoral personalista (LAMOUNIER & processo contínuo de troca de benefícios
MENGUELLO, 1986; LAMOUNIER, 1992; paroquialistas, cedidos pelo poder Executivo aos
1994a; KINZO, 1993; 1997; 2001), os próprios parlamentares, como contrapartida por seus votos
partidos não seriam atores relevantes no processo favoráveis no plenário. Contudo, além de custosa,
legislativo, cabendo aos deputados, tal “transação” também seria incerta, na medida
individualmente, (i) a organização dos trabalhos em que nada garantiria apoio consistente e resoluto
naquela casa, (ii) a proposição de projetos e (iii) dos parlamentares aos projetos do governo, uma
a negociação pulverizada com o Presidente da vez que o suposto apoio não adviria de uma
República (MAINWARING, 1991; 1992; 1993; mecânica institucional automática, como ocorreria
1995; 1999; AMES, 1995; 2001). E para tornar o no caso do parlamentarismo. Daí a expectativa de
cenário ainda mais caótico, no sentido de ser crises constantes de governabilidade, com o
imprevisível e institucionalmente incontrolável, os potencial de impasses que poderiam culminar em
deputados teriam mais incentivos para perseguir “paralisia decisória”, em uma clara alusão ao
políticas paroquialistas do que para agir de maneira espectro do golpe de 1964, ainda a rondar o cenário
coletiva na busca de políticas partidárias de escopo daquele período.
nacional.
Diante desse quadro adverso, até meados da
Avaliando essa situação, Mainwaring chegava década de 1990, a literatura desenvolveu duas
a afirmar que “entre 1985 e 1994, os presidentes linhas de discussão. Em uma delas, endereçou
brasileiros tiveram dificuldade para realizar a severas críticas à escolha constitucional feita pelos
estabilização e a reforma do Estado, em parte legisladores brasileiros; noutra, apresentou
devido à combinação de um sistema partidário propostas para uma reforma política, considerada
altamente fragmentado, partidos indisciplinados e cada vez mais prioritária em relação ao conjunto
federalismo” (MAINWARING, 1997, p. 109). de reformas que deveriam ser implantadas pelo
Prolongando o argumento, Kinzo observava ainda governo nos primeiros anos daquela década.
que “a situação brasileira parece aproximar-se mais Conseqüentemente, a reforma política advogada
da dinâmica de governo dividido do que da de desde então, e que ainda está na agenda política
[governo] unificado, e entre Congresso e poder atual4, contemplava duas importantes alterações
Executivo predomina uma dinâmica conflituosa, constitucionais: (i) a forma de governo
baseada na ameaça mútua. Portanto, a presidencialista, que deveria ser substituída pelo
probabilidade de mudanças políticas é mais parlamentarismo e (ii) o sistema eleitoral, que
reduzida e, por isso, as reformas constitucionais deveria incluir mecanismos que conduzissem à
custam tanto [...]” (KINZO, 1999, p. 29). Isso redução no número de partidos na arena
porque, de um lado, haveria um poder Executivo congressual e ao aumento do controle partidário
incumbido de promover reformas estruturais e de sobre os parlamentares no processo legislativo.
perseguir políticas públicas de escopo nacional, Tais suposições foram favorecidas sobremaneira
enquanto, de outro lado, no poder Legislativo, pela abordagem predominante na literatura de
haveria um número elevado de parlamentares, política comparada do período, preocupada em
“livres” do controle partidário, imbuídos apenas estudar os processos de transição democrática da
do desejo de manterem-se na carreira por meio de década de 1980, bem como as possibilidades de
reeleições sucessivas; objetivo este somente consolidação do regime no início da década de
conseguido se os deputados lograssem oferecer 1990 (p. ex., O’DONNELL & SCHMITTER,
políticas paroquiais à sua “base eleitoral” (AMES, 1986; REIS & O’DONNELL, 1986; DIAMOND,
2003; SAMUELS, 2003).
Essa teia de relações dedutivas, como um
“sistema de incentivos”, estende-se da “forma de 4 Como pode ser vislumbrado na discussão de Tavares
governo” às “regras eleitorais”, e sua consequência (1998), nos debates organizados por Hermanns e Moraes
direta sobre os comportamentos eleitoral e (2003), Vannuchi, Benevides e Kerche (2003) e Soares e
parlamentar consiste no seguinte: para cada projeto Rennó (2006) e nos inúmeros sítios na internet dedicados
em pauta, caberia ao poder Executivo a adoção de ao tema.

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1988; MOISÉS & GUILHON, 1990; dificultando a governabilidade e incentivando o


LAMOUNIER & VALENZUELA, 1991; paroquialismo como estratégia política dominante
LAMOUNIER, 1992; 1994; SHUGART & no parlamento. Ademais, isso coadunava-se
CAREY, 1992; LINZ & VALENZUELA, 1994; perfeitamente com o tipo de enfoque institucional
MAINWARING & SCULLY, 1995; DIAMOND privilegiado nas considerações sobre o poder
& PLATTNER, 1996; LINZ & STEPAN, 1996; Legislativo brasileiro, ou seja, o paradigma
O’DONNELL, 1996a; 1996b; 1998) 5 . distributivista 9 , desenvolvido no âmbito dos
Convertidos ao emergente paradigma neoins- estudos voltados ao poder Legislativo norte-
titucional6, esses analistas voltaram a dar ênfase americano, segundo o qual o comportamento dos
explicativa às variáveis constitucionais e, no parlamentares no Congresso seria incentivado pelo
contexto da “terceira onda” democrática, focaram sistema eleitoral favorável à relação pessoal e
suas investigações nos modelos adotados pelos clientelista entre representante e representado, de
países recém democratizados, privilegiando dois modo que a motivação básica do primeiro no
elementos institucionais, quais sejam, o sistema plenário seria perseguir políticas que lhe
eleitoral e a forma de governo7. possibilitassem “to bring bacon home”.
Em um nível teórico e até normativo mais geral, III. A EMERGÊNCIA DOS ESTUDOS LEGIS-
o debate opunha os adeptos de desenhos mais LATIVOS NO BRASIL
concentradores aos adeptos de desenhos menos
A despeito das críticas veementes, as
concentradores do poder representativo – os
considerações sobre os efeitos das regras eleitorais
modelos majoritário e consociativo-consensual-
e do presidencialismo sobre o processo legislativo
proporcional, tais como discutidos por Lijphart
brasileiro e, no limite, sobre a governabilidade,
(1977; 1984; 1994; 1999) e Powell Jr. (2000).
consistiam basicamente em deduções lógicas a
Para os analistas das novas democracias, seria
partir das características macroinstitucionais
recomendável a adoção de modelos mais
contidas em nosso modelo constitucional. Não
concentradores, indicados para situações em que
havia, até então, nenhuma pesquisa sistemática
é necessário aumentar a taxa de aprovação de
sobre o tema, nenhum levantamento de dados
projetos8. Entretanto, sob tal óptica, o modelo
relativos à dinâmica parlamentar; não havia nada
brasileiro seria excessivamente fragmentador,
empiricamente consistente que pudesse servir de
evidência factual às afirmações extraídas daqueles
mecanismos dedutivos. Aquelas assertivas,
5 A preocupação com a consolidação democrática e com as
portanto, vinham sendo tomadas como teses,
condições de sobrevivência desse regime persistiu em par-
quando, em realidade, deveriam, no máximo, ser
te da literatura nos anos subseqüentes, até o presente mo-
mento, como mostram os estudos de Diamond (1999; 2008),
tomadas como hipóteses à espera de confirmação
um de seus principais representantes. ou de refutação. Em linhas gerais, essas são
6 A adesão ao paradigma neoinstitucional ocorreu de modo algumas das observações críticas feitas por
variado. Se tomarmos a classificação de Hall e Taylor (1996),
Figueiredo e Limongi (1999, caps. 1 e 3) àquela
alguns autores aderiram ao neoinstitucionalismo histórico, literatura, apresentadas como justificativas para o
outros ao neoinstitucionalismo da escolha racional e ou- desenvolvimento de uma agenda de pesquisas que,
tros, ainda, como Mainwaring (1999), a uma mescla prag-
mática, e certamente problemática do ponto de vista teóri-
co e metodológico, do neoinstitucionalismo sociológico com
os anos 1960, lidou com o problema da modernização
o da escolha racional.
socioeconômica articulada ao desenvolvimento político,
7 Grosso modo, é possível identificar na literatura a se- especialmente nos casos de Huntington (1968) e Sartori
guinte disjuntiva: analistas vinculados à abordagem que já (1968; 1976), com este último chegando a propor clara-
foi chamada de “consolidologia” (cf. SCHMITTER, 1995) mente uma engenharia constitucional realista, preocupada
têm a propensão a dar mais destaque à forma de governo com incentivos institucionais que restringissem quaisquer
como variável central na determinação da dinâmica política polarizações mais radicais.
das novas democracias; enquanto isso, analistas vincula- 9 Para uma análise classificatória dessa literatura, em que
dos aos estudos do funcionamento do poder Legislativo
se encontram todos os elementos das definições do que
privilegiam o sistema eleitoral como variável determinante
sejam os paradigmas distributivista, partidário e
do comportamento parlamentar e, por extensão, das rela-
informacional, ver Shepsle e Weingast (1994) e Limongi
ções entre o Presidente da República e o parlamento.
(1994). Para uma análise de sua aplicação aos estudos
8 Nesse caso, há grande influência da literatura que, desde legislativos brasileiros, remetemos o leitor a Santos (2006).

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a partir da segunda metade da década de 1990, A partir dessa perspectiva, e com um projeto
inauguraria, em rigor, os estudos legislativos de pesquisa que é considerado um marco dos
brasileiros nos moldes em que estes são realizados estudos legislativos no Brasil, Figueiredo e Limongi
atualmente. Segundo os autores, até aquele (1999) 10 propuseram-se a estudar o funcio-
momento, “as análises encontradas na literatura namento institucional endógeno do que se
comparada e aquelas sobre o sistema político convencionou chamar de “presidencialismo de
nacional [paravam] às portas da primeira sessão coalizão”, conforme designação de Abranches
legislativa”, ou seja, “as instituições que regulam (1988)11, de modo a submeter a testes empíricos
o processo decisório no poder Legislativo [eram] a visão comumente aceita de que nosso sistema
ignoradas, os poderes legislativos do Presidente político seria caracterizado por um deficit de
não [eram] considerados e, da mesma forma, a governabilidade. Assim, no ponto inicial dessa
estruturação dos trabalhos legislativos [era] disputa entre paradigmas explicativos, os autores
deixada de lado” (idem, p. 21). utilizaram uma estratégia metodológica que
consistiu em aplicar a lógica de pesquisa
Diante disso, o objetivo maior dos autores era
popperiana à abordagem concorrente, colocando
estudar o poder Legislativo brasileiro precisamente
à prova do teste empírico uma conseqüência
sob este prisma: enfocar suas instituições internas
dedutiva de sua teoria, de modo que, se aquela
e privilegiar a análise de dados empíricos referentes
fosse refutada, todo o arcabouço teórico também
ao comportamento do parlamentar no plenário, à
poderá ser colocado sob suspeição.
produção legislativa e às relações desse poder com
o poder Executivo. Ainda segundo os autores, essa Toda a literatura anterior, vinculada de maneira
inflexão seria necessária, acima de tudo, porque ortodoxa à teoria distributivista, afirmava que, em
a concepção distributivista aplicada ao caso
brasileiro teria cometido dois grandes equívocos.
Primeiramente, no nível teórico, a literatura 10 A referência a essa obra, e não aos artigos específicos
desconsiderou o maior ensinamento que a teoria publicados em periódicos, deve-se ao fato de que nela es-
da escolha social trouxe à análise política: não é tão reunidos tais textos. Neles os autores discutem os re-
possível considerar que as decisões coletivas sejam sultados do desenvolvimento do projeto de pesquisa inici-
al, denominado “Terra Incógnita”. Um pouco da história
simples agregações das preferências individuais desse projeto pode ser lido na introdução do livro, escrita
sinceras (cf. RIKER, 1961; 1965; 1980; 1982). pelos próprios autores.
Desse modo, inferir que os resultados legislativos 11 Esse texto de Abranches (1988) trouxe alguns dos ter-
não seriam nada mais do que a confluência dos mos mais importantes do debate atual, incluindo a
comportamentos individuais e paroquialistas dos conceituação que acabou prevalecendo para o caso brasilei-
deputados seria fechar os olhos para a lógica da ro, o “presidencialismo de coalizão”. Porém, há diferenças
tomada de decisões coletivas. Em segundo lugar, no emprego do termo quando comparamos a análise daque-
no nível metodológico, a literatura tomou como le autor com as análises recentes. A maior diferença consis-
premissa a idéia de que a arena legislativa fosse te no fato de que, enquanto o autor via nas marcas gerais
desse fenômeno os traços de uma fisionomia não muito
apenas uma variável dependente do sistema bela, os autores atuais vêem-na de maneira oposta, pois os
eleitoral, fazendo tabula rasa dos processos e das mecanismos utilizados para a formação de coalizão, bem
instituições internas a essa instância decisória. como a centralização do processo legislativo, são tomados
Neste último caso, os críticos também não teriam como elementos positivos à preponderância do poder Exe-
levado em conta o fato de que, ao contrário do cutivo, algo não apenas factual como também desejável.
que ocorre nos Estados Unidos, a produção Mais recentemente, Limongi (2006) retomou a discussão
original do conceito de “presidencialismo de coalizão” para
legislativa brasileira não seria desconcentrada em fazer a diferenciação do sentido descritivo com que esse é
favor das comissões parlamentares, no interior das atualmente empregado. Além disso, o autor sintetizou suas
quais deputados individualmente ganhariam um posições diante das objeções apresentadas pela literatura
grande poder de decisão, mas sim altamente em relação aos dados obtidos pela agenda de pesquisas da
concentrada nos líderes partidários e, de certo área de estudos legislativos no país, cujos resultados indi-
modo, no próprio presidente da república. Ou seja, caram a pouca diferenciação entre parlamentarismo e pre-
sidencialismo quanto à dinâmica de interação do poder Exe-
os atores que de fato controlariam o “jogo” cutivo com o poder Legislativo e, no caso brasileiro, mos-
decisório, a agenda política do poder Legislativo, traram a prevalência do poder Executivo no processo
sequer eram vistos pela literatura de então como legislativo, elevada disciplina partidária e, conseqüentemen-
variáveis intervenientes na dinâmica congressual. te, elevada governabilidade.

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decorrência do sistema eleitoral adotado no país, chamado “presidencialismo de coalizão” e da


os deputados seriam individualistas e buscariam disciplina parlamentar relativamente elevada. Sua
apenas políticas paroquiais. Conseqüentemente, os estratégia metodológica consistiria em defender
deputados brasileiros não seguiriam quaisquer que, apesar da disciplina partidária e da centrali-
orientações partidárias, tampouco seriam zação do processo decisório, persistiriam as
previsíveis em suas votações. Figueiredo e relações paroquialistas e patrimonialistas entre
Limongi (1999) transformaram tais afirmações em políticos e eleitores e, além disso, tal arranjo
hipóteses que deveriam ser comprovadas institucional solaparia as bases da democracia
empiricamente e, para isso, escolheram a disciplina representativa no país, pois subtrairia dos
partidária como o indicador crítico em uma legisladores sua independência em relação ao poder
espécie de “teste crucial” da teoria distributivista. Executivo e sua função precípua de produzir
Propuseram, assim, que se os partidos realmente legislação.
não fossem relevantes nas decisões legislativas,
Seja como for, é bastante interessante o fato
então, deveríamos esperar elevada proporção de
de que toda a contribuição trazida pelos estudos
deputados cujos votos no plenário seriam
legislativos ao entendimento da dinâmica da política
discrepantes das orientações de suas lideranças
brasileira recente tenha se desenvolvido a partir e
partidárias. Por extensão, a governabilidade seria
em torno de um único ponto: a disciplina partidária
difícil de ser obtida pelo poder Executivo.
encontrada nas votações nominais na Câmara dos
Coletadas e organizadas as informações, surgiu, Deputados – e, evidentemente, todos os
entretanto, um padrão contraditório em relação às desdobramentos implicados nessa questão.
predições da literatura anterior. Segundo os dados Portanto, a disciplina partidária manifesta no
apresentados por Figueiredo e Limongi (idem), a plenário foi o bigbang, por assim dizer, da
disciplina partidária média era significativamente formação de todo o universo dos estudos
elevada, a ponto de ser alto o nível de previsibilidade legislativos brasileiros, na medida em que a
do voto de um parlamentar em função da indicação constatação de um fato, aparentemente
de seu líder partidário no momento da votação. indisputável – a elevada disciplina dos deputados
Conseqüentemente, conforme mostraram dados – propiciou uma competição pela melhor explicação
subseqüentes, a taxa de aprovação de projetos, da razão disso. Se Figueiredo e Limongi (1999)
advinda do apoio de uma coalizão majoritária no acabaram encontrando um padrão partidário no
parlamento, era igualmente alta. Como explicar comportamento dos deputados, restava agora
esse fato à luz da teoria distributivista pura e encontrar modelos explicativos que pudessem dar
simples? inteligibilidade teórica aos achados empíricos,
especialmente porque eles discrepavam das
Diante dessa constatação, a pugna acadêmica
inferências da abordagem distributivista ortodoxa.
foi deslocada do problema da governabilidade, que
Dessa forma, juntamente com outros dois estudos
marcou as discussões até meados da década de
pioneiros (SANTOS, 1995; PESSANHA, 1997)
1990 12 , para o problema do desempenho
no que se refere à análise empírica do processo
democrático, na medida em que parte da literatura
decisório na Câmara dos Deputados, e sob a
crítica em relação ao modelo constitucional
influência dos estudos legislativos norte-
brasileiro levantou sérias objeções quanto aos
americanos, Figueiredo e Limongi (1999)
elevados “custos” políticos e financeiros do assim
contribuíram para que ocorresse uma drástica
inflexão nessa linha de pesquisa.
IV. O DESENVOLVIMENTO DO DEBATE NOS
12 Isso não significa que o tema da governabilidade não
ESTUDOS LEGISLATIVOS
continue a ser debatido e tomado como objeto de preocu-
pação de pesquisadores, como, por exemplo, Abrúcio Consensualmente aceita como um fato, a
(1998), Kinzo (1999), Stepan (1999) e Ames (2003). Que- disciplina parlamentar e a governabilidade
remos dizer apenas que a ênfase deslocou-se para o proble- deixaram de ser o ponto de controvérsia dos
ma do desempenho do modelo democrático brasileiro, no analistas e, em seu lugar, cresceu o debate acerca
que se refere aos “custos de transação” do presidencialis-
do mecanismo pelo qual a governabilidade seria
mo de coalizão.

87
RELIGANDO AS ARENAS INSTITUCIONAIS

obtida pelo poder Executivo na sua relação com o No que se refere ao segundo eixo, no caso das
poder Legislativo. Esse debate acabou explicações estritamente exógenas, encontramos
desenvolvendo-se em dois eixos. No primeiro, deu- os mesmos autores que, desde o processo de
se em torno da polarização continuidade- abertura democrática, vêm insistindo na
descontinuidade do modelo constitucional de 1988 constatação de que o sistema eleitoral adotado no
em relação aos modelos constitucionais de 1945- Brasil cria incentivos ao comportamento
1964 e do regime militar. No segundo eixo, o paroquialista do parlamentar e ao comportamento
debate também agrupou os pesquisadores em dois clientelista do eleitor, em uma economia de trocas
blocos: de uma parte, aqueles que advogam a perniciosas para as políticas públicas de interesse
preponderância de variáveis endógenas ao poder nacional. Além disso, em combinação com o
Legislativo em seus processos e em suas decisões sistema partidário altamente fragmentado e com a
– o que os vincula às explicações partidárias; de forma de governo presidencialista, o modelo
outra parte, aqueles que defendem a importância constitucional do país criaria uma série de
de variáveis exógenas ao poder Legislativo, obstáculos à governabilidade, ou pelo menos
levando-os a considerar que a lógica distributivista, torná-la-ia extremamente difícil, incerta e custosa,
de alguma maneira e com graus variados, implicando a cooptação de parlamentares por meio
dependendo dos pesquisadores em questão, ainda da oferta de cargos e verbas e da troca de
prevaleceria na dinâmica política brasileira. benefícios seletivos por apoio às políticas públicas.
Quanto ao primeiro eixo, de modo geral, os No caso das explicações endógenas, os autores
autores concordam que, em comparação com investem em um modelo explicativo em que as
nossa primeira experiência democrática, a atual variáveis internas ao poder Legislativo são
foi submetida a importantes alterações privilegiadas, destacando que “[...] as normas que
constitucionais que levaram à concentração do regulam a distribuição de direitos e recursos
processo decisório no parlamento e ao parlamentares dão origem a um padrão altamente
fortalecimento do poder Executivo diante do poder centralizado de organização do Congresso que se
Legislativo. Da mesma maneira, comparando-se harmoniza com a atuação preponderante do poder
com o período autoritário, a atual Constituição Executivo. Portanto, “[...] o eixo que estrutura
representou uma continuidade bastante favorável esse padrão centralizado, por força regimental, é
ao Presidente da República, que é o poder de editar os partidos políticos” (FIGUEIREDO &
e reeditar medidas provisórias, mais ou menos nos LIMONGI, 1999, p. 11). Ou seja, ao contrário do
moldes dos decretos-lei à disposição dos governos que supôs as explicações exógenas, a
militares. Porém, enquanto Figueiredo e Limongi governabilidade seria elevada em função
(idem) reconhecem nesses mecanismos uma justamente do elevado grau de disciplina partidária
lógica que induz o presidencialismo brasileiro a no poder Legislativo.
um funcionamento bastante semelhante aos
De maneira mais detalhada, o mecanismo
modelos parlamentaristas, Santos (2003) observa
explicativo que vinculava a análise institucional
que um dos custos da governabilidade obtida desse
endógena à arena congressual, com a detecção de
modo seria uma espécie de “ traição” dos
um padrão partidário para o comportamento
fundamentos originários do presidencialismo – a
parlamentar e, no limite, para a própria organização
divisão de poderes, o sistema de “checks and
do processo legislativo, é apresentado por
balances” e uma agenda política compartilhada
Figueiredo e Limongi nos seguintes termos: “O
entre poder Legislativo e poder Executivo, em vez
poder Executivo domina o processo legislativo
do predomínio deste último sobre o primeiro13.
porque tem poder de agenda e esta agenda é
processada e votada por um poder Legislativo
organizado de forma altamente centralizada em
13 Santos (2003) ressalta ainda que, no atual modelo cons- torno de regras que distribuem direitos parla-
titucional, a governabilidade e o elevado grau de disciplina
mentares de acordo com princípios partidários.
partidária são obtidos não apenas por meio da patronagem, No interior desse quadro institucional, o Presidente
mas também e principalmente por intermédio dos poderes
legislativos atribuídos ao presidente, além do poder de ela-
boração da peça orçamentária. Para o autor, em função melhor categorizado como um presidencialismo de coali-
dessas características, o sistema político brasileiro seria zão racionalizado.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 43: 81-106 OUT. 2012

conta com os meios para induzir os parlamentares Não obstante, ao contrário do que se poderia
à cooperação. Da mesma forma, parlamentares supor, no presidencialismo de coalizão brasileiro,
não encontram o arcabouço institucional próprio esse paradoxo resultaria do equilíbrio entre as
para perseguir interesses particularistas. Ao arenas eleitoral e legislativa, dando-lhe, afinal, a
contrário, a melhor estratégia para a obtenção de governabilidade desejada. Isso porque, segundo
recursos visando a retornos eleitorais é votar Pereira e Mueller (idem), os políticos teriam de
disciplinadamente” (idem, p. 22-23). agir individualmente na arena eleitoral e precisariam
de obter recursos que estão localizados na arena
Mais recentemente, uma terceira via explicativa
governamental. Conseqüentemente, a melhor
veio à baila. Nela, procurou-se combinar variáveis
estratégia para tal obtenção, no parlamento, seria
explicativas endógenas e exógenas, com a
agir coletivamente de maneira coesa, coordenados
finalidade de defender que, apesar das novas
por uma legenda partidária, de modo que se
características constitucionais favoráveis à
aumentasse o poder pessoal de barganha por
centralização do processo legislativo, a lógica
recursos paroquiais para a sua base eleitoral. Assim,
paroquialista ainda persistiria na dinâmica da
não só não haveria desequilíbrio entre as arenas
política brasileira. Esse é o caso de Pereira e
eleitoral e legislativa, como, na verdade, haveria
Mueller (2003) que, nos últimos anos, vêm
uma nova modalidade de equilíbrio institucional,
propondo um instigante e criativo sincretismo entre
na qual “[...] o sistema político brasileiro,
as versões partidária e distributivista, alegando
condensado por um sistema eleitoral que fragiliza
haver uma interação das duas arenas como
os partidos, [tem] regras internas que fortalecem
variáveis independentes em relação ao
os partidos” (idem, p. 765).
comportamento dos parlamentares, devido ao
caráter sui generis do nosso modelo constitucional. Procurando manter a posição de que
Segundo os autores: “[...] o sistema político prevaleceriam políticas paroquiais no sistema
brasileiro condensa duas diferentes e antagônicas político brasileiro, mas, ao mesmo tempo,
forças e incentivos institucionais. De um lado, as incorporando os achados da vertente explicativa
regras eleitorais, o multipartidarismo e o centrada nos partidos, esse sincretismo analítico
federalismo agem descentralizando o sistema recorre mais uma vez à idéia de que o modelo
político. De outro lado, as regras internas do político brasileiro seria um “animal político” híbrido
processo de decisão dentro do Congresso e os que combinaria traços contraditórios, que
poderes constitucionais do Presidente de legislar articularia coisas aparentemente opostas em um
e de distribuir recursos políticos e financeiros paradoxo que, ao seu modo, funcionaria de maneira
proporcionam incentivos para a centralização desse mais ou menos satisfatória. Pelo menos à distância,
mesmo sistema” (idem, p. 737-738). em termos teóricos, tal síntese explicativa parece
ser a saída mais criativa para dois achados
Mas, em vez de afirmarem que as instituições
empíricos aparentemente discrepantes: de uma
legislativas simplesmente anulariam os efeitos
parte, indícios da persistência do comportamento
descentralizadores do sistema eleitoral, como o
paroquialista dos deputados, e, de outra, indícios
fizeram Figueiredo e Limongi (1999), Pereira e
de ação disciplinada dos mesmos deputados no
Mueller (2003) acabam sugerindo que ambos
parlamento14 .
combinar-se-iam em um conjunto de “incentivos
paradoxais”, aos quais os parlamentares teriam de Desse modo, a inflexão trazida pela formulação
responder da maneira mais racional possível. Mas de uma nova agenda de pesquisa sobre o poder
como? Sendo partidariamente disciplinados na Legislativo brasileiro trouxe pelo menos três
arena legislativa e, em simultâneo, personalistas e
paroquialistas na arena eleitoral. Em realidade, o
próprio poder Executivo incentivaria tal
14 Nas palavras de Santos, “de um lado, é razoável susten-
descompasso entre as duas arenas, utilizando as
tar que os legisladores brasileiros têm interesses
emendas orçamentárias como moeda de troca
particularistas e, na maioria das vezes, se esforçam para
entre políticas paroquialistas, objetivadas pelos construir uma boa reputação pessoal a despeito de sua
parlamentares, e o voto disciplinado dos deputados filiação partidária. De outro, também é verdade que, após a
em apoio aos projetos do governo nas votações promulgação da Constituição de 1988, os partidos brasilei-
em plenário. ros passaram a exibir um grau razoável de disciplina nas
votações nominais no plenário” (SANTOS, 2003, p. 85).

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RELIGANDO AS ARENAS INSTITUCIONAIS

importantes inovações. Em primeiro lugar, a relacionadas à forma de governo e ao sistema


reconstrução teórica do problema, com a utilização eleitoral15. Quanto a isso, a proposta consistiu em
do debate envolvendo os modelos positivos já considerar o poder Legislativo como uma arena
amplamente empregados nos estudos do poder independente das outras, ou seja, como uma
Legislativo norte-americano, opondo-se a instância política autodeterminada por um conjunto
explicação partidária à distributivista; em segundo de regras internas, por um conjunto de incentivos
lugar, a ênfase na análise de material empírico institucionais endógenos – tais como o poder de
retirado exclusivamente da produção e do processo agenda dos líderes partidários, os poderes
legislativos, com a utilização de técnicas legislativos do Presidente da República, as
quantitativas mais sofisticadas, e, em terceiro lugar, prerrogativas de iniciativa orçamentária, assim por
no caso da explicação partidária, a defesa da diante. Na Tabela 1, são resumidas algumas das
“impermeabilidade” da arena legislativa quanto a variáveis mais importantes das duas abordagens
possíveis determinações de variáveis institucionais – a exógena e a endógena.

TABELA 1 – VARIÁVEIS PRIVILEGIADAS NAS EXPLICAÇÕES DISTRIBUTIVISTA E PARTIDÁRIA

VARIÁVEIS EXÓGENAS VARIÁVEIS ENDÓGENAS

Forma de governo Poderes legislativos do presidente


Sistema eleitoral Poder presidencial de elaborar o orçamento
Organização partidária Controle poder Executivo sobre as políticas públicas
Arranjo federativo Controle de cargos executivos
Características culturais Controle de cargos legislativos
Características econômicas Poder de agenda dos líderes partidários

FONTE: os autores.

Entretanto, apesar das notáveis contribuições no sistema eleitoral16.


e inovações trazidas por esses estudos, é possível
Conseqüentemente, as respostas apresentadas
identificar alguns problemas importantes nessa
pelos autores pertencentes a esses dois modelos
linha de investigação. Primeiramente, é possível
explicativos oscilaram entre três níveis de
observar que as instituições exógenas ao poder
influência-não-influência dos partidos sobre o
Legislativo cada vez mais deixaram de ser
comportamento parlamentar, em função da posição
relevantes para os adeptos da explicação partidária.
de cada autor em relação ao peso do sistema
Em segundo lugar, as variáveis partidárias
eleitoral na dinâmica legislativa. Aqueles que
propriamente organizacionais não têm peso
defendem que o sistema eleitoral é a variável
significativo nas análises dos adeptos das
determinante do comportamento parlamentar, por
explicações distributivistas, pois eles acabaram
extensão, defendem que os partidos não teriam
concentrando-se, basicamente, na forma de
peso significativo nas decisões legislativas e,
governo, no arranjo federativo e, principalmente,
assim, a forma de governo e o arranjo federativo

15 É importante ressaltar, contudo, que a literatura admite 16 Com efeito, a variação do peso do sistema eleitoral
que haveria uma contraposição dos efeitos derivados das aparece nesses estudos do seguinte modo: ou (i) o sistema
variáveis institucionais endógenas e exógenas ao poder eleitoral determina o comportamento do parlamentar e,
Legislativo, e não uma anulação completa de umas em rela- dessa maneira, o processo legislativo, ou (ii) o sistema elei-
ção às outras. Porém, a “impermeabilidade” a que nos refe- toral não produz efeito algum sobre o comportamento par-
rimos consiste nas conseqüências analíticas de adotar-se a lamentar, nem sobre o processo legislativo, ou (iii) o siste-
concepção de que os efeitos das variáveis internas do pro- ma eleitoral produz algum tipo de efeito sobre o comporta-
cesso legislativo predominariam sobre os efeitos das variá- mento parlamentar e o processo legislativo, restando de-
veis externas, como as vinculadas ao sistema eleitoral. terminar qual seria esse efeito.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 43: 81-106 OUT. 2012

apenas contribuiriam para incrementar os efeitos caso, as organizações partidárias e o poder


fragmentadores do sistema eleitoral. Contraria- Judiciário, ainda pouco considerados nos estudos
mente, aqueles que negam a determinação do legislativos, parecem ser duas variáveis que
sistema eleitoral sobre o comportamento parla- poderiam trazer algumas respostas para essas
mentar têm a propensão a atribuir, aos partidos, questões.
grande relevância nas tomadas de decisão do poder
V. AS ORGANIZAÇÕES PARTIDÁRIAS E O
Legislativo e, extensivamente, a dar pouca
PROCESSO LEGISLATIVO
importância à forma de governo e ao arranjo
federativo como variáveis explicativas desse Indiscutivelmente, os partidos políticos
fenômeno. brasileiros sempre foram objeto de críticas as mais
variadas, desde o império, passando pelo advento
Entretanto, em ambos os casos, as abordagens
da república, pela democracia de 1945-1964, pelo
dos partidos não são satisfatórias. Nos estudos
bipartidarismo compulsório do regime militar,
exógenos, eles simplesmente são desconsiderados,
estendendo-se até o período democrático atual18.
pois são dados como inexpressivos; nos estudos
É notório que, ao longo desses anos recentes de
endógenos, embora sejam considerados, a
retomada da experiência democrática do país,
concepção de partido adotada não abarca seus
ácidas críticas continuaram a ser emitidas às
elementos organizacionais, de modo que o que se
organizações partidárias, vistas como frágeis,
considera como evidência da atuação do partido
incipientes e pouco representativas dos interesses
político não é nada mais do que a disciplina
genuinamente sociais e, por isso mesmo,
parlamentar elevada e o poder de agenda dos líderes
apontadas como um dos grandes obstáculos à
partidários nos processos legislativos, e apenas
consolidação de uma democracia efetiva
neles. Assim, os partidos não são vistos como
(LAMOUNIER, 1980; 1990a; 1990b; 1991; 1992;
organizações estruturadas, mas como “ação
1994a; 1994b; LAMOUNIER & MENGUELLO,
coletiva coordenada” somente no próprio poder
1986; KINZO, 1988; 1993; 2001; 2004; 2005;
Legislativo.
MAINWARING, 1991; 1992; 1993; 1995, 1997;
Finalmente, o terceiro problema consiste no 1998; LIMA JR., 1993; ABRÚCIO, 1998; AMES,
fato de que as duas vertentes analíticas alinharam- 2001).
se sob uma perspectiva comum, na qual as
Mas, a partir da segunda metade da década
relações competitivas entre poder Executivo e
passada, abriu-se uma possibilidade inovadora para
poder Legislativo, e entre deputados e partidos no
a reconsideração da importância dos partidos no
Parlamento, são sempre resolvidas internamente
processo democrático brasileiro. Da área dos
e de maneira harmônica. Todos os conflitos são
solucionados no próprio processo parlamentar, por
meio de estratégias variadas, como a distri-buição que analisa o desempenho das democracias, é a ação e as
de políticas paroquialistas e de cargos. Ana-lisam- funções das oposições partidárias. Em realidade, no âm-
se as medidas que foram à votação e seus bito dessa literatura, as oposições são percebidas de ma-
resultados favoráveis ao governo, as coalizões neira negativa, sempre consideradas um obstáculo à
governamentais no plenário, as chances de reelei- governabilidade. Desse modo, de uma parte, todos os au-
tores adotam a definição de democracia apresentada por
ção dos deputados em função de seu comporta- Dahl (1972), na qual as oposições compreendem uma das
mento cooperativo na Câmara etc. Mas e os con- duas dimensões que caracterizam a democracia como for-
flitos que não são superados internamente pelas ma de governo aberta à competição e contestação; porém,
estratégias convencionais? Eles existem? Se exis- de outra parte, dão valor normativo à governabilidade e
tem, como poderiam ser acomodados em seus consideram as oposições partidárias como empecilhos à
modelos explicativos? Como são resolvidos os sua efetividade.
impasses irredutíveis? Como as oposições – pouco 18 Para exemplificar, indicamos alguns trabalhos significa-
consideradas nas pesquisas – lidam com seus tivos dessa literatura: Américo Brasiliense (1878); Pessoa
conflitos com a coalizão de governo?17 Nesse (1929); Souza (1942); Soares de Souza (1944); Franco Melo
(1948); Nunel Leal (1949); Dulci (1977); Lamounier e Kinzo
(1978); Lamounier (1980; 1990a; 1990b; 1991); Chacon
(1981); Hypólito (1985); Lamounier e Meneguello (1986);
17 Outro problema importante praticamente desconsi- Kinzo (1988; 1993); Benevides (1990); Lima Jr. (1990);
derado não somente pelos estudos legislativos brasilei- Mainwaring (1991; 1992; 1993; 1995; 1997; 1998); Abrúcio
ros, mas pela própria literatura de política comparada (1998); O. Vianna (1999); Ames (2001).

91
RELIGANDO AS ARENAS INSTITUCIONAIS

estudos legislativos emergiu uma literatura cujo se adotasse determinada concepção de partido, de
argumento central é o de que o eixo pelo qual se modo a se verificar até que ponto estes teriam
desenvolvem as relações entre o poder Executivo algum peso nas decisões parlamentares. Como os
e o poder Legislativo, bem como desenrola-se o estudos legislativos brasileiros são totalmente
processo decisório parlamentar, é precisamente o influenciados pelas análises do poder Legislativo
partidário. Ao descobrirem os elevados graus de norte-americano, obviamente, a concepção de
disciplina partidária encontrados nas votações partido aplicada ao processo governamental e a
nominais na Câmara dos Deputados, esses estudos visão acerca de sua função nos processos
contribuíram para que os partidos, desgastados decisórios parlamentares seriam influenciadas da
pelas críticas anteriores e relegados ou a um mesma forma pelas teorias desenvolvidas naquele
segundo plano ou à posição de responsáveis por contexto. Então, para identificarmos mais
uma suposta precariedade democrática no país, claramente o tratamento dispensado aos partidos
voltassem a ocupar uma posição central nos nos estudos legislativos brasileiros, torna-se
estudos legislativos, o que pode ser demonstrado necessário compreender a maneira pela qual estes
pela análise da própria literatura temática19 . são abordados no caso norte-americano. Para tanto,
Portanto, se antes não havia dúvidas acerca da recorremos a Cox e McCubbins (1993), que,
nulidade das legendas partidárias na determinação analisando criticamente a literatura empírica norte-
da produção legislativa, agora a agenda seguida americana, identificaram três modelos a partir dos
pelos pesquisadores deveria lidar com três quais são postuladas as relações entre os partidos
questões centrais circunscritas aos partidos: (i) e o processo decisório legislativo.
em que medida a disciplina partidária, de fato, seria
No modelo 1, os partidos são concebidos como
disciplina20? Ou seja, qual o peso real dos partidos
“coalizões de voto”, por intermédio das quais
no enquadramento do comportamento dos
realizam-se negociações e acordos que envolvem
deputados? (ii) Em que medida a disciplina
as lideranças nas comissões parlamentares. Nesse
partidária significaria que a lógica distributivista
caso, os partidos manifestam-se apenas no
seria mesmo irrelevante? Ou seja, é possível a
plenário, com votação nominal coesa, e as
coexistência de disciplina e de paroquialismo? (iii)
negociações não são feitas no interior de suas
Até que ponto as instituições internas ao poder
organizações. Isso significa que os partidos não
Legislativo neutralizariam os efeitos do sistema
seriam mais do que um agregado de parlamentares
eleitoral sobre o comportamento do parlamentar,
disciplinados e guiados pelo líder no campo de
obrigando-o a agir de maneira partidária?
batalha – as votações nominais no parlamento.
As respostas a tais questões demandariam que Note-se que, nesse modelo, o líder exerce grande
poder sobre seus colegas de partido, de modo que
19 Conforme dados levantados por Santos (2006), entre
o vetor de influência vai da liderança para os
parlamentares.
os temas abordados pelos autores nos trabalhos publica-
dos desde os anos 1990, os mais recorrentes são: os parti- No modelo 2, as coalizões parlamentares são
dos políticos (16%), o poder de agenda (12,5%), o com- voltadas ao estabelecimento de procedimentos para
portamento parlamentar (12,5%), os resultados legislativos
(5,5%), a conexão eleitoral (5,3%) e o sistema de comis-
o processo legislativo. Assim, os partidos, como
sões (5,3%). coalizões de parlamentares individuais que
20 Sem voltar às controvérsias conceituais acerca do que
procuram ganhar poder de decisão sobre tais
procedimentos, agindo coletivamente, organizam
realmente significa o voto conjunto dos deputados, se coe-
são ou disciplina, é importante destacar, porém, que quan- os trabalhos legislativos por meio de protocolos
do se afirma que há disciplina em um partido, isso deve orientados à resolução de conflitos relativos à
significar que mesmo aqueles que não queiram votar da indicação para cargos, formação de comissões,
forma indicada pela liderança assim o fazem em obediência aprovação de regimento etc. Contudo, ocorrem
à direção partidária, seja por “senso de dever”, seja por discordâncias no que se refere a questões mais
“senso de oportunidade”, o que implica um cálculo estraté-
substantivas e, conseqüentemente, manifesta-se
gico que avalia as recompensas e punições possíveis. Por-
tanto, para que haja disciplina, é precisa que haja recursos pouca coesão nas votações.
e instrumentos de controle e punição à disposição das lide- Já no modelo 3, o grau de coesão é variável,
ranças partidárias. Os recursos podem ser inerentes à arena
legislativa, mas os instrumentos de controle e punição de-
ora elevado, ora reduzido. Isso ocorreria porque,
vem ser necessariamente partidários. embora o líder partidário tenha poder de comando,

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 43: 81-106 OUT. 2012

sua liderança depende de apoio condicional dos o contrário, como no modelo 1. O líder deve ser
membros de seu partido. Ou seja, o líder não identificado com os interesses do partido, em
recebe delegação incondicional dos membros virtude de uma delegação condicional que lhe é
partidários para atuar em seu nome a despeito do atribuída pelos demais membros. O problema aqui,
que esteja em pauta; seu apoio é variável de acordo portanto, é o custo do processo decisório, sempre
com cada questão. Assim, o processo legislativo, lento e demorado, além da baixa capacidade de
inclusive no âmbito de uma coalizão de controle das lideranças sobre seus colegas de
parlamentares sob uma legenda partidária, legenda21. A Tabela 2 sintetiza os três modelos.
demanda intensa negociação, afinal, são os
Segundo Cox e Mccubbins (idem), no caso
membros do partido que influenciam o líder, e não
dos Estados Unidos, prevaleceu a visão de que os

TABELA 2 – OS TRÊS MODELOS PARTIDÁRIOS DOS ESTUDOS LEGISLATIVOS NORTE-AMERICANOS

PARTIDO FRACO PARTIDO FORTE

Modelos 1 e 2 Modelo 3
Atuação apenas no Plenário Atuação “pré-Planário”
Liderança incondicional Liderança condicional
Ênfase em questões procedimentais Ênfase em questões substantivas
FONTE: os autores, a partir de classificação sugerida por Cox e McCubbins (1993).

partidos seriam fracos, pouco coesos no poder das comissões como locus decisório relevante,
Legislativo e pouco operativos na arena eleitoral22. mediante seu deslocando para o próprio plenário.
Para a situação brasileira, os pesquisadores O segundo é a consideração de que o processo
postularam o mesmo tipo de fenômeno institucional legislativo brasileiro é centralizado, portanto, o
encontrado nos Estados Unidos, e o debate deu- inverso do norte-americano. O terceiro é a defesa
se em torno do modelo partidário 1, com algumas de que as regras eleitorais não exercem efeito
modificações importantes. A primeira é o descarte significativo sobre o comportamento do parla-
mentar brasileiro – excetuando-se, nesse caso, os
adeptos da explicação distributivista –, também
contrariamente ao caso norte-americano. Mas, não
21 Dos modelos descritivos utilizados pela literatura, ape- por acaso, a disciplina partidária permaneceu como
nas o terceiro satisfaz em grande parte o modelo ideal es- indicador da existência e da força dos partidos
posado por diversos analistas norte-americanos, quase sem- nas decisões legislativas. Evidentemente, isso
pre desencantados com os partidos de seu país. No modelo mostra que os analistas têm dado ênfase às
1, a coesão significa disciplina e não envolve discussões
partidárias anteriores à votação, tampouco envolve com-
lideranças partidárias como controladores do
promissos programáticos substantivos. No modelo 2, a comportamento parlamentar, em função do
coesão dá-se apenas em torno de procedimentos, mas não desenho institucional que concentra neles o poder
de políticas específicas e importantes. No modelo 3, entre- de agenda dos trabalhos no parlamento. Agregue-
tanto, embora exista um líder, este responde aos interesses se a isso os poderes legislativos e orçamentários
de seus colegas de partido que, em contrapartida, de manei- do Presidente da República, outro importante ator
ra condicional, delegam-no apoio em questões substanti-
vas – algo próximo de um “partido responsável”. Aliás, um
de controle da agenda política.
“partido responsável” é aquele capaz de atuar nas negoci- Desse modo, a busca de resposta às indagações
ações anteriores à votação em plenário, de ser coeso em apresentadas anteriormente fez que se desen-
torno de questões importantes, conduzido por uma lide-
rança sintonizada com seus colegas de legenda.
volvessem duas perspectivas relacionadas com o
modelo 1. A primeira delas defendeu a “explicação
22 Ao tentarem responder à questão por eles mesmos
partidária”, contribuindo para que os partidos
formulada (“se os partidos são tão fracos, então quais são
os princípios organizativos da política estadunidense?”)
brasileiros pudessem ser vislumbrados sob uma
os autores sugerem haver, na realidade, um “cartel ótica mais favorável. Os maiores representantes
legislativo”, formado pelo partido majoritário que confere dessa visão são Figueiredo e Limongi, cujas
racionalidade aos processos decisórios legislativos nos Es- análises conduziram a afirmação de que “a filiação
tados Unidos.

93
RELIGANDO AS ARENAS INSTITUCIONAIS

partidária diz muito a respeito do voto provável disciplina como indicador de força partidária24
do parlamentar. [...] Os partidos políticos apre- conduziu os autores a uma concepção de partido
sentam grau de coesão interna suficiente para bastante discrepante daquela adotada pela área
tornar a ação no plenário previsível” (FIGUEI- de estudos partidários, apesar da variedade de
REDO & LIMONGI, 1999, p. 77). teorias existente, na qual os elementos
organizacionais são substancialmente
Contudo, a despeito da ênfase dada aos
relevantes25 .
partidos, há duas questões problemáticas em suas
posições. Uma delas consiste na estratégia Portanto, a explicação partidária adota uma
metodológica de praticamente “insular” a arena concepção de partido que desconsidera a dimensão
legislativa, tornando-a sensivelmente organizacional, dando relevo apenas à ação coletiva
impermeável em relação às outras arenas – restrita ao parlamento26 . Com isso, os partidos
inclusive a estrutura organizacional dos aparecem como cartéis legislativos, como
partidos23 . Se esse procedimento, de uma parte, mecanismos estritamente voltados à resolução do
correspondeu à engenhosa tentativa de contestar problema da coordenação da ação coletiva no
a perspectiva distributivista, focada nos efeitos plenário. Conseqüentemente, esses seriam partidos
do sistema eleitoral sobre o comportamento meramente legislativos, formados no poder
parlamentar, de outra, significou um certo Legislativo e para o poder Legislativo – assim como
isolamento analítico, fazendo do poder Legislativo os partidos de notáveis do século XIX, na Europa.
um subsistema total, ou seja, única e Ademais, curiosamente, assume-se uma oposição
exclusivamente autodeterminado. A outra questão que é estranha à área de estudos partidários, qual
problemática foi a adesão ao modelo partidário seja: pressupõe-se que, de um lado, temos o líder,
1, na medida em que a ênfase excessiva na aparentemente o legítimo representante dos
interesses partidários, e, de outro, os deputados,
alheios a tais interesses. Daí a ênfase na disciplina
partidária como um indicador do poder que a
23 Quanto ao “insulamento” da arena legislativa, o trecho
a seguir é bastante ilustrativo: “sugerimos que se volte a
atenção para os mecanismos que regulam o próprio pro-
cesso legislativo. Mais especificamente, o resultado obser- 25 Reforçando essa concepção, Santos (2003) sugere, in-
vado só pode ser entendido se se levar em consideração a
alocação de recursos e direitos parlamentares no próprio clusive, que as causas históricas – no sentido do
parlamento. Ou seja, a explicação deve ser procurada den- institucionalismo histórico – da força partidária no poder
tro e não fora do Congresso. Por força regimental, os líde- Legislativo como uma ação coletiva coesa e coordenada
res partidários controlam a agenda dos trabalhos e, assim, devem ser buscadas na mudança constitucional promovida
restringem o campo aberto às estratégias individualistas pelo modelo adotado pelos constituintes de 1988, o que
dos congressistas” (FIGUEIREDO & LIMONGI, 1999, teria provocado uma drástica alteração no padrão observa-
p. 77; sem grifos no original). do na experiência democrática anterior vivida pelo país. O
presidencialismo brasileiro do contexto atual não só seria
24 Quanto à concepção de partido, o trecho a seguir também
um presidencialismo de coalizão, como o seria de maneira
é especialmente ilustrativo: “diante dos argumentos apre- racionalizada, forçando a cooperação disciplinada dos par-
sentados pelos estudiosos da legislação partidária, a coesão lamentares com o poder Executivo.
observada chega a ser paradoxal. Afinal, se é verdade que os 26 Poder-se-ia argumentar que esses autores, assim como
partidos não dispõem de nenhum recurso que lhes permita
impor disciplina a seus membros, como explicar que os par- a literatura internacional que lida com estudos legislativos,
tidos se apresentem de maneira disciplinada? De fato, líde- desconsidera a dimensão organizacional propositadamen-
res partidários não têm como punir parlamentares te, porque, seguindo as análises de Katz e Mair (1994;
indisciplinados. No entanto, têm controle sobre a agenda 1995; 1996), consideram que a principal atuação partidária
dos trabalhos legislativos. Controlam o que e quando se teria sido deslocada para o Estado. Porém, não é isso o que
vota. Em contrapartida, os parlamentares têm seu espaço de ocorre. Em primeiro lugar, porque a desconsideração dos
atuação bastante reduzido. [...] As regras que regulam esse elementos organizacionais decorre da adesão à concepção
processo favorecem sobremaneira as lideranças partidárias. de partido político derivada da teoria da escolha racional,
[...] Ou seja, [...] a manifestação do plenário é mediada por ou seja, o partido seria simplesmente uma solução coorde-
instituições parlamentares. Essas instituições têm sobre os nada para a ação coletiva no parlamento, e não uma estru-
resultados substantivos efeitos independentes daqueles que tura organizacional complexa, anterior e paralela ao parla-
decorrem das escolhas eleitorais e de controles partidários mento, que tem que articular as tensões entre suas três
extra-parlamentares” (FIGUEIREDO & LIMONGI, 1999, faces: party in public office, party on the ground e party in
p. 93-94; sem grifos no original). central office.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 43: 81-106 OUT. 2012

liderança mostra em plenário – o campo de batalha irresistível? O partido só existe mesmo como “ação
– ao levar os deputados a votarem de maneira coesa coordenada”? Não há nenhuma interferência das
segundo sua indicação. Esse poder deriva estruturas organizacionais dos partidos sobre o
diretamente do controle da agenda dos trabalhos comportamento do parlamentar? Os programas
legislativos e não da posição de liderança no interior partidários não têm nenhuma importância analítica
de uma organização partidária, com suas regras e para o processo legislativo? Como dá-se a negocia-
seus trâmites institucionais. Entretanto, o problema ção entre interesses individuais e a orientação
é que tal perspectiva desconsidera que um partido programática do partido? Como, de fato, os parti-
é composto de membros variados, com interesses dos, enquanto organizações extraparlamentares,
também variados, reunidos em facções compe- coordenam o processo legislativo? Por que o líder
titivas, incluindo os parlamentares. Além disso, faz o que faz e defende o que defende? Não há
desconsidera que os líderes são parlamentares nada antes e acima do líder? O jogo político reduz-
investidos de alguma delegação que lhes foi se a deputados e líderes parlamentares? A política
atribuída fora do parlamento para que seu exercício ocorre apenas no parlamento?
dê-se dentro do poder Legislativo. É no interior
Mesmo se o poder de agenda das lideranças
da organização partidária, uma organização
corresponder a um processo de racionalização do
complexa, exterior e anterior ao poder Legislativo,
parlamento, ainda assim, implica saber quem
que ocorre a delegação, e, antes dela, a própria
promoveu tal racionalização e com que objetivo.
escolha do líder27.
Cogitar que os deputados, todos eles,
Isso significa que se adotarmos o modelo de individualmente e de maneira deliberada,
partido que prevaleceu até o momento na vertente resolveram delegar tal poder aos líderes para
centrada na “explicação partidária”, deixaremos ganhar força coletiva na barganha com o poder
de responder a várias questões cruciais, como, Executivo, implica desconsiderar que um partido
por exemplo: afinal, o que e a quem o líder é composto por atores políticos que atuam em
partidário representa? Como é esse mecanismo outras esferas, como os parlamentares estaduais
que leva à sua escolha e que lhe investe de poder e municipais, os governadores e os prefeitos, os
delegado? As explicações para isso estariam no dirigentes sem cargos representativos, os militantes
próprio poder Legislativo ou fora dele, na arena etc. Implica, ainda, desconsiderar que todos eles
organizacional dos partidos? Os parlamentares são têm algum poder de decisão e, assim, poder de
disciplinados seguindo o líder ou o líder seria veto, variável em função do desenho
disciplinado seguindo as orientações partidárias organizacional adotado pelo partido. Portanto, para
delineadas no interior de uma organização aceitarmos a hipótese de racionalização com esse
transversal, que perpassa várias lideranças, teor, teríamos de explicar igualmente como, no
diretórios etc.? Ou o líder do partido no poder interior das organizações partidárias, entendidas
Legislativo seguiria as diretrizes transmitidas pelos como instituições complexas, processou-se tal
dirigentes nacionais que controlam uma decisão.
organização bastante centralizada 28 ? Como
A segunda perspectiva, mais recente, como
explicar que haja indisciplina partidária, mesmo
também já foi mencionado, apresenta uma
reduzida, se o poder das lideranças seria tão
explicação híbrida, que procura identificar
determinações institucionais tanto na arena eleitoral
como na arena legislativa, defendendo a hipótese
27 É importante ressaltar, no entanto, que, em um trabalho
de que os partidos seriam fortes apenas no
mais recente, voltado à análise da política orçamentária, parlamento – como coalizão disciplinada –, mas
Figueiredo e Limongi (2008) dão maior importância aos
elementos internos da organização partidária, destacando
os conflitos e as possíveis negociações entre seus membros
e suas facções, assim como à delegação de poderes às lide-
ranças para que estas tentem coordenar o processo de for- sível supor que exista algum grau de interferência, maior ou
mulação e expressão de demandas do partido no interior da menor, conforme o caso, dos membros do partido sobre a
coalizão governamental. escolha das lideranças e a luta pela fixação da agenda polí-
tica a ser perseguida. Mesmo membros que não tenham
28 Como se sabe, de acordo com o Regimento Interno da cargo eletivo, mas que ocupam posição de controle sobre a
Câmara dos Deputados, compete formalmente às banca- organização, poderão ter algum poder de interferência nes-
das parlamentares a escolha de seus líderes. Porém, é pos- se processo.

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RELIGANDO AS ARENAS INSTITUCIONAIS

pouco significativos na arena eleitoral. Ou seja, fortes atores. Fortes sim, mas no espaço
os partidos seriam legendas eleitorais fracas, congressual e governamental” (idem, p. 740).
dotadas apenas do monopólio da representação e
Ao que parece, os autores acabaram invertendo
nada mais; porém, seriam cartéis legislativos
a visão já defendida anteriormente por Lima Jr.
fortes, em função da necessidade de ação coesa e
(1993), que afirmava que “[...] para fora do poder
coordenada diante do poder Executivo, pois
Legislativo, é claro, vale o partido, que se organiza
somente assim seria possível obter determinados
e se regula como quiser; porém, dentro do poder
benefícios para serem revertidos em dividendos
Legislativo, o que conta é o parlamentar” (idem,
eleitorais pessoais. De certo modo, essa
p. 31). Pereira e Mueller (2003, p. 741, 764 - 765)
perspectiva ainda procura manter um elemento
propõem o oposto, ressaltando que, de acordo
contido na idéia de conexão eleitoral, ou seja, a
com os dados encontrados em suas pesquisas,
despeito da disciplina partidária elevada, da
“ os legisladores brasileiros têm votado
centralização do processo legislativo e dos poderes
consistentemente seguindo a indicação dos seus
legislativos do Presidente da República, ainda
líderes partidários não só devido aos poderes
persistiriam as políticas paroquialistas nas relações
legislativos e de controlar a agenda do Congresso,
entre deputados e eleitores. Isso porque,
assegurados ao Presidente, mas também por
paradoxalmente, “o comportamento partidário na
perceberem que esse comportamento pode
arena legislativa visa a que os membros desse
proporcionar acesso a benefícios controlados pelo
partido extraiam benefícios individuais controlados
poder Executivo, benefícios esses que têm um
pelos lideres partidários e pelo poder Executivo a
forte impacto nas estratégias de sobrevivência
serem utilizados na esfera eleitoral” (PEREIRA &
política dos parlamentares na esfera eleitoral. O
MUELLER, 2003, p. 738-739). Desse modo, para
voto partidário é a forma encontrada pelos
os autores, “a chave para o melhor entendimento
parlamentares para sobreviver politicamente em
da simultaneidade de partidos fracos na arena
um ambiente no qual o poder Executivo desfruta
eleitoral e partidos fortes no espaço congressual e
de uma situação institucional privilegiada nas suas
de governo no sistema político brasileiro é a
negociações com o poder Legislativo. [Assim
combinação, aparentemente contraditória, de
sendo] [...] é perfeitamente possível a coexistência
incentivos para o comportamento individual e
do comportamento partidário dentro do
partidário ao mesmo tempo” (idem, p. 738).
Congresso e do comportamento pessoal na esfera
Mas como dar-se-ia tal processo, digamos, eleitoral, principalmente por meio de políticas
esquizofrênico, que cindiria os partidos em uma locais do tipo pork-barrel. O grande dilema
espécie de dupla personalidade: de uma parte, enfrentado pelos parlamentares brasileiros é como
fracos e submissos aos desejos e caprichos conciliar duas pressões aparentemente opostas”.
egoístas de seus deputados, e, de outra, fortes e
Essas assertivas, no entanto, contêm alguns
dominantes, impondo-se como guias de interesses
problemas importantes. O primeiro deles é de
coletivos? Segundo Pereira e Mueller, “as regras
caráter teórico e consiste em postular que os
eleitorais proporcionam incentivos para os
atores mais relevantes, o Presidente da República
políticos se comportarem individualmente,
e os parlamentares, são entidades homogêneas
fragilizando, assim, os partidos na arena eleitoral,
dentro de um parlamento também homogêneo. Ou
enquanto as regras internas do Congresso e os
seja, todos os políticos querem a mesma coisa,
poderes presidenciais tornam o comportamento
com a mesma intensidade e, ao mesmo tempo; o
dos parlamentares extremamente dependente da
parlamento como um todo também quer a mesma
lealdade aos seus respectivos partidos,
coisa com a mesma intensidade, opondo-se
fortalecendo estes últimos dentro do Congresso”
totalmente ao poder Executivo, pelo menos em
(idem, p. 738). Por esse motivo, prosseguem os
um primeiro momento. Mas, depois de trocas
autores, “[...] não é racional os parlamentares
distributivistas, esse mesmo poder Legislativo
agirem individualmente no Congresso, como
homogêneo tornar-se-ia homogeneamente
também não é racional o Executivo negociar ou
cooperativo com o presidente. Porém, sabemos
barganhar individualmente o voto de cada
que o Congresso é habitado por uma diversidade
parlamentar a cada nova medida que introduz. [...]
de interesses e preferências e que, portanto, o
É nesse momento que os partidos – frágeis elos
poder Legislativo não é um ator homogêneo. Além
entre os representantes e os eleitores – se tornam
do mais, se isso fosse verdadeiro, ficaria bastante

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 43: 81-106 OUT. 2012

difícil entender por que há oposição – a oposição eleitoral com voto pessoal 30 . Mesmo que os
não cabe nesse modelo. Como explicar que há eleitores tenham como motivação as “políticas
deputados que se opõem ao poder Executivo e, locais”, mesmo que os deputados e candidatos
por isso, ficam à margem da distribuição de bens desafiantes adotem estratégias eleitorais baseadas
paroquiais que aumentariam em 26% suas chances em trocas paroquialistas, ainda assim não é
de serem reeleitos, conforme os dados possível descartar a organização partidária que,
apresentados pelos próprios autores? Levando esse inclusive, pode participar desse jogo ou até mesmo
modelo às últimas consequências, teríamos um incentivá-lo. Ou seja, políticas clientelistas não são
parlamento totalmente cooperativo e pertencente evidência de inexistência de força partidária. Por
ao governo – sem contar ainda que a indisciplina último, não há estudos empíricos sistemáticos
parlamentar deveria ser inexistente. Em realidade, sobre as organizações partidárias recentes, de modo
o governo teria até que recusar aliados depois de que, se não há dados que neguem cabalmente tais
ter atingido o número suficiente de cadeiras para afirmações, tampouco há evidências que as
aprovar seus projetos29 . confirmem.
Outro problema consiste no fato de que tanto Assim, o desafio de incorporar as organizações
no caso do parlamento como no da arena eleitoral, partidárias nos estudos legislativos é duplo. De
em nenhum momento os autores empregaram uma parte, demanda a realização de pesquisas sobre
quaisquer variáveis ou conceitos relativos aos as organizações partidárias, de modo a aumen-
partidos como estruturas organizacionais exteriores tarmos o estoque de informações acerca dessa
e anteriores ao poder Legislativo e à esfera eleitoral. arena institucional até o momento bastante
Por isso fica difícil aceitar a proposição de que os desconsiderada, seja pela área de estudos
partidos sejam fortes na arena parlamentar com legislativos, seja pela própria área de estudos
base apenas nas taxas de disciplina das votações partidários, ainda bastante pequena. Funda-
nominais. Da mesma forma, é mais difícil ainda mentalmente, seria o caso de levantar informações
aceitar a proposição de que estes seriam fracos sobre as “três faces” (KATZ & MAIR, 1995; 1996)
na arena eleitoral apenas em decorrência do sistema dos partidos brasileiros, de modo a termos um
diagnóstico mais acurado acerca das dimensões
mais privilegiadas pelas diversas legendas. Também
seria o caso de analisar o processo de
29 Há ainda mais um problema: ao homogeneizar o inte- nacionalização das estruturas organizacionais dos
resse dos deputados, focados apenas na reeleição, partidos e seu possível impacto no grau de
desconsidera-se que grande parte dos competidores eleito- centralização do processo decisório interno31.
rais (inclusive aqueles que chegam à Câmara dos Deputa-
dos) não são parlamentares no exercício do mandato, mas Na verdade, o aspecto mais relevante a ser
sim desafiantes, vários deles pela primeira vez. De acordo analisado, e que pode ter impacto direto no
com dados do Departamento Intersindical de Assessoria comportamento partidário no poder Legislativo, é
Parlamentar (DIAP), a taxa de renovação parlamentar é
elevada, mostrando que há uma proporção de candidatos
precisamente o grau de centralização partidária,
eleitos que não puderam contar com a política estabelecido pelos estatutos, pelo desenho
distributivista. Obviamente, pode haver políticos que já organizacional, as regras de decisão internas e o
exerceram outros cargos e que utilizaram seus recursos para
conseguir a vitória eleitoral para o parlamento. Obviamen-
te, também há uma porcentagem elevada de deputados,
embora não superior a 20%, que não se lançam como can- 30 Inclusive, Santos (2003) discute a forma pela qual ou-
didatos para um novo mandato na Câmara. Mas, mesmo tras variáveis do sistema eleitoral, relacionadas à transfe-
assim, seria preciso discriminar esses casos e fazer as devi- rência de votos entre candidatos de um mesmo partido e/ou
das ponderações, de modo a reforçar o argumento centrado de uma mesma coligação, poderiam estar associadas a um
na política do pork-barrel. Ou seja, mesmo quando tais comportamento parlamentar mais voltado às políticas de
casos são descontados, ainda permanecem duas questões conteúdo nacional, lançando a idéia – de certa maneira,
cruciais: se o sistema funciona com partidos fracos na are- também problemática – de que se devesse substituir a “co-
na eleitoral e fortes na arena legislativa, e tal equilíbrio nexão eleitoral” pela “conexão presidencial”.
manter-se-ia em função da distribuição de recursos mono-
polizados pelo poder Executivo, por que há uma propor- 31 Destaca-se o estudo recente de Guarnieri (2011), que
ção elevada de candidatos desafiantes eleitos para a Câma- analisa alguns dos aspectos organizacionais dos partidos
ra dos Deputados? E por que há partidos que fazem opo- brasileiros e mostra sua importância para as estratégias
sição e, além disso, são coesos? eleitorais.

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RELIGANDO AS ARENAS INSTITUCIONAIS

grau de facciosismo. De outra parte, demanda a decisórios na arena legislativa e a atuação do poder
resolução do problema teórico e metodológico de Judiciário. Daí sua centralidade e as várias
encontrarmos as formas de articulação dessas tentativas de defini-lo nos diversos trabalhos
duas arenas – a legislativa e a partidária em termos organizados por Tate e Vallinder (idem).
organizacionais –, sem que se postule, a priori,
No que se refere à literatura temática dos anos
relações de determinação unilaterais. Esse é um
recentes, essa atuação do poder Judiciário vem
desafio teórico e empírico em aberto, à espera de
sendo tratada em sua dimensão mais significativa
agendas de pesquisas compartilhadas entre as duas
para a vida pública, que é a capacidade de revisão
áreas, e talvez ainda mais de pesquisas focadas
do processo legislativo por parte dos tribunais
nas organizações partidárias atuais.
constitucionais. Isso não quer dizer que a
VI. O PODER JUDICIÁRIO E O PROCESSO judicialização não esteja presente em outras
LEGISLATIVO dimensões, como a das relações sociais, por
exemplo. Em realidade, o crescimento da demanda
Nas democracias contemporâneas, tem sido
pela interferência da justiça ocorre em várias
cada vez mais freqüente a utilização dos tribunais
dimensões sociais, mas seu aspecto propriamente
como meio de resolução de conflitos gerados na
político tem relevância especial e vem sendo objeto
arena política. Essa é uma observação recorrente
de análises e teorizações bastante interessantes.
na literatura de Ciência Política dedicada ao que
se convencionou chamar de “judicialização da Para Sweet (2000), por exemplo, o Tribunal
política”. Aliás, esse termo entrou para o Constitucional deve ser compreendido como uma
vocabulário técnico da área graças ao esforço terceira câmara decisória. Para defender tal idéia,
analítico coletivo contido na obra The Global o autor parte do pressuposto de que a Corte
Expansion of Judicial Power, coordenada por Tate Constitucional deve ser interpretada como um
e Vallinder (1995). Desde sua publicação, essa organismo legislativo especializado e a revisão
coletânea não somente favoreceu o desenvol- constitucional deve ser entendida como mais um
vimento de toda uma literatura sobre o problema estágio de elaboração das leis. Contudo, apesar de
como também contribuiu para que o poder entender que a Corte Constitucional seja uma
Judiciário viesse a ocupar, cada vez mais, um espécie de casa legislativa especial, o autor afirma
lugar de importância nos estudos políticos; mais existirem diferenças fundamentais entre os atores
precisamente, nos estudos sobre processos que atuam em cada esfera específica. Segundo
decisórios legislativos. eles, os ministros e governantes são relativamente
livres para propor uma lei; eles são capazes de
Portanto, é possível afirmar que o termo
decidir quando e como a legislação deve ser
“judicialização da política” procura abarcar as
efetivada, obedecendo os limites constitucionais.
causas e as conseqüências da expansão do poder
Já os juízes, pelo contrário, são totalmente
Judiciário nos processos políticos das democracias
dependentes de uma iniciativa exógena. Eles
contemporâneas, e que seu poder de intervenção
precisam de justificar suas decisões por escrito
está fortemente relacionado com a amplitude do
(como base legal) e por exigência da lei. Os
desenho constitucional, pois quanto maior for o
políticos, diferentemente, podem fazê-lo sem uma
nível de regulamentação da sociedade, maiores
explicação formal e, conseqüentemente, podem
serão as chances de uma intervenção judicial.
apoiar-se em interesses ou em ideologia.
Conseqüentemente, a judicialização é alimentada
pelo próprio processo legislativo em toda a sua Não obstante, Sweet (idem) afirma que essas
plenitude, uma vez que não se judicializa algo que diferenças tornam-se irrelevantes na judicialização
não tenha sido alvo de regulamentação. Ou seja, a do processo legislativo. De acordo com ele, os
intervenção do poder Judiciário pressupõe uma países que possuem uma revisão abstrata da
intervenção anterior do poder representativo, o que legislação tendem a abrir um canal direto de
mostra o efeito vinculante do fenômeno ao desenho relacionamento entre a minoria parlamentar e a
constitucional adotado pelas democracias Corte Constitucional. A Corte Constitucional e a
contemporâneas. Dessa forma, analiticamente, oposição política, desse modo, estão conectadas
“judicialização da política” é o termo que conecta uma à outra por uma espécie de “ cinto de
as duas dimensões fundamentais do fenômeno transmissão” jurisprudencial, por meio do qual a
democrático-constitucional: os processos oposição judicializa o processo legislativo como

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 43: 81-106 OUT. 2012

uma estratégia alternativa ao jogo parlamentar animosidade e intrigas entre os pares e reforçar
estrito senso, com a intenção de ganhar o que (i.e., maior legitimidade) a posição do tribunal
outrora perdera no processo político convencional. frente à solução do litígio (SCHWARTZ, 1966;
Assim, as contestações da oposição oferecem uma EPSTEIN & KNIGHT, 1998; MAGALHÃES,
crucial oportunidade à Corte para a elaboração da 2003). Em outras palavras, Tsebelis (2002) tenta
lei constitucional, para a ampliação das técnicas demonstrar que, por trás de qualquer teorização
jurisprudenciais de controle e, em outras palavras, sobre a interferência do poder Judiciário no
para fazer política. processo decisório legislativo, sempre haverá um
elevado grau de indeterminação. Nesse sentido,
Em oposição a Sweet (idem), Tsebelis (2002)
devido à “caixa preta” no interior da qual o
afirma que, apesar da essência do argumento
decision-making constitucional é processado, é
daquele autor estar correta – cortes constitucionais
difícil atribuir ao poder Judiciário uma posição de
podem interferir no processo decisório, isto é,
veto às decisões políticas, embora o autor admita
podem abortar políticas legislativas –, isso, por si
que, no caso específico do Tribunal
só, não justifica a tese da emergência de uma
Constitucional, a revisão é perfeitamente viável e
terceira câmara legislativa e muito menos de um
é parte do jogo político.
“governo de juízes”. Isso porque as restrições
impostas sobre a seleção dos membros da Corte De qualquer forma, é possível afirmar que, em
Constitucional eliminam a escolha de extremistas, sistemas de separação de poderes, é totalmente
o que praticamente garante uma seleção mediana possível a extensão da competição política para
no que se refere ao espectro político disponível. além da arena legislativa, avançando sobre a arena
Ou seja, como o sistema de seleção dos juízes, de judiciária. Focando em casos como esses, foram
alguma forma, está vinculado ao poder político, o desenvolvidas duas abordagens de maior destaque
controle sobre essas indicações não permitiria a na literatura temática33. A primeira consiste no que
indicação de um juiz fora do campo político e é chamado de “policy-seeking approach”, cujo
ideológico de seus selecionadores32. objetivo é analisar a expansão da jurisdição
constitucional sobre o policy-making governa-
Mas, nesse caso, poderíamos perguntar: se a
mental – ou as políticas da maioria – como
seleção impede escolhas extremadas e se o
resultado da habilidade e disposição dos atores
escolhido está dentro do espaço político mediano,
políticos derrotados no processo legislativo em
como e por que ocorrem vetos, do poder
provocar decisões judiciais sobre as políticas apro-
Judiciário, à legislação? As respostas dadas são as
vadas pela maioria parlamentar. Na verdade, trazer
mais diversas. Segundo o próprio Tsebelis (idem),
os tribunais para dentro do processo legislativo é
dependendo do caso e de sua importância, as
muitas vezes um comportamento irresistível para
pressões externas [imprensa, opinião pública e
a oposição. O litígio é geralmente de baixo custo e
autoridades política] podem ser determinantes para
dá-se sem punição política – muito pelo contrário.
a resolução do caso. A pressão interna [entre os
Por isso, a oposição possui um forte interesse em
pares, dentro do tribunal] também pode fazer que
mostrar ao eleitorado sua posição contrária às
um juiz constitucional vote em desacordo com
políticas em questão34 . Sob tal perspectiva, o
seus princípios políticos e ideológicos. Se a maioria
policy-seeking approach é baseado em duas
de seus pares opta por uma determinada decisão,
premissas: (i) o litigante, quando aciona a justiça,
a minoria vê-se pressionada a seguir o voto da
assim o faz contra uma legislação que vai de
maioria. Como o voto da minoria ou do dissidente
encontro à sua preferência; (ii) o custo da ação é
não irá alterar a decisão final, é perfeitamente
plausível uma mudança de voto para evitar
33 Uma aplicação dessas abordagens pode ser encontrada
em Magalhães (2003) e Carvalho (2005).
32 Do ponto de vista empírico essa afirmação é perfeita- 34 Baum (2001) demonstrou que, no caso norte-america-
mente crível. Em geral, a seleção dos juízes constitucionais no, as coisas não foram diferentes. No litígio constitucional
europeus toma como base seu posicionamento ideológico e de grande interesse político, os atores vão até as últimas
político, além de suas qualidades técnicas. O mesmo pode conseqüências, mesmo que isso signifique uma derrota nos
ser observado nos Estados Unidos: dificilmente veremos tribunais. A idéia é pelo menos marcar sua posição contrá-
um republicano, conservador e cristão indicar um juiz cons- ria para o eleitor. O mesmo pode ser observado no Brasil
titucional democrata, liberal e ateu. (CARVALHO, 2005).

99
RELIGANDO AS ARENAS INSTITUCIONAIS

muito baixo ou, pelo menos, os benefícios Entretanto, a despeito dessa relevância, são
potenciais do litígio pesam mais do que os custos muito escassas as análises focadas no poder
potenciais. Legislativo que levam esse problema em
consideração. Em decorrência disso, nosso
Uma segunda (e forte) explicação para a
argumento é que uma análise mais aprofundada
judicialização tem como fundamento as regras
do processo legislativo brasileiro demanda uma
institucionais e o formato destas. De acordo com
abordagem “multidimensional” que possa incluir
essa perspectiva, dado que os tribunais são
o poder Judiciário, pois essa arena já é contabilizada
insulados e independentes dos interesses das
pelos atores do jogo político legislativo em suas
maiorias parlamentares, bem como dos poderes
estratégias, com o objetivo de impor altos custos
executivos, eles estariam “livres” para tomar
ao adversário, especialmente no caso das ações
decisões sem quaisquer constrangimentos – o que
estratégicas das oposições partidárias e da
podemos chamar de “unconstrained courts
legislação eleitoral. Assim sendo, as fronteiras antes
approach” da decisão judicial. Segundo essa
restritas ao campo dos poderes Executivo e
abordagem, os juízes funcionam como agentes
Legislativo precisam de ser alargadas para abrigar
livres em suas relações com os partidos políticos
a possível e cada vez mais presente interferência
e com as maiorias legislativas. Além disso,
de outras arenas institucionais; arenas que estão
diferentemente do que ocorre na arena legislativa,
separadas por lógicas distintas de funcionamento,
os juízes possuem uma grande preocupação com
mas que estão conectados no mesmo jogo político,
o direito e a decisão judicial, que precisam de ser
fazendo parte de um mesmo sistema complexo e
justificadas, nos autos, com base na doutrina legal
dinâmico de jogos seqüenciais.
e na jurisprudência.
VII. CONCLUSÕES
Portanto, diante do desenvolvimento de todo
esse debate, as questões que nos interessam mais Nossa intenção, ao reconstruir sinteticamente
diretamente são as seguintes: afinal, como está o percurso da literatura mais relevante da área de
essa situação no Brasil? Em que medida há uma estudos legislativos, foi demarcar dois pontos.
estrutura institucional favorável à interferência do Primeiramente, que os partidos políticos ocupam
poder Judiciário nos processos e nas decisões uma posição central nesse debate, seja porque são
legislativas? Em que medida tal interferência ocorre percebidos como inexpressivos e pouco
e como ela é percebida pelos atores envolvidos? determinantes no processo decisório parlamentar
Qual seu impacto no processo legislativo? Em – como defendem os distributivistas –; seja porque,
relação às duas primeiras questões, é possível inversamente, são percebidos como centrais nessa
avançar na constatação de um ambiente político dinâmica – como advogado pelos adeptos da
extremamente favorável à judicialização da política “explicação partidária” –; seja ainda porque teriam
no país, conforme evidenciam os dados uma importância relativa e parcial – conforme
apresentados por Taylor (2004) e Carvalho (2005). sugerem abordagens “sincréticas”, as quais
Segundo suas pesquisas, retiradas as disputas do procuram articular as arenas eleitoral e parlamentar
federalismo, é possível perceber que os partidos em seus modelos explicativos. Em segundo lugar,
políticos brasileiros possuem um lugar de destaque procuramos explicitar que as relações
nesse processo, logo depois das confederações potencialmente conflituosas entre poder Executivo
sindicais e as entidades de classe. Seus dados e poder Legislativo têm sido vistas como relações
mostram ainda o considerável grau de judicialização sempre “solucionadas” harmonicamente por
da política brasileira e, ao mesmo tempo, evidencia
a importância desse processo na dinâmica
legislativa. Inclusive, conforme mostra Taylor cio à judicialização. Recentemente, o líder da oposição na
(2007), o poder Judiciário vem tendo um impacto Câmara Federal, o Deputado Federal André de Paula, do
significativo nas decisões sobre as políticas Partido Democratas de Pernambuco, afirmou que uma de
públicas35 . suas iniciativas como líder da minoria no Parlamento era
judicializar a disputa. Outro fator importante é a crescente
judicialização do processo eleitoral: só no ano de 2009,
dois governadores tiveram seus mandatos cassados pelo
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que indica que a
judicialiação não se restringe à relação poder Executivo-
35 Outros fatores colaboraram para esse ambiente propí- poder Legislativo, ela já atinge a arena eleitoral.

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intermédio de estratégias institucionais inerentes No caso dos partidos, especialmente no que


apenas à arena governamental, estratégias estas se refere às suas estruturas organizacionais,
de cooptação ou de indução à cooperação, ambas observamos que observamos que estes têm sido
sempre bem sucedidas. Ou seja, os estudos muito pouco estudados no Brasil, o que nos
preocupam-se com os mecanismos de formação conduz a certo paradoxo, qual seja, tanto a literatura
da coalizão de governo e de sua operação por meio que nega sua relevância explicativa como a que
da delegação de poderes legislativos ao Presidente os toma como variáveis explicativas fundamentais
da República, descartando a oposição como ator não dispõem de subsídios empíricos para defender
político relevante que investe no conflito e na o que defendem. Além disso, ao isolar teórica e
tentativa de sua resolução favorável em outra empiricamente a arena parlamentar, na tentativa
arena, o poder Judiciário. de demonstrar que esta seria imune aos efeitos do
sistema eleitoral, a vertente analítica adepta da
Nos dois casos, intentamos encontrar possíveis
explicação partidária também isolou o processo
lacunas e, com estas, justificativas para que os
legislativo de outras arenas. Eviden-temente, tal
estudos legislativos contemplem duas outras
procedimento cumpre o propósito de deixar a
arenas institucionais que consideramos impor-
explicação do processo legislativo imune a
tantes: as organizações partidárias e o poder
variáveis exógenas, trazendo vantagens explicativas
Judiciário. Afinal, a despeito de sua centralidade,
óbvias. Porém, também incorre em problemas
tanto as organizações partidárias como o poder
importantes.
Judiciário permanecem relativamente isolados em
relação à arena legislativa, impermeável a outras Portanto, o desafio não é apenas incorporar
determinações não advindas do sistema eleitoral variáveis multidimensionais em um modelo de
ou de suas próprias regras internas. Obviamente, análise, mas, antes disso, reaproximar as diversas
as falhas devem ser em grande parte creditadas arenas também em termos teóricos e conceituais.
aos pesquisadores que se dedicam aos estudos Essa é uma agenda de pesquisa que certamente
partidários e aos estudos políticos do poder lidaria com grandes desafios, mas também teria
Judiciário, na medida em que também não consideráveis possibilidades para produzir novos
procuraram estabelecer quaisquer aproximações ângulos interpretativos e analíticos sobre a
com o processo legislativo. democracia brasileira.

Paulo Peres (peres.ps@gmail.com) é Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP)
e Professor de Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Ernani Carvalho (ernani_carvalho@hotmail.com) é Doutor em Ciência Política pela Universidade de
São Paulo (USP) e Professor de Ciência Política na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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